Joao Luiz de Almeida Carneiro - TESE Academia No Terreiro Ou Terreiro Na Acadêmia
DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO · PDF file( enfatiza que a religião ......
Transcript of DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO · PDF file( enfatiza que a religião ......
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A instituição religiosa (Candomblé): Um estudo
comparativo sobre modelos de negócio e seus padrões
organizacionais na cidade do Rio de Janeiro
Por: Márcia Ferreira de Azevedo
Orientador
Prof. Mário Luiz
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A instituição religiosa (Candomblé): Um estudo
comparativo sobre modelos de negócio e seus padrões
organizacionais na cidade do Rio de Janeiro
Apresentação de monografia à AVM
Faculdade Integrada como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Gestão
Empresarial
Por: Márcia Ferreira de Azevedo
3
AGRADECIMENTOS
A meu filho João Victor, por
ser minha inspiração e o meu incentivo.
A minha coaching Flávia Cabral, pelo
apoio e a contribuição, direta e indireta
para confecção desse trabalho
acadêmico. E por fim, a Olodumare e
aos orixás por quem minha fé só
aumenta a cada dia mais.
4
DEDICATÓRIA
A todos os Babalorixás e
Iyalorixás, que muitas das vezes abdicam
de suas vidas pela causa nobre de zelar
por uma família tão complexa como a
família de santo, principalmente ao meu
Babalorixá Jorge ty Odé, e por todos
segundos dedicado a mim e aos meus
ancestres.
5
RESUMO
Este trabalho apresenta a forma pela qual o Candomblé na cidade
do Rio de Janeiro encontra-se estruturado administrativamente, realizando uma
análise quanto à utilização da Ciência da Administração e a aplicação de suas
ferramentas. A escolha do tema deve-se ao fato de ser uma religião de
pequenos grupos e denominados terreiros ou “roças”, por possuir uma
estrutura hierárquica organizada, uma forte influência social, histórica e
econômica. Além disso, similaridades gerenciais a de uma organização
tradicional, principalmente no que se refere ao poder de decisão centralizado
na mãe e pai de santo. Compreender como funciona a sua gestão, já que não
conta com qualquer organização institucional eficaz que unifique ou permita
uma ordenação mínima capaz de estabelecer planos e estratégias comuns na
sua relação com as outras religiões e o resto da sociedade. E também,
entender qual o impacto que esta gestão devidamente organizada terá na
cidade do Rio de janeiro, já que é sabido que o seu papel religioso e cultural é
de suma relevância.
6
METODOLOGIA
De acordo com a citação de Junior, Vilar, Lucena e Souza (2009,
p.7), a definição metodologia para Santos (2000), que é um conjunto de
procedimentos necessários para a realização de uma pesquisa científica e
emerge, a partir das antecipações mentais, o momento em que se inicia o
processo de racionalização das ações em torno da questão a ser solucionada.
O autor ainda cita Descartes, ao afirmar que este é o caminho a seguir para se
chegar à verdade nas ciências.
A princípio, foi realizada uma investigação básica com a finalidade
de responder questões sobre o comportamento, características e os meios
referentes ao objetivo da pesquisa (Cozby, 2003), ou seja, constatar as práticas
administrativas realizadas dentro das entidades do Candomblé. Este estudo é
para averiguar quais são os mecanismos utilizados pelos seus gestores dos
terreiros localizados na cidade do Rio de Janeiro, e que tipo de formação os
mesmo possuem para efetivar tais habilidades administrativas.
Para isso, foram realizadas pesquisas bibliográficas visando coletar
dados e relatos em livros, periódicos e publicações (teses, monografias e
demais artigos), e tais estudos objetivaram construir uma base teoria na área
administrativa para, posteriormente, servir de apoio as entrevistas que foram
efetuadas aos líderes de cada terreiro, e também para as observações quanto
à rotina administrativa vivida por cada roça, que ocorreram em dias e horários
variados, de acordo com as disponibilidades dos entrevistados.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................... 8
CAPÍTULO - Contextualização - Instituição Candomblé .............. 10
1.1 - Conceito - Candomblé
2.2 - Estrutura Legal
1.2.1 - Conceito
1.2.2 - Legalização
CAPÍTULO II - Comparação: Empresa (Candomblé) e a Empresa
Tradicional ............................................................................ 22
CAPÍTULO III – Modelo de Negócio ..................... ...... 25
CONCLUSÃO ............................................... 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................... 32
ANEXO ........................................................................................... 34
INDICE ............................................................................................ 35
8
INTRODUÇÃO
Antes mesmo a sua criação, o Candomblé enfrentou obstáculos para
preservar seus preceitos religiosos, utilizando de inúmeras estratégias como
resistência, principalmente contra o poder da igreja e a opressão do Estado. A
constituição destas táticas, primeiro misturando o culto aos orixás ao culto dos
santos católicos para ser brasileiro, forjando-se o sincretismo; depois apagou
elementos negros para ser universal e se inserir na sociedade geral, gestando-
se a Umbanda e finalmente, retomou origens negras para transformar o
Candomblé em religião para todos, iniciando um processo de africanização e
dessincretização, para alcançar sua autonomia em relação ao catolicismo. Tais
métodos garantem a legitimidade administrativa do Candomblé,
essencialmente nos tempos atuais, conforme Prandi (2004, p. 224), quando o
candomblé enfatiza a idéia que a competição na sociedade é bem mais aguda
do que se pode pensar, e para isso é preciso que seus adeptos elevem seus
conhecimentos religiosos a níveis mais densos e cifrados. Ensina que não há
nada a esconder ou reprimir em termos de sentimentos e modo de agir, com
relação a si mesmo e com relação aos demais. E atua como agência de
serviços mágicos que é, atendendo uma larga clientela de não adeptos, através
dos jogos de búzios, dos ebós e entre outros, na oferta possível de encontrar
solução para problema não resolvido por outros meios. Na qualidade de uma
organização sem fins lucrativos (ou econômico), conforme Chiavenato (1994),
pertencente ao terceiro setor, o Candomblé enfrenta o maior problema que é
de adaptar-se ao paradigma de utilização de técnicas apropriadas para sua
gestão, que exige habilidade para aquisição e alocação dos recursos bem
como seu controle, devido não ter nehum projeto novo de expansão e de
reorientação num quadro religioso extremamente complexo.
