DST - Sífilis
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Aconselhamento em DST/HIV:fundamentos, aplicações e desafios
Silvia PerivolarisPsicóloga Aconselhadora
CTA Caio Fernando Abreu/HS Partenon POA
As DST acompanham a história da humanidade.
São, ainda hoje, mais conhecidas como doenças venéreas, em referência a
Vênus, a Deusa do Amor.
A mitologia grega faz referência às DST e à primeira ideia de preservativo no mundo ocidental: O rei Minos, filho de Zeus e Europa, era casado com Pasiphae. O monarca era conhecido por seu amor pelas mulheres e suas inúmeras amantes. Por obra de Pasiphae, Minos passou a ejacular serpentes, escorpiões e lacraias, que matavam todas aquelas que se deitassem com o soberano. Pasiphae era imune ao feitiço aplicado a Minos, mas este tornou o rei incapaz de procriar. Minos, no entanto, se apaixonou por Procris. Para evitar que a relação com Minos lhe trouxesse a morte, Procris introduziu em sua vagina uma bexiga de cabra. Os monstros ficaram aprisionados na bexiga e Minos voltou a poder ter filhos.
Sífilis Das Américas para a Europa no período dos
Descobrimentos.
Inicialmente muito infectante e com predominância das manifestações cutâneas.
1º tratamento conhecido, até o final do século XVI, era feito com purgantes e antídotos semi-mágicos para o envenenamento (droga guaiaco).
Sífilis Século XVI - Primeiros preservativos (luva de vênus)
- Gabrielle Fallopio ( forro de linho do tamanho do pênis e embebido em ervas, soluções químicas precursoras dos espermicidas modernos)
No século XVII, Comdom, um médico inglês, alarmado
com o número de filhos ilegítimos de Carlos II da Inglaterra criou para o rei um protetor feito com tripa de animais.
Sífilis Século XIII – mercúrio, na forma de minério cinábrio, já usado para tratamento de doenças de pele pelos
médicos árabes.
Séculos XV a XVIII – administração oral de mercúrio, ungüentos e banhos de vapor (método da salivação).
Prostitutas eram marcadas a ferro ou tinham as orelhas cortadas.
Sífilis
1839 Charles Goodyear descobriu o processo de vulcanização da borracha. Preservativos grossos e caros, eram lavados e reutilizados até arrebentarem.
1840 – iodeto de potássio – para as fases avançadas da
doença.
Século XX – descoberto o agente Treponema pallidum
(várias subespécies são a causa dos tipos de sífilis venérea
e não venérea, mas da framboésia, pinta...) 1906-1907 –
teste de Wassermann (presença da sífilis mesmo latente).
Sífilis
A partir de 1880. Em 1901, a primeira camisinha com
reservatório para o esperma ( Estados Unidos).
Paul Ehrlich, de Frankfurt, produziu o 1º anti-séptico
injetável – composto de arsênico orgânico (“bala
mágica”). Eficaz somente para o grupo das espiroquetas
ou treponemas. Produzia efeitos colaterais graves
(Salvarsan e Neosalvarsan).
Guerras Mundiais – Explosão dos casos de Sífilis. Introdução da penicilina, em 1943, muito eficaz contra sífilis e gonorréia.
Sífilis
Século XIX, Países Escandinavos já atacavam o problema abertamente.
Inglaterra, 1916 – Relatório sugere diagnóstico e tratamento gratuito. Asseguravam anonimato em detrimento da notificação para conseguir acesso aos infectados. Divulgavam locais de tratamento em mictórios públicos.
1925 – Programa de educação para prevenção.
IIª Guerra - Divulgação dos locais de tratamento, investigação dos contatos, oferta do teste do Wassermann. Introdução da notificação e tratamento compulsório de sifilíticos que tivessem infectado mais de 2 contatos.
Decréscimo até década de 60. Após, aumento de casos.
Origens do aconselhamento
• Protágoras (480-410 a. c.)
• Sócrates (470-399 a. c.)
• Platão (427-327 a.c.)
Cura pela palavra
Diálogo de Platão: O Espelho da Alma
Sócrates – Perguntemo-nos, pois, que coisa permitirá melhor não apenas conhecermos a nós mesmos, como diz a inscrição délfica, mas enxergarmos a nós mesmos.
Alcibíades – Evidentemente, seria preciso dirigir o olhar para um espelho.
Sócrates – Tens razão. Mas o próprio olho não contém em sí uma espécie de espelho?
