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Dora Alice da Rocha Carvalho Moreira
2º Ciclo de Estudos em Ensino de Inglês e Alemão no 3.º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário
Aquisição de vocabulário em língua estrangeira: aprendizagem e ensino
2012
Orientador: Professora Doutora Maria de Fátima de Sousa Basto Vieira
Classificação: Ciclo de estudos:
Dissertação/relatório/ Projeto/IPP:
Versão definitiva
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AGRADECIMENTOS À Professora Doutora Fátima Vieira por toda a sua disponibilidade e orientação. À minha família e amigos pelo seu apoio e por pacientemente terem prescindido da minha companhia. Aos meus colegas que sempre me incentivaram. A todos os professores que cruzaram a minha vida e às minhas orientadoras de estágio por tudo o que me ensinaram. Aos meus alunos por tudo o que, sem saberem, me ensinam.
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RESUMO
A finalidade máxima da aprendizagem de uma língua estrangeira é a
comunicação. Para comunicarmos com as outras pessoas e transmitirmos a maioria das
mensagens, estamos dependentes do uso de vocabulário. Deste modo, a competência
lexical assume um papel central na aprendizagem de uma língua, pelo que deve ser alvo
de um trabalho intencional e planeado por parte do professor.
Este Relatório, que pretende ser reflexo da minha experiência profissional, centra-
se na temática da aquisição de vocabulário, perspetivando a ótica do aprendente
(aprendizagem) e do professor (ensino). Neste sentido, são abordadas questões relativas à
organização, armazenamento e esquecimento do conhecimento lexical e indicadas
estratégias para a aprendizagem autónoma de vocabulário. São também objeto de
consideração os princípios que devem reger o processo de seleção lexical, as fontes de
vocabulário em sala de aula, os aspetos a ter em conta no seu ensino e as formas de o
apresentar e explicar. É ainda objetivo deste trabalho perceber os aspetos que facilitam a
memorização de vocabulário e as formas que o professor pode utilizar para promover a
sua prática e reciclagem.
Para melhor perceber o modo como se aprende e, consequentemente, o modo
como se deve ensinar, fiz uma pesquisa sobre o funcionamento do cérebro e a sua relação
com a aprendizagem. Dediquei também parte do trabalho a uma visão geral das mais
influentes teorias da aprendizagem e dos fatores que a influenciam numa língua
estrangeira.
Palavras-chave: vocabulário, língua estrangeira, aprendizagem, ensino
4
ABSTRACT
Communication is the ultimate purpose of learning a foreign language. In order to
communicate with other people and convey most messages we have to make use of
vocabulary. Since the lexical competence plays a key role in foreign language learning, it
should be the target of intentional and planned work by the teacher.
This report, which intends to reflect my professional experience, focuses on
vocabulary acquisition and approaches it in the learner’s and the teacher’s view. Thus,
the organisation and storage of vocabulary, as well as the reasons why it is forgotten are
mentioned in this work. There is an indication of the strategies learners can use to learn
vocabulary autonomously and of the principles that should guide the process of lexical
selection. Classroom sources of words and the aspects that should be taken into account
in the teaching of lexis are considered in this report, which is also intended to show ways
of presenting and explaining vocabulary and of promoting its practice and recycling.
For a better understanding of how we learn and, consequently, of how we should
teach, research was conducted about the way the brain works and its implications for
learning. Part of this report is also devoted to a general overview of the most influential
learning theories and of the factors which affect foreign language learning.
Keywords: vocabulary, foreign language, learning, teaching
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 7
2. O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO E A APRENDIZAGEM 12
2.1. A estrutura do cérebro 13
2.2. Os vários tipos de memória 17 2.2.1. A memória sensorial 18 2.2.2. A memória de funcionamento 22 2.2.3. A memória a longo prazo 24
2.3. O desenvolvimento do cérebro 26 2.3.1. O cérebro da criança 26 2.3.2. O cérebro do adolescente 28 2.3.3. O cérebro do adulto 30
2.4. Períodos sensíveis 31
3. TEORIAS DA APRENDIZAGEM 34
3.1. O Behaviorismo 34
3.2. O Construtivismo 39
3.3. O Construtivismo Social 43
3.4. Inteligências Múltiplas 46
4. FATORES QUE INFLUENCIAM A APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA 52
5. A AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO 65
5.1. A aprendizagem de vocabulário 65 5.1.1. O léxico mental 66 5.1.2. O esquecimento de vocabulário 67 5.1.3. Tipos e dimensão de vocabulário 68 5.1.4. Estratégias para a aprendizagem autónoma de vocabulário 70
6
5.2. O ensino de vocabulário 74 5.2.1. A seleção de vocabulário 75 5.2.2. Fontes de vocabulário em contexto de sala de aula 77 5.2.3. Aspetos a ter em conta no ensino de vocabulário 81 5.2.4. Apresentação e explicação de vocabulário 85 5.2.5. Aspetos que facilitam a memorização de vocabulário 89 5.2.6. Formas de promover a prática e a reciclagem de vocabulário 93
6. CONCLUSÃO 97
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS 99
7
1. INTRODUÇÃO
O presente Relatório, realizado ao abrigo da recomendação do Conselho de
Reitores das Universidades Portuguesas de janeiro de 2011, pretende ser o reflexo da
minha experiência profissional e de um trabalho de investigação no domínio do ensino de
inglês e alemão como línguas estrangeiras. Deste modo, considero importante começar
por fazer uma breve apresentação do meu percurso profissional até ao momento.
Após ter concluído a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas variante de
estudos ingleses e alemães – ramo educacional, a minha primeira experiência de trabalho
(excetuando o estágio pedagógico integrado) foi com crianças, no âmbito das Atividades
de Enriquecimento Curricular. Depois de ter dado aulas a adolescentes, durante o estágio,
e de ter obtido formação para o trabalho com alunos desta faixa etária, tive a necessidade
de me adaptar ao ensino de crianças e de procurar informação nesta área. Deste modo,
ingressei no curso Ensino de Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico organizado pelo
Departamento de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. Considero que esta formação foi de grande importância para a minha prática
profissional, uma vez que me possibilitou uma reflexão sobre o que deve ser o ensino
precoce de uma língua estrangeira, me deu acesso a um vastíssimo conjunto de materiais
adequados a crianças e me permitiu perceber algumas das especificidades do trabalho
com alunos desta idade. Depois de frequentar este curso, por estar em posse de
informação muito relevante respeitante a esta vertente do ensino de inglês, tornei-me
mais confiante no exercício das minhas funções, dentro e fora da sala de aula. Este curso
despertou ainda em mim a curiosidade e o desejo de aprender mais sobre o ensino
precoce de inglês, pelo que, mais tarde, decidi inscrever-me noutras ações de formação
relacionadas com o tema, das quais destaco o Curso de Gestão Curricular do Inglês no 1º
Ciclo do Ensino Básico, 3º e 4º anos e a ação Oxford Teacher’s Academy Principles and
Practices in Teaching Young Learners. Enquanto participante no projeto S.T.E.P.S. - UP
(Support for Teaching English in Primary Schools – Universidade do Porto) integrei um
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grupo de trabalho responsável pela determinação de critérios para a avaliação dos alunos
e pela construção de grelhas de observação e de avaliação, entre outras tarefas.
Paralelamente ao exercício das funções de professora de inglês a alunos do ensino
primário, fui exercendo as de formadora de inglês a adultos. Comecei por dar formações
em empresas e, mais tarde, abracei projetos de formação financiada, sob a forma de
cursos de Ensino e Formação de Adultos (EFA), unidades de formação de curta duração
(UFCDs) e processos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências
(RVCC). O ensino a adultos obrigou a que, mais uma vez, tivesse de me adaptar a uma
faixa etária diferente da contemplada na minha formação de raiz. Neste caso, não
ingressei em qualquer ação de formação orientada para o ensino de adultos, fazendo
apenas uso do bom senso, das minhas experiências até então e dos conhecimentos que
adquiri durante o meu curso. Curiosamente, pude verificar que várias técnicas e
estratégias que aprendi para trabalhar com crianças e adolescentes eram perfeitamente
adaptáveis ao ensino de adultos.
Ciente de que é responsabilidade de qualquer professor manter-se atualizado,
desde que concluí a minha licenciatura, tenho procurado participar em ações de
formação, fóruns e congressos, nomeadamente nos organizados pela Associação
Portuguesa de Professores de Inglês. Para além disso, fruto da atribuição de uma Bolsa
Comenius, tive a oportunidade de participar no curso Drama Techniques for the English
Classroom, em Exeter, no Reino Unido. Esta experiência foi muito positiva do ponto de
vista linguístico, pedagógico e cultural, pois possibilitou o contacto e a partilha de
experiências com professores de várias nacionalidades e culturas. Esta curta estada no
Reino Unido fez-me ainda perceber que o ensino de inglês em Portugal não só está ao
nível da maioria dos outros países europeus, como, em alguns aspetos, é até superior.
Muito do que aprendi neste curso foi útil para o meu trabalho com adultos e com
adolescentes. Atualmente, são várias as exigências que se colocam a um professor de
língua estrangeira, nomeadamente no que diz respeito ao uso da língua para fins
específicos. Assim, para poder lecionar módulos de inglês comercial, senti a necessidade
de investir no estudo autónomo de Business English e de certificar esse conhecimento,
tendo-me submetido a um exame da Universidade de Cambridge e obtido o certificado
Business English Certificate Higher.
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Em 2009 voltei a lecionar inglês no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino
Secundário, numa escola pública, onde tive oportunidade de aplicar os conhecimentos
que adquiri na faculdade, bem como os que fui aprendendo pela experiência e nas várias
formações que frequentei. Trabalhei com alunos do 7.º ao 12.º anos de escolaridade,
inscritos no ensino regular, ensino profissional e Cursos de Educação e Formação (CEF)
e desempenhei ainda as funções de diretora de turma e tutora.
Tal como se pode constatar, a minha atividade profissional tem-se centrado
sobretudo no ensino de inglês. Infelizmente, não têm surgido muitas oportunidades para
lecionar alemão, pelo que a minha experiência no ensino desta língua se resume ao ano
de estágio e à preparação, a título particular, de uma aluna para exame.
A escolha do tema deste Relatório foi motivada não só pela consciência do papel
relevante do vocabulário para a comunicação em língua estrangeira, mas também pela
minha experiência profissional. A aprendizagem de uma língua tem como finalidade
máxima a comunicação. As palavras constituem o instrumento mais poderoso que temos
para comunicar com as outras pessoas, sendo essenciais à transmissão da maioria das
mensagens. Mais do que a gramática, é o vocabulário que nos permite verbalizar os
nossos pensamentos. Quando uma frase tem conteúdo, ainda que não esteja
gramaticalmente correta, a mensagem principal é, na maioria dos casos, compreensível.
Como afirma Wilkins, “Sem gramática muito pouco pode ser transmitido, sem
vocabulário nada pode ser transmitido.” (qtd. in Thornbury 13). 1 Deste modo, a
competência lexical assume um papel central no paradigma comunicativista. Ao longo da
prática docente, tenho-me deparado com alunos que revelam pouca propriedade lexical e
verificado que o vocabulário reduzido condiciona a progressão na língua. Textos de
relativa facilidade são considerados inacessíveis, pois os alunos têm muita dificuldade em
descodificar e produzir mensagens orais e escritas. Como poderão compreender um texto,
ou até mesmo utilizar estratégias que auxiliem a sua compreensão, quando a maioria das
palavras representa um obstáculo? Como refere Celce-Murcia, “... a não ser que uma
elevada percentagem de palavras numa página seja conhecida, é muito difícil inferir o
significado de novas palavras através do contexto.” (289).
1 Todas as traduções das citações feitas neste relatório são minhas, à exceção das relativas às obras de Bernardo, Feinstein, Piaget, Sternberg, Wolfe e Zenhas, que já se encontravam em português.
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Sempre tive a noção de que o vocabulário era importante, mas foi durante um
congresso de professores de inglês, ao ouvir a frase “Stop teaching reading and start
teaching vocabulary.”, proferida por Scott Thornbury, que mais fiquei convicta da
necessidade de atribuir um maior enfoque ao ensino do vocabulário. 2 Ainda que o todo
(o texto) seja mais do que a soma das partes (as palavras), apercebi-me de que não vale a
pena investir longas horas a treinar os alunos em estratégias para a interpretação de textos
que estão acima das suas capacidades, quando na realidade eles não sabem o mais
elementar – as palavras.
Tendo por base a minha experiência profissional com crianças, adolescentes e
adultos, na tentativa de melhorar a minha prática letiva coloquei a mim própria as
seguintes perguntas:
• Como aprendemos?
• Como aprendemos uma língua estrangeira? Quais os fatores que nos
influenciam?
• Como aprendemos vocabulário?
• Como devemos ensinar vocabulário? Quais as técnicas mais adequadas
para o ensino a crianças? Quais as mais apropriadas para adolescentes?
Quais as indicadas para adultos?
Este Relatório, que pretende dar respostas a estas questões, está dividido em
quatro capítulos. O primeiro capítulo é dedicado ao funcionamento do cérebro. Tem por
objetivo identificar as partes constituintes do cérebro e descrever as suas funções,
caracterizar de forma sucinta o cérebro da criança, do adolescente e do adulto e fazer uma
breve descrição dos vários tipos de memória, no sentido de perceber as implicações que
têm para a aprendizagem. São objeto de consideração no segundo capítulo as teorias da
aprendizagem que mais marcaram o ensino no último século, nomeadamente o
behaviorismo, o construtivismo, o construtivismo social e a teoria das inteligências
múltiplas. Farei um resumo dos princípios básicos que dão estrutura a cada uma destas
teorias e incluirei uma leitura pessoal sobre as mesmas. No terceiro capítulo, são
2 Esta frase, que poderá ser traduzida por “Parem de ensinar leitura e comecem a ensinar vocabulário”, foi proferida por Scott Thornbury a 1 de maio de 2010, durante a palestra Six things beginning with R no 24.º Congresso da Associação Portuguesa de Professores de Inglês.
11
abordados os fatores que influenciam a aquisição de uma língua estrangeira. As
condições de aprendizagem são variáveis e determinadas por cada contexto específico,
pelo que, neste ponto, pretendo centrar-me sobretudo nas características dos aprendentes,
que mais influem na aprendizagem. Por último, o quarto capítulo foca a questão da
aquisição de vocabulário em língua estrangeira, do ponto de vista do aprendente e do
professor, dividindo-se por sua vez em dois subcapítulos. No primeiro, dedicado à
aprendizagem de vocabulário, lançarei um olhar sobre a forma como o nosso
conhecimento das palavras é organizado, armazenado e esquecido e indicarei estratégias
que o aprendente pode utilizar para adquirir vocabulário, de forma autónoma. No
segundo subcapítulo, que incide sobre o ensino de vocabulário, farei referência aos
critérios que o professor deve utilizar na seleção do mesmo, bem como às fontes a que
poderá recorrer em contexto de sala de aula. Indicarei ainda os aspetos relacionados com
a forma e o significado a ter em conta no ensino de vocabulário, e as maneiras de o
apresentar e explicar. Por fim, farei menção aos aspetos que facilitam a memorização de
vocabulário e às formas que o professor pode utilizar para promover a prática e a
reciclagem lexicais.
Ao longo do trabalho, vou refletindo sobre a minha experiência, indicando o que
considero mais relevante, sugerindo alterações a determinadas atividades, comentando as
implicações práticas de alguns aspetos que a teoria apresenta e perspetivando uma
melhoria da minha prática letiva. De modo a facilitar a leitura deste Relatório, optei por
destacar graficamente as minhas considerações pessoais, através da sua inserção em
caixas de texto sombreadas.
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2. O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO E A APRENDIZAGEM
Não será exagerado afirmar que aprendemos através de todo o nosso corpo, que
estabelecemos uma relação com o mundo através dos nossos sentidos. Estes são os canais
de entrada para toda a informação que nos rodeia. Há, no entanto, um órgão do corpo
humano que funciona como aglutinador das sensações que vamos experienciando, que
filtra os milhares de estímulos a que estamos constantemente sujeitos, que grava as
experiências relevantes, que comanda os nossos sentidos e que, desde sempre, despertou
grande curiosidade no Homem – o cérebro.
Sendo o cérebro o repositório do nosso conhecimento, perceber o seu
funcionamento pode trazer grandes contributos para as investigações em
ensino/aprendizagem. As recentes técnicas de neuroimagiologia funcional, tais como a
tomografia por emissão de positrões (positron emission tomography - PET) e a
ressonância magnética funcional (functional magnetic resonance imaging - fMRI), que
permitem perceber quais as áreas do cérebro que ficam ativas durante a execução de
tarefas, possibilitaram amplos desenvolvimentos no campo da Neurociência. Estes
avanços motivaram o aparecimento de uma nova área de estudo – a Neurociência
cognitiva – que pretende compreender o modo como o cérebro processa, armazena e
recupera informações e de que forma esses mecanismos têm influência no nosso
comportamento.
Não é objetivo deste capítulo aprofundar as questões da Neurociência, mas antes
descrever de forma sucinta a estrutura do cérebro e as funções associadas a cada uma das
suas partes, bem como os vários tipos de memória e suas implicações no processo de
ensino-aprendizagem. Haverá ainda lugar a uma breve caracterização do cérebro da
criança, do adolescente e do adulto.
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2.1. A estrutura do cérebro
O cérebro é o centro do sistema nervoso central, que é constituído por dois tipos
de células: neurónios e células gliais.3
São cerca de cem mil milhões os neurónios presentes no nosso cérebro e medula
espinal. Há diferentes tipos de neurónios e estes podem assumir formas diferentes,
podendo parecer-se com uma pirâmide ou com um coral gigante. Os neurónios têm a
capacidade de transmitir informação, “comunicando” uns com os outros e formando
redes por meio de sinais elétricos e químicos (Wolfe 22).
Conforme se pode verificar pela observação da figura 1, estas células são
constituídas por um corpo celular, núcleo, axónio e dendrites. O axónio é revestido por
uma substância denominada mielina, que favorece a transmissão dos impulsos. As
dendrites, por sua vez, contêm botões sinápticos (também conhecidos como terminais
3 As células gliais transportam nutrientes e regulam o sistema imunitário, entre outras funções (Politano & Paquin 11).
Figura 1 – A estrutura de um neurónio [Fonte: Feinstein 23]
14
sinápticos). Como “comunicam”, então, os neurónios entre si? Blakemore e Frith
resumem de forma bastante clara o processo.
Tal como todas as outras células no corpo, os neurónios atuam como pequenas baterias.
Há uma diferença de voltagem (de cerca de um décimo de volt) entre o interior e o
exterior da célula, sendo o interior mais negativo. Quando um neurónio é ativado, dispara
um impulso, chamado potencial de ação. Neste momento, os iões de sódio entram através
dos poros na sua membrana, momentaneamente invertendo a voltagem da membrana. Isto
provoca a libertação de químicos (neurotransmissores) no terminal do axónio de um
neurónio. Estes químicos atravessam a fenda sináptica e são recebidos por recetores nas
dendrites de outro neurónio. (Blakemore & Frith 11-2)
A comunicação entre os neurónios envolve processos elétricos e químicos, sendo
estes últimos fruto da ação dos neurotransmissores. Existem três tipos de
neurotransmissores: os aminoácidos (glutamato, glicocola, aspartato e ácido
gamabutírico), as aminas (adrenalina, noradrenalina, dopamina, serotonina e acetilcolina)
e os péptidos (endorfinas, substância P, vasopressina e cortisona) (Wolfe 60).
Depois de muito sucintamente ter mostrado a constituição do neurónio e a forma
como os vários neurónios comunicam entre si, passarei agora a uma breve explicação da
estrutura do cérebro.
Figura 2 – A estrutura do cérebro
[Fonte: Feinstein 23]
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Como se pode perceber pela interpretação da figura, o cérebro está dividido em
quatro lobos: frontal, parietal, temporal e occipital. Na base do cérebro existe o cerebelo e
o tronco cerebral.
O cerebelo é responsável pela coordenação da função muscular, pelo equilíbrio e
pela postura do corpo. A capacidade que temos de praticar algumas atividades sem
esforço consciente, tais como escrever ou conduzir um carro, deve-se a esta parte do
cérebro. O tronco cerebral, também conhecido por cérebro reptiliano, controla as funções
autónomas, tais como a respiração e o ritmo cardíaco, que não estão sob controlo
consciente.
Por cima do tronco cerebral existem duas estruturas que não são visíveis na figura
atrás representada: o tálamo e o hipotálamo. O tálamo regula as funções vitais do corpo e
a perceção, funcionando como um agente intermédio que dirige o fluxo de informação
entre os órgãos dos sentidos (exceto a informação relativa ao olfato) e o córtex cerebral.
O hipotálamo controla as funções necessárias à homeostasia (capacidade de manter
constantes as condições fisiológicas) e os estímulos que induzem a fome e a sede. É
igualmente responsável pelas reações de resposta à tensão.
Próximo do tálamo e hipotálamo fica ainda a amígdala, não visível na imagem.
De acordo com Politano e Paquin, esta é a área do cérebro mais implicada no controlo da
emoção (20). A amígdala está também envolvida nas reações de resposta à tensão através
do mecanismo de “luta ou fuga”. Junto a esta estrutura, encontra-se o hipocampo, que
tem a função de assegurar a memória do passado imediato e de enviá-la para o córtex
cerebral, onde ficará armazenada na memória a longo prazo (Wolfe 28-34). Esta parte do
cérebro é ainda essencial para a memória espacial, ajudando-nos a recordar onde as
coisas estão ou a encontrar o caminho de casa (Blakemore & Frith 124).
O córtex cerebral, também chamado “massa cinzenta”, está dividido em quatro
lobos: lobos frontais, parietais, temporais e occipitais.
Os lobos frontais são responsáveis pelo processamento sensório-motor e também
por processos cognitivos, como por exemplo a tomada de decisões, o planeamento, a
reflexão e a resolução de problemas. É nesta parte do cérebro que fica a área de Broca.
Esta área fica situada perto do córtex motor, responsável pelo controlo da boca e dos
lábios, e possibilita a produção de linguagem. É aqui que ficam armazenados o
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vocabulário e a gramática. Em cerca de 95% da população esta área do cérebro está
situada no hemisfério esquerdo. Ligada à área de Broca por um feixe de fibras nervosas
está a área de Wernicke, que é igualmente importante no que diz respeito à linguagem.
Esta área está situada nos lobos temporais junto do córtex auditivo e é responsável pela
receção da linguagem e pela análise do significado das palavras (Feinstein 125; Wolfe
41-6; Blakemore & Frith 77-8). Estas duas estruturas do cérebro complementam-se, uma
vez que “... o cérebro tem primeiramente de juntar as palavras apropriadas na área de
Wernicke e libertá-las depois para a área de Broca, a fim de se fazer o seu transbordo
para o córtex motor que controla a produção de discurso.” (Feinstein 125).4
Os lobos parietais agregam o córtex somato-sensorial, que é “... a região primária
responsável por receber estímulos sensoriais.”, e controlam não só a consciência espacial
e a orientação, mas também a manutenção da concentração ou atenção espacial (Wolfe
42).
