Doenças infecciosas

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  • 172 Rev Bras Enferm 2006 mar-abr; 59(2): 172-6.

    Expectativas de pacientes com HIV/AIDS hospitalizadosquanto assistncia de enfermagem

    Juliana Palhano da CostaEnfermeira do Programa de Sade da Famlia.

    Endereo para contato: Rua Gustavo Braga, 257. Rodolfo Tefilo.

    CEP 60430-120. Fortaleza-CE.

    Lucilane Maria Sales da SilvaEnfermeira. Doutora em Enfermagem.

    Professora Adjunto do Curso de Enfermagem daUniversidade Estadual do Cear.

    Maria Rocineide Ferreira da SilvaEnfermeira. Mestre em Sade Pblica.

    Professora Assistente do Curso deEnfermagem da Universidade Estadual do

    Cear. Membro voluntrio do Ncleo deIntegrao pela Vida (NIV-CE).

    Karla Corra Lima MirandaEnfermeira. Doutora em Enfermagem.

    Professora Adjunto do Curso de Enfermagemda Universidade Estadual do Cear. Enfermeira

    do ambulatrio do Hospital So Jos deDoenas Infecciosas.

    [email protected]

    RESUMO

    Este estudo objetivou verificar as expectativas dos pacientes soropositivos, hospitalizados quanto assistnciade enfermagem. Estudo de abordagem qualitativa desenvolvido na unidade de internao de um hospital pblicoestadual no municpio de Fortaleza-CE. Os dados foram coletados no perodo de setembro a outubro de 2003por meio de uma entrevista semi-estruturada, aplicada a 12 pacientes com diagnstico de HIV/AIDS, escolhidosaleatoriamente dentre os internados. Para anlise dos dados foi utilizado o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)por meio de emisso de idias centrais e/ou expresses-chave. Conclumos que as expectativas giraram emtorno da solicitao dos pacientes por uma assistncia mais humana, maior ateno, contato verbal, maiorafetividade da equipe de enfermagem, uma ateno qualificada e digna. Alm da necessidade de sereminformados cotidianamente sobre as vulnerabilidades, que esto submetidos nesse momento da hospitalizao.Descritores: Assistncia de enfermagem; AIDS; Hospitalizao.

    ABSTRACT

    This study aimed at verifying the expectations of patients with HIV serum-positive patients, regarding to nursingcare. This is a study with qualitative approach developed in the inpatient unit of a state public hospital in themunicipal district of Fortaleza-CE. Data were collected in the period of September to October of 2003 throughsemi-structured interview, applied to 12 patients, randomly selected among the patients with diagnosis of HIV/AIDS. For data analysis it was used the Collective Subjects Speech (DSC) through emission of central ideasand/or key-expression. It was conclude that the patients expectations are for a more human care, more attention,contact verbal, more affectivity of the nursing team, a qualified and worthy attention. Besides their needs theyshould be informed daily about the vulnerabilities that they are submitted during the hospitalization.Descriptors: Nursing care; AIDS; Hospitalization.

    RESUMEN

    Este estudio tuvo por objetivo verificar las expectativas de los pacientes suero positivos, hospitalizados cuantoa la asistencia de enfermera. Tratase de un estudio con abordaje cualitativa realizado en una unidad de internacinde un hospital publico del estado en la provincia de Fortaleza-CE. Los dados fueron obtenidos en el periodo deseptiembre a octubre de 2003 por medio de entrevista semi estructurado, aplicado en 12 pacientes, escogidosde forma aleatoria entre los pacientes internados con el diagnostico de VIH/SIDA. Para el anlisis de los dadosfue utilizado el Discurso del Sujeto Colectivo (DSC) por medio de emisin de ideas centrales y expresione-claves. Concluyendo, las expectativas de los pacientes apuntaran para la necesidad de una asistencia mashumana, mayor atencin, contacto verbal, mayor afectividad del equipo de e enfermera. As como, la necesidadde informacin cotidiana sobre las vulnerabilidades a que son sometidos durante la hospitalizacin.Descriptores: Atencin de enfermeria; SIDA; Hospitalizacin.

