doc (29)Congado
-
Upload
rosemarycardoso -
Category
Documents
-
view
2 -
download
0
description
Transcript of doc (29)Congado
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 2/14
rainha, por terem construído a igreja, foram coroados após um
cortejo que se seguiu pela cidade, seguidamente eles adentraram a
igreja relembrando suas trajetórias cantando, dançando, festejando e
louvando a Nossa Senhora do Rosário como forma de agradecimentopor ter-lhes concedido a liberdade tão esperada.
O uso das linguagens diversificadas como suporte ao oficio do
historiador que não possui como fonte de pesquisa apenas os
registros escritos, oportuniza reflexões e caminhos instigantes como
é o caso da análise do cotidiano. Através dessas narrativas cotidianas
que percorrem os caminhos da história e da memória percorre-se
também a dinâmica das histórias de vida pelos viesses dossentimentos e expressões contidas na face dos atores sociais. Foi
fazendo o uso dessas linguagens diversificadas que realizei a
pesquisa. A pesquisa foi conduzida com base nessas leituras, pois
nossa pretensão era conceber com outros olhos aquilo que os olhares
comuns percebem apenas como tradição ou folclore, paralisados no
tempo e no espaço. Nesse sentido, foi de fundamental importância a
discussão sobre Cultura Popular, destacando dela a religiosidade.
DESVELANDO O CONGADO DA CIDADE DE ITUIUTABA-MG
A festa do Congado se edifica num universo imagético muito
rico, pois é marcado por momentos festivos e devocionais que se
materializam em diferentes tipos de representações e se (re)
constroem alicerçados numa ludicidade que procura trazer à tona o
passado, construindo um sentido que perpassa a expressividade
visual, já que é uma tentativa de manter viva práticas e saberes
ancestrais que expressam vínculos de pertença e identidade.
Esse tipo de percurso seguido nos oferece probabilidades
interpretativas do cotidiano, permitindo ao historiador compreender a
construção de uma história também marcada por caminhos múltiplos
do entendimento, uma vez que, o ofício do historiador não deve ser
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 3/14
meramente entendido como o de responsável pela escrita de uma
“história-verdade”, posto que “as representações se inserem em
regimes de verossimilhança e de credibilidade, e não de veracidade”
(PESAVENTO, 2001), a recomposição e a tentativa de compreensãodas tramas tecidas na efetivação dos festejos, se sustenta nas várias
narrativas que se formam ao redor desse mosaico festivo, cujas
peças ao mesmo tempo em que se encaixam, deixam fendas a serem
desveladas pelo olhar atento do historiador, revigorando
possibilidades de compreensão da realidade.
Em Ituiutaba, segundo relatos de alguns congadeiros, os
festejos aconteciam em fazendas nos arredores da cidade ondetambém se criavam os ternos. Com o devir do tempo, a festa tornou-
se conhecida e foi trazida para a cidade. Contudo, o pároco da época
não aceitou que os congadeiros adentrassem na Igreja, proibindo a
realização da festa no local. Esta proibição se deu porque os
congadeiros, não seguiam a religião católica, mas sim outras de
origem africana. Enquanto isso, nos arredores de Ituiutaba, para
homenagear sua esposa Geralda Ramos da Silva em seu aniversário
no dia 2 de abril de 1951, o senhor Demétrio Silva da Costa (Cizico)
convidou seu pai Marciano Silvestre da Costa, seu irmão Geraldo
Clarimundo da Costa e vários outros amigos para brincarem de
Moçambique e comemorarem a data. Ao saber do ocorrido, Ana
Carolina Ribeiro (Dona Rosa), prima de Cizico, convidou o grupo
para, juntos, levarem o terno de Moçambique em Ituiutaba e
reascender a devoção a São Benedito com muita dança, festa e
devoção. Assim, se dirigiram ao pároco da época, o Padre João Ave,
para comunicá-lo e pedir-lhe a licença para, junto à igreja, fazerem a
festa de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. O pároco, não
permitiu, alegando problemas que a Igreja tivera anteriormente com
os ternos de Congado que antes existiam em Ituiutaba, e que, em
virtude desses atritos, já havia se fragmentado.
