DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL(2006, p. 8), os povos antigos já utilizavam...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Ensino da fisioterapia em terapia intensiva nos cursos de graduação:
Como estamos?
Por: Mário Ferreira Da Silva
Orientador: Prof. Vilson Sérgio de Carvalho
Co-orientadora: Profª. Fernanda Sansão Ramos Mattos
Salvador
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Ensino da fisioterapia em terapia intensiva nos cursos de graduação:
Como estamos?
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Docência do Ensino Superior
Por: Mário Ferreira Da Silva
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AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que contribuíram para que a
conclusão deste trabalho fosse possível. A Deus por iluminar minha existência
e o meu caminho durante esta jornada. Aos meus pais pelo amor incondicional,
dando sempre força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades.
Aos meus irmãos pelos incentivos e ajudas durante a confecção deste material.
E aos professores do Instituto A Vez do Mestre pelas orientações e
ensinamentos.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus alunos e a todos aqueles que se interessam em
buscar cada vez mais uma fisioterapia intensiva de qualidade e baseada em
evidências.
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RESUMO
A fisioterapia apesar de ser considerada uma profissão nova tem sido relatada desde os tempos mais remotos. Atualmente a fisioterapia possui uma ampla área de atuação e especialidades, entre elas a fisioterapia intensiva, que consiste na aplicação de conceitos e práticas da fisioterapia no ambiente da terapia intensiva. Este trabalho objetivou sistematizar o conhecimento a respeito da atual situação do ensino da fisioterapia intensiva nos cursos de graduação. Para tanto, foram realizadas pesquisas em banco de dados e bibliotecas buscando artigos científicos, monografias e livros que abordassem o tema investigado. O ensino da fisioterapia intensiva no Brasil, muitas vezes, ocorre de forma segmentada e, algumas vezes, em associação com a disciplina de fisioterapia respiratória. Como a atuação deste profissional pode apresentar variação entre diferentes regiões do país, o ensino dos cursos de graduação pode encontrar dificuldades de adequação entre o que é transmitido na sala de aula, e o que o profissional precisa dominar para atuar no mercado de trabalho.
Palavras-chave: Fisioterapia Intensiva; Ensino; Atuação profissional.
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METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido através de pesquisas em base de dados e
bibliotecas. Foram utilizados livros, monografias e artigos científicos que
abordem o tema proposto. Foram utilizadas publicações nos idiomas inglês,
português e espanhol. Não houve restrição quanto ao ano de publicação.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FISIOTERAPIA 10
CAPÍTULO II – ENSINO DA FISIOTERAPIA 22
CAPÍTULO III – ENSINO DA FISIOTERAPIA INTENSIVA 29
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
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INTRODUÇÃO
Este estudo tem como tema a formação acadêmica do fisioterapeuta
intensivista, visando investigar a atual situação do ensino da fisioterapia em
terapia intensiva nos cursos de graduação.
O tema sugerido é de fundamental importância, pois a formação acadêmica de
todo e qualquer profissional deve ser encarada com muita responsabilidade por
todos envolvidos no processo ensino-aprendizado. Essa responsabilidade se
torna notória principalmente na formação daqueles que estão diretamente
relacionados com a assistência à saúde. A oferta de serviços de saúde
eficazes é imprescindível para o crescimento e bem estar da sociedade. E para
que isto seja possível, não basta apenas o avanço tecnológico capaz de
desenvolver e ofertar métodos diagnósticos e técnicas terapêuticas inovadoras.
É preciso, principalmente, que o profissional seja tecnicamente capaz de
exercer seu papel como promotor de saúde. Essa necessidade se faz mais
urgente à medida que a gravidade da doença faz com que o risco de morte
seja mais presente, como nas unidades de terapia intensiva. Dentro desse
quadro, o fisioterapeuta intensivista, por ser um dos profissionais diretamente
relacionados com a reabilitação, deve ter acesso a uma formação acadêmica,
durante sua graduação, capaz de formar profissionais preparados para atender
às necessidades da população a qual pretenderão assistir.
O objetivo central deste estudo é verificar qual a atual situação do ensino da
fisioterapia em terapia intensiva nos cursos de graduação. Como objetivo
específico, este estudo visa descrever como ocorreu o surgimento da
fisioterapia intensiva, e como o processo de ensino-aprendizagem evoluiu
desde a regulamentação profissional até os dias atuais.
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No primeiro capítulo será abordada a evolução histórica da fisioterapia no
Brasil e no mundo, visando elucidar como surgiu e evoluiu até os dias atuais a
atuação do fisioterapeuta no tratamento e reabilitação de pacientes gravemente
enfermos. Em seguida serão discutidas as competências e habilidades deste
profissional na unidade de terapia intensiva.
No capitulo seguinte o ensino da fisioterapia será destacado, enquanto que no
terceiro capítulo será enfatizado o ensino da fisioterapia intensiva no nível da
graduação.
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CAPÍTULO I
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FISIOTERAPIA
Apesar da fisioterapia ser uma profissão relativamente nova, remota à
antiguidade a utilização de movimentos e agentes físicos com objetivos
terapêuticos, segundo Rebelatto e Botomé (1999, p.25). De acordo com Petri
(2006, p. 8), os povos antigos já utilizavam recursos como o calor, a água e a
eletricidade com fins terapêuticos. Há registros na China, segundo Petri (2006,
p. 8), de obras abordando a cura pelo movimento, hoje descrita como
cinesioterapia, desde o ano de 2.698 a.C.
Além disso, o filosofo Aristóteles (384 a.C.) descrevia a ação dos músculos,
sendo conhecido como o pai da cinesiologia (ciência que se dedica ao estudo
do movimento). Sendo assim, não cabe dizer que a fisioterapia é uma ciência
moderna comparada com a milenar medicina, segundo LUCAS (2005, p. 91).
Para Gallo (2005, p. 12) torna-se claro que apesar de antigo, o objeto de
trabalho da fisioterapia era desenvolvido de maneira difusa e não exclusiva de
uma categoria profissional. Daí a dificuldade em reconhecê-la como uma
profissão antiga.