Diante desse pressuposto, quais seriam as práticas realizadas por
essa estrutura organizacional? Como seriam abordados os aspectos referentes
à transparência, controle, avaliação de desempenho e comunicação dentro
dessas entidades? Em busca de respostas a essas perguntas, foram
abordadas características administrativas bem como suas definições, a
9
contextualização histórica do Candomblé, o processo de institucionalização e
legalização, com mapeamento dos terreiros em funcionamento. Trata-se de
uma pesquisa bibliográfica, com dados já mencionados em publicações de
artigos científicos, tese e monografias, vinculados a um estudo de caso,
visando à obtenção de um conhecimento mais aprofundado, referente à
entidade em análise.
10
CAPÍTULO I
CONTEXTUALIZAÇÃO – INSTITUIÇÃO
CANDOMBLÉ
1.1 – Conceito histórico - Candomblé
Segundo Barros (2005) o Candomblé é o resultado de diversas
culturas africanas e produto de inúmeras afiliações que permitiu várias
ramificações (Jeje, Ketu e Nagô). Caracterizado como uma extraordinária
resistência a perseguição e intolerância às forças de alienação e de extermínio,
o que possibilitou a reconstrução cultural e social do negro e a ressiginificação
de identidade da África e do Brasil. (Verger, 1997, p.16)
A chegada constante de africanos de uma mesma região ao território
brasileiro, especificamente ao meio urbano, concluiu Barros (2005), que foi
fator relevante de persistência, permitindo à formação de núcleos ligados a
preservação de sua cultura. Conforme o autor cita (2005, p.25), Cicciatore
(1988), afirma que a origem étnica (Bantus e Sudanês) desses negros, esta
relacionada à organização do culto aos orixás, principalmente os elementos
sudaneses para formação dos Candomblés Nagô/Ioruba, Jejê, Jejê-nagô e
Mina-jejê. Quanto ao perfil da sociedade negra carioca do final do século XIX é
identificado por Barros (2005), nas crônicas de João do Rio (1951-1987), como
uma população composta principalmente pelos negros baianos, que através da
migração interna, eram atraídos pelas condições da cidade, pelo fato de ser a
capital da republica e a sua fama de tolerância.
“(...) A lei não é escrita, ela está no costume, na consciência e no coração de todos que partilham desse universo que se chama o povo de santo. (...)” (Miranda, 2001)
11
Esses migrantes, conforme afirma Barros (2005), instalaram-se nas
áreas mais antiga da cidade, como perto do Cais do porto, Saúde e Gamboa,
devido à facilidade de encontrar emprego na estiva. Foram residentes dos
velhos casarões abandonados pelos setores dominantes, e que facilmente
transformaram-se em cortiços, ou vulgarmente conhecidos por “cabeças-de-
porco”. Com a modernização da cidade, essa população juntos com seus
preceitos religiosos foram obrigados a ocupar os subúrbios cariocas como
Madureira, Coelho da Rocha, entre outras localidades da Baixada Fluminense,
instalando assim definitivamente seus terreiros de candomblé. Carregadas de
problemas, essa instalação trouxe favorecimentos em dimensões importantes
para o povo de santo: a proteção contra os curiosos, os laços estreitos do
homem com a natureza e a redução da perseguição policial.
A Historiadora Cabral
(http://www.brasilescola.com/religiao/candomble.htm) enfatiza que a religião
Candomblé é de culto aos Orixás, que são deuses supremos ligados a
natureza, de personalidade e habilidades distintas, e sua omissão em santos
católicos foram devido à condenação feita pela Igreja que tinha o apoio do
governo, e julgava esse culto um ato criminoso. Religião de linhagem
exclusivamente matriarcal (quando somente as mulheres detêm do poder de
liderar, do profundo conhecimento dos mistérios e/ou segredos da religião e da
função de receber os orixás), é destacada pela antropóloga Landes (2002) que
somente a partir de 1930, os homens além de exercer seu papel de ogã1
(financiar as casas de santo, com a matança, os instrumentos e cantos)
passam a receber os santos. Esses “rodantes” conseguem abrir suas casas de
santo e obtém grande influencia entre a população. Essa linhagem torna-se
então mista, permitindo a liderança tanto pelo pai como pela mãe de santo,
assim como assumir outros cargos dentro dos terreiros.
1 Cargo masculino, em que os homens são escolhidos pelo orixá desde o nascimento para
atender direto o orixá que o escolheu. (Beniste, 1997, p.243)
12
Em sua tese, Pacheco (2010) constata também que a religião possui
preceitos que envolvem a prática ritualística no modo de agir, nas interdições,
dentro dos terreiros e perante o mundo. Ressalta ainda que a instituição
organiza-se com base na hierarquia conquistada pelo tempo de participação
(nesse aspecto não é considerado o conhecimento técnico/acadêmico) e
também pela determinação dos orixás. Suas elucidações destacam que esta
hierarquia é vertical e, o alcance do “alto escalão” ocorrerá após percorrer o
período determinante do processo "iniciático" da ritualística do Candomblé.
Essas afirmações permitem, de acordo com Nunes (2008), identificar
similaridade com a estrutura organização tradicional, em que a hierarquia é
aplicada para designar a cadeia de comando que se inicia nos gestores de topo
e segue até aos trabalhadores não gestores, passando sucessivamente por
todos os níveis da organização.
