Dom Alberto Taveira - Retiro Popular 2013 - A quem iremos, Senhor?

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Dom Alberto Taveira Corrêa Retiro Popular 2013 A quem iremos, Senhor ?

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A Quaresma é um tempo propício para o arrependimento de nossos pecados, assim como para as mudanças necessárias que nos tornarão melhores, a fim de vivermos mais próximos de Cristo. É tempo de fazer opções verdadeiras, pedir constância ao Senhor e ajudar-nos mutuamente em vista da perseverança. O coração do Retiro Popular 2013 é fazer uma nova escolha do seguimento de Jesus Cristo. Sejamos homens e mulheres renovados no Espírito, para que nos tornemos discípulos missionários e façamos o mundo crer em Jesus, nosso Senhor. “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Sobre o autor Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo metropolitano de Belém do Pará, é o escritor há mais de dez anos do Retiro Popular e convida todos os católicos a renovar seus compromissos batismais, fazendo morrer o que ainda há do “homem velho” no interior de cada um. É vice-presidente do conselho administrativo da Fundação Populorum Progressio – organização criada por João Paulo II para ajudar a Igreja na América Latina, presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB e membro da Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos.

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A Quaresma é um tempo propício para o arrependi-mento de nossos pecados, assim como para as mudanças ne-cessárias que nos tornarão melhores, a fim de vivermos mais próximos de Cristo. É tempo de fazer opções verdadeiras, pedir constância ao Senhor e ajudar-nos mutuamente em vista da perseverança.

O coração do Retiro Popular 2013 é fazer uma nova escolha do seguimento de Jesus Cristo. Sejamos homens e mulheres renovados no Espírito, para que nos tornemos discípulos missionários e façamos o mundo crer em Jesus, nosso Senhor.

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A quem iremos,Senhor?

Tu tens palavras de vida eterna (Jo 6,68)

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Dom Alberto Taveira Corrêa

A quem iremos, senhor?

Retiro Popular 2013

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Sumário

Retiro Popular 2013 ........................................................... 5

A quem iremos, Senhor? ..................................................... 9

Primeira semana: a casa do Senhor ................................... 21

Segunda semana: nascer de novo ...................................... 29

Terceira semana – à beira do poço: sabemos que este é o

Salvador do mundo .......................................................... 39

Quarta semana – palavras de vida eterna:

a quem iremos, Senhor? ................................................... 49

Quinta semana: eu creio, Senhor! Ver e crer ...................... 63

Semana Santa: amou-os até o fim! O testamento do amor ...75

Páscoa da ressurreição: meu Senhor e meu Deus!

Ele está vivo! ..................................................................... 87

Liturgia da Palavra na Quaresma ...................................... 91

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Via-Sacra ........................................................................ 103

Rosário da Santíssima Virgem Maria .............................. 125

Tempo da graça! ............................................................. 147

A caminho ...................................................................... 151

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rETiro PoPuLAr 2013

A Igreja nos conduz pelos caminhos da oração, do jejum, da mortificação e da caridade, para chegarmos à Páscoa reno-vados em Cristo. É um tempo dado de presente por Deus a cada cristão.

Como podemos escolher, pelo precioso dom da liberdade, como aproveitar o tempo, aqui está, mais uma vez, a proposta do Retiro Popular para este ano do Senhor.

A “moldura” que envolve nosso Retiro Popular é composta pelo Ano da Fé, promulgado pelo papa Bento XVI, pela Cam-panha da Fraternidade sobre a Juventude, pela Quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Ramos e pela Jornada Mundial da Ju-ventude, a ser celebrada, no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho de 2013.

A Quaresma é a mesma e é sempre nova. Nós continuamos com nossas características pessoais, mas podemos ser homens e mulheres renovados no Espírito, para sermos, de acordo com o convite da Igreja, discípulos missionários, para que o mundo creia em Jesus Cristo.

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Recolhemos da Sabedoria da Igreja as indicações para o Re-tiro. Mais do que o texto, deve ser original o percurso de fé que queremos fazer, dedicando, durante toda a Quaresma, pelo me-nos meia hora de oração pessoal, permitindo que a abertura de nossa alma ao Senhor suscite os passos de mudança e de con-versão em nossa vida, para que, conduzidos pelo Espírito Santo, anunciemos a todos os homens e mulheres as maravilhas de Seu amor. Ao mesmo tempo, a prática quotidiana das realidades es-senciais do cristianismo será valorizada, fazendo bem-feito o que recebemos da Igreja e das nossas famílias. De fato, vamos mudar para melhor, com a graça de uma Quaresma bem vivida.

