DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas...

46
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU TDAH: FAMÍLIA E APRENDIZAGEM AMADEU DE FREITAS DOURADO ORIENTADOR: Prof. Marta Pires Relvas Rio de Janeiro - RJ 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Transcript of DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas...

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

TDAH: FAMÍLIA E APRENDIZAGEM

AMADEU DE FREITAS DOURADO

ORIENTADOR: Prof. Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro - RJ 2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência pedagógica. Por: Amadeu de Freitas Dourado

TDAH: FAMÍLIA E APRENDIZAGEM

Rio de Janeiro - RJ 2016

Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me auxiliaram na construção deste trabalho, a minha orientadora e amiga Marta Relvas pelo estímulo em fazer esta especialização e de modo especial a minha esposa Adriana por acreditar na minha capacidade. Aos meus filhos, Gabriella, Luiza, Marina e João Pedro pela compreensão e ausência momentânea

Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais que onde

quer que estejam estão olhando e iluminando

meu caminho e a minha família que sempre me

acompanha e me apóia em tudo.

Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

5

RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de situar o Transtorno Déficit de

Atenção e Hiperatividade – TDAH no contexto da escola e da família. O

processo de aprendizagem será amplamente contemplado.

Por tratar-se de um transtorno de neurodesenvolvimento que afeta

diretamente as funções inibitórias daqueles que apresentam o diagnóstico,

pretende-se também mostrar a dificuldade de relacionamento entre o indivíduo

e aqueles que o cercam.

Não obstante, é objetivo deste trabalho, mostrar também que é

perfeitamente possível participar do processo de aprendizagem desde que o

indivíduo com características TDAH esteja assistido de forma competente e

eficaz.

A história do transtorno também será abordada pois sem um corte

histórico onde se vê não só a evolução do diagnóstico como também e

evolução da sociedade que convive com ele, não é possível compreender bem

o que acontece nos dias atuais com os indivíduos com características de

TDAH.

As relações familiares também são um objeto de apreciação do

presente trabalho. O indivíduo com características de TDAH passa por

momentos muito difíceis junto com a sua família nos primeiro passos da longa

caminhada que é enfrentar o diagnóstico e um tratamento que vai para toda a

vida, não só para ele como também para toda a família.

As formas mais atuais de tratamento também serão abordadas, tanto

as opções farmacológicas como também as psicoterapêuticas.

Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

6

METODOLOGIA

Quanto ao objeto, esta pesquisa caracteriza-se como pesquisa

bibliográfica, uma vez que o trabalho consistirá na coleta, seleção, análise e

interpretação da literatura existente sobre o assunto, composta de livros, teses

e dissertações, artigos de jornais e revistas, manuais de metodologia de

trabalho de instituições públicas, pronunciamentos de organismos oficiais e não

oficiais da atividade de auditoria independente.

Também foram consultados “sites” da Internet, “e coletânea de

publicações de revistas nacionais e vídeo de palestras pertinentes ao tema do

trabalho.

Portanto, a metodologia se dará através de levantamento bibliográfico.

Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

O TDAH 10

CAPÍTULO II

TDAH – APRENDIZAGEM E FAMÍLIA 22

CAPÍTULO III

TRATAMENTO DO TDAH 33

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 44

ÍNDICE 46

Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

8

INTRODUÇÃO A forma como o Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade, o

TDAH, é vista nos dias atuais, certamente é motivo de preocupação não só da

comunidade médica como também da comunidade pedagógica e das famílias.

A falta de preparo da grande massa de professores que, diariamente,

lidam com alunos que apresentam o diagnóstico é muito grande. As famílias

também necessitam de mais preparo.

Como se sabe, o processo de transformação de informação em

conhecimento, para acontecer de forma plena, precisa envolver a razão e a

emoção

De acordo com RELVAS (2009, p.59)

Assim o educando que apresenta características de TDAH precisa ter ao

seu lado pessoas com alto grau de comprometimento com o processo e,

sobretudo com muito conhecimento das nuances do transtorno para que possa

efetivamente ajudá-lo.

O professor tem papel muito importante nessa realidade educacional.

Muitas vezes quem percebe inicialmente a presença das características é o

profissional da educação. Os sintomas acarretam uma dificuldade de

relacionamento, em sala de aula, muito grande com os demais colegas. O

aparecimento de rótulos ou estereótipos também é muito comum. Tudo isso

mexe com as emoções do aluno e como se não bastasse uma dificuldade

natural em acompanhar a rotina da sala de aula aparece a baixa auto-estima.

“ Temos duas memórias, uma que se emociona,

sente, comove...outra que compreende analisa,

pondera, reflete...Trata-se de emoção e razão. Essa

dualidade se articula por meio de um mecanismo

dinâmico, uma impulsionando a outra com grande

rapidez nas tomadas de decisões. Na verdade

complementam-se. Cada pessoa apresenta diferentes

reações conforme a utilização de suas mentes.”

Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

9

Porém o convívio da criança com outras pessoas não se dá apenas no

ambiente escolar. Em casa, com a família os aborrecimentos para ambas as

partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo, a

sensação de impotência diante de tudo e de todos se faz cada vez mais

presente. Assim o processo aprendizagem certamente vai ficar prejudicado.

Com o expressivo aumento de exposição na mídia dos sintomas do

transtorno e da maneira como se deve lidar com eles, o TDAH passou a fazer

parte o cotidiano das escolas e consultórios médicos. Certamente a maioria

das pessoas já ouviu falar do assunto e tem uma opinião formada sobre ele.

Mais crianças estão sendo tratadas de uma maneira muito melhor. Mais

professores estão sendo treinados a entender e administrar os sintomas.

Tudo isso traz benefícios não só àqueles que possuem as

características do TDAH, mas também para os pais, familiares, os colegas de

classe e professores.

Ainda estamos longe do ideal. Muitos diagnósticos ainda saem de

maneira abrupta e naturalmente errada. O fantasma da indústria farmacêutica

assombra as crianças que possuem características como desatenção, por

exemplo, e rapidamente são diagnosticadas como TDAH e começam com o

metilfenidato.

Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

10

CAPÍTULO I

O TDAH É um transtorno multifatorial que pode associar defeito de atenção,

hiperatividade e a impulsividade (OLIVIER, 2011). É associado a fatores

ambientais e genéticos. Variações no tamanho e na morfologia do cérebro

apresentam desde muito cedo anormalidades no circuito fronto

estriado/cerebelo, principalmente no hemisfério direito, responsável pela

maioria dos distúrbios de coordenação motora e por um programa subnormal o

sensório-motor. A dopamina parece ser a principal alteração neuroquímica

marcando essas alterações morfológicas. O TDAH está associado a alterações

do córtex pré-fontal e de suas projeções e estruturas subcorticais. Pesquisas

recentes de neuroimagem têm avaliado em detalhes o circuito frontoestrial,

sobretudo na região do córtex pré-frontal, caudado para uma alteração em

córtex parietal posterior direito. Portanto poderíamos chamar o TDAH de um

transtorno frontossubcortical. (SCHIMITT, 2000)

Recentes pesquisas em genética molecular apontam que o TDAH está

associado a disfunção de neurotransmissores, principalmente aqueles do

sistema dopaminérgico e noradrenérgico, porém isso ainda não é considerado

um marcador para o transtorno.

Estudos de exames de neuroimagem mostram que o cérebro de

crianças que não possuem características de TDAH não funciona de forma

idêntica àqueles que as possuem. Estes têm um desenvolvimento cerebral

mais imaturo, porém o exame de neuroimagem não garante o diagnóstico de

TDAH.

Um estudo da Revista Brasileira de Psiquiatria publicada em

2001(2001;23(Supl I);32-5),Neuroimagem no transtorno de déficit de

atenção/hiperatividade (Claudia M. Szobota, Mariana Eizirikb, outros) mostra

que:

“ O déficit decisivo ou fundamental no TDAH é a incapacidade de

modular a resposta ao estímulo, com a impulsividade e a desatenção.

Córtex pré-frontal, gânglios da base e o cerebelo são as estruturas

cerebrais associadas com o transtorno. O sistema dopaminérgico

mostra-se alterado numa série de pesquisas. Há também forte relevância

para a participação da noradrenalina no TDAH, havendo uma série de

estudos que para a sua participação na modulação da função cognitiva

no lobo pré-frontal. “

Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

11

Segundo Olivier os psicoestimulantes, cuja ação é prioritariamente

dopaminérgica e a imipramina, esta de ação dopaminérgica são os tratamento

eficazes para este transtorno. O mesmo estudo revela que nos 11 casos

avaliados foram encontrados hipoperfusões na região dos lobos frontais e em

menor proporção hipoperfusão no caudato e uma hiperperfusão occipital.

Quando usado o metilfenidato aumentou o fluxo nas regiões centrais, incluindo

os gânglios da base e o mesencéfalo.

I.I - UM POUCO DE HISTÓRIA Existem muitas maneiras de construir um diagnóstico. Existem aqueles

que não levam em conta os aspectos morais, políticos, sociais, econômicos e

institucionais que alimentam o fato patológico. Ignoram que os resultados de

estudos científicos advêm dos debates nada tranqüilos entre as demandas

políticas e ideológicas que sustentam a pesquisa. E existem aqueles que

sabem que as diferenças entre o normal e o patológico – base do diagnóstico-

surgem de toda essa hibridez.

A criança que apresenta as características do TDAH surge nos

alfarrábios médicos na primeira metade do século XX, e desde então foi sendo

rebatizada várias e várias vezes.