Alcibíades – É verdade.
Sócrates – Certamente notastes que, quando olhamos alguém nos olhos, vemos seu próprio rosto se refletir no olho daquele que está diante de nós, como se tratasse de um espelho, e que a imagem daquele que olha se reflete no fundo da pupila?
Alcibíades – Certamente.
Sócrates – Portanto, se quiser ver a si mesmo, o olho deve se contemplar num outro olho e naquilo que há de melhor, a pupila… Se quiser ver a si mesmo, é num olho que ele deve se olhar.
Alcibiades – É exatamente isso.
Sócrates – Então, caro Alcibíades, se uma alma quiser conhecer a sí mesma, não é numa outra alma que ela deve se olhar, e mais precisamente para o lugar da alma em que mora aquilo que é mais precioso, ou seja, a sabedoria?
Alcibíades – É claro que sim.
Sócrates – Então seria justo dizermos que há na alma algo mais divino do que o fato de conhecer e o ato de pensar?
….
Fundamentos
• Counseling – a partir de 1900 -prática da área da educação. Inicialmente, consistia em oferecer aos jovens e pessoas inexperientes conselho e instrução sobre escolhas e atitudes (movimentos de orientação profissional e vocacional);
• I e II Guerras Mundiais – necessidade de outros profissinais (além de psiquiatras e psicanalistas) prestarem ajuda terapêutica às pessoas atingidas.
• Após a publicação de Counseling and Psychoterapy (1942), de Carl Rogers, o aconselhamento, como um serviço de ajuda humana, começou a transformar-se e aliar-se à psicologia e ao servico social.
• O Aconselhamento passou a ser chamado de Terapia Centrada no Cliente.
• Foco nos aspectos saudáveis do cliente.
• Dificuldades, conflitos e problemas analisados são aqueles vividos no presente, pois há o pressuposto de que eles se repetem ao longo da existência.
• Processo focal, mais curto quando comparado a outras terapias.
• A partir daí, o papel do conselho e do ensino no aconselhamento perdeu espaço e o foco passou a ser ajudar as pessoas a clarificarem seus próprios objetivos e construirem planos de ação de acordo com os mesmos.
• O conselheiro ou aconselhador passa a ser um facilitador do crescimento pessoal.
Estrutura
• A estrutura básica do processo de ajuda no aconselhamento é a mesma. Possui os mesmos elementos, mesmo se realizado em uma clínica, escola, hospital ou qualquer outra instituição.
• O que pode variar é a ênfase dada a cada um destes elementos.
Aconselhamento
• Profissional• Religioso• Genético
• Para amamentação• Reprodução humana
• Hepatites virais• DST/Hiv/aids
Objetivo
Capacitar o cliente a dominar situações da vida, a engajar-se em atividade que produza crescimento e a tomar decisões eficazes, produzindo mudanças reais e duradouras.
Resultado
O aconselhamento aumenta o controle do
individuo sobre as adversidades atuais e as oportunidades presentes e futuras.
• Porque?
O controle do cliente sobre seu próprio
destino aumenta a medida que ele passa a ter maior compreensão das relações entre o eu e o ambiente. O indivíduo que tenha melhores percepções (insights) de suas próprias necessidades, desejos e capacidades em relação as oportunidades proporcionadas por seu meio particular, está capacitado a viver de modo mais efetivo.
• No aconselhamento, as informações sobre as emoções do próprio cliente e a dos outros podem ser tão ou mais importantes que as informações factuais para a resolução de certos tipos de problemas.
• Portanto, o aconselhamento sempre enfoca aspectos cognitivos e afetivos, tendo como pano-de-fundo o contexto social e cultural.
Preceitos fundamentais da Ajuda EfetivaPatterson e Eisenberg (1979). Helping Clientes with Special Concerns
• Compreensão – para ser verdadeiramente efetivo, o conselheiro deve ter uma compreensão total do comportamento humano e ser capaz de aplicá-la em situações individuais;
• Mudança no cliente – o objetivo final do aconselhamento é ajudar o cliente a operar algum tipo de mudanca que ele julgue satisfatória;
• Qualidade da relação – respeito, empatia, coerência (consistência), revelação facilitadora, imediação, concreção.
• Processo seqüencial – Tem um começo, meio e fim. Possui uma sequência bem definida;
• Auto-revelação e auto-confrontação –
O aconselhador, através de feedbacks (devoluções) de reafirmação e de confronto, auxilia o cliente a deparar-se com novos modos de ver e compreender o próprio eu em determinadas situações de vida.
