DUELO NOS ARES

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DUELO NOS ARES 9º ANO F - 2013

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Livro realizado pelos alunos do 9º F - Colégio POLIEDRO - São José dos Campos - SP. Tal obra foi criada nas Oficinas de Texto criadas pelo Professor Sérgio R. L. Fascina - 2013.

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DUELO NOS ARES

9º ANO F - 2013

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© Todos os direitos reservados. Proibida a cópia total ou parcial desta obra.

Projeto desenvolvido na disciplina de Língua Portuguesa, pelos professores Sérgio Ricardo Lopes Fascina e Darci de Souza Baptista durante o primeiro semestre letivo do ano de 2013.

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Feira do Livro 2013Oficina de Textos - Projeto Livro da Turma

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EDedicamos esta obra aos escritores de todos os tempos,

os quais nos trouxeram seus mundos,

suas inspirações,

seus medos,

suas verdades e suas mentiras,

suas certezas e suas incertezas,

a fim de que pudéssemos, nas incertezas da vida,

ter a certeza de que

podemos criar!

Podemos mais!

DEDICATÓRIA 9º ANO F

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O F I C I N A D E T E X T O S - F E I R A D O L I V R O 2 013 - P O L I E D R O - S J C

Escritos nas areias do tempo

Ilustração - homenagem

à imagem de

Padre José de Anchieta

Pegadas, desenhos, areia... Um escritor. Um ser humano que es-creve, que cria. O mar que apaga. O tempo que nunca se esgota... o tempo que perpetua... Escrevemos nossas histórias em areias de praias diferentes, apagadas pelo mar de novas vivências, mas nunca esquecidas pelas areias que se movimentam na ampulheta do tem-po. Tempo no qual vivemos e no qual escrevemos nossos dias no pa-pel que nos cabe no mundo. Areias que acolhem nossas ideias, nos-sas escritas e que formam, mesmo que em minúsculas partes, uma vastidão de uma praia sem fim. Pequenos grãos, pequenas ideias, união. Imensidão. Realização. (...)

Desde que iniciei meu primeiro projeto de Oficina de Pensamen-tos, em 2001, ainda na cidade de Curitiba-PR, com uma turma de pequenos alunos que, hoje, são grandes homens e grandes mulhe-res e os quais são motivo de orgulho, nunca imaginei que tomasse tal tamanho e tal forma. Atualmente, com a Oficina de Textos, doze anos depois, aqui está a prova física a qual é a união de grãos de ideias de 242 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental - Colégio

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POLIEDRO - São José dos Campos - SP, formando 7 livros de pró-pria autoria e mostrando que é possível ir além do horizonte além mar.

Nos capítulos, palavras apagadas e reescritas com as borrachas das ondas das vontades de melhorar... Nas ilustrações, pérolas mol-dadas pelos ventos da criatividade, acompanhadas pelas asas inquie-tantes dos novos pássaros que me visitam, convivem e alçam voos para novos continentes, para suas próprias vidas.

Vagas de pensamentos que vêm de longe e que vão ao longe, le-vando o aroma de um oceano de escritas, de leituras e de momentos. Oceano de possibilidades, de conquistas. Imensidão de agradecimen-to a todos vocês, pássaros.

Voem! Subam! Levem consigo cada grão que lhes pertenceu, for-mando, nas areias do tempo, marcas de quem foram, de quem são e de quem sempre serão. Criadores de si mesmos!

Prof. Sérgio Ricardo Lopes Fascina

Língua Portuguesa - 9º ano - POLIEDRO 2013.

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Da criação e outros fascínios

Posso contar-lhes uma pequena história? Aconteceu alguns anos atrás, quando eu lecionava Produção de Texto para uma turma da an-tiga “5ª série” (sentimos que estamos, de fato, envelhecendo, quando palavras e expressões com as quais nos acostumamos a vida inteira co-meçam, de repente, a provocar espanto nos mais jovens: “Nossa, ele ainda fala em 5ª série!” Nem vou começar a falar da vez em que um aluno do ensino médio comemorava, entre os colegas, o fato de ter ga-nhado uma moto dos pais como presente por seus dezoito anos re-cém-completados e cometi a sandice de perguntar-lhe: “Mas é moto mesmo ou é uma vespa?” Trinta e poucos rostos olharam para mim, mudos, à espera que eu confessasse, afinal, se provinha de Marte ou Saturno).

Mas são digressões e eu volto à pequena história. Eram meninos e meninas em torno dos onze anos de idade, habituados ao universo macio e aconchegante do chamado curso primário, ou ciclo básico do ensino fundamental, ou seja lá como queiram chamá-lo. E viam-se abruptamente perdidos numa floresta de mais de dez professores de diferentes disciplinas, que iam sucedendo-se no horário das aulas na velocidade da porta giratória de um hotel. Tinham dúvidas sobre

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tudo, naturalmente: desde a cor da caneta com a qual escreveriam o título de suas redações até se poderiam usar o mesmo nome do seu ca-chorrinho para dar nome ao cachorrinho do menino muito triste e muito sozinho que ia todo dia à escola e não sabia fazer redação e por isso ficava de recuperação todo ano, pobrezinho. Apesar das dúvidas, contudo, escreviam.

Menos um aluno. Que se recusava a escrever uma linha que fosse. Ou até o fazia, porém não ia muito mais longe do que isso. Ou, se fos-se mais longe, nunca chegava a lugares muito agradáveis. Odiava a ati-vidade da escrita como um condenado à prisão perpétua deve odiar o calendário. Tentei as abordagens mais diversas: permiti que ele come-çasse desenhando, antes de rascunhar o texto, pois talvez o apelo à imagem acionasse dentro dele a vontade de contar uma história. Mas ele desenhou coisas impublicáveis. Decidi, então, que ele poderia cri-ar seu texto oralmente, narrando para mim e os colegas as aventuras de suas personagens. Mas ele jogava os braços para trás do corpo, en-quanto permanecia lá em pé, diante da turma, e olhava para o chão, o teto, a parede do fundo, não necessariamente nessa ordem, até final-mente dizer que “lhe tinha dado um branco daqueles”.

Acuado por minha própria inexperiência ao lidar com uma situa-ção até então inédita para mim, comecei a angustiar-me com a falta de perspectivas para o caso. Eu estava diante não só da iminência de um fracasso escolar, como também de uma novidade, pois era absolu-tamente novo para mim que um aluno não só acumulasse seguidas no-tas zero, mas sobretudo que fosse indiferente por completo ao próprio desempenho. Faço questão de destacar, por outro lado, que seu fracas-so era relativo, já que obtinha resultados satisfatórios com outros pro-fessores. Reavaliei meu trabalho várias vezes naquele período, já dis-posto a admitir que a falha maior era minha. A verdade que se esboça-

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va, cada vez mais nítida, é que eu simplesmente não fora capaz de dar significado, na vida daquela criança, à tarefa de produzir um texto.

Foi então que algo inesperado aconteceu. Certo dia, uma das coor-denadoras do colégio onde trabalhava me chamou para conversar, an-tes da primeira aula. Contou-me sobre o drama que se iniciara recen-temente na família do garoto. O avô materno, a quem era muito liga-do, encontrava-se hospitalizado, em estado crítico. Não me ocorre ago-ra qual era a moléstia, mas certamente havia uma ameaça de contami-nação e a ordem da equipe médica foi proibir com veemência a visita de menores, cujo sistema imunológico ainda é vulnerável. O resulta-do, portanto, é que o meu aluno problemático estava impedido de aproximar-se de seu familiar mais querido. Foi fácil constatar que esse era o sentimento que os unia, pois ele só comparecera à escola por insistência dos pais e, uma vez obrigado a entrar na sala de aula, instalou-se na última carteira, meio que escondido atrás de um armá-rio. A cabeça mergulhada nos braços cruzados.

Enquanto os colegas trabalhavam em pequenos grupos com a ati-vidade do dia, fui até ele. Conversamos o mais discretamente possível. Ele contou-me que implorara a seus pais que o deixassem faltar à aula para poder acompanhá-los até o hospital, mas eles haviam sido irredu-tíveis e argumentaram que, na escola, pelo menos teria com o que se distrair. Mas ele era, naquele momento, todo feito de sofrimento. Es-crever seria a última coisa no mundo que estaria inclinado a fazer, e ainda assim foi o que lhe pedi que fizesse. Foi uma intuição. Se ele não podia entrar no quarto de hospital onde estava seu avô, o que ele escrevesse, sim, poderia.

