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A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO DE VIVÊNCIA E RESIDÊNCIA AGRÁRIA NA FORMAÇÃO DO LICENCIANDO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS THE IMPORTANCE OF THE INTERNSHIP EXPERIENCE AND AGRARIAN RESIDENCE IN THE FORMATION OF AGRARIAN SCIENCES GRADUATION COURSE STUDENTS Apresentação: Comunicação Oral Andréia Santos de Lima¹; Maria de Lourdes Saturnino Gomes²; Régis de Araújo Pinheiro³; Breno Henrique de Sousa 4 ; Marcos Barros de Medeiros 5 DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00001 Resumo Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo verificar a importância do estágio de vivência na formação do Licenciado em Ciências Agrárias, tendo como referência a experiência vivenciada nessa modalidade de estágio. O Estágio Interdisciplinar de Vivência – Residência Agrária foi realizado no período de 15 a 30 de Maio de 2012, na Comunidade Rural Gruta de Santa Teresa no município de Solânea-PB, região do Piemonte da Borborema. A Comunidade Gruta de Santa Teresa é localizada na zona rural a 5 km do município de Solânea-PB, moram na comunidade 48 famílias que vivem da agricultura familiar, a mesma possui uma boa organização e tem como principal fonte de renda a agricultura e pecuária, e ainda os que trabalham fora da comunidade rural. A agricultura é a atividade predominante. A comunidade tem uma Associação (Associação dos Agricultores Familiares da Gruta de Santa Teresa) fundada em 1984, que utiliza a casa de farinha como sede para reuniões e eventos da comunidade. A proposta metodológica foi construída coletivamente e tem como pressuposto o conhecimento da realidade, baseando-se na vivência como um instrumento pedagógico, utilizando-se procedimentos da pesquisa-ação, a qual se constituiu de 04 etapas: Preparação do Estagiário, Pré-Residência, Residência Agrária e Socialização da Vivência. É no estágio que o educando se depara com a realidade cotidiana, passa a entender a luta travada pelos sujeitos que fazem parte do contexto, sendo capaz de inserir nessa realidade uma perspectiva transformadora. O Estágio Interdisciplinar de Vivência – Residência Agrária se constitui como uma experiência piloto no Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB, sendo incluso no Projeto Pedagógico do curso. Concretizando-se por meio da vivência em realidades rurais e consequentemente uma discussão por parte dos sujeitos que participam dessa experiência, levando-os a refletir o papel da universidade e a realidade do campesinato brasileiro, contribuindo assim para a construção do conhecimento de forma coletiva. Palavras-Chave: pesquisa ação, agricultura familiar, extensão rural. _________________________ Doutoranda PPGSPAF, UFPEL, [email protected] ² Mestre em Ciências Agrárias (Agroecologia), UFPB, [email protected] ³ Doutorando PPGSPAF, UFPEL, [email protected]

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A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO DE VIVÊNCIA E RESIDÊNCIA AGRÁRIA NA FORMAÇÃO DO LICENCIANDO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS

