Dossie America Latina- Colonizacao- Resistencia e Revolucao (2)

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 0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Mestrado Profissional em Educação do Campo DOSSIÊ AMÉRICA LATINA, COLONIZAÇÃO, RESISTÊNCIA E REVOLUÇÃO Amargosa   BA Fevereiro de 2014  

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Histórico da colonização latino americana

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECNCAVO DA BAHIA CENTRO DE FORMAO DE PROFESSORES

    Mestrado Profissional em Educao do Campo

    DOSSI AMRICA LATINA, COLONIZAO,

    RESISTNCIA E REVOLUO

    Amargosa BA Fevereiro de 2014

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECNCAVO DA BAHIA CENTRO DE FORMAO DE PROFESSORES

    Mestrado Profissional em Educao do Campo

    DOSSI AMRICA LATINA, COLONIZAO,

    RESISTNCIA E REVOLUO

    Autores:

    Cassiana Mendes dos Santos Almeida

    Clber Eduo Ferreira

    Eugnia da Silva Pereira

    Gilmar Vieira Freitas

    Girlndio Gomes Bomfim

    Lia Nascimento da Silva

    Leila da Silva Sousa

    Mrcia Batista de Almeida

    Maria Joseni Borges de Souza

    Priscila Teixeira da Silva

    Sara Jane Cerqueira Bezerra

    Selidalva Gonalves de Queiroz

    Tbata Figueiredo Dourado

    Vnia Marques Pinto

    Orientadora:

    Profa. Dra. Ftima Moraes Garcia - UESB

    Amargosa BA

    Fevereiro de 2014

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    SUMRIO

    1. APRESENTAO............................................................................................................ 03

    2. ASPECTOS TERICO-METODOLGICOS................................................................................ 05

    3. COLONIZAO DA AMRICA LATINA E AS CONTRIBUIES DOS

    REVOLUCIONRIOS LATINOS CONTRA A DOMINAO IMPERIALISTA............

    3.1 QUESTO AGRRIA E AVANO IMPERIALISTA: EFEITO CAMALEO

    DO CAPITAL NA AMRICA LATINA..................................................................

    3.1 .1 CONTRIBUIES DE KARL KAUTSTKY PARA A COMPREENSO DA QUESTO AGRRIA ....................................................................................

    3.1.2 IMPERIALISMO: FASE AVANADA DO CAPITAL ..................................

    3.2 AS ALTERAES DA ORGANIZAO DO TRABALHO E A CONFIGURAO DAS CLASSES NO BRASIL COMO CONSEQUNCIAS

    DA DOMINAO EXTERNA.............................................................................

    3.3 COLONIZAO DA AMRICA LATINA..................................................

    3.4 A COLONIZAO DA AMRICA LATINA E AS CONTRIBUIES DOS REVOLUCIONRIOS LATINOS EM LUTA CONTRA A DOMINAO PR-

    CAPITALISTA E IMPERIALISTA..........................................................................

    3.4.1 JOS CARLOS MARITEGUI.........................................................................

    3.4.2 CARLOS MARIGHELLA.................................................................................

    3.4.3 ERNESTO GUEVARA LYNCH (CHE GUEVARA).....................................

    4. CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................

    REFERENCIAS..................................................................................................................

    ANEXOS............................................................................................................................. 39

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    1. APRESENTAO

    Cicatrizes so como folhas secas:

    J foram verdes

    J foram vivas

    J foram cortes

    J foram dor

    Cicatrizes so coisas passadas

    Que no se foram.

    (MAURO IASI)

    A histria da Amrica Latina marcada pela dor, sofrimento e resistncia de seus

    povos, que sempre foram/so submetidos a processos de explorao das foras de trabalho e

    espoliao dos meios de produo e reproduo da vida. O grau, as formas e efeitos de

    explorao so semelhantes em suas consequncias para exploradores e explorados de grande

    parte dos pases de nossa Amrica.

    Com traos singulares que caracterizam este continente, a exemplo da religio,

    costumes, lngua, (o Brasil se particulariza por ser nico pas que fala o portugus), a Amrica

    Latina vista pelo capital como um conjunto de pases subdesenvolvido, colonial e com

    permanncia de estruturas (sociais, polticas e econmicas) tidas como tradicionais em

    potencial para expanso do capitalismo.

    Este contexto impulsionou a organizao dos movimentos sociais. Embora a histria

    d conta que os mesmos no tenham alcanado o pice de suas conquistas: superao do

    capitalismo.

    Este relatrio apresenta um conjunto de textos resultantes das discusses sobre

    Educao do Campo e Movimentos Sociais e a compreenso dos processos de colonializao

    e dominao da Amrica Latina, com base no marxismo com uma forma de interpretao da

    realidade e como uma referncia para a prtica social.

    A proposio das discusses trazem elementos de entendimento da ao dos

    movimentos sociais na Amrica Latina, tomando como base de anlise o mtodo materialista

    histrico. Destarte, no prope uma anlise a partir de uma viso eurocntrica, nem

    compreende os processos revolucionrios tal qual ocorreram em alguns pases europeus do

    sculo XIX. Do contrrio, apreendemos os movimentos sociais de transformao Latino

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    americanos, que assumem um vis diferenciado de revoluo, retomando as bases do

    pensamento marxiano ao tempo em que trazem novos elementos de compreenso da realidade

    para alm dos ditames da esquerda revolucionria, que se apresentava hegemnica no sculo

    XX: das revolues por etapas, aliada a burguesia, industrializao mssica e tomando como

    parmetro de desenvolvimento as revolues ocorridas em algumas partes do hemisfrio norte

    do planeta.

    Grandes personagens latino americanos apresentam sua compreenso a partir do olhar

    dos colonizados - at ento o que se produzia sobre os colonizados era a partir do olhar dos

    colonizadores - da a releitura do marxismo sob um olhar ainda mais crtico, ainda que

    limitado, colocando como elemento central a explorao do trabalho, bem como os

    movimentos revolucionrios ocorridos em todo o processo de colonizao da Amrica Latina

    e que fora de um lado negado pela historia oficial, e de outro no fora apreendido por algumas

    tendncias do marxismo europeu.

    Para tanto, buscamos o entendimento dos movimentos sociais numa perspectiva

    histrica, a partir de alguns militantes e revolucionrios latino americanos, que defenderam a

    revoluo ininterrupta, sem etapas nacional e internacional, com base na auto-organizao da

    classe explorada, bem como, da tomada do poder a partir da luta armada. Assim como,

    discutimos implicitamente a ruptura com a teoria da dependncia, trazendo autores que

    defendem o nacionalismo radical, como fase para a superao do capitalismo. Portanto,

    apreendemos o sentido da revoluo sob o ponto de vista latino americano, tanto pela luta

    poltica/ideolgica, quanto armada entendendo a necessidade das condies dadas.

    Organizado em trs sees, o presente relatrio apresenta as contribuies dos

    revolucionrios latino americanos Marighella (Brasil), Maritegui (Peru) e Guevara (Cuba),

    para a luta contra a dominao pr-capitalista e imperialista.

    Para entender as dimenses inerentes a produo de conhecimento sobre Amrica

    Latina, a saber, prtica social, cultura e o povo campesino das Amricas, baseia-se nas ideias

    de Kautsky (1986) abordando a questo agrria e econmica; de Fernandes

    (2011);(2009);(1968); com a abordagem sociolgica; e de Almeida (2010), que traz os

    aspectos ideolgicos, polticos e econmicos da colonizao da Amrica Latina, alm de

    outros tericos fundamentais para a contribuio do debate.

    Palavras-chave: Amrica latina; Movimentos Sociais; Revoluo; Luta de Classe.

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    2. ASPECTOS TERICO-METODOLGICOS

    A histria de toda sociedade at aqui a histria de lutas de

    classes. (MARX, 1997, p. 29)

    O presente trabalho se baseou na historicidade, contradio e totalidade, com vistas a

    interpretar os processos histricos sociais latino-americanos, compreendendo a contradio

    como constituinte de uma mesma unidade de opostos estabelecida pelo modo de produo da

    vida material e a totalidade histrico social como processo inerente e dinmico realidade.

    Neste sentido, na perspectiva do materialismo histrico foi utilizado o recurso dialtico com

    base na conexo entre o universal, o singular e o particular.

    O princpio da totalidade como categoria metodolgica obviamente no

    significa um estudo da totalidade da realidade, o que seria impossvel, uma

    vez que a totalidade da realidade sempre infinita, inesgotvel. A categoria

    metodolgica da totalidade significa a percepo da realidade social como

    um todo orgnico, estruturado no qual no se pode entender um elemento,

    um aspecto, uma dimenso, sem perder a sua relao com o conjunto

    (LWY, 1988. p. 16).

    E ainda, trazendo a contribuio da ontologia para o mtodo cientfico de interpretao

    da realidade Tonet apresenta:

    A ontologia marxiana nos mostrou, anteriormente, que a realidade uma

    articulao entre singularidade, particularidade e universalidade. Alm disso,

    mostrou tambm que a prpria emergncia do ser social implica, desde seu

    ato mais inicial, a presena do conhecimento. Deste modo, nenhum objeto

    pura singularidade e nem algo absolutamente desconhecido (TONET,

    2013. p. 113).

    Dialogando com os autores sobre o materialismo histrico dialtico, compreendendo-o

    como uma forma de apreender a essncia dos problemas reais inerentes a vida, ao trabalho e a

    educao, a partir de categorias que expressam as prprias relaes sociais, aponta-se que a

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    contradio (enquanto uma dessas categorias) expresso do movimento do real, da produo

    histrica dos sujeitos, condio fundamental para o que se prope enquanto movimento de

    superao do sistema capitalista.

    Portanto ao discutirmos sobre o processo de colonizao da Amrica Latina enquanto

    produto da expanso da civilizao ocidental (FERNANDES, 2009) inerente ao

    alargamento do sistema capitalista mundial a escolha pelo mtodo histrico dialtico nos

    permite, se bem conduzido, a compreender como a realidade humana se produz e para alm

    das aparncias quais as aes que, na sociedade desigualitria que vivemos, se fazem

    necessrias para transform-la (FRIGOTTO, 2010 p. 16).

    Compreendendo o sistema capitalista em suas contradies como uma totalidade

    social, a Amrica Latina e os movimentos sociais (objeto de estudo), constituiu-se enquanto

    particularidade como categoria de mtodo. Dentro desta particularidade elencou-se como

    categorias de anlise, a questo agrria e a terra; cultura; conscincia e luta de classes;

    colonialismo, eurocentrismo e imperialismo.

