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1 A VOZ DO MESTRE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES LEONARDO DA SILVA LIMA A COMUNICAÇÃO DOS VENDEDORES AMBULANTES (CAMELÔS), COM OS PASSAGEIROS (CLIENTES) NOS TRENS DO RIO DE JANEIRO. DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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A VOZ DO MESTRE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

LEONARDO DA SILVA LIMA

A COMUNICAÇÃO DOS VENDEDORES AMBULANTES (CAMELÔS), COM OS PASSAGEIROS (CLIENTES) NOS TRENS DO RIO DE JANEIRO.

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AGOSTO / 2013

A VOZ DO MESTRE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

CURSO DE COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL

A COMUNICAÇÃO DOS VENDEDORES AMBULANTES (CAMELÔS), COM OS PASSAGEIROS (CLIENTES) NOS TRENS DO RIO DE JANEIRO.

Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Departamento de Comunicação Social da AVM.

LEONARDO DA SILVA LIMA

PROFESSOR ORIENTADOR Rodrigo Rosa

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Rio de Janeiro Agosto 2013

FICHA CATALOGRÁFICA

LIMA, Leonardo da Silva, A comunicação dos vendedores ambulantes ( Camelôs), com os passageiros (Clientes) nos trens do Rio de Janeiro: Monografia de Conclusão do Curso de Pós Graduação em Comunicação Empresarial. Rio de Janeiro. A Voz do Mestre Universidade Candido Mendes. 2013.1. 1. A importância da comunicação para a sociedade; 2. A comunicação como complementação, integração; 3. Análise, observação dos vendedores ambulantes, camelôs (legalizados e/ou não legalizados) dos trens, nos trilhos.

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LEONARDO DA SILVA LIMA A COMUNICAÇÃO DOS VENDEDORES AMBULANTES (CAMELÔS), COM OS PASSAGEIROS (CLIENTES) NOS TRENS DO RIO DE JANEIRO.

Trabalho de Conclusão de curso, apresentado ao Departamento de Comunicação Social da AVM .

____________________________________________________________ PROFESSOR ORIENTADOR (Rodrigo Rosa)

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Para toda minha grande família e amigos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço: A minha família. A todos os meus amigos. A meu professor e orientador Rodrigo Rosa.

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Porque todos aqueles que pedem recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem bate.

Lucas 11. 9-10

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RESUMO

Este trabalho acadêmico pretende analisar a comunicação, diálogo, as trocas e as interações entre os vendedores ambulantes (legalizados e/ou não legalizados) e os passageiros nos trens do Estado do Rio de Janeiro. Através da análise das negociações dos camelôs e dos clientes - passageiros serão discutidas as conversas por códigos, símbolos e as mensagens. Além disso, será mostrado como acontece essas vendas rápidas ao decorrer de um vagão por trilhos. Dessa forma, será também mostrado como em meio de transporte de massa, como o trem, possa se transformar no decorrer de sua viagem em um Shopping – móvel (“céu aberto”). Palavras – chave: Trem, Super Via, vendedores ambulantes e os passageiros.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 11 1. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A SOCIEDADE. 14

1.1 Características da Comunicação

1.2 Ligação, relação entre comunicação, sociabilidade e cultura

2. A COMUNICAÇÃO COMO COMPLEMENTAÇÃO, INTEGRAÇÃO. 21

2.1 Interação e Sociabilidade

2.2 A Cidade

3. ANÁLISE, OBSERVAÇÃO DOS VENDEDORES AMBULANTES, CAMELÔS

(LEGALIZADOS E/OU NÃO LEGALIZADOS) DOS TRENS, NOS TRILHOS. 29

CONCLUSÃO 32 BIBLIOGRAFIA 34

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INTRODUÇÃO

Os trens cariocas vivem uma conexão interpessoal que “ligam” os passageiros e os

vendedores ambulantes. Estes atualmente estão em toda linha férrea dos trens urbanos.

Alguns desses ambulantes têm o cadastro pela (Super Via) concessionária de administração,

portanto a outra maior parte dos vendedores ambulantes trabalham na irregularidade. Os

vendedores ambulantes vendem, negociam de tudo com os passageiros, seja algo de comer,

beber, vestir e também algo inédito ou promocional.

Os vendedores precisam dos passageiros para sim haver o consumo. E nós assistindo a

isso tudo neste transporte perguntamos para si próprio. Como esses vendedores ambulantes

com essas linguagens diárias sobrevivem dentro do trem? De onde vem toda essa

espontaneidade, comunicação?

Ninguém discute que os meios de transporte são fundamentais para o processo de

comunicação humana.Essas invenções ajudaram muito a humanidade. Na pré-história, quando

o homem só andava a pé, elementos da natureza já tinham a noção do transporte, como as

formigas levando seus alimentos e o transporte do pólen. Hoje o homem não só usa os meios

de transporte para ir e vir a um ponto, mas sim faz transportar todo um “shopping móvel”,

como é o caso dos trens urbanos do Estado do Rio de Janeiro. Onde os passageiros são os

clientes e os vendedores ambulantes são as lojas.

Atualmente os trens cariocas e os vendedores ambulantes desse “shopping móvel” que

ali se encontram fazem uma relação, ligação de comunicação expressa. Lucia Santaella em

seu livro (O que é semiótica) fala que toda expressão é uma linguagem. Retrato da semiótica

sendo a ciência de todas as linguagens, ciência geral dos signos (entidades representadas).

Uma fundamental ciência. Santaella diz que tudo pode ser analisado pela semiótica, tudo pode

ser linguagem, como a capa de um livro, a venda, a comunicação de objetos, o que nós

falamos e até uma viagem solitária, o silêncio. Hoje vivemos num mundo de linguagem.

Temos como exemplos práticos de linguagens as cores, fotografias e o nosso próprio diálogo.

A semiótica que Santaella fala em seu texto é a semiótica que não estuda apenas o signo, mas

sim toda uma ação. A semiótica é realmente o estudo de toda e qualquer linguagem.

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Esta ação pode ser aplicada na conexão interpessoal dos trens cariocas, os vendedores

ambulantes. Neste exemplo prático temos uma comunicação humana por códigos, signos. A

representação é a fundamental “arma” que envolve os vendedores ambulantes (legalizados ou

não legalizados) e os clientes deste transporte urbano. Os vendedores e os clientes têm

uma relação imediata que envolve convivência coletiva, costume de relacionamentos e o

fundamental que é a criatividade dos vendedores ambulantes. A linguagem usada pelos

vendedores ambulantes é realmente uma forma de ação, uma expressão verbal e visual. Cria-

se um comportamento prático, um ritmo urbano, uma “exploração de comunicação”.

