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O QUE DARWIN NÃO SABIA? As pistas de Darwin - 200 anos de Darwin A viagem do jovem Charles Darwin a bordo do navio britânico HMS Beagle, durante os anos 1831 a 1836, é um dos episódios mais conhecidos e romanceados em toda a história da ciência. Darwin embarcou no Beagle como naturalista, visitou o arquipélago de Galápagos, na região leste do oceano Pacífico, e ali topou com tartarugas gigantes e tentilhões. Havia várias espécies dessa ave, e elas distinguiam-se pelo formato variado do bico, sugerindo que cada qual era apropriado a uma dieta específica. E as tartarugas, de uma ilha para outra, também exibiam carapaças com formas diferentes. Tais pistas encontradas em Galápagos levaram Darwin a concluir que a diversidade dos seres vivos na Terra se devia a um processo orgânico de transmissão hereditária de modificações - ou seja, um processo de evolução -, baseado em um mecanismo de seleção natural. Darwin escreveu então um livro intitulado A Origem das Espécies, e convenceu todo mundo, com exceção dos líderes da Igreja Anglicana, que era assim que as coisas haviam ocorrido. Bem, mais ou menos. Esse relato simplista da viagem do Beagle e suas consequências contêm boa dose de verdade, mas também confundem, distorcem e omitem muita coisa. Por exemplo, os tentilhões não foram tão esclarecedores quanto à diversidade de sabiazinhos existentes no arquipélago, e Darwin não conseguiu tirar nenhuma conclusão com base neles antes de recorrer à ajuda de um especialista em aves na Inglaterra. A escala em Galápagos foi uma breve anomalia no final de uma expedição dedicada

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O QUE DARWIN NÃO SABIA?

As pistas de Darwin - 200 anos de Darwin A viagem do jovem Charles Darwin a bordo do navio britânico HMS Beagle, durante os anos 1831 a 1836, é um dos episódios mais conhecidos e romanceados em toda a história da ciência. Darwin embarcou no Beagle como naturalista, visitou o arquipélago de Galápagos, na região leste do oceano Pacífico, e ali topou com tartarugas gigantes e tentilhões. Havia várias espécies dessa ave, e elas distinguiam-se pelo formato variado do bico, sugerindo que cada qual era apropriado a uma dieta específica. E as tartarugas, de uma ilha para outra, também exibiam carapaças com formas diferentes. Tais pistas encontradas em Galápagos levaram Darwin a concluir que a diversidade dos seres vivos na Terra se devia a um processo orgânico de transmissão hereditária de modificações - ou seja, um processo de evolução -, baseado em um mecanismo de seleção natural. Darwin escreveu então um livro intitulado A Origem das Espécies, e convenceu todo mundo, com exceção dos líderes da Igreja Anglicana, que era assim que as coisas haviam ocorrido.

Bem, mais ou menos. Esse relato simplista da viagem do Beagle e suas consequências contêm boa dose de verdade, mas também confundem, distorcem e omitem muita coisa. Por exemplo, os tentilhões não foram tão esclarecedores quanto à diversidade de sabiazinhos existentes no arquipélago, e Darwin não conseguiu tirar nenhuma conclusão com base neles antes de recorrer à ajuda de um especialista em aves na Inglaterra. A escala em Galápagos foi uma breve anomalia no final de uma expedição dedicada

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sobretudo ao levantamento do litoral da América do Sul. Além disso, Darwin não embarcou no Beagle como naturalista da expedição; ele não passava de um rapaz de 22 anos, recém-formado pela Universidade de Cambridge e destinado a uma carreira como clérigo rural - perspectiva que não o animava muito. Na verdade, ele foi convidado a participar da viagem para servir de companhia ao capitão do barco, Robert Fitzroy, um jovem brilhante e instável aristocrata.

Darwin, a despeito de sua função oficial no navio, acabou desempenhando o papel de naturalista e, no decorrer da viagem, passou a se ver como tal. No entanto, a sua teoria foi se delineando, e A Origem das Espécies (cujo título completo era Da Origem das

Espécies por Meio da Seleção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na

Luta pela Vida) apenas seria publicado em 1859. Muitos cientistas, assim como alguns clérigos vitorianos, resistiram durante décadas às evidências e aos argumentos por ele propostos. O conceito de evolução foi bem-aceito enquanto Darwin ainda vivia, mas a sua teoria específica - na qual a seleção natural era a causa primordial - somente iria triunfar por volta de 1940, após ter sido integrada com êxito à genética.

O primeiro indício importante que colocou Darwin no rastro da evolução, na realidade, não surgiu nas selvagens ilhas Galápagos, mas três anos antes em uma tempestuosa praia no litoral norte da Argentina. Não tinha nada a ver com o formato do bico das aves. Nem sequer com alguma criatura viva. Era uma jazida de fósseis.

Em Setembro de 1832, o Beagle ancorou ao largo de Bahía Blanca, um povoado na extremidade de uma baía situada cerca de 650 quilômetros ao sul de Buenos Aires. Na época, o general Rosas travava uma guerra inclemente contra os indígenas da região, e Bahía Blanca era um posto avançado e fortificado, guarnecido por militares. Durante mais de um mês o Beagle permaneceu ali, com alguns dos tripulantes realizando levantamentos, outros se encarregando de tarefas em terra firme - como assegurar o reabastecimento de água, lenha e alimentos. A paisagem circundante eram os pampas argentinos, férteis campos relvados que, perto da costa, davam lugar a dunas de areias estabilizadas por gramíneas. Os tripulantes que se embrenhavam no interior retornavam com veados, cutias e outros animais, entre os quais vários tatus e uma grande ave que não voava, a qual Darwin chamou de "avestruz". Claro que não era um avestruz (que é nativo da África e, antes, do Oriente Médio) - mas sim uma ema, especificamente uma Rhea americana, parecida com o avestruz e endêmica na América do Sul, onde é a ave mais pesada do continente.

"O que comemos hoje no jantar iria parecer muito bizarro na Inglaterra", anotou Darwin em seu diário em 18 de setembro, deleitando-se com os "bolinhos de avestruz & tatu". Ele estava mergulhado em uma aventura exótica, e não apenas em uma expedição de história natural; e o diário que manteve a bordo (mais tarde transformado em um livro de viagens que viria a ser conhecido como A Viagem do Beagle) reflete seu interesse por distintas culturas, povos, políticas e assuntos científicos. A carne vermelha da ave de tamanho avantajado lembrava a bovina. O tatu, despojado de sua carapaça, tinha o mesmo gosto e se assemelhava a pato. Suas experiências culinárias nos pampas, e depois na Patagônia, acabariam desempenhando papel crucial no desenvolvimento de suas ideias sobre a evolução.

Pouco depois, em 22 de setembro de 1832, Darwin e Fitzroy tomaram um pequeno barco para visitar um local conhecido como Punta Alta, a 16 quilômetros de onde estava

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fundeado o Beagle, no qual toparam com afloramentos rochosos próximos do mar. "Esses foram os primeiros que vi", escreveu Darwin, "e são muito interessantes, pois contêm incontáveis conchas e ossadas de grandes animais."

