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1 UNVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÒ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ES PECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE TÍTULO: ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DA DOENÇA MENTAL Regina Tinoco Barros Paschoal Trabalho Monográfico apresentado como Requisito parcial para obtenção do Grau De Especialista em Arteterapia. Rio de Janeiro - 2003 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÒ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ES PECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

TÍTULO: ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DA DOENÇA

MENTAL

Regina Tinoco Barros Paschoal

Trabalho Monográfico apresentado como

Requisito parcial para obtenção do Grau

De Especialista em Arteterapia.

Rio de Janeiro - 2003

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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SUMÀRIO

INTRODUÇÃO 05

HISTÓRIA DA ARTE 07

A DOENÇA MENTAL 25

ARTETERAPIA NO TRATº DA DOENÇA MENTAL 49

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA 58

ÍNDICE 59

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AGRADECIMENTOS,

A Fernando, pela paciência, carinho e

amor com que me ajudou na realiza-

ção deste trabalho.

Aos meus pais que “sempre”estiveram

presentes na minha vida, me incentivan-

do e apoiando em todas as minhas

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decisões.

DEDICATÓRIA,

A Lucia Fish, em memória, por ter me

ensinado a “escutar” minhas intuições

e por ter me ajudado na difícil tarefa

de ser eu mesma.

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I – INTRODUÇÃO

O encontro da psiquiatria com as ciências sociais é um fenômeno

característico de nossa época. Área somente freqüentada por médicos

especialistas, atualmente abre-se em várias direções.

Na história da psiquiatria, o século XIX foi marcado pelo esforço para inserir

a loucura na moldura do modelo médico. A preocupação maior era classificar

formas clínicas e descrevê-las minuciosamente. ( Nise da Silveira, 1981 )

Um salto dado na segunda metade do século XX foi a contestação de que a

doença mental possa encaixar-se no modelo médico, que ocorra dentro do

organismo. A loucura acontece entre os homens, isto é, na sociedade. O

louco é o inadaptado à ordem vigente. E a psiquiatria é acusada de defender a

ordem burguesa contra homens que têm uma diferente visão do mundo.

Este enfoque levou a conseqüências extremas. Quando a inteligência

descobre um pedaço de verdade, apega-se a ele de maneira exclusiva,

parecendo mesmo que esse é o modo específico de trabalhar da função

pensamento se outros instrumentos de busca não vêm juntar-se às suas luzes.

Segundo o novo ponto de vista, a psiquiatria, por assim dizer, dissolve-se

no social. Vêm então ocupar o primeiro plano de interesse as pesquisas

referentes à família, aos grupos, à sociedade. E sem dúvida seus resultados

evidenciam quanto é freqüente que o indivíduo se sinta acossado de tal

maneira no mundo externo que somente encontre como saída a porta da

loucura. Esta porta, porém, se abre para o mundo intrapsíquico. A saída de

volta será difícil, e tanto mais difícil devido à não aceitação do mundo interno

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onde ele agora se debate, não só pelos psiquiatras tradicionais mas também

pela maioria daqueles que os contestam,

A psiquiatria não deveria se contentar apenas com o registro de sintomas

imediatamente acessíveis, isto é, dos fenômenos de desadaptação, de

dissociação, de desagregação da personalidade consciente.

Deveria também investigar em profundeza o obscuro mundo intrapsíquico e

tentar descobrir “as riquezas daquele lado da psique que está voltado para

longe de nós”. (Jung, C. J. – C.W. 9, 79)

Como acessarmos o mundo interno desses seres tão herméticos?

Desde as civilizações clássicas observamos o uso da “arte” como meio de

tratamento. Gregos, romanos e egípcios utilizavam as diversas expressões

artísticas e corporais como forma de tratamento do corpo e da alma. Mas

somente no princípio do século XIX (humanismo) a expressão artística e

corporal se torna aceita para tratamento da doença mental. (Sara Pain e Gladys

Jarreau,1994)

Na metade do século XX o sentido da palavra “arte” não estava mais

associado a recriação da Beleza ideal, como também não estava mais a serviço

da religião ou da exaltação da natureza. (Graça Proença,2001)

A ruptura da arte contemporânea com aquelas que a precederam interrogou

a própria função da arte. Tais mudanças se manifestaram através de diversas

correntes como o surrealismo, o abstracionismo, o impressionismo, etc.

Essa diversificação da expressão artística inspirou psiquiatras que ficaram

interessados nas produções plásticas de seus pacientes e começaram a usá-

las como uma das formas de tratamento da doença mental.

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Como psicóloga e aluna do curso de arteterapia, tenho observado a

importância de estudarmos a arte e seus movimentos uma vez que o

conhecimento da história da arte facilita o entendimento da produção humana

colocando-nos em contato com as emoções que o “artista” quer expressar.

Através das diversas técnicas de mediação artística e expressão plástica muito

se revelará sobre a maneira como o indivíduo apreende as coisas, sobre sua

visão do mundo.

.

2 – HISTÓRIA DA ARTE

Boa parte da síntese exposta nesse Capítulo tomou por base a obra de

Graça Proença, 2001, onde ela faz uma síntese histórica e aprofundada da

história da arte e seus movimentos.

2.1 – O nascimento da arte

Nascida há cerca de 25 mil anos e com o aumento da inteligência do

homem, a arte trouxe a imaginação e a habilidade de criar imagens esculpidas

e pintadas, juntamente com a arquitetura, que nasceu com a construção de

monumentos destinados a rituais religiosos...

Durante milhares de anos, acompanhando a ascensão e a queda de cada

civilização, essas três formas de arte – pintura, escultura e arquitetura –

encarnam as ambições, os sonhos e os valores da cultura.

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Embora os primeiros artistas fossem anônimos, muito do que legaram. Os

zigurates e os baixos-relevos encontrados nas ruínas da Mesopotâmia e nas

pirâmides do Egito dão testemunho de civilizações complexas.

A arte grega atingiu o máximo da beleza quando o respeito pelo indivíduo

floresceu em Atenas. As relíquias romanas atestam o poder do maior império

no mundo antigo.

Os artistas se especializaram cada vez mais em representar a figura

humana em espaços realísticos até a Idade Média, quando a arte mudou

radicalmente. Com o triunfo do Cristianismo, o interesse pelo corpo e pelo

mundo declinou rapidamente. A pintura e a escultura estilizadas passaram a

existir apenas para ensinar religião e adornar catedrais – verdadeiras obras

primas do período medieval.

Entre 25000 a C. e 1400 d. C , a história da arte não é uma história de

evolução do primitivo para o sofisticado, nem do simples para o complexo –

mas uma história das formas variadas que a imaginação assumiu na pintura, na

escultura e na arquitetura.

2.2 – O que é arte

Criação humana com valores estéticos (beleza, equilíbrio, harmonia,

revolta) que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a

sua cultura.

É um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras e no qual

aplicamos nossos conhecimentos. Se apresenta sob variadas formas como:

a plástica, a música, a escultura, o cinema, o teatro, a dança, a arquitetura, etc.

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Pode ser vista ou percebida pelo homem de três maneiras: visualizadas,

ouvidas ou mistas (audiovisuais), hoje alguns tipos de arte permitem que o

apreciador participe da obra. O artista precisa da arte e da técnica para

comunicar-se.

O homem criou objetos para satisfazer as suas necessidades práticas,

como as ferramentas para cavar a terra e os utensílios de cozinha. Outros

objetos são criados por serem interessantes ou possuírem um caráter instrutivo.

O homem cria a arte como meio de vida, para que o mundo saiba o que pensa,

para divulgar as suas crenças (ou as de outros), para estimular e distrair a si

mesmo e aos outros, para explorar novas formas de olhar e interpretar objetos

e cenas.

Porque fazemos arte e para que a usamos é aquilo que chamamos de

função da arte que pode ser... feita para decorar o mundo... para espelhar o

nosso mundo (naturalista)... para ajudar no dia-a-dia (utilitária)... para explicar e

descrever a história... para ser usada na cura de doenças... para ajudar a

explorar o mundo.

O que vemos quando admiramos uma arte depende da nossa experiência e

conhecimentos, da nossa disposição no momento, imaginação e daquilo que o

artista pretendeu mostrar.

Estilo é como o trabalho se mostra, depois de o artista ter tomado suas

decisões. Cada artista possui um estilo único.

Imagine se todas as peças de arte feitas até hoje fossem expostas numa sala

gigantesca. Nunca conseguiríamos ver quem fez o quê, quando e como. Os

artistas e as pessoas que registram as mudanças na forma de se fazer arte, no

caso os críticos e historiadores, costumam classificá-las por categorias e rotulá-

las. É um procedimento comum na arte ocidental.

Ex.: Renascimento, Impressionismo, Cubismo, Surrealismo, etc.

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2.3 – Principais movimentos da arte

Arte Pré-Histórica

A principal característica dos desenhos da Idade da Pedra Lascada é o

naturalismo. O artista pintava os seres, um animal, por exemplo, do modo

como o via de uma determinada perspectiva, reproduzindo a natureza tal

qual sua vista captava. Atualmente, a explicação mais aceita é que essa

arte era realizada por caçadores, e que fazia parte do processo de magia

por meio do qual procurava-se interferir na captura de animais, ou seja, o

pintor-caçador do Paleolítico supunha ter poder sobre o animal desde que

possuísse a sua imagem. Acreditava-se que poderia matar o animal

verdadeiro desde que o representasse ferido mortalmente num desenho.

Os artistas dessa época realizaram também trabalhos em escultura.

Mas, tanto na pintura quanto na escultura, nota-se a ausência de figuras

masculinas. Predominam figuras femininas, com a cabeça surgindo com

prolongamento do pescoço, seios volumosos, ventre saltado e grandes

nádegas.

No período Neolítico a fixação do homem da Idade da Pedra Polida,

garantida pelo cultivo da terra e pela manutenção de manadas, ocasionou

um aumento rápido da população e o desenvolvimento das primeiras

instituições, como família e a divisão do trabalho. Assim, o homem do

neolítico construiu as primeiras moradias, produziu o fogo através do atrito e

deu início ao trabalho com metais. Todas essas conquistas técnicas

tiveram forte reflexo na arte. O homem, que se tornara um camponês, não

precisava mais ter os sentidos apurados do caçador e o seu poder de

observação foi substituído pela abstração e racionalização.