Então ele começou com um bilhete, não mais extenso do que cin-co linhas. Usou palavras previsíveis, como “saudade”, “esperando” e “de volta”. Sugeri-lhe pedir a sua mãe que fosse a portadora da mensa-gem. No dia seguinte, narrou-me, visivelmente mais animado, que ela

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conseguira ficar com o avô por alguns minutos, tempo suficiente para ler as palavras do neto. Apesar de inconsciente sobre a cama, de algu-ma forma o garoto acreditava que seu avô as ouvira. Então, como quem não quer nada, perguntei-lhe como seria se, em vez de um mero bilhete, sua mãe levasse uma carta. Seus olhos iluminaram-se com a fagulha de uma ideia: queria contar ao velho amigo que fora seleciona-do para a equipe de futebol do colégio, e até competiriam com outras escolas. O pai não gostava de jogar bola; o avô é que lhe ensinara as re-gras do esporte, a história dos grandes times e, acima de tudo, ensina-ra a amar aquelas linhas brancas pintadas sobre o gramado.

Com o passar dos anos, fomos perdendo contato, o que é um pou-co o resumo da vida de todos nós. Lembro-me, entretanto, de que mui-tas cartas foram redigidas naquele ano e endereçadas àquele quarto hospitalar. E aumentaram em extensão e qualidade depois que o avô do menino recuperou a consciência e pôde ele próprio ler cada uma delas. Seu neto, aliás, estava convencido de que nelas estava o segredo da cura. Não sei se essa cura foi definitiva ou apenas uma ilusão à qual nos agarramos quando desejamos desesperadamente que um ser amado sobreviva. Como disse, perdemos contato. Todavia, meu cora-ção aquieta-se quando me lembro do essencial, em toda essa história – e o essencial é que as palavras escritas, para aquele meu aluno que se tornou tão especial, passaram a ter peso, sabor, cheiro, brilho, ca-lor, saudade. Passaram a significar.

Quando meu colega de área, Professor Sérgio Fascina, me propôs o trabalho de criação coletiva de uma obra de ficção, integrada ao nos-so projeto anual de Língua Portuguesa para o 9º ano, aceitei imediata-mente porque reconheci nessa ideia o objetivo maior da Produção de Texto no contexto escolar. O objetivo que transcende a aquisição de re-gras e exceções gramaticais, o domínio das técnicas de cada modalida-de redacional e a ampliação do vocabulário, embora todos esses ele-

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mentos contribuam para a competência linguística de nossos alunos. Nada se compara, no entanto, ao fascínio da criação: essa maravilho-sa possibilidade de gerar outros mundos e viver outras vidas, uma via-gem que se inicia no olhar com que contemplamos nosso próprio mun-do e nossas vidas mesmas.

Prof. Darci de Souza Baptista Língua Portuguesa - 9º ano - POLIEDRO 2013.

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CAPÍTULOS

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CAPÍTULO 1 - MUSEU E LIVROS

CAPÍTULO 2 - A PASSAGEM

CAPÍTULO 3 - NAQUELE TEMPO

CAPÍTULO 4 - PAIXÃO

CAPÍTULO 5 - BUSCA ATRAPALHADA

CAPÍTULO 6 - BRILHO DOS OLHOS

CAPÍTULO 7 - A GRANDE DISPUTA

CAPÍTULO 8 - DESPEDIDA

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AUTORESCAPÍTULO 1 - Eduardo Montez, Henrique Santos, Luiz Renato Marson, Rodrigo Gonçal-ves

CAPÍTULO 2 - Bruna Gomez, Giulia Lima, Laura Ferraz, Maria Cláudia Soares, Sabrina Wanderley

CAPÍTULO 3 - Ana Soraia, Bruna Mortari, Júlia Sá, Mariana Vitória

CAPÍTULO 4 - Felipe Lorenzo, Gustavo de Oliveira, Gabriel Park, Pedro de Azevedo, Vitor Vantine

CAPÍTULO 5 - Daniella Guedes, Lara Silva, Joao Pedro Guimarães

CAPÍTULO 6 - Guilherme Matesco, Lucas Lemes, Luiz Henrique Beletti, Ricardo Rocco

CAPÍTULO 7 - Ana Carolina, Matheus,Carlos, Antonio, Joao Pedro Inacio

CAPÍTULO 8 - Verônica Maia, Sara da Silva, Maria Clara Diniz, Giovana Santos

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João Andrade era um homem alto, magro, estudioso, que trabalhava na área de fotografia. Sua paixão era fotografar invenções antigas, principalmen-te aeronaves. Como gostava muito de aeromodelismo antigo, visitava todas as exposições sobre esse assunto, sendo que seu maior ídolo era o brasileiro Santos Dumont.

MUSEU E LIVROS

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Um dia, resolveu visitar seu museu favorito, onde estava exposto o famo-so 14 Bis, o primeiro avião motorizado brasileiro já inventado. Chegando lá, foi diretamente à sala onde ele estava localizado, pois não queria perder seu tempo. Passou uma grande parte de seu dia observando e fotografando aque-la obra prima.

Ao sair do local, repa-rou em um símbolo um tanto quanto estranho próximo à aeronave... Era preto e laranja, não muito grande, fosco e era formado por dese-nhos que João nunca ti-nha visto antes. Ao che-gar perto dele, o dese-nho começou a mudar lentamente até formar as iniciais S e D. Parou um pouco, pensou e chegou à conclusão de que queria dizer Santos Du-mont. Como estava fascinado pela cena, pelo museu e por estar perto daque-la maravilha dos ares, não parou para pensar em como aquela imagem pode-ria se formar... Um pouco depois... voltou a si e começou a refletir...

Ficou muito intrigado com aquilo e, por isso, não percebeu o tempo pas-sar até que uma voz masculina anunciasse, por meio de alto-falantes (que existiam em cada sala do local), que o estabelecimento já estava fechando e que todos tinham que sair. Como era um homem honesto, deixou a área como ordenado, porém isso não o impediu de ir à biblioteca municipal e pas-sar a noite inteira pensando e estudando sobre aquele assunto. Sobre aquele símbolo.

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A biblioteca era grande, com prateleiras em todos os cantos, todas com vá-rios livros que eram divididos por assunto, além das mesas e das cadeiras para os cidadãos estudarem e lerem seus livros. Havia também um cheiro de mofo, a iluminação não era muito boa pois era feita a partir de velas; possuía uma temperatura mais amena, não era muito limpa, e era muito empoeira-da, inclusive nas capas das obras literárias, o que dava um ar mais sombrio para local.

O lugar estava totalmente vazio a não ser pela bibliotecária, uma mulher já de idade, que usava uns óculos pretos e lia um clássico de Machado de As-sis, e pelo João, o qual tentava achar respostas sobre aquele estranho desenho encontrado anteriormente.

Após algumas pesquisas, já estava começando a ficar cansado, então resol-veu falar com a senhora que era encarregada de cuidar do local, já que, tal-vez, ela soubesse de alguma coisa.

O pesquisador foi andando bem devagar em direção a ela, visto que não queria atrapalhar sua leitura. Ao chegar bem próximo da mulher, ficou ali olhando para ver se ela o notava, algo que não tardou a acontecer.

-Posso ajudar? - perguntou a bibliotecária sem olhar para o rosto do ho-mem.

-Por favor, a senhora sabe algo sobre Santos Dum... - interrompeu sua fala ao perceber que, nos óculos dela, havia o mesmo símbolo misterioso.

Ao perceber a quebra de fala, parou sua leitura e perguntou ao moço, des-sa vez, olhando para a face de surpresa dele:

-Santos Dumont?

-Exatamente.

A mulher caiu na gargalhada e disse:

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-Devo ser a pessoa que mais sabe sobre ele nesse mundo.

-Então, você poderia me ajudar, por favor?

-Claro. O que você precisa saber?