THE IMPORTANCE OF THE INTERNSHIP EXPERIENCE AND AGRARIAN

RESIDENCE IN THE FORMATION OF AGRARIAN SCIENCES GRADUATION COURSE STUDENTS

Apresentação: Comunicação Oral

Andréia Santos de Lima¹; Maria de Lourdes Saturnino Gomes²; Régis de Araújo

Pinheiro³; Breno Henrique de Sousa4; Marcos Barros de Medeiros5

DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00001

Resumo Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo verificar a importância do estágio de vivência na formação do Licenciado em Ciências Agrárias, tendo como referência a experiência vivenciada nessa modalidade de estágio. O Estágio Interdisciplinar de Vivência – Residência Agrária foi realizado no período de 15 a 30 de Maio de 2012, na Comunidade Rural Gruta de Santa Teresa no município de Solânea-PB, região do Piemonte da Borborema. A Comunidade Gruta de Santa Teresa é localizada na zona rural a 5 km do município de Solânea-PB, moram na comunidade 48 famílias que vivem da agricultura familiar, a mesma possui uma boa organização e tem como principal fonte de renda a agricultura e pecuária, e ainda os que trabalham fora da comunidade rural. A agricultura é a atividade predominante. A comunidade tem uma Associação (Associação dos Agricultores Familiares da Gruta de Santa Teresa) fundada em 1984, que utiliza a casa de farinha como sede para reuniões e eventos da comunidade. A proposta metodológica foi construída coletivamente e tem como pressuposto o conhecimento da realidade, baseando-se na vivência como um instrumento pedagógico, utilizando-se procedimentos da pesquisa-ação, a qual se constituiu de 04 etapas: Preparação do Estagiário, Pré-Residência, Residência Agrária e Socialização da Vivência. É no estágio que o educando se depara com a realidade cotidiana, passa a entender a luta travada pelos sujeitos que fazem parte do contexto, sendo capaz de inserir nessa realidade uma perspectiva transformadora. O Estágio Interdisciplinar de Vivência – Residência Agrária se constitui como uma experiência piloto no Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB, sendo incluso no Projeto Pedagógico do curso. Concretizando-se por meio da vivência em realidades rurais e consequentemente uma discussão por parte dos sujeitos que participam dessa experiência, levando-os a refletir o papel da universidade e a realidade do campesinato brasileiro, contribuindo assim para a construção do conhecimento de forma coletiva. Palavras-Chave: pesquisa ação, agricultura familiar, extensão rural. _________________________ Doutoranda PPGSPAF, UFPEL, [email protected] ² Mestre em Ciências Agrárias (Agroecologia), UFPB, [email protected] ³ Doutorando PPGSPAF, UFPEL, [email protected]

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4 Doutorando PPGEXR, UFSM, [email protected] 5 Professor Doutor, UFPB, [email protected]

Abstract This work was developed with the goal of verifying the importance of the internship experience on agrarian sciences student´s formation, with the reference to the experience which I had in this internship modality. The Interdisciplinary Experience Internship – Agrarian Residence happened from 15 May 2012 to 30 May 2012, in an agrarian community named Saint Tereza´s Grotto, which is located in the city of Solanea/PB, in the Borborema Piedmont Region. The community is 5 kilometers away from the city of Solanea, in the rural area, 48 families which survive on family agriculture live in this community, this same community has a good organization and, agriculture and livestock are their main source of income, and a few people also work outside of their community. The methodological proposal was collectively built and it is focused on the knowledge of reality working with experience as a pedagogical instrument, using procedures of a research-action, which is a set of 4 stages: Trainee Preparation, Pre-Residence, Agrarian Residence and Experience Socialization. In the internship the pupil faces the daily reality, starts to understand the challenge that the individuals that are part of this context have, being able to insert a transforming perspective in this reality. The Interdisciplinary Experience Internship – Agrarian Residence represents a primary experience in the agrarian science graduation course at the Federal University of Paraiba, being a part of the course´s pedagogical project. Materializing itself through the agrarian reality experience, and, therefore a discussion between the subjects who are a part of this experience, driving them to reflect about the university´s role and the reality of the Brazilian Peasants, contributing to the knowledge construction in a collaborative way. Key Words: Research-Action, Family Farming, Rural Extension Introdução

Os estágios têm um papel fundamental para complementar a formação profissional e

estabelecer um elo entre a academia e o mundo do trabalho. É no estágio que o educando se

depara com a realidade cotidiana, passa a entender a luta travada pelos sujeitos que fazem

parte do contexto, sendo capaz de inserir nessa realidade uma perspectiva transformadora.

O processo formativo nos diversos campos profissionais suscita uma articulação entre

os conhecimentos teóricos e a aplicabilidade destes na atuação profissional. Essa articulação

não se dá por etapas, mas concomitante, permeado por um diálogo entre o que se aprende e o

que se realiza na prática, estabelecendo uma práxis. Na formação dos professores esse diálogo

se refere aos sujeitos, sua forma de pensar e de agir, suas convicções, compromissos, desejos

e suas maneiras de organizar e executar atos educativos (SOUSA, 2009).

O Estágio é uma oportunidade única na formação do educando. Ele dá oportunidade

do sujeito se aproximar da realidade na qual irá atuar, além de ampliar e possibilitar a troca de

conhecimento, e participar ativamente do processo de ensino-aprendizagem.

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A realização da modalidade do Estágio de Vivência possibilita ainda fortalecimento da

relação entre educação, desenvolvimento e assistência técnica. Fomentando assim

potencialidades de atuação aos sujeitos que participam dessa experiência.

