Drageas literarias 001

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A20012016 POR QUE AMAMOS CAFÉ " BIOGRAFIA" CLARICE LISPECTOR " UMA GALINHA" CLARICE LISPECTOR CLABORADORES "QUE DOMINGO ENSOLARADO" MARIA APARECIDA SOARES FERREIRA "SPARCE NOTES" RODRIGO LOPES

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A20

0120

16

POR QUE AMAMOS CAFÉ

" BIOGRAFIA" CLARICE LISPECTOR

" UMA GALINHA" CLARICE LISPECTOR

CLABORADORES

"QUE DOMINGO ENSOLARADO" MARIA APARECIDA SOARES FERREIRA

"SPARCE NOTES" RODRIGO LOPES

Page 2: Drageas literarias 001

+ qualidade sonora

+ horas de áudio

+ dias de felicidade

Page 3: Drageas literarias 001

+ qualidade sonora

+ horas de áudio

+ dias de felicidade

Page 4: Drageas literarias 001

Quando se afirma que o café é a

bebida mais popular em território

verde-amarelo, acredite, não é

mera força de expressão. Na

Pesquisa de Orçamentos

Familiares divulgada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), foi

constatado que o brasileiro toma

de 4 a 5 xícaras todos os dias, o

que leva o líquido à base do fruto

do cafeeiro a liderar a lista que

avalia a média de consumo per

capita de vários alimentos. Só para

ter uma ideia, o feijão e o arroz,

outros itens comuns à nossa mesa,

ficaram em segundo e terceiro lugar,

respectivamente. No resto do mundo, o

consumo também surpreende. Enquanto

aqui cada pessoa ingere cerca de 6 quilos do

grão por ano, em países nórdicos, como

Finlândia, Noruega e Dinamarca, esse número

chega aos 13 quilos anuais. Aqueles que cultivam

esse hábito mandam para dentro do organismo uma

série de substâncias. Entre elas sobressai a cafeína, célebre

por sua ação estimulante. Mas o que aparece em maior

quantidade no pequeno grão são os ácidos clorogênicos,

compostos antioxidantes. A xícara ainda concentra vitamina B3 e

minerais como potássio, manganês e ferro. Tal combinação vem à tona

constantemente nos laboratórios de cientistas planeta afora. No universo

das pipetas e buretas, ela não é uma unanimidade. "Porém, a maioria dos

estudos confirma seus benefícios", diz Adriana Farah, cientista do Núcleo

de Pesquisa em Café Professor Luiz Carlos Trugo, da Universidade Federal

do Rio de Janeiro (UFRJ). Fato é que o pretinho básico de todas as manhãs

segue gerando contradições - as mais curiosas você conhece a seguir.

drágeas 5literárias *

sumárioPOR QUE AMAMOS CAFÉ - 5

" BIOGRAFIA" CLARICE LISPECTOR - 8

" UMA GALINHA" CLARICE LISPECTOR - 12

DRÁGEAS LITERÁRIAS

" OS AMORES E SUAS DORES" ROBERTO PRADO - 14

CLABORADORES

"QUE DOMINGO ENSOLARADO" MARIA APARECIDA SOARES FERREIRA - 16

"SPARCE NOTES" RODRIGO LOPES

HAICAS DE ROBERTO PRADO - 17

MICROTEXTO

" A TRAVESSIA: A INCRÍVEL JORNADA DE DOUGLAS WALTON" ALEXANDRE COSTA - 18

PARA LER SEM PRESSA

DICA DOS MELHORES LIVROS PARA LER - 20

QUADRINHOS COLABORATIVOS - 21

CRÔNICAS DO PRADO - 22

MICROCONTOS - 23

GUIA DE CAFÉS DO BRASIL - 26

Revista Drágeas Literárias | n. 001 | Ano I | 2016

Arte, editoração, design, criação: Alexandre Costa

Conteúdo programático: Roberto Prado

O café proporciona benefícios ao bebermosde 3 a 4 xícaras por dia

Page 5: Drageas literarias 001

Quando se afirma que o café é a

bebida mais popular em território

verde-amarelo, acredite, não é

mera força de expressão. Na

Pesquisa de Orçamentos

Familiares divulgada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), foi

constatado que o brasileiro toma

de 4 a 5 xícaras todos os dias, o

que leva o líquido à base do fruto

do cafeeiro a liderar a lista que

avalia a média de consumo per

capita de vários alimentos. Só para

ter uma ideia, o feijão e o arroz,

outros itens comuns à nossa mesa,

ficaram em segundo e terceiro lugar,

respectivamente. No resto do mundo, o

consumo também surpreende. Enquanto

aqui cada pessoa ingere cerca de 6 quilos do

grão por ano, em países nórdicos, como

Finlândia, Noruega e Dinamarca, esse número

chega aos 13 quilos anuais. Aqueles que cultivam

esse hábito mandam para dentro do organismo uma

série de substâncias. Entre elas sobressai a cafeína, célebre

por sua ação estimulante. Mas o que aparece em maior

quantidade no pequeno grão são os ácidos clorogênicos,

compostos antioxidantes. A xícara ainda concentra vitamina B3 e

minerais como potássio, manganês e ferro. Tal combinação vem à tona

constantemente nos laboratórios de cientistas planeta afora. No universo

das pipetas e buretas, ela não é uma unanimidade. "Porém, a maioria dos

estudos confirma seus benefícios", diz Adriana Farah, cientista do Núcleo

de Pesquisa em Café Professor Luiz Carlos Trugo, da Universidade Federal

do Rio de Janeiro (UFRJ). Fato é que o pretinho básico de todas as manhãs

segue gerando contradições - as mais curiosas você conhece a seguir.

drágeas 5literárias *

sumárioPOR QUE AMAMOS CAFÉ - 5

" BIOGRAFIA" CLARICE LISPECTOR - 8

" UMA GALINHA" CLARICE LISPECTOR - 12

DRÁGEAS LITERÁRIAS

" OS AMORES E SUAS DORES" ROBERTO PRADO - 14

CLABORADORES

"QUE DOMINGO ENSOLARADO" MARIA APARECIDA SOARES FERREIRA - 16

"SPARCE NOTES" RODRIGO LOPES

HAICAS DE ROBERTO PRADO - 17

MICROTEXTO

" A TRAVESSIA: A INCRÍVEL JORNADA DE DOUGLAS WALTON" ALEXANDRE COSTA - 18

PARA LER SEM PRESSA

DICA DOS MELHORES LIVROS PARA LER - 20

QUADRINHOS COLABORATIVOS - 21

CRÔNICAS DO PRADO - 22

MICROCONTOS - 23

GUIA DE CAFÉS DO BRASIL - 26

Revista Drágeas Literárias | n. 001 | Ano I | 2016

Arte, editoração, design, criação: Alexandre Costa

Conteúdo programático: Roberto Prado

O café proporciona benefícios ao bebermosde 3 a 4 xícaras por dia

Page 6: Drageas literarias 001

gera estímulos cerebrais, especialmente nas áreas que controlam as atividades

motoras e o sono, explica a nutricionista Camila Leonel, da Universidade

Federal de São Paulo. Para um paciente com Parkinson, doença caracterizada

por tremores no corpo, é de supor que a cafeína piore o quadro, certo?

Errado. Em estudo realizado no Instituto de Pesquisa da Universidade McGill,

no Canadá, observou-se que ela ameniza o sintoma. Para chegar ao achado,

os cientistas acompanharam 61 pacientes. Enquanto

uma parte recebeu placebo, uma pílula inócua,

a outra ganhou uma cápsula com 100

miligramas de cafeína duas vezes ao dia,

por três semanas. Nos 21 dias seguintes, o

valor passou para 200 miligramas - dose

encontrada em cerca de 2 xícaras de

café. A melhora motora entre aqueles

que ingeriram a substância foi

semelhante à de remédios indicados na

fase inicial da doença, comenta o

neurologista Renato Puppi, coordenador

da Associação Paranaense dos Portadores

de Parkinsonismo, em Curitiba, e um dos

autores do trabalho.

