Drageas literarias 000

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Café e Literatura

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EditorialCaros amigos

Umas das ferramentas mais surpreendentes inventadas pelo homem foi a internet. Com ela redefinimos as noções de compartilhamento, globalização e comunicação de massa.Agora podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo, dispondo do mesmo espaço que todos dispõe. Viajamos de um lugar para o outro em um único clique do mouse, acessamos informação em qualquer lugar e em qualquer língua, porque também dispomos de ferramentas que traduzem essas informações.Enfim, abraçamos o mundo, especificamente o mundo virtual. E nesse oceano de conteúdo totalmente livre e democrático em que vivemos, nasce a revista Drágeas Literárias, uma publicação dedicada aos amantes de café e literatura, não necessariamente nesta ordem.Queremos dar ao leitor um conteúdo lúdico e de fácil conexão, que traduza a experiência da leitura em algo tão agradável quanto tomar um delicioso café na companhia de amigos.Esperamos atender as expectativas daqueles que procuram algo novo nesse dinâmico mundo das letras.

Um grande abraço!

Alexandre Costa

Desconexos LiteráriosMais uma vez, Alexandre Costa e Roberto Prado, qual um Quixote armados de lanças contra moinhos, lançam mais uma empreitada literária, as Drágeas Literárias, com seus contos, crônicas, poesias, haicais e outras elucubrações...Contamos com a sorte de encontrarmos colaboradores diletantes (ou seja, que não cobram nada, pois nada é tudo que nos propomos a pagar) que venham abrilhantar ainda mais cada edição dessa ditosa Revista.Seguimos com nossos sonhos que a vida teima em transmutar em pesadelos, suores noturnos e ranger de dentes, seguimos em frente mesmo quando os presenteados com nossos trabalhos (não, não declinarei nomes) literários os usam como porta-copos, descanso de pratos, calço de cadeira e mesas bambas.

Avante amigos!

Roberto Prado

Drágeas LiteráriasUma revista dedicada aos amantes de café e literatura

ANO I | Nº 000 | 2015

DiretoresAlexandre Costa - Diretor de conteúdoRoberto Prado - Diretor Executivo

ColaboradoresRodrigo Lopes - InglaterraMagno Oliveira - BrasilSolange Gomes - BrasilMaryland Faillace - Brasil

Design Gráfico | DiagramaçãoAlexandre Costa

Leia Drágeas Literárias no seu celular ou tabletDOWNLOAD EM:

Leia Drágeas Literárias no:

https://issuu.com

4 | capaCafé com livro: o casamento perfeito

5 | Você Sabia?curiosidades sobre café

6 | BiografiaMurilo Rubião

8 | EntrevistaRoberto Prado

10 | Realismo FantásticoAlexandre Costa

14 | Sparce NotesRodrigo Lopes: colaborador direto

de Londres

16 | Quadrinhos

17 | crônicas do pradoMinha relação com Hemingway

18 | crônicas do pradoMinha relação com Hemingway

19 | DegustaçãoReceita de café irlandês

As imagens usadas na revista são livres de direitos, salvo as creditadas a seus autores.

OS MELHORESDESTINOS

NORDESTE

SERRA GAÚCHA

AMÉRICA LATINA

ESTADOS UNIDOS

EUROPA

OS MENORESPREÇOS

A PARTIR DE

R$ 59

SUA PRÓXIMA VIAGEM ESTÁ AQUICONHEÇA TODOS OS DESTINOS DO BRASILPROGRAME AGORA O SEU FERIADOPACOTE PARA VIAGENS DE FÉRIAS

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EditorialCaros amigos

Umas das ferramentas mais surpreendentes inventadas pelo homem foi a internet. Com ela redefinimos as noções de compartilhamento, globalização e comunicação de massa.Agora podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo, dispondo do mesmo espaço que todos dispõe. Viajamos de um lugar para o outro em um único clique do mouse, acessamos informação em qualquer lugar e em qualquer língua, porque também dispomos de ferramentas que traduzem essas informações.Enfim, abraçamos o mundo, especificamente o mundo virtual. E nesse oceano de conteúdo totalmente livre e democrático em que vivemos, nasce a revista Drágeas Literárias, uma publicação dedicada aos amantes de café e literatura, não necessariamente nesta ordem.Queremos dar ao leitor um conteúdo lúdico e de fácil conexão, que traduza a experiência da leitura em algo tão agradável quanto tomar um delicioso café na companhia de amigos.Esperamos atender as expectativas daqueles que procuram algo novo nesse dinâmico mundo das letras.

Um grande abraço!

Alexandre Costa

Desconexos LiteráriosMais uma vez, Alexandre Costa e Roberto Prado, qual um Quixote armados de lanças contra moinhos, lançam mais uma empreitada literária, as Drágeas Literárias, com seus contos, crônicas, poesias, haicais e outras elucubrações...Contamos com a sorte de encontrarmos colaboradores diletantes (ou seja, que não cobram nada, pois nada é tudo que nos propomos a pagar) que venham abrilhantar ainda mais cada edição dessa ditosa Revista.Seguimos com nossos sonhos que a vida teima em transmutar em pesadelos, suores noturnos e ranger de dentes, seguimos em frente mesmo quando os presenteados com nossos trabalhos (não, não declinarei nomes) literários os usam como porta-copos, descanso de pratos, calço de cadeira e mesas bambas.

Avante amigos!

Roberto Prado

Drágeas LiteráriasUma revista dedicada aos amantes de café e literatura

ANO I | Nº 000 | 2015

DiretoresAlexandre Costa - Diretor de conteúdoRoberto Prado - Diretor Executivo

ColaboradoresRodrigo Lopes - InglaterraMagno Oliveira - BrasilSolange Gomes - BrasilMaryland Faillace - Brasil

Design Gráfico | DiagramaçãoAlexandre Costa

Leia Drágeas Literárias no seu celular ou tabletDOWNLOAD EM:

Leia Drágeas Literárias no:

https://issuu.com

4 | capaCafé com livro: o casamento perfeito

5 | Você Sabia?curiosidades sobre café

6 | BiografiaMurilo Rubião

8 | EntrevistaRoberto Prado

10 | Realismo FantásticoAlexandre Costa

14 | Sparce NotesRodrigo Lopes: colaborador direto

de Londres

16 | Quadrinhos

17 | crônicas do pradoMinha relação com Hemingway

18 | crônicas do pradoMinha relação com Hemingway

19 | DegustaçãoReceita de café irlandês

As imagens usadas na revista são livres de direitos, salvo as creditadas a seus autores.

OS MELHORESDESTINOS

NORDESTE

SERRA GAÚCHA

AMÉRICA LATINA

ESTADOS UNIDOS

EUROPA

OS MENORESPREÇOS

A PARTIR DE

R$ 59

SUA PRÓXIMA VIAGEM ESTÁ AQUICONHEÇA TODOS OS DESTINOS DO BRASILPROGRAME AGORA O SEU FERIADOPACOTE PARA VIAGENS DE FÉRIAS

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Café com livro:o casamento perfeito

Um café preto, forte e feito nesse ano!Raymond Chandler –“O Sono Eterno”

