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Radar Inovação - Setembro de 2010

Daniel Saad e Guilherme Pereira

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EMPRESA SOCIAL DE BASE TECNOLÓGICA: UM CAMINHO ENTRE CIÊNCIA E MERCADO

O caráter social da transferência de tecnologia de instituições de ciência e tecnologia e a geração de empresas sociais de base tecnológica

1. AS INSTITUIÇÕES DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA E O DESAFIO DA INOVAÇÃO

Diversas Instituições de Ciência e Tecnologia e seus respectivos Núcleos de Inovação Tecnológica atualmente vêm debatendo sobre seu papel como agentes de mudanças sociais, políticas e econômicas.

As atividades de estruturação de programas de transferência de tecnologia desenvolvidas pela Inventta junto a diversas instituições de ciência e tecnologia (ICTs) brasileiras nos trouxeram uma percepção importante sobre estes processos e, principalmente, sobre o futuro deles. Este breve artigo traz uma discussão sobre o papel social destas instituições frente às possibilidades de apropriação existentes, ou seja, sobre quais são os caminhos para levar a tecnologia da ciência para a sociedade. A obrigatoriedade da gestão e proteção da propriedade intelectual em ICTs foi contemplada pela Lei da Inovação em seu artigo 5º como uma estratégia para fortalecer o relacionamento da pesquisa pública com as empresas. Surgem então os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), responsáveis por gerir a política de inovação das ICTs. Contudo, existe ainda uma questão latente em algumas universidades e centros de pesquisa do Brasil que se relaciona com a aparente incompatibilidade entre a missão das ICTs e o processo de transferência de tecnologias. Em uma visão clássica, existem dois caminhos para a transferência de tecnologia a partir de uma tecnologia já desenvolvida pelas universidades: o licenciamento dos direitos de propriedade intelectual para uma empresa já estabelecida no mercado ou a criação de uma empresa de base tecnológica. O primeiro caminho pode ser uma forma interessante para a adoção tecnológica porque, por exemplo, a empresa possui uma estrutura física para produção, canais de distribuição estabelecidos e um posicionamento de marca no mercado. O segundo caminho, contudo, permite um foco maior para o desenvolvimento da oportunidade, um relacionamento mais estreito entre os inventores e os empresários, e um foco estratégico muitas vezes diferenciado. Ambos os caminhos, adotados de forma correta, podem cumprir o papel de realizar a inovação e levar as novas tecnologias até a sociedade. No entanto, diversas ICTs e seus respectivos NITs atualmente vêm debatendo sobre seu papel como agentes de mudanças sociais, políticas e econômicas. Nesse contexto, as instituições de pesquisa e desenvolvimento – principalmente as públicas – devem assumir como interesse primordial o caráter social da transferência de tecnologia, de forma a garantir as condições de proteção que permitam a maximização da apropriação social da tecnologia. Os caminhos clássicos de transferência parecem muitas vezes não serem suficientes para o cumprimento desse objetivo.

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Uma empresa social é projetada e dirigida como um empreendimento, a diferença é que o princípio da maximização dos lucros é substituído pelo princípio social.

2. EMPRESAS SOCIAIS: UM NOVO CONCEITO

Dois fenômenos vêm sendo observados nas últimas décadas em diversas partes do mundo. Por um lado, o mundo corporativo está cada vez mais vinculado a questões sociais e ambientais. Conceitos como responsabilidade social corporativa e sustentabilidade (“triple bottom line”) estão cada vez mais presentes nas pautas de líderes de empresas. Por outro lado, as organizações sociais estão cada vez mais perto do mercado. Muitas organizações sociais estão usando ferramentas de gestão típicas do segundo setor a fim de otimizarem seus processos, permitir uma melhor governança e até mesmo gerar receita. A interseção desses dois movimentos vem sendo alvo de análise e discussão por diversos autores e pesquisadores. Começam a surgir conceitos e temas como setor “dois e meio”, quarto setor, sociedades com finalidade social e empresas sociais. Esse último vem sendo difundido pelo prof. Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006 e conhecido mundialmente por ter criado o Banco Grameen e seu conceito de microcrédito. Segundo o professor Yunus, “uma empresa social é projetada e dirigida como um empreendimento, com produtos, serviços, clientes, mercados, despesas e receita; a diferença é que o princípio da maximização dos lucros é substituído pelo princípio social. Em vez de acumular o maior lucro possível, a empresa social procura alcançar objetivos sociais”. Ao contrário de outros estudiosos do tema, ele defende ainda que a empresa social não paga dividendos aos acionistas, que se limitam a recuperar seu investimento inicial. Esse investimento poderia vir do governo, bancos de desenvolvimento, doadores que atualmente focam seus recursos em filantropia ou ainda empresas consolidadas como parte de suas diretrizes de responsabilidade social. Ainda que haja diferença entre os conceitos de empresas sociais adotados ao redor do mundo, alguns países como EUA, Reino Unido, França e Itália já possuem dispositivos legais que reconhecem esse modelo. As especificidades de cada um se referem, relativamente, aos mesmos temas: distribuição de lucros, processo decisório, missão social e econômica.