• Intensa experiência de trabalho – Aconselhamento não é o mesmo que uma
conversa. Envolve esforço mental e emocional e leva, necessariamente, à reflexão.
• Conduta ética –
A prática não-ética ocorre quando:
1. Quando o profissional emvolve-se no atendimento de situações que vão além da sua capacidade e preparação;
2. quando não compreende sua obrigação de respeitar os direitos do cliente a privacidade e livre-escolha.
Fases do processo de aconselhamento
Descoberta inicial Exploração em profundidade Preparação para a ação
Trabalho Comunicar a natureza das Desenvolver compreensão Testar alternativas e construir
do preocupações, abrangendo mais profunda dos significados planos para conseguir os
Cliente conteúdo, sentimento e de preocupações pessoais e objetivos desejados.
e contexto. formulação de objetivos Desenvolver confiança
Clarificar significados suficientemente forte, nesses
espontâneos das planos, para sustentar a
preocupações durante a ação.
descoberta.
Trabalho Proporcionar condições Ampliar os instrumentos Ajudar a traçar um conjunto
do para desenvolver uma do cliente para compreender de alternativas.
Aconse- relação de confiança e o próprio eu. Estruturar o processo de
lhador trabalho. Comunicar percepções tomada de decisão.
diagnósticas ao cliente, de Estimular avaliação e
modo experimental. verificação da realidade.
Aconselhamento em DST/ hiv/aids/hepatites virais
Relação de confiança através da qual conteúdos emocionais, sociais e informativos são integrados, criando-se as condições necessárias para a realização de uma avaliação do lugar onde o indivíduo se situa (vulnerabilidade/riscos pessoais), vislum-brando-se o lugar onde este pode vir a ocupar, reconhecendo as possibilidades ainda não concretizadas e a forma de conquistá-las (estratégias possíveis de cuidados e proteção).
TOMADA DE CONSCIÊNCIA
Risco biológico X vulnerabilidade
Risco biológico – atribui ao indivíduo, isoladamente, a sua condição de saúde ou doença, como algo puramente voluntário e descontextualizado.
Vulnerabilidade – Conjunto de fatores de natureza biológica, epidemiológica, social e cultural, cuja interação amplia ou reduz o risco ou a proteção de um grupo populacional, frente a uma determinada doença, condição ou dano.
Conceito Problema-alvo Resultado esperado
Grupo de risco Contato entre Barreira a transmissão
infectado e (estigmatização)
suscetível
Comportamento Exposição Práticas
de risco ao virus seguras
(mudanca comportamental)
Vulnerabilidade Suscetibilidades Resposta social
populacionais (mudar contextos e
relações)
Definição de risco
“É a exposição de indivíduos ou grupo de pessoas a determinados contextos que envolvem comportamentos, modos de vida, orientação sexual e aspectos culturais e sociais em relação à construção e representação da sexualidade e do uso de drogas em determinada sociedade, tornando-se suscetível aos agravos a saúde”
MS, 2005.
Os RISCOS para as DST/IST:
Não são mera casualidade…
Devem ser compreendidos como a expressão, o resultado de um
PROCESSO
Condução do Aconselhamento Individual
Esfera do íntimo, do oculto, do não-dito, dos segredos, dos temores, das fragilidades.
Danaid, Rodin
“ Embora uma ampla gama de regulamentos e
restrições possa governar as interações sexuais na vida
pública, na vida privada, quando uma pessoa de alguma
forma está longe dos olhares curiosos e vigilantes da
sociedade, um conjunto muito diferente de possibilidades
se define (...). Na intimidade das interações sexuais, as
regras e regulamentos da vida cotidiana normal, deixam
de funcionar, e uma liberdade de expressão sexual que
seria estritamente proibida no mundo externo molda-se na
privacidade de prática erótica (Parker, 1994:144)”.
ACOLHER
MONITORAR ESCUTAR
(acompanhar)
PLANEJAR EXPLORAR
(implicar) (devolver)
INFORMAR
(desmistificar)
Condução do Aconselhamento Individual
Assegurar sigilo e confidencialidade;
Propor o aconselhamento:
(Explorar as informações trazidas pelo sujeito, suas impressões e entendimento sobre sua situação:)
- Se tem sintomas, o que imagina ser?
- Conversou sobre o problema com alguém?
- Acha que adquiriu como?