Sinceros agradecimentos a Alan Monteiro da Silva pela inestimável ajuda na digitação e organização dos textos do Retiro Popular.

Dom Alberto Taveira CorrêaArcebispo de Belém do Pará

Do Evangelho de São Mateus 6,1-8.16-18: “Cuidado! Não pratiqueis vossa justiça na frente dos outros, só para serdes notados. De outra forma, não recebereis recompensa do vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmo-la, não mandes tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos outros. Em verdade vos digo: já receberam sua recom-pensa. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique escondida. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a re-compensa. Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de orar nas sinagogas e nas esquinas das praças, em posição de serem vistos pelos outros. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai

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que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa. Quando orardes, não useis de mui-tas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que precisais, antes de vós o pedir-des. Quando jejuardes, não fiqueis de rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para figurar aos outros que estão jejuando. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os outros não vejam que estás jejuan-do, mas somente teu Pai, que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa”.

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A QuEm irEmoS, SENHor?

No dia 18 de abril de 2005, o cardeal Joseph Ratzinger pre-sidiu a Santa Missa pela eleição do novo Papa. Em seguida, os cardeais entraram em Conclave, vindo a elegê-lo. É o nosso papa Bento XVI que há quase oito anos conduz a “Barca de Pedro”. Naquela ocasião, ele pronunciou uma belíssima homilia1, cuja atualidade chama atenção e da qual tomamos alguns pontos para abrir o Retiro Popular de 2013:

Não deveríamos permanecer crianças na fé, em estado de mino-ridade. Em que consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser “batidos pelas ondas e levados por qualquer ven-to da doutrina” (Ef 4,14). Uma descrição muito atual! Quan-tos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento. A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas, lançada de um extremo ao outro:

1 Missa “Pro eligendo Romano Pontifice”, homilia do cardeal Joseph Ratzinger, no dia 18 de abril de 2005.

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do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao coletivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosti-cismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4,14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classifi-cado como fundamentalismo. Enquanto isso, o relativismo, isto é, deixar-se levar “aqui e além por qualquer vento de doutrina”, aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada re-conhece como definitivo e que deixa como última medida ape-nas o próprio eu e as suas vontades. Ao contrário, nós temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É Ele a medida do verdadeiro humanismo. “Adulta” não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Deve-mos amadurecer esta fé, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé e só esta fé que gera unidade e se realiza na ca-ridade. São Paulo oferece-nos a este propósito em contraste com as contínuas peripécias dos que são como crianças batidas pelas ondas uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, coincidem verdade e caridade. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, também na nossa vida, verdade e caridade se fundem. A caridade sem verdade seria cega; a verdade sem caridade seria como “um címbalo que retine” (1Cor 13,1).

Foi ele mesmo, Bento XVI, quem ofereceu à Igreja o dom precioso do Ano da Fé, uma ocasião propícia para todos os fiéis compreenderem mais profundamente que o fundamento da fé cristã é o encontro com um acontecimento, com uma

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Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. Fundamentada no encontro com Jesus Cristo ressusci-tado, a fé poderá ser redescoberta na sua integridade e em todo o seu esplendor. Também nos nossos dias a fé é um dom que se deve redescobrir, cultivar e testemunhar “para que o Senhor conceda a cada um de nós viver a beleza e a alegria de sermos cristãos”2.

“Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18,8). Desejamos que a resposta seja positiva, e que nós participemos do grande testemunho de fé a ser oferecido à humanidade. Sabemos que se espalha o indiferentismo e o rela-tivismo, as perguntas se transformam em dúvidas na desconfiança entre os interlocutores do diálogo. São muitas as pessoas que nem consideram no “cardápio” da vida as questões religiosas, tanto que existem crianças que nunca ouviram falar de Deus em suas ca-sas. Não se sente a necessidade de perseguir a religião, mas apenas considerá-la fato privado, sem qualquer possibilidade de interferir na vida da sociedade, considerada radicalmente laica.

Nossa fé cristã ficará guardada no armário? Nossas igrejas se-rão transformadas em museus? Como responderemos aos novos desafios, com as ideias e práticas de vida que nos desconcertam? Somos capazes de dar respostas novas e corajosas?