Então João explicou o ocorrido no museu para ela; falou sobre o símbolo e que estava intrigado sobre aquilo. A senhora logo respondeu:

-O símbolo que você viu não sei o que ele é; apenas sei que ele aparece em dois lugares diferentes em todas as criações de meu pai.

Ao ouvir a palavra pai, ficou surpreso e confuso, e perguntou rapidamen-te:

-Como assim: pai?

A mulher fez uma cara de desespero e logo disse:

-Eu já falei demais... agora, saia daqui!

Curioso que era, o homem não poderia deixar de perguntar novamente:

-Ajude-me, por favor... eu faço o que você quiser.

Ao ouvir essa promessa, logo ela mudou de ideia e disse:

-Você é uma boa pessoa... irei explicar minha história.

Após falar isso, a senhora começou a contar que, quando pequena, per-deu seus pais para a criminalidade e, desde então, começou a vagar pelas ruas em busca de comida e de moradia. Um dia, Santos Dumont a encon-trou, e, quando ela viu aquele homem, logo fez a mesma promessa que João tinha feito a ela : de fazer qualquer coisa que ele quisesse. Comovido pela pu-reza da menina, o inventor a acolheu em sua casa.

Desde então, cuidou dela, dando educação, moradia e amor. Inclusive fez óculos de leitura para aquela inocente garotinha, já que possuía problemas na visão.

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Porém, quando Santos Dumont estava mais velho, deu um toque de leve nos óculos que a menina usava (os mesmos que ele tinha feito). A partir de então, ela não conseguia mais tirar aquelas lentes. Com medo, perguntou o que ele havia feito e ele só respondeu:

-Nunca tente tirar esses óculos, pois eles vão garantir que você viva por muito mais tempo.

Feliz com a notícia, agradeceu e pediu que ele também usasse óculos da-queles para viverem juntos por mais tempo. Porém ele simplesmente respon-deu:

-Só existe um par desses óculos e são os que você usa.

Agora, triste com essa informação, pensou que não quereria nem deveria viver tanto tempo sem seu querido pai, mas seus pensamentos foram inter-rompidos por outra fala:

-Prometa-me uma coisa...

-Qualquer coisa. - respondeu a menina rapidamente.

- Prometa-me que vai guardar todas as minha histórias para que, quando morrer, todos possam saber o que eu fui.

A menina prometeu, o aviador deixou a casa às pressas e ela nunca mais o viu.

Ao ouvir essa história, uma mistura de sentimentos inundaram o coração dele, dó, tristeza, surpresa, dentre muito outros. O homem chegou a ficar es-tático.

Após uma pausa de um silêncio profundo, o fotógrafo disse:

-Lamento por seu pai, mas, como prometido, farei o que você quiser.

A senhora pensou por um instante e falou:

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-O que quero de verdade está além de seu alcance, então eu ficaria muito feliz se você apenas guardasse esse meu segredo.

O homem concordou e então voltou a pesquisar, para descobrir mais so-bre o símbolo. Depois de muito tempo, descobriu que a cor laranja queria di-zer encorajamento e sucesso, e que a cor preta significava mistério, contudo isso não era o suficiente para João, que continuou a pesquisar.

Depois de passar a noite toda pesquisando e fazendo anotações, achou que aquilo fazia parte de uma lenda, onde o desenho só era visto pelos que mereciam de alguma forma. Também, que o símbolo ajudou Santos Du-mont a fazer suas invenções e que poucas pessoas sabiam dele, o que fazia sentido ao significado das cores (sucesso e mistério).

No dia seguinte, muito curioso, voltou ao museu e lá estava a razão de sua noite mal dormida... na mesma localidade de antes, todavia, dessa vez, repa-rou, que havia outro símbolo idêntico ao visto anteriormente, mas que esta outra amostra estava no 14 Bis.

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Começou a se questionar sobre o que a bibliotecária havia lhe falado e lembrou que todas as invenções possuíam dois símbolos, sendo um em cada lugar, porém só havia achado um no avião.

Novamente, aproveitou o fato de estar sozinho, de não haver guardas por perto e resolveu procurar uma segunda evidência na invenção. Após andar em volta do aparelho, reparou em uma escada que dava ao assento da aero-nave.

Logo resolveu subir para ver se o segundo indício estava embaixo do ban-co, nos controles ou em outro lugar que não se podia ver de fora ou da posi-ção em que se encontrava. Assim que subiu no 14 Bis, João ficou emociona-do por realizar um sonho de criança, mas essa felicidade não durou muito, pois observou que os sinais da aeronave e do chão começaram a brilhar...

Ficou tonto...

As imagens começaram a ficar turvas e, por fim, ele apagou.

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Quando acordei, minha cabeça doía muito... percebi que não estava mais no mesmo local de antes. Eu permanecia no avião, mas não mais no museu. Encontrava-me em um lugar diferente de todos os que já estive; era escuro, sem absolutamente nada. Sentia como se tudo tivesse parado, meus movimentos, os ponteiros de meu relógio de ouro velho e até mesmo meus pensamentos.

A PASSAGEM

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De repente, algo chamou a atenção de meus olhos. Uma frase bem discre-ta, escrita em outra língua, na lateral do apoio de braço da cadeira (não mui-to confortável). Depois de um momento, percebi que era árabe, o que havia aprendido um pouco em um curso.

Quando me dei conta do que estava escrito, muitas coisas estranhas acon-teceram; perdi os sentidos e tudo foi ficando embaçado mais uma vez. Por que isso estava acontecendo? Seria por causa daquela frase?

“Inteligente não é o que conhece tudo, mas sim o que conhece a todos”...

Fiquei me perguntando o que isso queria dizer.

Tudo estava muito confuso.

Primeiramente, senti meu coração acelerar com a sensação de estar cain-do num mar de escuridão sem fim. Fiquei realmente assustado, mas, depois de um tempo, esse sentimento foi substituído por deslumbre.

Não me sentia mais caindo... eu estava indo para trás. Continuava numa velocidade muita alta, mas era maravilhoso tudo o que eu via. Era como se um filme estivesse passando bem diante dos meus olhos, como se fosse sobre a aurora boreal. Cenas do século passado, marcos históricos iam passando e, cada vez mais, eu voltava no tempo e ia mais devagar.

Mesmo quando eu estava tão rápido que parecia voar, pude ver tudo deta-lhadamente. Durante aquela incrível apresentação, eu simplesmente me desli-guei do mundo e esqueci tudo o que tinha acontecido, para me concentrar naquilo, porque sabia que não teria outra chance como aquela.

Nunca tinha me sentido tão bem. Dava aquele frio na barriga de quando se está prestes a ir a uma montanha russa ou de quando se vai dar seu primei-ro beijo, e aquele alívio de quando você percebe que tudo saiu perfeito. Você fica tão feliz quanto uma criança que acabou de ganhar o brinquedo que sempre quis. Sente-se corajoso e seguro, pronto para qualquer coisa. Se você

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pensar nas melhores coisas do mundo (como comer aquele doce que derrete na boca, tirar um dez numa matéria difícil, escutar sua música preferida, re-encontrar uma pessoa que você ama ou conseguir enfrentar seus medos) e juntar todas essas sensações, talvez você imagine como me senti.

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Infelizmente, “nada que é bom, dura muito”, como costumam dizer... Chegou uma hora em que eu parei. Foi, então, que lembrei como tudo come-çou e fiquei mais confuso ainda.

Por que tudo isso estava acontecendo comigo?

Eu estava num museu dentro do 14 Bis, mas não me recordo de muita coi-sa, só do que aconteceu após acordar.

Uma luz forte começou a aparecer, deixando-me cego por uns instantes até que fui conseguindo distinguir o que estava em minha frente. Pessoas an-dando normalmente, porém vestindo roupas como se estivessem no século passado, agindo de modo diferente do que eu estava acostumado. O lugar me era familiar, no entanto parecia que tinha saído de um livro de história.

Estava em um parque, mas em que ano, em que cidade?

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João olhou em volta, atordoado. Seu dia, que começara monótono e roti-neiro, em questão de horas, havia se transformado num pesadelo de física quântica. Ele perdera totalmente a noção de tempo e de espaço, e, por um momento, sua vida comum e nada especial era a única que ele gostaria de ter.