Sem grinaldas, sem pétalas de rosas, sem arroz, somente um bom livro e uma xícara de café, eis ai um casamento. Não em uma igreja ou templo, mas em uma mesa, no silencio de uma cafeteria, o aroma do grão torrado invade nossos sentidos e nos vemos completamente embriagados. Folheamos as páginas de um livro e mergulhamos de cabeça na história, é a comunhão perfeita entre o lugar, a bebida e a literatura. E assim, passamos minutos ou horas dedicados somente a nós mesmos, entregues àquela comunhão perfeita. Um paraíso com minutos contatos. Poucos hoje em dia curtem esse prazer, essa autoindulgência. Aquele momento íntimo entre você e você mesmo, aquele momento de reflexão, ou quem sabe, de uma boa conversa com uma boa companhia.Ah! O universo que é uma cafeteria... Escrevo essas linhas à mesa de um café enquanto aguardo minha xícara. Em algumas cafeterias, onde as mesas ficam nas calçadas, temos o privilégio da paquera, em outras, o do anonimato. Há quem até as colecione através de fotos, textos em diários, recortes de revista. Não há nada melhor para o espírito do que a comunhão entre duas paixões. Desde a Absínia (hoje Etiópia) há mil anos atrás, aos dias de hoje, o café tem sido a bebida mais consumida do planeta depois da água. O que me faz pensar: que fariam os sumérios quatro mil anos antes se houvessem experimentado a Coffea arabica? O nome café não é originário da Kaffa, local de origem da planta, e sim da palavra árabe qahwa, que significa vinho. Por esse motivo, o café era conhecido como "vinho da Arábia" quando chegou à Europa no século XIV. E de lá para o resto do mundo. Sobre o l ivro, t iveram grande importância para a realização de registros

históricos, a compilação de leis e a divulgação de ideias. Atualmente, a produção de livros chegou a tal ponto que, por exemplo, o século XX foi responsável por uma literatura histórica superior a de todos os outros séculos somados juntos! Ou seja, duas histórias de sucesso absoluto na evolução da humanidade. Então, não é de se estranhar que este casamento não fosse duradouro, quiçá eterno. Casais podem discutir suas diferenças religiosas, filosóficas, ideológicas; suas escolhas e orientações, e até se continuarão a viver juntos com isso, mas não há como discutir a perfeita união entre café e livro. E eu posso prometer a você que ela será duradoura, eterna enquanto durar e que só lhe trará benefícios. Imagine-se agora sentado à mesa de sua cafeteria favorita. Ao lado de sua xícara, aberto na página trinta e dois, o personagem abre a porta do vagão principal do expresso do Imalaia e vê sua amada pela primeira vez, ao mesmo tempo em que o aroma do café atinge seus sentidos. Então para sempre, aquela página estará gravada em sua memória. Todas as vezes em que sentir aquele aroma, se lembrará de cada detalhe da história, cada frase, e se sentirá mais uma vez dentro do l i v r o . N ã o h á s e n s a ç ã o m a i s recompensadora. Mas se você ainda não se entregou a esta paixão, não perca mais tempo. Existem milhares de centenas de cafeterias neste mundo que proporcionarão a você uma experiência única e inigualável.

por: RobertoPrado

4 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 5

ima

ge

ns

de

sta

gin

a: f

ree

pik

.co

m

1. A palavra “café” vem do árabe “qahwah”,

que está relacionada com a palavra vinho

2. Em todo o mundo são consumidas mais de

500 bilhões de xícaras de café por ano

3. O café pode diminuir o declínio cognitivo e

ainda doenças neurodegenerativas

4. Produzido nas ilhas de Sumatra, Bali e Java,

o quilo do Kopi Luwak custa, em média,

US$ 500 (R$ 1.000), fazendo dele o café

mais caro do mundo

5. Homens que bebem seis ou mais xícaras

de café diárias, diminuem o risco de

desenvolver câncer da próstata em 20%

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Café com livro:o casamento perfeito

Um café preto, forte e feito nesse ano!Raymond Chandler –“O Sono Eterno”

Sem grinaldas, sem pétalas de rosas, sem arroz, somente um bom livro e uma xícara de café, eis ai um casamento. Não em uma igreja ou templo, mas em uma mesa, no silencio de uma cafeteria, o aroma do grão torrado invade nossos sentidos e nos vemos completamente embriagados. Folheamos as páginas de um livro e mergulhamos de cabeça na história, é a comunhão perfeita entre o lugar, a bebida e a literatura. E assim, passamos minutos ou horas dedicados somente a nós mesmos, entregues àquela comunhão perfeita. Um paraíso com minutos contatos. Poucos hoje em dia curtem esse prazer, essa autoindulgência. Aquele momento íntimo entre você e você mesmo, aquele momento de reflexão, ou quem sabe, de uma boa conversa com uma boa companhia.Ah! O universo que é uma cafeteria... Escrevo essas linhas à mesa de um café enquanto aguardo minha xícara. Em algumas cafeterias, onde as mesas ficam nas calçadas, temos o privilégio da paquera, em outras, o do anonimato. Há quem até as colecione através de fotos, textos em diários, recortes de revista. Não há nada melhor para o espírito do que a comunhão entre duas paixões. Desde a Absínia (hoje Etiópia) há mil anos atrás, aos dias de hoje, o café tem sido a bebida mais consumida do planeta depois da água. O que me faz pensar: que fariam os sumérios quatro mil anos antes se houvessem experimentado a Coffea arabica? O nome café não é originário da Kaffa, local de origem da planta, e sim da palavra árabe qahwa, que significa vinho. Por esse motivo, o café era conhecido como "vinho da Arábia" quando chegou à Europa no século XIV. E de lá para o resto do mundo. Sobre o l ivro, t iveram grande importância para a realização de registros

históricos, a compilação de leis e a divulgação de ideias. Atualmente, a produção de livros chegou a tal ponto que, por exemplo, o século XX foi responsável por uma literatura histórica superior a de todos os outros séculos somados juntos! Ou seja, duas histórias de sucesso absoluto na evolução da humanidade. Então, não é de se estranhar que este casamento não fosse duradouro, quiçá eterno. Casais podem discutir suas diferenças religiosas, filosóficas, ideológicas; suas escolhas e orientações, e até se continuarão a viver juntos com isso, mas não há como discutir a perfeita união entre café e livro. E eu posso prometer a você que ela será duradoura, eterna enquanto durar e que só lhe trará benefícios. Imagine-se agora sentado à mesa de sua cafeteria favorita. Ao lado de sua xícara, aberto na página trinta e dois, o personagem abre a porta do vagão principal do expresso do Imalaia e vê sua amada pela primeira vez, ao mesmo tempo em que o aroma do café atinge seus sentidos. Então para sempre, aquela página estará gravada em sua memória. Todas as vezes em que sentir aquele aroma, se lembrará de cada detalhe da história, cada frase, e se sentirá mais uma vez dentro do l i v r o . N ã o h á s e n s a ç ã o m a i s recompensadora. Mas se você ainda não se entregou a esta paixão, não perca mais tempo. Existem milhares de centenas de cafeterias neste mundo que proporcionarão a você uma experiência única e inigualável.

por: RobertoPrado

4 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 5

ima

ge

ns

de

sta

gin

a: f

ree

pik

.co

m

1. A palavra “café” vem do árabe “qahwah”,

que está relacionada com a palavra vinho

2. Em todo o mundo são consumidas mais de

500 bilhões de xícaras de café por ano

3. O café pode diminuir o declínio cognitivo e

ainda doenças neurodegenerativas

4. Produzido nas ilhas de Sumatra, Bali e Java,

o quilo do Kopi Luwak custa, em média,

US$ 500 (R$ 1.000), fazendo dele o café

mais caro do mundo

5. Homens que bebem seis ou mais xícaras

de café diárias, diminuem o risco de

desenvolver câncer da próstata em 20%

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6 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 7

Alexandre Saldanha Ribeiro. Desprezou o elevador e

seguiu pela escada, apesar da volumosa mala que carregava e do

número de andares a serem vencidos. Dez.

Não demonstrava pressa, porém o seu rosto denunciava

a segurança de uma resolução irrevogável. Já no décimo

pavimento, meteu-se por um longo corredor, onde a poeira e

detritos emprestavam desagradável aspecto aos ladrilhos.

Todas as salas encontravam-se fechadas e delas não escapava

qualquer ruído que indicasse presença humana.

Parou diante do último escritório e perdeu algum tempo

lendo uma frase, escrita a lápis, na parede. Em seguida passou a

mala para a mão esquerda e com a direita experimentou a

maçaneta, que custou a girar, como se há muito não fosse

utilizada. Mesmo assim não conseguiu franquear a porta, cujo

madeiramento empenara. Teve que usar o ombro para forçá-la.

E o fez com tamanha violência que ela veio abaixo ruidosamente.

Não se impressionou. Estava muito seguro de si para dar

importância ao barulho que antecedera a sua entrada numa

saleta escura, recendendo a mofo. Percorreu com os olhos os

móveis, as paredes. Contrariado, deixou escapar uma praga.

