Vitor Geraldi Haase - O que é neuroplasticidade - atividade física - neurogênese
DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · do sistema nervoso. Estudos serão abordados...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A NEUROCIÊNCIA E AS CONTRIBUIÇÕES PARA AS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Márcia Cristina Jau
Orientador
Prof. Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A NEUROCIÊNCIA E AS CONTRIBUIÇÕES PARA AS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Márcia Cristina Jau
3
AGRADECIMENTOS
....Agradeço primeiramente a Deus
pela vida, ao meu amado companheiro de
todas as horas Walter e minha amada e
preciosa filha Mariana pelo seu carinho e a
todos os professores do Curso de
Neurociências que compartilharam seus
conhecimentos......
4
DEDICATÓRIA
.....Dedico ao meu companheiro e amigo
Walter, minha amada filha Mariana, aos
professores em especial a coordenadora
do Curso de Neurociência Pedagógica da
AVM Sra. Marta Relvas Pires.......
5
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo de fazer uma abordagem da
neurociência e as práticas pedagógicas na educação infantil.
Será apresentado uma pequena abordagem da organização funcional
do sistema nervoso. Estudos serão abordados para compreender como o
cérebro aprende, uma definição sobre a neuroplasticidade cerebral, e
posteriormente, a relação da neurociência e as práticas pedagógicas na
educação infantil, destacando também a interação entre emoção e cognição.
Enfim, fazer uma conexão entre neurociências e práticas pedagógicas,
possibilitar ao educador a desempenhar e reavaliar os processos de ensino-
aprendizagem.
Palavras-chave: Neurociências. Sistema Nervoso. Neuroplasticidade. Práticas
Pedagógicas. Emoção. Cognição.
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METODOLOGIA
A importância desta pesquisa é apresentar a relação entre
aprendizagem e neurociência e, como ela vem contribuindo para a melhoria
das práticas dentro da sala de aula. Estudar e pesquisar sobre tal relação
proporciona compreender o desenvolvimento da aprendizagem das crianças,
principalmente nos primeiros anos escolares.
A abordagem Neurociência e as Práticas Pedagógicas na Educação
Infantil é um tema de ampla pesquisa e de suma importância, pois possibilita
aos educadores de ampliar o conhecimento pedagógico. Destacando para a
complexidade do desenvolvimento cerebral, pois alerta principalmente os que
atuam nas séries iniciais, da importância de desenvolver e estimular os
educandos, sendo a infância a base para o bom desenvolvimento cognitivo e
social de um indivíduo.
Neste contexto a pesquisa baseia-se em autores de grande relevância
no estudo da neurociências focando a educação eles estão: Roberto Lent,
Heber de Souza Maia Filho; Marta Pires Relvas, Ramon M. Cosenza e Leonor
B. Guerra, Roberte Metring.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – Organização geral e funcional do Sistema Nervoso: 10
Uma viagem ao cérebro humano no processo da aprendizagem
CAPÍTULO II - Como o Cérebro aprende? 20
Neuroplasticidade e a Aprendizagem nos anos iniciais da vida escolar
CAPÍTULO III – Relação Ensino Aprendizagem e a Neurociência 31
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43
BIBLIOGRAFIA CITADA 44
8
INTRODUÇÃO
Conhecer e entender o processo da aprendizagem e do comportamento
tornou-se um grande desafio para os educadores. Nesta visão, a neurociência
vem esclarecer e possibilitar a compreensão de como esse cérebro aprende, já
a Neurociência Pedagógica, traz o entendimento deste processo, de como as
redes neurais são estabelecidas no momento da aprendizagem, como os
estímulos chegam ao cérebro, da forma como as memórias se consolidam, e a
plasticidade cerebral.
A Neurociência pedagógica possibilita a repensar as práticas
educacionais e buscar estratégias adequadas de um processo de ensino que
possibilite uma aprendizagem mais significativa.
Logo a neurociência aliada às práticas pedagógicas vem para nortear os
educadores, observando este “sujeito cerebral” como único, pensante e
atuante, que aprende cada um no seu tempo. Enfim, a neurociência traz para
dentro da sala de aula, preciosas informações no campo cientifico educacional
de grande valia.
A partir da visão geral e funcional do cérebro fazendo uma breve
apresentação estrutura cerebral relacionando com a aprendizagem, como
funciona esse processo da plasticidade cerebral com um foco na educação
infantil, fazendo uma conexão entre neurociências e aprendizagem e,
finalmente, a emoção no ato de aprender.
Portanto, este campo da neurociências, permite caminhar em rumo ao
conhecimento que antes, não era percorrido por educadores, levando a um
conhecimento científico e de grandes possibilidades que é, este universo
fantástico “cérebro humano”, permitindo este diálogo entre neurociência e
práticas pedagógicas.
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Porém, este estudo não vem propor uma nova pedagogia, mas
fundamentar as práticas pedagógicas, possibilitando a pensar em estratégias
de ensino que respeitem a este sujeito cerebral que chegam às escolas com
suas especificidades.
Enfim, tecer esse dialogo entre a neurociências e pedagogia visa propor
informações para melhoria na qualidade de aprendizagens dos alunos, levando
ao educador a compreender que aprender requer muito mais que prontidão
cognitiva, que são também processos físicos, químicos, emocionais. Saber do
tempo de aprendizagem de cada sujeito, e suas múltiplas aprendizagens.
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CAPÍTULO I ORGANIZAÇÃO GERAL E FUNCIONAL DO SISTEMA
NERVOSO: UMA VIAGEM AO CÉREBRO HUMANO NO PROCESSO DA APRENDIZAGEM
O cérebro vem se tornando, mais que um órgão, um
ator social que responde cada vez mais por tudo aquilo que
outrora costumava se atribuir à pessoa, ao indivíduo, em
partes. Surgiu como único e verdadeiramente
indispensável para a existência do “eu” e para definir a
individualidade na pluralidade. O humano se tornou “sujeito
cerebral”... (RELVAS, 2012, pág, 54)
Segundo Maia (2011) o sistema nervoso é um conjunto de órgãos
altamente especializados, responsáveis pela vida mental e de relação do
individuo com o mundo, bem como controle do funcionamento de diversos
outros órgãos. As principais funções do SN são: funções cognitivas
(pensamento e emoção), motricidade e equilíbrio, sensibilidades (tato, dor,
temperatura, pressão, vibração), sentidos (visão, audição, gustação e olfato) e
controle do meio interno (respiração, circulação, liberação hormonal).
O cérebro como a estrutura mais complexa e desenvolvida do SNC, tem
as atribuições mais complexas dentre as supracitadas, incluindo cognição,
planejamento, iniciação dos movimentos voluntários, processos mentais
complexos (pensamento e raciocínio) compreensão e expressão de linguagem,
memória e aprendizagem e experiências emocionais e motivacionais.
O Sistema nervoso no seu primeiro nível de classificação divide-se em
sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é
definido como o conjunto dos componentes do sistema nervoso contidos em
caixas ósseas (o crânio e a coluna vertebral), enquanto o SNP apresenta seus
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elementos distribuídos por todo o corpo humano, compreende raízes, plexos e
nervos que colocam o SNC em contato com os órgãos efetores principalmente
os músculos voluntários e trazem as informações periféricas (sensibilidade e
sentidos).
Logo em seguida considera-se um segundo nível de classificação,
dividindo-se o SNC em encéfalo que localiza-se dentro do crânio e a medula
espinhal contida no interior da coluna vertebral. E em seguida, um terceiro
nível dividindo-se o encéfalo em: cérebro, cerebelo e tronco encefálico.
O córtex cerebral é dividido em lobos: frontal, parietal, temporal e
occipital, existindo algumas diferenças em relação às divisões posterior e
anterior. Os lobos parietais, occipitais e temporais formam a divisão posterior
(sensorial), enquanto os lobos frontais formam a divisão anterior (conduta
motoras).
