Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

48
Ano I - N.° 3 - 22 Mar./20 Jun. 2002 – Revista Trimestral E 2.50 IVA incluído Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que destino? Falcões-peregrinos em BD A s s o c i a ç ã o d o s A m i g o s d o P a r q u e B i o l ó g i c o d e G a i a EDIÇÃO PAGA

Transcript of Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Page 1: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Ano I - N.° 3 - 22 Mar./20 Jun. 2002 – Revista Trimestral E 2.50 IVA incluído

Douro NaturalTesouros da zona entre-marés

Borboletas: que destino?Falcões-peregrinos em BD

Asso

ciação dos Amigos do

ParqueBiológicodeGaia

EDIÇÃO PAGA

Page 2: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

12 Que destino para as borboletas?

Anunciam a Primavera primeiroque as andorinhas. Essas floresaladas podem ser apoiadas por si,que não as quer perder de vista

14 Douro natural

O Estuário do Douro ainda acolhe umaavifauna preciosa. Quer os poderes públi-cos quer os cidadãos estão ainda a tempode o conservar

32 Barroeira

Tendem a revestir rochedos donosso litoral. Embora nãopareçam, são animais muitocuriosos e importantes noecossistema em que seenquadram

Revista“Parque biológico”

DirectorNuno Gomes Oliveira

EditorJorge Gomes

FotografiasArquivo Fotográfico do Parque Biológicode Gaia, E. M.

RevisãoFernando Pereira

MaquetagemORGALimpressores

PropriedadeParque Biológico de Gaia, E. M.

Pessoa colectiva504888773

Tiragem5000 exemplares

ISSN1645-2607

N.º Registo no I.C.S.123937

Dep. Legal170787/01

Execução GráficaORGALimpressoresRua do Godim, 2724300-236 Porto

Administração e redacçãoParque Biológico de Gaia, E. M.Estrada Nacional 2224430-757 AVINTES – PortugalTelefone: 22 7878120E-mail: [email protected]ágina na internet:http://www.parquebiológico.pt

Conselho de AdministraçãoFernando de SousaNuno SousaNuno Gomes Oliveira

SecçõesBreves 4Notícia: Região Porto, áreas naturais 6Ver e Falar 7Quinteiro: Ninho… doce ninho 8Quinteiro: Primeiros compinchas 11Entrevista: Ricas rochas 17Fluxos: Água que tudo lavou 18Educação: Paisagem protegida 20Lembrete: Dia mundial da floresta 22Luso: Coudelaria de Alter 24Equipamento: Quinta da Gruta 26Permuta: Vaivém - Serra de S. Mamede 28Habitat: Entre marés 30Flora: Laminárias 31Internacional: Slimbridge 34Espigueiro: Acontece no Parque 36Jardim: Util e agradável 41Infância: 42Banda desenhada 44Parágrafo: Sugestões 47Foto da estação 48

Visite o site da revista “Parque Biológico”:http://planeta.clix.pt/parquebiologicoE-mail: [email protected]

FOTO DA CAPA

A borboleta Colea crocea (nome comum:Maravilha) é uma das borboletas que pedea protecção do seu habitat, para que nãodesapareça. Foto cedida por FototecaInternacional, Lda. (direitos reservados).

Page 3: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Com a Primavera, chega o 3.º número da Revista PAR-

QUE BIOLÓGICO, um dos projectos mais "queridos" da

administração e da equipa do colaboradores da

Empresa Municipal Parque Biológico.

Passando os olhos pelos dois números anteriores,

desde logo se tira uma primeira conclusão: a significa-

tiva evolução de conteúdos e aspecto gráfico, da pri-

meira para a segunda publicação.

A Revista afirma-se não só como um veículo de divul-

gação do Parque Biológico, mas também como um

ponto de encontro de outras experiências e lugares.

É, também, um retrato, ainda que muito incompleto

(por falta de espaço) das múltiplas actividades que o

Parque Biológico, num crescendo de qualidade e quan-

tidade, está a desenvolver e a projectar.

O 3.º número da Revista tem quatro particularidades

que queremos assinalar:

- a capa, até ao presente número ilustrada com

fotografias compradas, passará, sem perda de

qualidade, a ser preenchida com uma foto de um

colaborador do próprio Parque, neste caso do

Jorge Gomes, responsável por esta revista;

- dá-se início a um programa de intercâmbio bi-

direccional com outros parques e regiões de

Portugal, permitindo, neste caso, que jovens de

Gaia visitem a região do Parque Natural da Serra

de S. Mamede (Alentejo), e que os jovens dessa

região venham ao Parque Biológico, no âmbito de

um programa conjunto com a Câmara Municipal

de Castelo de Vide.

- abre-se a revista ao estrangeiro, com um primei-

ro artigo sobre um parque em Inglaterra, a que se

sugere uma visita de estudo que o Pa r q u e

Biológico vai organizar em Maio de 2003.

- finalmente, este n.º 3 é totalmente custeado pela

ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO PA R Q U E

BIOLÓGICO, cumprindo-se, assim, uma das cláu-

sulas do protocolo que a Associação celebrou

com a Empresa Municipal, e dando bom e útil uso

ao dinheiro que os sócios confiam à AAPB.

Sai esta revista pouco tempo depois da tomada de

posse do novo Conselho de Administração da Empresa

Municipal Parque Biológico, ocorrido em Fevereiro

passado, e por isso se aproveita a ocasião para, por um

lado, dar as boas-vindas à equipa do Parque Biológico

ao novo administrador nomeado pela Câmara,

Vereador Nuno de Sousa, por outro, assinalar a dedica-

ção que ao longo de ano e meio votou à Empresa

Municipal o Sr. César Oliveira, que agora deixou o

Conselho de Administração, por ter sido chamado para

outras funções na Câmara Municipal.

A nova equipa, continuará a ser presidida pelo Prof.

Doutor Fernando de Sousa que, com a sua longa expe-

riência em funções públicas, tem sido um elemento

gerador de consensos, ponderação e equilíbrio.

O lançamento deste número da Revista coincide com o

momento em que a Empresa Municipal encerra as

contas de 2001 com resultado positivo, apesar do cres-

cimento do volume de actividades, o que vem contra-

dizer as vozes de alguns "velhos-do-restelo" quanto à

oportunidade e viabilidade das empresas municipais.

Boa leitura, em mais este encontro com a conservação

da natureza e a educação ambiental!

Nuno Gomes OliveiraDirector da Revista «Parque Biológico»

Administrador do Parque Biológico

e d i t o r i a l

Primavera 2002 Parque Biológico 3

Page 4: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

b r e v e s

4 Parque Biológico Primavera 2002

2.º ENCONTRO DO PROJECTO NOVO ATLAS

Em 9 de Março decorreu o 2.º ENCONTRO DO PROJEC-TO NOVO ATLAS DAS AVES QUE NIDIFICAM EM POR-TUGAL, no auditório da Escola Superior Agrária deCoimbra. Este evento foi organizado pela SociedadePortuguesa para o Estudo das Aves - Rua da Vitória,53-3º Esq. - 1100-618 Lisboa - e-mail: [email protected] www.spea.pt

BRAGANÇA: IV JORNADAS

Decorrem as IV Jornadas Ambientais, integradas na IISemana das Ciências Agrárias da Escola SuperiorAgrária de Bragança, nos dias 15 e 19 de Abril do cor-rente ano. As jornadas têm o intuito de divulgar assun-tos relacionados com o Ambiente e o Ordenamento doTerritório.

SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AV E S

No plano de actividades da SPEA, prevê-se a realiza-ção de diversas actividades neste 1.º semestre. Há umCurso de Iniciação à Observação de Aves, em Figueirade Castelo Rodrigo, em 6/7 de Abril; Curso deIniciação à Fotografia da Natureza, em Alcobertas,27/28 de Abril e 1 de Maio; Curso de Especializaçãoem Fotografia de Flora e Fauna, em 25/26 de Abril e30 de Maio, em Alcobertas; Curso de Identificação deAves de Montanha, na Serra da Estrela, 29/30 deJunho. O número de inscrições é limitado e as fichasde inscrição estão disponíveis em:

www.spea.pt [email protected]

A SPEA divulga também as suas saídas de campo:

em Março, dia 23 - Portas de Rodão; Abril, dia 6 -Castro Verde; dia 13 - Sagres; dia 20 - Pauis de Madrize Taipal; Serra da Nogueira; dia 25 - Salinas deAlverca; dia 27 - Vale do Guadiana; Maio, dia 4 -Castro Verde; dia 11 - Lagoa dos Salgados; dia 19 -Lagoa de Santo André; Junho, dia 1 - Barragem doCaia; dia 15 - Salreu (Ria de Aveiro).

RESERVA ORNITOLÓGICA DE MINDELO: EDUCAÇÃOAMBIENTAL

O Movimento PROMindelo realiza acções de educaçãoambiental para grupos, em escolas, associações,empresas e outros locais, de forma gratuita, bastandofazer um contacto com Fernando Monteiro224880708 ou 933754402. As acções integram uma

sessão teórica, uma oficina experimental e uma saídade campo na ROM. O grupo pode escolher de entrevárias temáticas: floresta, fauna, água, dunas, agricul-tura biológica e resíduos.

Cada grupo recebe materiais informativos e brindes, epode ainda participar num concurso de desenho efotografia. Uns binóculos são o prémio para os vence-dores. É ainda montada no local uma exposição sobrea Reserva Ornitológica de Mindelo.

As acções contam com o apoio da Câmara Municipalde Vila do Conde, do Instituto do Ambiente, da empre-sa Infineon, e estão integradas numa vasta campanhade sensibilização sobre o Ambiente que visa levar atodos os jovens e adultos de Vila do Conde (e não só!)a mensagem de protecção do património natural.

Movimento PROMindelo - Pela Reserva Ornitológicade Mindelo — Pedro Macedo, coordenador [email protected]

II JORNADAS SOBRE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA— Montemuro 2001

Decorreram no auditório da Caixa de Crédito Agrícolade S. Pedro do Sul, nos passados dias 16 e 17 de Março,as II Jornadas sobre Conservação da Natureza.Organizadas pelo FAPAS, eis o mote: «... Neste virar domilénio, defendemos a criação de um Parque Natural,no Montemuro. Esta medida poderá contribuir, decisi-vamente, para a salvaguarda dos valores ecológicos eda biodiversidade do seu território, bem como para amanutenção da herança cultural que constitui a iden-tidade antropológica do povo serrano. Os vindourosdeverão encontrar no território um suporte físico ebiológico da vida, onde possam viver e realizar-se. Asgerações do século XX não podem ser acusadas deterem hipotecado o século XXI...».

Garça fotografada no Parque Biológico de Gaia

Page 5: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 5

ANIVERSÁRIO DA ILHA MÁGICA

A Associação Ilha Mágica come-morou o seu 4.º aniversário noParque Biológico de Gaia no dia9 de Fevereiro. O programa, queiniciou pelas 15h00, foi prece-dido por diversas actividades,com destaque para o tocadorde realejo vestido à pirata. Noátrio, fazia-se dobragens depapel (origami) para as crian-ças.

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA

No dia 1 de Junho, o Parque Biológico de Gaia e aAssociação para Infância e Juventude Ilha Mágicadesenham um programa de actividades voltadas para aalegria dos mais novos. A presença de contadores dehistórias e de um tocador de realejo, uma peça de tea-tro infantil, oficinas de papagaios de papel, origamisão alguns pontos altos para este dia tão especial emque a pequenada é o centro das atenções.

NOITE DOS PIRILAMPOS

Entre 6 e 8 de Junho o Parque Biológico de Gaia pro-põe um passeio nocturno centrado na observação depirilampos. Esta actividade inicia às 21h00, com umavisita à exposição permanente, seguindo-se a passea-ta pelos caminhos do Parque.

VI CURSO DE FOTOGRAFIA DE NATUREZA

De 19 a 21 de Abril, este curso é vocacionado para bió-logos e naturalistas amadores. Para rentabilizar estaformação teórico-prática é conveniente que os parti-cipantes possuam conhecimentos básicos de fotogra-fia e tragam o seu próprio equipamento. Taxa de ins-crição de 50 euros, n.º de inscrições limitado, maisinformações através do telefone 227878120.

I WORKSHOP DE FOTOGRAFIA DE NATUREZA

De 8 a 10 de Junho, limitado a 15 participantes, decor-re esta oficina no Parque Biológico de Gaia, com umacarga de 25 horas. Cada inscrição custa 75 euros einclui safari fotográfico, documentação e certificado

de participação. Mais informações através do telefone227878120.

CORÇOS NO BOSQUE

Quatro corços enriquecem os bosques do ParqueBiológico de Gaia. Animais outrora comuns nos nossosbosques, hoje ainda existem em liberdade, mas é difí-cil vê-los. Estes vieram de França dia 1 de Março, che-garam de manhãzinha e logo foram soltos.

OFICINAS DE PRIMAVERA

No Parque Biológico de Gaia já decorreu uma primeirasérie de ateliers de educação ambiental, no passadodia 25 de Março. Uma caça ao tesouro, no percurso dedescoberta do Parque e pintura de casca de ovos foramitens a que os jovens inscritos aderiram entusiastica-mente.