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 4/14
Em 1952, o terno recém criado, resolveu ensaiar com o intuito
de colocar o grupo devidamente uniformizado na rua em sinal de
protesto contra a atitude do padre. Eles desceram a Rua 22 às 5
horas da manhã. Fizeram uma alvorada com fogos na frente doFórum local conseguindo o consentimento da justiça para realizarem
os festejos na cidade. Dirigiram-se para a Igreja Matriz São José,
onde adentraram o recinto e assistiram à missa da manhã. Após, os
congadeiros saíram em visita a várias residências cantando,
dançando os santos protetores pelas ruas. Nos anos seguintes a festa
aconteceu sem a existência de uma Irmandade ou apoio da Igreja.
Mesmo assim, os congadeiros insistiam em ter o reconhecimento dofestejo junto à Igreja, realizando a cada ano os festejos em louvor a
São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, com o apoio dos devotos e
simpatizantes. Anos depois, reestrutura-se o Congado em Ituiutaba.
O grupo agora, organizado, trava uma queda de braços com o pároco
da Igreja, o qual passa a fazer uma série de exigências a estes para
que ele conceda, aos mesmos, espaço no local. Uma dessas
exigências foi a de que os congadeiros abraçassem realmente a fé
católica. Acatando o pedido do padre eles batizaram, receberam a
primeira eucaristia, crismaram e aqueles que eram amasiados, se
casaram na Igreja. Outra exigência era a de que os congadeiros
tivessem participação ativa nas cerimônias religiosas, só assim, a
festa passaria a ter algum vínculo com a Igreja. A Igreja Católica
tentava assim, apagar dos negros sua herança religiosa africana;
todavia, os congadeiros, apesar de “católicos”, não deixavam de
manter suas práticas ancestrais, mesmo que secretamente.
Diante do cumprimento de todas as exigências feitas por ele,
Padre João Ave, em 1956, pediu para que os congadeiros, entre si,
escolhessem doze casais que conhecessem bem as doutrinas
católicas. Desses casais, os homens, nomeados pelo padre como “Os
Doze Apóstolos” (Marciano Silvestre da Costa, Geraldo Clarimundo da
Costa, Demétrio Silva da Costa – Cizico, Antônio Belchior, Antônio
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 5/14
Balduino da Costa - Antônio Cabra, Agenor Prudêncio do Nascimento,
Andira Alves, Avelino Máximo da Costa, Jerônimo Ventura Chaves –
Dunga, Aristides da Silva, Antônio Edmundo e Senhor Manoel Gomes)
fundaram a Irmandade de São Benedito de acordo com as instruçõesdo pároco, que autorizou, no ano de 1957, o funcionamento da
Irmandade, responsabilizando-a pelos ternos fundados entre os anos
de 1951 a 1954 e pelos demais que supostamente viriam a surgir.
A partir da criação da Irmandade de São Benedito, os grupos de
Congado passaram a ter também seu próprio grupo religioso dentro
da Igreja, que passa a ter não só função religiosa, mas também
cultural, organizando e coordenando os ternos de Congado deItuiutaba. Conforme consta no Pequeno Histórico da Irmandade de
São Benedito, ela foi fundada no dia 13 de Maio de 1957 com “missa
especial” e com “primeira comunhão de vários beneditinos jovens,
crianças e adultos”. Foi através da criação da Irmandade de São
Benedito que os congadeiros ganharam permissão para festejar na
Igreja. Foi através dela também que eles levantaram capital para,
mais tarde, comprar o terreno e erguer a Igreja de São Benedito.