    A partir de tericos, debates e sistematizaes dos grupos, algumas categorias de

    contedo foram sintetizadas no sentido de trazer elementos mais contundentes s anlises do

    dossi. Com aporte em Almeida (2010) exploram-se as categorias novo sujeito poltico, base

    material de determinao histrica, hegemonia (burguesia). A partir de Guevara (In.: LWY

    2003) e Mariguella (1979) abordam-se as categorias guerrilha, movimentos sociais na

    Amrica Latina, violncia e no violncia, o campo como territrio fundamental na revoluo,

    emancipao da Amrica Latina, ideologia socialista e; A partir de Lwy (2003), Maritegui

    (1979), Petras (1999) dentre outros traz-se a luta de classe/conscincia de classe, revoluo,

    imperialismo americano, consumismo, socialismo, novo sujeito revolucionrio/movimentos

    sociais, o papel dos partidos polticos, projeto poltico de sociedade, metamorfoses do

    capitalismo, fragmentao das lutas.

    De modo geral, o mtodo adotado contribui para uma anlise a partir da essncia das

    causas que determinaram o modelo dependente de sociedade latino-americana, desencadeada

    pelo processo de colonizao, bem como possibilitou apontamentos para uma prtica social

    revolucionria que se apresenta enquanto prxis necessria ao dos movimentos sociais e

    para a libertao da Amrica Latina.

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    3. COLONIZAO DA AMRICA LATINA E AS CONTRIBUIES DOS

    REVOLUCIONRIOS LATINOS CONTRA A DOMINAO IMPERIALISTA.

    Esta seo trata do aprofundamento terico discutido acerca da colonizao da

    Amrica Latina, bem como as contribuies das lutas dos revolucionrios do referido

    territrio contra a dominao imperialista. Para tanto, apresenta subsees sobre a questo

    agrria e o avano imperialista na Amrica Latina, com base nas contribuies de Kautsky;

    As alteraes da organizao do trabalho e a configurao das classes no Brasil, fruto da

    dominao externa a partir dos estudos de Fernandes; E por fim, discorre sobre as

    contribuies dos revolucionrios latinos contra a dominao imperialista, a saber:

    Maritegui, Marighella e Chevara.

    3.2 QUESTO AGRRIA E AVANO IMPERIALISTA: EFEITO CAMALEO

    DO CAPITAL NA AMRICA LATINA

    O capital, independente de em qual territrio se instale, se reproduz de tal forma que o

    trabalhador no visto como humano. Ao observarmos a histria do capitalismo, podemos

    perceber que a propriedade privada, bem como a explorao do trabalho humano e da

    natureza, o que tem alimentado esse modo de produo enquanto modelo social dominante e

    ideal. Na Amrica Latina esse efeito Camaleo no foi diferente. Na medida em o

    capitalismo avanava, os camponeses iam sendo expropriados de todas as formas, incluindo a

    negao do acesso a terra, moradia, educao, enfim, condies mnimas de viver com

    dignidade. Sendo assim, esta subseo discorre sobre este processo e discute sobre a questo

    agrria nesse contexto a partir das contribuies de kautsky.

    3.1.1 CONTRIBUIES DE KARL KAUTSTKY PARA A COMPREENSO DA

    QUESTO AGRRIA

    Karl Kautsky (1986) ao discorrer sobre A questo agrria traz o contexto da

    apropriao das terras camponesas pelos burgueses no final da Idade Mdia, analisando as

    implicaes dessas determinaes no modo de vida do campons.

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    O autor mostra que o desenvolvimento do capitalismo se d primeiramente nas

    cidades. Na idade mdia, as famlias camponesas no necessitavam do mercado para sua

    existncia, j que sua produo era autossuficiente. Dessa forma, os camponeses no sofriam

    com as instabilidades financeiras. As nicas ameaas que poderiam complicar sua produo

    eram as catstrofes ambientais, que, na maioria das vezes, eram passageiras. Contudo Kautsky

    (1986, p. 18) mostra que:

    O desenvolvimento da indstria e do comrcio, no entanto, geraram a

    demanda de novos produtos na cidade, demanda que a indstria agrcola era

    incapaz de satisfazer; esses produtos, a exemplo das ferramentas novas e

    mais perfeitas, tambm comearam a invadir o campo em ritmo crescente, na

    medida em que crescia o intercmbio entra a cidade e o campo.

    Nesse caso, a indstria urbana e o comrcio contriburam para a aniquilao do

    campons, j que o intercmbio entre campo e cidade criou novas demandas para ele. A

    indstria capitalista fora a regresso da produo agrcola, fazendo com que o campons

    perca a fora produtiva, ou seja, tornando-o inferior. Essa situao foi forando o campons se

    transformar em agricultor, afastando-o da autossuficiente:

    Ao mesmo tempo que crescia a necessidade pecuniria do lavrador, tambm

    crescia essa mesma necessidade entre os poderosos que exploravam o

    campons; crescia entre os senhores feudais e os prncipes, e entre outros

    detentores do poder do Estado. isso levou naturalmente converso do

    imposto em espcie, imposto em produtos naturais agrcolas, em imposto

    recolhido em dinheiro. (...) A nica maneira de o campons obter dinheiro foi,

    ento converter seus produtos em dinheiro, levando-os para o mercado e l

    passando a vend-los. claro que os produtos de sua indstria atrasada no

    eram os mais procurados, mas eram os que a indstria no produzia. Foi assim

    que o campons se transformou naquilo que hoje por campons se entende,

    coisa bem diferente do que fora desde o incio: um simples agricultor

    (KAUTSKY, 1986, p. 19).

    Nessa nova condio, em que o campons passa a depender do mercado, ele se depara

    com uma crise jamais imaginvel: a boa colheita no representava mais uma beno, visto que

    ela diminua o preo dos produtos. Essa transformao da produo agrcola em produo de

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    mercadoria gerou uma nova profisso: o comerciante. A venda direta do produtor ao

    consumidor comeou a ser extinta e o campons passa a ser explorado nos preos dos

    produtos por esse atravessador na distribuio.

    Todas essas questes que afetam o mercado foram o agricultor a desfazer da sua

    fonte de vida: terra e casa. nesse contexto que o campons transforma-se em agricultor e em

    seguida passa a ser um proletrio. Kautsky vai mostrando como a tecnologia ajuda nesse

    processo e traz como exemplo a debulhadora. Um dos trabalhos agrcolas mais importantes

    que ocupava o inverno era a debulha de cereais. A introduo da debulhadora acaba com esse

    trabalho e se torna uma razo bem forte para a reduo adicional da famlia camponesa. Esse

    desenvolvimento cria a demanda de assalariados, proletarizando os camponeses. Dessa forma,

    a nica mercadoria que lhes resta para vender a fora de trabalho.

    O antagonismo de classe existente entre o explorador e o explorado, entre o

    proprietrio e o proletrio penetra a aldeia e a prpria casa do campons, destruindo a antiga

    harmonia e a antiga comunidade de interesses.

    Uma vez apropriadas as terras dos camponeses, o capital comeou a apropriar-se

    tambm das florestas. Isso pontuado por Kautsky (1986) no s por esse fator garantir o

    domnio da madeira por parte da burguesia, mas tambm porque evitou a caa. Isso teve

    implicaes srias para as lutas, pois ao mesmo tempo em que ela garante alimento ela ensina

    na prtica estratgias das guerras.

    Como se pode ver, ao longo da histria do capitalismo, a propriedade privada foi um

    elemento que, ao lado da explorao do trabalho humano e da natureza, sustentou esse modo

    de produo enquanto modelo social dominante. Na Amrica Latina no foi diferente. Na

    mesma proporo em que o capitalismo avanava, os camponeses iam sendo expropriados.

    Essas questes geraram srios impactos para o descaso da questo da Educao no meio

    rural no Brasil. No havia interesse em educar um povo que no contribusse, diretamente,

    para o crescimento desse modelo econmico.

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    3.1.2 IMPERIALISMO: FASE AVANADA DO CAPITAL

    O avano do capitalismo no mundo propiciou mudanas sociais, econmicas e

    culturais nas diversas sociedades, essa investida do capitalismo na Amrica Latina provocou

    alguns dilemas. Diante dessa situao a sada seria o nacionalismo revolucionrio ou a

    revoluo geral na perspectiva da ruptura com o Capitalismo?

    Em alguns pases houve a tentativa de ruptura com o capitalismo, outros caminharam

    na tentativa do melhoramento do capitalismo, como se isso fosse possvel. Desde modo segue

    alguns apontamentos sobre o perodo da Guerra fria, e o Imperialismo Ianque, destacando a

    resistncia popular com a participao dos partidos comunistas, evidenciando o avano do

    imperialismo no Mxico, no Equador, na Guatemala, e no Brasil.

    No Mxico o Partido Comunista lutava por uma frente nacional democrtica e anti-

    imperialista, e vivenciou uma das mais graves situaes da sua histria com a sucesso

    presidencial, momento em que o PCM apoiou a candidatura de Alemn e sofreu com a

    interveno e penetrao colonizadora do imperialismo ianque no Mxico. A classe operria

    padece com a investida de uma poltica governamental anti-operria e patronal, os

    emprstimos ianque hipotecam e entregam o pas, seguida pela destruio da reforma agrria.

    A economia nacional ficou subordinada a economia de crise de guerra dos Estados

    Unidos desencadeando a destruio da economia nacional independente do Mxico, todas

    essas aes foram fortalecidas pela poltica reacionria e antipopular do governo do

    presidente Alemn.

    No Brasil o anti-imperialismo durou por volta de 1949 at 1953, com perseguio aos

    Partidos Comunistas na Amrica Latina principalmente pela sua opo em favor de uma

    poltica de oposio ao imperialismo norte-americano. O Governo de Getlio Vargas muito

    contribuiu com o avano do imperialismo Ianque, realizando o acordo de Assistncia Militar

    mandando tropas brasileiras para a Coria ou para qualquer parte do mundo, legalizou a

    concesso de bases militares ao governo dos Estados Unidos e a ocupao no solo brasileiro

    pelas tropas norte-americanas. Nesse acordo Vargas angariou proteger-se contra qualquer

    movimento popular contra o governo no pas e contra a agresso do comunismo

    internacional;

  • 11

    A comisso Executiva do PCB dirigiu-se a todos os patriotas, homes e

    mulheres, s mes, esposas, filhas e noivas que sentem no prprio corao o

    perigo e a ameaa a vida de seus entes queridos, aos jovens, sejam operrios,

    camponeses ou estudantes, soldados, aviadores e marinheiros, ameaados de

    morte pelos planos sinistros e criminosos do senhor Vargas, e a todos faz

    caloroso apelo no sentido de intensificarem a luta pela paz e contra o

    governo de traio nacional de Vargas, contra o envio de tropas para a

    Coria e contra a entrega do petrleo brasileiro aos imperialistas americanos

    (LWY, 2012, p 203).

    No Equador registrou se o socialismo revolucionrio do Manuel Agustn Aguirre, que

    foi um dos fundadores do Partido Socialista do Equador (1933) eleito senador (1944) e foi

    preso e banido pela ditadura de Velasco Ibarra em 1946.