    Expectations of hospitalized patients with HIV/AIDS regarding nursing care

    Expectaciones de pacientes hospitalizados con HIV/AIDS cuantoa la atencin de enfermera

    Costa JP, Silva LMS, Silva MRF, Miranda KCL. Expectativas de pacientes com HIV/AIDS hospitalizados quanto assistncia de enfermagem. Rev Bras Enferm 2006 mar-abr; 59(2): 172-6.

    PESQUISARevistaBrasileira

    de Enfermagem

    REBEn

    Submisso: 15/06/2005Aprovao: 30/11/2005

    1. INTRODUO

    A sndrome da imunodeficincia adquirida (AIDS), foi reconhecida em meados de 1981, nosEUA, a partir da identificao de um nmero elevado de pacientes adultos do sexo masculino ehomossexuais, que apresentavam sarcoma de Kaposi, pneumonia por Pneumocystis carinii ecomprometimento do sistema imune [...] se tratava de uma nova doena, ainda no classificada, deetiologia provavelmente infecciosa e transmissvel(1).

    No Estado do Cear, o primeiro caso de AIDS foi identificado em 1983. No entanto, de acordocom a Secretaria de Sade do Estado (SESA), os servios que atendem aos vitimados pela infecoainda esto centralizados e, mesmo o maior servio de referncia do Estado apresenta carncia,

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    principalmente de pessoal e no atendimento de algumas especialidadescomo psiquiatria, obstetrcia, proctologia, entre outras(2).

    As atividades de preveno e controle das Doenas SexualmenteTransmissveis e AIDS no Cear iniciaram, em 1987, a partir das aesde vigilncia epidemiolgica. Iniciaram com duas linhas bsicas deatuao, a vigilncia e a assistncia, em que eram desenvolvidas aesde vigilncia epidemiolgica de AIDS e treinamento na rea preventiva.A equipe do hospital de referncia em doenas infecciosas, em parceriacom tcnicos da SESA, ligados vigilncia epidemiolgica e derma-tologia sanitria, foram os principais atores envolvidos na implantaodo programa de DST/AIDS no Estado(3).

    Hoje, com o advento de novas e potentes drogas, exames modernose um maior conhecimento sobre o vrus, os profissionais de sade jso capazes de contribuir com a melhoria da qualidade de vida, aumen-tando, significativamente, a expectativa desta, para a grande maioriados portadores do HIV. Contudo, esses avanos ainda no sanam asperdas dos limites impostos pelas doenas decorrentes da AIDS, a dordas perdas sociais, o desespero causado pelo medo da morte, e nemto pouco o pior dos males, a discriminao.

    Os aspectos psicossociais dessa doena, so variados, complexose se relacionam diretamente ateno de sade do paciente. Osenfermeiros com conhecimentos slidos e grande solidariedade, tmuma oportunidade singular de contribuir imensamente para a qualidadede vida deste(4).

    A enfermagem uma profisso que no exige somente o conheci-mento de um conjunto de tcnicas especficas, pois em todos os setores,os enfermeiros so solicitados a fornecer um cuidado integral,envolvendo os aspectos biolgicos, psicossociais e espirituais, principal-mente, quando este para pacientes com doenas crnicas. Estespacientes necessitam de muita ateno, pois alm de se depararemcom desafios fsicos dessa epidemia, deparam-se, tambm comaspectos ticos.

    O processo de trabalho no mbito da epidemia de HIV/AIDS amploe complexo e a equipe de enfermagem deve estar articulada paraoferecer uma interveno transformadora, atuando no foco das vriasespecificidades que a epidemia apresenta. A compreenso do trabalhodesenvolvido por esta equipe pode contribuir para uma atuaoespecfica nos pontos identificados como sensveis e prejudiciais aobom desenvolvimento do processo de trabalho do enfermeiro(2).

    A enfermagem tem direcionado todas as suas aes, visando buscade seu campo de atuao no cuidado, agregando, ainda, a integralidadedessas como obstculo a ser alcanado, uma vez que da forma comovem sendo concebido esse trabalho, a fragmentao e despersona-lizao da pessoa cuidada, tem sido constantemente observada(5).

