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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Aline Massa de Souto Rio de Janeiro 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Transcript of DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Aline Massa de Souto ... (quebra-cabeça,...

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

A CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Aline Massa de Souto

Rio de Janeiro

2010

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Aline Massa de Souto

A CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação da monografia ao Instituto a

Vez do Mestre como requisito parcial para

obtenção do grau de licenciado em

Pedagogia.

Orientadora: Profª Ms. Andressa Maria

Freire da Rocha

Rio de Janeiro

2010

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TERMO DE APROVAÇÃO

A CONTRIBUIÇÃO DO BRINCAR NO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia defendida por ALINE MASSA

DE SOUTO, apresentada ao curso de

Licenciatura em Pedagogia do Instituto a

Vez do Mestre e aprovado em (dia) de

(mês) de (ano) pela banca examinadora

constituída pelos professores:

_________________________________________________

Profª. orientadora Andressa Maria Freire da Rocha

_________________________________________________ Prof. XXXXXXX

_________________________________________________ Prof. XXXXXXX

4

DEDICATÓRIA

Primeiramente a Deus, pois sem Ele,

nada seria possível. A toda minha

família; em especial a minha mãe e

minhas tias. Ao meu marido, Fabio e a

João Gabriel, meu pequeno príncipe.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................... 6

CAPÍTULO I........................................................................................ 10

1. O BRINCAR E A EDUCAÇÃO INFANTIL........................................... 10

1.1 BRINCAR - BRINCADEIRA – BRINQUEDO...................................... 10

1.1.1

1.1.2

1.1.3

Brincar.................................................................................................

Brincadeira..........................................................................................

Brinquedo............................................................................................

10

12

15

1.2 EDUCAÇÃO INFANTIL....................................................................... 17

CAPÍTULO II....................................................................................... 20

2 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO REALIZADO

COM CRIANÇAS ATRAVÉS DE BRINCADEIRAS E SEUS

DESDOBRAMENTOS.........................................................................

20

2.1 EXPERIÊNCIA PRÁTICA................................................................... 20

2.2 A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO INFANTIL E O BRINCAR............ 23

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................. 31

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INTRODUÇÃO

O tema qual a contribuição do brincar no desenvolvimento da criança

na educação Infantil foi escolhido quando estava fazendo meu estágio de

docência de educação Infantil II. Naquela ocasião tive que elaborar um

pequeno projeto de atividades de jogos e brincadeiras. Realizei uma pesquisa

bibliográfica sobre o assunto e fiquei muito interessada em desenvolver no meu

projeto final de monografia

A infância é a idade das brincadeiras, e que por meio delas a criança

satisfaz, em grande parte, seus interesses, necessidades e desejos

particulares, sendo um meio privilegiado de inserção na realidade, pois

expressa a maneira como a criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e

reconstrói o mundo. O lúdico além de ser uma das maneiras mais eficazes de

envolver o aluno nas atividades, é a forma mais completa que a criança tem de

comunicar consigo mesma e com o mundo, pois a brincadeira é algo inerente

na criança, é sua forma de trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a cerca.

Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da

criança. Irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto. Este

é o momento de auto-expressão e auto-realização.

As atividades livres com blocos e peças de encaixe, as dramatizações,

a música e as construções desenvolvem a criatividade, pois exige que a

fantasia entre em jogo.

Já o brinquedo organizado, que tem uma proposta e requer

desempenho, como os jogos (quebra-cabeça, dominó e outros) constitui um

desafio que promove a motivação e facilita escolhas e decisões à criança.

O lúdico na educação infantil tem por objetivo provocar o educador

para que insira o brincar em seus projetos educativos, tendo intencionalidade,

metas e consciência clara de sua ação em relação ao desenvolvimento e à

aprendizagem infantil.

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É muito importante aprender com alegria, com vontade. Comenta

Sneyders (1996, p.36) que “Educar é ir em direção à alegria.” As técnicas

lúdicas fazem com que a criança aprenda com prazer, alegria e entretenimento,

sendo relevante ressaltar que a educação lúdica está distante da concepção

ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial.

Portanto, é de primordial importância a utilização das brincadeiras e

dos jogos no processo pedagógico, pois os conteúdos podem ser ensinados

por intermédio de atividades predominantemente lúdicas.

Talvez poucas pessoas saibam a importância da brincadeira para o

desenvolvimento físico e psíquico das crianças. Mas, o ato de brincar não se

limita a um simples passatempo sem funções, que serve apenas para entreter

as crianças em atividades divertidas.

Além de contribuir com o crescimento saudável, o brincar conduz aos

relacionamentos grupais e a sociabilidade da criança. É a maneira que esta

tem de vivenciar e experimentar suas primeiras relações, preparando-se para o

“mundo adulto”.

O ato de brincar sozinho ou com outras crianças favorece o

entendimento de certos princípios da vida, como: colaboração, divisão,

liderança, obediência às regras e competição.

A aprendizagem de habilidades motoras e da linguagem, também

pode ser desenvolvida durante o brincar. Por exemplo, ao brincar de “boneca”

ou “carrinho”, a criança emitirá sons ou verbalizará (com o brinquedo ou seu

companheiro de brincadeira), estabelecendo assim uma forma de

comunicação, além de exercitar, de maneira ampla, sua motricidade, ao

manusear o brinquedo. Através da brincadeira, a criança perceberá o mundo

ao seu redor, testando suas habilidades físicas como correr e pular, funções e

papéis sociais como: o médico, o mecânico, o motorista, o papai e a mamãe.

