Doenças Carrapatos

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  • Bio-ecologia, importncia mdico-veterinria e controle de carrapatos, com nfase no carrapato dos bovinos,

    Rhipicephalus (Boophilus) microplus

    104ISSN 0103-9865 Agosto, 2006

  • Documentos 104

    Bio-ecologia, importncia mdico-veterinria e controle de carrapatos, com nfase no carrapato dos bovinos, Rhipicephalus (Boophilus) microplus

    Porto Velho, RO 2006

    ISSN 0103-9865Agosto, 2006

    Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaCentro de Pesquisa Agroflorestal de RondniaMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Luciana Gatto Brito Francelino Goulart da Silva Netto

    Mrcia Cristina de Sena Oliveira Fbio da Silva Barbieri

  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na: Embrapa Rondnia BR 364 km 5,5, Caixa Postal 406, CEP 78900-970, Porto Velho, RO Telefones: (69) 3901-2510, 3225-9387, Fax: (69) 3222-0409 www.cpafro.embrapa.br Comit de Publicaes Presidente: Flvio de Frana Souza Secretria: Marly de Souza Medeiros Membros: Abadio Hermes Vieira Andr Rostand Ramalho Luciana Gatto Brito Michelliny de Matos Bentes Gama Vnia Beatriz Vasconcelos de Oliveira Normalizao: Daniela Maciel Editorao eletrnica: Marly de Souza Medeiros Reviso gramatical: Wilma Ins de Frana Arajo 1 edio 1 impresso: 2006, tiragem: 100 exemplares Todos os direitos reservados. A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    CIP-Brasil. Catalogao-na-publicao. Embrapa Rondnia

    Bio-ecologia, importncia mdico-veterinria e controle de carrapatos, com

    nfase no carrapato dos bovinos, Rhipicephalus (Boophilus) microplus / Luciana Gatto Brito ... [et al]. Porto Velho : Embrapa Rondonia, 2006. 21 p. (Documentos / Embrapa Rondonia, ISSN 0677-8618; 104).

    1. Bio-ecologia. 2. Rhipicephalus (Boophilus) microplus. 2. Doena

    animal. 3. Bovinos. I. Brito, Luciana Gatto. II. Ttulo III. Srie. CDD(21.ed.) 595.42

    Embrapa - 2006

  • Autores Luciana Gatto Brito Md. Vet., D.Sc., Embrapa Rondnia, Caixa Postal 406, CEP 78900-970, Porto Velho, RO. E-mail: [email protected]. Francelino Goulat da Silva Netto Md. Vet. M.Sc., Embrapa Rondnia. E-mail: [email protected]. Mrcia Cristina de Sena Oliveira Md. Vet. D.Sc., Embrapa Pecuria Sudeste, Caixa Postal 339, CEP 13560-970, So Carlos, SP. E-mail: [email protected]. Fbio da Silva Barbieri

    Md. Vet., D.Sc., Instituto de Cincias Biomdicas 5/ Universidade de So Paulo, Rua Braulino Pereira Gomes, s/n, Montenegro, RO, CEP 78965-000. E-mail: fabaobarbieri@gmail,com

  • Sumrio Caractersticas gerais dos carrapatos ................................................................ 7 Biologia de Ixodidae e Argasidae ....................................................................... 8

    Ciclo de um hospedeiro ........................................................................................ 8 Ciclo de dois hospedeiros ..................................................................................... 9 Ciclo de trs hospedeiros ..................................................................................... 9

    Epidemiologia de ixoddeos em ambientes tropicais e equatoriais ................ 10 Importncia mdico-veterinria dos carrapatos .............................................. 11 Transmisso de patologias por carrapatos ...................................................... 12

    Carrapatos como causadores de doenas ............................................................. 12 Carrapatos como transmissores de vrus .............................................................. 12 Carrapatos como transmissores de rickettsias ....................................................... 13 Carrapatos como vetores de bactrias ................................................................. 14 Carrapatos como vetores de fungos .................................................................... 15 Carrapatos como vetores de protozorios ............................................................. 15

    Controle de carrapatos ..................................................................................... 15

    Controle de Rhipicephalus (Boophilus) microplus ................................................... 16

    Desenvolvimento da resistncia de cepas de carrapatos aos grupos acaricidas ... 16

    Carrapaticidas de contato ................................................................................... 17 Carrapaticidas sistmicos ................................................................................... 18 Manejo de carrapaticidas .................................................................................... 19 Como realizar um eficiente banho carrapaticida ..................................................... 20

    Referncias ........................................................................................................ 20

  • Caractersticas gerais dos carrapatos

    Membros das famlias Argasidae e Ixodidae so comumente conhecidos como carrapatos. A famlia Argasidae apresenta na atualidade 183 espcies descritas e inclui os carrapatos moles, assim denominados devido ausncia de escudo quitinoso e so representados pelos carrapatos que parasitam aves, morcegos e os carrapatos de cho. A famlia de maior importncia em exploraes pecurias a Ixodidae, cujos membros so denominados de carrapatos duros devido presena de um rgido escudo quitinoso que cobre toda a superfcie dorsal dos machos e parcialmente nas fmeas, larvas e ninfas, estendendo-se apenas em uma pequena rea do idiossoma, permitindo assim a dilatao do abdmen aps o repasto sanguneo. A famlia Ixodidade possui aproximadamente 680 espcies descritas. Os carrapatos desta famlia apresentam acentuado dimorfismo sexual e captulo sempre terminal em todos os estgios (Fig. 1).

