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CO - 1 DOENÇA DE REPLANTAÇÃO EM MACIEIRAS E PESSEGUEIROS Instituto Superior de Agronomia Secção de Horticultura, Departamento de Produção Agrícola e Animal Instituto Superior de Agronomia - Calçada da Tapada, 1349-017 Lisboa Tel: 21 3653453; Fax: 21 3623262; http://www.isa.utl.pt/isahome.html Cristina Mª M. Simões de Oliveira – Professora Associada, [email protected] Introdução A região do Oeste é pela sua tradição frutícola das regiões portuguesas mais afectadas pela doença de replantação. A doença de replantação é determinada por factores abióticos e bióticos, muitas vezes difíceis de isolar e tem implicações importantes na produtividade dos pomares. Em 1995, através do Projecto PAMAF 2013 intitulado Doença de replantação em pessegueiros e macieiras. Testes de diagnóstico e meios de luta, procurou-se dar o primeiro passo na resolução deste problema realizando-se inquéritos, análises químicas, nematológicas e micológicas, testes em vasos e ensaios em campo, com vista a um conhecimento aprofundado do diagnóstico e meios de luta da doença de replantação de macieiras e pessegueiros. A partir de uma amostra de 75 pomares de macieiras e pessegueiros, foram seleccionados 20 pomares que evidenciavam sintomas de doença de replantação. Efectuou-se um inquérito com a informação histórica dos pomares e fez-se uma avaliação dos sintomas que contribuíram para o fraco crescimento das plantas. Para se obterem informações sobre a melhor medida a adoptar na recuperação de solos com doença de replantação, instalaram-se 3 unidades de demonstração (pomares) onde se ensaiaram diferentes modalidades de tratamento ao solo. O que é a doença de replantação ? A doença de replantação traduz-se por um declínio das árvores onde os sintomas estão em geral ligados à monocultura de uma dada espécie, ou espécies afins, e caracteri- zam-se pela dificuldade de enraizamento, fraco vigor e baixas produtividades das fruteiras. O atraso ou a redução da produção causado pela doença de replantação pode ser a diferença entre o sucesso e o insucesso de um projecto de investimento. A diminuição do crescimento e produção pode chegar a valores superiores a 50%, tornando o pomar economicamente inviável. Na bibliografia, podem encontrar-se inúmeras designações para o problema em análise como: fadiga do solo, problemas de replantação, doenças de replantação (abióticas e bióticas), doença específica de replantação, etc. Em fruticultura altamente competitiva e eficiente, o Mercado (armazenamento, comercialização, distribuição), o Investimento (afecto à actividade como é o caso de equipamentos associados a determinada tarefa), assim como o «Know how» (específico da actividade) são os vectores fundamentais que caracterizam o próprio sistema agrícola de dada região e que demoram em geral muito tempo a ser construídos. Daí que um abandono de determinada actividade, como é o caso da fruticultura, possa ter repercursões económicas e sociais muito graves. A opção a seguir é a replantação, apesar das pH Nutrientes Propriedades Químicas Estrutura Drenagem Capacidade de retenção de água Propriedades Físicas Tipo de Solo Substâncias tóxicas Factores abióticos Interacções Nemátodos Fungos Bactérias Factores bióticos Doença de replantação Fig. 1 - Esquema dos factores envolvidos na doença de replantação

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DOENÇA DE REPLANTAÇÃO EM MACIEIRAS E PESSEGUEIROS

Instituto Superior de Agronomia Secção de Horticultura, Departamento de Produção Agrícola e Animal Instituto Superior de Agronomia - Calçada da Tapada, 1349-017 Lisboa Tel: 21 3653453; Fax: 21 3623262; http://www.isa.utl.pt/isahome.html Cristina Mª M. Simões de Oliveira – Professora Associada, [email protected]