No início a Irmandade era formada por pouco mais de 100
pessoas, hoje ela é composta por mais de 600 indivíduos. Ela tornou-
se a garantia dos congadeiros de “direito à Igreja”; sua criação e
fundação abriram as portas para a consolidação dos ternos e fez-se
alicerce para os que surgiam. A festa em louvor a São Benedito é
composta por sete ternos de Congado da cidade e pela participação
de vários outros oriundos de cidades circunvizinhas que participam
das comemorações há vários anos. Na composição dos ternos temos:
Agentes quecompõem os setores dosTernos
SímbolosUtilizados
Função dosagentes
Meninas Bandeira Conduzem asbandeiras de Nossa
Senhora do Rosárioe/ou São Benedito
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 6/14
Madrinhas Bandeira Organizam asmeninas que conduzema bandeira
Dançadores Bastões e/ouGunga
Dançam, tocamas gungas e fazem
coreografias com osbastões.
Tocadores Patagoma, Caixae Gunga
Tocam osinstrumentos, dão osritmos e as marcaçõesdas músicas.
Capitães Apito e bastão Coordenam oespaço e a música nointerior do Terno
Capital Geral
(general)
Apito e bastão Organizam os
tocadores, dançadorese cantores
Capitães Atrevidos Apito e bastão Auxiliam osdemais capitães
Em cada terno temos ainda uma equipe interna formada por
coordenadores, guarda-estandartes, dentre outros que dão suporte
ao grupo não só durante os festejos, mas também em qualquer
evento ou atividade realizada pelo grupo. Todos os ternos quecompõem o Congado são filiados à Irmandade de São Benedito. Os
ternos se distinguem pelas cores da farda que, possuem geralmente,
as cores da imagem de Nossa Senhora do Rosário que são: azul,
branco, rosa, verde e o vermelho; que variam de acordo com o estilo
épico das imagens. Em Ituiutaba, as cores agregadas a cada terno
dão nome a alguns grupos tradicionais, da mesma forma que outros
recebem outras denominações. Fazem parte do Congado de Ituiutaba
os seguintes ternos:
I) TERNO DE MOÇAMBIQUE CAMISA ROSA:
A criação desse terno é fruto do esforço do senhor Demétrio
Silva da Costa “Seu Cizico” que, para comemorar o aniversário de sua
esposa, Dona Geralda, no dia 02 de Abril de 1951, resolveu
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 7/14
presenteá-la com uma festa diferente, de Congado. O ápice desta
comemoração foi a apresentação de um pequeno grupo de
dançadores de Moçambique ensaiados e comandados pelo próprio
Cizico. A partir dessa homenagem e naquele mesmo dia o casal, juntamente com o Senhor Marciano Silvestre da Costa e Geraldo
Clarimundo da Costa (pai e irmão do Sr, Cizico), com a senhora Anna
Carolina Ribeiro (dona Rosa), prima do Senhor Cizico decidiram
fundar um terno de Moçambique.
No dia 05 de outubro de 1951, o grupo se apresentou pela
primeira vez, tendo em sua composição 13 dançadores e 05
bandeirinhas. Segundo relatos da filha do casal Maria Lúcia deOliveira2, o terno criado por seu pai, é um dos principais autores do
resgate do Congado de Ituiutaba. Durante o “resgate” foram vários
os obstáculos enfrentados pelo capitão Cizico que é lembrado por
todos, como um grande repentista. Seu Cizico faleceu no dia 28 de
julho de 1964 e, em virtude dessa fatalidade, sua viúva assumiu o
comando do terno. Preocupada em manter viva a tradição iniciada
por seu esposo, Dona Geralda começou a preparar o filho, de apenas
13 anos, para chefiar o terno. No ano de 1978, Mário Afonso da Silva
assume o comando do terno permanecendo a sua frente até os dias
atuais.
II) TERNO DE CONGO CAMISA VERDE
O Terno de Congo Camisa Verde foi fundado no ano de 1954
por Geraldo Clarimundo da Costa juntamente com sua esposa
Dulcinéa Luiz Cassiano, seu irmão Demétrio da Silva Costa e seu pai
Marciano Silvestre, com o intuito de abrilhantar os festejos em louvor
a São Benedito e a Nossa Senhora do Rosário, iniciados na cidade no
ano de 1951 reforçando os vínculos ancestrais da família através da
festa. O terno de saiu às ruas da cidade, pela primeira vez, com cerca
2 Depoente, atual presidente da Irmandade de São Benedito.
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 8/14
de 30 pessoas, todas trajando roupas nas cores verde e branca. A
maioria, familiares do senhor Geraldo que foi o primeiro capitão do
terno e ensinou aos dançadores o ritmo e as coreografias a serem
executadas. Geraldo Clarimundo exerceu o cargo de capitão até o anode 1988 quando veio a falecer.
