DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · reinventados para que o homem saiba que mesmo...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU AVM - FACULDADE INTEGRADA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS: UM NOVO OLHAR COMEÇANDO PELO HOMEM Por: SUZANA ANDRÉA SALGADO CAVALCANTI Orientadora Prof.ª MARIA ESTHER RIO DE JANEIRO 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

AVM - FACULDADE INTEGRADA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS:

UM NOVO OLHAR COMEÇANDO PELO HOMEM

Por: SUZANA ANDRÉA SALGADO CAVALCANTI

Orientadora

Prof.ª MARIA ESTHER

RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

AVM - FACULDADE INTEGRADA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS:

UM NOVO OLHAR COMEÇANDO PELO HOMEM

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Educação Ambiental

Por: Suzana Andréa Salgado Cavalcanti

RIO DE JANEIRO 2012

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e a professora orientadora Maria Esther pelo apoio e paciência com meu trabalho e a todos os que conviveram comigo nessa luta para realizar mais este sonho. Obrigada!

.

METODOLOGIA

Este trabalho foi feito baseando-se em livros, monografias, textos,

dissertações de mestrado e programas de televisão com o tema educação

ambiental. De cunho teórico e exploratório.

RESUMO

Este trabalho procurou resgatar a importância da Educação

Ambiental frente à educação exercida no país de tempos em tempos, após as

mudanças de governo e suas consequenciais, além de trabalhar questões

pouco usuais do que realmente é a educação ambiental, além do pedagógico e

senso comum e de suas potencialidades e opções no mundo acadêmico, de

forma a chamar a comunidade como um todo para participar ativamente como

cidadã e se preocupar de forma efetiva com o que esta além do seu entorno,

no que tange a natureza e a si mesmo.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6

CAPITULO I

HISTORIA DA EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 8

CAPITULO II

ECOLOGIA DO CORPO: CONSIDERAÇÕES AO PRIMEIRO

MEIO-AMBIENTE DO HOMEM 17

CAPITULO III

NOVO OLHAR ALÉM DA EDUCAÇÃO: A PRÁXIS CIDADA

TRANSFORMACIONAL 33

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 43

6

INTRODUÇÃO

As questões relacionadas ao meio ambiente estão sempre em voga

ou na moda, do politicamente correto, entretanto ela tem varias facetas, sendo

uma delas a educação ambiental.

Ainda predomina no mundo atual uma visão de tradição naturalista,

onde a separação entre a natureza e o homem, e nesse sentido, a educação

ambiental busca acabar com essa barreira invisível, pois todos nos vivemos no

mesmo ecossistema e educar para preservar, interagir e ter uma manejo

adequado fazem parte dessa educação, em seus níveis de inserção sociais

que variam do cidadão comum, ao profissional da área e ao governo.

Uma visão socioambiental esta longe de ser ainda algo corriqueiro e

discutido como um assunto cotidiano, mas esta palatinamente sendo inserido

nas conversas e bate papos virtuais. Entretanto a educação para este fim ainda

esta em um processo lento e moroso e precisa mudar.

A abordagem meramente cientifica ainda predomina levando em

conta questões como danos ambientais de ordem natural e projetadas pelo

homem, pois cada um tem postura hora destrutiva, como jogar lixo no chão ou

não reciclar ou construtiva, indo a seminários ou praticando os ensinamentos

vistos em programas ou pelo conselho de amigos e parentes. Nada muda o

fato que ainda é pouco e há necessidade de uma mudança mais profunda

quanto a idealização de programas permanentes, campanhas fortes e

continuadas, preparo adequado de professores e gestores das escolas, e de

participação da sociedade comprando a ideia de que ser correto não é moda é

bom senso e necessidade, via como esta o mundo atualmente.

A própria Educação Ambiental tem em seu cerne uma postura

atuante nas questões de cunho social, sendo que tem preocupações em várias

instancias como seu impacto na economia, política e cultura, saindo da

perspectiva unicamente biológica que ainda apregoa uma postura voltada para

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o problema, no caso, os aspectos físico-quimicos envolvidos e ecoando nas

velhas oligarquias políticas e tacanhas que ainda não entendem que ensinar e

educar farão a diferença e desta forma sairão de uma postura reativa para pró

ativa.

Assim como a natureza, o homem é um ser ainda em construção e

em constante aprendizado e a própria educação a ambiental não foge a essa

formula, sempre e continuamente mudando e entrando em áreas como

filosofia, história, ecologia, ciências ambientais e sociais tornando-se, no

próprio âmbito escolar, algo fora do conformismo apregoado pela educação

formal, sendo agora interdisciplinar e muitas vezes transdisciplinar, quando

usada por mentes hábeis em perceber as possibilidades ainda não exploradas

e que podem trazer consigo mudanças significativas, concretas e permanentes,

até claro ter uma nova onda de saberes e conhecimentos a serem colocados

novamente neste ciclo.

Parafraseando Bacci e Pataca (2008) citados por Faht (2011), ‘para

a ocorrência de uma educação efetiva, é necessário o desenvolvimento de uma

visão integrada do mundo que nos cerca, visão esta que nos leve a

compreender as diversas esferas e suas inter-relações, bem como as

interferências geradas pelo homem no meio em que vive’.

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CAPITULO I

HISTORIA DA EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Com o desenvolvimento da sociedade em suas grandes fases como

a Revolução Industrial e Revolução Francesa que o homem começa a ter

ciência de sua força e capacidade de provocar mudanças em seu cotidiano.

Na primeira pelas inovações de ordem cientifica e tecnológica, onde

o homem muda radicalmente seus meios de produção e ao mesmo tempo

começa a pagar o ônus pela sua ganância desenfreada e despreocupada com

a natureza e seus recursos naturais que não são infinitos.

Na segunda o homem começa questionar seus valores e a entoar

gritos e formular pensamentos de igualdade, fraternidade e igualdade o que

levará este homem a ser um agente de transformação e ao mesmo tempo a

lutar contra seu sistema dominante, retrogrado e voltado ao lucro incessante e

sem escrúpulos, não havendo ainda termos como qualidade de vida,

sustentabilidade, reciclagem entre outros que seriam inventados ou

reinventados para que o homem saiba que mesmo grande é pequeno diante

da magnitude do que o cerca e que sua atitude deve ser repensada e somente

através da educação e neste caso, ambiental poderá mudar estilos de vida,

hábitos, costumes, relações e culturas, de forma a levar a patamares mais

complexos como a economia e a política.

Por conseguinte, na historia humana a sempre uma sequencia de

desastres naturais ou não, que sempre estão estampados nas mídias e que

causam impactos de maior ou menor comoção levando as autoridades e a

sociedade civil a andares juntas ou separadas de acordo com seus interesses.

Desta forma, temos o surgimento do movimento ambientalista que nos anos

sessenta em uma sociedade onde impera o movimento contracultura e

emancipatório e de liberdade de informação expõe o que há de mais execrável

em medidas sem controle o que levam a um choque com o movimento

9

conservacionista cujo interesse se pauta na proteção exclusiva de seus

negócios e fontes de recursos naturais.

Carvalho (1997) acredita que o movimento ambiental renovato por

esse clima consegue mudar ao incorporar a combater novos fenômenos

ambientais onde são questionadas violações de princípios mínimos

condizentes a ecologia, além de ameaçar a qualidade de vida de populações

humanas e da flora e fauna existentes, levando a perigos em longo prazo

quanto a própria sobrevivência e existência da humanidade.

Difere de outros movimentos sociais em sua base se inicia em plano

internacional, pois os impactos são de ordem mundial e com o advento da

melhoria das tecnologias, a época, como a televisão, muitas barreiras

começavam a cair e os povos tomavam conhecimento que não estavam

sozinhos com suas mazelas de ordem ecológica e sim que isto ocorria em toda

a parte do globo.

É nessa década que se iniciam os vários eventos nacionais e

internacionais que procuram encontrar soluções para a crise ambiental que já

se encontrava incorporada pela sociedade (MACHADO, 2007, p. 28).

1.1 A HISTORIA NO BRASIL E NO MUNDO: COMEÇA A

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Segundo Bueno (2003) no ano de 1503, ainda sem as colônias de

exploração, havia uma atividade extrativista muito forte, a exploração do pau-

brasil, que movimentaria a economia da colônia brasileira durante cerca de

quatro décadas. Estimou-se que durante este período foram retiradas 300

toneladas de madeira por ano. A importância dessa madeira usada

principalmente para tingir tecidos era muito lucrativo (apud SANTOS NUNES,

2011, p. 13).