    Luciana Gatto Brito Francelino Goulat da Silva Netto

    Mrcia Cristina de Sena Oliveira Fbio da Silva Barbieri

    Bio-ecologia, importncia mdico-veterinria e controle de carrapatos, com nfase no carrapato dos bovinos, Rhipicephalus (Boophilus) microplus

    Fig. 1. Caractersticas morfolgicas de carrapatos da famlia Ixodidae (fonte: Barros-Battesti et al., 2006). Fonte: Martins (2006, slide 5).

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    Biologia de Ixodidae e Argasidae

    Ectoparasitas obrigatrios de vertebrados, os carrapatos necessitam de alimentao sangnea para completar seu desenvolvimento e possuem um ciclo de vida complexo, apresentando uma fase parasitria de alimentao sangunea e outra de vida livre (perodo de oviposio e entre mudas), podendo haver ou no mudana de hospedeiro. O ciclo biolgico dos ixoddeos consiste de um estgio inativo (ovos) e trs estgios mveis e hematfagos (larva, ninfa e adulto). As larvas no apresentam estigmas respiratrios, so imaturas sexualmente e possuem trs pares de pernas. Ao sarem do ovo apresentam aspecto semelhante aos adultos e aps alimentao sofrem ecdise e passam a ninfas, tambm imaturas sexualmente, porm com placas espiraculares e quatro pares de pernas. Assim como as larvas, aps alimentao tambm sofrem ecdise, e do origem aos adultos, machos e fmeas. Cada estgio requer vrios dias de fixao no hospedeiro e longos repastos sanguneos. O ciclo biolgico dos carrapatos duros pode, de acordo com a espcie, envolver um, dois ou trs hospedeiros, dependendo do nmero de animais que o carrapato parasita durante seu desenvolvimento.

    Ciclo de um hospedeiro O ciclo biolgico de um hospedeiro tem como representantes no Brasil as espcies Rhipicephalus (Boophilus) microplus (carrapato dos bovinos) e Anocentor nitens (carrapato-daorelha-do-cavalo). Neste ciclo biolgico, todos os estgios parasitam grandes animais como os bovinos, caprinos, veados e cavalos. A alimentao larval e ninfal, assim como as mudas, ocorrem sobre o hospedeiro e, as fmeas acasaladas e ingurgitadas caem ao solo e depositam seus ovos (Fig. 2). Nos climas tropicais midos o ciclo ocorre durante todo o ano, sem a interrupo causada pela hipobiose das larvas, determinada pelas baixas temperaturas, comum em climas temperados. Geralmente o ciclo biolgico dos carrapatos de um hospedeiro curto, e no caso de Rhipicephalus (Boophilus) microplus, a espcie consegue produzir de cinco a seis geraes anuais sob as condies climticas predominantes do Estado de Rondnia.

    Fig. 2. Ciclo biolgico de Rhipicephalus (Boophilus) microplus. Fonte: Martins (2006, slide 8)

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    Ciclo de dois hospedeiros verificado em algumas espcies de Hyalomma (geograficamente encontrados na frica, sia e regio mediterrnea da Europa) que vivem em savanas e estepes onde a estao seca longa e com poucas chuvas. A larva alimentada no cai ao solo, permanecendo no hospedeiro, as ninfas ingurgitadas caem ao solo e mudam para o estgio adulto, quando ento buscam um segundo hospedeiro. As fmeas ingurgitadas caem ao solo para realizar a oviposio, morrendo em seguida.

    Ciclo de trs hospedeiros as principais espcies de ocorrncia no Brasil que apresentam este ciclo so Ixodes, Amblyomma, Haemaphysalis spp. e Rhipicephalus sanguineus. As fmeas ingurgitadas caem na vegetao e iniciam a oviposio aproximadamente em dez dias sob condies favorveis de temperatura e umidade. A fmea pode levar vrias semanas para iniciar a oviposio sob condies climticas desfavorveis. A massa de ovos colocada por um perodo varivel entre 10 a 30 dias, quando a fmea morre. A ecloso dos ovos se d aps um perodo de incubao de aproximadamente 30 dias, sendo que em algumas podem ter um perodo de incubao de at dois meses (Fig. 3).

    O ciclo biolgico de argasdeos compreende as fases de ovo e trs estgios ativos: larva, dois ou mais instares ninfais e adultos. Para que se complete o ciclo biolgico h a necessidade de que cada instar realize um repasto sanguneo antes de cada ecdise, porm em algumas espcies, as ninfas podem mudar do primeiro para o segundo instar sem a necessidade de se alimentar, ou ento, realizar dois repastos sanguneos antes da muda. Os adultos se alimentam vrias vezes, geralmente antes das cpulas e oviposies. Na maioria das espcies

    Fig. 3: Ciclo biolgico de Amblyomma cajennense. Fonte: Martins, (2006, slid 10).

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    ninfas e adultos alimentam-se por cerca de 30 a 40 minutos sobre o hospedeiro, enquanto que as larvas permanecem de 7 a 10 dias. O acasalamento se d fora do hospedeiro e a fmea ovipe centenas de ovos aps cada repasto. O encontro dos carrapatos com o hospedeiro se d ao acaso, pois, diferentemente dos insetos, os carrapatos movem-se muito pouco, percorrendo distncias muitos curtas e normalmente no procuram ativamente o hospedeiro.