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Arte Egípcia

Uma das principais civilizações da Antiguidade foi a que se desenvolveu

no Egito. Era uma civilização já bastante complexa em sua organização

social e riquíssima em suas realizações culturais.

A religião invadiu toda a vida egípcia, interpretando o universo,

justificando sua organização social e política, determinando o papel de cada

classe social e, conseqüentemente , orientando toda a produção artística

desse povo.

Além de crer em deuses que poderiam interferir na história humana, os

egípcios acreditavam também numa vida após a morte e achavam que essa

vida era mais importante do que a que viviam no presente.

O fundamento ideológico da arte egípcia é a glorificação dos deuses e

do rei defunto divinizado, para o qual se erguiam templos funerários e

túmulos grandiosos. As pirâmides do deserto de Gizé são as obras

arquitetônicas mais famosas.

As características gerais da arquitetura egípcia são: - solidez e

durabilidade; -sentimento de eternidade; e – aspecto misterioso e

impenetrável.

Arte Grega

Enquanto a arte egípcia é uma arte ligada ao espírito, a arte grega liga-

se à inteligência, pois os seus reis não eram deuses, mas seres inteligentes

e justos que se dedicavam ao bem-estar do povo. A arte grega volta-se

para o gozo da vida presente. Contemplando a natureza, o artista se

empolga pela vida e tenta, através da arte, exprimir suas manifestações.

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Na sua constante busca da perfeição, o artista grego cria uma arte de

elaboração intelectual em que predominam o ritmo, o equilíbrio, a harmonia

ideal. Eles tem como características: o racionalismo; o amor pela beleza;

interesse pelo homem; e a democracia.

As edificações que despertaram maior interesse são os templos. A

característica mais evidente dos templos gregos é a simetria entre o pórtico

de entrada e o dos fundos.

Um dos principais monumentos da arquitetura grega é o Partenon de

Atenas.

A pintura grega encontra-se na arte cerâmica. Os vasos gregos são

também conhecidos não só pelo equilíbrio de sua forma, mas também pela

harmonia entre o desenho, as cores e o espaço utilizado para a

ornamentação. Além de servir para rituais religiosos, esses vasos eram

usados para armazenar água, vinho, azeite e mantimentos.

* Arte Romana

A arte romana sofreu duas fortes influências: a da arte etrusca popular e

voltada para a expressão da realidade vivida, e a da greco-helenística,

orientada para a expressão de um ideal de beleza.

Um dos legados culturais mais importantes que os etruscos deixaram

aos romanos foi o uso do arco e da abóbada nas construções.

As características gerais da arquitetura romana são:

-busca do útil imediato, senso de realismo

-grandeza material, realçando a idéia de força

-energia e sentimento

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-predomínio do caráter sobre a beleza

O povo romano apreciava muito as lutas dos gladiadores e essas lutas

compunham um espetáculo que podia ser apreciado de qualquer ângulo.

Assim era o Coliseu, certamente o mais belo dos anfiteatros romanos.

Na pintura o mosaico foi muito utilizado na decoração dos muros e pisos

da arquitetura em geral.

A maior parte das pinturas romanas que conhecemos hoje provém das

cidades de Pompéia e Herculano, que foram soterrados pela erupção do

Vesúvio em 79 a.C.

Arte Românica

No final dos séculos XI e XII, na Europa, surge a arte românica cuja a

estrutura era semelhante às construções dos antigos romanos.

A primeira coisa que chama atenção nas igrejas românicas é o seu

tamanho. Elas são sempre grandes e sólidas. Daí serem chamadas –

fortalezas de Deus. A explicação mais aceita para as formas volumosas,

estilizadas e duras dessas igrejas é o fato da arte românica não ser fruto do

gosto refinado da nobreza nem das idéias desenvolvidas nos centros

urbanos, é um estilo essencialmente clerical. A arte desse período passa a

ser encarada como uma extensão do servi

s essenciais da pintura

românica foram a deformação e o colorismo. A deformação, na verdade,

traduz os sentimentos religiosos e a interpretação mística que os artistas

faziam da realidade.

* Arte Gótica

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No começo do século XII, a arquitetura predominante ainda é a

românica, mas já começam a aparecer mudanças que conduziram a uma

revolução profunda na arte de projetar e construir grandes edifícios.

A primeira diferença que notamos entre a igreja gótica e a românica é a

fachada. Enquanto, de modo geral, a igreja românica apresenta um único

portal, a igreja gótica tem três portais que dão acesso à três naves no

interior da igreja: a nave central e as duas laterais.

As catedrais góticas mais conhecidas são: Catedral Notre Dame de

Paris e a Catedral Notre Dame de Chartres.

As esculturas estão ligadas à arquitetura e se alongam para o alto,

demonstrando verticalidade, alongamento exagerado das formas, e as

feições são caracterizadas de formas a que o fiel possa reconhecer

facilmente a personagem representada.

A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos XII, XIV e no início do

século XV, quando começou a ganhar novas características que prenunciam

o Renascimento. Sua principal particularidade foi a procura do realismo na

representação dos seres que compunham as obras pintadas.

Renascimento

Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período

muitos progressos e incontáveis realizações no campo das artes, da

literatura e das ciências, que superam a herança clássica. O ideal do

humanismo foi sem dúvida o móvel desse progresso e tornou-se o próprio

espírito do Renascimento.

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Num sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valoração do

homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao divino e ao

sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média.

As características gerais são: racionalidade; dignidade do ser humano;

rigor científico; ideal humanista; reutilização das artes greco-romanas.

O artista do Renascimento não vê mais o homem como simples

observador do mundo que expressa a grandeza de Deus, mas como a

expressão mais grandiosa do próprio Deus. E o mundo é pensado como

uma realidade a ser compreendida cientificamente, e não apenas admirada.

Na pintura, outra característica, foi o surgimento de artistas com um

estilo pessoal e diferente dos demais, já que o período é marcado pelo ideal

de liberdade e, conseqüentemente, pelo individualismo.

Inicia-se o uso da tela e da tinta à óleo assim como o uso do claro-

escuro: pintar algumas áreas iluminadas e outras na sombra, esse jogo de

contrastes reforça a sugestão de volume dos corpos.

Maneirismo

Paralelamente ao renascimento clássico, desenvolve-se em Roma, um

movimento artístico afastado conscientemente do modelo da antiguidade

clássica: o maneirismo. Uma evidente tendência para a estilização

exagerada e um capricho nos detalhes começa a ser sua marca,

extrapolando as rígidas linhas dos cânones clássicos.

Alguns historiadores o consideram uma transição entre o renascimento e

o barroco, enquanto outros preferem vê-lo como um estilo, propriamente

dito.

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Uma de suas principais fontes de inspiração é o espírito religioso

reinante na Europa nesse momento. Não só a Igreja, mas toda a Europa

estava dividida após a Reforma de Lutero. Carlo V, depois de derrotar as

tropas do sumo pontífice, saqueia e destrói Roma. Reinam a desolação e a

incerteza. Os grandes impérios começam a se formar, e o homem já não é

a principal e única medida do universo.

Pintores, arquitetos e escultores são impelidos a deixar Roma com

destino a outras cidades. Valendo-se dos mesmos elementos do

renascimento, mas agora com um espírito totalmente diferente, criam uma

arte de labirintos , espirais e proporções estranhas, que são, sem dúvida, a

marca inconfundível do estilo maneirista. Mais adiante, essa arte acabaria

cultivada em todas as grandes cidades européias.

É na pintura que o espírito maneirista se manifesta em primeiro lugar.

São os pintores da segunda década do século XV que, afastados dos

cânones renascentistas, criam esse novo estilo, procurando deformar uma

realidade que já não os satisfaz e tentando revalorizar a arte pela própria

arte.

As principais características são: composição em que uma multidão se

comprime em espaços arquitetônicos reduzidos e uma atmosfera de tensão

permanente; nos corpos as forma esguias substituem os membros bem

torneados do renascimento; a luz se detém sobre objetos e figuras,

produzindo sombras inadmissíveis.

Barroco

A arte barroca originou-se na Itália (séc. XVII) mas não tardou a irradiar-

se por outros países da Europa e a chegar também ao continente

americano, trazida pelos colonizadores portugueses e espanhóis.

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As obras barrocas romperam o equilíbrio entre o sentimento e a razão

ou entre a arte e a ciência, que os artistas renascentistas procuram realizar

de forma muito consciente; na arte barroca predominam as emoções e não

o racionalismo da arte renascentista.

É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O homem se coloca

em constante dualismo: Paganismo X Cristianismo e Espírito X Matéria.

Suas características gerais são: emocional sobre o racional; busca de

efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas

retorcidas; entrelaçamento entre a arquitetura e a escultura; violentos

contrastes de luz e sombra; pinturas com efeitos ilusionistas às vezes a

impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida.

Na escultura predominam as linhas, os drapeados das vestes e o uso do

dourado. Os gestos e os rostos das personagens revelam emoções

violentas e atingem uma dramaticidade desconhecida no Renascimento.

Rococó

O rococó é o estilo artístico que surgiu na França como desdobramento

do barroco, mais leve e intimista que aquele e usado inicialmente em

decoração de interiores.

Desenvolveu-se na Europa do século XVIII, e da arquitetura disseminou-

se para todas as artes.

Os temas utilizados eram cenas eróticas ou galantes da vida cortesã e

da mitologia, pastorais, alusões ao teatro italiano da época, motivos

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religiosos e farta estilização naturalista do mundo vegetal em ornatos e

molduras.

Na França, o rococó é também chamado estilo Luís XV Luís XVI.

As características gerais são uso abundante de formas curvas e pela

profusão de elementos decorativos, tais como conchas, laços e flores.

Possui leveza, caráter intimista, elegância, alegria, bizarro, frivolidade e

exuberância. O relevo abrupto das superfícies deu lugar a texturas suaves

e as cores vivas foram substituídas por tons pastéis.