Não queremos ser derrotistas nem cair no pessimismo. Quan-to maiores os problemas a serem enfrentados, sabemos que Aque-le que faz novas todas as coisas (Ap 21,5) nos renova. Pedimos ao Senhor, com a graça da Quaresma, que nos faça todos jovens no Evangelho, para dizer, com a juventude do Brasil, “aqui estou, envia-me” (Is 6,8 – cf. Campanha da Fraternidade 2013) e para respondermos juntos ao apelo do Senhor: “Ide, pois, fazer discí-pulos entre todas as nações” (Mt 28,19 – cf. Jornada Mundial da Juventude, Rio de Janeiro, 23 a 28 de julho de 2013). O tempo é de missão e de coragem.

2 Congregação para a doutrina da fé: nota com indicações pastorais para o Ano da Fé.

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De fato, são muitas as interrogações que povoam o coração das pessoas, e não nos é lícito ficar indiferentes. Diante dos de-safios novos e antigos, há que se confrontar com Jesus Cristo, para apresentar-Lhe as muitas perguntas que se encontram no coração humano. Ao mesmo tempo, é hora de deixar que o Senhor mesmo nos faça perguntas, para que a sinceridade de nossas respostas alimente o diálogo fecundo que Ele mesmo quer estabelecer conosco.

Não é necessário ter medo de Deus, nem medo do diálogo com Ele, assim como é urgente vencer o medo do relacionamen-to com as pessoas e com o mundo (cf. Jo 16,33), pois a vitória que vence o mundo é a nossa fé (cf. 1Jo 5,4). Diante de todas as situações, temos a certeza de que “no amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo, pois o medo im-plica castigo, e aquele que tem medo não chegou à perfeição do amor” (1Jo 4,18).

Nosso Retiro Popular quer contribuir para o amadurecimento de nosso relacionamento com Deus, para que a fé não seja aba-lada. Acompanharemos o diálogo de Jesus com algumas pessoas, detendo-nos às perguntas feitas, acolhendo as respostas do Senhor e deixando que também as nossas perguntas cheguem até Ele.

Vamos, coragem, pobre homem! Foge um pouco de tuas ocu-pações. Esconde-te um instante do tumulto de teus pensa-mentos. Põe de parte os cuidados que te absorvem e livra-te das preocupações que te afligem. Dá um pouco de tempo a Deus e repousa nele. Entra no íntimo de tua alma, afasta tudo de ti, exceto Deus ou o que possa ajudar-te a procurá-lo; fecha a porta e põe-te à sua procura. Agora fala, meu coração, abre--te e dize a Deus: Busco a vossa face; Senhor, é a vossa face que eu procuro (Sl 26,8). E agora, Senhor meu Deus, ensinai a

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meu coração onde e como vos procurar, onde e como vos en-contrar. Senhor, se não estais aqui, se estais ausente, onde vos procurarei? E se estais em toda parte, por que não vos encon-tro presente? É certo que habitais numa luz inacessível, mas onde está essa luz inacessível e como chegarei a ela? Quem me conduzirá e nela me introduzirá, para que nela eu vos veja? E depois, com que sinais e sob que aspecto vos devo procurar? Nunca vos vi, Senhor meu Deus, não conheço a vossa face. Que pode fazer, altíssimo Senhor, que pode fazer este exilado longe de vós? Que pode fazer este vosso servo, sedento do vos-so amor, mas tão longe da vossa presença? Aspira ver-vos, mas vossa face se esconde inteiramente dele. Deseja aproximar-se de vós, mas vossa morada é inacessível. Aspira encontrar-vos, mas não sabe onde estais. Tenta procurar-vos, mas desconhece a vossa face. Senhor, vós sois o meu Deus, o meu Senhor, e nunca vos vi. Vós me criastes e redimistes, destes-me todos os meus bens e ainda não vos conheço. Fui criado para vos ver e ainda não fiz aquilo para que fui criado. E vós, Senhor, até quando? Até quando, Senhor, nos esquecereis, até quando nos ocultareis a vossa face? Quando nos olhareis e nos ouvi-reis? Quando iluminareis os nossos olhos, e nos mostrareis a vossa face? Quando voltareis a nós? Olhai-nos, Senhor, ouvi--nos, mostrai-vos a nós. Dai-nos novamente a vossa presença para sermos felizes, pois sem vós somos tão infelizes! Tende piedade dos rudes esforços que fazemos para alcançar-vos, nós que nada podemos sem vós. Ensinai-me a vos procurar e mos-trai-vos quando vos procuro; pois não posso procurar-vos se não me ensinais nem encontrar-vos se não vos mostrais. Que desejando eu vos procure, procurando vos deseje, amando vos encontre, e encontrando vos ame.3

3 Anselmo, Santo. Proslógion (Capítulo I: Opera omnia). Seccovii: Schmitt, 1938, 1,97-100 (séc. XII). O desejo de contemplar a Deus.