NAQUELE TEMPO

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O jovem fotógrafo sabia que os prédios que via não pertenciam à época na qual ele havia nascido; tampouco os paralelepípedos que cobriam a rua onde ele estava... eles não existiam no ano em que ele se lembrava de ter acordado naquela mesma manhã. Porém suas muitas cochiladas nas aulas de História, na escola, impediam-no de saber em que época, exatamente, ele se encontrava. Olhou em volta, tentando descobrir alguma placa ou anúncio que lhe dessem alguma pista de quantos anos ele havia retrocedido.

-Com licença... – ele abordou um homem, que passeava pelas ruas, trajan-do um colete e um chapéu risível - O senhor saberia me dizer, hummm, em que época estamos?

-Você quer dizer o dia do mês, certo? Não lê os jornais? Hoje o dia ama-nheceu em uma terça-feira, dia 9.

João suspirou impaciente...

–Não, senhor, eu só... É que eu realmente não sei em que ano estamos. Eu não sou... Eu não sou daqui.

O fotógrafo reparou que o homem o observava de cima a baixo. Certa-mente, seu moletom e os jeans não eram algo que o senhor do colete estava acostumado a ver no dia a dia.

-Está tentando ser engraçado? Pois saiba que eu não tenho tempo para as brincadeiras bobas de um rapaz como você... Passar bem. - o homem se afas-tou, em passos rápidos, e João o observou até sumir de vista.

Ele olhou em volta, em busca de alguém que poderia realmente ajudá-lo. A rua estava cheia de moças em grandes vestidos e de homens com benga-las... Ninguém que poderia fornecer-lhe uma informação útil. Por fim, ele se aproximou de um senhor que usava um pincenê nos olhos e que carregava uma pilha de livros de uma biblioteca – parecia-lhe apropriado se aproximar de um homem culto.

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-Perdão... – ele se aproximou – O senhor nunca vai acreditar se eu disser que sou do futuro, mas será que poderia me informar que cidade é essa? Ah, é claro... em que ano estamos?

João achava que ser direto poderia atrair a atenção do homem. No entan-to, assim que terminou de falar, reparou nos símbolos alaranjados nas lomba-das dos livros que aquele ser carregava. Por algum motivo, eles lhe pareciam estranhamente familiares... Mas aquela “viagem” o havia deixado atordoado demais para se lembrar.

O homem se afastou rapidamente, sem responder nenhuma das pergun-tas... João colocou as mãos sobre o rosto, frustrado. Nem ao menos conseguia se lembrar daqueles símbolos... Teria sido apenas um repentino déjà vu, um lapso cerebral que faz achar que já viveu uma situação?

Ele começou a caminhar junto ao meio-fio. Logo, metade da cidade esta-ria sabendo que o hospício local tinha problemas de segurança, e que João poderia ter fugido dele. Com fome e sem saber o que fazer, para onde ir, e, principalmente, como voltar para casa, resolveu entrar em um café para co-mer algo.

Aproximou-se do balcão, contando sua história, da melhor forma que po-dia, para o dono do café. Ao sinal de descrença, o rapaz não se surpreendeu. Em vez disso, colocou três notas de dinheiro de sua época no balcão e pediu um cappuccino.

-Você está brincando comigo! Este é um estabelecimento sério! Alguém tire esse cavalheiro daqui imediatamente!

-Espere! - João suplicou, mas não lhe deram ouvidos e logo ele estava sen-tado na sarjeta, desolado. Só agora ocorrera a ele que o dinheiro o qual ti-nha nos bolsos não possuía valor algum onde estava.

-Parece-me que todos aqui são muito hostis com forasteiros.

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Olhou para o lado, seguindo uma voz feminina. Havia ali uma pálida moça, bem diferente das meninas curvilíneas e bronzeadas da época de onde viera. Ela usava um vestido que o rapaz só vira antes, em livros de história, além de um chapéu que fazia, da cor de seus cabelos e olhos, um mistério.

-Ah, aquilo? Olha, eu não estava querendo ser rude nem nada...

-Eu sei. Ouvi o que você disse para o senhor Salvatore. E acredito em você.

João sentiu um frio na barriga e sua atenção voltou-se inteiramente para a garota. Seria possível que ela tinha acreditado?

-Não diga isso. Aposto que você só veio zombar do “homem do futuro”... – ele fez menção de levantar, mas ela o impediu.

-Não, estou falando sério. Escute, eu estudo física e sempre pensei que via-gem no tempo poderia ser possível. Portanto, não foi difícil acreditar em você... olhe o que está vestindo! Que cores estranhas, que formatos! Veja, se você me deixar estudá-lo para a minha tese, ajudo a sair daqui. O que acha?

-Fechado. Meu nome é João, a propósito.

-Catarina. Ribeirão Preto, 1901. - ao ver a cara confusa de João, riu e ex-plicou – Você queria saber o ano e a cidade, certo?

-Ah, sim... claro! – ele riu. E rindo juntos, olhou Catarina nos olhos pela primeira vez. Ela tinha traços europeus, completos, com olhos claros e lábios finos. O cabelo era castanho... ele pôde ver.

-Então... O que está acontecendo por aqui? - ele perguntou, e os dois se levantaram para caminhar.

-Nada de especial, na verdade. Eu preferiria saber o que está acontecendo no futuro, para variar. De que ano você falou que veio?

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E ele desatou a falar de casa, dos acontecimentos do século XXI e de como havia chegado ali. Ela pareceu especialmente interessada nos computa-dores e na aviação.

-Sabe, tem um rapaz que constrói dirigíveis numa fazenda perto daqui, o Beto. Os jornais estão dizendo que ele vai para a França com seu mais novo modelo, mas ninguém sabe muito sobre isso. - ela falou as palavras seguintes num sussurro - Ele é um pouco... excêntrico, para falar a verdade.

-Ele é excêntrico? É como nós dois, um “esquisitão” do futuro e uma moça que acredita nele; nós nos categorizamos? - ele brincou, sorrindo e ven-do que ela cobria a boca para rir mais discretamente; acompanhou-a.

Era estranho o jeito como os próximos eventos se seguiram. O desespero que ele havia sentido inicialmente já não estava mais lá, e, caminhando com Catarina, ele sentia seu coração leve. Andar ao seu lado, conversar com ela, restituía-lhe uma tranquilidade incrível, e nada parecia estar errado. Na reali-dade, não fazia ideia de como voltaria para casa, mas por que isso deveria im-portar? Catarina estava ali, acreditava nele, e o iria ajudar.

-Deveríamos fazer algum tipo de pesquisa. - ela sugeriu, e continuaram o caminho em silêncio. João não sabia no que ela estaria pensando; talvez no estranho que havia acabado de conhecer, nas suas histórias e nas suas roupas malucas. Talvez pensasse no próximo passo, em como ela iria levá-lo de volta ao futuro e no que escreveria em sua tese. Mas João sabia no que ele estava pensando; nos símbolos, na viagem, na solução, naturalmente, mas, acima de tudo... nela. No jeito com que ela ria, nos seus olhos doces, no perfume fres-co que deixava um rastro atrás dela, na sua inteligência e em como eles divi-diam o mesmo gosto pela aviação e pela aventura.

Ele quis beijá-la naquele momento, - conhecia-a melhor do que as garotas que já havia beijado em sua época, afinal - mas não o fez. Em vez disso, segu-rou sua mão enluvada, e ela segurou a sua de volta, um pouco hesitante.

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Ele sorriu.

Ela sorriu.

Os dois compartilharam, naquele momento, um frio na barriga, e os cora-ções batendo rápido.

O silêncio continuou, mas não era incômodo; pelo contrário, era deleito-so. E se, por uma vez, João não sabia no que Catarina estava pensando, ago-ra ele tinha certeza. Apertou mais forte sua mão e seguiram caminhando pela rua...

Depois disso, ela nunca era encontrada em casa...

O que poderia ter acontecido?

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Sentindo-se mais solitário, voltou à sua busca pela invenção que o levaria de volta ao seu mundo... Ao sair em viagem, ele visitou vários lugares antigos e, com isso, teve a ideia de que precisava visitar locais que faziam parte da história da aviação.