De acordo com o artigo (Comunicação, sociabilidade e ocupações práticas da cidade) de

Fernando do Nascimento Gonçalves os espaços públicos criam experiências singulares de

sociabilidade e comunicação. Sendo a ação individual ou coletiva, uma reação para uma

experiência comunicativa muito particular. Essas convivências criam estilos de vida,

experiências e uma prática social de espaço capazes de produzir subjetividade. A arte urbana

assume um papel efetivo de reconvocação dos sentidos e de reflexão sobre a nossa atual

condição humana. O espaço de criação e de produção de relações tem a ver com real, a

história e a cultura. Tudo isto trata-se das articulações semióticas que caracterizam a

comunicação como processo complexo de produção de sentido. É a partir dessas articulações

que se forja a resignificação de práticas sócias.

Na sociedade em geral vimos uma comunicação cotidiana. Pois nos trens, entre os

vendedores ambulantes e os passageiros existe uma grande ação pessoal ou conjunta. Se trata

de uma realidade composta por pessoas diferentes, objetos diferentes e uma prática imensa de

sociedade. Ou seja, uma comunicação de vários âmbitos com grandes esferas.

Patrícia Burrowes ( Pronto para o Consumo) acredita que vivemos uma nova era para a

comunicação. Sendo o marketing um novo processo de integração com a sociedade. O

marketing é agora o instrumento de controle social. O processo de comunicação comporta

toda uma exterioridade indissociável da formalização da expressão. O marketing é um vetor,

um transmissor, da visão e das práticas do mercado, é o que as introduz em todas as esferas da

vida social. O Marketing é tão aplicado e presente nos trens cariocas que faz com que o

passageiro veja diariamente o próprio marketing pessoal de cada vendedor ambulante.

Sempre entre os vendedores ambulantes nas viagens dos trens cariocas o que vimos como cita

alguns autores são os tipos de signos e mensagens visuais, uma grande visibilidade

diferencial, pessoas com modos de articulação, representação. As viagens permitem ao

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usuário ver “nova” sociedade que vem dos vendedores ambulantes com as suas mercadorias e

principalmente uma comunicação em prática. Esta comunicação cria uma nova linguagem

num meio de transporte urbano de muita movimentação diária. Trata-se de um transporte

coletivo de massa, na qual circulam várias pessoas. É uma comunicação imposta entre os

vendedores ambulantes e os passageiros, um “conectado’ ao outro, um dependendo do outro,

seja o vendedor para vender e o passageiro para adquirir. Os vendedores ambulantes

com os seus objetos, com as suas características e até com o seu próprio marketing fica em

função do passageiro para poder ter um retorno lucrativo, para deste lucro sustentar o seu

objetivo. Os passageiros dos coletivos já têm a hábito de ali fazer a sua compra pessoal, seja

qual for a mercadoria, há uma ligação, interação por palavras ou gestos físicos de momentos.

Isso retrata que não só pode, como é grande esta comunicação imposta por “cara à cara”. Uma

ligação antiga, mas que até nos dias de hoje pode ser explorada nesta conexão pessoal. Muitos

ligados aos procedimentos e avanços globalizados, mas ainda não só resta, como podemos

ver, sentir e participar deste conjunto físico. Um ciclo que envolve uma sociedade capaz de

conhecer, saber e utilizar tudo o que o mundo tem de moderno, mas também sabe

disponibilizar do seu próprio conhecimento simples que é a comunicação das palavras. Um

saber de pequeno, que numa simples compra de objetos pode se tornar grandioso.

Para iniciar toda essa discussão, no capítulo 1 foi explicada a importância da

comunicação humana para a sociabilidade. Também foram mostrada as características da

comunicação e a relação entre cultura, comunicação e sociabilidade.

No capítulo 2 foi feita a comunicação como integração. Também fala sobre a interação

e sociabilidade e a Metrópole / Urbano (Cidade).

No capítulo 3 foi realizada a análise dos vendedores ambulantes (legalizados e/ou não

legalizados) nos trens. Enfim, foram descrito o perfil de todos que participam deste trabalho.

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1. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A SOCIEDADE

1.1. Características da comunicação

“Cadê os vendedores ambulantes?” Esta frase escutei sentado no vagão do trem do

Ramal Japeri e faz parte do cotidiano nos trens da Supervia do Rio de Janeiro. Os passageiros

que pagam a sua passagem em direção a um destino se transformam em compradores. Estes

consomem e os vendedores vendem, é uma conexão que envolve códigos, signos e mensagens

inseridos numa cultura local, que só os que ali se encontram, se entendem, interagem. A

conexão entre eles são feitas por códigos: o passageiro só levanta a sua mão e o vendedor já

vai ao seu encontro. Por signos: quando um vendedor está em seu “posto”, parado vendendo e

o passageiro vai em sua direção, e por mensagens: quando o passageiro comprador chama,

grita o camelô dos trilhos.

As viagens nos vagões passam a ser diferenciadas. Alguns passageiros ao contra os

vendedores nos trilhos e outros se divertem, compram, com a presença dos ambulantes. O fato

é que os vendedores ambulantes fazem o ir e vir das pessoas serem alteradas, modificadas

com a sua presença. Os passageiros deste meio de transporte de massa carioca se dividem em

achar a presença dos camelôs certa ou errada nos vagões, uns acham incomodados por eles,

principalmente quando o vagão está cheio e outros acham que os vendedores nas viagens se

tornam uma opção de compra e venda produtiva, pois a cada circulação os camelôs estão

presentes. O trem se transforma num local em que a comunicação entre as pessoas se destaca.

A sociedade atualmente vive num mundo virtual, “online” em diversas horas do dia

“logado”, no trem passa a conviver com a interação “face a face”, o presencial, uma ligação

física entre seres humanos. Com o avanço das novas formas de comunicação e informação

pela tela do computador, as pessoas esquecem do contato físico, o pessoal. Pois nos trilhos o

que todos assistem é uma comunicação integrada, harmônica, entre os passageiros e os

vendedores ambulantes.

Mattelart (1999) relata o domínio da comunicação, uma multiplicação das formas de se

comunicar, acionadas por “todos e todas”, fala de questão da comunicação humana ser uma

rede, da liberdade e da democracia.