Quis voltar ao corredor, a fim de recomeçar a busca, quando deu

com um biombo. Afastou-o para o lado e encontrou uma porta

semicerrada. Empurrou-a. Ia colocar a mala no chão, mas um

terror súbito imobilizou-o: sentado diante de uma mesa

empoeirada, um homem de cabelos grisalhos, semblante

sereno, apontava-lhe um revólver. Conservando a arma na

direção do intruso, ordenou-lhe que não se afastasse.

Também a Alexandre não interessava fugir, porque

jamais perderia a oportunidade daquele encontro. A sensação

de medo fora passageira e logo substituída por outra mais

intensa, ao fitar os olhos do velho. Deles emergia uma penosa

tonalidade azul.

Naquela sala tudo respirava bolor, denotava extremo

desmazelo, inclusive as esgarçadas roupas do seu solitário

ocupante:

— Estava à sua espera — disse, com uma voz macia.

Alexandre não deu mostras de ter ouvido, fascinado com o olhar

do seu interlocutor. Lembrava-lhe a viagem que fizera pelo mar,

algumas palavras duras, num vão de escada.

O outro teve que insistir:

— Afinal, você veio.

Subtraído bruscamente às recordações, ele fez um

esforço violento para não demonstrar espanto:

— Ah, esperava-me? — Não aguardou resposta e

prosseguiu exaltado, como se de repente viesse à tona uma

irritação antiga: — Impossível! Nunca você poderia calcular que

eu chegaria hoje, se acabo de desembarcar e ninguém está

informado da minha presença na cidade! Você é um farsante,

mau farsante. Certamente aplicou sua velha técnica e pôs espias

no meu encalço. De outro modo seria difícil descobrir, pois vivo

viajando, mudando de lugar e nome.

— Não sabia das suas viagens nem dos seus disfarces.

— Então, como fez para adivinhar a data da minha

chegada?

— Nada adivinhei. Apenas esperava a sua vinda. Há dois

anos, nesta cadeira, na mesma posição em que me encontro,

aguardava-o certo de que você viria.

Por instantes, calaram-se. Preparavam-se para golpes

mais fundos ou para desvendar o jogo em que se empenhavam.

Alexandre pensou em tomar a iniciativa do ataque,

convencido de que somente assim poderia desfazer a placidez

do adversário. Este, entretanto, percebeu-lhe a intenção e

antecipou-se:

— Antes que me dirija outras perguntas — e sei que tem

muitas a fazer-me — quero saber o que aconteceu com Ema.

— Nada — respondeu, procurando dar à voz um tom

despreocupado.

— Nada?

Alexandre percebeu a ironia e seus olhos encheram-se

de ódio e humilhação. Tentou revidar com um palavrão.

Todavia, a firmeza e a tranqüilidade que iam no rosto do outro

venceram-no.

— Abandonou-me — deixou escapar, constrangido pela

vergonha. E numa tentativa inútil de demonstrar um resto de

altivez, acrescentou: — Disso você não sabia!

Um leve clarão passou pelo olhar do homem idoso:

— Calculava, porém desejava ter certeza.

Começava a escurecer. Um silêncio pesado separava-os e ambos

volveram para certas reminiscências que, mesmo contra a

vontade deles, sempre os ligariam.

O velho guardou a arma. Dos seus lábios desaparecera o sorriso

irônico que conservara durante todo o diálogo. Acendeu um

cigarro e pensou em formular uma pergunta que, depois, ele

julgaria, desnecessária. Alexandre impediu que a fizesse.

Gesticulando, nervoso, aproximara-se da mesa:

— Seu caduco, não tem medo que eu aproveite a ocasião

para matá-lo. Quero ver sua coragem, agora, sem o revólver.

— Não, além de desarmado, você não veio aqui para

matar-me.

— O que está esperando, então?! — gritou Alexandre. —

Mate-me logo!

— Não posso.

— Não pode ou não quer?

— Estou impedido de fazê-lo. Para evitar essa tentação,

após tão longa espera, descarreguei toda a carga da arma no teto

da sala.

Alexandre olhou para cima e viu o forro crivado de balas.

Ficou confuso. Aos poucos, refazendo-se da surpresa,

abandonou-se ao desespero. Correu para uma das janelas e

tentou atirar-se através dela. Não a atravessou. Bateu com a

cabeça numa fina malha metálica e caiu desmaiado no chão.

Ao levantar-se, viu que o velho acabara de fechar a porta

e, por baixo dela, iria jogar a chave.

Lançou-se na direção dele, disposto a impedi-lo. Era

tarde. O outro já concluíra seu intento e divertia-se com o pânico

que se apossara do adversário:

— Eu esperava que você tentaria o suicídio e tomei

precaução de colocar telas de aço nas janelas.

A fúria de Alexandre chegara ao auge:

— Arrombarei a porta. Jamais me prenderão aqui!

— Inútil. Se tivesse reparado nela, saberia que também é

de aço. Troquei a antiga por esta.

— Gritarei, berrarei!

— Não lhe acudirão. Ninguém mais vem a este prédio.

Despedi os empregados, despejei os inquilinos.

E concluiu, a voz baixa, como se falasse apenas para si

mesmo:

— Aqui ficaremos: um ano, dez, cem ou mil anos.

biografiaMurilo Rubião

Murilo Rubião nasceu na cidade de Silvestre

Ferraz, hoje chamada de Carmo de Minas, em 1º de

junho de 1916. Era filho de escritores. A família

mudou-se para Belo Horizonte quando ele tinha

sete anos. Foi lá que ele viveu até o final de sua vida,

retirando-se para viver em Madri como adido junto

à Embaixada do Brasil na Espanha por quatro anos.

Foi jornalista, chefe de gabinete do governador

Juscelino Kubitschek e fundador, em 1966, do

Suplemento Literário do Minas Gerais.

Sua carreira do escritor inicia-se com a

publicação de seus poemas. Ele mesmo reconheceu

que não era um bom poeta e desiste do gênero.

Então em 1947, lançou seu primeiro livro de contos,

"O ex-mágico", que não teve maior repercussão na

época. No entanto, a publicação de "O pirotécnico

Zacarias", em 1974, deu súbita fama a Murilo Rubião.

Nos anos seguintes, sua obra passou a ser

vista como a mais significativa manifestação da

literatura fantástica no Brasil.

Murilo Rubião influenciou diversos autores

brasileiros, dentre eles, José J. Veiga e Moacyr

Scliar.

a armadilha

Page 7: Drageas literarias 000

6 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 7

Alexandre Saldanha Ribeiro. Desprezou o elevador e

seguiu pela escada, apesar da volumosa mala que carregava e do

número de andares a serem vencidos. Dez.

Não demonstrava pressa, porém o seu rosto denunciava

a segurança de uma resolução irrevogável. Já no décimo

pavimento, meteu-se por um longo corredor, onde a poeira e

detritos emprestavam desagradável aspecto aos ladrilhos.

Todas as salas encontravam-se fechadas e delas não escapava

qualquer ruído que indicasse presença humana.

Parou diante do último escritório e perdeu algum tempo

lendo uma frase, escrita a lápis, na parede. Em seguida passou a

mala para a mão esquerda e com a direita experimentou a

maçaneta, que custou a girar, como se há muito não fosse

utilizada. Mesmo assim não conseguiu franquear a porta, cujo

madeiramento empenara. Teve que usar o ombro para forçá-la.

E o fez com tamanha violência que ela veio abaixo ruidosamente.

Não se impressionou. Estava muito seguro de si para dar

importância ao barulho que antecedera a sua entrada numa

saleta escura, recendendo a mofo. Percorreu com os olhos os

móveis, as paredes. Contrariado, deixou escapar uma praga.

Quis voltar ao corredor, a fim de recomeçar a busca, quando deu

com um biombo. Afastou-o para o lado e encontrou uma porta

semicerrada. Empurrou-a. Ia colocar a mala no chão, mas um

terror súbito imobilizou-o: sentado diante de uma mesa

empoeirada, um homem de cabelos grisalhos, semblante

sereno, apontava-lhe um revólver. Conservando a arma na

direção do intruso, ordenou-lhe que não se afastasse.