    Com o final do feudalismo e a explorao do campesinato ficou no pas fortes

    resqucios feudais mantidos pelos burgueses latifundirios e imperialistas onde limitaram e

    prejudicaram a marcha para frente, mas negar o capitalismo foi por convenincia e no por

    opo revolucionria.

    Isto nos leva a sustentar a necessidade de que forme uma nica frente de

    proletrios e camponeses pobres na Amrica Latina que, apoiando-se no

    proletariado mundial, possa realizar a revoluo socialista que salvar nossos

    pases do atraso em que eles jazem, destruindo a explorao e a misria, e

    estabelecendo a verdadeira liberdade, a paz e a justia (LWY, 2012, p.

    207).

    J na Guatemala em 1954 houve a derrubada do governo democrtico da Guatemala, o

    governo popular de Jacobo Arbenz. Foi neste ano que ocorreu a derrota temporria do

    movimento revolucionrio e o povo se preocupou em estabelecer quais o fatores levou a tal

    derrota fazendo uma autocrtica ao partido.

    A comisso Poltica do Comit Central do Partido Guatemalteco do Trabalho com

    ajuda da doutrina cientfica (marxismo-leninismo) realizou o esforo para fazer um exame

    correto daquela experincia, e os EUA organizador da interveno ocultou suas

    responsabilidades atribuindo ao povo guatemalteco a derrubada do regime democrtico, do

    governo que o povo elegeu.

  • 12

    Como estratgia do EUA prepararam invases utilizando de nicaraguenses,

    hondunheiros, dominicanos e cubanos (aventureiros fracassados, gngsteres, criminosos

    profissionais recrutados e pagos pela United Fruit Company e o fornecimento de armas dos

    EUA escondendo-se atrs dos governos de Honduras e da Nicargua). Esses invasores se

    tratavam de grupo minoritrio da Guatemala, traidores liderados por Carlos Castillo Armas.

    Mesmo com essas questes o partido foi fundado em 1949, adquiriu uma rica

    experincia em curto perodo, enfrentou um ambiente muito atrasado, no qual os inimigos do

    povo e da classe operria realizaram uma venenosa propaganda anticomunista, ele foi o motor

    principal, o organizador e dirigente da luta pela unidade da classe operria, possua linha

    poltica correta, porm alguns aspectos era insuficiente, principalmente pela decorrente do

    baixo nvel terico.

    Alm disso a aliana com a burguesia nacional o enfraqueceu, pois obteve grandes

    sucessos na aliana com a burguesia democrtica, no entanto a burguesia exerceu certa

    influncia no partido e na prtica constituiu um freio para muitas de suas atividades.

    No fundo o partido abrigava a falsa concepo de que a classe operria guatemalteca

    ainda no podia assumir a direo do movimento revolucionrio porque numericamente era

    muito fraca e politicamente era muito atrasada; se o partido tivesse lido o marxismo-leninismo

    teria compreendido que a pequenez numrica da classe no era obstculo insupervel, mas o

    partido no assumiu uma atitude crtica consequente ante a burguesia.

    Se por um lado os partidos comunistas enfrentaram o avano do imperialismo no

    perodo da guerra fria, por outro possvel perceber que o capitalismo constri novas

    estratgias para se sustentar.

    Se na dcada de 40 e 50 o avano do capitalismo se deu principalmente pelo uso da

    estratgia da guerra fria, na dcada de 70 a opo foi o alargamento do capital atravs da

    globalizao, internacionalizando-se por meio de agncias internacionais como o Fundo

    Monetrio Internacional FMI, Banco Mundial BM, Organizao Mundial do Comrcio

    OMC, e as novas tecnologias da informao. Isso fez com que as grandes naes capitalistas e

    principalmente os EUA controlasse sobretudo os projetos sociais para pases

    subdesenvolvidos financiados por essas agncias internacionais, a exemplo dos

    financiamentos na rea da educao, que obrigavam a introduo de projetos educativos que

    contribuam para a alienao e conformao da ordem estabelecida pelo sistema capitalista.

  • 13

    Assim cresce o empobrecimento das economias marginalizadas da globalizao e a crescente

    polarizao entre ricos e pobres.

    A globalizao no um fenmeno novo, mais uma forma do capitalismo se

    estruturar, pois como afirma Marx e Engels no Manifesto do partido comunista (1848) o

    desenvolvimento do capitalismo trata-se de um processo de longo prazo, e nele esta inerente

    uma contradio, quanto maior as novas instabilidades, maior as novas possibilidades de luta.

    Outro elemento que possvel destacar a competio. Esta se encontra no prprio cerne do

    sistema e significa tratar sempre de manter e incrementar a participao no mercado atravs

    do monoplio.

    Diante das exposies de Wood (2001), possvel perceber que quanto mais

    globalmente integrado se torna o capitalismo, mais unificada estar a classe capitalista. Isso

    implica que a globalizao no o aumento da competio, mas sua supresso. Assim a

    globalizao poderia significar menos e no mais unidade capitalista. No entanto essa se

    encontra hoje mais do que nunca oprimida por suas contradies internas. Desse modo, esta

    uma razo para intensificar e no para abandonar as lutas anticapitalistas, pois, como pudemos

    ver, a fora do capitalismo tambm sua fraqueza e a globalizao poderia estar ampliando, e

    no restringindo, o espao para as polticas de oposio.

    Pelos avanos do capital e as condies impostas classe trabalhadora algumas

    questes podem surgir: a) o capitalismo veio para ficar?; b) o melhor seria conviver com o

    capital por meio de lutas particulares? Talvez o enigma estivesse na fora da classe

    trabalhadora, pois na era do capitalismo global, a classe trabalhadora, se que ela ainda

    existe, est mais fragmentada que nunca (WOOD, 2001). A resposta que a autora d que

    quanto mais global se tornar o capitalismo, mais global dever ser a luta contra ele. Isso

    significa romper com o efeito mais imediato desse sistema que limitar o conflito de classe s

    unidades individuais de produo, descentralizando e localizando a luta de classes,

    transformando os conflitos em consenso e as lutas de classe em lutas particulares.

    importante salientar que essa situao no fruto de uma falha na conscincia de

    classe dos trabalhadores, mas sim uma resposta organizao social capitalista. Esse

    movimento fora uma ateno das causas da pobreza e das suas solues (olhando para

    baixo e para dentro, em vez de olhar para cima e para fora) (PETRAS, 1999, p. 48). A

    estratgia do capital induzir que a classe dominada focalize a resoluo dos problemas

    imediatos, afastando cada dia mais a superao dele pela classe trabalhadora.

  • 14

    Com as explicaes de Wood e Lwy fica claro que a globalizao criou

    oportunidades para a superao do capital, ao mesmo tempo em que desviou a ateno para

    lutas imediatas. quando o capital busca uma alternativa para garantir a continuidade do seu

    projeto, que ele encontra uma sada: a apropriao do discurso das lutas isoladas, passando a

    incentiv-las com financiamento e parcerias s entidades civis que nas ltimas dcadas vem

    oferecendo servios para amenizao dos problemas sociais.

    Diante disso, podemos afirmar que a tomada de conscincia e a conscincia de classe

    se do por questes das necessidades materiais e das contradies, isto , da relao entre os

    opostos e seus interesses que formam unidade no contrrio, na vida social efetiva. nesse

    terreno que se desenvolve a luta de classes. Nesse sentido, a luta pela superao do capital

    necessria em terreno mediato e imediato. Os movimentos sociais na Amrica Latina vm

    mostrando sadas para a ruptura com o modelo de produo capitalista, entretanto as

    contradies tm forado aes imediatas numa proporo mais larga que as mediatas.

    Portanto, o que chamado de globalizao por muitos, compreendemos como fase

    imperialista do capitalismo, j que alm de forar a fragmentao das lutas sociais, se esbarra

    nas contradies internas de um sistema selvagem.

  • 15

    3.2 AS ALTERAES DA ORGANIZAO DO TRABALHO E A

    CONFIGURAO DAS CLASSES NO BRASIL COMO CONSEQUNCIAS DA

    DOMINAO EXTERNA

    Uma nao que prefere desviar recursos para financiar a

    implantao de multinacionais, a infraestrutura de

    desenvolvimento capitalista monopolista em vez de atender os

    problemas de sade pblica, educao das massas, expanso

    do mercado interno, etc., est ignorando a sua revoluo

    nacional. (Florestan Fernandes)

    A partir deste fragmento de Florestan Fernandes levanta-se a discusso sobre o

    processo de dependncia externa que se estabeleceu na Amrica Latina e mais

    especificamente no Brasil, e as avassaladoras consequncias na estruturao social, poltica e

    ideolgica para a classe trabalhadora, que limitam diretamente o que este autor chama de

    nacionalismo revolucionrio. A partir destas ideias, cabe discutir as influncias da

    colonizao e desta dependncia externa na conformao do que se entende por campo e

    cidade, para a estruturao do proletariado rural no Brasil, bem como a configurao da classe

    proletria e burguesa brasileira.

    Com base nas discusses de Florestan Fernandes (2009) o processo de colonizao e

    dominao capitalista na Amrica Latina trouxe elementos da dependncia que se

    configuraram em diversas fases e padres, a saber: 1) antigo sistema colonial caracterizado

    pela dominao restrita exercida por Portugal e Espanha; 2) Desagregao do antigo sistema

    colonial com vista produo e exportao imediata em detrimento da produo local; 3)

    Reorganizao da economia mundial provocada pela revoluo industrial na Europa e; 4)

    Imperialismo total (capitalismo monopolista/corporativo internacional).

    Todas essas fases de dominao influenciariam diretamente na organizao e relao

    do trabalho no campo e na cidade. Ento a cada processo deste foi se incorporando ao padro

    de desenvolvimento trazendo como elemento a tentativa de subalternidade da classe

    trabalhadora do campo e da cidade em funo do processo de desenvolvimento nacional. Isto

    define fundamentalmente os sentidos atribudos ao trabalho nestes dois interdependentes

    territrios.

  • 16

    Nessa primeira fase do trabalho no perodo colonial era de carter de explorao

    ilimitado (escravido) em todos os nveis da existncia humana e da produo, tudo isso em

    virtude do benefcio da coroa e dos colonizadores. A produo de riqueza era garantida em

    detrimento da explorao das condies objetivas e subjetivas dos trabalhadores que nesse

    perodo tratava-se de ndios, negros e mestios.

    Na segunda fase representada pela dominao exercida, sobretudo pela Inglaterra,

    corresponde no apenas a mudanas de controles territoriais a nvel colonial, mas

    predominantemente consolidao do Capitalismo europeu atravs da expanso comercial,

    econmica e blica impulsionada pela corrida ao ouro na qual teve como liderana a nao

    britnica. Apesar dessa mudana no processo de dominao ainda predominante a condio

    do trabalho mencionado na fase anterior.