Assim, aprenderá regras e colherá resultados positivos ou negativos das suas

ações e registrará elementos que integrarão seu desenvolvimento.

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A brincadeira permite um extravasar dos sentimentos, auxilia na

reflexão sobre a situação, criando várias alternativas de conduta para o

desfecho mais satisfatório às suas vontades ou necessidades.

Para a criança é importante descobrir, inventar, exercitar, conferir

suas habilidades. O brinquedo proporciona a iniciativa; autoconfiança; estimula

aprendizagens; o desenvolvimento da linguagem; do pensamento; da

concentração e da atenção.

Na brincadeira, as crianças interagem com outras pessoas, com isso

expressam e comunicam seu mundo interno. Desenvolvem algumas

habilidades importantes tais como: atenção, imitação, memória e a imaginação.

O presente trabalho procura conceituar o brincar, demonstrar sua

importância no desenvolvimento infantil e dentro da educação como uma

metodologia que possibilita mais vida, prazer e significado ao processo de

ensino e aprendizagem, tendo em vista que é particularmente poderoso para

estimular a vida social e o desenvolvimento construtivo da criança.

Referenciamo-nos em renomados autores, como Vygotsky (1991),

Marcelino (1990), Huizinga (1990), Negrine (1994), Sneyders (1996), Santos

(1999), e outros que abordam a importância do lúdico no desenvolvimento

infantil e na educação. Esta pesquisa bibliográfica considera “o ser criança” e

“o brincar” como a fase mais importante da infância e do desenvolvimento

humano.

O lúdico permite um desenvolvimento global e uma visão de mundo

mais real. Por meio das descobertas e da criatividade, a criança pode se

expressar, analisar, criticar e transformar a realidade. Se bem aplicada e

compreendida, a educação lúdica poderá contribuir para a melhoria do ensino,

quer na qualificação ou formação crítica do educando, quer para redefinir

valores e para melhorar o relacionamento das pessoas na sociedade.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que foi realizada a partir de

fontes secundarias.

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A análise do desenvolvimento da criança na Educação infantil terá

como referencial teórico o pensamento de Vygotsky (1989; 1998; 1999; 2001;

2003). Dentro da teoria de Vygotsky, o sujeito se constitui pela interação com o

meio físico e social, por isso é importante a relação cultural no processo de

ensino e aprendizagem.

A pesquisa aborda também a visão de outros autores como: Kishimoto

(1993,1996), que diz que o jogo tem a capacidade de ensinar, pelo simples

prazer de brincar e Benjamim (1984), que fala da importância do diálogo nas

atividades lúdicas; além de outros autores como Bertoldo, Rushel, Bock e

Mütshele, que destacam a ideia de que é possível aprender brincando. A

análise dos dados foi realizada dentro de uma perspectiva psico-pedagógica.

Esse estudo enfoca o quanto às crianças serão beneficiadas em seu

desenvolvimento se puderem criar, aprender e descobrir através do brincar.

Destaco a participação do professor como mediador no desenvolvimento da

criança. O professor e a escola têm papel fundamental na formação da criança,

é através da mediação do outro, que o sujeito vai construir o seu conhecimento

e que o indivíduo vai se tornar um cidadão crítico e reflexivo.

Essa monografia pretende contribuir para formação de professores e

alunos, isto é, profissionais da área de Educação, chamando atenção para uma

maior compreensão de como é importante o uso de atividades íúdicas para

construção do conhecimento. Dentro das minhas expectativas, espero também

que eles possam perceber a importância do lúdico no processo de ensino-

aprendizagem. O processo de ensino-aprendizagem está presente no dia a dia

do indivíduo. Aprender e ensinar faz parte da vida de cada um.

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CAPÍTULO I

1. O BRINCAR E A EDUCAÇÃO INFANTIL

1.1 - BRINCAR - BRINCADEIRA - BRINQUEDO

1.1.1 Brincar

Brincar é sinônimo de aprender, pois o brincar e o jogar geram um

espaço para pensar, sendo que a criança avança no raciocínio, desenvolve o

pensamento, estabelece contatos sociais, compreende o meio, satisfaz

desejos, desenvolve habilidades, conhecimentos e criatividade. As interações

que o brincar e o jogo oportunizam favorecem a superação do egocentrismo,

desenvolvendo a solidariedade e a empatia, e introduzem, especialmente no

compartilhamento de jogos e brinquedos, novos sentidos para a posse e o

consumo.

Percebe-se que o brincar está presente em todas as dimensões da

existência do ser humano e, muito especialmente, na vida das crianças.

Podemos afirmar, realmente, que “brincar é viver”, esta é uma afirmativa

bastante usada e aceita, pois a própria história da humanidade nos mostra que

as crianças sempre brincaram, e certamente, continuarão brincando. A criança

brinca porque gosta de brincar e quando isso não acontece, alguma coisa pode

não estar bem. Enquanto algumas crianças brincam por prazer, outras brincam

para dominar angústias, dar vazão à agressividade.

Brincar é uma necessidade básica, assim como a nutrição, a saúde, a

habitação e a educação são vitais para o desenvolvimento do potencial infantil.

Para manter o equilíbrio com o mundo, a criança necessita brincar, jogar, criar

e inventar. Estas atividades lúdicas tornam-se mais significativas à medida que

se desenvolve, inventando, reinventando e construindo. Destaca Chateau

(1987, p.14) que “Uma criança que não sabe brincar, uma miniatura de velho,

será um adulto que não saberá pensar.”