O córtex pré-frontal tem um papel de grande importância, considerada a
área nobre do cérebro humano, onde as funções mentais superiores são
realizadas. Planejamento, julgamento e controle são suas funções gerais, que
podem ser mais bem discriminadas, mas também na realização de criação de
estratégias, elaboração do pensamento abstrato, organização da fluência da
linguagem e do pensamento, julgamento e censura mora e social, enfim entre
tantas funções, possui conexões com o sistema límbico que será descrito logo
em seguida, responsável pela escolha das opções e estratégias
comportamentais, pela manutenção da atenção e pelo controle do
comportamento emocional.
Fazem parte do cérebro também, os núcleos da base, responsáveis em
parte, pela coordenação motora e pelo desencadeamento de atos motores
complexos.
O diencéfalo contém varias pequenas estruturas (tálamo, hipotálamo,
epitálamo) importantes na integração do meio exterior e de outras áreas do
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SNC com o cérebro, bem como se relaciona ao controle endócrino e
hemostático corporal.
O tronco cerebral relaciona-se com a função dos nervos cranianos, além
de diversas funções autônomas (respiração, pulsação cardíaca). O cerebelo é
responsável pela coordenação motora junto com os núcleos de base.
Os hemisférios cerebrais direito e esquerdo são estruturalmente iguais,
com áreas análogas no que diz respeito à especificidade sensorial, motora ou
cognitiva, porém cada lado realiza etapas diversificadas de um mesmo
processo. O hemisfério dominante normalmente é o esquerdo, ocupa-se das
funções da linguagem, ele é responsável por funções específicas analisando
os objetos em detalhes (decodificação de leitura, escrita, cálculos primários,
percepções visuais analíticas). Essas funções compreendem o processamento
de seqüências: letra por letra, palavra por palavra.
Segundo Maia (2011) O hemisfério esquerdo se associa também com
seqüências de ação que constituem a base da maioria de nossos movimentos.
Todas essas funções seqüenciais de linguagem, numeração e movimento
culminaram com a denominação de “hemisfério analisador”, pois está
relacionado com a percepção de partes.
O hemisfério direito tem maior capacidade para processar a informação
visório-espacial que não se pode descrever em palavras. É responsável por
funções mais globais, procurando juntar em um todo de forma coerente as
informações analisadas (raciocínio para resolução de problemas, compreensão
do texto e prosódia, análise artística e de sentimentos, aspectos não verbais
da linguagem como intencionalidade, gestual). O reconhecimento de objetos, a
posição das partes do corpo durante o movimento e as relações espaciais de
objetos e reorganização no espaço extracorporal se associam com o
hemisfério direito.
Sendo o cérebro a parte mais importante do SNC se faz necessário
compreender um pouco mais sobre esta complexa estrutura. O cérebro é uma
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massa riquíssima de neurônios e células de sustentação, somente no cérebro
existem aproximadamente cerca de 86 bilhões de neurônios, arranjados em
núcleos, feixes, camada, interligados por uma rede neural.
Os neurônios processam e transmitem a informação por meio de
impulsos nervosos que os percorrem ao longo de toda a sua extensão, mas
para a informação a ser transmitida de uma célula a outra, depende de uma
estrutura que ocorre nos finais do prolongamento desta célula neuronal que
leva o nome de axônio.
Esses locais, onde ocorre à passagem da informação entre células, são
chamados de sinapses. Sinapses é a comunicação feita pela liberação de uma
substância química, um neurotransmissor. Existem dezenas de
neurotransmissores atuando em nosso cérebro. O neurotransmissor, liberado
na região das sinapses, atua na membrana da outra célula (membrana pós-
sináptica) e ai pode ter dois efeitos: vai excitá-la de forma que impulsos
nervosos sejam disparados por ela, ou poderá dificultar o inicio de novos
impulsos nervosos, pois muitos neurotransmissores são inibitórios.
As sinapses, portanto, são locais que regulam a passagem de
informações no sistema nervoso, e tem uma importância fundamental na
aprendizagem como veremos no decorrer desta pesquisa.
De acordo com Metring (2011), em se tratando de aprendizagem, e suas
especificidades nas áreas cerebrais, o sistema límbico tem um papel
importante, pois é um sistema responsável pelo controle emocional e do
comportamento. É constituído por uma massa neural responsável pela
formação dos estados emocionais e comanda certos comportamentos
necessários à sobrevivência. Seu funcionamento interfere positivamente e
negativamente no funcionamento visceral e na regulação metabólica do
organismo como um todo. O Sistema Límbico é constituído principalmente:
amigdala, hipocampo, tálamo e hipotálamo.
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As amígdalas são duas, uma para cada hemisfério cerebral, é o centro
identificador do perigo, gerando medo e ansiedade e colocando o “ser” em
situação de alerta, lutar ou fugir, em situação de estresse produz uma grande
quantidade de adrenalina. A amígdala tem sido muito estudada no seu
desenvolvimento com as emoções com valência negativa, como o medo e a
raiva, mas parece também estar envolvida no desencadeamento das emoções
positivas, como a sensação de bem-estar e prazer.
O hipocampo, as memórias de longa duração estão diretamente
envolvidas com esse centro, é o centro de dados a serem lembrados.
Gerenciador da memória de ocorrências, chamada memória declarativa,
relacionado também no controle dos estados efetivos.
Tálamo, todas as informações vindas dos órgãos dos sentidos, exceção
das que vêm dos bulbos olfatórios, passam pelo tálamo antes de seguir seu
caminho até outras áreas do córtex. O tálamo atua como uma estação
retransmissora, ou seja, é responsável pela condução dos impulsos vindos de
várias partes do organismo às regiões apropriadas do cérebro onde devem ser
processados. É importante lembrar disso sempre, pois o tálamo, como
pequeno distribuidor dos dados para o córtex, em situações de estresse muito
grande ou de traumas emocionais, pode inibir a passagem tanto para o
cérebro como do cérebro. Os processos de aprendizagem podem ficar
enormemente prejudicados, não porque o cérebro não funcione bem, mas
porque as informações não chegam até a ele de forma adequada, ou talvez
nem cheguem, por isso, a importância do tálamo na distribuição das
informações.
Hipotálamo, considerada a parte mais importante do sistema límbico.
Além de controlar os comportamentos envolvidos com prazer ou raiva,
permitindo o sentimento de aversão ou não, também é o principal centro
integrador das funções viscerais e um dos responsáveis pela homeostase
corporal. Faz ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, por isso,
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interfere em todos os processos metabólicos do organismo de acordo com as
emoções geradas por determinados estímulos.
O hipotálamo exerce controle sobre a temperatura corporal, o balanço de
água no organismo, e está diretamente ligado ao comportamento sexual. Está
também, intimamente relacionado ao Sistema Nervoso Autônomo (SNA), que
controla todas as vísceras através do Tronco Cerebral (músculo cardíaco,
sistema digestivo, glândulas endócrinas).
Segundo Izquierdo (2002) o indivíduo, vive permanentemente em busca
de respostas para as suas percepções, pensamentos e ações, tem suas
conexões neurais em constante reorganização e seus padrões conectivos
alterados a todo momento, mediante processos de fortalecimento ou
enfraquecimento de sinapses. No cérebro, há neurônios prontos para a
estimulação. A atividade mental estimula a reconstrução de conjuntos neurais,
processando experiências vivenciais e/ou linguísticas, num fluxo e refluxo de
informação. As informações, captadas pelos sentidos e transformadas em
estímulos elétricos que percorrem os neurônios, são catalogadas e arquivadas
na memória.
De acordo com Lent (2008) o termo memória se refere ao processo
mediante o qual pode-se: adquirir, formar, conservar e evocar a informação. A
fase de aquisição é coloquialmente chamada de “aprendizagem”, enquanto e
evocação recebe também as denominações expressão, recuperação e
lembrança. A memória ela é responsável pela aprendizagem, necessita-se
para haver novas aprendizagens.
Memória é a aquisição, a formação, a conservação e
a evocação de informação. A aquisição é também
chamada de aprendizagem: só se 'grava' aquilo que foi
aprendido. A evocação é também chamada de recordação,
lembrança, recuperação. Só lembramos aquilo que
gravamos, aquilo que foi aprendido (Izquierdo, 2002, p. 9).