Dor de cabeça

Está aí um tópico que rende pano para mangas.

Geralmente, a confusão começa com a dificuldade

de estabelecer se a bebida é realmente o estopim da

dor de cabeça ou se as pessoas que sentem o incômodo a

veem como válvula de escape. Para esclarecer a dúvida,

diminua aos poucos a ingestão de cafeína, até tirá-la da dieta,

recomenda a pesquisadora Adriana Farah, da UFrj. Lembre-se de

que alguns chás e refrigerantes também carregam a substância. Daí,

se a dor não sumir, procure um médico. Em muitos casos, a cafeína é a

salvação. Prova disso é que está na fórmula de analgésicos. Algumas

cefaleias são caracterizadas pela vasodilatação cerebral. Por deixar os vasos

mais estreitos, a cafeína pode atuar como coadjuvante no tratamento, justifica

a especialista.

Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/saude/saude/o-cafe-faz-bem-ou-mal-para-a-saude

Fertilidade

Segundo cientistas do Hospital Universitário Aarhus, na Dinamarca, mais de

cinco doses diárias de café reduzem em 50% a chance de sucesso no

tratamento de fertilização.

Câncer de pele

Depois de acompanhar mais de 110 mil pessoas por 20 anos,

esquisadores da Universidade Harvard, nos Estados

Unidos, descobriram que o café está

inversamente associado ao tipo mais comum

de tumor de pele. "Qualquer alimento

antioxidante, caso do café, pode auxiliar na

prevenção. Mas é cedo para indicá-lo com

essa finalidade", analisa a dermatologista

Flávia Addor, da Sociedade Brasileira de

Dermatologia.

Expectativa de vida

Uma investigação do Instituto Nacional do

Câncer, nos Estados Unidos, mostra que

beber de 3 a 4 xícaras faz você viver mais. O

ganho na expectativa de vida é de 10% para

homens e 13% para mulheres.

Problemas no coração

As pesquisas que se dedicaram a analisar a relação

entre o café e a incidência de insuficiência cardíaca -

condição em que o coração não consegue bombear

quantidade suficiente de sangue para o corpo - sempre

geraram dados discrepantes. Intrigada, a pesquisadora

Elizabeth Mostofsky, da Escola de Saúde Pública da Universidade

Harvard, nos Estados Unidos, decidiu conduzir uma revisão sobre o

tema. Nela, foram avaliados mais de 140 mil indivíduos, dos quais 6 522

mil tiveram o mal. Percebemos que quatro doses diárias de café

diminuíram em até 11% o risco de ter o problema, conta a cientista. Os

compostos bioativos da bebida - o destaque vai para os antioxidantes -

provavelmente estão por trás da benesse. Ao afastar o diabete tipo 2, eles

também protegeriam contra essa doença cardíaca, raciocina.

Tremores do Parkinson

Quantas vezes você já ouviu alguém alegar que está mais acelerado porque

bebeu café? Isso acontece por causa da cafeína. A exposição à substância

drágeas 7literárias *6 drágeasliterárias*

Page 7: Drageas literarias 001

gera estímulos cerebrais, especialmente nas áreas que controlam as atividades

motoras e o sono, explica a nutricionista Camila Leonel, da Universidade

Federal de São Paulo. Para um paciente com Parkinson, doença caracterizada

por tremores no corpo, é de supor que a cafeína piore o quadro, certo?

Errado. Em estudo realizado no Instituto de Pesquisa da Universidade McGill,

no Canadá, observou-se que ela ameniza o sintoma. Para chegar ao achado,

os cientistas acompanharam 61 pacientes. Enquanto

uma parte recebeu placebo, uma pílula inócua,

a outra ganhou uma cápsula com 100

miligramas de cafeína duas vezes ao dia,

por três semanas. Nos 21 dias seguintes, o

valor passou para 200 miligramas - dose

encontrada em cerca de 2 xícaras de

café. A melhora motora entre aqueles

que ingeriram a substância foi

semelhante à de remédios indicados na

fase inicial da doença, comenta o

neurologista Renato Puppi, coordenador

da Associação Paranaense dos Portadores

de Parkinsonismo, em Curitiba, e um dos

autores do trabalho.

Dor de cabeça

Está aí um tópico que rende pano para mangas.

Geralmente, a confusão começa com a dificuldade

de estabelecer se a bebida é realmente o estopim da

dor de cabeça ou se as pessoas que sentem o incômodo a

veem como válvula de escape. Para esclarecer a dúvida,

diminua aos poucos a ingestão de cafeína, até tirá-la da dieta,

recomenda a pesquisadora Adriana Farah, da UFrj. Lembre-se de

que alguns chás e refrigerantes também carregam a substância. Daí,

se a dor não sumir, procure um médico. Em muitos casos, a cafeína é a

salvação. Prova disso é que está na fórmula de analgésicos. Algumas

cefaleias são caracterizadas pela vasodilatação cerebral. Por deixar os vasos

mais estreitos, a cafeína pode atuar como coadjuvante no tratamento, justifica

a especialista.

Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/saude/saude/o-cafe-faz-bem-ou-mal-para-a-saude

Fertilidade

Segundo cientistas do Hospital Universitário Aarhus, na Dinamarca, mais de

cinco doses diárias de café reduzem em 50% a chance de sucesso no

tratamento de fertilização.

Câncer de pele

Depois de acompanhar mais de 110 mil pessoas por 20 anos,

esquisadores da Universidade Harvard, nos Estados

Unidos, descobriram que o café está

inversamente associado ao tipo mais comum

de tumor de pele. "Qualquer alimento

antioxidante, caso do café, pode auxiliar na

prevenção. Mas é cedo para indicá-lo com

essa finalidade", analisa a dermatologista

Flávia Addor, da Sociedade Brasileira de

Dermatologia.

Expectativa de vida

Uma investigação do Instituto Nacional do

Câncer, nos Estados Unidos, mostra que

beber de 3 a 4 xícaras faz você viver mais. O

ganho na expectativa de vida é de 10% para

homens e 13% para mulheres.

Problemas no coração

As pesquisas que se dedicaram a analisar a relação

entre o café e a incidência de insuficiência cardíaca -

condição em que o coração não consegue bombear

quantidade suficiente de sangue para o corpo - sempre

geraram dados discrepantes. Intrigada, a pesquisadora

Elizabeth Mostofsky, da Escola de Saúde Pública da Universidade

Harvard, nos Estados Unidos, decidiu conduzir uma revisão sobre o

tema. Nela, foram avaliados mais de 140 mil indivíduos, dos quais 6 522

mil tiveram o mal. Percebemos que quatro doses diárias de café

diminuíram em até 11% o risco de ter o problema, conta a cientista. Os

compostos bioativos da bebida - o destaque vai para os antioxidantes -

provavelmente estão por trás da benesse. Ao afastar o diabete tipo 2, eles

também protegeriam contra essa doença cardíaca, raciocina.

Tremores do Parkinson

Quantas vezes você já ouviu alguém alegar que está mais acelerado porque

bebeu café? Isso acontece por causa da cafeína. A exposição à substância

drágeas 7literárias *6 drágeasliterárias*

Page 8: Drageas literarias 001

drágeas 9literárias *

Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de

dezembro de 1920, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira

filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a

viagem de emigração da família em direção à América. Aos dois anos,

seu pai consegue, em Bucareste, um passaporte para toda a família no

consulado da Rússia. Era fevereiro quando foram para a Alemanha e, no

porto de Hamburgo, embarcam no navio "Cuyaba" com destino ao

Brasil. Chegam a Maceió em março desse ano, sendo recebidos por

Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin, que viabilizara a

entrada da biografada e de sua família no Brasil mediante uma "carta de

chamada". Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania — irmã, todos

mudam de nome: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia —

irmã, Elisa; e Haia, em Clarice. Pedro passa a trabalhar com Rabin, já um

próspero comerciante.