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Por meio da psicologia, temos conhecimento que, além de ser

genético, o brincar é fundamental para o desenvolvimento psicossocial

equilibrado do ser humano. Por intermédio da relação com o brinquedo, a

criança desenvolve a afetividade, a criatividade, a capacidade de raciocínio, a

estruturação de situações, o entendimento do mundo. A autora Wajskop (1995,

p.68) diz: “Brincar é a fase mais importante da infância - do desenvolvimento

humano neste período - por ser a auto-ativa representação do interno - a

representação de necessidades e impulsos internos”.

Brincando, o ser humano aumenta sua independência, estimula sua

sensibilidade visual e auditiva, valoriza sua cultura popular, desenvolve

habilidades motoras, exercita sua imaginação, sua criatividade, socializa-se,

interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, sua necessidade de conhecer e

reinventar e, assim, constrói seus conhecimentos.

A criança é, antes de tudo, um ser feito para brincar. (Rosamilha, 1979,

p.77).

A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para

resolução dos problemas que as rodeiam. A literatura especializada no

crescimento e no desenvolvimento infantil considera que o ato de brincar é

mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer

que requer tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências

culturais, que são universais, e próprio da saúde porque facilita o crescimento,

conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação

consigo mesmo e com os outros.

Cabe ressaltar, no entanto, que no mundo capitalista em que vivemos o

lúdico está sendo extraído do universo infantil. As crianças estão brincando

cada vez menos uma delas é o amadurecimento precoce; outra é a redução

violenta do espaço físico e do tempo de brincar, ou seja, o excesso de

atividades atribuídas, tais como escola, natação, inglês, computação, ginástica,

dança, pintura, etc. Tudo isso toma o tempo das crianças e, na hora de brincar,

quando sobra tempo, muitas vezes ficam horas em frente à televisão,

divertindo-se com jogos e rodeadas de brinquedos eletrônicos, onde as

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interações sociais e a liberdade de agir ficam determinadas pelo próprio

brinquedo. Eles fazem quase tudo pelas crianças, se movimentam e até falam,

sobrando pouco espaço para o faz-de-conta.

Entretanto, o mais grave de tudo, é que os pais estão esquecendo a

importância do brincar. Muitos acham que um bom presente é um tênis de grife

ou uma roupa porque é “mais útil”. Brinquedo virou supérfluo. No desespero

por fazer economia, os pais estão cortando o brinquedo do orçamento familiar.

Grande engano, com conseqüências muito sérias se o erro não for reparado a

tempo, pois as roupas e acessórios em geral não vão desenvolver o raciocínio

nem a afetividade. Pelo contrário, vão transformar a criança em um mini-adulto

que, desde já, precisa estar “sempre ligado”. Mas e o resto? E a criatividade, a

emoção, o desenvolvimento lógico e casual, a alegria de brincar?

1.1.2 Brincadeira

Tem-se caracterizado a brincadeira como a atividade ou ação própria

da criança, voluntária, delimitada no tempo e no espaço, entretanto, é certo que

a brincadeira assume um papel fundamental na infância; numa concepção

sociocultural, a brincadeira mostra como a criança interpreta e assimila o

mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das pessoas, sendo um

espaço característico da infância (Wajskop, 1995).

As diferentes abordagens pedagógicas baseadas no brincar bem como

os estudos de psicologia infantil direcionados ao lúdico permitiram a

constituição da criança como um ser brincante (Wajskop, 1995) e a brincadeira

deveria ser utilizada como uma atividade essencial e significativa para a

educação infantil.

Pense no desenvolvimento social. Como criar oportunidades lúdicas

para a criança incrementar o seu repertório social bem como desenvolver

relações inter-pessoais? Quando a criança brinca de faz de conta, por

exemplo, ela deve supor o que o outro pensa, tentar coordenar seu

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comportamento com o de seu parceiro, procurar regular seu comportamento de

acordo com regras sociais e culturais. Além disso, para Vygotsky (1984), a

criança, ao brincar de faz de conta, cria uma situação imaginária podendo

assumir diferentes papéis, como o papel de um adulto. A criança passa a se

comportar como se ela fosse realmente mais velha, seguindo as regras que

esta situação propõe. Nesse sentido, a brincadeira pode ser considerada um

recurso utilizado pela criança, podendo favorecer tanto os processos que estão

em formação ou que serão completados.

Certamente não é apenas o desenvolvimento social que é enriquecido

durante uma brincadeira. Podemos pensar na criança envolvida numa atividade

que exige um certo raciocínio necessitando levantar hipóteses e solucionar

problemas; ou ainda numa brincadeira qualquer na qual ela tenha possibilidade

de construir conhecimentos e enriquecer o desenvolvimento intelectual (Piaget,

1978).

Por fim, não podemos deixar de mencionar as situações que a criança

revive enquanto ela brinca; por exemplo: situações que lhe causaram alegria,

ansiedade, medo e raiva podem ser revividas em forma de brincadeira o que

favorece uma maior compreensão de seus conflitos e emoções.

Diante destas informações, a brincadeira pode e deve ser privilegiada

no contexto educacional, tanto na Educação Infantil como também no Ensino

Fundamental também. A escola, atenta aos inúmeros benefícios que a

brincadeira traz, bem como nas possibilidades que elas criam de se trabalhar

diferentes conteúdos em forma lúdica, deve “lutar” sempre pra que tais

atividades sejam privilegiadas e bem aceitas pelas crianças e pelos adultos

responsáveis.

Vale lembrar que não são necessários espaços muito estruturados ou

objetos complexos para que ocorra uma brincadeira. Espaços simples, com

objetos fáceis de serem encontrados e manipulados podem se transformar em

grandes aliados do educador.