16
Basicamente há dois grandes tipos de memórias: as declarativas e as
memórias procedimentais ou implícitas. As memórias declarativas são aquelas
que contêm informação que, em geral, sabe-se que possui e a qual tem
acesso de forma consciente.
Esse tipo de memória inclui o conhecimento da história pessoal e sobre
o mundo, que subdividi-se em dois tipos: memórias episódicas e semânticas. A
memória episódica é aquela que contém informações acerca da própria vida e
de eventos com ela relacionados, já a memória semântica contêm informações
a respeito do ambiente que se rodeia. As memórias procedimentais ou
implícitas contêm informação à qual não tem acesso consciente, tal como o
conhecimento de um procedimento automático (dirigir um automóvel, digitar
um documento) e a informação adquirida durante paradigmas de
condicionamento e habituação.
Segundo Cosenza e Guerra (2011), não existe um centro responsável
pela memoria operacional, cujo funcionamento, é na verdade distribuído por
vários circuitos ou sistemas cerebrais. O córtex da região pré-frontal coordena
e integra ações desenvolvidas em várias áreas corticais e subcorticais, os
neurônios exercem suas funções conduzindo a informação, sob forma de
atividade elétrica, ao longo de seus prolongamentos e repassando-a para
outras células com a ajuda de neurotransmissores.
Para a construção da memória a informação relevante deve passar pelo
filtro da atenção e em seguida por um processo de codificação quando a
experiência vivenciada ou a informação recebida provoca a ativação de
neurônios, caracterizando a memoria operacional, dependendo da relevância
da experiência ou da informação, poderão ocorrer alterações estruturais em
circuitos nervosos específicos cujas sinapses se tornarão mais eficientes,
permitindo o aparecimento de um registro. Para uma informação se fixar de
forma definitiva no cérebro, é necessário os processos de repetição,
elaboração e consolidação.
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Nesse processo observa-se a repetição do uso da informação
juntamente com a elaboração, ou seja, sua associação com os registros já
existentes, o que fortalece o traço de memória e o torna mais durável, quanto
maior a repetição dessa atividade a informação irá se fixar de forma mais
permanente, formando assim novas conexões nervosas. Já o processo de
consolidação é indispensável para que os registros no cérebro sejam retidos
por um tempo maior, nesta situação ocorrem alterações biológicas nas
ligações com os neurônios, onde os registro vão se vincular com já outros
existentes. Essas alterações envolvem a produção de proteínas e outras
substâncias que são utilizadas para o fortalecimento ou a construção de
sinapses nos circuitos nervosos, facilitando a passagem de impulsos nervosos.
Já o cerebelo também conhecido como o “pequeno cérebro”
assemelha-se ao cérebro não apenas pela existência de numerosos giros e
sulcos que nomeia-se folhas e fissuras, respectivamente, também apresenta a
substancia cinzenta externamente, organizada em camadas celulares e
chamadas córtex cerebelar. Situado atrás do cérebro o cerebelo recebe
informações do córtex motor e dos gânglios basais de todos os estímulos
enviados aos músculos. A partir das informações do córtex motor sobre os
movimentos musculares que pretende executar e de informações
proprioceptivas que recebe diretamente do corpo (articulações, músculos,
áreas de pressão do corpo, aparelho vestibular e olhos), avalia o movimento
realmente executado.
O Cerebelo ocupa cerca de 30% do volume cerebral, mas contém a
maioria dos neurônios cerebrais (cerca de 70%), organizados de maneira
altamente regular, formando módulos de processamento. Segundo Lent (2008)
o cerebelo atua como um componente do modelo antecipatório, provendo
rápidas antecipações das conseqüências sensórias das ações. O cerebelo tem
participação importante na coordenação motora, atuando em três diferentes
níveis: manutenção do equilibro corporal, a regulação do tônus muscular e
controle da harmonia e precisão dos movimentos. O cerebelo apresenta mais
que funções complexas do que apenas ao controle da motricidade, contribui
18
também na aprendizagem motora e da memória de procedimentos, além de
complexas funções sensoriais, emocionais e cognitivas.
Após a comparação entre desempenho e aquilo que se teve em vista
realizar, estímulos corretivos são enviados de volta ao córtex para que o
desempenho real seja igual ao pretendido. O cerebelo apresenta funções
relacionadas a motricidade, coordenação da aprendizagem motora e da
memória de procedimentos, além de complexas funções sensoriais,
emocionais e cognitivas.
Mas se tratando de aprendizagem e as funções cerebrais, há duas
áreas de grande relevância neste estudo que são as Área de Wernicke e de
Broca.
Segundo Metring (2011) a área de Wernicke tem papel importante na
produção do discurso, pois é por meio dela que compreende-se o que os
outros dizem, e é ela que permite organizar as palavras que devem ser tidas.
Esta área, por curiosidade, está localizada na convergência entre os lobos
occipital, temporal e parietal, o que leva a crer que a compreensão da
linguagem demanda informações auditivas, visuais, e cinestésicas para ocorrer
em todo o seu lexo.
Outra área do cérebro de importância à área de Broca, responsável pela
organização dos movimentos necessários à produção da escrita e da
linguagem falada, localizando-se no lobo frontal do hemisfério esquerdo.
Funciona em um circuito integrado com a área de Wernicke, porém
isoladamente é localizada junto às áreas que organizam o comportamento
motor do cérebro.
Portanto, em se tratando em desenvolvimento do sistema nervoso,
primeiramente é importante destacar que não existem dois cérebros iguais,
mas pode-se afirmar que todos possuem vias motoras e sensoriais que
seguem o mesmo padrão. Elas estão previstas nas informações genéticas de
nossas células e são construídas enquanto nosso organismo de desenvolve
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dentro do útero materno. Quando a criança nasce, já tem prontos em seu
cérebro esse conjunto de circuitos, ainda que eles não estejam funcionando
em sua plenitude.
Mas o que torna os cérebros diferentes é o fato de que os detalhes de
como os neurônios se interligam vão seguir uma história própria. Muitas
pesquisas apontam que a estimulação ambiental é extremamente importante
para o desenvolvimento do sistema nervoso.
O sistema nervoso se modifica durante toda a vida, mas dois momentos
são particularmente importantes ao longo do seu desenvolvimento. O primeiro
corresponde ao período em torno da época do nascimento, quando ocorre um
ajuste quanto ao número de neurônios que serão realmente utilizados nos
circuitos necessários à execução das diversas funções neurais. O segundo
corresponde à época da adolescência, quando um grande rearranjo, havendo
um acelerado processo de eliminação de sinapses, um reajuste sináptico, que
ocorre em diferentes regiões do córtex cerebral. Essas modificações que
ocorrem preparam o individuo pra a vida adulta.
20
CAPÍTULO II
COMO O CÉREBRO APRENDE? NEUROPLASTICIDADE E A
APRENDIZAGEM NO ANOS INICIAIS DA VIDA ESCOLAR
Nos dois primeiros anos de vida ocorre o
desenvolvimento mais acentuado do cérebro: o seu peso
duplica, há aumento importante do volume da substância
branca e do grau de mielinização e um menor volume da
substância cinzenta. Além disso, há um considerável
desenvolvimento hipocampal. Até os oito anos de idade,
ocorre um aumento lento do volume da substância cinzenta
pré-frontal que depois se acelera entre oito e 14 anos.
A rápida formação de sinapses inicia-se nos
primeiros meses de vida pós-natal e atinge o máximo de
densidade aproximadamente aos três meses, no córtex
sensorial, e entre dois e 3,5 anos no córtex frontal. É
importante salientar que os cuidados dos pais, o ambiente,
os estímulos externos, as interações sociais e afetivas
podem influenciar neste processo desenvolvimento das
crianças...(Araújo, 2011, p.50)
Segundo Maia (2011), o aprendizado escolar é um processo que requer
prontidões neurobiológicas, cognitivas, emocionais e pedagógicas, além de
estímulos apropriados.