PAIXÃO

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Ao chegar a esses locais, procurava historiadores, pesquisadores, especialis-tas e frequentadores, perguntando para várias pessoas se sabiam quem seria um inventor. Muitas delas o chamavam de maluco ou de estranho, então ele olhava em vários mapas e em livros, sobre a região em que estava, a fim de descobrir quem poderia ter inventado ou quem poderia inventar uma enge-nhoca que o levasse de volta. Tudo que ele achava nessas procuras em livros, mapas, o moço já sabia, mas, conversando com os habitantes da região, des-cobriu que existia um homem que tinha essa ideia de montar uma máquina revolucionária, mas não sabiam o nome do inventor.

Sem muito ânimo, continuou sua busca e chegou a um local que parecia uma pista de decolagem... ou uma rua muito grande... sem calçamento al-gum. Olhou para baixo, pois estava decepcionado consigo mesmo, uma vez que parecia não conseguir descobrir o que precisava... Repentinamente, ele percebeu alguns símbolos no chão... Seriam os mesmos símbolos do museu?

SIM!

O homem seguiu os desenhos, mas eles foram ficando cada vez mais fra-cos... Sem saber exatamente para onde seguir, sua intuição o levou a um lu-gar bem longe e feio, onde morava um senhor, o qual trabalhava com inven-ções e tinha um filho chamado Alberto. Conversando com o velhote, desco-briu que o tal Alberto já estava adulto e, seguindo o trabalho do pai, criava várias máquinas que poderiam mudar o presente, o passado e o futuro. Mas João não acreditou muito no senhor, pois ele poderia estar enganado.

Continuou a busca.

Ainda à procura do grande artífice, encontrou um que dizia querer criar balões e que se chamava Bartolomeu de Gusmão. Durante uma conversa, o homem falou que, se ele o ajudasse, poderia mostrar onde estava o inventor esperado.

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Ele ajudou Gusmão criar o balão, mas o trapaceiro deu um golpe e saiu com sua criação, sem dizer onde morava e quem era o grande homem da avi-ação que elaborou a máquina do tempo.

Depois disso, vários outros inventores se ofereceram para ajudar, mas João recusou todos, porque não queria o mesmo tipo de aborrecimento.

Até que, um dia, ele achou uma artífice que ofereceu ajuda, mas o jovem não confiou muito. Porém, com um bom pressentimento, a sua intuição fa-lou para confiar naquela mulher, então, decidiu aceitar a assistência. Para tal auxílio, ele teria que ajudar a criar um objeto que desse propulsão à aerona-ve que ela estava montando... Quando os dois terminaram o projeto de héli-ces para aviões daquela senhora, ela disse onde o inventor poderia estar.

Juntando as pistas dadas, ele chegou a várias vilas pouco povoadas, ten-tando achar quem era ser que ele tanto procurava...

Nessas pequenas povoações, existiam vários cartazes com a face de um se-nhor, o qual era conhecido pelo jovem, e se lembrou de que esse senhor era aquele quem dizia que teria um filho inventor também. No cartaz, o nome completo e as seguintes informações: Santos Dumont, o sexto filho de  Hen-rique Dumont , um engenheiro formado pela Escola Central de Artes e Ma-nufaturas de Paris.

Após isso, o jovem descobriu que o criador da máquina do tempo era...

Santos Dumont!

Começara uma nova busca!

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Eu buscava informação de onde encontrá-lo, andei por todas as lojas do centro, e nada ... ninguém sabia onde ele vivia, o que fazia nem onde traba-lhava!

Será que eu estava procurando no lugar certo? Fiquei horas me questio-nando... já estava anoitecendo e estava morrendo de fome. Fui conferir meu

BUSCA ATRAPALHADA

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dinheiro, até que me lembrei de que estava no passado e ainda não existia o Real nem o cartão de crédito.

Deitei-me no chão e comecei a gritar:

-Então é assim? Meu Deus ! É assim que vou morrer? Longe de minha fa-mília e amigos? Longe de conforto e de comida?! Sozinho?!! Assim que mor-rerei?

Poucos minutos depois, estava cercado de pessoas que passavam. Elas aplaudiam e jogavam dinheiro em meu chapéu caído no chão. Deviam ter achado que era um desses artistas de rua. Mesmo assim, consegui o dinheiro.

Fui em direção a um bar um pouco mais para frente. Enquanto fazia meu pedido ao garçom, olhei ao redor... quanta mulher de saia comprida. Se a vestimenta fosse mais curta e chegasse ao joelho, já eram chamadas de prosti-tutas. Elas só usavam blusas com mangas longas, um chapéu com véu cobrin-do o rosto delicado, com luvas até os cotovelos. Quanta diferença!

Enquanto comia minha deliciosa “janta”, vi aquela mulher linda que me ajudou quando cheguei! Convidei para sentar-se comigo e para tomar um chá. Ela rebateu, dizendo ser uma coisa vulgar, uma garota comprometida to-mar chá com outro homem!

Como assim? Comprometida? Será por isso que ela sumiu naquela épo-ca?

Eu disse a ela que não ligasse para o que os outros diziam ou pensavam. Atenta, riu e estremeceu sua risada com um belo sorriso. Ficamos uns vinte minutos trocando olhares, até que cedeu e finalmente aceitou sentar-se comi-go...

Conversamos durante horas, quando relatou sua vida e me convidou para ir até sua casa. Eu disse que não seria possível, pois logo seu parceiro volta-

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ria... Ela ficou em silêncio, abaixou a cabeça; deixou uma lágrima escapar. E disse:

-Eu sei onde você pode achar Santos Dumont! - ainda com a cabeça bai-xa.

-Onde? - perguntei com entusiasmo.

-Ele estaria no porto principal, no dia seguinte, ao meio-dia... – exclamou, levantando a cabeça devagar e sorrindo meio triste.

-Obrigado! Muito obrigado! – dei um beijo na bochecha, próximo aos lá-bios.

Saí do estabelecimento, correndo com alegria e, na esquina, olhei para trás... Ainda pude vê-la... estava com a mão no rosto exatamente onde a bei-jei.

Encontrei, um pouco à frente, um abrigo para pessoas sem teto; local com aparência antiga até mesmo para época. Minha sorte foi ter conseguido a úl-tima vaga após ter uma longa discussão com um velho e mal cheiroso mendi-go.

O quarto era escuro e fedorento, mas nada que eu não aguentasse. Deitei-me na “cama” que, na verdade, era um colchão sujo e dormi.

Já de manhã, senti algo rastejando em meu peitoral... Ai, meu Deus! Era uma barata! Fiz um escândalo, acharam que eu era uma menina e me expul-saram de lá.

Para conseguir dinheiro para o café da manhã e o almoço, fiz a mesma coisa da noite passada! Em geral, era bem divertido!

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Estava almoçando no centro da cidade até que perdi a hora. Quando me dei conta, já eram 11h15min; saí correndo do restaurante, esbarrando em al-gumas pessoas e derrubando outras no chão. Não tinha dinheiro para o táxi.

Eu estava ferrado!

Quando adentrei no porto, pude sentir o cheiro desagradável e mofado de algumas comidas, mercadorias, animais. O lugar estava lotado de comercian-tes, animais, imigrantes com suas famílias, bebês e crianças que emitiam um choro ensurdecedor; mascates, gritaria por preços em leilões de mercadorias.

Não consegui passar pela multidão barulhenta...

Do outro lado da rua, vi Santos Dumont, que já estava embarcando! Cor-ri o mais rápido possível... não conseguia parar de pensar que conseguiria chegar à embarcação onde estava o inventor, mas era tarde...

Ele se foi.

12h01min.

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Após ver o barco ir embora, João resolveu perguntar a um homem que estava ali perto aonde aquela embarcação estava indo:

- Com licença, senhor, você sabe aonde esse navio que acabou de partir está indo?

-Sim, ele está indo para a França.

BRILHO DOS OLHOS

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-E existe algum outro que vá para lá e que parta ainda hoje?

-Sim, aquele que está do lado do porto, recebendo a tripulação; ele vai para lá; sai hoje à noite... Mas ele é um navio cargueiro, não irão deixar você entrar. A única coisa que aqueles fortões deixarão entrar lá dentro são paco-tes de café!