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Brincadeiras como esconde-esconde, pega-pega, passa-anel, bingo,

morto - vivo; queimada, pular corda propiciam cooperação, estabelecimento e

cumprimento de regras, aprendizagem de se colocar no lugar do outro.

É brincando que a criança aprende que, quando se perde no jogo, o

mundo não se acaba, e muito pelo contrário, pois em cada oportunidade de

brincar vai surgir também uma oportunidade de descoberta do mundo à sua

volta, isso quando se der conta das coisas mais simples que aprendeu no jogo.

Ás vezes uma derrota pode se transformar em uma vitória para a criança,

desde que ao seu lado esteja um profissional da área de educação para

orientá-la de quanto essa derrota foi importante para o seu crescimento como

pessoa.

É através do brincar que a criança encontra o mundo de corpo e alma. Percebe como ele é e dele recebe elementos importantes para a sua vida, desde os mais insignificantes hábitos, até fatores determinantes da cultura de seu tempo. (BERTOLDO, 2004, p.02)).

Por meio das brincadeiras a criança vivencia as representações do

mundo que ela própria cria, transformando sentimentos, em emoções e

interligando-se do mundo real, quando seus comportamentos são entendidos

como um pedido de ajuda. Pois o modo como ela brinca revela o seu mundo

interior, o que esta sentindo. Podemos notar a relação dessa brincadeira com a

sua realidade, mas para isso “A criança, na brincadeira, experimenta papéis

construindo sua realidade, vivenciando sentimentos, comportamentos e

fazendo representações do mundo exterior”. (BERTOLDO, 2004, p.07)

O ato de brincar é importante, é satisfatório, é prazeroso, e o prazer é

ponto fundamental na formação do ser humano. A ludicidade é uma

necessidade interior, tanto da criança quanto do adulto. Por conseqüência a

necessidade de brincar é próprio do desenvolvimento.

Observando que a brincadeira não significa simplesmente entreter-se,

apesar de ser a forma mais completa que a criança encontra de comunicar-se

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com ela própria e com o mundo. Nesse entretenimento permanece o dialogo, o

pensamento, o movimento, abrindo caminhos de comunicação.

Se pararmos para analisar seus comportamentos notamos o quanto é

comum vermos em brincadeiras de crianças, principalmente nas de heróis, elas

enfrentando experiências de perda, medo, dor, autoconfiança, solidariedade e

demais conceitos que se explicados verbalmente elas não compreenderiam,

mas por meio da fantasia fica mais compreensível.

1.1.3 Brinquedo

O brinquedo é tudo aquilo que propicia uma relação construtiva e

lúdica com a criança, através de estimulo e da afetividade com que a criança

relaciona-se.

Além disso, o brinquedo gera um sentimento íntimo que algumas

vezes nem um amigo consegue construir, tornando-se um melhor amigo que

fala ouve e sente. Pois a criança vive um mundo de imaginações onde seus

brinquedos de ficção acabam ganhando vida e sentimento.

Quando brinca ela consegue expressar todas as sua angustias, raiva e

alegria, porque naquele momento ninguém poderá brigar ou dizer o que está

certo ou errado, o brinquedo faz de diversas maneiras que a criança cresça

dentro de si mesma e consiga ter um melhor convívio com seus colegas

ignorando os aspectos ruins.

Brinquedo é outro termo indispensável para compreender este campo. Diferindo do jogo, o brinquedo supõe uma relação intima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. (KISHIMOTO, 1999, p. 18)

A criança quando alcança uma etapa de sua vida consegue adquirir

mais habilidades, por sua vez mais desenvolvimentos, e ao chegar nessa etapa

o brinquedo tem uma fundamental importância onde vai despertar suas

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características e seus valores como, personalidade, respeito, determinação e

criatividade.

Mais para que essas características e valores sejam abrangidos pela

criança é necessário resgatar brinquedos manuais; sucata e folclóricos, pois é

fundamental “O uso de brinquedos educativos com fins pedagógicos remete-se

para a relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e

de desenvolvimento infantil”. (KISHIMOTO, 1999, p.36).

Por intermédio de brinquedos educativos podemos construir uma ponte

entre aprendizado e brincadeira, dessa forma tornando os aprendizados mais

dinâmicos, lúdicos e proveitosos. Por se tratar de uma brincadeira todas as

crianças vão sentir um espontâneo interesse em participar, e ai introduz os

processos de desenvolvimento infantil e o conhecimento.

O brinquedo é um fator importante no desenvolvimento infantil, pois,

por meio dele a criança se desenvolve e no contato com o mesmo que seu

comportamento vai além do habitual VYGOSTSK (1991) afirma que “atuando

no brinquedo como se ela fosse maior do que é na realidade”.

O brinquedo permite a criança transformar a realidade. Estimula a

representação, a criação e expressão de imagens.

O brinquedo entendido como objeto, suporte da brincadeira expressa a

relação íntima da criança, ou seja, a ausência de um conjunto de regras para o

seu uso. É o que afirma KISHIMOTO (1999) “uma boneca permite à criança

várias formas de brincadeiras, desde a manipulação até a realização de

brincadeiras como „mamãe e filhinha‟ “

O brinquedo oferece à criança um mundo imaginário. Esse imaginário

varia de acordo com a idade. Piaget denomina como brinquedos de ficção ou

simbólicos.

Surgem na metade do segundo ano de vida e continuam até os anos pré-escolares. Entre as diversas modalidades de brinquedos de ficção, é comum a criança fazer de conta que está dirigindo um carro ou uma motocicleta, ou ainda atribuir vida a objetos inanimados. (PIAGET, 1978, p.188).