As atividades dos neurônios geram um mundo interno que se adapta, se
modifica e que interagem com o meio ambiente, sendo que os nossos cinco
sentidos (tato, gustação, visão, olfato e audição) constituem o elo de
comunicação para desenvolvimento e atividade neural. A evolução, a
experiência e a sobrevivência humana são determinadas pelas constantes
21
trocas de mensagens e respostas, remodelando ambos para fins de
adaptação, posto que a pluralidade cultural desencadeia mudanças no
cérebro, a cada nova experiência e aprendizado, novas conexões neurais são
formadas. Esta capacidade do cérebro de produzir novas conexões e
modificações, permitindo constantes adaptações e aprendizagens, denomina-
se do conceito de plasticidade cerebral.
Segundo Relvas (2012), plasticidade cerebral é a denominação da
capacidade adaptativa do sistema nervoso central, ou seja, é a sua habilidade
para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a
capacidade que o cérebro tem em se remodelar em função das experiências
do sujeito, reformulando as suas conexões em virtude das necessidades e dos
fatores do meio ambiente.
O conceito de plasticidade cerebral pode ser aplicado a educação,
considerando a tendência do sistema nervoso em ajustar-se diante das
influências ambientais durante o desenvolvimento infantil, ressaltando os
vínculos dos fenômenos plásticos cerebrais com o desenvolvimento do sistema
nervoso. A aprendizagem é uma aprendizagem, a plasticidade não é apenas
relevante em caso de lesões cerebrais, mas continua ativa, modificando o
cérebro a cada momento. A cada nova experiência do indivíduo, rede de
neurônios são arranjadas, outras sinapses são reforçadas e múltiplas
possibilidades são organizadas.
A plasticidade cerebral durante o processo de
aquisição da leitura provavelmente induz outras
modificações no circuito neural envolvido com o
aprendizado. Assim, as funções de memória são
armazenadas no hipocampo por semanas ou meses e
através do processo de consolidação são transferidas e
armazenadas no neocórtex temporal.
22
Durante este processo, as modificações nas
conexões neurais permitem que se aprenda a solucionar
novos problemas. Isto é de extrema importância para a
memória, aprendizagem e outras funções simbólicas do
cérebro, demonstrando a contínua plasticidade de alguns
circuitos neurais com o aprendizado. Este processo é
fortemente dependente de fatores neurobiológicos,
genéticos e ambientais/familiares (Araújo, 2011,pág, 48).
Existe uma relação entre o sujeito com o meio e isso produz
modificações cerebrais, permitindo uma constante adaptação e aprendizagem
ao logo de toda a sua vida, ou seja o processo da plasticidade cerebral torna o
ser humano mais eficaz.
Neste sentido pode-se fazer um paralelo entre plasticidade e as teorias
de Vygostygk. Segundo Vygotsky, o processo de desenvolvimento não
coincide com o processo de aprendizagem, porque há uma falta de sintonia
entre os dois (o processo de desenvolvimento e o processo de aprendizagem
que o precede). Dessa assitonia, que corresponde à área de “dissonância
cognitiva” do potencial do aprendiz, surge a Zona de Desenvolvimento
Proximal.
O desenvolvimento real caracteriza-se pela fase o qual o aprendizado já
consolidado na criança permite que a mesma execute tarefas de forma
independente, enquanto, na zona de desenvolvimento proximal ou potencial, a
criança necessita da intervenção de um mediador, no caso a mãe ou
educador. A aprendizagem da criança começa antes mesmo da criança chegar
a escola, assim, toda criança chega a escola com uma pré-história, advindas
das interações sociais.
Considerando o fato de as funções psicológicas serem produto da
atividade cerebral, faz-se necessário à compreensão que a flexibilidade e
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mutabilidade do cérebro modifica-se no decorrer da vida humana. Assim,
essas mudanças também ocorrem nessas relações sociais além do ambiente
escolar.
Segundo Relvas (2012) a sociabilidade mediada pela escola desdobra a
mera percepção sensorial de detalhe (sensações da natureza, de âmbito
biológico), relacionadas à percepção de características essenciais para a vida
humana. Portanto, a escola muito mais do que preparar o indivíduo para o
trabalho, retira o mesmo de seu estado biológico, redimensionando-o no social,
estimulando e promovendo a interação social e a sensibilidade da consciência,
com isso tornando a criança apta ao conhecimento.
De acordo com Maia (2011) a criança aprende imersa em um meio
social (família e escola) que também irão determinar a natureza e a qualidade
desse aprendizado, e reconhecer os processos cognitivos subjacentes à
aprendizagem escolar é o primeiro passo para uma aprendizagem significativa.
É durante os primeiros anos de vida que as sinapses
e conexões neurais do cérebro estão se formando. As
respostas a qualquer estimulo são muito rápidas, elevando
a eficácia das intervenções realizadas. Neste sentido,
torna-se fundamental que a criança receba todos os
cuidados, atenção e estímulos necessários para o seu
pleno desenvolvimento. Os impactos dos cuidados na
primeira infância são, em parte, imediatos, mas terão
também efeitos duradouros, influenciando todo o ciclo de
vida do individuo...(Araujo, 2011, pág.212)
No processo de aprendizagem, há etapas no desenvolvimento cognitivo
das crianças de grande importância que devem ser destacadas: As funções
cognitivas são um conjunto de funções cerebrais básicas que permitem a
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recepção e o processamento de estímulos (externos e internos) e as respostas
aos mesmos. Neste contexto a criança realiza quatro grandes etapas
cognitivas durante qualquer processo de aprendizagem: Percepção: recebe a
informação dando-lhe um significado; Memória: registra essa informação pelo
menos de forma temporária; Funções executivas: processa os elementos
dessa informação correlacionando-os com materiais previamente
armazenados em sua memoria; Funções expressivas: dá sua resposta
utilizando-se de alguma forma de comunicação.
A percepção em nosso sistema nervoso central (SNC) recebe as
informações provenientes do meio externo dos sentidos (visão, audição, tato,
olfato e gustação). Isso é possível, em decorrência de órgãos altamente
especializados que captam e traduzem em estímulos nervosos as diversas
modalidades sensoriais do meio: luz, som, sabor, cheiro. É preciso que o SNC
dê significado ao que está sentido, seja categorizado a sensação ou
correlacionando-a a outras anteriormente experimentadas. Existem áreas
(secundárias) para analisar cada uma das modalidades perceptivas,
anatomicamente próximas às áreas primárias responsáveis pela sensação. As
áreas se setorizam em características específicas do todo a ser analisado.
A memória na aprendizagem é de fundamental importância, como já
mencionada no capítulo anterior, ela pode ser classificada de várias formas,
dependendo do objetivo ou do recurso cognitivo analisado. Nesta abordagem
iremos classificar a memoria de acordo com modalidade cognitiva estocada.
Dessa forma apresenta-se uma memória visual, que pode ser
segmentada em memórias para palavras (léxico ortográfica), faces humanas,
objetos etc. Também há memoria visual, fonológica (para sons constitutivos do
código alfabético) auditivo-verbal (para palavras ouvidas, não grafadas),
numérica motora (sequencias motoras complexas), episódica (fatos ocorridos
real ou ficticiamente) gustativa, olfativa e quantas forem as percepções e as
apreensões do mundo. Portanto não há uma área específica cerebral pelo
25
processo de armazenamento de informações, todo o cérebro tem a capacidade
de memorizar.
De acordo com Maia (2011) em termos de processamento das
informações a serem armazenadas, existe três memórias importantes ao
processo de aprendizagem: a memória operacional ou de trabalho,
consolidação e a memória permanente.
A memória de trabalho é uma modalidade mnêmica temporalmente
pequena (segundo à minutos) responsável pelo processamento em tempo real
das informações recebidas do meio e das informações resgatadas da memória
permanente para a execução do raciocínio.
A consolidação é uma tarefa anatomicamente circunscrita a uma área
profunda do lobo temporal, denominada hipocampo. É esse que determina
quais informações, dentre as milhares processadas pela memória de trabalho
a cada minuto de nossas vidas, serão permanentemente retidas no córtex
cerebral, de forma ordenada pela área respectiva à modalidade cognitiva da
informação.