De acordo com PETRI (2006, p. 9):
A influência religiosa durante a idade média contribuiu para a
desvalorização do corpo e da saúde, já que aquele era
considerado apenas um mero recipiente da alma, não fazendo
jus aos cuidados e a valorização dada ao espírito. Durante o
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século XX, muitas mudanças ocorreram na área da saúde em
razão do aumento e variedades de casos relacionados às
Grandes Guerras e às epidemias de poliomielite. Isso fez com
que algumas profissões sofressem transformações, surgindo
equipes de profissionais da saúde com obrigações e
atribuições determinadas.
As grandes guerras normalmente resultam em transformações na forma de
pensar e agir da sociedade, à medida que novos cenários e situações são
criadas. O grande número de mortos e mutilados durante a Primeira Guerra
Mundial levou a uma diminuição na força de trabalho ativa, criando a
necessidade de reincorporar os acidentados e mutilados de guerra à força
produtiva (FIGUEROA, 1996, p.23).
A partir daí, surgiram centros de reabilitação, que funcionavam como locais
onde são prescritas e realizadas as atividades de reaprendizagem do
movimento e reeducação funcional (FIGUEROA, 1996, p. 23).
Segundo FONSECA (2002, p. 34):
A partir da Segunda Guerra Mundial, os médicos passam a
atuar mais nas cirurgias, enquanto o fisioterapeuta assume a
atividade cinesioterápica, já que criou-se uma necessidade de
profissionais que pudessem se dedicar mais aos exercícios
reabilitativos.
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1.1 – Surgimento e evolução da Fisioterapia no Brasil
Para entender melhor a atuação do fisioterapeuta nos dias atuais, é necessário
conhecer como ocorreu o seu surgimento e a sua evolução não somente
enquanto profissional da saúde capaz de prevenir e tratar pacientes, mas
também como docente responsável pela formação acadêmica de novos
profissionais, tanto no nível de graduação como de pós-graduação.
Segundo PETRI (2006, p. 12):
O histórico da fisioterapia no Brasil se divide em dois
momentos: (1) organização dos centros de reabilitação e dos
cursos de formação prática; (2) o movimento dos profissionais
para aperfeiçoar seus conhecimentos e ter sua categoria
reconhecida, ganhando autonomia para o desempenho
profissional.
O curso de fisioterapia, de acordo com FONSECA (2002, p. 34), foi criado para
habilitar profissionais que pudessem auxiliar o médico na prática da medicina
física e reabilitação, executando prescrições. Em 1951 foi realizado em São
Paulo o primeiro curso no Brasil para a formação de técnicos em fisioterapia,
com duração de um ano, e ministrados por médicos (PETRI, 2006, p.15).
Para PETRI (2006, p. 16):
Diferente da Europa, no Brasil, o ensino de Fisioterapia se
restringiam a aprender a ligar aparelhos e a reproduzir
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mecanicamente determinadas técnicas sob prescrição médica.
Os técnicos não possuíam os conhecimentos necessários para
o diagnóstico do funcionamento normal e patológico do corpo
humano, nem para a compreensão dos mecanismos de lesão e
conduta terapêutica, segundo.
De acordo com FONSECA (2002, p. 35), em 1969 no Brasil só existiam seis
escolas para formar fisioterapeutas. Em 13 de outubro de 1969 o Decreto Lei
938/69 reconhece as profissões de fisioterapia e terapia ocupacional, onde no
artigo 3o atribui-se ao profissional a execução de métodos e técnicas
fisioterapêuticas “com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a
capacidade física do paciente” (LUCAS, 2005, p.92). A partir deste momento, a
fisioterapia passa a ser uma profissão reconhecida e regulamentada no Brasil.
FONSECA (2002, p. 42) afirma que:
O período compreendido entre 1970 e 1982 representa uma
evolução rápida da profissão em relação aos aspectos
jurídicos-institucionais, através da regulamentação profissional
pela criação de Conselhos, a elaboração do código de Ética
Profissional, culminando com a criação do currículo mínimo
com o Parecer 622/82. O período entre 1983 e 1998
caracteriza-se por uma unificação da classe através de eventos
oficiais e trocas de experiências.
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1.2 – Surgimento do fisioterapeuta intensivista
A Unidade ou Centro de Terapia Intensiva corresponde ao nível mais complexo
e avançado dentro da hierarquia dos serviços à saúde, dependendo, então, de
uma convergência multiprofissional onde os resultados de suas atividades
dependem da competência e do relacionamento entre os seus membros
(SOUZA, 2007, p.2).
O número de profissionais atuando na Unidade de Terapia Intensiva cresceu
nos últimos anos. Em parte pelo aumento da complexidade dos pacientes
críticos e também pela evolução tecnológica que exige cada vez mais a
presença de especialistas (SOUZA, 2007, p.2).
Dentro desta tendência o fisioterapeuta foi incorporado ao ambiente intensivo,
de modo que em unidades de bom nível técnico o fisioterapeuta, assim como o
médico e o enfermeiro, está presente 24 horas dentro do Centro de Terapia
Intensiva (SOUZA, 2007, p.3).
De acordo com HODGIN (2009, p. 2):
Apesar de na unidade de terapia intensiva os pacientes, muito
freqüentemente, recebem inicialmente prescrições de repouso
no leito, sabe-se que a inatividade e imobilidade, por si só
induzem efeitos fisiológicos deletérios incluindo a atelectasia,
úlceras de pressão, e predispõem a broncoaspiração,
pneumonia e a polineuromiopatia.
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Daí a necessidade de evitar o ciclo vicioso que inicia à medida que o paciente
permanece inativo no leito. Dentro desse contexto atua o fisioterapeuta
intensivista, visando, entre outras atribuições, prevenir os efeitos deletérios do
imobilismo.
No Brasil, a inserção do fisioterapeuta em Unidade de Terapia Intensiva
começou no final da década de 1970 e sua afirmação como integrante da
equipe de assistência intensiva vem aumentando de forma sistemática e
gradual (NOZAWA, 2008, p. 178).
O fisioterapeuta foi inserido na Unidade de Terapia Intensiva da instituição
Sociedade Beneficente de Senhoras – Hospital Sírio Libanês por volta de 1983,
inicialmente no turno matutino (SARMENTO, 2010, p. 4).
