Dolce far niente

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62 | invista | março abril | 2012 63 2012 | março abril | invista | A EXPRESSÃO ITALIANA ACIMA SIGNIFICA A DOÇURA DE NÃO FAZER NADA. E CADA VEZ MAIS BRASILEIROS INCLUEM ESSA PRÁTICA EM SUA VIDA POR MEIO DO PERÍODO SABÁTICO. COM UM BOM PLANEJAMENTO FINANCEIRO, PASSAR MESES APROVEITANDO O QUE A VIDA TEM DE MELHOR DEIXA DE SER ALGO POSSÍVEL APENAS PARA QUEM TEM MUITO DINHEIRO. VEJA! INVISTA EM VOCÊ ||||||||||||||||||||||||||||| [ por Tabata Pitol HÁ QUEM DEFENDA QUE O PROVÉRBIO CHINÊS que garante que, para uma pessoa se sentir completa, ela precisa plantar uma árvore, escre- ver um livro e ter um filho, deveria conter ao me- nos mais um item: fazer uma viagem sabática. Entende-se por período sabático a pausa profissional que muitas pessoas fazem com o intuito de se dedicar a atividades prazerosas, que levem a um maior conhecimento pessoal, como viajar, estudar ou escrever um livro. No entanto, ficar um tempo sem trabalhar, apenas se dedicando ao estudo e ao lazer, pa- rece uma utopia, possível apenas para gran- des executivos, para quem dinheiro já não é um problema. Mas, de acordo com o econo- mista da Way Investimentos e chefe de Finan- ças da ESPM-RJ, Alexandre Espirito Santo, essa é sim uma prática possível ao trabalha- dor comum. O segredo é apenas um: o plane- jamento financeiro. “Cada vez mais pessoas comuns estão con- seguindo tirar seu período sabático, mas é pre- ciso planejamento. Decidir a data, quanto vai ser necessário juntar e qual é a melhor estra- tégia para alcançar o valor pretendido dentro do período estimado são os primeiros passos. Em seguida é preciso comprometimento para poupar todos os meses o valor necessário. Quem conseguir cumprir essas etapas certa- mente poderá desfrutar de um tempo para fa- zer apenas o que lhe dá prazer”, garante o eco- nomista que, dentro de cinco anos, pretende passar 365 dias viajando e escrevendo poesia. NA PRÁTICA A jornalista Lívia Andrade é a prova de que não só os milionários podem se dar um período de “dolce far niente”. Descontente com a vida que levava - “vivia para trabalhar, numa gran- de correria, sem qualidade de vida ou tempo para a família e amigos” – ela resolveu tirar três meses sabáticos para parar e pensar. De- cidiu então ir para a Inglaterra, onde ficou hos- pedada com parentes. “O fato de não ter que pagar hospedagem facilitou bastante. Por ser econômica, eu não precisei de muito tempo de planejamento. Uma vez que decidi passar um período sabático, peguei mais e bons traba- lhos. No total, eu viajei com as economias de três meses”. A executiva de mídia Joana Rodrigues tam- bém conseguiu tirar seu período sabático: seis meses no Reino Unido. A publicitária conta que planejou a viagem por bastante tempo, e o cuidado minucioso com a parte financeira garantiu o sucesso da experiência. “O planeja- mento financeiro foi uma grande preocupação e comecei a fazê-lo em 2008. A viagem ocorreu em 2011 e consegui pagar o curso que eu de- sejava fazer e as passagens antes de ir. Tam- bém consegui reunir a quantidade necessária para gastar com aluguel, alimentação, viagens e compras. Quando extrapolava em um mês, segurava no outro”. Ambas contam que, além do valor para o sabático em si, outra grande preocupação era ter dinheiro para quando voltassem ao Brasil. “Essa era uma preocupação e tanto. Mesmo porque tinha decidido que não voltaria a morar em São Paulo, queria tentar a vida de jornalista fora dessa megalópole e, assim que cheguei, me mudei para o interior. O que fiz foi juntar uma boa reserva para me manter quando vol- tasse. Além disso, investi minha reserva em fundos de curto prazo para ter lucros ao voltar. Deu certo”. Já Joana viveu uma situação diferente: con- seguiu negociar uma licença de seis meses na empresa onde trabalhava e voltou para o País com emprego garantido. “Ter dinheiro na volta era uma grande preocupação, mas, como fui com uma data certa para voltar a trabalhar, reservei dinheiro somente para esse mês de retorno. Com certeza esse acordo me garan- tiu uma volta muito mais tranquila. Até porque fazer uma reserva seria difícil, gastei todas as minhas economias e investimentos para viver essa experiência”. Alexandre Espirito Santo afirma que quem não tem o emprego garantido na volta precisa incluir no planejamento um valor suficiente para se bancar até conseguir um reposicio- namento no mercado de trabalho. “O legal é planejar um período sabático de um ano e ficar apenas oito meses parado. Assim você tem um período com recursos para buscar uma nova colocação”, aconselha. E completa: “para os jovens que estão começando a plane- jar um período sabático, uma boa estratégia é colocar parte do dinheiro em ações, principal- mente de empresas que pagam dividendos. Assim, depois que voltar, é possível conseguir se manter um tempo com os dividendos acu- mulados. Quem tem objetivo de longo prazo - quer tirar um sabático dentro de dez anos, por exemplo - pode ter pelo menos 30% do dinhei- ro alocado em boas pagadoras de dividendos. Tudo é fruto de um planejamento financeiro e de pensar no futuro”. OBJETIVO ATINGIDO O esforço parece valer a pena. Pelo menos é o que garante quem viveu a experiência. “Minha vida mudou muito após a viagem. Sair de São Paulo foi uma grande guinada, consegui um emprego fixo que me deu a tranquilidade de saber que todo mês eu tenho um valor fixo en- trando na conta. Financeiramente, este é meu melhor período”, conta Lívia. Joana também só elogia o período sabático: “Percebo que cresci muito, que o tempo que tirei para mim me ajudou a crescer tanto pes- soal quanto profissionalmente. Financeira- mente acabei com todas as minhas economias, mas faria tudo de novo. Voltei muito melhor do que fui, em todos os sentidos, até na minha maneira de encarar a vida”. DOLCE FAR NIENTE “O planejamento financeiro foi uma grande preocupação e demorou anos, mas graças a ele deu tudo certo. Faria tudo de novo” Joana Rodrigues “Minha vida mudou muito após a viagem. Financeiramente, este é meu melhor período”, Lívia Andrade O economista Alexandre Espirito Santo enviará planilha para o planejamento do período sabático aos que lhe escreverem no e-mail: [email protected] ISTOCKPHOTO FOTOS ARQUIVO PESSOAL