Segundo Caliman:

Anterior a publicação do DSM III o que marcava o transtorno em suas

descrições era o seu elemento motor: o excesso de movimentos e a

incapacidade do indivíduo de inibir seus impulsos. Em 1957 passa então a ser

“Ela foi uma criança com defeito no controle moral, a

portadora de ume deficiência mental leve ou branda, foi

afetada pela encefalite letárgica, chamaram-na

simplesmente de hiperativa ou de hipercinética, seu cérebro

foi visto como moderadamente disfuncional, ela foi a criança

com déficit de atenção e, enfim, a portadora do transtorno

de déficit de atenção/hiperatividade. Desde os últimos 20

anos do século XX, ela é marcada por um defeito inibitório

que afeta o desenvolvimento das funções executivas

cerebrais.”

Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

12

descrito como a síndrome do impulso hipercinético. Em 1960 foi renomeado

como a síndrome da criança hiperativa. Gradativamente a possibilidade de uma

lesão cerebral foi sendo substituída por um quadro de déficit neurofisiológico. O

leque foi sendo ampliado para enquadramento no transtorno que assim

passava ter como causa um disfunção neurológica branda.

A partir da década de 70 o maior peso no diagnóstico fica por conta da

desatenção, até então estava centrada na hiperatividade. Mais uma vez um

novo nome e seu diagnóstico, novamente, ampliado: o transtorno acontecia

com ou sem a presença da hiperatividade. Em 90 o transtorno apresenta um

novo significado como sendo de um defeito inibitório no mesmo contexto onde

a falha da inibição era interpretada como a causa que estaria no raiz do

desenvolvimento de todo o quadro psicopatológico.

O discurso sobre os diagnósticos de doenças que acometem a saúde

mental iniciam-se no fato de que os pacientes não eram drasticamente mal

desenvolvidos nem mentalmente deficientes, eram somente mal adaptados. Os

diagnósticos incluídos na história do TDAH fortalecem o processo de

patologização daqueles incapazes de enquadrar-se naquilo que possa

satisfazer as expectativas morais, políticas e econômicas que a sociedade na

qual viviam esperava. Este fato, o de transformar em patologia aquilo que não

se encaixa no modelo social, não é um modelo dos dias atuais, porém no

TDAH a sua constituição se vincula as disfunções adaptativas. Nela , o

sucesso e o fracasso adaptativo tornaram-se dependentes do funcionamento

cerebral, de sua neuroquímica e de seus ajustamentos e correções pontuais.

Russel A. Barkley é uma das maiores autoridades no que tange o TDAH.

Caliman relata que :

Seus conceitos baseiam-se nos estudos de George Still, médico que

atuou no início do século XX. Há concordância em vários pontos entre ambos.

“Ele é quem dá a melhor interpretação clínica e

histórica do transtorno com a melhor direção

neurológica cognitiva. Em seus estudos o TDAH é

resultado de um defeito da inibição e da

capacidade de autocontrole, sendo um defeito da

vontade e um déficit do desenvolvimento moral.”

Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

13

Os dois falam em função inibitória da vontade. A sintomatologia e a

epidemiologia descritas são as mesmas. O comportamento agressivo e

desafiador é um ponto comum. Em ambos os diagnósticos a desatenção e

hiperatividade estão presentes. O paciente é incapaz de planejar ações futuras

e o comportamento patológico é pautado nas gratificações. A capacidade de

compreender não é afetada. Assim pode-se concluir que o transtorno não é

uma invenção dos dias atuais. Desde muito tempo indivíduos já são

acometidos de seus sintomas.

Os historiadores chamados de internos do TDAH nunca levaram em

conta os fatores morais, políticos e legais que eram a base dos estudos de Still.

Tratavam de legitimar os valores morais da época e então enquadrar cada

corpo nos valores. Aqueles que estavam fora do padrão eram estereotipados.

Já Still pensava justamente o contrário. Admitia a existência de uma patologia

moral específica, margeada pela desobediência às regras e consensos sociais.

Ele analisava aquilo que era anormal que resultava de uma falha no

desenvolvimento mental.

Nos pacientes observados por Still a constituição do controle moral

estava diretamente ligada a uma ação conjunta da cognição da consciência

moral e da vontade. Nem sempre era possível saber qual o limite do normal

para o anormal, esse limite era marcado de forma arbitrária. Alguns

comportamentos em determinadas crianças era tão fora do padrão que era

encarado como um comportamento mórbido, porém não havia nenhuma prova

empírica para tal. Nenhuma pesquisa neurofisiológica sustentava tal

argumento. Os diagnósticos eram baseados em uma decisão social, naquilo

que era tolerado ou não pela sociedade.

Assim Caliman relata que:

“Na decisão sobre a presença ou ausência da patologia moral, eram

analisados: 1- o grau excepcional e excessivo do defeito moral; 2- a

ausência de correspondência entre o ambiente da criança e seu

comportamento (por exemplo, uma criança rica quer tinha o costume

de roubar coisas); 3- a presença de comportamentos nocivos sem

motivos justificáveis ( acriança roubava, mas não fazia uso do objeto

roubado ou devolvia-o para o dono logo depois do furto); 4 – a falha

ou insuficiência de punição como ato corretivo e 5 – a consideração

da história familiar e do ambiente da criança. Quase todas as crianças

tinham em suas famílias parentes epiléticos, alcoólatras, imorais,

insanos, suicidas, mentalmente fracos ou sexualmente

problemáticos.”

Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

14

As observações de Still resultavam:

Note-se que para Still o TDAH não se trata de um problema específico

da atenção e da hiperatividade. Para Still as crianças observadas não

conseguiam sustentar a atenção pois, teoricamente, o transtorno era causado

pela deficiência de vontade inibitória.

Era lugar-comum à época que alguns médicos vinculassem o problema

prático e social do indivíduo moralmente defeituoso ao quadro patológico do

indivíduo mentalmente fraco e do imbecil moral.

A história do TDAH é recheada por vários diagnósticos psiquiátricos

problemáticos e duvidosos, que estão no limiar turvo entre as desordens

nervosas definidas e indefinidas, entre as situações da vida normal e da

patologicamente aqueles chamados de historiadores internos nem também

seus críticos dizem que a história do TDAH seja constituída por diagnósticos

guarda-chuvas. Em sua grande maioria estavam ali as patologias que

colocavam em xeque o saber neurológico e psiquiátrico, mas que, de certa

forma também fortaleceram o seu conhecimento.

“ Em sua análise clínica de 20 crianças nas quais eram

identificados graus mórbidos de : fúria emotiva, crueldade e

malícia, inveja, ausência de lei, desonestidade, promiscuidade e

destrutividade, ausência de modéstia e vergonha, imoralidade

sexual e vício.Todas as crianças manifestavam uma vontade

mórbida de autogratificação que não considerava o bem dos

outros e o seu próprio bem. Dos sintomas descritos os mais

freqüentes eram a fúria emotiva e a malícia quando dores ou

desconforto em outras pessoas eram causados, ou a crueldade

quando as vítimas dos maus tratos eram animais indefesos. Além

dessas características, a resistência à disciplina e à autoridade na

escola, no lar e em outros ambientes era comum”

Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

15

I.II- UM TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO

Na medida em que o tempo passa e o conhecimento a respeito do

funcionamento do cérebro e suas variações vai evoluindo, evoluem também os

critérios diagnósticos. Atualmente o TDAH é enquadrado como um transtorno

do neurodesenvolvimento. Estes fazem parte de um grupo de condições que se

iniciam no período de desenvolvimento. Manifestam-se muito cedo, em geral

antes do ingresso da criança na escola. Caracterizados por déficits no

desenvolvimento que tem como consequência prejuízos no funcionamento

pessoal, social, acadêmico ou profissional. É comum a ocorrência de mais de

um transtorno do neurodesenvolvimento. Crianças com TDAH apresentam

também um transtorno específico da aprendizagem.

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento marcado por níveis

sérios de desatenção, desorganização, e/ou hiperatividade-impulsividade. A

desatenção e a desorganização estão ligadas a incapacidade de realizar uma

só tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes

com a idade ou o nível de desenvolvimento. Hiperatividade-impulsividade

denotam atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer

sentado, intromissão em atividades de outros e incapacidade de aguardar –

sintomas que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento. Na

infância o TDAH se destaca a outros transtorno em geral considerados de

externalização, assim como o transtorno de oposição desafiante e o transtorno

de conduta. Este transtorno costuma persistir na vida adulta acarretando serias

conseqüências no campo do funcionamento social, acadêmico e profissional.

I.III - O DIAGNÓSTICO

Como critérios para diagnosticar o TDAH é imperativo um

comportamento continuo de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que

interferem no funcionamento e no desenvolvimento.