    A terceira fase caracteriza-se pela reconfigurao das relaes de trabalho que sai do

    sistema de escravido e substitudo pela mo de obra assalariada. nesse momento que os

    pases dependentes se situam enquanto mercadorias ultralucrativas que constitu o processo de

    concretizao da produo em grande escala para a manuteno da economia mundial. Desse

    modo, embora houvesse diversas alteraes nas relaes de trabalho, a perspectiva de

    explorao e dependncia permaneceu, ou seja, mudaram para manter.

    O efeito mais direto dessa situao que a burguesia mantm mltiplas

    polarizaes com as estruturas econmicas, sociais e polticas do pas. Ela

    no assume o papel de paladina da civilizao ou de instrumento da modernidade, pelo menos de forma universal ou como decorrncia imperiosa de seus interesses de classe. Ela se compromete, por igual, com

    tudo que lhe seja vantajoso: e para ela era vantajoso tirar proveito dos

    tempos desiguais e da heterogeneidade da sociedade brasileira, mobilizando

    as vantagens que decorriam tanto do atraso quanto do adiantamento das populaes. Por isso no era apenas a hegemonia oligrquica que dilua o

    impacto inovador da dominao burguesa. A prpria burguesia como um

    todo (incluindo-se nelas as oligarquias) se ajustara situao segundo uma

    linha de mltiplos interesses e de adaptaes ambguas, preferindo a

    mudana gradual e a composio a uma modernizao impetuosa,

    intransigente e avassaladora. No mais ela florescia no meio em que a

    desagregao social caminhava espontaneamente, pois a abolio e a

    universalizao do trabalho livre levaram a descolonizao, ao mago da

    economia e da sociedade. (FERNANDES, 2011. p. 425).

  • 17

    A fase do imperialismo total (quarta fase) se d pela expanso do capital na sua forma

    monopolista/corporativa internacional que a nosso ver perdura at o momento atual do Brasil

    a exemplo pelo domnio de mercado por poucas empresas internacionais, como podemos

    observar no infogrfico abaixo:

    Imagem 1: infogrfico das grandes corporaes.

    Fonte: Carta Capital

    Este imperialismo total atua a partir das bases consensual e coercitiva de forma

    concomitante, embora cada uma cumpra com seu objetivo para um mesmo fim. A base

    consensual trata-se da dominao ideolgica interna para aceitao das imposies externas e

    aspirao de um modo de vida que fundamenta essa dependncia. A base coercitiva muito

    ligada a questo da violncia na conteno imediata da ao da classe trabalhadora que no se

    possvel apenas pela ao do convencimento. Portanto, a coercitividade legitimada quando

    os atos de violncia e represso so justificados como forma de manuteno da ordem.

  • 18

    O trao especfico do imperialismo total consiste no fato de que ele organiza

    a dominao externa a partir de dentro e em todos os nveis da ordem social,

    desde o controle da natalidade, a comunicao de massa e o consumo de

    massa, at a educao, a transplantao macia de tecnologia ou de

    instituies sociais, a modernizao da infra e da superestrutura, os

    expedientes financeiros ou do capital, o eixo vital da poltica nacional, etc.

    (FERNANDES, 2009. p. 27).

    Evidencia-se que assim como a dependncia externa em suas vrias fases limita a

    revoluo nacional apresentada por Fernandes, leva tambm compreenso de como a

    dominao, principalmente ideolgica externa, tanto eurocntrica como estadunidense,

    configura-se em entraves objetivos para a luta e para organizao da classe trabalhadora. A

    falta de condies dos trabalhadores em perceber em algum nvel a dominao e a explorao

    a que esto submetidos um elemento comum a todas as fases e que perdura, resultando em

    fatores como percepo limitada de trabalho, sentido naturalizado do trabalho explorador,

    inculcao coercitiva ou consensual dos ideais e aspiraes burguesas aos trabalhadores.

    Fatores como estes, esto muito presentes na configurao atual do capitalismo, que atravs

    da disseminao de paradigmas neoliberais camufla-se e infiltra-se de forma to eficaz, que

    so incorporados inclusive por algumas organizaes de trabalhadores e em alguns

    movimentos sociais.

    Diante do apontamento exposto acima, infere-se que a dominao externa interfere na

    formao ou ausncia da conscincia de classe, a exemplo da classe trabalhadora.

    Diferentemente do que acontece com a classe burguesa, descrita por Fernandes (1968; 2009)

    como classe alta. Segundo o autor, o capitalismo dependente influenciou tambm o regime de

    classes e a prpria conscincia de classe no Brasil, assim como nos demais pases latino-

    Amricanos submetidos ao capitalismo dependente.

    Utilizando-se da tipologia Weberiana, Fernandes caracteriza duas classes existentes no

    Brasil como possuidores de bens e no possuidores de bens na dada condio social,

    econmica, histrica e cultural impostas pelo estado de dependncia. Os possuidores de

    bens seria a classe alta urbana, a classe alta rural que compunham a burguesia. J os no

    possuidores de bens seriam os assalariados, os que se encontram em vias de proletarizao e

    os que esto imersos na economia de subsistncia ou em estruturas arcaicas do sistema

    econmico, seja no campo ou na cidade.

    Fernandes corrobora que os possuidores de bens neste sistema de capitalismo

    dependente compartilham dos mesmos interesses e situao de classe. Enquanto que os no

  • 19

    possuidores de bens esto distribudos entre aqueles que no chegam a ter interesse de classe

    e nem situao de classe, e os outros que mesmo possuindo essas duas condies esto

    inseridos em um sistema de valorizao pela venda da fora de trabalho. Assim sendo

    segundo este autor, no Brasil apenas a classe alta tm conscincia clara de seus interesses de

    classe e de sua situao de classe. Mesmo assim, a classe alta - a burguesia arcaica do Brasil -,

    aceita uma dependncia externa social, poltica limitando-se a obteno de vantagens

    econmicas imediatas.

  • 20

    3.3 COLONIZAO DA AMRICA LATINA

    Nuestra derrota estuvo siempre implcita en la victoria ajena; nuestra

    riqueza ha generado siempre nuestra pobreza para alimentar la prosperidad

    de otros: los imperios y sus corporales nativos. En la alquimia colonial y

    neocolonial, el oro se transfigura en chatarra, y los alimentos se convierten

    em veneno. ... La lluvia que irriga a lo centros del poder imperialista ahoga los vastos suburbios del sistema. Del miso modo, y simtricamente, el

    bienestar de nuestras clases dominantes dominantes hacia dentro, dominadas desde fuera es la maldicin de nuestras multitudes condenadas a una vida de bestias de carga.

    1

    Esta seo tem a inteno de apresentar, resumidamente, aspectos importantes de trs

    obras que tratam do marxismo, a partir de marcos histricos e revolucionrios na Amrica

    Latina.

    O marxismo na Amrica Latina: Uma antologia de 1909 aos dias atuais trata-se de

    uma coletnea organizada por Michael Lowy, que rene documentos, artigos, ensaios e

    resolues de partidos e de outras organizaes que reconstroem a evoluo histrica do

    Marxismo na Amrica Latina. Esta obra aborda temas como as revolues sociais e polticas;

    a Guerra Fria; os diferentes projetos de socialismos; os partidos e grupos com ligaes com o

    iderio marxista; e as novas tendncias do pensamento de esquerda no sculo XXI.

    Este texto visa apresentar de forma sucinta algumas ideias do captulo do livro: O

    perodo Revolucionrio2, especificamente a discusso sobre documentos da Internacional

    Comunista. Este perodo foi considerado de relativa autonomia pra os comunistas na Amrica

    latina, sua maior expresso terica a obra de Jos Carlos Maritegui Sete ensaios de

    interpretao da realidade peruana. Tais documentos nos permitem investigar de que forma a

    Amrica Latina era vista pelas lideranas e os organismos internacionais e de que maneira os

    acontecimentos vinculados Revoluo Russa influenciaram os pioneiros do marxismo latino

    Amricano. Antes de discorrer sobre os documentos propriamente ditos, cabe fazer um

    breve resgate do que foram as Internacionais: Associao Internacional dos Trabalhadores.

    1 Galeano, Eduardo. Las venas abiertas de Amrica Latina; Mxico, ed. Siglo veintiuno, 1971.

    2 Segundo Michael Lowy, o Perodo Revolucionrio corresponde ao primeiro dos trs perodos

    histricos do marxismo na Amrica Latina, compreendido do perodo de 1920 a 1930.

  • 21

    A Associao Internacional dos Trabalhadores, que mais tarde ficou conhecida como:

    Primeira Internacional, foi fundada em 28 de setembro de 1864. Tratou-se de uma grande

    reunio pblica internacional de operrios em Londres. Na ocasio, foi eleito um comit

    provisrio e Karl Marx era um dos seus membros.

    Em 1889, surgiu a Segunda Internacional (Internacional Operria e Socialista), para

    suceder a Primeira Internacional. Foi uma associao livre de partidos socialdemocratas e

    trabalhistas, integradas por elementos revolucionrios, mas tambm por elementos

    reformistas. Deste modo, ao final de 1914 perdeu seu carter progressista, ao violar os

    princpios mais elementares do socialismo em suas sees mais importantes apoiando seus

    governos imperialistas na Primeira Guerra Mundial. E se desintegrou totalmente durante a

    guerra. No entanto, renasceu como organizao completamente reformista.

    A III Internacional ou Internacional Comunista, reunio internacional dos partidos

    comunistas de vrios pases, funcionou de 1919 at 1943. Sucedeu e deu continuidade a

    Primeira Internacional. A fundao da Internacional Comunista significou a criao de um

    Estado Maior poltico-ideolgico do movimento revolucionrio do proletariado. A

    Internacional Comunista empreendeu esforos na formao de quadros dirigentes dos Partidos

    Comunistas e a sua transformao em partidos revolucionrios de massa. Como principal

    organizador da Internacional Comunista, Lnin defendeu o marxismo revolucionrio, perante

    as distores oportunistas e revisionistas da esquerda. A Internacional Comunista foi

    dissolvida em 1943 com um gesto de conciliao de Stalin para com as Foras Aliadas

    (Estados Unidos, Inglaterra).

    De autoria desconhecida, mas que, provavelmente, foram escritos coletivamente aps

    cada reunio, os documentos so muito interessantes. A ideia principal do primeiro texto a

    aliana revolucionria de operrios e camponeses contra o imperialismo norte Amricano e a

    burguesia local. A hiptese da extenso continental da revoluo aparece pela primeira vez,

    nesse texto.

    O objetivo do imperialismo americano colocar o mundo inteiro sob seu domnio.

    Domnio este que se baseia na explorao e na subordinao da Amrica do Sul, sendo ela

    fonte de matrias- primas, de mo-de-obra barata, visando lucros exorbitantes, tornando-se

    colnia dos Estados Unidos. A Amrica do Sul, com um imenso territrio ainda inexplorado,

    tinha como funo absorver mquinas americanas e servir de campo de explorao para os

    industriais americanos.