Já a memória permanente é o acumulo de informações desde os
primeiros momentos de vida. Muitas vezes, se não regularmente utilizadas, ou
se ficam “soltas” fora de um conjunto significativo de aprendizagens, podem
imergir na inconsciência e não consolidar. Tanto a memória quanto a atenção
vão ficando maiores (em termos de duração, quantidade e complexidade),
quanto mais amadurecimento o sistema nervoso central e mais estimuladas
forem.
Em se tratando de aprendizagem é importante destacar as funções
executivas, que são o conjunto de habilidades que permitem o desempenho de
ações voluntárias orientadas para metas (intelectuais e emocionais). Portanto,
são mecanismos utilizados pelo cérebro humano para “orquestrar” o
funcionamento das diversas habilidades mentais, otimizando seu desempenho.
As habilidades executivas são desempenhadas pelo córtex pré-frontal que tem
26
o papel de integrador e organizados, apresenta uma rica rede de conexões
com todas as outras áreas corticais e subcorticais.
Pode-se perceber que seu bom desenvolvimento depende não só do
amadurecimento cerebral, mas também da assimilação progressiva de
estratégias de aprendizagem. Ela demora a amadurecer durante o
desenvolvimento da criança e continua modificar-se pelo menos até o final da
adolescência. O processo de aprimoramento das funções executivas é
contínuo, embora diferenciado pra seus múltiplos aspectos e parece haver
correspondência com os surtos de desenvolvimento do córtex pré-frontal, que
ocorrem, entre o nascimento e aos 02 anos, dos 07 aos 09 anos e já no final
da adolescência entre os 16 e os 19 anos.
O córtex pré-frontal é lento sua maturação, e contínua e modifica-se
significativamente até a adolescência por meio de processos como a
ramificação de dendritos e a formação e a eliminação de sinapses. Além as
modificações significativas em suas conexões com outras regiões, sendo
notáveis as alterações progressivas na mielinização dos axônios que
constituem os feixes de comunicação entre o córtex pré-frontal e as demais
áreas com as quais ele se conecta.
De acordo com Cosenza & Guerra (2011) às funções executivas atuam
como uma interface entre os indivíduos e o ambiente com a qual interagem.
Por isso mesmo, os fatores ambientais são importantes no desenvolvimento
dessas funções, pois influenciam intensamente as modificações que no
sistema nervoso estarão ocorrendo por causa dessa interação, sendo que um
ambiente social bem estruturado é requisito fundamental para propiciar o
desenvolvimento destas funções. As histórias individuais são diferentes,
também o desenvolvimento das funções executivas terá trajetórias desiguais
pra cada pessoa, e as habilidades adquiridas serão provavelmente distintas.
No desenvolvimento cognitivo das crianças a linguagem tem seu
destaque. O cérebro processa a linguagem oral e seu correlato escrito de
forma modular, ou seja, apresenta redes especificas para o processamento de
27
níveis hierarquizados, pertinentes a aspectos constitutivos dos sons (nível
fonêmico), palavras (nível lexical –léxico fonêmico em relação à palavra falada
e léxico ortográfico em relação à palavra escrita) e significados (nível
semântico), bem como para o encadeamento das palavras de forma coerente
e inteligível (sintaxe), acrescidos de aspectos não verbais, como a
intencionalidade do ato comunicativo (pragmatismo) e os contornos afetivos de
que ela se reveste (prosódia).
Segundo Maia (2011) o cérebro transforma sentimentos, desejos e
palavras, a fim de falar de si próprio e para outrem, bem como deste recebe
informações. As partes (aspectos verbais, mediados pelo hemisfério
dominante) e o todo (aspectos não verbais, mediados pelo hemisfério não
dominante) são igualmente importantes para a coerência do ato comunicativo.
Enfim, todo córtex e as diversas estruturas subcorticais trabalham para
permitir a linguagem. Os lobos temporais têm papel básico, armazenar a
capacidade auditiva primária, a percepção e a compreensão fonológica
(linguagem receptiva). Os lobos parietais armazenam e integram os módulos
semânticos, agregando a palavra a diversas outras percepções que lhe
constituem atributos. Os lobos occipitais têm papel determinante na
identificação e na construção do léxico ortográfico. Os lobos frontais
desempenham funções variadas em nível articulatório (linguagem expressiva)
organizando diversas funções executivas essenciais ao ato comunicativo
(vontade, planejamento, organização, memória de trabalho, sequenciamento e
inibição de distratores).
A área de Broca, localizado no lobo frontal do hemisfério esquerdo,
também tem uma participação no ato da leitura, é quando estão ocorrendo os
processos de decodificação e recodificação fonológica e provavelmente está
associada à formação da estrutura sonora, através da movimentação dos
lábios, língua e aparelho vocal. Uma segunda área também importante de
ressaltar neste processo localizada na junção entre os lobos temporal e
28
parietal, também localizado do lado esquerdo e esta relacionado com a
compreensão da linguagem está a área de Wernicke.
Portanto, essas partes do cérebro são construídas a partir de
informações genéticas, de forma a serem capazes de lidar com a linguagem
falada, que não precisa ser ensinada, visto que as crianças a adquirem
espontaneamente no contato com a comunidade social em que vivem. Existem
evidencias de que, no nascimento, as crianças já conseguem discriminar os
fonemas, mesmo aqueles presentes em línguas que ela desconhece.
Falar é fácil, mas ler é um pouco mais difícil. A linguagem escrita,
exatamente por ser uma aquisição recente na história da nossa espécie, não
dispõe de um aparato neurobiológico preestabelecido. Ela precisa ser
ensinada, ou seja, é necessário o estabelecimento de circuitos cerebrais que a
sustentem, o que se faz por meio de dedicação e exercício. O que ocorre pe
que estruturas e circuitos desenvolvidos ao longo da evolução para
executarem outras funções são agora recrutados para processar a linguagem
escrita.
A aprendizagem da leitura modifica permanentemente o cérebro,
fazendo com que ele reaja de forma diferente não só aos estímulos linguísticos
visuais, mas também na forma como processa a própria linguagem falada.
Estudos mostram que existem três centros corticais importantes para a leitura,
uma delas localiza-se no lobo frontal, na região que está a área de Broca,
outro na junção parieto-temporal, coincidindo com a área de Wernicke e o
terceiro na junção occipito-temporal.
Enfim, existe uma grande plasticidade na estrutura e no funcionamento
do cérebro, que se modifica com a experiência . As área motoras se expandem
com o treinamento, o hipocampo aumenta de volume em pessoas com muita
habilidade na orientação espacial e músicos têm um aumento do córtex motor,
auditivo e visual. Portanto, a estrutura cerebral modifica-se constantemente, e
o que foi herdado não é necessariamente definitivo ou estático. Além disso, a
intervenção escolar afeta a inteligência não só permitindo o aumento da
29
informação, mas modificando atitudes e criando habilidades intelectuais. As
intervenções escolares modifica positivamente o cérebro humano.
Relacionando aprendizagem e educação infantil, cabe aqui fazer um
pequeno destaque, de acordo com Cardoso (2004) a grande diferença de um
cérebro de um recém-nascido (400g) para um adulto (1300g) é que um imenso
número de interconexões de desenvolver ao longo da vida, à medida que o
encéfalo é estimulado e resultam em uma rede complexa.
Nos dois primeiros anos de vida ocorre o desenvolvimento mais
acentuado do cérebro: o seu peso duplica, há aumento importante do volume
da substância branca e do grau de mielinização e um aumento menor do
volume da substância cinzenta. Além disso, há aumento importante do volume
hipocampal. Até os oito anos de vida ocorre um aumento lento do volume da
substância cinzenta pré-frontal que depois se acelera entre oito e 14 anos. A
rápida formação de sinapses inicia-se nos primeiros meses de vida pós-natal e
atinge o máximo de densidade aproximadamente aos três meses no córtex
sensorial, e entre dois e 3,5 anos no córtex frontal. É importante salientar que
os cuidados dos pais, o ambiente, as interações sociais e afetivas etc. podem
influenciar este desenvolvimento.