O trem é um espaço social democrático. Nos trilhos o que presenciamos é a autoridade

do ato de se comunicar, falar. Uma palavra ou várias palavras podem ditar regras, como uma

venda, negociação entre o passageiro e o camelô. Nessa negociação há estratégias

comunicativas do vendedor ambulante para persuadir o cliente passageiro.

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Juan Bordenave (1982) descreve o amplo e dinâmico mundo da comunicação. Um

mundo de signos e símbolos, da denotação e da conotação, dos códigos analógicos e digitais.

Isto pode ser aplicado nas viagens dos trilhos onde há um diálogo dinâmico, rápido inserido

numa relação de troca de códigos entre o emissor e o receptor.

Nos trens cariocas a simples venda para o passageiro comprador vem acompanhada com

as tecnologias. Anteriormente, por exemplo, os camelôs levavam para as suas vendas os

DVDS, hoje eles continuam levando os DVDS, mas acompanhado do aparelho de DVDS,

para que o passageiro possa ver de perto a resolução do DVD em sua compra adquirida. O

DVD em algo móvel, dando um novo significado a tecnologia. Tendência da comunicação à

mobilidade.

Bordenave (1982) relata que apenas há algumas décadas que se começou a conceder

uma concreta importância ao fato de o homem ser ao mesmo tempo o produto e o criador de

sua sociedade e cultura. Surgiu a reflexão de que ele está rodeado pelo meio ambiente físico,

mas, sobretudo, pelo meio ambiente social, composto por outras pessoas com quem se

mantém relações de interdependência. Além disso, a compreensão do fascinante processo de

comunicação pode induzir alguns a gozar mais das infinitas possibilidades, gratuitas e abertas,

deste dom que temos de nos comunicarmos uns com os outros.

O que presenciamos nos trens é o poder do ato de comunicação entre as pessoas, que faz

com que não só os que estão envolvidos no ato de compra e venda se entendam, mas todos ao

redor participam de alguma forma. Se a venda for “manual” o passageiro ao lado quase

sempre ajuda no diálogo da negociação, se a venda for tecnológica, o passageiro vizinho

também quase sempre ajuda na venda tecnológica torna-se uma venda para todos.

Uma negociação, uma venda são atos que exigem sociabilidade e estão inseridos no

meio ambiente da comunicação. A comunicação está presente em praticamente todas as

esperas da vida. A comunicação não existe pó si mesma como algo separado da vida da

sociedade e, por isso, ela pode estar numa venda e compra dentro do trem, onde há um

contrato físico e pessoal, realizado claramente por seres humanos e não máquinas virtuais. A

comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. A comunicação é uma necessidade

básica da pessoa humana, do home social.

Toda negociação de compra e venda é mediada por estratégias de comunicação,

possível graças à criatividade dos envolvidos no completo ato de comunicar. Nos trens

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urbanos ocorre uma grande interação, uma ação entre coisas (mercadorias vendidas) e

pessoas (passageiros x camelôs).

A comunicação interpessoal, característica da sociedade tradicional, que muitos

pensavam que seria suplantada pela comunicação interpessoal dos meios eletrônicos, hoje está

de novo em ascensão, talvez como uma relação contra a massificação e o comercialismo dos

meios de massa. Mas a razão mais provável de revalorização do colóquio, do encontro, do

bate papo talvez seja porque o homem-indivíduo está encontrando sua identidade verdadeira

do homem social. No seio do associativismo em ascensão e da luta pelo fortalecimento da

“sociedade civil”, o homem está reaprendendo a comunicação pessoa a pessoa, segundo

Bordenave.

A comunicação humana se transformou com o tempo, mas a antiga forma de

comunicação humana a interação face a face, ainda é atual e eficaz. Um exemplo disso são os

“negócios” realizados nos trens, em que presenciamos uma comunicação oral, quer

acompanhada ou não pela linguagem gestual. É um conjunto de signos sonoros e visuais que

envolvem toda uma sociedade. Esta cada presencia um conjunto de artes faladas e articuladas.

Analisando, vimos que com a evolução da linguagem, desenvolveram-se os meios de

comunicação. Mas, no cotidiano do “ir e vir” dos trens o que captamos é o diálogo oral.

Na simples ou grandiosa venda dentro dos “carros” dos trilhos encontramos uma

moderna indústria de bens, que claramente se mantém por um sistema comunicacional. As

viagens fazem ali girar o capital, com uma espécie de vender com o atual moderno. Este se

complementando com o artigo. Mesmo com o moderno, o ato de se comunicar é essencial por

serve para que os humanos se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade

que as rodeia.

Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela

comunicação as pessoas compartilham experiências, idéias e sentimentos. Ao se relacionarem

com seres interdependentes, influenciam-se mutuamente e, juntas, modificam a realidade

onde estão inseridas.

A comunicação consta de vários elementos, portanto a principal realidade é que a

comunicação se realiza, se concreta. Neste “troca-troca” a comunicação se manifesta

diariamente, fazendo com que haja uma conversa. Os interlocutores (vendedor e passageiro),

os efeitos, os conteúdos, os signos e os meios são elementos básicos de uma comunicação.

Assim, a “boca” humana (vendedores) é capaz de produzir infinitas

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combinações de sons, e os ouvido com (passageiros) pode captar e distinguir milhares

dessas combinações.

Os camelôs e os que pagam as passagens fazem uma conexão direta com um processo

que envolve uma intenção, percepção e reação. Estes elementos podem ser conectados não só

no ato da venda, mas ao tentar vender. A comunicação é um “produto” funcional da

necessidade humana de expressão e relacionamento. Com isso, podemos perceber que é

impossível não comunicar no cotidiano diário.

Os atos comunicativos são produzidos pela cultura e está só se mentem pela

comunicação. A cultura só surge pelos processos de comunicação. Cada cultura tem seus

próprios códigos de comunicação que só são transmitidos por atos comunicativos.

As diferenças culturais na decodificação dos signos ilustram muito claramente o caráter

arbitrário dos signos criados pelo homem. Com efeito, cada cultura cria seus próprios signos e

lhes atribui seus próprios significados. Para que os signos comuniquem, deve haver uma

convenção ou acordo sobre seus significados. E isto é principalmente o papel da cultura ao

estabelecer seus códigos. Teoricamente e praticamente é impossível não comunicar, na

sociedade, na vida tudo se comunica. Nas viagens temos culturas diferenciadas, mas todos se

comunicam com a presença verbal ou não verbal, isto é , feita quer com palavras, quer com

gestos, olhares, tom de voz etc.