- O que ouviu falar sobre DST/hiv e a relação entre ambos?
-Já tratou alguma DST? Qual? Quando? Onde tratou?
-Já fez teste anti-hiv/hepatites virais, vacina?
(Quando? Resultado? Motivo?)
- Como tem se sentido em relação a essa situação
(impacto na sua vida)
- Investigar quantas parcerias sexuais no último ano (novas parcerias nos últimos meses?)
- Práticas sexuais (oral, vaginal, anal) com ou sem proteção?
- Gravidez confirmada ou provável? Amamentação? - Filhos? Idade?
- Tipo de parceria (homem, mulher, travesti, trans.) - Práticas de uso de drogas (álcool, cocaina injetável ou aspirada, crack, anfetaminas etc). Uso foi compartilhado?
- Recebeu sangue em transfusão ou derivados? (quando?)
Parcerias sexuais:
- Têm outras parcerias sexuais?
- Apresentaram sintomas, queixas relativas
a DST? - Foram comunicadas da situação do paciente?
- Têm ou já tiveram alguma DST?
- Alguma parceira está grávida ou
amamenta?
- São portadores do HIV? Já realizaram
teste?
- Uso de drogas no passado ou
atualmente?
Atitudes de proteção?
-Quais as ações de proteção que já experimentou para proteger-se de DST e HIV?
-Como foram essas experiências (dificuldades, etc)?
- Usa preservativo? Quando e como? Com que freqüência? Com quem?
- Como as parcerias reagem ao uso de preservativo?
- Quais as atividades de baixo risco ou sexo seguro que pratica? Com que freqüência? Com quem?
ASPECTOS A SEREM TRABALHADOS
Trocar informações sobre DST, sintomas, formas de
transmissão e danos à saúde;
Explicar que nem sempre a pessoa infectada
apresenta sintomas perceptíveis;
Diferenciar DST de IST;
Explicar importância do tratamento completo;
Orientar sobre a relação (sinergia) entre HIV e outras
DST;
Ofertar testagem para HIV;
Explicar a diferença entre HIV e aids;
Orientar sobre janela imunológica;
Reforçar a necessidade de diagnóstico e tratamento
das parcerias sexuais;
Explicar as possibilidades de reinfecção;
Esclarecer sobre a responsabilidade em relação a comunicação das parcerias sexuais;
Discutir possibilidades de adoção de medidas protetoras(preservativo, uso limpo de seringas e agulhas)
Estabelecer, com o paciente, um plano viável de redução de riscos considerando questões de gênero, planejamento familiar, diversidade sexual e uso de
drogas.
Referenciar para outros serviços (vacina Hepatite B, acompanhamento psicossocial, tratamento para
dependência quimica).
DESAFIOS
NOVO CASO DE DST…
FRACASSO!
QUAIS FORAM AS OPORTUNIDADES
PERDIDAS?
DESAFIOS
Informação é importante mas não basta;
• Desconhecimento sobre DST (IST)
• Ênfase no HIV/aids
• Imaginário sobre quem tem DST
• Imaginário sobre quem tem HIV (negação, banalização)
• Imaginário sobre o preservativo e seu uso
• Responsabilidade em relação ao outro
• Idealização do objeto amoroso (não proteger-se como moeda de troca na relação, contrato de monogamia
mútua)
• Vulnerabilidade de gênero e construção da sexualidade(mulher inocente, pura/ homem corre riscos, não nega fogo, práticas
bissexuais)
“Em praticamente todos os seus significados, o termo sacanagem implica pelo menos slguma forma de rebelião ou transgressão simbólica –
subvertendo as restrições que regem a interação social normal. É no sentido
totalizador de tudo – ou fazendo de tudo que normalmente seria proibido – que esta
transgressão se manifesta de forma mais nítida”.
(Parker, 1994:146)
Aconselhamento coletivo
Processo educativo participativo, que visa despertar/ampliar a percepção de risco, a identificação de sinais e sintomas e
promover a discussão e a reflexão sobre o modo
de pensar e agir em relação a saúde e a
prevenção destes agravos.
Condução do aconselhamento coletivo
• Promover a interatividade/participação;
• Não “dar aula”;
• Focar no interesse/necessidade do grupo (características);
• Evitar conteúdos em excesso;
• Utilizar recursos visuais, se possível.
• Abordar características do hiv/aids/dst, formas de transmissão, prevenção, janela imunológica, tratamentos
disponíveis.