A principal função dos lobos temporais é fazer o processamento dos estímulos
auditivos, embora também estejam associados à linguagem e a alguns aspetos da
memória, sobretudo os relacionados com a memória auditiva.
Já os lobos occipitais têm a seu cargo o processamento dos estímulos visuais.
Quanto mais se estuda o cérebro, mais se percebe que, apesar de serem atribuídas funções
específicas a determinadas áreas do cérebro, estas nunca atuam sozinhas e dependem de
outras. Assim, no que diz respeito à visão há que ter em conta que
[p]rimeiro, a área de percepção visual permite a percepção do objecto actual. O córtex
visual comunica então com outros sistemas cerebrais para determinar que tipo de
informação visual armazenada anteriormente existe. Os estímulos visuais não se tornam
significativos até que as percepções sensoriais sejam relacionadas com associações
cognitivas previamente armazenadas. (Wolfe 39)
O cérebro humano está ainda dividido em dois hemisférios (esquerdo e direito),
que estão ligados pelo corpo caloso. 5 Tradicionalmente, são atribuídas funções
4 Curiosamente, segundo Slavkin, quando uma área é danificada a outra assume as suas funções (25). 5 O corpo caloso, que é composto por cerca de 250 milhões de axónios, permite a troca de informação entre os dois hemisférios (Politano & Paquin 8).
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específicas a cada um dos hemisférios cerebrais. Assim, o hemisfério esquerdo, que
comanda o lado direito do corpo, processa o texto e as informações mais positivas e
optimistas. Dá estrutura e ordem aos pensamentos e processa a sequenciação lógica e as
interpretações literais (Politano & Paquin 7). Por sua vez, o hemisfério direito, que
comanda o lado esquerdo do corpo, fornece o contexto e processa as emoções mais
positivas. No entanto, é importante referir que os dois hemisférios trabalham em
conjunto. Para percebermos uma mensagem precisamos do texto, fornecido pelo
hemisfério esquerdo, bem como do contexto, que nos é dado pelo hemisfério direito. É
contudo interessante observar, como nos explica Wolfe, que “[a]s especializações de cada
hemisfério desenvolvem-se ao máximo, quando informadas pelo hemisfério oposto” (51).
Tal afirmação permite corroborar a ideia de que, em contexto de sala de aula, as
atividades devem ser bastante diversificadas, a fim de potenciarmos todas as capacidades
dos alunos. No caso particular das línguas, mas não só, perceber o funcionamento dos
dois hemisférios cerebrais reitera a necessidade de se fornecer sempre um contexto àquilo
que se está a ensinar.
2.2. Os vários tipos de memória
É impossível falar de aprendizagem, sem se falar em memória. Sabemos que
aprendemos algo, quando podemos recuperar essa informação da memória. Sabemos
também que há memórias que têm uma duração reduzida e outras que parecem ser
permanentes. Memorizamos toda a informação da mesma forma? O que nos leva a
memorizar facilmente algumas informações e a reter outras com dificuldade? Neste
subcapítulo tratarei destas questões, fazendo uma breve descrição dos vários tipos de
memória e dos fatores que influenciam a nossa atenção.
A figura abaixo apresentada representa um modelo de processamento de
informação que pretende, de forma simplificada, esquematizar os vários tipos de
memória e a relação entre eles. Por ser uma esquema simplificado, pode ficar-se com a
ideia de que os vários tipos de memória são sistemas autónomos e separados, pelo que
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convém salientar que as “várias memórias” estão relacionadas entre si e dependem umas
das outras.
2.2.1. A memória sensorial
O nosso contacto com o mundo estabelece-se, em primeiro lugar, através dos
sentidos: são eles a nossa porta aberta para a realidade. Somos constantemente
“bombardeados” por milhares de estímulos que são captados pelos nossos sentidos, mas o
que acontece depois de percecionarmos um estímulo?
Após a perceção, esse estímulo fica armazenado na memória sensorial por uma
fração de segundo até que se decida se o descartamos ou se focamos a nossa atenção nele.
A memória sensorial funciona como um armazém temporário de perceções, mas também
Audição
Visão
Olfacto
Paladar
Tacto
Memória sensorial
Memória de
funcionamento
Memória de
Longo prazo
Repetição
Processamento inicial
Retenção
Elaboração e
organização
Declarativa Processual
Não transferida para o estágio seguinte e portanto esquecida
receptores
Figura 3 – Modelo de processamento da informação [Fonte: Wolfe 75]
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como um filtro que rejeita aquelas às quais não se atribui significado. Sem um filtro deste
tipo viveríamos constantemente sob uma esgotante tempestade de estímulos.
Mas por que é que alguns estímulos são rejeitados e outros não? O que dita este
processo de seleção?
Quando percecionamos algo, o nosso cérebro cruza a informação obtida por essa
perceção com informação pré-existente, ou seja, confirma “... se a informação nova é
algo que ativa uma rede neuronal previamente armazenada.” (Wolfe 79). Este processo é
denominado reconhecimento-padrão. Enquanto agentes no processo de ensino-
aprendizagem é de extrema importância que percebamos este processo e, sobretudo, que
reconheçamos a necessidade de haver uma relação entre a informação nova e o pré-
conhecimento dos alunos. É fundamental que as informações transmitidas aos alunos
possam encontrar um ponto de ancoragem nas suas redes neuronais já entretanto criadas.
Deste modo, facilmente se reconhece o interesse em ativar os pré-conhecimentos dos
alunos antes de iniciar um tema, seja através de brainstorming ou de outras técnicas, pois
ao fazê-lo aumentamos as hipóteses de a nova informação ser apreendida.
Segundo Wolfe, o reconhecimento-padrão é um aspeto que influencia a atenção,
bem como a intensidade do estímulo, o movimento e a novidade (79-81).
Quanto mais intenso for o estímulo, mais capta a nossa atenção. Não é por acaso
que nos intervalos de programas televisivos, durante o período reservado à publicidade,
notamos que o volume aumenta. Não há nada de errado com os nossos televisores, é
apenas uma estratégia a que o marketing recorre para captar a nossa atenção. Assim, em
contexto de sala de aula, aumentar o volume da voz, de quando em vez, pode servir para
direcionar a atenção do aluno para o discurso do professor. Dependendo do propósito da
atividade, utilizar materiais que contemplem um jogo de cores pode ser uma forma de
convocar a atenção dos alunos.
O movimento é outro fator que tem influência sobre a atenção, e os publicitários
sabem bem disso. Não é por acaso que utilizam placards publicitários eletrónicos que
permitem a inclusão de imagens em movimento ou que os reclames luminosos
normalmente têm luzes que piscam. Atitudes muito simples como circular pela sala de
aula e não assumir sempre a mesma posição, utilizar mímica para explicar vocábulos,
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usar apresentações PowerPoint que contenham animações e mostrar vídeos podem
contribuir de forma positiva para a atenção dos alunos.
A novidade é igualmente importante. Prestamos atenção ao que é novo, invulgar
ou inesperado. Se passamos diariamente por um quadro de notas, onde se afixam sempre
papéis brancos, deixamos de prestar atenção a esses papéis, mas se, por algum motivo, lá
for colocado um papel verde, esse facto captará a nossa atenção, porque é um elemento
de novidade. No entanto, se passarem a ser afixados papéis verdes com regularidade, com
o tempo, deixaremos de lhes prestar atenção. Isto deve-se à tendência que o cérebro tem
para a habituação: quando se habitua muito a um estímulo, acaba por ignorá-lo. A
novidade pode ser um elemento muito enriquecedor de uma aula.
Uma atividade de pré-leitura do género de The Surprise Package*,
por ser inesperada, invulgar e suscitar curiosidade, pode ser muito
motivadora e despertar a atenção dos alunos.
O professor deverá escolher um objeto que esteja relacionado com o
texto a trabalhar, embrulhá-lo, levá-lo para a aula e fazer de conta que
alguém deixou o pacote para si na sala dos professores. À medida que o
pacote é desembrulhado, o professor deverá ir mostrando surpresa e fazendo
com que os alunos tentem adivinhar o que é. Depois de revelado o objeto,
os alunos deverão ir especulando sobre ele e, por fim, o professor deverá
relacioná-lo com o texto a trabalhar. Esta atividade pode, de facto, criar um
grande impacto e concentrar a atenção dos alunos.
Já utilizei uma versão adaptada desta atividade sugerida por Natalie
Hess, não com o objetivo de preparar a leitura de um texto, mas sim para
explicar o significado de duas expressões: melting pot e salad bowl.
Coloquei numa caixa uma saladeira e uma panela antiga em ferro,
embrulhei-a e pedi a uma funcionária que fosse levá-la à sala, dizendo que
alguém tinha deixado aquele pacote para mim na receção. Os alunos
ficaram muito curiosos e envolveram-se na situação. Depois de perceberem
a função de cada um dos objetos, não foi difícil estabelecerem um paralelo
com dois tipos diferentes de sociedade e assimilar os conceitos. O elemento
novidade direcionou a atenção dos alunos e foi determinante na
concretização do principal objetivo da aula.
A atividade descrita resultou porque foi utilizada apenas uma vez.
21
Até aqui têm sido abordadas as formas de influenciar a apresentação inicial de
estímulos aos recetores sensoriais, mas, segundo Wolfe, existem dois fatores que têm não
só influência na capacidade de o cérebro prestar atenção à informação que chega através
dos sentidos, mas também de a manter: o significado e a emoção (81).
Para que consigamos manter a nossa atenção em determinada informação é
necessário que esta, de alguma maneira, tenha algum significado para nós e se relacione
com conhecimentos que já temos. É necessário que circuitos neuronais já existentes
possam ser reativados. Dar significado à informação faz com que esta seja mais
facilmente aprendida. Feinstein diz mesmo que “[a] busca de significado é inata: o
cérebro floresce na presença de significado e antipatiza com o que é fortuito.” (165). O
nosso cérebro constrói significado através de padrões, relevância e emoções. A
relevância, por sua vez, é construída através do estabelecimento de conexões entre as
experiências e as redes neuronais previamente formadas (Politano & Paquin 21).
Que sentido atribuirá um aluno a um texto no qual a maioria das palavras
representam um obstáculo? Que significado tem uma explicação sobre a formação da voz
a função de cada um dos objetos, não foi difícil estabelecerem um paralelo
com dois tipos diferentes de sociedade e assimilar os conceitos. O elemento
novidade direcionou a atenção dos alunos e foi determinante na concretização
do principal objetivo da aula.
A atividade descrita resultou porque foi utilizada apenas uma vez. Se
voltasse a usar a mesma estratégia com a mesma turma, já não teria o mesmo
impacto, pois, conforme já foi referido anteriormente, o cérebro tende para a
habituação. Introduzir elementos de novidade de forma constante nas aulas
pode ser uma sobrecarga para o professor.
_________________________
* Atividade sugerida no livro Headstarts: one hundred original pre-text activities de Natalie
Hess (pág. 26).
22
passiva para alguém que não conhece as mais elementares funções sintáticas? Não será a
incapacidade de estabelecer uma relação com o que está a ser lecionado um dos motivos
para o desinteresse dos alunos?
Quando percecionamos um estímulo, a informação é enviada para o tálamo e
daqui para o córtex e para a amígdala. A amígdala, como já vimos, controla a emoção e o
mecanismo de “luta ou fuga”. Segundo Joseph LeDoux, a via tálamo-córtex é mais longa
do que a via tálamo-amígdala (Wolfe 85). Isto explica a razão por que muitas vezes a
reação emocional antecede a razão e a importância da emoção para a atenção. Se a
emoção causada for negativa, o indivíduo “luta ou foge”. Se, pelo contrário, a emoção for
positiva, o sujeito persevera no estímulo e mantém a sua atenção. Há ainda a registar o
facto de que as emoções ativam a ação de químicos que podem favorecer ou inibir a
comunicação entre células (Politano & Paquin 20).
2.2.2. A memória de funcionamento
A memória de funcionamento (também conhecida como memória de trabalho ou
memória de curto prazo) “... permite a integração de informação perceptual nova com o
conhecimento armazenado, permitindo também manipular a informação consciente
(pensar num assunto, falar sobre ele e repetir estas acções), de modo a assegurar o
armazenamento da informação em memória de longo prazo.” (Wolfe 89). Alguma da
informação que recebemos nunca transita para a memória de longo prazo, porque é
necessária apenas temporariamente, num curto espaço de tempo. Por exemplo,
frequentemente memorizamos um número de telefone apenas o tempo suficiente para
pegarmos num telefone e o marcarmos.
A capacidade deste tipo de memória é limitada, uma vez que só consegue
processar sete pedaços de informação de cada vez, ficando estes armazenados de 15 a 20
segundos (Blakemore & Frith 152). O número de itens que conseguimos memorizar varia
de acordo com a idade. Uma criança de sete anos, por exemplo, lembra-se, em média, de
três itens. A capacidade normal adulta (sete itens) só é alcançada por volta dos quinze
23
anos (Wolfe 95). Assim sendo, enquanto professores temos de adaptar as nossas
exigências de memorização à idade dos alunos com que trabalhamos. No caso do ensino
de vocabulário há que ter em conta o número de palavras que pretendemos trabalhar com
os alunos.6
Uma das formas de ultrapassarmos as limitações deste tipo de memória é através
da organização da informação em unidades significativas. Pensemos no caso dos números
de telefone: não memorizamos um a um cada um dos nove dígitos. Agrupamo-los em
unidades significativas de três ou dois algarismos (Wolfe 96).
A limitação relativa à duração da informação na memória de funcionamento pode
também ser ultrapassada através da repetição. Wolfe faz referência a dois processos de
repetição: a repetição rotineira e a repetição elaborativa (98, 99).
A repetição rotineira consiste em repetir muitas vezes a informação ou ação.
Quando, por exemplo, nos pedem para memorizarmos uma matrícula, repetimo-la várias
vezes até encontrarmos forma de a anotar. Conseguimos escrever no computador sem
olhar para o teclado ou tocar uma canção sem olhar para o piano porque repetimos a ação
6 Ver subcapítulo “O ensino de vocabulário”.
Em língua inglesa, ao ensinar a ordem dos adjetivos na frase, somos
demasiado ambiciosos se esperamos que os nossos alunos memorizem pela ordem
certa as categorias opinion, size, age, shape, colour, origin, material e purpose.
Porém, se lhes explicarmos o acrónimo OSASCOMP a tarefa será muito mais
simples. Do mesmo modo, em alemão, a memorização da ordem dos adverbiais na
frase é mais fácil, quando se faz uso da mnemónica TeKaMoLo (temporal, kausal,
modal, lokal). Dar vários exemplos de associações em unidades significativas e
fazer com que os alunos percebam a sua utilidade pode motivar neles o desejo de
começarem a estabelecer as suas próprias unidades significativas, que serão muito
mais eficazes do que quaisquer outras que lhes possamos fornecer.
24
muitas vezes. Este tipo de repetição é especialmente eficaz para a aprendizagem de um
procedimento. No ensino das línguas a repetição rotineira corresponde ao rote learning.
A repetição elaborativa contempla uma variedade de estratégias que “...
encorajam o aluno a elaborar a informação de modo a aumentar o entendimento e a
retenção daquela informação.” (Wolfe 99). Repetir uma lista de palavras pode servir
alguns propósitos, mas na maioria das vezes revela-se uma atividade estéril, pois o
significado pode ficar comprometido. No entanto, se pegarmos nas palavras que
queremos memorizar e as inserirmos em frases que as contextualizem, ao repetirmos as
frases temos um duplo benefício: memorizamos as palavras e assimilamos o seu
significado.
Quando associamos emoção a um evento que gravamos na memória, este é
recordado com mais vivacidade, como referem Politano & Paquin “[q]uanto mais forte
for a emoção associada a uma experiência, mais forte será a memória dessa experiência”,
pelo que os professores não podem descurar a dimensão da emoção nas suas aulas (20).
Wolfe sugere atividades como simulações e dramatizações, resolução de problemas da
vida real e visitas de estudo, uma vez que estas envolvem mais os alunos, aumentando as
conexões emocionais e o significado dos conteúdos.
2.2.3. A memória a longo prazo
A memória a longo prazo divide-se em duas subcategorias: memória processual
(ou não declarativa) e memória declarativa.
A memória processual, também designada “... memória muscular, memória
corporal, memória motora ou memória cinestésica. (...) armazena os processos que o
corpo executa e recorda de forma involuntária e automática.” (Feinstein 323). Depois de
treinarmos muito e repetirmos várias vezes estas ações, conduzimos um carro ou
andamos de bicicleta de forma automática, sem estarmos conscientemente a pensar no
processo. Falamos, portanto, de capacidades, no modo de fazer as coisas.
25
A memória declarativa, ou consciente, constitui a capacidade que temos para
armazenar e recordar informação que pode ser declarada, ou seja, que pode ser expressa
através da escrita ou da fala. Este tipo de memória subdivide-se em memória episódica e
memória semântica.
A memória episódica, ou memória de localização, “... armazena informações
espaciais e temporais que categorizam alturas e locais particulares em que ocorreram os
acontecimentos.” (Feinstein 320). A quem não acontece a experiência de ouvir uma
canção e recordar de imediato a situação e o local onde a ouviu pela primeira vez? É
como se, através de um processo de visualização, fossemos transportados para a situação
e o local onde esta decorreu.
A educação pode tirar partido da memória episódica através da criação de
ambientes de sala de aula atrativos. É óbvio que tal está dependente das condições que
cada escola oferece.
A memória semântica processa palavras, factos, imagens, histórias e texto. Trata,
portanto, do tipo de conhecimento que, por norma, a escola privilegia.
De acordo com a minha experiência profissional, criar ambientes de
sala de aula atrativos com recurso ao uso de cartazes e outros materiais é mais
fácil nas escolas do primeiro ciclo, porque os alunos têm todas as aulas na
mesma sala ou, então, porque têm todos as aulas de inglês na mesma sala. Os
materiais afixados podem inclusivamente ser da autoria dos alunos ou serem
realizados com a sua participação, intensificando-se deste modo o sentimento
de pertença, que é tão importante na aprendizagem. Numa escola secundária
esta tarefa é mais complicada, uma vez que os alunos não têm aulas sempre na
mesma sala. No caso do ensino de adultos também não é fácil decorar as salas,
porque também não estão sempre no mesmo local e porque, quando a
formação é ministrada em empresas, normalmente as aulas são em salas de
reunião, onde o professor não pode afixar materiais.
26
É necessário ter em conta que, mesmo depois de determinada informação ter sido
memorizada, tem de passar algum tempo, de forma a que o traçado da memória fique
completamente estabelecido ou organizado no cérebro. Este tempo de definição de forma
ou de reconhecimento chama-se período de consolidação (Wolfe 121). Se, depois de ter
sido ensinado determinado assunto, se passar imediatamente para outro, o processo de
consolidação vai ser interrompido. É necessário que se reflita sobre isto, pois, às vezes,
com a preocupação de cumprirem o programa, os professores acabam por lecionar vários
temas seguidos sem grande intervalo entre eles. Não há dados que nos permitam dizer
quanto tempo dura o período de consolidação, mas sabe-se que este pode ser
intensificado através da repetição. Isto é particularmente relevante no que diz respeito ao
ensino de vocabulário. Para que possamos auxiliar os alunos no processo de consolidação
de determinados itens lexicais, temos de criar condições para que possam
recorrentemente encontrar essas palavras.
2.3. O desenvolvimento do cérebro
As estruturas que constituem o nosso cérebro não se desenvolvem todas ao
mesmo tempo. O cérebro de uma criança não é igual ao de um adulto.
No presente subcapítulo farei uma breve caracterização do cérebro da criança, do
adolescente e do adulto, no sentido de se perceber as implicações que cada fase de
desenvolvimento poderá ter para o processo de ensino-aprendizagem.
2.3.1. O cérebro da criança
Antes de iniciar a abordagem deste assunto é importante referir que as
investigações cerebrais em crianças, sobretudo na segunda infância, são escassas, pelo
que não se encontra muita informação disponível. Centrar-me-ei no desenvolvimento do
27
cérebro da criança durante a segunda infância (período que tem início aos 3 anos e se
prolonga até aos 8), pelo facto de coincidir com a altura em que normalmente as crianças
começam a aprender uma segunda língua. Durante este período, há um grande
desenvolvimento das conexões neuronais e os processos de mielinização e poda
intensificam-se nas estruturas corticais, o que contribui para um raciocínio mais rápido
(Feinstein 413).
Depois dos três anos as crianças lembram-se melhor de episódios ou
acontecimentos específicos e da forma como ocorreram (Blakemore & Frith 147). Assim,
enquanto educadores podemos começar a tirar partido da sua memória episódica. Uma
forma de o fazermos é através da criação de ambientes de sala de aula apelativos e de
situações de aprendizagem variadas que impliquem emoções agradáveis. Os jogos, as
histórias e as canções são exemplos de atividades que podem cumprir este objetivo.
Apesar de o tamanho do corpo caloso aumentar, nesta altura há ainda uma grande
plasticidade cerebral, pelo que, para terem a oportunidade de treinar todas as suas
capacidades, deve ser proporcionada às crianças a interação com experiências ambientais
ricas e variadas. O ambiente parece ser um fator preponderante no desenvolvimento do
cérebro, chegando mesmo Blakemore e Frith a afirmar que “Uma característica
fundamental do desenvolvimento cerebral é que as experiências ambientais são tão
importantes quanto os programas genéticos” (32).7
O córtex motor que controla a motricidade fina, a coordenação mão-dedo, só está
completamente desenvolvido por volta dos 5 anos e é preciso ter em conta que este
desenvolvimento normalmente é mais lento nos rapazes do que nas raparigas (Blakemore
& Frith 22-3). Enquanto professores de alunos desta faixa etária e até mais novos,
devemos estar conscientes das limitações que a fisiologia impõe e ser cautelosos com as
nossas exigências, pois podemos estar a exigir mais à criança do que aquilo que ela é
capaz no momento e isso pode criar sentimentos de frustração, que podem condicionar as
aprendizagens futuras. Não nos devemos esquecer de que, na maior parte dos casos,
somos o primeiro contacto que a criança tem com a língua inglesa ou alemã. Um bom
7 Segundo Slavkin, o cérebro modifica-se à medida que o sujeito interage com o ambiente, podendo as alterações ser inclusivamente ao nível da estrutura física do cérebro (17).
28
começo pode ditar atitudes positivas perante a língua, enquanto o inverso também pode
ser verdadeiro.
Por volta dos 6 ou 7 anos, as crianças já têm um melhor controlo sobre o foco da
sua atenção, o que significa que já podem ser confrontadas com atividades de atenção
concentrada, o que não é possível com crianças mais novas. Não é de estranhar que seja
esta a idade em que o ensino primário começa. É ainda durante a segunda infância que
“... as crianças adquirem a capacidade de compreenderem que as outras pessoas podem
pensar de forma diferente delas.” (Feinstein 413), ainda que não consigam assumir
diferentes perspetivas.