Entretanto, esse comparativo da estrutura administrativa da
instituição Candomblé com de uma organização tradicional será mais bem
apresentada no próximo capítulo. Para mestra Pacheco (2010) os cargos
disposto existentes na religião permitem a cada membro conhecer o seu lugar
devido na comunidade que pertençe. Segundo Benistes (1997), eles são:
v Abiã
Cargo dado a toda pessoa que passou pelo rito do “Bori” 2. Possui
responsabilidade bem restrita dentro do terreiro, que se limita apenas a limpeza
e manutenção do ambiente. É nesse momento que avalia todos os prós e
contras na decisão de tornar-se membro efetivo da doutrina e da hierarquia da
casa de santo.
v Iyawo´s ou Adosu
2 Bori - rito de fortalecimento ao ori (cabeça) – primeira obrigação que se faz numa pessoa
antes de qualquer coisa que se faça ao orixá – (Beniste, 1997, p.143)
13
É a pessoa que passou pelo rito de iniciação, “fez o santo”. Até
que se completem os sete anos de iniciado, mesmo que receba alguma
“promoção”, será este seu cargo. Serão durante estes anos que aprenderá e
colocará em prática os ensinamentos que permeiam a religiosidade e a
doutrina da casa de santo, a qual é parte integrante.
v Egbomi´s e/ou Olóyè
É o iniciado que completou sete anos. São auxiliares nas
tarefas e no bom funcionamento do terreiro. É dele que parte a maior parte do
aprendizado dado aos abiã ou iyawo´s.
v Ekeji`
Ekeji, cargo feminino, assim como Ogãs, as mulheres são
escolhidas pelo orixá desde o nascimento para ser sua imediata quando
presente na terra.
Hierarquicamente sua responsabilidade, esta abaixo a do pai de
santo e, acima dos Egbomi´s, cabendo as questões estratégicas e as relações
públicas.
Por fim,
v Babalorisá ou Iyalorisá
É a autoridade máxima dentro da hierarquia, responsável pela vida
religiosa de toda comunidade. Procede com a iniciação seja de iyawo, ogã ou
ekeji, atribui Oloye, oficializa todas as obrigações posteriores a iniciação.
Quem detém de toda administração do terreiro.
14
2.2 – Estrutura Legal
1.2.1 – Conceito legal
No seu artigo publicado no site Brasil Escola
(www.brasilescola.com/religiao/candomble), o historiador Sousa (2011)
expõe que a importância da religião para seu povo, vai além do encontro
com o sagrado:
Como qualquer outra entidade, o candomblé entende a
solidariedade como atividade indissociável da prática religiosa. Vallado (2010)
afirma como um dos princípios básicos da lei do santo: o de ajuda mútua
dentro do grupo. E para atender essas e outras necessidades da população,
Oliveira (2002) descreve que as instituições religiosas, enquanto organizações
sem fins lucrativos encontram-se ligadas ao terceiro setor, e este a cada dia é
mais crescente em tamanho e importância na vida cotidiana. Rothguesser
(2002) declara que o terceiro setor são iniciativas privadas e de esfera pública
que não são feitas pelo Estado e nem visam lucros. São pessoas participando
de modo espontâneo e voluntário em ações que visam o interesse comum.
Fisher e Falconer (1998) constatam também que o terceiro setor foi criado a
partir da relação desequilibrada entre o Estado e sociedade civil, pois no
primeiro não concentra em si todas as responsabilidades e papeis necessários
ao desenvolvimento da sociedade, ligando essas entidades aos aspectos
filantrópicos e de caridade.
Assim como qualquer outra organização, as entidades sem fins
lucrativos dependem de uma administração competente que precisa ter
Nesta conjuntura os terreiros de candomblé foram sendo criados e dando forma aos rituais e crenças que o definiriam. Mais do que isso, também funcionaram como meio de confraternização e socialização de vários negros que saíam do meio rural visando outras oportunidades de emprego. Com isso, os terreiros também serviam como lugar de lazer, solidariedade e manutenção de uma memória coletiva que se mostrou essencial no surgimento desta rica prática religiosa.
15
objetivos, controlar recursos, trabalhar em equipe, proporcionar formação de
recursos humanos competentes integrados e motivados a agir para o conjunto.
Esse papel é essencial ao gestor na obtenção desses resultados, de acordo
com Drucker (1999), exigindo do seu perfil características bem definidas, tais
como: Formação técnica; visão global e científica; aptidão de planejar,
determinação, tomada de decisões, avaliação e entre outros. A diferença da
administração pública, de uma instituição do terceiro setor e a de uma
organização voltada para criação de lucro é: A administração publica, é
definida por Moraes (2006) como uma atividade concreta e imediata que o
Estado desenvolve para assegurar os interesses coletivos e, paralelamente,
refere-se a um conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas, aos quais a Lei
atribui o exercício da função administrativa do Estado, cujo principal objetivo é
o interesse público, seguindo os princípios constitucionais da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Quanto à administração
privada, Chiavenato (1994) a define como tipo de empresa cujo capital é
detido, na sua maioria, pelos agentes econômicos privados, sendo seu objetivo
final o lucro. Por fim, a administração do terceiro setor atua em pesquisas,
projetos e no fornecimento de serviços para a comunidade, na maioria dos
casos utilizando dinheiros doados pelos seus mantenedores. Deriva de uma
relação desequilibrada entre Estado e sociedade civil, pois o primeiro não
concentra em si todas as responsabilidades e papéis necessários ao
desenvolvimento pleno da sociedade, fazendo como que esse tipo de
organização esteja ligado aos aspectos sociais, como a caridade e a filantropia.