Também a Alexandre não interessava fugir, porque

jamais perderia a oportunidade daquele encontro. A sensação

de medo fora passageira e logo substituída por outra mais

intensa, ao fitar os olhos do velho. Deles emergia uma penosa

tonalidade azul.

Naquela sala tudo respirava bolor, denotava extremo

desmazelo, inclusive as esgarçadas roupas do seu solitário

ocupante:

— Estava à sua espera — disse, com uma voz macia.

Alexandre não deu mostras de ter ouvido, fascinado com o olhar

do seu interlocutor. Lembrava-lhe a viagem que fizera pelo mar,

algumas palavras duras, num vão de escada.

O outro teve que insistir:

— Afinal, você veio.

Subtraído bruscamente às recordações, ele fez um

esforço violento para não demonstrar espanto:

— Ah, esperava-me? — Não aguardou resposta e

prosseguiu exaltado, como se de repente viesse à tona uma

irritação antiga: — Impossível! Nunca você poderia calcular que

eu chegaria hoje, se acabo de desembarcar e ninguém está

informado da minha presença na cidade! Você é um farsante,

mau farsante. Certamente aplicou sua velha técnica e pôs espias

no meu encalço. De outro modo seria difícil descobrir, pois vivo

viajando, mudando de lugar e nome.

— Não sabia das suas viagens nem dos seus disfarces.

— Então, como fez para adivinhar a data da minha

chegada?

— Nada adivinhei. Apenas esperava a sua vinda. Há dois

anos, nesta cadeira, na mesma posição em que me encontro,

aguardava-o certo de que você viria.

Por instantes, calaram-se. Preparavam-se para golpes

mais fundos ou para desvendar o jogo em que se empenhavam.

Alexandre pensou em tomar a iniciativa do ataque,

convencido de que somente assim poderia desfazer a placidez

do adversário. Este, entretanto, percebeu-lhe a intenção e

antecipou-se:

— Antes que me dirija outras perguntas — e sei que tem

muitas a fazer-me — quero saber o que aconteceu com Ema.

— Nada — respondeu, procurando dar à voz um tom

despreocupado.

— Nada?

Alexandre percebeu a ironia e seus olhos encheram-se

de ódio e humilhação. Tentou revidar com um palavrão.

Todavia, a firmeza e a tranqüilidade que iam no rosto do outro

venceram-no.

— Abandonou-me — deixou escapar, constrangido pela

vergonha. E numa tentativa inútil de demonstrar um resto de

altivez, acrescentou: — Disso você não sabia!

Um leve clarão passou pelo olhar do homem idoso:

— Calculava, porém desejava ter certeza.

Começava a escurecer. Um silêncio pesado separava-os e ambos

volveram para certas reminiscências que, mesmo contra a

vontade deles, sempre os ligariam.

O velho guardou a arma. Dos seus lábios desaparecera o sorriso

irônico que conservara durante todo o diálogo. Acendeu um

cigarro e pensou em formular uma pergunta que, depois, ele

julgaria, desnecessária. Alexandre impediu que a fizesse.

Gesticulando, nervoso, aproximara-se da mesa:

— Seu caduco, não tem medo que eu aproveite a ocasião

para matá-lo. Quero ver sua coragem, agora, sem o revólver.

— Não, além de desarmado, você não veio aqui para

matar-me.

— O que está esperando, então?! — gritou Alexandre. —

Mate-me logo!

— Não posso.

— Não pode ou não quer?

— Estou impedido de fazê-lo. Para evitar essa tentação,

após tão longa espera, descarreguei toda a carga da arma no teto

da sala.

Alexandre olhou para cima e viu o forro crivado de balas.

Ficou confuso. Aos poucos, refazendo-se da surpresa,

abandonou-se ao desespero. Correu para uma das janelas e

tentou atirar-se através dela. Não a atravessou. Bateu com a

cabeça numa fina malha metálica e caiu desmaiado no chão.

Ao levantar-se, viu que o velho acabara de fechar a porta

e, por baixo dela, iria jogar a chave.

Lançou-se na direção dele, disposto a impedi-lo. Era

tarde. O outro já concluíra seu intento e divertia-se com o pânico

que se apossara do adversário:

— Eu esperava que você tentaria o suicídio e tomei

precaução de colocar telas de aço nas janelas.

A fúria de Alexandre chegara ao auge:

— Arrombarei a porta. Jamais me prenderão aqui!

— Inútil. Se tivesse reparado nela, saberia que também é

de aço. Troquei a antiga por esta.

— Gritarei, berrarei!

— Não lhe acudirão. Ninguém mais vem a este prédio.

Despedi os empregados, despejei os inquilinos.

E concluiu, a voz baixa, como se falasse apenas para si

mesmo:

— Aqui ficaremos: um ano, dez, cem ou mil anos.

biografiaMurilo Rubião

Murilo Rubião nasceu na cidade de Silvestre

Ferraz, hoje chamada de Carmo de Minas, em 1º de

junho de 1916. Era filho de escritores. A família

mudou-se para Belo Horizonte quando ele tinha

sete anos. Foi lá que ele viveu até o final de sua vida,

retirando-se para viver em Madri como adido junto

à Embaixada do Brasil na Espanha por quatro anos.

Foi jornalista, chefe de gabinete do governador

Juscelino Kubitschek e fundador, em 1966, do

Suplemento Literário do Minas Gerais.

Sua carreira do escritor inicia-se com a

publicação de seus poemas. Ele mesmo reconheceu

que não era um bom poeta e desiste do gênero.

Então em 1947, lançou seu primeiro livro de contos,

"O ex-mágico", que não teve maior repercussão na

época. No entanto, a publicação de "O pirotécnico

Zacarias", em 1974, deu súbita fama a Murilo Rubião.

Nos anos seguintes, sua obra passou a ser

vista como a mais significativa manifestação da

literatura fantástica no Brasil.

Murilo Rubião influenciou diversos autores

brasileiros, dentre eles, José J. Veiga e Moacyr

Scliar.

a armadilha

Page 8: Drageas literarias 000

Este mês, o entrevistado é Roberto

Prado Barbosa Junior, ou simplesmente

como é conhecido pelos blogueiros

Ranzinza. Ele fala de seu belo trabalho como

escritor. Roberto Prado, já publicou

dois livros pela CBJE, têm 54 anos, mora na

bela cidade de Santos, é funcionário público

e formado em Comunicação e Tecnologia.

Drágeas Literárias - De onde você é e a

quanto tempo escreve?

Roberto Prado - Sou, com muito orgulho, de

Santos. Sempre gostei de escrever e,

principalmente, de ler. Mas escrever,

escrever mesmo, acho que desde meus

dezessete anos. Pena ter perdido todo o

m a t e r i a l d a q u e l a é p o c a . T u d o

“datilografado”, mal datilografado, guardado

em pastas organizadas.

DL - Quanto tempo demorou para escrever e

distribuir o doidinho?

RP - O Doidinho começou com o nosso

primeiro blog, o Contos & Cultos em 2002

mais ou menos como uma brincadeira, a

necessidade de ter sempre um material para

postar, e quando dei por mim o livro estava

se formando, crescendo, nisso lá se vão

mais de dez anos.

Sobre a distribuição, não houve, como

não houve dos outros. Não tenho

conhecimento tampouco cacife para

arrumar uma vitrine numa livraria. Diferente

dos anteriores resolvi presentear os amigos

com o Doidinho. Mas até ai é foda. Difícil

presentear as pessoas com livros. Elas não

lêem, às pessoas a quem entreguei, só pedi

uma coisa em troca, que postassem no

facebook uma foto com o livro na mão. Vão

ao face e vejam quantas pessoas fizeram

isso. Somente duas, uma velha amiga, poeta

de mão cheia!, e minha tia. Por isso sempre

me pergunto: Escrever para quê? Se

ninguém lê!