Por isso, a importância de possibilitar as crianças, principalmente nos
primeiros anos de vida escolar, a vários estímulos, levando a interagir com
vários objetos, os sentidos devem ser estimulados, cores, cheiros, texturas,
gostos.
É necessário criar um ambiente estimulador, que possa gerar e
favorecer aspectos de integração e aprendizagem, ao mesmo tempo seja
acolhedor e desenvolva nas crianças uma relação de afetividade.
Dessa forma, a neurociências proporciona criar situações dentro da sala
de aula de possibilidades de aprendizagens significativas, principalmente na
infância, aonde acontecem às primeiras descobertas. Várias aquisições e
transformações acontecem nesta fase, o desenvolvimento cerebral e as
30
conexões neurais acontecem de forma acelerada. Portanto, estímulos e
interesses devem apresentados de forma significativa e prazerosa, para que no
decorrer do desenvolvimento e aprendizagens destes sujeitos o conhecimento
aconteça de forma fundamentada e sólida ao longo da vida.
31
CAPÍTULO III
RELAÇÃO ENSINO APRENDIZAGEM E A NEUROCIÊNCIA
O professor, aquele que assume efetivamente a
responsabilidade de ensinar e provocar desafios inerentes
diante das possibilidades do processo da construção
biológica, psicológica e social de aprendente, precisa
urgentemente revitalizar suas praticas cotidianas na sala
de aula, despertando potencialidades e melhorando as já
existentes da espécie humana. (RELVAS, 2012, pág. 134)
Segundo Relvas (2012) a neurociência objetiva explicar, modelar e
descrever os mecanismos neuronais que sustentam os atos perceptivos,
cognitivos, motores, afetivos e emocionais, disponibilizando os fundamentos
necessários à orientação da aprendizagem.
O professor ao estabelecer em seus planejamentos as estratégias de
ensino em relação ao seu conteúdo deve sensibilizar-se que seus alunos
constituem em uma biologia cerebral e estão em processos de transformações.
O aprendente atual é o “sujeito cerebral”, que argumenta, questiona e
tem sua autonomia em aprender. As aprendizagens perpassam pelas
sinapses, pelas conexões neurais, e com a interação com o ambiente social,
por isso o educador precisa estar comprometido na transformação desse
sujeito, mudanças em suas habilidades e competências, pois o aluno deve ser
levado a descoberta do novo, estimulando as novas aprendizagens.
Aprende-se com todo o cérebro, e os sentidos biológicos são as vias de
conexão interna e externa do corpo humano, portanto dessa maneira, essas
transmissões têm suas particularidades. Portanto a necessidade de vários
32
estímulos deve ocorrer, tanto no campo visual, olfativo, sensório motor,
auditivo, gustativo, enfim, levar aos alunos a explorar a todos os sentidos.
O estímulo já é conhecido do sistema nervos central, desencadeia uma
lembrança; quando o estimulo é novo, desencadeia uma mudança. E, dessa
maneira, torna-se mais fácil compreender a aprendizagem do ponto de vista da
neurociência. Aprender torna-se inesgotável, pois, se existem várias maneiras
de aprender pelos circuitos neurais, têm-se diferentes maneiras de se ensinar,
por isso, o educador deve explorar o máximo as possibilidades, provocando no
cérebro novas conexões, novas aprendizagens, propondo desafios.
Ao conhecer o funcionamento do sistema nervoso,
os profissionais da educação podem desenvolver melhor
seu trabalho, fundamentar e melhorar sua prática diária,
com reflexos no desempenho e na evolução dos alunos.
Podem intervir de maneira mais efetiva nos processos de
ensinar e aprender, sabendo que esse conhecimento
precisa ser criticamente avaliado antes de ser aplicado de
forma eficiente no cotidiano escolar. Os conhecimentos
agregados pelas neurociências podem contribuir para um
avanço na educação, em busca de melhor qualidade e
resultados mais eficientes para a qualidade de vida do
indivíduo e da sociedade. (COSENZA E GUERRA, 2011, p.
145).
A escola é um espaço coletivo de aprendizagem, onde todos devem
aprender no mesmo ritmo e tempo, mas na visão da neurociência, a
aprendizagem neural não é a mesmo do currículo da escola, cada aluno tem
seu tempo de aprender, ritmos neurais diferentes. Com isso, a escola precisa
repensar seus objetivos, valorizando a aprendizagem, que não é somente
33
cognitiva, biológica ou sináptica, mas também afetiva, emocional, social e
cultural.
De acordo com Relvas (2012) a neurociência permite uma abordagem
científica da aprendizagem, da formação da inteligência, do comportamento e
dos gêneros na interface escolar das dimensões biológicas, afetiva, emocional
e social do aluno na sala de aula, promovendo o reconhecimento de que
ensinar a um sujeito cerebral uma habilidade nova implica maximizar o
potencial de funcionamento de seu cérebro. Pois aprender exige
necessariamente planejar novas maneiras de solucionar desafios, necessita de
atividades que estimulem as diferentes áreas cerebrais, a fim de desvendar
com eficiência o desenvolvimento das potencialidades humanas e a
capacidade de pensar.
As estratégias pedagógicas promovidas pelo processo ensino-
aprendizagem, aliadas às experiências de vida às quais o individuo é exposto,
desencadeiam processo como a neuroplasticidade, modificando a estrutura
cerebral de quem aprende. Tais modificações possibilitam o aparecimento dos
novos comportamentos, adquiridos pelo processo da aprendizagem.
Segundo Cosenza e Guerra (2011) as contribuições das neurociências
para a educação, é importante esclarecer que elas não propõem uma nova
pedagogia nem prometem soluções definitivas para as dificuldades da
aprendizagem. Contudo, vem para colaborar para fundamentar práticas
pedagógicas que já se realizam com sucesso e sugerir ideias para
intervenções, demonstrando que as estratégias pedagógicas que respeitam a
forma como o cérebro funciona tendem a ser as mais eficientes.
Os avanços das neurociências possibilitam uma abordagem mais
cientifica do processo ensino-aprendizagem, fundamentada na compreensão
dos processos cognitivos envolvidos.
As neurociências são ciências naturais que estudam princípios que
descrevem a estrutura e o funcionamento neurais, buscando a compreensão
34
dos fenômenos observados. A educação tem outra natureza e finalidades,
como a criação de condições para o desenvolvimento de competências pelo
aprendiz em um contexto particular. Ela não é regulada apenas por leis físicas
ou biológicas, mas também por aspectos humanos que incluem, entre outras, a
sala de aula, a dinâmica do processo ensino-aprendizagem, a família, a
comunidade e as políticas públicas.
O trabalho do educador pode ser mais significativo e
eficiente quando ele conhece o funcionamento cerebral.
Conhecer a organização e as funções do cérebro, os
períodos receptivos, os mecanismos da linguagem, da
atenção e da memoria, as relações entre cognição,
emoção, motivação e desempenho, as dificuldades de
aprendizagem e as intervenções a elas relacionadas
contribui para o cotidiano do educador na escola, junto ao
aprendiz e à sua família. Mas saber como o cérebro
aprende não é suficiente para a realização da “mágica do
ensinar e aprender”, assim como o conhecimento dos
princípios biológicos não é suficiente para que o médico
exerça uma boa medicina. (COSENZA & GUERRA, 2011,
pág, 143)
Segundo Cosenza e Guerra (2011) a neurociências estudam princípios
que descrevem a estrutura e o funcionamento neurais, buscando a
compreensão dos fenômenos observados. A educação tem outra natureza e
finalidades, como a criação de condições para o desenvolvimento de
competências pelo aprendiz em um contexto particular. Ela não é regulada
apenas por leis físicas ou biológicas, mas também por aspectos humanos que
incluem, entre outras, a sala de aula, a dinâmica do processo ensino-
aprendizagem, a família, a comunidade e as políticas públicas.