Ou seja:
Terceiro setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamental, dando continuidade às práticas tradicionais da caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para outros domínios, graças, sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas manifestações na sociedade civil (Fernandes, 2000, p. 2)
Na concepção de Chiavenato (1994) as empresas, sejam elas com
ou sem fins lucrativos, são organizações sociais dotadas de pessoas que
constituem o seu ativo mais importante, o capital intelectual. Wagner e
Hollenbeck (2000, p. 327) declaram que a estrutura organizacional é uma rede
16
relativamente estável de interdependência entre as pessoas e as tarefas que
compõem a organização. Fato é que as influências externas e pressões, além
de problemas peculiares são fatores comuns, tanto as instituições do terceiro
setor quanto às organizações burocráticas tradicionais. Afinal, as organizações
do terceiro setor não são ilhas, separadas das demais dimensões da vida
social; ao contrário, estão intimamente relacionadas. No entanto esse processo
para as Instituições do Candomblé em todo território nacional, especificamente
na Cidade do Rio de Janeiro, ocorre de forma lenta e difícil. A busca pela
liberdade, legalidade e de estruturação, para Guimaraens (2012), torna-se
viável a partir da pesquisa que mapeou uma parte dos terreiros de 30
municípios do Estado, que ocorreu entre os anos de 2008 e 2011. O Grupo de
Trabalho para Enfrentamento à Intolerância Religiosa, firma parceria entre a
Secretária de Estado de Assistência e Direitos Humanos (SEASDH-RJ) e o
Departamento de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RIO), para
realização do mapeamento das Casas Religiosas de Matrizes Africanas e a
elaboração da Cartilha de Legalização, dando condições de quantificar o
número existente de terreiros em pleno funcionamento, de tornar conhecidos
por todos os membros procedimentos necessários para legalização, o de busca
pela igualdade diante todas as religiões e também de erradicar a violência
cometida contra todas essas religiosidades de inspiração afro-brasileira.
17
1.2.2 – Legalização
A publicação descrita por Silva (2012, p.5), na - Cartilha para
Legalização das Casas Religiosas de Matriz Africana - afirma que a
concretização dessa ferramenta defende os direitos dos cidadãos do Rio de
Janeiro, contribuindo para legalização e institucionalização das comunidades
religiosas, destaca às ações sociais desenvolvidas nos terreiros e promove na
gestão publica o reconhecimento da importância dos templos religiosos afro-
brasileiros na sociedade. A sua construção é importante, como afirma o
professor Guimaraens (2012), por causa da ampliação das possibilidades
enquanto instituição que o segmento religioso Candomblé adquire frente às
demais religiões. No entanto, declara que uma Casa Religiosa ao existir
juridicamente passa a exercer novos direitos e assume também novos deveres.
Diante destas declarações, as professoras Caitlin e Thula (2012, p. 25) relatam
o que é preciso para legalizar uma Casa de Candomblé:
1º Transformar terreiro/casa em Associação.
2º Reunião preliminar com membros da casa para determinar a
necessidade de legalização da mesma.
3º Escolher o nome para a casa religiosa e verificar se já não
existe outra com o mesmo nome, já registrado no Registro Civil de
Pessoa Jurídica (RCPJ).
A Busca de Nome é uma certidão que tem dois objetivos:
I- Saber se determinado nome encontra-se liberado para registro,
este caso é usado quando o objetivo é:
- registrar nova sociedade, associação ou fundação,
- mudar o nome de sociedade, associação ou fundação já registrada.
18
II- Saber se determinada pessoa jurídica encontra-se registrada
neste cartório, neste caso, a função será comprovar a existência de sociedade
já registrada.
Tratando-se de associação ou fundação, a ser constituída ou estar
sofrendo alteração de nome, recomenda-se apenas indicar, de maneira
resumida, o seu objeto no nome.
Esta certidão é preenchida e respondida a mão e o seu resultado é
obtido em 24 horas.
Os pagamentos são efetuados integralmente no momento que se
requer a certidão e o valor varia de acordo com o número de nomes a serem
pesquisados.
4º Expor no terreiro o Edital de Convocação de Assembléia
Geral para constituição de Associação e Eleição de Diretoria.
Aviso em local visível, um mês antes da reunião.
Envio de e-mail para membros da casa.
5º Redação do Estatuto Social da Associação.
Art. 54, Código Civil.
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos
associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos
deliberativos;
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e
para a dissolução;
19
VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das
respectivas contas.
O Estatuto deve conter:
Visto do advogado, com o número da OAB - somente na última
folha;
Rubrica do presidente e do Secretário da Assembleia de
Fundação em todas as páginas;
Mesma data da Assembleia de Fundação na última página;
Assinaturas do presidente e do Secretário da Assembléia de
Fundação na última página;
Classificar como ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA SEM FINALIDADE
ECONÔMICA.
Artigos que tratem dos seguintes assuntos:
- Endereço completo da sede;
- Prazo de duração da organização;
- Atribuições de todos os diretores;
- Modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativo e
administrativo;
- Prazo de mandato de todos os órgãos;
- Fontes de recursos;
- Órgão competente e quorum para dissolução.
A Comunidade Tradicional de Terreiro que pretender desenvolver
projetos e programas com órgãos e entes públicos devem observar não apenas
os requisitos destacados acima, mas também devem adequar seus Estatutos à
Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS – Lei federal nº 8.742, de
07/12/1993).
Cabe ao Regimento Interno determinar as regras éticas, normativas
e ritualísticas do terreiro.
6º Na Assembleia Geral.
A. Apresentação de candidatos a cargo de Diretoria
20
A Diretoria é composta pelo Presidente, Vice-Presidente, Secretário
Geral e Tesoureiro;
As atribuições exercidas pelo Presidente não se confundem com as
funções desempenhadas pelo Ministro Religioso (dirigente espiritual da casa)
b. Eleição da Diretoria pelos presentes.
c. Apresentação e aprovação do Estatuto da Associação.
d.Elaborar a Ata com registro da Assembleia, com assinatura dos
presentes.
Obs.: A Ata da Assembleia de Fundação deve conter:
- Aprovação do estatuto e da criação da associação;
- Relação dos Fundadores c/ identidade e CPF, assinaturas do
Presidente e Secretário da Assembleia de Fundação e mesma data da ata;
- Rubrica do presidente e do Secretário da Assembleia de Fundação
em todas as páginas e suas assinaturas na última página;
- Nomeação da diretoria com qualificação completa: cargo, nome,
estado civil, nacionalidade, profissão, CPF, identidade, endereço.
Se a qualificação for feita em folhas avulsas:
- Rubrica do presidente e do Secretário da Assembleia de Fundação
em todas as páginas e suas assinaturas na última página;
- Mesma data da Assembleia de Fundação na última página;
7º Promover o Registro Público da Associação (RCPJ).