SEMANA CULTURAL

A Escola EB 2 de Canelas promoveu a sua SemanaCultural no passado mês de Março. Desde uma quintade minhocas e uma fábrica de oxigénio, do labirinto defeijoeiros até à vida escondida numa gota de água,entre muitos outros temas, os pequenos e graúdosd e l i c i a r a m - s ecom os suportesmultimédia e asexperiências dis-pon ib i l i zadaspelos organiza-dores.

Page 6: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

A partir deste evento, pretendem os organizadores docolóquio vir a fazer um livro cujos destinatários sãotodos os interessados que o queiram adquirir e, obri-gatoriamente, os órgãos e pessoas a quem competegerir o património natural.

Actividade subscrita por 2001 assinaturas e muito par-ticipado, o certame abriu no primeiro dia pelas 10h30com palavras de Nuno Gomes Oliveira, representanteda Comissão Executiva, a saber: João Loureiro, SerafimRiem e Joaquim Peixoto. Seguiram-se o vereador doAmbiente e Urbanismo gaiense, Poças Martins, eLurdes Carvalho, do Instituto de Conservação daNatureza. A conferência de abertura coube a JorgePaiva, da Universidade de Coimbra, e consistiu numaamostra realista sobre o passado, o presente e o futu-ro da floresta portuguesa.

Mais quatro painéis desdobraram-se ao longo do res-tante fim-de-semana: serras de Valongo, Santa Justa,Pias e Castiçal; Aboboreira, Maciço da Gralheira(Freita), Montemuro e Vale do Rio Paiva; Mindelo,Barrinha de Esmoriz; Litoral da Região e Estuário doDouro. Do colóquio fica também uma exposição itine-rante que descreve algumas das qualidades dessasáreas naturais. W

n o t í c i a

6 Parque Biológico Primavera 2002

Colóquio sobre áreas naturaisO auditório do Parque Biológico de Gaia juntou, em 2 e 3 de Fevereiro, cerca de 200pessoas para reflectir sobre as áreas naturais desprotegidas situadas na região doPorto

Jorge Paiva, daUniversidade de Coimbra

Cerca de 250 pastas foram levantadas nosecretariado do colóquio «Região do Porto:Áreas Naturais para o Século XXI»

Mesa de abertura do colóquio: NunoGomes Oliveira, Lurdes Carvalho,

Poças Martins, Jorge Paiva

Page 7: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Parque Biológico:uma «universidade aberta»

Alguns dos nossos Leitores não estive-ram para menos, e muito bem! Pena namão, passados dias cá chegaram asprimeiras cartas

v e r e f a l a r

Primavera 2002 Parque Biológico 7

Page 8: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Quando as flores tudo perfumam, até ascidades, já a passarada se afadiga nacriação dos pintos. Um vão de telhado ouuma prateleira num alpendre, um arbus-to no quintal ou uma chaminé desacti-vada, tudo isso serve de nicho apetecidopara inúmeros animais que recriam ascondições naturais em que a espécie sedesenvolveu.

Embora os ninhos não sejam exclusivosda passarada, já que também mamíferos,répteis, anfíbios, insectos e até peixes osfazem, o grande problema que se põe éque os materiais que as aves utilizaramdurante milénios, com a destruiçãomaciça de habitates a que se foi assis-tindo, ou não estão disponíveis ou sãoescassos. Já quase não há árvores secas,de pé ou deitadas, onde seja possívelaproveitar buracos e aconchegar umacâmara de nidificação. Os bosques queantes se estendiam por longas distân-cias, com cadeias alimentares diversifi-cadas e consistentes, sofreram agressõesvárias, desde as causadas pelas ameaça-doras exóticas, como os eucaliptos e asacácias, até às queimadas sem qualquercontrolo.

Dar uma mão

É por isso que os ninhos artificiais sãouma forma de apoiar as aves, particular-mente aquelas que fazem ninho emburacos de troncos, barrancos de saibroou até muros de pedra. Porque semninho não há crias. Os jardins das cida-des e dos seus subúrbios, onde este pro-blema é premente, podem ser valoriza-dos se se reunir quatro condições: ali-mento, água, abrigo e habitat. Assim,havendo ou surgindo espécimes, torna-se possível oferecer-lhes condiçõesatractivas.

q u i n t e i r o

8 Parque Biológico Primavera 2002

Ninho… doce ninhoAs árvores despontam e acordam as aves para os imperativos da reprodução. Naépoca da abundância, todas querem ninho

Ninhos artificiais de madeira com formato de caixa

Page 9: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 9

Entre os ninhos artificiaismais conhecidos há os quetêm o formato de caixacom um orifício de entradaredondo. Este tipo de ninhoé bem aceite por chapins,rabirruivos, trepadeiras--comuns e, claro, pardais.

Existem também as caixas--ninho semiabertas. Estascostumam ser ocupadaspor piscos-de-peito-ruivo,papa-moscas, carriças,lavandiscas, entre outros.

Os ninhos podem revelarformas muito diversas.Além disso, é possívelconstruí-los a partir demateriais muito variáveis.Não há dificuldade emencontrá-los nas lojas,geralmente de madeira,mas também de barro.Ainda assim, em muitosmanuais, e até na internet,há vários esquemas deconstrução.

Mas quaisquer que sejamas opções de formato, certoé que o bom ninho é umninho discreto, sem exposi-ção excessiva ao sol, semque predadores como asratazanas ou gatos lhestenham acesso.

Berçário e abrigo

Os ninhos não servem sópara reprodução! Tambémservem de abrigo, sobretu-do em dias difíceis para asaves pré-adultas que alinasceram, segundo opiniãode alguns observadores.

Se tem quinteiro, reúne omínimo de condições parase informar melhor sobreeste tema e experimentareste passatempo que pro-tege a natureza.W

Ninhos artificiais para peneireiros-cinzentos (Alentejo), enriquecidos pelas cegonhas e pelasaves mais pequenas que aproveitam os gravetos do ninho maior

Foto: Joaquim Peixoto

Page 10: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

FICHA DE ASSINANTE

Loja do Campo

PROPOSTA DE SÓCIO

FICHA DE ASSINANTE

Pode receber em sua casa a revista «Parque Biológico» através de dois processos:

1) enviando o seu pedido de admissão de sócio à Associação dos Amigos do Parque Biológico (neste caso deve preencher a ficha em baixoe enviá-la); ou então:

2) fazendo-se assinante desta Revista pela quantia de 7.5 euros por ano, preenchendo e enviando esta ficha:

Nome:

Morada:

Telefone: N.º contribuinte:

Junto envio 7.5 euros para pagamento de uma assinatura anual da revista «Parque Biológico». Enviar para: Parque Biológico – 4430-757 Avintes

ASSINATURA:

PROPOSTA DE SÓCIO

Nome:

Morada:

Telefone: Bilhete de Identidade: Arquivo: Data: / /

N.º contribuinte:

Junto envio 15 euros para pagamento da quota do ano em curso e fico a aguardar recibo, cartão de sócio e outra documentação. Enviar para: Amigos do Parque Biológico – 4430-757 Avintes – Vila Nova de Gaia(Inclui entrada gratuita no Parque Biológico)

ASSINATURA

Associação dos Amigos do Parque Biológico de Gaia

mesmo à entrada do Parque Biológico de Gaia, E.M., aberta todos os dias,10h00/18h00 (Inverno) e 10h00/20h00 (Verão) – Telefone: 227 878 136

Assine a revista “Parque Biológico”

Page 11: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

q u i n t e i r o

Folha de arame plana nas mãos, Filipe Vieira, técnicode educação ambiental, lutava para a dobrar.Formava-se um cubo. O que é que iria sair dali?Explica: «De repente, com esta janela enorme, comeste carvalhito perto, lembrei-me que poderíamosestar a trabalhar e, de vez em quando, observar os pás-saros a alimentar-se». Na certa, uma inspiração súbita.E boa!

Depois, passou o primeiro dia, 10 de Dezembro. E nada.O segundo... idem. «Havia um bocado de incredulidadeno ar, mas a expectativa de que aquilo resultasse nãomorria».

Apesar do jeito para a obra, foi precisa fé: «Eu, inicial-mente, por acaso pensei que não ia resultar muito... eo certo é que os dias foram passando e os pássaros nãoapareciam! Um amigo meu foi-me dizendo que elesiam aparecer, que precisavam de se habituar».

Será que o comedouro de rede lembrava o aramado degaiolas, e isso afugentava os pássaros? Quem sabe?!Certo é que este alimentador se baseou em modelos

«que vi em livros e que temos construído nos ateliersdo Parque Biológico».

Porém, não é que, passadas umas semanas, a 26 deDezembro, apareceu um chapim-carvoeiro!... «Foi umasurpresa! Senti que tinha valido a pena, porque defacto eles estavam a surgir: foi giro». Hoje, a quasetodas as horas do dia, andam ali à volta.

Precisavam de algum tempo «para perceber que aqui-lo era comida, e que era seguro alimentarem-se ali —fui aguardando até que eles se adaptassem. É precisoesse tempo».

Agora, Filipe e os seus colegas regalam-se quandolevantam a vista pelas janelas e vêem a passarada acabriolar no comedouro. E as ideias correm: «Como vique esta experiência deu resultado, penso que seriaengraçado colocar noutros sítios outros tipos de come-douros. Porque este modelo é muito específico e sótenho visto uma ou duas espécies de aves (chapins) aalimentarem-se ali. Se puser outro tipo de alimento, secalhar consigo atrair outras aves». É experimentar ever! W

Primeiros compinchasTudo se encaminha para que, em torno da revista «Parque Biológico», se comece ajuntar um grupo de entusiastas capazes de vir a formar o Clube dos Amigos das Av e s

Inverno 2001 Parque Biológico 11

Os bons projectos estão no meio: antes e depois ficam asboas ideias. Uma delas consiste em criar o Clube dosAmigos das Aves de jardim. O que é isso?

É simples: quem tem — ou pretende vir a ter — este pas-satempo (apoiar as aves no seu próprio jardim) contacta arevista Parque Biológico, secção Quinteiro, que passa aunir os Amigos das Aves. E isso ao ponto de fornecer dadosa respeito deste saudável passatempo e, até, de atribuirum diploma que certifica o registo do sócio no Clube.

É facultativo, para cada mem-bro inscrito, associar-se àAssociação dos Amigos doParque Biológico.

Que tal? Gostou? Ficamos àespera das suas novidades, venham elas por carta (ParqueBiológico de Gaia - Revista "Parque Biológico" - 4430-757AVINTES) ou por correio electrónico [email protected]

Clube dos Amigos das Aves

Um chapim-carvoeiro foi o primeiro visitante, dia 26de Dezembro passado

Atelier de construção decomedouros no ParqueBiológico de Gaia

Page 12: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

o p ç ã o

Que destino para asborboletas?

As lagartas, fofas, rastejam e avançam à dentadinha. Engordam com a folhagemverde, escondidas de bicos ávidos. Após o casulo, são borboletas e abrem asas ani-mando os jardins. Como flores aladas, anunciam a Primavera

Espetada em alfinetes, a colecção dispõe--se com esmero num frio mostruário devidro. A luz da vida fugiu para longe, semregresso. Estáticas, apesar da cor, as borbo-letas parecem fingir, imitar, como os iscosde plástico dos pescadores de fim-de--semana.

Diferentes são as borboletas dos jardins edos campos, glutonas de pólen, em movi-mentos múltiplos, na agitação essencialdos ritmos da natureza. Se tocadas, as asaspodem perder o voo. Perdem também asplantas, menos polinizadas, menor ajuda àsua reprodução.

Insectos bem integrados na cadeia alimen-tar, o uso abusivo de pesticidas mata-os ea destruição de habitat retira-lhes alimen-to e abrigo.

Mas nem tudo está perdido: apesar detanta ruína, a vida costuma surpreenderquando ressurge de algum canto maisesquecido. Pode igualmente ajudar, porexemplo, quem tiver dedo para a jardina-gem. Substituir algumas das plantas desen-quadradas do quintal da casa por outrasque sejam do agrado das larvas e das bor-boletas é algo a examinar. E isto não só nasvivendas: os andares em plena cidade quedisponham de varandas e pátios, se ajardi-nados, podem ser apoios de protecção ealimento para as migrações de algumasborboletas e até sustentáculo para a suareprodução.

Não cabe dizer que não vale a pena: apesarde frágeis, as borboletas lembram a cadaum pedaços dourados da infância. São amagia do belo que toca as flores num bai-lado de cor. Dessa luz cintila um apelo deconservação a que é difícil resistir.W

Papílio fotografado no Parque Biológico de Gaia

Foto: JG/Arquivo PBG

12 Parque Biológico Primavera 2002

Page 13: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 13

Insectos bem integra-dos na cadeia ali-mentar, o uso abusivode pesticidas mata aslarvas das borboletase a destruição dehabitat retira-lhesalimento e abrigo

Nome comum Nome científico Alimento da lagarta Abundância relativaDe 1 a 5

Maravilha Coleas sp. Trevo (Trifolium repens), luzerna (Medicago sativa) 2

Folha-de-alface Gonepterix sp. Sanguinho 2

Papílio-zebrado Iphiclides sp. Abrunheiro, árvores de fruto de cultivo 3

Azulinha Lampides sp. Giesta, carqueja, piorno, tremoceiros, luzerna 3

Cauda-de-andorinha Papilio machaon Ruda, endro, funcho 2

Ariana-europeia Pararge sp. Gramíneas (Poa trivialis, Brachypodiumsylvaticum, Dactylis glomerata) 4

Borboleta-da-couve Pieris sp. Chagas, couves e outras crucíferas 4ou pequena-branca

Almirante-vermelho Vanessa atalanta Urtigas 3

Bela-dama Cynthia cardui Cardos, urtigas 3

Borboleta-pavão Inachis sp. Urtigas 2

Lagartas e suas plantasTabela de relação entre espécies

Bibliografia: «Guia de Campo das Borboletas Diurnas do Parque Ecológico do Funchal e do Arquipélago da Madeira», AndrewWakeham-Dawson, Michael Salmon, António M. Franquinho Aguiar, editado pela Câmara Municipal do Funchal. «Insects of Britain& Western Europe», Collins Pocket Guide, Michael Chinery.