Neoclássico

Nas duas últimas décadas do século XVIII e nas três primeiras do século

XIX, uma nova tendência estética predominou nas criações dos artistas

europeus. Trata-se do Neoclássico, que expressou os valores próprios de

uma nova e fortalecida burguesia, que assumiu a direção da sociedade

européia após a Revolução Francesa e principalmente com o Império e

Napoleão.

As principais características são: retorno ao passado, pela imitação dos

modelos antigos greco-latinos; sujeição aos modelos e às regras ensinadas

nas escolas ou academias de belas-artes; arte entendida como imitação da

natureza.

A pintura desse período foi inspirada principalmente na escultura

clássica grega e na pintura renascentista italiana, sobretudo em Rafael,

mestre do equilíbrio da composição.

Fauvismo

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Em 1905, em Paris, no Salão de Outono, alguns artistas foram

chamados de fauves ( feras ), em virtude da intensidade com que usavam

as cores puras, sem misturá-las.

Os princípios deste movimento artístico eram: criar, em arte, não tem

relação com o intelecto e nem com sentimentos; criar é seguir os impulsos

do instinto, as sensações primárias; a cor pura deve ser exaltada; as linhas

e as cores devem nascer impulsivamente traduzir as sensações

elementares, no mesmo estado de graça das crianças e dos selvagens.

Na pintura as características principais eram: pincelada violenta,

espontânea e definitiva; ausência de ar livre; colorido brutal não

correspondendo a realidade.

Arte Romântica

O século XIX foi agitado por fortes mudanças sociais, políticas e

culturais causadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa do

final do século XVIII. Do mesmo modo, a atividade artística tornou-se

complexa.

Os artistas românticos procuraram se liberar das convenções

acadêmicas em favor da livre expressão da personalidade do artista.

As características gerais são : a valorização dos sentimentos e da

imaginação; o nacionalismo; a valorização da natureza como princípios da

criação artística; e os sentimentos do presente.

Os temas da pintura eram baseados em fatos reais da história nacional e

contemporânea da vida dos artistas, na natureza que vem revelando um

dinamismo equivalente as emoções humanas e na Mitologia Grega.

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Construtivismo

Trata-se de um abstrato geométrico que busca movimento perspectivo

vibratório através das cores e linhas. É a síntese das teorias abstratas e

científicas da arte moderna. É uma pintura em duas dimensões.

Realista

Entre 1850 e 1900 surge nas artes européias, sobretudo na pintura

francesa, uma nova tendência estética chamada Realismo, que se

desenvolveu ao lado da crescente industrialização das sociedades. O

homem europeu, que tinha aprendido a utilizar o conhecimento científico e a

técnica para interpretar e dominar a natureza, convenceu-se de que

precisava ser realista, inclusive em suas criações artísticas, deixando de

lado as visões subjetivas e emotivas da realidade.

As características gerais são: o cientificismo; a valorização do objeto; o

sóbrio e o minucioso; a expressão da realidade e dos aspectos descritivos.

Na escultura Auguste Rodin, não se preocupou com a idealização da

realidade. Ao contrário, procurou recriar os seres tais como eles são. Sua

característica principal é a fixação do momento significativo de um gesto

humano.

Na pintura as principais características são: representação da realidade

com a mesma objetividade com que um cientista estuda um fenômeno da

natureza e revelação dos aspectos mais característicos e expressivos da

realidade.

Surrealismo

As incertezas políticas criaram um clima favorável para o

desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia e a frágil

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condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo. Surgem

movimentos estéticos que interferem de maneira fantasiosa na realidade.

O surrealismo foi por excelência a corrente artística da representação do

irracional e do subconsciente.

Este movimento artístico surge todas às vezes que a imaginação se

manifesta livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso

psíquico. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal,

pois a emoção mais profunda do ser tem todas as possibilidades de se

expressar apenas com a aproximação do fantástico, no ponto onde a razão

humana perde o controle.

Esse movimento propunha a restauração dos sentimentos humanos e do

instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística. Para

isso era preciso que o homem tivesse uma visão totalmente introspectiva de

si mesmo e encontrasse esse ponto do espírito no qual a realidade interna

e externa são percebidas totalmente isentas de contradições.

A livre associação e a análise dos sonhos, métodos da psicanálise,

transformaram-se nos procedimentos básicos do surrealismo, embora

aplicados a seu modo.

Os surrealista tentavam plasmar, seja por meio de formas abstratas ou

figurativas simbólicas, as imagens da realidade mais profunda do ser

humano: o subconsciente.

Futurismo

Os futurista saúdam a era moderna, aderindo entusiasticamente à

máquina . Os objetos não se esgotam no contorno aparente e seus aspectos

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se interpenetram continuamente a um só tempo, ou vários tempos num só

espaço.

Procura-se nesse estilo expressar o movimento real, registrando a

velocidade descrita pelas figuras em movimento no espaço. O artista

futurista não está interessado em pintar um automóvel, mas captar a forma

plástica da velocidade descrita por ele no espaço.

Impressionismo

O impressionismo foi um movimento artístico que revolucionou a pintura

e deu início às grandes tendências da arte do século XX.

A pintura devia registrar as tonalidades que os objetos adquirem ao

refletir a luz solar num determinado momento, pois as cores da natureza se

modificam constantemente, dependendo da incidência da luz do sol.

As figuras não deviam ter contornos nítidos, pois linha é uma abstração

do ser humano para representar imagens.

As sombras deviam ser luminosas e coloridas , tal como é a impressão

visual que nos causam.

Os contrastes de luz e sombra deviam ser obtidos de acordo com a lei

das cores complementares. Assim, um amarelo próximo a um violeta

produz uma impressão de luz e de sombra muito mais real do que o claro-

escuro.

As cores e tonalidades não deviam ser obtidas pela mistura das tintas na

paleta do pintor. Pelo contrário, deviam ser puras e dissociadas nos

quadros em pequenas pinceladas. É o observador que, ao admirar a

pintura, combina as várias cores, obtendo o resultado final.

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Dadaísmo

O Dada foi um movimento de negação. Formado por jovens franceses

e alemães que, se tivessem permanecido em seus respectivos países,

teriam sido convocados para o serviço militar.

Fundaram um movimento literário para expressar suas decepções em

relação a incapacidade das ciências, religião, filosofia, que se revelaram

pouco eficazes em evitar a destruição da Europa.

Dada é uma palavra francesa que significa na linguagem infantil “cavalo

de pau” . Esse nome escolhido não fazia sentido, assim como a arte que

perdera todo o sentido diante da irracionalidade da guerra.

Sua proposta é que a arte ficasse solta das amarras racionalistas e

fosse apenas o resultado do automatismo psíquico, selecionando e

combinando elementos por acaso.

Expressionismo

O Expressionismo é a arte do instinto, trata-se de uma pintura dramática,

subjetiva, expressando sentimentos humanos. Ao contrário do

Impressionismo que se preocupou apenas com as sensações de luz e cor, o

Expressionismo procurou expressar as emoções humanas e interpretar as

angústias que caracterizavam o homem do início do século XX.

Utilizando cores patéticas, dá forma plástica ao amor, ao ciúme, ao

medo, à solidão, à miséria humana, à prostituição. Deforma-se a figura,

para ressaltar o sentimento. Há uma predominância dos valores

emocionais sobre os intelectuais.

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As principais características são: pesquisa no domínio psicológico; cores

resplandecentes, vibrantes, com função de representar emoções;

dinamismo improvisado, inesperado; técnica violenta: o pincel ou espátula

vai e vem, fazendo e refazendo, empastando ou provocando explosões;

preferência pelo patético, trágico e sombrio.

Cubismo

Historicamente o cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para

ele a pintura deveria tratar as formas da natureza como se fossem cones,

esferas e cilindros. Entretanto, os cubistas foram mais longe do que

Cézanne. Passaram a representar os objetos com todas as suas partes

num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos a apresentarem

todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador. Na

verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha nenhum

compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas.

O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa

superfície plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas.

Não representa, mas sugere a estrutura dos corpos ou objetos.

Representa-os como se movimentassem em torno deles, vendo-os sob

todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos

e volumes.

Abstracionismo

A arte abstrata tende a suprimir toda a relação entre a realidade e o

quadro, entre as linhas e os planos, as cores e a significação que esses

elementos podem sugerir ao espírito. Quando a significação de um quadro

depende essencialmente da cor e da forma, quando o pintor rompe os

últimos laços que ligam a sua obra à realidade, ela passa a ser abstrata.

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3- A DOENÇA MENTAL

3.1- Psicopatologia / Conceito

O termo Psicopatologia é de origem grega; psykhé significando alma e,

patologia, implicando em morbidade. Entretanto, como seria impossível

suspeitar de uma patologia do espírito ou da alma, já que, conceitualmente o

espírito não pode adoecer e, já que, filosoficamente só existiria enfermidade no

biológico ou no antropológico, os fenômenos psíquicos só seriam patológicos

quando sua existência estivesse condicionada a alterações patológicas do

corpo.

A Psicopatologia se estabelece através da observação e sistematização de

fenômenos do psiquismo humano e presta a sua indispensável colaboração aos

médicos em geral, aos psiquiatras em particular, aos psicólogos, sociólogos e a

todo o grupo das ciências humanas.

Quando se estuda a Psicopatologia, deve-se levar em conta que o

fundamento real da investigação é constituído pela vida psíquica, representada,

compreendida e avaliada através das expressões verbais e do comportamento

perceptível do doente. A Psicopatologia quer sentir, apreender e refletir sobre

o que realmente acontece no psiquismo humano e parte do pressuposto de que

existe, na normalidade, uma inclinação geral e fisiológica para a realidade.

A Psicopatologia se restringe a conhecer e descrever os fenômenos

psíquicos patológicos para, dessa forma, oferecer as bases para compreensão,

mecanismo íntimo e futuro desenvolvimento do psiquismo humano.

Compete a Psicopatologia reunir materiais para elaborar o conhecimento dos

fenômenos com os quais se possa coordenar sua ação curativa e preventiva.