  • 22

    A Revoluo Americana, tambm abordada pelo autor. O texto aponta que as

    revolues que transtornaram periodicamente o Mxico, a Venezuela e outros pases no

    dizem respeito diretamente s revolues da Amrica Latina. No entanto, devem ser

    aproveitadas para desenvolver, eficazmente, o movimento das massas revolucionrias, que

    exprime os interesses do proletariado e dos camponeses pobres. Ainda declara, que o

    socialismo no fez nada para desenvolver este movimento revolucionrio das massas.

    Alm disso, o texto contundente ao afirmar que, desenvolver este movimento

    revolucionrio das massas, considerado uma tarefa revolucionria urgente e essencial. Para

    tanto, ressalta a necessidade de desacreditar desse socialismo, aniquilar sua influncia e

    estabelecer os elementos socialistas revolucionrios com o comunismo. Esta tarefa consiste,

    sobretudo em organizar em cada pas da Amrica do Sul, um partido comunista decidido e

    consciente com uma ideia ntida de seus objetivos.

    Enfatiza ainda a necessidade de expulsar os lderes de sindicatos, considerados

    traidores e libertar os sindicatos dos chantagistas e da sua influncia reacionria, destruir a

    Federao Operria Norte Americana e organizar os sindicatos da Amrica do Sul e dos

    Estados Unidos no terreno da luta de classe, alm de criar um ncleo comunista em cada

    sindicato.

    Outro texto de igual importncia problematizadora foi o de Jos Rubens Almeida,

    professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pesquisador do Ncleo de Estudos

    de Ideologia e Lutas Sociais, contribuiu com o debate no texto Da dominao econmica: a

    transnacionalizao capitalista na Amrica Latina, traando uma trajetria histrica de como

    aconteceu a mundializao do capital especialmente na Amrica Latina, elencando os

    elementos sociais, econmicos e polticos vivenciados pelo continente latino-americano fruto

    do processo de reproduo do padro de acumulao capitalista mundial.

    Analisa tambm o surgimento das lutas sociais, especialmente s protagonizadas pelas

    foras sociais do campo, destacando o Exrcito Zapatista de Libertao Nacional (EZLN).

    notvel que as lutas camponesas so expresses contemporneas e singulares da Amrica

    Latina, compostas por relaes sociais surgidas no seio da classe trabalhadora, cujos perfis

    tico e histrico est razoavelmente definido na origem de negros e ndios.

    A mundializao do capital um processo antigo na histria que integra os diversos

    mercados nacionais em um negcio mundial, intensificado, segundo a lgica de acumulao e

    reproduo do capital. Dentro deste contexto, o mercantilismo, as grandes navegaes

  • 23

    fortaleceram o desenvolvimento e a expanso do capitalismo na Amrica Latina, unificando a

    economia em uma escala mundial na corrida pelo acmulo de riqueza em suas formas mais

    primrias: rapina e explorao absoluta da fora de trabalho, tudo isso se configurando em

    lucro para a classe burguesa. Aqui se explica a origem do trfico dos negros.

    nesta poltica de expanso e domnio econmico que se instaura o imperialismo.

    Almeida (2010, p.33), enfatiza que falar do fenmeno imperialista implica referir-se

    trajetria do capitalismo e centralidade da relao capital-trabalho, ou seja, para o

    equilbrio da sociedade capitalista, necessariamente, precisa existir harmonia na inter-relao

    entre as esferas polticas, militares e econmicas, que possuem uma s estratgia: expanso do

    capital como relao social que assegura o domnio das foras de produo e reproduo da

    vida: trabalho.

    Neste contexto, a partir das paries histricas frente ao processo de hegemonia em

    direo ao domnio econmico, militar e poltico-cultural (1880-1945), sculo passado, os

    fatos revelam que a globalizao um conceito atualizado, miditico do imperialismo que se

    estabeleceu na atualidade, com os mesmos objetivos e polticas neoliberais que aceleram a

    expanso do capital. Sua funo garantir as condies necessrias para a concentrao do

    poder econmico das naes capitalistas desenvolvidas.

    O debate sobre a luta de classe est presente em todas as obras aqui analisadas. O texto

    seguinte aborda as inmeras consequncias ideolgicas, advindas da queda do socialismo real,

    como por exemplo, o estabelecimento de uma crise definitiva do padro clssico da luta de

    classes, bem como da prpria noo de revoluo e de luta de classes. Em meio a esse clima

    ideolgico, as resistncias e os movimentos das classes subalternas na Amrica Latina foram

    abandonando o discurso classista que por vrias dcadas os havia caracterizado.

    Nesta direo, tambm discute Srgio Tischler, professor e pesquisador de Ps

    Graduao em Sociologia do Instituto de Cincias Sociais e Humanidades da Benemrita

    Universidade Autnoma de Puebla, Mxico, que inicia seu texto reafirmando que a queda do

    socialismo real trouxe inmeras mudanas e, portanto, consequncias ideolgicas no que diz

    respeito noo de revoluo e luta de classes.

    Destaca ainda, que a crise e mudana que se refere no foram apenas discursivas. Tal

    mudana no foi apenas uma espcie de reviravolta discursiva ps-moderna. Elas foram

    precedidas por aes violentas de contra revoluo na Amrica Latina, promovendo uma

    desarticulao nos processos organizativos.

  • 24

    No bojo deste cenrio, para se legitimar, os movimentos sociais teriam que promover

    seus interesses particulares sem alterar a ordem universal. Porm, as lutas recentes da

    Amrica Latina zapatistas, indgenas e camponesas, entre outras - de certa forma, tem

    fomentado e motivado a atualizao da questo de classe e da luta de classe. Para

    compreender aspectos de carter conceitual da forma classe, faz-se necessrio discutir classe

    enquanto sujeito, constitudos na luta e no como um aglomerado de pessoas, pautada nas

    contradies e se manifesta na conflitualidade. Nessa compreenso, os sujeitos se constituem

    e se autoconhecem na luta, dessa forma, a noo de classe no expressa seu contedo crtico

    separadamente da luta, pois a forma crtica de existncia da sociedade capitalista luta.

    De acordo com Marx (2002), a classe no um objeto e sim o sujeito que luta contra a

    sua reduo a objeto e ela s pode ser entendida de maneira radical e crtica como parte dessa

    luta, como parte dessa dialtica e vai alm do atendimento necessidade da mesma, na forma

    de sujeito autodeterminante, tendo como fundamento a categoria liberdade e no a categoria

    necessidade.

    Assim sendo, a luta de classe busca a liberdade e no a dominao. Nessa direo, o

    que unifica o coletivo dos sujeitos explorados e dominados a luta contra as contradies que

    negam sua liberdade. Esta compreenso justifica porque a luta de classe no regida pela

    categoria de necessidade, mas pela categoria de liberdade: o coletivo implica a classe como

    movimento de negao do capital, que , ao mesmo tempo, um movimento de negao de

    classe. O coletivo radical aponta para a aniquilao da classe, no para sua afirmao.

    (TISCHLER, 2005 p.119)

    Portanto, pode-se afirmar que o objetivo da luta de classes o fim da dominao e da

    classe como forma de existncia do poder, ou seja, ir contra as diversas formas de

    dominao. Contraditoriamente, de acordo com o padro clssico da revoluo, embasado

    numa concepo positivista, a histria se realiza com a tomada do poder e pela estabilizao

    da figura da classe.

    Neste contexto, o autor critica o conceito de revoluo pela tomada de poder padro

    clssico - porque, ao longo da histria muitas das lutas pensadas e orientadas pelo lenismo,

    alm de obteno de derrotas, fortaleceu um novo poder. Para o autor, o resultado foi a

    destruio dos sovietes como forma poltica de autodeterminao operria e com isso a

    instalao reacionria da ditadura do partido.

  • 25

    Atualmente, a partir da publicao do livro Mudar o mundo sem tomar o poder de

    John Holloway, essa discusso foi retomada, visto que desenvolve uma nova formulao de

    revoluo, apresentando uma teoria de luta de classe, com base na forma soviete, contrria ao

    padro lenista. Assim, pensar revoluo na atual conjuntura refletir como as duas formas,

    forma partido e forma Estado, influenciaram a histria, sem perder de vista tambm as

    contribuies da forma soviete, articulando a reflexo terica realidade concreta/prtica.

    O exemplo do Exrcito Zapatista de Libertao nacional EZLN, tem se diferenciado

    devido ao esforo de promover uma revoluo tendo como pano de fundo a crise do padro

    clssico lenista, ao tratar de uma constante luta do sujeito social contra o poder e suas

    diferentes formas de coisificao.

    A revoluo no apenas um processo de mudana de retrica; mais que isso, pois

    prope se fazer emergir o nvel utpico dos significados, surgindo das contradies um

    novo sujeito revolucionrio.

    A partir destas anlises, cabe-nos trazer para este debate questes estruturais

    relevantes para a compreenso da disputa do capital no territrio brasileiro, a partir da nova

    configurao da agricultura assumida no Brasil.

    Os movimentos sociais, especialmente os Movimentos dos Trabalhadores Rurais sem

    Terra/MST, tem travado uma luta constante pela efetivao da Reforma Agrria Popular no

    Brasil, consequentemente, por melhores condies de vida. So mobilizaes populares via

    ocupaes, seminrios polticos, congressos, no chamamento pela unificao, implicando uma

    luta de classe na busca por mudanas na poltica agrria brasileira.

    Entretanto, na contramo desta histria fortalece-se o agronegcio, que atravs da

    expanso da monocultura de cana-de-acar, eucalipto, soja, entre outros, se apropria do

    territrio campons provocando retrocesso ao invs de avano na luta. O conceito de territrio

    aqui apresentado ancora-se nas ideias de Filho (2008), que apresenta uma ampliao do

    conceito, abarcando no somente a terra, unidade espacial, mas perpassa por todas as

    estratgias camponesas de resistncias, criao e recriao de sua cultura e modo de vida,

    aspectos que fortalecem os territrios camponeses na desumana disputa contra o agronegcio,

    que nada mais a agricultura gerenciada pelo capital internacional. Deste modo, quanto maior

    for a consolidao do campesinato brasileiro atravs da utilizao de princpios

    agroecolgicos de produo, criao de redes organizativas/cooperativas, entre outros

    mecanismos, mais ampliam-se as possibilidades de autonomia do campesinato.

  • 26

    Dito isso, firmamos que a luta de classe uma resistncia contnua ao sistema

    capitalista detentor dos meios de produo. Dessa forma, se configura um instrumento,

    mecanismo que os trabalhadores do campo dispem em suas amplas e especficas lutas na

    atualidade. Segundo Fernandes (2012, p. 499).