    Epidemiologia de ixoddeos em ambientes tropicais e equatoriais

    As condies climticas e a latitude representam os principais fatores reguladores do ciclo biolgico dos carrapatos, e neste caso a temperatura exerce um papel dominante, regulando a durao das fases de vida livre dos carrapatos. A latitude influencia o fotoperodo exercendo influncia direta sobre a induo de diapausa, promovendo a sazonalidade e permitindo que os carrapatos sincronizem suas atividades biolgicas com as condies climticas timas para seu desenvolvimento e manuteno no ambiente. Em regies de clima tropical ou equatorial, como no Estado de Rondnia, admite-se, desde que, as condies climticas sejam convenientes (temperaturas entre 20 e 28 C, umidade relativa acima de 75% e presena de precipitao) a presena de carrapatos durante todos os meses do ano, uma vez que a distribuio de carrapatos regida principalmente pela temperatura e pelas chuvas (Fig. 4), com exceo das espcies de Hyalomma, que necessitam de um ndice pluvial anual superior a 600 mm para a sobrevivncia da maioria das espcies do gnero em ambientes tropicais.

    Em condies naturais, a estabilidade do microclima das pastagens depende de certos fatores como a quantidade de forragem ou resduos de plantas e a espcie da gramnea (cultivada ou nativa). Os diversos gneros de carrapatos tm diferentes limiares de temperatura e umidade dentro dos quais so ativos e se nutrem, sendo sua distribuio determinada por estes

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    Total carrapatos PP Temp UR

    Fig. 4. Influncia dos fatores climticos na sazonalidade de Rhipicephalus (Boophilus) microplus sob as condies climticas predominantes no estado de Rondnia.

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    limiares. De um modo geral, os carrapatos so mais ativos durante a estao de temperaturas mais elevadas, como ocorre no vero, desde que, as chuvas sejam suficientes para proporcionar a umidade necessria ao desenvolvimento embrionrio e a viabilidade das larvas. Em algumas espcies, os estgios larvais e ninfais tambm so ativos em clima mais ameno, predominantes no inverno, e isto afeta a durao e a escolha da poca dos programas de controle para a espcie de carrapato alvo que se pretende controlar.

    Importncia mdico-veterinria dos carrapatos

    Os carrapatos transmitem mais variedades de agentes patognicos do que qualquer outro grupo de artrpodes hematfagos, sendo a maioria dos patgenos transmitidos aos vertebrados, principalmente via saliva. No momento em que o carrapato realiza o repasto sanguneo no hospedeiro, injeta tambm saliva no local da picada, que possui toxinas ativas maioria dos vertebrados e tambm substncias anestsicas e anticoagulantes. Os carrapatos so, primariamente, ectoparasitos de animais silvestres e a maioria dos vertebrados terrestres est sujeita ao seu ataque. Apenas 10% das espcies so consideradas de importncia mdico-veterinria e esto envolvidas na epidemiologia de doenas entre humanos e animais. A maior parte das espcies, no entanto, est envolvida na manuteno de microorganismos, patognicos ou no, no ambiente. H uma pequena porcentagem de espcies de carrapatos que parasitam animais domsticos, porm so responsveis por considerveis prejuzos econmicos para a pecuria em pases desenvolvidos e em desenvolvimento. Os prejuzos causados aos animais so decorrentes da espoliao sangunea e pela transmisso de agentes patognicos. A perda de sangue vem acompanhada pela toxicose, condio sria causada pelas secrees salivares. Durante a segunda metade do sculo XX, vastas reas de pastagens foram abertas para abrigar animais importados de raas selecionadas de gado bovino europeu, com a finalidade de aumentar a produo de protena de origem bovina. O rpido crescimento da populao de bovinos foi acompanhado pela exploso de doenas veiculadas por carrapatos, tais perdas ainda constituem um grande entrave ao sucesso da pecuria em muitas reas do Brasil e do mundo. Os tipos de transmisso trans-estadial e trans-ovariana de muitos microorganismos transformam os carrapatos em verdadeiros reservatrios de patgenos, tais como, espiroquetas e rickettsias que podem ser mantidas na natureza, na ausncia de hospedeiros vertebrados, atravs de vrias geraes. Os focos de infeco dos patgenos na natureza so mantidos por animais silvestres e seus ectoparasitos e uma grande quantidade de carrapatos infectados podem ocorrer nos locais de repouso de animais silvestres. Nestes focos, freqentemente crpticos ou ocultos, o patgeno, o hospedeiro vertebrado e o carrapato vetor podem alcanar uma relao equilibrada, na qual o homem no faz parte. Mudanas ecolgicas como derrubada de matas, loteamentos em locais florestados e introduo de novas espcies animais, podem resultar no contato mais ntimo entre os carrapatos de hospedeiros silvestres com o homem e animais domsticos. A disperso de doenas veiculadas por carrapatos, tais como a encefalite transmitida na Europa e o aparecimento de novas patologias, como a doena de Lyme nos Estados Unidos e a Doena da Floresta de Kyasanur no sul da ndia, so tpicos exemplos das combinaes ecolgicas e comportamentais humanas, que vm adentrando e ocupando cada vez mais em reas silvestres.