O grupo mantém nas vestimentas as cores que dão nome ao
terno: “o Verde que simboliza a esperança e o sentimento de
continuidade, o Branco representa a paz que o grupo prega e leva
adiante em cada gesto e o Amarelo a riqueza do Brasil” – Divina C.
Teles, depoente – . Seus dançadores usam camisas em cetim verde,
calça branca, faixa amarela na cintura e chapéu de palha ornado comlantejoula, pedrarias e fitas multicoloridas. Alguns dançadores optam
por usar um lenço ou turbante na cabeça, mas não dispensa o uso do
chapéu que é um adereço que compõe a vestimenta do dançador.
III) TERNO DE MOÇAMBIQUE ESTRELA D’ALVA
O terno de Moçambique Estrela D’Alva foi fundado no ano de
1982 por Agnaldo Severino da Silva (já falecido) e sua esposa Maria
das Dores Silva (Dona Xuxu). Natural da cidade do Prata. Agnaldo
Severino demonstrava sempre ser muito devoto de São Benedito, por
isso, conduziu com muita dedicação o terno de Moçambique por
vários anos. Ele dizia que as cores do terno estavam relacionadas às
cores do manto de Nossa Senhora, também presentes no estandarte
do grupo. O fardamento do terno é constituído de calça e camisa
brancas com faixas azuis, chapéu de palha coberto em tecido azul.
Quando Agnaldo Severino da Silva veio a falecer, em 1988, o
terno ficou desativado por três anos, por não haver mais quem o
conduzisse. Em 1991, Dona Maria das Dores conseguiu levantar o
terno contando com a colaboração de seus familiares (filhas, genros e
netos), elegendo como 1º capitão: Maurílio Prudêncio de Souza, que
ficou no terno por dois anos, deixando-o em 1994 para assumir o seu
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 9/14
terno do qual é um dos fundadores o Moçambique Águia Branca. A
Matriarca: Senhora Maria das Dores Silva 87, anos (Dona Xuxu) se
encontra acamada há vários anos, mesmo assim se mantém lúcida e
traduz com muita clareza a falta que sente de ver o terno novamenteparticipando dos festejos e homenagens em louvor a São Benedito. O
terno encontra-se desativado há mais de um ano, o que se torna uma
grande preocupação para os antigos integrantes do terno e sua
Matriarca, pois, a falta da liderança de um capitão que tenha
interesse em reestruturar o grupo pode por um levando adiante a
herança cultural da família.
IV) TERNO DE CONGO REAL
O Terno de Congo Real foi fundado no ano de 1987, pelo Sr.
João Luiz da Silva (João da Badia) e sua esposa Marina Eurípedes de
Oliveira, já falecida. Desde jovem, Sr. João da Badia, participava das
festividades do Congado, sendo dançador de um terno de
Moçambique.
Através dos ensinamentos do Senhor Lazinho Goiano, capitão
do terno em que Sr. João dançava, e das conversas informais que
teve com o festeiro da época, o senhor Mato Grosso, João percebeu
que a possibilidade de materializar o sonho de fundar seu próprio
terno não estava tão distante. João Luiz foi se envolvendo com outras
manifestações culturais, porém, não se esquecia do desejo que tinha
de fundar seu próprio terno de Congo.
O fascínio pelo popular envolvera de tal forma João Luiz que ele
se tornou dono de um grupo de Folia de Reis e o mantém há 54 anos.