Para Sarmento (2010, p. 4):
A princípio, a atuação do fisioterapeuta em Centro de Terapia Intensiva estava restrita a casos de pacientes hipersecretivos, expansibilidade pulmonar comprometida e mobilização no leito. O fisioterapeuta era solicitado a iniciar o tratamento quando o paciente não conseguia remover a secreção pulmonar de forma eficaz pela tosse espontânea, situação que poderia acarretar complicações pulmonares. Além das complicações científicas, as evidências corroboraram para firmar a eficácia do tratamento fisioterapêutico nos pacientes com afecções respiratórias. Atualmente a fisioterapia atua de forma preventiva com o objetivo de evitar previsíveis complicações. Contudo, o campo de atuação do fisioterapeuta intensivista não se restringe às secreções pulmonares, mas abrange as alterações circulatórias, metabólicas e, principalmente, musculoesqueléticas.
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1.3 – Competências e habilidades do fisioterapeuta intensivista
Segundo SOUZA (2007, p. 3) no início de sua atuação dentro da unidade de
terapia intensiva, o fisioterapeuta era responsável apenas pela aplicação de
técnicas fisioterápicas, evoluindo para a incorporação de cuidados com a via
aérea artificial e para o manuseio de tecnologia de assistência ventilatória
mecânica invasiva e não invasiva, atuando na assistência, avaliação,
monitorização, formação, administração e investigação científica.
Sobre a abordagem do fisioterapeuta na UTI NICOLAU (2007, p. 217) publicou
que:
Dentre as diversas áreas de atuação, a fisioterapia dentro da
Unidade de Terapia Intensiva estava mais relacionada a
prevenção e tratamento de complicações respiratórias. A
tapotagem, técnica que consiste na percussão do tórax com
objetivo de auxiliar a higiene brônquica, era um sinônimo de
fisioterapia naquela época. Com o desenvolvimento de novas
técnicas fisioterapeuticas, as possibilidades de higiene
brônquica foram incrementadas com a drenagem postural,
vibração e compressão. Essas condutas inicialmente foram
aplicadas em pacientes adultos, e posteriormente em crianças
e neonatos.
FRANÇA (2006, p. 370) traz que a fisioterapia contribui para o tratamento de
vários aspectos de desordens respiratórias tais como obstrução de vias aéreas,
retenção de muco, alteração da função ventilatória, dispnéia, disfunção
musculoesquelética e na qualidade de vida. Para tanto, são aplicadas técnicas
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visando higiene brônquica, treinamento respiratório, e exercícios para
musculatura periférica e respiratória.
De acordo com FRANÇA (2006, p. 362):
Com sua inserção definida na equipe multidisciplinar e antes com maior atribuição voltada para preservação das funções respiratórias, agora se depara com situações e condições patológicas que obriga a classe profissional a refletir e atuar de forma sistematizada, global e interativa de modo a minimizar e ou reverter processos decorrentes da maior sobrevida e permanência prolongada no leito.
Apesar de a abordagem respiratória constituir grande parte da atuação do
fisioterapeuta na Unidade de Terapia Intensiva, a sua atuação é global,
envolvendo a fisioterapia motora no sentido de prevenir complicações e
deformidades secundárias à restrição ao leito, estado de coma e sedação
(SARMENTO, 2010, p. 4).
FRANÇA (2006, p. 362) traz que:
Munidos de conhecimento científico e instrumentalizados por
recursos que dia a dia se renovam o fisioterapeuta que atua no
Centro de Terapia Intensiva interfere no processo de
cronicidade e da perda da funcionalidade e, para tanto, lança
mão de procedimentos avaliativos que propiciam a elaboração
de diagnósticos funcionais que lhe respalde a indicar,
prescrever e executar técnicas entendendo o movimento
humano e suas variáveis como objeto alvo de domínio
específico da fisioterapia, para a promoção da independência
funcional e melhoria da qualidade de vida dos pacientes
internados na Unidade de Terapia Intensiva.
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Atualmente, o fisioterapeuta intensivista participa desde a avaliação do
paciente no momento da sua admissão na Unidade de Terapia Intensiva,
prosseguindo com o seu acompanhamento, incluindo as fases de ventilação
mecânica invasiva, desmame, extubação, retirada do leito, até a alta da
unidade (SARMENTO, 2010, p.4).
Apesar de o fisioterapeuta ter adquirido reconhecimento dentro da unidade de
terapia intensiva através da sua atuação no manejo de patologias e disfunções
de ordem respiratória, atualmente tem-se observado um crescente interesse
em focar a atenção ao tratamento de patologias músculo-esqueléticas,
relacionadas principalmente ao efeito deletério do imobilismo.
Essa necessidade tem se tornado cada vez mais evidente a medida que novas
tecnologias terapêuticas permitem aumentar a sobrevida dos enfermos. Se
hoje esses indivíduos possuem uma maior chance de sobreviver, é necessário
que esta sobrevida esteja associada a uma maior qualidade de vida. Daí a
importância de buscar cada vez mais prevenir alterações que possam limitar o
desempenho funcional do indivíduo após a alta hospitalar e o retorno para a
sua convivência na sociedade.
Sabe-se que a polineuromiopatia do paciente crítico é uma alteração
relativamente freqüente entre os indivíduos que necessitam de ventilação
mecânica invasiva e permanecem longos períodos internados na unidade de
terapia intensiva. Há uma clara relação da polineuromiopatia do paciente crítico
como complicação do choque séptico e disfunção de múltiplos órgão e
sistemas, resultando em prolongamento da permanência na unidade de terapia
intensiva e redução gradativa da probabilidade de sobrevida (CANINEU, 2006,
p. 308). E o tratamento desta patologia, como a maioria das patologias tratadas
na unidade de terapia intensiva, é de ordem multidisciplinar, tendo a fisioterapia
motora como principal ferramenta na reabilitação.
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A fraqueza neuromuscular adquirida na unidade de terapia intensiva pode
perdurar por meses ou anos após a alta hospitalar (KORUPOLU, 2009, p. 1).
Isso promove um efeito devastador na vida do próprio pacientes, além de seus
familiares e cuidadores, promovendo um ônus à sociedade. Daí a importância
em prevenir e tratar as disfunções músculo-esqueléticas e neurológicas que
estão associadas a longa permanência no leito.