Nas viagens de trem percebemos classes diferentes interagindo em um mesmo

ambiente, interligadas pelo poder da comunicação. Podemos ter vários fatores diferenciais em

um só local, mas o poder de se comunicar é essencial e presentemente humano. A fala, o

escrito, o gesto tem o seu poder e as capacidade de continuar ou mudar tudo ao seu redor. A

comunicação é Infinitamente o poder e o sucesso da vida.

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1.2 Ligação, relação entre comunicação, sociabilidade e cultura

Weil e Tompakow retrata justamente as formas de comunicação, como a linguagem

silenciosa da comunicação não verbal não verbal na qual o próprio corpo fala, um exemplo é

novamente o vendedor ambulante dos trilhos, onde não precisa anunciar nada, o corpo já diz

tudo, o que vende e o que não vende, comunicação oral e/ou gestual.

O Corpo fala sem palavras

Pela linguagem do corpo você diz muitas coisas aos outros. E eles tem muitas coisas a dizer para você.Também nosso corpo é antes de tudo um centro de informações para nós mesmos. É uma linguagem que mão mente e cuja estrutura é a demonstrada...Dimensão na comunicação pessoal...Pois todo o ser humano tem que lidar. Consigo mesmo e com os outros.(Weil e Tompakow, pág. 7)

As “coisas” em qual não podem ser transmitidas apenas por meras palavras “tudo” pode

ser transmitido e entendido de outras formas, até o silencio. O comportamento humano é

muito significativo para o próximo. Quando um “ser” se aproxima de outro “ser”, sem a fala ,

o corpo já diz algo, o corpo fala. Os camelôs dos trilhos economizam palavras, pois os

passageiros já sabem quem são os camelôs, o que os próprios vendem. È uma interação física,

sem palavras, é presencial. O físico é mais veloz que a fala humana. Antes de iniciar a venda,

o passageiro através da presença do vendedor com o seu corpo à frente, já realizou toda a

negociação fisicamente. Sem códigos, símbolos e mensagens não tem sociabilidade, interação

humana.

Os códigos, mensagens e símbolos são ferramentas especializadas que a inteligência humana

cria e procura padronizar para facilitar a sua própria tarefa, a imensa e incansável tarefa de

compreender. Nas viagens do trem da central do Brasil vimos a experiência a experiência das

negociações entre camelô e passageiro por perceber em vez de falar e olhar. Uma venda,

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qualquer que seja o produto, pode ser adquirida sem nenhuma palavra ou olhar, apenas pela

compreensão.

O corpo humano tem energia, comportamento e funções que podem ser trocados pela

voz ou gestos. Todo e qualquer objeto relacionado com pessoas adquire uma linguagem

própria, a linguagem do corpo tem uma estrutura determinada. O ser humano tem uma

expressão corporal, mensagens individuais. Essa linguagem silenciosa do corpo, que muitas

vezes contradiz a palavra falada mais diz a verdade “nua e crua”. O nosso corpo expressa os

nossos pensamentos, as nossas emoções e as nossas reações instintivas. O corpo expressa a

nossa personalidade, trocas comunicacionais e simultâneas.

O interagir com pessoas cria-se uma sociabilidade, convivência coletiva, as viagens de

trem deixam de ser solitárias, há uma relação entre passageiros e ambulantes. Estes faz da

linguagem uma forma de ação. Não entendemos o sentido de um enunciado se não

considerarmos essa sua dimensão pragmática de realização de um ato. Fica claro que falar é

agir. Os usuários vivem intensamente com as transformações no cotidiano dos trens. O

comportamento faz de novo criar-se um novo ritmo urbano. Os espaços públicos passa a ser

criadoras de experiências singulares de sociabilidade e comunicação, capacidade de mobilizar

inusitadamente as pessoas e incitá-las à ação, individual ou coletiva.

Trata-se das articulações semióticas que caracterizam a comunicação como processo complexo de produção de sentido. É a partir dessas articulações que se forja a ressignificação de práticas sociais, das gerais a arte e a cidade constituem importantes vetores de experimentação, pois ambas nos convidam a aventuras de caráter estético e subjetivo, em que o estético diz respeito a formas de sensibilidade criadoras e o subjetivo, á produção social de estilos e modos de vida. (Gonçalves, 2004)

Os vendedores ambulantes por trilhos faz surgir ao seu redor novos modos, estilos

comportamento e experiência. Esses fatores são capazes de produzir uma grande comunicação

entre homem e a sociedade. Os camelôs além de fazer todas estas ligações, sobrevivem,

alimentam e dependem disso, mas fazem significamente uma enorme e própria “arte urbana”,

sendo o vendedor ambulante um grande artista.

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A arte urbana , como prática social relacionada a modos de apropriação do espaço urbano” (Pallamin, 2000: 45), si dá mesmo no interstício dessas práticas , nos das redes que a constituem. Paul Ardenne, que prefere usar o termo “arte contextual” para tratar dessa arte feita na nervura do lugar onde se instala a obra, credita sua força e qualidade criativas a essa operação delicada de tessitura, na qual a arte de mescla com a realidade para brincar com seus elementos ressignificando-os. Nessa arte, “o artista (“vendedor ambulante”) recorre à cidade (“trem”) como um ‘medium’ e faz dela um bem estético próprio” (Andenne, 2004:98), deixando nela uma marca singularizante que, por sua vez, poderá engajar criativamente outras pessoas, em outros processos.

Esse “shop” nos trilhos é visivelmente fantástico, pois, com toda a presente

comunicação entre o vendedor e comprador estes vendedores são como um artista, fazem de

tudo, e real, além do marketing próprio. Ou seja, é uma antiga comunicação, portanto com

adaptação as novas tendências do mercado é tecnológica.

O marketing passa a ser uma ferramenta, instrumento de controle social. De fato, o

marketing é uma das táticas empregadas por empresas na sua estratégia, mas agora as pessoas

fiscais, e não só jurídicas, adquirem esta nova visão de mercado, até o vendedor ambulante do

trem. Além de falar, ver, agir, ser artista, ter conhecimentos, os camelôs dos trilhos trabalham

com o marketing em seu corpo físico e o seu falar.

A língua, nos dizem ainda os autores, efetua atos. “atos que se ligam a enunciados por uma obrigação social, todos os enunciados apresentam esse vínculo direta ou indiretamente”. (Idem: 16). Não só no sentido austiniano de “atos de fala”, ações que se realizam na ou pela fala, como “eu vos declaro marido e mulher”, embora Delluze e Guattari partam daí, mas toda ela, língua, efetua atos que lhe são imanentes.