Borboleta-pavão Borboleta almirante-vermelho Ariana-europeia

Borboleta folha-de-alface

Azulinhas

Foto: JG/Arquivo PBG

Foto: Joaquim Peixoto Foto: JG/Arquivo PBG

Foto: JG/Arquivo PBG Foto: Henrique N. Alves

Page 14: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Um véu de luz dourada pousa no estuário. Azuis, as águas vibram ao ritmo dosmilhares de aves que ali repousam e se alimentam — são o ouro da natureza que éforçoso proteger

14 Parque Biológico Primavera 2002

Douro natural

No juncal da Baía de S. Paio, no Cabedelodo rio Douro, uma garça-real caça.Apreensiva, vê-nos e hesita entre a espe-ra e o voo. Perto, uma garça-brancaacompanha-a e contrasta no verde-escu-ro emergente.

João Loureiro, biólogo especializado emornitologia, ilustra a visita rápida. É umperito no estudo das aves deste estuário:«Antes ia para o Cabedelo como um sim-ples curioso. Via lá as aves, nada mais queisso». Depois, «desde 1988, participei noprograma Inspecções Costeiras que con-

tinuou até 2000, um projecto orientadopelo Instituto de Conservação daNatureza». Com base nisso «observei maisde 150 espécies diferentes de aves noestuário do Douro». Um número apreciá-vel!

Os pés pesam sempre que se enterram noCabedelo. À esquerda a areia sobe dochão e faz-se uma parede alta. À direita,ao longe, a ponte da Arrábida. Estamosdiante de uma boca de rio, onde o marfala com a terra e lhe oferece os seustesouros.

Este sapal da Baía de S. Paio, em plena regeneração, é um sistema natural depurador da água poluída e, quem sabe, seprotegido, também pode vir a ser uma ponte para um futuro melhor

João Loureiro

m o m e n t o

Page 15: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 15

João diz: «Todos os estuários sãosítios muito importantes: é nelesque muitos animais marinhos depo-sitam os seus ovos, tanto peixes demar como de rio. São zonas ricas emplâncton». Por isso conta tanta avi-fauna, a parte mais visível do ecos-sistema — as pessoas chegam cá evêem centenas de garças, gaivotas,ostraceiros, maçaricos, pilritos,patos-pretos, etc.».

Mas sempre a marca do homem: olixo pousou na areia. Um cadávercontorcido de uma garça-real noareal quebra a monotonia, depois osde duas gaivotas. As ameaças aoestuário caem na conversa: «O rioDouro está parcelado por barragens.Logo, a zona que vai desde a foz até

à barragem de Crestuma não fun-ciona como um ecossistema natural.A água que sai das barragens é sóuma parte da que deveria passar porlá». Não passa a água, não passa aareia que se depositaria no litoral.As marés vivas avançam sem maiordificuldade. Mas também «os peixesque têm de subir o rio para se repro-duzirem encontram as barragens.Como não completam o ciclo devida, há queixas: não há sável, truta,salmão, lampreia no rio Douro... masnão pode haver».

E as eclusas? Estes dispositivosdeveriam facilitar a vida aos peixes.«Conforme concluíram pesquisas daUniversidade do Porto, não funcio-nam ou funcionam mal. São mode-los franceses, feitos para rios dife-rentes», comenta o biólogo.

Há ainda o problema da poluição: «Ésobretudo orgânica. Mas também asbarragens a causam: a água pára àsuperfície, a poluição orgânica pro-voca uma eutrofização, a acidezaumenta e a água fica imprópriapara os organismos que vivem nela».

Porque «o Porto até há pouco nãotinha nenhuma Estação de Tr a t a -mento de Águas Residuais. Hoje tem

uma e outra ainda está a ser erigida».A maior parte das criaturas vai mor-rendo, há espécies que não aguen-tam níveis elevados de poluição.

Ainda há «outro atentado: os molhesque pretendem fazer na Foz. Há acontestação de vários cientistas,visto os potenciais efeitos negativosoriginados ao estuário». Uma maiorquantidade de água iria fluir poresses canais, o que iria aumentar asalinidade — o meio ficaria impró-prio para ser a maternidade debivalves e peixes que ainda é. Ospescadores da Afurada sentiriamessa perda. Se quiserem pescaralgumas dessas espécies terão de sedistanciar mais».

Ao longe, pescadores e suas canassão silhuetas minúsculas sob o solaconchegado nas nuvens. O farol daFoz parece um cisco. Há quem digaque este estuário é diminuto: «Umestatuto de protecção não dependepor si só da área do estuário!», aler-ta João Loureiro. E dá um exemplo:«Uma das prioridades para se esta-belecer uma zona como importantepara a avifauna tem a ver com onúmero de espécimes que lá costu-mam parar. No caso das gaivotas –

O rodado de um veículo traça ocadáver de uma garça

Lixo omnipresente

Alinhadas como pelotões sitiados, asgarças-reais, imóveis, às centenas,parecem soldados desarmados

Page 16: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

as pessoas geralmente acham que asgaivotas não são importantes –, elasaparecem no estuário do Douro aos5 mil indivíduos só de uma espécie.Ora, isso por si só faz com que seinclua no estatuto de protecção dadopelo Bird Life International». E «bastaocorrer maré vaza para ver unsmilhares de gaivotas que ali costu-mam parar mas que, só porque aquisão vulgares, podem ser raras ou nemexistir noutras áreas da Europa».

E, na aragem fresca e tranquila, ape-tece fazer parar o tempo. Ouve-seaquela canção ininterrupta dos ban-dos e olha-se as silhuetas das limí-colas espelhadas na areia húmida.Uma gaivota, mais perto, agita aspatas semienterradas à procura dealimento. Se os relógios parassem,ganhava-se tempo face aos desas-tres ambientais já ocorridos! Demomento, há que garantir os corre-dores-verdes, as linhas de sobrevi-vência da natureza, e o estuário éuma peça essencial: «Aqui há uma

zona de sapal, um sítio para repou-so e alimentação. Muitas aves têmde prosseguir as suas rotas migrató-rias. Setembro/Outubro ou Março//Abril são as alturas em que se vêmais animais, sobretudo se há tem-porais ou marés vivas».

O areal molhado estende-se adiantepintado pela luz suave de entarde-cer. Oscilam reflexos na superfíciehúmida. João Loureiro alerta: «Maislonge estão as garças-reais!». Esticoa vista. É mesmo, e às centenas!Parecem sentinelas.

Difícil preservar tudo isto? «A áreadeveria ser protegida. Por definição osestuários dos rios são zonas ao abrigoda Reserva Ecológica Nacional e doDomínio Público». Há um estatuto deprotecção no papel, sabe-se isso, masna prática, em qualquer visita que sefaça ao estuário do Douro, vê-se umindicador preocupante: a quantidadede lixo (sapatos, plásticos, etc.) que vaino rio. Não é um problema da Baía deS. Paio, mas um problema a montante,

as pessoas deitam ao rio tudo o quepodem: porcos e cavalos mortos, etc.

No papel não era difícil preservar,mas na prática é: «Em termos deprotecção, todo o rio está sob tutelado Ministério do Ambiente, mas oestuário está sob a tutela daAdministração dos Portos que, secalhar, não tem a sensibilidade, anível ambiental, que deveria ter. Nãose saberá bem quem gere o quê ecomo. Viu-se o caso dos areais deCastelo de Paiva depois da queda daponte, no ano passado».

A protecção do estuário passa peloempenhamento de quem o gere,mas também do cidadão comum:«Nada de entrar ali com veículosmotorizados; se querem ir vão a pé.Essas aves encaram-nos como umpredador, afastam-se e voltam, sefor o caso. Se virem alguma ave noninho, não se devem aproximar». Asaves agradecem e a região pode irconservando vivas as suas riquezasnaturais.W

m o m e n t o

16 Parque Biológico Primavera 2002

A protecção do estuário passa pelo empenhamento de quem o gere, mas também do cidadão comum

Page 17: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

As rochas da faixa litoral da cidade do Porto sãoimportantes a ponto de deverem ser preservadascomo património natural e cultural?— Na faixa litoral da cidade do Porto, entre o Molhe deFelgueiras e o Forte São Francisco Xavier (Castelo doQueijo), exibe-se um magnífico conjunto de rochasmetamórficas, gnaisses, às quais se associam rochasmagmáticas, como o granito do Castelo do Queijo.

Em termos naturais, esta zona possui uma enormeriqueza geológica, não só porque estamos peranterochas das mais antigas existentes em Portugal, mastambém porque as mesmas evidenciam um conjunto decaracterísticas intrínsecas muito interessantes e impor-tantes para a compreensão da geologia do nosso país.Aliado a este facto, os afloramentos da Foz do Douro eNevogilde detêm excelentes potencialidades didácticas,o que os torna palco de inúmeras visitas de estudo porparte dos alunos das licenciaturas em Geologia eGeografia da Universidade do Porto, assim como pelasescolas básicas e secundárias desta cidade e arredores,tal como pelo programa Geologia no Verão.

Em termos culturais estas rochas — tal como um anti-go monumento construído pelo Homem — possuemuma monumentalidade. Isso porque são importantesdocumentos que permitem fazer a história da Terra.São um legado escrito em caracteres próprios e quecontam minuciosamente a evolução do nosso já anti-go planeta. Cabe aos geólogos decifrar essa escrita edivulgá-la a toda a comunidade. Neste sentido, sãouma mais-valia cultural que a todo o custo deve serpreservada, pois uma vez perdida estará irremediavel-mente condenada ao esquecimento.

Quais as maiores ameaças à preservação dessasrochas?— As maiores ameaças à preservação destas rochas sãoas construções de mau gosto que se estabelecem sobreas litologias. Nelas se incluem bares e esplanadas,zonas de protecção para canos de esgoto (estes últi-mos um enorme flagelo nestas praias), assim comobancos, mesas e zonas aplanadas de cimento. Tambémé possível encontrar situações de vandalismo, queresultam em pinturas sobre os afloramentos.

Como tem sido encarada essa protecção pela autarquia?— Após um documento enviado pelo Departamento deGeologia da Faculdade de Ciências da Universidade do

Porto, nomeadamente pelo seu antigo chefe de depar-tamento, prof. dr. Fernando Noronha, tendo por baseuma dissertação de mestrado que efectuei, a autarquiatem-se mostrado particularmente sensível aos proble-mas desta faixa litoral. Aliás, foi deliberado emAssembleia Municipal, praticamente por unanimidade,que os afloramentos da Foz do Douro e Nevogilde sãoum importante património natural a preservar.Contudo, um longo caminho ainda tem de ser percor-rido até que fique salvaguardada esta enorme herançacultural. Nesse sentido, será importante relembrarconstantemente a estes órgãos de gestão a granderiqueza patrimonial das litologias, sob pena de ficaremirremediavelmente esquecidas.

Há factos históricos pitorescos associados a essa zona?— Sem dúvida. Os mais pitorescos de todos foram, domeu ponto de vista, a moda dos banhos durante oséculo XIX. No Verão, com a chegada dos banhistasque procuravam apenas a suavidade das temperaturase/ou acompanhar as exigências da moda, a Foz (dasegunda metade desse século) transformou-se numlocal verdadeiramente cosmopolita. As praias mais fre-quentadas eram as do Caneiro (grande e pequeno) e aque, por ser preferencialmente procurada por cidadãosbritânicos, se veio a chamar dos Ingleses.

Mas a Foz possui igualmente um património histórico--cultural rico e importante, que extrapola as própriasrochas. Estou a falar do Castelo do Queijo e de SãoJoão da Foz do Douro, o Porto de Carreiro (conhecidopor molhe), a Igreja de Nevogilde, a belíssima Pérgula,as estátuas do Homem do Leme, do Salva-vidas e deCamões, o próprio parque da cidade e o Molhe deFelgueiras, entre outros, que são de visita obrigatória.