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Embora seja possível destacar manifestações psíquicas isoladas quando

observamos o estado psíquico atual de um paciente, como por exemplo, o

estado de sua memória, de seu raciocínio, sua sensopercepção, etc., não

devemos acreditar na valorização absoluta de quaisquer aspecto da vida

psíquica isoladamente, pois cada aspecto da realidade psíquica só existe em

estreita vinculação com as demais ocorrências psíquicas.

Se não considerarmos a conjuntura global e dinâmica da vida psíquica, ou

seja, se não tivermos uma visão fenomenológica, não compreenderemos o que

realmente se passa com o doente mental.

Ao se considerar o sintoma isoladamente, como por exemplo uma

alucinação e, concomitantemente, definindo a alucinação como uma percepção

sem objeto, ou o mesmo ao se identificar que tal paciente apresenta um delírio,

e que este é definido como um juízo falso ao qual se apega apesar de todas as

provas em contrário, estamos recorrendo a fórmulas verbais tecnicamente e

semiologicamente corretas, mas sem levar em consideração o que, de fato,

significa para o paciente a experiência alucinatória ou delirante.

Poderemos rotulá-lo, mas sem saber o que, exatamente, representa o

sintoma para esse paciente em determinada circunstância. E nesse caso não

poderemos cumprir o principal objetivo que é de ajudá-lo.

3.2- Funções psíquicas e suas respectivas pertubações

Sensação, percepção – alterações sensoperceptivas

A sensação é um fenômeno psíquico elementar que resulta da ação de

estímulos externos sobre os nossos órgãos dos sentidos. Entre o estado

psicológico atual e o estímulo exterior há um fator causal e determinante ao

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qual designamos sensação, portanto, deve haver uma concordância entre

as sensações e os estímulos que as produzem.

As sensações podem ser classificadas em três grupos: externas, internas e

especiais.

As sensações externas são aquelas que refletem as propriedades e

aspectos de tudo, humanamente perceptível, que se encontra no mundo

exterior. Para tal nos valemos dos órgãos do sentido.

A sensação especial se manifesta sob a forma de sensibilidade para a fome,

sede, fadiga, de mal-estar ou bem-estar. Essas sensações internas vagas

e indiferenciadas que nos dão a sensibilidade de bem-estar, mal-estar,etc.,

têm o nome de cenestesia. No processo do conhecimento e do

autoconhecimento objetivo as sensações ocupam o primeiro grau. São as

sensações que nos relacionam com o nosso próprio organismo, com o

mundo exterior e com as coisas que nos rodeiam. O conhecimento do

mundo exterior resulta das sensações dele captadas e quanto mais

desenvolvidos forem os órgãos dos sentidos e o sistema nervoso do animal,

mais delicadas e mais variadas serão suas sensações.

A percepção designa o ato pelo qual tomamos conhecimento de um objeto

do meio exterior. A maior parte de nossas percepções conscientes provém

do meio externo.

Trata-se, a percepção, da apreensão de uma situação objetiva baseada em

sensações, acompanhada de representações e freqüentemente de juízos.

A percepção, ao contrário da sensação, não é uma fotografia dos objetos do

mundo determinada exclusivamente pelas qualidades objetivas do estímulo.

Na percepção, acrescentamos aos estímulos elementos da memória, do

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raciocínio, do juízo e do afeto, portanto, acoplamos às qualidades objetivas

dos sentidos outros elementos subjetivos e próprios de cada indivíduo.

A percepção consiste na apreensão de uma totalidade e sua organização

consciente não é uma simples adição de estímulos locais e temporais

captados pelos órgãos dos sentidos. Nossa experiência (consciência ) do

mundo revela que não temos apenas sensações isoladas dele, ao contrário,

o que chega à consciência são configurações globais, dinâmicas e

perfeitamente integradas de sensações. Embora as sensações não nos

ofereçam, em si mesmas, o conhecimento do mundo, elas representam os

elementos necessários ao conhecimento sem os quais não existiriam

percepções.

A percepção se relaciona diretamente com a forma da realidade apreendida,

enquanto a sensação se relacionaria à fragmentos esparsos dessa mesma

realidade.

Nas alterações sensoperceptivas a capacidade da pessoa perceber a

realidade à sua volta e que se faz através dos cinco sentidos pode sofrer

alterações sob duas bases distintas; uma base estritamente orgânica,

referente à integridade do sistema sensorial e cujas vias pertencem à

neurofisiologia e; uma base psíquica compreendida pelos elementos

emocionais envolvidos na consciência da realidade.

Os dois principais distúrbios da sensopercepção são as ILUSÕES e as

ALUCINAÇÕES .

As ilusões são percepções reais falsificadas e estudadas sob o título

engano dos sentidos. Trata-se, na realidade, da interpretação distorcida de

um objeto real, uma falsificação da percepção de um objeto que, de fato,

existe. É uma percepção enganosa de um objeto real.

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É o caso, por exemplo, de um ruído qualquer, parecer-nos passos

misteriosos, das manchas num papel serem percebidas como símbolos

religiosos, de um barulho indefinido soar-nos como alguém nos chamando e

assim por diante. Sem dúvida, tais acontecimentos estão impregnados pelo

medo, pela necessidade religiosa, pela saudade ou por qualquer outro tipo

de emoção.

Por si só a ilusão não constitui um estado mórbido, mas pode denotar um

estado emocional mais ou menos intenso; desde pequenas oscilações do

normal até situações patológicas. Os enganos da ilusão podem afetar os

cinco sentidos.

As ilusões podem acontecer em qualquer doença mental, entretanto, elas

são mais freqüentes nas alterações da tonalidade afetiva. Podem estar

presentes na Psicose Maníaco Depressiva, em determinadas neuroses ou

ainda, em ocorrências fortuitas do cotidiano emocional de quem atravessa

momentos de forte tensão.

Alucinação é a percepção real de um objeto inexistente, ou seja, são

percepções sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real,

tendo em vista a convicção inabalável que a pessoa manifesta em relação

ao objeto alucinado, portanto, será real para a pessoa que está alucinando.

Tudo que pode ser percebido pode também ser alucinado e isso ocorre,

imaginativamente, com maior liberdade de associações de formas e objetos.

Na alucinação, por exemplo, um leão pode aparecer de asas, ou um caracol

que cavalga um ouriço. O indivíduo que alucina pode ter percebido

isoladamente cada uma das formas e, mentalmente, combinado umas com

as outras.

As alucinações podem manifestar-se também através de qualquer um dos

cinco sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e visuais. O

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fenômeno alucinatório tem conotação muito mais mórbido que a ilusão,

sendo normalmente associado à estados psicóticos que ultrapassam a

simplicidade de um engano dos sentidos. Na alucinação o envolvimento

psíquico é muito mais contundente que nos estados necessários à ilusão.

Segundo a visão de Jung, na doença mental o inconsciente começa a

sobrepor-se à consciência. Nessa situação rompem-se as barreiras de

contenção e as alucinações apresentam claramente à consciência uma

parte do conteúdo inconsciente. Assim sendo, as alucinações (como

também os delírios) não surgiriam de processos conscientes, mas sim,

inconscientes, cujos fragmentos brotariam na consciência tal qual no sonho,

ou seja, dissociados. Isso nos leva a afirmação metafórica de que a loucura

pode ser entendida como um sonhar acordado, ou, por outro lado, que o

sonho é uma espécie de loucura dos lúcidos. A doença mental, para Jung,

faria acionar um mecanismo previamente existente e que funciona

normalmente nos sonhos. (Jung, Carl. Dicionário dos Símbolos...........

Consciência e alterações da consciência

A consciência é uma das funções mais importante da mente. É ela que nos

permite tomar ciência de nós mesmos e do mundo. É nela que acontece

tudo aquilo do qual eu tomo conhecimento imediato. É nela também que

acontecem todas as demais funções mentais, à exclusão da memória, da

intuição e da psicomotricidade, que acontecem fora da consciência. A

consciência é um espaço virtual, é um campo onde ocorrem as atividades

mentais conscientes. Nela se inserem todos os conteúdos mentais

conscientes. Por esses dados, podemos definir a consciência como:

O campo mental onde o indivíduo se dá conta de si e do mundo

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O mecanismo responsável para a formação da consciência no ser humano

não encontra nenhuma explicação, plenamente satisfatória até o momento.

A consciência reflete sempre a individualidade e unidade do ser humano e,

sem dúvida, seu aspecto mais relevante é sua característica unitária, onde

todas as nossas percepções, pensamentos e emoções são integrados e

fundidos num mesmo e determinado momento.

A teoria baseada nas assembléias neuronais representa um modelo muito

convincente para a formulação de uma hipótese a respeito da consciência.

Segundo essa teoria, o pensamento consciente é gerado quando vários

neurônios de diversas colunas se unem funcionalmente e, atuando

harmonicamente e em conjunto, constroem uma assembléia, iniciando

assim a formação de um determinado estado consciente.

Nas alterações da consciência, observando seu aspecto quantitativo, a

consciência pode estar diminuída ou aumentada .

Entre as diminuições da consciência está a obnubilação que se caracteriza

pela diminuição da sensopercepção, lentidão da compreensão e da

elaboração de impressões sensoriais.

Há ainda lentificação no ritmo e alteração no curso do pensamento, prejuízo

da fixação e evocação da memória, algum grau de desorientação e

sonolência mais ou menos acentuada.

Coma – é o estado mais grave de perda da consciência, e geralmente se

acompanha de algum comprometimento neurológico e ou somático.

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Em relação a qualidade da consciência, vamos ter alterações que dizem

respeito à integridade do processo de conhecimento em seu aspecto mais

global; vai desde a sensação até o raciocínio abstrato.

Podemos averiguar o estado de consciência perscrutando-se a orientação

global do indivíduo. Saber-se numa certa cidade, dentro de um hospital,

nascido em tal data, filho de tais pessoas, situação familiar, etc.

Pensamento , juízo e alterações do pensamento

Trata-se, o pensamento, de uma operação mental que nos permite

aproveitar os conhecimentos adquiridos na vida social e cultural, combiná-

los logicamente e alcançar uma outra nova forma de conhecimento.