-Hmmm... Que pena, eu preciso muito ir para a França! – diz João com um tom de preocupação. Então, quando se afastou do homem, falou para si mesmo:

-Calma, sei o que irei fazer, vou comprar algumas coisas para viagem; é o tempo de eles encherem esse barco enorme. Antes que eles fechem os por-tões, entrarei rapidamente e permanecerei na embarcação, escondido, até o fim da viagem.

Saiu imediatamente dali e foi para um mercearia comprar os suprimentos para a viagem, a qual não seria curta. Pegou poucas coisas, já que teria café o suficiente por vários dias. Após as compras, voltou ao cais e, silenciosamen-te, foi para trás de um monte de barris, onde ficou observando os trabalhado-res que depositavam as cargas no navio. O homem do porto tinha razão, os cargueiros eram muito fortes, por isso não seria nada bom ser descoberto via-jando de penetra.

Após uns quarenta minutos, acabaram de colocar os sacos na embarca-ção. Então, sem que eles o vissem, entrou e se acomodou junto ao café. O lu-gar era abafado... ele entrou e se decaiu confortavelmente sobre algumas sa-cas de café.

Ao estar em local um pouco mais seguro, veio-lhe uma imagem que o in-trigou... Lembrou, na correria para entrar na embarcação, que tinha visto um símbolo que lhe era familiar...

Era o mesmo símbolo que estava no banco do 14 Bis, ainda no museu! Será que tinha algo a ver com Santos Dumont?

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Depois de semanas naquele porão imundo, feito de madeiras velhas e mo-fadas, desceram dois velhos estranhos... Pareciam piratas. Um deles tinha uma perna de pau e ambos tinham dentes pretos e podres. O odor exalado era péssimo!

João ficou com medo, pois pelo que se lembrava, estava com cargueiros, e não com piratas. Com muita curiosidade e aproveitando para roubar água para engolir com o café, já que era em pó, foi disfarçadamente à cozinha, que ficava do outro lado do navio.

Subiu as escadas sorrateiramente, as quais, mesmo assim, rangeram. Che-gando próximo ao leme, ainda muito distante da cozinha, ele resolveu subir no mastro e ir pelas velas até o seu destino, para que ninguém o visse. Ele per-correu aproximadamente 50 metros, pulando de cordas em cordas e fazendo acrobacias. Naquele momento, todos estavam recolhidos, descansando ou se alimentando do outro lado, logo abaixo do convés.

Quando faltavam apenas 3 metros, ele resolveu descer dos mastros, mas, antes disso, observou, ao longe, que todos os tripulantes eram piratas e os que não eram estavam amarrados ao mastro principal. Acabou com a sua cu-riosidade e, de bônus, ficou ainda com mais medo de ser capturado.

Quando começou a descer, esqueceu que o bolso da sua calça estava fura-do, permitindo que algumas moedas caíssem e fizessem barulho, alertando os tripulantes malfeitores de que algo estava acontecendo.

Os homens viram João e logo o pegaram e o levaram ao capitão:

-Capitão, capitão, olhe só quem nós encontramos, tentando ir para a cozi-nha!

-Ora, ora... vejamos o que temos aqui, você não parece ser muito velho e parece menos ainda ser um marujo.

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-Isso é porque eu não sou um marujo, estou viajando de penetra. – disse João, tentando parecer corajoso .

- E existe mais alguém viajando com você? E não se atreva a mentir para mim, pois, se você pensar em mentir para mim e eu descobrir, adivinhe só quem irá andar na prancha... você e o seu coleguinha.

-Claro que não, eu trabalho sozinho. – falou com confiança.

-Se é assim, homens, chequem todo o navio.

Alguns minutos depois os marujos voltaram, trazendo Ana à força.

- O que você faz aqui? - perguntou com raiva, mas não teve tempo de ob-ter a resposta.

Em seguida, o capitão ordenou que amarrassem as mãos dos dois e os le-vassem à prancha.

Enquanto os dois caminhavam, João cochichou no ouvido de Ana para que ela pegasse o canivete em seu bolso traseiro e cortasse a corda de seu pul-so. Ela o fez com muita dificuldade e também de modo muito discreto...

Após ter a corda de seu pulso cortada, chutou uma lamparina acesa em um monte de barris com restos de pólvora, fazendo com que alguns explodis-sem e começassem um incêndio no navio.

Todos os marujos correram desesperados para apagar o fogo e, no mesmo estante, ele libertou Ana, fazendo com que ambos fossem diretamente soltar os verdadeiros donos da embarcação, os quais só Ana sabia onde estavam... ela os conhecia e tinha sido convidada para viajar com eles até a França.

Após os piratas apagarem as chamas, começou uma verdadeira batalha épica... Os meliantes tinham uma vantagem numérica, mas os tripulantes, agora soltos, eram mais jovens e mais fortes, e só foram tomados de assalto porque foi um ataque surpresa.

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Enquanto isso, Ana pegou duas pistolas Parabellum e subiu no mastro onde ficou bem localizada para poder mirar e atirar nos oponentes, os quais demo-raram a perceber onde ela estava, mas, quando descobriram, a brincadeira acabou, pois os piratas começaram a subir para pegá-la.

Ela, que não era boba nem nada, sempre que percebia que os piratas esta-vam subindo, usava a inteligência e atirava nos barris de pólvora próximos a ela. Já os donos do navio, percebendo que a posição de Ana era essencial para a vitória, também a protegiam.

No mesmo momento, João lutava contra o capitão pirata; os dois armados de espada e dando tudo para conseguir a vitória. Eles estavam em batalha próximo ao leme... O herói estava usando toda a sua força para alcançar a vitória, mas, como era muito mais jovem e por viver apenas na cidade, era mais fraco que o capitão.

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A única saída de João era usar da inteligência para deter o vilão. Ele teve a ideia de conduzir a luta de forma que o capitão caísse no mar... no princí-pio, estava funcionando, mas, quando restava pouco para o velho lobo do mar cair, este disse:

-Garoto tolo; acha que eu não percebi o que pretende fazer? Você quer me derrubar do navio. Como você é burro!!

Bumm!! O capitão caiu não no mar, mas no chão... com um tiro certeiro na cabeça. João olhou para Ana e agradeceu:

-Valeu! Você salvou minha vida!!

-Não fui eu!! – respondeu Ana.

João olhou para trás e viu um homem:

- De nada. – falou o homem.

- Obrigado, mas quem é você?

-Eu sou Nemo, o dono do navio e você? Quem é?

-João... eu estava viajando de penetra, desculpe-me por isso.

-Tudo bem, você salvou nossa pele e o meu navio...

Os dois saíram e juntos expulsaram o restante dos piratas, colocando-os amarrados em um bote à deriva no mar.

Nessa noite, houve um jantar em comemoração, contando com um gran-de banquete. Foi uma noite agraciada por uma grande e brilhante lua, cerca-da por muitas estrelas. Regado com muito café, é claro...

Após comerem muito, todos foram dormir, menos Ana e João que haviam tomado muito daquela bebida famosa, e ficaram deitados um ao lado do ou-tro, observando o céu... Foi quando Ana disse:

-Como a lua está bonita hoje, muito brilhante.

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João, então, retrucou muito bem:

-Está mesmo, mas não se compara ao brilho dos seus olhos, dos seus lin-dos cabelos e desse rosto perfeito, desejável por todos os homens desse mun-do.

Ana se levantou envergonhada, disse boa noite bem depressa e foi ao seu quarto dormir. Agora não mais presa por piratas.

João se levantou, tentando entender o que havia acontecido; ele se dirigiu aos seus aposentos para poder descansar, quando viu a bela jovem voltando.

Ela rapidamente deu um beijo nele, mas que, para ele, pareceu que foram horas de puro amor.

Os dois, então, seguiram a viagem, um sem falar com o outro, mas o que um sentia por dentro, o outro também sentia.

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Ainda estava em pleno navio, navegando pelos mares agitados da Euro-pa, quando avistei vários aviões parados em um aeroporto. 