Há alguma página na Internet onde os leitores pos-sam procurar mais informação sobre este assunto?— Actualmente está a ser construída uma página paraa Internet na qual, logo que possível, será disponibili-zada muita informação. Até ao momento foi elabora-do um CD-ROM onde se faz uma viagem virtual à geo-logia da Foz do Douro e Nevogilde, assim como aosambientes histórico-culturais dessa zona da região doPorto. Pensa-se distribuir esse CD-ROM pelas escolas,para que os professores possuam uma informação quelhes permita efectuar uma viagem de campo de quali-dade com os seus alunos.W

e n t r e v i s t a

Primavera 2002 Parque Biológico 17

José Carlos Vieira da Silva é mestre em Geologiapara o Ensino e afirma que os afloramentosrochosos da faixa litoral da cidade do Porto sãopatrimónio natural e cultural a preservar

Ricas rochas

Page 18: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

18 Parque Biológico Inverno 2001

Oceanos 1320 milhões de Km3 97,2 %

Neve e gelo 30 milhões de Km3 2,15 %

Água subterrânea até 800 m de profundidade 4 milhões de Km3 0,31 %

Água subterrânea a mais de 800 m de profundidade 4 milhões de Km3 0,31 %

Zona não saturada do solo 0,07 milhões de Km3 0,005 %

Lagos de água doce 0,12 milhões de Km3 0,009 %

Lagos de água salgada 0,10 milhões de Km3 0,008 %

Rios 0,001 milhões de Km3 0,0001 %

Atmosfera 0,013 milhões de Km3 0,001 %

(1) Quantitative Hydrogeology - Groundwater Hydrology for Engineers, de Ghislain de Marsily, Academic Press

É um modelo simples e poderoso, que permite imagi-narmo-nos a bordo de uma molécula de água, apa-nhando a boleia num ponto qualquer: da evaporaçãoda superfície do mar, transportados nas nuvens parauma zona mais fria, precipitando-nos no solo na formade neve, chuva, granizo, orvalho, sofrendo ou não eva-poração, finalmente penetrando no solo ou escorrendosuperficialmente para um rio, de onde novamente seescorre para o mar, num ciclo sem fim à vista, alimen-tado pela radiosa energia solar. Outros percursos sãopossíveis, mas a ideia-base é sempre a mesma: a águaé uma viajante planetária incansável, que por nóspassa, sendo a que bebemos e que somos, cerca de80% no nosso corpo, uma colecção de átomos que jáandou por todo o lado: nos confins do Cosmos, nosvulcões, nos picos dos Himalaias, pelos antípodas, deuvida aos nossos antepassados, macacos e homens ehá-de ser parte do corpo dos nossos vindouros. Até hábem pouco tempo esta realidade podia ser constatadade uma forma contemplativa mas, recentemente, ahumanidade adquiriu uma capacidade de interferênciacom o meio ambiente que toca e suja a água em diver-sos pontos da sua viagem. Na atmosfera, pelos gasespoluentes de diversas fontes de emissão — escapes deautomóveis, chaminés de fábricas, etc., que carregamas gotículas aéreas de água que andam nas nuvens eprecipitam em seguida na forma de chuvas poluídas,que queimam a vegetação e agridem o ecossistema.No solo, contaminado por grande diversidade de resí-duos, através dos quais a água passa, englobandoparte desses contaminantes e arrastando-os para os

aquíferos profundos. No mar, em particular nas zonascosteiras, onde derrames de petroleiros, rios contami-nados e dejectos da actividade humana da mais diver-sa natureza vão acabando por entrar na cadeia ali-mentar, através de peixes e moluscos, que acabam porprovocar graves distúrbios de saúde nos mamíferos,incluindo a espécie humana.

Assim, nas últimas décadas têm sido criados e aperfei-çoados modelos de análise e de previsão da evoluçãode contaminantes subterrâneos aéreos e aquáticos,modelos cada vez mais aperfeiçoados e certeiros nassuas previsões, ao mesmo tempo que a actividadehumana vai induzindo situações ambientais cada vezmais graves. Paradoxalmente, ou talvez não, nunca sesoube tanto sobre os processos de contaminação enunca se contaminou tanto à escala planetária. Nestequadro, os países mais desenvolvidos vão exportandocertas actividades mais poluentes para países menosdesenvolvidos, assistindo-se, à escala planetária, a umagravamento das condições ambientais dos paísesmais pobres, que até aqui seriam pobres mas limpos,passando, nas últimas décadas, a pobres e sujos.Parece que o desenvolvimento do conhecimento nãoconsegue travar a progressão da contaminação, àescala planetária, das águas, dos solos e da atmosfera.O diagnóstico é cada vez melhor, o prognóstico cadavez mais certeiro a prever o pior.

Para terminar, quantifique-se um pouco o nosso pro-blema. Estima-se que a água se distribui no planeta,mais coisa menos coisa, do seguinte modo (1):

f l u x o s

Á g u a que tudo lavo uO ciclo hidrológico, qual roda gigante, costuma ser invocado para explicar a movi-mentação da água à escala planetária

Page 19: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Inverno 2001 Parque Biológico 19

A precipitação e evaporação anual pode ser resumidapelos valores do quadro seguinte:

Aceitando uma repartição de 30% de superfície deterra e 70% de mares, pode, com aritmética elementare hipóteses simplificativas, estimar-se, a partir destesdados e das dimensões do globo, que uma molécula deágua que tenha sido evaporada, permanece na atmos-fera, em média, 9 a 10 dias, mas se for ter ao mar nelepermanecerá, em média, quase três mil anos e, preci-pitada na terra, nela permanecerá de poucos dias amuitas centenas de anos, dependendo se escorre paraos rios, para o subsolo ou se fica cativa nos gelos,alguns ditos "eternos".

Bem, então as moléculas viajantes, "purificadas" pelaevaporação no mar, precipitadas em terra, podemmanter-se "limpas ou sujas" durante séculos consoan-te, ao atravessar o solo, tenham ou não ficado conta-minadas. Esta situação, se não for enfrentada e mini-mizada, deixará as futuras gerações a braços comgrandes dificuldades, numa secular herança de sujeirasubterrânea, que só o muito tempo limpará. ANatureza tem todo o tempo do mundo para lidar comestes problemas. Até é capaz de se adaptar, com ele-gância, a essas novas formas de sujeira planetária. E ahumanidade? Viverá bem nessa nova Natureza ouestará condenada a ser o seu futuro dejecto pós--moderno?

Este aforismo velhinho "a água tudo lava" deve, nesteséculo XXI, passar a ser complementado: água quetudo lavou, mais suja ficou…W

Texto: Abílio Cavalheiro – Departamento de Minas da FEUPDesenho: Hélder Serrote

Precipitação em terra 720 mm

Evapo-transpiração 410 mm (57 %)

Rios e escoamento subterrâneo para o mar 310 mm (43 %)

Evaporação directa a partir do mar 1250 mm

Precipitação nos mares 1120 mm

Água dos oceanos(1320 Km3): 97,2 %

Neve e gelo(30 milhões Km3):2,15 %

Restante(8,304 milhões Km3): 0,6431 %

Page 20: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

A Educação Ambiental é um dos grandes objectivos daPaisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S.Pedro de Arcos. Desta forma, para além do necessárioplaneamento das acções/actividades a desenvolver,torna-se igualmente imprescindível a criação de mate-rial didáctico que sirva de apoio ou que complementeas mesmas.

Assim, e após o desenrolar de várias actividades desdeJulho de 2001, entre elas um Programa de Férias deVerão, elaborou-se uma pasta didáctica que tem comoobjectivo a divulgação da área, mas também a sensibi-lização dos mais pequenos para o valor que nela exis-te, consistindo no primeiro material didáctico criadopara proporcionar um complemento a todos aquelesque participaram em qualquer acção organizada pelaPaisagem Protegida na área, ou então em acções orga-nizadas fora da mesma, como uma forma de antecedere apoiar uma futura visita.

O material que compõe as referidas pastas foi testadodurante as actividades mencionadas, optando-se peloque melhores resultados evidenciou, como, por exem-plo, o jogo de imagens com alguns dos animais daPaisagem Protegida, que surgiu da experiência realiza-da no programa de férias de Verão em que as próprias

crianças participaram na elaboração do jogo (desde osdesenhos às perguntas) e na verificação da sua viabi-lidade.

Posteriormente, pensou-se em criar uma imagem(mascote) que permita associar a Educação Ambientalà Paisagem Protegida (inspirada no símbolo da áreauma rã-ibérica) e que, desta forma, passará a ser utili-zada no material didáctico que venha a ser elaborado.Nasce, assim, uma divertida rã ainda por baptizar.

A Pasta Didáctica contém no seu interior um jogo soba forma de dicionário de imagens "Conhecer Animaisda Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S.Pedro de Arcos", com o qual se pretende que os parti-cipantes, através das regras impostas, adquiram deuma forma simples e divertida conhecimentos acercados hábitos (por exemplo, alimentares e habitates quefrequentam), bem como das características físicas das24 espécies faunísticas que constam no jogo; ump u z z l e que retrata uma porção de território daPaisagem Protegida, evidenciando os principais habi-tates ali presentes, e com o qual se pretende que ascrianças, através de uma montagem propositadamen-te fácil, aprendam a distribuir no espaço as espécies aliapresentadas de uma forma divertida; um caderno de

e d u c a ç ã o

20 Parque Biológico Primavera 2002

Paisagem protegida

Pormenor da área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos

Foto: JG/Arquivo PBG

Page 21: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

campo que tem como objectivo possibilitar às criançasfazerem as suas "reportagens e anotações" aquando davisita à área; um marcador de livros que, para além dasua natural função, alerta para algumas das coisas quenão se devem fazer aquando de uma visita à PaisagemProtegida, tornando-a mais atractiva, segura e cons-ciente.

Percurso

No âmbito da comemoração do Dia Internacional dasZonas Húmidas (2 de Fevereiro de 2002), a PaisagemProtegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro deArcos, através da sua equipa técnica, organizou umpercurso pedestre na própria área. O principal objecti-vo foi o de a dar a conhecer a mais um grupo de visi-tantes — entre funcionários da Câmara Municipal dePonte de Lima, seus familiares e amigos(cerca de 50) —, em paralelo à sensibili-zação durante a visita, recorrendo paratal a um conjunto de actividades pre-viamente definidas, como, por exem-plo, colocação de ninhos artificiais,identificação de espécies florísticas efaunísticas, provas-surpresa, provade criatividade, etc.

O percurso teve início sensivelmen-te às 14h30, após a chegada dosparticipantes ao local de partida,constatando-se desde logo que asensibilização prévia acerca daacção deu os seus frutos, já quetodas as equipas utilizaram oautocarro da Câmara Municipalna deslocação, evitando destaforma uma desnecessária con-centração de veículos naqueleespaço.

De seguida, e após a distribuição de todo o materialnecessário às equipas participantes — para que destemodo estivessem habilitadas a realizar todas as provas— teve lugar o início da caminhada de 3,7 Km, previa-

mente sinalizada, com passagem porvários pontos interessantes.Caminharam pela margem do rioEstorãos e apreciaram não só abeleza paisagística deste ele-mento, como a sua água límpi-da e, os mais atentos, aindaobservaram uma truta ououtra que se passeava pelorio; por espaços de pasta-gens naturais que nestaaltura do ano adquiremuma tonalidade diferentemas não menos espectacular;por espaços onde predomina afloresta de conservação com belos exemplares deespécies arbóreas autóctones; sobre os belos passadi-

ços perfeitamente integrados na pai-sagem e que, apesar de nãoestarem ainda concluídos,permitiram dar uma óptimaperspectiva sobre uma daslagoas da Paisagem Protegida,onde para além da beleza dolocal, puderam observar avesaquáticas (por exemplo, patos-reais).

Associadas a todos estes motivosde interesse, as provas desempe-nhadas pelas equipas participantescontribuíram fortemente para a boadisposição e para o espírito de equi-pa que se registou ao longo de todoo trilho, sem esquecer, naturalmente,o espírito de competição saudável.

No final do percurso, todos demons-traram que a participação foi o mais

importante, mas mesmo assim a organização decidiupremiar aqueles que, por maior conhecimento ouempenho, realizaram as suas actividades durante opercurso de forma mais positiva.

O regresso à Vila de Ponte de Lima aconteceu pelas17h30, terminando o que para muitos constituiu "umsábado diferente pela positiva", na opinião de RuiMateus.

De realçar o impacte positivo desta actividade sobre apopulação local, uma vez que algumas pessoas seassociaram ao grupo dos participantes contribuindopara o bom momento que naquela tarde se registou.WTexto: Gonçalo Rodrigues

Primavera 2002 Parque Biológico 21

Puzzle

Caderno de campo

Marcador de livros

Page 22: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

l e m b r e t e

Dia Mundial da FlorestaO Dia Mundial da Floresta é uma chamada deatenção para que a humanidade não se esqueça detemas tão fundamentais como a conservação dosbosques. Comemorado a 21 de Março, escolas eoutras instituições dão-lhe forma. Também noParque Biológico de Gaia, por inerência, isso ocor-re com especial acuidade. Nesse dia, porque todoo ecossistema assenta numa ideia de conjunto,decorreu a libertação de aves de rapina entretan-to recuperadas que são habitantes de primeiralinha das florestas.