2.3.2. O cérebro do adolescente
A adolescência é caracterizada por grandes mudanças, o corpo transforma-se de
forma intensa e o cérebro não é exceção. Durante este período ocorrem grandes
alterações físicas no cérebro, sobretudo nos lobos frontais, que são os últimos a
desenvolver-se. Esta área do cérebro é responsável pela ação voluntária, pelo pensamento
abstrato, pela capacidade de planear, fazer duas coisas ao mesmo tempo e inibir
comportamentos inadequados, pela possibilidade de considerar visões diferentes e
antecipar consequências. A insensatez que, por vezes, caracteriza a adolescência pode
dever-se ao facto de os lobos frontais ainda não estarem suficientemente maduros, pelo
que o adolescente é levado a agir baseado na emoção, não sofrendo a moderação da razão
(Feinstein 173; Blakemore & Frith 113).
Como já foi referido anteriormente, a emoção é fortemente controlada pela
amígdala, pelo que é interessante constatar que “... o cérebro adolescente tem níveis de
atividade duas vezes superiores aos do adulto em todas as regiões e ainda maiores na
amígdala.” (Feinstein 181). Assim sendo, não é de estranhar que os adolescentes reajam
de forma mais emocional e impulsiva.
Por volta dos 11/12 anos, no início da adolescência, há uma grande produção de
dendrites e sinapses, ou seja, de substância cinzenta. Depois da puberdade verifica-se um
29
aumento na massa branca (white matter) no córtex frontal, que se deve ao processo de
mielinização.8 Depois do período pubertário há também uma diminuição da densidade
sináptica no córtex frontal, que resulta da poda sináptica que continuará durante a
adolescência. Isto leva-nos a crer que o aperfeiçoamento dos processos cognitivos nos
lobos frontais só acontece na adolescência. (Blakemore & Firth 113-4).
O cérebro humano rege-se pelo princípio use it or lose it! Assim, as ligações
neuronais ativas persistem, as outras perdem-se. Aquilo que os adolescentes
experienciam tem um papel muito importante na determinação de quais as conexões
neuronais que sobrevivem (Crawford 12). Se tivermos este aspeto em mente, percebemos
de forma ainda mais clara a grande responsabilidade que, enquanto educadores, temos na
formação dos jovens. Os professores, no âmbito da sua prática letiva, ao escolherem a
frequência com que abordam determinados assuntos, podem influenciar a ativação de
ligações neuronais. Isto é particularmente relevante no que diz respeito ao ensino de
vocabulário. Devemos proporcionar aos nossos alunos várias oportunidades para
contactarem com os vocábulos, de forma a que as ligações neuronais responsáveis pela
retenção desse léxico se mantenham ativas, caso contrário elas poderão perder-se.
A partir dos 15/16 anos a ação dos centros emocionais passa a sofrer a influência
moderadora dos lobos frontais. Por volta desta idade os adolescentes começam a reagir
fazendo uso da razão, deixando gradualmente de lado as reações viscerais ditadas pela
amígdala. Passam a ser capazes de controlar os impulsos e de adiar a gratificação.
(Feinstein 173; Blakemore & Frith 113). De facto, nota-se uma grande diferença entre os
alunos desta faixa etária que normalmente frequentam o 10.º ou o 11.º ano e os alunos
mais novos dos 7.º e 8.º anos. O comportamento dos alunos mais velhos é geralmente
mais moderado, pois estes são capazes de inibir algumas reações, fazendo uma avaliação
racional das consequências que estas possam acarretar. Para além disso, os adolescentes
desta faixa etária já são capazes de fazer o exercício de assumirem perspetivas diferentes
sobre um mesmo assunto. Os professores podem tirar partido desta capacidade, trazendo
debates para as suas aulas. O debate obriga o aluno a argumentar e contra-argumentar e
8 A mielina é uma substância gorda de aparência esbranquiçada que aumenta a velocidade de transmissão de impulsos elétricos entre neurónios, isto é, torna a transferência de informação mais eficiente.
30
esta tarefa é facilitada pelo centro de controlo executivo que se está a desenvolver neste
período – o córtex frontal.
2.3.3. O cérebro do adulto
É só no fim da adolescência, princípio da idade adulta, que os lobos frontais
atingem o seu estádio final de desenvolvimento. A maturação desta área do cérebro faz
com que a pessoa seja capaz de refletir, tomar decisões, resolver problemas e direcionar a
atenção (Wolfe 43). Não é apenas o cérebro da criança que é maleável, o cérebro adulto
também o é. A plasticidade do cérebro consiste na “... capacidade de se adaptar a
circunstâncias variáveis e adquirir nova informação.” (Blakemore & Frith 123). Na
verdade, o cérebro adulto é capaz de se reorganizar quando é exposto a novos ambientes
de aprendizagem (Feinstein 388). A capacidade de se adaptar continuamente às
circunstâncias geralmente só diminui em idades avançadas.
Ao contrário do que se acreditou durante muito tempo, novas células podem
crescer e dividir-se no cérebro adulto (Blakemore & Frith 134). Segundo Feinstein, o
cérebro desenvolve-se mais quanto mais novidade e desafio estiverem presentes na
estimulação e quanto mais o cérebro se empenhar ativamente nas aprendizagens (388).
Para que os adultos se possam empenhar na aprendizagem, devemos escolher atividades
que despertem o seu interesse e atenção e que permitam o estabelecimento de pontos de
diálogo com as suas experiências pessoais.
Apesar de novas células poderem crescer no cérebro adulto, este sofre algumas
alterações físicas com a idade. Há um declínio da memória a curto prazo à medida que o
adulto envelhece. A partir dos 40 anos o peso cerebral começa a diminuir e as áreas do
cérebro que são mais afetadas estão relacionadas com a memória. Por volta dos 50 anos a
memória (especialmente a auditiva e a visual) continua a ser afetada e as pessoas têm
mais dificuldade em realizar duas tarefas em simultâneo. Aos 60 anos a capacidade de o
adulto se concentrar e memorizar novos factos encontra-se afetada. Por volta dos 70 anos
a amígdala e o hipocampo, responsáveis pelo armazenamento de memórias de curto
31
prazo, terão encolhido 25% (Feinstein 390-1). Quem convive com pessoas idosas está
habituado a que estas relatem situações de infância com grande detalhe e clareza, mas
que sejam frequentemente incapazes de responder a perguntas simples como “O que foi o
almoço?”. Estas situações demonstram como a memória a curto prazo é mais afetada pela
idade do que a memória a longo prazo. A bainha de mielina nas regiões que constituem o
sistema límbico (amígdala, hipocampo e tálamo, entre outros) vai diminuindo, o que,
consequentemente, leva a um decréscimo na velocidade de transmissão de impulsos entre
os neurónios, ou seja, leva a um decréscimo no processamento de informação (Feinstein
391).
Sabendo, porém, que o cérebro adulto também é plástico e, portanto, capaz de se
adaptar às novas experiências, quem trabalha no ensino de adultos não deve ignorar as
limitações que advêm com a idade. Estar consciente disto permite ao professor/formador
adequar de forma mais eficaz o ritmo de ensino.
2.4. Períodos sensíveis
A questão dos períodos sensíveis tem gerado muita investigação e entusiasmado
os interessados em educação. Perceber qual a altura ideal para se ensinar determinados
Ao longo da minha experiência no trabalho com adultos, pude ir
constatando que estes são normalmente alunos muito motivados e empenhados,
mas que facilmente desmotivam quando se sentem frustrados. Muitas vezes a
frustração resulta de um desequilíbrio entre o ritmo de ensino e o ritmo de
aprendizagem. Sentir-se que não se é capaz de acompanhar o ritmo pode
também ser gerador de stress. O stress, por sua vez, provoca a libertação de
cortisol que, em níveis excessivos, interfere com a função dos
neurotransmissores e, por conseguinte, com a velocidade sináptica (Feinstein
390).
32
conceitos ou determinadas competências seria encontrar a galinha dos ovos de ouro na
educação.
Os períodos sensíveis constituem períodos durante os quais o cérebro necessita de
determinados estímulos ambientais para que se possa desenvolver normalmente. Estão
relacionados com a especialização e aperfeiçoamento das várias regiões do cérebro e são
intrínsecos ao processo de estruturação do cérebro.
Quando contactamos com literatura da especialidade somos frequentemente
confrontados com o termo período crítico. Apesar de Blakemore e Frith nos explicarem
que, nos nossos dias, a maioria dos neurocientistas prefere o termo período sensível a
período crítico, porque estes períodos não são rígidos e inflexíveis mas antes alturas que
se caracterizam por “... mudanças subtis na capacidade do cérebro ser moldado e
modificado pelas experiências que ocorrem durante a vida”, há autores que fazem
distinções entre os dois conceitos (26).9
À parte os preciosismos terminológicos, o que é evidente é que, de facto, existem
períodos sensíveis no desenvolvimento do cérebro. Um dos estudos mais famosos nesta
área foi o realizado por Wiesel e Hubel na década de 60. Estes investigadores
coordenaram uma experiência com gatos recém-nascidos que provou a existência de um
período sensível para o desenvolvimento do córtex visual. Os gatos que ficaram privados
de visão num dos olhos, por este ter sido tapado, ficaram com as conexões neuronais
fortemente deterioradas nas áreas do cérebro responsáveis pela visão, e chegaram,
inclusivamente, a cegar. A mesma experiência foi feita com gatos crescidos, tendo-se
verificado que os efeitos foram muito menos gravosos do que nos recém nascidos e que a
capacidade de usarem o olho que havia sido tapado não ficou comprometida (Blakemore
& Frith 25). No entanto, outros estudos demonstraram que mesmo que um sujeito seja
privado de determinados estímulos durante um período considerado sensível, é possível
que “... estimulação e treino de remediação numa idade mais tardia possam conduzir a
um certo nível de recuperação na área do cérebro correspondente”, ainda que as
9 Para Knudsen, o termo período sensível é um termo lato que se aplica aos momentos em que “... os efeitos da experiência no cérebro são extraordinariamente fortes durante um período limitado do desenvolvimento”, enquanto que os períodos críticos são uma espécie de subclasse dos períodos sensíveis e podem resultar em mudanças irreversíveis no funcionamento do cérebro (1412).
33
competências adquiridas após o período sensível possam ser ligeiramente diferentes
(Blakemore & Frith 26).
No âmbito da temática relativa aos períodos sensíveis importa reter o seguinte: 1)
existem períodos sensíveis no desenvolvimento do cérebro; 2) a privação durante os
períodos sensíveis tem consequências negativas; 3) o desenvolvimento e a aprendizagem
(a recuperação) são possíveis depois do período sensível; 4) a aprendizagem feita após o
período sensível pode basear-se em estratégias diferentes das utilizadas durante a
aprendizagem que ocorre dentro de um período sensível.
34
3. TEORIAS DA APRENDIZAGEM
O desejo de perceber a forma como se aprende tem estado na origem de várias
teorias da aprendizagem.
No presente capítulo pretendo fazer um resumo dos princípios que subjazem às
correntes que mais influenciaram o ensino e fazer uma leitura pessoal de cada uma delas,
refletindo sobre a influência que exercem na minha prática profissional.
3.1. O Behaviorismo
O behaviorismo, ou comportamentalismo, como também ficou conhecido, surgiu
como uma reação à psicologia introspectiva dos finais do século XIX, princípios do
século XX. Behavioristas como Watson e Skinner consideravam os métodos
introspectivos subjetivos e difíceis de quantificar e acreditavam que as teorias científicas
deviam usar indicadores observáveis. Sendo impossível perceber ao certo o que se
passava na mente humana, os psicólogos deviam observar os comportamentos resultantes
de estados mentais (Arthur 47-8).
Para os behavioristas, o conhecimento é um reportório de comportamentos, um
conjunto de respostas mecânicas a estímulos ambientais. Skinner afirma mesmo que “...
conhecimento é ação, ou pelo menos regras para a ação...” (qtd. in Arthur 48). Partindo
deste princípio poder-se-ia dizer que se conhece algo quando isso processa um reportório
adequado de comportamentos. Neste sentido, o propósito da educação é oferecer ao
aprendente um reportório de respostas comportamentais adequado a estímulos
específicos.
O reforço positivo tem um papel preponderante, uma vez que torna a experiência
agradável. As experiências agradáveis fazem com que o aprendente associe estímulos
específicos a repostas adequadas. Comportamentos que não recebem feedback positivo
35
acabam por desaparecer (Arthur 49). De acordo com esta teoria, a motivação é, portanto,
extrínseca, uma vez que assenta na questão do reforço.
Os métodos de ensino baseados no comportamentalismo recaíam muito em
exercícios do tipo skill and drill e em sequências de pergunta e resposta com um grau de
dificuldade gradativo. Havia ainda um grande recurso ao reforço positivo, que podia
consistir em elogio verbal, boas notas e prémios.
No caso das línguas estrangeiras o behaviorismo resultou no Audiolingualismo.
Segundo esta abordagem, uma língua era um conjunto de hábitos, pelo que a sua
aprendizagem resultava, sobretudo, da imitação, prática, reforço positivo e formação de
hábitos. Esta visão era muito redutora, pois tal como Lighbrown e Spada referem, “A
imitação e a prática, por si só, não conseguem explicar algumas das formas criadas pelas
crianças.” (Lightbrown & Spada 15).
Em meu entender, todas as teorias e métodos têm algo importante a
nos oferecer, quanto mais não seja porque nos fazem refletir de forma mais
aturada sobre determinados aspetos. Relativamente ao behaviorismo,
enquanto estudante de um curso com a vertente educacional, o que mais me
marcou foi a questão do reforço positivo e perceber que este tipo de
feedback pode ser extremamente produtivo. Uma vez que todos gostamos de
reconhecimento e de ser bem sucedidos, o elogio pode levar-nos a continuar
a trabalhar em determinada área.
Na minha experiência profissional tenho constatado que o reforço
positivo é muito importante, qualquer que seja o público-alvo. Com
crianças, para além dos elogios verbais, resultam muito bem os carimbos
com smileys ou expressões como Excellent! e os award stickers, tão
populares no Reino Unido (e que qualquer professor pode fazer no
computador).
No caso dos adolescentes, os reforços do tipo “Good!”, “Well
done!”, “Sehr gut!” ou “Super!” são importantes, mas não tão eficazes
como “Sabia que conseguias!” ou “Estou muito contente com a tua
evolução!”. O primeiro tipo de elogio pode ser proferido por qualquer
pessoa, dirigido a qualquer um e aplicado a situações variadas. O seu uso é,
por vezes, tão rotineiro e indiscriminado que deixa de ter verdadeiro
significado. Já o segundo tipo de reforço positivo parece traduzir uma
relação entre o emissor e o destinatário e denotar verdadeiro interesse por
36
evolução!”. O primeiro tipo de elogio pode ser proferido por qualquer
pessoa, dirigido a qualquer um e aplicado a situações variadas. O seu uso é,
por vezes, tão rotineiro e indiscriminado que deixa de ter verdadeiro
significado. Já o segundo tipo de reforço positivo parece traduzir uma
relação entre o emissor e o destinatário e denotar verdadeiro interesse por
parte daquele. Todas as pessoas, mas os adolescentes em especial, gostam
de saber que alguém está atento e se preocupa com eles. Carimbos e
autocolantes, dependendo do uso que lhe damos, podem também funcionar.
Quando se opta por esta via, deve-se primeiro fazer uma avaliação dos
alunos com quem trabalhamos e perceber se um instrumento deste tipo vai
ser bem aceite ou ridicularizado.
No meu trabalho com adultos também me apercebi de que um
comentário positivo pode fazer toda a diferença. No entanto, com este
público-alvo devemos ser cuidadosos com os reforços que emitimos.
Elogios como “Muito bem!” podem ser encarados como uma infantilização
do ensino e serem tidos como algo que o professor/formador diz apenas
para ser simpático. A minha experiência tem-me mostrado que comentários
que façam o formando refletir sobre o seu processo de aprendizagem são
muito mais eficazes. “Veja só o que já consegue dizer!”, “Há um mês só
percebia textos de 5 linhas e agora já lê textos deste tamanho!” são
exemplos de reforços positivos que podem funcionar muito bem.
Dependendo do aluno/formando que tiver à minha frente, não hesito em
usar a língua materna para lhe fornecer feedback positivo, uma vez que o
meu objetivo nestas situações não é linguístico.
Relativamente à aplicação do behaviorismo ao ensino de línguas,
julgo ser importante reter a questão do drilling. Todas as teorias que vêm
suplantar outras já existentes acabam por eleger um elemento como alvo de
crítica e discute-se tanto em torno dele, e são arranjados tantos argumentos
para o refutar, que a determinada altura é como se esse aspeto fosse alguma
“força do Mal” e toda a gente se interrogasse: “Como era possível fazer-se
aquilo?”. Penso que isto foi um pouco o que aconteceu com os drills. Mas
será que os drills não têm lugar no ensino de línguas? Creio vivamente que
sim, mas obviamente que dependerá da sua forma, frequência e duração.
No seu blog An A-Z of ELT*, Scott Thornbury relança a discussão
sobre os drills, e é interessante observar, através dos vários comentários
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aquilo?”. Penso que isto foi um pouco o que aconteceu com os drills. Mas
será que os drills não têm lugar no ensino de línguas? Creio vivamente que
sim, mas obviamente que dependerá da sua forma, frequência e duração.
No seu blog An A-Z of ELT*, Scott Thornbury relança a discussão
sobre os drills, e é interessante observar, através dos vários comentários
motivados pelo post do autor, que esta técnica está ainda muito presente no
ensino do inglês como língua estrangeira.
Utilizado em aulas de nível intermédio ou avançado, o chorus
drilling fará pouco sentido, pois, tal como refere Scott Thornbury, este tipo
de atividade parece infantilizar a aula. No entanto, fruto da minha
experiência, sou levada a concluir que com turmas de young ou very young
learners pode ser muito útil. Quando ensinamos vocabulário a esta faixa
etária é muito comum a utilização de exercícios de audição e repetição
(listen and repeat exercises) de que os alunos tanto gostam. Aprender uma
palavra é também aprender a forma como esta se pronuncia e a infância é a
altura ideal para o fazer. Estudos como o de Mark Patkowski demonstram
que se pode aprender uma língua em qualquer idade, mas que quando a sua
aprendizagem ocorre na infância as hipóteses de os alunos se tornarem
proficientes aumentam (Lightbrown & Spada 69). Pedir a um aluno que
repita sozinho determinada palavra ou expressão pode ser muito
constrangedor para ele. O chorus drilling dá aos alunos uma oportunidade
segura de repetirem os vocábulos que estão a ser estudados. Contudo, é
preciso ter em atenção a frequência e a duração do exercício. Se este
exercício for muito longo ou implementado em todas as aulas, passará a ser
aborrecido e os alunos deixarão de ter interesse em realizá-lo.
Com alunos mais velhos faz mais sentido o uso de outro tipo de
drills. Durante a frequência do curso Drama Techniques for the English
Language Classroom, em Exeter, aprendi um drill que tenho usado com
frequência nas minhas aulas. Todos os professores de inglês sabem que,
regra geral, os alunos têm muita dificuldade em formular perguntas no
passado.
Com este drill, de forma divertida, os alunos repetem e ouvem
várias vezes uma pergunta no passado. Esta pergunta, que é várias vezes
repetida, pode servir-lhes de modelo para a elaboração de questões no
passado. O drill, que combina a repetição da estrutura, com jogo, humor e
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passado.
Com este drill, de forma divertida, os alunos repetem e ouvem
várias vezes uma pergunta no passado. Esta pergunta, que é várias vezes
repetida, pode servir-lhes de modelo para a elaboração de questões no
passado. O drill, que combina a repetição da estrutura, com jogo, humor e
mímica, baseia-se no seguinte diálogo:
Student A – Do you know Mrs Jones?
Student B – Yes.
Student A – She’s dead!
Student B – Oh! How did she die?
Student A – Like this...
A seguir à expressão “Like this...”, o aluno faz uso da mímica para
explicar a forma como Mrs Jones morreu. Posteriormente, aquele que era o
aluno B passa a ser o aluno A e o aluno B passará a ser outro elemento da
turma (normalmente é alguém próximo do novo aluno A) e assim
sucessivamente. De cada vez que um aluno diz a expressão “Like this...”
deverá, sequencialmente, representar por gestos as várias formas como Mrs
Jones morreu e depois acrescentar uma nova forma.
Dependendo do enquadramento que lhe é dado, esta atividade pode
resultar muito bem, quer com jovens, quer com adultos, e permite várias
atividades de follow-up. Daqui poderá partir-se para um alargamento de
vocabulário relacionado com os instrumentos utilizados pela Mrs Jones, a
forma e o ambiente em que ocorreu a sua morte. Apelando à criatividade,
poder-se-á também pedir aos alunos que redijam uma história para a qual
tenham como ponto de partida a questão Why did Mrs Jones die? ou, então,
poder-se-á simplesmente passar para um exercício de audição e
interpretação da canção Me and Mrs Jones, de Michael Bublé.
Nas minhas aulas, de vez em quando, uso ainda uma espécie de
mingle drill, que consiste no seguinte: primeiro, atribui-se a cada aluno uma
frase (ou deixa-se que cada aluno escolha a frase com que quer trabalhar;
convém que seja uma frase que o aluno tenha dificuldade em proferir) e
ensaia-se juntamente com ele a pronúncia e
39
3.2. O Construtivismo
Como reação ao behaviorismo surgiu uma nova abordagem à aprendizagem que
se focava mais nos processos mentais e menos nos comportamentos observáveis – o
construtivismo. Tal como foi anteriormente referido, a imitação e prática advogadas pelo
behaviorismo não conseguiam explicar algumas formas construídas pelas crianças. Na
perspetiva construtivista, o conhecimento é visto como algo ativamente construído pelos
aprendentes com base nas suas estruturas cognitivas. A aprendizagem consiste na
assimilação e acomodação de informação nas estruturas cognitivas existentes (Arthur 50).
Aprendemos ao relacionar os novos conhecimentos com aqueles que já possuímos.
O pensador que mais contribuiu para o construtivismo foi o psicólogo suíço Jean
Piaget. Para Piaget a aprendizagem era “... um processo dinâmico que inclui estádios
sucessivos de adaptação à realidade, durante os quais os aprendentes constroem
ativamente o conhecimento ao criarem e testarem as suas próprias teorias sobre o
mundo.” (Arthur 51). O princípio basilar da teoria deste psicólogo era o da equilibração,
frase (ou deixa-se que cada aluno escolha a frase com que quer trabalhar;
convém que seja uma frase que o aluno tenha dificuldade em proferir) e
ensaia-se juntamente com ele a pronúncia e entoação corretas; depois, pede-se
aos alunos que se levantem e deambulem pela sala, repetindo a sua frase cada
vez que se deparam com um colega.** Utilizei esta atividade com turmas do
ensino profissional antes da dramatização de diálogos num restaurante e
resultou muito bem. Na altura da dramatização, poucos foram os alunos que
tiveram dificuldade em dizer aquela frase que inicialmente era um problema.
_______________________ * http://scottthornbury.wordpress.com/ ** Aprendi esta atividade no segundo ano da faculdade na disciplina de Alemão II. Na altura
o objetivo era treinar os verbos preposicionais e ainda hoje me lembro da frase que me coube:
“Über solche Witze kann man nicht lachen!”