A família muda-se para Recife, Pernambuco, onde Pedro

pretende construir uma nova vida. A doença de sua mãe, Marieta, que

ficou paralítica, faz com que sua irmã Elisa se dedique a cuidar de todos

e da casa.

Em 1928 passa a freqüentar o Grupo Escolar João Barbalho,

naquela cidade, onde aprende a ler. Durante sua infância a família

passou por sérias crises financeiras. Anos depois inscreve-se para o

exame de admissão no Ginásio Pernambucano. Já escrevia suas

historinhas, todas recusadas pelo Diário de Pernambuco, que àquela

época dedicava uma página às composições infantis. Isso se devia ao

fato de que, ao contrário das outras crianças, as histórias de Clarice não

tinham enredo e fatos — apenas sensações.

Pedro, pai de Clarice, em Dezembro de 1934, decide transferir-se

para a cidade do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, inicia seus estudos

na Faculdade Nacional de Direito. Faz traduções de textos científicos

para revistas em um laboratório onde trabalha como secretária.

Trabalha, também como secretária, em um escritório de advocacia.

Seu conto, Triunfo, é publicado em 25 de maio de 1940 no

semanário "Pan", de Tasso da Silveira. Em outubro desse ano, é

publicado na revista "Vamos Ler!", editada por Raymundo Magalhães

Júnior, o conto Eu e Jimmy. Clarice ganha o lugar de redatora e repórter

da Agência Nacional. Inicia-se, ai, sua carreira de jornalista. Em 1942,

escreve seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.

**

biografiaClarice Lispector

8 drágeasliterárias*

Page 9: Drageas literarias 001

drágeas 9literárias *

Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de

dezembro de 1920, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira

filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a

viagem de emigração da família em direção à América. Aos dois anos,

seu pai consegue, em Bucareste, um passaporte para toda a família no

consulado da Rússia. Era fevereiro quando foram para a Alemanha e, no

porto de Hamburgo, embarcam no navio "Cuyaba" com destino ao

Brasil. Chegam a Maceió em março desse ano, sendo recebidos por

Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin, que viabilizara a

entrada da biografada e de sua família no Brasil mediante uma "carta de

chamada". Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania — irmã, todos

mudam de nome: o pai passa a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia —

irmã, Elisa; e Haia, em Clarice. Pedro passa a trabalhar com Rabin, já um

próspero comerciante.

A família muda-se para Recife, Pernambuco, onde Pedro

pretende construir uma nova vida. A doença de sua mãe, Marieta, que

ficou paralítica, faz com que sua irmã Elisa se dedique a cuidar de todos

e da casa.

Em 1928 passa a freqüentar o Grupo Escolar João Barbalho,

naquela cidade, onde aprende a ler. Durante sua infância a família

passou por sérias crises financeiras. Anos depois inscreve-se para o

exame de admissão no Ginásio Pernambucano. Já escrevia suas

historinhas, todas recusadas pelo Diário de Pernambuco, que àquela

época dedicava uma página às composições infantis. Isso se devia ao

fato de que, ao contrário das outras crianças, as histórias de Clarice não

tinham enredo e fatos — apenas sensações.

Pedro, pai de Clarice, em Dezembro de 1934, decide transferir-se

para a cidade do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, inicia seus estudos

na Faculdade Nacional de Direito. Faz traduções de textos científicos

para revistas em um laboratório onde trabalha como secretária.

Trabalha, também como secretária, em um escritório de advocacia.

Seu conto, Triunfo, é publicado em 25 de maio de 1940 no

semanário "Pan", de Tasso da Silveira. Em outubro desse ano, é

publicado na revista "Vamos Ler!", editada por Raymundo Magalhães

Júnior, o conto Eu e Jimmy. Clarice ganha o lugar de redatora e repórter

da Agência Nacional. Inicia-se, ai, sua carreira de jornalista. Em 1942,

escreve seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.

**

biografiaClarice Lispector

8 drágeasliterárias*

Page 10: Drageas literarias 001

As inúmeras e profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia

em depressão, apesar de todo o apoio recebido de seus amigos.

Em 1967 lança o livro infantil O mistério do coelho pensante, pela

José Álvaro Editor. Em maio do ano seguinte, o livro é agraciado com a

"Ordem do Calunga", concedido pela Campanha Nacional da Criança.

Em 1971 publica a coletânea de contos Felicidade clandestina,

volume que inclui O ovo e a galinha, escrito sob o impacto da morte do

bandido Mineirinho, assassinado pela polícia com treze tiros, no Rio de

Janeiro.

Dois anos depois, em 1973 publica o romance Água viva, após três

anos de elaboração, pela Editora Artenova, que lançaria também, nesse

ano, A imitação da rosa, quinze contos já publicados anteriormente em

outras coletâneas. Alberto Dines, em carta à escritora, diz sobre Água

viva: "[...] É menos um livro-carta e, muito mais, um livro música. Acho

que você escreveu uma sinfonia".

Para manter seu nível de renda, aumenta sua atividade como

tradutora. Verte, entre outros, "O retrato de Dorian Gray", de Oscar

Wilde, adaptado para o público juvenil, pela Ediouro.

Seu filho Paulo casa-se com Ilana Kauffmann em 1976.

Clarice grava depoimento no Museu da Imagem e do Som, no Rio

de Janeiro, em outubro, conduzido por Affonso Romano de Sant'Anna,

Marina Colasanti e por João Salgueiro, diretor do MIS.

Enquanto escreve A hora da estrela com a a ajuda da amiga Olga,

toma notas para o novo romance, Um sopro de vida.

Vai à França e retorna inesperadamente. Publica A hora da estrela,

pela José Olympio, com introdução — "O grito do silêncio" — de

Eduardo Portella. Esse livro seria adaptado para o cinema, em 1985, por

Suzana Amaral.

Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes

do seu 57° aniversário vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de

origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada

por um adenocarcinoma de ovário irreversível. O enterro aconteceu no

Cemitério Comunal Israelita, no bairro do Caju, no dia 11.

Fonte: http://www.releituras.com/clispector_bio.asp

drágeas 11literárias *

Casa-se com o colega de faculdade Maury Gurgel Valente em

1940, e termina o curso de Direito. Seu marido, por concurso, ingressa

na carreira diplomática.

Muda-se para Belém do Pará (PA), acompanhando seu marido.

Fica por lá apenas seis meses. Seu livro recebe críticas favoráveis de

Guilherme Figueiredo, Breno Accioly, Dinah Silveira de Queiroz, Lauro

Escorel, Lúcio Cardoso, Antonio Cândido e Ledo Ivo, entre outros.

O casal volta ao Rio e, em 13/07/44, muda-se para Nápoles, em

plena Segunda Guerra Mundial, onde o marido da escritora vai

trabalhar. Já na saída do Brasil, Clarice mostra-se dividida entre a

obrigação de acompanhar o marido e ter de deixar a família e os

amigos. Quando chega à Itália, depois de um mês de viagem, escreve:

"Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na verdade nem

mesmo sei viajar." Termina seu segundo romance, O lustre. Recebe o

prêmio Graça Aranha com Perto do coração selvagem, considerado o

melhor romance de 1943. Conhece Rubem Braga, então

correspondente de guerra do jornal "Diário Carioca".

Em 1948 nasce Pedro, primeiro filho de Clarice. Inicia em 1952, o

esboço do romance A veia no pulso, que viria a ser A Maçã no Escuro,

livro publicado em 1961.

Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo, seu segundo filho.

É lançada em 1954 a primeira edição francesa de Perto do coração

selvagem, pela Editora Plon, com capa de Henri Matisse, após inúmeras

reclamações da escritora sobre erros na tradução.

Separa-se do marido e, em julho de 1959, regressa ao Brasil com

seus filhos, e um ano depois publica, finalmente, Laços de Família, seu

primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves.

Em 1961 publica o romance A maçã no escuro. Recebe o Prêmio

Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por Laços de família. Em 1964

publica o livro de contos A legião estrangeira e o romance A Paixão

Segundo G. H., ambos pela Editora do Autor. Em dezembro, o juiz

profere a sentença que poria fim ao processo de separação de Clarice e

Maury.