DL - Como você desenvolveu seus

personagens?

RP - Muitas pessoas me perguntam isso.

Resposta? Não tenho a menor ideia. Eles se

escrevem praticamente sozinhos.

DL - Eles existem na vida real?

RP - Espero que não!

DL - Você pensa em fazer um novo livro

sobre o doidinho?

RP - Não.

DL - Quais outro livros você já escreveu?

RP - Dois de contos. Um chamado Gringa &

outras histórias e outro chamado Contos.

Participei de uma Antologia pela Editora

Pragmata chamado 'Sou Poeta com

Orgulho', um outro que era uma crônica de

memórias de uma amigo, e junto com o

Alexandre Costa, chamado Drágeas

L i terár ias. Eram pequenos contos

envelopados para presentear os amigos.

Teria sido um bom negócio e feito por uma

editora grande.

DL - Enfim, quais seus planos para o futuro?

RP - Envelhecer um pouco mais, com saúde,

dinheiro e um pulmão bom para continuar

fumando.

O ÚLTIMO CAFÉDO DIA

Sentando-se à mesa, o velho poeta

pede um café e acende um cigarro,

folheia erraticamente uma revista,

deixando seus olhos correrem por todas

as páginas, mas sem nada ler.

Seus pensamentos voam longe

deixando o corpo sonâmbulo, o café frio,

o cigarro queimando e a revista

desfolhada e amassada.

Ansioso, o garçom olha par o

relógio de cinco em cinco minutos

esperando a hora em que fechará o café.

O chão já esta varrido, os copos e xícaras

lavados, o lixo recolhido, no entanto, o

velho continua sentado com o olhar

perdido, esperando sabe Deus o quê.

No céu as primeiras estrelas

piscam suas luzes, na rua, os ônibus

lotados levam as pessoas de volta para

suas casas e, ele continua ali, esperando

o sujeito ir embora.

- Hoje perco a hora, o ônibus e a

minha novela. – resmunga para o velho

na mesa ouvir, mas nada acontece, pois

o velho agora começa a mexer o café frio

com uma colherzinha e acende outro

cigarro.

O garçom olha para a placa na

parede onde se lê “SÓ FECHAMOS

QUANDO O ÚLTIMO FREGUÊS SAIR"

- O último freguês pagante! –

completa rangendo os dentes.

O tempo passa e ele varre o chão

mais uma vez. Vê que na rua o caminhão

do lixo recolhe os sacos e latas deixadas

na calçada, nota também que os ônibus

agora passam mais vazios e velozes, as

ruas esvaziam, mas o velho na mesa

quatorze continua sentado.

- Pelo menos agora ele fumou um

cigarro inteiro! Fala o garçom para seu

reflexo na prateleira do bar.

Ele já não tem mais o que fazer.

Olha para o relógio, mas não há mais o

que limpar, e olha para o relógio de novo,

maos não há mais o que arrumar, e olha

para o relógio pela milésima vez. Coloca

as cadeiras sobre as mesas e põe-se a

apagar as luzes – olhando para o relógio

- pois assim, quem sabe, o velho se

levanta e vai embora.

Uma a uma, ele começa a apagar

as luzes até que falte apenas a luz sobre

a mesa com o velho. Ele exita um pouco

antes de se aproximar para pedir para o

velho se retirar. Mas encontra apenas

um cliente frio, duro e com os dedos

médio e indicador queimados pela brasa

do cigarro.

- Meu São Jorge, mas era só o que

me faltava hoje! – grita o garçom

jogando a vassoura contra a parede.

8 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 9

Roberto Prado

O C

ON

TO

A E

NT

RE

VIS

TA

Page 9: Drageas literarias 000

Este mês, o entrevistado é Roberto

Prado Barbosa Junior, ou simplesmente

como é conhecido pelos blogueiros

Ranzinza. Ele fala de seu belo trabalho como

escritor. Roberto Prado, já publicou

dois livros pela CBJE, têm 54 anos, mora na

bela cidade de Santos, é funcionário público

e formado em Comunicação e Tecnologia.

Drágeas Literárias - De onde você é e a

quanto tempo escreve?

Roberto Prado - Sou, com muito orgulho, de

Santos. Sempre gostei de escrever e,

principalmente, de ler. Mas escrever,

escrever mesmo, acho que desde meus

dezessete anos. Pena ter perdido todo o

m a t e r i a l d a q u e l a é p o c a . T u d o

“datilografado”, mal datilografado, guardado

em pastas organizadas.

DL - Quanto tempo demorou para escrever e

distribuir o doidinho?

RP - O Doidinho começou com o nosso

primeiro blog, o Contos & Cultos em 2002

mais ou menos como uma brincadeira, a

necessidade de ter sempre um material para

postar, e quando dei por mim o livro estava

se formando, crescendo, nisso lá se vão

mais de dez anos.

Sobre a distribuição, não houve, como

não houve dos outros. Não tenho

conhecimento tampouco cacife para

arrumar uma vitrine numa livraria. Diferente

dos anteriores resolvi presentear os amigos

com o Doidinho. Mas até ai é foda. Difícil

presentear as pessoas com livros. Elas não

lêem, às pessoas a quem entreguei, só pedi

uma coisa em troca, que postassem no

facebook uma foto com o livro na mão. Vão

ao face e vejam quantas pessoas fizeram

isso. Somente duas, uma velha amiga, poeta

de mão cheia!, e minha tia. Por isso sempre

me pergunto: Escrever para quê? Se

ninguém lê!

DL - Como você desenvolveu seus

personagens?

RP - Muitas pessoas me perguntam isso.

Resposta? Não tenho a menor ideia. Eles se

escrevem praticamente sozinhos.

DL - Eles existem na vida real?

RP - Espero que não!

DL - Você pensa em fazer um novo livro

sobre o doidinho?

RP - Não.

DL - Quais outro livros você já escreveu?

RP - Dois de contos. Um chamado Gringa &

outras histórias e outro chamado Contos.

Participei de uma Antologia pela Editora

Pragmata chamado 'Sou Poeta com

Orgulho', um outro que era uma crônica de

memórias de uma amigo, e junto com o

Alexandre Costa, chamado Drágeas

L i terár ias. Eram pequenos contos

envelopados para presentear os amigos.

Teria sido um bom negócio e feito por uma

editora grande.

DL - Enfim, quais seus planos para o futuro?

RP - Envelhecer um pouco mais, com saúde,

dinheiro e um pulmão bom para continuar

fumando.

O ÚLTIMO CAFÉDO DIA

Sentando-se à mesa, o velho poeta

pede um café e acende um cigarro,

folheia erraticamente uma revista,

deixando seus olhos correrem por todas

as páginas, mas sem nada ler.

Seus pensamentos voam longe

deixando o corpo sonâmbulo, o café frio,

o cigarro queimando e a revista

desfolhada e amassada.

Ansioso, o garçom olha par o

relógio de cinco em cinco minutos

esperando a hora em que fechará o café.

O chão já esta varrido, os copos e xícaras

lavados, o lixo recolhido, no entanto, o

velho continua sentado com o olhar

perdido, esperando sabe Deus o quê.

No céu as primeiras estrelas

piscam suas luzes, na rua, os ônibus

lotados levam as pessoas de volta para

suas casas e, ele continua ali, esperando

o sujeito ir embora.

- Hoje perco a hora, o ônibus e a

minha novela. – resmunga para o velho

na mesa ouvir, mas nada acontece, pois

o velho agora começa a mexer o café frio

com uma colherzinha e acende outro

cigarro.

O garçom olha para a placa na

parede onde se lê “SÓ FECHAMOS

QUANDO O ÚLTIMO FREGUÊS SAIR"

- O último freguês pagante! –

completa rangendo os dentes.

O tempo passa e ele varre o chão

mais uma vez. Vê que na rua o caminhão

do lixo recolhe os sacos e latas deixadas

na calçada, nota também que os ônibus

agora passam mais vazios e velozes, as

ruas esvaziam, mas o velho na mesa

quatorze continua sentado.