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segundo o qual o indivíduo possui um mecanismo contínuo de reajustamento, um
processo de adaptação cognitiva ao ambiente. A pessoa trabalha constantemente para
manter um estado de equilíbrio cognitivo, mesmo diante de nova informação. O
equilíbrio é possível através de dois processos: assimilação e acomodação. A assimilação
ocorre quando incorporamos nova informação nas estruturas cognitivas que já possuímos
e desta forma restauramos o equilíbrio cognitivo. Segundo Piaget qualquer ação responde
a uma necessidade e uma necessidade é resultante de um desequilíbrio. Neste sentido “...
toda a necessidade tende, primeiro, a incorporar as pessoas e as coisas na actividade
própria do sujeito, portanto a «assimilar» o mundo exterior às estruturas já construídas...”
(1990: 17). A acomodação ocorre quando há uma modificação das estruturas cognitivas
existentes, a fim de se poder considerar a nova informação.
Piaget propôs ainda o conceito de estádio cognitivo. Um estádio representa um
sistema de estruturas mentais que o indivíduo usa para dar significado à experiência.
Existe uma relação observável entre o estádio e o comportamento humano, pelo que é
possível perceber em que estádio uma criança se encontra através da observação do seu
comportamento. De acordo com a teoria piagetiana existem quatro estádios cognitivos:
estádio sensório-motor, estádio pré-operatório, estádio das operações concretas e estádio
das operações formais. A ordem de sucessão dos estádios é constante e não há “saltos” na
transição entre eles.
O estádio sensório-motor, que vai normalmente desde o nascimento até aos dois
anos de idade, consiste “... numa conquista, através das percepções e dos movimentos, de
todo o universo prático que rodeia a criança.” (Piaget, 1990: 18-9). Durante este período
a perceção é a atividade dominante e encontra-se orientada para a ação. As manifestações
da criança vão desde a atividade reflexa à atividade recreativa, podendo já representar
objetos mentalmente, sob a forma de imagens. Este estádio caracteriza-se ainda pelo
egocentrismo intelectual da criança, ou seja, a criança só percebe aquilo que lhe é dado a
conhecer, para a criança só existe aquilo que ela vê.
No estádio pré-operatório, que ocorre aproximadamente entre os dois e os sete
anos, já existe a função simbólica ou semiótica, que permite a distinção entre o
significado e o significante. Convém não esquecer que é normalmente durante este
estádio que aparece a linguagem, o que traz consequências para o desenvolvimento
41
mental. A criança passa a ser capaz de criar imagens mentais e fazer desenhos, evocações
verbais, jogos simbólicos e imitações diferidas. Esta fase é caracterizada pelo animismo
infantil, que é a tendência para conceber as coisas como entidades vivas e dotadas de
intenção e consciência, e pelo artificialismo, ou seja, a ideia de que “... não há acaso na
natureza, porque tudo é «feito para» os homens e as crianças, segundo um plano
estabelecido e sábio, do qual o ser humano constitui o centro.” (Piaget, 1990: 41). É
importante também não esquecer que a criança se foca apenas num aspeto especialmente
observável de um objeto ou de uma situação, o que corresponde ao conceito de centração.
Entre os sete e os onze/doze anos ocorre o estádio das operações concretas,
durante o qual a criança se começa a libertar do seu egocentrismo intelectual e social,
passando a cooperar com os outros. A criança começa a ter a capacidade de reter uma
ideia em mente enquanto se procede à realização de um problema. Existe a capacidade de
reversibilidade mental, a capacidade de regressar ao ponto de partida de determinada
atividade. A criança começa a adquirir um maior número de competências, tais como a
transitividade, a seriação e a numeração. As operações neste estádio são concretas, na
medida em que os elementos devem estar presentes fisicamente.
Desde os onze/doze anos até aproximadamente aos dezasseis tem lugar o estádio
das operações formais, durante o qual as operações lógicas começam a ser transpostas do
plano da manipulação concreta para o plano das proposições. Para além do pensamento
formal, surge também o pensamento hipotético-dedutivo, que se traduz na capacidade de
“... deduzir as conclusões a tirar de puras hipóteses, e não apenas de uma observação
real.” (Piaget, 1990: 92). A metacognição torna-se possível e o indivíduo começa a
compreender de forma complexa a realidade interpessoal.
A teoria de Piaget e, em geral, o construtivismo tiveram grande influência no
campo da educação. A pedagogia decorrente desta teoria assenta sobretudo nos métodos
ativos que privilegiam a atividade do sujeito (o aluno deve agir por sua própria iniciativa
e deve estar ativamente implicado no processo de aprendizagem) e o trabalho em equipa.
Na perspetiva construtivista a tarefa do professor é, sobretudo, ajudar os alunos a
construírem as suas redes de conhecimentos, o seu papel é o de facilitador da descoberta
através da disponibilização dos recursos necessários e através da sua orientação. O
professor deve atuar mais como um especialista do processo de ensino-aprendizagem do
42
que como um especialista de conteúdos. Deve estimular a curiosidade, a cooperação e a
pesquisa por parte do aluno, em vez de fornecer soluções já acabadas. É muito importante
que o aluno tenha espaço para construir o seu próprio conhecimento. Piaget diz mesmo
que “[é] preciso que o aluno faça pesquisas por ele próprio, possa experimentar, ler e
discutir com uma quota-parte de iniciativa suficiente e não atue simplesmente por
comando.” (Piaget, 1999: 146). O aluno deve procurar por si mesmo, experimentar e
criticar livremente. A motivação para a aprendizagem é intrínseca, já que o aluno deve
criar os seus próprios objetivos.
Piaget coloca ainda uma grande tónica na questão da autonomia, que, nas suas
palavras, é “...a submissão do indivíduo a uma disciplina que ele próprio escolhe e na
constituição da qual ele colabora com toda a sua personalidade.” (Piaget, 1999: 68) e só
se desenvolve numa atmosfera de cooperação. Neste contexto, refere o método do self-
government, que consiste na atribuição aos alunos de responsabilidade na organização da
disciplina, e o método do trabalho em equipa.
Refletindo sobre a minha atividade profissional, chego à conclusão de
que a autonomia não tem sido uma prioridade para mim. Preocupada com
tantas questões como certificar-me que os alunos apreendem os conteúdos,
assegurar a disciplina, cumprir programas, controlar comunicações com os
encarregados de educação, verificar os trabalhos de casa, entre tantas outras
coisas, não tenho dedicado energia suficiente ao fomento da autonomia. Julgo,
na verdade, que devia delegar mais responsabilidades nos alunos. Devo por
isso rever a minha postura quanto a este aspeto. A autonomia é essencial na
formação de cidadãos livres e responsáveis, que deve ser o mais importante
objetivo da escola.
Quanto ao trabalho em equipa, procuro incutir nos alunos o gosto e o
hábito de se ajudarem uns aos outros e de trabalharem juntos para um mesmo
objetivo, sobretudo através do trabalho de pares.
43
3.3. O Construtivismo Social
Se o construtivismo já apontava para a importância da cooperação, o
construtivismo social vem colocar a tónica na natureza colaborativa da aprendizagem.
Esta teoria foi desenvolvida pelo psicólogo soviético Lev Vygostky, que foi um crítico de
Piaget.
Segundo Vygotsky, as funções cognitivas têm origem nas interações sociais e
devem ser explicadas como produtos dessas interações. A aprendizagem não é apenas a
assimilação e acomodação de novo conhecimento, mas um processo pelo qual os alunos
são integrados numa comunidade de conhecimento, um processo colaborativo (Arthur
54-5).
Vygotsky defendia que qualquer ação humana é sempre mediada por instrumentos
e símbolos e que a linguagem desempenha um papel de relevo nessa mediação. Para além
disso, argumentava que qualquer função mental aparece sempre em dois planos:
primeiro, o interpessoal; posteriormente, o intrapessoal.
Vygostky retira a ênfase da herança biológica e coloca-a na cultura. O ambiente
determina amplamente o que a criança internaliza, na medida em que grande parte da sua
aprendizagem ocorre pelas interações que ela estabelece nesse ambiente. A internalização
consiste na absorção do conhecimento proveniente do contexto. Neste sentido, poderá
dizer-se que o desenvolvimento procede de fora para dentro e que as pessoas que fazem
parte do contexto da criança podem, através da forma como interagem com ela, alargar o
seu conhecimento e facilitar a sua aprendizagem. A incorporação das atividades
exteriores e sociais na estrutura mental da criança acontece em três fases: 1) assistência
por outras pessoas mais capazes; 2) assistência oriunda da própria criança; 3)
interiorização do conceito. Na perspetiva vygotskyana a motivação para a aprendizagem
é simultaneamente extrínseca e intrínseca.
Vygotsky propôs o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). A
ZDP corresponde à amplitude de capacidade entre o nível de capacidade observável de
uma criança e a sua capacidade latente, que não é diretamente detetada.
Fundamentalmente, a ZDP representa a diferença entre o que a criança é capaz de fazer
44
individualmente e aquilo que é capaz de atingir com a ajuda de pessoas mais
experimentadas.
Sobretudo através do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, Vygotsky
incentivou uma investigação que vá para além do desempenho observado de uma criança,
com o objetivo de melhor se compreender o que está para além das respostas observáveis.
Incentivou ainda à investigação no campo da avaliação dinâmica. Num ambiente de
avaliação dinâmico, quando um aluno responde erradamente a uma questão “... o
examinador dá-lhe uma sequência gradual de sugestões dirigidas, a fim de facilitar a
resolução do problema” (Sternberg 386). Neste tipo de avaliação, o examinador acaba por
ter um papel ativo e o enfoque é colocado na capacidade da criança para usar as
sugestões.
Na perspetiva do construtivismo social, o ensino deveria utilizar métodos de
ensino colaborativo. Se a criança aprende sobretudo através das interações sociais, o seu
relacionamento com os restantes colegas da turma não pode ser esquecido. Vygotsky
sugeria a utilização de uma criança mais desenvolvida para ajudar outra com menos
capacidades. Ao ensinar o colega, a criança mais desenvolvida consolida os seus próprios
conhecimentos, uma vez que o ensino obriga a um esforço de sintetização. Este trabalho
conjunto entre elementos da turma deveria, obviamente, ser guiado e mediado pelo
professor. Para além disso, o professor tem também a função de interferir no processo de
aprendizagem, fazendo com que os alunos progridam no sentido de atingir o seu
potencial. Tal é possível através da interferência na Zona de Desenvolvimento Proximal.
Relativamente à teoria vygotskyana, o que mais me marcou foi a apreensão
do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. Na sociedade atual, na
sociedade “do usa e deita fora”, julgo que é cada vez mais importante que a escola
não forneça aos alunos produtos acabados. Enquanto professores, ao intervirmos na
ZDP, estamos apenas a fornecer ao aluno um ingrediente para que ele próprio
construa o seu produto.
A participação do aluno nesta construção acarreta vários benefícios. Por um
lado, favorece a sua autoestima, pois o aluno sente que, usando as suas capacidades,
é capaz de resolver o problema ou atingir o objetivo, o que lhe traz uma satisfação
enorme. Por outro lado, o facto de o aluno ser ativo na construção do seu próprio
conhecimento torna a aprendizagem muito mais significativa; de facto, é como se
houvesse uma personalização da aprendizagem. O aluno construiu a sua própria
rede neuronal, fazendo uso dos seus conhecimentos prévios para construir
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enorme. Por outro lado, o facto de o aluno ser ativo na construção do seu
próprio conhecimento torna a aprendizagem muito mais significativa; de facto,
é como se houvesse uma personalização da aprendizagem. O aluno construiu a
sua própria rede neuronal, fazendo uso dos seus conhecimentos prévios para
construir conhecimento novo.
Quantas vezes a colocação de uma questão na altura certa não leva a
que a criança, o jovem ou o adulto consigam atingir o seu potencial! No caso
da aprendizagem de vocabulário isso acontece muitas vezes. Tomemos como
exemplo a palavra anteater. Quando um aluno nos pergunta o seu significado
temos duas hipóteses: fornecer de imediato o significado (a que chamo fast
feeding) ou ajudar o aluno a encontrá-lo (que seria uma espécie de slow
cooking). Optando pela segunda hipótese, o professor poderia colocar uma
série de perguntas - tais como Can you divide the word into units? What do you
recognise in this word? What does “ant” mean? What does “eat” mean? Can
you find a parallel with the Portuguese language? - que poderiam conduzir o
aluno até ao significado. Note-se que a sequência de perguntas deve ser
gradual. O uso desta técnica é muito importante no caso do ensino do alemão,
uma vez que esta língua possui um elevado número de palavras compostas.
Outro aspeto que penso ser muito importante e que procuro
implementar na minha prática letiva é o ensino colaborativo ou peer teaching.
Devemos fazer uso de todos os recursos que temos e os alunos também são um
recurso! Opto muitas vezes por utilizar o ensino colaborativo, não tanto sob a
forma de trabalho de grupo mas sob a forma de trabalho de pares. Esta forma
de trabalho é mais fácil e mais rápida de operacionalizar e não dá tanto azo a
brincadeira e barulho. Como já foi referido anteriormente, este tipo de
estratégia não é apenas vantajosa para o aluno com mais dificuldades, mas
também para o mais desenvolvido. Na minha opinião, para que este tipo de
prática resulte é necessário fazer um trabalho contínuo com as turmas
(qualquer que seja o seu nível) de estímulo a uma verdadeira cooperação, a
uma cooperação responsável. Muitas vezes, sobretudo com adolescentes e
adultos, a cooperação é confundida com porreirismo. É necessário que os
alunos entendam que ajudar um colega não é dar-lhe a resposta certa, mas antes
levá-lo até ela. Para além disso, sem um sentimento verdadeiro de cooperação
as tarefas que envolvem peer teaching podem ser vistas como um castigo para
os bons alunos e como uma humilhação para os fracos.
46
3.4. Inteligências Múltiplas
Na década de 80, no seu livro Frames of Mind: The Theory of Multiple
Intelligences, Howard Gardner propõe a teoria das inteligências múltiplas. Gardner
recusa a ideia de uma inteligência única que todos os indivíduos têm em maior ou menor
grau, bem como a mensurabilidade da inteligência através de testes de QI. Para este
psicólogo da Universidade de Harvard “[u]ma inteligência é a capacidade de resolver
problemas, ou criar produtos, que são valorizados dentro de um ou mais contextos
culturais....” (Gardner x). Neste sentido, sugere um conjunto de sete inteligências:
linguística, lógico-matemática, espacial, quinestésica, musical, interpessoal e
alunos entendam que ajudar um colega não é dar-lhe a resposta certa, mas antes
levá-lo até ela. Para além disso, sem um sentimento verdadeiro de cooperação as
tarefas que envolvem peer teaching podem ser vistas como um castigo para os
bons alunos e como uma humilhação para os fracos.
Ao enfatizar a questão da cultura e das interações sociais Vygotsky
motiva uma reflexão sobre o contexto em que vivem os nossos alunos. Se grande
parte da aprendizagem é fruto das interações sociais, devemos perceber que tipo
de interações é que os nossos alunos têm. Sem fazer juízos de valor, podemos
constatar que o tipo de interações sociais que tem um jovem, filho de modestos
agricultores, que vive na aldeia e que tem de ir tratar do gado quando chega a
casa depois da escola é diferente do tipo de interações que tem um jovem
citadino, filho de pais ricos, que vai para o café depois das aulas. Ambos
precisam de ser ensinados! A escola tem de dar resposta aos dois! Para evitar
que a escola seja o espaço de reprodução social de que falam Bourdieu e
Passeron, temos de fazer um esforço para compreendermos o contexto em que os
nossos alunos vivem.
47
intrapessoal. Mais tarde, Gardner acrescenta um oitavo tipo – a inteligência naturalista –
e coloca a hipótese da existência de uma inteligência espiritual.
Não há pessoas com um único tipo de inteligência, mas com diferentes graus de
desenvolvimento de cada uma das inteligências. Estas inteligências não são imutáveis: se
em dado momento temos uma determinada inteligência mais desenvolvida, o mesmo
pode não se verificar em outros períodos da nossa vida. Para além disso, é importante
percebermos que as inteligências não são estanques e podem ser mobilizadas por vários
domínios. Segundo Gardner, “... quase todos os domínios requerem proficiência num
conjunto de inteligências; e qualquer inteligência pode ser mobilizada para ser usada
numa grande variedade de domínios culturalmente disponíveis.” (xvii). O domínio da
música é um bom exemplo: ser capaz de interpretar uma peça musical requer outras
inteligências para além da musical, e a inteligência musical pode ser mobilizada para
outros domínios que não o da música (Gardner xvi, xvii).
Indivíduos que possuem uma inteligência linguística desenvolvida tendem a
pensar com palavras e a utilizá-las com facilidade. Normalmente gostam de ler, escrever
e contar histórias. Aprendentes lógico-matemáticos gostam de ter explicação para tudo e
apoiam-se no raciocínio lógico-dedutivo. De uma forma geral, gostam de colocar
questões, realizar atividades de experimentação, trabalhar com números e explorar
padrões e relações. Quando se tem uma inteligência espacial desenvolvida pensa-se
através de imagens e relações espaciais e tem-se uma grande capacidade de visualização;
prefere-se atividades como o desenho, o visionamento de filmes e o trabalho com
imagens. Aqueles que possuem uma inteligência quinestésica acentuada aprendem
fazendo e aprendem melhor relacionando a informação com o seu próprio corpo, pelo que
se inclinam para atividades físicas ou que impliquem movimento. Quem pensa através do
ritmo e da melodia e memoriza canções facilmente diz-se que tem uma inteligência
musical apurada. Este tipo de indivíduos habitualmente gosta de ouvir música, cantar e
expressar-se através da música. A inteligência interpessoal caracteriza-se pela facilidade
que uma pessoa tem em relacionar-se com outros e aprender e pensar através da troca de
ideias com os outros. Quem tem este tipo de inteligência desenvolvida gosta de conversar
e estar em grupo. Por último, a inteligência intrapessoal diz respeito à capacidade do
indivíduo para relacionar a informação com as suas vivências e interesses. Pessoas com
48
uma inteligência intrapessoal acentuada tendem a gostar de trabalhar sozinhos, meditar,
planear e traçar objetivos próprios. (Harmer, 2001b: 46-7; Zenhas 9, 10)
A teoria das inteligências múltiplas veio dar um enquadramento teórico àquilo
que todos os professores já tinham percebido, que todas as pessoas têm mais apetência
para umas áreas do que para outras; assim se explica o sucesso que esta nova abordagem
teve no campo da educação.
Ao aceitarmos a possibilidade das inteligências múltiplas, aceitamos a ideia de
que não aprendemos todos da mesma forma e de que, portanto, existem diferentes estilos
de aprendizagem. Enquanto professores, devemos dar resposta aos vários estilos de
aprendizagem, pelo que não podemos basear o nosso ensino apenas em atividades
linguísticas ou lógico-matemáticas, que historicamente têm sido as mais utilizadas. Como
diz Marcia L. Tate, “... se as pessoas não aprenderem da forma como lhes ensinamos,
temos de ensiná-las das muitas formas em que elas aprendem” (Feinstein 243).
Para podermos chegar a todos os alunos, temos de incluir variedade nas nossas
aulas. No entanto, em primeiro lugar, devemos perceber e aceitar que somos
condicionados pelas nossas inteligências dominantes, pelos nossos gostos e preferências e
que, assim sendo, e parafraseando Jim Wingate, a forma como naturalmente ensinamos
pode não ser a forma como os nossos alunos naturalmente aprendem (1997: 29). Se
estivermos conscientes desta condicionante, mais facilmente poderemos conseguir um
equilíbrio na planificação das nossas aulas.
Quanto mais diversificadas forem as atividades, mais hipóteses teremos de chegar
a todos os alunos. Rosie Tanner sugere vários exemplos de atividades linguísticas que
contemplam os vários tipos de inteligência e os vários domínios de aprendizagem de uma
língua: listening (compreensão oral), reading (compreensão escrita), writing (produção
escrita), speaking (produção oral), grammar (gramática), vocabulary (vocabulário),
literature (literatura) (41). Relativamente ao trabalho com vocabulário, para os alunos
com uma inteligência fortemente musical, propõe que estes decidam quais as novas
palavras da letra de uma canção pop que gostariam de aprender.
49
Segundo Tanner, alunos com uma inteligência intrapessoal dominante podem
fazer o seu próprio livrinho de vocabulário com palavras que julguem importantes
aprender. Sujeitos com uma inteligência interpessoal acentuada podem testar o
vocabulário uns dos outros.
Pessoalmente, acho mais interessante pedir aos alunos que escolham um
conjunto de palavras e que com elas criem uma canção. Esta atividade permite-lhes
exercitar a sua criatividade através da escolha de palavras, rimas e ritmo. Eles podem
criar uma melodia nova ou fazer uso de uma já existente. Para além disso, ao darmos
aos alunos a hipótese de escolherem as palavras, tornamos a atividade mais
significativa e, como já vimos anteriormente, a atribuição de significado é um
grande auxílio para a memória.
Embora considere a primeira atividade interessante, no caso da segunda
procederia de outra forma: pediria aos alunos que explicassem uns aos outros um
conjunto de palavras ou então que, em trabalho de pares, fornecessem pistas para
o preenchimento de palavras cruzadas, tal como sugere Peter Watcyn-Jones na
atividade Half a Crossword*.
______________________ * Nesta atividade proposta no livro Vocabulary Games and Ativities for Teachers é fornecido a
cada elemento uma folha com palavras cruzadas incompletas. A informação da folha A
complementa a da folha B e vice-versa. Cada um dos alunos está apenas em posse de metade da
informação necessária para completar a tarefa. Para realizar a atividade o aluno A deverá perguntar
ao aluno B as palavras que lhe faltam para concluir a folha A. O aluno B está proibido de dizer as
palavras de imediato, mas dá ao colega informação (sob a forma de definição ou pistas soltas) para
que este as descubra. Depois, dá-se o processo inverso, passando o aluno B a fazer as perguntas e o
A a indicar as pistas.
50
Cortar uma imagem de uma revista e legendá-la é a sugestão de Tanner para
alunos com uma forte inteligência visual. Julgo que pode ser uma atividade aliciante,
sobretudo para crianças. A adolescentes ou adultos, talvez sugerisse que criassem mind
maps com vocabulário relativo a determinado tema, pois este tipo de atividade conjuga o
aspeto visual com a criação de unidades significativas.10
Estes são alguns exemplos da multiplicidade de atividades que podem enriquecer
as nossas aulas. Numa única aula pode não ser fácil cobrir todos os tipos de inteligência,
mas ir variando as atividades ao longo das aulas não será difícil.
Qual será a forma como os nossos alunos naturalmente aprendem? Será que eles
próprios sabem? Creio que tão importante quanto incluir variedade nas aulas, é alertar os
alunos para os vários estilos de aprendizagem, fazê-los perceber que não aprendemos
todos da mesma maneira e que o que resulta com uma pessoa pode não resultar com
outra.