Desta forma, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo verificar a importância do

estágio de vivência na formação do Licenciado em Ciências Agrárias, tendo como referência

a experiência que vivenciei nessa modalidade de estágio realizado na Comunidade Gruta de

Santa Teresa, Zona Rural do Município de Solânea – PB, no período 18 a 30 de Maio de

2012.

Fundamentação Teórica

O estágio foi introduzido no Brasil na década de 1970, regulamentado pela Lei Nº

6.494. A mesma foi complementada pelo Decreto nº 87.497, de 1982. A legislação que

regulamenta o estágio completa quatro décadas, levando em consideração às profundas

mudanças do mercado de trabalho a mesma passou por grandes transformações.

Atualmente o estágio no Brasil é regido pela Lei Nº 11.788 de 25 de Setembro de

2008, que define em seu 1º artigo o estágio como o ato educativo escolar supervisionado,

desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de

educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior,

de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino

fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos (BRASIL,2008).

Compreende-se, portanto, que é na escola, nas relações docente/discente, na atuação

no âmbito dos sistemas de ensino e na sociedade que se tecem as ações educativas. (SOUSA,

2009). Nesse sentido, o Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB, a Residência

Agrária está na Resolução 02/12 do curso, integralizando assim o currículo do mesmo, e, se

equipara ao Estágio IV. Devendo ser iniciado a partir da segunda metade do curso.

O estágio interdisciplinar de vivência é pautado no Parágrafo Quarto do Artigo 2º da

resolução 02/2012 do curso – onde o Estágio Curricular IV, deverá ser concretizado através

do eixo, “realização da prática em extensão rural e educação não escolar”. Aqui o estágio se

volta para contemplar os espaços de educação não escolar, ampliando as possibilidades de

diálogo da prática educativa, que vai além dos muros da escola e chega aos assentamentos e

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às comunidades do campo, ou ainda através das instituições e organizações que estejam em

plena atividade nas comunidades do campo ou assentamentos.

Segundo o artigo 6º, o referido estágio consta de 07 créditos, obtendo uma carga

horária de 105 horas, contemplando atividades que remetam a prática educativa não escolar

em espaços não-formais, como também atuação como extensionista rural em comunidades

rurais. Ao longo das discussões travadas, foi se reconhecendo como ponto central a superar, a

lacuna Universidade/Sociedade, em especial o caráter acadêmico, tecnicista e segmentado do

conhecimento produzido nas instituições universitárias brasileiras (PETERSEN, 1999).

Segundo Molina (2009), a intenção da Residência Agrária é constituir-se como

política de conhecimento sobre e para o campesinato, no âmbito das Ciências Agrárias, nas

universidades públicas, com base na pesquisa e extensão em área de Reforma Agrária.

Ampliando dessa forma as reflexões teóricas, a visão crítica, e a formação do sujeito que

participa do estágio de vivência.

O Estágio Interdisciplinar de Vivência – Residência Agrária se constituiu como uma

experiência piloto no Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da UFPB, estando incluso

em seu Projeto Pedagógico. Portanto, concretizando-se por meio da vivência em realidades

rurais e consequentemente uma discussão por parte dos sujeitos que participam dessa

experiência, levando-os a refletir o papel da universidade e a realidade do campesinato

brasileiro, contribuindo assim para a construção do conhecimento de forma coletiva.

Metodologia

O Estágio Interdisciplinar de Vivência – Residência Agrária foi realizado no período de 18 a

30 de Maio de 2012, na Comunidade Rural Gruta de Santa Teresa no município de

Solânea-PB, região do Piemonte da Borborema.A Comunidade Gruta de Santa Teresa foi

fundada em 1984. Atualmente residem na comunidade 48 famílias. A mesma tem uma

Associação (Associação dos Agricultores Familiares da Gruta de Santa Teresa), que utiliza a

casa de farinha como sede para reuniões e eventos da comunidade.

A proposta metodológica foi construída coletivamente e tem como pressuposto o

conhecimento da realidade, baseando-se na vivência como um instrumento pedagógico,

utilizando-se procedimentos da pesquisa-ação, a qual se constituiu de 04 etapas, que serão

detalhadas a seguir.