35
Nesse dialogo desejável e necessário entre
educação e neurociências, emergem os desafios que
podem contribuir para o avanço de ambas as áreas. Entre
eles é a contribuição da neurociências para a educação e
também de suas limitações, o que demanda seriedade e
compromisso ético dos meios que realizam a divulgação
cientifica. A orientação de pedagogos e professores, mas
também dos pais, todos os educadores, sobre a
organização geral, funções, limitações e potencialidades do
sistema nervoso, permitirá que eles compreendam melhor
as crianças aprendem e se desenvolvem, como o corpo
pode ser influenciado pelo que sentimos a partir do mundo
e porque os estímulos que recebemos são tão relevantes
para os desenvolvimentos cognitivo, emocional e social do
individuo (COSENZA E GUERRA, 2011, pág 144).
Os estudos em neurociências não autorizam sua aplicação direta e
imediata no contexto escolar, pois é preciso lembrar que o conhecimento
neurocientífico contribui com apenas parte do contexto em que ocorre a
aprendizagem. O trabalho do educador pode ser mais significativo e eficiente
quando ele conhece o funcionamento cerebral. Conhecer a organização e as
funções do cérebro, a emoção e suas relações na aprendizagem, contribui
para o cotidiano do educador na escola, junto com aprendiz e à sua família.
3.1 - A emoção e sua relação com a cognição e a
aprendizagem na educação infantil
Segundo Damásio (2000), o que distingue essencialmente sentimento
de emoção é: enquanto a primeira é orientada para o interior, o segundo é
eminentemente exterior; ou seja, o indivíduo experimenta a emoção, da qual
36
surge um “efeito” interno, o sentimento. Os sentimentos são gerados por
emoções e sentir emoções significa ter sentimentos. Na relação emoção /
sentimento, Damásio diz ainda que apesar de alguns sentimentos estarem
relacionados com as emoções, existem muitas que não estão, ou seja, todas
as emoções originam sentimentos, se estivermos atentos, mas nem todos os
sentimentos provêm de emoções.
De acordo com Damásio (2000) a classificação das emoções divide-se
em primárias e secundárias. As primárias são inatas, evolutivas e partilhadas
por todos, enquanto as secundárias são sociais e resultam da aprendizagem.
As emoções primárias são inatas e estão ligadas à vida instintiva, à
sobrevivência. Haverá concomitante contração generalizada dos músculos
flexores, sendo possível adotar-se uma atitude regressiva fetal, vaso
constricção periférica, palidez da face e esfriamento das extremidades, com
brevíssima parada dos movimentos respiratórios e dos batimentos cardíacos.
De acordo com Abreu (2005), as emoções primárias podem ser
adaptativas ou desadaptativas. Emoções Primárias Adaptativas são: raiva,
tristeza e medo. Tais emoções possuem uma relação com a sobrevivência e
ao bem-estar psicológico. São aquelas rápidas quando aparecem e mais
velozes ainda quando partem. As emoções primárias desadaptativas são as
emoções das quais as pessoas lamentam tê-las expressado de maneira tão
intensa ou equivocada e freqüentemente se arrependem.
Já as emoções secundárias são aquelas que, ao atingirem a amígdala e
produzirem uma emoção, sofrem a influência e o possível domínio do córtex
cerebral, mudando sua natureza primária. Neste sentindo, estas emoções
tornam-se respostas ou evitações (intelectualizadas) às emoções primárias.
Para Damásio (2000) a emoção tem duas funções biológicas: A primeira
produz uma reação específica para a situação indutora e a segunda função é
de homeostase, regulando o estado interno do organismo, visando essa
reação específica. Ou seja, as emoções são a forma que a natureza encontrou
37
para proporcionar aos organismos comportamentos rápidos e eficazes
orientados para a sua sobrevivência.
De acordo com Muniz (2012) a neurociência contribui com a pedagogia
quando afirma que o sujeito, no ato de aprender, aciona seu acervo
neurológico. Tanto o sistema nervoso (SN), sistema endócrino (SE) influencia
sentimentos, pensamentos e comportamentos, gerando emoções agradáveis e
desagradáveis. Juntos regulam e coordenam todas as atividades de quase
todos os outros órgãos. A grande diferença é que a comunicação no sistema
nervoso (SN) é feita por neurotransmissores, e no sistema endócrino, por
hormônios, que estimulam primeiramente a área emocional e cognitiva no
momento de busca. Nesse contexto, o sorriso é o principal gesto estimulador
do sistema límbico na busca ao prazer, a aprovação e aceitação do outro.
Nosso sistema límbico e suas estruturas é conhecido como o cérebro das
emoções, porque facilita e estimula os neurotransmissores no envio de
mensagens positivas ao acervo cognitivo
Com o gesto do sorriso, o aprendente recebe a mensagem bioquímica
que gerará a sensação de aceitação, confiança, amizade e parceria, tornando-
o autoconfiante em pesquisar, construindo, desconstruindo, em um processo
coletivo de socialização de novos conhecimentos.
O fato é que o riso é um grande estimulador do hipotálamo, sintetizando
as endorfinas, as betas-endorfinas, substancias analgésicas que buscam
diminuir as sensações desagradáveis, emocionais e cognitivas, das crianças
no ato de aprender.
Os sistemas estruturais e químicos que integram as emoções, por via
nervosa ou sanguínea, funcionam continuamente. Os sentimentos fazem parte
da vida diária das pessoas. Todos os processos de cognição e da motivação,
possivelmente, acham-se interligados e / ou comandados pelos estados
emocionais experimentados pelos sujeitos em processo de aprendizagem. A
produção mais acentuada de noradrenalina e de dopamina não só eleva o
afeto positivo, como também orienta nossa maneira de pensar, aumentando e
38
melhorando nossa criatividade, tornando mais interessante e agradável o
envolvimento com pessoas e eventos.
Os sentimentos e as emoções desempenham papel
decisivo no ato de aprender. Eles acionam os
pensamentos que materializam a aprendizagem,
impulsionam a atenção e a memória. Quanto mais a
criança, no ato de aprender, construir pensamentos e
emoções positivas acerca do que está sendo ensinado,
mais ela terá sucesso. Essas informações, uma vez
instaladas nos centros nervosos do cérebro emocional e
racional lógico, ativarão a mente e o corpo, que irão
trabalhar como filtro no armazenamento das informações.
(MUNIZ, 2012, PÁG 164)
Mas na compreensão de sentimentos e emoções, o espaço escolar
precisa tornar-se um local para educação emocional. O aprender está
relacionado, dentre outras coisas, a um clima emocional em que ocorre a
aprendizagem. Portanto, a qualidade da relação e a temperatura emocional em
que ocorrem as mediações da aprendizagem são de enorme importância. No
entanto, as emoções são as manifestações do campo afetivo de uma pessoa.
Cada vez que um aprendiz expressa seu estado emocional, ou se emociona
em seu percurso de aprendizagem, está manifestando seu campo afetivo.
As emoções estão presentes nos diversos tipos de aprendizagens, pois
só se aprende com a formação de novas memórias e os processos de
memória por sua vez, são modulados pela emoção. Assim, as informações,
imagens, experiências são constituídas e modificadas pelas emoções que
acompanham os processos de percepção atenção e memória.
39
Habitualmente, as emoções são reconhecidas como
capacidade mentais muito importante e fundamentais para
o nosso pensamento racional, que é indispensável e
imposto pela nossa natureza. Quer sejam positivas, quer
negativas, as emoções são importantes para a nossa
sobrevivência e adaptação ao meio. (DAMÁSIO, 2000,
PÁG. 21)
Segundo Spazziani (2003) no desenvolvimento do indivíduo, as
necessidades afetivas tornam-se cognitivas, e a integração afetividade e
inteligência permite à criança atingir níveis de evolução cada vez mais
elevados. Aos poucos, a linguagem passa a substituir a expressão corporal, a
sensibilidade orgânica passa a ser substituída pela sensibilidade oral e moral e
o carinho é substituído pelo elogio.
Assim, nesta perspectiva a aprendizagem envolve sempre a construção
do eu e do outro, entrelaçada à construção do conhecimento. Ou seja, a
criança, inserida num grupo, constitui seu conhecimento com ajuda do adulto e
de seus pares. Desta forma, as experiências vivenciadas com outras pessoas
é que vão determinar a qualidade do objeto internalizado. Estas experiências
acumuladas, constituindo a história de vida de cada um, é que possibilitarão a
ressignificação individual do conhecimento internalizado, ou seja, a construção
do próprio “eu”.