10 Ver subcapítulo “Estratégias para a aprendizagem autónoma de vocabulário” para mais informação sobre mind maps.
Nas minhas aulas, procuro recorrentemente fazer este trabalho de
elucidação e vou fornecendo sugestões de possíveis maneiras de estudar
determinado assunto. Incentivo-os a irem experimentando várias formas para
compreenderem a que resulta consigo, pois tal como afirma Armanda Zenhas
“[s]aber estudar . . . implica autoconhecimento da forma como se aprende”
(Zenhas 9). Wingate sugere um questionário que poderemos adaptar e fornecer
aos alunos para que descubram quais as suas inteligências dominantes
(1996:29). Nunca utilizei este questionário, mas fá-lo-ei numa próxima
oportunidade, pois pode ser um bom instrumento apara ajudar os alunos a
perceberem como aprendem melhor. Na minha opinião, este questionário é
adequado para adolescentes e adultos, mas não para young learners, uma vez
que a linguagem utilizada é demasiado complexa para esta faixa etária e
algumas situações colocadas poderão ser de difícil compreensão. No caso dos
alunos mais velhos, dependendo do seu nível de proficiência na língua, optaria
por traduzir o questionário para português. O objetivo desta atividade vai para
além da questão linguística.
51
alunos mais velhos, dependendo do seu nível de proficiência na língua, optaria por
traduzir o questionário para português. O objetivo desta atividade vai para além da
questão linguística.
52
4. FATORES QUE INFLUENCIAM A APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA
Não aprendemos uma língua estrangeira da mesma forma que aprendemos a nossa
língua materna. Desde bebés ouvimos a nossa língua materna ser falada por todos aqueles
nos rodeiam, contactamos direta e intensamente com ela em todos os aspetos da vida,
consciente ou inconscientemente. O mesmo não acontece com uma segunda língua ou
com uma língua estrangeira. Estes termos são recorrentemente utilizados de forma
indiscriminada, mas Stern propõe uma distinção. Segunda língua diz respeito a uma
língua não nativa que é aprendida num país onde é falada. Uma língua estrangeira
consiste numa língua não nativa que é aprendida num país onde não é falada (16). Em
termos genéricos, poder-se-ia dizer que para um suíço do cantão francês, o alemão é a
segunda língua, enquanto que para um português residente em Portugal o alemão é uma
língua estrangeira.
A aprendizagem de uma língua estrangeira, pelo facto de ocorrer fora do seio de
uma sociedade que a utiliza como principal meio de comunicação, requer “... instrução
mais formal e outras medidas que compensem a falta de apoio do ambiente”, enquanto
que uma segunda língua pode ser aprendida de forma mais informal, pois é amplamente
utilizada no ambiente em que o sujeito se insere (Stern 16). Muitas considerações feitas
sobre uma segunda língua podem ser aplicadas a uma língua estrangeira, na medida em
que ambas se distinguem da língua materna.
Este capítulo não tem como objetivo fazer uma resenha das várias abordagens à
aprendizagem de uma língua estrangeira, mas antes analisar os fatores que a podem
influenciar.
No seu livro How Languages are Learned, Lightbrown e Spada apresentam vários
fatores que podem afetar a aprendizagem de uma segunda língua: inteligência, aptidão,
estilos de aprendizagem, personalidade, motivação e atitudes, identidade e ligação a um
grupo étnico, crenças do aprendente e idade de aquisição (Lightbrown & Spada 57-75).
Analisando cada um destes aspetos, tentarei perceber se podem ser aplicados à
53
aprendizagem de uma língua estrangeira e se, por si só, são suficientes para explicar as
condicionantes deste tipo de aprendizagem.
Inteligência. Como vimos no capítulo anterior, a ideia de que existe uma única
inteligência que pode ser medida através de testes de QI foi refutada e deu origem à teoria
das Inteligências Múltiplas. Assim, a velha ideia de que as pessoas mais inteligentes
aprendem línguas melhor cai por terra. A que tipo de inteligência nos estamos a referir
quando caracterizamos alguém como sendo muito inteligente?
Atualmente, à luz da teoria de Gardner, o que se poderá dizer é que os indivíduos
que têm uma inteligência linguística mais desenvolvida terão, à partida, mais facilidade
na aprendizagem de uma língua, apesar de o domínio da língua não mobilizar apenas este
tipo de inteligência.
Aptidão. A aptidão refere-se à capacidade para aprender rapidamente. Nas
décadas de 50 e 60 foram criados testes de aptidão linguística que tinham como objetivo
prever o progresso futuro de determinada pessoa na aprendizagem de uma língua. Estes
testes mostraram-se redutores, uma vez que favoreciam os alunos do tipo analítico,
deixando de fora os outros tipos de aprendentes (Lightbrown & Spada 57-8; Harmer,
2001b: 41) Creio não ser errado estabelecer uma correlação entre aptidão e inteligência
dominante. Aprendemos mais depressa o que se encaixa nos moldes da inteligência que
temos mais desenvolvida.
Estilos de aprendizagem. Os estilos de aprendizagem dizem respeito à
predisposição para adotar uma estratégia de aprendizagem, independentemente das
exigências específicas de uma tarefa. Estão, portanto, intimamente relacionados com os
tipos de inteligência dominantes.11
Personalidade. Durante muito tempo achou-se que a extroversão estava ligada ao
sucesso na aprendizagem de uma língua; no entanto, verificou-se que muitas pessoas
introvertidas eram igualmente bem-sucedidas. De acordo com Lightbrown e Spada, a
investigação disponível não mostra uma relação clara e bem definida entre personalidade
e a aprendizagem de uma segunda língua.
11 Ver subcapítulo “Inteligências Múltiplas”
54
A ansiedade tem sido vista como um fator negativo. Considerava-se a ansiedade
como um estado permanente, mas estudos mais recentes indicam que a ansiedade pode
ser temporária e específica de determinados contextos (Lightbrown & Spada 57-8). Uma
pessoa pode ter um enorme à-vontade na leitura e na escrita e sentir-se ansiosa apenas
quando tem de falar, pois se sente mais exposta à crítica dos outros.
Rebecca Oxford considera duas formas de ansiedade: situational or state anxiety
(a que decorre da reação a uma situação particular) e trait anxiety (neste caso é uma
característica permanente das pessoas predispostas a terem medo de várias coisas)
(Oxford 34-5). Esta distinção é importante na avaliação que o professor faz dos seus
alunos, no sentido de os conhecer melhor. Muito interessante é também a distinção entre
facilitating anxiety e debilitating anxiety. A primeira constitui o tipo de ansiedade que
mantém os alunos alerta, sendo, portanto, um “bom” tipo de ansiedade, que os pode
favorecer. Já a segunda prejudica os alunos indiretamente, através da preocupação e da
falta de confiança, e diretamente através da participação reduzida e da vontade de evitar a
língua (Oxford 35).
Contudo, a minha experiência leva-me a concluir que há, de facto,
determinadas características, determinados traços de personalidade, como a
disposição para correr riscos, a perseverança e a ansiedade, que podem influenciar
este tipo de aprendizagem.
Errar é um elemento inevitável do processo de aprendizagem. Pessoas que
estão dispostas a correr riscos tendem a experimentar mais com a língua. A
capacidade de perseverar é também um aspeto importante. Não fazemos tudo certo
à primeira, e se tivermos a capacidade de não desistir imediatamente perante a
adversidade aumentaremos as hipóteses de progredirmos na aprendizagem da
língua.
55
Motivação e atitudes. O que nos leva a estudar uma língua? Fazemo-lo porque
somos obrigados ou porque decidimos fazê-lo? O grau de motivação não será igual nas
duas situações. A motivação pode ser de duas ordens: integrative motivation ou
instrumental motivation. A primeira diz respeito ao desejo do indivíduo de aprender uma
língua para se integrar na cultura alvo e para o seu enriquecimento cultural. A segunda
relaciona-se com a vontade de aprender a língua para conseguir atingir objetivos práticos,
tais como um emprego melhor (Oxford 33; Lightbrown & Spada 64). Harmer faz a
distinção entre motivação intrínseca, uma motivação que vem do próprio aprendente e
que pode resultar, por exemplo, de uma necessidade de realização pessoal, e motivação
extrínseca, que é causada por fatores externos ao aprendente, tais como a necessidade de
aprender a língua para progredir na carreira (Harmer, 2001b: 51).
De acordo com Zoltan Dörnyei, reconhecido investigador nesta área, a motivação
é visível nas atitudes e comportamentos que o indivíduo assume nas diferentes situações
em que está envolvido. Dörnyei relaciona motivação com sucesso na aprendizagem de
línguas estrangeiras. A motivação é o que distingue os alunos bem sucedidos dos alunos
sem sucesso. Um aprendente motivado é um aprendente entusiasmado, dedicado e
perseverante. É tarefa do professor motivar os alunos através do desenvolvimento de um
processo motivacional, que pode ser dividido em quatro fases (que estão interligadas): 1)
criar condições motivacionais básicas; 2) gerar a motivação inicial; 3) manter e proteger a
motivação; 4) encorajar uma autoavaliação retrospetiva de carácter positivo. No
desenvolvimento deste processo deverão ser usadas estratégias motivacionais, ou seja,
Apesar de haver instrumentos criados para medir/diagnosticar os níveis de
ansiedade na sala de aula, pessoalmente, acredito que a melhor forma é através da
observação que o professor faz do seu contexto de sala de aula e através de uma
relação de conhecimento mútuo que se vai estabelecendo com os alunos. Esta relação
é, obviamente, facilitada pela continuidade pedagógica. Quando se tem turmas
diferentes todos os anos, é mais complicado estabelecer essa relação.
56
técnicas que promovem o comportamento do indivíduo face ao objetivo a atingir. No
livro Motivational Strategies in the Language Classroom, Dörnyei propõe várias
estratégias que poderão guiar o professor na condução deste processo (Dörnyei 137-144).
Identidade e ligação a um grupo étnico. Segundo Lightbrown e Spada, as
dinâmicas sociais e relações de poder entre as línguas podem ser um ser fator importante.
Membros de uma minoria que aprendem a língua do grupo dominante podem ter atitudes
diferentes de membros do grupo dominante que aprendem a língua de uma minoria
(Lightbrown & Spada 65-6). Este problema coloca-se mais na aprendizagem de uma
segunda língua do que na aprendizagem de uma língua estrangeira.
Crenças do aprendente. Os aprendentes têm ideias pré-concebidas sobre o
processo de ensino-aprendizagem, que normalmente são ditadas por experiências
anteriores. Acreditam muitas vezes que o processo de ensino deve ser conduzido de
determinada forma, pois assim aprenderão melhor (Lightbrown & Spada 66-7).
Idade de aquisição. Haverá uma idade ideal para aprender uma língua
estrangeira? Esta pergunta relaciona-se com a questão dos períodos críticos/sensíveis
abordada no primeiro capítulo.
Investigação realizada por Patricia Kuhl na década de 80 sugere a existência de
um período sensível para a discriminação de sons. Os japoneses não conseguem
distinguir entre R e L; no entanto, os bebés japoneses conseguem fazer essa distinção. De
acordo com Blakemore e Firth “[p]or altura do final do primeiro ano de vida os bebés
perdem a capacidade de distinguir sons aos quais não são expostos” (39). Esta capacidade
para discriminar sons deixa de existir quando não é apoiada pela experiência.
Extrapolar esta questão para o domínio da aprendizagem de uma língua
estrangeira parece-me ser forçado, pois com esta idade as crianças não aprendem línguas
Ao longo da minha experiência profissional pude observar que isto acontece
mais com adultos do que com crianças e jovens, e ainda assim em pequena escala.
Regra geral, os adultos sentem uma grande mudança no ensino, mas adaptam-se
facilmente às práticas atuais e fazem uma leitura positiva das mesmas.
57
estrangeiras. Podem, quando muito, estar inseridas numa situação de early bilingualism
(cf. Lightbrown & Spada 25).
Se por um lado há estudos, como o de Mark Patkowski, que parecem sugerir a
existência de um período crítico na aprendizagem de uma de uma segunda língua, outros,
como o de Snow e Hoefnagel Höhle, parecem indicar o contrário. Relativamente a esta
questão, importa salientar que não há estudos conclusivos, mas a experiência leva-nos a
crer que a capacidade de adquirir um native-like accent é maior quando se começa cedo a
aprender a língua.
A realidade é que aprendentes de diferentes faixas etárias têm características
diferentes que, obviamente, influem no seu processo de aprendizagem.
As crianças evidenciam normalmente entusiasmo e curiosidade na aprendizagem,
mas se não estiverem verdadeiramente envolvidas na atividade facilmente se aborrecem e
perdem o interesse (Harmer, 2001b: 38). Têm um instinto natural para o jogo e a diversão
e, normalmente, têm uma grande capacidade de imaginar e fantasiar (Halliwell 3-7).
Aprendem de forma holística sem prestarem atenção a formas linguísticas abstratas
(Pinter 18). Reagem ao significado mesmo sem perceberem palavras individuais e
normalmente aprendem mais indireta do que diretamente, isto é, vão aprendendo mais
através daquilo que vai acontecendo à sua volta do que através do momento específico
em que determinado assunto está a ser tratado na aula (Halliwell 3; Harmer, 2001b: 38;
Phillips 5).
A possibilidade de experiências anteriores de aprendizagem influenciarem
negativamente as crianças não se coloca tanto como nos adultos, pois, as crianças em
virtude da sua tenra idade, não possuem muitas experiências de aprendizagem formal. O
cérebro da crianças está ainda em desenvolvimento, pelo que as suas capacidades de
abstração e reflexão são ainda reduzidas. Precisam de contextos concretos e,
normalmente, não estão conscientes do seu estilo de aprendizagem.
Os adolescentes já são capazes de fazer exercícios de abstração, ainda que não
demasiado profundos, e de perspetivar diferentes pontos de vista. A adolescência é um
período que coloca muitos desafios ao indivíduo que, não só muda fisicamente, como se
vê envolvido num processo intenso de busca de identidade. A aprovação pelos pares é
muito importante (mais do que a aprovação do professor), bem como a pertença a um
58
grupo, pelo que podem ser relutantes a participar em atividades que os exponham perante
os outros, a não ser que saibam de antemão que se vão sair bem. Querem chamar a
atenção e ser reconhecidos pelos seus colegas, mas nem sempre escolhem o melhor
caminho.
Os casos de indisciplina não são raros entre os adolescentes. Eles tendem a reagir
emocionalmente às situações e sentem uma grande necessidade de se afirmarem, optando
muitas vezes pelo confronto e pela medição de forças para o fazer.12 No entanto, quando
se sentem verdadeiramente envolvidos numa atividade, os adolescentes demonstram
grande criatividade e capacidade de compromisso (Harmer, 2001b: 39).
No caso dos adolescentes, as experiências de aprendizagem anteriores são muito
importantes. Tal como refere Harmer “[c]ada fracasso predispõe-nos para mais fracasso,
cada sucesso dá origem à esperança de mais sucesso” (Harmer, 2001a: 11). Insucessos
anteriores podem levar ao desânimo aprendido (learned helplessness) que, infelizmente, é
bem mais comum do que o que seria desejável.
12 Ver subcapítulo “O cérebro do adolescente”.
São muito frequentes comentários como Não percebo nada de Inglês!
Nunca percebi, não é agora que vou perceber. Se fossem apenas ditos irrefletidos,
nada haveria de grave neles, mas o problema é que espelham uma atitude de
resignação perante a dificuldade, total desmotivação e resistência à aprendizagem.
Não é fácil para o professor conseguir arrancar as raízes do desânimo aprendido.
Na escola onde lecionei nos últimos três anos, o grau de aproveitamento
dos alunos a inglês não é muito elevado e o desânimo aprendido é bem patente. No
meu contacto com os encarregados de educação fui-me apercebendo de que, talvez
inconscientemente, alguns pais reforçam este desânimo ao fazerem à frente dos
filhos comentários como os seguintes: Ele nunca foi grande coisa! Já o irmão
mais velho não percebia nada de inglês! É como se houvesse uma resignação
generalizada.
59
Os adultos possuem características únicas, muitas delas originadas pelas suas
experiências de vida. Quando um adulto entra numa sala de aula leva consigo toda a sua
bagagem experiencial. Ao ser dono de um leque alargado de experiências, as chances de
poder relacionar a informação a aprender com a já existente aumentam. O professor deve
fazer uso destas experiências para que a aprendizagem se possa tornar mais significativa
para o adulto.
As experiências dos adultos, o seu conhecimento do mundo e de diferentes
contextos podem ainda ser utilizados para conjeturarem sobre palavras e expressões
desconhecidas (Pinter 17-8).
Como já vimos, as experiências de aprendizagem anteriores podem condicionar o
adulto relativamente ao que acha serem os métodos adequados para o processo de ensino-
aprendizagem. Estes podem ter ideias já concebidas sobre a forma como devem ser
ensinados e podem ser críticos relativamente aos métodos de ensino utilizados (Harmer,
Como formadora de adultos fui-me apercebendo da importância de lhes
dar espaço para contarem as suas experiências e peripécias. Ainda que, por vezes,
possa parecer desperdício de tempo útil de aula, não o é, pois os benefícios
ultrapassam largamente os possíveis prejuízos. Ao ter a possibilidade de relatar as
suas experiências, o adulto sente que também tem algo de importante a dar, o que
favorece a sua autoestima e sentimento de pertença. Estes momentos são para o
professor uma “janela de entrada” no mundo daquela pessoa: começamos a
conhecer melhor o seu contexto e a perceber como abordar os vários temas de
forma a que se tornem relevantes para o adulto. Por outro lado, servem também
para estreitar laços entre os vários elementos da turma e criar um ambiente de
cooperação. No entanto, cabe ao professor estar atento a estes momentos e atuar
como moderador, pois há pessoas que, por uma questão de temperamento ou de
carência afetiva, tendem a manipular estas ocasiões e a impor as suas
experiências.
60
2001b: 40). Pelo que pude constatar no trabalho que desenvolvi com adultos,
normalmente isso não é um obstáculo.
O stress, porém, funciona como um obstáculo ao funcionamento do cérebro e,
consequentemente, à aprendizagem.13 No caso dos adultos, o stress é normalmente
causado pela pressão de ter de conciliar a vida familiar com a profissional e com o
estudo. Encontrar um equilíbrio entre estes três vetores nem sempre é fácil.
13 Ver subcapítulo “O cérebro do adulto”.
A maior parte das formações que dei a adultos foram em horário pós-
laboral, o que implica que, na maior parte das vezes, as pessoas deixam de
estar com as suas famílias para poderem assistir às sessões de formação. Deste
modo, o tempo que passam nas aulas tem mesmo de valer a pena, ou seja, as
pessoas têm de sentir que, de facto, estão a aprender e também têm de se sentir
bem no ambiente de sala de aula. Mesmo para quem tem objetivos bem
definidos, a escolha entre um ambiente de tensão e o conforto do lar não é
difícil.
No caso deste tipo de formações o ambiente de sala de aula é crucial.
Não nos podemos esquecer de que as pessoas estão lá depois de um dia de
trabalho, pelo que deveremos saber estabelecer um equilíbrio entre momentos
de trabalho mais intenso e momentos de maior descontração.
Na realidade estamos a lidar com as perceções que as pessoas têm do
que é trabalho e do que é descontração, porque o trabalho está sempre presente.
Ler e interpretar um texto ou ouvir e interpretar uma canção são ambas tarefas
de grande valia no ensino de uma língua estrangeira, assim como fazer um
exercício de gramática ou um jogo de mímica para rever vocabulário. No
entanto, a ideia que as pessoas têm relativamente a estas tarefas é que umas são
trabalho duro e outras momentos de descontração. Mais uma vez, o segredo
parece ser a diversificação de atividades: é uma win-win situation, na qual
todos os participantes beneficiam.
61
Apesar de a dificuldade de conjugar os seus vários papéis (pai/mãe,
marido/esposa, profissional, aprendente) ser frequentemente a maior fonte de stress para
o adulto, este também pode advir de elevados níveis de ansiedade causados pela
exposição a outros ou por situações anteriores de fracasso.
Conforme refere Harmer, os adultos têm expectativas relativamente ao processo
de aprendizagem (2001b: 40). Na minha perspetiva, a questão das expectativas é das mais
sensíveis, mais importantes e mais complicadas no ensino de adultos. Expectativas
frustradas são um grande fator de desmotivação.
No trabalho com adultos pude ir constatando que estes trazem
normalmente expectativas demasiado elevadas e desajustadas da realidade.
Na maioria das vezes esperam mais de um curso do que este pode oferecer,
pensando que depois de frequentarem um curso de trinta ou cinquenta horas
passarão a falar fluentemente a língua estrangeira.
No ensino de adultos uma das mais importantes tarefas do professor
é a de gestor de expectativas. Se, por um lado, não podemos matar os
sonhos às pessoas, por outro, temos de as trazer à realidade. É por isso que
fui aprendendo que a primeira aula é crucial, e agora começo sempre por
um levantamento das expectativas da turma - o que esperam aprender, o que
esperam ser capazes de conseguir fazer no final do curso - e confronto-a
com o plano do curso. Havendo essa possibilidade, negoceio um ou outro
tema com a turma, fazendo um pouco uso do método de self-government a
que Piaget se referia. Depois deste confronto, procuro deixar bem claro que
o nível a que poderão chegar será, em grande parte, determinado pela sua
vontade e empenho. Tento desta forma estabelecer um equilíbrio entre as
expectativas dos adultos e aquilo que o curso tem para oferecer. Este foi um
caminho que aos poucos fui descobrindo, mas não duvido de que com o
decorrer dos anos possa encontrar outros.
62
Os adultos tendem a ser mais disciplinados e a estar mais preparados para
perseverar (Harmer, 2001b: 40). Isto pode dever-se ao facto de normalmente terem bem
definidos os objetivos pelos quais estão a aprender uma língua, sejam eles intrínsecos ou
extrínsecos.
Os adultos são capazes do pensamento abstrato, uma vez que, como vimos
anteriormente, os seus lobos frontais já estão totalmente desenvolvidos. Isto significa que
são capazes de participar em atividades mais complexas e que sabem adiar a recompensa,
pelo que lidam melhor com objetivos a longo-prazo do que as crianças e os adolescentes.
Esta capacidade permite-lhes analisar a linguagem de forma abstrata e colocar
deliberadamente hipóteses sobre as características de outra língua, tal como refere
Annamaria Pinter. Podem comparar padrões e formas linguísticas semelhantes ou
diferentes dos da sua língua materna (17-8).
Com grupos de adultos não costuma haver problemas de disciplina, mas estes
também podem ser perturbadores e cansativos, sobretudo porque podem ser muito
conversadores ou porque chegam tarde às aulas (Harmer, 2001a: 11). Os atrasos podem,
efetivamente, ser um elemento perturbador, bem como as faltas.
Na idade adulta todas as áreas do cérebro já estão desenvolvidas. Assim, os
adultos são capazes de mais facilmente refletir sobre o seu processo de aprendizagem e
perceber quais as estratégias que melhor se adequam a si próprios, embora nem sempre
estejam conscientes da importância da metacognição.
Lightbrown e Spada fazem também referência a alguns aspetos relacionados com
o contexto de aprendizagem: freedom to be silent, ample time, corrective feedback,
modified input. Na minha opinião, estas questões (à exceção da relacionada com o tempo)
têm a ver com o contexto específico de cada sala de aula e com a prática específica de
Curiosamente, ao longo do tempo pude ir verificando que os problemas de
pontualidade e assiduidade são mais frequentes nas formações in-company. Apesar de
acontecer em menor escala do que com adolescentes, também existem algumas
situações em que o professor tem de atuar como gestor de conflitos.