Mas, porque a história nos remete para memóriasexplicadoras do presente, damos nota de umasaborosa edição de 17 de Março de 1913 do sema-nário «O Século» intitulado «A Festa da Árvore».Este periódico refere várias solenidades ocorridaspelo País fora, de Oliveira de Azeméis a Lisboa,com uma média de duas fotografias por página, ecomeçava assim: «A festa da arvore, promovidapelo Seculo Agricola, revestiu uma grande impo-nencia por todo o paiz. Milhares de creanças,desde a capital ás mais remotas aldeas, plantaramas arvores ao som dos hinos, diante dos mestres edos seus companheiros, cujas palavras lhes arrei-garam nas almas o culto da arvore. (...)». W

Page 23: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Cerca de 300 crianças assistiram,logo pelas 10h00, à libertação deduas águias-de-asa-redonda. Péante pé, tão silenciosos que só visto— ou não tivessem as professoraspedido! —, pequenitos de olhos ávi-dos, espectantes, ansiosos, varriam abruma da manhã nos relvados húmi-dos da primeira noite de Primavera.Na direcção do rio, vê-se dois coelhos-bravosque se aquietam sobarbustos de copa baixa.No ninho de madeiraaplicado na árvore emfrente, um pássaro sal-tita nos galhos. Logoentra no ninho. Umminuto depois apareceoutro. Só pode ser acara-metade, e traz umgraveto no bico! De-mora… mas entra noesconderijo de nidifica-ção. Agora, recheado,até parece vazio, dianteda quietude da multi-dão que não viu.

Depois, chega o momento maisesperado. Adiante, uma águia casta-nha, em protesto ruidoso, abre asasdas mãos de Fernando e curva parao arvoredo, à esquerda, num movi-mento fascinante. Pousa, observa. Jáse ouve o piar alarmado da passara-da, até do papagaio-cinzento quepor ali anda a tempo inteiro, desdehá uns meses, de boa saúde, que seafasta e só retorna mais tarde com oafastamento do predador.

Uma outra, «mais pesada» — dizquem a solta — faz o mesmo vooseguro, pára na árvore dos sonhos,um conhecido carvalho-alvarinhodo Parque. Mas por pouco tempo.Atira-se, mais espectacular ainda,até pousar no topo de um amieirona margem do rio Febros.

Feita a libertação, Vanessa Soeiro,veterinária, explica às crianças eprofessores: «Estas águias chegaramcá feridas; tratámo-las, testámos asua eficiência de caçadoras, exami-námo-las e concluiu-se que podiam

voltar à vida que tinham, em liber-dade».

Até à tardinha, autocarros e maisautocarros vindos de escolas enche-ram o Parque para engrossar o pro-grama de educação ambiental dodia: preencher ao longo do percursoa ficha de descoberta das plantas,que culminava na escolha de uma sóespécie, competindo aos pequenosjuntar todos os dados possíveis arespeito dela. Deu-se ainda o visio-namento do videograma «Matas,bosques e brenhas», da Direcção--Geral de Florestas, no auditório daexposição permanente, local queacolheu ainda uma interessanteexposição feita pelos alunos de trêsClubes da Floresta de escolas gaien-ses.W

Primavera 2002 Parque Biológico 23

Voo livreMais de mil crianças comemoraram o Dia Mundial daFloresta no Parque Biológico de Gaia

«Estas águias chegaram cá feridas»

A águia abre asas e curva para o arvoredo

Cerca de 300 crianças desloca-ram-se ao Parque para assistir àlibertação das águias

Page 24: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Em 1748, D. João V ordena que se retireda coutada do Arneiro — actual coudela-ria de Alter — «os gados do povo para aséguas da raça de Salvaterra lá poderempastar». Este grupo de equinos foi respon-sável por grande parte da criação hípicaem Portugal, desde os meados do séculoXVII até ao princípio do século XX, segun-do Ruy d´Andrade, historiador da coude-laria.

Mas os percalços correram a história. AsInvasões Francesas, acompanhadas depilhagens vorazes, ameaçaram a raça deAlter-Real. Além dos franceses, depois,também os portugueses não acreditaramna raça e submeteram-na a cruzamentoscom cavalos de tiro, para a guerra, e comgaranhões árabes, para corridas, mas,tanto uns como outros, não se adaptaramao clima rigoroso de Alter do Chão.

Em 1938, numa altura de preferênciapelo sangue árabe, em pleno declínio doAlter-Real, são vendidos em leilão os doisrestantes garanhões desta raça: o

"Regedor" e o "Vigilante". Ambos foramadquiridos por Ruy d’Andrade e, maistarde, revelaram ser dois dos três pilaresfundamentais para a recuperação dosAlter-Real. De centenas de cavalos Alter--Real sobram, em 1942, 11 éguas e 3garanhões, a partir dos quais foi efectua-da a recuperação da raça, utilizando-se ométodo de consanguinidade estreita nosemparelhamentos das três famílias cria-das pelos "Regedor", "Vigilante" e ainda o"Marialva II", cavalos estes cedidos porRuy d´Andrade e pela coudelaria deAntónio Fontes Pereira de Melo, na altu-ra director-geral dos Serviços Pecuários.

Saltando para 1980, na coudelaria já seprocura níveis mais elevados de instrução(alta escola). Dá-se o relançamento daEscola Portuguesa de Arte Equestre(EPAE), curiosamente na sequência doque foi a picaria real.

A EPAE é o principal destino dos Alter--Real. Procuram criar cavalos dentro dascaracterísticas alterianas — cavalos lusi-

l u s o

24 Parque Biológico Primavera 2002

Alter-real: a coudelariaNo distrito de Portalegre, situa-se a antiga coudelaria de Alter, onde funciona umaescola equestre e vários espaços museológicos de reconhecido interesse

Para além de cavalos para alta escola, a coudelaria selecciona também cavalos para atre-lagem, que começa a implantar-se a nível mundial

Page 25: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

tanos com tonalidade de cor predominantemente cas-tanha-escura a muito escura, formas do corpo arre-dondadas e a postura do pescoço robusta, crina erabada densas (características realçadas em movi-mento) e com bastante aptidão a nível do trote e galo-pe. Estes pormenores são avaliados quando os poldros— ao fim de dois anos de criação semi-selvagem nailha de Mouchão (salgueiral do rio Tejo), tambémconhecida pelo potril da Azambuja — retornam à cou-delaria para serem desbastados (domesticação dos quenunca foram montados). Dá-se depois a selecção paraalta escola, na qual só passam os melhores exempla-res, ficando os restantes sujeitos a leilão.

Na coudelaria, hoje conta-se cerca de 70 éguas Alter--Real de ventre (égua de criação), eguada esta que érenovada com poldras novas.

A raça nasce nos prados ricos da coudelaria entreFevereiro e Abril, altura de reboliço — para além deépoca de nascimentos é momento de cobrição: aséguas ficam férteis cerca de 21 dias após o parto. Estacobrição é feita por garanhões Alter-Real residentesna coudelaria ou vindos da EPAE, mas também hácobrição com garanhões lusitanos de outras coudela-rias. Passados 11 meses, nascem poldros que crescemcom a eguada até aos 6 meses, altura em que recebema marca do ferro, a inscrição do número na tábuaesquerda do pescoço e um microchip.

Machos e fêmeas são separados uns 6 meses depois.Os machos seguem então para o potril da Azambuja.Ali crescem livremente, em conjunto com os mais

velhos, nos cerca de 70 hectares da propriedade. Asfêmeas crescem em tapadas na coudelaria. Dentro dacoudelaria, os cavalos para atrelagem são selecciona-dos e treinados. Há ainda testes de aptidão para equi-tação tauromáquica; a propósito, em 24 de Abril, emAlter, é inaugurado um redondel, que ficará disponíveltambém para criadores que queiram testar os seusexemplares.

Além de haver, às terças e sábados, visitas guiadas àcoudelaria — quando os visitantes aprofundam conhe-cimento equestre através de exposições sobre a cou-delaria e a raça Alter-Real —, há ainda um outro espa-ço museológico, com coches. Não esquecer igualmen-te a mostra no pátio das éguas, das 10h00 às 15h00.

Existe na coudelaria a Escola Profissional deDesenvolvimento Rural de Alter do Chão, que estáhabilitada a ministrar os cursos de Gestão Equina eGestão Cinegética, ambos com equivalência do 12.ºano. Há ainda cavalariças para a instalação de cavalosde alunos, tendo em vista apoiar as acções ligadas àescola.

A coudelaria está bem equipada com um laboratóriode genética molecular responsável pela avaliação daconsanguinidade dos efectivos da coudelaria e, futura-mente, irá dispor de um centro de recolha de sémen ede inseminação artificial.

Esta coudelaria vive agora um momento áureo, e aindaestá em crescimento.WTexto e fotos: Paulo Costa

Primavera 2002 Parque Biológico 25

Page 26: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

e q u i p a m e n t o

26 Parque Biológico Primavera 2002

Um palacete do início do século XX, em Castêlo daMaia, acolhe hoje as forças vivas da educação ambien-tal maiata.

«A ideia é fazer com que, a partir do núcleo de um par-que público, se vão encaixando valências tais comoescola e laboratório, quinta e hortas pedagógicas, comcomponentes de formação», diz Ricardo Teixeira, ges-tor do Complexo de Educação Ambiental da Quinta daGruta.

«Pretende-se também que a educação ambiental aquise processe segundo o conceito de célula-família, comtoda a interacção possível entre filhos e pais. Quer-seque, em vez de irem para o centro comercial ou ATL,venham cá com as crianças». São 14 hectares que pau-latinamente se foram dispondo segundo o traço de umrestauro arquitectónico assinado por João ÁlvaroRocha.

Criadas condições de trabalho atractivas, tudo apontapara que o serviço desdobrado pelos vários técnicosque integram esta equipa entusiasme. Aliás, algunsdeles desempenham funções de educação ambientalnas escolas desde há nove anos. Então noutras insta-lações, hoje concentram-se aqui, na Quinta da Gruta.

Já em 24/27 de Outubro, é a Maia que acolhe o próxi-mo congresso de educação ambiental e, apesar de secentrar no Fórum, a Quinta da Gruta vai enquadraralgumas oficinas do evento.

«A formação é outra vertente que queremos desenvol-ver», afirma Ricardo Teixeira. Já em Abril decorrerãoacções de formação para professores, com carga horá-ria aproximada de 200 horas.

Apesar do clima de construção que se sente na maiorparte da quinta, uma visita é oportuna, já que o pala-cete e os seus jardins, onde se expõem «espécies de ele-vado interesse botânico», estão abertos ao público.W

Quintada GrutaHoje, a Quinta da Gruta é o cerne docomplexo de educação ambiental daMaia

A Quinta da Gruta é também um local de lazerpara usufruto dos visitantes

Ricardo Teixeira

Page 27: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 27

Verso da Capa (1 página). . . . . . . . . . 1000 eurosVerso da Contracapa (1 página) . . . . 1000 euros1 página. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 800 euros

1/2 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 400 euros1/4 página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 euros1 rodapé. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200 euros

Somar 17% de IVA aos preços da tabela.Inclui publicação de anúncios a todas as cores. Mais informações através do telefone 227878123 (Sandra Brito) ou através de uma visita pessoal ao Parque Biológico de Gaia.

Anuncie na revista «PARQUE BIOLÓGICO»!TABELA DE PUBLICIDADE PARA 2002

"A História de Dona Lavandisca Alvéola", deManuel Mouta Faria, edição Parque Biológicode Gaia

Em plena época de reprodução, a história daslavandiscas repete-se, se não sempre, muitasvezes com êxito. Os desenhos e as palavras deMouta Faria imortalizam estes ritmos da vida,vertidos na linguagem adequada ao pensa-mento da criança que, assim, pode valorizar opapel e as lutas de sobrevivência enfrentadaspor estas aves sobejamente elogiadas peloimaginário popular.

CUPÃO DE ENCOMENDA

Peço que me enviem pelo correio o livro «A História de Dona Lavandisca Alvéola».

Nome:

Morada:

Telefone:

N.º de exemplares encomendados: ao preço unitário de 7,5 euros IVA incluído.

Junto envio respectivo cheque ou vale postal.

Assinatura:

Page 28: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

p e r m u t a

VaivémLevar nos pés a areia das praias e trazer a poeira da serra, os seus cheiros de estevae montado: afinal, fazer a ponte entre o interior e o litoral. Este intercâmbio entre o Parque Natural da Serra de S. Mamede e o ParqueBiológico de Gaia destina-se às escolas de ambas as regiões, com todas as vanta-gens daí decorrentes. Prevê-se um programa de três dias, com actividades de educação ambiental, per-cursos de descoberta da natureza e da cidade. Logo que o programa seja delineado, as escolas das respectivas regiões serão con-tactadas. Fica já o alvitre para futuras actividades.

Serra de S. Mamede

Mais informações: 227878120 (Eng.ª Telma Cruz)

Page 29: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 29

Zona de fronteira entre o mar e a terra,com características físico-químicaspouco comuns, abriga organismos comuma fisiologia invulgar e com caracterís-ticas adaptativas que lhes permitemsobreviver num ambiente que fica partedo dia submerso e outra parte emerso aoritmo das marés.

A zona costeira que está sob a influênciadas marés tem sido alvo de muitas tenta-tivas de divisão em faixas ou cinturas,segundo critérios físicos e biológicos. Asbiocenoses costeiras surgem de formadiferente nos diversos pontos do planeta,podendo, no entanto, distinguir-se zonasque basicamente se repetem, mantendo--se semelhante a estrutura geral dascomunidades que povoam as praias

rochosas. Subjacente a esta realidadeestá o conceito de zonação biológica dosorganismos bentónicos intertidais.

Embora exista uma estreita ligação entreos limites estabelecidos pelos níveis demaré e a distribuição dos organismosintertidais, a descrição dos padrões dezonação assenta em esquemas biológicos,uma vez que as diversas zonas são defini-das pela ocorrência de certos seres vivoscaracterísticos e não por limites físicos.