Segundo o DSM - 5, na desatenção se faz necessário que pelo menos

seis, para crianças e cinco para adolescentes e adultos acima dos 17 anos dos

sintomas abaixo sejam presentes no indivíduo por pelo menos seis meses em

Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

16

uma escala que seja inconsistente com o nível de desenvolvimento e tem um

impacto negativo nas atividades acadêmicas, sociais ou profissionais. São eles:

• Os detalhes das tarefas escolares, do trabalho ou durante atividades

diversas passam despercebidos ou comete erros por descuido;

• Apresenta dificuldade em manter a atenção em tarefas lúdicas;

• Parece, com frequência, não escutar quando lhe dirigem a palavra

diretamente;

• Com freqüência não segue as orientações até o fim não executando

completamente as tarefas escolares, do trabalho ou atividades diversas;

• Apresenta dificuldade, com frequência, em organizar as tarefas e

atividades. Os trabalhos aparecem de forma desorganizada e desleixada

em função da dificuldade de organização;

• Reluta, constantemente, em envolver-se em tarefas que exijam esforço

mental prolongado;

• Perde frequentemente seus pertences pessoais necessários à execução

das tarefas propostas;

• Os estímulos externos o distraem com frequência;

• Esquece frequentemente suas obrigações cotidianas como, por

exemplo, pagamento de contas, rotinas de tarefas escolares, retorno de

ligações etc.;

Ainda segundo o DSM – 5, na hiperatividade e impulsividade se faz

necessário que pelo menos seis, para crianças e cinco para adolescentes e

adultos acima dos 17 anos dos sintomas abaixo sejam presentes no indivíduo

por pelo menos seis meses em uma escala que seja inconsistente com o nível

de desenvolvimento e tem um impacto negativo nas atividades acadêmicas,

sociais ou profissionais. São eles:

• Com frequência batuca ou remexe as mãos ou os pés e se contorce na

cadeira;

• Em situações onde a expectativa é a de que permaneça sentado,

levanta constantemente, seja na sala de aula, no trabalho ou em

qualquer outro ambiente;

Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

17

• Comporta-se de forma inadequada correndo ou subindo nas coisas, com

frequência;

• Com freqüência não se envolve em atividades de lazer ou brincadeiras

calmamente;

• Tem uma inquietude freqüente como se estivesse “ligado”

constantemente em padrões fora do normal para a situação;

• Fala em excesso frequentemente;

• Deixa escapar uma resposta antes da pergunta ser concluída não

conseguindo aguardar sua vez com muita frequência;

• Com freqüência tem dificuldade em esperar sua vez, por exemplo, em

uma fila;

• Frequentemente interrompe ou se intromete nas conversas, jogos ou

atividades sem pedir permissão.

Vários dos sintomas apresentados de desatenção ou hiperatividade-

impulsividade se apresentavam antes dos 12 anos de idade; estão presente em

mais de um ambiente, por exemplo, escola, trabalho, em casa etc. os sintomas

apresentados interferem diretamente na performance escolar, no

funcionamento social, profissional pela redução da qualidade vdas tarefas

executadas.

Os sintomas podem se apresentar de forma combinada se os critérios

de desatenção, hiperatividade-impulsividade são preenchidos nos últimos seis

meses; de forma predominantemente desatenta se os critérios de desatenção

aparecem nos últimos seis meses mas, os demais não e predominantemente

hiperativa/impulsiva se os critérios de hiperatividade/impulsividade aparecem

nos últimos seis meses e os de desatenção não.

O DSM – 5 relata que:

“314.01 (F90.2) Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1

(desatenção) quanto o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são

preenchidos no últimos 6 meses.

314.00 (F90.0) Apresentação predominantemente desatenta: Se o

Critério A1(desatenção) é preenchido, mas o Critério A2

(hiperatividade-impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses.

314.01 (F90.1) Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva:

Se o Critério A2 (hiperatividade – impulsividade) é preenchido, e o

Critério A1 (desatenção) não é preenchido nos últimos 6 meses”

Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

18

É importante especificar se os sintomas aparecem em remissão parcial,

ou seja, todos os critérios foram preenchidos no passado, nem todos foram

preenchidos nos últimos seis meses, e os sintomas ainda resultam em prejuízo

no funcionamento social, acadêmico ou profissional. Assim como também é

importante que fique clara a gravidade atual. Ela pode ser leve quando são

poucos sintomas estão presentes além daqueles necessários para ao

diagnóstico e resultam em pequenos prejuízos no funcionamento social ou

profissional; moderada quando os sintomas ou o prejuízo estão entre o leve e o

grave; grave quando muitos, além daqueles necessários para o diagnóstico,

estão presentes ou vários considerados especialmente graves se apresentam

ou ainda os sintomas podem resultar em um prejuízo muito acentuado no

funcionamento social ou profissional.

As características de desatenção no TDAH aparecem como afastamento

do tema em tarefas, falta de persistência, dificuldade em manter o foco e

desorganização; na hiperatividade fica evidente na atividade motora excessiva

(nos adultos pode se manifestar com inquietude extrema ou esgotamento dos

outros com sua atividade); na impulsividade apresenta-se na realização de

ações precipitadas que ocorrem sem planejamento e com grande potencial de

prejuízo à pessoa.

O TDAH começa no período da infância. Por ser exigido que os

sintomas apareçam antes dos 12 anos de idade denota a importância de uma

apresentação clínica de qualidade, mas se faz necessário frisar que não é fácil

estabelecer retrospectivamente um início da infância daí a não especificação

de uma idade de início mais precoce.

As manifestações devem se apresentar em mais de um ambiente. Para

se confirmar os sintomas é importante que as informações venham de pessoas

que convivam com o indivíduo em tais ambientes. Os sintomas podem variar

de acordo com o contexto em que cada ambiente se apresenta. Se o indivíduo

está recebendo recompensa com freqüência pelo seu sucesso ou está sob

supervisão o aparecimento pode ficar mascarado.

Existem algumas características associadas que podem apoiar o

diagnóstico de TDAH. Os atrasos leves no desenvolvimento lingüístico, motor

ou social não são específicos não são específicos do TDAH mas, costuma ser

Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

19

comórbidos. As características a intolerância a frustração, irritabilidade ou

instabilidade do humor também podem ser algumas comorbidades. Problemas

cognitivos em teste de atenção, função executiva ou memória podem aparecer

em indivíduos com TDAH umas vez que um comportamento desatento está

agregado a inúmeros processos cognitivos subjacentes. Na fase adulta o

TDAH pode Associar-se com um aumento das tentativas de suicídio

especialmente quando em comorbidade com transtornos de humor, conduta ou

uso de substâncias químicas.

Infelizmente não existe um marcador biológico para o TDAH. Em

exames comparados crianças com TDAH mostram eletroencefalogramas com

aumento de ondas lentas, volume total encefálico reduzido na ressonância

magnética e um possível atraso na maturação do córtex no sentido póstero-

anterior. Porém essas descobertas não ajudem a formar um diagnóstico.

O TDAH costuma ser mais comumente observado nos anos do ensino

fundamental com o sintoma da desatenção ficando mais evidente e, por

conseguinte mais prejudicial. Ele se mantém estável durante o início da

adolescência. Os sintomas de hiperatividade motora fica menos evidente em

indivíduos na fase adolescente e na fase adulta, porém os demais sintomas de

desatenção e impulsividade permaneçam evidentes. Na fase da primeira

infância, ou na pré-escola, os sintomas mais evidentes são os de

hiperatividade.

Existem ainda alguns fatores de risco e prognósticos para o TDAH.

Podem ser:

• Temperamentais: traços de inibição comportamental, controle baseado

no esforço ou na contenção, a afetividade negativa ou maior busca por

novidades são pré-requisitos para algumas crianças que apresentam as

características do TDAH em borá não sejam específicos;

• Ambientais: peso excessivamente baixo ao nascer confere risco de

aparecimento de sintomas. Tabagismo também pode ser fator de risco.

Abuso infantil, negligência, diversidade de lares adotivos, exposição a

neurotoxinas podem ser fatores de risco;

Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

20

• Genéticos ou fisiológicos: tanto a hereditariedade quanto em parentes

biológicos de primeiro grau são fatores de risco freqüentes para o

aparecimento de sintomas de TDAH. O transtorno não está associado a

características físicas específicas;

• Modificadores de curso: o TDAH não é causado por problemas de

relacionamento familiar mas este fator pode ajudar nos problemas de

conduta que porventura possam surgir.

A cultura de cada grupo social pode ser determinante para que os

sintomas de TDAH sejam, detectados. Basicamente a detecção dos indivíduos

com características de TDAH baseiam-se nas informações fornecidas através

da observação daqueles que convivem com os mesmos. Assim para grupos

onde determinadas atitudes são mais comuns as taxas de aparecimento de

indivíduos com características de TDAH esta diretamente ligada a tal fato.

O TDAH é mais freqüente no sexo masculino na proporção de cerca de

2:1 em crianças e 1,6:1 em adultos.

O baixo rendimento escolar, a rejeição social e em adultos o insucesso

no campo profissional estão diretamente associados ao TDAH. As crianças que

apresentam sintomas de TDAH tem uma tendência a se tornarem adolescente

com transtorno de conduta e adultos com transtorno de personalidade

antissocial. O uso de substancias químicas em razão dos desdobramentos

pode ter conseqüências muito sérias para os indivíduos com TDAH, tais como

lesões, acidentes e violações de trânsito.

Seu comportamento natural é interpretado pelos outros como preguiça

ou indolência. A discórdia nas relações familiares também são conseqüências

dos indivíduos com características de TDAH. Também costumas ser

negligenciados e rejeitados por seus pares, são provocados por eles, fato que

pode levá-los ao isolamento. É comum que indivíduos com transtorno tenham

uma escolaridade menor, menos sucesso profissional. A desatenção pode

levar a baixa performance acadêmica, problemas escolares e negligência pelos

colegas enquanto que a hiperatividade ou impulsividade traz a rejeição de seus

pares e lesões acidentais em menor grau.

Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

21

Existem ainda alguns diagnósticos diferenciais para o TDAH:

• TDO – portadores de TDO desafiam o outro sem motivo aparente,

enquanto que no TDAH existe uma dificuldade em tarefas direcionadas

e de autocontrole. Pode ser encontrado como comorbidade.

� Aprendizagem – mantêm certa semelhança em razão dos sintomas de

desinteresse e desatenção, contudo estes sintomas estão relacionados

apenas à atividades acadêmicas.