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62 | invista | março abril | 2012 632012 | março abril | invista |

A expressão itAliAnA AcimA significA A doçurA de não fAzer nAdA. e cAdA vez mAis brAsileiros incluem essA práticA em suA vidA por meio do período sAbático. com um bom plAnejAmento finAnceiro, pAssAr meses AproveitAndo o que A vidA tem de melhor deixA de ser Algo possível ApenAs pArA quem tem muito dinheiro. vejA!

invista em você |||||||||||||||||||||||||||||[por tabata Pitol

há quem defendA que o provérbio chinês que garante que, para uma pessoa se sentir completa, ela precisa plantar uma árvore, escre-ver um livro e ter um filho, deveria conter ao me-nos mais um item: fazer uma viagem sabática.

Entende-se por período sabático a pausa profissional que muitas pessoas fazem com o intuito de se dedicar a atividades prazerosas, que levem a um maior conhecimento pessoal, como viajar, estudar ou escrever um livro.

No entanto, ficar um tempo sem trabalhar, apenas se dedicando ao estudo e ao lazer, pa-rece uma utopia, possível apenas para gran-des executivos, para quem dinheiro já não é um problema. Mas, de acordo com o econo-mista da Way Investimentos e chefe de Finan-ças da ESPM-RJ, Alexandre Espirito Santo, essa é sim uma prática possível ao trabalha-dor comum. O segredo é apenas um: o plane-jamento financeiro.