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Acolha nosso convite a fazer Retiro, como os discípulos ouvi-ram o convite do Senhor:

Os apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado. Ele disse-lhes: “Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco”! Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer. Foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós (Mc 6,30-32).

O burburinho da vida nos envolve a cada dia, de modo que nem sempre podemos retirar-nos um pouco, para passar o tem-po com o Senhor.

Certamente são muitas as pessoas que, pela primeira vez, fa-zem conosco este Retiro, gente que se decide a dedicar pelo me-nos meia hora por dia na Quaresma à oração, com a Palavra de Deus. Sejam bem-vindas! Queremos administrar melhor nosso tempo na Quaresma e rezar com a Bíblia, refletir sobre a nossa vida, o mundo e a Igreja. Depois, certamente surgirão muitos bons propósitos, que serão preparados na Quaresma, assumidos na Vigília Pascal e praticados no Tempo Pascal. Os passos são os seguintes:

PRIMEIRA SEMANA DA QUARES-MA: A CASA DO SENHOR. Jesus cha-mou Seus primeiros discípulos. Alguns de-les, com sadia curiosidade, querem saber

onde mora o Senhor. Vamos entrar com eles na Casa de Jesus e em Seu coração. Conosco irão muitas pessoas, até gente que não O conhece! Lá desejamos permanecer, levando-Lhe nosso desejo de saber e viver!

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SEGUNDA SEMANA DA QUARES-MA: NASCER DE NOVO. Um dia, Jesus foi visitado à noite por um dos chefes dos ju-deus, Nicodemos. Foi um diálogo precioso, com o qual aprendemos a nascer de novo da

água e do Espírito. Afinal de contas, somos batizados! Mesmo sa-bendo que não é fácil remexer lá dentro do coração, para arrancar a “velhice” do pecado e da maldade, estamos dispostos! O Espí-rito Santo, que nos conduz no Retiro, purificará nosso interior.

TERCEIRA SEMANA DA QUARES-MA – À BEIRA DO POÇO: SABEMOS QUE ESTE É O SALVADOR DO MUNDO. O Senhor, através de Sua Igreja, se assenta à

beira de muitos poços, como fez com a mulher samaritana. Quan-do chega a nossa vez de conversar sobre água viva, logo Ele nos faz missionários, para levar às nossas famílias e cidades o anúncio que abre o coração, pois Ele nos diz tudo o que somos.

QUARTA SEMANA DA QUARES-MA – PALAVRAS DE VIDA ETERNA: A QUEM IREMOS, SENHOR? É tempo de fazer escolhas verdadeiras, pedir constância ao Senhor, ajudar-nos mutuamente em vista da perseverança. O coração do Retiro Popu-lar 2013 é fazer uma nova escolha do segui-mento de Jesus Cristo.

QUINTA SEMANA DA QUARESMA: EU CREIO, SENHOR! VER E CRER. Na aventura do cego de nascença, está também a nossa história. A fé que professamos fará en-xergar os caminhos, a fim de que sejamos tam-bém anunciadores do nome de Jesus Cristo.

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Nosso Batismo é a “iluminação” com a qual se tornam límpidos nossos passos e que resplandecerá para ajudarmos os outros.

SEMANA SANTA: AMOU-OS ATÉ O FIM! O TESTAMENTO DO AMOR. Acompanhar Jesus, participando dos aconte-cimentos de Sua Paixão e morte. Entrar de coração no Tríduo Pascal, para vivê-lo com fé, no coração da Igreja. Tomar a cruz com Jesus e transformar cada gesto de nossa vida em ato de amor.

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO: MEU SENHOR E MEU DEUS! ELE ESTÁ VIVO! Nós anunciamos Cristo, que morreu e ressuscitou para nos salvar. É a festa da vida que não tem fim! A vida nova continua a se espalhar, onde quer que estejamos.