Um ambiente escolar prazeroso influencia positivamente a
aprendizagem, favorecendo uma relação ensino-aprendizagem de qualidade,
por isso, as emoções precisam ser consideradas nos processos educacionais,
é importante que a escola planeje de forma a mobilizar as emoções positivas
(entusiasmo, curiosidade, envolvimento, desafio) enquanto as negativas devem
ser trabalhadas de forma de os alunos possam controlá-las e ao mesmo tempo
evitadas.
40
A relação entre o comportamento sócio afetivo e desempenho cognitivo
durante o processo de aprendizagem do sujeito sofre alterações nas estruturas
neurais cerebrais e cognitivas. A aprendizagem e uma troca de informações
entre o meio ambiente e diferentes centros nervosos, alterando assim os
aspectos da linguagem, memória, comportamento emoção e afetividade.
Portanto, os educadores devem estar atentos não só às emoções dos
alunos, mas também às próprias emoções. A linguagem emocional é corporal
antes de ser verbal, e muitas vezes a postura, as atitudes e o comportamento
do educador assumem uma importância da qual não damos conta. Por causa
desses fatores, o que transmitido pode ser bem diferente do que ser pretendia
ensinar.
Outra interferência importante tem relação como fato de que as
emoções, podem ter origem inconsciente e serem atribuídas a outras fontes ou
outro contexto. Assim, a origem das reações emocionais na escola pode estar
relacionada com problemas externos, originados do contexto familiar ou social.
Enfim, toda ação de ensino deve considerar as emoções, tanto de quem
ensina, quanto de quem aprende, elas são constitutivas da interação humana
que se estabelece na vida escolar, bem como são constitutivas dos processos
cerebrais envolvidos no ensino e aprendizagem.
41
CONCLUSÃO
A neurociência trouxe para dentro da sala de aula, conhecimentos
importantes tais como: estrutura do sistema nervoso, memórias, conexões
neurais, os sentidos, emoções, enfim informações relevantes para uma
compreensão deste sujeito cerebral que chega às escolas.
Mas dentre vários conhecimentos que a neurociência trouxe é
importante destacar a plasticidade cerebral que possibilita aos educadores de
repensar suas práticas pedagógicas, pois, a partir deste conhecimento, leva
aos educandos de criar novas aprendizagens, pois, a dinâmica do cérebro
reposiciona a postura e o trabalho do professor.
Portanto, partindo desta visão de plasticidade cerebral conclui-se que
tratando-se de aprendizagem e cognição, nada é definitivo, podendo chegar a
resultados cada vez melhores, a partir de estímulos adequados, metodologia e
didáticas apropriadas.
A neurociência contribui para o bom desempenho do trabalho do
educador, sendo uma aliada nos processos de ensino-aprendizagem. Ao
conhecer o funcionamento do sistema nervoso o professor passa a intervir de
maneira mais efetiva nos processos de aprendizagem. Essas contribuições da
neurociências resulta em avanços na educação, buscando uma melhor
qualidade e resultados mais eficientes, melhorando não só o cognitivo dos
alunos, mas o emocional e o social.
Neste sentido, todas as informações e contribuições que possam ajudar
nas práticas de ensino, na modernização da aprendizagem e na atualização
das práticas pedagógicas, são importantes e vem contribuir de forma
significativa na difícil tarefa de educar. Pois, educar requer muitos mais do que
práticas pedagógicas, livros e conteúdos. Há necessidades como: afeto,
42
conhecimento de como este aluno aprende, conhecer este sujeito que chega
às escolas, trazendo suas experiências, sua cultura, levando-o atingir suas
habilidades e competências de forma significativa.
Através da aprendizagem, o indivíduo constrói e desenvolve os
comportamentos que são necessários para seu desenvolvimento, mas é na
escola que esses aprendizados são consolidados. Portanto, o papel do
professor é extremamente importante, se faz necessário um profissional que
compreenda a dinâmica da aprendizagem, suas relações emocionais, sociais,
culturais e desenvolvimento físico, biológico e cerebral.
Compreender, que aprendizagem e emoção está intrinsecamente
ligados. Aprender requer prazer de descobrir algo novo, as crianças devem
estar emocionalmente conectados com o educador e seus respectivos pares.
Para que haja uma real aproximação com o aprender, para realizar novas
conexões, na consolidação da memória, precisa haver emoção. Para enfim,
caminhar para os desenvolvimentos: cognitivo, físico, social e emocional.
Porém, este diálogo entre neurociência e educação ainda tem muito o
que ser estudado e pesquisado, pois, o cérebro humano é de uma infinita
grandeza de possibilidades, não há limites para a mente humana. Portanto, a
busca pelo conhecimento de novas práticas, a fundamentação cientifica é
extremamente importante para educadores em todos os segmentos.
Enfim, a neurociências vêm contribuir de forma significativa às práticas
pedagógicas dos educadores, dialogando de forma que as aprendizagens
acontecem em diferentes maneiras e apresentam múltiplas habilidades, e que
o educando deve ser estimulado levando ao prazer pelo conhecimento.
43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ARAÚJO, P Aloísio (Coord.). Aprendizagem infantil: uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2011.
CONSENZA, L Ramon. GUERRA, B Leonor. Neurociência e educação: como o
cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
LENT, Roberto (Coord.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de
Janeiro: Guanabara koogan, 2008.
MAIA,Heber (Org). Neurociências e desenvolvimento cognitivo. Rio de Janeiro:
Wak, 2011.
METRING, A Roberte. Neuropsicologia e aprendizagem: fundamentos
necessários para planejamento do ensino. Rio de Janeiro: Wak, 2011.
MUNIZ, Lana. A neurociência e as emoções do ato de aprender: quem não
sabe sorrir, dançar e brincar não deve ensinar. Itabuna: Via Litterarum, 2012 .
RELVAS, P Relvas. Neurociência na prática pedagógica. Rio de janeiro: Wak,
2012.
44
BIBLIOGRAFIA CITADA
1- ARAÚJO, P Aloísio (Coord.). Aprendizagem infantil: uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2011.
2- CONSENZA, L Ramon. GUERRA, B Leonor. Neurociência e educação:
como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
3- LENT, Roberto (Coord.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio
de Janeiro: Guanabara koogan, 2008.
4- MAIA,Heber (Org). Neurociências e desenvolvimento cognitivo. Rio de
Janeiro: Wak, 2011.
5- METRING, A Roberte. Neuropsicologia e aprendizagem: fundamentos
necessários para planejamento do ensino. Rio de Janeiro: Wak, 2011.
6- MUNIZ, Lana. A neurociência e as emoções do ato de aprender: quem não
sabe sorrir, dançar e brincar não deve ensinar. Itabuna: Via Litterarum, 2012 .
7- IZQUIERDO, Ivan. Artigo acessado pelo site https://www.ufmg.br/online/arquivos/IZQUIERDO.pdf em 23/07/2013
45
8- SPAZZIANI, L. Maria. Afetividade no contexto da educação infantil. UNESP. Acesso: http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/gt07-3476--int.pdf acessado em 22/07/2013 9- Site pesquisado Fonte: http://artigos.psicologado.com/psicologia-
geral/introducao/as-emocoes#ixzz2ZtZOVht8 Psicologado - Artigos de
Psicologia. Acessado em 23/07/2013
10- RELVAS, P Relvas. Neurociência na prática pedagógica. Rio de janeiro:
Wak, 2012.
46
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 10
Organização geral e funcional do Sistema Nervoso:
Uma viagem ao cérebro humano no processo da aprendizagem
CAPÍTULO II 20
Como o Cérebro aprende? Neuroplasticidade e a Aprendizagem
nos anos iniciais da vida escolar
CAPÍTULO III 31
Relação Ensino Aprendizagem e a Neurociência
3.1 – A emoção e sua relação com cognição e aprendizagem 35
na Educação Infantil
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43
BIBLIOGRAFIA CITADA 44
ÍNDICE 46