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A devastação das matas levou o governo português a elaborar uma

Carta-Régia, em 1542, determinando normas para o corte e punições para o

desperdício de pau-brasil. Na verdade, a medida não foi tomada por motivos

ecológicos - preocupação inexistente na época, mas para garantir à Coroa

portuguesa o controle sobre a saída da mercadoria.

Com a União Ibérica, em 1580, Portugal foi anexado à Espanha. Em

1605, o Soberano espanhol Filipe 3º estabeleceu o Regimento do Pau-Brasil,

fixando a exploração em 600 toneladas por ano, de modo a limitar a oferta da

madeira na Europa, mantendo assim seus preços elevados. Durante o Império,

surgiu o termo “Madeira de Lei”. Através da Carta de Lei de outubro de 1827,

na qual juízes de paz das províncias atuavam na fiscalização das florestas.

(SANTOS NUNES, 2011, p. 14).

No âmbito internacional, como ponto inicial, devido as dificuldades

mundiais em lidar com problemas de ordem ambiental, foi realizado em

Estocolmo (1972) a Conferencia da ONU tendo o tema central o Meio Ambiente

e onde a Educação Ambiental foi considerada elemento chave para combater

sistematicamente a crise em todo o mundo, entretanto as medidas cabíveis

foram mais rígidas para uns do que para outros em relação ao que fora

discutido e sancionado (FAHT, 2011, p. 9).

Segundo Zeppone (1999) a conferencia de 1972 foi importante ao

apresentar recomendações relacionadas a educação ambiental (EA) enfocando

principalmente melhorias da qualidade de vida e em envolver o cidadão na

solução de problemas ambientais (apud RODRIGUES, 2010, p. 35).

Na Conferência da ONU, em 1973, o Brasil insere a Educação

Ambiental na legislação Nacional, como atribuição da Secretaria Especial do

Meio Ambiente, em que citava a promoção da educação do povo para o uso

adequado dos recursos naturais a partir da conservação do meio ambiente.

11

Inserindo o tema Meio Ambiente à Educação, em 1977, realizou-se

em Tbilisi, na Geórgia, ex-União Soviética, o Primeiro Congresso Mundial de

Educação Ambiental, apresentando os primeiros trabalhos que estavam sendo

desenvolvidos em vários países (FAHT, 2011, p 11).

A Unesco realizou em Belgrado, em 1975, um Encontro

Internacional em Educação Ambiental, onde foram discutidos os princípios e

orientações para um programa internacional de Educação Ambiental, que

resultou na Carta de Belgrado, alertando quanto às consequências do

crescimento econômico e tecnológico sem limites (RODRIGUES, 2010, p. 35)

Na Conferência realizada em Tbilisi, em 1977, o tema Meio

Ambiente foi inserido no contexto da Educação. Foram elaboradas diretrizes

que reforçam a necessidade e a urgência da formação de educadores

ambientais, na medida em que se deve:

- incluir a Educação Ambiental no programa de formação de professores;

- auxiliar docentes dos centros de formação de professores na área de Educação Ambiental;

- facilitar, aos futuros professores, uma formação em Educação Ambiental adaptada à realidade urbana ou rural;

- tomar medidas necessárias para que a formação em Educação Ambiental esteja ao alcance de todos os professores. (DIAS, 2004, p. 13).

O discurso apresentado em Tbilise, segundo Diesel (1994) foi mais

articulado e objetivo Em analise a que a Unesco proferiu entende que houve

uma transição de valorizar comportamentos individuais para os grupais e os

avanços da inserção da EA ao meio educativo, articulando desta forma as

dimensões ambiental e social, comelando a trilhar seu caminho multifacetado.

(apud MACHADO, 2007, p. 30)

Também ressalta o cuidado que se tem em não creditar somente à

EA a responsabilidade de reverter o quadro da crise ambiental. Embora

Loureiro (2004) reconheça Tbilisi como uma referência para o campo da EA,

sinaliza para a existência de aspectos contraditórios nas suas recomendações:

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(...) os questionamentos feitos à educação tradicional se baseiam numa defesa da pedagogia tecnicista (...). Defende uma “Nova Ordem Mundial”, mas não há referências a como esta seria diferenciada do modo como veio se consolidar (...).Coloca que a economia de mercado possui limites e impõe limites à sustentabilidade, mas não indica alternativas consistentes, a não ser o vago discurso da solidariedade entre países e da cooperação tecnológica em busca da eqüidade social (...) sugere-se que os problemas nos países do “terceiro mundo” decorrem de formas insuficientes de desenvolvimento, não relacionando as desigualdades entre os países a processos históricos de dominação e subordinação (apud MACHADO, 2007, p. 30)

No ano de 1987, dez anos após a Conferência de Tbilisi, acontece

em Moscou o “Congresso Internacional de Educação Ambiental e Formação

Ambiental” com o objetivo de avaliar os resultados desenvolvidos durante a

década e traçar uma estratégia internacional para EA embora o discurso de

desenvolvimento sustentável abrace princípios de justiça social, viabilidade

econômica e prudência ecológica não houve grandes avanços o que pode ter

gerado grandes sentimentos de frustração, entretanto, segundo observa diesel

(1994) na literatura, já é observável uma preocupação em definir a EA nos

princípios do desenvolvimento sustentável. (MACHADO, 2007, p. 31).

Com a realização da Rio 92, segundo Tozoni-Reis (2008) as

expectativas eram altas quanto a participação da população devido a grande

campanha voltada para o evento e para a Agenda 21. Em 1992, foi realizada a

Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), que

ficou conhecida como Rio 92. Nesta conferência foi formulado o “Tratado de

Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade

Global”, na qual cita que a Educação Ambiental deve estar organizada em

educação formal, a qual se refere à educação escolar; educação não-formal,

referindo-se à educação fora da escola, mas com sistematização metodológica;

e educação informal, a educação sem sistematização e metodologia.

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Também foi na Rio 92 que se elaborou a Agenda 21 como um Plano

de Ação para a Sustentabilidade humana reconhecendo-se a Educação

Ambiental como um processo de promoção estratégico desse novo modelos de

desenvolvimento (DIAS, 2004).

Vamos tratar aqui da Educação Ambiental no ambiente formal, que

inclui uma quantidade muito grande de crianças, adolescentes e jovens em

diferentes faixas etárias, posto que a Educação Básica, que abrange Educação

Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio são garantidos e assegurados

pelo governo federal (Lei nº11.274/2006). (FAHT, 2011, p. 10).

A Rio-92 foi responsável pela popularização da ecologia assim como

da EA na medida em que, desde 1989, houve uma mobilização no mundo,

sobretudo no Brasil, para a preparação dessa conferência

Assim, o movimento ambientalista mundial promoveu, através de

Congressos, Encontros e Seminários, a importância do surgimento e

desenvolvimento dos princípios teóricos e práticos da Educação Ambiental.

(ZEPPONE,1999).

A Carta Magna de 1988, intitulada de Constituição Cidadã, em

virtude principalmente de ter sido capaz de restituir a esperança à questão da

cidadania. Sua produção pautou-se nas expectativas dos setores

representativos da nacionalidade. Recém saídos de um período onde o

autoritarismo prevaleceu, representativo de um retrocesso democrático que

afetou primordialmente a esfera jurídica e moral. Os avanços anunciados

aconteceram ao arrepio da ordem democrática.

Importante é notar que não existe progresso desvinculado da ordem

moral. O Estado precisa ser ético. A vigente Constituição recuperou o sentido

de nacionalidade, indicando a necessidade de trilhar o caminho jurídico como

forma de dirimir as controvérsias apresentadas. O Direito é ferramenta para a

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solução dos conflitos e para a edificação de uma sociedade justa, fraterna e

solidária. (TRIGUEIRO, 2003)

A Constituição promulgada em 1988, ao contrário das anteriores, em

todo o seu texto demonstra séria preocupação ambientalista sintetizada em seu

artigo 225: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se

ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações". Dessa forma, a Constituição recebeu e avaliou

toda a legislação ambiental no país, inclusive, e principalmente a necessidade

da intervenção da coletividade, ou seja, participação da sociedade civil, nela

compreendida o empresariado na cogestão da Política Nacional do Meio

Ambiente.