A partir desta necessidade, a mobilização precoce tem se tornado um dos
principais focos do fisioterapeuta dentro da unidade de terapia intensiva. O
termo “precoce” se refere ao conceito que as atividades de mobilização sejam
iniciadas imediatamente após a estabilização hemodinâmica do indivíduo, e
não aguarde o desmame de ventilação mecânica ou a alta da unidade de
terapia intensiva (KORUPOLU, 2009, p. 2).
Contudo, a atuação do fisioterapeuta não deve colocar em risco a vida do
paciente. Dessa forma, vários estudos têm sido realizados investigando a
segurança dos pacientes que são submetidos a programas de mobilização
precoce dentro da unidade de terapia intensiva. E os autores têm relatado que
a mobilização precoce não incrementa a ocorrência de eventos adversos que
coloquem em risco a vida do indivíduo (KORUPOLU, 2009, p. 2).
Além disso, os potenciais benefícios induzidos pela mobilização precoce
realizada pelo fisioterapeuta na unidade de terapia intensiva incluem: melhora
da mobilidade do paciente; ganho de força muscular; acelera o desmame da
ventilação mecânica; melhora a independência durante a realização das
atividades de vida diária; e reduz o período de internação na unidade de terapia
intensiva.
Segundo SARMENTO (2010, p. 4):
Pela atuação global sobre o indivíduo, buscando com que o paciente participe ativamente de seu tratamento, possibilitando a integração de seu equilíbrio físico, emocional, e social, o
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fisioterapeuta pode mais do que somente remover secreções pulmonares. Pelo contato diário com o paciente [...] o fisioterapeuta estabelece comunicação e conforto nas diversas formas de atuação que são adaptadas às necessidades do paciente. Essa interface criada entre o fisioterapeuta, o paciente, e os diferentes membros da equipe assistencial é a chave do sucesso para uma pronta recuperação do doente e da humanização do tratamento.
Contudo, a atuação dos fisioterapeutas inseridos nas Unidades de Terapia
Intensiva varia muito entre os diversos hospitais e unidades, sendo esta uma
realidade presente nos diversos estados do Brasil e em demais países como,
por exemplo, os Estados Unidos e a França, além de outros países europeus
(HODGIN, 2009, p. 2).
NORREMBERG (2000, p. 844) verificou variações consideráveis na função do
fisioterapeuta na unidade de terapia intensiva:
Na Europa foi observado que 48% dos fisioterapeutas trabalhavam em hospitais universitários, sendo que, 38% dos hospitais apresentaram em torno de 30 fisioterapeutas trabalhando e 25% dos hospitais não tem em sua equipe, fisioterapeutas exclusivos para UTIs; 34% tem fisioterapeuta disponível à noite e 85% durante o fim de semana. Em quase 100% das UTIs a função do fisioterapeuta é na mobilização do paciente e ajustes na função do ventilador mecânico, sendo que, 12% têm papel ativo no ajuste da ventilação mecânica, 25% na extubação, 22% no desmame da ventilação mecânica e 46% na execução da ventilação mecânica não-invasiva. Quanto a presença dos fisioterapeutas a noite, 80% dos pesquisados do Reino Unido afirmam manter atividade neste período, enquanto na Alemanha e Suécia isso não ocorre em nenhuma instituição hospitalar.
CHABOYER (2004, p. 151) em estudo realizado em 77 hospitais australianos
públicos, limitadas à UTIs para adultos mostrou que:
Na Austrália, 90% das instituições mantêm fisioterapeutas em UTIs de segunda a sexta-feira, 25% os mantém apenas nos finais de semana e 10% todos os dias da semana, sendo que a maioria dos fisioterapeutas foi solicitado a UTI somente para funções básicas como aspiração de secreções endotraqueais, mobilização e posicionamento do paciente.
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Apesar da existência de estudos internacionais que investigam a atuação do
fisioterapeuta, a validade desses resultados pode não ser compatível à
realidade do Brasil, por motivos socioculturais e econômicos.
Para identificar o perfil do fisioterapeuta e da sua atuação nas Unidades de
Terapia brasileiras, foi realizado um estudo, no qual NOZAWA (2008, p. 179)
concluiu que:
A atuação fisioterapêutica caracteriza-se predominantemente pela aplicação de técnicas de remoção de secreção brônquica e de reexpansão pulmonar (99,3%); a preocupação com a mobilização do paciente é tão importante quanto as técnicas de terapia respiratória (91,5%). A utilização de dispositivos instrumentais como incentivador inspiratório, exercício com pressão positiva e flutter têm menor aplicação. A tomada de decisão sobre os procedimentos fisioterapêuticos é de responsabilidade do profissional fisioterapeuta de forma preponderante em mais de 90% das Unidades de Terapia Intensiva. Quanto aos procedimentos de assistência ventilatória, cerca de 80% dos fisioterapeutas realizam os procedimentos de extubação, regulagem dos parâmetros ventilatórios e as etapas do desmame.
Em relação ao manejo do suporte ventilatório mecânico tanto invasivo quanto
não invasivo NOZAWA (2008, p. 179) traz que:
Dos fisioterapeutas que atuam nas Unidades de Terapia Intensiva brasileiras, 42,5% têm total autonomia durante a indicação e aplicação da ventilação mecânica não invasiva, e 49% realizam esse procedimento com base em protocolo discutido com a equipe médica; são raros os fisioterapeutas que não têm autonomia. Quanto aos procedimentos de ventilação mecânica invasiva, somente 22% dos fisioterapeutas gozam de total autonomia sobre a condução do processo ventilatório e 62% necessitam, previamente, discutir com a equipe médica para determinar a conduta.
Esta diversidade de atuação em diferentes países e mesmo em diferentes
regiões de um país pode contribuir para uma falta de padronização de
conteúdos que devem fazer parte da formação do novo profissional, já que os
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conteúdos ministrados na graduação devem englobar as competências e
habilidades que a atuação profissional exige. Caso contrário, os alunos podem
concluir sua formação sem dominar conteúdos importantes, tendo como
principal resultado a imersão no mercado de profissionais despreparados e
com dificuldades em atender a demanda que a prática clínica impõe.