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    Transmisso de patologias por carrapatos

    Os carrapatos transmitem vrias zoonoses, afetando animais silvestres e domsticos. As infeces nos carrapatos no parecem prejudic-los, e estes funcionam como amplificadores dos patgenos. Os principais fatores que tornam os carrapatos importantes vetores de doenas ao homem e animais so: 9 Sugadores de sangue persistentes os carrapatos prendem-se de forma persistente ao

    hospedeiro e so de difcil remoo.

    9 Lento perodo de alimentao (ixoddeos) alm de facilitar a disperso a alimentao lenta propicia um maior tempo para a transferncia de patgenos ao hospedeiro.

    9 Grande espectro de hospedeiros o que aumenta em algumas espcies a possibilidade de adquirir e transmitir patgenos.

    9 Alta longevidade (argasdeos) tambm aumenta em algumas espcies a possibilidade de adquirir e transmitir patgenos.

    9 Transmisso trans-ovariana permite a infectividade de membros da prxima gerao, condio muito importante para carrapatos de um nico hospedeiro.

    9 Ausncia relativa de inimigos naturais o que propicia a manuteno de grande nmero de indivduos no ambiente.

    9 Corpo fortemente esclerotizado torna os carrapatos muito resistentes a condies ambientais adversas e dificulta o controle atravs da utilizao de drogas de contato.

    9 Grande potencial reprodutivo algumas espcies ovipositam at 18.000 ovos. 9 Ocorrncia de partenognese em algumas espcies. Aps a alimentao em um hospedeiro contaminado, se desenvolve uma infeco disseminada envolvendo a maioria dos tecidos do carrapato, incluindo os gnglios.

    Carrapatos como causadores de doenas Muitas doenas podem ser atribudas ao ataque de carrapatos ao homem e aos animais, tais como: 9 Dermatoses inflamao, prurido, edema, e ulcerao no local da picada. 9 Exanguinao condio sria com desenvolvimento de anemia nos animais fortemente

    infestados.

    9 Otocarase infeco do canal auditivo por infestao de carrapatos com possveis infeces secundrias.

    9 Toxemia e paralisia causada pela inoculao de saliva txica nos hospedeiros durante o perodo de alimentao.

    Os carrapatos adultos so facilmente percebidos quando fixados pele do hospedeiro porm, aps a queda podem deixar reaes severas com leses granulomatosas nos locais da picada.

    Carrapatos como transmissores de vrus Existem mais de 100 arboviroses associadas com 116 espcies de carrapatos, sendo 32 espcies de argasdeos e 84 de ixoddeos.

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    Em muitos casos a associao simplesmente baseada no isolamento do vrus, sendo desconhecido o papel de muitos vrus no desenvolvimento de doenas no homem e nos animais.

    Carrapatos como transmissores de rickettsias Os carrapatos veiculadores de patologias produzidas por ricktetsias so principalmente os pertencentes ao gnero Amblyomma e as espcies, Rhipicephalus sanguineus e Rhipicephalus (Boophilus) microplus, sendo as mais importantes no Brasil, a Febre Maculosa (zoonose), a Anaplasmose e a Erlichiose. Outra importante ricktetsia de ocorrncia ainda no notificada no Brasil a Cowdriose.

    Febre maculosa a infeco mais comum por rickettsia transmitida ao homem por carrapatos. Ocorre desde o Canad at a Amrica do Sul. Os reservatrios de R. rickettsii so roedores e marsupiais silvestres. O agente circula nos focos naturais por intermdio dos carrapatos que se infectam ao se alimentarem em animais infectados, transmitindo o patgeno para os animais susceptveis, sendo o homem hospedeiro acidental. Os carrapatos desempenham um importante papel no s como vetores biolgicos, mas tambm como reservatrios, transmitindo R. rickettsii a sua prognie de forma vertical (transmisso trans-ovariana). O homem contrai a infeco ao penetrar em reas infestadas por carrapatos infectados ou por meio de ces infestados, os quais transportam o vetor para o domiclio em reas peri-urbanas e rurais. Na Amrica do Norte o principal vetor desta zoonose so espcies do gnero Dermacentor. Na regio Neotropical o principal vetor so carrapatos do gnero Amblyomma.

    Anaplasmose Importante doena febril aguda, sub-aguda ou crnica dos bovinos. Apresenta distribuio mundial e causada por um pequeno patgeno puntiforme que se localiza prximo periferia das hemcias, descrito por Theiler em 1910 como Anaplasma marginale. Outra espcie, denominada como A. centrale, organismo menor que A. marginale, se localiza centralmente na hemcia e tambm causador da anaplasmose bovina, sendo uma infeco mais benigna. A mortalidade varia entre 30% e 50% dos animais infectados. Seu principal vetor na Amrica do Sul R. (B.) microplus, podendo tambm ocorrer a transmisso mecnica por vrias espcies de tabandeos (mutucas).