Em 1994 foi criado o PRONEA – Programa Nacional de Educação

Ambiental (reformulado em 2004). Este documento, sintonizado com o Tratado

de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade

Global (firmado durante Eco-92) apresenta as diretrizes, os princípios e a

missão que orientam as ações do Programa Nacional de Educação Ambienta e

estabelece as linhas de atuação formal e não-formal, para promover ações que

estimulem a visão crítica e a postura pró-ativa por todos os setores da

sociedade.

As Diretrizes para Operacionalização do Programa Nacional de

Educação Ambiental - PRONEA - consistem na sistematização de uma prática

que se fundamenta na experiência do IBAMA e dos Órgãos que lhe deram

origem e concretiza o modo como o IBAMA tem procurado cumprir as

determinações contidas no PRONEA.

A preocupação central da proposta está em promover condições

para que os diferentes segmentos sociais disponham de instrumental, inclusive

na esfera cognitiva, para participarem na formulação de políticas para o meio

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ambiente, bem como na concepção e aplicação de decisões que afetam a

qualidade do meio natural e sócio-cultural.

1.2 IMPLICAÇÕES E CONSIDERAÇÕES EM RELAÇÃO A EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

É importante destacar que o conceito de educação ambiental não é

fechado e definido. Segundo DIAS (1991), “a evolução destes conceitos está

diretamente relacionada à evolução do conceito de meio ambiente e ao modo

como este é percebido”. Podemos afirmar que a Conferência de Estocolmo, em

1972, foi um marco nesta evolução, pois a partir de então as perspectivas

social e econômica passaram a integrar a temática ambiental. Observando as

diversas definições de educação ambiental formuladas até o momento,

encontramos posições que se completam e que parecem indicar que esta é um

recorte da educação em seu sentido amplo, é parte de um projeto maior para a

formação integral dos seres humanos. Vejamos algumas delas:

“... dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, através de um enfoque interdisciplinar e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade." Conferência de Tbilisi, 1977

“... preparação de pessoas para sua vida, enquanto membros da biosfera" Meadows, 1989.

“... muitas vezes o papel da educação ambiental foge até um pouco do âmbito do meio ambiente ao ajudar a formar o cidadão responsável, que respeita e cuida da comunidade dos seres vivos." (OLIVEIRA, 1998).

Os objetivos e princípios da educação ambiental, contidos nos

documentos oficiais e elaborados a partir destas definições, são base para o

desenvolvimento de projetos de educação ambiental. Cabe destacar alguns

destes princípios elencados pela Conferência de Tbilisi (1977) para que

possamos refletir sobre a forma como são colocados em prática nas escolas.

São eles:

• Considerar o meio ambiente em sua totalidade, isto é, em seus aspectos naturais e criados pelo homem;

• Constituir um processo contínuo e permanente, através de todas as fases do ensino formal e não-formal;

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• Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo específico de cada disciplina, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada;

• Concentrar-se nas condições ambientais atuais, tendo em conta também a perspectiva histórica.

• Destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em consequência, a necessidade de desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias para resolver tais problemas; • Utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para comunicar e adquirir conhecimentos sobre o meio ambiente, acentuando devidamente as atividades práticas e as experiências pessoais.

A leitura destes objetivos nos remete a um conjunto de

questionamentos a serem trabalhados nos capítulos que vão se seguir:

Quais as implicações destes princípios na vida do homem? Como

afeta seu cotidiano? Como se relaciona com a sociedade em especial no

núcleo familiar? e a prática cotidiana escolar? o que requerem dos profissionais

da educação? Que mudanças trazem aos referenciais teóricos e da práxis? O

que implica abarcar, na educação formal, a totalidade do ambiente num

processo contínuo e permanente de formação?

Essas e muitas outras perguntas estão sem respostas efetivas e no

transcorrer desse trabalho algumas, com certeza, terão lançadas alguma luz

para subir mais um degrau, no esforço continuo de mudar esse quadro de

incertezas.

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CAPÍTULO II

ECOLOGIA DO CORPO: CONSIDERAÇÕES AO

PRIMEIRO MEIO-AMBIENTE DO HOMEM

Diariamente os seres humanos são colocados a prova e enfrentam

escolhas. Estas levam a um posicionamento quanto a vida, como lidar com ela

e como usufruí-la. Nas palavras de Dalai Lama: “cuidado com os teus

pensamentos eles se transformam em ações, elas se transformam em

consequências, cuidado com essas, pois determinam o seu caráter, cuidado

com seu caráter ele determinará o teu destino.”

Cuidar é dar atenção a todo o momento das mensagens que o

“corpo fala”. A sobrevivência depende das escolhas sendo insensatas

provocam desdobramentos desagradáveis. O problema de consequência é a

geração da dor e essa possui uma gama enorme de facetas no que diz respeito

à ecologia humana.

Não se pode deixar de lado as questões de ordem ambiental, no

caso externas, como alimentos, bebidas, hábitos entre outros e internos como

as alegrias, tristezas, dores emocionais e físicas e os pensamentos que podem

levar o corpo a um estado diferente de como começara o dia. Bom ou mal

dependerá das escolhas, pois elas são a grande diferença para cada um

aplicar sua idéia do que é melhor para si, o que leva a divagar por vários

caminhos, mas onde nenhum deles pode desviar de um questionamento: o

indivíduo conseguir perseverar por caminho de saúde ou de lamentação quanto

a seu corpo, mente e “espírito”.

Espírito, não no sentido religioso, diga-se de passagem, quer dizer

lidar com sua vontade, sua determinação e até sua tenacidade, pois afinal

teimosia, às vezes é um fator positivo quando o ser humano encontra-se em

desvantagem.

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A ciência evoluiu muito e trata casos de forma generalista, a

princípio, passando pela especificidade de cada sintoma apresentado por cada

pessoa em convalescência. Isto permite analisar de forma particular e única,

devido a centenas de anos de coleta de informações, experimentos, criação de

remédios, terapias, fitoterapias, homeopatias entre tantas outras propostas.

Deve-se abordar o mundo de forma mais ampla e não só as

questões concretas, mas a subjetividade de algumas idéias e teorias é

apreciada não como solução, mas como parte de uma visão mais holística de

como o ser humano lida com seu eu, no âmbito da saúde, como já exposto, o

que leva a explorar um campo cientifico, movido pela razão, mas muitas vezes,

tem suas soluções baseadas em soluções empíricas, pouco ortodoxas ou

alternativas, e que mesmo, não sendo a regra, e sim a exceção, devem ser

trazidas a luz para ser partilhada e fomentada de forma a mostrar que opções

existem além das tradicionais.

2.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A SAÚDE: SEU

ENTENDIMENTO A PARTIR DO HOMEM

Segundo Souza (1997) a saúde e seus tratamentos são divididos em

três fases distintas. A primeira fase ou política de saúde foi conhecida como a

fase da magia ou dos aspectos sociais, onde os fatores determinantes da

doença provinham de forças sobrenaturais, atribuídos a deuses ou demônios,

ou forças do mal.

Na segunda fase, imperava os fatores físico-químicos, os

‘’miasmas’’, que se caracterizavam por emanações do solo ou do ar,

supostamente nocivos, como o chorume do lixo e sujeiras que porventura

vinham produzir a doença no corpo sadio.

A terceira fase, denominada biológica ou microbiológica, que se

estabelece com a descoberta do microscópio e do mundo das bactérias, se

19

enfatiza a ação dos germes e a consequente degradação sobre a saúde (apud

LIMA; SILVA; TRALDI, 2008, p. 1).

Essas três primeiras fases têm um ponto em comum, a abordagem

unicausal, que relaciona o agravo à saúde a um único agente etiológico, e

assim, as intervenções se direcionavam para um único fator determinante da

doença. Uma visão simplificada, que deixa de tratar o homem como ser

complexo, dotado de necessidades, desejos e vontades, de ordem intermitente,

cíclica, sazonal, regional e variável.

A quarta fase, suscitada por Foratti (1996) muda a abordagem da

doença, relacionando-a a uma causalidade múltipla e incorporando os aspetos

sociais ou psicossociais no processo de adoecer, buscando explicar o

aparecimento e a manutenção da doença na coletividade como resultante da

interação do homem com os fatores biológicos, químicos e físicos. Na

abordagem multicausal, uma única doença é proveniente de diversos fatores

determinantes, inter-relacionados e dinâmicos.