Introdução

A região do Oeste é pela sua tradição frutícola das regiões portuguesas mais afectadas pela doença de replantação. A doença de replantação é determinada por factores abióticos e bióticos, muitas vezes difíceis de isolar e tem implicações importantes na produtividade dos pomares. Em 1995, através do Projecto PAMAF 2013 intitulado Doença de replantação em pessegueiros e macieiras. Testes de diagnóstico e meios de luta, procurou-se dar o primeiro passo na resolução deste problema realizando-se inquéritos, análises químicas, nematológicas e micológicas, testes em vasos e ensaios em campo, com vista a um conhecimento aprofundado do diagnóstico e meios de luta da doença de replantação de macieiras e pessegueiros. A partir de uma amostra de 75 pomares de macieiras e pessegueiros, foram seleccionados 20 pomares que evidenciavam sintomas de doença de replantação. Efectuou-se um inquérito com a informação histórica dos pomares e fez-se uma avaliação dos sintomas que contribuíram para o fraco crescimento das plantas. Para se obterem informações sobre a melhor medida a adoptar na recuperação de solos com doença de replantação, instalaram-se 3 unidades de demonstração (pomares) onde se ensaiaram diferentes modalidades de tratamento ao solo.

O que é a doença de replantação ?

A doença de replantação traduz-se por um declínio das árvores onde os sintomas estão em geral ligados à monocultura de uma dada espécie, ou espécies afins, e caracteri-zam-se pela dificuldade de enraizamento, fraco vigor e baixas produtividades das fruteiras. O atraso ou a redução da produção causado pela doença de replantação pode ser a diferença entre o sucesso e o insucesso de um projecto

de investimento. A diminuição do crescimento e produção pode chegar a valores superiores a 50%, tornando o pomar economicamente inviável. Na bibliografia, podem encontrar-se inúmeras designações para o problema em análise como: fadiga do solo, problemas de replantação, doenças de replantação (abióticas e bióticas), doença específica de replantação, etc.

Em fruticultura altamente competitiva e eficiente, o Mercado (armazenamento, comercialização, distribuição), o Investimento (afecto à actividade como é o caso de equipamentos associados a determinada tarefa), assim como o «Know how» (específico da actividade) são os vectores fundamentais que caracterizam o próprio sistema agrícola de dada região e que demoram em geral muito tempo a ser construídos. Daí que um abandono de determinada actividade, como é o caso da fruticultura, possa ter repercursões económicas e sociais muito graves. A opção a seguir é a replantação, apesar das

pH

Nutrientes

Propriedades Químicas

Estrutura

Drenagem

Capacidade de retenção de água

Propriedades Físicas

Tipo de Solo Substâncias tóxicas

Factores abióticos Interacções

Nemátodos

Fungos

Bactérias

Factores bióticos

Doença dereplantação

Fig. 1 - Esquema dos factores envolvidos na doença de replantação

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consequências inerentes ou seja o aparecimento de doenças de replantação.

Agentes causais

Os agentes causais responsáveis pela doença de replantação compreendem factores bióticos, abióticos e suas interacções. Na Fig. 1 apresenta-se um esquema simplificado da dinâmica dos agentes referidos. Os factores bióticos estão relacionados com os organismos existentes no solo (nemátodos, fungos e bactérias) e os factores abióticos estão dependentes do tipo de solo e das substâncias tóxicas.

Testes de diagnóstico em vaso

Os testes de diagnóstico utilizados são geralmente os realizados em vaso, daí a designação de testes ou ensaios em vaso. Estes testes são complementados com análises fisico-químicas e nematológicas e inquéritos feitos ao agricultor sobre o historial da parcela (cultivares e porta enxertos utilizados, tipo de condução, solo etc.).

Os testes em vaso são métodos de exame indirecto que permitem determinar a intensidade da doença, com base na comparação do crescimento de plântulas obtidas por semente da espécie a replantar, semeadas em solo do pomar e em solo sujeito a diversos tratamentos físico-químicos, Fig.2.

Após as manipulações necessárias, as jovens plantas com 2 a 4 folhas no máximo, são plantadas em vasos. Na maior parte dos casos, um período de 6 a 8 semanas é suficiente para obter resultados e diferenças significativas. Um exemplo da evolução do crescimento das plântulas em solos de macieiras sujeitos a diferentes tratamentos encontra-se descrita na Fig. 3.