    Fig. 5. Lmina de esfregao sanguneo corada evidenciandoa morfologia de Anaplasma marginale. Fonte: www.cnpgc.embrapa.br/.../doc/doc131/fig01d.jpg

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    Ehrlichiose A doena infecta primariamente as clulas brancas e plaquetas do sangue e tem a capacidade de se disseminar por rgos como medula ssea levando pancitopenia (severa diminuio de clulas brancas). So organismos cocides a elipsoidais e no mveis. Ocorrem isolados ou em colnias, denominadas mrulas, que so consideradas a forma caracterstica do parasito. A infeco nos hospedeiros vertebrados e invertebrados ocorre primariamente por fisso binria dos corpos elementares. Ehrlichia bovis o agente etiolgico causador da ehrlichiose mononuclear ou agranuloctica dos bovinos, que uma patologia que ocorre na frica, Oriente Mdio e ndia, no sendo registrada nas Amricas. E. chaffeensis o agente causal da ehrlichiose monoctica humana, doena reconhecida nos Estados Unidos onde ocorreram 400 casos sendo nove fatais. E. equi causa a ehrlichiose granulocitrfica dos equinos na Califrnia. E. canis apresenta distribuio mundial e causa a ehrlichiose canina ou pancitopenia canina tropical transmitida por R. sanguineus.

    Cowdriose Doena causada por Cowdria ruminatum, uma rickettsia transmitida trans-estadialmente por espcies de Amblyomma. Esta doena reconhecida como enzotica em ovelhas, cabras e possivelmente camelos, sendo uma das mais devastadoras doenas de animais domsticos na frica. Esta molstia merece especial ateno devido a recente introduo de A. variegatum no Caribe, com grande risco de se espalhar por todo o continente americano atravs de aves migratrias. Na Amrica, a cowdriose parece se limitar a Guadalupe e Antigua, uma vez que o vetor da C. ruminatum, A. variegatum est distribudo nas Pequenas Antilhas de Barbados a Porto Rico. A. cajennense apresenta experimentalmente capacidade de transmitir a cowdriose em estudos conduzidos em Cuba, Jamaica e Trinidad, e uma espcie de ampla distribuio nos pases da Amrica do Sul.

    Carrapatos como vetores de bactrias

    Tularemia Infeco contagiosa ao homem, coelhos e alguns roedores, causada por Francisella tulariensis. A tularemia uma zoonose transmitida ao homem, hospedeiro acidental, quando este entra em contato com animais silvestres ou domsticos (principalmente ovinos), ou em ambiente contaminado por eles ou ainda com seus vetores (carrapatos, tabandeos e mosquitos). Ocorre extensivamente no Novo Mundo (Estados Unidos, Canad, Venezuela e Mxico) e em reas da Europa, Japo, Israel e frica. Os focos naturais da infeco circulam entre vertebrados silvestres, independente do homem e dos animais domsticos. O homem contrai a doena ao penetrar em focos naturais de tularemia. Os carrapatos so vetores biolgicos de F. tularensis e no s transmitem o agente etiolgico de animais infectados para outros no infectados, como tambm so importantes reservatrios.

    Doena de Lyme-Simile A partir de 1993 iniciou-se no Brasil investigaes clnico-epidemiolgicas da doena atravs de inqurito sorolgico em populaes no Estado de So Paulo, sendo ento identificados 4 casos. A doena nos Estados Unidos e na Europa causada pela bactria Borrelia burgdorferi, porm no Brasil no foi ainda diagnosticada a presena deste patgeno. Pacientes brasileiros com sorologia positiva para B. burgdoferi foram submetidos a tcnicas diretas de diagnstico (cultura de clulas, reaes de PCR (Reao em Cadeia da Polimerase) e de seqnciamento de DNA) e apresentaram resultados negativo. No Brasil, as principais espcies de carrapatos onde se encontrou Borrelia burgdorferi smile foram Ixodes didelphidis e I. loricatus (parasitos de gambs) e experimentalmente espcies do gnero Amblyomma se mostraram aptas a desenvolver a bactria.

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    Carrapatos como vetores de fungos

    Dermatofilose Trata-se de uma dermatite exudativa que afeta principalmente ruminantes, podendo atacar outros animais e tambm o homem. Tem como agente etiolgico Dermatophilus congolonensis e apresenta impacto econmico significativo em bovinos na frica, Caribe e ovelhas na Austrlia. Nos bovinos, a forma progressiva da doena est associada a infestaes por Amblyomma variegatum. No Brasil foi diagnosticada a presena de D. congolonensis em raspado de pele em rebanho bovino do Estado de Minas Gerais, com leses na base da cauda e regio do boleto.

    Carrapatos como vetores de protozorios

    Babesiose A babesiose bovina permanece como um dos principais problemas sanitrios dos rebanhos bovinos de corte e leite nos pases americanos de clima tropical e subtropical, causando prejuzos anuais estimados em U$ 1.365 milhes anuais. Estudos revelam que 70% do gado bovino criado nas Amricas est em reas infestadas por carrapatos. Nos pases onde a doena considerada como endmica, como o caso do Brasil, so reconhecidos dois agentes etiolgicos, Babesia bovis e B. bigemina, sendo R. (B.) microplus o principal vetor. A enfermidade pode ter curso benigno, com cura expontnea, ou curso grave que pode acarretar a morte dos animais. A infeco deixa o animal num estado de premunio com a presena do parasita por vrios anos ou por toda a vida, conferindo-lhe resistncia contra infeces subseqentes. Em conjunto com a Anaplasmose, as babsias causam a doena popularmente conhecida como Tristeza Parasitria Bovina. As espcies Babesia caballi e B. equi parasitam equinos e esto amplamente disseminadas por todos os continentes, ocorrendo em eqdeos, incluindo zebras. So vetores os carrapatos do gnero Rhipicephalus, Dermacentor e Hyalomma. Nas Amricas o principal vetor de B. equi Anocentor nitens, carrapato de um hospedeiro que parasita as orelhas de eqdeos e Amblyomma cajennense.