Para que o registro aconteça devem ser apresentados:
- duas vias do Estatuto;
- petição do representante legal requerendo registro;
- requerimento assinado pelo Presidente, com firma reconhecida,
ou por procurador (procuração especifica para RCPJ com firma reconhecida)
- Tamanho mínimo de fonte em documentos digitados: 11 pt.
21
8º Dar entrada no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica)
da Associação.
FCPJ – Ficha Cadastral da Pessoa Jurídica, que poderá ser
preenchida via PGD – download e transmitida exclusivamente pela Internet por
meio do Programa Receitanet, ou preenchida diretamente no sítio da
Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)
http://www.receita.fazenda.gov.br, por meio do Aplicativo de Coleta Web.
9º Depois do registro no RCPJ, deve-se buscar o licenciamento
nas prefeituras dos locais onde as casas se encontram. No município do
Rio de Janeiro, existe a possibilidade de cadastro pela internet:
http://www0.rio.rj.gov.br/alvaraja/ com o chamado Alvará Já.
Lá é possível se retirar o licenciamento ambiental e sanitário, se
necessário, e o licenciamento de funcionamento (alvará) que é também
chamado de inscrição municipal. Sem isso, não há como conseguir, por
exemplo, isenção de ISS se a casa prestar algum serviço.
Após esse procedimento via internet, o representante da casa deve
comparecer pessoalmente ou por advogado ou contador habilitado (via
procuração) à região administrativa correspondente para entregar os
documentos necessários para o recebimento de alvará.
É somente após esse procedimento que as casas terão, por
exemplo, a possibilidade de se inscreverem na nota fiscal eletrônica, que as
permitirá de emitir notas pela prestação de serviços eventuais relacionados a
sua finalidade, quais sejam, 2.36. Assistência social e religiosa e 2.36.06.3 –
Associação Religiosa e 2.36.05.5 – Ordem Religiosa.
Obs.: Em outras localidades, após o registro, o representante da
casa deve pesquisar nas prefeituras ou regiões administrativas
correspondentes o procedimento que devem seguir para se habilitarem com
seus alvarás.
Após o cumprimento deste tramite extenso, as professoras Caitlin e
Thula (2012) afirmam que alguns direitos são decorrentes à legalização,
22
principalmente o de nomear os Babalorixas ou Yalorixas como Ministros
religiosos, e isto permitirão que:
Seja inscrito na previdência social;
Tenha livre acesso a hospitais e a quaisquer locais de internação
coletivos;
Celebre casamento e emitir certificado de realização da celebração
pelo terreiro.
Seja preso em cela especial até o julgamento final do processo;
Seja sepultado no próprio templo religioso; e
Receba visto temporário no caso de Ministro Religioso estrangeiro.
23
CAPÍTULO II
COMPARAÇÃO – EMPRESA (CANDOMBLÉ) E A
EMPRESA TRADICIONAL
Vale ressaltar segundo Vilar, Lucena e Souza (2009, p.2), alguns
conceitos da Administração e suas características, enfocando a administração
do terceiro setor, para comparar os estilos administrativos observados nos
terreiros do Candomblé e os estilos utilizados pelas empresas que visam criar
lucros. Estes, primeiro apresentam que, de acordo com Lacombe e Heilborn
(2006), a administração é fundamentada nos atos de planejar, organizar, dirigir,
coordenar e controlar, formando um conjunto de normas e princípios, que tem o
papel de unir os esforços individuais dos colaboradores, gerando grupos de
trabalhos em prol de um objetivo maior, que é o organizacional. Com isso, pode
elucidar termos como transparência que na visão de Falconer (1999), seria
uma exposição para a sociedade dos procedimentos da organização;
comunicação, como “um processo que consiste em um emissor transmitindo
uma mensagem de um meio para um receptor que reage”. (Stoner; Freeman
1999, p.389) adaptando-se para toda organização; e avaliação de
desempenho, definido como um processo integrado e contínuo na vida do
projeto ou da organização como um todo. (Chianca, Marino e Schiesari, 2001).
A partir da compreensão dos conceitos da Administração, destacam-
se algumas definições apresentadas por Vilar, Lucena e Souza (2009, p.3),
relacionadas ao administrador profissional que, conforme Lacombe e Heilborn
(2006), tem como papel essencial a obtenção de resultados por meio de
terceiros ou seja, do desempenho da equipe a qual supervisona e coordena,
sugerindo que esse profissional tenha um perfil com características variadas,
tais como:
"A Administração tornou-se fundamental na condução da Sociedade Moderna. Ela não é um fim em si mesmo, mas um meio de fazer com que as coisas sejam realizadas da melhor forma, com o menor custo e com a maior eficiência e eficácia”. Chiavenato (2004)
24
v Internalização de valores de responsabilidade social, justiça e
ética profissional;
v Formação Humanística e técnica;
v Visão global e científica;
v Competências para empreender e capacidade de atuar em
equipes multidisciplinares;
v Aptidão para desempenhar as principais funções do
administrador como planejamento, ato de pensar
antecipadamente o que se deseja alcançar e determinar os
meios e recursos para concretizar esse desejo;
v Promoção de recursos humanos, formando uma equipe
competente integrada e motivada, disposta a agir para o
conjunto;
v Liderança, que seria o ato de conduzir o grupo influenciando o
seu comportamento para atingir objetivos e metas de interesse
comum;
v Coordenar, levando á cooperação com todas as demais
unidades da organização para que as atividades sejam
executadas de forma balanceada, sincronizada e integradas;
v E, por fim, o controle, assegurando que as atividades estão
sendo executadas em direção aos objetivos.
O que é corroborado por Chiavenato (2005, p. 10), quando afirma
que gerir uma empresa significa reunir e juntar todos os recursos necessários
para seu funcionamento e dar-lhes a integração necessária e a direção focada
em resultados a alcançar por meio de plena utilização deles.
