Duras penas

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DURAS PENAS italo lima

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DURAS PENAS

italo lim

a

A poesia existe e está em toda parte. Pobre de nós poetas que veem diante de burocracias ditatoriais, pois para publicar um livro, deve-se dispor de: muito dinheiro, muita paciência e ser eleito diante da burguesia de popular. Há os sortudos que são agraciados com algumas outras ajudas. Mas há os que publicam livremente na internet, como eu. Prazer sou Ítalo Lima e escrevi isso para você!

Para Francisca Moraes da Cruz

P ( A R T E )

E U DECORO D E C ÓEU ART DECÓ

A A R T EN U N C A ÉU M A S Ó

É flash, é vapt e vupt

Que seja 7 a vida out

Nela boom retribuo

Breve ceita ligth on

Oh vida estrangeira

FLASH

E que sexo tem cheiroGosto e desejoQue tem fomeE come caladoÉ gozo apenas

Sexo não tem corSó vontade

É sede que não saciaÉ suor na noite fria

E nas noites de lua cheiaNunca chega calado

SEXO

ELEQUENÃOTEMASAVOASEMSAIR

DOCHÃO

FULF

Por entre rios e anseiosCandeeiro que me iluminaÁguas turvas se debruçam atrozEnleio de súbito se aproxima

Gritos de agonia e pressaAntagônicos suores que me invademE faz meu corpo inteiro tremerVibrações frenéticas que me alucinam

Em um só desejo Em uma só vontade Oh dor que não vai em bo ra

FULG RO

É brilho branco [que cega]É um grito para dentro, que ecoaPensamento nulo quando vem o gozoÉ onomatopeia com todas as vogaisTem fome e é exposto em jatosCuspido por um músculo frouxoFeito tabu, ninguém nele falaMas todos sempre se agradamOh, do ato de gozar!E ninguém goza de desgostoPois gozo é sangue, só que do avesso

GOZO

As nádegas rosadas fluíam acesasAflorando um dizer torto

Com a pele pronta e com salAtiçando a língua de toda gente

Feito reboliço dentro do corpoPronta para abocanhar

Todo músculo que nela chega

)(

s.m

1. É quando a boca cala e a alma sente2. Dor sentida para dentro. 3. Atrito entre

o desejo e o proibido. 4. Manifestação ariscana pele. 5. Impressionar-se com algo.

6. Sensibilidade da alma. 7. Língua áspera na pele. 8. Espírito próximo. 9. Calor frio. 10.

Reviramento dos olhos. 11. Ansiedade do avesso. 12. É quando teu olhos invadem

meu corpo sem permissão.

ARREPIO[ [

SSE

NÍA

SE NA PELE

COM QUE CU

RA ME RE

VELE

NÃO

SOU CO BAIA

AZUL NEM AMAR

ELA SOU SÓ HANN

SOUSÓ OUSOUDOS U L?

Vou confessar - onde a morte ali me peque: AQUI HEI DE FICAROnde o amor se debruça e se esfolia ao meu cantar: AQUI HEI DE VIVERSou gruta mole Sou água suja Sou barro cruHumano A E R J D P D E A O em agonia

Recomponho-me Disfarço-meSou aparência

Voar-me-ei ao teu encontro se por uma instante me desejarAtenderei ao teu clamor, ao teu chamarAlcanço-te sem demora em algum sonho à devanear

Vou confessar - onde a morte aqui me chama: HEI DE RENUNCIARAqui em vida me pertençoDos prazeres alheios hei de beberAté me contentar - assim por dianteEu salvo o nosso perdido grão em terra ardidaBusco anos em terras sofridasCorro em busca do distante olhar entusiasmadoFrustro-me Contamino-meOh doce cruel veneno do ciúmeVem em mim me libertar, sou teu escravo. ABOLIÇÃO: entenda meu penar!

AL MA T U RV QUE NO PEI TO

HABITA. ALMA BELA QUE NO CÉU SE AFLIGEESTRELA DALVACADENTE PROS MEUSOLHOS. OH ALMA QUE DE MIM FOI EMBORA.