A despeito do nome, Punta Alta não era muito elevada, com sua escarpa avermelhada de xisto limoso assomando apenas 6 metros acima do mar. No entanto, o mesmo não se poderia dizer dos fósseis ali expostos: formas de grande porte, inusitadas e em abundância. Darwin e um ajudante logo atacaram a rocha mole com picaretas. Nessa oportunidade e em ocasiões posteriores, ele conseguiu recolher de Punta Alta os restos de nove mamíferos de grande porte, todos desconhecidos ou mal conhecidos pelos cientistas. Eram gigantes extintos do Pleistoceno, encontrados apenas nas Américas em uma época anterior a 12 mil anos atrás.

O mais famoso deles era o Megatherium, uma preguiça terrestre tão grande quanto um elefante que já fora identificada e descrita pelo anatomista francês Georges Cuvier, que se baseara em um conjunto de fósseis achado no Paraguai. Preguiças vivas são nativas e encontradas apenas nas regiões central e meridional do continente americano; o Megatherium apresentava muitas das características anatômicas da preguiça, mas era grande demais para subir em árvores. Os achados de Darwin também incluíam pelo menos três outras preguiças gigantes terrestres, uma forma extinta de cavalo e uma carapaça protetora formada por pequenos escudos ósseos bem encaixados, resquício de um enorme animal que deve ter sido bem parecido com o tatu. Ele já estava habituado aos tatus de "carne e osso", constantes em seu cardápio local. Também viu como os gaúchos locais capturavam esses animais e os assavam na própria carapaça. Das 20 espécies de tatu vivas, todas estão restritas às Américas e várias são endêmicas nos pampas.

Um mês depois, 50 quilômetros costa acima desde Punta Alta, Darwin encontrou outro penhasco litorâneo rico em fósseis. Ele erguia-se a 35 metros e dava nome à localidade de Monte Hermoso. Ali o pesquisador escavou os pétreos resquícios de várias criaturas roedoras, que lhe trouxeram à mente imagens de uma cutia, de uma capivara e de um pequeno roedor sul-americano, o tuco-tuco - o único problema era que, também nesses casos, a equivalência entre os fósseis e os animais vivos era evidente, mas não perfeita. Ainda mais tarde, numa região no sul na costa da Argentina, exumou um terceiro conjunto de ossos de mamífero, o qual, para um anatomista que depois o examinou, sugeria uma forma extinta de camelo. Essa criatura ficou conhecida como Macrauchenia. A família dos camelos inclui duas espécies selvagens sul-americanas, o guanaco e a vicunha, assim como suas formas domesticadas, o lhama e a alpaca.

Tais achados, analogias e justaposições ficaram fermentando em sua mente durante a viagem e os anos seguintes. Enquanto isso, os fósseis foram embalados e enviados à Inglaterra, quase todos aos cuidados de John Stevens Henslow, o afável botânico que fora mentor de Darwin em Cambridge. "Tive sorte com esses ossos fossilizados", contou ele a Henslow em uma carta. Darwin mencionou o roedor gigante, as preguiças terrestres e o fragmento com escudos ósseos poligonais, comentando a respeito deste último: "Logo que os vi me ocorreu que devem pertencer a um tatu enorme, de cujo gênero as espécies vivas são tão abundantes por aqui".

É importante não exagerar o quanto Darwin não sabia como identificar, para não falar em interpretar, o que havia encontrado. A maioria de seus fósseis, com exceção do

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Megatherium, era de espécies pouco conhecidas dos especialistas. Ele confiou a descrição e a identificação de seus fósseis a um jovem e brilhante anatomista que vivia em Londres chamado Richard Owen, que estava consolidando sua reputação como autoridade em mamíferos extintos. Foi Owen quem atribuiu nomes às preguiças desconhecidas, e também foi ele quem sugeriu (de maneira equivocada, mas posteriormente reconheceria o erro) a afinidade entre o Macrauchenia e o camelo.

Darwin, porém, nem de longe tinha o conhecimento de Owen. Ele era apenas um pesquisador de campo perspicaz, um entusiástico coletor de espécimes, que estava aprendendo na prática. O convite para embarcar no Beagle o salvou de uma frustrante existência como pastor na zona rural, e desde seus primeiros dias a bordo ele se empenhou com toda diligência possível, amadurecendo para assumir (e depois transcender) o papel de naturalista da expedição. Suas melhores qualidades para interpretar os fósseis eram a incessante curiosidade, o talento para a observação acurada e a percepção instintiva de que, no mundo da natureza, tudo está de algum modo conectado a todo o resto. Além disso, Darwin não tinha medo de especulações ousadas - pelo menos enquanto não tivesse de divulgá-las.

Meses depois, Darwin teve acesso a outro dado, pequeno mas sugestivo, enquanto o Beagle estava fundeado ao largo da Patagônia setentrional. Lá, ele teve a chance de passar um tempo em terra firme, convivendo com outro grupo de gaúchos. Primeiro, era uma notícia vaga: os gaúchos mencionaram um tipo raro de "avestruz", de tamanho menor que o normal, com pernas mais curtas - e que podia ser morto com facilidade quando usavam suas boleadeiras -, mas que em todos os outros aspectos se assemelhava ao avestruz comum. Darwin não pensou que poderia topar com tal ave até que um dos tripulantes do barco trouxe um "avestruz" menor (na verdade, outra espécie de ema) de uma de suas excursões de caça. Darwin prestou-lhe pouca atenção, supondo tratar-se de um animal jovem. "A ave foi preparada e cozida antes que volvesse minha lembrança", escreveu. "Mas a cabeça, o pescoço, as pernas, as asas, muitas das penas maiores e grande parte da pele haviam sido preservados." Após recuperar esses fragmentos, ele os enviou à Inglaterra, onde foram recompostos em um espécime digno de ser exibido no museu da Sociedade Zoológica. O ornitólogo John Gould, a quem Darwin confiaria seus tentilhões e sabiás para serem identificados, também examinou a criatura. Gould confirmou tratar-se de uma espécie distinta, e a batizou como Rhea darwinii (nome que mais tarde seria alterado devido a problemas técnicos de taxinomia), em homenagem ao homem que a resgatara do lixo do navio.

O que intrigava Darwin a respeito das duas espécies de ema era que, embora similares, em termos de distribuição geográfica havia sobreposição muito pequena de suas populações. A ema maior vivia nos pampas e no norte da Patagônia. Já a menor a substituía desde o rio Negro, ocupando o sul da Patagônia. Assim como os indícios de mamíferos extintos, as implicações dessa diversidade e distribuição das emas se comprovariam tão sugestivas para Darwin quanto os padrões que ele ainda iria identificar entre os tentilhões e sabiás de Galápagos.

De que modo se originam as espécies e como elas adquirem identidade? A história ortodoxa, então adotada pela ciência europeia na época da viagem do Beagle, era a de que Deus criara as espécies em separado, em lotes sequenciais (para compensar as extinções), em áreas específicas - canguru na Austrália, girafa e zebra na África, ema e preguiça e tatu na América do Sul. No entanto, para Darwin, tanto os mamíferos

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extintos (junto com seus equivalentes vivos entre as preguiças e os tatus) como as duas espécies de ema (ocupando regiões adjacentes de território) sugeriam algo mais racional: os conceitos de parentesco e sucessão entre espécies relacionadas. Essa foi a explicação que atraiu Darwin, pois parecia mais concisa, mais indutiva e mais convincente que a justificativa criacionista.