O candomblé é uma comunidade teocrática, governado pelo
sacerdócio com soberania absoluta, é este quem preside à vida cotidiana do
grupo e também governa o trabalho profano. Esse líder estabelece a
distribuição das tarefas cotidianas específicas. A única pessoa que dispõe de
um rendimento financeiro regular. Uma Religião de pequenos grupos que não
conta com qualquer organização institucional eficaz que unifique os terreiros ou
25
roças, que permita uma ordenação mínima capaz de estabelecer planos e
estratégias comuns na sua relação com as outras religiões e o resto da
sociedade. Além disso, os terreiros competem fortemente entre si e os laços de
solidariedade entre os diferentes grupos são frágeis e circunstanciais. Essas
roças desaparecem, segundo Prandi (2004, p.229), usualmente com o
falecimento de seus líderes, tanto pela disputa de sucessão como pelo fato dos
herdeiros, da propriedade e dos demais bens materiais, não terem interesse
pela sua continuidade. Desta forma, não é possível identificar um modelo único
gerencial, tendo em vista que os terreiros de Candomblé decidem seus rumos
de forma independente. Entretanto, observa-se que a gestão aplicada dentro
desses terreiros se assemelha, segundo Chiavenato (2006), ao conceito da
Teoria Clássica de Administração, principalmente no que tange as tomadas de
decisões centralizadas na mãe e pai de santo, a divisão do trabalho vertical
(nível de autoridade), de estilo duro e rígido que acatam esquemas
internamente padronizados. Consideram-se para realização dessas as
atividades, especificamente as cerimônias secretas das obrigações e
sacrifícios, somente os membros, que já tenham passado pelo processo de
iniciação ao culto, sua competência adquirida e o cargo assumido. Outros
fatores indicativos da presença de práticas administrativas são: a relação
estabelecida com fornecedores, à necessidade de atrair novos clientes e/ou
devotos, e a de gerar renda para manutenção e expansão do terreiro. Além da
criação indireta de centenas de empregos no comercio varejista,
especificamente na cidade do Rio de Janeiro, que conta com inúmeras lojas de
artigos religiosos e também há 56 anos com um grande mercado popular, onde
concentra dezenas dessas lojas que oferecem todos os insumos para
realização dos ritos do Candomblé, este é o famoso Mercadão de Madureira.
(http://www.mercadaodemadureira.com)
Como é recente o processo de institucionalização do Candomblé,
constata-se que grande parte da suas fraquezas, especificamente
administrativa, advém da impossibilidade de se tornar uma religião de massa,
onde suas reuniões religiosas sejam realizadas em grandes templos situados
26
preferencialmente nos lugares de maior fluxo de pessoas, com grande
visibilidade, e que reúnam adeptos vindos de todos os lugares. Outro fator a
sua escassa ou nula utilização de ferramentas de gestão empresarial, até
porque se observou a falta de preocupação com planejamento, controle do
desempenho financeiro, transparência e prestação de contas de todos os
trabalhos desenvolvidos pela entidade. Nenhuma atenção é dada para
avaliação e a transparência, no que diz respeito à obtenção e utilização dos
seus recursos, principalmente aos recursos humanos, mesmo sendo este o
principal propósito da existência das roças. Não possui um sistema estruturado
e formal acerca do seu desempenho, esta avaliação não é realizada, e quando
sim é de forma intuitiva, pelo agendamento de clientes para os jogos de búzios
e outros trabalhos e pela movimentação diária dos membros nas roças, do qual
não possui nenhuma serventia para analisar o seu desempenho e traçar novas
metas. Nem seus líderes, em grande parte poucos escolarizados, têm sabido
como se organizar, muito mais preocupados que estão em garantir o
funcionamento de seus terreiros. (Prandi, 2004, p.231)
Fragilizada pela ausência de algum tipo de organização ampla, tendo
que carregar o peso do preconceito, para Prandi (2004), fica em desvantagem
frente às organizações empresariais das igrejas evangélicas, que usufruem de
técnicas modernas de marketing, que treinam seus pastores-executivos para
expansão e a prosperidade material das igrejas, além de contar com canais
próprios e alugados de televisão e rádio, e com representação de luta nos
legislativos municipais, estaduais e federais. Entretanto, já constam ações
sendo realizados para modificar este cenário, o primeiro e o mais importante foi
o mapeamento dos terreiros no estado do Rio de Janeiro (como já registrado
no capitulo I) que garante a liberdade religiosa, o direito ao reconhecimento e
ao respeito. Como mobilização para modificar essa dura realidade foi criado
curso de especialização em liderança de terreiros, que objetiva a qualificação
dos novos líderes, o aperfeiçoamento dos sacerdotes em exercício e em
formação e esclarecimento de direitos e noções administrativas para gestão de
terreiros.
27
CAPÍTULO III
MODELO DE NEGÓCIO – CANDOMBLÉ
O modelo de negócio tem como objetivo auxiliar a empresa na busca
constante de criar, capturar e disponibilizar valor para seus clientes. Segundo
Osterwalder e Yves (2011) “Um modelo de negócio descreve a lógica de como
uma organização cria, proporciona e obtém valor”. O conceito de modelo de
negócio possui muitas definições, porém não existe uma unanimidade com
relação a este termo. Para o autor, “modelo de negócios” pode ser visto como a
lógica pela qual uma empresa sustenta a si mesma financeiramente, podendo
ser visto como uma planta descrevendo com uma organização operam.
O consulto Alexander Osterwalder, em 2008, desenvolve a
ferramenta business model CANVAS que proporciona uma linguagem para
descrever, visualizar, avaliar e mudar modelos de negócios. Conduzindo ao
empreendedor ter uma visão geral de uma empresa em nove blocos, descritos
em uma só folha de papel ou cartaz, mostrando assim com facilidade e
concisão a lógica de como uma organização pretende gerar valor. O quadro do
modelo de negócios descreve como nove componentes de um modelo de
negócios se encaixam, é uma técnica que permite criar esquemas de como as
organizações funcionam. Esses blocos cobrem as quatro áreas principais de
um negócio: clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira.