A

ALMA BELA

Mar ávido que aliviaA dor no peito

Peito estreito queNão cabe no corpo

Oh desvarioQue me invadeE me faz refém

Oh mar desvarioFaz-me sempre forte

Oh mar desvario

MARDESVARIO

Eu poderia te amar previamente

Mas do amor, pouco se ver futuro

Mesmo adentrando no teu peito amiúde

Morrerei pobre de risos teus - le

ntamente

Assim se cogita um peito de amor puro

Porque a amplidão em mim se agita

E nenhum sacrifício será em vão

Nos meus gestos só, há uma tonta atitude

Que me inclina pros teus lábios dormentes

Vem e livra meu corpo padecido da morte.

PEITO

INCLINADO

meu coração parece um bicho sem freioque desatina o corpo em agonia

pobre animal que não se adestrasó rumina as dores trazidas no peito

e quando se atiça, ferecausando medo em toda gentecom presas de todo o tamanho

meu coração é um bicho quase sem donoum animal que não pensa

bicho sem freio

Pequena Sutil: oh teus belos traços [fustigam]Arauto, ostentação, que fulgor quase que imortal Suas palavras: traços e retas Da sua boca: etecetera e talAssim, donas de seus passos, segue firme Pois sim! Seu conceito reside um ponto fixo

Ela que coca Ela que cola

Ela que do avesso, vertigem nenhuma faz morada

A T E N T E M :

ELA A

N

NN

O QUE IMPERAREI DOS MOVIMENTOS

BAILA AOS VENTOS

ELE NÃO ESPERAATUA SEM DEMORA

DONO DE UM GINGADOSEU CORPO É SÓ AGRADO

EM UM LANCE DE OLHARSUA ALMA REVIGORA

D(AR)IO

E que o tempo seja longoE que dele não haja esperaQue haja agrado em todas as horasQue os ponteiros girem sem demora

Porque o tempo não esperaTempo tem pressa e agonia

Ser efêmero já não bastaÉ preciso ser intenso

A vida é um passo apenasUm instante que logo vai emboraDesejo que você acorde todo diaAcreditando ser o derradeiro

Que o limite seja sempre excedidoQue a palavra “tempo” seja qualquer

Sem preocupação, sem ser atoa Que o tempo seja verdadeiro

E se houver medo, desejo sempreQue ele seja compreendidoQue o tempo não morraNem vire lembrança arrependida

Nem lamentação sofridaPara quando você olhar para trás

Poder falar sem medo:O tempo é eterno!

24 versos sobre o tempo

E no meu jardim haviam tulipas.Sim haviam tulipas no meu jardim.E elas não murchavamNem se empalideciam nãoEram coradas, as pétalas vividas do meu jardimNa madrugada exalavam amores e coisas belasAs amarelas riam sempre das mesmas graçasIndizíveis de peles macias, nunca choravamAs brancas derramavam leite no ventre mudoAs lilás enalteciam-se bucólicasAlumbravam-me de cores vis:As tulipas do meu jardimEntão eu cego de amores, entreguei-as à moça belaDesencravei todas do meu jardimE cobri o corpo nu da exaltadaEntreguei-me a esse amor covarde, doei-me em demasia.Esquecia quem eu eraMorreram as tulipasMorreu minh’alma

tulipas

O desgosto traz em si um troço amargo

E finge ser na lembrança um mal que finda

Mas a dor progride e a tudo desagrada

O desgosto fingiu ser moço e educado

E traz no corpo algum movimento

Que não sustenta, só agride o peito

O desgosto pintou-se em letras

Ganhou equilíbrio e força

Contentou-se ser pra sempre só

dez (gosto)

DESGOSTO

E U Q U ES U P U SO A M O RM E R E F I ZC A L A D O

Dei a ti minha sombra, meu reflexoDei a ti meu tato, os meus sabores e vontadesÉ com tal agrado que hoje te declaro

Dei a ti o meu sorriso mais largoDei a ti o meu abraço e meu afagoDei a ti a luz sincera dos meus olharesÉ com tal virtude que hoje eu te solenizo

Dei a ti meu corpo, minha pele e meu perfumeFizestes de mim abrigo, onde habitas com coragemDei a ti os meus sonhos mais profundosDei a ti tantas outras novidadesÉ com tanta graça que hoje te veneroPor ser sempre meu sem maudade

Dei a ti meus sons e meus gestos mais delicadosDei a ti prestígios e desejos saciadosDei a ti flor macia do pecado

Dei-te enfim meu coraçãoE pus no teu peito reclinadoÉ com tal orgulho que hoje te confesso:

Dei a ti de tudo e de nada me despeçoDei-me a ti por completoE mesmo assim nada te peço.