� Autismo – dividem sintomas de desatenção, disfunção social e

dificuldades de controle de comportamento, mas por razões diversas.

� Ansiedade – também dividem sintomas com o TDAH, mas mostram-se

desatentos por um excesso de preocupações e medos que são

intrusivos e prejudiciais por serem lembrados a todo o momento,

acarretando assim uma aparente desatenção.

� Depressão e Humor – apresentam sintomas em comum, mas apenas no

durante os episódios.

� Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor – é uma desordem

caracterizada por grande irritabilidade e intolerância à frustração, mas

não compartilham impulsividade e desatenção. Quando acontece de

ambos estarem presentes os diagnósticos devem ser dados

separadamente.

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

22

CAPITULO II

TDAH, APRENDIZAGEM E FAMÍLIA

II.I – TDAH E A APRENDIZAGEM

Crianças com características de TDAH, com freqüência, apresentam

uma conquista acadêmica insatisfatória. Em sala de aula, não raro, exibem

taxas significativamente mais baixas de comportamento relacionado à tarefa

durante o momento da orientação e o trabalho independente que os demais

colegas.

DuPaul&Stoner relatam que:

Este fato acarreta, na adolescência, além da fraca conquista acadêmica,

um grande índice de evasão escolar. Este fato ocorre em razão da baixa auto-

estima dos alunos com essas características.

As crianças com TDAH, frequentemente, apresentam muita dificuldade

em realizar tarefas que exigem uma estratégia muito complexa para a

resolução de problemas ou ainda habilidades organizacionais. Esse fato ocorre

não por uma incapacidade intelectual de resolvê-los mas sim por uma

característica marcante no perfil que é a dificuldade de concentração e de

organização e ainda um esforço insuficiente ou escolha ineficiente de uma

estratégia apropriada para tal tarefa. As escolhas são em geral movidas pelo

impulsividade e assim são mal organizadas.

Pesquisas em testes de Q.I. mostram que o desenvolvimento intelectual

de crianças com TDAH e crianças sem diagnóstico é similar. Qualquer

diferença de desenvolvimento intelectual encontrada neste tipo de teste deve

“As crianças com características de TDAH têm menos

oportunidades para responder durante a instrução acadêmica e

completam menos trabalhos independentes , comparadas a seus

colegas. Esta última constatação pode explicar, pelo menos

parcialmente a associação do TDAH com a fraca conquista

acadêmica: até 80% das crianças com este transtorno exibem

problemas de aprendizagem ou conquista acadêmica.”

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

23

levar em consideração os níveis elevados de desatenção daqueles que tem

TDAH em relação àqueles sem o diagnóstico.

DuPaul & Stoner assim explicam:

As funções executivas destes indivíduos também ficam prejudicadas.

Uma vez que se trata de um conjunto de funções responsáveis por iniciar e

desenvolver uma atividade com um objetivo final determinado, isto é,

capacidade da pessoa em se engajar em comportamentos orientados. Ações

voluntárias, independentes, autônomas, auto-organizadas e direcionadas a

determinadas metas, estas funções envolvem um espectro amplo de processos

cognitivos: estado de alerta; atenção sustentada e seletiva; tempo de reação ao

estímulo; fluência e flexibilidade de pensamento e integração de informações

(memória de trabalho e arquivadas).

Capovilla, Assef, & Cozza definem ação executiva como:

“ Em uma análise em grupo, as crianças com este transtorno pontuam

constantemente uma média de 7-15 pontos abaixo de seus próprios irmãos ou de

crianças típicas em testes padronizados de inteligência. Embora essas

diferenças possam representar uma discrepância real no funcionamento

cognitivo entre os grupos, existem pelo menos duas explicações alternativas

para esses resultados. Em primeiro lugar, o desempenho diferencial em testes

de Q.I. pode dever-se a diferenças com TDAH em relação a seus companheiros

com funcionamento típico. Um segundo fator possível para explicar esses

achados é a alta probabilidade de um número maior de crianças com

deficiência de aprendizagem concomitante no grupo com TDAH como um todo

podem ser causados pela pontuação de um subconjunto de crianças que também

apresentam deficiência de aprendizagem. Em apoio a essa asserção, temos os

resultados de dois estudos que não encontram diferenças de Q.I. entre amostras

com TDAH e normal quando a influência de deficiência de aprendizagem foi

descontada. Não importando as diferenças de Q.I. obtidas em amostras normais

e com TDAH é similar àquela obtida na população em geral.´

“ A função executiva do cérebro vem sendo definida como um

conjunto de habilidades, que de forma integrada, possibilitam ao

indivíduo direcionar comportamentos a objetivos, realizando ações

voluntárias. Tais ações são auto-organizadas, mediante a

avaliação de sua adequação e eficiência em relação ao objetivo

pretendido, de modo a eleger as estratégias mais eficientes,

resolvendo assim, problemas imediatos, e/ou de médio e longo

prazo.”

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

24

Estas características atuam possibilitando a busca de soluções para

situações que costumas aparecer sem que estejam planejadas ou não sejam

esperadas, favorecendo o planejamento e regulando o comportamento

adaptativo, com objetivo final. Necessárias sempre que o funcionamento

automático não for adequado ou suficiente.

As funções executivas são nosso sistema de gerenciamento dos

recursos cognitivo-emocionais, cuja principal tarefa é a resolução de

problemas. Permitem-nos perceber e responder de modo adaptativo aos

estímulos. Estas definitivamente não são capacidades para aqueles que

apresentam as características de TDAH.

Outra área em que estas crianças podem apresentar alguma dificuldade

é a do desenvolvimento da fala e da linguagem. Mais especificamente, 54% de

crianças com TDAH podem apresentar dificuldades na linguagem expressiva

(DuPaul & Stoner, 2007) além de exibirem uma taxa de fala não fluente, ou

seja, dificuldade em verbalizar questões sobre a compreensão de um texto lido.

Alguns problemas relativos a coordenação motora fina e grossa também

podem estar relacionados ao TDAH. Uma pesquisa comparada aponta que

52% de crianças com TDAH apresentam deficiência na coordenação motora

fina em relação a um percentual de 35% de crianças sem diagnóstico. Estes

dados não são surpreendentes uma vez que professores com freqüência

relatam que crianças com característica de TDAH apresentam problemas

significativos com a caligrafia. A coordenação motora grossa também

apresenta comprometimento. Quando convidadas a realizar movimentos

com grupamentos musculares específicos, por exemplo mexer os dedões dos

pés, podem acontecer movimentos associados desnecessários., fato que indica

uma fraca inibição motora.

A dificuldade recorrente de conquista acadêmica em crianças com TDAH

está diretamente ligado ao fraco desempenho escolar. A performance

alcançada em avaliações, sejam elas de que natureza for – testes, provas ou

trabalhos - são inferiores a de seus pares na escola. Tudo isto devido a

desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Em razão do fraco desempenho, uma parcela considerável de crianças

com TDAH são apresentadas a programas de educação especial para

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

25

estudantes com dificuldade de aprendizagem ou transtorno de comportamento.

O índice de reprovação também é elevado nestas crianças. Pelo menos um

terço delas já havia sido reprovada ao menos uma vez antes do ensino médio.

Números elevados de suspensões e expulsões também são crônicos. Como já

foi citado anteriormente, a taxa de abandono para alunos com TDAH (algo em

torno de 10%) no ensino médio é maior do que para aqueles que não

apresentam diagnóstico (DuPaul & Stoner, 2007). As dificuldades de

desempenho acadêmico associadas ao TDAH podem ir até a idade adulta.

Estudos indicam que apenas 20% daqueles que apresentavam diagnóstico de

TDAH na infância/adolescência ainda continuavam estudando aos 21 anos

(DuPaul & Stoner, 2007).

Assim o fraco desempenho escolar e as conseqüências advindas disso

podem trazer risco nas atividades profissionais e sociais na idade adulta.

As baixas conquistas acadêmicas em razão da desatenção,

hiperatividade e impulsividade faz com que a criança desenvolva uma baixa

auto-estima, ou seja, uma fraca imagem acadêmica de si mesmo, ficando

assim, menos motivada a vencer suas dificuldades criando então, um circulo

vicioso.

DuPaul & Stoner relatam assim as hipóteses de relação entre o TDAH e

os problemas acadêmicos:

O alto nível de atividade durante o processo de aprendizagem

(hiperatividade) pode desviar a atenção da criança do foco principal e desta

forma minimizar a conquista das informações acadêmicas. A impulsividade

também é fator de prejuízo no processo de aprendizagem uma vez que

decisões tomadas de forma afobada também prejudicam o desempenho em

“ Pelo menos três hipóteses de conexões foram apresentadas:

problemas com habilidades acadêmicas levam a exibição de

comportamentos relacionados ao TDAH; os sintomas

comportamentais do TDAH (desatenção, impulsividade e

hiperatividade) perturbam a conquista de habilidades

acadêmicas e o desempenho escolar; e tanto o TDAH quanto as

dificuldades de aprendizagem são causados por uma terceira

variável ou por diversas delas (por exemplo, déficits

neurológicos) “

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

26

tarefas independentes. Há evidencias de que o uso de medicamentos como o

metilfenidato podem gerar sucesso nas conquistas acadêmicas e assim uma

melhora no desempenho escolar. Este tratamento afeta diretamente o alcance

da atenção da criança e o controle de sua impulsividade traz uma melhora na

produtividade e ao mesmo tempo na exatidão da resolução das tarefas

escolares. É válido lembrar que o uso de medicamentos alivia a sintomatologia

do TDAH o que de certa forma os evidencia. Quando ministrado o metilfenidato

para combater os sintomas e ele tem sucesso, os problemas de desempenho

são sanados durante a atuação da droga deixando, assim, os sintomas que

levaram a prescrição do mesmo em evidencia antes do uso.