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Capítulo II
Ensino da fisioterapia
Segundo Libâneo (2001, p. 35), quando se trabalha com o planejamento
curricular, realiza-se uma escolha para responder a estas indagações: o que
nossos alunos precisam aprender, para que aprender, em função de que
aprender. A análise curricular deve levar em consideração o currículo formal e
o real.
Ainda segundo Libâneo (2001, p. 35), o currículo formal é estabelecido pelos
sistemas de ensino ou instituição educacional. É o expresso em diretrizes
curriculares, objetivos e conteúdos das áreas ou disciplinas; e o real é o
currículo que, de fato, acontece na sala de aula em decorrência de um projeto
pedagógico e dos planos de ensino, expressado nas informações de alunos e
professores.
PIVETTA (2006, p. 37) traz que:
A formação do profissional pelas universidades, geralmente, é guiada pelas diretrizes curriculares estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC). O currículo apresenta-se como uma forma de projeto que determina/influencia a maneira de atuação desse futuro profissional. Cada instituição de ensino superior planeja e organiza seu currículo de modo que o desenvolvimento e a formação não se estabelecem de maneira idêntica nas universidades do País.
A organização curricular da graduação em fisioterapia fundamenta-se em
disciplinas fragmentadas com caráter assistencialista e reabilitador. A própria
origem da fisioterapia dirigiu o campo profissional para atividades reabilitadoras
a serem utilizadas em condições de doença (PIVETTA, 2006, p. 45).
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Além disso, a metodologia utilizada influencia no aprendizado dos alunos. O
ensino baseado em métodos reflexivos não é exatamente novo, mas é o que
se vem denominando inovador em saúde e, por decorrência, em fisioterapia
(RICIERI, 2002, p. 96).
RICIERI (2002, p. 97) traz que:
Uma das mais antigas escolas de fisioterapia encontra-se na Inglaterra, com mais de um século de formação profissional. A escola inglesa desde há muito acredita que, muito precocemente, a aplicação de práticas de ensino que conduzam o aluno a reflexões sobre situações práticas podem desenvolver o senso crítico e melhorar a qualidade do profissional.
2.1 – Graduação em fisioterapia no Brasil
De acordo com Oliveira (2002, p. 102):
A primeira proposta curricular (Portaria Ministerial nº 511/64) determinava que os cursos de Fisioterapia deveriam garantir que os diplomandos fossem capazes de compreender e executar atos terapêuticos, sem a pretensão de que pudessem participar criticamente dentro do seu trabalho e na sociedade. O fisioterapeuta era formado para integrar o mercado de trabalho, como um competente executor de técnicas, e não o mundo do trabalho, com capacidade de leitura crítica da realidade e de fazer opções.
Os fisioterapeutas organizados na Associação dos Fisioterapeutas do Brasil
(ABF) consideravam o primeiro currículo mínimo como inadequado às
necessidades de formação profissional, além de classificá-los como tecnólogos
ao invés de profissionais de nível superior, o que refletia na remuneração da
classe, sobretudo no funcionalismo público (Oliveira, 2002, p. 150).
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Contudo, somente em 1983 a Portaria Ministerial nº 511/64, que regulamentava
as disciplinas que deveriam compor a formação do fisioterapeuta foi substituída
pelo novo currículo mínimo, o que correspondeu aos anseios dos profissionais
engajados no reconhecimento e melhor formação acadêmica da classe
(Oliveira, 2002, p. 150).
A grande crítica com relação ao documento de 1983 é a ênfase no aprendizado
e aplicação de técnicas fisioterapêuticas, correspondendo a 80% do curso, em
detrimento das disciplinas biológicas e de formação geral, o que indica uma
formação voltada para a qualificação técnica.
Segundo Oliveira (2002, p.122):
Embora voltado para qualificação técnica, o conteúdo desse documento avança em relação ao anterior (Portaria Ministerial nº 511/64) ao incluir, no segundo ciclo, as disciplinas definidas como “ciências do comportamento”: Sociologia, Antropologia, Psicologia e Ética. Ainda que precariamente, pela primeira vez, buscou-se ampliar a formação do fisioterapeuta, embora esse grupo de disciplinas aparecesse agrupado em área específica e a prioridade ainda fosse as disciplinas técnicas. Esse novo modelo curricular contemplava uma tendência nacional de redemocratização das Universidades, contrapondo-se ao cunho tecnicista imposto durante o regime militar.
A educação no Brasil, incluindo a formação universitária, adota uma tendência
em reproduzir os conhecimentos já existentes e aplicá-los como fórmulas
prontas por meio de métodos e técnicas. Não diferente, a graduação em
fisioterapia é organizada como uma forma de preparação de recursos humanos
para recuperar e reabilitar indivíduos por meio da reprodução de procedimentos
técnicos específicos. Isso é percebido quando observa-se que a maioria dos
currículos das universidades que formam fisioterapeutas apresenta-se com
disciplinas que orientam o processo de ensino de maneira fragmentada.
(PIVETTA, 2006, p. 35).
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PIVETA (2006, p. 7) afirma que:
Na atualidade, os profissionais fisioterapeutas, em sua grande maioria, continuam sendo formados por currículos cuja atividade fica restrita à capacidade técnica de reabilitar ou, na linguagem mais recente, dar assistência. Atualmente, discutem-se conceitos como prevenir, promover, proteger, entre outros, que levam os profissionais a repensarem o contexto dessa formação.
PIVETA (2006, p. 8) traz ainda que:
A concepção de formação puramente assistencialista, tecnicista, biomédica e hospitalocêntrica em que a matriz curricular nos cursos de fisioterapia é oferecida, por meio de disciplinas específicas, fragmentadas, limita o pensamento do sujeito na doença e, por isso, precisa ser repensada. O modelo biomédico é um modelo centrado no médico, o que torna os demais profissionais da saúde submissos à execução de técnicas determinadas por ele. Esse modelo condiciona a fragmentação das partes do corpo e entre corpo e mente. Na prática diária, esses profissionais e, principalmente, o profissional fisioterapeuta, muitas vezes, deparam-se com dificuldades que inviabilizam o sucesso de sua atuação, e isso pode estar relacionado com a formação que recebeu, pela qual não é capaz de contextualizar a ação de acordo com a realidade do ser humano com o qual se depara. Não estabelece relação entre seus saberes teóricos de acordo com cada situação e cada momento de sua prática.