    [...] preciso um programa de mudanas que inclua a reestruturao da

    produo, das tcnicas e das escalas para garantir a soberania alimentar. Para

    isso, a Reforma Agrria Popular dever organizar agroindstrias

    cooperativas, mudar a matriz tecnolgica de produo para a agroecologia,

    democratizar o acesso educao em todos os nveis e priorizar a produo

    de alimentos sadios.

    Portanto, os movimentos sociais, sujeitos que se encontram nas trincheiras de luta pela

    vida, apresentam a necessidade do naufrgio deste processo de dominao imperialista que

    perdura na atualidade, travestido de globalizao, agronegcio, Estado, afunilando os meios

    de produo da vida a favor da expanso do capital, em forte aliana como o Estado brasileiro

    a mais de 500 anos.

  • 27

    3.4 A COLONIZAO DA AMRICA LATINA E AS CONTRIBUIES DOS

    REVOLUCIONRIOS LATINOS EM LUTA CONTRA A DOMINAO PR-

    CAPITALISTA E IMPERIALISTA

    Revoluo no histria.

    Revoluo no memoria.

    Revoluo um ato

    que se pratica agora.

    (Mauro Iasi)

    3.4.1 JOS CARLOS MARITEGUI

    Embora seja um escritor pouco

    biogrfico, lhe darei eu mesmo alguns dados

    sumrios. Nasci em 1895. Aos quatorze anos

    entrei como auxiliar de tipgrafo em um

    peridico. At 1919 trabalhei no jornalismo,

    primeiro em La Prensa , depois em El Tiempo,

    finalmente em La Razn. Neste ltimo dirio

    patrocinamos a reforma universitria. Depois de

    1918, enjoado com a poltica nativa, orientei-me

    nitidamente para o socialismo, rompendo com

    meus principais tenteios de literato infeccionado

    de decadentismo e bizantismo de fim de sculo,

    em pleno apogeu. Dos fins de 1919 a meados de

    1923, viajei pela Europa. Residi mais de dois

    anos na Itlia, onde desposei uma mulher e

    algumas ideias. Andei pela Frana, Alemanha,

    austria e outros pases. Minha mulher e meu

    filho me impediram de chegar at a Rssia. Da

    Europa me entendi com alguns peruanos sobre a ao socialista. Meus artigos dessa poca

    assinalam as estaes de minha orientao socialista. Em minha volta ao Peru, em 1923,

    atravs de reportagens, de conferncias na Federao dos Estudantes e na universidade

    popular, de artigos, etc., expliquei a situao europeia e iniciei meu trabalho de investigao

    da realidade nacional, de uma perspectiva marxista. Em 1924, estive, como j contei, a ponto

    de perder a vida. Perdi uma perna e fiquei muito mal. Teria certamente me curado por

    completo com uma existncia repousada. No entanto, nem minha pobreza nem minha

    inquietao espiritual permitiam isso. No publiquei mais livros alm dos que voc conhece

    [1925 La Escena Contempornea e os 7 ensaios de 1927]22 . Esto prontos dois e dois esto

    em projeto. Eis aqui minha vida em poucas palavras. No creio que valha a pena torn-la

    notria; mas no posso recusar-lhe os dados que me pede. Esqueci-me: sou um autodidata.

  • 28

    Matriculei-me uma vez no curso de letras, em Lima, porm com um nico interesse de

    seguir o curso de um erudito frade agostiniano. E na Europa frequentei livremente alguns

    cursos, mas sem nunca decidir-me a perder meu carter extra universitrio e talvez, at anti-

    universitrio. Em 1925 a Federao dos Estudantes me props universidade como

    catedrtico da matria de minha competncia; todavia, a m vontade do reitor e,

    seguramente meus estado de sade, frustraram essa iniciativa.3

    Jos Carlos Maritegui, estudioso do marxismo buscou sistematizar um projeto

    revolucionrio para uma nao constituda, essencialmente, por povos do campo indgena,

    ainda em processo de organizao e formao slida revolucionria, sob o controle da

    oligarquia fundiria na explorao das suas foras produtivas.

    Jos Carlos Maritegui foi o prprio artfice de sua grandeza. Nascido de

    uma famlia pobre e tendo de prover seu sustento precocemente, encontrou

    em suas atividades prticas os meios para promover sua auto-educao, para

    demonstrar e aperfeioar sua vocao literria e para tornar-se o maior

    expoente do socialismo de sua gerao e da dcada de 20-30 (no s quanto

    ao peru, mas toda Amrica Latina).[...] O autor imerge plenamente na

    situao na qual investiga, a qual pretende, a um tempo, conhecer, explicar e

    transformar.[...] Ele o tipo de autor que devemos ler e reler com ateno,

    numa poca que exige de ns que botemos todo nosso sangue na defesa de

    nossas ideias e na qual a alternativa para a luta sem trguas por uma sociedade de homens livres para homens livres a servido. (FERNANDES, 8-9 de outubro de 1974)

    Maritegui anunciara que o projeto revolucionrio tambm se estendia ao campesinato

    indgena e, que este, deveria ser interpretado para alm do crescimento organizacional poltico

    da poca, mas sobretudo, a sua sobrevivente estrutura comunitria, o trabalho cooperativo e a

    propriedade coletiva. Estas seriam, para ele, novas bases materiais de um cenrio em

    potencial para a revoluo. Essas caractersticas inerentes a essas populaes davam

    possibilidade para a defesa de uma sociedade socialista pautado na coletividade sem grandes

    dificuldades.

    3 Excerto de uma carta escrita em 10/01/1927 a Enrique Espinosa (Samuel Glusberg), direto r da revista La Vida Literria (Buenos Aires), na qual foi publicada no nmero de maio de 1930. O

    Excerto foi extrado da face interna das capas de J. C. Maritegui 7 Ensayos de Interpretacin de la

    Realidad Peruana, vigsima edio, Lima, Empresa Editora Amauta, 1972.

  • 29

    A realidade latino-americana, portanto, foi base para a construo do pensamento de

    Maritegui. Para ele uma teoria tem que explicar a realidade e ajudar a transform-la. Se no

    ajudar, no universal.

    H de destacar que o pensador peruano acreditava numa perspectiva socialista pautada

    na realidade latino-americana. Dentro dessa perspectiva, deveria ter como sujeitos dessa

    construo os seus povos e naes. Assim, jamais poderia negligenciar o protagonismo dos

    povos indgenas nesse percurso, os quais representavam grande parte da populao peruana

    naquele perodo. Nas reflexes de Maritegui, mesmo com algumas contradies, as naes

    indgenas latino-americanas so herdeiras de uma cultura que j traziam um socialismo

    primitivo nas suas experincias de vida.

    Deste modo, a luta do campons contra o latifndio no deve est separada da luta do

    proletariado e da pequena burguesia contra o capitalismo. Todavia, ambas desembocam ao

    mesmo tempo em lutas anti-imperialistas, que podem constituir uma base coletiva

    revolucionria. Nas palavras de Maritegui a soluo do ndio tem de ser uma soluo

    social, algo que os ndios quem devem realiz-la (MARITEGUI, 2007).

    Fundador do Partido Comunista Peruano considerado um dos tericos mais

    importantes da Amrica Latina, mesmo levando em considerao todas as crticas atribudas a

    ele. Uma delas refere-se a seu ecletismo terico, por acreditar que tudo o que servisse para a

    revoluo deveria ser utilizado. Todavia, vale salientar, que o alicerce da sua fundamentao

    terica pauta-se, principalmente, no seu exlio na Itlia ps-guerra e no fervor da Revoluo

    Russa de 1917. Publicou Escritos filosficos Defesa do Marxismo (1928/29) e Sete Ensaios

    de Interpretao da Realidade Peruana (1928).

  • 30

    3.4.2 CARLOS MARIGHELLA

    Reivindico apenas um lugar na luta de resistncia.

    (Carlos Marighella)

    Carlos Marighella (1911-1969) militante

    brasileiro desde jovem, vinculado ao partido

    comunista do qual s se afastou por recusa a

    poltica de subordinao a burguesia nacional

    proposta pelo parido. Diante desta situao,

    afirmava a necessidade de iniciar a luta armada,

    para isso junto com Joaquim Camara Ferreira e

    outros comunistas fundaram 1968 a Aliana

    Libertadora Nacional (ALN) desencadeando

    diversas atividades de guerrilha urbana contra o

    regime militar, o qual atuou fortemente na

    represso dessas aes at destruir tanto o movimento como seu lder: Marighella. Contudo

    sua morte no simbolizou o uma derrota, mas sim um exemplo de resistncia.

    A resistncia priso em plena ditadura, mesmo correndo o risco de ser

    baleado como fui, um modo de exprimir confiana na capacidade e

    receptividade do povo, para a compreenso de um ato de protesto (mesmo

    individual), a prova de fidelidade aos compromissos com a luta pela

    liberdade. (MARIGHELLA, 1979 p. 12)

    As lutas de Marighella justificavam-se pela situao poltica do Brasil naquele tempo

    histrico, mas suas contribuies para criao de uma teoria revolucionaria ultrapassa os

    limites dos tempos e se fazem vlidas como uma guisa orientadora para uma revoluo contra

    a realidade de dependncia e explorao vivenciada pelos povos da Amrica Latina.

  • 31

    Rond da Liberdade

    preciso no ter medo,

    preciso ter a coragem de dizer.

    H os que tm vocao para escravo,

    mas h os escravos que revoltam

    contra a escravido.

    No ficar de joelhos,

    que no racional renunciar a ser

    livre.

    Mesmo os escravos por vocao

    devem ser obrigados a ser livres,

    quando as algemas forem quebradas.

    preciso no ter medo,

    preciso ter a coragem de dizer.

    O homem deve ser livre...

    O amor que no se detm ante

    nenhum obstculo,

    e pode mesmo existir at quando no

    se livre.

    E no entanto ele em si mesmo

    a expresso mais elevada do que

    houver de mais livre

    em todas as gamas do humano

    sentimento.

    preciso no ter medo,

    preciso ter a coragem de dizer.

    (Poema cedido por Clara Charf)

    Para ele a luta se constitui como um processo

    permanente de embates dentro e fora da ordem

    vigente. H a necessidade da luta no mbito legal

    para a garantia dos direitos imediatos, mas h

    tambm a necessidade de se avanar para a luta

    histrica no sentido de se conquistar questes

    estruturais que foram negadas ao longo do

    desenvolvimento da sociedade de classes. Segundo

    ele a luta (que no espontnea visto que a

    conscincia revolucionaria tambm no o ) um

    fator imprescindvel e fundamental para que o

    processo de desenvolvimento chegue s ltimas

    consequncias.

    Em seu Mini manual do guerrilheiro-urbano

    Marighella traz algumas estratgias fundamentais

    para formao do guerrilheiro responsvel por

    desencadear tal luta. De acordo com ele o

    guerrilheiro-urbano segue uma meta poltica e ataca

    o governo. Tem que se posicionar enquanto inimigo

    do governo, ajudando a levar as massas ao poder.