    As preocupaes, relativas infeco pelo HIV/AIDS, levantadaspor profissionais de sade, envolvem questes como o medo decontgio, responsabilidade pelo fornecimento de cuidados, esclareci-mento dos valores, confidencialidade, estgio de desenvolvimento dospacientes e dos cuidados e resultados prognsticos ruins(6).

    Ao desenvolver cuidados junto a esses pacientes, os enfermeirosdesenvolvem uma srie de conflitos, que, se no forem bem adminis-trados, dificultaro o processo do cuidar e a compreenso da neces-sidade de extrapolarem os limites previstos pelo modelo biomdico.Nesse momento preciso ter uma postura tica e reconhecer nessepaciente um cidado que precisa assumir, tambm, esse cuidado parasi, fortalecendo um espao de compartilhamento de aes, quefuncionar como um dos determinantes para seu restabelecimento(7).

    Como profissionais de enfermagem que se preocupam com o cuidadodirecionado aos portadores e doentes de HIV/AIDS, pretendemos, comeste estudo, promover reflexo acerca das expectativas destes emrelao assistncia de enfermagem prestada, na tentativa de revelaraos profissionais o que o paciente espera de sua atuao, podendo,

    ainda, ser um guia de reorientao da assistncia de enfermagem dirigidaao doente de AIDS, alm de contribuir com uma produo cientficasobre a temtica.

    Objetivamos, com este estudo, verificar as expectativas dos pacientessoropositivos hospitalizados, quanto assistncia de enfermagemrecebida.

    2 . PERCURSO METODOLGICO

    O presente estudo tem abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa,permite compreender o problema no meio em que ele ocorre, sem criarsituaes artificiais, que mascarem a realidade ou levem a interpretaesequivocadas(8). Desse modo, discorrer sobre as expectativas de pacien-tes com AIDS hospitalizados, exige, antes de tudo, a valorizao dasubjetividade dessas pessoas, o que se faz possvel nessa abordagem.

    O estudo foi desenvolvido na unidade de internao de uma insti-tuio hospitalar da rede pblica estadual, referncia para doenasinfecciosas no municpio de Fortaleza-CE. A escolha do servio deve-se ao fato de o mesmo contar com um programa de atendimento apacientes soropositivos e doentes de AIDS, reconhecido, ainda, peloMinistrio da Sade, como um servio de referncia em HIV/AIDS, epor oferecer assistncia de enfermagem a pacientes soropositivos, tantono mbito ambulatorial, como hospitalar.

    A coleta de dados foi realizada no perodo de setembro a outubrode 2003. Participaram do estudo 12 pacientes, escolhidos aleato-riamente, dentre os internados h no mximo uma semana no servio,com diagnstico de HIV/AIDS, e que aceitaram participar da pesquisa.O quantitativo dos informantes obedeceu ao critrio de saturao terica,quando as expectativas estavam se repetindo.

    Utilizamos, para a coleta de dados, a entrevista individual e semi-estruturada, utilizando gravador com a devida permisso do sujeito. Naentrevista semiestruturada o investigador est presente e o informantetem todas as possibilidades possveis de responder aos questionamentoscom liberdade e espontaneidade, e o pesquisador tem liberdade deformular novas perguntas, medida que as questes norteadoras noforem compreendidas ou respondidas suficientemente.

    O projeto de pesquisa foi submetido apreciao e julgamento doComit de tica em Pesquisa da instituio, que emitiu parecer favorvela sua realizao, conforme protocolo 022/200. Os sujeitos foraminformados quanto aos objetivos da pesquisa e tiveram total liberdadeem recusar ou aceitar participar da mesma. Foram asse-guradas, ainda,sua confidencialidade e privacidade, seguindo as determinaes daresoluo n 196/96 do Conselho Nacional de Sade(9).