Grande parte das crianças com TDAH apresenta desempenho

acadêmico insatisfatório, tais como um tempo maior para completar tarefas,

resultados corretos inconstantes em trabalhos sentados e tarefa de casa e

pouca habilidade para o estudo devido a sua falta de organização e

desatenção. Uma parte delas apresenta baixa habilidade acadêmica a então

vão receber também um diagnóstico de dificuldade de aprendizagem. O fato de

que os problemas acadêmicos estão frequentemente relacionados ao TDAH

tem relação direta na avaliação e tratamento desses estudantes. A avaliação

do TDAH não deve ficar restrita somente as dificuldades de controle inibitório

mas deve levar em conta também as medições de performance acadêmica.

II.II - O TDAH NA FAMÍLIA E NA SOCIEDADE

II.II.I - Desenvolvimento infantil x Estrutura familiar

Compreender o ambiente em que a criança vive e se desenvolve é de

suma importância para o entendimento dos problemas de comportamento

infantil. Dependendo do tipo de ambiente pode-se ter um agravamento do

quadro clinico incluindo também as relações familiares e parentais.

A interagir bem com os adultos que a cercam será de grande valia para

criança no que diz respeito a sua percepção das pessoas, objetos, e símbolos

regulando sua maneira de se comportar ou lapidando seu processo de

cognição social e também apreendendo os conhecimentos necessários ao seu

Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

27

desenvolvimento. A família é um grupo social de papel impar no fator

socialização do indivíduo como também no para seu desenvolvimento

cognitivo. Ela realiza o papel de mediadora entre a criança e a sociedade na

qual ela está sendo inserida, sendo a primeira referencia para o

estabelecimento de relações com o mundo.

R.M. Souza relata que o papel da família é:

Vários fatores podem influenciar o desenvolvimento cognitivo da criança:

a escolaridade dos pais, a estimulação ambiental e o nível socioeconômico.

A relação conjugal tem papel de extrema importância na qualidade de

vida das famílias especialmente no que tange a qualidade do relacionamento

que os pais estabelecem com seus filhos (Gottman,1998).

Os relacionamentos hostis e agressivos têm relação com o

aparecimento problemas que se mostram mais claramente, por exemplo, a

percepção de um membro da família com características de TDAH. Problemas

como depressão e ansiedade são decorrentes da avaliação das crianças sobre

aqueles relacionamentos. Uma relação ruim entre os pais pode um gatilho que

dispara um perfil de stress na criança. O relacionamento dos pais e as relações

entre pais e filhos têm uma relação de estreita dependência uma vez que o tipo

de relação marital, seja ela saudável ou não, pode afetar tanto a maneira como

os pais tratam os filhos como também o contrário.

II.II.II – FAMÍLIAS COM CRIANÇAS COM TDAH

Um indivíduo com características de TDAH em convívio familiar pode ter

um prejuízo associado ao que já existe e também pode ser fator preponderante

nas relações entre os pais deste indivíduo.

É notório que famílias onde crianças com características de TDAH

convivem apresentam um nível de stress e conflitos no ambiente familiar de

“ O núcleo familiar realiza o papel de mediação entre a

criança e a sociedade, sendo, portanto, o meio básico

pelo qual a criança começa a estabelecer suas

relações com o mundo.”

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

28

maior proporção. Crianças com características de TDAH que convivem em

ambientes familiares com alguma disfunção têm os sintomas agravados e o

grau de prejuízo aumentado, ou seja, a adversidade social é um gatilho para a

o agravamento dos sintomas alicerçando então a maior dimensão do

transtorno. Assim é natural encontrar em pais de crianças com TDAH uma

relação mais conflituosa e, por conseguinte menos prazer no convívio.

É uma tendência que pais com filhos com TDAH se mostrarem

insatisfeitos com a sua capacidade de criá-los, sugerindo certa incompetência

para tal ato pois eles reagem de forma negativa ao comportamento desatento,

hiperativo e desafiador das crianças. Quando o transtorno de apresenta de

forma combinada, ou seja, elevada taxa de prejuízo acadêmico e maior

presença de sintomas de conduta, de oposição e desafio, o funcionamento

familiar pode se mostrar muito comprometido assim como a relação marital e

vice versa. Quando a relação familiar acontece de forma deteriorada existe a

possibilidade de que o TDAH também apareça de forma combinada. Ou seja,

uma coisa pode levar a outra e vice versa. Para o transtorno combinado as

famílias ficam mais expostas às adversidades familiares tais como conflito

marital, pais com transtornos psiquiátricos e alto nível de stress embutido nas

relações.

As dificuldades de relacionamento entre pais e crianças com TDAH gera

a necessidade das famílias em procurar profissionais para ajudar no

acompanhamento dos filhos e também na mediação desta convivência. Essas

famílias tem que experimentar o amargo sabor de uma convivência recheada

“ Entre os aspectos psicossociais relevantes relativos ao TDAH destaca-se o

estresse proveniente das dificuldades enfrentadas cotidianamente pelas

famílias que convivem com a síndrome e seu impacto na saúde psíquica

dessas pessoas. As dificuldades impostas pelos sintomas apresentados pelos

portadores desse transtorno geralmente dificultam-lhes a realização efetiva de

tarefas, o cumprimento de obrigações, o controle do comportamento, o

gerenciamento do tempo, entre outras exigências da vida cotidiana.”

(RIBEIRO, P.22)

Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

29

de tensão e discussão. Elas apresentam uma tendência a separação, conflitos

interpessoais, baixa auto-estima, depressão e uma carga de stress muito

grande nesses grupos sociais. O stress gerado pelo convívio gera indisposição

e muita impaciência por parte dos pais e dos demais membros da família.

Desta forma é fácil concluir que o contexto familiar apresentado o torna

conflituoso e extremamente exaustivo à todos os convivas, inclusive à criança

com características de TDAH.

As mães acabam carregando uma carga maior de stress pois são elas

que convivem a maior parte do tempo com a criança. Em nosso modelo social

elas são as grandes responsáveis pela educação dos filhos. Também são as

que recebem a maioria das queixas apresentadas em relação ao

comportamento tempestuoso da criança com TDAH. Assim elas podem

vivenciar mais do que os pais o sentimento de incompetência.

Corriqueiramente as mães têm a impressão de que essas crianças se

comportam melhor com os pais do que com elas. Provavelmente essa

impressão acontece, pois elas acabam tendo uma convivência maior com a

criança e os pais em razão do menor convívio acabam sendo mais permissivos

como forma de recompensar a ausência.

Existem evidências da relação de aparecimento de depressão,

ansiedade e problemas de fundo emocional em mulheres que são mães de

crianças com TDAH.

O desgaste familiar aparece quando as crianças com diagnóstico de

TDAH começam a apresentar as dificuldades em realizar tarefas simples que

seriam de sua responsabilidade mas de supervisão dos pais, por exemplo,

realizar o dever de casa, manter sua vida escolar minimamente organizada,

respeitar os horários da família entre outras coisas básicas que de maneira

geral acontecem quase que natural e automaticamente em outras

crianças.fazer essa roda girar torna-se uma tarefa extremamente desgastante.

Os irmão também são outra fonte de stress para ambos os lados uma vez que

eles toleram muito menos o comportamento das crianças com o diagnóstico de

TDAH do que os pais.,Normalmente gritam, argumentam com mais energia e

divergem de forma mais bruta. E ainda cobram dos pais a atenção dispensada

àqueles que tem o diagnostico de TDAH em detrimento àqueles que não o

Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

30

possuem. Não raro as comparações feitas pelos pais entre os irmão também

se tornam uma fonte de stress e acabam desregulando o equilíbrio do convívio

familiar.

Os irmãos podem se sentir vitimizados pelo comportamento agressivo

apresentado pelo irmão com diagnóstico de TDAH, cobrados pela expectativa

dos pais em que aqueles protejam os irmão com TDAH e também manifestam

sentimento de ansiedade, preocupação e tristeza.

Deve-se levar em conta outro fator que é de grande contribuição para o

destempero no convívio familiar.o TDAH é um transtorno de

neurodesenvolvimento de condição neurobiológica que pode ser transmitido

geneticamente. Logo não será espantoso encontrar em um dos pais os mesmo

sintomas de desatenção, impulsividade e até mesmo certa inquietação, menor

em pessoas com TDAH na medida em o tempo vai passando, uma vez que

eles se mantêm na vida adulta.

Quando o pai se vê impossibilitado de lidar com seus próprios limites

inibitórios ele acaba se defrontando com uma situação ainda mais desafiadora

que é a de dar limites ao seu próprio filho. Difícil missão para que não

consegue dar o exemplo.

As famílias que têm um componente com diagnóstico de TDAH podem

acabar por se isolarem socialmente. A dificuldade em manter os limites nas

crianças com TDAH faz com que a decisão tomada pela família seja

simplesmente a de não conviver com outras pessoas, seja em que ambiente

for. Não é só a vergonha pelo comportamento mas também o instinto de

proteger a criança da discriminação eminente em razão do seu comportamento

fora dos padrões sociais.

Os pais passam a perceber seus filhos como crianças carentes e

extremamente dependentes em decorrência do baixo convívio social a que são

submetidas. Isso pode acabar gerando nas crianças uma baixa auto-estima e

então uma irritabilidade maior, potencializando a impulsividade e assim o

sentimento dos pais aflora ainda mais, ou seja, cria-se um círculo vicioso. Tudo

isso gerando nos pais um sentimento em relação aos outros de desamparo,

solidão e rejeição pois os próprios familiares não se envolvem na questão.

Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

31

Forma-se então um paradoxo pois os pais enxergam as características de seus

filhos e assim tudo o que isso acarreta mas esperam que os outros, e eles

também, os vejam como crianças que não apresentam tais características.

Como se percebe, a saúde familiar fica muito comprometida. A

depressão e uso abusivo de álcool são um risco eminente em razão do stress

vivido.

A conta maior fica a cargo das mães. Elas apresentam altos níveis de

depressão, autocensura, isolamento social, baixa auto-estima e falta de prazer

no convívio com os filhos. Esse quadro se agrava em proporção ao

comportamento mais disruptivo dos filhos.

Essas conseqüências acabam por gerar nos filhos com diagnóstico de

TDAH um comportamento hostil em relação aos pais. Os sentimentos e

comportamento negativos dos pais em relação a esses filhos acabam gerando

um comportamento nos filhos uma reação emocional e um comportamento

disfuncional. Isso tudo acirra o conflito e acaba retroalimentando e aumentando

a apresentação dos sintomas do TDAH.

As crianças com diagnóstico de TDAH também não tem sua vida

facilitada, apesar da proteção exercida pelos pais. Elas precisam ir à escola e

ai começam a aparecer as primeiras dificuldades no processo de

aprendizagem. A desatenção e a inquietação contribuem negativamente no

processo. A falta de concentração, de organização para a realização das

tarefas é o estopim para que os conflitos comecem a explodir. Xingamentos,

ofensas, gritos ameaças e punições de toda natureza aparecem e então a

relação se deteriora, adoece. Não raro essas crianças ouvem dos pais palavras

de humilhação e desqualificação.

Na escola o quadro não é muito diferente. Inicialmente os colegas

acham interessante aquele comportamento inquieto da criança mas ao longo

da convivência começam a se perceber prejudicados por isso.e assim começa

o processo de rejeição até mesmo o buylling. A rejeição advinda daqueles que

se consideram iguais pode ser muito pior do que qualquer outra. O risco de

aumento dos problemas sociais, comportamentais e acadêmicos é iminente.

Vale lembrar que o espaço escolar além de ser um local onde se busca a

aprendizagem é também um local onde se busca o pertencimento a um

Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

32

determinado grupo social. É um dos primeiros lugares aonde a criança faz isso

por conta própria e assim não quando não consegue pertencer a nenhum

grupo acontece o seu insucesso individual. Quando isso não acontece em

razão de suas atitudes comportamentais aparece também a falta de disposição

em freqüentar a escola.

Em outros ambientes que não seja a escola também se apresentam

dificuldades de convívio com outras crianças. A inquietação e dificuldade em

aceitar regras de convivência acabam por gerar conflitos e rejeição por parte

das outras crianças. Isso faz com que a criança possa ter uma visão distorcida

do mundo. De si mesma e de outras pessoas.

O desenvolvimento das habilidades sociais fica comprometido na

medida em que as limitações oriundas do transtorno aparecem e se juntam as

reações de hostilidade, rejeição e discriminação que vem do ambiente.

As dificuldades no convívio social trazem prejuízos sociais, emocionais e

acadêmicos que somados a outras adversidades encontradas pelas crianças

com TDAH podem contribuir para o desenvolvimento de comorbidades.

Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

33

CAPÍTULO III

TRATAMENTO DO TDAH

É muito importante o processo de educação de todas as pessoas que

serão afetadas pelo TDAH. Esse trabalho deve ser feito de forma muito séria e

por profissionais qualificados, ficando de fora toda a informação informal sobre

o assunto. Neste caso leia-se televisão, internet etc.

Segundo Thomas W. Phelan, os pais devem ser os primeiros a receber

todas as informações pertinentes ao transtorno pois, em tese, são eles que vão

capitanear todo o processo com a criança e futuramente com o adolescente.

Os outros membros da família tais como irmãos, avós, tios que tenham uma

convivência estreita com aquele que apresenta os sintomas de TDAH, também

devem ser devidamente informados a respeito. Para ele os professores que

vão lidar com a criança ou com o adolescente também devem ter um bom

conhecimento operacional dos sintomas básicos, sob o risco de colocar o

tratamento em xeque.

O indivíduo que apresenta os sintomas também deve estar bem

informado sobre o que acontece com ele e com os demais para que o

tratamento não tenha sua eficácia comprometida. Phelan entende que todas as

atitudes que forem tomadas com a criança em relação ao tratamento deve ser

explicado a ela. Por exemplo, se ela tem uma aula de reforço ela deve saber

que o objetivo deste encontro é o de trabalhar sua caligrafia e também sua

habilidade matemática. O tempo de duração também deverá ser especificado

para a criança ou adolescente. As questões emocionais que podem surgir

durante o tratamento também devem ser esclarecidas com o indivíduo. O efeito

da medicação que será ministrada deve ser explicado. Estas medidas visam

proteger o tratamento dispensado ao indivíduo pois, se ele duvidar da eficácia

do tratamento o mesmo pode ser prejudicado e os efeitos desejados talvez não

apareçam.

Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

34

O tratamento direto se assim pode-se chamar do TDAH é feito de duas

formas: terapia comportamental e uso de medicamentos. Em seu livro, Mentes

inquietas, Ana Beatriz Barbosa Silva divide o tratamento em quatro grandes

etapas. São elas: informação, conhecimento e apoio técnico, medicamentosa e

psicoterapêutica.

A fase da informação consiste no fato de que quanto mais informação o

indivíduo e todos que o cercam tiverem sobre o TDAH mais capacitados todos

estarão para, primeiramente entender a história de vida daquele que apresenta

o sintoma e assim ,também, para contribuir efetivamente na elaboração de um

tratamento que seja eficaz e confortável.

O apoio técnico que aparenta ser uma rotina burocrática e complicada,

não é. Segundo Ana Beatriz B. Silva trata-se de um conjunto de pequenas

medidas e atitudes que acabam por criar, para aquele que apresenta os

sintomas de TDAH, uma estrutura externa que acaba por facilitar e muito o seu

cotidiano.a rotina vem compensar um pouco a desorganização interna do

indivíduo. São pequenas coisas como estabelecer horários regulares de maior

produtividade, de repouso, atividades físicas, organizar cronogramas das

atividades entre outras coisas. Inicialmente essa rotina não será tão fácil de ser

seguida mas com o tempo ela se tornará um hábito e o conforto proporcionado

será recompensador. A ansiedade e a sensação de incapacidade vão diminuir

e com ela a auto-estima começa a melhorar. A produtividade também vai

melhorar.

O tratamento medicamentoso pode ser um terreno complicado de pisar

pois, trata-se de assunto sempre muito controverso por envolver o uso de

medicamentos (drogas) que podem alterar as funções cerebrais. Porém,

ocorre que o uso de medicamentos traz ao indivíduo com sintomas de TDAH

um conforta maior no convívio com o transtorno, contribuindo de maneira

radical na melhora de sua vida.

É importante definir os alvos do tratamento, que muitas vezes

ultrapassam os sintomas primários do TDAH, o histórico de comprometimento

funcional pode se associar a diversos aspectos. Em casos de comorbidade,

surge a necessidade de combinar alguns remédios.

Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

35

Segundo o Doutor Paulo Mattos a dose inicial da medicação deve ser

mais baixa, sendo ajustada gradualmente conforme a resposta clínica do

paciente. Deve-se buscar a remissão total do TDAH e comorbidades, quando

for o caso, ou chegar à maior dose tolerada pelo paciente. Encontrar a

dosagem ideal pode levar algum tempo.pois não há uma receita padrão que se

aplique para todos os casos como em algumas situações médicas.

As drogas psicoestimulantes têm sido as de escolha para o tratamento

do TDAH (Gillberg, Melarder & von Knorring, 1997). Diversos estudos bem

controlados têm demonstrado a eficácia do metilfenidato tanto para crianças,

como adolescentes e adultos (Gillberg & cols., 1997). Em alguns casos são

usados também antidepressivos.

Segundo Ana Beatriz B. Silva o uso de psicoestimulantes no tratamento de

pacientes que apresentam um comportamento de hiperatividade e/ou

impulsividade pode parecer contraditório, mas não é. Essas drogas produzem

aumento na concentração e diminuem a impulsividade e a hiperatividade. Elas

atuam em uma área do cérebro que teriam uma ação inibitória sobre o

pensamento humano, capacitando assim as atividades de planejamento,

previsão, análise de conseqüências e ponderação. Segundo o DR. Paulo

Mattos, estudos neuropsicológicos demonstram que as medidas de atenção,

impulsividade, aprendizado, processamento de informação, memória de curto

prazo e vigilância são grandemente melhoradas. A principal desvantagem do

metilfenidato é ter curto efeito de ação, sendo necessário de três a quatros

doses no dia. Os principais efeitos colaterais são a diminuição do apetite,

insônia, irritabilidade, cefaléia e tontura. A medicação poderá ser suspensa

após um ano assintomático, de preferência nas férias escolares e a criança ou

o adolescente será observado para a necessidade de reintrodução da

medicação

No caso dos antidepressivos, a desipramina é o composto mais usado.

De acordo com o livro de Ana Beatriz B. Silva, algumas pesquisas afirmam

que o seu uso terapêutico revela resultados muito próximos ao do

metilfenidato. Tem a vantagem de poder ser tomada em dose única diária, pois

sua meia-vida é maior. Mostram-se mais eficazes em baixa posologia o que

diminui a possibilidade efeitos colaterais. Porém o Dr. Paulo Mattos diz que sua

Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

36

eficácia é inferior à dos psicoestimulantes, mas podem ter seu emprego

experimentado naqueles pacientes que não responderam aos

psicoestimulantes ou não toleraram seus efeitos colaterais. Porém a

desipramina não está disponível no Brasil.