Assim que cheguei a terra firme, resolvi verificar o que estava havendo e aproveitar   para ver se eu conseguia alguma pista de onde estava o Santos Dumont, pessoa pela qual eu estava à procura. 

A GRANDE DISPUTA

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Então, perguntei, para um dos homens que lá estavam, por sinal, ameri-cano, o que estava a acontecer no local, pois havia achado estranhos aviões parados e muitas pessoas ao redor. Ele me  respondeu que estava havendo uma grande competição de voo que envolvia aviadores do mundo inteiro com o objetivo de chegarem até um país destino. Foi quando eu me interes-sei pelo assunto e consegui convencê-lo de que me levasse no avião, durante a corrida toda.

Acho que agora eu teria a chance de me encontrar com meu objetivo hu-mano... nem que fosse no ar!

     Durante o vôo, comentei com o piloto que eu estava à procura de San-tos Dumont, o inventor do avião. Ele, na hora, revoltou-se, e disse que quem inventou o avião foram os irmãos Wright. Então, retruquei, dizendo que eles só copiaram Santos Dumont para ficarem com a fama.

Assim que chegamos, toda a imprensa foi para cima de nós dois para per-guntar sobre a corrida e o piloto americano, bravo, disse:

      - Este ser diz que o estúpido do Santos Dumont foi quem inventou o avião, mas claro que não. Todos nós sabemos que quem inventou foram os irmãos Wright!

Foi quando eu argumentei:            

-Eu discordo plenamente! Dumont fez todo o sistema dos aviões e, ao publicar sua idéia, os irmãos Wright copiaram quase na mesma época! Isso é um absurdo. - após os longos minutos de discussão, o americano olhou para o fim da pista:

      -Quem é aquele homem vindo ali?!

     Ao vê-lo de longe, todos notaram uma pessoa elegante, usando um cha-péu e um bigode pequeno, com a cabeça baixa, e quanto mais ele chegava perto, mais as pessoas se questionavam. Quando finalmente chegou, disse:

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            -Os irmãos Wright são uma farsa! Eu inven-tei o avião! Eu mesmo, Santos Dumont! Aqueles dois apenas fingem que fi-zeram, para serem orgu-lho do país deles.

            No meio do discur-so, dois  rapazes seguiram em direção dele,  empur-rando todos à frente; eram os irmãos Wright!

           -Ponha-se em seu lugar, Dumont! Nós que inventamos o avião! Nin-guém o conhecia na época! Você devia nos agradecer por, pelo menos, colo-car seu nome na história!

            Quando Dumont e os irmãos Wright começaram a discussão, logo eu acabei com a briga. Então, sugeri:

          - E se vocês fizessem uma competição de vôos?  O primeiro que che-gasse até a Inglaterra venceria a disputa.

            Logo todos concordaram! Após dois dias, eles chegaram com seus aviões já prontos para a corrida.

Com meu entusiasmo pela disputa entre os inventores, eu até dei-xei de lado a minha volta e a minha busca pela máquina de que tanto eu pre-cisava...

Agora, a honra do meu herói estava em jogo!

No ar!!

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Como já era previsto, Santos Dumont conseguiu vencer a competição e levou, definitivamente, o título de inventor da aviação.

-Parabéns, Santos Dumont! - disse eu na volta dele para a França.

-Obrigado, meu rapaz... Agora, em que posso ajudá-lo?

-Preciso de que o senhor in-vente uma máquina do tem-po!

(...)

-Não fale muito alto, pois as pessoas vão considerar que você é louco, homem!

-Isso não faria diferença, pois sou considerado louco desde que cheguei aqui.

-Você não é desse país?

-Não, eu sou de outro tempo!!!

Santos Dumont ficou com os olhos arregalados e quis saber mais sobre o que acontecera... Foi quando João relatou cada etapa da sua vida peculiar.

Após muita conversa:

-Entendi... Deve ser complicado não ser de uma época em que se está, não? Mas eu tenho uma solução. Todos os meus aparelhos e invenções são,

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de certa forma, uma máquina do tempo. Só que o segredo eu não conto para ninguém.

-Como assim? Não poderei saber como fazer para acionar o que será pre-ciso para eu voltar à minha época?

-Calma, jovem desesperado! É assim que vocês são no futuro? - pergun-tou, rindo.

Eu me contive para ouvir suas sábias palavras. E ele continuou:

-O segredo é simples, mas muito seguro, pois ninguém desconfiaria de que um simples símbolo é a chave mestra para acionar o túnel de vácuo do tempo. Além disso, é necessário estar na posição correta e falar uma simples frase praticamente sem sentido. Só os mais tolos poderiam fazer tudo isso ao mesmo tempo, sem perceberem que se tratava de algo que ocasionaria uma viagem no tempo.

Sem falar mais nada, eu percebi o motivo pelo qual eu estava ali... eu era um tolo! Mas um tolo feliz! Jamais eu poderia imaginar que minha tola curio-sidade me faria estar diante de um dos nomes mais importantes da história mundial. Bendita tolice!!

-Bem, agora que sei o segredo, devo contar o meu... Eu fiz exatamente isso e, por esse motivo, estou aqui para contar que seu experimento realmen-te funciona. No museu onde está sua aeronave, 14 Bis, sentei-me no banco do piloto, olhei para o símbolo e li a frase... Após isso, cá estou, na sua frente!

- Ip urra!!! Até meu avião funciona? Pode me contar mais sobre isso?

Por longas horas, ficamos conversando sobre como era o futuro e sobre como seria o feito que marcaria a aviação eternamente.

Foram horas que voaram... foram inesquecíveis.

Agora, eu estava pronto para partir.

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Eu queria ser capaz de esquecer tudo o que eu passei, assim como fazem as pessoas frustradas devido a relacionamentos ou coisas assim, no meu sécu-lo, para não se magoarem. Mas eu não podia simplesmente fazer isso, por-que o que eu passei aqui não foi simplesmente uma aventura, foi como uma vida inteira ou, pelo menos, como o começo dela. Uma parte dela estava pre-

DESPEDIDA

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sa no passado a qual eu precisava para me sentir completo. Finalmente achei.

Quando ela me pediu para ficar... Parecia impossível dizer não à pessoa que eu mais amava no mundo, fosse no presente ou no passado, eu estaria li-gado a ela para sempre, e sabia que eu nunca mais iria vê-la. Como poderia abandoná-la então?

Durante todo o tempo em que estive preso ao passado, mesmo que não o meu, só queria voltar para o presente, queria ir embora daquilo tudo, vol-tar para a tecnologia, para os programas de TV, para o meu celular e para os lanches gordurosos. Eu vi o começo de tudo aqui, vi minha paixão por aviões antigos se justificando, vi tanta coisa aqui, que parece impossível voltar ago-ra. E, principalmente, encontrei, no passado no qual vivo, a pessoa que tanto procurei no futuro.

Como sairia dali simplesmente?

- Não vá. – ela me pediu chorando, tentando, ao máximo, disfarçar o quanto estava triste, porque, assim como eu, ela tinha uma consciência de que ia acabar, mas não tão rápido, não assim.

- Você sabe que tenho que ir, pois eu tenho uma vida, lá na frente, espe-rando-me. Não é só aqui, não é só você. – o quanto me sentia mal dizendo aquilo, eu nem podia mencionar. Ela ficou em silêncio, o que me doeu mais. – Desculpe-me. – tentei amenizar a situação, mas sabia que não consiguiria; sempre odiei despedidas.

- Eu não posso deixá-lo ir! Eu o amo! – ela começou desesperada – Você sabe o quanto é importante pra mim, mas eu sei que tem uma vida es-perando, amigos, tecnologia, uma família lá no futuro para construir. Mas e se... – silêncio... ela se calou, avaliando as palavras e abaixando a cabeça, en-vergonhada.

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Durante o tempo em que se calou, notei uma roseira, do outro lado da janela, linda; rosas brancas extremamente bem cuidadas. Eu sabia o quanto ela gostava de rosas, logo as rosas que se pareciam tanto com ela: lindas, deli-cadas, que pareciam tão frágeis, mas tinham espinhos capazes de machucar.