“Cada vez mais pessoas comuns estão con-seguindo tirar seu período sabático, mas é pre-ciso planejamento. Decidir a data, quanto vai ser necessário juntar e qual é a melhor estra-tégia para alcançar o valor pretendido dentro do período estimado são os primeiros passos. Em seguida é preciso comprometimento para poupar todos os meses o valor necessário. Quem conseguir cumprir essas etapas certa-mente poderá desfrutar de um tempo para fa-

zer apenas o que lhe dá prazer”, garante o eco-nomista que, dentro de cinco anos, pretende passar 365 dias viajando e escrevendo poesia.

nA práticAA jornalista Lívia Andrade é a prova de que não só os milionários podem se dar um período de “dolce far niente”. Descontente com a vida que levava - “vivia para trabalhar, numa gran-de correria, sem qualidade de vida ou tempo para a família e amigos” – ela resolveu tirar três meses sabáticos para parar e pensar. De-cidiu então ir para a Inglaterra, onde ficou hos-pedada com parentes. “O fato de não ter que pagar hospedagem facilitou bastante. Por ser econômica, eu não precisei de muito tempo de planejamento. Uma vez que decidi passar um período sabático, peguei mais e bons traba-lhos. No total, eu viajei com as economias de três meses”.

A executiva de mídia Joana Rodrigues tam-bém conseguiu tirar seu período sabático: seis meses no Reino Unido. A publicitária conta que planejou a viagem por bastante tempo, e o cuidado minucioso com a parte financeira garantiu o sucesso da experiência. “O planeja-mento financeiro foi uma grande preocupação e comecei a fazê-lo em 2008. A viagem ocorreu em 2011 e consegui pagar o curso que eu de-sejava fazer e as passagens antes de ir. Tam-

bém consegui reunir a quantidade necessária para gastar com aluguel, alimentação, viagens e compras. Quando extrapolava em um mês, segurava no outro”.

Ambas contam que, além do valor para o sabático em si, outra grande preocupação era ter dinheiro para quando voltassem ao Brasil. “Essa era uma preocupação e tanto. Mesmo porque tinha decidido que não voltaria a morar em São Paulo, queria tentar a vida de jornalista fora dessa megalópole e, assim que cheguei, me mudei para o interior. O que fiz foi juntar uma boa reserva para me manter quando vol-tasse. Além disso, investi minha reserva em fundos de curto prazo para ter lucros ao voltar. Deu certo”.

Já Joana viveu uma situação diferente: con-seguiu negociar uma licença de seis meses na empresa onde trabalhava e voltou para o País com emprego garantido. “Ter dinheiro na volta era uma grande preocupação, mas, como fui com uma data certa para voltar a trabalhar,

reservei dinheiro somente para esse mês de retorno. Com certeza esse acordo me garan-tiu uma volta muito mais tranquila. Até porque fazer uma reserva seria difícil, gastei todas as minhas economias e investimentos para viver essa experiência”.

Alexandre Espirito Santo afirma que quem não tem o emprego garantido na volta precisa incluir no planejamento um valor suficiente para se bancar até conseguir um reposicio-namento no mercado de trabalho. “O legal é planejar um período sabático de um ano e ficar apenas oito meses parado. Assim você tem um período com recursos para buscar uma nova colocação”, aconselha. E completa: “para os jovens que estão começando a plane-jar um período sabático, uma boa estratégia é colocar parte do dinheiro em ações, principal-mente de empresas que pagam dividendos. Assim, depois que voltar, é possível conseguir se manter um tempo com os dividendos acu-mulados. Quem tem objetivo de longo prazo - quer tirar um sabático dentro de dez anos, por exemplo - pode ter pelo menos 30% do dinhei-ro alocado em boas pagadoras de dividendos. Tudo é fruto de um planejamento financeiro e de pensar no futuro”.

objetivo AtingidoO esforço parece valer a pena. Pelo menos é o que garante quem viveu a experiência. “Minha vida mudou muito após a viagem. Sair de São Paulo foi uma grande guinada, consegui um emprego fixo que me deu a tranquilidade de saber que todo mês eu tenho um valor fixo en-trando na conta. Financeiramente, este é meu melhor período”, conta Lívia.

Joana também só elogia o período sabático: “Percebo que cresci muito, que o tempo que tirei para mim me ajudou a crescer tanto pes-soal quanto profissionalmente. Financeira-mente acabei com todas as minhas economias, mas faria tudo de novo. Voltei muito melhor do que fui, em todos os sentidos, até na minha maneira de encarar a vida”.

Dolce fAr niente

“O planeja mento financeiro foi uma grande preocupação e demorou anos, mas graças a ele deu tudo certo. Faria tudo de novo”

Joana Rodrigues

“Mi nha vida mudou muito

após a viagem. Financeiramente,

este é meu melhor período”,

Lívia Andrade O economista Alexandre Espirito Santo enviará planilha para o planejamento do pe ríodo sabático aos que lhe escreverem no e-mail: [email protected]

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