Para cada etapa do Retiro, temos propostas de oração e de contato com a Palavra de Deus. Os textos podem ser reza-dos com o Roteiro da Leitura Orante da Palavra de Deus, a “Lectio Divina”4:

a. Início: invocar o Espírito Santo. Atitude prévia para en-trar no caminho da leitura orante: pede-se a Deus a luz necessária.

b. Leitura: ler a Palavra. A leitura se faz com a consciência de que se escuta Alguém, Deus! Nesse primeiro momento,

4 Cf. Bianco, Enzo. Lectio Divina – Encontrar Deus na sua Palavra. São Paulo: Salesiana, 2009, p. 45.

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trata-se de apropriar-se da passagem da Escritura no seu sentido literal e histórico.

c. Meditação: ruminar a Palavra. Procuram-se os sentidos espirituais contidos no texto, em referência a Cristo, à vida moral, à esperança cristã.

d. Oração: rezar a Palavra. O que foi meditado é retomado em forma de diálogo com o Senhor, segundo os diversos tipos de oração: louvor, ação de graças, arrependimento e pedido de perdão, súplica, pergunta, confiança.

e. Contemplação: em recolhimento de adoração, coloca-se em atitude receptiva, de escuta, e deixa-se plasmar pela Palavra de Deus.

f. Ação: escolher um compromisso concreto para o próprio testemunho de fé, no meio dos outros, para que a Palavra escutada se torne vivida.

g. Conclusão: agradecer a Deus pelo dom de Sua Palavra e pela alegria de crescer e amadurecer.

Como fazer o Retiro na vida:1) FAZER BEM-FEITO: Faça bem suas orações costumeiras

da manhã e da noite, às refeições e a oração do Rosário com os mistérios de cada dia. A missa dominical é um eixo fundamen-tal no Retiro quaresmal. Se possível, participe da Santa Missa também durante a semana. Durante a Quaresma, não perca qualquer oportunidade para fazer o bem, olhando ao seu redor, superando a distração e a omissão (“Cheios de grande admira-ção, diziam: ‘Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem’” [Mc 7,37]).

2) RETIRAR-SE: Escolha o seu tempo de oração pessoal, que chamamos de “tempo de Retiro”. Sabemos que para muitas pessoas se trata de um grande esforço, mas os frutos se fazem logo notar (“Cada vez mais, sua fama se espalhava,

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e as multidões acorriam para ouvi-lo e para serem curadas de suas doenças. Ele, porém, se retirava para lugares desertos, onde se entregava à oração” [Lc 5,15-16]). Nossa proposta é de meia hora diária de oração pessoal, durante a Quaresma e a Semana Santa.

3) PROFESSAR A FÉ: Comece o seu “tempo de Retiro” re-zando assim, todos os dias (cf. At 8,37: “‘Se crês de todo o cora-ção, é possível’. E ele respondeu: ‘Creio que Jesus Cristo é o filho de Deus’”):

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos. Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas fo-ram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, des-ceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e su-biu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em Sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o Seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.5

5 Profissão de fé – Creio (Símbolo Niceno-Constantinopolitano).

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4) PASSO A PASSO: Siga as indicações diárias do Retiro, aproveitando também as sugestões para a oração que se encon-tram em outras partes do livro do Retiro Popular. Trata-se de um caminho de crescimento, para amadurecer como discípulo missionário de Jesus. De fato, Jesus “nada lhes falava sem usar parábolas. Mas, quando estava a sós com os discípulos, lhes ex-plicava tudo” (Mc 4,34).

5) PARTILHAR: Crie ocasiões para partilhar com outras pessoas suas reflexões, orações e experiências de vivência da Pala-vra de Deus durante o Retiro Popular.

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PrimEirA SEmANA: A CASA Do SENHor

Jesus chamou Seus primeiros discípulos. Alguns deles, com sadia curiosidade, querem saber onde mora o Senhor. Vamos entrar com eles na Casa de Jesus e em Seu coração. Conosco irão muitas pessoas, até gente que não O conhece! Lá desejamos permanecer, levando-Lhe nosso desejo de saber e viver!

Casa é lugar de intimidade e de respeito. Em nossas casas, podemos expressar-nos com simplicidade, abrindo nossa alma. A casa dos filhos de Deus é a vida da Trindade, onde entramos com a graça do Batismo. Começamos nosso Retiro “em casa”, adquirindo a simplicidade e a espontaneidade para rezar, con-versar com Deus, ouvi-Lo de alma aberta. A semana do Retiro é um tempo privilegiado para desarmar o coração e sentir-se à vontade com Deus, superando o medo, o acanhamento, a ver-gonha! Pode ser também uma ocasião para a abertura da alma, com o Sacramento da Penitência, sabendo que se trata da fonte da misericórdia disponível a todos.