Que importância tiveram os indícios da Patagônia para abalar sua crença na concepção ortodoxa - convencendo-o de que a evolução era uma realidade para a qual deveria procurar uma explicação material? O próprio Darwin daria várias respostas a essa questão ao longo de toda a vida - explicando, em linhas gerais, que tais indícios foram menos importantes que as aves de Galápagos.

Ele fez alusão ao tema em 1845, na segunda edição da narrativa de sua viagem no Beagle, por ele revisada de modo a incluir sugestões dissimuladas sobre a teoria que ainda não estava disposto a divulgar. As relações entre fósseis e formas vivas como roedores, preguiças, camelos e tatus foram "os fatos mais interessantes", observou ele. Pesquisas adicionais por outros investigadores haviam, entretanto, revelado o mesmo tipo de padrão no Brasil - formas fósseis e vivas de tamanduás, antas, macacos, porcos selvagens e gambás. "Esse relacionamento maravilhoso no mesmo continente entre os mortos e os vivos", escreveu Darwin, poderia "lançar mais luz sobre o surgimento dos seres orgânicos na Terra, e também o desaparecimento deles, que qualquer outro conjunto de fatos." Mas que tipo de luz? O que tal esclarecimento poderia revelar? A metáfora da iluminação era uma das prediletas de Darwin, e ele voltaria a usá-la, mas só depois de uma década e meia de hesitações - até que estivesse pronto para fazer brilhar o feixe ofuscante de sua teoria em público.

Há ainda outra questão intrigante a respeito dos fósseis e emas: em que momento tais indícios fizeram diferença para Darwin, inclinando-o no sentido da ideia de evolução? A concepção mais aceita é a de que ele retornou da viagem do Beagle ainda sem ser evolucionista, apenas intrigado com o que vira, e que deu o grande salto ao pensamento evolutivo após suas consultas em Londres, com John Gould e Richard Owen, sobre os espécimes de ave e fósseis que lhes enviara. (Logo depois ele começou a usar novo termo para o processo: "transmutação".)

Mas nem todos os cientistas digerem bem essa versão. "Creio que ele ficou convencido muito antes", comenta o historiador da paleontologia Paul D. Brinkman. Estamos sentados em seu escritório no Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte, em Raleigh, em meio a um retrato do jovem Darwin, um cartaz do filme Jurassic Park e fotos de uma antiga preguiça terrestre e de espécimes de gliptodonte. "Como explicar essa semelhança entre a fauna fóssil e a fauna atual daquela área? Por que elas seriam tão aparentadas?", pergunta ele, recolocando as questões que Darwin deveria se ter posto. Os antigos roedores e as cutias vivas, os gliptodontes e os tatus - por quê? "Creio que uma das possíveis explicações que ele vinha remoendo, já em 1832, era a de que um gerava o outro. Transmutação."Mas até mesmo Brinkman admite que existem apenas indícios tênues para a sua hipótese de que Darwin teria se convertido ao evolucionismo muito antes de pôr os pés nas praias de Galápagos.

Um testemunho obscuro deve-se ao próprio Darwin, já próximo do fim da vida, na autobiografia particular que escreveu para a sua família. "Durante a viagem do Beagle", lembrou ele, "fiquei muito impressionado ao descobrir na formação pampeana grandes

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fósseis de animal revestidos de uma carapaça semelhante à dos tatus atuais." Também aludiu às emas e às espécies de Galápagos, que diferiam de uma ilha para a outra. "Era evidente", escreveu, "que fatos como esses, assim como muitos outros, podiam ser explicados pela suposição de que as espécies se modificam aos poucos, e o tema passou a perseguir-me." E desde aquela época também vem assombrando os estudiosos.

Após completar o seu trabalho de levantamento da costa da América do Sul, o Beagle passou um ano completando uma circunavegação do mundo, retornando à Inglaterra em outubro de 1836. Darwin, então com 27 anos e um naturalista tarimbado, cansado de viajar e ansioso por voltar para casa, também havia mudado em outros aspectos. Já não era mais capaz de ver a si mesmo se dedicando a uma paróquia rural; agora iria devotar sua vida à pesquisa científica. E havia, pelo menos, começado a perder a crença na imutabilidade das espécies. Não há como saber com certeza, mas na época ele já identificara a mais importante questão, embora ainda faltasse muito para a grande resposta, que iria dominar o restante de sua vida profissional.

Com os seus espécimes distribuídos para serem identificados por especialistas - as aves ficaram com Gould; os fósseis de mamíferos, com Owen; os répteis, com o zoólogo Thomas Bell -, Darwin passou a colocar seus pensamentos em ordem e a explorar suas pistas. Em seu caderno de anotações privado ele explorou as ideias mais estapafúrdias a respeito de avestruzes, de guanacos e da possibilidade de "uma espécie transformar-se em outra". Em caso afirmativo, como poderia ocorrer tal transformação? Cerca de um ano e meio depois, após adicionar um elemento crucial a suas concepções (a hipótese de reprodução supérflua e de luta pela existência, aproveitada de um ensaio sobre a demografia humana escrito por Thomas Malthus), Darwin afinal topou com a pedra angular de sua teoria: a seleção natural, pela qual os indivíduos mais bem adaptados de cada população sobrevivem e deixam descendentes, ao contrário dos menos adaptados. Em seguida, ele explorou, refinou, aperfeiçoou e manteve em sigilo essa teoria durante 20 anos, até que um homem mais jovem, Alfred Russel Wallace (veja reportagem na edição de dezembro de 2008), teve a mesma conclusão, forçando Darwin a divulgar logo suas ideias.

Isso foi em 1858. Nessa altura, Darwin já começara a escrever um tratado sobre a seleção natural, carregado de notas de rodapé. Tomado de pânico, sentindo-se ameaçado, mas reanimado pela incrível urgência da história que tinha para contar, ele colocou de lado o alentado volume que vinha compondo e escreveu uma versão mais concisa. Essa versão abreviada, feita às pressas, deveria ser apenas um "resumo" da teoria e dos dados que a sustentavam. Ele o chamou de "meu volume abominável", pois, mesmo após décadas de cogitações e adiamentos, o processo de escrita se revelou tenso e doloroso. O título que concebeu foi "Resumo de um Ensaio sobre a Origem das Espécies e das Variedades por Meio da Seleção Natural", mas o editor o convenceu a aceitar algo mais atrativo. Por fim, o livro foi publicado, em novembro de 1859, com o título Da Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural. O êxito de vendagem foi imediato.

Cinco outras edições sairiam do prelo ainda durante a vida de Darwin. Quase ninguém contestaria que se trata da mais importante obra científica isolada jamais publicada. Depois de 150 anos, ainda há quem o venere e quem o deplore, e A Origem das

Espécies continua a exercer extraordinária influência - embora, infelizmente, sejam poucos aqueles que se deem ao trabalho de ler o livro.