A duração média de uso dos medicamentos está entre dois e sete anos,

dependendo da idade da criança (Safer & Zito 2000).

A eficácia comprovada do uso de medicamentos no tratamento do TDAH

e ao seu amplo uso demandam o quão importante é o conhecimento e a

familiarização do pessoal da escola com os tipos de medicamentos usados no

tratamento do TDAH, possíveis efeitos colaterais e comportamentos

associados a esses medicamentos, fatores a considerar quando se recomenda

testes com medicamentos para determinadas crianças, métodos para

avaliação da resposta ao tratamento nas escolas, formas de comunicação de

dados de avaliação aos médicos e outros profissionais da área médica e

limitações da farmacoterapia.(DuPaul&Stoner, 2007)

No Brasil, o consumo do medicamento metilfenidato, utilizado no

tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH),

aumentou 75% em crianças com idade de 6 a 16 anos, entre 2009 e 2011.É o

que apontam os dados do Boletim de Farmacoepidemiologia da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Boletim apresenta o panorama da prescrição e consumo de metilfenidato no

Brasil, nos anos de 2009 a 2011. Os dados foram coletados a partir dos

registros do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados

(SNGPC) da Agência.

Alguns dados importantes e significativos que constam no boletim. Em

2009, foram vendidas 156.623.848 miligramas (mg) do medicamento. Já em

2011, o mercado atingiu um montante de 413.383.916 mg do produto.

O boletim aponta ainda que, em 2011, foram comercializadas 1.212.850 caixas

do referido medicamento nas farmácias e drogarias do país. Esse número

representa uma alta de 28,2 % em relação a 2009 (557.588 caixas de

metilfenidato), já considerando o aumento do fluxo de informações recebidas

pelo sistema da Anvisa neste período.

Page 37: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

37

No Distrito Federal, foi registrado o maior consumo de metilfenidato no

triênio estudado pela Agência. Na capital, foram comercializados, em 2011,

mais de 114 caixas do medicamento para cada mil crianças. Esse número

representa um aumento de aproximadamente 30%, no consumo do produto na

comparação de 2009 com 2011.

Na região Norte, Rondônia obteve o maior consumo de metilfenidato,

entre 2009 e 2011. Já na região Sul, o Rio Grande do Sul lidera o ranking de

consumo no triênio estudado. O estado do Piauí liderou o consumo do produto

na região Nordeste, em 2009 e 2011. Na região Sudeste, em 2011, o maior

consumidor do medicamento foi o estado de Minas Gerais.

A terapia comportamental combinada com tratamento farmacológico é

muito mais efetiva que a terapia isolada. Contudo, terapia comportamental

implementada em um ambiente bem estruturado pode permitir o uso de doses

mais baixas da medicação (Abikoff & Gittelman , 1985).

Algumas correntes são contrárias ao uso de terapia como tratamento

para o TDAH. Segundo Thomas W. Phelan há alguma controvérsia a respeito

do aconselhamento psicológico para crianças com TDAH. Muitos acreditam

que essas crianças necessitam de aconselhamento ou psicoterapia. Porém o

fato da estratégia parecer necessária e lógica, nem sempre significa que se

trata de uma boa idéia. Para Phelan dois fatores tornam difícil este tipo de

tratamento para crianças com TDAH. Inicialmente o que dificulta são as

próprias características que levam ao diagnóstico de TDAH. Isso a torna uma

má candidata a terapia uma vez que, se ela culpa a todos pelo seu problema,

não presta atenção durante e sessão e, por fim, esquece tudo o que foi

discutido ao chegar a casa.

Além disso, pesquisas indicam que os sintomas centrais do TDAH –

desatenção, hiperatividade e impulsividade – não respondem ao

aconselhamento nem a psicoterapia (Phelan, 2005).

Mas ainda assim é importante o aconselhamento com profissionais do

ramo em sessões regulares. O terapeuta funciona como uma forma de monitor

do tratamento e também aquele que dá apoio moral, educação contínua sobre

o TDAH, mediação e ajustes no plano global de tratamento. O terapeuta será,

de certa maneira, um porto seguro pois ela vai ouvir a criança com atenção, de

Page 38: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

38

maneira simpática e vai apontar suas boas qualidades. Tudo isso vai reforçar a

auto-estima, que está tão prejudicada.

Segundo Ana Beatriz B. Silva a terapia mais indicada ao indivíduo com

TDAH e a terapia cognitivo-comportamental por tratar-se de uma terapia

diretiva, objetiva, estruturada e orientada a metas. As psicoterapias voltadas

para o insight e discussão de vivências infantis não promovem o alívio do

desconforto nem a estruturação necessária ao paciente com características de

TDAH.

Este tipo de abordagem psicoterápica caracteriza-se pela busca de mudanças

nos afetos e comportamentos por meio da chamada reestruturação cognitiva,

ou seja, a substituição de crenças, pensamentos e formas de interpretar

situações, que sejam negativistas e disfuncionais, por outras formas de pensar

e perceber o mundo, menos depressivas e ansiosas e mais baseadas na

realidade. O terapeuta ajuda no planejamento das tarefas de casa com a

instrução direta de realizá-las. O planejamento do enfrentamento de situações

que o indivíduo pensa ser impossível enfrentar, o estabelecimento de uma

agenda com a finalidade de estabelecer uma rotina de prazer e satisfação

também pode ser desenvolvido em conjunto com o terapeuta.

Ana Beatriz B. da Silva em seu livro, Mentes Inquietas resume da

seguinte forma a essência do tratamento:

Segundo Thomas Phelan o terapeuta deve estabelecer uma relação de

confiança e cooperação com o paciente e, assim, juntos estabelecer metas

para a terapia. O terapeuta deve ser flexível o bastante para ajustar as técnicas

psicoterápicas ao seu paciente, sem jamais deixar de perseguir os objetivos

estabelecidos para o tratamento em função das necessidades e demandas

dele e as especificidades de seu transtorno.

Assim, resumidamente, o paciente, além de ser

educado sobre seu problema, também é instruído

a mudar comportamentos e formas de interpretar

e perceber situações que sejam irrealistas e

desadaptativas e que estejam contribuindo para

manter ou agravar o seu problema, ou mesmo

deflagradoras de seu transtorno

Page 39: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

39

De acordo com Ana Beatriz B. Silva o terapeuta cognitivo-

comportamental irá trabalhar vários tipos de treinamento com seu paciente.

O treino em solução de problemas que visa minimizar comportamentos

impulsivos que estejam influenciando negativamente seus afazeres cotidianos

seu resultado será discutido com terapeuta de formas objetiva. Assim o

paciente habitua-se a ponderar cuidadosamente ao invés de reagir de forma

impulsiva sem avaliar as consequências. Outro objetivo importante seria o

aumento de tolerância a frustração. Minimizar a crise de ansiedade que assola

o indivíduo a cada vez que ele tem que cumprir algo ou resolver um problema

também é importante. A ansiedade pode deixar o indivíduo com TDAH

paralisado ou até mesmo adiar a solução do problema, fato que aumenta a

ansiedade.

O treino em habilidades sociais tem por objetivo a melhoras das relações

minimizando o impacto de atitudes e falas impulsivas e irrefletidas que criam

dificuldade nos relacionamentos. Nesta feita o indivíduo com TDAH é instruído

a planejar passo a passo, formas de abordar e resolver problemas de interação

além de compreender o ponto de vista dos outros e não interpretar

precipitadamente suas atitudes e intenções. Isso perpassa pelo fato que ele

deve defender seu ponto de vista e direitos de forma respeitos e ponderada.

O treino de relaxamento tem o objetivo de minimizar o impacto da

ansiedade e de suas manifestações físicas tais como taquicardia, tensão

muscular, tremores etc. nele é contemplado também a reeducação postural, da

respiração e a utilização de uma técnica de relaxamento que seja confortável

para o paciente.

No quesito estabelecimento de agendas de atividades rotineiras

contempla a elaboração e a formalização de uma rotina das atividades diárias

do indivíduo com características de TDAH. Nestas atividades não estão

incluídas apenas as obrigações escolares mas também os horários de lazer e

até das atividades físicas. Esta agenda vai organizar as tarefas de modo a

impedir o indivíduo de enredar-se em sua própria desorganização e assim fique

alternando de uma atividade inacabada para outra. Os benefícios de ter e

também de seguir a agenda elaborada ficam evidentes no aumento da

produtividade e também no aumento do senso de autodomínio que o individuo

Page 40: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

40

com características de TDAH passa então, a experimentar. A diminuição do

senso de caos interno é muito importante para o paciente.

Segundo Ana Beatriz B. da Silva, a reestruturação da forma de pensar,

ou melhor, a reestruturação cognitiva é uma das etapas mais importantes do

processo. Mexer na forma de pensar, de interpretar os eventos e também na

forma como ele vê a si mesmo é tarefa árdua, mas também de suma

importância. O ponto que gera maior desconforto ao indivíduo com

características TDAH é a sua baixa auto-estima. Ele se vê como incompetente,

e o mundo que ele habita como ameaçador e punitivo. Os efeitos deste fato

são arrasadores na vida do indivíduo pois, como já foi dito sua capacidade

intelectual é boa, sua energia para realizar coisas é interminável porém nesse

ambiente ela fica subaproveitada em razão das crenças autodesvalorizantes.