    Como proposta metodolgica para anlise dos dados, usamos oDiscurso do Sujeito Coletivo (DSC) que, segundo Lefvre & Lefvre(10), uma estratgia resumida num discurso-sntese de vrios indivduos,que expressam, de forma concreta, os seus pensamentos. Na prtica, a juno das idias para formular o depoimento dos mesmos sobreconceitos e ideologias que estes indivduos internalizam. Esta metodo-logia permitiu a emisso de idias centrais e/ ou expresses-chave,que foram, respectivamente, a sntese do depoimento liberal dos sujeitose as falas propriamente ditas dos mesmos.

    Aps ouvirmos, atentamente, os depoimentos gravados em fitamagntica, iniciamos a transcrio manual de seu contedo. Exclumosos discursos que estavam se repetindo e, apresentamos os demais,conforme a conveno P1 ao P12. Para efeito didtico, dividimos osresultados em trs fases:

    1) A idia central e a expresso-chave de cada sujeito para determinadapergunta foram agrupadas em dupla, lado a lado, em um quadro.

    2) Chamamos de Discurso do Sujeito Coletivo(DCS) a juno devrias expresses-chave e idias centrais de cada pergunta, formandoassim um s discurso-sntese.

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    3) Realizamos a anlise do DSC, confrontando cada discurso-sntesecom as referncias bibliogrficas e nossa anlise a respeito do assunto.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    3.1. Caracterizao dos Sujeitos do Discurso ColetivoOs sujeitos do discurso coletivo encontravam-se na faixa etria de 23

    a 48 anos. Destes, 04 eram do sexo feminino e 08 do sexo masculino.Apenas 03 encontravam-se com acompanhante e 09 sem acompanhante.

    O nmero de internaes dos pacientes no hospital variou de 01 a04 vezes, sendo 06 pacientes internados pela primeira vez, 04 nasegunda internao, 01 na terceira e 01 na quarta internao. Quanto escolaridade, 03 eram analfabetos, 03 com primeiro grau incompleto,03 com primeiro grau completo, 01 com segundo grau incompleto e 02com segundo grau completo. Destacamos, que entre as causas quejustificavam as internaes, estavam: sndrome diarrica, quadros dedesidratao, bronquite, febre, herpes genital, linfogranuloma venreo,histoplasmose, insuficincia respiratria, vmitos e tuberculose.

    3.2. Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)

    Eu gostaria, no ficar direto com a gente, mas que de vez emquando elas passassem aqui pra v como que a gente t, masno passam, s passam quando a gente vai chamar. Eu sou calada,mas se chegar eu converso. Eu queria mais ateno delas, eu achavaque elas poderiam d mais ateno gente, no s uma, sotodas. At agora no chegou ningum pra conversar, chegam aqui,aplicam a injeo, sai, a no d nem pra conversar. A gente chamapra tirar o soro, demora muito, faz hora, diz j vou j, num sei o qu,falta ateno com o paciente.

    A enfermeira tem que dizer pessoa que reaja, sentar pra conversar,tem que tratar com um sorriso sabe! Tratar com paz faz bem comotodo. A maioria no t nem a. Tem muita gente que faz com amor,com carinho, tem pacincia, tem um sorriso, por que a pessoa nanossa situao, t precisando de carinho, de sorriso, duma boapalestra, dum bom atendimento.

    Eu gosto muito de escrever poesias, cartas e no tm as minhasfolhas, elas acabam logo. muito difcil algum me d, e eu sintofalta, s vezes, de algum pra conversar, eu vou fazer uma cirurgiae no me explicaram nada, tinha que ser dito pra uma pessoa quenunca fez cirurgia, como vai ser, pra se acalmar, pra no pensarmuito. Me explicaram aqui s o mnimo sobre a minha doena, temcoisas que eles falam, e tem coisas que eles no falam. Eu queriaque me dissesse como eu t hoje, como eu num t.

    Eu queria mais ateno, porque tu fica sozinho olhando pra televiso,deprimido, olha pra li (corredor) no tem ningum, a fica pensandona famlia, a fica triste. O que eu gostaria que elas fizessem queeu sasse daqui com condies de continuar o tratamento, v semelhora, por que bom mesmo no fico no.