- Pelo menos agora ele fumou um

cigarro inteiro! Fala o garçom para seu

reflexo na prateleira do bar.

Ele já não tem mais o que fazer.

Olha para o relógio, mas não há mais o

que limpar, e olha para o relógio de novo,

maos não há mais o que arrumar, e olha

para o relógio pela milésima vez. Coloca

as cadeiras sobre as mesas e põe-se a

apagar as luzes – olhando para o relógio

- pois assim, quem sabe, o velho se

levanta e vai embora.

Uma a uma, ele começa a apagar

as luzes até que falte apenas a luz sobre

a mesa com o velho. Ele exita um pouco

antes de se aproximar para pedir para o

velho se retirar. Mas encontra apenas

um cliente frio, duro e com os dedos

médio e indicador queimados pela brasa

do cigarro.

- Meu São Jorge, mas era só o que

me faltava hoje! – grita o garçom

jogando a vassoura contra a parede.

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Roberto Prado

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Page 10: Drageas literarias 000

10 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 11

O realismo mágico é uma escola literária

surgida no início do século XX . Também é

conhecida por realismo fantástico ou realismo

maravilhoso, sendo este último nome utilizado

principalmente em espanhol.

É considerada a resposta latino-americana à

literatura fantástica européia. Entre seus principais

expoentes estão o colombiano Gabriel García

Márquez, Premio Nobel de Literatura, o peruano

Manuel Scorza em suas cinco novelas onde são

descritas as lutas do campesinato dos Andes

Centrais e os argentinos Julio Cortázar e Jorge

Luis Borges.

Muitos consideram o

venezuelano Arturo Uslar Pietri

o pai do realismo mágico. No

Brasil, destacam-se os nomes de

Murilo Rubião e José J. Veiga e

parte da obra de Dias Gomes.

O cubano Alejo Carpentier,

no prólogo de seu livro Reino

deste mundo, enquadra sua obra

no conce i to de rea l i smo

maravilhoso, definindo este como

semelhante ao conceito de

realismo mágico característico da

obra de Gabriel García Márquez,

sem, no entanto, confundir um

com o outro.

O realismo mágico se

desenvolveu fortemente nas

décadas de 1960 e 1970, como

produto de duas visões que

conviviam na América hispânica e

também no Brasil: a cultura da

tecnologia e a cultura da superstição. Surgiu

também como forma de reação, através da palavra,

contra os regimes ditatoriais deste período.

Este conceito pode ser definido como a

preocupação estilística e o interesse em mostrar o

irreal ou estranho como algo cotidiano e comum.

Não é uma expressão literária mágica: sua

finalidade é a de melhor expressar as emoções a

partir de, sobretudo, uma atitude específica frente à

realidade. Uma das obras mais representativas

deste estilo é Cem anos de solidão, de Gabriel

García Márquez.

Apesar de aparentemente desatento à

realidade, o realismo mágico compartilha algumas

características com o realismo épico, como a

intenção de dar verossimilhança interna ao

fantástico e ao irreal, diferenciando-se assim da

atitude niilista assumida originalmente pelas

vanguardas do início do século XX, como o

surrealismo.

Aspectos destacados do Realismo mágico

Os seguintes aspectos estão presentes em

muitos romances e contos do realismo mágico, mas

não necessariamente estão todos presentes em

todas as obras desta escola. Do mesmo modo, obras

pertencentes a outras escolas podem apresentar

algumas características dentre aquelas aqui

listadas:

- Conteúdo de elementos

m á g i c o s o u f a n t á s t i c o s

percebidos como parte da

" n o r m a l i d a d e " p e l o s

personagens;

- Elementos mágicos algumas

vezes intuitivos, mas nunca

explicados;

- Presença do sensorial como

parte da percepção da realidade;

- Os acontecimentos são reais

mas têm uma conotação, pois

alguns não têm explicação, ou é

m u i t o i m p r o v á v e l q u e

aconteçam;

- O tempo é percebido como

cíclico, como não linear,

seguindo tradições dissociadas

da racionalidade moderna;

- O tempo é distorcido, para que

o presente se repita ou se pareça com o passado;

- Transformação do comum e do cotidiano em uma

vivência que inclui experiências sobrenaturais ou

fantásticas;

- Preocupação estilística, partícipe de uma visão

estética da vida que não exclui a experiência do real.

Fonte: Wikipédia

Na página ao lado você pode ler um conto de realismo fantástico

de Alexandre Costa.

REALISMO FANTÁSTICO

Corbel toma um chá na cafeteria mais

famosa da cidade, enquanto Allura acorda entre

os braços de Lucida a alguns quilômetros dali.

O chá, ralo demais para seu paladar, é

deixado de lado, enquanto as meninas dividem o

chuveiro.

Nem as manhãs para ele, ou a noite para

elas, são capazes de evitar a fadiga de mais um dia

de trabalho; no entanto é preciso, e se preciso é,

preciso será feito, e ambos aceitam resignados

seus destinos.

Corbel olha no relógio e vê o tempo que

ainda pode desperdiçar, Allura sai do banho,

enquanto Lucida, quase pronta beija sua boca

com paixão. Ele imagina olhando para o movi-

mento na rua, que hoje encontrará alguém para

dividir e compartilhar a noite; elas saem apressa-

das pelas escadarias de olho no tempo que não

podem desperdiçar.

E se tudo pudesse ser colocado em um livro,

com certeza os três ficariam excitados com a

possibilidade de um encontro assim; e essa possi-

bilidade toma forma devagar e sorrateiramente,

enquanto Corbel decide ficar ali na cafeteria até

que o destino mostre sua cara.

A quilômetros dali, Lucida e Allura esperam

o mesmo para ambas, e decidem encarar o dia

como se o destino tivesse enviado a mesma men-

sagem para as duas.

E não há dor, nem há razão, nem há motivo

ou circunstância que desvie o efeito da causa, ou

do que está por vir. E assim acontece que tudo

está marcado desde sempre para se realizar.

Corbel espalha o olhar pela calçada, alcan-

çando o máximo possível de tudo e todos ao seu

redor. Lucida aponta para a cafeteria e senta-se a

mesa com Allura. No cardápio, o capuccino

chama atenção pelo preço e ambas decidem pelo

mesmo, mostrando um sorriso cúmplice.

Na mesa da frente, Corbel deixa escapar um

sorriso malicioso e discreto ao mesmo tempo.

Nos planos do destino, os três só sairiam

dali com a lua em suas cabeças e o desejo em seus

corpos.

O dia estava perdido, e estava ganho

também. E foi numa bobagem dita por alguém na

mesa, que se juntaram de vez.

E se essa história não estivesse num livro,

onde estaria? Se não estivesse nos três onde

estaria? Se não fosse tão banal e corriqueira, o

que seria? E feito óculos de sol, onde se vê sem ser

visto, o destino levou os três dali sem ao menos

perguntar se queriam sua companhia.

Nenhuma palavra foi dita no caminho nem

no tempo, nenhuma pergunta foi feita, pois

nenhuma resposta seria necessária.

Ao entrarem no apartamento, Corbel tirou

os sapatos e pisou no tapete vermelho da sala.

Lucida tirou a roupa enquanto Allura fechava a

porta. Lucida puxou-o com força de encontro a

sua boca e Allura arrancou sua camisa. Corbel

fechou os olhos e deitou-se no sofá. Lucida sen-

tou-se em seu colo e Allura foi buscar uma taça de

vinho na cozinha.

E os três pareciam apenas um no emara-

nhado de corpos quentes e suados; e os três

pensavam como um entre a loucura e a falta de

medo. Corbel entrava e saía de dentro das duas; e

os três aos gritos se saciavam um do outro.

Os corpos espalhados pelo tapete verme-

lho, não indicavam o fim daquela noite, não para

as duas mulheres. Corbel sentiu a boca de Lucida

em seu pescoço e, enquanto gritava e debatia-se

tentando em vão escapar das suas garras, sentiu

seus dentes afiados atingirem seu pescoço.

Allura segurou a cabeça de Corbel apoiada em

suas coxas e encheu a taça de vinho com seu

sangue.