63
cada professor. Julgo que seria mais interessante analisar fatores relacionados com um
âmbito mais alargado.
Que importância tem determinada língua numa sociedade ou comunidade
específica? Se a globalidade da população considerar uma língua importante, maiores
serão as hipóteses de o próprio aprendente a achar importante. Tomemos o caso do
alemão em Portugal. Na maioria dos casos, este idioma tem para as pessoas um grau de
importância reduzido, o que pode, em parte, explicar a fraca adesão a esta disciplina. No
entanto, em comunidades com forte tradição de emigração para a Alemanha ou a Suíça o
grau de relevância dado a esta língua é maior. É preciso ter obviamente em conta que,
nesta situação, o objetivo de aprendizagem da língua se torna, geralmente, muito mais
concreto. Aprende-se o idioma para se falar com os familiares que entretanto nasceram
no país de acolhimento ou para, mais tarde, ir para lá trabalhar.
O tempo de exposição à língua é um fator muito importante. Não me
refiro ao contexto de sala de aula, mas sim ao tempo que os sistemas educativos
contemplam para o ensino da língua. Ter uma aula de língua estrangeira uma ou
duas vezes por semana é bem diferente de ter aulas todos os dias. É necessário
que haja uma adequação entre aquilo que é esperado dos alunos e as condições
que lhes são dadas para atingir esse objetivo. Quando o domínio do inglês é visto
como um instrumento essencial de trabalho e como um fator de competitividade,
é difícil perceber como uma aula semanal de noventa minutos pode ser suficiente
para uma turma de 9.º ano. Lightbrown e Spada afirmam mesmo que “[u]ma ou
duas horas por semana – mesmo durante sete ou oito anos – não produzirá
falantes muito avançados de uma segunda língua” (187). Esta exposição reduzida
acaba por causar um sentimento de frustração nos alunos que pensam e chegam
inclusivamente a verbalizar o seguinte: “Tanto tempo a estudar uma língua e não
sei dizer nada.”
64
Para além do tempo do previsto nas matrizes curriculares, é também preciso
considerar as oportunidades de exposição à língua fora do contexto de sala de aula. O
acesso a bens culturais como livros, filmes, discos e canais estrangeiros tem também
influência na aprendizagem de uma língua, pois é não só uma forma indireta de
aprendizagem, como aumenta o tempo de exposição à língua. Uma sociedade que
disponibiliza na televisão e no cinema filmes não dobrados aumenta o contacto dos seus
cidadãos com determinada língua. Um aluno de inglês está à partida muito mais exposto
à língua que estuda do que um aluno de alemão.
65
5. A AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO
Aquisição e aprendizagem são termos frequentemente utilizados para a expressão
de um mesmo conceito, mas Stephen Krashen fez uma clara distinção entre os dois. De
acordo com este autor a aquisição (acquisition) descreve um processo de aprendizagem
da segunda língua idêntico ao utilizado na aprendizagem da língua materna (8). Este
processo do qual o sujeito raramente está consciente é correspondente à forma natural de
se aprender, não havendo uma preocupação com as questões da forma linguística (Stern
20). Pelo contrário, a aprendizagem (learning) diz respeito a um processo consciente, que
se relaciona fortemente com as regras de uma língua e com a aprendizagem formal da
mesma (Krashen 8; Stern 20). Porém, como refere Stern, esta distinção traz alguns
problemas, uma vez que não coincide com a terminologia utilizada na Psicologia e
provoca uma restrição ao uso do termo aprendizagem, que passa a designar apenas a
aprendizagem escolarizada (20).
A palavra “aquisição”, utilizada neste capítulo, não deve ser encarada no sentido
estrito que Krashen lhe atribui. Refiro-me a aquisição de uma forma geral, pretendendo
englobar a aprendizagem que não é consciente, mas também a que é; a aprendizagem que
surge naturalmente e a que é fruto de um processo formal.
Este capítulo está dividido em duas partes: a primeira pretende perspetivar a
aquisição de vocabulário do ponto de vista do aprendente; a segunda, intitulada O ensino
de vocabulário, assume o ponto de vista do professor, naquilo que este deve saber e fazer
para auxiliar o aluno a melhorar o seu léxico.
5.1. A aprendizagem de vocabulário
Quando pensamos em vocabulário, pensamos imediatamente em palavras. Mas o
que é uma palavra? Como dizem John Morgan e Mario Rinvolucri, cada palavra é um
mundo (10). É na verdade, um mundo com forma e conteúdo, que estabelece relações
com outros mundos.
66
Existem dois tipos de palavras: gramatical words (palavras como preposições,
conjunções, determinantes, etc) e content words (palavras que transportam uma grande
carga de informação, palavras com significado lexical). O primeiro tipo constitui um
grupo fechado, enquanto o segundo é um grupo aberto, uma vez que não há limite para o
número de novas palavras que podem ser adicionadas (Thornbury 4).
Aprender uma palavra, qualquer que seja o seu tipo, implica, de uma forma muito
geral, aprender o seu significado e a sua forma. É importante referir que aprender
vocabulário não significa unicamente aprender palavras isoladas, mas também language
chunks, que, segundo Harmer, são “unidades pré-fabricadas” (Harmer, 2001b: 21). São
expressões formadas por um grupo de palavras, que são armazenadas na nossa memória e
recuperadas como conjuntos. Podem ser, por exemplo, expressões idiomáticas, phrasal
verbs ou expressões fixas.
5.1.1. O léxico mental
A linguagem que vamos adquirindo, sob a forma de palavra isolada ou de
language chunks, vai ficando armazenada numa “estrutura” em permanente construção –
o léxico mental. De acordo com Ana Bernardo [o] léxico mental designa aquela parte da memória semântica (onde se
armazenam os conceitos) que processa, de forma interactiva e paralela, a informação
fornecida por cada palavra (ao nível gráfico, fonológico, morfológico, sintáctico e
semântico), durante a recepção e a produção linguística, articulando conceito e
significado da palavra aos diferentes níveis, consoante a natureza cognitiva da tarefa que
está a realizar num determinado momento.” (Bernardo 29)
Para Thornbury, o léxico mental é “... é um sistema sobreposto, no qual as
palavras são armazenadas como ‘entradas duplas’ – uma contendo informação sobre o
significado e a outra sobre a forma” (17). Este sistema é como se fosse uma rede de
associações composta por duas macrocomponentes: a forma e o significado. É com base
nestas duas componentes que o nosso conhecimento das palavras é organizado. Palavras
67
com uma forma semelhante parecem estar interligadas, mas o mesmo acontece com
vocábulos que se relacionam em termos de significado (Thornbury 16-7).
Se as palavras são armazenadas com base na forma e no significado, quererá isso
dizer que lhes podemos aceder através de ambas as vias? Tudo parece indicar que sim,
mas há estudos que sugerem que a via do significado é mais utilizada.
Partindo do princípio de que a rapidez da resposta reflete o sistema lexical,
Freedman e Loftus testaram a teoria pedindo a um grupo de pessoas que realizassem duas
tarefas diferentes: 1) indicar um fruto começado pela letra p; 2) indicar uma palavra
começada por p que fosse um fruto. A resposta à primeira tarefa foi mais rápida que a
segunda. Apesar de ambas as tarefas incluírem aspetos relacionados com o significado e
com a forma, na primeira o enfoque é o significado e na segunda a forma (Gairns &
Redman 88). Os resultados sugerem que o cérebro está mais predisposto para procurar
informação com base no significado do que com base na forma.
Um aprendente não é uma tabula rasa, e antes de iniciar a aprendizagem de uma
língua estrangeira já possui um léxico mental. Mas como se enquadra, então, a
aprendizagem do vocabulário em língua estrangeira? Será que este é incorporado no
léxico mental já existente? Ou será que se cria um léxico mental independente para a
língua estrangeira? Ao afirmar que “[a]prender uma segunda língua implica aprender um
novo sistema conceptual e construir uma nova rede de vocabulário – um segundo léxico
mental”, Thornbury parte do princípio de que a aprendizagem de uma segunda língua
implica a criação de um novo léxico mental (18).
5.1.2. O esquecimento de vocabulário
Se é certo que memorizamos palavras e as integramos no léxico mental, também é
certo que as esquecemos. Segundo Feinstein, de uma forma geral, o esquecimento
manifesta-se através de um processo de eliminação de informações recentes e através da
deterioração das memórias já armazenadas (Feinstein 231), o mesmo se aplicando ao
vocabulário.
68
Segundo Thornbury os fatores que levam ao esquecimento das palavras são a
ausência de oportunidades para as usar, a interferência de outras aprendizagens e a
reciclagem insuficiente (26). Conforme foi referido no primeiro capítulo, o nosso cérebro
rege-se pelo princípio use it or lose it. O vocabulário não é exceção. Se não usarmos as
palavras, acabamos por as esquecer. Para que isso não aconteça, devemos proporcionar
aos nossos alunos várias oportunidades para usarem o vocabulário aprendido. Estas
atividades não têm de assumir a forma de exercícios de vocabulário, podendo ser
atividades de escrita ou de produção oral, por exemplo.
Note-se, contudo, que a aprendizagem de uma palavra nova, que seja muito
semelhante a outra já aprendida, pode levar ao esquecimento do vocábulo aprendido
anteriormente. Tal como refere Thornbury, “[a]s novas palavras têm o efeito de
‘sobrescrever’ o material previamente aprendido” (26).
Quando se aprende mais do que uma língua estrangeira ao mesmo tempo, há
ainda outra situação interessante a verificar: a interferência provocada pela aprendizagem
de outra língua. De facto, não são raros os casos de alunos que, a meio de uma
composição em inglês, incluem algumas palavras francesas ou palavras inglesas num
texto em alemão. Sempre que aprendizagens prévias interferem com novas
aprendizagens, está-se perante um processo de interferência proativa. O processo inverso,
ou seja, a interferência de novas aprendizagens com aprendizagens antigas, designa-se
por interferência retroativa (Feinstein 232).
5.1.3. Tipos e dimensão de vocabulário
Quem estuda uma língua estrangeira, qualquer que seja, sabe bem que
aprendizagem de vocabulário é um processo contínuo que nunca está concluído. Sabe
também que essa aprendizagem é feita dentro e fora da sala de aula. Está ainda ciente de
que algumas palavras são aprendidas autonomamente e outras com ajuda. E, ainda que
não saiba os termos técnicos para explicar a situação, sabe que há palavras que não é
capaz de usar, mas que é capaz de compreender quando estão em contexto.
69
A aprendizagem de uma língua pode ser formal, quando se faz em contexto
escolar, ou informal, quando essa aprendizagem é adquirida por contacto com os mass
media, a vizinhança e a família, entre outras situações. Muitas vezes, é da combinação
destas duas formas que resulta a aprendizagem de uma língua estrangeira. Um bom
exemplo disso é o caso da maioria dos alunos portugueses. Há alguns anos, o contacto
com a língua estrangeira resumia-se quase exclusivamente à sala de aula. Atualmente,
com a massificação dos meios de comunicação e a proliferação das novas tecnologias, há
mais oportunidades para a aprendizagem informal (sobretudo no que diz respeito ao
inglês), o que pode interferir de forma positiva na aprendizagem de vocabulário, visto
que os alunos estão mais expostos à língua.
Dentro do contexto formal de aprendizagem de uma língua pode ocorrer a
aprendizagem incidental de vocabulário. A aprendizagem incidental acontece quando
aprendemos vocabulário, apesar do foco da atenção estar numa atividade não designada
para o efeito. É como se fosse um produto colateral de uma atividade diferente.
O nosso conhecimento das palavras pode ser recetivo ou produtivo. O
vocabulário recetivo (ou passivo) diz respeito a itens vocabulares que só reconhecemos e
compreendemos em contexto, enquanto que o vocabulário produtivo (ou ativo) inclui
palavras que conseguimos recordar e usar adequadamente (Gairns & Redman 64-5). Tal
como Scott Thornbury refere, o nosso conhecimento recetivo de vocabulário excede o
produtivo e, normalmente, precede-o. Somos capazes de compreender mais palavras do
que as que proferimos e antes de utilizarmos as palavras, percebemo-las (15).
Sendo certo que o nosso vocabulário recetivo é mais alargado que o produtivo,
podemos refletir um pouco sobre a questão da extensão do vocabulário. No caso do
inglês, Thornbury indica as 2000 – 3000 palavras como um número condizente com um
core vocabulary, ou seja, vocabulário básico (20, 21). De acordo com Murcia “... um
vocabulário básico de cerca de duas mil palavras é responsável por aproximadamente 80
por cento do que ouvimos e vemos” (287). As palavras que integram o core vocabulary
são normalmente hiperónimos, palavras utilizadas para definir outras e palavras com
várias coocorrências (Thornbury 34-5).
A meu ver, do ponto de vista do aprendente, a quantificação não é um aspeto
muito relevante. Se pensarmos em termos práticos, ninguém se põe a contar o número de
70
palavras que sabe e, no limite, o que conseguiria fazer seria quantificar o seu vocabulário
produtivo. Mas e o vocabulário recetivo?
A dimensão do vocabulário que cada pessoa deve aprender está obviamente
dependente dos seus objetivos e das suas necessidades, que variam com o tempo e com as
situações.
5.1.4. Estratégias para a aprendizagem autónoma de vocabulário
Se é verdade que aprendemos determinadas palavras sozinhos, talvez seja
pertinente questionarmo-nos sobre as estratégias, que de forma autónoma, cada pessoa
pode utilizar para aprender vocabulário. Como é óbvio, não nos referimos à
aprendizagem incidental, mas a uma aprendizagem consciente e deliberada. Gairns e
Redman apresentam três estratégias (76 – 85):
• perguntar a outros – perguntar o significado parece ser a atitude mais
natural quando nos deparamos com uma palavra que não compreendemos.
Se pensarmos numa situação de diálogo, perguntar o que significa
determinada palavra é passível de acontecer quando somos o recetor da
mensagem. No entanto, quando assumimos o papel de emissores, esse
cenário já não se coloca. O mais comum neste caso é a pessoa tentar,
através de uma clarificação do contexto, eliciar o vocábulo. Para clarificar
o contexto a pessoa pode recorrer a gestos e mímica, mas pode também
fazê-lo verbalmente. No entanto, conforme referem Gairns e Redman, os
professores devem fornecer aos alunos meios linguísticos que lhes
permitam utilizar esta estratégia (por exemplo, It’s the thing you use for...
(beating eggs), It’s the place where you... (wait for the doctor)). Se há
pessoas que usam esta estratégia instintivamente, outras precisam de
treinar este mecanismo.
• utilizar o dicionário – a utilização do dicionário permite a aprendizagem
autónoma de vocabulário dentro e fora da sala de aula. Este é um
71
instrumento valioso que nos pode dar muita informação, quando bem
utilizado; torna-se pois necessário treinar os alunos no seu uso. Tal como
diz Virginia Allen, os dicionários são passaportes para a independência
(83).
Para crianças recomenda-se o uso de picture dictionaries.
• inferir o significado através do contexto – deduzir o significado de uma
palavra através do contexto ou mesmo através da própria palavra
(decompondo-a em unidades menores, identificando afixos...) é uma
estratégia óbvia para determinadas pessoas, mas não para outras. Segundo
Celce-Murcia, “[f]azer a transição para uma aprendizagem independente
pode ser mais fácil e mais eficaz se os professores ajudarem os alunos a
aprender a reconhecer pistas para a inferência do significado de palavras
através do contexto” (290). Assim sendo, o professor deve promover
atividades que permitam aos alunos ir treinando este trabalho dedutivo.
De acordo com Gairns e Redman, uma forma de o fazer é através da
substituição de um item em particular por uma nonsense word, para que os
alunos se possam focar nos elementos que o contexto fornece e descobrir
qual a palavra em falta.
T
a
b
e
l
a
2
0
Quando faço este tipo de atividade com os meus alunos,
costumo escolher a palavra banana/Banane para nonsense word.
Todos os alunos conhecem a palavra e estranham imediatamente a
sua ocorrência no texto (como é óbvio, não a utilizo em textos
relacionados com a alimentação.)
Outra hipótese é assinalar determinada palavra num texto e
fornecer ao aluno várias alternativas, sendo apenas uma delas
correspondente ao verdadeiro significado. Verifica-se que este tipo
de atividade é cada vez mais sugerido nos manuais e aparece
recorrentemente nos testes intermédios de inglês.
72
Para trabalhar a inferência de vocabulário com young learners, Sarah
Phillips apresenta uma sugestão interessante: os alunos leem um texto
maioritariamente na sua língua materna, mas com algumas palavras da
língua estrangeira à mistura. Posteriormente, sozinhos ou com a ajuda do
professor, deverão inferir o significado das palavras em língua estrangeira
(71).
Os alunos podem ainda manter cadernos de vocabulário que vão completando
com as palavras que vão aprendendo formal e informalmente. O caderno pode estar
organizado em forma de lista ou conter elementos com maior impacto visual. Listar
vocabulário acompanhado do equivalente na língua materna é a forma mais tradicional de
elaborar um caderno de vocabulário, mas não necessariamente a mais eficaz, pois como
se verá mais à frente a tradução tem várias limitações. Mais aconselhável seria, como
sugerem Gairns e Redman, colocar a palavra acompanhada de informação gramatical
(quando relevante), de uma breve explicação e de uma frase-exemplo clara e ilustrativa
do significado da palavra em questão. A listagem de vocabulário pode ser feita por temas
ou por ordem alfabética. O caderno de vocabulário pode também ser uma coleção de
mind maps, de diagramas do tipo spidergram ou de outros tipos e ainda em forma de
árvore.
Apesar de este ser um trabalho que o aprendente pode autonomamente fazer, o
professor deve mostrar aos alunos as várias formas de construir um caderno de
vocabulário. Pode, por exemplo, utilizar mind maps nas aulas e explicar aos alunos como
podem criar os seus.
Os mind maps são ótimos instrumentos de trabalho. Têm muita cor e criam um
impacto visual forte, o que só por si chama a atenção, além do que assentam numa rede
de associação de ideias, um pouco à semelhança das redes neuronais que o nosso cérebro
constrói. É curioso notar que o aspeto de um mind map se parece muito com o da
estrutura de um neurónio.
Ao elaborarmos um mind map, devemos escrever no centro o assunto principal e,
preferencialmente, associar-lhe uma imagem. A partir do centro saem ramos onde são
registadas informações importantes. Estes ramos ainda se dividem em ramificações mais
finas destinadas à informação menos relevante. Os mind maps podem constituir um
73
instrumento de trabalho privilegiado para sujeitos com uma forte inteligência visual. Vejo
esta ferramenta como mais adequada para adolescentes e adultos, mas pode também ser
utilizada por young learners quando reduzida a um nível elementar.
Para young learners, a elaboração de picture dictionaries pode ser uma alternativa
ao uso de cadernos de vocabulário, uma vez que grande parte do léxico que aprendem é
concreto. Estes dicionários por imagens devem preferencialmente ser construídos pelos
alunos de forma autónoma, mas até que eles sejam capazes o fazer será necessária
orientação do professor. À semelhança dos cadernos de vocabulário, os glossários podem
tornar-se valiosos instrumentos de aprendizagem.
Normalmente uso mind maps quando pretendo introduzir um tema novo
através de brainstorming. À medida que as ideias dos alunos vão surgindo, vou
criando no quadro o mind map com as palavras-chave que as traduzem. No entanto,
também já utilizei esta técnica para construir um resumo da matéria lecionada.
Quando ensinava um módulo técnico de inglês comercial a uma turma de
adultos, pensei que seria uma boa ideia propor-lhes a elaboração de um
glossário. No final de cada aula, depois de discutirmos quais as entradas do
glossário para aquele dia, reservava algum tempo para a elaboração da tarefa. No
fim do módulo, todos os formandos concordaram que o glossário havia sido uma
mais-valia. Baseando-me nesse feedback, quando lecionei o mesmo módulo a
jovens, resolvi adotar a mesma estratégia, que mais uma vez se revelou muito
positiva. No módulo seguinte, com a mesma turma, não exigi a elaboração de
um glossário, mas, para minha surpresa e satisfação, deparei-me com alguns
alunos a criarem o seu próprio glossário. Quantas mais estratégias dermos a
conhecer aos alunos, mais preparados eles estarão para selecionarem aquelas que
se adaptam ao seu estilo de aprendizagem.
74
Os alunos podem igualmente utilizar word cards, que consistem em cartões que
de um lado têm a palavra em língua estrangeira e do outro o correspondente em língua
materna. Podem também ter de um lado a palavra e do outro a ilustração ou, então, de um
lado a palavra e do outro informações gramaticais (como, por exemplo, no caso dos
verbos irregulares, de um lado está o infinitivo e do outro o passado e o particípio
passado). Os word cards podem ser feitos pelos alunos ou fornecidos pelo professor e
utilizados por aprendentes de qualquer faixa etária.
5.2. O ensino de vocabulário
Em contexto escolar, como o tempo de exposição à língua é limitado e existem
outros tipos de constrangimentos (como por exemplo o cumprimento das exigências dos
programas), não podemos deixar o vocabulário ao acaso e partir do princípio de que os
alunos o aprenderão somente de forma incidental (Gairns & Redman 1). É tarefa do
professor fazer um trabalho prévio de seleção de vocabulário e de planificação de
atividades para utilização do mesmo. Não obstante a importância da aprendizagem
Pessoalmente, acho que esta é uma estratégia interessante, ainda que lhe
reconheça uma grande limitação – a descontextualização. Enquanto aluna,
utilizei-a pela primeira vez para aprender os verbos irregulares em alemão. Dessa
vez os word cards não foram feitos por mim, mas antes fornecidos pelo professor.
Já cheguei a levar a minha caixinha dos verbos irregulares para a aula, no sentido
de motivar os alunos a tentarem esta estratégia, mas não funcionou. Pensando
bem, se o meu professor de alemão não tivesse fornecido os cartões, talvez nunca
tivesse experimentado esta estratégia, o que me leva a concluir que, de futuro, o
melhor será disponibilizar aos alunos os word cards.
75
incidental, o professor deve agir deliberadamente no que diz respeito ao vocabulário, não
descurando a liberdade do aluno de escolher as palavras que quer ou precisa de aprender.
5.2.1. A seleção de vocabulário
Mas, então, que vocabulário devemos ensinar? Que parâmetros deveremos ter em
conta aquando da sua seleção? O critério geral utilizado na seleção de vocabulário é a sua
utilidade. O conceito de utilidade é muito subjetivo e variável, o que é útil para uns não é
para outros. Como operacionalizar este critério geral? John Potts indica dois aspetos
importantes a considerar (38):
• a frequência (frequency) – palavras que são utilizadas mais
frequentemente que outras serão, à partida, mais úteis. Dicionários como o
Duden online já fornecem informação sobre a frequência das palavras. É
óbvio que a questão da frequência de determinada palavra tem de ser
articulada com o propósito do ensino da língua estrangeira. A palavra
alemã Kompresse (compressa) é assinalada no referido dicionário como
sendo de baixa frequência; no entanto, em contexto médico, é muito
comum. Num curso de alemão para fins específicos, vocacionado para a
área da medicina, seria fundamental selecionar esta palavra.