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As pistas que o levaram a formular sua teoria continuam em parte esquecidas - foram excluídas do relato lendário. Os estudiosos debatem a relevância das criaturas extintas e vivas encontradas na Argentina, sobretudo as preguiças terrestres e os gliptodontes, as preguiças arbóreas, os tatus e as emas. Os indícios são confusos, mesmo nos comentários sobre a questão feitos pelo próprio Darwin. O mais eloquente deles, na minha opinião, está em local tão visível que tende a passar desapercebido. Trata-se das duas sentenças iniciais de A Origem das Espécies, que abrem o livro em tom nostálgico. Dizem elas: "Quando a bordo do HMS Beagle, na condição de naturalista, impressionaram-me muito certos fatos na distribuição dos habitantes da América do Sul, e nas relações geológicas entre os habitantes presentes e passados daquele continente. Esses fatos me pareciam lançar alguma luz sobre a origem das espécies..."

Os tentilhões de Galápagos só aparecem no texto cerca de 400 páginas depois.

Por: David Quammen

Mata Atlântica, Parque Estadual Carlos Botelho, São Paulo, Brasil. “O dia todo foi um deleite. no entanto, deleite é um termo fraco para expressar os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, perambula sozinho por uma floresta brasileira.” – A VIAGEM DO BEAGLE, 29 DE FEVEREIRO DE 1832 Foto de Luciano Candisani, Minden Pictures

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Uma borboleta Hypothyris ninonia daeta se destaca em uma folha na Mata Atlântica, no Brasil, uma das primeiras paradas que Charles Darwin fez como naturalista a bordo do HMS Beagle . Em seu diário, ele descreveu o encanto de suas primeiras incursões na natureza da América do Sul: “Depois de passar por algumas terras cultivadas, entramos em uma Floresta, cuja grandeza de todas as suas partes não pode ser excedida.” Foto de Mattias Klum

Baía Pia, Terra do Fogo, Chile “É quase impossível imaginar outra coisa mais bela que o azul de berílio dessas geleiras, sobretudo quando contrastam com o branco profundo da zona superior nevada.” 29 DE JANEIRO DE 1833

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Foto de Peter Essick

Uma raposa cinzenta da América do Sul (Lycalopex griseus) boceja enquanto a noite cai no parque nacional de Torres del Paine, no Chile. Em A Viagem do Beagle, Darwin relatou a primeira vez que avistou outro espécime do mesmo gênero, a raposa de Darwin (Lycalopex fulvipes): “Fui capaz, ao caminhar em silencia atrás dela, derrubá-la com um golpe do meu martelo geológico. Esta raposa, mais curiosa ou mais científica, mas menos sábia, do que sua raça, de modo geral, agora está empalhada no museu da Sociedade Zoológica.” Foto de Mattias Klum

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León Dormido, ao largo da Ilha San Cristóbal, Galápagos. “O arquipélago é um pequeno mundo contido em si mesmo... No espaço e no tempo, parece que somos conduzidos a nos aproximar desse imenso acontecimento – desse mistério dos mistérios –, o surgimento de seres no planeta.” 8 DE OUTUBRO DE 1835 Foto de Mattias Klum

No Uruguai, Darwin pagou a um agricultor 18 pence pela “cabeça de um animal grande como um hipopótamo”. Os cientistas batizaram o herbívoro extinto de Toxodon platensis. Ilustrações do livro The Zoology of the Voyage of HMS Beagle; reproduzidas com autorização de John Van Wyhe (ed.), The Complete

Work of Charles Darwin Online

Na América do Sul, Darwin coletou 27 espécies de roedor, entre as quais o Mus darwinii. O vasto conjunto de espécimes que enviou para Londres a fim de serem estudados incluía 5 436 peles, ossos e carcaças. Ilustrações do livro The Zoology of the Voyage of HMS Beagle; reproduzidas com autorização de John Van Wyhe (ed.), The Complete

Work of Charles Darwin Online

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Coletados por Darwin, os fósseis da preguiça-gigante Megatherium tinham dentes afiados, muito diferentes de suas parentes vivas e arbóreas. Ilustrações do livro The Zoology of the Voyage of HMS Beagle; reproduzidas com autorização de John Van Wyhe (ed.), The Complete

Work of Charles Darwin Online

Com um crânio que lembrava tanto um rato como um elefante, o Toxodon deixou perplexo Darwin, que o considerou “um dos animais mais estranhos já descobertos”. Ilustrações do livro The Zoology of the Voyage of HMS Beagle; reproduzidas com autorização de John Van Wyhe (ed.), The Complete

Work of Charles Darwin Online

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Tartarugas-de-Galápagos na Caldera Alcedo, Ilha Isabela“Junto das nascentes, era um intrigante espetáculo contemplar muitas dessas enormes criaturas, um grupo avançando com os pescoços esticados, outro retornando, após terem saciado a sede.”8 DE OUTUBRO DE 1835 Foto de Frans Lanting

A prova da evolução - 200 anos de Darwin Como o imigrante Fritz Müller testou – no Brasil, pela primeira vez – a Teoria de Darwin

Eram semanas com tempo de sobra para o professor Fritz Müller. Naquele ano de 1861, o Liceu de Nossa Senhora do Desterro, na ilha de Santa Catarina - atual cidade de Florianópolis -, passara por mudanças. Os constantes ataques dos jornais contra os imigrantes alemães e a falta de orientação religiosa nas aulas significaram para alguns professores que suas funções não seriam mais reconhecidas. A escola agora se chamaria Colégio da Santíssima Trindade, e abriria suas portas aos padres jesuítas católicos. Para os professores contrários à nova orientação religiosa, restavam apenas poucas horas de aula para dar, em salas quase sem alunos. O imigrante Johann Friedrich Müller, que havia sido contratado para ensinar matemática e história natural, estava nesse grupo.

Müller, porém, já aprendera a encontrar novos afazeres para preencher o seu dia. Ele costumava vestir seus trajes de perambular pelo mato: um facão e uma lata perdurados na cintura, além de um longo cajado. Daí caminhava sem sapato, como gostava, até a

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praia para capturar caranguejos. Não fazia isso por lazer. Muito menos os animais que encontrava na areia eram levados a sua mulher, Karoline, para preparar o almoço.

Seus propósitos eram outros. O naturalista Fritz Müller era um sujeito com ideias arrojadas, sobretudo para o fim do século 19 no arcaico sul do Brasil, povoado por pioneiros europeus, conforme contextualiza Moacir Werneck de Castro na biografia de Müller, O Sábio e a Floresta. Naquele verão, ele tinha decidido realizar um experimento que colocaria à prova teorias do inglês Charles Robert Darwin, lançadas em livro na Inglaterra menos de dois anos antes. Em A Origem das Espécies, Darwin chegou a assumir que haveria "repugnância natural" para os leitores aceitarem uma das suas teses: a de que uma espécie daria origem a outra distinta. O inglês solicitava no livro o envolvimento de outros naturalistas para que eles estudassem, imparcialmente, os dois lados dessa questão. Müller não pensou duas vezes: encarou como uma oportunidade e resolveu colaborar com Darwin.