Dei-me a ti

ou flores no quintaljasmins em teus olhos

pétala ao mar desvario

ou teu corpo nuagredindo-me

são poucas cinzas

vem inteiroazul é a cor

cinzas, as quartas

quartas cinzas

Por entre ombros, dar-se assim tão moçaRoçando a barba na nunca- ela tão louca

Rir de modo a achar graça do mundoE traça um abismo em cada passo

Voa - todo pássaro tem se ninhoEnche de ar teu peito tão largo

Canta pra toda gente escutar-teRespire - aqui te chamo baixinho:

[catarina]

C A T A R I N A

Folhas secasMastigadas na tua boca

Tu me sorrias dentes amarelosEnvelhecidos pelo tempo

Tua língua em rugasPasseava áspera em meu corpo

Teus dedos longosCravavam-me as entranhas

E sacudiam as vísceras em círculos

Suaves sons de gemidosVindos da tua boca

Dantescos dentes que me mordiamFera viva que me penetrava

Gritos! Coisa louca.

fera viva

No amor os olhos se fechamNo amor os olhos se fecham

Porque os olhos dos homens sempre estão a imitar a flor que desfaleceNo amor os olhos se fecham como uma flor que se fecha para o mundo

Porque os olhos desfalecem sempreE o amor é uma eterna flor que desfalece

FLOR QUE DESFALECE

que pônei não pode fazer poesiae porco fuça na lama de alegriasua alma no vento flutua inver aporque alma não voa, nem adormeceapenas finge ser quem acreditae torna-se pônei quando o amor

pôneis

em sim faz folia

E o fim que ele me propôs foi berrar as cegas

Por um amor fadado de falso lirismo exacerbado

Exposto ao limite de um corpo refém do medo

Contorcido por uma crença fanática ao extremo

Estávamos ali, estáticos, nossas almas de fato

Mantiveram-se em um silêncio quase que extremo

E por mais que o medo me invadisse,

Prendesse a respiração, meus gestos saiam por extenso

Em pausa, ou repetitivamente

Gesticular com os olhos foi em vão e ridículo: gritei aos erros

E

E com ou sem demoraNo limiar do momento exato

Do contrário que diz o alfabetoVeio o agrado

Que todo ponto gêVem depois do agá

ponto G

Amanhecia mais uma vez em teus olhos um sol cinza e opacoDe uma tristeza vazia que ecoava qualquer suor de minha peleEu tonto de emoção, busquei pelo sol-agonia a tua voz, a tua cor

No desespero da loucura do meus ser, queimei tristonhoAo ver que o sol que se punha em mim, era teu corpo inteiroSem excessos e nem vazios, fiz noite a quem me jurou amor eterno

E na solidão do mal-me-quero, vi meu peito rasgar em sonhoAquilo que em vida vi em ti ser muito mais do que verdadeiro:Que amar vai muito mais além do que palavras, sol e olhar...

ENTRE O MAR

E deu-se ao mar achando que ainda era moçaNua e leve, sob o doce mar sombrio e branco

Com a pele sedenta de agonia, sem medo de amar

As águas fundas penetraram-na sutilmenteAlheia de tudo o que houvera e ávida de prazer

Beijou o mar, um beijo sem boca: engoliu-o

E contorceu as veias e músculos de ardorFeito chama, suplicou tonta tal libido

Não sabia ela, que o mar também tem vida

MAR AMANTE

Hoje tudo vira printPágina de jornal

Ah, mas meu amor Não escancarou notícia principal

Ele que de tão grandeFez-se escondido

Por trás de um requinteSó meu, sem manias

Ou desespero qualquerAh, as minhas palavras

Que ela não virePoesia banal

PALAVRAS

Eu poderia mesmo achar a saídaLivrar-me dos labirintos

Dos labirintos e labirintosDentro do meu apartamentoSim, eu me encontro perdidoLutando contra os meus erros