A zona entre-marés pode então ser divi-dida, do mar para terra, em franja subli-toral, intertidal (inferior, médio e supe-rior) e franja litoral.

A franja sublitoral faz parte do domíniodo sublitoral, e a franja litoral encontra--se inserida na zona supralitoral, consti-

h a b i t a t

Entre marésTambém designada por zona intertidal ou eulitoral, a zona entre-marés constituium ecossistema muito rico, com uma fauna e flora únicas e extremamente diversi-ficadas

Vista aérea da zona entre marés (do eulitoral inferior até à franja litoral) de uma praia no concelho de Vila Nova de Gaia

Fotografias: Mike Weber

Page 30: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

30 Parque Biológico Primavera 2002

tuída por uma maior ou menor extensão de praia are-nosa, falésias ou dunas conforme o tipo de costa emquestão.

Na costa norte de Portugal é evidente a diferença deprodutividade entre as bancadas rochosas e as zonasde fundos de areia, apresentando as primeiras umaprofusão notável de formas de vida. Nesta zona foramjá identificadas cerca de 110 espécies de animais e 36espécies de algas.

Em estudos efectuados na zona intertidal da praia daAguda foram encontradas 149 espécies de fauna asso-ciada aos recifes de Barroeira, Sabellaria alveolata (L.).

Usando métodos não destrutivos foi possível identifi-car 38 espécies de algas pertencentes a 22 famílias e43 espécies de animais pertencentes a 29 famílias, oque por si só dá uma ideia da grande diversidade bio-lógica do substrato rochoso e leva facilmente à con-clusão de que grande parte das cadeias tróficas se ini-ciam em formas de vida que têm aí o seu habitat.

Esse habitat é o palco duma intensa competição intere intraespecífica pelo espaço disponível que se traduznão só pela evolução temporal da ocupação do espa-ço, mas também pela elevada taxa de ocupação.

A zonação biológica resulta da adaptação destes orga-nismos a um gradiente de condições físico-químicasque é consequência das variações periódicas do níveldo mar. Assim, para muitas espécies costeiras existeum gradiente de stress unidireccional devido ao

aumento de proporção de tempo em que estão expos-tos ao ar. Este gradiente resulta do grau de humidadecausado pela subida e descida da maré duas vezes aodia e pela acção das ondas, sendo por isso um gra-diente vertical.

As marés são produzidas pela atracção gravítica da Luae do Sol sobre a Terra e pelo movimento de rotação daTerra. As suas variações regulares em altura e notempo resultam de diferenças periódicas nas posiçõesrelativas do Sol, da Lua e da Terra. Assim, nas fases deLua Nova e Lua Cheia (em que existe um efeito com-binado do Sol e da Lua) a amplitude das marés é muitomaior (marés vivas) e nas fases de Quarto Crescente eQuarto Minguante (em que o Sol e a Lua apresentamefeitos opostos), as marés têm menor amplitude(marés mortas).

O nível das marés varia diariamente entre um máximo(preia-mar) e um mínimo (baixa-mar) num ciclo que serepete duas vezes por dia.

Outro factor determinante na distribuição das espéciesna zona intertidal é a exposição à acção das ondas quecria um gradiente horizontal, diferente entre baíasabrigadas e praias expostas. Estes dois gradientes prin-cipais, horizontal e vertical, são grandemente modifi-cados por todo um conjunto de factores, criados pelatopografia e geologia da costa (existência ou não defendas, galerias, fissuras, poças de maré, etc.). WTexto: Jaime Prata e Mike Weber – Estação Litoral da Aguda

h a b i t a t

Laminárias na franja sublitoral

Page 31: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 31

Outra espécie de laminária, a Laminaria hyperborea(Gunner.) Foslie, vive no sublitoral em águas mais pro-fundas, já fora da zona entre-marés.

As laminárias são algas de grandes dimensões, poden-do atingir mais de 2 metros de comprimento. São com-postas de três partes principais: o órgão ou base defixação, com a qual se agarram firmemente ao subs-trato; o estipe (estrutura semelhante a um caule); e afronde (semelhante a folhas). O estipe e a fronde sãosustidos pela água. Proliferam continuamente ocor-rendo o intenso crescimento na base, em oposição àerosão nos topos. No Outono a fronde é libertada parareduzir a superfície, crescendo de novo na Primavera.São algas bastante evoluídas, com células de transpor-te ao longo da fronde. Um corte transversal do estiperevela anéis de crescimento, sendo a idade média de 5anos. Em alguns locais as laminárias são recolhidascomercialmente para a extracção de algina, utilizada

em cosméticos, pasta de dentes e alimentos. São tam-bém usadas para a produção de iodo, soda e na ali-mentação de animais. Durante a maré baixa as lami-nárias sobrevivem a descoberto, não podendo noentanto suportar a dessecação.

Formam um verdadeiro bosque submarino com umafunção ecológica importante, pois serve de abrigo ainúmeros organismos. Principalmente nos órgãos defixação encontram-se pequenos animais como molus-cos variados, ofiurídeos, caranguejos e alguns peque-nos peixes. Em toda a alga encontram-se, também,algas epífitas de pequeno porte. W

Nota: Este artigo refere-se às laminárias Saccorhiza polys-chides (Light.) Batters e Laminaria ochroleuca Pylaie

Texto: Jaime Prata e Mike Weber – Estação Litoral da Aguda

f l o r a

LamináriasA franja sublitoral no Norte de Portugal é caracterizada pela presença das grandesalgas castanhas, as laminárias Saccorhiza polyschides e Laminaria ochroleuca

FLORAAs lamináriasSaccorhiza polyschides (light.) Batters e Laminaria ochroleuca Pylaie

Classificação:Reino: AlgaeFilo: Phycophyta

Classe: PhaeophytaFamília: Laminariaceae Família: PhyllariaceaeGénero: Laminaria Género: SaccorhizaEspécie: Laminaria ochroleuca Espécie: Saccorhiza polyschides

Fotografias: Mike Weber

Laminária(Laminaria ochroleuca)fixa a um mexilhão(Mytilus galloprovincialis)

Bases de fixação e estipes da laminária Saccorhizapolyschides no sublitoral

Page 32: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

32 Parque Biológico Primavera 2002

f a u n a

BarroeiraO intertidal inferior é caracterizado pela presença do anelídeo poliqueta Sabellariaalveolata, cujo nome popular é Barroeira

Este animal foi já alvo de diversos estudos por parte devários investigadores. Um dos trabalhos mais antigospublicados sobre os "recifes" desta espécie data de1969, na sequência de estudos realizados na baía doMonte Saint-Michel, abordando sobretudo a análiseda macrofauna associada aos "recifes".

Já existiam, no entanto, trabalhos anteriores versandoprincipalmente a análise de sedimentos e a microfau-na (Diatomáceas e Foraminíferos). Outros estudossobre este animal incidiram sobre o biótopo particularconstituído pelos "recifes" de S. alveolata, a sua ecolo-gia e a colonização dos recifes mortos e dos recifesvivos, bem como a sua morfologia.

O modo de implantação destas estruturas e o seudesenvolvimento estão também bem estudados, dis-tinguindo-se quatro tipos de formas: em cogumelo, embarreira, construções em altura e construções emextensão.

Em Portugal os estudos efectuados incidiram particu-larmente sobre a dinâmica, a fauna associada e a epi-flora dos "recifes".

Tais estruturas são um óptimo habitat para os animaisque vivem habitualmente na zona intertidal. Consti-tuem um substrato particular ao mesmo tempo duro,característica do substrato rochoso, e móvel, caracte-rística do substrato arenoso.

A importância ecológica destas formações está poisrelacionada com o facto de as suas numerosas fendase galerias proporcionarem abrigo e/ou alimento a inú-meras espécies de animais marinhos, contribuindoassim para a manutenção e até incremento da biodi-

versidade das zonas em que estão implantadas.

Constituindo as costas portuguesas aquilo que emecologia é costume designar por zona de bordadura,uma vez que se situam na fronteira entre as zonasatlântica e mediterrânea, encontrando-se aqui aszonas limite setentrional e meridional para muitasespécies, a fauna associada aos "recifes" de Barroeiranas costas portuguesas é surpreendentemente rica.Nas praias da Aguda e de Angeiras existem aindaimportantes colónias de Barroeira.

Os "recifes" existentes na praia da Aguda foram já alvode diversos estudos, bem como de uma tese de mes-trado. Este trabalho permitiu identificar um total de149 espécies de fauna associada e desenvolver umacampanha de protecção.

Os "recifes" de Barroeira têm uma grande importânciaecológica e, indirectamente, também económica.Constituindo um acrescento ao substrato rochoso, per-mitem a fixação de inúmeros organismos sésseis (devida fixa). Nas suas inúmeras galerias e fendas, abri-gam-se várias espécies de animais em fases larvares ejuvenis, animais esses que de outra forma não chega-riam à vida adulta. Outros animais procuram os abri-gos existentes nesses "recifes" durante a época dereprodução, como, por exemplo, as ranhosas(Lipophrys pholis). A importância da Barroeira resideentão no facto dos seus recifes contribuírem para oaumento da riqueza animal que caracteriza a zonaentre-marés, e consequentemente para o aumento dosrecursos biológicos costeiros de grande interesse parao homem.

FAUNA

A Barroeira Sabellaria alveolata L.

Classificação:

Reino: Animal

Filo: Annelida

Classe: PolychaetaFamília: SabellaridaeGénero: SabellariaEspécie: Sabellaria alveolata L.

Pormenor dos "casulos" da Barroeira (Sabellariaalveolata) - os "favos de mel"

Page 33: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 33

Biologia

O anelídeo S. alveolata possui um corpo cilíndrico, quepode atingir 4 cm de comprimento. É formado por 32a 37 segmentos e divide-se em três partes distintas: acabeça, com três coroas concêntricas de sedas modifi-cadas, formando um tampão para o tubo; a partemédia do corpo, composta por cerca de 30 segmentoscom brânquias; e a parte terminal, muito afilada. Aboca e as coroas de sedas servem de órgão construtordos tubos, existindo uma correlação positiva entre otamanho do órgão construtor e o tamanho do corpodas poliquetas, bem como a sua relação com a granu-lometria das partículas usadas na construção dostubos.

Apresenta cor variável entre a amarela e a vermelha.Durante a época de reprodução a fêmea fica violeta--escura e o macho quase branco.

Reproduzem-se sexuadamente, são gonocóricos (unis-sexuados) e a razão macho:fêmea é de 1:1. A activida-de reprodutiva começa durante o primeiro ano da suavida. Foram referenciados dois períodos de reprodução:um de Março a Abril e outro de Junho até Setembro. Afixação das larvas pode ocorrer durante todo o anoexcepto nos meses em que ocorre a fertilização.

Ecologia

Os ciclos de crescimento dos recifes de Barroeira, aolongo de um período de vários anos, começam porestruturas de forma arredondada construídas sobresubstratos rochosos — fase primária de fixação. Essasformações acabam unidas através do seu crescimentoem todas as direcções e pelo estabelecimento de novasformações entre as primeiras. Esta fase termina com aconstrução de uma grande plataforma. Quando osorganismos construtores morrem, inicia-se uma fasede destruição em que os "recifes" são mais ou menoserodidos. Seguidamente novos indivíduos se instalam,

iniciando a construção de "recifes" esféricos desta vezassentes sobre os "recifes" mortos — fase secundáriade fixação. Este ciclo parece ser independente daidade da população, no entanto, é necessária a fixaçãode novas poliquetas e um hidrodinamismo suficiente.

Proteger

Infelizmente a Barroeira é alvo de destruição maciça,em especial durante o Verão, através da curiosidadedas pessoas, do pisoteio e pelos pescadores desportivosà procura de isco. Em pouco tempo são destruídasgrandes áreas de "recifes" que em alguns casos leva-ram anos a crescer.

Por isso, não pise os "recifes", desloque-se sobre arocha (tendo o devido cuidado com os outros organis-mos) ou sobre a areia. Se for pescador, não procure oisco nos "recifes" mas sim nas areias que ladeiam asrochas e ajude a incentivar os pescadores menosconhecedores a fazerem o mesmo.

Não destrua a barroeira! Aprecie, antes, a beleza dassuas colónias e reconheça a sua grande importânciapara os ecossistemas costeiros. Seja um educador, pas-sando estas informações aos outros. W

Texto: Jaime Prata e Mike Weber

Bibliografia

ANADÓN, NÚRIA, (1981) – "Contribución al conocimiento de lafauna bentónica de la Ria de Vigo. Estudio de los arrecifes deSabellaria alvolata (L.)". Inv. Pesq., 45(1): 105-122.

DIAS SANTOS, J.P., (1996) - "Estudos de Ecologia Marinha Aplicadano Litoral da Praia da Aguda". I.C.B.A.S., Instituto de CiênciasBiomédicas Abel Salazar, Porto. 137 pp.

DIAS SANTOS, J.P., (2001) - "Concepção, Construção, Implantação eMonitorização de um Sistema Piloto de Recifes Artificiais". Tese deMestrado, FEUP:154 pp.

GRUET, YVES ET P. LASSUS, (1983) – "Contribution à l’etude de labiologie reproductive d’une population naturelle de l’Annélide poly-chète Sabellaria alvolata (L.)". Ann. Inst. Océanogr., Paris, 59(2):127-140.