O conhecimento e o domínio do conhecimento não dão conta da função social
do fisioterapeuta. É uma constante nos currículos de fisioterapia a ausência de
esclarecimentos sobre o que o profissional poderá fazer em relação aos
conteúdos nele relacionados, assinalando a inadequação do ensino. Isso cria
paradoxos na profissão que confunde a atuação profissional de nível superior
com uma atividade meramente técnica (PIVETTA, 2006, p. 35).
Segundo PIVETTA (2006, p. 35):
Essa inadequação curricular se reflete no mercado de trabalho, no qual o profissional encontra dificuldade de se inserir, pois a formação limita a sua atuação em campo puramente reabilitador. O profissional não se identifica e não percebe as
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várias áreas de conhecimento e o vasto campo de atuação que a Fisioterapia, enquanto ciência, oferece.
Devido às constantes mudanças sociais que impõe a necessidade de
profissionais atuando de acordo com as novas exigências, o ensino superior
vem passando por um processo de expansão e transformação para atender as
alterações no mercado de trabalho.
No caso da fisioterapia, PIVETTA (2006, p. 36) afirma que existem estudos
para definir o currículo no sentido de delinear as habilidades e competências do
fisioterapeuta, visando garantir ao aluno a possibilidade de desenvolver
aptidões profissionais próximas da realidade de atuação exigidas pelo mercado
de trabalho.
De fato a Fisioterapia é uma profissão que precisa extrapolar esse paradigma
reabilitador e hierarquizado que condiciona a mera reprodução de
conhecimentos já postos e técnicas pré-determinadas. Para tanto, a
universidade precisa proporcionar oportunidades de aprendizado condizentes
com a produção de conhecimento e desenvolvimento de análise crítica-
reflexiva, em que o estudante possa agir frente às diversidades do mundo
(PIVETTA, 2006, p. 36).
Para OLIVEIRA (2002, p. 17):
Assim como nas diferentes áreas de atuação do profissional, egresso da educação superior, em virtude do desenvolvimento do conhecimento técnico-científico e das alterações nas demandas contextuais, a fisioterapia requer atualização permanente na sua prática. Logo os projetos dos cursos que formam o fisioterapeuta para atuação num contexto em transformação também necessitam de atualização contínua. Há uma demanda crescente de novas abordagens formativas capazes de subsidiar o egresso com referências, técnicas e instrumentais para aplicação nas diversas áreas de atuação da fisioterapia. Ou seja, gradativamente surgem novas competências para a atuação profissional. Isso significa que a formação de profissionais, sobretudo na educação superior, também deve acompanhar estas transformações.
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OLIVEIRA (2002, p. 20) traz ainda que:
As propostas formativas indicadas nos projetos pedagógicos das instituições de educação superior seguem as orientações das políticas educacionais expressas nas diretrizes curriculares nacionais para cada curso. As diretrizes curriculares do curso de fisioterapia na Resolução do CNE/CES 04/2002 indicam o perfil, as competências básicas e os temas de estudo para a formação do profissional, pautadas na análise das necessidades e demandas do contexto. Considerando a dinamicidade do real, novas competências são continuamente incorporadas na atuação do profissional. As políticas atuais apontam para que a formação (...) seja de profissionais generalistas. Para isso, é importante que o egresso obtenha conhecimento de todas as áreas que abrangem o espaço da atuação profissional durante a realização do curso. Isso permite que o egresso ao concluir o curso, possa optar pela especialidade na qual irá se aprofundar.
De fato, o estudante precisa ter acesso a uma formação generalista, em que o
indivíduo seja visto como um todo e não como fragmentos de um todo. Mas
para que isto ocorra, é necessário que o professor tenha as habilidades
necessárias para estimular e guiar o aprendizado dos seus alunos em sala de
aula e fora desta, de forma que a especialização demasiada precoce seja
evitada.
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Capítulo III
Ensino da fisioterapia intensiva
3.1 – Ensino da Fisioterapia Intensiva no Brasil
Nas últimas décadas as unidades de terapia intensiva têm se tornado uma
concentração não somente de pacientes críticos e de tecnologia avançada,
mas também de uma equipe multiprofissional com competências específicas. O
profissional fisioterapeuta, como integrante desta equipe, necessita cada vez
mais de aprimoramento e educação especializada para fazer frente ao avanço
dos cuidados intensivos (NOZAWA, 2008, p. 178).
Em países desenvolvidos, a função do fisioterapeuta depende de muitos
fatores, como a própria característica da inserção da Fisioterapia em cada país,
a tradição, o nível do curso de graduação, treinamento e competência
(NOZAWA, 2008, p. 178).
Para BRAZ (2009, p. 121):
O perfil do fisioterapeuta intensivista vai além do profissional habilitado para atuar nas áreas pneumofuncional e neurofuncional, pela necessidade de conhecimento clínico mais aprofundado exigido pelas necessidades de resoluções de intercorrências mais freqüentes nos pacientes criticamente enfermos.
De acordo com YAMAGUTI (2006, p. 18):
Fica explícita a complexidade do trabalho do fisioterapeuta diante da cobrança pela efetividade de suas condutas e da necessidade de controlar os riscos ao paciente. Deste modo é imperativo a correta habilitação desse profissional, para sua
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plena inserção junto à equipe multiprofissional atuante nas UTIs.
YAMAGUTI (2006, p. 18) contribui ainda ao afirmar:
A ação do fisioterapeuta em terapia intensiva, como membro efetivo da equipe é um fato incontestável, portanto, faz-se necessário que o fisioterapeuta seja habilitado por uma sólida formação e bagagem prática para indicar e aplicar condutas específicas da fisioterapia respiratória, caso contrário, tanto a efetividade da atuação pode ficar comprometida quanto os riscos ao paciente podem aumentar de forma proibitiva.
Nas últimas décadas, tem se observado o crescimento do papel do
fisioterapeuta nas diversas especialidades clínicas e principalmente no
ambiente hospitalar.