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Etapa I – Preparação dos estagiários: foi constituindo de um espaço para debates a partir da

realização de oficinas, palestras e visitas, objetivando preparar teórica e praticamente os

sujeitos que participaram do estágio de vivência. As dinâmicas utilizadas se deram a partir da

exposição teórica e logo após, debates e sistematização por parte dos participantes. Nessa

etapa foi realizada a articulação com os agricultores, por meio dos movimentos sociais

(sindicatos, ONG’s, associações parceiras da instituição), socializando com os mesmos a

importância do estágio de vivência e a sua contribuição na formação dos sujeitos que

participam do mesmo.

Etapa II – A realização da Pré-Residência Agrária, se deu por meio de um dia de campo na

Comunidade Salgado dos Sousa, zona rural do município de Solânea-Pb, na propriedade do

Senhor Luiz Sousa e D. Eliete, onde os mesmos desenvolvem práticas agroecológicas (Figura

2). A partir de uma caminhada transversal conhecemos a propriedade, as práticas e espécies

de cultivo, o manejo do solo, a rotina da família e como as atividades diárias eram divididas. Figura 1: A- Dia de Campo – Comunidade Salgado dos Sousa – Solânea/Pb; B- Diálogo na propriedade do Agricultor

Luís Sousa – Agricultor Experimentador.

Fonte: Própria

Etapa III – Residência Agrária: vivência, com duração de 15 dias, permanência na

comunidade, interação com as pessoas, estreitando o relacionamento, participação das

atividades rotineiras (Figura 3). Vivenciando todos os aspectos da realidade a qual essa

comunidade interage: sua cultura, seus valores, seu modo de entender o mundo, suas

necessidades, linguagem. Desta forma, o educando em seu período de formação acadêmica já

terá tido um contato, uma familiarização com questões sociais (e político-econômico-cultural)

estando mais capacitado para entender e atuar em conjunto com essas realidades. Essa fase é

caracterizada pela não-intervenção.

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Figura 02. A- Participação nas atividades na comunidade Gruta de Santa Teresa; B- Confecção de canteiros para produção

de hortaliças na propriedade do agricultor Francisco.

Fonte: Própria

Etapa IV – Socialização das experiências, a partir de reflexões e discussões no que diz

respeito às metodologias para solucionar problemas identificados durante a vivência (Figura

4). Participaram dessa etapa todos os sujeitos que colaboraram para a realização das

anteriores: docentes, discentes, agricultores e movimentos sociais.

Resultados e Discussão

Os relatos e reflexões a seguir correspondem a um dos maiores e mais importantes

momentos, quando discente do Curso de Licenciatura em Ciências Agrárias da Universidade

Federal da Paraíba.

Todos os momentos vivenciados na Etapa I da Residência Agrária foram de extrema

importância para efetivação da mesma, destaco os temas que foram vivenciados a campo,

como a transição agroecológica, a importância da agricultura familiar, o olhar dos sujeitos do

campo para com os sujeitos da academia.

Ainda destaco aqui impressões antes e depois da realização da mesma. Confesso que

alguns conceitos foram reconstruídos, como também reconstruí minha visão de mundo quanto

profissional que atuará num campo tão cheio de desigualdades.

A Pré-Residência se concretizou em um dia de campo, na propriedade dos

Agricultores Luiz de Sousa e D. Elizete, na Comunidade Salgado dos Sousa, Zona rural do

Município de Solânea-PB. O agricultor Luiz Sousa é considerado um agricultor

experimentador, o mesmo faz uso de práticas agroecológicas, sendo o próprio responsável por

apresenta-las através de uma caminhada agroecológica. Sua propriedade é considerada

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auto-sustentável, a mão de obra utilizada nas atividades agrícolas é totalmente familiar

(Figura 3). Figura 3: A- Apresentação do agricultor Luís Sousa e relato de suas experiências em sua propriedade: B-

Agricultor Luís Sousa dialogando sobre as práticas agroecológicas em sua propriedade.

Fonte: Própria

Um dos fatos que mais marcaram essa experiência foi comprovar a existência do saber

local, aquele que é passado de geração para geração, e que nem sempre tem confirmação

científica. Ainda é importante ressaltar que a articulação desse saber com o saber acadêmico

pode e deve resultar num conhecimento capaz de viabilizar novos caminhos no sentido do

desenvolvimento do nosso país.