HAWKINS, S. J. & JONES, H. D., (1992) - "Marine Field Course Guide1: Rocky Shores. Ed. Marine Conservation Society. London. 140 pp.

LEWIS, J. R., (1964) – "The Ecology of Rocky Shores". Hodder andStoghton. Great Britain. 323pp.

PEREIRA, A. S., (1998) - "Morfologia, crescimento e fauna e floraassociadas dos "recifes" de Sabellaria alveolata (L.) da praia daAguda". Dissertação de mestrado. Instituto de Ciências BiomédicasAbel Salazar, Universidade do Porto.

SALDANHA, L., (1980) - "Fauna Submarina Atlântica - PortugalContinental, Açores e Madeira". Publicações Europa-América.369pp.

WEBER, M., (1998) - "Aguda entre as Marés - Fauna e Flora noLitoral da Praia da Aguda". Edições Afrontamento, Porto: 237pp.

WEBER, M., CAMPOS, J., COELHO, A.M., DIAS SANTOS, J.P., BENEVI-DES, S.C.R., & SANTOS, A., (1999) - "Guia de Campo do Litoral daPraia da Aguda". Estação Litoral da Aguda, Câmara Municipal deGaia. 104 pp.

"Recifes" da Barroeira (Sabellaria alveolata)no eulitoral inferior da praia da Aguda

Fotografias: Mike Weber

Page 34: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Este parque inglês é dirigido pelaFundação para as Aves Aquáticas(Wildfowl Trust), que foi fundada em1930 pelo famoso ornitologista, sir PeterScott, que ali viveu.

No parque de Slimbridge, um percursocom 16 locais de paragem, assinaladocom o desenho de uma pata de flamingo,permite ao visitante descobrir as 2500aves que vivem em semicativeiro e osimensos bandos de aves selvagens que alihabitam ou ocorrem.

Os principais locais de paragem e obser-vação estão organizados por lagos comagrupamentos de aves de grandesregiões: o lago Australiano, o lagoEuropeu, etc. Um percurso elevado emestacas num dos lagos (water-walk) per-mite descobrir a vegetação aquática.

Além disso, existe uma exposição perma-nente, um teatro e sala de projecção, umposto de informação. Também há umprograma anual de animação, com confe-rências, visitas especialmente guiadas,etc.

Presentemente decorre em Slimbridge aconstrução de um novo centro de acolhi-mento de visitantes. Falando nisso, oParque Biológico de Gaia pensa organizaruma visita de estudo a Slimbridge (e, pro-vavelmente, ao Jardim Botânico deLondres) em Maio de 2003, sendo o seucusto estimado, com tudo incluído, em7500 euros. Caso esteja interessado nestaviagem, faça a sua pré-inscrição, semcompromisso, nos serviços do Pa r q u eBiológico de Gaia.

Texto e fotos: NGO

i n t e r n a c i o n a l

34 Parque Biológico Primavera 2002

Proximo destino: SlimbridgeSlimbridge é um parque de aves aquáticas, e uma reserva natural, estabelecida em880 hectares das margens do rio Severn, em Gloucestershire, na Inglaterra

Visita da rainha deInglaterra, do príncipe

Filipe, duque deEdimburgo (e então pre-

sidente do WildfowlTrust), do príncipe de

Gales e da princesaMargarida, a Slimbridge,em 22 de Abril de 1961,

para inauguração dasnovas obras. (foto de

Bailey & Son, extraídado 30.º Relatório Anual

de Actividade do TheWildfowl Trust 1960-61)

Page 35: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 35

A sede do Wildfowl Trust

Aspecto de um dos lagos de Slimbridge visto do interior de um observatório

Page 36: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

e s p i g u e i r o

36 Parque Biológico Primavera 2002

Foto

s: J

G/A

rqui

vo P

BG

Acontece no ParqueUma javalichamada RebecaA bebé Rebeca tinha um encanto a que ninguém resis-tia. Focinho ternurento, porém, enganador: vi marcasde mordedura na mão de quem a alimentava. Bem, nãoadmira: na ideia da javali – dir-lhe-ia a mãe antes daseparação – é sempre bom desconfiar dos primatas, ehá que mantê-los no lugar!

Em fins de Maio, uma javali com seus javardinhosatravessava uma estrada lá para Montalegre. Umcarro, de repente, não conseguiu travar e, por isso,deu-lhe uma pancada. O condutor, preocupado, em vezde fazer dela um assado, condoeu-se, apanhou-a eentregou-a na delegação do Instituto de Conservaçãoda Natureza do Gerês. Aí tratada, levantava-se outroproblema: estando o javali em excesso nalgumas zonasdo Parque Nacional da Peneda-Gerês, não fazia senti-do sobrecarregar a população. Entretan-to, pensou-seque a javali seria mais útil se usada para educaçãoambiental… no Parque Biológico de Gaia.

Acolhida em Avintes, cedo revelou o seu talento deapreciadora de maçãs. Receios e hesitações depressase apagavam do seu instinto ambíguo: doce e feroz.

Passam alguns meses e mais duas crias chegam aoParque. Decorridas umas semanas, havia que juntá-losà mais crescida.

Agora, já com a companhia de um rapazola da mesmaespécie, claro!, a Rebeca caminha para um matriarca-do imparável!...

Um «rapazola»contenteRebeca em Julho do ano passado

Em Janeiro, havia quejuntar os três javalis

Pormenores da transferên-cia de Rebeca para o cer-cado da nova família

Page 37: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 37

No pino do Inverno, férias de Natal. O Parque Biológicoabriu as suas Oficinas de Inverno a 19 de Dezembro. Aolongo de cinco dias, que incluíram pausa natalícia, doisgrupos de crianças e jovens, entre os 7 e os 15 anos,desenvolveram diversas actividades no Parque: con-tou-se a pintura, fotografia, reciclagem de papel, jogoslivres e uma oficina especial que teve o apoio daAssociação Ilha Mágica, sem esquecer a feitura deenfeites natalícios.

Oficinas de Inverno

Reciclagem de papel

Chama-se Matilde, tem dois anos, pesa 300 kg e é umadas novas residentes do Parque Biológico. Chegou nodia 8 de Janeiro e foi acolhida de forma calorosa. Hámuito que o Parque ansiava por ela.

É que Matilde não é uma vaca qualquer! A famosavaquinha-dálmata, como lhe chamam os mais peque-nos, está prenhe! Carrega no seu ventre um vitelinhoque vai nascer em Maio. Por algum tempo, é bemcapaz de ser visto como uma das próximas mascotesdo Parque Biológico. Assim, desde já o convidamos avisitar o Parque e, numa dessas visitas, pode acontecerdeparar com o recém-nascido.

Se desejar, pode ainda enviar-nos sugestões para onome do vitelo. Quanto ao futuro, quem sabe se atépoderemos vir a mostrar aos visitantes algumas dasdiferentes raças autóctones?!

Ela tem pinta!

Text

o de

Tel

ma

Cruz

, Ana

Maf

alda

e F

ranc

isco

Sar

aiva

Caça fotográfica

Pintura de várias vertentes: libertadora,trabalho individual e depois colectivo

Page 38: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Existem espécies que possuem características específi-cas que possibilitam a distinção entre sexos, ou seja,possuem o chamado dimorfismo sexual.

Há outras, porém, em que distinguir se o animal émacho ou fêmea se torna difícil, ou mesmo impossível.Neste grupo incluem-se algumas aves como os milha-fres, águias e corujas existentes no Parque que se pre-tendia juntar por casais para tentar a reprodução.

Segundo Vanessa Soeiro, veterinária, a análise de ADN(ácido desoxirribonucleico) é fundamental: «O critériotradicional que nos indica que a cabeça é maior nomacho que na fêmea, a diferente coloração dos olhos,bem como outras características, nem sempre condu-zem à realidade. A colheita de sangue para análise deADN é actualmente a técnica mais utilizada para sexa-gem. Esta técnica tem a vantagem de ser pouco dis-pendiosa e de provocar o menor stress possível ao ani-mal». Aquando da colheita, ocorrida em Janeiro, é veri-

ficado o número de identificação da ave, existente naanilha. Seguidamente, as amostras são enviadas a umlaboratório da especialidade para serem apurados osresultados.

e s p i g u e i r o

38 Parque Biológico Primavera 2002

Sexagem: a quanto obrigas!

Texto e fotografia: Ana Mafalda

Máscaras da NaturezaO mimetismo dos animais e das plantas foi tema queinspirou meia dúzia de ateliers de construção de más-caras carnavalescas durante a semana anterior aoEntrudo no Parque Biológico. Várias escolas preenche-ram as vagas assim que as inscrições abriram. Dandogosto às mãos, crianças entre os 5 e os 12 anos deidade construíram estes artefactos acompanhadas

pelos professores e pelos técnicos do Parque.Participaram também alguns especialistas do exterior,nomeadamente Jaime Prata, da Estação Litoral daAguda, e José Manuel Grosso, entomólogo. A exposi-ção destas máscaras, cuja mostra esteve aberta aopúblico no Parque Biológico de Gaia, seguiu para oParque Natural de S. Mamede.

Page 39: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 39

Lembrando o Dia Mundial das Zonas Húmidas, oParque Biológico de Gaia promoveu uma manhã de

Observação de Aves no Estuário do Rio Douro, em 2 deFevereiro, sábado. Montados, pelas 9h00, dois telescó-pios e um poster que apresentava algumas das avesmais comuns e que com certeza se poderiam vernaquele dia, os interessados começaram a aparecer àsdezenas. João Loureiro, biólogo especializado no tema,elucidou todos. Em simultâneo, no auditório do ParqueBiológico, Poças Martins, vereador do pelouro doAmbiente da Câmara Municipal de Gaia, anunciava aintenção de vir a criar no local um Centro deInterpretação da área do Estuário do Douro.

Observação de aves no Cabedelo

No dia de S. Valentim, quando um menino de barriga-ça fofa conhecido por Cupido andava do invisível adisparar doces setas, os visitantes do Parque Biológico,feita uma avaliação, votaram no par de sua preferên-cia. Entre o filão que, entontecido de paixão, cristali-zou na rocha e o líquen apaixonado pela árvore eleita,já sem falar dos porquitos sem decoro e dos burros, doscágados ou dos porquinhos-da-índia, dos gansos oudos galináceos ou das corujas, o certo é que quemmais enterneceu as centenas de visitantes desse dia noParque foram decididamente as araras. Vitória a 70%,

seguida dos porquinhos-da-índia e dos porcos a 58%e 53% dos votos, respectivamente.

Namorados: quem lhes resiste?

Quase de um dia para o outro, o Parque Biológico viu-se a acolher três póneis, animais que atraem especial-mente as crianças.

Estes cavalos-miniatura, apesar de adultos, têm quasea dimensão da burrinha que nasceu no Parque a meiodo Inverno. Nos primeiros dias pós-parto já trotavapelo campo, sob o olhar atento da mãe!

Póneis do Parque

Estes póneischegaram ao

Parque em finsde Janeiro

Dia 19 de Janeiro nasceu uma burrita

Page 40: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

e s p i g u e i r o

40 Parque Biológico Primavera 2002

Quinta de Santo Tusso

A expansão do Parque Biológico de Gaia, conseguida atra-vés da sucessiva anexação de antigos terrenos de cultivo,proporciona a oportunidade de valorização do património,com vista a servir os ideais de educação ambiental.

Neste sentido foi proposta a requalificação da quintade Santo Tusso, que pressupõe a criação de diversosespaços de exposição, interactivos, uma cafetaria esanitários. Na proposta apresentada procura-se recu-

perar a imagem original do núcleorural, acrescentando novos volumesconstruídos, indispensáveis ao bomfuncionamento do conjunto. Tendoem conta a localização privilegiadado núcleo rural — já que se situaaproximadamente a meio do per-curso de visita, entre uma zonadensamente arborizada e prados decultivo sobre o rio — poderia trans-formar-se num local de descanso econtemplação.

Perspectivas da reabilitação proposta epormenores do pátio interior. Projectodo arquitecto Francisco Saraiva

ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO PARQUE BIOLÓGICO

CONVOCATÓRIANos termos do Art.º 9.º dos Estatutos da Associação dos Amigos do Parque Biológico Municipal de Gaia, convoco os Senhores Associadospara uma sessão ordinária da Assembleia Geral, no próximo dia 27 de Abril de 2002, sábado, às 17.00 horas, no auditório do ParqueBiológico de Gaia, com a seguinte

ORDEM DE TRABALHOS

1. Discussão e votação do Relatório e Contas da Direcção relativo ao ano de 2001.

2. Discussão e votação do Plano de Actividades para 2002/2003.

3. Eleição de Corpos Gerentes para o biénio 2002/2003.

Se à hora marcada não houver quórum, a Assembleia Geral reunirá meia hora depois com qualquer número de presenças.

Vila Nova de Gaia, 23/03/02O Presidente da Mesa da Assembleia Geral

Page 41: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Cultivar um jardim e fazer crescer plantas desde sem-pre foi e será uma agradável forma de se passar otempo, uma actividade relaxante e que pode até tra-zer benefícios à saúde. Quem vive numa casa semquintal pode desenvolver as suas plantas na varanda e,algumas espécies, até dentro de casa.

A escolha do tipo de planta é fundamental para o suces-so desta agradável actividade e, quando a escolha é bemfeita, a manutenção resume-se a regas, pequenas opera-ções de poda, limpando as partes secas da planta e fer-tilizações periódicas, dependendo das espécies em causa.