Na madrugada de 14 de setembro de 1866 a escritora dorme com

um cigarro aceso , provocando um incêndio. Seu quarto ficou

totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou

três dias sob o risco de morte — e dois meses hospitalizada. Quase tem

sua mão direita — a mais afetada — amputada pelos médicos. O

acidente mudaria em definitivo a vida de Clarice.

10 drágeasliterárias*

Page 11: Drageas literarias 001

As inúmeras e profundas cicatrizes fazem com que a escritora caia

em depressão, apesar de todo o apoio recebido de seus amigos.

Em 1967 lança o livro infantil O mistério do coelho pensante, pela

José Álvaro Editor. Em maio do ano seguinte, o livro é agraciado com a

"Ordem do Calunga", concedido pela Campanha Nacional da Criança.

Em 1971 publica a coletânea de contos Felicidade clandestina,

volume que inclui O ovo e a galinha, escrito sob o impacto da morte do

bandido Mineirinho, assassinado pela polícia com treze tiros, no Rio de

Janeiro.

Dois anos depois, em 1973 publica o romance Água viva, após três

anos de elaboração, pela Editora Artenova, que lançaria também, nesse

ano, A imitação da rosa, quinze contos já publicados anteriormente em

outras coletâneas. Alberto Dines, em carta à escritora, diz sobre Água

viva: "[...] É menos um livro-carta e, muito mais, um livro música. Acho

que você escreveu uma sinfonia".

Para manter seu nível de renda, aumenta sua atividade como

tradutora. Verte, entre outros, "O retrato de Dorian Gray", de Oscar

Wilde, adaptado para o público juvenil, pela Ediouro.

Seu filho Paulo casa-se com Ilana Kauffmann em 1976.

Clarice grava depoimento no Museu da Imagem e do Som, no Rio

de Janeiro, em outubro, conduzido por Affonso Romano de Sant'Anna,

Marina Colasanti e por João Salgueiro, diretor do MIS.

Enquanto escreve A hora da estrela com a a ajuda da amiga Olga,

toma notas para o novo romance, Um sopro de vida.

Vai à França e retorna inesperadamente. Publica A hora da estrela,

pela José Olympio, com introdução — "O grito do silêncio" — de

Eduardo Portella. Esse livro seria adaptado para o cinema, em 1985, por

Suzana Amaral.

Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes

do seu 57° aniversário vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de

origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada

por um adenocarcinoma de ovário irreversível. O enterro aconteceu no

Cemitério Comunal Israelita, no bairro do Caju, no dia 11.

Fonte: http://www.releituras.com/clispector_bio.asp

drágeas 11literárias *

Casa-se com o colega de faculdade Maury Gurgel Valente em

1940, e termina o curso de Direito. Seu marido, por concurso, ingressa

na carreira diplomática.

Muda-se para Belém do Pará (PA), acompanhando seu marido.

Fica por lá apenas seis meses. Seu livro recebe críticas favoráveis de

Guilherme Figueiredo, Breno Accioly, Dinah Silveira de Queiroz, Lauro

Escorel, Lúcio Cardoso, Antonio Cândido e Ledo Ivo, entre outros.

O casal volta ao Rio e, em 13/07/44, muda-se para Nápoles, em

plena Segunda Guerra Mundial, onde o marido da escritora vai

trabalhar. Já na saída do Brasil, Clarice mostra-se dividida entre a

obrigação de acompanhar o marido e ter de deixar a família e os

amigos. Quando chega à Itália, depois de um mês de viagem, escreve:

"Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na verdade nem

mesmo sei viajar." Termina seu segundo romance, O lustre. Recebe o

prêmio Graça Aranha com Perto do coração selvagem, considerado o

melhor romance de 1943. Conhece Rubem Braga, então

correspondente de guerra do jornal "Diário Carioca".

Em 1948 nasce Pedro, primeiro filho de Clarice. Inicia em 1952, o

esboço do romance A veia no pulso, que viria a ser A Maçã no Escuro,

livro publicado em 1961.

Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo, seu segundo filho.

É lançada em 1954 a primeira edição francesa de Perto do coração

selvagem, pela Editora Plon, com capa de Henri Matisse, após inúmeras

reclamações da escritora sobre erros na tradução.

Separa-se do marido e, em julho de 1959, regressa ao Brasil com

seus filhos, e um ano depois publica, finalmente, Laços de Família, seu

primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves.

Em 1961 publica o romance A maçã no escuro. Recebe o Prêmio

Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por Laços de família. Em 1964

publica o livro de contos A legião estrangeira e o romance A Paixão

Segundo G. H., ambos pela Editora do Autor. Em dezembro, o juiz

profere a sentença que poria fim ao processo de separação de Clarice e

Maury.

Na madrugada de 14 de setembro de 1866 a escritora dorme com

um cigarro aceso , provocando um incêndio. Seu quarto ficou

totalmente destruído. Com inúmeras queimaduras pelo corpo, passou

três dias sob o risco de morte — e dois meses hospitalizada. Quase tem

sua mão direita — a mais afetada — amputada pelos médicos. O

acidente mudaria em definitivo a vida de Clarice.

10 drágeasliterárias*

Page 12: Drageas literarias 001

drágeas 13literárias *12 drágeasliterárias*

Uma GalinhaClarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas

da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não

olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,

apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou

magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o

peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda

vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do

vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em

adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com

urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa,

lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de

almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da

galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula,

escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De

telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma

luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos

a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador

adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada.

Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz

galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E

então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é

que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade

que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo,

como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que

morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a.

Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa

através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta,

sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De

pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro.

Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe

habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e

desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as

penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava

perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do

acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso

bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente.

Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não

era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a

mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento

qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se

com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha

vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a

família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida

para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a

correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o

sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas

capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-

se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o

corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena

cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já

mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se

recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia

os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não

cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de

sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando

milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos

séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998,

pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores

Contos Brasileiros do Século”.

Page 13: Drageas literarias 001

drágeas 13literárias *12 drágeasliterárias*

Uma GalinhaClarice Lispector

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas

da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não

olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,

apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou

magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o

peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda

vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do

vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em

adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com

urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa,

lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de

almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da

galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula,

escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De

telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma

luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos

a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador

adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada.

Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz

galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E

então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é

que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade

que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo,

como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que

morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a.

Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa

através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta,

sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De

pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro.

Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe

habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e

desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as

penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava

perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do

acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso

bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente.

Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não

era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a

mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento

qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se

com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha

vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a

família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida

para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a

correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o

sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas

capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-

se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o

corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena

cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já

mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se

recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia

os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não

cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de

sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando

milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos

séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998,

pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores

Contos Brasileiros do Século”.

Page 14: Drageas literarias 001

drágeas 15literárias *

atrair freguesia.

Feito um vereador em cima de caixote, ele continuava com seu discurso

inflamado: "Tenho certeza". – disse peremptório. "Aquele cafetão." – disse seguido

de um soco na minha mesa. Não fosse o susto, juro que o aplaudiria!

Tive vontade de colocar mais lenha na fogueira e acrescentar que ela gosta

de coentro e quem gosta disso boa gente não é. Mas ele sabe da minha

implicância com esse vegetal. Além do mais, se a minha mesa sem dizer nada

levou um murro, imagine eu? Guardei para a mim o comentário.

- Sim, afinal a comida no restaurante dela não era mesmo grande coisa, não

é? – ai não sei bem se ele se engava ou tentava me convencer.

- E aquele negócio do careca falando toda hora “bom dia senhores, bom dia

cavalheiros, bom dia senhoritas.”, aquilo me irritava deveras... Coisa pouco máscula

para um restaurante no porto... Só lamento o mau-gosto dela.

- Quase, quase falei no coentro! – disse, seguido de mais um suspiro capaz

de fazer estátuas chorarem.