    Ningum conversa. Eu queria saber mais sobre a minha doena, masnum chega ningum aqui, mas como elas foram toda vida assim. Aequipe de enfermagem devia vir conversar com a gente, brincar. Euacho que uma pessoa pra ter uma profisso dessas tem que ter muitapacincia, muito amor, amor ao prximo, tem que chegar rezar um PaiNosso. Deviam chegar assim e segurar na mo, segurar na motransmite uma energia! Tem que ser mais humano, uma humanidadeforte. Elas tem que tratar a gente como irmo, como me, filha, conversar, bom o contato verbal , eu acho que ajuda a gente a melhorar.

    4.2.2 Anlise do DSC

    O Discurso do Sujeito Coletivo nos remete a vrias questes,inicialmente relativas necessidade de ateno que o pacientesoropositivo expressa, que vai alm de informaes sobre o seu estadode sade, perpassa tambm pela questo do sentir, da aproximao eda afetividade. Ter sade no a simples ausncia de sintomas oudoena, estarmos consciente da presena da vida, da energia e doprazer de viver. A fragmentao que nossa sociedade nos impe, quebratambm a nossa conscincia de sade total (corpo-mente-esprito). Comtoda essa fragmentao do ser humano, surgiram vrias especialidades,

    IDIAS CENTRAIS EXPRESSO-CHAVE P2 A paciente gostaria de receber mais ateno, na medida do possvel, de toda a equipe.

    Eu gostaria, no ficar direto com a gente, mas que de vez em quando elas passassem aqui pra v como que a gente t, mas no passam, s passam quando a gente vai chamar. Eu sou calada, mas se chegar eu converso. Eu queria mais ateno delas, eu achava que elas poderiam d mais ateno gente; no s uma, so todas...

    P3 A paciente gostaria de receber ateno de algum que viesse pra conversar e no apenas para aplicar a injeo.

    At agora no chegou ningum pra conversar ... Ateno n! Por que chegam aqui, aplicam a injeo, sai, a no d nem pra conversar ... A gente chama assim, pra tirar o soro, demora muito, faz hora, diz j vou j, num sei o qu, falta ateno com o paciente ...

    P5 A paciente precisa de incentivo dos profissionais, para se motivar a enfrentar a doena, espera mais ateno, demonstraes de afetividade e ambiente hospitalar mais alegre.

    A enfermeira tem que dizer a pessoa que reaja; sentar pra conversar. Tem que tratar com um sorriso sabe! Tratar com paz faz bem como todo. A maioria no t nem a... Tem muita gente que faz com amor, com carinho, tem pacincia, tem um sorriso; por que a pessoa na nossa situao, t precisando de carinho, de sorriso, duma boa palestra, dum bom atendimento ... .

    P7 Paciente demonstra necessidade de escrever para se distrair. Refere angstia, pela falta de orientao em relao cirurgia que o mesmo far, assim como dvidas em relao ao seu estado de sade, uma vez que nada esclarecido ao mesmo. Reafirma tambm quanto falta de ateno dos profissionais.

    Eu gosto muito de escrever poesias, cartas e no tm as minhas folhas, elas acabam logo. muito difcil algum me d ... Eu sinto falta as vezes de algum pra conversar, eu vou fazer uma cirurgia e no me explicaram nada, tinha que ser dito pra uma pessoa que nunca fez cirurgia, como vai ser, pra se acalmar, pra no pensar muito ... Me explicaram aqui s o mnimo sobre a minha doena, tem coisas que eles falam, e tem coisas que eles no falam. Eu queria que me dissesse como eu t hoje, como eu num t ... Mais ateno eu queria, porque tu fica sozinho olhando pra televiso, deprimido, olha pra li (corredor) no tem ningum, a fica pensando na famlia, a fica triste ... .

    P12 O paciente sente necessidade de um acompanhante, pois no se sente em condies de ficar hospitalizado sozinho, e demonstra receio em ser mal tratado quando solicita ajuda equipe. Necessita, tambm, de demonstraes de afeto, carinho e contato verbal por parte dos profissionais.