    Defende a causa do povo exige boas tticas. Como

    as armas so inferiores s do exrcito, preciso ser

    criativo.

    O guerrilheiro-urbano deve viver do trabalho, conhecendo sua realidade e a do

    inimigo. Preparao fsica, conhecimento e aprendizado de profisses de todas as classes,

    falsificar documentos, manejar as armas, entender de explosivos so fundamentais so

    tcnicas essenciais para a sobrevivncia. As armas devem ser leves. preciso ter em mente

    que o manejo essencial, elas podem ser compradas ou expropriadas. Saber atirar; ter cuidado

    para no desperdiar munio; pontaria treinada e; armas apropriadas so estratgias para

    acertar o tiro e vencer a guerrilha. Como se trata de um trabalho coletivo preciso ter

    confiana plena nos camaradas, a escolha do lder deve ser aquele que atira melhor.

  • 32

    Quanto logstica, Marighella aponta o seguinte: a) CCEM comida, combustvel,

    equipamento, munies; b) MDAME mecanizao, dinheiro, armas, munies, explosivos.

    Alm disso, afirma que todo guerrilheiro-urbano deve ter um bom motorista.

    A contribuio de Marighella de suma importncia para se compreender que a

    colonizao da Amrica Latina no se deu de forma pacfica ao contrario essa se desenrolou

    em meio a resistncias, mortes, luta e acima de tudo um sonho maior de uma outra sociedade.

    Assim mesmo que ainda no tenhamos como dimensionar a contribuio das ideias e prticas

    de Marighella, a essncia de sua perdurar at que se alcance a emancipao da humanidade!

    3.4.3 ERNESTO GUEVARA LYNCH (CHE GUEVARA)

    Foi num dia do ms de julho ou agosto de

    1955 que conhecemos o Che. E em uma noite

    como ele conta em suas narrativas converteu-

    se num futuro expedicionrio de Granma.

    Porm nessa poca a aquela expedio no tinha

    barco, nem armas, nem tropas. Foi assim que,

    junto com Raul, o Che integrou o grupo dos dois

    primeiros da lista do Gramna.

    Che era uma pessoa a quem todos

    imediatamente se afeioavam, por sua

    simplicidade, seu carter, sua naturalidade, seu

    companheirismo, sua personalidade, sua

    originalidade, mesmo quando ainda no o

    conheciam as demais virtudes singulares que o caracterizaram.

    Para um homem como ele no se necessitava de muitos argumentos. Bastava-lhe

    saber que Cuba vivia em uma situao semelhante, bastava-lhe saber que havia homens

    decididos a combater de armas na mo essa situao, e bastava-lhe saber que aqueles

  • 33

    homens estavam inspirados em sentimentos genuinamente revolucionrios e patriticos. E

    isso era mais que suficiente.

    Essa era uma das suas caractersticas essenciais: a disposio imediata, instantnea,

    de oferecer-se para realizar a misso mais perigosa. E isso naturalmente gerava uma

    admirao, uma dupla admirao em relao quele companheiro que lutava conosco, que

    no havia nascido nesta terra, que era um homem de ideias profundas, que era um homem em

    cuja mente danavam sonhos de luta em outras partes do continente e, contudo, tinha aquele

    altrusmo, aquele interesse, aquela disposio para fazer o sempre mais difcil, para arriscar

    sua vida constantemente.

    (Carta de Fidel Castro memria de Ernesto Che Guevara)

    Hasta la victoria, siempre!!!

    Uma das mais valiosas contribuies de Ernesto Che Guevara que pretende

    generalizar certas lies da Revoluo Cubana para a Amrica Latina o escrito intitulado

    Guerra de Guerrilhas: um mtodo (1963). Uma das teses centrais do texto refere-se ao carter

    socialista da revoluo latino-americana, e est intimamente ligada anlise do papel das

    burguesias nacionais. Guevara tambm apresenta, de forma concisa e rigorosa, suas ideias

    sobre a guerra de guerrilha em escala continental; devemos ressaltar que, contrariamente ao

    que pretendem seus crticos superficiais, Guevara concebia a guerrilha como um processo

    poltico-militar com carter de luta de massas. Naturalmente sua concepo e guerra de

    guerrilha de guerrilha sofrem influncia direta do exemplo cubano: prioridade da luta no

    campo, papel fundamental do foco inicial, etc.

    RESISTIR

    Cuando pierda todas las partidas

    Cuando duerma con la soledad

    Cuando se me cierren las salidas

    Y la noche no me deje en paz

    Resistir, resistir.

    Cuando el mundo pierda toda magia

    Cuando mi enemigo sea yo

    Cuando me apuale la nostalgia

  • 34

    Cuando sienta miedo del silencio

    Cuando cueste mantenerse en pie

    Cuando se rebelen los recuerdos

    Y me pongan contra la pared

    Resistir, erguido frente a todo

    Me volver de hierro para endurecer la piel

    Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte

    Soy como el junco que se dobla,

    Pero siempre sigue en pie

    Resistir, para seguir viviendo

    Soportar los golpes y jams me rendir

    Y aunque los sueos se me rompan en pedazos

    Y no reconozca ni mi voz

    Cuando me aminace la locura

    Cuando en mi moneda salga cruz

    Cuando el diablo pase la factura

    Se alguna vez me faltas tu

    Resistir...

    O si alguna vez me faltas t.

    Resistir, erguido frente...

    (Duo Dinmico)

  • 35

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Os estudos realizados na disciplina Educao do Campo e Movimentos Sociais

    conglomeraram algumas dimenses que esto intrnsecas produo do conhecimento sobre a

    Amrica Latina, a partir de um olhar crtico que tem como centralidade a luta de classe e os

    processos revolucionrios.

    Perpassando pela concepo de histria e luta de classe, a base terico-metodolgica

    foi o materialismo histrico dialtico, haja vista que este tem como perspectiva descobrir a

    contradio contida nos fenmenos, seus antagonismos e o movimento que leva resoluo.

    Por isso, buscar no materialismo histrico dialtico os fundamentos para o trabalho acadmico

    tambm um ato poltico vinculado a um projeto revolucionrio. Ao longo do estudo foi

    possvel perceber que esse mtodo mostra alm do alcance da aparncia imediata, permitindo

    atingir a estrutura e dinmica do objeto, portanto a elaborao do conhecimento implica

    necessariamente na apreenso do contedo. Dessa forma, o mtodo adotado permitiu o

    entendimento acerca da prtica social e cultural dos povos do campo da Amrica Latina,

    permeada pelas contribuies dos revolucionrios latinos em luta contra a dominao pr-

    capitalista e imperialista.

    Ao contrrio do que mostram estudos eurocntricos e norte-americanos, os processos

    revolucionrios enfrentados pelos latino-americanos tiveram contribuio decisiva para a

    libertao do povo que aqui vivia/vive. Apesar de no ter alcanado a emancipao e

    efetivado o comunismo objetivo central dos revolucionrios latinos as conquistas

    concretizadas foram de suma importncia para a classe trabalhadora, j que romperam com

    alguns aspectos colonialistas e imperialistas impostos a esse povo: a) no Peru, Jos Carlos

    Mariatgui contribuiu para as lutas indgenas, ainda quando estas se encontravam em processo

    de organizao e formao slida revolucionria, sob o controle da oligarquia fundiria na

    explorao das suas foras produtivas, acreditando que por ser uma questo social deveria ser

    realizada pelos prprios ndios; b) no Brasil, o baiano Carlos Mariguella juntou-se a outros

    comunistas nas guerrilhas urbanas contra a ditadura militar, suas aes foram fundamentais

    naquela conjuntura poltica brasileira, alm de contribuir para a criao de uma teoria

    revolucionria; c) Ernesto Che Guevara trouxe contribuies significativas da Revoluo

    Cubana para a Amrica Latina, marcando uma nova histria para esse conjunto de pases.

  • 36

    Como visto, apesar de no romper com o sistema capitalista, os processos

    revolucionrios representam momentos histricos, efetivados dentro das possibilidades

    concretas de transformao social, de ruptura com imposies de um modo de produo que

    expropriou e explorou indgenas, negros e camponeses latino-americanos, negando sua

    cultura e identidade e explorando sua fora de trabalho.

    Portanto, apesar das lutas especficas apresentarem limites, o trabalho realizado na

    disciplina Educao do Campo e Movimentos Sociais mostra que a superao das questes

    imediatas so necessrias para a concretizao de um projeto revolucionrio. No mbito da

    Educao do Campo no Brasil, ela representa uma etapa especfica (singular) dentro de um

    processo mais amplo (universal) que busca acabar com a propriedade privada da terra e dos

    meios de produo. Desse modo, a luta pela Educao do Campo estratgica, haja vista que

    ela, na sua proposta original (construda pelos movimentos sociais do campo) aquela que

    mais se aproxima de uma educao conscientizadora da classe trabalhadora camponesa acerca

    do capital.

  • 37

    REFERNCIAS

    ALMEIDA, Jos Rubens Mascarenhas de. Amrica Latina: transnacionalizao e lutas sociais

    no alvorecer do sculo XXI da luta armada como poltica (o caso EZLN). Vitria da Conquista: Edies UESB, 2010.

    FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro:

    Zahar Editores, 1968.

    ____________. Capitalismo dependente e classes sociais na Amrica Latina.

    Apresentao de Ricardo Antunes. 4 Ed..rev. So Paulo: Global, 2009.

    ____________. A concretizao da Revoluo Burguesa. In.: IANNI, Octavio

    (org.). Florestan Fernandes: sociologia crtica e militante. So Paulo: Expresso Popular,

    2011.

    FRIGOTTO, Gaudncio, Projeto societrio contrahegemnico e educao do Campo: desafios de contedo, mtodo e forma. In: MUNARIN, Antonio. et al (org.). Educao do

    Campo: Reflexes e perspectivas. Florianpolis: Insular, 2010.

    GALEANO, Eduardo. As veias abertas da Amrica Latina. Traduo de Srgio Faraco.

    Porto Alegre, RS: L&PM, 2010.

    KAUTSKY, Karl. A questo agrria. Traduo de Otto Erich Walter Maas. So Paulo: Nova

    Cultural, 1986.

    LWY, Michael. Ideologias e Cincias Sociais: para uma anlise marxista. 4 Edio. So

    Paulo: Cortez, 1988.

    _____________. (Org.). O Marxismo na Amrica Latina: uma antologia de 1909 aos dias

    atuais. Tradutores: Claudia Schilling e Lus Carlos Borges. So Paulo: Editora Fundao Perseu Abrano, 1999. 2 reeimpresso atualizada, 2003.

    MARIGUELA, Carlos. Escritos de Carlos Mariguela. 1 Ed. So Paulo: Editorial

    Livramento, 1979.