    Controle de carrapatos

    O controle de carrapatos est amplamente baseado no uso de frmacos acaricidas, que so utilizados atravs de banhos de asperso, duchas ou pour on.

    Fig. 6. Esfregaos sanguneos corados evidenciando a morfologia de Babesia bigemina (A) e Babesia bovis (B). Fonte: http://w3.ufsm.br/parasitologia/arquivospagina/apicomplexa.htm

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    O controle de carrapatos em reas tropicais dirigido principalmente aos bovinos. Como os carrapatos permanecem por um determinado perodo sobre os hospedeiros e frequentemente so observados em pocas especficas do ano, a escolha e a freqncia dos tratamentos baseiam-se em diversos fatores. Estes fatores incluem a sazonalidade e a durao do perodo parasitrio da espcie, o impacto econmico da parasitemia na explorao, as doenas transmitidas, o efeito residual e a toxidade do carrapaticida para o hospedeiro e o homem. Outro fato a ser considerado se o carrapato de um, dois ou trs hospedeiros. Para carrapatos de um hospedeiro, em que todos os nstares se desenvolvem sobre um nico hospedeiro torna-se mais fcil o controle. Em ambientes tropicais, os carrapatos so ativos durante a maior parte do ano, completando todo o ciclo biolgico de ovo a adulto em poucos meses.

    Controle de Rhipicephalus (Boophilus) microplus A base de um eficiente controle para R. (B.) microplus e demais espcies de um hospedeiro evitar o desenvolvimento das fmeas ingurgitadas e, limitar a oviposio. Como R. (B.) microplus tem um ciclo onde a fmea necessita de 20 dias para completar seu ingurgitamento, um animal que recebe tratamento acaricida que tenha efeito residual de trs a quatro dias, no deve abrigar fmeas ingurgitadas por um perodo mnimo de 24 dias. Teoricamente, tratamentos carrapaticidas a cada 21 dias durante o perodo de maior ocorrncia de carrapatos devem propiciar um controle satisfatrio, porm como os estgios ninfais parecem ser mais resistentes maioria das drogas acaricidas, freqentemente torna-se necessrio um intervalo de 12 dias entre tratamentos no incio da estao de carrapatos.

    Desenvolvimento da resistncia de cepas de carrapatos aos grupos acaricidas

    A partir de 1937 comearam a ser detectadas populaes resistentes a carrapaticidas arsenicais na Amrica do Norte e Austrlia. No Brasil, cepas resistentes ao arsnico comearam a ser notadas a partir de 1946, e estas populaes foram controladas com BHC, DDT e outros organoclorados. Os mecanismos utilizados pelas populaes resistentes de carrapatos para sobreviver aos tratamentos carrapaticidas so a reduo na taxa de absoro do produto, as mudanas

    Fig. 7. Situao de intensa infestao por Rhipicephalus (Boophilus) microplus, sobre o animal hospedeiro e napastagem.

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    no metabolismo, no armazenamento e na eliminao do produto qumico atravs de alteraes no local de ao do produto. importante lembrar que uma vez instalada a resistncia em uma populao de carrapatos a um determinado carrapaticida, esta resistncia tambm estar instalada para os carrapaticidas pertencentes este grupo. A resistncia desenvolvida nas populaes uma condio permanente, e inviabiliza a utilizao futura do grupo qumico no rebanho de uma propriedade. A nica exceo a este fato feita ao grupo das Amidinas, que aps alguns anos sem serem utilizadas numa propriedade, possvel a reverso da resistncia, com a possibilidade de novo uso dentro do manejo dos animais da propriedade. Mesmo com todo o empenho das indstrias qumicas em pesquisa e desenvolvimento de molculas acaricidas, o carrapato dos bovinos vem desenvolvendo estratgias para escapar da intoxicao causada pelos acaricidas que foram sendo colocados no mercado. Para que possamos trabalhar com os carrapaticidas necessrio se conhecer as diferentes famlias de carrapaticidas, cada qual com um mecanismo de ao e forma de aplicao especfica. Os carrapaticidas so classificados em famlias ou grupos qumicos. Com o decorrer do tempo, novos grupos qumicos foram sendo lanados e outros desapareceram. Na atualidade, alm dos grupos qumicos, pode-se agrupar os carrapaticidas em sistmicos, aqueles que atuam via circulao sangnea, e de contato. Podem ser encontradas no mercado as seguintes alternativas:

    Carrapaticidas de contato

    Organofosforados o grupo mais antigo de carrapaticidas ainda sendo comercializado para bovinos. Possui curto perodo residual e muitos produtores deixaram de us-los em virtude do aparecimento de resistncia nos carrapatos na propriedade e pelo desenvolvimento de novos grupos de maior poder residual, que permitem um maior intervalo entre tratamentos. Entretanto, muitas populaes de carrapatos ainda se mostram susceptveis carrapaticidas deste grupo. O produto comercial mais conhecido deste grupo o Assuntol, encontrado hoje no mercado em associao com uma droga bernicida. Recentemente apareceram novas marcas comerciais como Caberson e Ectofs. H outros organofosforados disponveis no mercado, entretando, a maioria dos produtos desta famlia est em associao com piretrides.