A intervenção é baseada em múltipla direção de modo a abranger os

fatores multicausais. Nessa perspectiva, a saúde e a doença estão interligadas

num processo dinâmico, interdependente que, quando desequilibrado, leva o

individuo a um estado não favorável de satisfação orgânica, que então

chamaremos de doença. Ainda segundo essa concepção, o adoecer deixa de

ser o resultado de apenas um fator, passando a ser entendido como um

processo em que inúmeros fatores estão envolvidos. (apud LIMA; SILVA;

TRALDI, 2008, p. 2).

2.2 A EVOLUÇÃO DA MEDICINA

A primeira manifestação no pensamento é caracterizar a doença,

afinal o que seria a doença? E ademais é necessário também entender seu

nêmeses, a saúde e a evolução da medicina que em muitos casos avançou e

regrediu em seus conceitos relacionados a diagnósticos.

20

De acordo com Rojas (1974),

“[...] é muito difícil definir o que é saúde e estabelecer os limites onde começa a enfermidade. Porque saúde e enfermidade são dois estados entre os quais flutua o indivíduo [durante] toda sua vida, duas condições estreitamente ligadas por conexões recíprocas.” (PFUETZENREITER; CUSTODIO; KOEPSEL, 2003, p. 172).

Para Contandriopoulos (1998) a saúde e a doença não são

fenômenos independentes nem inversos e, portanto, não podem ser redutíveis

uma à outra, nem mesmo mensuráveis. Almeida Filho (2000) adverte que “[...]

não há qualquer base lógica para uma definição negativa da Saúde, tanto no

âmbito individual quanto no coletivo.” O supracitado autor inicia sua explanação

sobre o assunto enfocando o aspecto individual, firmando duas proposições

neste campo e declara que ‘nem todos os sujeitos sadios acham-se isentos de

doença’, assim como ‘nem todos os isentos de doença são sadios’. (principio

básico do yin-yang – em todo bem há o mal e em todo mal há o bem). (apud

PFUETZENREITER; CUSTODIO; KOEPSEL, 2003, p. 172).

Nas palavras de Vicini (2002),

Como o bem-estar é subjetivo e vai depender da cultura e forma de encarar os problemas da vida, o estado de adoecimento pode ser visto ⎯ por alguns ⎯ como uma oportunidade de rever a vida e a forma de viver, um momento de reflexão e pode até representar ganhos qualitativos posteriormente. Para outros, o estado de morbidez pode representar o fim, levar a processos de depressão e arruinar o ritmo considerado normal e saudável da vida agitada. Logo, a doença possui influência do aspecto biológico, espiritual, social, psicológico e do acesso aos recursos essenciais que promovem a manutenção da saúde e bem-estar. Logo, o modo de ver saúde e ver doença é peculiar de cada indivíduo. (SILVA, 2006, p. 4).

Consta que a palavra doença tem origem na palavra latina dolentia e

tem nas ciências que estudam a saúde designação de distúrbio relacionados

as funções de um órgão ou do organismo (sistema) e da psique, associados a

sintomas específicos, causada por exposições externas a outros organismos

infectados, por exemplo, ou de ordem interna como disfunções e mal funções

21

internas, como doenças autoimunes. A ciência que estuda as doenças e

procuras compreendê-las é denominada Patologia. (WIKIPÉDIA, 2012).

Nos primórdios da humanidade a medicina praticada estava envolta

de mistérios ligados a praticas que envolvia ritos de contexto religioso e

mitológico, sendo a fonte da enfermidade, a doença, transgressões cometidas,

seja de ordem individual ou coletiva, contra a natureza. A ordem social era

estabelecida basicamente por pequenos grupos ou tribos, onde havia a forte

influência e naturalmente liderança daqueles denominados Feiticeiros, Xamãs

ou Sacerdotes que faziam a ponte entre o homem e a natureza para lhes trazer

conforto de ordem física e espiritual (BARROS, 2002, p. 68).

Segundo Barros (2002),

“As relações com o mundo natural se baseavam em uma cosmologia que incluíam deuses caprichosos e espíritos tanto bons como maus. Os indivíduos pensavam a doença em termos desses agentes cabendo aos responsáveis pela prática médica da época aplacar essas forças sobrenaturais. Esse enfoque é ainda hoje aceito por milhares de pessoas, habitantes de sociedades tribais ou não, com a intromissão, concomitante, por vezes, de elementos da medicina ocidental, dita cientifica”.

Mudanças em relação ao pensamento dominante dado a prática da

medicina ocorre inicialmente no Egito, onde se desvia das forças sobrenaturais

e passa a ter o foco em compreender, de maneira empírica e racional em

entender a causa do problema evidenciado pelos fenômenos (indícios)

apresentados pelo doente. Posteriormente, na Grécia clássica, no século VI

A.C. co mo nascimento da filosofia, os filósofos pré-socráticos buscam

entender as origens do universo e da vida e analisam elementos da natureza,

que serão vistos pelas teorias de Yin Yan no oriente, denominando a matéria-

prima, a água, fogo, ar e a terra (BARROS, 2002, p. 68).

Segundo Barros (2002), essa base serviu de elemento vital para a

medicina oriental e posteriormente no século XX há retorno as origens com a

prática da medicina de cunho psicossomático, a saber:

22

“Empédocles (490-430 AC) o pioneiro na concepção do mundo como sendo formado pelo somatório dos quatro elementos que existiriam juntos e em termos iguais, formulando as bases de uma teoria dos elementos que, de alguma forma, estaria presente na medicina ocidental nos próximos dois milênios, teoria que foi aprimorada por outros filósofos atingindo o seu auge à época de Hipócrates, daí em diante persistindo, mais ou menos inalterada, até o século XVI. Associando a bile amarela, bile negra, sangue e fleugma, respectivamente, ao fogo, terra, ar e água, esses humores predominariam em determinada estação do ano, isto é, verão (bile amarela), outono (bile negra), primavera (sangue) e inverno (fleugma)”.

“O chamado Pai da Medicina ocidental identificou a saúde como fruto do equilíbrio dos humores, sendo, por oposição, a doença, resultante do desequilíbrio dos mesmos”. (BARROS, 2002, p. 69).

A teoria dos humores sobrevive nos dias de hoje em algumas

correntes do pensamento médico oriental, como é o caso, da medicina

tradicional tibetana ou da medicina ayuvérdica e unani indianas.

A noção de equilíbrio, de continua construção e destruição vistas no

Yin Yang são relacionadas ao que os gregos denominavam crasis (equilíbrio)

associada a ideia de 'proporção justa ou adequada’ e teve esta ideia refinada e

aprimorada por Alcmeon, sendo o primeiro a aplicar este princípio nas relações

entre o estado de saúde e de doença. Foi responsável também em contribuir

com a medicina holística onde o equilíbrio implicava na interatividade entre

duas ou mais forças presentes ou fatores que pudessem ser determinantes na

etiologia da doença. (BARROS, 2002, p. 69).

Observa Barros (2002) no que tange as ideias e práticas de

Alcmeon:

“Alcmeon, de algum modo, reconcilia idéias de Heráclito (540-480 AC) para quem os opostos podem existir em equilíbrio dinâmico ou sucedendo-se uns aos outros, com as de Pitágoras (580-500 AC). Não se visualiza um estado duradouro de harmonia, nem um conflito permanente. É levada, agora, em consideração, não apenas uma mera oposição de duas forças, mas de um conjunto delas, em geral, aos pares, vislumbrando-se a idéia de um sistema no qual atuaria, sobre o indivíduo, simultaneamente, diferentes forças. Na nova concepção, a mistura dos opostos os neutralizariam, produzindo a harmonia,

23

visível, por exemplo, na música ou na saúde. A escola de Alcmeon propugnava, como já o fazia Pitágoras, a existência de uma vida saudável através da meditação, adequação da dieta, moderação em tudo” (BARROS, 2002, p. 69).

Dessa forma, surge a idéia de que o corpo humano necessita de um

delicado conjunto de controles para mantê-lo dentro dos limites apropriados.

Galeno (122-199 D.C) baseado em Hipocrates exerceu grande

influencia na medicina ocidental contribuindo com avanços consideráveis em

relação aos diagnósticos terapêuticos sendo de tal importância que perdurou

por catorze séculos posteriores, ou seja, quase toda a Idade Média. A sua

visão de fisiologia esta diretamente ligada a Teoria dos Humores, onde este

depende de fatores ambientais, ‘do calor inato e, em grande medida, da

ingestão alimentar e sua justa proporção’, sendo divididas em internas (ex:

predisposição e constituição física); externas (excessos alimentares, sexuais

ou exercícios) ou conjuntas. (BARROS, 2002, p. 70).