Um aspecto importante é o fato da vivência como mediadora do processo formativo,

enquanto agente de mudança, como sujeito que atuará na transformação da sociedade. E o

quanto a Pré-Residência ajudou a quebrar preconceitos com relação à vivência propriamente

dita, me preparando dessa forma para o período de Residência na comunidade.

Vivenciei a partir da realidade concreta do agricultor Luís Sousa, o quanto essa

experiência contribuiu para minha formação quanto licenciada em Ciências Agrárias,

compreendendo sua lógica e seu modo de enxergar e mudar o mundo através de suas

pequenas ações.

Após esse dia de campo, no início da noite, mais precisamente umas 19:00 horas fui

destinada a comunidade Gruta de Santa Teresa, a propriedade dos agricultores Francisco e

Eliane, onde morei e vivenciei por 12 dias as práticas e costumes da família. Ao chegar à

propriedade, conheci a família que me acolheu como membro da família durante o estágio de

vivência (Figura 4). Apresentamo-nos uns aos outros, e tive a satisfação de conhecer o

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agricultor Francisco Luís (chefe da família), D.Eliane (sua esposa), e, seus filhos Johnata,

Françuar e Edlane. Figura 4. Residência onde foi realizado o estágio de vivência e Residência Agrária.

Fonte: Própria

Moradores da comunidade Gruta de Santa Teresa, o Sr. Francisco Luís e a Sr.ª Eliane

tem uma propriedade de 04 ha, moram na residência 05 pessoas que tem como meio de

sustento a agricultura para autoconsumo e comercialização.

Durante a vivência pude observar aspectos relacionados às unidades de vida (questões

de gênero, escolaridade, envolvimento políticos, etc.), atividades de produção (plantio,

criação de animais, comercialização, etc.), e atividades rotineiras desenvolvidas (auxílio nas

atividades domésticas e de produção).

Observei que a família é unida e bem organizada, as decisões são tomadas em

conjunto. O Sr. Francisco é presidente da associação da comunidade e sua esposa atua como

agente de saúde, os dois exercem forte influência político-social na comunidade. Os filhos

participam pouco da produção agrícola, pelo fato dos mesmos estudarem na zona urbana e

fazerem trabalhos temporários fora da comunidade.

Maior parte do tempo passei com o Senhor Francisco, pelo fato dele permanecer mais

na propriedade tomando a frente não só as atividades da produção, como também as

domésticas. Isso se dá pelo fato de sua esposa D. Eliane trabalhar como agente de saúde e

passar praticamente o dia todo fora da propriedade. O Sr. Francisco me levou a conhecer a

propriedade e sua produção agrícola, foi a partir dessas caminhadas que pude conhecer

melhor não só sua propriedade e as atividades que ele desenvolvia, mas, também as

propriedades vizinhas, que na maioria das vezes são de familiares do Senhor Francisco ou

D.Eliane.

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Uma das primeiras impressões que tive foi o sentimento de humildade que seu

Francisco possui. Homem sábio, detentor de conhecimentos que nunca compartilhei dentro do

âmbito acadêmico o mesmo me questionou o porquê de uma estudante aprender com um

agricultor: “Andréia minha filha... você uma técnica, inteligente, vem

pra minha casa passar uns dias aprender comigo o que? Eu, um analfabeto, meu lápis foi a enxada.”

O Senhor Francisco a cada diálogo me transmitia valores imensuráveis, com seu jeito

sereno e humilde de ser me cativou. Nesses dias de convivência com o mesmo ressignifiquei

valores e reconstruí conceitos.

Dentro da perspectiva da comunidade solidária, a comunidade Gruta de Santa Teresa

também realiza atividades coletivas, a exemplo da farinhada, que necessita de um número

considerável de pessoas para chegar até seu produto final.