    Amidnicos o grupo de carrapaticidas posterior aos organofosforados, e caracteriza-se pelo maior poder residual que o grupo anterior, permitindo maior intervalo entre aplicaes. Amplamente aceitos pelos produtores, e continuam sendo um dos mais comercializados, mesmo aps 20 anos no mercado. Existem propriedades onde carrapaticidas amidnicos vm sendo utilizados por muitos anos sem indcio de problemas de resistncia. O produto comercial deste grupo mais conhecido o Triatox.

    Piretrides sintticos

    A indstria qumica desenvolveu este grupo acaricida na busca de produtos de maior poder residual e menos txicos aos animais, ao homem e ao meio ambiente. um grupo que possui grande

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    aceitao no mercado. Existem inmeras subfamlias de piretrides sintticos, embora as mais comuns sejam derivadas da Deltametrina, Cipermetrina e Alfametrina. Um ponto negativo do maior poder residual desta famlia foi o rpido desenvolvimento da resistncia por parte de populaes de carrapatos. Para se tentar prolongar a vida til deste grupo, novas formulaes qumicas esto sendo feitas, nas quais se utilizam associaes com organofosforados, numa tentativa de aumento da eficincia. Deste grupo, o produto comercial mais conhecido no mercado o Butox.

    Fenilpirazoles

    Semelhante s avermectinas, atua sobre o sistema nervoso dos carrapatos promovendo uma paralisia. Tem como desvantagem no poder ser utilizado em animais em lactao. A forma de apresentao comercializada a pour on. Como representante comercial deste grupo temos o Top Line, que tem como princpio ativo o Fipronil.

    Cymiazol Antigo grupo qumico que foi relanado no mercado nacional e tem em sua frmula uma associao com piretride sinttico. Utilizado sob a forma de banho de asperso, pode ser utilizado em animais em lactao com carncia zero para o consumo de leite dos animais tratados. Como representante comercial deste grupo temos o produto comercial Ektoban.

    Naturalyte

    o grupo qumico mais recente no mercado nacional, tendo como princpio ativo o Spinosad, obtido atravs da fermentao de um fungo actinomiceto. No apresenta restrio para utilizao em animais em lactao, sendo o produto comercial Elector o representante deste grupo.

    Carrapaticidas sistmicos So frmacos aplicadas por meio de injetvel ou pour on. Em qualquer das formas de apresentao, o produto metabolizado no organismo e distribudo a todo o corpo do animal, chegando atravs da corrente sangunea aos carrapatos no momento do repasto sanguneo.

    Lactonas macrolticas Surgiram no incio da dcada de 80 e representaram uma revoluo mundial no mercado de drogas antiparasitrias. Possuem grande poder residual e so eficientes tambm para dpteras parasitas e endoparasitas, sendo por isso conhecidas como drogas endectocidas. So derivados de substncias obtidas da fermentao do fungo Streptomyces spp. Existem cinco subgrupos no mercado, que so: Abamectina, Ivermectina, Doramectina, Eprinomectina e Moxidectina. Os carrapaticidas desta famlia agem potencializando a ao inibitria no sistema nervoso dos carrapatos, que morrem por paralisia. Trazem como desvantagem o fato de no poderem ser utilizados em animais em lactao ou nos animais 30 dias antes do abate, uma vez que propiciam um elevado nvel de resduo na carne e no leite. Como excees existem os produtos comerciais, Eprinex em apresentao pour on que podem ser utilizados em vacas em lactao. O primeiro produto comercial lanado deste grupo foi o Ivomec.

    Benzofenilureas (Inibidores do crescimento) Este grupo qumico tem a capacidade de inibir a produo de quitina nos carrapatos. A subfamlia deste grupo utilizada para o controle de carrapatos a do Fluazuron. Possui um mecanismo de ao totalmente diferente dos outros grupos apresentados, uma vez que no permite a ecdise (muda) dos carrapatos, alm de impedir a ecloso dos ovos para a liberao

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    das larvas, controlando as infestaes nas pastagens. Podem ser utilizados em animais em lactao. O representante comercial o Acatak, que aplicado na forma pour on, sendo metabolizado pelo organismo e disponibilizado aos carrapatos atravs da circulao sangnea.