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2. A COMUNICAÇÃO COMO COMPLEMENTAÇÃO, INTEGRAÇÃO

2.1. Interação e Sociabilidade

A interação gera a sociabilidade. A interação na comunicação pode ser várias coisas, em

vários aspectos, ângulos e formas. O homem, a sociedade, as pessoas em ação criam a

sociabilidade. Nos trens fluminenses se produz uma manifestação entre coisas e pessoas. Uma

comunicação visível a todos que ali estão presentes.

A comunicação é algo presente, viva. O cotidiano da vida expressa bem a dinâmica dos

movimentos que constituem a comunicação. Nesse âmbito, a comunicação não é algo sem

ação e sim formada por um conjunto de relações em constante mudança, assim como é a vida.

A comunicação, além de viva, se faz múltipla, mutável. E ainda tem como objeto de estudo o

dinamismo, assim realizando as constantes transformações sociais.

O diálogo entre passageiros e vendedores ambulantes nos trens cariocas é eficaz. É uma

comunicação presente, constituída por um conjunto de diálogos que não envolve somente

estes personagens (vendedores ambulantes e passageiros), mas sim todos os que estão ao seu

redor. Como, por exemplo, no ato da venda o ambulante pode precisar de artifícios para a

mercadoria vendida chegar ao comprador. Pode acontecer até mesmo o fato de outro

passageiro já ter comprado o que está sendo vendido e expressar ao “novo” comprador que é

algo confiável, satisfatório. É uma comunicação onde todos se envolvem, uma união.

O diálogo é um conceito, que no decorrer da vida encontramos em diferentes

oportunidades. Pode ser definido por expressões como “atos” ou “ações comunicativas”.

Hoje, o diálogo acompanha a noção de interação, a qual é, com freqüência, modificada pelo

diálogo. As palavras dos vendedores ambulantes não são gratuitas, em vão, elas trazem

sentidos, formas que fazem uma compreensão com o passageiro carioca. Temos a noção e a

interação que traz dois elementos: fala e ação conjunta.

Os trens urbanos proporcionam um grande processo comum no qual todos se envolvem,

interagem. A venda passa a ser compartilhada através da comunicação. Esta direciona as falas

e atos do comprador e de quem está vendendo. Há uma ordem, uma seqüência de sentidos

nessa negociação visível a todos que ali se encontram. O vendedor fala e age para vender, ao

mesmo tempo em que o passageiro já o reconhece e sabe seu objeto de venda. Uma ligação

constante dos trilhos cariocas.

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A sociedade é um conjunto de ações, é prática através da atividade cooperativa de seus

membros, dos atos e trocas efetuadas em comum. A vida social proporciona ao homem

adquirir uma personalidade social.

Nos trens cariocas o que vemos é o conjunto, a união, todos se comunicando,

interagindo ao mesmo tempo. “No homem, a diferenciação funcional se desenvolve graças à

linguagem”(Mead, op. Cit.,p.297); é a linguagem, a presença de símbolos que confere a

particularidade de certas interações caracterizadas por ele de “conservação consciente”. Aqui

os sentidos não são naturais, imanentes, mas construídos e percebidos:

Os processos de comunicação se tornam possíveis na conversação de gestos conscientes,

onde cada um dos indivíduos que dela participa está consciente dessa conversação,

principalmente porque essa significação aparece em sua experiência e que a consciência

dessa significação implica tal aparição. (Mead, p.155, nota 2,)

A soma da linguagem com os gestos vistos nos vagões dos trens fazem uma

“dobradinha” de sucesso, na qual o vendedor anuncia seu produto, ao mesmo tempo em que

gesticula com o comprador. É um conjunto de palavras e articulações explorada pelo

vendedor dos trilhos para conseguir interagir com o passageiro.

Nos trens, a comunicação é a realização de um tipo de gesto, os gestos significantes,

algo entendido, praticado, que são ao mesmo tempo estímulos e respostas, em um ato pela

consciência da dupla afetação dos interagentes de uma ação.

A presença da significação é a “marca” nas interações humanas. Nos trilhos, a interação

é mediada por símbolos é, portanto, um processo que se desenrola através de fases que se

influenciam, com a presença de certos estímulos e a seleção e modificação das respostas a

estes estímulos pelos interagentes. O diálogo é muito importante, é algo conjunto do ato

social. Como ajudante do ato, a comunicação intervém na construção da sociedade.

A comunicação interfere no ato de construir dos indivíduos porque ela faz surgir um

outro tipo de pessoa, dotado da capacidade de respostas diversas. O conjunto de produzir

respostas diversas, de operar através de seleções e de escolhas se deve à comunicação e à

linguagem.

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O ato de se comunicar é a essência da “ligação” entre o passageiro comprador e o

camelô, eles se envolvem no ato de falar e agir. É uma negociação que acontece no expressar

das palavras. O camelô é exposto a uma “nova” linguagem para se comunicar com o

passageiro. Isto envolve toda uma conquista por parte do vendedor ambulante na qual ele tem

que estar inserido a uma linguagem rápida e dinâmica para conquistar o comprador e, ao

mesmo tempo, com gesto ágil para “prender” a atenção do passageiro.

O diálogo - em qualquer esfera - é igualmente importante na transformação e

organização da sociedade. Esta existe enquanto realização permanente de atos e trocas

possibilitadas pelo diálogo. É a organização produzida pela linguagem que permitiu o

desenvolvimento da sociedade humana. Indivíduos e objetos interagem em um esquema mais

ou menos rotineiro e inventivo que agenciam múltiplas configurações da vida social; a

sociedade é estruturada pelas e nas situações e projetos desenvolvidos coletivamente. Sua

“perspectiva situacionista e interacionista do mundo social atenta aos fenômenos de

emergência e criatividade do agir” (Cefai e Quéré, 2006, p. 87).

O diálogo, a prática das palavras um com o outro, é um meio, é a essência das

atividades cooperativas em uma sociedade consciente de si. O trem, local de ir e vir, meio de

transporte, passa a ser um lugar da comunicação, ato social, principalmente através dos

vendedores e passageiros, a comunicação é a mediadora das vendas diárias. São negociações

por gestos e falas que só os que ali se encontram vendendo e comprando se entendem. Nos

trens, portanto, existe a interação, a ação compartilhada, que compreende a interação de

diferentes organismos. Posteriormente, o ato é um todo, formado de partes, e o todo é anterior

às partes:

A sociedade é anterior ao indivíduo. (...) O ato social não se resume à soma de estímulos e respectivas respostas. O ato social é uma totalidade dinâmica, em desenvolvimento, e da qual nenhuma parte pode ser compreendida nela mesma. O ato social é um processo orgânico complexo que está implicado em todos os estímulos e em todas as partes dos indivíduos que dele fazem parte. (Mead,2006, p.100).