Uma vez que vai iniciar-se mais uma estação, simboli-zada pelo despertar da natureza adormecida, aPrimavera, este artigo é dedicado a algumas plantasque podem ser desenvolvidas dentro de casa, comvalor ornamental, pouco exigentes em meios e emtempo e com a particularidade de pertencerem a umgrupo de plantas denominadas PAM, plantas aromáti-cas e medicinais, que são utilizadas por todos os cozi-nheiros e cozinheiras para condimentar, temperar ousimplesmente aromatizar cozinhados.

Muito provavelmente publicaremos algumas deliciosasreceitas numa próxima edição desta revista, mas nestenúmero vamos falar essencialmente de como fazercrescer estas plantas dentro de casa. Este artigo desti-na-se especialmente àquelas pessoas que não têm umjardim, porque as que o têm poderão praticar estassementeiras no exterior das suas casas.

As espécies escolhidas para este artigo são a salsa, oscoentros e a hortelã-menta, espécies muito tolerantese bem fáceis de desenvolver até dentro de casa.

Quanto aos materiais são necessários: vasos (de prefe-rência de barro que é um material nobre e ecológico),terra mineral com bons teores de matéria orgânica(encontra-se em viveiros ou hipermercados) e as res-pectivas sementes (hipermercados e lojas da especiali-dade).

O local de colocação dos vasos deve ser junto de umajanela que possa ser aberta e por onde entre luz do soldirecta, pelo menos algumas horas/dia. O local deveser fresco e arejado.

A SALSA (Petroselinum hortense) - Encha os seusvasos (médios) com terra e coloque-os num local soa-

lheiro; a seguir espalhe 20 a 30 sementes em cadavaso (note que cada saqueta contém centenas desementes). A germinação é um pouco demorada e, noprimeiro ano, surge apenas uma pequena roseta defolhas, sendo só no segundo ano que se atinge a matu-ração plena da planta e por isso mais folhas haverápara serem colhidas.

A salsa é muito utilizada na cozinha mediterrânica —muito rica em nutrientes, especialmente vitamina C esais minerais, como o magnésio. As folhas podem serconsumidas frescas ou podem-se congelar. Há aindaquem seque, operação que terá de ser feita rapida-mente para conservarem o seu bom aroma e proprie-dades.

OS COENTROS (Coriandrum sativum) – As folhas infe-riores são semelhantes às da salsa e as superiores sãomuito mais recortadas e com uma fragrância intensa;as sementes são extremamente aromáticas e, moídas,servem para temperar carnes e peixes. Os procedimen-tos da sementeira são idênticos aos da salsa: entre osmeses de Março e Abril, num solo leve e rico emnutrientes disponha algumas sementes (10 a 20). Oscoentros vão medir entre 30 a 70 cm, as suas folhasdão um toque de frescura a saladas e uma excelentefragrância às favas e açordas alentejanas. As sementespodem ser utilizadas também em infusões que ajudamnas digestões difíceis e dores de cabeça.

A HORTELÃ (Mentha) - Cultivam-se no nosso paísdiferentes variedades de hortelã: a hortelã-pimenta,hortelã-verde, hortelã-rubra, entre outras. O própriopoejo é também uma mentha (Mentha pulegium).

Como se cultiva? Na Primavera, semeie em vasosmédios, perto de luz natural. No ano seguinte experi-mente cortar umas estacas do caule e pôr em água.Verá que em poucos dias elas terão raiz.

A hortelã tem um intenso aroma e por isso deve serusada fresca, contudo também pode secar ou congelaras suas folhas. O óleo contido nas folhas da hortelã--pimenta ajuda as digestões difíceis e é eficaz no con-trolo de cólicas e em casos de síndrome do cólon irri-tável.

Boas sementeiras e até ao próximo número destarevista!

Texto: Filipe Vieira

j a r d i m

Útil e agradável

Coentros Salsa Hortelã

Page 42: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

i n f â n c i a

42 Parque Biológico Primavera 2002

Natasha, aborboleta feliz!Natasha era uma borboleta

muito dinâmica, cheia de

vida e alegria.

Gostava imenso de

percorrer os campos de flores

num voo baixinho quase, quase

a tocar as pétalas. Todos

diziam que Natasha parecia

uma bailarina, rodopiava,

pairava, saltitava, lançava-se

sobre o vento e deixava-se

levar.

Mas Natasha sem sempre foi

assim. Nem calculam as

transformações que

ela sofreu!

Primeiro foi um ovo

muito pequenino do

qual a certa altura

nasceu uma larva,

daquelas lagartas com

muitas patas que adoram

misturar-se com as plantas e,

por isso, dificilmente são vistas.

As sua via era bem rastejante,

sem grandes aventuras

esvoaçantes, mas tudo se

preparava para uma mudança.

Um dia Natasha sentiu que

devia parar,

repousar, pensar a

sério na sua vida.

Afinal, havia algo no

seu interior que lhe dizia

que se aproximava um

momento muito importante e

brilhante! E, como em todos os

grandes momentos a tarefa

principal a fazer é pensar na

forma de aproveitar a cem por

cento a nova hipótese, decidiu

parar na folha maior e com o

verde mais intenso que

encontrou. Afinal, o local de

reflexão é também importante

para que as conclusões

brotem. Ali, ela ouvia o

cantar do vento, o borbulhar

das quedas da

água, a música do

nascer e do pôr-do-

sol.

O tempo foi passando e

certo dia…

Claro que o tempo para as

borboletas passa mais rápido

do que para os humanos, por

isso é que elas aproveitam a

vida de forma diferente!

Certo dia percebeu que já não

era a mesma, o seu corpo

Page 43: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

M T J O P N G A V

Ç U I A C Q D F O

L F D S X B M P O

M E G A I V L Z L

F H M T N S G X A

C U I R T Ç H L L

N A T A S H A P A

L A G A R T A S R

V J P E D F B L V

B O R B O L E T A

P T E I P B V M I

S A H I H V X Z U

R E Ç L O D N U M

Primavera 2002 Parque Biológico 43

Descobre nesta sopa de letras

algumas das palavras que leste no

1. Borboleta2. Lagartas3. Larva4. Mudanças

5. Mundo6. Natasha7. Viagem8. Voo

estava

diferente,

tinha asas, era

mais colorida,

sentia uma força

interior diferente.

A medo começou a

abrir as suas asas,

sentiu o vento a

abraçá-la, o seu corpo mais

leve e lançou-se confiante

sobre o campo.

Era fantástica a sensação de

liberdade.

Agora via tudo de forma

diferente, as cores eram mais

brilhantes, as flores já não

pareciam gigantes e os

obstáculos tornaram-se mais

fáceis.

O mundo

parecia ter outras

dimensões e nunca

Natasha teria sido

capaz de imaginar a

sua imensidão.

Mais uma vez o seu

interior falava mais alto, mas

agora já não era em relação a

mudanças, agora era uma

ansiedade que a percorria, um

desejo de conhecer esse

mundo.

Não havia mais nenhuma

hipótese, Natasha tinha de

agarrar na sua mochila,

colocá-la às costas e fazer

uma longa e deliciosa viagem!

Por Rita Valente

Page 44: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

b a n d a d e s e n h a d a

44 Parque Biológico Primavera 2002

Desenhos de ManuelMouta Fariaa partir de uma obser va-ção de Jorge Gomes

JN/Fev. 98O MacPlus faziaum save demorado na drive externa…

Quando é que o jornal iria com-prar computadores novos? Olheipela janela distraidamente…

Não pode ser!

Era só mais umpombo. De certeza.

No entanto, doisdias depois...

É mesmo!

Um falcão-peregrino .Aqui no meio do Porto!

Pensando bem, porque não?Os pombos são aos milhares.São a presa favorita destesbichos.

Passei a ir mais cedo. Um cole-ga disse-me que afinal eramdois. De manhã cedo costuma-va vê-los pousados no edifício.

Dois peregrinosna cidade

Page 45: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 45

O pessoal passou a interessar-se pelosfalcões. Mas é claro: com toda aquelagente a espreitar, eles punham-se a mexer.

Mesmo assim ainda os vimos a desbastaruns pombos. Um servicinho a favor da Invicta!

Fevereiro e Março, eles ali estiveram. Era um casal, ou umpar de juvenis? Talvez juvenis, porque eram ligeiramenteacastanhados.

O João Ogando, mais entusiasta, chegoumesmo a publicar a notícia.

Iriam ali ficar? Donde teriam vindo? Teriamnascido perto ou viriam do Norte da Europa?

Na altura pensei que a razão por que ali esta-vam era a abundância de pombos. Só maistarde percebi que poderia ter feito um pequenoestudo.

Page 46: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

b a n d a d e s e n h a d a

46 Parque Biológico Primavera 2002

Os falcões-peregrinos capturam uma grande variedadede presas. Não só aves, mas também mamíferos, incluindomorcegos. Matam-nas rapidamente, partindo-lhes opescoço e costumam-nas transportar para os poisoshabituais, onde as comem.

Nestes sítios ficam as partes que nãoaproveitam; por exemplo, as asas.Geralmente é possível identificá-las. Talvez fossepossível perceber quais eram as suas zonas decaça, à volta do Porto.

Porém, quando se foram embora,em Março, levaram esse segredobem guardado...

Page 47: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Primavera 2002 Parque Biológico 47

Quantas vezes damos connosco próprios a comprar coisas que não têm o menorsentido, nem para nós nem para as pessoas a quem as queremos oferecer? Mas umlivro marca a diferença: é um companheiro para toda a vida!

Sugestões Texto: Joaquim Pe i x o t o

"Os Próximos 100 Anos", de Jonathan Weiner, colec-ção Ciência Aberta editado pela Gradiva

Jonathan Weiner, autor de "Planeta Terra", apresentade forma clara os temas centrais deste livro, aliás,assuntos bem conhecidos de todos nós – a extinçãodas espécies, a destruição das florestas húmidas, oburaco na camada do ozono, o aquecimento global, achuva ácida, o efeito-de-estufa. Durante muito temponão soubemos quão a sério devíamos levar estes avi-sos. Agora sabemos: a prova está aí.

"Arboricultura Moderna", de Alex Shigo, tradução doprof. dr. Carlos Abreu, edição Sociedade Portuguesa deArboricultura

As árvores têm sido alvo de estudos que abordam ape-nas a sua anatomia e morfologia. Os tratamentos quelhes são impostos são, na maioria das vezes, fruto daexperiência de alguns «práticos» e não de estudossequenciais e conclusivos acerca dos porquês das suasreacções. Este livro esquematiza de forma muito aces-sível os vários processos de crescimento da árvore e deque forma estes condicionam o tratamento que lhesdevemos dispensar para as melhor preservar ou obterdelas as produções pretendidas.

Assim, este livro aparece sob a forma de compêndio defácil entendimento para quem tem de habitualmentelidar com árvores, plantá-las, mantê-las ou apenasusufruir delas.

p a r á g r a f o

"Conservação dos Sistemas Dunares", vários autores,edição Parque Biológico de Gaia

Os frágeis sistemas de dunas, quando confrontadoscom os impactes oriundos da actividade humana,pedem cuidado. O Parque Biológico de Gaia lança em27 de Abril, sábado, o livro «Conservação dos SistemasDunares». Para esse efeito, organiza-se uma ediçãoespecial do programa DUNAS: CONHECER E CONSER-VAR, com saída do Parque Biológico pelas 10h00, para-gem no Parque de Dunas da Aguda para apresentaçãodo livro, almoço em S. Jacinto. Às 14h30, uma visita aoCentro de Interpretação da Reserva Natural das Dunasde S. Jacinto, com visita à pateira.

"Histórias da Árvore dos Sonhos", de vários autores,edição Parque Biológico de Gaia e Ilha Mágica

Com coordenação de José Vaz e ilustrações deFernando Saraiva, vários escritores de renome dãoforma a uma obra dedicada à infância: «Agora, que osnossos olhos se encontraram, vou levar-te, pela mãode ler, a um sítio mágico. É um prado igualzinho àque-les que te aparecem nos sonhos leves». O lançamentodeste livro decorreu no Parque Biológico de Gaia, aofim da tarde de 2 de Abril, no Dia Internacional doLivro Infantil.

Page 48: Douro Natural Tesouros da zona entre-marés Borboletas: que ...

Foto da EstaçãoA PRIMAVERA

A vida anda possessa de Poesia!Anda prenha de mosto!Ou é da luz do dia,Ou é da cor do rosto,Ou então quer abrir-se, neste gostoDe pão com todo o sal que lhe cabia!

Tem narcisos de amor no coração,Folhas de acanto nos sentidos!E carícias na mãoA espreitar dos tendões adormecidos!

Toca-se numa pedra, e ela treme!Murmura-se uma prece, e a boca grita!A rabiça do arado é como um lemeSobre a terra que ondula e ressuscita!Quem avoluma a sombra, ou quem a teme?Cada presença é um hino que palpita!E, se na estrada alguém discorda e geme,Ninguém que vai no sonho o acredita!

Serás tu, Primavera?Tu, com frutos na rama do futuro,Com sementes nos pés,E flores inúteis sobre cada muro,Contentes só da graça que tu és!

«ODES», Miguel Torga

Poema seleccionado porAlberto Andrade