Tive vontade de discordar. Mas diante daquele olhar de cachorro

abandonado na chuva não tive ânimo.

- Mas no português tem a... – ele me interrompe. Não lhe agrada que eu o

lembre de seus amores frustrados. Senti uma vontade muito grande de descrever

a pele de seda dela, o gingado, o tratamento diferenciado, mas o medo falou mais

alto, outra vez!

- Sim, tem ela, mas já a superei. Hoje a vejo com outros olhos. Sinto-me um

quase irmão dela... – dessa vez sou eu que o interrompo.

- Não se iluda seu velho descarado.

Tive ganas de perguntar-lhe se já havia comprado umas borboletas azuis,

mas o meu bom-senso achou melhor deixar isso prá lá. Me arrependi de tê-lo

xingado. Pude ver mais um futuro-pretérito desfazendo-se à minha frente. Lá se ia

o sonho do casamento, da família, do Juninho, do labrador chamado Bonifácio, a

criação de curiós. Tudo se desfazia. Do cenário idílico só sobraram os pombos

voando sob um céu que há pouco tempo era azul, era promessas, era um mundo

que... Poetizo, deliro, viajo nesses momentos.

Sou um sentimental incurável! E há quem diga que não tenho coração.

Ficamos em silêncio por um tempo. Ele olhou para o teto, achei que fosse

reclamar das rachaduras, das paredes descascadas, das sujeiras das janelas,

quando ele me sai com essa:

- Hora de irmos ao quinto andar!

- Voltou a fumar passivamente?

- Não sei como consigo viver nesse mundo sem o seu cigarro!

Eu ia tocar no assunto das borboletas azuis, mas resolvi deixar esse assunto

pra lá...

ROBERTO PRADO | ESCRITOR E POETA

14 drágeasliterárias*

OS AMORES E SUAS DORES

Esse pobre escriba vive uma vida secreta, uma vida de cronista de um único assunto.

Escrevo, descrevo , devaneio e viajo na vida de um sujeito que conheço. Não darei nome

aos bois tampouco o dele, mas é tudo verdade.

Nos próximos números continuarei a descrever a lenta decadência desse pobre homem,

que reforço, existe de verdade, em carne, osso e sem o canino direito, quebrado comendo

torresmo e, bem, vocês verão.

Boa leitura!

Dia cheio quando ele chegou. Um daqueles dias em que o cristão se

pergunta por que não nasceu um Rockefeller, Gates, ou mesmo um “Seu Manuel”

da quitandinha, que tem mais dinheiro que eu.

- Ela é casada com o careca, o garçom que nos atende – Falou-me assim de

chofre enquanto eu pensava nas minhas dívidas.

-Quem? Casada com que careca? Então é por isso que ele vive com aquele

chapéu?

- Luzia – murmurou, entre suspiros dolorosos.

Longos cabelos negros escorridos, olhos lindos e profundos, pés pequenos,

mãos brancas de dedos longos, unhas vermelhas, e sempre muito simpática, pensei

naquele momento, mas guardei para mim.

Ainda atordoado pela chegada súbita dele, fiquei a olhar para o nada.

- Vi no facebook do restaurante a foto dela abraçada com o careca...

- Mas você não achava que eles eram irmãos? Guardei para mim a decepção,

mas logo a compartilharia com os outros colegas que iam almoçar lá só por causa

dela. Afinal, quem divide, multiplica!

- Me iludia, me enganava – resmungava o pobre homem. Tentava cobrir o sol

com a peneira. Ela me hipnotiza.

-... Sem palavras. Segurava o riso. Tenho medo dele!

- Pobrezinha, li que ela não tem mais a mãe...

- Perdeste a chance de ser feliz duplamente. - sou um cínico, eu sei!

- Como? – indagava quase babando.

- Ter a Luzia e não ter uma sogra. - por pura piedade deixei de falar que

ainda assim teria um cunhado!

- Essa é a história da minha vida.

- E agora? – senti que a pergunta era como passar sal na ferida. Eu não

presto mesmo!

- Volto ao Português... – declarou decidido - Lá como à vontade e pago

menos. Acho que o marido a explora. Ele a colocou ali, linda daquele jeito só para

Série Drágeas Lietrárias

Page 15: Drageas literarias 001

drágeas 15literárias *

atrair freguesia.

Feito um vereador em cima de caixote, ele continuava com seu discurso

inflamado: "Tenho certeza". – disse peremptório. "Aquele cafetão." – disse seguido

de um soco na minha mesa. Não fosse o susto, juro que o aplaudiria!

Tive vontade de colocar mais lenha na fogueira e acrescentar que ela gosta

de coentro e quem gosta disso boa gente não é. Mas ele sabe da minha

implicância com esse vegetal. Além do mais, se a minha mesa sem dizer nada

levou um murro, imagine eu? Guardei para a mim o comentário.

- Sim, afinal a comida no restaurante dela não era mesmo grande coisa, não

é? – ai não sei bem se ele se engava ou tentava me convencer.

- E aquele negócio do careca falando toda hora “bom dia senhores, bom dia

cavalheiros, bom dia senhoritas.”, aquilo me irritava deveras... Coisa pouco máscula

para um restaurante no porto... Só lamento o mau-gosto dela.

- Quase, quase falei no coentro! – disse, seguido de mais um suspiro capaz

de fazer estátuas chorarem.

Tive vontade de discordar. Mas diante daquele olhar de cachorro

abandonado na chuva não tive ânimo.

- Mas no português tem a... – ele me interrompe. Não lhe agrada que eu o

lembre de seus amores frustrados. Senti uma vontade muito grande de descrever

a pele de seda dela, o gingado, o tratamento diferenciado, mas o medo falou mais

alto, outra vez!

- Sim, tem ela, mas já a superei. Hoje a vejo com outros olhos. Sinto-me um

quase irmão dela... – dessa vez sou eu que o interrompo.

- Não se iluda seu velho descarado.

Tive ganas de perguntar-lhe se já havia comprado umas borboletas azuis,

mas o meu bom-senso achou melhor deixar isso prá lá. Me arrependi de tê-lo

xingado. Pude ver mais um futuro-pretérito desfazendo-se à minha frente. Lá se ia

o sonho do casamento, da família, do Juninho, do labrador chamado Bonifácio, a

criação de curiós. Tudo se desfazia. Do cenário idílico só sobraram os pombos

voando sob um céu que há pouco tempo era azul, era promessas, era um mundo

que... Poetizo, deliro, viajo nesses momentos.

Sou um sentimental incurável! E há quem diga que não tenho coração.

Ficamos em silêncio por um tempo. Ele olhou para o teto, achei que fosse

reclamar das rachaduras, das paredes descascadas, das sujeiras das janelas,

quando ele me sai com essa:

- Hora de irmos ao quinto andar!

- Voltou a fumar passivamente?

- Não sei como consigo viver nesse mundo sem o seu cigarro!

Eu ia tocar no assunto das borboletas azuis, mas resolvi deixar esse assunto

pra lá...

ROBERTO PRADO | ESCRITOR E POETA

14 drágeasliterárias*

OS AMORES E SUAS DORES

Esse pobre escriba vive uma vida secreta, uma vida de cronista de um único assunto.

Escrevo, descrevo , devaneio e viajo na vida de um sujeito que conheço. Não darei nome

aos bois tampouco o dele, mas é tudo verdade.

Nos próximos números continuarei a descrever a lenta decadência desse pobre homem,

que reforço, existe de verdade, em carne, osso e sem o canino direito, quebrado comendo

torresmo e, bem, vocês verão.

Boa leitura!

Dia cheio quando ele chegou. Um daqueles dias em que o cristão se

pergunta por que não nasceu um Rockefeller, Gates, ou mesmo um “Seu Manuel”

da quitandinha, que tem mais dinheiro que eu.

- Ela é casada com o careca, o garçom que nos atende – Falou-me assim de

chofre enquanto eu pensava nas minhas dívidas.

-Quem? Casada com que careca? Então é por isso que ele vive com aquele

chapéu?