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O brinquedo é tão importante para o crescimento e desenvolvimento da

criança, assim como é aprendizagem das habilidades de leitura e escrita.

As crianças ensinam que uma das maiores qualidades do brinquedo é a sua não seriedade. O brinquedo não é sério para as crianças porque permite a elas fazer fluir sua fantasia, sua imaginação. Justamente por não ser sério, ele se torna importante. É a não-seriedade que dá seriedade ao brinquedo. (OLIVEIRA, 1989, p. 10).

Muitas vezes as crianças nos mostram que os brinquedos podem ser

importantes em seu crescimento emocional, porque quando as mesmas

brincam mostram uma das principais qualidades do brinquedo que é a sua não-

seriedade na vida real da criança, ou seja, ao mesmo tempo em que ele ajuda

a criança a expor suas “vontades imaginárias” ele também ajuda em seus

“sentimentos reais”.

Os brinquedos são sempre suportes de brincadeira, sua utilização

deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, em onde prevalece à

incerteza do ato e não se visam resultados.

É preciso tomar cuidado para que o brinquedo não perca suas

características socioculturais e se transforme em objeto escolar, vazio de

significação social e descontextualizado de sua função cultural.

1.2 EDUCAÇÃO INFANTIL

A Educação infantil por ser o primeiro passo no processo de

escolarização da criança requer um cuidado especial por parte de todos que

estão envolvidos neste ato, pois é nesta fase que a criança faz as primeiras

descobertas, vive novas experiências que contribuem para o seu

desenvolvimento psicossocial. O próprio momento da chegada da criança na

creche pode significar um processo traumático. Tudo dependerá da acolhida

que tiver ao chegar nesse novo espaço.

18

Daí a importância de criar um ambiente acolhedor, fazer uma escola

onde todas as crianças sejam tratadas dignamente, um lugar onde os

profissionais sejam comprometidos com a sua profissão e com os seus

educando e sejam capazes de diagnosticar fatos que estejam prejudicando o

desenvolvimento da criança.

Pesquisas científicas sobre desenvolvimento infantil deixam evidente a

real importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento físico,

cognitivo, afetivo e social dos seres humanos. A educação infantil tem um

papel fundamental na formação do indivíduo e reflete em uma melhora

significativa no aprendizado da criança.

Trabalhar a democratização do ensino nos primeiros 6 anos de vida é

essencial para melhorar o índice de aprendizado dos alunos, estimular desde

cedo à busca pelo conhecimento e eliminar as diferenças de origem

socioeconômica no desempenho de crianças de 1ª série.

Uma amostra de como o ingresso na escola desde cedo faz diferença é

o índice de repetentes na 1ª série do Ensino Fundamental, monitorado pela

UNESCO e pelo OCDE em 48 países. O Brasil tem a taxa mais alta com 32%,

ante 1% da Rússia e China. Essa realidade condena um terço da população

brasileira ao atraso e mexe desde cedo com a auto-estima das crianças.

É na creche ou pré-escola que os pequenos começarão a se conhecer

e a conhecer o outro, a se respeitar e a respeitar o outro, e a desenvolver suas

habilidades e construir conhecimento.

Até os 6 anos, a criança viverá uma das mais complexas fases do

desenvolvimento humano, nos aspectos intelectual, emocional, social e motor,

que será tanto mais rica quanto mais qualificadas forem as condições

oferecidas pelo ambiente e pelos adultos que a cercam.

Uma escola precisa ser mais do que um lugar agradável, onde se

brinca. Deve ser um espaço estimulante, educativo, seguro, afetivo, com

professores realmente preparados para acompanhar a criança nesse processo

intenso e cotidiano de descobertas e de crescimento. Precisa propiciar a

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possibilidade de uma base sólida que influenciará todo o desenvolvimento

futuro dessa criança.

Por isso, a importância de estruturar um projeto diferenciado para a

Educação Infantil.

Sem abrir mão de ser um espaço para o livre brincar, de ser um

ambiente extremamente afetivo, e oferecer um cotidiano rico e diversificado de

situações de aprendizagem planejadas para desenvolver as linguagens e as

emoções e estabelecer os pilares para o pensamento autônomo. Toda escola

de Educação Infantil precisa ter certeza do que quer desenvolver na criança.

Assim, para formar uma criança saudável e desenvolver sua capacidade de

aprender a aprender, sua capacidade de pensar e estabelecer as bases para a

formação de uma pessoa ética capaz de conviver num ambiente democrático,

através de atividades que desenvolvem um conjunto de conhecimentos,

habilidades, atitudes e valores adequados a cada faixa etária.

20

CAPÍTULO 2

2 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO REALIZADO COM

CRIANÇAS ATRAVÉS DE BRINCADEIRAS E SEUS DESDOBRAMENTOS

2.1 EXPERIÊNCIA PRÁTICA

O Centro Educacional Cantinho da Natureza, nasceu na comunidade

do Morro dos Cabritos em 1973, por iniciativa do Padre Ítalo Coelho.

O trabalho desenvolvido (amarelinha) aconteceu na Creche Cantinho

da Natureza, onde trabalho com crianças do Projeto, com idades entre 5 a 7

anos.

Estas crianças são contempladas com diversas atividades tais como:

jogos pedagógicos, educação física, brincadeiras internas, externas e passeios

com parceria do Sonhar Acordado, e acredito que essas atividades contribuem

efetivamente para a participação da construção do conhecimento.