Todo esse processo começa com a sensação e termina com o raciocínio

dialético, onde uma idéia se associa a outra e, desta união de idéias nasce

uma terceira.

O raciocínio humano é uma cadeia infinita de representações, conceitos e

juízos, sendo a fonte inicial de todo esse processo a experiência sensorial.

Nosso conhecimento se dá através das representações sensoperceptivas do

mundo e delas, elaboramos nossos conceitos, vistos anteriormente. O

pensamento lógico consiste em selecionar e orientar esses conceitos, tendo

como objetivo alcançar uma integração significativa, que possibilite uma

atitude racional ante as necessidades do momento.

Chama-se juízo, o processo que conduz ao estabelecimento dessas

relações significativas entre conceitos e, julgar é, nesse caso, estabelecer

uma relação entre conceitos. A função que relaciona os juízos, uns com os

outros, recebe a denominação de raciocínio. Mas no seu sentido lógico, o

raciocínio não é nem verdadeiro nem falso, ele será sim, correto ou

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incorreto. Portanto, o raciocínio para ser correto deve ser lógico e, em

Psicologia, o termo raciocínio tem o mesmo sentido de pensamento.

Por outro lado, devemos completar a idéia de que o pensamento não se

resume em associações esparsas e aleatórias, como se combinássemos

peças para formação de um mosaico. Devemos acrescentar à teoria

associativa um algo mais que confere ao pensamento uma característica

formal, ou seja, uma capacidade em conseguir dar forma às idéias e que,

estas, não são apenas a soma de suas partes, mas sim, uma configuração

independente.

O pensamento não é guiado apenas por considerações estritamente

atreladas à realidade, ele também flui motivado por estímulos interiores,

abstratos e afetivos ou até instintivos. A criação humana, por exemplo,

ultrapassa muitas vezes a realidade dos fatos, refletindo estados interiores

variados e de enorme valor para a construção de nosso patrimônio cultural.

Nas alterações do pensamento, voltar-se para o mundo interno significa

que o pensamento se manifesta sob a forma de devaneios – uma espécie

de servidão das idéias às nossas necessidades mais íntimas, aos nossos

afetos e paixões. Enquanto há saúde mental, entretanto, nossos devaneios

são sempre voluntários e reversíveis; eles devem ser nossos servos e não

nossos senhores.

Em estados mais doentios, esses devaneios ou fugas da realidade são

emancipados da vontade, são impostas ao indivíduo de forma absoluta e

tirânica. Parece tratar-se de um indivíduo que despreza a realidade e vive

uma realidade nova que lhe foi imposta involuntariamente, da qual não

consegue libertar-se.

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A própria concepção da realidade pode sofrer alterações nos transtornos

psíquicos. Em determinados estados neuropsicológicos a realidade pode

sofrer alterações de natureza bioquímica, funcional ou anatômica. Em

outros estados, agora de natureza psicopatológica, os elementos da

realidade também podem ser deturpados por fatores afetivos, emocionais ou

psíquicos, de forma a prevalecer uma concepção do mundo determinada

exclusivamente pelo interior de ser e não mais pela lógica comum à todos

nós.

Ao pensamento que se afasta da realidade morbidamente, ou seja,

doentiamente, damos o nome de pensamento derreísta ou autista. Esse

tipo de pensamento não mais depende do arbítrio que todos temos em

fantasiar e voltar à realidade voluntariamente. Ele devaneia

obrigatoriamente, sendo negado ao paciente a faculdade de entendimento

dos limites de nossas fantasias.

O pensamento derreísta é aquele que se desvia da razão, faltando-lhe

tenacidade para se atrelar à realidade. Sua característica principal é criar a

partir de antigas cognições e novas representações, um mundo novo e de

acordo com os desejos, anseios e angústias.

Bleuler deixou explícito que nos casos de esquizofrenia o pensar encontra-

se profundamente alterado. O voltar-se para o mundo interno contribui para

que o pensamento se manifeste sob a forma de devaneio, quando a pessoa

pode deixar suas fantasias em total liberdade, de rédeas soltas. Em tais

circunstâncias, o pensar não obedece às leis da lógica e, nos casos mais

acentuados, tudo transcorre como se o indivíduo estivesse submerso num

verdadeiro estado onírico. Para Bleuler, o pensamento derreísta obedece

às suas próprias leis e utiliza as relações lógicas habituais apenas na

medida em que são convenientes mas, de qualquer forma, ele não se acha

ligado de nenhuma maneira a essas leis lógicas. O pensamento derreísta

está dirigido pelas necessidades íntimas do paciente, o qual pensa mediante

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símbolos, analogias, conceitos fragmentários e vinculações acidentais.

(www.psiqweb.med.br/cursos)

Pelo curso do pensamento podemos ver, inicialmente, seu ritmo. O

pensamento pode manifestar-se normal, rápido ou lento. Em seu ritmo

lento temos a inibição do pensamento, que é um sintoma que se manifesta

por lentidão de todos os processos psíquicos. Nos enfermos em que existe

inibição do pensamento, observa-se também grande dificuldade na

percepção dos estímulos sensoriais, limitação do número de representações

e lentidão no processo e evocação das lembranças.

Os pacientes com inibição do pensamento mantêm-se apáticos, não falam

espontaneamente nem respondem às perguntas com vivacidade. A

perturbação é também qualitativa ou seja, atinge a essência do pensamento

e se acompanha, geralmente, de um sentimento subjetivo de incapacidade.

Junto com a inibição do pensamento pode haver ainda sentimento de pouco

interesse , de imprecisão a respeito das opiniões, dificuldades para a escrita

e lentidão para andar. Esses pacientes revelam dificuldade de

compreensão, de iniciar uma conversação, de escolher palavras, enfim, eles

pensam com grande esforço.

A fuga de idéias é uma alteração do pensamento caracterizada por uma

variação incessante do tema e uma dificuldade importante para se chegar a

uma conclusão. A progressão do pensamento encontra-se seriamente

comprometida por uma aceleração associativa, a tal ponto que, a idéia em

curso é sempre perturbada por uma nova idéia que se forma.

No pensamento com fugas de idéias o que há não é uma carência de

objetivos mas uma mudança constante do objetivo devido a extraordinária

velocidade no fluxo das idéias.

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A sucessão de novas idéias, sem que haja conclusão da primeira, torna o

discurso pouco ou nada inteligível. Há, pois, passagem de um assunto para

outro sem que o primeiro tenha chegado ao fim .

Atenção e memória – alterações da atenção

Uma maneira pela qual a percepção se torna consciente é através da

Atenção que, em essência, é a focalização consciente e específica sobre

alguns aspectos ou algumas partes da realidade. Assim sendo nossa

consciência pode, voluntariamente ou espontaneamente, privilegiar um

determinado conteúdo e determinar a inibição de outros conteúdos vividos

simultaneamente.

Portanto, reconhece-se a Atenção como um fenômeno de tensão, de

esforço, de concentração, de interesse e de focalização da consciência.

A Atenção pode ser entendida como uma atitude psicológica através da

qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre um estímulo específico,

seja este estímulo uma sensação, uma percepção, representação, afeto ou

desejo, a fim de elaborar os conceitos e o raciocínio. Portanto, de modo

geral a Atenção parece criar a própria memória.

A Memória, no sentido estrito, pode ser entendida como a soma de todas as

lembranças existentes na consciência, bem como as aptidões que

determinam a extensão e a precisão dessas lembranças. De modo geral a

Memória necessita de duas funções neuropsíquicas fundamentais; a

capacidade de fixação, que é a função responsável pelo acréscimo de novas

impressões à consciência e graças à qual é possível adquirir novo material

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Portanto, as lembranças perduram por mais tempo quanto mais são

reforçadas pela repetição.

Dentro dos fatores individuais de maior influência no processo da Atenção

destacam-se as condições do estado de ânimo ou de interesse, os quais

podem facilitar ou inibir a mobilização da Atenção. Portanto, o elemento

afetivo tem significação determinante no processo da Atenção, admitindo-se

que a pessoa só dirige a Atenção aos estímulos que lhe despertam

interesse.

Nossa Atenção sobre algo é tanto mais intensa quanto mais nos interessa

esse algo, quanto mais desejamos conhecê-lo e compreendê-lo, quanto

mais isto nos proporcione prazer ou satisfação. É por isso que, durante os

episódios depressivos, onde o prazer e o interesse estão significativamente

comprometidos, a Atenção e a Memória estarão também severamente

prejudicadas; por falta de interesse e prazer.

A cisão da atenção é quando os objetos da atenção opõem-se um ao outro

e, por causa disso, não se pode estabelecer uma unidade. Observação das

mais significativas para a Psicopatologia consiste na noção de “cisão” da

atenção. Este fato pode ocorrer com relativa freqüência em alguns

transtornos psíquicos, criando sérios problemas para a mente que deve

atender, simultaneamente, a objetivos múltiplos ou extremamente

contraditórios. No caso de “cisão”, nos casos mais acentuados, em que se

manifestam outros sintomas concomitantes, a cisão da atenção pode

determinar uma verdadeira desintegração da mente.

A situação é descrita como aquela em que uma pessoa transmite à outra

duas mensagens afins, porém contraditórias e incompreensíveis, contendo

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exigências de natureza oposta, ao mesmo tempo que trata de impedir que a

vítima expresse uma opinião acerca da incoerência.

Afetividade e alterações da afetividade

A afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as

emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar

sentimentos e emoções. A Afetividade é quem determina a atitude geral da

pessoa diante de qualquer experiência vivencial, promove os impulsos

motivadores e inibidores, percebe os fatos de maneira agradável ou sofrível,

confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e determina

sentimentos que oscilam entre dois pólos, a depressão e a euforia.

Desta forma, a Afetividade é quem confere o modo de relação do indivíduo à

vida e será através da tonalidade de ânimo que a pessoa perceberá o

mundo e a realidade. Direta ou indiretamente a Afetividade exerce

profunda influência sobre o pensamento e sobre toda a conduta do

indivíduo.