Os efeitos são tão arrasadores que o indivíduo não consegue enxergar sua real

capacidade de realizar coisas e ainda o seu valor como ser humano. Seu bom

senso fica extremamente prejudicado e sua capacidade de ver o lado positivo

das coisas fica anulada. Só os aspectos negativos se sobressaem.

A técnica guiada de descoberta, os questionamentos e as conclusões

mais acertadas de si mesmo são os caminhos escolhidos pelo terapeuta. Toda

a argumentação do terapeuta é baseada em evidências que o indivíduo não

consegue enxergar. A tendência de supervalorizar fatos é objeto de

desconstrução por parte do terapeuta.fazer com que o indivíduo perceba a

freqüência com que determinados fatos, que para ele são péssimos,

acontecem não fazem dessa sensação uma verdade absoluta.

Ana Beatriz B. da Silva conclui da seguinte forma

“ Assim, o terapeuta precisa saber conduzir o paciente

TDAH, baseado em evidências concretas, a reformular

alguns conceitos negativos de si mesmo, que acabam

levando-o a interpretar as situações como mais perigosas

e ameaçadoras do que são na realidade, trazendo,

consequentemente, um grau de sofrimento

significativamente desproporcional aos problemas

enfrentados em seu cotidiano”

Page 41: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

41

CONCLUSÃO

O TDAH é um transtorno no desenvolvimento do autocontrole,

marcado por déficits referentes aos períodos de atenção, ao manejo dos

impulsos e ao nível de atividade (Barkley, 2002). Caracteriza-se pela

dificuldade de manter a atenção, agitação, fatores que podem resultar em

hiperatividade e impulsividade.

Estas características podem dificultar o processo de aprendizagem

por parte de seu portador, porém não inviabilizam o mesmo. Muitas famílias e

também muitos especialistas estão banalizando o diagnóstico na medida em

que qualquer aluno que preencha alguns dos pré-requisitos é imediatamente

rotulado como portador do distúrbio.

O intuito aqui, entre outras coisas, foi o de mostrar que é possível

ter uma vida escolar normal e ainda que o processo de aprendizagem não será

inviabilizado.Porém para que isto ocorra é muito importante que o diagnóstico

seja feito por profissionais sérios, que tenham compromisso com a verdade e

que de fato estejam dispostos a ajudar aquele quer foi diagnosticado com

TDAH a ter uma vida relativamente confortável com ele, lançando mão de

todos os recursos disponíveis para tal.

O TDAH é um tipo de transtorno que já se conhece há muito tempo

e por isso, por achar que se tem amplo domínio do assunto, os diagnósticos

podem ser dados de forma rápida. Esta impressão equivocada, de amplo

domínio do assunto tende a criar várias armadilhas para todos àqueles que

estão envolvidos no processo de diagnóstico e acompanhamento do indivíduo

com características de TDAH.

O processo de aprendizagem se mal conduzido pode ficar

prejudicado. As próprias características do transtorno – desatenção,

hiperatividade, impulsividade – já criam por si só as dificuldades para a

aprendizagem. O fato do individuo, que traz características de TDAH, ter uma

capacidade intelectual igual à de qualquer outro estudante precisa ficar clara

para ele. Uma boa condução do processo de aprendizagem na criança com

características de TDAH, certamente dará origem à um adulto melhor, pois sua

auto-estima será menos afetada uma vez que sua performance acadêmica foi

satisfatória e ainda ele vai concluir todo o ciclo de estudos dos três níveis de

Page 42: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

42

ensino proposto pelo modelo educacional brasileiro. Essa conclusão dá ao

indivíduo a certeza de que, apesar de trazer com ele uma característica que

poderia prejudicá-lo, ele foi através de seu esforço o vencedor do processo.

As famílias desses indivíduos, assim como eles, também carregam

uma carga de sofrimento muito grande. Tão grande que ela é capaz de afetar

as relações entre pais que tem filhos com características de TDAH. O índice de

separações entre casais que têm filhos com características de TDAH é muito

grande.

Outro fator que fica muito claro é sensação de impotência e de

incompetência que estes mesmos pais enfrentam diuturnamente na relação

com seus filhos que apresentam o diagnóstico de TDAH.

Os demais membros da família também têm a sua parcela de

sofrimento e ajuda na baixa auto-estima do indivíduo. Os colegas de colégio e

das demais atividades também passam pelas mesmas situações.

A família adoece junto e muitas vezes já não é mais possível catar

os cacos das relações que se partiram. Mais uma vez uma competente ajuda

externa será de grande valia nestes casos, pois, de certa maneira o paciente

principal passa a ter uma vida prática normal e a família fica com o ônus de, em

segundo plano, administrar suas relações e suas possíveis perdas

É muito importante que todas as áreas envolvidas no processo o

conheçam profundamente. Este assunto deve ser discutido de forma clara,

primeiramente porque aqueles que têm o diagnóstico tem o direito de passar

por isso de forma confortável e ainda para que não haja a banalização do

diagnóstico com a administração de drogas de maneira indiscriminada

As pesquisas mostram um aumento significativo do consumo de

metilfenidato no país nas últimas décadas. Esse fator pode ser motivo de

preocupação no caso da droga estar sendo ministrada de forma indiscriminada

na razão em que os diagnósticos estão sendo feitos a “toque de caixa”.

Tudo o que a família e escola fizerem com compromisso e atenção

será de grande valia para o indivíduo com características de TDAH que já leva

uma vida tão difícil.

O que para uns é uma simples rotina de organização de tarefas para

ele é um trabalho hercúleo que pode comprometer toda sua capacidade de

Page 43: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

43

aprender e apreender conhecimentos gerando feridas no âmbito psicológico

que certamente deixarão cicatrizes profundas na existência deste indivíduo.

“ Limito-me a sugerir que certos aspectos do processo da emoção e do sentimento

são indispensáveis para a racionalidade. No que têm de melhor, os sentimentos

encaminham-nos na direção correta, levam-nos para o lugar apropriado do espaço

de tomada de decisão onde podemos tirar partido dos instrumentos da lógica.

Somos confrontados com a incerteza quando temos de fazer um juízo moral,

decidir o rumo de uma relação pessoal, escolher meios que impeçam a nossa

pobreza na velhice ou planejar a vida que se nos apresenta pela frente. As

emoções e os sentimentos, juntamente com a oculta maquinaria fisiológica que

lhes está subjacente, auxiliam-nos na assustadora tarefa de fazer previsões a um

futuro incerto e planejar as nossas ações de acordo com essas previsões.”

DAMÁSIO, P. 9

Page 44: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

44

BIBLIOGRAFIA

ABNT. Apresentação de relatórios técnico-científicos. Rio de Janeiro, 2001.

ABNT. Referências Bibliográficas. Rio de Janeiro, 2001.

ABNT. Apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, 2001.

CAPOVILLA, A. G. S., Assef, E. C. S., & Cozza, H. F. P. Avaliação

neuropsicológica das funções executivas e relação com desatenção e

hiperatividade. Aval psicol, 6, (2007)

DAMASIO, Antonio R.. O erro de Descartes. Emoção, razão e o cérebro

humano.São Paulo. 2º ed. Companhia das Letras, 1996

DSM – 5 – Manual Diagnóstico de e Estatístico de Transtornos Mentais – 5º

edição.Porto Alegre, 2014

DUPAUL, George J; STONER, Gary. TDAH nas escolas, 1º ed. São Paulo M.

Books do Brasil, 2007

GOTTMAN J.M.. Psychology and tha study of marital processes. Annual

Rewiew of Psychology, 49-169-197, 1998

GUILHERME, Priscilla Rodrigues; MATTOS Paulo; SERRA – PINHEIRO, Maria

Antonia; REGALLA, Maria Angélica. Conflitos conjugais e familiares e presença

de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na prole. J Bras

Psiquiatria 53 (3), 201-207, 2007

MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua - Perguntas e Respostas Sobre Transtorno

do Déficit de Atenção Com Hiperatividade. 16º ed. Rio de Janeiro, ABDA, 2015

OLIVIER, Lou de. Distúrbios de aprendizagem e de comportamento. 6º ed. Rio

de Janeiro: Wak, 2011

PHELAN, Thomas W.. TDA/TDAH – Transtorno do déficit de atenção e

hiperatividade, 1º ed. São Paulo. M. Books do Brasil, 2005

RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação. 4ª. ed. Rio de

Janeiro: Wak, 2009.

RIBEIRO, Vânia de Morais. O TDAH na família e na sociedade.1º Ed. São

Paulo: Casapsi, 2014

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Inquietas. Entendendo melhor o mundo

das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas..2º ed. São Paulo 2003

Page 45: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

45

SOUZA, R.M.. A criança. A família em transformação: um pouco de reflexão e

um convite a investigação. Psic Ver 5 33-51, 1997

Page 46: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEm casa, com a família os aborrecimentos para ambas as partes se repetem. Os rótulos e estereótipos também assombram o indivíduo,

46

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I O TDAH 10 1.1. Um pouco de história 11 1,2 Um transtorno de neurodesenvolvimento 15 1.3 O diagnóstico 15 CAPÍTULO II TDAH - APRENDIZAGEM E FAMÍLIA 22 2.1. TDAH e aprendizagem 22 2.2. O TDAH na família e na sociedade 26 2..2.1 Desenvolvimento infantil X estrutura familiar 26 2.2.2. Famílias com crianças TDAH 27 CAPÍTULO III TRATAMENTO DO TDAH 33 CONCLUSÃO 41 BIBLIOGRAFIA 44 ÍNDICE 46