- Luzia – murmurou, entre suspiros dolorosos.

Longos cabelos negros escorridos, olhos lindos e profundos, pés pequenos,

mãos brancas de dedos longos, unhas vermelhas, e sempre muito simpática, pensei

naquele momento, mas guardei para mim.

Ainda atordoado pela chegada súbita dele, fiquei a olhar para o nada.

- Vi no facebook do restaurante a foto dela abraçada com o careca...

- Mas você não achava que eles eram irmãos? Guardei para mim a decepção,

mas logo a compartilharia com os outros colegas que iam almoçar lá só por causa

dela. Afinal, quem divide, multiplica!

- Me iludia, me enganava – resmungava o pobre homem. Tentava cobrir o sol

com a peneira. Ela me hipnotiza.

-... Sem palavras. Segurava o riso. Tenho medo dele!

- Pobrezinha, li que ela não tem mais a mãe...

- Perdeste a chance de ser feliz duplamente. - sou um cínico, eu sei!

- Como? – indagava quase babando.

- Ter a Luzia e não ter uma sogra. - por pura piedade deixei de falar que

ainda assim teria um cunhado!

- Essa é a história da minha vida.

- E agora? – senti que a pergunta era como passar sal na ferida. Eu não

presto mesmo!

- Volto ao Português... – declarou decidido - Lá como à vontade e pago

menos. Acho que o marido a explora. Ele a colocou ali, linda daquele jeito só para

Série Drágeas Lietrárias

Page 16: Drageas literarias 001

Flying so freely

he never understood

when he was too close to the

sun

Voando tão livremente

ele nunca entendeu

quando estava perto demais

do sol

I’m a foreign in life,

always trying to learn

but mostly just making mistakes

Eu sou um estrangeiro na vida,

sempre tentando aprender

mas na maior parte do tempo só

cometendo erros

The night is so kind

trying not to hurt me

every time I get lost

A noite é tão gentil

tentando não me ferir

cada vez que me perco

*16 drágeasliterárias

RODRIGO LOPESLONDRESLead techinical Architect at Transport for

London and Internet Entrepreneur

Blog: Sparce Notes

ust a little bit of sunshine

COLABORADORES

Café nas tardes de domingo

Que domingos ensolarados! Não me

lembro que o calor fosse tão intenso

como o de hoje, nesta cidade do litoral.

Em minha casa almoço: macarrão com

frango e salada, todos os domingos!

Com o sol a pino, do alto víamos o porto,

as ruas, as casas, paisagem cotidiana e

privilegiada para quem morava na Vila!

Um frei dizia que olhando debaixo para

cima parecia um presépio encrustado na

montanha.

Lembranças que se perderam no tempo,

um esforço de memória não traz de volta

o que fazíamos após o almoço de

domingo sempre com o mesmo

cardápio. Porém, um perfume deixou

traços mnemônicos, o de bolo assando

no forno para o café da tarde, nas tardes

de todos os domingos pontualmente às

quinze horas.

Sentávamos todos à mesa para saborear

o perfumado bolo degustado com café

puro ou com leite.

Alguns componentes da mesa, já não

estão mais entre nós, se foram três,

restamos a metade e quando os visito

tem a mesma tradição do café com bolo

vespertino.

MARIA APARECIDASOARES FERREIRA

RPROBERTO PRADO

HAICAISBOLA

cara-a-cara com o gol

correu-rezou-chutou

a bola no ar - errou!

BORBOLETA.

O noroeste sopra

a borboleta,

azul, de volta

CAÇADOR

corre o gato perseguindo

- desesperado predador -

a folha seca que o vento sopra

GALO

canta o galo no

terreiro, e mostra

quem manda no dia

nasce o dia no

terreiro - e, supremo senhor

canta o galo

*drágeasliterárias 17

Page 17: Drageas literarias 001

Flying so freely

he never understood

when he was too close to the

sun

Voando tão livremente

ele nunca entendeu

quando estava perto demais

do sol

I’m a foreign in life,

always trying to learn

but mostly just making mistakes

Eu sou um estrangeiro na vida,

sempre tentando aprender

mas na maior parte do tempo só

cometendo erros

The night is so kind

trying not to hurt me

every time I get lost

A noite é tão gentil

tentando não me ferir

cada vez que me perco

*16 drágeasliterárias

RODRIGO LOPESLONDRESLead techinical Architect at Transport for

London and Internet Entrepreneur

Blog: Sparce Notes

ust a little bit of sunshine

COLABORADORES

Café nas tardes de domingo

Que domingos ensolarados! Não me

lembro que o calor fosse tão intenso

como o de hoje, nesta cidade do litoral.

Em minha casa almoço: macarrão com

frango e salada, todos os domingos!

Com o sol a pino, do alto víamos o porto,

as ruas, as casas, paisagem cotidiana e

privilegiada para quem morava na Vila!

Um frei dizia que olhando debaixo para

cima parecia um presépio encrustado na

montanha.

Lembranças que se perderam no tempo,

um esforço de memória não traz de volta

o que fazíamos após o almoço de

domingo sempre com o mesmo

cardápio. Porém, um perfume deixou

traços mnemônicos, o de bolo assando

no forno para o café da tarde, nas tardes

de todos os domingos pontualmente às

quinze horas.

Sentávamos todos à mesa para saborear

o perfumado bolo degustado com café

puro ou com leite.

Alguns componentes da mesa, já não

estão mais entre nós, se foram três,

restamos a metade e quando os visito

tem a mesma tradição do café com bolo

vespertino.

MARIA APARECIDASOARES FERREIRA

RPROBERTO PRADO

HAICAISBOLA

cara-a-cara com o gol

correu-rezou-chutou

a bola no ar - errou!

BORBOLETA.

O noroeste sopra

a borboleta,

azul, de volta

CAÇADOR

corre o gato perseguindo

- desesperado predador -

a folha seca que o vento sopra

GALO

canta o galo no

terreiro, e mostra

quem manda no dia

nasce o dia no

terreiro - e, supremo senhor

canta o galo

*drágeasliterárias 17

Page 18: Drageas literarias 001

MICROTEXTO

ALEXANDRE COSTA

A TRAVESSIAA incrível jornada de Douglas Walton

Não se dizia outra coisa na cidade que não fosse sobre Douglas Walton e em como ele atravessou o rio Brugery sem as duas pernas e um dos braços, perdidos na guerra do Vietnã, quando ainda tinha lá seus vinte e dois anos. A façanha ganhou destaque em todos os jornais de Abbetown, inclusive um pequeno espaço de quatro minutos na rádio local, onde pode dar seu depoimento e ser aclamado pela população. Não havia um único cidadão que não tivesse ouvido falar ou acompanhado a história de Douglas desde seu início, quando ainda se preparava para a empreitada. Seu patrocinador deu um depoimento revelador quando disse: - Eu apenas liguei o barco, foi ele quem ficou o tempo todo no manche!

GISHACELEBRANDO

SEU CORPOw

18 drágeasliterárias*

Page 19: Drageas literarias 001

MICROTEXTO

ALEXANDRE COSTA

A TRAVESSIAA incrível jornada de Douglas Walton

Não se dizia outra coisa na cidade que não fosse sobre Douglas Walton e em como ele atravessou o rio Brugery sem as duas pernas e um dos braços, perdidos na guerra do Vietnã, quando ainda tinha lá seus vinte e dois anos. A façanha ganhou destaque em todos os jornais de Abbetown, inclusive um pequeno espaço de quatro minutos na rádio local, onde pode dar seu depoimento e ser aclamado pela população. Não havia um único cidadão que não tivesse ouvido falar ou acompanhado a história de Douglas desde seu início, quando ainda se preparava para a empreitada. Seu patrocinador deu um depoimento revelador quando disse: - Eu apenas liguei o barco, foi ele quem ficou o tempo todo no manche!