Além disso, existem diversas unidades de terapia intensiva que atendem perfis
específicos de pacientes tais como os neurológicos, cardiopatas, oncológicos,
ortopédicos, cirúrgicos e clínicos. E para atuar nessas unidades, o
fisioterapeuta precisa, além dos conhecimentos de terapia intensiva, ter
conhecimento específico do público que atende.
Baseado nisso, em 2001 o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional (COFFITO) reconheceu os primeiros cursos de Fisioterapia
Intensiva no Brasil, dando início à conceituação moderna da atuação do
fisioterapeuta intensivista, este com atuação exclusiva nas unidades de Terapia
Intensiva e Semi-Intensiva (BRAZ, 2009, p. 121).
Nos cursos de graduação observa-se que os conteúdos de Fisioterapia
Respiratória e de Terapia Intensiva são, na maioria das vezes, ministradas
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dentro da mesma disciplina, com carga horária variando nas diferentes regiões
do país entre 100 a 150 horas (CARVALHO, 2009, p. 5).
De fato, trata-se de duas especialidades que apresentam alguns temas e
habilidades comuns, porém, as necessidades e os conhecimentos necessários
para atuar numa unidade de terapia intensiva vai além daquelas que a
disciplina de fisioterapia respiratória pode abranger.
O fisioterapeuta intensivista necessita de ferramentas conceituais e práticas
que supram as exigências neuromusculares, cardiorrespiratórias, entre outras,
que o cuidado ao paciente crítico necessita. Sendo portanto, considerado um
aprendizado mais complexo e abrangente.
As disciplinas de estágio supervisionado se propõem a aproximar o discente da
sua prática profissional de forma segura e orientada, com supervisão direta de
um fisioterapeuta docente. Essas disciplinas permitem que os graduandos
possam atuar nas diversas especialidades que a profissão abrange, tendo
como beneficio o aluno experimentar e reconhecer a área que mais se
identifica.
Com relação a disciplina de estágio supervisionado em Fisioterapia
Respiratória, nas regiões Norte, Sul, Centro-Oeste e Nordeste, a carga horária
varia entre 81 a 150 horas, enquanto que na região Sudoeste a carga horária
desta disciplina variou predominantemente entre 151 a 250 horas. A relação
aluno/supervisor varia entre 5 e 7 alunos por supervisor em todas as regiões
brasileiras (CARVALHO, 2009, p. 5).
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De acordo com CARVALHO (2009, p. 6):
Os conteúdos programáticos mais presentes são: biomecânica torácica, reabilitação pulmonar, manobras de higiene brônquica, oxigenoterapia, técnicas de reexpansão pulmonar, treinamento muscular respiratório, cinesioterapia, pré- e pós-operatório em cirurgias abdominais e torácicas e ventilação mecânica invasiva e não-invasiva. Os conteúdos de biomecânica torácica, reabilitação pulmonar, manobras de higiene brônquica, oxigenoterapia, técnicas de reexpansão pulmonar, treinamento muscular respiratório, cinesioterapia e pré- e pós-operatório em cirurgias abdominais e torácicas são ministrados prioritariamente (>60%) prático e teórico em todas as regiões do Brasil. Porém, o ensino de ventilação mecânica não invasiva é predominantemente teórico nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Já nas regiões Norte e Nordeste observa-se predominância do ensino teórico-prático no ensino de ventilação mecânica não-invasiva. De maneira similar, o ensino de ventilação mecânica invasiva é predominantemente teórico nas regiões Sudeste e Centro-Oeste sendo que na região Sul há equivalência entre o ensino teórico e teórico-prático. Já nas regiões Norte e Nordeste há predominância do ensino teórico-prático no ensino de ventilação mecânica invasiva.
A abordagem teórico-prática dos principais temas e competências deve,
sempre que possível, ser estimulada e facilitada, já que o manejo dos
aparelhos e do próprio paciente permite ao aluno uma melhor compreensão
dos temas abordados, além de prepará-lo de forma mais adequada e realista
para a sua atuação profissional.
CARVALHO (2009, p. 7) conclui que:
O conteúdo programático abordado dentro do ensino de Fisioterapia Respiratória parece ser muito grande para a carga horária estabelecida e isto pode estar relacionada à deficiência do ensino prático-teórico observado em alguns conteúdos programáticos. Além disto, apesar da grande maioria dos docentes ter sua especialidade clínica em Terapia Intensiva, isto não parece compatível com os locais de estágios e a relação do ensino teórico-prático sobre este conteúdo programático.
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Abordando especificamente sobre a ventilação mecânica, OSAKU (2006, p. 86)
traz que:
Durante a formação destes futuros profissionais observa-se que o tempo de estagio em uma Unidade de Terapia Intensiva é, em geral, insuficiente para adquirir os conhecimentos suficientes sobre ventilação mecânica. Além disto, realizar na Universidade a pratica do funcionamento de um ventilador mecânico é inviável por falta de infra-estrutura. Devido a estas dificuldades, o aluno termina sua formação acadêmica com pouco conhecimento e embasamento sobre ventilação mecânica.
Apesar da discussão vigente sobre qual profissional, médico ou fisioterapeuta,
é responsável pela assistência ventilatória mecânica invasiva, observa-se com
muita freqüência, nas unidades de terapia intensiva brasileiras, que o
fisioterapeuta maneja de forma competente tal ferramenta de assistência ao
paciente criticamente enfermo, sendo considerado o maior detentor de
conhecimento sobre a ventilação mecânica invasiva e não invasiva.
Dessa forma, o futuro profissional deve sim ter acesso durante a graduação à
uma formação que permita adquirir habilidades para manejar o aparelho de
ventilação mecânica de forma crítica e competente para atuar na unidade de
terapia intensiva. E para tanto, o conhecimento construído exclusivamente no
âmbito teórico é insuficiente. É preciso que o aluno possa vivenciar na prática a
utilização de tal recurso terapêutico, construindo uma base sólida de
conhecimento.
Além de fornecer ferramentas que auxiliem na formação do aluno, o docente
deve estimulá-lo a buscar e construir o conhecimento através das bases de
dados científicos, visando construir uma atuação baseada em evidências.