Em suas concepções, descritas a seguir,

“O diagnóstico deve ter por fundamentos o cuidadoso exame do doente, o conhecimento do seu estado quando sadio, seu temperamento, regime de vida, alimentação, além das condições ambientais e a época do ano. Vale ressaltar, no caso da terapêutica, a importância outorgada por Galeno, à natureza (vis medicatrix naturae). Extremamente válidas - e contemporâneas - são suas referências ao potencial curativo, mas também, venenoso, dos medicamentos. Para ele, deveria ser outorgada maior ênfase ao uso dos medicamentos fitoterápicos, considerando o fato de que os de origem mineral seriam mais tóxicos e os de origem animal, mais débil” (BARROS, 2002, p. 70).

Durante a Idade Média, foi apresentado o modelo estabelecido por

Paracelso (1493-1541) que foi tido como a transição da escola galenica para o

modelo biomédico. Segundo ele havia uma ordem determinada que organizava

o micro e o macrocosmo, ambos governados por um princípio vital por ele

denominado de archeus.

24

Segundo consta, Paracelso era influenciado pela Alquimia e

Influenciado pela alquimia visualizava semelhanças existentes entre os

processos químicos e os processos vitais. Na determinação da doença,

Paracelso identificava influências cósmicas e telúricas além de substâncias

tóxicas e venenosas, bem como ‘da predisposição do próprio organismo e das

motivações psíquicas’. A doença também se explicava em virtude de reações

inadequadas dos elementos constitutivos do mundo (excesso de um ou de

mais de um deles). (BARROS, 2002, p. 71).

O modelo biomédico ou mecanicista, hoje predominante, tem suas

raízes históricas vinculadas ao contexto do Renascimento e de toda a

revolução artístico-cultural que ocorre nessa época. (BARROS, 2002, p. 72).

Ainda na Idade Média temos o filósofo e matemático René

Descartes (1596-1650) que em seu livro Discurso do Método estabelece regras

fundamentando seu enfoque que se mantém na mente dos médicos modernos

e sendo assim a linha mestre do raciocínio médico, onde, destacam-se

algumas regras como:

“A primeira regra preceitua que não se deve aceitar como verdade nada que não possa ser identificado como tal, com toda evidência, isto é, hão de ser, cuidadosamente evitados a precipitação e os preconceitos não ocupando o julgamento com nada que não se apresente tão clara e distintamente à razão que não haja lugar para nenhuma dúvida. A segunda regra propunha separar cada dificuldade a ser examinada em tantas partes quanto sejam possíveis e que sejam requeridas para solucioná-la. A terceira dizia respeito à condução do pensamento de forma ordenada, partindo do mais simples e fácil daí ascendendo, aos poucos, para o conhecimento do mais complexo, mesmo supondo uma ordem em que não houvesse precedência natural entre os objetos de conhecimento. A última regra se referia à necessidade de efetuar uma revisão exaustiva dos diversos componentes de um argumento de tal maneira que seja possível certificar-se de que nada foi omitido. Uma preocupação adicional de Descartes residia na certeza a que ele podia chegar por meio de provas matemáticas” (BARROS, 2002, p. 73).

Rosen (1994, p. 78) descreve que nos séculos XVI e XVII “a ciência

se caracterizava, na época, não apenas pelo uso crescente do método

25

experimental, mas também pela disposição em tratar matematicamente os

fenômenos naturais.” Esta tendência se expressou na saúde por meio da

aritmética médica política baseada em René Descartes, com o uso da

abordagem estatística para apurar os dados quantitativos do Estado.

(PFUETZENREITER; CUSTODIO; KOEPSEL, 2003, p. 170)

Para as provas matemáticas que René Descartes apregoava, foi

necessária a criação das teorias matemáticas por Isaac Newton que

confirmaram a visão do corpo como uma grande e complexa máquina, ou seja,

a visão cartesiana. A mecânica desenvolvida por Newton possibilitou explicar

diversos fenômenos da vida comum e gradativamente forneceu aos médicos o

ferramental para que pudessem lidar de forma mais eficaz com doenças de

mais rotineiras. (BARROS, 2002, p. 73).

No século XIX Louis Paster e Robert Kock levama medicina a estudo

das bactérias, primeiramente pelo processo de fermentação da cerveja e

depois aplicando a princípios médicos com ao criação da vacina anti-rábica, a

descoberta do agente etiológico da tuberculose

Os avanços no campo das ciências biológicas propiciaram a

evolução do estudo da química e da física e, desta forma, a partir do século

XVII, aguçaram ainda mais a curiosidade e intensificaram as pesquisas para

chegar ao que há de mais moderno na medicina atual. (BARROS, 2002, p. 73).

Mais adiante, na década de 1860 e subsequentes, a era

bacteriológica se instaura com a decisiva participação, com merecido destaque,

entre outros, de Louis Pasteur e Robert Koch, o primeiro evidenciando o papel

das bactérias, seja no processo de fermentação, seja nas doenças, além de,

entre outras contribuições, ter chegado às vacinas anti-rábica e contra o

Anthrax e o segundo, tendo descoberto o agente etiológico da tuberculose e,

“formulado os postulados que tipificam o rigor do raciocínio mecanicista e sua insistência na correlação causa-efeito: o microorganismo está presente e pode ser detectado em todo caso da doença; ele pode ser cultivado em meio de cultura

26

apropriado; a inoculação desta cultura reproduz a doença em animal susceptível e o microorganismo pode ser recuperado, de novo, do animal infectado”. (BARROS, 2002, p. 74).

A teoria microbiana passa a ter, já nos fins do século XIX uma

predominância de tal ordem que, em boa medida, faz obscurecer concepções

que destacavam a multicausalidade das doenças ou que proclamavam a

decisiva participação, na eclosão das mesmas dos fatores de ordem

socioeconômica, o que leva a louvação dos remédios e diagnósticos racionais

e a ruptura com os conhecimentos da medicina natural.

Na medicina tradicional a doença não é vista como possível

desequilíbrio entre o estado emocional, mental ou psicológico, sendo esta

tratada por especialista que procuram identificar os sintomas nas diversas

regiões diferentes do corpo como o profissional médico de clinica geral e

neurologista. (CAVALCANTI, 1995, p. 6).

Nesta prática a medicina, em geral, não entende o corpo como a

soma de três estados: o físico, mental e espiritual, mesmo nas práticas já

reconhecidas como homeopatia, fundada por Mahnenann a doença em sua

visão pode ser considerada benéfica, pois propicia ao homem a se aperfeiçoar

e a buscar, manter o equilíbrio nos três planos propostos. E o mesmo acontece

com a natureza e o homem vendo-os como seres em separado.

O equilíbrio é necessário para manter dos três estados as devidas

proporções de troca em harmonia. O desequilíbrio, ao contrario sempre vai

gerar desarmonia, frustração criando emoções conflitantes e negativas, como a

agonia e a agressividade. (CAVALCANTI, 1995, p.7).

Todos são resultados de modelos de pensamentos criados em

nossas mentes e que formam nossas experiências, além de criar uma visão de

mundo que pode ser positiva ou negativa, e sendo a segunda opção

predominante, abre margem a doença, sendo esta gerada pela desarmonia

27

que bloqueia a energia vital, enfraquecendo o espírito e o corpo, provocando

assim a doença. (CAVALCANTI, 1995, p. 9).

O mais antigo tratado de medicina é chinesa é o “Huang Ti Nei

Ching Su Wen” (Clássico de Medicina Chinesa do Imperador amarelo; aludido

como Nei Ching). Este fora escrito a quase 500 anos atrás e começa com uma

pergunta que é, de fato, um comentário sobre esse tempo: “Eu ouvi dizer que

antigamente os seres humanos viviam bem mais que cem anos. Isto por acaso

se deve as alterações nas circunstâncias, ou talvez seja porque a humanidade

tem negligenciado as leis da natureza?”. (CAVALCANTI, 1995, p. 28).

2.3 VISÃO DO TODO

O conceito atual de ‘psicossomática’, de acordo com Lipowiski

(1984), tem a intenção de abarcar uma visão de integralidade do homem, ou

seja, sua totalidade, um complexo mente-corpo em interação com um contexto

social. Aborda a inseparabilidade e a interdependência dos aspectos

psicológicos e biológicos da humanidade. (SILVA; MÜLLER, 2007, p. 248).