Matando esses monstrosUm por um, no meu apartamento

Eu poderia derrubar as paredeTodas sujas de sangue

O amargo sangue das tuas veiasAh, são tamanhas as paredesDentro do meu apartamento

Aos poucos vou morrendoNo labirinto de labirintos

Estou enfraquecendo

Eu poderia ver a realidadeDe certo, mas prefiro acreditar

Que existem labirintos e labirintosDentro do meu apartamento

Ou então abrir as janelasPara poder entrar todos os insetos

Eu poderia mesmo achar a saídaLivrar-me dos labirintosDos labirintos e labirintos

Dentro do meu apartamentoSim, eu me encontro perdidoLutando contra os meus erros

Matando esses monstrosUm por um, no meu apartamento

Eu poderia derrubar as paredeTodas sujas de sangue

O amargo sangue das tuas veiasAh, são tamanhas as paredesDentro do meu apartamento

Aos poucos vou morrendoNo labirinto de labirintos

Estou enfraquecendo

Eu poderia ver a realidadeDe certo, mas prefiro acreditar

Que existem labirintos e labirintosDentro do meu apartamento

Ou então abrir as janelasPara poder entrar todos os insetos

LABIRINTOSLABIRINTOS

o que sonha um cego de nascença?se visão nenhuma lhe foi dado?sonho turvo, sons e espectrossinestesia, vibrações e alegoria

o que pensa um surdo de piae sua voz ausente em pensamento?imagem em movimentosonho e nostalgia

silêncio e escuridão de tudosomos todos obscuros / som mudoque visão distorcidatemos todos nós do mundo

CEGUEIRA

Como posso eu confundir as costas tuas?Se na tentativa de te esquecer eu me enganeiNão era você, lúbrica na cama, a estar nuaEra outra mulher, outras costas, seu nome não sei

Na intimidade da noite, saio só pela ruaCom a esperança de ver as costas que arranheiQuem mostrará o outro lado oculto da lua?Oh minha loucura! A tua procura estarei

Se estou preso, é por vontade, a essa mulherVivo eu assim - prisioneiro de mim mesmoAinda te procuro, em cada esquina, onde estiver

Agora restou apenas a solidão, vivo em constante esmoHoje já não sei quem sou, a vida mal me querEstou só na desolação do meu próprio sesmo

A PROCURADA

Andam os certos, andam os erradosNessa constante vida dos amargurados

Julgam na dor, toda posturaToda conduta isenta de solidão pura

Voam para longe, os leves corações aladosNa imensidão se perdem, são todos torturados

Pela faca cega, cega da paixão sem curaConscientes da certeza de ser só, na candura

Vivem os fracos, vivem os fortesNessa batalha do peito tão ferido

Marcam-se os pulsos com longos cortes

Sangra na dor, o pobre coração sentidoNa beira do abismo surge a morte

De braços aberto, à te levar para um mundo perdido

MORTE

E o ser fatigadoVolta aflitoDe uma vidaRelutanteCambaleadoEstreito e vazio

A fome invadeDestrói e disseminaHá somente um peitoEscasso e áridoOnde habitaO pobre coraçãoPartido.

APERTO

A intenção estava no gestoNo olhar secante em meu corpoNos dedos intensos e febris

Não havia sentimentoApenas o desejo carnalA busca feroz pelo prazer

Ser sensual era precisoMeus seios duros e sutisApontavam a direção exata

Minha umidade exalavaO cheiro máximo do prazerEstava necessitada, louca

Fui consumidaProfundamente penetradaO fel veio na hora exata

Gotas brancas embelezavamO meu ventre lisoFui breve e friaNa minha própria consolação