"Fritz Müller pode ter sido o primeiro a ler a obra de Darwin no Brasil", acredita o historiador Thomas F. Glick. Para isso, deve ter contado com o irmão Hermann, que vivia na cidade de Lippstadt, na Alemanha. Hermann Müller conhecia o interesse do irmão por história natural e desejava mantê-lo atualizado das novas publicações científicas. Assim, provavelmente, tenha lhe enviado a tradução alemã de A Origem do geólogo Heinrich Georg Bronn, publicada em três partes, nos meses de abril, maio e junho de 1860.

Ainda garoto, na Alemanha, Fritz Müller caminhava pelos campos ao lado do avô, o químico e farmacêutico Johann B. Trommsdorff, e demonstrava habilidade em observar plantas, das quais fazia descrições morfológicas. Também frequentou o curso de farmácia, mas desistiu, pois seus verdadeiros interesses prevaleceram. Durante o curso, um professor logo percebeu o legítimo talento de Müller e o presenteou com um microscópio para que ele estudasse sanguessugas. Foi a motivação que faltava. Tempos depois, esse trabalho originaria a sua tese de doutorado em filosofia aplicada em história natural e o seu título de doutor pela Universidade de Berlim.

Para comprovar as teorias de Darwin, Müller, que havia chegado a Blumenau em 1852, resolveu testar, inicialmente, o mecanismo darwinista de especiação. O modelo mostrado em A Origem esquematizava a diferenciação entre uma população ancestral e as descendentes. Ou seja, o inglês acreditava que parte de uma espécie (uma população) poderia se diferenciar do restante, e ganhar características próprias, transformando-se em nova espécie que poderia competir com a anterior e se destacar, tornando-se mais apta.

Para pôr esse mecanismo à prova, Müller teve a ideia de acompanhar o desenvolvimento embrionário de animais encontrados com facilidade na ilha. Os escolhidos foram microcrustáceos do gênero Tanais. Após serem coletados nas praias, eles eram levados vivos à casa do alemão e observados por longos períodos. Após algum tempo, Müller conseguiu descobrir que, próximos da maturidade sexual, os machos se pareciam com as fêmeas, e depois sofriam metamorfoses - assim surgiam variações. No final, somente restavam duas formas de macho, sendo que uma delas predominava. O pesquisador verificou também que entre os "sobreviventes" existia número maior de crustáceos com pinças gigantes. Portanto, concluiu que esses animais,

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todos da mesma espécie, competiam entre si. Mas apenas um grupo ganhava a disputa, após o desaparecimento dos menos aptos.

Ao término desse e de outros trabalhos, um desconhecido naturalista que mal conseguia dar aulas para sustentar a família realizara uma série extraordinária de observações e experimentos que, aparentemente, confirmavam a especiação. "Aos olhos de Fritz Müller, a seleção darwiniana explicava os fatos observados nos crustáceos", afirma o zoólogo Nelson Papavero.

Animado, müller decidiu então escrever um livro a respeito: Für Darwin ("Para Darwin"), lançado em Leipzig, na Alemanha, em 1864. Em 91 páginas, com textos e ilustrações, o autor explicava as razões que o motivaram a testar Dar-win, demonstrava os resultados e comprovava que a teoria do inglês estava correta.

Ao conhecer o livro, no ano seguinte, Dar-win logo enviou uma carta a Desterro, na ilha de Santa Catarina. Nela, reconhece o trabalho e elogia o naturalista alemão, ao afirmar que prestava admirável serviço à causa a que ambos se dedicavam, além de considerar as observações sobre classificação e embriologia boas e originais. Darwin pediu autorização para traduzir o seu livro para o inglês. Müller consentiu e, em 1869, o trabalho foi lançado na Inglaterra com o nome apropriado de Fatos e Argumentos a

Favor de Darwin. "A obra", explica Papavero, "faz de Fritz Müller o primeiro a criar uma filogenia (estudo do desenvolvimento evolutivo de um organismo ou grupo de organismos no tempo) séria, com base em estudo de material vivo, e ainda conter densidade incrível de fatos novos não só para o Brasil do século 19. Além de ter sido importante para sustentar a teoria de Darwin, que nessa mesma época, na distante Inglaterra, continuava a ser alvo de críticas."

Ao longo de 16 anos, Fritz Müller e Charles Darwin trocaram correspondência. De acordo com a tradução feita pelo médico Cezar Zillig de Fritz Müller - Werke, Briefe

und Leben ("Obras, Cartas e Vida"), livro de Alfred Möller que compila os trabalhos do naturalista alemão, foram encontradas 39 cartas de Darwin a Müller. O inglês, além de fazer perguntas, também solicitava a participação do alemão em seus estudos. Müller respondia e cooperava, principalmente em botânica e zoologia. Ele realizou dezenas de experimentos pelos quais tentava descobrir, por exemplo, as razões da "metamorfose completa" de alguns insetos, como a das libélulas Pseudoneuroptera, ou os motivos do desenvolvimento tardio das orquídeas Catasetum.

Certa vez Fritz Müller escreveu para Darwin para contar que percebera "curiosa contenda" entre uma abelha rainha e as operárias Trigona mirim. Isso lhe permitiu "projetar alguma luz sobre as faculdades intelectuais dos animais". Darwin fez com que essa carta fosse publicada na revista Nature com o título: "O hábito de vários insetos". A admiração e a cooperação recíprocas entre os dois continuariam até a morte de Darwin, em 1882. Como reconhecimento, o inglês citou 17 vezes o colega nas edições revisadas de A Origem, e o chamava de "Fritz Müller, príncipe dos observadores da natureza".

Por: Paulo Verri Filho

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Em suas observações, Fritz Müller descobriu o mimetismo entre estas diferentes espécies de borboleta. Ilustração reproduzida do livro Fritz Müller - Werke, Briefe und Leben, de Alfred Möller, Museu de Zoologia da Universidade de São

Paulo; Foto de Djan Chu

Em 1864, cinco anos depois da publicação de A Origem das Espécies, Fritz Müller, que já morava em Santa Catarina, escreveu Für Darwin (Para Darwin), no qual relata as razões que o levaram a testar - e comprovar - a teoria da evolução. Reprodução de Für Darwin, cortesia de Luiz Roberto Fontes.

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Entre as espécies usadas nos experimentos de Müller estavam os microcrustáceos do gênero Tanais. Reprodução de Für Darwin, cortesia de Luiz Roberto Fontes.