O termo ‘psicossomática’ foi utilizado pela primeira vez por um

psiquiatra alemão chamado Heinroth, em 1808, quando realizou seus estudos

sobre insônia; mais tarde, em 1823, ele introduziu o termo ‘somato-psíquico’

para abordar a influência dos fatores orgânicos que afetam os emocionais. Já o

termo ‘medicina psicossomática’ foi apresentado por Felix Deutsch, em 1922 e

desenvolvido de forma mais consistente por Helen Dunbar, em seu livro

“Mudanças emocionais e biológicas: uma pesquisa da literatura sobre inter-

relações psicossomáticas: 1919-1933”

Atualmente, a visão psicossomática já conquistou um espaço

importante entre as práticas médicas, tendo como prova disso a atual definição

de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS): “saúde é um estado de

completo bem-estar físico, mental, social e não apenas a ausência de doença”.

28

Apesar de ser alvo de críticas, esse conceito consegue ser mais

próximo de uma visão de homem integral, pois considera as influências

biopsicossociais. (SILVA; MÜLLER, 2007, p. 248).

A medicina psicossomática é apontada como vanguarda do pensar e

do fazer na área da saúde. No entanto é importante relembrar que essa

abordagem possui 2.500 anos de construção, tendo seus primórdios no

surgimento da medicina com os aforismos de Hipócrates (séc. VI a.C.),

considerado o pai da medicina.

Ele definiu o homem como um sistema integrado constando de

corpo, alma (psiquismo) e ambiente, portanto estruturou seus pensamentos

sobre essa base (Riechelmann, 2000). Volich (2000) também apontou a

psicossomática como herdeira do pensamento antigo que considera a unidade

corpo-alma. Afirmou que sua busca está embasada na visão integrada de

homem, perseguindo a compreensão da existência humana, da saúde e da

doença através das manifestações da unidade do sujeito e estruturando ações

terapêuticas sobre esse enfoque (apud SILVA; MÜLLER, 2007, p. 249).

Esta visão integrada nos remete ao homem como seu próprio

ecossistema, ou seja, seu corpo e o seu próprio mundo, entretanto

condicionado a fatores ambientais internos e externos, sendo esses últimos

maiores que ele mesmo.

2.4 ECOLOGIA DO CORPO

Deve-se estabelecer para este estudo que a ecologia é a ciência que

estuda as relações que os seres vivos estabelecem entre si e com o meio

ambiente. Além disso, o ser humano é determinado por sua estrutura onde esta

por sua vez regula, restringe, limita e possibilita formas variadas de relação

com o ambiente externo.

A forma como essa estrutura trabalha é baseada nas ideias dos

biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela (2004) que afirmam

29

que a estrutura opera em um sistema fechado, entretanto quando interage com

o meio ambiente estes vão se constituindo de acordo com a troca, o que eles

denominam autopoiese do grego produção de si mesmo, consequentemente se

adequando e adaptando suas estruturas as estruturas do meio em que vivem

numa troca constante (apud SÁNCHEZ, 2011, p.21).

O corpo humano é, portanto, seu primeiro ambiente e está em

constante busca de acoplamento, adaptação com meio em que vive desde os

primeiros instantes de sua ontogênese. O corpo deve ser visto como um

elemento relacional do ser com o mundo, de forma que cada corpo determinará

a forma de ser e estar nas redes relacionais que estabelecem com o meio. Seja

ele orgânico, fisiológico, simbólico e social (SÁNCHEZ, 2011, p.25).

O objetivo da ecologia do corpo é entender a rede complexa de

relações do ser humano com o meio, denominada corporeidade, buscando

entender como esta se constituí, acopla e adapta-se as exigências do meio

ambiente onde esteja inserido.

O meio ambiente que absorvem as sociedades atuais impõem um

ritmo de vida assoberbado deixando de lado o biorritmo de cada um. Alguns

elementos que afetam consideravelmente a corporeidade são: a poluição;

chuva ácida; efeito estufa e o aquecimento global. Outros elementos do dia-a-

dia estão relacionados à qualidade dos alimentos oferecidos a população em

geral que são produzidos em massa, com critérios de máximo e mínimo

permitido de elementos nocivos nos alimentos que causam doenças,

desequilíbrio hormonal e alergias (SÁNCHEZ, 2011, p.26).

Soma-se a essa situação o desenvolvimento econômico que na

atualidade é possível observar a divisão mais desigual aumentando o abismo

entre ricos e pobres. Isto afeta consideravelmente a qualidade de vida dos

menos favorecidos em ter acesso à alimentação adequada, saúde, educação,

saneamento e bem-estar.

30

Desta forma, devemos nos preocupar com nossa primeira morada,

segundo o biólogo alemão Ernest Haeckel, o nosso corpo, que em suas

palavras o termo ecologia vem da palavra Oikos que significa casa. Seguindo

esta linha Leonardo Boff, acredita ser um assunto que mereça debate e

mobilização de forças para ser o assunto do milênio (apud SÁNCHEZ, 2011,

p.37).

Deve-se destacar que a ecologia não se prende a definição clássica

de que é a ciência que estuda a relação dos seres vivos entre si e destes com

seu meio ambiente, mas sim entender as relações e interações entre dois

atores envolvidos em um sistema ativo onde a troca entre as partes, ou seja, o

Ecossistema.

Segundo Maturana (2004) ao ver o corpo como um ecossistema

este busca manter sua homeostase com trocas dinâmicas de matéria e energia

e no campo humano trocas de ordem simbólicas e linguísticas. (apud

SÁNCHEZ, 2011, p.43).

‘’Em outras palavras, na linguagem tornamo-nos sociais e na sociabilidade, estabelecemos nossas redes de trocas simbólicas ou materiais que são redes ecológicas, na forma material, de energia, psíquica ou simbólica, sendo nesta dimensão que nossa corporeidade assume-se como um ecossistema’’(MATURANA apud SÁNCHEZ, 2011, p.43).

Questões vistas até o momento fazem do ser humano um

ecossistema, entretanto como este vive em sociedade está inserido em uma

comunidade. As diversas comunidades de seres vivos correspondem ao bioma,

sendo que somados todos os biomas da terra temos a biosfera. A biosfera é a

camada do planeta que possui vida.

Dada esta explicação o estudo criado pelo geólogo inglês James

Lovelock e a bióloga norte-americana Lynn Margulis conhecida como hipótese

Gaia onde se tem a ideia que a terra é um superorganismo vivo, que se

31

autorregula, se auto-organiza de forma independente e autônoma (apud

SÁNCHEZ, 2011, p.54-55).

Segundo Sánchez (2011) após essa pequena explanação o que se

pode entender da ecologia do corpo é:

“Nossa espécie depende intrinsecamente das outras, que nossa corporeidade está atrelada por meio da teia da vida as outras formas de vida no planeta, daí a importância da consciência ambiental e da ecologia do corpo para a educação ambiental, para que possamos entender que não somos seres isolados e fora do contexto da natureza, mas sim seres altamente dependentes, ecologicamente aderidos à biodiversidade do planeta na qual a nossa corporeidade está em interação constante” (p.61).

Após o exposto ficam diversas questões, porém o que o homem, no

seio familiar, na escola ou por iniciativas da sociedade e do governo podem

fazer para começar a mudar?

A doença nada mais é, muitas vezes, do que a abertura de nossos

corpos a agentes negativos gerados por nos mesmos, por não praticarmos em

nossas vidas aquilo que aprendemos, ou seja, valorizar nosso corpo, mente e

espirito. Não é fácil para grande maioria viver em harmonia diária o que

prejudica sua relação com seu próprio ecossistema e no todo com a biosfera,

afetando em cada ato, atitude ou palavra todos aqueles que estão a sua volta,

como visto, por exemplo, na teoria do efeito borboleta, onde muitos não

conseguem ver correlação entre desastres naturais em pontos totalmente

diferentes do planeta, pois isso é efeito previsto na teoria de gaia, afinal o

planeta esta vivo e se autorregula, o que pode, muitas vezes trazer ao homem

que o desequilibra, consequências aos seus atos.

Uma afirmação é certa, primeiramente, temos que mudar a cada um

de nós em nosso próprio ecossistema para podermos externar e passar esse

aprendizado de forma a crer no discurso e na prática do mesmo, para àqueles

a nossa volta e a sociedade de um modo geral.