    ... a equipe de enfermagem devia vir conversar com a gente, brincar ... . Eu acho que uma pessoa pra ter uma profisso dessas tem que ter muita pacincia, muito amor, amor ao prximo, tem que chegar rezar um Pai Nosso ... Deviam chegar assim e segurar na mo, segurar na mo transmite uma energia! Tem que ser mais humano, uma humanidade forte. Elas tm que tratar a gente como irmo, como me, filha ... Conversar, bom o contato verbal, eu acho que ajuda a gente a melhorar ... .

    Quadro 1. Anlise do DSC, segundo idias centrais e expreso-chave.

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    ou seja, a sade do corpo buscamos na medicina, a da alma na psicologiae a do esprito na religio. essencial um questionamento diante dessaconstatao, essa dinmica tem tido reflexos na melhoria da qualidadede vida das pessoas?. fundamental que se integre o conceito holsticodo homem, ele um todo indivisvel, no a soma de suas partes.

    Encontramos em diversos hospitais por onde trabalhamos, profis-sionais de sade, muitas vezes chamados de cuidadores, exercendo ocuidar somente em busca da cura, com a atuao resumida realizaode procedimentos, um trabalho mecanizado e rgido. preciso atentarque o princpio da cura encontra-se na integrao e no na fragmentaodo ser humano. A Integralidade na ateno tem sido um princpio norteadordo Sistema nico de Sade, como forma de garantir o respeito ao serhumano em todas as suas dimenses, qualificando a ateno.

    At recentemente, o cuidado era visto como algo natural e, no Brasil,entendido tambm por assistir. Para muitas pessoas, o cuidar tem sidopercebido como uma simples ao tcnica. Verificamos que uma dasexpectativas referida pelos pacientes foi o contato verbal seguido dedemonstraes de afetividade, pelo menos durante a realizao dosprocedimentos, o que seria muito importante no processo da hospitalizaoe os ajudariam a enfrentar melhor as situaes que vivenciam.

    O resgate do cuidado no uma rejeio dos aspectos tcnicos enem do processo cientfico. O que se pretende ao relevar o cuidar enfatizar a caracterstica de processo interativo e de fluio da energiacriativa, emocional e intuitiva que compe o lado artstico, alm doaspecto moral.

    Verificamos, no discurso que, outro grande fator que provocaexpectativa nos pacientes, o fato de no saberem sobre o seu estadode sade, no serem comunicados quanto aos resultados dos examese at mesmo no saberem sobre sua doena. Numa sociedade ondese protagonizam cenrios, direitos e deveres, precisam estar expostose serem assumidos, sua omisso colabora nesse caso para um aumentoda vulnerabilidade e conseqentemente, na intensificao do adoecer.

    A atuao do enfermeiro de esclarecer os pacientes sobre o seuestado de sade, revela um tratamento mais holstico, medida queeste passa a se envolver mais com o paciente, estando presente nosmomentos mais difceis de sua internao hospitalar e incentivando amanuteno do autocuidado.

    A enfermagem tem como seu interesse especial s necessidadesindividuais para o autocuidado e sua proviso e organizao em umabase contnua, de modo a sustentar a vida e a sade, recuper-la dadoena e lutar contra seus efeitos(11).

    Apesar de termos cursos de graduao em enfermagem ainda muitovoltados para o modelo biomdico, em que o profissional no tem suaformao orientada para uma prtica humanstica, entendemos que responsabilidade do mesmo, enquanto enfermeiro, estar mais presentes,seja qual for o tipo de apoio que o paciente possa requerer, para melhoratender as suas necessidades.

    Em muitas instituies de sade, observamos, por parte da equipe deenfermagem, demonstraes de afetividade, pacincia, carinho e respeito.No entanto, em outras, podemos ver indiferena, grosseria, desrespeitoe desconsiderao. Alguns pacientes chegam a sentir-se rejeitados,tambm, pela equipe, quando referem que as enfermeiras preferem ficarna enfermaria sem fazer nada a estar com eles, que precisam de cuidados.O planejamento dirio das tarefas essencial, tanto para as enfermeirasalcanarem seus objetivos, organizarem e sentirem-se realizadas paraque as necessidades dos pacientes sejam atendidas.