No caso do sistema português de ensino público, no qual a carga horária
atribuída ao inglês e ao alemão é manifestamente reduzida, considero de
primordial importância o trabalho do professor na planificação do ensino do
vocabulário. Regra geral, do 1.º ao 11.º anos de escolaridade, os alunos têm apenas
duas aulas de língua estrangeira por semana e, em alguns casos, apenas uma. Em
virtude desta situação, devemos tirar o máximo partido do tempo que temos
disponível e ser altamente intencionais no nosso trabalho, o que não significa que
não haja espaço para a aprendizagem incidental.
76
• e o espetro de utilização (range) – há palavras que têm um espetro de
utilização mais alargado e que, portanto, são mais úteis. A palavra thin
serve mais propósitos do que slender.
Gairns e Redman fazem referência a outros aspetos merecedores da nossa atenção
(59-64):
• fatores culturais (cultural factors) – há palavras que são muito relevantes
em determinadas culturas, mas não em outras. Por exemplo, as nove
palavras diferentes que os esquimós usam para designar “neve” e “gelo”
não têm grande valor para quem vive nos trópicos.
• necessidade e nível (need and level) – uma pessoa que está a aprender
alemão porque vai emigrar para a Alemanha para trabalhar como
enfermeira/o tem necessidade de aprender vocabulário diferente de alguém
que quer aprender a língua porque vai fazer turismo. O tipo de vocabulário
a selecionar deve ser ajustado ao nível dos alunos. Alunos de iniciação
precisam de vocabulário elementar, mas à medida que vão progredindo na
aprendizagem da língua, vai sendo necessário o ensino de léxico mais
complexo.
• conveniência (expediency) – a aprendizagem de determinados itens
lexicais é muito conveniente para o próprio desenrolar da aula; um
exemplo disso é a terminologia gramatical e o vocabulário relativo às
instruções.
Em algumas formações que dei a adultos era totalmente responsável pela
escolha de conteúdos temáticos, pelo que grande parte da seleção de vocabulário
era feita por mim. Refletindo sobre as decisões que tomei, chego à conclusão de
que nem sempre foram as melhores, pois não respeitei todos os aspetos acima
referidos. Por vezes, seguimos a tendência natural de ensinar o que nos foi
ensinado e da forma como nos foi ensinado. Atualmente, seria mais criteriosa, já
que estou mais consciente dos aspetos que devem reger a escolha de vocabulário.
77
No ensino regular, parte da seleção de vocabulário é feita pelos autores dos
manuais. Segundo Scott Thornbury, esta seleção é normalmente feita de acordo com os
seguintes fatores: usefulness (utilidade), frequency (frequência), learnability (facilidade
em ser aprendido) e teachability (facilidade em ser ensinado) (34). Uma vez que os dois
primeiros itens já foram analisados, centrar-me-ei agora nos últimos dois.
Há palavras, que pela sua semelhança com a língua materna, são muito fáceis de
aprender, como por exemplo hospital. Mas haverá necessidade de palavras desta natureza
serem alvo de uma seleção? Não serão elas aprendidas pelos alunos de forma incidental?
Será a learnability um critério verdadeiramente relevante?
Teachability consiste na facilidade de ensinar uma palavra. Uma palavra é mais
fácil de ensinar quando é possível demonstrá-la ou ilustrá-la. Julgo que só faz sentido
considerar este critério quando a palavra satisfaz outros requisitos como frequência,
espetro de utilização, necessidade e nível. Na minha perspetiva, teachability por si só não
é um parâmetro suficientemente relevante. Qual a vantagem de selecionar uma palavra
pelo facto de ser fácil de ensinar, se esta não se revela necessária para os alunos?
Grande parte da seleção de vocabulário é feita pelos autores dos manuais, mas
estes são alheios à especificidade de cada meio escolar, pelo que cabe ao professor fazer
uso da máxima adapt, don’t adopt. Não se pode viver uma “ditadura do manual”.
Depois de feita a seleção do vocabulário, o professor deve ainda decidir
relativamente aos itens lexicais que deverão fazer parte do conhecimento produtivo e aos
que ficarão apenas como conhecimento recetivo (Gairns &Redman 54-65). Como é claro,
nada pode garantir que haja uma correspondência entre a decisão que o professor faz e o
que, de facto, acontece. Esta decisão é importante para o professor planear o seu trabalho.
Os itens selecionados para integrar o vocabulário produtivo dos alunos serão alvo de um
trabalho mais intenso, de forma a que os alunos os possam utilizar frequentemente.
5.2.2. Fontes de vocabulário em contexto de sala de aula
Numa sala de aula, a que materiais se pode recorrer para alargar o vocabulário?
Scott Thornbury menciona os manuais, o professor, os alunos, os livros de vocabulário,
78
as listas de vocabulário, textos curtos, livros de histórias, dicionários e corpora como
possíveis fontes de vocabulário (32-74).
Os manuais, o professor e os alunos são fontes evidentes de vocabulário numa
aula. Os livros de vocabulário não são usualmente utilizados na aula, mas podem
constituir um ótimo instrumento de trabalho autónomo e um recurso que o professor
utiliza na elaboração de fichas de trabalho. English Vocabulary in Use e English
Vocabulary Organiser são bons exemplos de livros deste género em língua inglesa.
As listas de vocabulário como um material de trabalho fornecido pelo professor
aos alunos caíram um pouco em desuso. Uma das desvantagens das listas é que o
vocabulário não está contextualizado. Normalmente consistem em duas colunas, uma
com as palavras na língua estrangeira e outra com os equivalentes na língua materna. Ora,
este tipo de lista não requer qualquer trabalho por parte do aluno, a não ser a
memorização. O aluno não tem de tomar nenhuma decisão quanto ao significado das
palavras e, quanto mais este tiver de pensar sobre o significado da palavra, maior será a
probabilidade de esta ficar gravada na sua memória. Contudo, o uso de listas de
vocabulário também tem as suas vantagens, pois permite aos alunos testarem-se a si
próprios e adquirirem muitas palavras num curto espaço de tempo. “Alguns
investigadores estimam que possam ser aprendidas deste modo até trinta palavras por
hora.” (Thornbury 33).
Eu já experimentei a utilização de listas de vocabulário. Tinha uma turma de
11.º ano com fraco aproveitamento à disciplina de inglês. Antes de iniciar a unidade
relativa ao tema “Ambiente”, resolvi dar aos alunos uma lista de vocabulário.
Percorri a unidade no manual e fiz um levantamento de palavras importantes
relacionadas com o tema. Para além das palavras que recolhi do manual, decidi
incluir outras que considerava relevantes. Elaborei, então, uma lista de vocabulário
com duas colunas, uma em inglês e outra em português, mas sem correspondência
direta. Em trabalho de pares, foi tarefa dos alunos fazer corresponder as expressões
portuguesas às inglesas. Posteriormente foi feita a correção do exercício. Esta
atividade tinha um duplo objetivo: 1) ensinar vocabulário relevante que apareceria
nos textos a trabalhar na unidade, de maneira a simplificar um pouco as atividades de
leitura (de que os alunos não gostavam e nas quais tinham muitas dificuldades); 2)
fornecer aos alunos uma compilação de vocabulário, de fácil consulta, a que
pudessem recorrer em caso de dúvida.
O balanço global da atividade não foi muito positivo, pois verifiquei que esta
79
Os textos curtos são fontes privilegiadas de vocabulário. O facto de as palavras
estarem em contexto e de o seu tamanho permitir um trabalho mais pormenorizado são os
seus maiores benefícios. Para além dos textos presentes no manual, o professor pode
selecionar outros que considere importantes. Tal como refere Thornbury, os textos podem
ser escritos ou orais, ser mais ou menos formais e de vários géneros (desde artigos de
revistas a textos literários) (54-6).
Os livros de histórias, sejam eles autênticos ou adaptados (readers), também
proporcionam o contacto com palavras em contexto. Ao longo de um livro, o leitor vai
deparar-se várias vezes com as mesmas palavras. Não há forma mais natural de repetição.
nos textos a trabalhar na unidade, de maneira a simplificar um pouco as atividades de
leitura (de que os alunos não gostavam e nas quais tinham muitas dificuldades); 2)
fornecer aos alunos uma compilação de vocabulário, de fácil consulta, a que pudessem
recorrer em caso de dúvida.
O balanço global da atividade não foi muito positivo, pois verifiquei que esta
resultou apenas com os bons alunos, com os quais outras atividades teriam tido o
mesmo tipo de efeito. Os alunos com fraco aproveitamento, que eram a minha maior
preocupação no momento, não beneficiaram muito da lista de vocabulário. A
experiência que tenho como aluna de línguas e enquanto professora (através do que
observo) leva-me a concluir que as listas de vocabulário funcionam bem como
instrumento de estudo, especialmente quando são feitas pelos alunos.
Durante o período de estágio criei com as minhas três colegas e a Orientadora
de Inglês uma Biblioteca de Turma para o 7.º ano. Com dinheiro que o núcleo de
estágio anterior e o nosso haviam angariado, comprámos livros suficientes para que
todos os alunos pudessem ler um. A experiência foi muito interessante. Verificámos
que a maioria dos alunos lia de facto os livros e que gostava de o fazer. Trocavam
inclusivamente impressões uns com os outros, recomendando os livros de que
tinham gostado aos colegas mais próximos. É difícil avaliar o vocabulário que
aprenderam com as suas leituras, mas a verdade é que no momento de trabalhar a
leitura extensiva, não tiveram grandes dificuldades.
80
Os dicionários podem ser uma fonte muito rica de vocabulário, mas é necessário
que os alunos estejam treinados no seu uso. Alunos de níveis mais elementares poderão
usar dicionários bilingues, enquanto alunos de níveis mais avançados deverão trabalhar
com dicionários unilingues. Sendo possível, devemos dar preferência ao trabalho com
dicionários unilingues, pois tal como Scott Thornbury observa, “[a]o sugerirem uma
correspondência de um para um entre palavras na L1 e na L2, eles [os dicionários]
normalmente simplificam as questões” (61).
aprenderam com as suas leituras, mas a verdade é que no momento de trabalhar a
leitura extensiva, não tiveram grandes dificuldades.
A utilização de dicionários, monolingues e bilingues, era amplamente
trabalhada na extinta disciplina de Técnicas de Tradução de Inglês (T.T.I.).
Atualmente, no caso do inglês, é sobretudo nos manuais escolares do 10.º ano
que a utilização de dicionários monolingues é contemplada e não de forma
muito aprofundada.
O programa de 10.º ano da disciplina é demasiado extenso e, muitas
vezes, esta questão é vista en passant. Futuramente, não hesitarei em dedicar
uma aula inteira ao uso do dicionário, pois a sua correta utilização não só dá aos
alunos um elevado grau de autonomia como também possibilita economizar
tempo em determinadas atividades.
No caso do alemão é importante que, desde cedo, se ensine os alunos a
trabalhar com o dicionário, pois poderão recorrer a este instrumento para
consultar o género e o plural das palavras.
81
Os corpora, que se tornaram mais acessíveis graças às novas tecnologias,
permitem-nos perceber se um vocábulo é muito ou pouco frequente, quais as suas
coocorrências mais comuns e fornecem exemplos da sua utilização em contexto. Nunca
trabalhei com corpora, mas será uma hipótese a explorar com turmas mais avançadas.
Na sua enumeração das fontes de vocabulário em sala de aula, o autor não
considera outros materiais, como jogos ou cartazes, que podem constituir um manancial
interessante de vocabulário.
Quando pensamos em ensinar vocabulário, não temos de recorrer imediatamente à
palavra escrita. Uma canção pode servir como fonte de novo vocabulário, bem como
qualquer outro tipo de texto oral. O vídeo, quer seja sob a forma de cinema ou de
documentário, pode ser um ótimo recurso. Na sociedade em que vivemos não podemos
esquecer ainda o contributo das novas tecnologias. Quando devidamente utilizada, a
Internet pode constituir uma fonte riquíssima de vocabulário. De simples jogos de
legendagem ou de procura de pares a webquests sobre determinados temas, há um mundo
de possibilidades ao nosso dispor. Com young learners uma atividade tão simples como
pesquisar um animal para cada letra do alfabeto pode ser um ótimo exercício para
melhorar não só o seu vocabulário, mas também o seu conhecimento do mundo.
5.2.3. Aspetos a ter em conta no ensino de vocabulário
Depois de selecionado o vocabulário há uma questão que se impõe: Quantas
palavras devemos ensinar numa aula? Do ponto de vista do professor, considero
importante a quantificação, pois esta serve como um guia orientador do seu trabalho e
auxilia na delineação de um objetivo.
Gairns e Redman sugerem que numa aula de 60 minutos sejam, em média,
apresentados 8 a 12 itens vocabulares a integrarem o conhecimento produtivo. A
variabilidade no número de itens lexicais é condicionada por fatores como a facilidade de
ilustrar o seu significado, a semelhança da palavra com o equivalente na língua materna,
82
o contexto de aprendizagem (o tipo de curso, a hora em que decorre a aula...), o objetivo
do professor para a aula e o tempo disponível para treinar o vocabulário (66-8).
A quantidade de palavras a ensinar não precisa de ser sempre igual, até porque as
aulas não têm sempre a mesma duração e os alunos vão evoluindo. É importante que o
professor vá testando o número de palavras que cada turma consegue absorver, não se
ficando pelas primeiras impressões.
Cada palavra agrega uma multiplicidade de aspetos, que se prendem com a forma
e o conteúdo. O que implica, então, o ensino de uma palavra? Que aspetos devem ser
ensinados?
De acordo com Penny Ur (60-3), devemos ensinar
• a pronúncia e a ortografia – o aluno deve aprender a pronunciar e escrever
corretamente a palavra. Relativamente à pronúncia é necessário ter em
conta não só os sons que constituem a palavra, mas também o acento
tónico. Segundo Lynne Cameron, os alunos devem “... ouvir uma palavra
de forma isolada, bem como integrada no contexto de discurso para que se
possam aperceber dos sons no início e no final, do acento tónico da
palavra e das sílabas que compõem a palavra” (86).
A que devemos expor o aluno primeiro? À forma escrita ou à forma oral
da palavra? Como aponta Thornbury, tradicionalmente crê-se que os
alunos devem contactar com a forma oral primeiro, pois uma exposição
prematura à forma escrita pode condicionar a pronúncia correta da
Para adolescentes e adultos considero o limite mínimo proposto por estes
autores razoável, mas o limite máximo parece-me um pouco excessivo. Tratando-
se de crianças, acho as 8 palavras um número elevado, dado que a capacidade da
memória de funcionamento de uma criança é mais reduzida do que a de um adulto.
Quando trabalhava com crianças optava normalmente por cinco palavras e ia
depois avaliando a reação dos alunos para perceber se devia aumentar ou reduzir
este número.
83
palavra. No entanto, há quem argumente que, uma vez que o contacto com
a forma escrita é inevitável, o melhor é fazê-lo logo de uma vez. Acresce
ainda o facto de a forma escrita poder fornecer pistas sobre o significado
do vocábulo, que a forma oral poderá não oferecer (86-7).
No caso dos young learners entendo que os alunos devem ser primeiro
expostos à forma oral, pois em muitos casos estão ainda a aprender a ler e
a escrever na sua língua materna e tenderão a pronunciar as palavras de
acordo com as regras que aprenderam para ler a sua língua. Quanto aos
adultos e aos adolescentes, estando eles já seguros do seu próprio código
linguístico, creio que ambas as possibilidades fazem sentido, desde que
surjam naturalmente do contexto de sala de aula.
• a gramática – devemos alertar os alunos para a gramática de uma palavra
quando esta não é óbvia ou regular (como é o caso do passado e particípio
passados dos verbos irregulares, plurais irregulares, etc) e também para a
possibilidade de algumas palavras integrarem classes gramaticais
diferentes (a palavra photograph pode ser um nome ou um verbo). No
caso do alemão, o género da palavra deve ser fornecido aquando da
explicação da mesma.
• as coocorrências (collocations) – a coocorrência diz respeito à
possibilidade de unidades linguísticas ocorrerem em combinação umas
com as outras. Quando ensinamos um item lexical novo, podemos chamar
a atenção dos alunos para as situações de coocorrência mais frequentes
dessa palavra.
• os aspetos do significado – relativamente a este ponto, há que considerar a
denotação, a conotação e a adequação (appropriateness). Devemos tornar
claro o significado literal e primário de uma palavra (denotação), mas
também as associações ou sentimentos, positivos ou negativos, que essa
palavra evoca (conotação) (Ur 61). A adequação de uma palavra está
relacionada com o seu grau de formalidade, com o registo em que é
utilizada e com a variedade (British English ou American English) (Potts,
jan. 2011: 38).
84
Relações de significado como a sinonímia, a antonímia, a hiponímia, a
hiperonímia e a tradução podem ser úteis no ensino de uma palavra, pois
como refere Harmer “[o] que uma palavra significa é frequentemente
definido pela relação que esta estabelece com outras palavras” (2001b:
18).
• a formação da palavra – no caso de alguns itens lexicais, explicar a sua
formação pode ser um grande contributo para a clarificação do seu
significado e simplificar a apreensão da sua ortografia. No caso do ensino
da língua alemã, que tem tantas palavras compostas, este aspeto assume
grande importância. Tomemos como exemplo a palavra der
Haustürschlüssel: se explicarmos aos alunos que esta palavra pode ser
subdividida em outras três Haus (casa) + Tür (porta) + Schlüssel (chave), a
sua compreensão e pronúncia tornam-se mais fáceis. Estando ciente da
forma como a palavra é composta e sabendo escrever corretamente cada
uma das três unidades que a compõem, o aluno não terá dificuldades com
a sua ortografia.
No seu artigo Preparing to teach... Vocabulary 1, John Potts faz ainda referência
a outro aspeto a ter em conta no ensino de uma palavra: a atualidade (currency) (38). Na
verdade, palavras outrora comuns são hoje consideradas antiquadas.
Nem tudo aquilo que foi mencionado é relevante no ensino de todas as palavras.
Por exemplo, não há nada de significativo a dizer sobre a gramática ou formação da
palavra apple. Julgo que, na maioria das vezes, não faz sentido explicar todos os aspetos
de um item lexical de uma vez só. Se o fizéssemos sempre, passaríamos aulas inteiras
apenas a explicar vocabulário.
Como em tudo na prática letiva, o bom senso e a razoabilidade devem ser os guias
do professor. Este deve refletir continuamente sobre o seu trabalho com alunos, para
poder tomar as decisões mais adequadas. Assim, perante uma turma, e no que diz respeito
à explicação de vocabulário, não pode esquecer-se de perguntar a si mesmo: Que tipo de
alunos tenho perante mim? Compreenderão todos os pontos da explicação? Em que
contexto surgiu a palavra? Posso fazer uma “pausa” para uma explicação mais
85
detalhada ou vou quebrar o ritmo da aula? A palavra é assim tão importante que
justifique despender tempo numa explicação mais pormenorizada?
Quando ensinamos crianças devemos concentrar-nos especialmente na pronúncia
e significado denotativo. Dependendo da idade e grau de escolaridade dos alunos,
podemos também centrar-nos na questão da ortografia. Aspetos como a gramática e a
conotação da palavra fazem sentido apenas para crianças mais velhas. A questão da
formação das palavras pode ser abordada, mas sem entrar em terminologia específica,
pois, em muitos casos, ainda não a terão aprendido na língua materna. Qualquer decisão
está, naturalmente, dependente da avaliação que o professor faz relativamente à idade,
grau de escolaridade e maturidade dos alunos. No trabalho com adolescentes e adultos
qualquer um dos aspetos poderá ser abordado.
5.2.4. Apresentação e explicação de vocabulário
Como apresentar o vocabulário e explicar o seu significado? Esta é a pergunta que
se impõe depois de se saber quais as palavras a ensinar e quais os aspetos de forma e
conteúdo a realçar.
Uma forma sistematizada de apresentar vocabulário aos alunos é através de
grupos de itens lexicais, que se relacionam entre si. A relação pode ser semântica,
fonológica ou gramatical. Gairns e Redman sugerem várias formas de agrupar itens
lexicais (69-72):
• itens relacionados por tópico ou por atividade ou processo;
• itens com significado semelhante;
• itens que formam pares;
• itens ordenados numa escala;
• itens agrupados por famílias de palavras;
• itens agrupados por semelhança gramatical ou nocional;
• itens organizadores de discurso;
• itens idiomáticos;
86
• itens agrupados por dificuldade fonológica ou de ortografia;
• itens agrupados por estilo;
• itens difíceis para alunos de determinada nacionalidade;
• exploração de um item através dos seus vários significados.
Utilizar isoladamente as formas de apresentação acima referidas pode levar o professor a
incorrer no erro da atomização da linguagem. A existência de um contexto é fundamental
para a aprendizagem de vocabulário, pois ativa as redes neuronais existentes, criando
uma plataforma para a acomodação da nova informação.
Para conhecer uma palavra é essencial compreender o seu significado, o que os
alunos nem sempre conseguem de forma autónoma. Penny Ur apresenta a definição, a
descrição detalhada, a utilização de exemplos, a ilustração, a demonstração, o contexto, a
sinonímia, a antonímia e a tradução como formas de apresentar o significado de novos
itens (63).
A técnica da definição verbal é mais adequada ao trabalho com adolescentes e
adultos. Dependendo do nível em que os alunos se encontram, esta técnica deverá ser
utilizada de forma cautelosa. Alunos de um nível elementar poderão ainda não possuir
conhecimento linguístico suficiente que lhes permita entender uma definição em língua
estrangeira. Ao definir uma palavra ou expressão, o professor deverá ter o cuidado de
usar linguagem que os alunos consigam entender. Scott Thornbury faz referência a um
subtipo de definição verbal, através da qual o professor, de forma segmentada, vai
utilizando frases curtas com a palavra em questão. Esta técnica, denominada layered
definition (definição por estratos), permite aos alunos irem gradualmente construindo o
significado enquanto vão repetidamente ouvindo a palavra (83).
Quando possibilitamos à criança ver ou sentir o objeto a que uma palavra se refere
estamos perante uma definição ostensiva. Esta técnica é frequente com young learners,
porque com estas idades se trabalha sobretudo vocabulário concreto. Porém, como refere
Cameron, o tipo de palavras que as crianças conseguem aprender vai mudando. As
crianças mais novas precisam de vocabulário muito concreto, que se relacione com
objetos que eles podem manipular ou ver, enquanto que as crianças mais velhas já são
capazes de lidar com conceitos mais abstratos (Cameron 81).
87
A utilização de exemplos é muito eficaz quando o professor recorre a situações
conhecidas dos alunos ou a frases exemplificativas de fácil compreensão. Esta técnica
pode ser utilizada com alunos de qualquer grupo etário.
A ilustração do significado de uma palavra através de imagens permite uma
grande economia de tempo, porque com uma intervenção reduzida do professor o sentido
da palavra é de imediato apreendido.