A comunicação, portanto, não existe senão no todo do qual ela faz parte e ajuda a

realizar; ela e o ato são indissociáveis, um encadeamento de fases nos quais dois organismos

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(dois indivíduos ou grupos) se encontram o tempo todo implicados – donde se pode

concluir que ela não pode ser tratada em si mesma, fora do ato, que não pode ser aprendida e

compreendida a partir de apenas uma de suas fases, nem a partir de apenas um dos

sujeitos envolvidos. Ela diz respeito exatamente à relação que existe entre eles, ela é o

instrumento que permite que entre eles se construa um certo tipo de interação.

Assim, segundo Mead, uma análise da comunicação é antes de tudo uma análise

situacionista: a situação como um todo – o contexto de uma entrevista, o quadro geral de uma

campanha política ou publicitária, a história e a natureza de um programa televisivo – deve

ser nosso ponto de partida e a nossa referência ao recortar um objeto específico.

Esses conceitos aplicados a uma venda nos trens urbanos, nos fazem pensar esta ação

como uma ação comunicativa, pois existem o expressar de palavras e gestos diferenciados.

Cada vendedor e passageiro tem seus argumentos no processo interativo. As trocas de

palavras enquanto interação é uma relação de dois, no caso dos trens urbanos é uma relação

entre vendedor e passageiro. Eles representam um emissor e um receptor, ambos com

perguntas e respostas, que representa a construção e a transformação de uma convivência

conjunta.

Os vendedores ambulantes dos trens urbanos do Rio de Janeiro são permanentemente

atravessados por interações comunicativas: cada venda, cada situação vivida no trem e em

torno das vendas se vê desdobrada e cercada de comunicação de todo tipo. Enfim, os

exemplos de como as interações comunicativas atravessam e reorientam o conjunto de nossas

interações são inúmeros.

A comunicação é, sobretudo, uma interação, marcada pela reflexividade – em que cada

parte atua sobre a outra, e onde passado e futuro são acionados pela ação no presente. A

comunicação é da ordem da prática: é uma prática reflexiva (que orienta a si mesma), o que

nos situa no terreno pragmatismo, ou de uma praxiologia da comunicação.

Mas para pensar o processo comunicativo, para compreender e aprender a dinâmica

relacional, a configuração das interações, sua contribuição é insubstituível. A comunicação,

portanto, é da ordem do movimento.

2. ACOMUNICAÇÃO COMO INTEGRAÇÃO

2.2. A CIDADE

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Com todo esse movimento de “pessoas” e “coisas” dentro dos trens da nossa cidade,

este passa a ser um meio de comunicação. O trem como lugar de encontro e de confronto,

uma esfera pública no “meio” da cidade em que acontecem as trocas comunicacionais. O

trem com linguagens simbólicas, sendo representadas pelos vendedores ambulantes e os

passageiros metropolitanos.

Ítalo Calvino já dizia que a própria cidade é o símbolo capaz de exprimir o emaranhado

das existências humanas. Em seguida, Renato Cordeiro Gomes, em seu livro, “Todas as

Cidades, a cidade” retrata a cidade como capacidade da fabulação que embaralha a tendência

racionalizadora, as experiências e as vivências dos homens. A cidade é resultado do trabalho

coletivo do homem. A cidade torna-se um labirinto, rede de significados móveis.

O viajar nos trens da cidade do Rio é algo produtivo. O trem da cidade como foco de

comunicação, a cidade comunica “coisas”, você ler as “coisas” na cidade. É a metrópole que

multiplica possibilidades individuais e coletivas, até mesmo num meio de transporte da nossa

cidade.

A cidade é um local de coletividades na qual tudo acontece, que pode gerar total

indiferença de cada indivíduo para com o outro, na vida diária. A metrópole é a cidade de

todos.

Os trens que “cortam” a cidade do Rio de Janeiro fazem um “elo” com os personagens

(vendedores ambulantes) e estes fazem do trem um lugar de trocas comunicacionais, nesta

cidade “apressada”, conturbada e dinâmica. Os trens cariocas são capazes de multiplicar

discursos, instituições, formas de democracia e diferença. O trem representa um espaço da

coletividade inteira numa grande cidade. Assim, o lugar representa a materialidade da ação

comunicativa.

Miège, no livro “Espécies de Espaço”, acrescenta que o conflito é a norma possível para

se conceber as relações no espaço público contemporâneo. É isso que vimos nos trens

fluminenses: uma “luta” de linguagens, sons, falas e olhares nas negociações expostas.

Gomes (2008) fala da cidade atuando sobre os corpos, a arte de conviver, enfim, a

cidade projeta um foco de luz multidisciplinar sobre a circulação dos discursos urbanos e suas

mediações, dando visibilidade incomum ao diálogo entre a cidade e a comunicação. Além

disso, a cidade se multiplica com os novos surgimentos, avanços e modernidade em todas as

esferas, especialmente entre pessoas.

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A modernidade faz a cidade como metrópole ser um fenômeno, relacionando com a

mudança indefinida ao ato de progredir. O novo projeto para as cidades que se expandem

sempre esteve conjugado ao avanço tecnológico, sucesso globalizado. Esse surpreendente

conecta – se estreitamente as conjuções entre modernidade e modernização em seu ciclo de

expansão, guiado pelo Estado. O término desse ciclo, contudo, possibilita as tentativas de

recuperação do papel da cidade e de a sua expansão de cultura, atrelada à via da cidade à

grande cidade, das informações à várias informações.

Nesse sentido, a comunicação é dimensionada como elemento indispensável de acesso

ao urbano, ou seja, os modos de usar a cidade implicam a ressignificação do urbano, cada vez

mais relacionado com a dinâmica sociocultural instaurada pela disseminação das tecnologias

comunicacionais, acelerando os mecanismos de mobilidade que caracterizam o dinamismo

das cidades, desde a abertura dos tempos modernos. (Renato Gomes - 2008).