GISHACELEBRANDO

SEU CORPOw

18 drágeasliterárias*

Page 20: Drageas literarias 001

drágeas 21literárias *20 drágeasliterárias*

A Montanha Mágica, de Thomas Mann

É o segundo grande romance de formação alemão. O

livro conta a história do jovem Hans Castorp, que, ao

visitar uma clínica para tuberculosos na Suíça,

amadurece, participa de debates filosóficos. Enfim, vive

e cresce. Mann escreveu: “E que outra coisa seria de fato

o romance de formação alemão, a cujo tipo pertencem

tanto o ‘Wilhelm Meister’ como ‘A Montanha Mágica’,

senão uma sublimação e espiritualização do romance

de aventuras?”

(Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro.)

Reparação, de Ian McEwan

Pense em Ian McEwan como uma espécie de Henry

James modernizado, pós-jazz e pós-rock. O autor, talvez

o mais refinado escritor inglês vivo — acima de pares

como Martin Amis e Julian Barnes (este, às vezes

subestimado, ao menos no Brasil) —, aparentemente

mistura, aqui e ali, tanto Virginia Woolf quanto Henry

James em suas histórias. Mas sua dicção para mostrar a

ambivalência dos indivíduos é moderna, não é do

século 19, quando James, o Henry, se formou. McEwan

conta, em “Reparação”, uma história extraordinária, mas

o modo como a relata, com personagens “manipulados”

pelo meio e pelas próprias personagens, ou por uma

delas, é que torna o romance interessante. Fica-se com

a impressão de que há duas histórias — uma dominante

e uma alternativa. O que é e o que poderia ter sido.

São Bernardo, de Graciliano Ramos

O romance mais importante de Graciliano Ramos é

“Vidas Secas? Sem dúvida. Mas, num tempo de

hegemonia dos estudos de gênero — que matam a

literatura em nome de uma ideologia primária —, nada

mais significante do que indicar “São Bernardo”. Este

livro, se as feministas atuais lessem — as que leem são

exceções —, se tornaria uma bíblia. Mas uma bíblia sem

concessões moralistas. Poucos autores patropis, mesmo

entre as mulheres, construíram tão bem um homem

autoritário, até totalitário, quanto o Velho Graça.

(Editora Record)

QUADRINHOS

VOU POSTAR MINHA FOTO MALHANDO

NA ACADEMIA, QUERO SABER O QUE

MEUS AMIGOS ACHAM.

OS GORDOS DIZEM QUE ESTOU

MAGRO, E OS MAGROS DIZEM

QUE ESTOU GORDO.

ACHO MELHOR POSTAR UMA

FOTO DE PAISAGEM!!!

a vida online

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

notícias da repartição

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

JORGE, OS PAPÉIS DA

APOSENTADORIA JÁ

CHEGARAM!

FINALMENTE. ESSA É

UMA BOA NOTÍCIA

MAS FORAM OS MEUS

QUE CHEGARAMESPERA AÍ.

ONDE VOCÊ VAI?

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ROBERTO PRADO

MESES E MESES RECLAMANDO

DO AR-CONDICIONADO.

MESES E MESES ENVIANDO

RECLAMAÇÕES, MEMORANDOS,

FAZENDO AMEAÇAS... E QUANDO VOLTA A FUNCIONAR,

ESFRIA!

ESSA É UMA NOTÍCIA

MELHOR AINDA

PEGAR SEU

GRAMPEADOR

PRA MIM

Page 21: Drageas literarias 001

drágeas 21literárias *20 drágeasliterárias*

A Montanha Mágica, de Thomas Mann

É o segundo grande romance de formação alemão. O

livro conta a história do jovem Hans Castorp, que, ao

visitar uma clínica para tuberculosos na Suíça,

amadurece, participa de debates filosóficos. Enfim, vive

e cresce. Mann escreveu: “E que outra coisa seria de fato

o romance de formação alemão, a cujo tipo pertencem

tanto o ‘Wilhelm Meister’ como ‘A Montanha Mágica’,

senão uma sublimação e espiritualização do romance

de aventuras?”

(Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro.)

Reparação, de Ian McEwan

Pense em Ian McEwan como uma espécie de Henry

James modernizado, pós-jazz e pós-rock. O autor, talvez

o mais refinado escritor inglês vivo — acima de pares

como Martin Amis e Julian Barnes (este, às vezes

subestimado, ao menos no Brasil) —, aparentemente

mistura, aqui e ali, tanto Virginia Woolf quanto Henry

James em suas histórias. Mas sua dicção para mostrar a

ambivalência dos indivíduos é moderna, não é do

século 19, quando James, o Henry, se formou. McEwan

conta, em “Reparação”, uma história extraordinária, mas

o modo como a relata, com personagens “manipulados”

pelo meio e pelas próprias personagens, ou por uma

delas, é que torna o romance interessante. Fica-se com

a impressão de que há duas histórias — uma dominante

e uma alternativa. O que é e o que poderia ter sido.

São Bernardo, de Graciliano Ramos

O romance mais importante de Graciliano Ramos é

“Vidas Secas? Sem dúvida. Mas, num tempo de

hegemonia dos estudos de gênero — que matam a

literatura em nome de uma ideologia primária —, nada

mais significante do que indicar “São Bernardo”. Este

livro, se as feministas atuais lessem — as que leem são

exceções —, se tornaria uma bíblia. Mas uma bíblia sem

concessões moralistas. Poucos autores patropis, mesmo

entre as mulheres, construíram tão bem um homem

autoritário, até totalitário, quanto o Velho Graça.

(Editora Record)

QUADRINHOS

VOU POSTAR MINHA FOTO MALHANDO

NA ACADEMIA, QUERO SABER O QUE

MEUS AMIGOS ACHAM.

OS GORDOS DIZEM QUE ESTOU

MAGRO, E OS MAGROS DIZEM

QUE ESTOU GORDO.

ACHO MELHOR POSTAR UMA

FOTO DE PAISAGEM!!!

a vida online

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

notícias da repartição

TEXTO: ALEXANDRE COSTA

JORGE, OS PAPÉIS DA

APOSENTADORIA JÁ

CHEGARAM!

FINALMENTE. ESSA É

UMA BOA NOTÍCIA

MAS FORAM OS MEUS

QUE CHEGARAMESPERA AÍ.

ONDE VOCÊ VAI?

O PESSIMISTA DE PLANTÃO!

TEXTO: ROBERTO PRADO

MESES E MESES RECLAMANDO

DO AR-CONDICIONADO.

MESES E MESES ENVIANDO

RECLAMAÇÕES, MEMORANDOS,

FAZENDO AMEAÇAS... E QUANDO VOLTA A FUNCIONAR,

ESFRIA!

ESSA É UMA NOTÍCIA

MELHOR AINDA

PEGAR SEU

GRAMPEADOR

PRA MIM

Page 22: Drageas literarias 001

CRÔNICAS DO PRADO

UMA MOEDA, POR FAVOR!

Estava na rua fumando meu

cigarrinho, o segundo do dia - o

primeiro foi dirigindo até o serviço –

olhando para o céu e tentando

adivinhar como seria o resto do dia,

se com chuva, vento, chuva e vento,

chuva, vento e frio, quando um

sujeito de chinelos havaiana, gasto

por sinal, aproximou-se de mim.

Antes que ele pronunciasse a

primeira palavra, escolado que estou

nessa vida, já fui logo dizendo:

- Amigo, se seu negócio é

dinheiro já te aviso que não tenho.

Veja só, hoje é dia cinco, e ainda

estou longe do pagamento, aliás, eu

e todos nestes prédios aqui em volta

dessa praça.

Ele olhou desconsolado e logo

em seguida começa a desfiar a

história triste de sua vida. Não

pensem por essas palavras mal

digitadas que sou um homem duro

de coração, não, não sou, se sou

duro é de bolso. Às vezes penso em

invadir a seara dos pedintes para

descolar mais alguns trocados, mas

falta-me ainda a cara de pau para

tanto.

Contou-me ele que vinha do

norte, como quase noventa e nove

por cento dos que vejo e encontro

pelas ruas. Mostrou-me a carteira de

trabalho, quase desfeita, disse-me

que estava desempregado e que

queria voltar para casa, mas para tal,

faltava-lhe dinheiro.