Com relação ao meu papel em sala de aula acredito que a simples

oferta de certos brinquedos já é o começo do projeto educativo, melhor do que

proibir ou sequer oferecer. Porém a disponibilidade de brinquedos não é

suficiente se não tem uma proposta educativa. Na escolha e na proposição de

jogos, brinquedos e brincadeiras, o educador coloca o seu desejo, suas

convicções e suas hipóteses acerca da infância e do brincar. Portanto desse

desejo comecei a observar as crianças brincando ou fazendo atividades da

escola, e fiz disso uma ocasião pra reelaborar o meu planejamento. Nesse

projeto as crianças têm o momento para realizar a tarefa escolar junto ao

educador, atividades de: matemática, português, etc.

Ao fazer atividades com algumas crianças observei que elas tinham

muita dificuldade para contar, classificar, agrupar e não tinham noção de

seqüência. Observando tais dificuldades selecionei alguns jogos pedagógicos

21

com o objetivo de ajudar essas crianças através do brincar, como por exemplo;

jogos numéricos para a criança ordenar, jogos da memória com quantidade.

Pensando nisso introduzimos o jogo de amarelinhas sabendo das diversas

possibilidades de aprendizado que essa brincadeira traria, foi então que

construímos a amarelinha no pátio da creche. A brincadeira proporciona a

questão da espera, seqüência, equilíbrio, atenção e coordenação motora. As

crianças pintaram a amarelinha com guache trabalhando também as cores.

Muitas vezes percebi que elas brincavam por que queriam ser o

primeiro (ausência de regras) a amarelinha ajudou bastante nesse sentido.

No jogo para chegar ao final (céu) a criança precisa passar por todos

os números na seqüência de l a 9 e muitas vezes observei que elas não tinham

noção de seqüência, queriam jogar em qualquer número e chegar logo.

Com relação ao jogo, Piaget (2002) acredita que ele é essencial na

vida da criança. De início, têm-se o jogo de exercício, que é aquele em que a

criança repete uma determinada situação por puro prazer ou por ter apreciado

seus efeitos. Em torno dos 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos,

que satisfazem a necessidade da criança de não somente relembrar

mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.

Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos

socialmente de criança para criança e, por conseqüência, vão aumentando de

importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento social. Para

Piaget (2002), o jogo constitui-se em expressão e condição para o

desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e podem

transformar a realidade.

Enquanto Vygotsky fala do faz-de-conta, Piaget fala do jogo simbólico,

e, pode-se- dizer, segundo Oliveira (1999), que são correspondentes.

A atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da

criança, por isso, sua presença é indispensável à prática educativa.

A criança, por sua criatividade, atribui aos objetos significados

diferentes daqueles que normalmente possuem, vendo-os como brinquedos.

22

Assim, o cabo de vassoura é o “cavalo” numa troca construtiva de significados.

Os brinquedos tornam-se objetos de comunicação, o meio através do qual a

criança sai de uma relação centrada num objeto, para torná-lo um utensílio

mediador entre ela e as outras crianças e, de forma mais generalizada, entre

ela e o mundo.

Ao brincar a criança passa por algumas fases e durante a primeira fase

ela começa a se distanciar de seu primeiro meio social, representando pela

mãe, começa a falar, andar e movimentar-se em volta das coisas. Nesta fase,

o ambiente a alcança por meio do adulto e pode-se dizer que a fase estende-se

até em torno dos sete anos. A segunda fase é caracterizada pela imitação, a

criança copia os modelos dos adultos. A terceira fase é marcada pelas

convenções que surgem de regras e convenções a elas associadas.

Vygotsky (2002), afirma que é enorme a influência do brinquedo no

desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir

numa esfera cognitiva, ai invés de numa esfera visual externa, dependendo das

motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos

externos.

De acordo com Pourtois (1999), a noção de “Zona Proximal de

desenvolvimento” interliga-se, portanto, de maneira muito forte à sensibilidade

do professor em relação às necessidades da criança e à sua aptidão para

utilizar as contingências do meio a fim de dar-lhe a possibilidade de passar do

que sabe fazer para o que não sabe.

As brincadeiras que são oferecidas à criança devem estar de acordo

com a zona de desenvolvimento em que ela se encontra, desta forma, pode-se

perceber a importância do professor conhecer a teoria de Vygotsky.

No processo da educação infantil o papel do professor é de suma

importância, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza materiais, participa

das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da construção do conhecimento e da

interação das crianças.

23

2.2 - A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO INFANTIL E O BRINCAR

O desafio colocado é pensar a função do brincar na educação infantil

quando os conteúdos escolares, a preocupação com a aquisição de

conhecimentos com bases científicas ou mesmo definida pela importância

central do domínio da linguagem escrita, pressionam no sentido contrário.

A educação estaria na linha direta de formação para um conhecimento

que constitui o repertório e a capacidade de renovação da técnica humana,

capaz de transformar a matéria e produzir riqueza. Entretanto, muitas são as

técnicas. E uma técnica é um modo de entrar no mundo, de habitá-lo.

Se acreditarmos que a educação infantil é somente uma questão de

aprendizagem cujos conteúdos já estão dados de antemão, o brincar será

pensado, de um lado, como um excedente de energia a ser gasta, do outro,

como um instrumento ou veículo de aprendizagem. Antes disso, o brincar é um

plano de experimentação.

Experimentação é uma questão de tomar o real como sendo um lugar

de não-modelos, de engendramento de singularidades, de não comparação.

Quando as crianças correm pelos espaços, toda sorte de desvio, colisão e

invenção ocorrem. Nesse plano, elas entram em interação com o mundo.