Para sempre jovem, para sempre as duas,

para sempre o eterno destino que une a presa e o

predador. A taça de sangue estava cheia, o corpo

no tapete vermelho, vazio.

Nem todas as noites são assim, às vezes só o

sono mata a fome.

No tapete vermelhoAlexandre Costa

Page 11: Drageas literarias 000

10 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 11

O realismo mágico é uma escola literária

surgida no início do século XX . Também é

conhecida por realismo fantástico ou realismo

maravilhoso, sendo este último nome utilizado

principalmente em espanhol.

É considerada a resposta latino-americana à

literatura fantástica européia. Entre seus principais

expoentes estão o colombiano Gabriel García

Márquez, Premio Nobel de Literatura, o peruano

Manuel Scorza em suas cinco novelas onde são

descritas as lutas do campesinato dos Andes

Centrais e os argentinos Julio Cortázar e Jorge

Luis Borges.

Muitos consideram o

venezuelano Arturo Uslar Pietri

o pai do realismo mágico. No

Brasil, destacam-se os nomes de

Murilo Rubião e José J. Veiga e

parte da obra de Dias Gomes.

O cubano Alejo Carpentier,

no prólogo de seu livro Reino

deste mundo, enquadra sua obra

no conce i to de rea l i smo

maravilhoso, definindo este como

semelhante ao conceito de

realismo mágico característico da

obra de Gabriel García Márquez,

sem, no entanto, confundir um

com o outro.

O realismo mágico se

desenvolveu fortemente nas

décadas de 1960 e 1970, como

produto de duas visões que

conviviam na América hispânica e

também no Brasil: a cultura da

tecnologia e a cultura da superstição. Surgiu

também como forma de reação, através da palavra,

contra os regimes ditatoriais deste período.

Este conceito pode ser definido como a

preocupação estilística e o interesse em mostrar o

irreal ou estranho como algo cotidiano e comum.

Não é uma expressão literária mágica: sua

finalidade é a de melhor expressar as emoções a

partir de, sobretudo, uma atitude específica frente à

realidade. Uma das obras mais representativas

deste estilo é Cem anos de solidão, de Gabriel

García Márquez.

Apesar de aparentemente desatento à

realidade, o realismo mágico compartilha algumas

características com o realismo épico, como a

intenção de dar verossimilhança interna ao

fantástico e ao irreal, diferenciando-se assim da

atitude niilista assumida originalmente pelas

vanguardas do início do século XX, como o

surrealismo.

Aspectos destacados do Realismo mágico

Os seguintes aspectos estão presentes em

muitos romances e contos do realismo mágico, mas

não necessariamente estão todos presentes em

todas as obras desta escola. Do mesmo modo, obras

pertencentes a outras escolas podem apresentar

algumas características dentre aquelas aqui

listadas:

- Conteúdo de elementos

m á g i c o s o u f a n t á s t i c o s

percebidos como parte da

" n o r m a l i d a d e " p e l o s

personagens;

- Elementos mágicos algumas

vezes intuitivos, mas nunca

explicados;

- Presença do sensorial como

parte da percepção da realidade;

- Os acontecimentos são reais

mas têm uma conotação, pois

alguns não têm explicação, ou é

m u i t o i m p r o v á v e l q u e

aconteçam;

- O tempo é percebido como

cíclico, como não linear,

seguindo tradições dissociadas

da racionalidade moderna;

- O tempo é distorcido, para que

o presente se repita ou se pareça com o passado;

- Transformação do comum e do cotidiano em uma

vivência que inclui experiências sobrenaturais ou

fantásticas;

- Preocupação estilística, partícipe de uma visão

estética da vida que não exclui a experiência do real.

Fonte: Wikipédia

Na página ao lado você pode ler um conto de realismo fantástico

de Alexandre Costa.

REALISMO FANTÁSTICO

Corbel toma um chá na cafeteria mais

famosa da cidade, enquanto Allura acorda entre

os braços de Lucida a alguns quilômetros dali.

O chá, ralo demais para seu paladar, é

deixado de lado, enquanto as meninas dividem o

chuveiro.

Nem as manhãs para ele, ou a noite para

elas, são capazes de evitar a fadiga de mais um dia

de trabalho; no entanto é preciso, e se preciso é,

preciso será feito, e ambos aceitam resignados

seus destinos.

Corbel olha no relógio e vê o tempo que

ainda pode desperdiçar, Allura sai do banho,

enquanto Lucida, quase pronta beija sua boca

com paixão. Ele imagina olhando para o movi-

mento na rua, que hoje encontrará alguém para

dividir e compartilhar a noite; elas saem apressa-

das pelas escadarias de olho no tempo que não

podem desperdiçar.

E se tudo pudesse ser colocado em um livro,

com certeza os três ficariam excitados com a

possibilidade de um encontro assim; e essa possi-

bilidade toma forma devagar e sorrateiramente,

enquanto Corbel decide ficar ali na cafeteria até

que o destino mostre sua cara.

A quilômetros dali, Lucida e Allura esperam

o mesmo para ambas, e decidem encarar o dia

como se o destino tivesse enviado a mesma men-

sagem para as duas.

E não há dor, nem há razão, nem há motivo

ou circunstância que desvie o efeito da causa, ou

do que está por vir. E assim acontece que tudo

está marcado desde sempre para se realizar.

Corbel espalha o olhar pela calçada, alcan-

çando o máximo possível de tudo e todos ao seu

redor. Lucida aponta para a cafeteria e senta-se a

mesa com Allura. No cardápio, o capuccino

chama atenção pelo preço e ambas decidem pelo

mesmo, mostrando um sorriso cúmplice.

Na mesa da frente, Corbel deixa escapar um

sorriso malicioso e discreto ao mesmo tempo.

Nos planos do destino, os três só sairiam

dali com a lua em suas cabeças e o desejo em seus

corpos.

O dia estava perdido, e estava ganho

também. E foi numa bobagem dita por alguém na

mesa, que se juntaram de vez.

E se essa história não estivesse num livro,

onde estaria? Se não estivesse nos três onde

estaria? Se não fosse tão banal e corriqueira, o

que seria? E feito óculos de sol, onde se vê sem ser

visto, o destino levou os três dali sem ao menos

perguntar se queriam sua companhia.

Nenhuma palavra foi dita no caminho nem

no tempo, nenhuma pergunta foi feita, pois

nenhuma resposta seria necessária.

Ao entrarem no apartamento, Corbel tirou

os sapatos e pisou no tapete vermelho da sala.

Lucida tirou a roupa enquanto Allura fechava a

porta. Lucida puxou-o com força de encontro a

sua boca e Allura arrancou sua camisa. Corbel

fechou os olhos e deitou-se no sofá. Lucida sen-

tou-se em seu colo e Allura foi buscar uma taça de

vinho na cozinha.

E os três pareciam apenas um no emara-

nhado de corpos quentes e suados; e os três

pensavam como um entre a loucura e a falta de

medo. Corbel entrava e saía de dentro das duas; e

os três aos gritos se saciavam um do outro.

Os corpos espalhados pelo tapete verme-

lho, não indicavam o fim daquela noite, não para

as duas mulheres. Corbel sentiu a boca de Lucida

em seu pescoço e, enquanto gritava e debatia-se

tentando em vão escapar das suas garras, sentiu

seus dentes afiados atingirem seu pescoço.

Allura segurou a cabeça de Corbel apoiada em

suas coxas e encheu a taça de vinho com seu

sangue.

Para sempre jovem, para sempre as duas,

para sempre o eterno destino que une a presa e o

predador. A taça de sangue estava cheia, o corpo

no tapete vermelho, vazio.

Nem todas as noites são assim, às vezes só o

sono mata a fome.