Os trens na cidade, além de suas trocas comunicacionais, como por exemplo, o simples

ato de comprar e vender, se adapta a modernização que a metrópole impõe. Como não

somente o passageiro comprar um chaveiro ou uma caneta, mas sim comprá-las e

automaticamente o vendedor perguntar ao cliente o que ele quer escrever nessas compras,

pois este vendedor traz em suas mãos, além dos objetos de venda, uma máquina automática

que na hora digita na caneta e no chaveiro o que o passageiro quer logicamente escrito para

representar ou presentear alguém. Há uma “requalificação” da cidade contemporânea, que

pode ser desenhada a partir dos valores tecnológicos.

A metrópole se multiplica em palavras, conversas, conjunto de diálogos, as trocas

comucacionais simples e tecnológicas. A cidade sofre alterações produzidas pela dinâmica

desta comunicação.

A linha de raciocínio que articula as idéias aqui expostas vem procurando ressaltar as

relações entre comunicação e cultura (multiculturalidade), no contexto da globalização em

que novos modos de simbolização e ritualização dos laços sociais se tecem pela mediação das

redes comunicacionais e dos fluxos informacionais.

A cidade, então, como arena da multiculturalidade, está articulada com a nova cultura

comunicacional.

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Os cidadãos podem experimentar a heterogênea trama sociocultural da cidade, a enorme diversidade de estilos de viver, de modos de habitar, de estruturas do sentir e do narrar. Uma trama cultural que desafia nossas noções de cultura e de cidade, os marcos de referência e compreensão foi forjados sobre a base de; dentidades nítidas, de desenraizamentos fortes e demarcações claras. (Martín Barbero).

As vendas entre camelôs e passageiros fazem uma ativa circulação pública, na qual

acontece a realização da teoria (o anunciar a venda) e a prática (as vendas dos materiais). É a

ligação de diálogos que acontece no meio de uma acelerada cidade, na qual tudo é rápido,

tudo é instantâneo, até uma negociação de venda e compra. O vendedor consegue aplicar seus

objetivos nessa esfera pública, um elo com o passageiro do trem urbano.

Os novos modos de “estar junto” relacionam-se com as trasnformações da sensibilidade

que produzem os acelerados processos de modernização urbana e os cenários de comunicação

que, em seus fluxos, fragmentações, conexões, constroem uma nova cidade.

O vendedor ambulante dos vagões cariocas fazem uma negociação em uma esfera

pública, simultaneamente localizável e imaginária, real, capaz de multiplicar discursos,

instituições, formas de democracia e diferença, preservando – lhe um papel significativo

como dispositivo comunicativo.

Os lugares de práticas comunicacionais, como os trens urbanos, permitem e necessitam

de corpos reunidos e profundamente interconectados, de modo que permita ampliar e

aprofundar a capacdiade de acelerar tendências estruturais da sociedade.

Essa esfera intermediária funciona como fórum de debates, idéias, sugestões,

negociações, enfim, trocas comunicativas. Vendas, informações e opiniões caminham juntas,

de pontos de vista à todos. Nesse processo estabelece-se uma relação entre vendedor e

passageiro.

Jurgen Habermas acentua esse caráter duplo da esfera pública, sendo ela

simultaneamente espaço de representação e presença do poder e lugar de crítica do cidadão.

Segundo ele, é precisamente essa condição que a transforma em veículo decisivo na

constituição das sociedades modernas.

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No decorrer desses desenvolvimentos, a esfera pública, antes marcadamente de caráter

literário, transforma-se em um misto de esfera privada / pública. Mas o que continua sendo

importante é a possibilidade de manter aberto um espaço público de mediação,

idas e vindas. Hoje na esfera pública circulam uma formação de arenas discursivas

cruzando variados tipos de fronteiras, que acentuam fluxos textuais, sonoros, teóricos e

práticos.

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3. ANÁLISE, OBSERVAÇÃO DOS VENDEDORES AMBULANTES, CAMELÔS

(LEGALIZADOS E/OU NÃO LEGALIZADOS) DOS TRENS, NOS TRILHOS.

A Super Via tem a missão de oferecer serviços de transporte de passageiros na região

metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, a preço compatível, com segurança, rapidez,

confiabilidade e simpatia.

A Super Via transporta mais 10 milhões de pessoas por mês, em 89 estações, com uma

média de 450 mil passageiros por dia útil. Sua visão é transportar 1 milhão de passageiros por

dia útil até 2015.

A concessionária S.A. possui uma extensão da malha ferroviária de serviços de 992 km,

tem uma frota em operação de 160 trens urbanos e realiza 722 viagens diárias.

A Super Via (trens urbanos) conta com toda uma infra-estrutura disponível e acessível

para a passageiro. Dentre quais, tem a função de não permitir vendedores ambulantes não

legalizados em seus vagões, e a mesmo tempo, dar total credenciamento ao seus vendedores

ambulantes legalizados para qual seu passageiro.

Observação e análise dos ambulantes e passageiros.

Analisei, observei e entrevistei 4 pessoas nos trens do RJ. Entre as entrevistas: 2

vendedores ambulantes, um legalizado e outro não legalizado e 2 passageiros, um a favor dos

vendedores ambulantes (legalizado e não legalizado) e outro passageiro contra o vendedor

não legalizado, somente a favor do legalizado.

Observação 1 – Vendedor ambulante (Legalizado) no trem.

Ramal: Deodoro/RJ

Vendedor: Sérgio “Cacau” (Chocolate)

Vende: Chocolates

O vendedor Sérgio “Cacau” fica na plataforma da Central do Brasil vendendo

chocolates (Galak e Batom) todos os dias. Segundo “Cacau” o maior movimento das vendas é

a tarde, na volta, retorno dos passageiros (clientes) para sua casa, residência.

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Ali (Central do Brasil) ele vende várias caixas de chocolates (preto, branco e

variedades) o dia inteiro, ele “estaciona” sua banca e fica “gritando” os seus chocolates

diversos.

Alguns passageiros (clientes) já passam na banca antes de entrar nos vagões e compra,

outros já sentado nos seus bancos “gritam” pela janela para o vendedor (Sérgio) levar suas

mercadorias até ele (passageiro-cliente).

Ele relatou que deste trabalho diário que “alimenta” sua família, esposa e filhos.

É uma venda rápida, chego a“suar” no inverno com as vendas, mas é a central -

completa.

Observação 2 – Vendedor ambulante (não legalizado) no trem.