O alemão aventurava-se pela mata com despojamento não raro descalço. “O isolamento em região selvagem colocou Müller em contato íntimo com a natureza”, escreveu o entomólogo Luiz Roberto Fontes. “Sua obra suscita um ar romântico, o homem em busca da compreensão profunda da natureza, armado de criatividade e poucos instrumentos”, diz o médico veterinário Stefano Hagen, da Universidade de São Paulo, outro estudioso da vida de Müller. Retrato reproduzido do livro Fritz Müller - Werke, Briefe und Leben, de Alfred Möller, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo;

Foto de Djan Chu

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Darwins modernos - 200 anos de Darwin O pai da evolução ficaria encantado ao ver os avanços científicos inspirados por suas idéias

Apenas duas semanas antes de falecer, Charles Darwin escreveu um breve ensaio sobre um molusco ínfimo, encontrado agarrado à perna de um besouro-d'água capturado em uma lagoa na região de Midlands, na Inglaterra. Foi o último texto que publicou. O homem que lhe enviou o besouro era um jovem sapateiro e naturalista amador chamado Walter Drawbridge Crick. O sapateiro acabou se casando e teve um filho, Harry, o qual por sua vez teria um filho, batizado de Francis. Em 1953, Francis Crick, com o jovem biólogo americano James Watson, faria uma descoberta que levou à triunfante justificativa de quase tudo o que Darwin deduzira a respeito da evolução.

Tal comprovação não se baseava em fósseis nem em espécimes de criaturas vivas, tampouco na dissecção de seus órgãos. Ela foi possível graças a um livro. Watson e Crick descobriram que todo organismo carrega, no interior de suas células, um código químico que governa sua própria criação, um texto escrito em uma linguagem comum a todas as formas de vida: o código simples do DNA. "Todos os seres orgânicos que já viveram neste planeta descendem de alguma forma primordial", escreveu Darwin. Na verdade, na época ele estava especulando. Para entender a história da evolução - sua narrativa e seu mecanismo -, os darwinistas modernos já não mais precisam especular. Têm apenas de consultar a escritura genética.

Vamos considerar, por exemplo, os famosos tentilhões das ilhas Galápagos. Darwin podia ver que seu bico tinha diversos formatos - alguns eram largos e profundos; outros, alongados; outros ainda, pequenos e truncados. Ele supôs (um tanto atrasado) que, apesar das diferenças, todos os tentilhões eram aparentados. "Diante dessa graduação e diversidade estrutural em um grupo de aves pequeno e estritamente relacionado", escreveu em A Viagem do Beagle, "é possível imaginar que, a partir da escassez original de aves nesse arquipélago, uma única espécie acabou sendo modificada para distintas finalidades." Isso também não passava de inspirada especulação. No entanto, ao analisar a estreita similaridade de seus códigos genéticos, hoje os cientistas podem confirmar que os tentilhões de Galápagos de fato descendem de uma única espécie ancestral (ave cujo parente vivo mais próximo é a cigarra-parda, de cores opacas).

O DNA não só comprova que a evolução existe de fato como também mostra, em nível mais fundamental, de que maneira ela reconfigura os seres vivos. Há pouco, Arhat Abzhanov, da Universidade Harvard, e Cliff Tabin, da Faculdade de Medicina Harvard, identificaram os genes específicos que regulam o formato daqueles bicos. Os genes são sequências de letras do DNA que, ao serem ativados pelas células, produzem determinada proteína. Abzhanov e Tabin descobriram que, quando a proteína BMP4 é ativada (os cientistas usam o termo "expressada") na mandíbula em crescimento de um embrião de tentilhão, ela torna o bico mais largo e profundo. Esse gene expressa-se de modo mais vigoroso no grande-tentilhão-de-solo (Geospiza magnirostris), que usa o bico mais robusto para abrir grandes sementes e nozes. Em outros tentilhões, um gene expressa a proteína calmodulina, e isso resulta em um bico longo e estreito. Esse gene é

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mais ativo no grande-tentilhão-de-cacto (G. conirostris), que usa o bico alongado para buscar sementes no interior de frutas cactáceas.

Em outro grupo de ilhas, ao largo da costa do Golfo, na Flórida, o camundongo Peromyscus polionotus possui um pelame mais claro que os similares do continente. Graças a essa característica, eles conseguem se esconder com maior facilidade na areia clara - coruja, falcão e garça acabam assim se alimentando de quantidade maior de camundongos menos camuflados, permitindo que os mais claros se reproduzam. Hopi Hoekstra e colegas da Universidade Harvard comprovaram que a diferença de coloração se deve à alteração de uma única letra em um único gene, modificação que provocou redução de pigmento na pele do roedor. Tal mutação vem ocorrendo desde que as ilhas se formaram, há menos de 6 mil anos. A grande ideia de Darwin é que a seleção natural se deve em grande parte à diversidade de características que se nota entre espécies aparentadas. Agora, no bico do tentilhão e na pele do camundongo, podemos acompanhar a seleção natural em funcionamento, moldando e modificando o DNA dos genes e o modo como se expressam, a fim de adaptar o organismo a suas circunstâncias específicas.

Darwin, que supôs que a evolução se arrastava num ritmo lerdo, observável apenas no registro fóssil, ficaria encantado com outra descoberta. Em alguns daqueles mesmos tentilhões de Galápagos, os modernos darwinistas conseguiram observar a evolução se desenrolando em tempo real. Em 1973, Peter e Rosemary Grant começaram a fazer observações anuais das populações de tentilhão na minúscula ilha Daphne Major, em Galápagos. Logo descobriram que, na realidade, os tentilhões evoluíam de um ano para outro, à medida que as condições climáticas na ilha variavam de úmido para seco, e depois para úmido de novo. Por exemplo, antes havia em Daphne Major só duas espécies de tentilhão-de-solo que se reproduziam com regularidade, uma das quais era o tentilhão-de-solo-médio (G. fortis), que se alimenta de sementes pequenas. Quando uma seca assolou a ilha em 1977, e escassearam as sementes pequenas, os tentilhões-médios foram obrigados a comer as maiores e mais duras. Os com bico maior se deram melhor e sobreviveram, transmitindo a característica a seus filhotes.

Outra mudança ocorreu após a chegada de um competidor em 1982: o tentilhão-de-solo-grande (G. magnirostris), que também se alimenta de sementes grandes e duras. Durante anos as duas espécies coexistiram e, em 2002, ambas se tornaram abundantes. Mas veio a seca e, em 2005, restavam 13 tentilhões-de-solo-grandes e 83 de-solo-médios. Surpreendentemente, em vez de se adaptarem à seca comendo sementes maiores, como haviam feito 28 anos antes, os tentilhões-de-solo-médios apresentaram acentuada redução no tamanho de seu bico, pois, na competição com os primos maiores, não tiveram outro recurso senão buscar um nicho, passando a consumir sementes muito pequenas. Um tentilhão com bico menor não é espécie nova, mas, na concepção de Peter Grant, talvez sejam necessários apenas alguns episódios desse tipo para que surja nova espécie, que, a partir de então, não mais se reproduz acasalando-se com parentes.