    A administrao eficaz do tempo requer anlise das caractersticasdo trabalho e dos hbitos de trabalhos individuais dos membros daequipe e interveno na perspectiva positiva em relao utilizaoadequada do tempo de trabalho.

    Os sentimentos de medo, rejeio e isolamento, percebidos pelos

    pacientes dentro do prprio hospital, gerados pela equipe de enfer-magem, podem causar srios problemas ao paciente, dentre eles aangustia e at depresso. A depresso pode causar danos ao funcio-namento imunolgico e diminuir a motivao do paciente para engajar-se em comportamentos de promoo de sade(4).

    A equipe de enfermagem deve estimular o paciente a compartilharpensamentos. Encoraj-lo a verbalizar problemas e sentimentosenvolvendo seus relacionamentos, enfim, promover uma situao deconfiana. Isso poder fortalec-los, enquanto sujeitos desse processo,desmitificando a idia de vitimizao. Toda essa situao o far ver,simultaneamente, que o enfermeiro o considera, o respeita e acima detudo no tem medo de contrair sua doena.

    Uma boa assistncia pode melhorar muito a qualidade de vida daspessoas com HIV. A assistncia envolve, tambm, apoio emocional,espiritual e prtico para as pessoas HIV positivas.

    Algumas vezes, podemos ver, dentro de hospitais, a equipe de sademenosprezando emoes e solicitaes dos pacientes. No podemosnos distanciar do nosso instrumento de trabalho, que o cuidar, sequisermos ser valorizados, enquanto enfermeiros, e sermos reconhecidosperante a sociedade; teremos que valorizar a nossa profisso e a nsmesmos, deixando de nos esconder atrs de papis e balces e entrandoem contato direto com os nossos pacientes. Ao interagir com o ambientesocial, desenvolvendo aes, o enfermeiro transmite naturalmente sociedade um padro que evidenciado pela sua performance de atuao,ficando explicitado, atravs desta, os seus valores simblicos.

    Entretanto, compreendemos, tambm, que os pacientes esperamque a assistncia de enfermagem supere as questes tcnicas eprofissionais e venha suprir uma necessidade afetiva familiar que, muitasvezes, por conta da prpria situao de soropositividade e do estadode doente de AIDS, lhes foram privados. Entendemos que uma formaequivocada deles perceberem e esperarem que se desenvolva aassistncia de enfermagem, como uma extenso das relaes familiares,em que o enfermeiro se comportaria como um parente prximo. Oprofissional de enfermagem deve, acima de tudo, oferecer aos pacientesuma assistncia humanizada, individualizada, comprometida, tcnica,tica e de valorizao do ser humano, de sua autonomia e necessidades,mas que no pode se configurar em uma forma de proteo, ao pontode ser confundida com as diversas formas de relaes familiares.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    A partir do discurso coletivo apresentado, consideramos que, nosaspectos relativos s expectativas, o discurso apontou para anecessidade de uma assistncia mais humanizada, onde se valorize aateno, o contato verbal e a afetividade, por parte da equipe deenfermagem, aspectos constantemente solicitados pelos pacientes.Notamos que tambm h referncia dos pacientes em saber mais sobrea sua doena, cirurgias, estado de sade e resultados de exames.

    Consideramos que o desgaste fsico e psicolgico, que a infecopelo HIV e a AIDS geram nos pacientes, faz com que estes sintamnecessidades e tenham expectativas voltadas para um acolhimentointenso e uma assistncia mais individualizada, alm de perceberemcom mais amplitude, as diversas dimenses e o alcance de uma ateno sade qualificada, que pode contribuir, efetivamente no seu processode hospitalizao e restabelecimento da sade.

    Consideramos, ainda, que o profissional de enfermagem deve, acimade tudo, oferecer aos pacientes uma assistncia humanizada, indivi-dualizada, comprometida, tcnica, tica e de valorizao do ser humanoe de suas necessidades, estreitando suas relaes com os pacientes,mas que no pode se confundir com as diversas formas de relaesque estes mantm com suas famlias.

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