Explicou-me que precisava de

uma determinada quantia – que não

declinarei aqui, pois por não ter a

quantidade que ele precisava, não

quero de forma alguma a piedade

de meus leitores – para completar a

passagem de ônibus. Olhei bem para

o sujeito, estava sujo, maltrapilho, e

tenho certeza que se ele tivesse a tal

“parte” do dinheiro para voltar,

gastaria num pão com mortadela.

Não sou desumano, quero

frisar bem isso. Enquanto ele

desabafava eu fumava meu

cigarrinho que estava se tornando a

cada tragada mais e mais amargo.

Após alguns minutos de

conversa, ele se dispõe a ir embora,

avança uns passos para a rua, e

quando penso que ele vai-se enfim

embora, ele pára, volta atrás e, como

tentando uma última cartada ou o

blefe final, fala:

- Sabe – disse-me olhando

para o alto – eu não disse para o

céu, eu disse para o alto – estou

pensando em subir ali na passarela

(passarela que as pessoas civilizadas,

utilizam para atravessar a via férrea e

a avenida lotada de caminhões e

pegarem a barca para o outro lado

do canal) e me jogar lá de cima...

Olhei para a mesma direção

que ele, talvez para lhe dar um certo

sentimento de cumplicidade, ou para

medir a altura e computar o estrago,

sei lá. Passados alguns segundos,

bem poucos por sinal, afinal meu

cigarro já havia acabado e precisava

voltar para a minha sala e

encarar o serviço que lá me

esperava, respondi:

- Pense bem rapaz,

você quer pular para a

morte, para o descanso final,

mas pense bem, se ao invés

da morte você ficar

mutilado? Aqui passam

muitos trens e nem sempre

atropelamento por eles quer

dizer que resulte em

mortes...

Ele olhou-me entre

espantado e horrorizado, ele

esperava de mim talvez

alguma compaixão, algum

milagre que fizesse surgir

alguns trocados em meus

bolsos, alguma coisa ele

esperava de mim, menos

aquela resposta. E antes que

ele completasse qualquer

pensamento que estivesse

lhe cruzando a cabeça,

concluí:

- É ainda melhor pedir

assim inteiro como você está

agora, que ficar mutilado na

porta de alguma igreja

mendigando moedas, pense

nisso.

Ele atravessou a rua, e

quando chegou do lado

olhou-me de uma forma que

não consegui traduzir, não

consegui mesmo.

Penso que salvei uma

vida hoje.

drágeas 23literárias *22 drágeasliterárias*

Page 23: Drageas literarias 001

CRÔNICAS DO PRADO

UMA MOEDA, POR FAVOR!

Estava na rua fumando meu

cigarrinho, o segundo do dia - o

primeiro foi dirigindo até o serviço –

olhando para o céu e tentando

adivinhar como seria o resto do dia,

se com chuva, vento, chuva e vento,

chuva, vento e frio, quando um

sujeito de chinelos havaiana, gasto

por sinal, aproximou-se de mim.

Antes que ele pronunciasse a

primeira palavra, escolado que estou

nessa vida, já fui logo dizendo:

- Amigo, se seu negócio é

dinheiro já te aviso que não tenho.

Veja só, hoje é dia cinco, e ainda

estou longe do pagamento, aliás, eu

e todos nestes prédios aqui em volta

dessa praça.

Ele olhou desconsolado e logo

em seguida começa a desfiar a

história triste de sua vida. Não

pensem por essas palavras mal

digitadas que sou um homem duro

de coração, não, não sou, se sou

duro é de bolso. Às vezes penso em

invadir a seara dos pedintes para

descolar mais alguns trocados, mas

falta-me ainda a cara de pau para

tanto.

Contou-me ele que vinha do

norte, como quase noventa e nove

por cento dos que vejo e encontro

pelas ruas. Mostrou-me a carteira de

trabalho, quase desfeita, disse-me

que estava desempregado e que

queria voltar para casa, mas para tal,

faltava-lhe dinheiro.

Explicou-me que precisava de

uma determinada quantia – que não

declinarei aqui, pois por não ter a

quantidade que ele precisava, não

quero de forma alguma a piedade

de meus leitores – para completar a

passagem de ônibus. Olhei bem para

o sujeito, estava sujo, maltrapilho, e

tenho certeza que se ele tivesse a tal

“parte” do dinheiro para voltar,

gastaria num pão com mortadela.

Não sou desumano, quero

frisar bem isso. Enquanto ele

desabafava eu fumava meu

cigarrinho que estava se tornando a

cada tragada mais e mais amargo.

Após alguns minutos de

conversa, ele se dispõe a ir embora,

avança uns passos para a rua, e

quando penso que ele vai-se enfim

embora, ele pára, volta atrás e, como

tentando uma última cartada ou o

blefe final, fala:

- Sabe – disse-me olhando

para o alto – eu não disse para o

céu, eu disse para o alto – estou

pensando em subir ali na passarela

(passarela que as pessoas civilizadas,

utilizam para atravessar a via férrea e

a avenida lotada de caminhões e

pegarem a barca para o outro lado

do canal) e me jogar lá de cima...

Olhei para a mesma direção

que ele, talvez para lhe dar um certo

sentimento de cumplicidade, ou para

medir a altura e computar o estrago,

sei lá. Passados alguns segundos,

bem poucos por sinal, afinal meu

cigarro já havia acabado e precisava

voltar para a minha sala e

encarar o serviço que lá me

esperava, respondi:

- Pense bem rapaz,

você quer pular para a

morte, para o descanso final,

mas pense bem, se ao invés

da morte você ficar

mutilado? Aqui passam

muitos trens e nem sempre

atropelamento por eles quer

dizer que resulte em

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Ele olhou-me entre

espantado e horrorizado, ele

esperava de mim talvez

alguma compaixão, algum

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esperava de mim, menos

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lhe cruzando a cabeça,

concluí:

- É ainda melhor pedir

assim inteiro como você está

agora, que ficar mutilado na

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mendigando moedas, pense

nisso.

Ele atravessou a rua, e

quando chegou do lado

olhou-me de uma forma que

não consegui traduzir, não

consegui mesmo.

Penso que salvei uma

vida hoje.

drágeas 23literárias *22 drágeasliterárias*

Page 24: Drageas literarias 001

você realizando seu sonho...

ESTADOS UNIDOS | EUROPA | ÁSIA | OCEANIA

Page 25: Drageas literarias 001

você realizando seu sonho...

ESTADOS UNIDOS | EUROPA | ÁSIA | OCEANIA

Page 26: Drageas literarias 001

R$ 90,00

R$ 120,00

R$ 35,00

OPINIÃO

DESCONTRAÇÃO

ATITUDE

R$ 220,00LIBERDADE

NÓS NÃO VENDEMOSBENS MATERIAIS,VENDEMOS ATITUDES

A LOJA DEFINITIVA EM MODA E ACESSÓRIOS

TUDO EM

MODAEM TUDO

Publicação e aplicativo trazem mais

de 230 cafeterias com serviço

completo e em 80 cidades pelo

País

O Brasil é o maior produtor e

exportador do grão e está em

segundo lugar no consumo

mundial, atrás dos Estados Unidos.

Com tantos lugares para apreciar o

café, o objetivo do Guia é ajudar a

encontrar as opções mais

completas e que oferecem

variedade. O Guia chega com a

missão de facilitar a busca por

espaços aconchegantes, que

servem produtos de qualidade,

ótimo atendimento e também

diversos métodos de preparo para

apreciar o café.

Guia de Cafeterias do Brasil 2015

Café Editora

260 págs.

www.guiadecafeterias.com.br

Preço: R$ 19,90

À venda em cafeterias e em bancas de

jornal, revistarias e livrarias por todo o País

e na Café Store (www.cafestore.com.br)

Fonte: http://www.cafeeditora.com.br

Page 27: Drageas literarias 001

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Fonte: http://www.cafeeditora.com.br

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