A variação registrada entre os tentilhões de Galápagos é um exemplo clássico de "radiação adaptativa", em que cada espécie evolui de um ancestral comum a fim de aproveitar determinada fonte alimentícia. Um caso famoso de radiação ocorreu em outro tipo de ilha - de água. Na África, os lagos e rios do vale de Rift abrigam cerca de 2 mil espécies de peixe ciclídeo que evoluíram de poucos antepassados. O maior desses lagos, o Victoria, estava seco há 15 mil anos. Suas 500 espécies distintas de ciclídeo evoluíram

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todas desde então de um punhado de espécies de origem incerta. Tal como os tentilhões, os ciclídeos adaptaram-se a dietas distintas conforme os hábitats existentes, como trechos rochosos ou arenosos no leito dos lagos. Algumas espécies alimentam-se de algas e possuem dentes muito apinhados e apropriados para raspar e arrancar a vegetação, ao passo que outras comem caramujos e possuem mandíbulas grossas e poderosas, capazes de esmagar e abrir conchas. E qual é o gene responsável pelo espessamento dessas mandíbulas? O gene da proteína BMP4 - o mesmo que faz com que o bico dos tentilhões-de-solo de Galápagos fique mais largo e profundo. Poderia haver melhor comprovação para a crença de Darwin na semelhança de todas as espécies do que achar o mesmo gene produzindo o mesmo efeito em aves e peixes, em continentes diferentes?

Em A origem das espécies, Darwin cuidou de não fazer nenhuma menção à maneira como a sua teoria iria estender tal semelhança de modo a incluir os seres humanos. Uma década depois, porém, ele enfrentou a questão em A Descendência do Homem. Ele ficaria maravilhado ao saber que certo gene, o FOXP2, é crucial no desenvolvimento normal tanto da fala das pessoas como do canto das aves. Em 2001, Simon Fisher e seus colegas da Universidade de Oxford descobriram que uma mutação nesse gene ocasiona defeitos de linguagem nas pessoas. Mais tarde, eles demonstraram que, nos camundongos, o mesmo gene é necessário para o animal cumprir sequências de aprendizado de movimentos rápidos.

Em seguida, Constance Scharff, da Universidade Livre de Berlim, comprovou que esse mesmo gene se torna mais ativo em uma região do cérebro de um filhote de diamante-mandarim Taeniopygia guttata na época em que a ave começa a cantar. Com engenhosidade, a equipe de Constance infectou o cérebro desses mandarins com um vírus especial, portador de uma cópia invertida de parte do gene FOXP2, bloqueando assim a sua expressão natural. Em consequência, as aves cantavam de modo mais variado que o normal e não conseguiam imitar o pio dos adultos.

Os Darwins de hoje observam em detalhes a maneira como a competição e as mudanças ambientais podem criar novas espécies. Mas Darwin também propôs outro fator evolutivo: a seleção sexual. No lago Victoria, os peixes ciclídeos têm uma visão adaptada à luz presente no ambiente circundante - em profundidades maiores, em que a luminosidade disponível tende à extremidade avermelhada do espectro, seus receptores visuais são mais adequados a captar a luz vermelha, ao passo que, perto da superfície, eles veem melhor na região azul do espectro. Ole Seehausen, da Universidade de Berna, descobriu que os ciclídeos machos desenvolveram cores vibrantes de modo a atrair a atenção das fêmeas: em geral avermelhados perto do leito do lago e azulados em profundidades menores. As populações de peixes azulados e avermelhados parecem estar divergindo em termos genéticos - sugerindo que se trata de duas espécies distintas em formação.

Se a seleção natural é a sobrevivência do mais apto (uma frase cunhada pelo filósofo Herbert Spencer, e não por Darwin), então a seleção sexual é a reprodução do mais sensual. Darwin acreditava que alguns adornos, como a galhada dos veados, ajudavam os machos na luta pelas fêmeas; outros, como a cauda dos pavões, possibilitavam aos machos "encantar" as fêmeas para que se acasalassem. Tratava-se, na verdade, de uma ideia nascida do desespero, pois a beleza inútil o preocupava por ser uma aparente exceção ao implacável funcionamento prático da seleção natural. Em abril de 1860, em

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carta ao botânico americano Asa Gray, ele escreveu que "a visão de uma pena da cauda de um pavão, sempre que a contemplo, me dá engulhos!"

Sua ideia de seleção sexual foi ignorada por grande parte da opinião vitoriana, que ficou escandalizada com a noção de fêmeas escolhendo de forma ativa seus parceiros, em lugar de se submeterem aos avanços dos machos. Os biólogos esqueceram o conceito por um século, pois não conseguiram abandonar a argumentação de que as características evoluem a fim de se adequar às espécies, em vez de aos indivíduos. Todavia, hoje sabemos que Darwin estava no caminho certo. Em todos os tipos de espécie, desde peixe e ave até inseto e rã, são as fêmeas que abordam os machos com as formas mais complexas de exibição, e os convidam para o acasalamento.

Darwin não especulou muito sobre os motivos que fariam uma fêmea escolher um macho ornamentado. Essa é uma questão que ainda intriga os biólogos, pois dispõem de duas respostas satisfatórias. Uma é a moda: quando algumas fêmeas passam a escolher machos mais vistosos, as outras precisam seguir a onda, sob o risco de terem filhotes incapazes de atrair fêmeas. Já a outra resposta é mais sutil. A cauda de um pavão é resultado de um esforço exaustivo e perigoso por parte da ave. Tal esforço só é bem-sucedido nos machos mais saudáveis. Portanto, a plumagem exuberante constitui o que os biólogos evolutivos chamam de "indicador evidente de aptidão". Os pavões subnormais não conseguem simular tal plumagem. E as fêmeas, quando escolhem por instinto os machos mais aptos, com isso transmitem os melhores genes aos filhotes.

Em um de seus surtos de fantasia, Darwin argumentou que a seleção sexual poderia explicar as diferenças raciais entre os seres humanos. Ainda não se chegou a nenhuma conclusão a respeito dessa ideia, mas há indícios de que Darwin poderia estar certo, ao menos em parte.

É o caso dos olhos azuis. Darwin, como muitos europeus, tinha olhos azuis. Em 2008, Hans Eiberg e seus colegas da Universidade de Copenhague anunciaram a descoberta da mutação genética comum a todas as pessoas cujos olhos são azulados. Essa mutação deve-se a uma única mudança de letras, G, em vez de A, no ramo longo do cromossomo 15, que atenua a expressão do gene OCA2, associado à produção do pigmento que escurece os olhos. Ao comparar o DNA dos dinamarqueses com o dos turcos e o dos jordanianos, Eiberg calculou que essa mutação ocorreu entre 6 mil e 10 mil anos atrás, depois da invenção da agricultura, em um indivíduo específico numa localidade próxima ao mar Negro. Portanto, Darwin pode ter adquirido seus olhos azuis graças a uma única letra trocada no DNA do bebê de um agricultor neolítico.

Por que essa mudança genética se difundiu com tanto êxito? Talvez a característica esteja associada a uma pele mais clara, que absorve quantidade maior da radiação solar necessária à síntese de vitamina D. Isso seria relevante na medida em que os habitantes de regiões setentrionais menos ensolaradas se tornavam cada vez mais dependentes de fontes de nutrição como os cereais, deficientes em vitamina D. Por outro lado, as pessoas com olhos azuis podem ter tido mais descendentes porque calharam de ser mais atraentes para o sexo oposto naquela área. Seja como for, a explicação aponta para duas teorias de Darwin - a seleção natural e a sexual.