Anos após, buscando a realização de seu antigo sonho, ele e seus
companheiros de Folia se juntaram com o Congado para louvarem
juntos, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Foi nesse período
que, durante uma viagem à cidade de Luz–MG com seu grupo de
Folia, ele teve contato com vários outros ternos de Congado e um,
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 10/14
em especial, o encantou. Foi deste terno que ele retirou a inspiração
para as cores de seu terno. Com apoio do amigo, Geraldo Clarimundo
da Costa, o terno foi criado elegendo a cor amarelo ouro como a cor
predominante do terno espelhado nas vestimentas usadas pelo ternoda cidade de Luz.
V) TERNO DE MOÇAMBIQUE LUA BRANCA
Criado em maio de 1990 o Terno de Moçambique Lua Branca
teve como seus fundadores o senhor Nilo Geraldo da Silva e sua
esposa Maria Orminda da Silva, dona Maria Senhora DominguesMartins (D. Senhorinha) e seu filho Cláudio Domingues Martins.
Segundo Dona Senhorinha, em 1989 seu filho Cláudio, dançador de
Moçambique, se afastara do terno no qual participava. Este, sendo
criado no universo das festividades do Congado, pediu à sua mãe
que, ara continuar dançando Moçambique, fundasse um terno para
que ele pudesse dar continuidade à sua devoção. Dona Senhorinha,
apesar de todas as dificuldades pelas quais passava mais que
depressa, acatou o pedido de seu filho, desde então, passaram a
reviver uma tradição familiar herdada de seu avô paterno, o Senhor
Apolinário Martins, oriundo da cidade de São Tomé das Letras-MG,
onde já participara de outros ternos de Moçambique.
O nome Lua Branca foi escolhido pelo capitão Cláudio Martins,
devido à sua grande admiração e fascínio pelo brilho e,
principalmente, pelo brilho dos astros, em especial da Lua. Segundo o
capitão “o terno de Moçambique Lua Branca nasceu para brilhar”. Os
dançadores se vestem com calças e camisa brancas, faixa verde,
chapéu ou turbante na cor verde. As bandeirinhas seguem a mesma
ordem de cores utilizadas pelos homens, ou seja, blusa e calças
brancas com faixa verde em cetim amarrada á cintura e, nos cabelos,
adornos na cor verde.
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 11/14
VI) TERNO DE MOÇAMBIQUE ÁGUIA BRANCA
Fundado no ano de 1994, o Terno de Moçambique Águia Branca
foi criado através da iniciativa dos irmãos Maurício Prudêncio deSouza (falecido), Maurílio do Nascimento de Souza (Nilo) e Eurípedes
Francisco Pereira (Pipa) que, apoiados pela mãe Rosária Esperança de
Souza, realizaram um antigo desejo da família. O Terno tem como
Conselheiro Fundador o Sr. Agenor Prudêncio do Nascimento que, aos
87 anos, é o único dos 12 apóstolos (ver Irmandade de São Benedito:
a realização de um antigo sonho) vivo que atua junto à Irmandade,
que é avó dos irmãos citados acima.As cores do terno são azul, branco e rosa, inspiradas nas cores
dos ternos que já existiam na cidade. O estandarte é azul e branco.
Assim como os demais ternos, o Moçambique Águia Branca é
composto, em sua maioria, por pessoas de uma mesma família. Os
dançadores usam calças brancas, camisas de cetim em tom azul
escuro, faixas cor-de-rosa entrelaçadas ao corpo e chapéus coberto
em tecido, ornado em paetês, lantejoulas e marabu. A origem do
nome do terno, segundo o 1º capitão Maurílio, está ligada ao Orixá
Caboclo Águia Branca.