Mas não foram as rosas que me fizeram desviar os olhos do rosto triste de minha amada. Foi uma única rosa, laranja, mas um pouco fosca, com man-chinhas escuras por estar um pouco murcha.

Na hora, é claro, lembrei-me dos símbolos que percebi em tudo, a viagem toda e que sempre me levavam a um próximo local; soube, naquele instante, o porquê de tudo aquilo. Mistério e sucesso...

De repente, sei porque estava ali, porque fui ao museu naquele dia, por-que minha vida estava horrível, porque eu não me satisfazia com nada no meu tempo, na minha época, no meu mundo, na minha vida tão moderna. Era porque isso estava reservado pra mim, e porque eu precisava descobrir tudo, precisava saber o que seria o amor, o que seria a felicidade.

E, naquele lugar, eu me sentia feliz, sentia-me bem ao lado dessas pessoas fantásticas que conheci, que superaram todas as que conhecia no fu-turo.

E sabia o que tinho que fazer, sabia que era isso que eu estava esperando e que, finalmente, eu me sentia feliz.

- E se o quê? Continue. – eu levantei seu queixo.

- Por que você não fica aqui? – novamente ela se calou, mas, desta vez, esperando uma resposta... Como não digo nada, ela prosseguiu – Você pode trabalhar com Santos Dumont! Ele gostou do seu jeito! Meus pais o adoram e poderíamos formar uma família! Agora que sou viúva, posso viver com você. – viúva ? Eu não disse nada, estava em choque com a ideia de ficar ali. Acho que foi pela morte do marido que ela ganhou a tal viagem de presente.

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– Desculpe-me, - ela continuou - não devia ter dito isso, é impossível, eu sei e...

- Não. – não, não é impossível, e se eu ficasse? Ela era minha prioridade, era a coisa que eu mais amava no mundo – Não, não é impossível.

- O quê? – ela estava totalmente surpresa, mas eu também.

- Ué, eu posso muito bem ficar.

Sem que ela pudesse reagir, comecei a cantar uma música que eu sempre ouvia na minha época, no meu mundo...

Palavras Ao Vento

Cássia Eller

Ando por aí querendo te encontrarEm cada esquina paro em cada olhar Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar

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Que o nosso amor pra sempre vivaMinha dádivaQuero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas Palavras pequenas Palavras

Ando por aí querendo te encontrarEm cada esquina paro em cada olhar Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar

Que o nosso amor pra sempre vivaMinha dádivaQuero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas Palavras pequenas Palavras, momento

Palavras, palavras Palavras, palavras Palavras ao vento

Ando por aí querendo te encontrarEm cada esquina paro em cada olhar Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar

Que o nosso amor pra sempre vivaMinha dádivaQuero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas Palavras pequenas Palavras, momento

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Palavras, palavras Palavras, palavras Palavras ao vento

Palavras apenas Apenas palavras pequenas Palavras

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Em relação à produção de tex-tos, os professores têm colabora-do muito para este projeto dar certo. Eles têm dado dicas que nos ajudam a deixar o capítulo bem melhor. Eu aproveitei cada uma das dicas, porque, como eles dizem, vamos utilizá-las no ensi-no médio!

ANA CAROLINA MENDES

Durante todo o projeto, ad-quirimos bastante conhecimento. Nossas técnicas de escrita e de or-ganização de ideias foram aprimo-radas, o que é de grande ajuda para redações futuras. Em Dese-nho Geométrico, por exemplo, es-tamos montando figuras com po-liedros ensinados em sala. Esse trabalho nos mostra que, em gru-po, todos devem cooperar e, por ser bem difícil, não há como o tudo ficar para uma só pessoa.

ANA DE SOUSA

O projeto me ajudou a enten-der o processo de criação de um livro, assim como me ensinou a desenvolver um texto de forma coerente, e que prenda a atenção do leitor. No geral, apesar de tra-balhoso, escrever um livro foi uma experiência divertida; mes-mo tendo os capítulos escritos por pessoas tão diferentes das ou-tras, o livro deu certo e o resulta-do foi muito satisfatório. Um dia, espero escrever um livro. Foi mui-to bom ter essa experiência como base para o futuro.

MARIANA DA SILVA

Pode-se dizer que é um proje-to muito bem elaborado e que deve ser repetido para as turmas do ano que vem.

HENRIQUE SANTOS

DEPOIMENTOS

PRÓLOGO

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Objetivo compartilhado com os alunos (produto final)Um livro (romance) por sala de aula, onde os alunos, em grupo,

produzissem um capítulo que comporia uma obra única por turma, se-guindo um enredo criado por eles.

JustificativaAo se trabalhar com produção de textos em todos os anos do ensi-

no fundamental, médio, superior e até em níveis mais avançados, nota-se a necessidade imprescindível de uma atividade que contem-ple um produto final e que seja para um público real, dentro de uma demanda real. Tal fato é muito presente em diversas referências bi-bliográficas da área, o que leva docentes a criarem projetos educacio-nais que incitem o despertar da escrita no meio discente, num traba-lho paralelo ao de formação teórica sobre gêneros discursivos e teorias adjacentes, além de sobre o uso da Língua Portuguesa.

Para tal, aproveitando o ensejo da Feira do Livro 2013, o que se apresenta, através desta obra finalizada, é a proposta de produção de um livro (romance) por sala de aula dos alunos 242 do 9º ano.

Além de uma prática de produção de texto, houve o imprescindí-vel objetivo de a atividade proporcionar interações entre os pares e en-tre as áreas, como aconteceu durante todas as etapas, como preconiza-do nos PCNs. Nesse contexto, houve a parceria da gramática, explo-rando as estruturas linguísticas e textuais, com a área de artes, quan-do da confecção da capa e das ilustrações da obra; com a área de litera-tura, estudando gêneros, nuances, estilos e possibilidades literárias; e com a área de desenho geométrico a qual possibilitou instalações reali-

PROJETO LIVRO DA TURMA 2013

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zadas com poliedros, também sobre o tema central proposto para este ano letivo. Ademais, tal atividade reforçou a prática da interação en-tre alunos atuantes, centro das ações, num compartilhamento cons-tante de ideias dentro de cada grupo e entre grupos, assim como entre os grupos e seus professores.

Além de todo o contexto de produção já descrito, apresentou-se a manipulação de ferramentas digitais no processo, uma vez que existiu produção tanto manualmente como digitalmente, inclusive com a con-fecção de mapas mentais e conceituais, fato que alinha o projeto com as mais utilizadas técnicas de escrita no mundo acadêmico e profissio-nal. Outrossim, houve grande pesquisa sobre o tema de 2013 “PALA-VRAS NO AR: O HOMEM, A LITERATURA E O SONHO DE VOAR” e a necessidade da versão definitiva em formato digital, utilizando a tecnologia a favor do maior engajamento estudantil. Finalizando, to-dos fizeram um texto manuscrito com relatos onde os alunos pude-ram expor etapas, angústias e conquistas neste ano letivo, e durante a confecção do livro.

O resultado está nas suas mãos, prezado leitor.Deleite-se com palavras escolhidas para você.

A todos, meu sincero agradecimento,

Prof. Sérgio Ricardo Lopes Fascina 25 de maio de 2013

“Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez.” - Thomas Edison

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Apertem os cintos! O pilotou não sumiu!! É assim que iniciamos a leitura de uma obra emocionante sobre o nome mais importante que conhecemos: Santos Dumont. Mas seria só sobre a vida dele?

Não! Na realidade, ele faz parte de uma estrutura de fatos que contém roubo, trapaça, seres em eterna disputa...

Um símbolo, uma passagem secreta e uma vida ligada ao futuro do passado... Como isso pode acontecer? Só lendo para saber... Palavras o (a) guiarão por uma história de buscas, de desencontros e de perdas... De escolhas e de descobertas.

Descobertas de um amor... Clichê? Não, jamais... amar é importante em qualquer tempo e aí está o principal problema a ser resolvido... O TEMPO?!

Épocas se cruzam com o intuito de voltar... Mas como voltar para onde não se deseja ter vindo?

Seja você também participante desse voo... e faça parte de um pouco da história da aviação brasileira que o 9ºF vai contar. Sua imaginação vai alçar voos inimagináveis...

CONTRACAPA

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