Abaixo os sintomas comumente associados aos transtornos da afetividade:

Inibição psíquica é uma espécie de freio ou lentificação dos processos

psíquicos em sua globalidade, uma dormência generalizada de toda a

atividade mental. Em graus variáveis, esta inibição geral torna o indivíduo

apático, desinteressado, lerdo, desmotivado, com dificuldade em suportar

tarefas elementares do cotidiano e com grande perda na capacidade em

tomar iniciativas. O campo da consciência e da motivação estão

seriamente comprometidos, daí a dificuldade em manter um bom nível de

memória, de rendimento intelectual, da atividade sexual e até da

agressividade necessária para tocar adiante o dia-a-dia.

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Estreitamento do campo vivencial não pode ser diferenciado totalmente

da inibição psíquica. A palavra mais adequada para designar este

fenômeno é anedonia, ou seja, a incapacidade em sentir prazer. Acontece

que o deprimido destina a maior parte de sua energia psíquica para a

manutenção da Depressão. Vale aqui o ditado de que a alegria consome-

se em si própria e a depressão alimenta-se a si mesma. Esta destinação

da energia psíquica para a manutenção da depressão faz com que faltem

forças para a manutenção do ânimo para todo panorama existencial.

O universo vivencial do deprimido vai sendo cada vez menor e mais restrito

e a preocupação com seu próprio estado sofrível toma conta de todo seu

interesse vivencial.

Sentimento de menos valia, é o fenômeno mais marcante e mais

desagradável na trajetória do depressivo. É um sentimento de

autodepreciação, autoacusação, inferioridade, incompetência,

pecaminosidade, culpa, rejeição, feiúra, fraqueza, fragilidade etc.

videntemente, tais sentimentos aparecem em grau variado; desde uma sutil

sensação de inferioridade até profundos sentimentos depreciativos.

Apatia afetiva no sentido de que a afetividade esteja completamente

abolida, não se observa nunca em nenhuma psicose, entretanto, a

diminuição do afeto é um sintoma constante em várias enfermidades

mentais. Na esquizofrenia, os autores antigos admitiam a existência de um

“embotamento afetivo”, no sentido de uma derrocada completa da

afetividade. Observações posteriores revelaram que o que se verifica, na

realidade, é uma alteração qualitativa dos processos afetivos, tornando os

sentimentos dos esquizofrênicos inadequados e inteiramente

incompreensíveis para as pessoas afetivamente normais. Os pacientes se

conservam apáticos e indiferentes diante de situações emocionais ou se

manifestam alegres ante acontecimentos que, normalmente, provocam

tristeza.

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Incontinência emocional é uma forma de alteração da afetividade que se

manifesta pela facilidade com que se produzem as reações afetivas,

acompanhadas de um certo grau de incapacidade para inibi-las. A maioria

dos pacientes com incontinência emocional domina-se pior que os demais.

Tem de ceder diante dos acontecimentos mais insignificantes, tanto no que

se refere a sua expressão como à ação que deles se deriva.

Ambivalência afetiva é caracterizada por acentuações afetivas opostas e

basicamente simultâneas nos indivíduos normais. Fala do amor e temor ou

ódio que uma pessoa pode ter em relação a outra, dos acontecimentos que

se temem e são desejados.

O paciente ambivalente, apesar de não poder unir os sentimentos e

tendências opostas, percebe-os ao mesmo tempo (ama e odeia), sem que

ambos os sentimentos ajam entre si ou se debilitem. Deseja a morte da

mulher e se as alucinações a apresentam morta, pode ao mesmo tempo

ficar desesperado e chorar por isso.

Fobia, termo usado para definir um temor insensato, obsessivo e

angustiante, que certos doentes sentem em situações específicas. A

característica essencial da fobia consiste no temor patológico, absurdo que

escapa à razão e resiste a qualquer espécie de objeção da lógica e da

razão. Refere-se a certos objetos, atos ou situações e pode apresentar-se

sob os aspectos mais variados. O temor obsessivo aos espaços abertos

(agorafobia) ou fechados (claustrofobia), aos contatos humanos ou com

animais (cães, ratos), temor de atravessar ruas, de subir ou descer

elevadores, de lugares alto, etc.

Irritabilidade pode ser considerada como uma predisposição especial ao

desgosto, à ira e ao furor. Os pacientes irritáveis manifestam impaciência e

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aumento da capacidade de reação para determinados estímulos e

intolerância à frustração, aos ruídos, às aglomerações. Nesses casos, a

perturbação consiste no aumento da tonalidade afetiva própria das

percepções, tanto que se pode verificar certa contradição na conduta dos

doentes, os quais sofrem mais com a falta de consideração do ambiente do

que propriamente com os ruídos produzidos no meio exterior, ou seja,

interpretam o ruído mais como uma provocação do que um incômodo

acústico.

Na Angústia , deve-se estabelecer considerações no sentido de estabelecer

os limites entre medo e angústia. A diferença entre esses dois estados de

ânimo é que no medo o objeto perigoso aparece mais claramente destacado

do indivíduo e é percebido, imaginado ou pensado como uma articulação e

uma delimitação clara e determinada, enquanto na angústia os processos do

conhecimento que a precedem são, freqüentemente, muito mais vagos e

indiferenciados, características que correspondem a estratos psíquicos mais

primitivos.

Sentimento de falta de sentimento , observa-se esse curioso fenômeno

em pacientes esquizofrênicos. Os pacientes se queixam de que não

experimentam sentimentos de espécie nenhuma, de que não sentem ânimo

para participar de festas ou de qualquer tipo de distração. Eles podem até

queixar-se de terem acabado suas emoções, podem reclamar o desejo de

sentir emoções.

Sentimentos inadequados , em pacientes esquizofrênicos, algumas vezes

as reações afetivas são inteiramente inadequadas aos estímulos.

Acontecimentos que, normalmente, produzem reação emocional intensa em

indivíduos sãos, podem desencadear uma reação paradoxal nos

esquizofrênicos. Fatos expressivos podem ser acompanhados da mais

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completa indiferença ou, ao contrário, fatos banais podem provocar intensas

reações afetivas.

Sentimentos de presença é quando o paciente tem a certeza imediata de

que alguém está ao seu lado, atrás ou próximo dele, sente a presença de

alguém que nunca é visto, porém está certo de que está próximo. Algumas

pessoas afetivamente perturbadas, seja por excesso de ansiedade, seja

durante um surto de psicoses, podem sentir que alguém, algum demônio,

algum extra-terrestre, enfim, alguém ou alguma coisa esteja sempre

presente nas proximidades.

Labilidade afetiva é um estado especial em que se produz a mudança

rápida do humor, sempre acompanhada de extraordinária intensidade

afetiva. Esta forma súbita de reagir diante dos estímulos do meio exterior

revela pessoas incapazes de controlar a intensidade de suas reações.

Puerilismo , esse termo é empregado em psiquiatria para designar as

alterações mentais caracterizadas pela regressão da personalidade adulta

ao nível do comportamento infantil. Em conseqüência, o paciente adota

inconscientemente as atitudes, a linguagem e o estado de ânimo de uma

criança.

3.3. Quadros clínicos

A maior parte da síntese exposta nesse capítulo tomou por base a obra

Compêndio de Psiquiatria – Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica.

Clinicamente e a grosso modo, podemos dizer que as neuroses

diferenciam-se das psicoses pelo grau de envolvimento da personalidade,

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sendo sua desorganização e desagregação muito mais pronunciadas nas

psicoses.

O vínculo com a realidade é muito mais tênue e frágil nas psicoses que nas

neuroses, nestas a realidade não é negada mas vivida de maneira mais

sofrível, valorizada e percebida de acordo com as lentes da afetividade e

representada de acordo com as exigências conflituais.

Já nas psicoses, alguns aspectos da realidade são negados e substituídos

por concepções particulares e peculiares que atendem unicamente às

características da doença.

A sintomatologia psicótica caracteriza-se, principalmente, pelas alterações a

nível do pensamento e da afetividade e, conseqüentemente, todo

comportamento e toda performance existencial do indivíduo serão

comprometidos. Na psicose o pensamento e a afetividade se apresentam

qualitativamente alterados, tal como uma novidade cronologicamente delimitada

na história de vida do paciente e que passa a atuar morbidamente em toda sua

performance psíquica.

Essa alteração confere ao paciente uma maneira patológica de representar

a realidade, de elaborar conceitos e de relacionar-se com o mundo objectual.

Não contam aqui as variações quantitativas de percepção do real, como pode

ocorrer na depressão, por exemplo, mas um algo novo e qualitativamente

distinto de todas nuances anteriormente permitidas, um algo essencialmente

patológico, mórbido e sofrível.

Esquizofrenia é uma doença da Personalidade total que afeta a zona

central do eu e altera toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico

representa o estereotipo do “ louco”, um indivíduo que produz grande

estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida.

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Agindo como alguém que rompeu as amarras, o esquizofrênico menospreza a

razão e perde a liberdade de escapar às suas fantasias.

Aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, geralmente

iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sócio-

cultural.

De causa desconhecida a hipótese mais aceita é a de origem multicausal e

envolve predisposição genética, familiar e pode se manifestar espontaneamente

ou quando ocorrem situações adversas com o indivíduo e sua integração com o

meio.

Compromete várias funções psíquicas, tem evolução geralmente crônica e

necessita tratamento continuado.

Conhecida desde a antiguidade e descrita anteriormente como demência

precoce por Kraepelim (1896), que identificou o curso da doença, o termo

esquizofrenia que foi dado por Bleuler (1960) e vem do grego (esquizo:dividido ;

frenos: alma), este autor identifica e enfatiza os sintomas psicopatológicos

presentes e justifica a mudança do nome pelas seguintes razões:

haveria uma cisão entre as idéias e os afetos correspondentes, sendo

esta a principal característica do quadro

a esquizofrenia não leva necessariamente à demência

certos sintomas poderiam ser definidos como típicos

outros sintomas não seriam típicos, poderiam ocorrer em outras

psicoses, mas permitiriam os subtipos de esquizofrenia

Apesar de não haver um sintoma que seja marcante ou definitivo para o

diagnóstico porque podem aparecer em outras doenças, o que favorece o

diagnóstico de esquizofrenia é a presença de delírios e alucinações ( que são

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alterações da sensopercepção completamente fora do comum ou usual e que

trazem prejuízo para o paciente).