São feitas comparações das diferenças de crescimento entre períodos estabelecidos. Nestes cálculos toma-se por referência a testemunha média, que equivale a 100, e os valores obtidos são comparados e classificados.

Resultados e conclusões relativas aos ensaios em vaso efectuados

Em relação aos ensaios em vaso por nós realizados algumas conclusões podem ser retiradas relativamente aos métodos utilizados e relativamente à existência ou não de doença de replantação e suas possíveis causas nos solos analisados. Pode-se assim concluir que as populações de Fusarium estão presentes e não são apenas constituídas por formas saprófitas pois estas populações demonstraram ter potencial para originar a doença. Não se poderá atribuir para nenhum dos pomares, como causa da doença de replantação fungos do género Fusarium mas podemos afirmar que estão envolvidos na doença e que em determinadas situações de desequilíbrio microbiológico podem vir a manifestar efeitos drásticos na redução dos crescimento.

Macieiras

A análise dos 14 pomares de macieira revelou que causas como má textura e má drenagem do solo

Fig. 2 - Ensaios em vasos de macieiras

Macieira - Pomar nº 13

0

20

40

60

80

100

120

140

160

D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9 D10 D11

Test. MAP 100ºC Prop.+Beno. Fos.+Beno. Fusarium Fig. 3 - Média das diferenças de comprimento (mm) comprimento final – comprimento inicial de plantas de macieira “Granny Smith” cultivadas em solo sujeito a tratamentos com MAP (monofosfato de amónio), Propamocarbe + Benomil, Fosetil + Benomil; tratamento térmico a 100ºC e Potenciação de Fusarium. A testemunha corresesponde a solo replantado não sujeito a qualquer tratamento. D1 a D11 corresponde da 1ª semana à 11ª semana.

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contribuem para a doença de replantação, em 6 pomares a doença de replantação teve como origem causas bióticas (fungos, bactérias, nemátodos ou suas interacções). Haverá ainda que analisar com maior profundidade o problema dos desequilíbrios nutricionais e em particular o caso de nutrientes que apresentam valores elevados.

Pessegueiros

Os 6 pomares analisados indicam causas bióticas (fungos) como causa da doença em 3 pomares. Exceptuando o caso de um pomar, todos os pomares apresentam valores elevados de manganês e nalguns casos de cobre, podendo-se colocar a dúvida quanto ao efeito do excesso deste nutriente no desequilíbrio nutricional, já que para o caso de solos ácidos como ocorre nos Estado de Washington, E.U.A., a toxicidade causada pelo excesso de Mn e outros metais pesados têm implicações nos problemas de replantação em macieira e pessegueiros.

Meios de luta

Medidas culturais

As medidas culturais permitem controlar o problema ou permitem que a doença não se desenvolva e incluem:

Remoção de árvores, raízes e detritos orgânicos Substituição do solo na cova de plantação Correcção do pH do solo Aumento da camada arável Aplicação de estrume curtido Aplicação de adubos Rotações entre espécies fruteiras e outras Mobilizações do solo durante o Verão Stress hídrico e salinização Porta-enxertos e variedades mais vigorosas ou mais produtivas

Recuperação de solo replantado

Neste trabalho pretendeu-se avaliar o comportamento de porta-enxertos e de várias técnicas de plantação na recuperação de solo com doença de replantação, aplicando metodologias tradicionais que foram aperfeiçoadas e adaptadas à situação presente. Com efeito incorporaram-se produtos orgânicos, como o estrume e a turfa para melhorar a estrutura do solo e neutralizar a acção de compostos fitotóxicos do solo, assim como adubos de fundo à base de fósforo e potássio (Figuras 4A,).

Os ensaios foram instalados na Unidade de Demonstração de Alcobaça (ENFVN) com macieiras e pessegueiros e na Unidade de Demonstração de Porto Mós (Cooperativa Agrícola de Porto Mós – Lusofruta) com macieiras.