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1. O DIA DO SENHOR: No Domingo, Dia do Senhor, seu Retiro é participar da Santa Missa na paróquia ou comunidade. Prepare-se antes, lendo os textos que serão proclamados no primeiro domingo da Quaresma: Dt 26,4-10; Sl

90(91)6; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13.

2. FAZER BEM-FEITO – ORAÇÕES DIÁ-RIAS: Estamos no início da Quaresma. Todos os dias, reze assim suas orações da manhã e da noite:

ORAÇÃO DA MANHÃ: Eu Vos adoro, meu Deus, e Vos amo de todo o coração. Dou-Vos graças por me terdes criado, feito cristão (cristã) e conservado nesta noite. Ofereço-Vos as ações deste dia; fazei que sejam todas segundo a Vossa santa von-tade, para Vossa maior glória. Preservai-me do pecado e de todo o mal. A Vossa graça esteja sempre comigo e com todos os que me são caros. Amém.

ORAÇÃO DA NOITE: Eu Vos adoro, meu Deus, e Vos amo de todo o coração. Dou-Vos graças por me terdes criado, feito cristão (cristã) e conservado neste dia. Perdoai-me as faltas que hoje cometi e, se fiz algum bem, aceitai-o. Guardai-me durante o repouso e livrai-me dos perigos. A Vossa graça esteja sempre comigo e com todos os que me são caros. Amém.

3. A PALAVRA DE DEUS NA VIDA: Leia os textos da Liturgia propostos para cada dia da semana, como está indicado a partir da página 91,

6 Todos os Salmos que constam neste Retiro Popular foram retirados da Liturgia das Horas.

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escolhendo uma frase para colocar em prática, especialmente no amor ao próximo. Ao final do dia, faça seu exame de consciência, perguntando se viveu e como viver a Palavra. Você experimentará a Palavra e Deus entrando pouco a pouco em sua alma, como brisa suave, que conduz à mudança de vida.

4. VIA-SACRA: Na quarta e na sexta-feira, faça a Via-Sacra com o texto do beato João Paulo II, que está a partir da página 103, a proposta da Campanha da Fraternidade, disponível em sua paróquia, ou outro roteiro de sua preferência.

5. REZAR O TERÇO no momento mais oportuno, de acordo com as indicações a partir da página 125.

6. RETIRAR-SE PARA A ORAÇÃO: Du-rante a semana, de segunda a sábado, no horário e local mais oportuno, de acordo com seu pro-grama de vida, faça sua oração de Retiro:

a. PEÇA A PRESENÇA DO ESPÍRITO SANTO, rezan-do todos os dias da primeira semana o hino chamado “Veni, Creator”: ó vinde, Espírito Criador, as nossas al-mas visitai e enchei os nossos corações com Vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, do Deus excel-so o dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois doador dos sete dons, e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós Seus feitos proclamais. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos Vossa paz;

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se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador por Vós possamos conhecer, que pro-cedeis do Seu amor, fazei-nos sempre firmes crer. Amém.

b. PROFISSÃO DE FÉ: “Redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo”7. Re-nove cada dia a sua fé, rezando o Credo, com o texto que se encontra à página 18.

c. NAS FONTES DA FÉ: No início da semana, de pre-ferência na segunda-feira, leia o Evangelho de São João 1,35-42.

No dia seguinte, João estava lá, de novo, com dois dos seus discípulos. Vendo Jesus caminhando, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”! Os dois discípulos ouviram esta declaração de João e passaram a seguir Jesus. Jesus voltou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: “Que procurais?” Eles responderam: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?” Ele respondeu: “Vinde e vede”! Foram, viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido a declaração de João e seguido Jesus. Ele encontrou primeiro o próprio irmão, Simão, e lhe falou: “En-contramos o Cristo!” (que quer dizer Messias). Então, condu-ziu-o até Jesus, que lhe disse, olhando para ele: “Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!” (que quer dizer Pedro).

7 Bento XVI, Porta Fidei 2.

Page 23: Dom Alberto Taveira - Retiro Popular 2013 - A quem iremos, Senhor?

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