Ninguém sabe o que vai acontecer. Nem as próprias crianças.

O brincar é uma ponte entre esses mundos: da arte, dos cuidados

familiares e pedagógicos com a infância, dos afetos e percepções corporais.

É difícil para os adultos, em condições normais, entender as potências

da cultura lúdica da infância. Não sabem lidar com as energias

desencadeadas. Porém, aparece, aqui, a pergunta crucial: os educadores

deveriam se envolver com as brincadeiras infantis?

Por que os educadores, por não serem crianças, não podem brincar

com elas? Por que se satisfazem, muitas vezes, em vigiar os espaços livres do

brincar? Por que cumprem esse papel que a ordem econômica reserva para os

que lidam com a infância?

24

No entanto, quando aderimos à produtividade a todo custo, modelo

vigente para muito do que se pensa para a educação infantil, esquecemos que

a própria sociedade se modifica sem parar. A adesão aos parâmetros de uma

sociedade de acumulação, apesar de sempre justificada como necessidade do

“real”, não deixa de ser um modo de viver a vida dos afetos, de organização do

desejo. E essa mesma aderência, quando reporta aos hábitos que tal

sociedade cristaliza, torna suas ferramentas para a produção da vida

inadequadas para o próximo momento.

As crianças, dentro do programa de educação infantil voltado para o

progresso a todo custo, não estão podendo dispor do brincar como um modo

de entrar no mundo – que é realmente e, de modo concreto, um instrumento de

conhecimento. Difícil é perceber a riqueza desse conhecimento. Nisso,

infelizmente, não se é treinado. Mas nunca é tarde. É preciso aprender com as

crianças.

Se o brincar é da vida, ele possui um programa implícito que

precisamos, do ponto de vista pedagógico, torná-lo explícito. Isso não quer

dizer que é fazer do brincar um instrumento pedagógico, acrescentando-lhe

uma finalidade extrínseca. Pelo contrário, é perceber seu desejo.

O brincar, como experimentação, inclui conhecimentos aprendidos.

Mas os supõe, sempre, para serem desaprendidos. A experimentação é

nômade: põe as coisas em movimento. Não se pode prever de antemão o

resultado, exercitando-se antes um saber que se inventa a si próprio no ato de

caminhar.

O brincar deveria ser tomado pelos programas de educação infantil

como um modo de organização da experiência que contribui para a instauração

de rotinas criativas.

Para tanto, é preciso adotar o ponto de vista de que o brincar não se

encerra em modelos de experiência. Quando as crianças estão brincando, elas

instauram um plano de vida que diverge de qualquer modelo. Os adultos, ao

contrário, é que empurram tais vivências para os contornos duros e molares. O

brincar é uma agitação molecular. Do ponto de vista do desejo, ele passa por

25

várias fases. Do ponto de vista do conhecimento, ele é pura curiosidade e

invenção.

Mesmo se a criança repete nas suas brincadeiras, por exemplo,

quando sempre procura num mesmo lugar a outra que se esconde – isso não é

conservadorismo. A criança, mais do que qualquer um, sabe que é preciso um

círculo de repetição do desejo. Mas, no centro apaziguador disso, sempre há

motivos e contrapontos. Por que os educadores não são treinados na

ampliação da sensibilidade em vez de serem apenas os que vigiam e tomam

conta? Em que medida eles se permitem serem modificados por um olhar-

criança?

Quando numa rotina escolar as crianças vão para o pátio ou para outro

lugar em fila, que tipo de mundo ou paisagem isso produz? A de uma ordem

que resiste à agitação caótica da vida. Só pode fracassar, obviamente. Ao

contrário disso, se as crianças vão caminhando livremente, elas colidem umas

com as outras, inventam desvios, descobrem mundos e produzem paisagens.

No entanto isso dá muito trabalho para aqueles que lidam com a educação

infantil. Não basta vigiar. Tem que caminhar junto.

As rotinas escolares são modos de repetição que geram um chão para

as crianças. A questão reside em pensá-las como meios de incorporação e de

agitação em nossas vidas. Isso supõe encontrar as motivações intrínsecas às

próprias atividades. As crianças estão, nessa fase, explorando o mundo de um

modo múltiplo, conectivo, sensível e não hierárquico. Cabe à educação infantil

favorecer essa busca de conhecimento inventivo e criador. O brincar mostra os

caminhos.

O brincar é uma criação humana, tanto quanto a linguagem e a escrita.

O individuo joga para encontrar respostas às suas dúvidas, para se divertir e

para interagir com seus semelhantes. Existe no jogo, conteúdo, algo mais

importante do que a simples diversão e interação. Ele revela uma lógica

diferente da racional, uma lógica da subjetividade tão necessária para

estruturação da personalidade, quanto à lógica formal das estruturas

cognitivas.

26

O brincar carrega em si um significado muito abrangente. Ele tem uma

carga psicológica, porque é revelador da personalidade de quem brinca. Ele

tem também uma carga antropológica porque faz parte da criação cultural de

um povo (resposta e identificação com a cultura). O brincar é construtivo

porque pressupõe uma ação do indivíduo sobre a realidade.

É uma ação carregada de simbolismo, que dá sentido a si próprio,

reforça a motivação e possibilita a criação de novas ações. Várias são as

razões que levam os educadores a recorrer ao jogo e a utilizá-lo como recurso

no processo ensino aprendizagem.

Vygotsky (1991) indica a relevância de brinquedos e brincadeiras como

indispensáveis para a criação da situação imaginária. Revela que o imaginário

só se desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam. A

riqueza dos contos, lendas e o acervo de brincadeiras constituirão o banco de

dados de imagens culturais utilizados nas situações interativas.