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As empresas sociais de base tecnológica poderão levar ao mercado tecnologias que não apresentam atratividade para empresas estabelecidas ou investidores de risco.

3. EMPRESAS SOCIAIS DE BASE TECNOLÓGICA: NOVA PONTE ENTRE CIÊNCIA E SOCIEDADE?

O modelo de empresa social parece preencher algumas das lacunas que as ICTs e seus NITs encontram entre sua missão e a prática de transferência de tecnologia. O benefício fundamental que esse novo modelo gera é o total alinhamento de objetivos. A empresa social de base tecnológica terá como missão maximizar o impacto social através da comercialização de produto ou serviço que tem como diferencial uma tecnologia que foi desenvolvida em uma ICT. Essa empresa será capaz de se sustentar com a receita gerada por essa comercialização, mas não terá que distribuir lucros. Ao invés disso, poderá diminuir o preço dos produtos e serviços aumentando assim seu potencial de atuação. Poderá reinvestir em novas pesquisas que aprimorem os produtos e serviços atuais, reduzam ainda mais seus custos ou ainda que desenvolvam novos produtos. Tudo isso com agilidade, eficiência e flexibilidade, que são elementos necessários para o sucesso de uma empresa de base tecnológica. E pagando a seus colaboradores salário de mercado que, somado à sua missão social, irão compor uma proposta valor capaz de atrair grandes talentos. Por fim, as empresas sociais de base tecnológica poderão levar ao mercado tecnologias que não apresentam atratividade para empresas estabelecidas ou investidores de risco, uma vez que a viabilidade será medida apenas pela auto-sustentação do negócio e não por metas de taxa de retorno sobre o investimento. É importante ressaltar que esse texto não tem intenção de defender a substituição das formas atuais de transferência de tecnologia pelo novo modelo proposto. Para parte das tecnologias desenvolvidas os modelos atuais de transferência podem ser os mais adequados. O objetivo desse artigo é apenas despertar a discussão sobre uma nova opção de ponte entre ciência e sociedade.

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AUTORES

Daniel Saad é graduado em Engenharia Elétrica pela UNICAMP, com um ano de estudos em Engenharia

de Produção na École Nationale Supérieure d'Arts et Métiers, na França. Trabalhou em consultoria

internacional de alta gestão (Monitor Group), participando e coordenando projetos relacionados

principalmente à estratégia, inovação e marketing em empresas líderes em seus segmentos de atuação,

como Votorantim, Alpargatas, Coca-Cola, Femsa e ING. Atualmente faz parte da equipe da Inventta

como diretor responsável pela unidade de Campinas. Coordenou a equipe responsável pelo mapeamento

e seleção de tecnologias em 40 laboratórios (Coppe, Ime, INT, Inmetro e LNCC) para realização de 26

Diligências da Inovação. Liderou projetos relacionados à gestão da inovação e corporate venture para

empresas como Usiminas, Natura, Promon, BMG, entre outras.

Guilherme Pereira atua como Gerente de Projetos na Inventta, participando da estruturação de

programas de transferência de tecnologia, projetos de estudo de viabilidade técnica e econômica,

elaboração de plano de negócios, mapeamento de tecnologias e oportunidades, corporate venture e

gestão de incentivos fiscais à inovação tecnológica. Pela Inventta, coordena os projetos Pró-Inova em

São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, auxiliando mais de 30 Núcleos de Inovação Tecnológica

em sua estruturação e desenvolvimento de atividades.