O denominado “Business Model Canvas (BMC)” é uma importante ferramenta de gerenciamento estratégico para empreendimentos. O BMC ajuda no desenvolvimento de esboços e versões finais de modelos de negócio, tanto para um novo empreendimento quanto para uma empresa que já está na ativa. Trata-se de um mapa visual que otimiza a visualização e compreensão do modelo de negócio de um empreendimento, dividindo-o em nove importantes blocos para o detalhamento de um negócio. (DORF, BOB e BLANK, STEVE, 2012, p. 571).
Um modelo de negócios é a lógica pela qual uma empresa se
sustenta financeiramente, isto significa que empresas com ou sem fins
28
lucrativos governamental, ou outro tipo, necessitam de dinheiro para manter os
serviços. O “Business Model Canvas” é um mapa dos principais itens que
constituem uma empresa, bem como pode ser também uma fonte de possíveis
estratégias para lançamento de novos produtos, projetos ou serviços.
A imagem abaixo ilustra como os blocos, ou componentes, que são
utilizados no modelo Canvas se relacionam:
Figura 1 – Os nove componentes do Modelo Canvas Fonte: OSTERWALDER, Alexander, PIGNEUR,
Yves, 2011
A seguir serão descritos, sumariamente, os nove blocos que
constituem o Canvas.
I. Segmentos de clientes (Customer Segments):
Segundo Osterwalder e Yves (2011) os clientes são o coração de
qualquer plano de negócio. Sem eles as empresas não sobrevivem por muito
tempo. Para melhor a satisfação dos clientes a empresa deve agrupá-los em
segmentos distintos, cada qual com necessidades, comportamentos e atributos
comuns.
Perguntas Chaves:
• Para quem estamos criando valor?
• Quem são nossos mais importantes clientes?
II. Proposta de Valor (Value Propositions):
29
A proposta de valor é o motivo pelo qual os clientes escolhem uma
ou outra empresa. Segundo Dorf e Blank (2012), ela descreve os produtos e
serviços que criam valor para determinado segmento de consumidor.
Perguntas Chaves:
• Que valor entregamos aos nossos clientes?
• Quais dos problemas de nossos clientes estamos ajudando a
solucionar?
• Quais necessidades dos clientes estamos satisfazendo?
• Quais pacotes de produtos e serviços estamos oferecendo para
cada segmento de clientes?
III. Canais (Channels):
Trata-se dos mecanismos de comunicação, distribuição e canais de
venda. Tais mecanismos são importantes para proporcionar a possibilidade de
experiência do consumidor, já que servem para divulgar as novidades e
receber feedback.
Perguntas Chaves:
• Através de quais Canais nossos segmentos de clientes querem ser
atingidos?
• Como estamos atingindo-os no momento?
• Como nossos canais são integrados?
• Quais canais funcionam melhor?
• Quais canais têm uma melhor relação custo/benefício?
• Como estamos integrando nossos canais com as rotinas de nossos
clientes?
IV. Relacionamento com o Consumidor (Customer Relationships):
Neste bloco a empresa deverá responder como a empresa se
relacionará com seus consumidores, bem como qual será o tipo de
relacionamento com o mesmo. Tais relações podem ser guiadas pelas
30
motivações de conquista do cliente, retenção do cliente e ampliação de vendas
(Osterwalder e Yves, 2011 p. 28).
Perguntas Chaves:
• Que tipo de relacionamento cada um de nossos segmentos de
clientes espera que estabeleçamos e mantenhamos com eles?
• Quais destes já estabelecemos?
• Quão custosos eles são?
• Como nossos relacionamentos estão integrados com o restante de
nosso modelo de negócios?
V. Fontes de Receita (Revenue Streams):
Este componente trata da renda gerada por cada segmento de
usuário. Cada segmento representa uma fonte de receita e possui diferentes
mecanismos de preço, como listas de preços, barganhas, leilão, variáveis do
mercado, e até mesmo variáveis de volume (Osterwalder e Yves, 2011 p. 28).
As diferentes fontes de receita podem ter diferentes mecanismos de
precificação.
Perguntas Chaves:
• Por qual valor nossos clientes estão realmente pagando?
• Por qual valor eles estão pagando atualmente?
• Como atualmente eles estão pagando?
• Como eles preferem pagar?
• Quanto cada fluxo de receita contribui com as receitas globais?
VI. Recursos-Chave (Key Resources):
Os recursos-chave são os itens tangíveis e intangíveis necessários
para oferecer e entregar os elementos mencionados acima. Esse bloco permite
que se conheçam as peças importantes para o encaminhamento do modelo de
negócio de usuários e dependendo do modelo de negócio, serão necessários
vários recursos-chave, podendo ser físicos, financeiros, intelectuais ou
humanos.
31
Perguntas Chaves:
• Que recursos chaves nossa proposição de valor necessita?
• E nossos canais de distribuição?
• E para nossos relacionamentos com clientes?
• E para nosso fluxo de receitas?
VII. Atividades Chave (Key Activities):
São as atividades mais importantes que uma empresa deve realizar
para que seu modelo de negócio vá para frente. Assim como os recursos
chave, as atividades precisam oferecer uma proposta de valor, alcançar
mercados, manter o relacionamento com o consumidor e gerar receita.
Perguntas Chaves:
• Quais atividades chaves nossa proposição de valor necessita?
• E nossos canais de distribuição?
• E nosso relacionamento com clientes?
• E nosso fluxo de receitas?
VIII. Parcerias-Chave (Key Partnerships):
Trata-se da rede de fornecedores e parceiros que fazem o modelo
de negócio da empresa funcionar. As parcerias existem para beneficiar todas
as partes. As parcerias são cada vez mais importantes para a otimização do
modelo de negócios, assim como na redução de riscos e aquisição de
recursos.
Perguntas Chaves:
• Quem são nossos parceiros chave?
• Quem são nossos fornecedores chaves?
• Quais recursos chaves estão adquirindo de nossos parceiros?
• Quais atividades chaves nossos parceiros desempenham?
