Domitila Hormizinda

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  • 8/9/2019 Domitila Hormizinda

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    MULHERES NA REPBLICA--- MATEMTICA ---

    DOMITILA HORMIZINDA MIRANDA DE CARVALHO (1871-1966)Um percurso singular

    Domitila de Carvalho notabilizou-se pelos trs cursos que frequentouna Universidade de Coimbra, pela aco a favor da educao dasmulheres na defesa da criao do primeiro Liceu feminino, pelaparticipao em iniciativas feministas e pacifistas, sendo Monrquica e

    catlica, e por um percurso poltico que a levou a pertencer ao grupodas trs primeiras deputadas do Estado Novo.

    Face aos excelentes resultados nos exames finais do curso dos liceuse a instncias dos professores e da me, candidata-se, em 1891, aoensino superior, sendo a primeira mulher a assistir regularmente saulas. Este acontecimento mereceu inmeras referncias elogiosas na imprensa da poca, pelo facto poucovulgar mas to promissor para as outras mulheres que lhe quisessem seguir os passos.Depois das licenciaturas em Matemtica (1894) e Filosofia (1895), concorre ao lugar de astrnoma noObservatrio D. Lus I. O lugar no lhe atribudo por ser mulher apesar de ter ficado em primeiro lugar.Decide ento seguir Medicina (1904) aproveitando as cadeiras comuns dos primeiros anos dos outros cursos.

    A convite da rainha D. Amlia vem, em 1904, trabalhar para Lisboa, na recm-criada Associao Nacional daTuberculose. Presta servio no Centro Materno-Infantil que abre as portas na que foi depois a MaternidadeMagalhes Coutinho e exerce, por pouco tempo, clnica privada com consultrio no Rossio. Os problemas desade resultantes dos deficientes ou nulos cuidados das mes, leva-a a proferir algumas confernciasalertando para a necessidade de se educarem as mulheres na perspectiva de que elas so as primeiraseducadoras e as melhores agentes de mudana. Mais tarde, quando deputada, ser da sua autoria aintegrao no currculo escolar liceal da disciplina de Higiene e Puericultura.

    Numa poca em que a instruo e educao das mulheres raras vezes ultrapassavam a esfera domstica equando muito o ensino primrio superior, defende a igualdade oportunidades entre homens e mulheresempenhando-se na transformao da Escola Feminina Maria Pia, no primeiro Liceu feminino em Portugal, oLiceu Maria Pia (1906). As palavras de boas vindas s novas alunas, como primeira Directora (Reitora),reflectem o seu pensamento e independncia de aco, regozijando-se com a oportunidade de, pelo estudo,

    as jovens virem a ser respeitadas e livres de opo de vida. At aposentao, a leccionar a disciplina deMatemtica nesse Liceu, foi constante a sua preocupao em favorecer a educao e instruo das alunas,porque acreditava que deste modo as mulheres, como primeiras educadoras, poderiam transformar asociedade e esbater as diferenas sociais que as separavam dos homens.

    Sob a perspectiva, de que na famlia que as mulheres tm um lugar privilegiado para educar para a paz eentendimento entre os homens, se insere a militncia pacifista que a levou a integrar a Seco feminista daLiga Portuguesa da Paz, tendo secretariado a sesso pblica da sua constituio (1906). Foi igualmenteVogal do Comit Portugus da agremiao francesa La Paix et le Dsarmement par les Femmes.

    Em 1909 assina a lista dos defensores do divrcio, publicada no Jornal O Mundo e promovida pela LigaRepublicana das Mulheres Portuguesas. Contrariamente, em 1912 duramente criticada pelas feministasporque recusa apoiar o sufrgio feminino. As duas atitudes so determinadas pela independncia que

    norteou o seu pensamento. O divrcio permitir s mulheres adquirirem a liberdade face a um casamentoque no resultou mas s depois de instrudas e educadas elas podero fazer uma opo livre e consciente,sem serem coagidas afectivamente a uma escolha. Se as preocupaes eram, nesse momento, a educao

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    e instruo das mulheres, anos mais tarde a actuao revester-se-ia de outras formas e viria a pertencer aogrupo das trs primeiras deputadas do Estado Novo.

    Estreou-se na imprensa escrita, ainda muito jovem, com a publicao de sonetos. Alguns desses poemas,reuniu-os depois em livros, como marcos de trs momentos de sensibilidade potica, numa vida que foilonga: Versos (1909), que foi escrevendo na juventude, com prefcio de Afonso Lopes Vieira, seucondiscpulo em Coimbra e dedicado rainha D. Amlia; Terra de Amores(1924) ou saudades de Coimbra e

    do tempo em que l viveu e estudou, Para o Alto!, (1957) o livro que Joo Ameal considerava de um lirismodramtico e piedoso com "uma f segura dos rumos definitivos".

    A colaborao literria na imprensa de todo o pas, estendeu-se tambm imprensa feminista e pacifista. Aparticipao nas revistas Sociedade Futura e Alma feminina, ainda que se tenha remetido publicao depoemas e um artigo de carcter cientfico, reflectem a identificao com os ideais que vinham sendodefendidas a igualdade de direitos cvicos, polticos e sociais entre os sexos.

    Sempre fiel aos seus princpios e profundamente crist, devotou uma enorme gratido a Rainha D. Amliaque custeou os estudos na Universidade de Coimbra. Apoiou Sidnio Pais na obra social "5 de Dezembro" eaplaudiu o restabelecimento das relaes entre o Estado e a Igreja. A Salazar, grata pela aco em prol dareconstruo do Pas, aceitou "como um dever" representar as mulheres, pela primeira vez, como deputadana Assembleia Nacional em 1934. F-lo, sempre consciente dos princpios ideolgicos do Estado Novo, mas

    consciente do privilgio que lhe foi dado de poder dar voz s muitas mulheres que a no tinham. Sempreatenta s desigualdades sociais e fiel independncia de aco com que orientou a sua vida, no hesitou, noentanto, em defender publicamente o que considerava adequado aos tempos e s necessidades dasmulheres. J aposentada escreveu a Salazar a mostrar a sua concordncia sobre o casamento dasenfermeiras ou das telefonistas. No consta que Salazar tenha discordado dos seus argumentos.

    Margarida Carvalho

    Margarida Carvalho Tcnica Superior no Gabinete de Relaes Externas da Universidade do Algarve. Mestre em Estudos sobre as

    Mulheres pela Universidade Aberta. Investigadora no Projecto "Biografias de Mulheres. Sculo XX" do CEMRI, Universidade Aberta,

    participa actualmente como Investigadora do Projecto "As Mulheres e os Mdia" da Escola Superior de Educao da Universidade doAlgarve, ambos financiados pela Fundao para a Cincia e Tecnologia.

    Carvalho, Margarida. Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho (1871-1966) Um percurso singular.

    [Em linha]. Disponvel emhttp://www.aph.pt/uf/uf_0506.html. [Consultado em 09/03/10].

    BE-ESOD

    Centenrio da Repblica

    Centenrio da Comemorao do Dia Internacional da Mulher

    http://www.aph.pt/uf/uf_0506.htmlhttp://www.aph.pt/uf/uf_0506.htmlhttp://www.aph.pt/uf/uf_0506.htmlhttp://www.aph.pt/uf/uf_0506.html