Ramal: Deodoro/RJ

Vendedor: Marcos

Vende: Chaveiros (times de futebol)

O vendedor Marcos vai de vagão em vagão vendendo seus chaveiros de time de futebol

(Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco), já entra nos vagões “gritando” os times de

futebol pertencente ao chaveiro. Imediatamente o passageiro (cliente) já pede o chaveiro pelo

seu time de futebol. É uma troca rápida. Negociações imediatas. Um trem em pleno

movimento.

Segundo Marcos ele visa as vendas, os passageiros, mas também fica de “olho” na

segurança da Super Via, para não perder as sua mercadorias pelos agentes da concessionária

administradora e até mesmo ser expulso por estes dos trilhos.

O trem é um vai e vem de gente, tem que ser frenético – relata (risos).

Observação 3 – Passageiro (a favor do ambulante legalizado e não legalizado)

Ramal: Japeri/RJ

Dentre todas essas negociações (vendas), entre camelôs e passageiros, conversei com o

passageiro Rodrigo Moura, 32 anos, do Ramal Japeri/RJ para relatar o que acha e o que vê

dentro da expressa locomotiva.

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Rodrigo relata que é favor dos ambulantes (legalizados e não legalizados) para ele o que

importa é o trabalho, independente da forma.

Rodrigo Moura diz que a fala, as expressões, os gestos e as idéias particulares de cada

vendedor ambulante chamam atenção sempre, por mais que vivamos na mesma cidade (local)

existe de pessoa para pessoa um perfil de se comunicar influenciado pelo meio em que vive.

Enfim, Moura explica que os vendedores apresentam, expõe seus objetivos de vendas

de uma forma diferenciada, “quase profissional”, conseguindo chamar a atenção para o

objetivo de venda e assim realizando a compra. Negociações. Fala que a viagem se torna

diferenciada, rápida. É um transporte que se torna um local de compra. Ressalta.

Observação 4 – Passageiro (A favor do ambulante legalizado).

Ramal: Santa Cruz/RJ

Partindo de um complexo de comunicação “legalizada”, bem amplo, conversei com

Patrícia Infante, 26 anos, que faz parte do Ramal Santa Cruz para entender o que ela acha

dessa interação (ligação) entre os camelôs e os passageiros.

Patrícia acredita que a legalização dos vendedores pela Super Via só melhorou. Fala que

o camelô legalizado já faz parte das viagens. É um encontro todos os dias, já deixo umas

“pratinhas” separadas no bolso para comprar balas. Me identifico com eles – fala.

O camelô legalizado dá segurança, sei quem é, é mais seguro. Se na compra tiver algo

errado, na viagem seguinte reclamo – afirma.

São mercadorias diferentes, com os mesmos vendedores, cada um com o seu jeito, com

a sua propaganda, sem correr dos seguranças – Fala Infante.

Com o camelô legalizado a viagem passa a ser globalizada, algo sério, uma melhor

integração, interação – completa.

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CONCLUSÃO

Concluimos que nas viagens dos trens cariocas se apresenta uma conexão interpessoal

muito importante e rara. Uma comunicação e interação de pessoas, a presença física, o estar, a

“face à face”. Temos uma linguagem rápida através de signos, códigos e mensagens. Com

todos os avanços tecnológicos, com todas as tecnologias, no trem ainda temos uma

comunicação de “pessoas com pessoas”, uma ligação física e pessoal. Neste transporte há uma

comunicação existente pessoal e prática entre o ambulante, que já tem o seu próprio

marketing e o passageiro. Os vendedores ambulantes e os passageiros têm uma relação muito

forte dentro de um vagão. Os passageiros já reconhecem os ambulantes e automaticamente já

sabem qual é a sua mercadoria ou mercadorias que ali será oferecido. Há uma praticidade

instantânea nos trilhos.

Vimos realmente que o marketing pessoal serve para criar a sociabilidade. Os trens

cariocas é exemplo prático da conexão interpessoal, o relacionamento constante entre pessoas.

Essa conexão de comunicação produz ou se agencia com processos de sociabilidade que pode

ajudar a apreender o fato comunicacional em sua complexibilidade e em conexão com outros

fenômenos de ordens diversas. Pode ajudar-nos a compreender as práticas comunicativas, um

relacionamento diário. Nós observamos como certas práticas comunicacionais produzem

sociabilidade no espaço urbano. Como é o caso dos trens cariocas, produz um efeito na

relação que se estabelece entre o usuário e o vendedor ambulante contribuindo para gerar uma

sociabilidade característica das viagens urbanas.

Analisamos que nessa conexão com certeza o diálogo que organiza a comunicação, os

passageiros e os vendedores se relacionam numa conversa rápida ou até mesmo numa troca de

olhar, uma representação. Esse espaço coletivo é dividido entre o vendedor, seja ele

legalizado ou não legalizado, e o passageiro “comprador”. Nesse Shopping por trilhos, há

uma circulação de viagens, compras e consumos, uma convivência coletiva. As viagens curtas

ou longas passam a não serem viagens solitárias, mas sim viagens comunicativas, sociais.

Enfim, o trem com seus passageiros e vendedores faz a viagem ter um novo

comportamento, uma convivência coletiva. As pessoas têm ligação, conexão. Os passageiros

consomem as mercadorias expostas e os vendedores, cada um com o seu marketing, fazem

seu papel de vender, negociar e comunicar.

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Os trens cariocas inspirou o nosso Zeca Pagodinho a narrar, descrever em música o que

assistimos e ouvimos nos trilhos:

Tem sempre tudo no trem que sai lá da central

Baralho, sorvete de côco, corda pro seu varal

Tem canivete, benjamim, tem cotonete, amendoim

Sonho de valsa... e biscoito integral

Tem sempre tudo no trem que sai lá da central

Chiclete, picolé do China e guaraná natural

Tem agulheiro, paliteiro, desodorante, brigadeiro

E um bom calmante quando a gente passa mal

E quem quiser pode comprar... o shopping móvel é isso aí

É promoção desde a Central a Japeri

E quem quiser pode comprar... um bom pedaço de cuscuz

E mastigar desde a Central a Santa Cruz

CD pirata do Frank Sinatra a Zeca Pagodinho

E até aquele veneno pra rato chamado chumbinho

Bala de côco, pirulito, suco de frutas no palito

Cuscuz, cocada... pasteizinhos de palmito

Despertador, rádio de pilha... ventilador e sapatilha

Até peruca é possível se encontrar

O pagamento é no cartão, vale-transporte ou refeição.

(Shopping Móvel)

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BIBLIOGRAFIA

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