Com a atividade da farinhada vivenciei dois dias e uma noite de muito trabalho e muita

prosa, onde pude conhecer melhor os sujeitos que fazem parte da comunidade. Junto com a

família e membros da comunidade participei de todas as etapas, que foram: arrancar a

mandioca, descascar, lavar, triturar, tirar goma, peneirar, torrar e ensacar (Figura 5). Ao

decorrer, entre conversas, atos de descontração como, relatos de contos e fatos, estórias,

músicas, assim a atividade se tornava menos cansativa, pude conhecer assim um pouco mais

da atividade que para mim até o momento na prática era desconhecida e me familiarizar com

os sujeitos que ali compartilharam comigo daquele momento único.

Figura 5: Algumas das etapas da produção da farinha na casa de farinha da Comunidade.

Fonte: Própria

A atividade demanda gasto de tempo, energia, força, mas, também possibilita uma

maior interação por parte dos sujeitos da comunidade, estreitando laços. Todos os

subprodutos no final da farinhada não foram comercializados, foram divididos entre as

pessoas que participaram da atividade. Levando em consideração a presença de

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atravessadores, o proprietário da matéria-prima “mandioca”, preferia realizar a farinhada, e

dividir com aqueles que ajudaram, do que vender a abaixo do preço não obtendo lucro. “Minha filha, vem o homem da cidade e quer

comprar a mandioca abaixo do preço, acho melhor arrancar tudo e levar pra casa de farinha e chamar o povo daqui pra ajuda e depois dividir tudo.” (Seu Biliu, agricultor familiar- irmão de Seu Francisco)

A troca de serviços é comum na comunidade, a produção é totalmente artesanal, todas

as etapas da atividade são manuais. Isso mostra o quanto o coletivo ainda é valorizado nas

comunidades rurais.

Participei da reunião mensal da associação da comunidade, com a presença de vários

moradores, a mesma sempre acontece na casa de farinha, no terceiro domingo de cada mês,

pois a mesma não dispõe de um espaço para realização dessas atividades. Aproveitei o

momento para me apresentar e explicar para os presentes a importância do estágio de vivência

para minha formação acadêmica e humana, e o quanto estava aprendendo com eles.

Durante o período da vivência participei de inúmeras atividades, como a confecção de

canteiros para produção de hortaliças, alimentação das aves com milho crioulo, retirada de

lenha, transporte de água do poço para abastecer a residência. Pude observar também algumas

áreas com sinais de erosão, devido à retirada da mata. Como também, algumas culturas com

infestação de pragas, que são combatidas por meio de defensivos naturais, pois seu Francisco

é adepto de práticas agroecológicas, sendo considerado um agricultor experimentador em

transição agroecológicas, pelo fato de ainda utilizar de práticas não consideradas

agroecológicas, a exemplo da realização de queimadas, denominadas de “coivara”.

Na época da realização da vivência uma das maiores dificuldades que pude presenciar

foi à estiagem, que comprometia de certa forma as atividades agrícolas, pelo fato dos recursos

hídricos estarem escassos. Na propriedade existe uma cisterna, um barreiro e vários poços que

servem para uso das atividades domésticas, da produção e para o fornecimento aos animais.

Existe também na propriedade, ao lado da residência uma pequena Mandala , que na época 1

estava desativada devido à seca.

1 Sistema de plantação sustentável com formato de círculo. Cada anel é destinado a um determinado tipo de cultivo e um ajuda o outro a sobreviver

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Seu Francisco trabalha diariamente cultivando e retirando da terra alimentos para

autoconsumo de sua família e os excedentes são para comercializar na feira agroecológica, as

sextas-feiras na cidade de Solânea.

Em cada momento, a cada conversa o aprendizado era significativo, uma oportunidade

que tive para melhor conhecer e compreender o contexto no qual o agricultor familiar está

inserido desde das atividades diárias aos momentos de refeição (Figura 6). Figura 6. Refeição na Residência dos agricultores Francisco e Eliane.

Fonte: Própria

Um dos pontos importantes que não posso de forma alguma deixar de ressaltar, é o

quanto o agricultor Francisco se empenhou em me situar nas atividades cotidianas e nos

afazeres domésticos, me fazendo assim, ter uma melhor compreensão da realidade, revendo

conceitos e entendendo atitudes, perante aos problemas enfrentados pelo o mesmo.

O trabalho em família é outro ponto importante, a ajuda mútua que se estende a

comunidade em geral, que reforça desse modo os laços afetivos e contribui de certa forma

para as relações interpessoais. Nesse sentido vale salientar que os dois (Seu Franciso e D.