EXERCÍCIO

A boca tinha em si ângulosQue formavam outras bocasE formavam outros ângulos

A boca mordia a línguaMordia os lábiosA boca tinhaAgonia e pressa

E na viscosidade noturnaPerdeu-se entreabertaCheia de visgos e musgos

BOCA

Perder-se em teu corpoTeus dedos lamberPor entre línguas e afetosTeu nome supor

Ver mistério em tua roupaLivrar-me delasNo mesmo instante

Perder-se entre afetosPor num copoTuas carícias

Bebê-las de gota em gotaE engasgarCom teu sobejo

SOBEJO

Sou quaseOu nada

Sou do avesso

Sem sonhoOu pesadelo

Sou faseSou mistério

Que não conheço

Sou etéreoQue não agrada

Sou o fimSou só começo

...OU

Nunca comemos pizzaNunca fomos à praia

Meu riso nunca se confundiu com o deleNossos signos parecem não mais combinarOs olhos dele já não andam a me prender

Nunca escrevi poemas para eleNunca fui ao cinema com ele

Hoje moro em Ipanema, sem ele

Nunca mais conversamos horas a fioNão conheço mais o corpo dele

Já esqueci o gosto do beijo que ele tinha

Não escrevo mais poemas nas costas deleNossos pensamentos perderam a sintonia

Eu penso demais, por isso ele não anda mais comigo

Nunca fui a escolaNão conheço Ipanema

Odeio Bossa NovaQuebrei meu violão com o nome dele

Mentira!

NÃO EU

ex redou

ex atoreu

ex redator

EXEX

EXEX

EXEX

EXEX

Diz-se riso belo ePenteia o cabeloTem no rostoUm riso largo

Ou da virtudeQuase sem defeitoTrazes no coraçãoUm enorme refúgio

Sem nomeOu apelidoQue trazes no peitoAh o meu Narciso

Ou quase umSobrenomeTudo segredoAmizade que preciso

Ou ama ou foge eEsquece naMinha camaTodos os relógios

DA VAIDADE

S O F R AS E M P R ES O Z I N H OP O R Q U EA S S I MN I N G U É MT E J U L G A

No peito aflitoHá um espaço

De um longínquo

Tamanho sem fimOnde habitaA amplidão

De um troçoVago e oco

Há um espaçoCheio de silencio

E desesperoOnde o vazio

Branco e vibrante

Apenas enlouquece

AG ORA

Mas há tambémA eloquência

De um desertoFrio e apático

Rodeado de avessosDe desinteresses

Há os loucosPelas ruas vazias

Que nada interessaOnde o desanimo

Aflige a peleDe toda gente

FRIGIDEZ

Hoje eu acordei poetaE quem eu era nos outros dias?

O sol saberáEu que fui frio na manhã cinzenta

Hoje trago palavras mudas na línguaTu que sempre me emudecias

Velejou sem rumo ao marHoje sei na conformidade do meu ser

Que serei sempre eternidade

ETER NIDADE

BOCA U-MIDA EQUENTESPULSANTE O DESEJO QUE SOA

LÍNGUA LEVEQUE LAMBE

E SORVEE LAMBE

TODO MÚSCULOCHEIO DE VEI

AS

VEI AS

Como quem tinha sonoComo quem não tinha nomeVeio surgindo por entre o vãoEle que me arrastaEle que de mim não tem penaEu sou só rastroCasto de mim mesmo

CASTO

Lírios levesPasseiam atoaLivres e loucas

Teus olhos e bocas- Assim

Soam tão brevesQue até esquecesTeu cheiro jasminsE trazes na mãoSomente afago

Oh dulcíssima Lívia

LÍVIA

Como um motor atrás do rioSorridente e desalmadoTrago no copo vazioUm liquidificador quebradoTingido de alma turvaSem som de estribilhoMorto feito um passarinhoMeu peito segue a moerA morrer, o pobre coraçãoPar ti do

PAR TI DO

A traição é um bicho tortoVeneno que não mata

Fogo azul que não apaga

É quando o amor se diz mortoAntes esquecido do que enterrado

A traição é nó que não desata

É um enfeite que não tem graçaQue atrai toda gente fraca

Saibamos: a traição não tem cura

T AIÇÃOR

Olhos carente que apodrecemSem vida ou vontadeLábios que se fechamBraços que se encolhemReclusos e rejeitados