VII) TERNO DE CONGO LIBERTAÇÃO
Segundo relatos dos integrantes do grupo composta,
praticamente, por integrantes da mesma família, as coisas não iam
nada bem pra todos. Havia doenças, pobreza e desavenças entre
vários parentes, inclusive entre as irmãs Lázara e Maria Aparecida,
que não se falavam há anos. Maria Aparecida e Lázara, por
incumbência do destino, se casaram e tiveram seus filhos sendo que,
os filhos, tanto de uma como da outra se apaixonassem e, mesmo
primos, se
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 12/14
casaram. Anos após as duas se viam avós dos mesmos netos, mas
ainda não se falavam. Foi então que Maria Aparecida, pautada na
religiosidade ancestral, recebeu a orientação dos Guias Espirituais
Maria Conga e Preto Velho, intermediados pelas médiuns CláudiaLuiza da Silva (sobrinha de Dona Aparecida) e Leamar Cândido (filha
de D. Aparecida) de criar um terno de Congo com o intuito de unir e
Libertar sua família de todo o mal que a segue há décadas. Estes
Guias Espirituais determinaram todos os passos a serem dados
daquele momento em diante, como as cores do terno, escolha dos
capitães, e, segundo a família de dona Aparecida, ainda determinam
todos os caminhos para a estruturação do terno.Deste momento em diante, toda a família se manteve reunida
guiada pelo mesmo ideal, libertar a si e a seus ancestrais, o que os
permite manterem-se unidos em torno de um ideal regido pelas
forças supremas, pela busca da paz, guiados sempre pela proteção
Divina e de seus mentores espirituais. O nome Libertação foi
escolhido para representar a libertação dos antepassados de seus
pecados, dos trabalhos feitos por terceiros para prejudicá-los.
Essa mesma força espiritual determinou as cores do terno,
cores essas constituídas a partir da cor símbolo das divindades que
regem a família. Escolheram e definiram a composição do grupo. O
terno da Libertação é composto por 40 componentes que passam por
um intenso aprendizado e só são admitidos no terno depois de ter
todo conhecimento da estrutura organizacional do grupo, onde o não
cumprimento de normas como: beber trajando o uniforme do terno;
tirar o uniforme antes de ser liberado, faltar a três leilões da
campanha sem justa causa, é dentre outros os motivos de exclusão
do terno.
Estes são alguns dados que relatam sobre o andamento da
pesquisa apresentada.
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 13/14
No emaranhado dos acontecimentos o historiador procura seu
ponto de partida como um camponês procura um olho-d’água. Nem
sempre é possível saber de onde essa água vem. Mas para poder
bebê-la basta ir em busca de onde ela aflora à superfície (SOARES,2000). No decorrer desta pesquisa busquei ir onde aflora-se os
sentimentos e toda a religiosidade que envolve os indivíduos que
participam das festividades em louvor a São Benedito, tentando
compreender como eles mantêm esses vínculos ancestrais com seus
antepassados, notando sempre a preocupação deles em transmitir
todos esses conhecimentos às gerações futuras, com o propósito de
que estes hábitos e costumes não se percam pelo tempo.Nesse ínterim, pude perceber como eram desenrolados os
encontros e desencontros entro os personagens que compõem o
cenário festivo, os interesses da projeção política ou social; os gastos
com a festa; a quantidade dos gêneros alimentícios utilizados para
tornar realidade os cafés e os almoços oferecidos; o montante de
dinheiro disponível para montar e ornamentar os ternos, dentre
outros. Tomei conhecimento da dificuldade que cada um passa para
se manter ali, festejando e louvando. Só mesmo com muito amor e
devoção ara conseguir ir a diante.
REFERÊNCIAS:
KATRIB, Cairo Mohamad I. Nos mistérios do Rosário: as múltiplasvivências da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário –Catalão (GO). Uberlândia. Dissertação (Mestrado em História) –.Universidade Federal de Uberlândia, 2004. 244 p.
______. No (des) compasso da festa: o reencontro de muitashistórias. In: História e Perspectivas, nº. 34 – jan.jun. 2006.Uberlândia/MG. Universidade Federal de Uberlândia. Cursos deGraduação e Programa de Pós-Graduação em História.PESAVENTO, Sandra J. Indagações sobre História Cultural. In:Revista Artcultura. Uberlândia: NEHAC/UFU. Nº. 03, 2001.
______. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica,2003.
7/18/2019 doc (29)Congado
http://slidepdf.com/reader/full/doc-29congado 14/14
SILVA, J. C. G. 2000. Negros em Uberlândia e a construção daCongada. Um estudo sobre Ritual e Segregação Urbana.Uberlândia, Relatório FAPEMIG.SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor. Identidade étnica,religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XV. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 232p.