Os delírios podem sugerir uma interpretação falsa da realidade percebida.

É o caso do paciente que sente algo sendo tramado contra ele pelo fato de ver

duas pessoas simplesmente conversando. Trata-se da percepção delirante

que necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado. Outras

vezes não há necessidade de nenhum estímulo à ser interpretado, como por

exemplo, julgar-se Deus. Neste caso trata-se de uma ocorrência delirante.

O tipo de delírio mais freqüente na esquizofrenia é do tipo Paranóide ou de

Referência, ou seja, com temática de perseguição ou prejuízo no primeiro caso

e de que todos se referem ao paciente no segundo caso.

As alucinações mais comuns na esquizofrenia são as auditivas e as

visuais.

As formas de ouvir vozes, ou seja, ouvir os próprios pensamentos, vozes na

forma de fala e respostas e vozes que acompanham com observações a ação

do doente, são de grande valor para o diagnóstico da esquizofrenia.

Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a

forma de comentários e antecipações daquilo que ele faz ou fez.

Outro sintoma importante para o diagnóstico da esquizofrenia é a sensação

de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou mesmo sendo

subtraído por algo no exterior. Igualmente pode-se encontrar a sensação de

que os atos estão sendo controlados por forças ou influências exteriores.

Psicose Delirante Crônica é caracterizada, essencialmente, pelo

desenvolvimento insidioso de um sistema delirante duradouro e inabalável mas,

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apesar desses delírios há uma curiosa manutenção da clareza e da ordem do

pensamento, da vontade e da ação.

Ao contrário dos esquizofrênicos e doentes cerebrais, onde as idéias

delirantes são um tanto desconexas, nesta psicose as idéias se unem num

determinado contexto lógico para formar um sistema delirante total, rigidamente

estruturado e organizado.

A característica essencial desse transtorno delirante persistente é a

presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos

um mês. Para o diagnóstico é muito importante que o delírio do transtorno não

seja bizarro nem seja desorganizado, ou seja, ele deve ter seu tema e script

organizado e compreensível ao ouvinte, embora continue se tratando de uma

falsa e absurda crença.

As alucinações não são proeminentes e nem habituais, embora possam

existir concomitantemente.

Normalmente o funcionamento social desses pacientes paranóicos não está

prejudicado, apesar da existência do delírio. A maioria dos pacientes pode

parecer normais em seus papéis interpessoais e ocupacionais, entretanto, em

alguns o prejuízo ocupacional pode ser substancial e incluir isolamento social.

Os delírios na Psicose Delirante Crônica, normalmente são interpretativos,

egocêntricos, sistematizados e coerentes. Pode ser de prejuízo, de

perseguição ou de grandeza, impregnado ou não de tonalidade erótica ou com

idéias de invenção ou de reforma.

Psicose Reativa Breve se caracteriza pelo aparecimento abrupto dos

sintomas psicóticos sem a existência de sintomas pré-mórbidos e,

habitualmente, seguindo-se à um estressor psicossocial. Os sinais e sintomas

clínicos são similares aqueles vistos em outros distúrbios psicóticos.

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Deve ser entendida como uma alteração psicótica na qual os fatores

ambientais tem a maior influência etiológica.

O desenvolvimento da Psicose Reativa pode satisfazer a necessidade do

paciente em representar, simbolicamente, a si e aos outros através da natureza

interna de suas contradições, angústias e paixões, numa espécie de falência

aguda de sua capacidade de adaptação a uma situação sofrível.

A característica essencial deste distúrbio é o início súbito dos sintomas

psicóticos que persistem por um tempo inferior a um mês, com eventual retorno

ao nível pré-mórbido de funcionamento. Os sinais e sintomas clínicos são

similares aqueles vistos em outros estados psicóticos, tais como na

esquizofrenia e nos transtornos afetivos com sintomas psicóticos.

Transtornos do Humor ( afetivo ) nos quais a perturbação fundamental é

uma alteração do humor ou do afeto, no sentido de uma depressão ou uma

elação. A alteração do humor em geral se acompanha de uma modificação do

nível global de atividade, e a maioria dos outros sintomas são secundários a

estas alterações do humor e da atividade, quer facilmente compreensivas no

contexto destas alterações. A maioria destes transtornos tendem a ser

recorrentes e a ocorrência dos episódios individuais pode freqüentemente estar

relacionada com situações ou fatos estressantes.

Os transtornos do humor podem agrupar-se na seguintes categorias:

Episódio Maníaco inclui três subdivisões, a hipomania que se caracteriza pela

presença de uma elevação ligeira do humor, da energia e da atividade,

associada em geral a um sentimento intenso de bem-estar e de eficácia física e

psíquica. Existe freqüentemente um aumento da sociabilidade, do desejo de

falar, da familiaridade e da energia sexual, e uma redução da necessidade de

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sono; estes sintomas não são, entretanto, tão graves de modo a entravar o

funcionamento profissional ou levar a uma rejeição social. A euforia e a

sociabilidade são por vezes substituídas por irritabilidade, atitude pretensiosa

ou comportamento grosseiro. As perturbações do humor e do comportamento

não são acompanhadas de alucinações ou de idéias delirantes.

A mania sem sintomas psicóticos que é marcada pela presença de uma

elevação do humor fora de proporção com a situação do sujeito, podendo variar

de uma jovialidade descuidada a uma agitação praticamente incontrolável.

Esta elação se acompanha de um aumento da energia, levando à

hiperatividade, um desejo de falar e uma redução da necessidade de sono. A

atenção não pode ser mantida , e existe freqüentemente uma grande distração.

O sujeito apresenta um aumento da auto-estima com idéias de grandeza e

superestimativa de suas capacidades. A perda das inibições sociais pode

levar a condutas imprudentes, irrazoáveis, inapropriadas ou deslocadas.

Na mania com sintomas psicóticos há presença, além do quadro clínico

acima descrito, de idéias delirantes ( normalmente de grandeza) ou de

alucinações ou de agitação, de atividade motora excessiva e de fuga de idéias

de uma gravidade tal que o sujeito de torna incompreensível ou inacessível a

toda comunicação normal.

Transtorno afetivo bipolar é caracterizado por dois ou mais episódios nos quais

o humor e o nível de atividade do sujeito estão profundamente perturbados,

sendo que este distúrbio consiste em algumas ocasiões de uma elevação do

humor e aumento da energia e da atividade (hipomania ou mania) e em outras,

de um rebaixamento do humor e de redução da energia e da atividade

(depressão).

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Episódios Depressivos , o paciente apresenta um rebaixamento do humor,

redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade

de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de

concentração, associadas em geral à fadiga importante, mesmo após um

esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do

apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da

autoconfiança e freqüentemente idéias de culpabilidade e ou de indignidade. O

humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e

pode se acompanhar de sintomas somáticos, por exemplo perda de interesse

ou prazer, despertar matinal precoce, agravamento matinal da depressão,

lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e

perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar

três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave.

4- ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DA DOENÇA

MENTAL

4.1. Arteterapia / Conceito

A arteterapia é um processo terapêutico que utiliza vários recursos de

expressão artística e corporal para auxiliar as pessoas a se conhecerem e a

conhecerem o mundo ao seu redor. À partir dessas informações, é possível

facilitar as transformações e o seu desenvolvimento como um todo.

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Na artererapia o que se pretende é ativar a criatividade de maneira livre,

porém direcionada ao crescimento e desenvolvimento.

Trabalhar com a criatividade é entrar num mundo sem fronteiras e limites,

de maneira livre e espontânea .

O instrumento de trabalho é a arte, porém não existe uma preocupação

estética, não sendo necessário ”fazer bonito”, porque o que importa é o

significado do que se faz, é como se faz.

O objetivo é facilitar através do processo artístico a elaboração de situações

vividas.

Cada manifestação artística nos diz quem a produziu, como o fez, o que

pensa, sente, deseja ou sofre.

A arteterapia trabalha com o simbólico, ou seja, com as imagens simbólicas,

que ordenam e dão significado às nossas vidas.

Um símbolo é uma forma de energia psíquica, e esta energia se manifesta

através de imagens.

A energia que está contida no símbolo vem do inconsciente e, através das

técnicas expressivas, ela é trazida para o consciente e é trabalhada.

A palavra tem um significado exato, o símbolo não, ele precisa ser

explorado através de imagens, porque o significado dos símbolos não é óbvio ,

mas alguma coisa viva, intensa e enigmática.

Os símbolos são difíceis de verbalizar, porque eles se expressam por

analogias, por metáforas.

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O processo simbólico precisa então da imagem para que os conteúdos

inconscientes sejam trazidos para o consciente.

Para que as imagens simbólicas tornem-se conscientes, a modelagem, a

pintura, as colagens e algumas outras técnicas são para facilitar a compreensão

do significado do símbolo.

Através das técnicas expressivas, as imagens simbólicas vão ganhando

significado e este processo vai permitir que cada pessoa ao experienciar, possa

viver mais plenamente, através do processo de individuação.

O processo de individuação é a capacidade que uma pessoa tem de tornar-

se si mesma, inteira, indivisível e distinta de outras pessoas.

O objetivo da arteterapia é de que cada um faça o seu processo de

individuação, trazendo as imagens simbólicas para a consciência, através das

técnicas expressivas de modelagem, pintura, colagens, desenhos, etc., dando-

lhes um significado.

Algumas técnicas utilizadas e seus aspectos psicológicos:

Pintura - essa técnica dá chance de observar a expressão que brota

diretamente do inconsciente, sem regras impostas por teorias estéticas.

O efeito terapêutico desta atividade parece ser a criação no indivíduo de um

estado propício à experiência do inconsciente onde nada se mantém fixo,

petrificado para sempre; estado de fluidez, de atitude a se abrir às

metamorfoses e ao devir.