No tapete vermelhoAlexandre Costa

Page 12: Drageas literarias 000

SEU AMIGO NOS DIAS DE SOLA COLOR & FASHION AJUDA VOCÊ A CRIAR SEU ESTILO

Page 13: Drageas literarias 000

SEU AMIGO NOS DIAS DE SOLA COLOR & FASHION AJUDA VOCÊ A CRIAR SEU ESTILO

Page 14: Drageas literarias 000

14 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 15

Sparce NotesJust a little bit of sunshine

Rodrigo LopesLead Technical Architectat Transport for Londonand Internet Entrepreneur

Londres | England

It’s quarter to elevenI hear its noise with a smile on my faceit might be today

São quinze para as onzeEu ouço o seu som com um sorrisoem meu rostotalvez seja hoje

ust a little moment of solitudeand I was magically whisked away.In the clouds the contour of past lives

Só um momento de solidãoe como mágica fui transportado.Nas nuvens o contorno de vidas passadas

Behind that doorthe dawn of 153 new worldsfrom red to white light

Atrás daquela portao amanhecer de 153 novos mundosde vermelho à luz branca

A hand bookmadefabrica e distribuia sua embalageme a sua marca

Page 15: Drageas literarias 000

14 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 15

Sparce NotesJust a little bit of sunshine

Rodrigo LopesLead Technical Architectat Transport for Londonand Internet Entrepreneur

Londres | England

It’s quarter to elevenI hear its noise with a smile on my faceit might be today

São quinze para as onzeEu ouço o seu som com um sorrisoem meu rostotalvez seja hoje

ust a little moment of solitudeand I was magically whisked away.In the clouds the contour of past lives

Só um momento de solidãoe como mágica fui transportado.Nas nuvens o contorno de vidas passadas

Behind that doorthe dawn of 153 new worldsfrom red to white light

Atrás daquela portao amanhecer de 153 novos mundosde vermelho à luz branca

A hand bookmadefabrica e distribuia sua embalageme a sua marca

Page 16: Drageas literarias 000

16 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 17

Quadra colaborativa

minha vida tá um caos.

vou ver o que o google

me aconselha! 101101010110111010110

01010110101110110001

TRADUZINDO...

DIAS PIORES

VIRÃO!!!

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

JORGE, VIM AQUI LHE DIZER

QUE VOU CORTAR GASTOS

NA EMPRESA!

ISSO É MUITO BOM CHEFE,

PRECISAMOS ECONOMIZAR!

E O QUE VAMOS CORTAR?

O SEU EMPREGO!

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ROBERTO PRADO

MEU DEUS! ME MATEI DE

ESTUDAR PRA ESSE CONCURSO...

ME ACABEI FAZENDO CURSOS

PRA CRESCER AQUI...E o tempo de aposentar

não chega nunca!

Page 17: Drageas literarias 000

16 | drágeasliterárias drágeasliterárias | 17

Quadra colaborativa

minha vida tá um caos.

vou ver o que o google

me aconselha! 101101010110111010110

01010110101110110001

TRADUZINDO...

DIAS PIORES

VIRÃO!!!

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

JORGE, VIM AQUI LHE DIZER

QUE VOU CORTAR GASTOS

NA EMPRESA!

ISSO É MUITO BOM CHEFE,

PRECISAMOS ECONOMIZAR!

E O QUE VAMOS CORTAR?

O SEU EMPREGO!

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ROBERTO PRADO

MEU DEUS! ME MATEI DE

ESTUDAR PRA ESSE CONCURSO...

ME ACABEI FAZENDO CURSOS

PRA CRESCER AQUI...E o tempo de aposentar

não chega nunca!

Page 18: Drageas literarias 000

Degustação...CAFÉ IRLANDÊS

Tempo de Preparo: 10min

Ingredientes*3/4 a 1 xícara de chá de café forte preparado*1 cálice de uísque*1 colher de chá de açúcar*1 colher de sopa de creme de chantilly

Modo de preparo:1.Misturar o café, o uísque e o açúcar em uma caneca ou copo 2.Levar ao microondas por 1 a 2 minutos na potência alta, para aquecer 3.Acrescentar o chantilly

Recomenda-se a leitura de Ulisses de James Joyce, ou não, pois há nas cafeterias opções de jornais com desgraças diárias, caras sorridentes e outras misérias impressas, mas se o leitor for um sortudo, mesas nas ruas para se fumar um cigarro em paz.

18 | drágeasliterárias

As primeiras linhas são as piores, as mais doídas. É nessa primeira linha que os neurônios mostram a que vieram, as sinapses desenferrujam e, para o bem ou para mal, fisga o leitor. Há muito tempo li – e depois disso o releio todos os anos – Paris é uma Festa de Ernest Hemingway, onde ele descreve seus dias de jovem escritor numa Paris que não existe mais. Inverno, duro cinzento e faminto.Mas o que me encantou nesse livro, foisua descrição do café onde ele se abrigava do frio cortante, com um bloquinho, um lápis e uma fumegante xícara de café. Antes que algum desafeto venha a contrariar esse texto, admito que ele também tomava um conhaque, que acompanha muito bem essa bebida milenar. Apaixonado por esse livro/diário, alguns anos depois fui à França. Era janeiro e inverno, andei pelas ruas onde ele perambulou. La Closerie des Lilas, Café les Deux Magots, Café de Flore, onde tirei uma foto na porta (se acharmos publicamos para ilustrar e mostrar que isso é verdade!). Era muito caro tomar um mísero café ali, e vejam só, quando fui lá a moeda era o humilde e charmoso franco, nada de euro. Café e livros - aqui, para eterno desgosto de nosso Editor, acrescento para meu exclusivo prazer, um cigarrinho. Como a vida com tal companhia pode ser ótima. Então, caro leitor, dedique alguns minutos a você mesmo, pegue um livro, quiçá nossa revista, sente-se à mesa de uma cafeteria, peça um espresso e deixe-se levar. Garanto a vocês que será uma viagem daquelas.

Roberto PradoEscritor e cronista

Minha relação com Hemingway

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Degustação...CAFÉ IRLANDÊS

Tempo de Preparo: 10min

Ingredientes*3/4 a 1 xícara de chá de café forte preparado*1 cálice de uísque*1 colher de chá de açúcar*1 colher de sopa de creme de chantilly

Modo de preparo:1.Misturar o café, o uísque e o açúcar em uma caneca ou copo 2.Levar ao microondas por 1 a 2 minutos na potência alta, para aquecer 3.Acrescentar o chantilly

Recomenda-se a leitura de Ulisses de James Joyce, ou não, pois há nas cafeterias opções de jornais com desgraças diárias, caras sorridentes e outras misérias impressas, mas se o leitor for um sortudo, mesas nas ruas para se fumar um cigarro em paz.

18 | drágeasliterárias

As primeiras linhas são as piores, as mais doídas. É nessa primeira linha que os neurônios mostram a que vieram, as sinapses desenferrujam e, para o bem ou para mal, fisga o leitor. Há muito tempo li – e depois disso o releio todos os anos – Paris é uma Festa de Ernest Hemingway, onde ele descreve seus dias de jovem escritor numa Paris que não existe mais. Inverno, duro cinzento e faminto.Mas o que me encantou nesse livro, foisua descrição do café onde ele se abrigava do frio cortante, com um bloquinho, um lápis e uma fumegante xícara de café. Antes que algum desafeto venha a contrariar esse texto, admito que ele também tomava um conhaque, que acompanha muito bem essa bebida milenar. Apaixonado por esse livro/diário, alguns anos depois fui à França. Era janeiro e inverno, andei pelas ruas onde ele perambulou. La Closerie des Lilas, Café les Deux Magots, Café de Flore, onde tirei uma foto na porta (se acharmos publicamos para ilustrar e mostrar que isso é verdade!). Era muito caro tomar um mísero café ali, e vejam só, quando fui lá a moeda era o humilde e charmoso franco, nada de euro. Café e livros - aqui, para eterno desgosto de nosso Editor, acrescento para meu exclusivo prazer, um cigarrinho. Como a vida com tal companhia pode ser ótima. Então, caro leitor, dedique alguns minutos a você mesmo, pegue um livro, quiçá nossa revista, sente-se à mesa de uma cafeteria, peça um espresso e deixe-se levar. Garanto a vocês que será uma viagem daquelas.

Roberto PradoEscritor e cronista

Minha relação com Hemingway

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