IX. Estrutura de Custos (Cost Structure):
32
Este item deve descrever os gastos para que a empresa deva ter
para funcionar. Aqui devem ser descritos os custos mais importantes para que
o modelo de negócio seja eficiente, ou seja, podendo criar e entregar valor para
seus segmentos de cliente, mantendo um bom relacionamento com seus
consumidores, e ainda assim gerando renda.
Perguntas Chaves:
• Quais são os mais importantes custos inerentes ao nosso modelo
de negócios?
• Que recursos chaves são mais caros?
• Que atividades chaves são mais caras?
Através do entendimento da instituição Candomblé como um modelo
de negócio que possui uma lógica de sustento financeiro e que cria,
proporciona e obtém valor para seus clientes. Foram definidos os blocos que
se relacionam as quatro áreas principais de um negócio: clientes, oferta,
infraestrutura e viabilidade financeira. Em anexo o business model – Canvas
produzido.
33
CONCLUSÃO
Através da presente pesquisa, observou-se que a instituição tem
consciência de sua atual realidade, quão é a sua desvantagem considerando a
estrutura administrativa de outras entidades religiosas, que investe
massivamente no aprimoramento das ferramentas e suas técnicas de gestão
empresarial. Entretanto, os seus seguidores são unânimes, relata Prandi (2004,
p.236), ao acreditar que o futuro da religião depende tanto da manutenção das
velhas tradições que foram resgatadas no processo de dessincretização, das
quais os centenários terreiros da Bahia ainda representam a fonte mais
legítima, como da recuperação do conhecimento que se perdeu desde que os
velhos fundadores que foram arrancados de suas famílias e cidades africanas
para serem brutalmente escravizados no Brasil. Tal alegação foi ratificada
quando em tentativas de investigação nos três terreiros escolhidos, de regiões
distintas, para entrevistar seus respectivos líderes, foi observada a resistência
em responder, devido o segredo que permeia todos os ritos da religião, o
escasso tempo disponível para entrevista e pela constituição dessas unidades
serem quase domésticas, estando assim o poder de gestão de todos os
recursos concentrados em suas mãos, não possuindo nenhum outro membro
capaz de responder por peculiaridades administrativas dessas roças. O que
inviabilizou um resultado mais enriquecedor. Para estes casos, verifica-se que
a instituição do Candomblé, ainda não percebeu que esta abertura não significa
necessariamente perigo para sua existência, e sim a possibilidade de garantir
sua sobrevivência, como feito por seus antepassados, que ocasionou uma das
mais profundas mudanças observadas que foi sua universalização, quando
passou de religião étnica a religião para todos, com a incorporação entre seus
seguidores, de novos adeptos de várias classes e de origem não africana.
34
BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS
DORF, Bob e BLANK, Steve. The Startup Owner’s Manual – the Step-by-Step
Guide for Building a Great Company. K&Ranch, Inc. Publishers. Pescadero,
California, USA – 2012. 571 p.
OSTERWALDER, Alexander, PIGNEUR, Yves. Business Model Canvas -
Inovação em Modelos de Negócios. Um Manual para Visionários, Inovadores e
Revolucionários. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011.
COZBY, Paulo C. Metodos de Pesquisa em Ciências do Comportamento. São
Paulo: Atlas, 2003.
CHIAVENATO, Idalberto. Iniciação a administração geral. São Paulo: Makron
Books, 1994.
CHIAVENATO, Idalberto. Administração Geral e Publica - Teoria e mais de 500
questões com gabarito - serie provas e concurso - São Paulo: Elsevier Editora,
2006
FISCHER, Rosa M.; FALCONER, Andrés Pablo. Desafios da parceria governo
e terceiro setor. Revista de Administração, São Paulo, no janeiro/março de
1998, p.12-19.
LACOMBE, Francisco & HEILBORN, Gilberto. Administração Princípios e
Tendências. São Paulo: Saraiva 2006.
JUNIOR, Ivan A.; VILAR, Luanna L.; LUCENA, Marcelo Victor G.; SOUZA,
Luciane A. S. Entidades Religiosas Cristãs: Um ponto de vista administrativo.
Revista Anagrama – Revista Interdisciplinar da Graduação, São Paulo, no
março/maio de 2009.
35
PRANDI, Reginaldo. O Brasil com axé: Candomblé e Umbanda no mercado
religioso. São Paulo: Companhia das letrinhas, 2004.
VALLADO, Armando. Lei do santo: poder e conflito no Candomblé. Rio de
Janeiro: Pallas, 2010.
BARROS, José Flávio P. O banquete do rei – Olubajé: Uma introdução à
música sacra afro-brasileira. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.
BENISTE, José. Orun Aiye: O encontro de dois mundos. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1997.
CABRAL, Gabriela - http://www.brasilescola.com/religiao/candomble.htm
Acessado em 01/04/2015
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás – Deuses Iorubás na África e no Novo
Mundo. Salvador: Corrupio, 1997.
PACHECO, Lwdmila Constant. Identidades: Interface entre religião e negritude.
Tese de Mestrado de Psicologia. Pernambuco: 2010.
36
ANEXO
Modelo de Negócios Canvas - Candomblé
37
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO.......................................................................... 1
AGRADECIMENTO.......................................................................... 3
DEDICATÓRIA................................................................................. 4
RESUMO.......................................................................................... 5
METODOLOGIA.............................................................................. 6
SUMÁRIO........................................................................................ 7
INTRODUÇÃO................................................................................. 8
CAPÍTULO I - Contextualização - Instituição Candomblé ........... 10
1.1 - Conceito – Candomblé.............................................................10
2.2 - Estrutura Legal ...................................................................... 14
1.2.1 – Conceito .............................................................................14
1.2.2 – Legalização ........................................................................16
CAPÍTULO II - Comparação: Empresa (Candomblé) e a Empresa
Tradicional ............................................................................ 22
CAPÍTULO III – Modelo de Negócio ..................... ...... 25
CONCLUSÃO ............................................... 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................... 32
ANEXO ........................................................................................... 34
INDICE ............................................................................................ 35