    Manejo de carrapaticidas A troca de bases carrapaticidas sem obedecer a critrios tcnicos acaba por possibilitar que populaes de carrapatos tenham contato com todos ou a maioria dos grupos qumicos disponveis no mercado, o que acaba por propiciar a seleo de carrapatos resistentes a todas as famlias de acaricidas. No se deve trocar uma famlia de carrapaticidas que vem controlando a maioria dos carrapatos presentes numa propriedade. A mudana de grupo qumico deve acontecer a partir do momento que uma parcela significativa da populao de carrapatos de uma propriedade se torna capaz de sobreviver e realizar postura aps tratamentos acaricidas. Normalmente este fato observado aps dois anos de utilizao de uma mesma base acaricida. A troca de carrapaticida deve obrigatoriamente obedecer tambm a troca de grupo qumico, pois a simples troca de produtos comerciais no propiciar o controle das populaes de carrapatos, pois uma vez instalada a resistncia a uma base qumica, nada se pode fazer para melhorar sua eficincia. A escolha do produto carrapaticida deve ser feita com base em critrios tcnicos, e um teste muito simples para os carrapaticidas de contato deve ser realizado para dar suporte a esta escolha. O carrapatograma, de forma bem resumida, um teste laboratorial onde se realizam as diluies das bases acaricidas seguindo as recomendaes do fabricante onde as teleginas ingurgitadas so mergulhadas por cinco minutos nestas solues. Em sete a dez dias se tem a avaliao do teste, sendo importante lembrar que os resultados s podem ser validados se as teleginas do grupo controle fizerem postura. Quando uma base acaricida se mostra eficiente, a maioria das teleginas morrer antes de iniciar a postura, sendo que algumas podero realizar postura de poucos ovos, porm inviveis de onde no emergiro larvas. Caso esta eficincia laboratorial no acontea em nvel de rebanho, demonstra que o problema est no preparo e/ou na aplicao da soluo carrapaticida (banhos mal feitos). Quando o produto se mostra ineficiente, ou seja, h a presena da resistncia na populao de carrapatos testada, a maioria das teleginas no morrer e realizar postura de ovos viveis em quantidade igual ou prxima do grupo controle que foi mergulhado em gua. A eficincia do controle do carrapato dos bovinos R. (B.) microplus, e o retardo no desenvolvimento da resistncia o controle total das teleginas, isto , a morte das teleginas aps o tratamento. Fig. 9. Realizao do carrapatograma

    Fonte: www.cnpgl.embrapa.br/parasitologia/image1.jpg

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    Como realizar um eficiente banho carrapaticida Os carrapaticidas que agem por contato intoxicam os carrapatos que so molhados pelo produto. A dose recomendada na bula dos acaricidas a necessria para promover a ao esperada do produto. Quando o preparo da soluo no realizado da forma correta no se consegue obter uma mistura homognea do carrapaticida. O processo do tratamento por banhos carrapaticidas se inicia no preparo da soluo que ser pulverizada sobre os animais, e dever obedecer quantidade de carrapaticida indicada na bula. A soluo carrapaticida dever ser iniciada pelo preparo da calda, que a diluio do carrapaticida em pequena quantidade de gua. Aps a homogeneizao da calda que se adiciona um volume de gua necessrio para se obter a diluio recomendada pelo fabricante do carrapaticida. Esta soluo final tambm deve ser muito bem misturada para a obteno de uma soluo homognea. A aplicao do carrapaticida deve ser feita individualmente com o animal contido de forma adequada, no caso da utilizao de equipamento manual ou mecnico de asperso. O equipamento utilizado para a aplicao dos carrapaticidas deve obedecer aos seguintes critrios: 9 Deve ser prtico e confortvel ao aplicador. 9 Capaz de possibilitar um banho com presso forte o suficiente para pulverizar a soluo

    carrapaticida na forma de nuvem com gotculas que consigam penetrar at a pele (couro) do animal.

    9 O bico deve ser em forma de leque. A aplicao deve ser realizada no animal de cima para baixo e em sentido contrrio ao dos plos. Todo o corpo do animal deve receber a soluo carrapaticida em quantidade suficiente para que o animal fique completamente molhado, uma vez que as formas imaturas do carrapato, na maioria das vezes, no podem ser vistas ficando embaixo dos plos e representam uma parcela significativa dos carrapatos que parasitam os animais. Caso estes estgios no sejam molhados pela soluo carrapaticida no morrero. O banho deve ser dado em favor do vento para proteger o aplicador, que dever estar equipado com roupas, luvas e mscara para evitar o contato com o produto qumico. Os carrapaticidas so produtos qumicos que podem, em determinadas situaes, intoxicar e matar os animais, por isso importante ter sempre a bula do medicamento e seguir as recomendaes do fabricante. Alguns produtos no podem ser aplicados em bezerros com menos de quatro meses e outros em animais em estgio avanado de gestao ou em lactao. Devido ao estresse que acarretam aos animais, os tratamentos carrapaticidas devem ser realizados preferencialmente pela manh e nunca em perodos de sol forte e aps esforo fsico. Cada vez mais o mercado consumidor exige produtos de qualidade, e obrigatoriamente deve-se atender as exigncias legais, por isso aqueles que no forem capazes de produzir leite e carne com qualidade e livre de contaminantes qumicos estaro fora do mercado e sujeitos a sofrerem as penalidades legais.

    Referncias

    BARROS-BATTESTI, D. M.; ARZUA, M.; BECHARA, G.H. Carrapatos de importncia mdico-veterinria da regio neotropical: um guia ilustrado para identificao de espcies. So Paulo: Vox : ICTTD-3 : Butantan, 2006. 223 p.

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    FURLONG, J. (Org.). Carrapatos: problemas e solues. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2005. 65 p. GRISI, L.; MASSARD, C. L.; BORJA, G. E. M.; PEREIRA, J. B. Impacto econmico das principais ectoparasitoses em bovinos no brasil. A Hora Veterinria, v. 21, n. 125, p. 8-10, 2002. GUIMARES, J. H.; TUCCI, E. C.; BARROS-BATTESTI, D. M. Ectoparasitos de importncia veterinria. So Paulo: Pliade : FAPESP, 2001. 218 p.

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