O mesmo acontece com a demonstração através de gestos e mímica. No caso da
apresentação de vocabulário relativo a ações, a utilização deste tipo de técnica é, muitas
vezes, a melhor opção, pois é uma forma rápida e bastante esclarecedora de explicar um
significado. É importante referir que a utilização de gestos e mímica ativa dois tipos de
inteligência: a visual (a mímica gera imagens com impacto visual) e a quinestésica
(quando vemos um movimento, ainda que não o façamos, o nosso cérebro já se preparou
para o copiar (Blakemore & Frith 161)).
Embora as duas últimas técnicas (ilustração e demonstração) possam ser usadas
com qualquer faixa etária, regra geral adequam-se mais a classes de níveis elementares,
pois a linguagem alvo de estudo é mais concreta e, portanto, mais fácil de ilustrar ou
demonstrar.
Ao inserirmos uma palavra num contexto claro e definido, o seu sentido torna-se
evidente. O uso do contexto para clarificar o significado é possível com crianças,
adolescentes e adultos. Esta prática obriga os aprendentes a um esforço mental, uma vez
que os alunos têm de compreender o contexto e estabelecer associações para chegarem à
palavra pretendida. Tal como sublinha Cameron, “[a] quantidade de trabalho mental
exercido pelo aprendente afeta a forma como a palavra é gravada na memória: quanto
mais os aprendentes têm de pensar sobre a palavra e o seu significado, mais provável será
estes lembrarem-se dela” (85).
A utilização de sinónimos para explicitar o significado de palavras novas tem a
vantagem de evitar a utilização da língua materna, ser rápida e reativar vocábulos já
conhecidos dos alunos. Deve-se, no entanto, alertar os alunos para o facto de que não
existem sinónimos totalmente coincidentes. Por exemplo, as palavras lift e elevator têm o
mesmo referente, mas a primeira faz parte do inglês britânico e a segunda do inglês
americano.
88
A explicação de uma palavra através do seu antónimo traz os mesmos benefícios
que a sua explicação através de um sinónimo. O professor poderá recorrer à utilização de
antónimos complementares (como por exemplo dead e alive, já que a afirmação de um
implica a negação do outro,), graduais (a relação de oposição é estabelecida através de
uma escala de valores) ou conversos (a relação de oposição é construída a partir de dois
pontos de vista diferentes, por exemplo Vater (pai) e Sohn (filho)).
O recurso à sinonímia e à antonímia é apropriado para qualquer aluno (criança,
adulto ou adolescente). A condicionante desta prática não se relaciona com a idade dos
alunos, mas com o seu nível, dado que podem não possuir o vocabulário necessário para
compreender a explicação do professor.
A tradução é talvez a técnica mais rápida para tornar claro o significado de uma
palavra. Quando o professor dispõe de pouco tempo, o recurso à tradução pode ser uma
boa escolha. Porém, esta técnica deve ser utilizada com algum cuidado, porque pode
conduzir a um uso excessivo da língua materna e, também, porque não havendo
equivalências exatas, a tradução nem sempre é precisa (facto para o qual os alunos devem
ser alertados). Quando um professor usa a tradução, retira ao aluno a possibilidade de
fazer um esforço mental para chegar ao significado da palavra. Para além disso, a
utilização frequente da tradução pode impedir que os alunos criem um léxico mental
independente para a língua estrangeira, acedendo às palavras dos seus equivalentes na
língua materna, em vez de o fazerem diretamente (Thornbury 77).14
Outra forma de os alunos compreenderem o significado de uma palavra é através
da eliciação (elicitation) e também do peer teaching, conforme aponta Thornbury (87-9).
Na primeira técnica, o professor leva os alunos ao significado da palavra-alvo através de
uma série guiada de perguntas; na segunda, os alunos explicam os significados uns aos
outros dentro do contexto de uma atividade. O jogo Forbidden Word pode ser uma forma
interessante de desenvolver peer teaching.15 Atividades do género de Half-a-Crossword
14 No livro Teaching Languages to Young Learners, Cameron faz uma observação pertinente: por vezes, os professores têm o hábito de explicar o significado de uma palavra através de imagens ou outras técnicas, mas logo em seguida traduzem a palavra para a língua materna. Os alunos acabam por se aperceber deste hábito e deixam de prestar atenção à explicação inicial, pois sabem que a seguir vem a tradução (que dá muito menos trabalho!) (86). 15 O jogo Forbidden Word (Palavra Proibida) é normalmente jogado em equipas. Um elemento da equipa recebe um cartão com uma palavra, que os restantes elementos terão de adivinhar. Para auxiliar os colegas
89
proposta por Peter Watcyn-Jones, que assentam numa lacuna de informação (information
gap) prestam-se bem a este fim.
Todas estas técnicas podem ser desenvolvidas isoladamente ou de forma
conjugada, reforçando-se umas às outras. É possível utilizar-se ao mesmo tempo um
exemplo e um objeto real ou associar imagens a uma definição verbal.
Não nos podemos esquecer de que aprender uma palavra implica aprender o seu
conteúdo e a sua forma. Para realçar a maneira correta de pronunciar uma palavra, o
professor pode recorrer a drills e a explicações no quadro. Pode utilizar-se listening
drills, que levam a que o aluno ouça várias vezes a mesma unidade lexical, e também
oral drills, que podem ser individuais ou em coro. Há ainda a hipótese de os alunos
repetirem a palavra sem verdadeiramente a vocalizarem – mumble drill –, o que parece
ser uma técnica utilizada por alunos bem sucedidos. Em cada repetição, o professor pode
ir chamando a atenção para as sílabas que constituem a palavra, nomeadamente para a
sílaba tónica. Outra forma de o fazer é no quadro, através da divisão silábica e do recurso
a símbolos para marcar a tónica (Thornbury 85).
5.2.5. Aspetos que facilitam a memorização de vocabulário
O objetivo de qualquer professor é que os alunos armazenem na memória de
longo prazo as palavras que vão aprendendo. Mas o que podemos, então, fazer para
ajudar os alunos a “gravarem” o vocabulário na memória de longo prazo?
Scott Thornbury indica alguns princípios a ser seguidos (24-26):
• repetition (repetição) – para que determinada informação seja armazenada
na memória a longo prazo, esta tem de passar primeiro pela memória de
trabalho.16 A repetição é uma forma de ultrapassar a limitação desta
memória. O rote learning através dos drills em silêncio ou em voz alta ou
mesmo através da escrita repetida de palavras é uma técnica que pode ser
utilizada no ensino de vocabulário; no entanto pode ser um pouco estéril, o jogador deverá definir a palavra, dar exemplos, fazer uso da associação de ideias, desde que nunca mencione a palavra em questão ou palavras da mesma família. 16 Ver subcapítulo “A memória de funcionamento”
90
uma vez que assenta sobretudo na forma. Mais eficaz do que a repetição
rotineira, parece ser a repetição elaborativa, uma repetição sobre a qual o
aluno constrói algo. Se um aluno construir uma frase que contextualize
determinada palavra que aprendeu, estará não só a repetir a sua forma, mas
também a consolidar o seu significado.
• retrieval (recuperação) – quanto mais vezes recuperarmos uma informação
da nossa memória, mais fácil se tornará a tarefa da recordação.
• spacing (espaçamento) – o ensino deve ser espaçado, não se deve ensinar
muita coisa ao mesmo tempo. Como refere Thornbury, “[é] melhor
distribuir o trabalho de memória por um período de tempo do que
acumulá-lo num único bloco” (24). As recordações são como
reconstruções de circuitos neuronais. Ao ativarmos várias vezes um
circuito neuronal, este torna-se mais forte.
• pacing (ritmo) – os alunos não aprendem todos ao mesmo ritmo, pelo que
é importante que lhes seja concedido algum tempo para poderem organizar
a informação.
• use (uso) – como já foi várias vezes referido, o nosso cérebro rege-se pelo
princípio use or lose it; se não usarmos a informação, esquecemo-la.
Temos de dar oportunidades e criar a necessidade de os alunos utilizarem
o vocabulário que vão aprendendo.
• cognitive depth (profundidade cognitiva) – quantas mais decisões tivermos
de fazer relativamente ao significado de uma palavra e quanto mais
pensarmos sobre ela, mais hipóteses esta terá de se tornar memorável.
• personal organising (organização pessoal) – quanto mais personalizarmos
uma informação, mais chances teremos de a recordar, pois aumentamos a
possibilidade de ancorar essa informação em experiências já gravadas na
memória. O nosso cérebro precisa de atribuir sentido às coisas, a
informação significativa é mais facilmente armazenada.
• imaging (visualização) – tal como explica Wolfe “[o]s nossos olhos têm
70% dos receptores sensoriais do corpo e enviam milhões de sinais a cada
segundo ao longo dos nervos ópticos para os centros de processamento
91
visual do cérebro” (145). Não admira, portanto, que as imagens sejam tão
importantes para o ser humano. Muitas vezes pensamos por imagens e
incorporámo-las facilmente na memória. Veja-se o caso da memória
episódica, que é recuperada através da visualização.17 Palavras facilmente
visualizadas são mais memoráveis do que as palavras que não ativam
qualquer imagem (Thornbury 25). Deste modo, o professor deverá dar a
conhecer aos alunos técnicas de memorização com base na visualização de
imagens.
Como já foi anteriormente referido, quando se aprende uma palavra nova
em alemão deve aprender-se o seu género. Esta tarefa nem sempre é muito
fácil porque o que é masculino em alemão, nem sempre o é em português.
Para além disso, há ainda o género neutro.
Uma forma de auxiliar os alunos na aprendizagem do género é pedir-lhes
que pensem em três palavras que conheçam, sendo uma de cada género.
Estas palavras ditas de referência devem possuir a característica de serem
facilmente visualizadas. Tomemos como exemplo a palavra Frau (die
Frau – a mulher) para o género feminino, Mann (der Mann – o homem)
para o masculino e Feuer (das Feuer – o fogo) para o género neutro.
Posteriormente, sempre que o aluno aprender uma palavra feminina deverá
associá-la à imagem de uma mulher, uma palavra masculina à imagem de
um homem e uma palavra neutra à imagem de fogo. Por exemplo, ao
aprender a palavra Stadium (estádio), que é neutra, poderá imaginar um
estádio de futebol em chamas.
A memorização tem sido negligenciada no ensino nos últimos tempos.
Passou-se de um sistema de ensino fortemente assente na memorização de
conhecimentos para um que quase despreza a memória. Como afirma
Thornbury “... aprender é lembrar” (23). Só há lembrança se houver
memória.
Se há pessoas que facilmente memorizam informação, outras há que têm
de se esforçar mais. Se aprendermos técnicas de memorização, com o
17 Ver subcapítulo “A memória a longo prazo”
92
tempo o esforço será cada vez menor. Julgo que os alunos só têm a
beneficiar se lhes dermos a conhecer técnicas deste tipo, como a do
Palácio da Memória usada desde a Antiguidade Clássica, uma vez que
poderão auxiliá-los não só no estudo da língua estrangeira, como também
em outras áreas de conhecimento.18 Estratégias como estas são adequadas
para adultos e adolescentes, mas não tanto para crianças, pois exigem um
certo grau de abstração.
• mnemonics (mnemónicas) – Como já foi descrito no primeiro capítulo, o
cérebro tem a necessidade de ancorar a nova informação em informação já
existente. As mnemónicas fornecem uma estrutura na qual é possível fazer
a ancoragem do novo conhecimento. Os mais conhecidos tipos de
mnemónicas são as de palavra-chave e de loci. A mnemónicas de palavra-
chave (keyword mnemonic) implicam a associação da palavra em língua
estrangeira a uma palavra com uma pronúncia ou ortografia semelhantes
na língua materna (Gairns & Redman 92). As mnemónicas de loci
assentam fortemente na visualização e consistem na associação de
palavras a locais físicos que já fazem parte da nossa memória. Um
exemplo deste tipo de mnemónica é o Palácio da Memória, referido no
ponto anterior. De acordo com vários estudos, o uso de estratégias
mnemónicas não só auxilia a memorização de informação, como também
melhora a capacidade de os alunos a aplicarem (Wolfe 169).
As mnemónicas podem ser utilizadas por alunos de qualquer faixa etária.
Todos nos lembramos de, em criança, termos aprendido quantos dias tem
cada mês através da utilização dos nós dos dedos e dos espaços entre eles.
Mais importante do que os professores fornecerem mnemónicas, é serem
os próprios alunos a criar as suas. No entanto, para que os alunos possam
18 De acordo com Joshua Foer, no seu livro Um passeio na Lua com Einstein, esta técnica consiste em “... converter algo nada memorável, como uma sequência de números ... ou uma lista de compras ... numa série de imagens visuais cativantes...”. Para tal é necessário “... dispô-las mentalmente num espaço imaginado...”. Acrescenta ainda que este lugar imaginado deverá ser “... um lugar que conheçamos bem e possamos visualizar facilmente...”, para que depois o possamos povoar com o que queremos recordar (106-8).
93
fazê-lo têm primeiro de perceber como funciona a técnica, através de
exemplos.
• motivation (motivação) – a motivação não está diretamente relacionada
com a memória; no entanto, alunos motivados querem mais ser capazes de
memorizar vocabulário, pelo que se esforçam mais para o fazer.
• attention/arousal (atenção) – quando prestamos atenção a algo e
mantemos a nossa atenção, perseveramos num estímulo um tempo
suficiente longo para compreendê-lo (Feinstein 63). Quando
compreendemos algo, atribuímos-lhe significado, que é um aspeto
essencial para a memorização.
• affective depth (profundidade emocional) – a emoção tem um papel
importante na forma como memorizamos e lembramos as palavras. A
emoção constitui a forma como primariamente reagimos aos estímulos e
influencia grandemente a nossa atenção. Palavras que carregam uma forte
carga emocional são mais facilmente memorizadas e recordadas.
5.2.6. Formas de promover a prática e a reciclagem de vocabulário
Sabe-se que quanto mais contactarmos com uma palavra, seja sob forma escrita
ou oral, mais hipóteses teremos de a memorizar. Deste modo, para evitar o esquecimento
devemos ensinar o vocabulário de forma espaçada, fazer revisões intervaladas e fazer de
diversas formas uma reciclagem das palavras (Thornbury 26-7)
Como podemos criar condições para a prática e reciclagem de vocabulário? Como
podemos ajudar os alunos a reter o vocabulário?
Thornbury propõe que se incluam nas aulas tarefas que impliquem a tomada de
decisões e tarefas produtivas (93-101). Dentro do primeiro tipo incluem-se as tarefas de:
• identificação (identifying) – estas tarefas podem ser tão simples quanto
sublinhar num texto vocábulos com determinadas características, contar o
número de vezes que uma palavra aparece num texto, procurar palavras
94
numa sopa de letras, ordenar letras para formar palavras ou prestar atenção
a determinadas palavras num texto oral.
• seleção (selecting) – escolher x vocábulos de um texto e defini-los ou
explicar a relação entre eles são exemplos de tarefas de seleção, bem como
descobrir num grupo de palavras o elemento que não faz sentido (odd one
out).
• correspondência (matching) – a correspondência implica o reconhecimento
de uma relação lógica entre duas partes que pode ser de similitude ou de
oposição. Assim, podemos ter matching de palavras ou expressões com
imagens, definições, traduções, sinónimos ou antónimos.
• classificação (sorting) – atividades deste género implicam que os alunos
agrupem palavras por classes, que podem ser temáticas ou formais (por
exemplo, por classe gramatical).
• ordenação (ranking) e sequenciação (sequencing) – ordenar e sequenciar
exige que os alunos coloquem palavras ou expressões numa determinada
ordem. Podemos, por exemplo, pedir-lhes que coloquem um conjunto de
palavras por ordem de preferência. Ao fazerem isto, estão a personalizar o
Quando dava aulas de inglês no primeiro ciclo, no final de
cada unidade costumava pedir aos alunos que selecionassem as
palavras que pensavam dever ser incluídas no picture dictionary. Ia
recolhendo as várias sugestões, que ia anotando no quadro para depois
a turma fazer a seleção final. Esta atividade obrigava-os a rever o
vocabulário trabalhado, a refletir sobre o seu significado e sobre a
forma como se relacionava com o tema da unidade. Para além destes
objetivos, havia a intenção de lhes incutir o gosto por este instrumento
de estudo, para que pudessem mais tarde passar a criar sozinhos os
seus picture dictionaries.
95
vocabulário, pois estão a atribuir-lhe um significado que relacionam com o
seu contexto pessoal. Podemos também sugerir que ordenem determinados
passos cronologicamente.
Todas estas tarefas podem ser realizadas por qualquer aluno, independentemente
da sua faixa etária ou nível de conhecimento da língua, desde que se proceda a uma
adequação do grau de dificuldade.
É conveniente que se varie o tipo de atividades, sobretudo quando trabalhamos
com crianças, pois à medida que as vão executando estão não só a melhorar o seu
conhecimento linguístico, mas também o seu conhecimento do mundo.
As tarefas de produção podem consistir na completação ou criação de frases ou de
textos, orais ou escritos (Thornbury 100-1).
Uma ótima tarefa de produção é o role-playing. Neste tipo de atividade os alunos
representam um papel que lhes é atribuído, não se limitando apenas a ler um guião,
sendo, assim, forçados a aceder ao seu léxico mental. Durante uma atividade deste género
os alunos não estão concentrados no treino da linguagem, mas no seu papel e na
mensagem que querem transmitir, pelo que o vocabulário acaba por surgir como algo
natural e necessário. O role-playing é mais indicado para adolescentes e adultos do que
para crianças, uma vez que estas ainda não possuem um nível linguístico suficientemente
desenvolvido que lhes permita representarem um papel sem terem um guião. Para young
learners a dramatização de um texto é uma tarefa mais apropriada, pois neste caso os
alunos não têm de produzir o texto, mas sim reproduzi-lo.
À semelhança do role-playing, os debates também têm um efeito positivo na
consolidação do léxico. Depois de algumas aulas a trabalhar textos e a fazer exercícios de
vocabulário relacionados com determinado tema, o debate vem criar uma oportunidade
diferente para os alunos usarem as palavras e expressões que foram aprendendo.
O debate é uma atividade que pode ser implementada em turmas de adolescentes
e de adultos, mas não é muito adequada para o trabalho com crianças. O grau de
conhecimento do mundo de alunos desta faixa etária, bem como a sua própria estrutura
cerebral, tornam difícil a participação em atividades deste género. Só durante a
adolescência, especialmente a partir dos 15/16 anos, é que os lobos frontais começam a
96
amadurecer. 19 Esta parte do cérebro é responsável pela capacidade de considerar
perspetivas diferentes.
Tanto os debates como o role-playing constituem atividades que normalmente
implicam uma carga emocional elevada. Sobretudo no caso dos debates, o professor deve
estar atento ao modo como são conduzidos pelos alunos, pois em algumas ocasiões
acabam por originar pequenas situações de confronto verbal aberto com a equipa oposta.
Os drills são outra forma de praticar vocabulário, mas não obrigam à tomada de
decisões nem a grande esforço por parte do aluno e, por isso, o seu uso não deverá ser
privilegiado.
Alguns jogos são atividades interessantes para reciclar e praticar vocabulário. Ao
contrário do que se possa pensar, os jogos não são apenas indicados para crianças.
Adolescentes e adultos também gostam de jogar, embora para eles não constitua apenas
uma atividade lúdica. Estão conscientes de que, à medida que vão jogando, vão
melhorando o seu conhecimento da língua. O professor deverá conhecer bem os alunos
para selecionar adequadamente o jogo a utilizar.
19 Ver subcapítulo “O cérebro do adolescente”
97
6. CONCLUSÃO
A aprendizagem é um ato voluntário, que inclui variáveis que os professores não
podem controlar. Não obstante todo o seu trabalho, um professor nunca pode garantir a
aprendizagem dos seus alunos. No entanto, perceber melhor a forma como se aprende
permite-lhe tomar decisões mais acertadas e adequar as suas intervenções.
Como afirma Lynne Cameron, “... o ensino nunca pode garantir a aprendizagem;
tudo o que pode fazer é construir oportunidades para se aprender e ajudar os aprendentes
a tirarem vantagem delas” (242). Em contexto formal, as oportunidades de aprendizagem
de vocabulário podem surgir de modo incidental, mas é conveniente que também partam
de um ato deliberado e planeado do professor. O ensino de léxico não pode ser deixado
ao acaso. Antes de uma aula, cabe ao professor o importante trabalho de selecionar quais
e quantas as palavras a trabalhar, ainda que deva dar alguma liberdade aos alunos para
escolherem o vocabulário que querem aprender.
A aprendizagem de vocabulário é um processo complexo, cíclico e demorado.
Saber uma palavra requer a assimilação de muitos aspetos da forma e do significado. O
conhecimento lexical vai sendo construído com o tempo e implica que o sujeito contacte
repetidas vezes com as mesmas palavras, preferencialmente em contextos diversificados
e significativos. Se um professor não criar oportunidades para que os alunos se
familiarizem com as palavras e não provocar a necessidade de as usarem, o mais certo é
que as redes neuronais a elas associadas se deteriorem e que estas caiam no
esquecimento. O nosso cérebro é regido pelo princípio use it or lose it; o que não usamos,
esquecemos, pelo que a reciclagem de vocabulário é imperiosa. Tanto a apresentação
como a reciclagem de vocabulário devem ser feitas de uma forma contextualizada, que
permita aos alunos estabelecer relações com os conhecimentos que já possuem e que, ao
mesmo tempo, lhes dê oportunidade de construir, trabalhar e personalizar o significado
das palavras. A conjugação destes aspetos facilita a construção das redes neuronais e,
consequentemente, a criação de um léxico mental em língua estrangeira.
Para que os alunos possam tirar proveito das situações de aprendizagem, estas
devem ser o mais variadas possível. Introduzir variedade nas aulas é uma forma de
98
abranger todos os tipos de inteligência, dar espaço à novidade e mostrar aos alunos várias
técnicas e estratégias, de modo a que estes possam escolher as que mais resultam consigo
e melhor se adaptam aos seus estilos de aprendizagem.
No início deste trabalho, propus-me descobrir quais as técnicas de ensino de
vocabulário mais adequadas a crianças, adolescentes e adultos. Finda a investigação, sou
levada a concluir que a maior parte das técnicas pode ser usada com qualquer faixa etária,
desde que se vá fazendo uma correta avaliação da turma e que se vá adequando o grau de
dificuldade. No entanto, é preciso ter em conta que algumas atividades (como por
exemplo os debates) são condicionadas pela maturidade cognitiva dos alunos.
Este trabalho fez-me aprofundar os meus conhecimentos, levou-me a refletir
sobre a minha experiência e tornou-me mais consciente dos vários fatores que exercem
influência na aprendizagem e no ensino de vocabulário, pelo que estou certa que
contribuirá para uma melhoria da minha prática letiva. Doravante, serei mais criteriosa na
seleção de vocabulário, tentando, de forma mais sistemática e informada, perceber se as
minhas escolhas estão de acordo com os princípios que devem reger este processo.
Procurarei ainda criar mais oportunidades para a reciclagem de vocabulário, de forma a
garantir que os alunos não o esquecem, pois estou ciente que os caminhos não
percorridos são mais facilmente apagados da memória.
Sabendo agora que somos amplamente condicionados pelas nossas emoções e
reconhecendo a importância que estas têm para a atenção e retenção de informação,
futuramente, gostaria de explorar o papel da emoção no ensino de uma língua estrangeira.
99
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