Olhos que tem fomeSem gosto ou desejoLábios tão desertosBraços que se movemEm vão e sem sentido

Olhos que não tem donoLábios que não se beijamBraço? [sem aperto

ABRA ÇO

Era assim:Havia um sentir estranhoSentia que ia choverMas nunca choviaSentia que ele ia estar me esperandoNo vigésimo oitvo andarQuando eu fosse me suicidar Mas ele nunca iaSentia que estava com febreMas nunca estavaSentia toda noite que amanhãSempre seria um novo diaMas nunca amanheciaSentia mesmo era uma aflição Um troço ardente e sufocanteQue nunca se iaSentia cheiro de vodkaDe etanol e tequilaMas nunca bebiaAcontece é que nessa vidaEu sinto tudo erradoE nunca morria

ADVERSATIVO

Que és tu poeta verossímil?Que cantas tristementeQue trazes nos olhos tanta neblina?

“Sou mistério de pouca luzDesejo mal concebidoTrago no peito toda esperançaDa volta de quem foi embora erroneamente”

Não vês?Que o fado já não é maiorDo que podes suportar?Não chores tanto assimA vida é só um possível de prazer

?

Destroços e tormentosFugas sem rotas

Devaneios desatentos

Aqui:mora um amor vazio

Abandonado morto

Aqui:sem você

Desfez-se a morada sagradaSou simplório e agonia

Agora meu coraçãoÉ só

Solidão

QUIA

P E R D E U - S E A ARTE DA C O N Q U I S T AAGORA SE DIZ COM AUDÁCIA OU MALÍCIA:QUAL O O SEU W H A T S A P P ?

Infindável é o momento da espera, da angústiaInfindável é o tempo que não passa, a dor que não cura

Infindável é o amor que fica, a roga eternaInfindável é pensamento multilateral, a psicodélia

Infindável é o fígado, Plutão, Saturno e o escambau Infindável mesmo é o momento do agora, que nunca termina.

Infindáveis são as esquinas, todas anexas e misteriosasInfindável é o vazio no peito direito de quem amou

Infindável é a morte, que te põem pra dormir sem permissão Infindável é o lamento dessa gente patética imutável

Infindável mesmo é o estar de cada coisa, que ninguém entende

MISTERIOSO TEMPO DE SATURNO E O ESCAMBAU

Vamos amar depressaE quando não houver

Mais amor que se messa, Vamos fazer promessas, E distribuir sem demora

Olhos fartos pelas esquinas. Vamos seguir distintos,

Clamar por um céu anilado E gritar de aflição.

Vamos passear famintos, Crer em cada mito,

Pregar dez mil des(orações)E desistir de tudo.

Porque no fundo o amorFoi degradado,

Foi escondido, E tingido de falsa esperança

Saibamos: o amor foi refutado.

DA PREMISSA

Não venha esse papo De que quem ama atura

Ou de sempre ter paciência O amor excede fatos

E findado os limitesO coração também sutura

FINITUDE

Existe algo de estranho Que atormenta e chora. Existe algo dentro de mimQue não conheço E hesito em querer descobrir. Qualquer coisa que faça eco, Que faça reflexo, que reluzQualquer coisa que em vão cresce E vai embora, dissemina e finda Aqui dentro de mim, perdidamente Existe algo que insiste Em querer tomar forma,Em querer ter vida, Mas o que há aqui que não conheço? Por que se faz de estranho esse vazio? Esse vazio em mim, grotesco Minimamente, é só o começo....

NIILISMO AMOROSO

Existe um momento Desses que todo

Ser humano Chega no meio

Aquele instante em queTudo o que ele já viveu

É igual a tudo o queEle ainda vai viver

Nesse momento Só de metadesOs dois pesos Tem lados iguais Onde a exatidão Se mede fixa e simétrica

Onde o passo seguinte Destrói todo o instante

Nada mais fica igual Os dois lados

Terão de agoraEm adiante

Medidas diferentes Rumo ao fim.