Eliane) se configuram como líderes na comunidade, exemplos de garra, força e determinação,

que fazem de cada dificuldade uma motivação para seguir em frente.

Seu Francisco, como também outros agricultores daquela comunidade detém de pouco

amparo técnico, que inúmeras vezes não suprem as necessidades técnicas. Eis ai a importância

da formação contextualizada do Licenciado em Ciências Agrárias, atuando na extensão rural,

a partir da vivência da Residência Agrária, levantando maneiras de abordar e dialogar com o

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agricultor familiar, e conjuntamente propor caminhos e soluções para o melhor

desenvolvimento da agricultura familiar. ’’

A experiência da Residência Agrária aguçou ainda mais minha visão crítica da

realidade, e da minha formação profissional que é construída na universidade, sendo refletidos

na prática a partir dessa vivência, obtendo uma visão mais ampla sobre a agricultura familiar,

os movimentos sociais e os espaços não-formais de aprendizagem.

O Estágio de Vivência – Residência Agrária incorporou inúmeros fatores

fundamentais que alicerçam minha formação profissional, promovendo o estímulo da troca de

conhecimentos e experiência e o aperfeiçoamento do aprendizado das aulas teóricas a respeito

das metodologias participativas. Percebeu-se ainda a importância da transição agroecológica

com relação aos aspectos sociais, econômicos e ambientais para os agricultores.

Um dos momentos mais cruciais da Residência Agrária se deu com a Etapa IV, que foi

a socialização da experiência dentro do espaço da academia, onde foram convidados os

agricultores que participaram da experiência, eu, quanto estagiaria e representantes dos

movimentos sócias. Essa etapa se consistiu num espaço de diálogo e avaliação da vivência,

onde foram apontados os pontos positivos e negativos, tornando possível uma troca de

saberes, experiências e construção do conhecimento de forma coletiva.

Na Pesquisa Participante há um componente político que possibilita discutir a

importância do processo de investigação tendo por perspectiva a intervenção na realidade

social. (DEMO, 2000)

Dentro dessa perspectiva atuei não tão somente como pesquisadora, a experiência é

tida como objeto de estudo, de tal forma constata-se que a Residência Agrária é de extrema

importância para minha formação quanto Licenciada em Ciências Agrárias, além de

reconstruir conceitos e promover troca de saberes, culminando na construção de novos

conhecimentos, traduzindo assim um envolvimento legítimo a partir do momento que

incorporo o papel de objeto pesquisado e também sujeito da pesquisa.

A relação com a comunidade se deu a partir da ação participante, pois os sujeitos que

fazem parte do contexto da comunidade detinha de poder de decisão, como também a mim

quanto objeto de estudo. Essa ação se deu a partir do diálogo estabelecido entre mim e a

realidade deles, e a minha formação advinda da realidade acadêmica, permitindo a construção

Page 13: Doutorando PPGEXR, UFSM, bhssousa@yahoo.com · 2019. 11. 3. · 4 Doutorando PPGEXR, UFSM, bhssousa@yahoo.com.br 5 Professor Doutor, UFPB, mbmedeir2016@gmail.com Abstract This work

do conhecimento de forma coletiva. A vivência em si não se consistiu num cronograma de

atividades premeditada, foram acontecendo de acordo com a realidade na qual eu estava

inserida, a partir do diálogo com a comunidade.

Conclusões

A vivência me fez perceber o quanto é importante à prática no aprendizado das teorias.

Integrar a realidade dos sujeitos que compõem a história do campo, incorporando seus

dilemas, dificuldades, problemas, anseios, sonhos e motivação dentro do anseio pessoal,

assim, formas de compreensão foram testadas num amplo espaço de conscientização. Essa

experiência se torna abrangente, buscando unir conhecimento empírico e acadêmico, e assim

atender uma visão compreensiva da soma das partes na formação do todo.

A experiência da Residência agrária me proporcionou conhecimentos que dificilmente

seriam alcançados dentro de uma sala de aula, me levando a vivenciar e aprender com

situações que, costumeiramente estão distantes do cotidiano acadêmico.

Referências

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PETERSEN, P; ROMANO, J.O. Abordagens participativas para o desenvolvimento. 1999.

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