Meios físicos

São métodos que recorrem à utilização de agentes físicos (p. ex., o calor) no combate a patogénios. Estes tratamentos exigem equipamento adequado (geradores de vapor, ou calor produzido electricamente) e revelam-se anti-económicos, quando aplicados em grandes extensões de solo. Este tipo de tratamentos, quando realizado a temperaturas muito elevadas, destrói não só as populações de patogénios, como também as populações

Fig. 4 – Aplicação localizada de turfa A. Distribuição de estrume ao longo da linha B. Armação do camalhão após a plantação C.

A

B

C

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de organismos úteis, provocando elevados desequilíbrios ambientais. Por outro lado, a exposição prolongada do solo a altas temperaturas, origina ainda a libertação para níveis tóxicos de alguns sais (p. ex, de manganês) e a acumulação de amónia para níveis prejudiciais, por originar a morte de bactérias nitrificantes, antes de causar a morte das bactérias responsáveis pela amonificação, que são termotolerantes (Agrios, 1997).

Meios químicos

A desinfecção generalizada do solo, por métodos químicos, é uma prática dispendiosa, poluente, perigosa para o aplicador e com resultados efémeros. Todavia, a curto prazo, tem-se revelado como uma das técnicas que melhores resultados proporciona na erradicação de patogénios do solo, infestantes e pragas, originando aumento do vigor das plantas e do rendimento. A breve prazo e por razões ambientais, alguns dos produtos recomendados serão retirados do mercado mundial, como é o caso do brometo de metilo, o que implica maiores esforços na pesquisa e implementação de meios de luta alternativos.

Os produtos fumigantes mais correntemente citados para o combate às causas bióticas da doença de replantação são o brometo de metilo, o 1,3 dicloropropeno, o dazomete e o metame de sódio. Todos eles estão homologados em Portugal como nematodicidas, embora possuam um espectro de acção mais alargado

Meios biológicos

Os antagonistas até agora identificados para controlo da doença de replantação não são de aplicação generalizada. Tal circunstância deve-se ao facto da doença ter causas múltiplas. Assim, a título de exemplo, antagonistas úteis para o controlo da doença, causada por actinomicetas, poderão diferir dos recomendados para situações em que a doença de replantação seja devida maioritariamente a espécies do género Pythium, Fusarium, Penicillium, ou Cylindrocarpon.

Outras causas de declínio de fruteiras

Muitas vezes os sintomas de outras causas de declínio e morte de fruteiras podem confundir-se com a doença de replantação, por isso são referidas outras causas de declínio de macieiras e pessegueiros.

Fungos: podridão branca radicular (Rosellinia necatrix), podridão radicular (Armillaria mellea), podridão do colo e da raiz (Phytophthora spp.), Podridão negra (Xylaria sp.) e podridões do lenho (Polyporus spp.), (Schizophyllum spp.).

Tumor bacteriano (Agrobacterium spp.). Declínio com origem em roedores, insectos e em causas fisiológicas: ratos, morte progressiva

de pessegueiros e macieiras (insecto Xyleborus (=Anisandrus) dispar F., insecto X. dispar), ausência de afinidade (garfo/porta-enxerto), asfixia do colo e da raiz.

Bibliografia

Agrios, G.N. (1997) Plant Pathology. 4th Ed., Academic Press Inc., San Diego, 635 pp..

Teixeira de Sousa, A., Oliveira, C.M., Oliveira, H., Pereira M. J., Rego, C., Moreira, P. e Silva, A. (2000). Doença de replantação de macieiras e pessegueiros. ISAPress, 76 pp.

Membros da equipa:

Encarnação MARCELO - [email protected] Pedro MOREIRA - [email protected] Cristina OLIVEIRA - [email protected] Helena OLIVEIRA - [email protected] Manuel José PEREIRA - [email protected] Cecília REGO [email protected] Amílcar SILVA -Tel: 244 491205; Fax: 244 491205 António José TEIXEIRA DE SOUSA -Tel: 262 590680; Fax: 262 596221