Dispor de tais imagens é fundamental para instrumentalizar a criança

para a construção do conhecimento e sua socialização. Ao brincar a criança

movimenta-se em busca de parceria e na exploração de objetos; comunica-se

com seus pares; se expressa através de múltiplas linguagens; descobre regras

e toma decisões. O desenvolvimento correspondente de regras conduz a

ações, com base nas quais torna-se possível à divisão entre trabalho e

brinquedo, divisão esta encontrada na idade escolar como um fato fundamental

(VYGOTSKY, 1991, p.118).

O brincar é algo simples e ao mesmo tempo complexo, isto

considerando o quanto este ato é importante e influencia o desenvolvimento do

ser humano. É esta ambigüidade que nos leva a repensar a nossa práxis

enquanto educadores, o espaço que temos propiciado e o quanto temos

contribuído para que este desenvolvimento ocorra de forma satisfatória e

positiva.

No entanto, o brincar sempre segue regras, e estas estão implícitas e

explícitas nesta atividade de acordo com seu propósito.

27

Para proporcionar e contribuir para este desenvolvimento da criança é

necessário também conhecer as brincadeiras adequadas para cada fase, para

cada nível de desenvolvimento e o que elas propiciam às crianças.

Permitir à criança espaço para brincar, proporcionando-lhe interações

que vêm, realmente, ao encontro do que ela é aliado às tentativas no sentido

de compreendê-la, efetivamente, nestas atividades, é respeitá-las enquanto ser

humano. Assim, fica evidente a importância do brincar também no âmbito

escolar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o estudo que realizei para responder algumas questões, pude

perceber que sozinha não chegaria a lugar algum, precisei de ajuda de uma

pessoa que pudesse mediar os meus pensamentos com sua experiência.

Enfim percebo que fui capaz de construir o meu conhecimento a partir do

momento em que o outro fazia parte desse processo. Ao fazer parte do

processo ensino- aprendizagem, vivenciei a zona de desenvolvimento proximal,

ou seja, nesse caso a minha professora e orientadora, foi o mediador do

processo, com a ajuda dele consegui finalizar o meu trabalho monográfico.

Como já foi dito zona de desenvolvimento proximal é a distância do que

realizo sozinha e do que posso fazer com o auxílio de quem já tem experiência

no assunto.

Para começar a minha história introduzir as minhas indagações e

expectativas sobre a contribuição do lúdico no desenvolvimento da criança na

educação Infantil. Falei também sobre o que me fez estar aqui hoje concluindo

mais uma etapa da minha vida, a criança e a sua relação com o lúdico. Esse

tema faz parte da minha vida acadêmica, pois todos os trabalhos que procurei

desenvolver giravam em torno da criança e do lúdico.

No meu estágio de observação e atuação em Educação infantil,

desenvolvi um projeto de jogos e brincadeiras que fez com que eu viesse a me

interessar e aprofundar mais o assunto.

No transcorrer deste trabalho procurei remeter a reflexões sobre a

importância das atividades lúdicas na educação infantil, tendo sido possível

desvelar que a ludicidade é de extrema relevância para o desenvolvimento

integral da criança, pois para ela brincar é viver.

É relevante mencionar que o brincar no espaço educativo precisa estar

num constante quadro de inquietações e reflexões dos educadores que o

compõem.

29

Também é importante ressaltar que só é possível reconhecer uma

criança se nela o educador reconhecer um pouco da criança que foi e que, de

certa forma, ainda existe em si. Assim, será possível ao educador redescobrir e

reconstruir em si mesmo o gosto pelo fazer lúdico, buscando em suas

experiências, remotas ou não, brincadeiras de infância e de adolescência que

possam contribuir para uma aprendizagem lúdica, prazerosa e significativa.

É competência da Educação Infantil proporcionar aos seus educandos

um ambiente rico em atividades lúdicas, já que a maioria das crianças de hoje

passam grande parte do seu tempo em instituições que atendem a crianças de

0 a 6 anos de idade, permitindo assim permitindo que elas vivam, sonhem,

criem e aprendam a serem crianças.

O lúdico proporciona um desenvolvimento sadio e harmonioso, sendo

uma tendência instintiva da criança. Ao brincar, a criança aumenta a

independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza a cultura

popular, desenvolve habilidades motoras, diminui a agressividade, exercita a

imaginação e a criatividade, aprimora a inteligência emocional, aumenta a

integração, promovendo, assim, o desenvolvimento sadio, o crescimento

mental e a adaptação social

Neste momento é válido salientar que não se pretende considerar a

Educação Infantil como a solução de todos os problemas brasileiros, mas

certamente com uma base educacional alicerçada em valores éticos, e a

criança, sendo valorizada como cidadão, certamente muitos problemas sociais

serão evitados.

O governo tomou consciência da necessidade de valorizar a Educação

Infantil. Pode ser que não se veja resultados imediatos, mas não é válido ficar

na dependência somente das leis e dos projetos governamentais. Toda a

sociedade pode dar a sua colaboração para modificar a realidade da educação

no Brasil. Os pais devem, além de cobrar o cumprimento das leis,

acompanharem o desenvolvimento escolar de seu filho. Os professores devem

procurar programas que lhe forneçam conhecimentos capacitadores para o

desempenho de sua função. Certamente da união de todos surgirá um país

30

realmente democrático e igualitário, onde todos os cidadãos poderão se

beneficiar do desenvolvimento tecnológico e econômico do Brasil.

31

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