Dentre as especialidades, observa-se que a fisioterapia cardiorrespiratória e
em terapia intensiva são as áreas que os profissionais mais produzem e
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consomem e produzem artigos científicos. Talvez a maior interação com outros
profissionais dentro da unidade de terapia intensiva estimule a discussão
científica para que a melhor conduta possa ser tomada visando o melhor para o
paciente.
Sobre isso, RICIERI (2002, p. 100) traz que:
A prática baseada em evidências nada mais é do que educar pela pesquisa, pelo questionamento construtivo, encontrando bases sólidas de argumentação e ensinando os pilares da construção da própria ciência. Porém, para educar pela pesquisa existe a condição essencial de que o profissional da educação seja ele próprio um pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa com princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana.
RICIERI (2002, p. 100) contribui ainda ao afirmar que:
A Filosofia da “Escola Nova” tem convidado ao desenvolvimento de recursos didáticos próprios e apropriados à Fisioterapia, abandonando paulatinamente aqueles importados das áreas mais antigas da Saúde. O fisioterapeuta vê-se, então, em uma nova dimensão da atividade de ensino: a de pensar como fisioterapeuta para agir para a Fisioterapia, especificamente. Esta tarefa conclama ao conhecimento sólido da pesquisa como meio de comunicação da ciência formal e das chamadas tecnologias educacionais, versão contemporânea dos recursos complementares aplicados à prática do ensino, além do conhecimento técnico fisioterapêutico. Este novo cenário do ensino tem promovido o crescimento das interfaces de utilização dos recursos tecnológicos, exigindo a adoção de novas posturas para docentes e alunos.
De fato, aliar educação, e não somente ensino, atualização de conhecimentos,
questionamento construtivo e práticas diferenciadas exigem um novo perfil para
o professor, tanto quanto para o aluno e futuro fisioterapeuta. E isso poderá
implicar numa postura diferenciada ao longo da carreira profissional.
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RICIERI (2002, p. 103) afirma que:
Se o acadêmico for mais experimentado na busca dinâmica por informações, ao longo de sua formação de graduação, criaria o habitus necessário para prosseguir profissionalmente dotado de uma práxis mais científica e independente, e o curso de graduação do qual ele egressou teria então atingido os preceitos exarados pelas diretrizes curriculares.
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CONCLUSÃO
A fisioterapia, embora considerada uma profissão relativamente nova, é
aplicada e relatada desde os tempos mais remotos. Após a regulamentação da
profissão no Brasil em 1969, o fisioterapeuta passou a ganhar espaço e
notoriedade científica promovendo reabilitação física e atuando em diversas
áreas e especialidades como é o caso da terapia intensiva.
A presença e atuação do fisioterapeuta dentro da unidade de terapia intensiva
é imprescindível para uma assistência integral e de qualidade aos pacientes
criticamente enfermos. Para que sua atuação contribua não só para a
prevenção de desordens, principalmente músculo-esqueléticas e
neuromusculares, mas também para melhora da sobrevida e qualidade de vida
dos indivíduos, o fisioterapeuta intensivista precisa ter acesso a uma formação
de qualidade durante a sua graduação.
Essa formação de qualidade inclui não só uma sólida bagagem teórica, mas
também uma atuação prática durante a graduação que permita um maior
conhecimento e promova, consequentemente, uma maior segurança ao
indivíduo durante a sua atuação enquanto profissional.
Observa-se que em algumas regiões do Brasil o ensino da fisioterapia intensiva
ocorre durante a disciplina de fisioterapia respiratória. Contudo, as habilidades
necessárias para a atuação na unidade de terapia intensiva exigem conteúdos
e práticas mais abrangentes do que aquelas abordadas na disciplina de
fisioterapia respiratória.
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Com relação aos conteúdos programáticos ministrados os autores têm relatado
que os mais presentes são: biomecânica torácica, reabilitação pulmonar,
manobras de higiene brônquica, oxigenoterapia, técnicas de reexpansão
pulmonar, treinamento muscular respiratório, cinesioterapia, pré- e pós-
operatório em cirurgias abdominais e torácicas e ventilação mecânica invasiva
e não-invasiva.
No que tange ao gerenciamento da ventilação mecânica tanto invasiva quanto
não-invasiva, sabe-se que na maioria das unidades de terapia intensiva
brasileiras é de responsabilidade do fisioterapeuta tal prática. De maneira que o
aluno deve ser capacitado, durante a sua graduação, a compreender e aplicar
os conhecimentos relacionados ao suporte ventilatório de forma eficaz e
segura.
Se inicialmente a abordagem do fisioterapeuta dentro da unidade de terapia
intensiva se restringia basicamente a resolução de desordens de origem
respiratória, atualmente o foco tem se voltado para a prevenção de alterações
decorrentes do imobilismo prolongado no leito. Daí a importância em se
estudar e promover a mobilização precoce, que tenta resgatar as origens do
objeto de estudo da ciência fisioterapia, que é o movimento do corpo humano.
Num mundo globalizado onde cada vez mais se busca uma prática baseada
em evidências, torna-se imprescindível que o docente fomente o aluno a
construir o conhecimento através de pesquisas científicas que fundamentem
suas condutas, para que as melhores práticas sejam alcançadas.
A padronização do ensino da fisioterapia intensiva no Brasil encontra
dificuldades referentes à própria identidade profissional, observada pela ampla
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e variada forma de atuação em diferentes regiões do país. Sem dúvidas, torna-
se mais difícil preparar o indivíduo para o mercado de trabalho quando sua
atuação varia entre as diversas unidades nosocomiais. Mas de fato, o papel da
formação de nível superior não pode ser limitada apenas a preparação técnica
do profissional. Ou seja, o curso de graduação não deve apenas servir para
treinar o indivíduo a reproduzir condutas e comportamentos técnicos durante a
sua atuação. O indivíduo precisa ser capacitado a analisar de forma crítica a
realidade que o cerca, para que possa contribuir para o crescimento da
profissão.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes – Projeto A Vez Do Mestre
Título da Monografia: Ensino da fisioterapia em terapia intensiva nos cursos de graduação: Como estamos?
Autor: Mário Ferreira Da Silva
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
AGRADECIMENTOSFOLHA DE AVALIAÇÃO