A pintura funciona como um meio adequado para exprimir facetas da vida

emocional que geralmente escapam do domínio verbal. É também a atividade

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mais livre. À medida que se avança na linguagem plástica vai-se mostrando o

acesso a processos interiores inacessíveis, a este modo de realização no

relacionamento interpessoal.

Modelagem - essa atividade é indicada principalmente para pessoas muito

distanciadas do contato com seus sentimentos e que continuamente bloqueiam

sua expressão e geralmente estão fora de contato com seus sentidos. Essa

técnica permite o trabalho com argila, gesso, sabão, cera, etc.

A argila por ser flexível e maleável adapta-se às mais variadas necessidades.

Proporciona a oportunidade de fluidez entre material e manipulador como

nenhum outro. É fácil tornar-se uno com a argila.

A atividade corporal de representação pela modelagem desencadeia mais

rapidamente uma resposta emotiva, uma ressonância afetiva mais ligada ao

trabalho que a seu resultado.

O corpo reage em uma tarefa de modelagem de uma maneira diferente de

quando pinta. O gesto é mais livre, visto que é mais facilmente corrigível.

Colagem – essa técnica é um excelente meio de expressão para todas as

idades.

É uma atividade confortável pois manipular imagens já existentes facilita e

estimula a realização da atividade muito mais que a criação de pinturas e

modelagens. É uma atividade multiplicadora.

Desenho - é uma técnica que favorece a relação de intimidade e também

podemos utilizá-la a título de relaxamento. Pode ser que seja uma

necessidade para alguns, Ter esse espaço de liberdade sem preocupação de

colocar em forma verbal nem plástica.

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O desenho é ordenador e é a melhor forma de representação da imagem.

Marionetes – é uma técnica que proporciona um campo de experiências muito

rico por tudo aquilo que ela produz: criação plástica da marionete, decoração e

acessórios, invenções de cenários, realizações grupais, utilização da palavra na

própria criação, implicação do corpo de uma forma mais direta que nas outras

técnicas.

Nesta atividade a representação teatral ocupa um papel muito importante.

O fim terapêutico é permitir um melhor funcionamento do pensamento simbólico

pelo reconhecimento e elaboração dos obstáculos que impedem sua formação.

Máscaras – é uma técnica que constitui um lugar de síntese de dois

mecanismos que estão na base do psiquismo: a projeção e a identificação.

A circunstância de ser como um outro e de conservar-se em si mesmo é

tornada possível através dessa atividade.

A fabricação da máscara inclui todos os aspectos da criatividade: a capacidade

de organização perceptivo-motora, a integridade da imagem corporal, a

compreensão das relações próprias à lógica do espaço, a representação

simbólica.

4.2 – Arteterapia na Doença Mental

Quando o ego cindi-se, estilhaça-se, seja por incapacidade para suportar a

tensão de certas situações existenciais, pelo envolvimento em relações

interpessoais destituídas de amor, frustrantes ou opressivas, seja devido ao

impacto de emoções violentas ou ao trabalho surdo de afetos intensos, a libido

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introverte-se, vindo ativar o inconsciente. O ego, partido em pedaços, não tem

forças para fazer face à realidade externa nem tampouco consegue controlar a

maré do inconsciente.

Ocorre a dissociação do ego. Imagens providas de enormes cargas

energéticas emergem em impetuosos movimentos autônomos.

Este fenômeno varia em graus diferentes segundo seja o ego mais fraco ou

o inconsciente forte.

A comunicação com o doente mental, nos casos graves, terá mínima

probabilidade de êxito se for iniciada no nível verbal de nossas relações

interpessoais. Isso só ocorrerá quando o processo de cura já estiver bastante

adiantado. Será preciso partir do nível não verbal. É aí que se insere a

arteterapia, oferecendo atividades que permitam a expressão de vivências não

verbalizáveis por aquele que se acha mergulhado na profundeza do

inconsciente, isto é, no mundo arcaico de pensamentos, emoções e impulsos

fora do alcance das elaborações da razão e da palavra.

Desenho, pintura, modelagem, enfim as diversas técnicas de expressões

plásticas não só constituem excelente meio de pesquisa, mas igualmente são

instrumentos na terapêutica da doença mental.

Convivendo com o paciente e vendo-o exprimir-se verbal ou não

verbalmente em ocasiões diferentes, seja nas atividades individuais ou de

grupo, logo chegaremos a um conhecimento bastante profundo do paciente.

Essas atividades expressivas permitem a espontânea expressão das

emoções, que dão mais larga oportunidade para os afetos tomarem forma e se

manifestarem. Através dessas atividades é que se pode conseguir maior

penetração no mundo íntimo do psicótico.

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O processo psíquico desenvolve seu dinamismo por intermédio da criação

de imagens simbólicas. A objetivação de imagens simbólicas no desenho ou

na pintura poderá promover transferências de energia de um nível para outro

nível psíquico.

Essas imagens do inconsciente objetivadas tornam-se passíveis de uma

certa forma de tratamento, mesmo não havendo nítida tomada de consciência

de suas significações profundas.

Exprimindo sobre cartolinas ou telas, fragmentos do drama que está

vivenciando desordenadamente, o indivíduo despotencializará figuras que o

ameaçam e conseguirá desidentificar-se de imagens que o aprisionam.

A psicologia junguiana está impregnada de atividades de expressão

plásticas.

Jung estudou a correlação entre imagens arquetípicas e instintos, pois,

segundo ele, não há instintos amorfos, cada instinto desenvolvendo sua ação

de acordo com a imagem típica que lhe corresponde.

Escutando o doente, estudando suas pinturas e outras produções, se

verificará que a matéria-prima de seus delírios é constituída de idéias e

imaginações arquetípicas, soltas ou agrupadas em fragmentos de temas

míticos.

A psicoterapia junguiana tem por meta não só a dissolução de conflitos

intrapsíquicos e de problemas interpessoais, mas favorece também o

desenvolvimento da criatividade inerente ao indivíduo e que o ajuda a crescer.

A criatividade é o catalisador por excelência das aproximações de opostos.

Por seu intermédio, sensações, emoções, pensamentos, são levados a

reconhecerem-se entre si, a associarem-se, e tumultos internos adquirem

forma.

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A arteterapia não tem a pretensão de que os pacientes realizem obras de

alta qualidade artística. Terapeuticamente, o mais importante é que o mundo

interno dissociado tome forma e encontre meios de expressão através de

símbolos transformadores que o aproximem cada vez mais do nível consciente.

Um dado importante nos trabalhos realizados em arteterapia, é estudá-los

em séries. Isolados, parecem sempre indecifráveis.

É difícil apreender a significação de uma única imagem. Será necessário,

por exemplo, o estudo comparado de muitas pinturas para compreendê-las.

Pinturas, do mesmo modo que sonhos, se examinadas em séries, revelam a

repetição de motivos e a existência de uma continuidade no fluxo de imagens

do inconsciente.

5. CONCLUSÃO

No tratamento da doença mental não basta investigar se a dissociação da

psique foi motivada por hostis fatores sociais, dificuldades no relacionamento

interpessoal, conflitos intrapsíquicos. Impõe-se aos profissionais que se

predispõe nesse tratamento, a tarefa de tentar entender as mudanças do

comportamento desse ser agora cindido e as imagens e idéias que vêm povoar

seu mundo interno.

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Como penetrar no estranho mundo do esquizôfrenico se os processos

psíquicos que se desenvolvem no “outro” não nos são acessíveis diretamente?

O ser humano comunica-se através da palavra, da mímica e das reações

psicomotoras, da realização de atos, das várias modalidades de expressão

plástica.

Quando se trata de doente mental a comunicação torna-se ainda mais

improvável.

Teríamos que escutar com interesse seus discursos estranhos e desconexos,

difíceis muitas vezes de compreender.

Torna-se então penosa e às vezes impossível, a comunicação com o

doente mental por intermédio da palavra.

Entretanto, talvez o caminho menos difícil para penetração no mundo do doente

mental seja recorrer à expressão plástica.

Nas imagens pintadas, desenhadas ou esculpidas, teremos auto-retratos da

situação psíquica, imagens muitas vezes fragmentadas, extravagantes, mas

que ficam aprisionadas sobre a tela ou papel e poderemos sempre voltar a

estudá-las.

As atividades realizadas em arteterapia permitem a expressão de vivências

muitas vezes não verbalizáveis, fora do alcance das elaborações da razão e do

pensamento e o doente terá então a oportunidade de descobrir nas atividades

expressivas e criadoras, novas perspectivas de aceitação social e também

muni-lo de um meio ao qual poderá recorrer sozinho para manter seu equilíbrio

psíquico.

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6. BIBLIOGRAFIA

COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA – Ciências do Comportamento

e Psiquiatria Clínica

OAKLANDER, Violet. Descobrindo Crianças. São Paulo: Summus,

1981.

PROENÇA, Graça. História da Arte. 16ª edição. São Paulo:

Ática,2001.

PAIN, Sara e JARREAU, Gladys. Teoria e técnica da Arteterapia.

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SILVEIRA, Nise. Imagens do Inconsciente. Brasília: Alhambra,

1981.

SILVEIRA, Nise. Jung – vida e obra. 14ª edição. Rio de Janeiro:

Paz e Terra, 1994

SILVEIRA, Nise. Emoções de Lidar. Brasília: Alhambra, 1980 .

W.W.W. psiqweb.med.br/cursos

W.W.W. museuimagensdoinconsciente.org.br/artigos

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7. ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 5

2. HISTÓRIA DA ARTE 7

2.1- O Nascimento da Arte 7

2.2- O que é Arte 8

2.3- Principais Movimentos da Arte 10

3. A DOENÇA MENTAL 2 5

3.1- Psicopatologia / Conceito 25

3.2- Funções Psíquicas e suas respectivas perturbações 26

3.3- Quadros Clínicos 42

4. ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DA

DOENÇA MENTAL 49

4.1- Arteterapia/ Conceito 49

4.2- Arteterapia na Doença Mental 53

5. CONCLUSÃO 56

6. BIBLIOGRAFIA 58

7. INDICE 59

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