32

CAPITULO III

NOVO OLHAR ALÉM DA EDUCAÇÃO:

A PRÁXIS CIDADA TRANSFORMACIONAL

Ao assistirmos televisão, que ainda é um meio de comunicação mais

acessível a toda a população encontram-se programas de televisão voltados a

falar sobre o meio ambiente, o mundo animal, a sustentabilidade, entretanto, a

grande maioria da população não assistem aos programas ao ponto de

entenderem as mensagens ali contidas, o que pode ser concluído pelas

atitudes diárias, como a não separação do lixo, na prática de juntar e vender

latas, papel e garrafas pets, em jogar o lixo em local adequado, ou seja, em

trazer para seu cotidiano as lições aprendidas.

Uma hipótese viável é que este modo de vida sustentável e saudável

para nós e o meio ambiente não é prática comum no dia-a-dia o que leva

autoridades no assunto ou pessoas que já tem este habito a pensar o que

poderia ser feito? O que pode ser mudado ou transformado para que seja

alcançado resultados melhores e mais palpáveis que sejam realmente

significativos para mudanças reais, visíveis e que transformem as pessoas e o

ambiente a sua volta e permitam uma harmonização entre todos?

3.1 INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Deve-se imaginar que a Educação Ambiental deva ser tratada de

forma a ser acessível a todos desde os primeiros anos no ensino fundamental,

para poder formar o caráter dos futuros cidadãos que irão cada qual a sua

maneira e proporcionalidade interagir e interferir no ambiente, e, que seja o

tanto quanto possível, de forma positiva.

Não se deve ter a Educação ambiental como algo a ser discutido,

com formalidades, pompa e glamour, onde os efeitos não estão sendo muito

grandiosos. ECO-92, Pacto de Kyoto são exemplos de eventos de muita

33

repercussão e pouco efeito prático. A mudança começa com cada individuo o

que leva a mudanças de grande vulto quando boa parcela da população na

casa dos milhões muda o ambiente que os cerca de forma perceptível e não

sutil.

Para o professor Celso Sanchez (2008), a Institucionalização requer

mudanças na relação entre o sujeito e o ambiente e servir de referencial para a

humanidade, sendo que, para isto ocorrer a educação ambiental deve sair de

uma posição de uno e se vincular a novos elementos e gerar novos valores e

assumir múltiplas visões de educações ambientais, pois, cada uma, em cada

região, por exemplo, deve-se dialogar com o modo de vida do lugar, cultura,

hábitos e procurar inovar e manter na medida certa, por meio da sensibilidade

dos gestores, facilitadores e por aqueles que manterão a práxis diária com os

ensinamentos e filosofias apresentadas.

Quanto aos institutos ou ambientes propícios para esta empreitada,

dois são os ideias: o meio educacional e o empresarial.

3.2 ESCOLAS AGENTES DE MUDANÇA E RENOVAÇÃO

Segundo Zilma Dias (2008), em seu discurso:

“a educação ambiental pode ser entendida de uma maneira ampla, como uma dimensão da educação voltada para as questões ambientais (...) através de enfoques interdisciplinares, e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da sociedade” (DIAS apud SANCHÉZ, 2008, p. 48).

Por esse prisma, a escola deve integrar conhecimentos e atores, ou

seja, integrar as matérias em sala de aula de forma a comungarem estratégias

e discursos que possam passar a mensagem referente a educação ambiental,

permitindo um contato mais diário com a mesma de forma a cada um dos

alunos, professores e funcionários sejam envolvidos de forma praticar o que ali

é demonstrado.

34

Durante o ciclo de aulas muitas temáticas são abordadas como dias

comemorativos ou eventos pertinentes a cada cidade ou região, e, a educação

ambiental, deveria ser trabalhada de forma a integrar essas relações já

estabelecidas e servir e ser servida diariamente de forma a promover a

conscientização e postura para que a nação brasileira “compre essa ideia”.

Os próprios alunos, em algumas escolas que trabalham com hortas

orgânicas e nutrição, com intuito de levar o conhecimento e difundir alimentos

pouco conhecidos e outros já há muito conhecidos de suas características e

benefício, conseguem levar esses hábitos a mesa da família dos alunos que

buscam junto a seus pais, irmãos, vizinhos e amigos difundir a ideia e fazer

valer, na prática os conhecimentos aprendidos de forma a beneficiar pessoas

do seu convívio social que poderão se tornar facilitadores em seus nichos

sociais e dessa forma ampliar consideravelmente hábitos e posturas nunca ou

pouco praticados, trazendo benefícios a saúde do corpo (nosso primeiro

ambiente), ao bolso (economia com remédios), ao governo (diminuição de

gastos com a saúde e prevenção) e preservando a natureza de forma direta e

indireta.

Cuidados são necessários para promover algo dessa monta, pois

nas escolas ainda há embate entre o discurso progressivo e clássico onde a

própria educação ambiental sofre, pois muitos acreditam que o aluno deva ser

doutrinado e adestrado o que vai contra os princípios da educação moderna, o

que leva a questão de levantada por Nasciutti (1995), onde se pondera sobre

as dimensões institucional, funcional e relacional, onde:

“no nível do instituído, encontra-se a identidade institucional consolidada (...) onde estarão presentes as ideologias norteadoras da instituição; o funcional estará de acordo com o universo simbólico ideológico dominante, será o nível dos estatutos e da hierarquia interna; e o relacional onde estão os elementos de identificação, grupos e controle, as estratégias de continuidade e de eliminação dos não-conformes, e aí se encontrarão os submissos, os críticos e os subversivos” (NASCIUTTI apud SANCHÉZ, 2008, p. 61).

Por essas dimensões, para àqueles com vivencia na área

educacional entendem a dificuldade de fazer algo como descrito em todo esse

35

subtítulo, pois a educação no país é sazional, ou seja, vai de encontro ao gosto

do freguês, que no caso, é o Estado, representado por ideias políticos, que,

muitas vezes é contrário a tudo que foi feito até aquele dado momento,

mudando todo um planejamento escolar sem maiores enfrentamentos ou

questionamentos, pois, afinal, ninguém sozinho, dentro do sistema poderá

derruba-lo ou questioná-lo e dessa forma, muitos projetos e pessoal são

perdidos e volta-se a um estado de apatia, desinteresse e imobilidade não

sendo saudável, nem para a educação, e, tão pouco, para a educação

ambiental.

3.3 EMPRESAS AGENTES DE MUDANÇA E MANUTENÇÃO

As empresas após a criação de certificações como a série ISO

(séries 9000 e 14000, por exemplo) criaram uma forma de concorrer com um

diferencial perante o público e de alguns governos mais esclarecidos e

preocupados com os acontecimentos no mundo como aquecimento global e

nós brasileiros que já percebemos a mudança radical no ambiente com maior

calor a cada ano; e maiores chuvas destrutivas.

Desta forma, a população acabou inserida em um novo contexto a

da sustentabilidade com o emprego de novas normas internas nas empresas,

por exemplo, fazem com que seus funcionários e cidadãos em suas horas de

lazer, absorvam novos hábitos por meio de esclarecimento de uma nova

postura da empresa, treinamento ou simplesmente doutrinação, o que no final

os meios se justificam para não perderem seus lucros e terem uma fachada

que indique sua preocupação, real ou não, com questões ambientais.

Muitas empresas enviam seus funcionários para fazerem curso em

direito ambiental, gestão ambiental e educação ambiental, o que é de grande

ajuda para a valorização da empresa no mercado, e muitas vezes criam de

projetos, junto a comunidade, para melhorar seu entorno e fazer com que a

mesma seja participativa em seus objetivos e metas ao vincular propaganda

sobre o projeto, pois afinal a visão do lucro nunca sai do prumo.

36

Entretanto pegando o lado positivo da situação esta ao integrar a

comunidade abre portas para que esta se manifeste, e , muitas vezes participe

de forma efetiva com ideias que possam ser aproveitadas e mantidas

aumentado o numero de pessoas em agir em prol da sua comunidade, o que

pode ter reflexos em comunidades vizinhas ao ver a mudança para a melhor de

um outro bairro, podem querer acompanhar e as escolas buscarem parcerias

com as empresas para buscar conhecimentos, formas novas de atuar, por meio

de visitas programadas ou estágios (para o ensino médio, por exemplo) e

palestras feitas por profissionais para os alunos nas escolas, oque gera uma

propaganda gratuita e faz com que a mídia crie uma ambiente de “bons olhos”,

o que beneficia a todos os atores participantes.