    MARX, K. O capital: crtica da economia poltica: Livro 1, Vol 1 e 2. Rio de Janeiro:

    Civilizao Brasileira. Traduo de Reginaldo SantAnna, 2002. (captulos selecionados)

    PETRAS, James. Neoliberalismo: Amrica Latina, Estados Unidos e Europa. Blumenau:

    Furb, 1999. Col. Sociedade e ambiente, n 3.

    RAMOS FILHO, Eraldo da Silva. Questo agrria atual: Sergipe como referncia para um

    estudo confrontativo das polticas de reforma agrria e reforma agrria de mercado (2003 2006). Tese de doutorado. Universidade Estadual Paulista/UNESP. So Paulo: 2008.

    TISCHLER, Sergio. A forma classe e os movimentos sociais na Amrica Latina. In: LEHER,

    Roberto; SETBAL. Mariana. Pensamento Crtico e movimentos sociais: dilogo para

    uma nova prxis. So Paulo: Cortez, 2005

  • 38

    SECRETARIA NACIONAL, Movimento dos Trabalhadores Rurais. Marighella Vive. So

    Paulo, 1999.

    WOOD, Ellen. Trabalho, classe e Estado no capitalismo global. In: Taddei, E. e Seoane, J.

    Resistncias mundiais: de Seatle a Porto Alegre. ed Vozes, 2001.

  • 39

    ANEXOS

    Anexo 1: Poema Perguntas de um Operrio Letrado:

    Perguntas de um Operrio Letrado

    (Bertold Brecht)

    Quem construiu Tebas, a das sete portas?

    Nos livros vem o nome dos reis,

    Mas foram os reis que transportaram as pedras?

    Babilnia, tantas vezes destruda,

    Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas

    Da Lima Dourada moravam seus obreiros?

    No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde

    Foram os seus pedreiros? A grande Roma

    Est cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem

    Triunfaram os Csares? A to cantada Bizncio

    S tinha palcios

    Para os seus habitantes? At a legendria Atlntida

    Na noite em que o mar a engoliu

    Viu afogados gritar por seus escravos.

    O jovem Alexandre conquistou as ndias

    Sozinho?

    Csar venceu os gauleses.

    Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu servio?

    Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha

    Chorou. E ningum mais?

    Frederico II ganhou a guerra dos sete anos

    Quem mais a ganhou?

    Em cada pgina uma vitria.

    Quem cozinhava os festins?

    Em cada dcada um grande homem.

    Quem pagava as despesas?

    Tantas histrias

    Quantas pergunta

  • 40

    Anexo 2: Msica Volver:

    VOLVER

    Yo adivino el parpadeo

    De las luces que a lo lejos

    Van marcando mi retorno...

    Son las mismas que alumbraron

    Con sus palidos reflejos

    Hondas horas de dolor..

    Y aunque no quise el regreso,

    Siempre se vuelve al primer amor..

    La vieja calle donde el eco dijo

    Tuya es su vida, tuyo es su querer,

    Bajo el burlon mirar de las estrellas

    Que con indiferencia hoy me ven volver...

    Volver... con la frente marchita,

    Las nieves del tiempo platearon mi sien...

    Sentir... que es un soplo la vida,

    Que veinte aos no es nada,

    Que febril la mirada, errante en las sombras,

    Te busca y te nombra.

    Vivir... con el alma aferrada

    A un dulce recuerdo

    Que lloro otra vez...

    Tengo miedo del encuentro

    Con el pasado que vuelve

    A enfrentarse con mi vida...

    Tengo miedo de las noches

    Que pobladas de recuerdos

    Encadenan mi soar...

    Pero el viajero que huye

    Tarde o temprano detiene su andar...

    Y aunque el olvido, que todo destruye,

    Haya matado mi vieja ilusion,

    Guardo escondida una esperanza humilde

    Que es toda la fortuna de mi corazn.

    Volver... con la frente marchita,

    Las nieves del tiempo platearon mi sien...

    Sentir... que es un soplo la vida,

    Que veinte aos no es nada,

    Que febril la mirada, errante en las sombras,

    Te busca y te nombra.

    Vivir... con el alma aferrada

  • 41

    A un dulce recuerdo

    Que lloro otra vez...

    Anexo3: msica Resistir:

    RESISTIR

    Cuando pierda todas las partidas

    Cuando duerma con la soledad

    Cuando se me cierren las salidas

    Y la noche no me deje en paz

    Cuando sienta miedo del silencio

    Cuando cueste mantenerse en pie

    Cuando se rebelen los recuerdos

    Y me pongan contra la pared

    Resistir, erguido frente a todo

    Me volver de hierro para endurecer la piel

    Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte

    Soy como el junco que se dobla,

    Pero siempre sigue en pie

    Resistir, para seguir viviendo

    Soportar los golpes y jams me rendir

    Y aunque los sueos se me rompan en pedazos

    Resistir, resistir.

    Cuando el mundo pierda toda magia

    Cuando mi enemigo sea yo

    Cuando me apuale la nostalgia

    Y no reconozca ni mi voz

    Cuando me aminace la locura

    Cuando en mi moneda salga cruz

    Cuando el diablo pase la factura

    Se alguna vez me faltas tu

    Resistir...

    O si alguna vez me faltas t.

    Resistir, erguido frente...

    Anexo 4: msica Cancin Con Todos:

  • 42

    Cancin Con Todos

    Mercedes Sosa

    Salgo a caminar

    Por la cintura csmica del sur

    Piso en la regin

    Ms vegetal del tiempo y de la luz

    Siento al caminar

    Toda la piel de Amrica en mi piel

    Y anda en mi sangre un ro

    Que libera en mi voz

    Su caudal.

    Sol de alto Per

    Rostro Bolivia, estao y soledad

    Un verde Brasil besa a mi Chile

    Cobre y mineral

    Subo desde el sur

    Hacia la entraa Amrica y total

    Pura raz de un grito

    Destinado a crecer

    Y a estallar.

    Todas las voces, todas

    Todas las manos, todas

    Toda la sangre puede

    Ser cancin en el viento.

    Canta conmigo, canta

    Hermano Amricano

    Libera tu esperanza

    Con un grito en la voz!

    Anexo 5: msica Todo Cambia

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    Todo Cambia

    Mercedes Sosa

    Cambia lo superficial

    Cambia tambin lo profundo

    Cambia el modo de pensar

    Cambia todo en este mundo

    Cambia el clima con los aos

    Cambia el pastor su rebao

    Y as como todo cambia

    Que yo cambie no es extrao

    Cambia el ms fino brillante

    De mano en mano su brillo

    Cambia el nido el pajarillo

    Cambia el sentir un amante

    Cambia el rumbo el caminante

    Anque esto le cause dao

    Y as como todo cambia

    Que yo cambie no es extrao

    Cambia, todo cambia

    Cambia, todo cambia

    Cambia, todo cambia

    Cambia, todo cambia

    Cambia el sol en su carrera

    Cuando la noche subsiste

    Cambia la planta y se viste

    De verde en la primavera

    Cambia el pelaje la fiera

    Cambia el cabello el anciano

    Y as como todo cambia

    Que yo cambie no es extrao

    Pero no cambia mi amor

    Por ms lejo que me encuentre

    Ni el recuerdo ni el dolor

    De mi pueblo y de mi gente

    Lo que cambi ayer

    Tendr que cambiar maana

    As como cambio yo

    En esta tierra lejana

    Cambia, todo cambia

    Cambia, todo cambia

    Cambia, todo cambia

    Cambia, todo cambia

  • 44

    Pero no cambia mi amor

    Anexo 6: msica Oh, que ser?:

    Oh, que ser?

    Chico Buarque e Omara Portuondo

    Oh que ser, que ser

    Que andan suspirando por las alcobas

    Que andan, susurrando en versos y trovas

    Que andan, escondiendo bajo las ropas,

    Que andan en las cabezas y anda en las bocas

    Que va encendiendo velas en callejones

    Que estan hablando alto en los bodegones

    Estan en el mercado, est con certeza

    En la naturaleza, ser que ser

    Que no tiene certeza, ni nunca tendr

    Lo que no tiene arreglo, Ni nunca tendr

    Que no tiene tamao

    O que ser, que ser?

    Que vive nas idias desses amantes

    Que cantam os poetas mais delirantes

    Que juram os profetas embriagados

    Que est na romaria dos mutilados

    Que est na fantasia dos infelizes

    Que est no dia a dia das meretrizes

    No plano dos bandidos dos desvalidos

    Em todos os sentidos...

    Ser, que ser?

    O que no tem decncia nem nunca ter

    O que no tem censura nem nunca ter

    O que no faz sentido...

    Oh que ser, que ser

    Que todos los avisos no van a evitar

    Porque todas las risas van a desafiar

    Y todas las campanas van a replicar

    Porque todos los signos van a consagrar

    Porque todos los nios se habrn de zafar

    Y todos los destinos se irn a encontrar

    Y el mismo padre eterno que nunca fue all

    Al ver aquel infierno lo bendecir,

  • 45

    Que no tiene gobierno, ni nunca tendr

    Que no tiene vergenza, ni nunca tendr

    Lo que no tiene juicio

    Anexo 7: msica Apesar de Usted:

    Apesar de Usted

    Chico Buarque

    Hoy es usted el que manda

    Lo dijo, est dicho

    Es sin discusin, no?

    Toda mi gente hoy anda

    Hablando bajito

    Mirando el rincn, vi?

    Usted que invent ese estado

    E ivuent el inventar

    Toda la oscuridad

    Usted que invent el pecado

    Olvidse de inventar

    El perdn

    A pesar de usted

    Maana ha de ser

    Otro da

    Yo quisiera saber

    Dnde se va a esconder

    De esa enorme alegria

    Cmo le va prohibir

    A ese gallo insistir

    En cantar

    Agua nueva brotando

    Y la gente amndose

    Sin parar

    Cuando llegue ese momento

    Todo el sufrimiento

    Cobrar seguro, juro

    Todo ese amor reprimido

    Ese grito mordido

    Este samba en lo oscuro

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    Usted que invent la tristeza

    Tenga hoy la fineza

    De desinventar

    Usted va a pagar

    Y bien pagada

    Cada lgrima brotada

    Desde mi penar

    A pesar de usted

    Maana ha de ser

    Otro da

    Dara tanto por ver

    El jardin florecer

    Como usted no quera

    Cunto se va a amargar

    Viendo al dia asomar

    Sin pedirle licencia

    Cmo voy a rer

    Que el da ha de venir

    Antes de lo que usted piensa

    A pesar de usted

    Maana ha de ser

    Otro da

    Tendr entonces que ver

    Al da renacer

    Derramando poesia

    Cmo se va a explicar

    Ver al cielo clarear

    De repente, impunemente

    Cmo va a silenciar

    Nuestro coro al cantarle

    Bien de frente

    A pesar de usted

    Maana ha de ser

    Otro da

    Anexo 8: msica Clice:

    Clice

    Chico Buarque

    De vinho tinto de sangue