METADE

Às vezes estragoÀs vezes em destroços

Amor feito em retalhos Composto de esperança

Fio tenro que desaponta E faz cisão de medo apenas

O desengano ganha forma E segue confuso em seu ofício

Mas ainda resta um peito E o que me sobra

Além de desengano? Às vezes estrago

Às vezes destroços Às vezes estranho.

INCOMUMENTE

I ME R

SOA cada vazio que me vejo imerso

Um terço do que diz ser minha alma Morre de sufoco e agonia

E as veias entorpecidas de medoGritam e dilatam sem sangue

A cada vazio que me vejo imerso Toda a minha pele entristece

Cheia de rugas e suor E em cada esquina toda gente

Segue um passo sem sentido

A cada vazio que me vejo imerso Metade do relógio gira em agonia

E toda clausura enfrenta um tempo morto Sem súplica, sem perdão.

Nada reconheço

A onda do marApaga todo rastro De caminho

Dar as costas Pro mar

E nunca dizer Adeus

DA DESPEDIDA

Pensei em BeltranoE toda essa forma fixaDe pensar, de sofrer

Pensei em CiclanoE em toda essa bossa novaNos olhos de lágrimas

Pensei de todas as formasAinda sim não chegueiEm nenhuma ideia fixaDo porque tanta lógica

DA INDAGAÇÃO

Os ombros relutantes pasmavamDe desgosto e pele fracaOs ombros sobre caídos no corpoTinham peso de máximo

E todo corpo entrava emPutrefação e estado de morteToda agonia era farsa e mistérioDo porvir confundido Toda esperança virava conduta

Do ouvido, apenas a relutância deNão ouvir o óbvio, o incertoQue o significado de toda partidaUltrapassava a vil confiança

DA LAMENTAÇÃO

rodriguesanderson

de todas as palavras ditas

fica o meu alento

o meu desejo

a minha solidão

e a memória fixa

no espelho:

da minha imagem

entrelaçada na sua

fica o meu alento

no espelho:

entrelaçada na sua

Por que me dizes destroços?Se tu me és agoniaDe que esperança me alimente?Onde a fome aque se faz moradaSacia o meu desesperoDestrona todos os meus atosE faz do meu vazioUm só desengano

Por que me vestes de medo?Se aqui em mim se intitula Se aqui em meus olhosSeu semblante se materializaSufoca-me homem vadioE traz a minha pazQue foi de encontro com [a solidão

TORMENTOS

Desse processo úmidoDesse recesso tímido

Dessa esperança ávidaDesse medo frígido

Desse corpo bêbadoDesse amor único

Sobra apenas verbo cálido

(VER)BO

Eu morro todos os dias sem ver seus olhosFinjo e esbanjo alegria, ainda que em destroçosEu morro sem teus braços dizendo qual a direçãoE minhas mãos vão loucamente prontas ao desesperoSem saber qual sentido, sem afago, sem lampejoEu morro de agonia, de sufoco, de saudade, de esperançaMorro assim, perdidamente, de tal maneira....De tal maneira a asfixiar a alma, a flamejar em súplicasEu morro todas as noites, no vazio quado o quarto escureceE me perco nas lembranças cheias de vícios e suoresEu morro de saudosismo, de vingança, do avesso, em reveliaEu morro acordado. Eu morro no espelho, sem reflexo, sem luzEu morro na escuridão, mas nunca ressuscito no terceiro dia

EU MORRO...

COITOINTERROMPIDOLEITEDERRAMADOVOGAISENTRE ABERTASSONS GENIAISAISAIS

PRE CO CE

E se o amor não tivesseDobras ou defeitos?

E se o amor fosse do outroSem medo, seguro?

E se o amor não viesseDo peito, nem do olho?

E se o amor for inventado?

E SE...

Escrevo porque a vidaEm si já não bastaEscrevo porque mereçoPois escrever é um partoSó que do avesso

ESCREVO

Festejei aflito A chegada dos Teus olhos finos

Mendiguei confusoPor teu riso frouxo

Aplaudi ocluso Tuas costas largas

Chorei vazio No teu cômodo

Imundo!

(SÓ)LIDÃO