Vender produtos com selos de qualidade voltados para o meio

ambiente ajudam as empresas a lucrar, isso é fato consumado. Cabe analisar

como isso pode ser efetivamente e sempre aproveitado, seja pelo governo,

seja pela comunidade, para beneficio para todos, mas que não ocorra em vista

grossa para processos de certificação e alvarás, o que levaria a situações

vexatórias e descredito àqueles que trabalharam duro, acreditando nos ideais

ora plantados.

3.4 PROGRAMAS E POSTURAS PELO MUNDO: UM PEQUENO

DISCURSO

Para este tópico, serão expostas três situações de um ambiente

macro para o micro, no caso, a postura do povo alemão, o sistema educacional

japonês e francês e o curso de economia doméstica.

De forma direta, o povo alemão pratica diariamente propostas de

educação ambiental. Alguns exemplos pertinentes vistos a muitos anos em

programa da emissora TVE:

- nos mercados alemães há um funcionário para receber garrafas

para reciclagem que serão enviadas a empresas que trabalham

com reciclagem. O interessante é que as garrafas, em sua

maioria, já vem higienizadas e quando não, o funcionário o faz.

- as ruas são extremamente limpas.

37

- os centros de reciclagem são limpos e trabalham automatizados

exigindo apenas 3-4 funcionários para executar toda operação de

recepção, transformação e envio a indústria.

Em 1994, 80% da agricultura alemã era orgânica.

- nos períodos de verão e primavera, as prefeituras disponibilizam

aos moradores, com o pagamento de uma taxa anual baixa um

chalé, onde todos podem plantar pomares, hortas e usufruir das

mesmas.

No Japão e na França, as crianças têm aulas de economia

domestica como parte do currículo. Ser educado em preparar seu próprio

alimento leva as crianças a serem adultos mais independentes e dotados de

capacidade para romper com os junk foods e alimentos congelados em prol do

preparo. O pão na França, um alimento muito apreciado é ensinado e

produzido nas aulas de culinária. No Japão a cerimonia do chá não é somente

simbolismo ou etiqueta é também o aprendizado de como proceder com o

preparo de um chá de ótima qualidade extraindo o que a de melhor nas folhas

e sendo também utilizado em sua medicina, assim como fazem os chineses a

centenas de anos.

No Brasil temos um curso superior de economia domestica, e muitas

esposas de reitores os fazem, e curiosamente estes cursos têm muitos

convênios sendo um deles com institutos de ensino superior da Alemanha e

fica a pergunta, porque não há a difusão de todo esse conhecimento por meio

de programas voltados a educação, havendo mirradas tentativas que quando

descobertas são suprassumos e exceções gritantes de algo que, no Brasil

principalmente, deveria ser comum.

Em busca na internet, foram encontrados poucos materiais sobre o

assunto, projetos em escolas, mas vale destacar um sobre utilização de plantas

medicinais em Cascavel no Paraná, o qual citam Jacobi (2003) que:

“a educação ambiental como formação e exercício da cidadania, refere-se como uma nova forma de encarar a relação do ser humano com a natureza (...) pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os

38

seres humanos” (apud MAULI; FORTES; ANTUNES, 2007, p. 92).

Desta forma, fica a indagação, o que houve com a educação

ambiental que deveria ser formadora de opiniões e valorar o saber popular e

cientifico para o usufruto do cidadão e da comunidade? Apenas, no momento,

quem poderá dar uma resposta assertiva é o sistema que nos governa e

controla ao sabor de seus desejos.

39

CONCLUSÃO

Após discorrer sobre o assunto o desfecho deste trabalho

monográfico leva a três caminhos possíveis.

A educação e a educação ambiental andam juntas, e são

complementares entre si, no sentido de que buscam levar conhecimento e

propiciar, quando possível, praticas que possam dar sentido a esta educação.

Sendo assim, o primeiro caminho não esta de acordo com essa

indagação acima, pois os governos estão presos a seus compromissos

políticos e econômicos, sendo interessante frisar, que todo governo,

teoricamente não visa lucro e sim administrar seus impostos em benefícios e

melhorias para a população por meio de produtos e serviços e é regido em prol

do povo.

A luta por modificar este sistema acima citado não é fácil e muitas

vezes ele destrói aqueles que estão contra seus objetivos. Darcy Ribeiro,

Roberto Freire e tantos outros que se juntaram a esta luta ainda não

conseguiram, em vida ou ao legado que deixaram para seus seguidores, e até

aos novos pensadores, mudar radicalmente este quadro, em um verdadeiro

trabalho de formiguinhas, a passos bem pequenos, algumas concessões e

algumas conquistas foram obtidas, mas com instabilidade e fragilidade de

mudanças por parte dos gestores do poder.

E o caminho solitário do professor, que mesmo sem autorização,

busca, dentro da medida do possível criar espaços, programas paralelos,

voluntariados entre outras opções para poder levar o conhecimento da

educação e da educação ambiental a um patamar de comprometimento, de

aprendizado com finalidade, onde o aluno possa sentir que esta fazendo

diferença ao ser um facilitador e ao mesmo tempo parte da mudança, que com

o tempo poderá ser sentido em seu entorno, com práticas mais saudáveis, com

atitudes corretas e voltadas a preservação do seu ambiente, da alimentação de

40

sua família, na composição de pequenas hortas e pomares, no entendimento

de que ele agora é um cidadão crítico e construtivo.

Não basta ensinar ou mostrar, há necessidade de se fazer praticar,

compreender e este, tirar suas próprias conclusões e fazer de sua voz um

instrumento de mudança e revolução de atitudes e posturas, e quem sabe no

futuro, um país mais verde e mais consicente.

41

BIBLIOGRAFIA

FAHT, Elen Cristina. Diagnóstico e Análise de Atividades relacionadas à Educação Ambiental em Escolas Públicas de São Paulo-SP e Blumenau-SC. Dissertação de Mestrado. USP, São Paulo, 2011. 55p. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/81/.../Elen_Cristina_Faht.pdf>.

LIMA, Paulo César de; SILVA, Alexandre Bueno da; TRALDI, Maria Cristina. DETERMINANTES DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA: IDENTIFICAÇÃO E REGISTRO NA CONSULTA DE ENFERMAGEM. Artigo. Disponível em: <http://www.seufuturonapratica.com.br/intellectus/PDF/03_ART_Enfermagem.pdf

MACHADO, Carly; SANCHEZ, Celso; ANASTÁCIO FILHO, Sérgio; CARVALHO, Vilson Sérgio de; DIAS, Zilma Pereira. Educação Ambiental Consciente. 2 ªed. Rio de Janeiro: WAK, 2008.

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PFUETZENREITER, Márcia Regina; CUSTÓDIO, José Francisco; KOEPSEL, Raica. CONCEPÇÕES SOBRE O CONCEITO DE SAÚDE E DOENÇA POR ESTUDANTES DE SAÚDE PÚBLICA. Artigo. http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/iiienpec/Atas%20em%20html/o43.htm

RODRIGUES, Vera Lúcia. Educação Ambiental: ferramenta para construção da cidadania. Monografia. AVM Faculdade Integrada. Rio de Janeiro, 2010. 62p. Disponível em: <http://avm.edu.br/>.

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TRIGUEIRO, André (Orgs). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

ZEPPONE, R.M.O. Educação Ambiental: teoria e práticas escolares. 2ª reimp. Araraquara, SP: JM Editora, 1999.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 6

CAPITULO I

HISTORIA DA EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 8

1.2 A Historia no Brasil e no Mundo: começa a Educação Ambiental 9

1.2 Implicações e considerações em Relação a Educação Ambiental 15

CAPITULO II

ECOLOGIA DO CORPO: CONSIDERAÇÕES AO PRIMEIRO

MEIO-AMBIENTE DO HOMEM 17

2.1 Educação Ambiental e a Saúde: seu entendimento a partir do homem

18

2.2 A Evolução da Medicina 20

2.3 Visão do Todo 27

2.4 Ecologia do Corpo 28

CAPITULO III

NOVO OLHAR ALÉM DA EDUCAÇÃO: A PRÁXIS CIDADA

TRANSFORMACIONAL 33

3.1 Institucionalização da Educação Ambiental 32

3.2 Escolas Agentes de Mudança e Renovação 33

3.3 Empresas Agentes de Mudança e Manutenção 35

3.4 Programas e Posturas pelo Mundo: um pequeno discurso 37

CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 42