Curiosamente, a troca de letras que causa os olhos azuis não se dá no próprio gene do pigmento, mas em um trecho próximo da escritura do DNA que controla a expressão do

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gene. Confirma-se assim a ideia de que a evolução opera não só por meio de mudanças nos genes mas pela modificação do modo pelo qual os genes são ativados e desativados. Para Sean Caroll, da Universidade de Wisconsin, "o combustível para a evolução da anatomia não é tanto a mutação nos genes, mas as alterações na regulação dos genes que controlam o desenvolvimento".

A noção de interruptores genéticos explica a humilhante surpresa que foi a descoberta de que os seres humanos parecem não ter nenhum gene humano. Na última década, à medida que os cientistas comparavam o genoma humano com o de outras criaturas, tornou-se patente que herdamos não só a mesma quantidade de genes que um camundongo - menos de 21 mil - mas, na maioria dos casos, os próprios genes são idênticos. Assim como não precisamos de palavras distintas para escrever livros diferentes, também não faz falta genes novos para o surgimento de novas espécies: basta apenas mudar a ordem e o padrão em que são usados os genes.

Em outros termos, uma girafa não precisa ter genes específicos para desenvolver o pescoço longo. Seus genes de crescimento de pescoço são os mesmos do camundongo. Eles precisam apenas ser ativados por mais tempo.

Os Darwins modernos, assim como o original, mesclam o que sabem a respeito dos genes com o que sabem sobre os fósseis para entender melhor a história da vida. Em 2004, Neil Shubin e sua equipe da Universidade de Chicago achou um fóssil de 375 milhões de anos no Ártico canadense - uma criatura que se encaixa no hiato entre os peixes e os animais terrestres. Eles o batizaram de Tiktaalik, que significa "grande peixe de água doce", na língua inuktitut. Embora fosse um peixe com escamas e nadadeiras, ele tinha cabeça achatada, como a dos anfíbios, e os ossos no interior de suas nadadeiras correspondiam aos dos membros inferiores e superiores e até mesmo às articulações dos animais terrestres: trata-se de um elo perdido - se é que há algum.

Também intrigante é o que o Tiktaalik revelou a Shubin no laboratório. Os genes do fóssil perderam-se nas névoas do tempo. Inspirados pelo achado, os pesquisadores estudaram um equivalente vivo - um primitivo peixe ossudo, o Polydon spatula - e descobriram que o padrão de expressão do gene que regula a formação dos ossos em suas nadadeiras é parecido com o do gene responsável pela formação dos membros no embrião de uma ave, de um mamífero ou de qualquer outro animal terrestre. A única diferença é que ele permanece ativado por um tempo bem menor no peixe. Tal descoberta pôs por terra uma noção há muito entretida de que a aquisição de membros exigiu um radical salto evolutivo. "É evidente agora que o mecanismo genético necessário para produzir os membros já estava presente nas nadadeiras", comenta Shubin.

Embora a genética moderna comprove os acertos de Darwin nos mais variados aspectos, ela também trouxe à luz seu maior equívoco. As concepções de Darwin a respeito dos mecanismos de transmissão das características eram confusas - e erradas. Ele acreditava que em um organismo se mesclavam as características de seus pais, e também começou a achar que se transmitiam as peculiaridades adquiridas durante a vida do indivíduo. Ele nunca entendeu, ao contrário do monge morávio, Gregor Mendel, que um organismo não é de forma nenhuma mescla de seus pais, mas o resultado composto de incontáveis características individuais transmitidas pelo pai e pela mãe dos próprios pais e, antes deles, dos avós. O ensaio de Mendel que descreve a natureza da transmissão hereditária

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foi publicado em um obscuro jornal morávio em 1866, apenas sete anos após A Origem

das Espécies. Mendel enviou-o, esperançoso, a alguns dos principais cientistas da época, mas suas conclusões foram ignoradas. O destino do monge foi morrer anos antes de ser reconhecida a importância de sua descoberta. Mas o seu legado, como o de Darwin, nunca esteve tão vivo.

Por: Matt Ridley

Os dois camundongos são da mesma espécie, e participam de um experimento para desvendar o modo como a seleção natural atua nos genes, criando um mundo repleto de diversidade. Foto de Lynn Johnson

Peixes poecilla reticulata chocam-se em um tanque de laboratório. Mais tarde serão libertados em Trinidad. Foto de Lynn Johnson

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O biólogo David Reznick vigia a exposição deles aos predadores, e mede as alterações demográficas. Tamanho do corpo, idade ao amadurecer e quantidade de filhotes passaram por modificações evolutivas nesse experimento. “Darwin achava que a evolução não podia ser observada”, diz. “Mas estamos testemunhando mudanças evolutivas em períodos de apenas alguns anos.” Foto de Lynn Johnson

Constance Scharff busca inspiração ao nadar em Berlim. As descobertas de Constance revelam um fio permeando todos os seres vivos: “O mecanismo genético que uma ave usa para aprender a cantar não difere muito daquele que usamos para começar a falar”. Foto de Lynn Johnson

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Um diamante-mandarim adulto ensina seus cantos a um filhote. O gene FOXP2 é crucial ao aprendizado de vocalizações. Quando é desativado, “o filhote passa a chilrear absurdos”, diz a neurobióloga Constance Scharff. Foto de Lynn Johnson

Preenchendo um hiato no mapa da evolução, o paleontólogo Neil Shubin esboça o crânio de um tiktaalik roseae, fóssil de 375 milhões de anos. Peixe com características de animais terrestres, o tiktaalik ajuda a entender a passagem do mar para a terra feita pelos seres vivos. Foto de Lynn Johnson

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Shubin estuda como evoluem as configurações dos corpos. Em larvas de arraia, ele alterou um gene que, nos seres humanos, influencia a forma da mão. O resultado foi uma mutação no desenho da nadadeira. Foto de Lynn Johnson

O pelame do camundongo que se enterrou na areia clara tem pigmentação sutil. Na outra ponta do espectro, o solo lodoso no interior favorece pelame mais escuro. Eles são da mesma espécie – peromyscus polionotus. Peles de rato fotografadas no Museu de Zoologia Comparada, Universidade de Harvard.

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A bióloga evolutiva Hopi Hoekstra vem examinando a mecânica dos genes para mostrar como os animais se adaptam a seus ambientes. A captura de ratinhos nas praias da Flórida, embora seja atividade rotineira, ainda lhe reserva emoções. Foto de Lynn Johnson

As pesquisas da geneticista Sean Carroll estão voltadas para a descoberta dos genes cruciais para a criação de elementos anatômicos específicos, e para o entendimento de como tais genes produzem padrões e formas diversificados e com frequência muito atraentes, desde a intricada ornamentação das asas de borboletas até as listras no corpo dos tigres. “Esses extremos no reino animal”, diz Carroll, “vêm inspirando os biólogos há séculos.” Foto de Lynn Johnson

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“Como a girafa adquiriu o seu imenso pescoço e os espetaculares padronagens na pele?”, é o que intriga o geneticista Sean Carroll - acima, no zoológico de Madison, em Wisconsin. Foto de Lynn Johnson

Publicados em 01/2009 na Revista National Geographic Brasil – Fevereiro de 2009 - Edição 107

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