DVA como instrumento de valorização de ações

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Universidade de Brasília (UnB) Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Inf. e Documentação (FACE) Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais (CCA) Especialização em Controladoria e Finanças A DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO COMO INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO DAS AÇÕES DE EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO Marcelo Santana Honda Brasília 2008

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Um dos objetivos da Contabilidade é divulgar, através das demonstrações contábeis, informações que permitam aos interessados em uma empresa acompanhar o seu desempenho ao longo de sua existência. Historicamente, contudo, tais demonstrações priorizavam a divulgação das análises econômico-financeiras para os shareholders da empresa e, com o tempo, evoluiu para outros grupos de interesse da empresa, os chamados stakeholders. Com a evolução da sociedade e, principalmente o esclarecimento desta em relação ao papel desempenhado pelas empresas em seu meio, surge a necessidade de se obter informações mais precisas da forma como as mesmas contribuem para o meio no qual estão instaladas. A partir desta necessidade, o Balanço Social, e em especial a Demonstração do Valor Adicionado ganha espaço para suprir tal demanda, trazendo à tona o questionamento a respeito da aplicabilidade de tal demonstração sob o ponto de vista da empresa. Este estudo visa avaliar a influência da Demonstração do Valor Adicionado na valorização das empresas de capital aberto que publicam a mesma. O estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa documental, utilizando-se o método quantitativo para se analisar o desempenho das ações das empresas classificadas nos níveis diferenciados de Governança Corporativa da BOVESPA. O resultado encontrado aponta para uma desvinculação da valorização das ações das empresas avaliadas com a publicação da Demonstração do Valor Adicionado, indicando que a mesma possui pouca ou nenhuma influência sobre as decisões do mercado de ações.

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Universidade de Brasília (UnB) Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Inf. e Documentação (FACE)

Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais (CCA) Especialização em Controladoria e Finanças

A DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO COMO INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO DAS AÇÕES DE EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO

Marcelo Santana Honda

Brasília 2008

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Professor Doutor Roberto Armando Ramos de Aguiar Reitor Pro Tempore da Universidade de Brasília

Professor Doutor César Augusto Tibúrcio Silva

Diretor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Inf. e Documentação

Professor Doutor Paulo Roberto Barbosa Lustosa

Chefe do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais

Professor Doutor Jorge Katsumi Niyama Coordenador Geral do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis

Mestre Wagner Rodrigues dos Santos

Coordenador de Graduação do curso de Ciências Contábeis - diurno

Professor Mestre Cláudio Moreira Santana Coordenador de Graduação do curso de Ciências Contábeis - noturno

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Marcelo Santana Honda

A DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO COMO INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO DAS AÇÕES DE EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília como requisito à conclusão do curso de Especialização em Controladoria e Finanças.

Orientador: Prof. Doutor César Augusto Tibúrcio Silva

Brasília 2008

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HONDA, Marcelo Santana A Demonstração do Valor Adicionado como instrumento de valorização das ações de empresas de capital aberto / Marcelo Santana Honda – Brasília, 2008. p. 47

Trabalho de conclusão de curso (Monografia – Especialização) – Universidade de Brasília, 2008 Bibliografia.

1. Demonstração do Valor Adicionado 2. BOVESPA 3. Valor 4. Demonstração contábil I. Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação da UnB. II. Título

CDD –

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Marcelo Santana Honda

A DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO COMO INSTRUMENTO DE VALORIZAÇÃO DAS AÇÕES DE EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília como requisito à conclusão do curso de Especialização em Controladoria e Finanças, aprovada pela seguinte comissão examinadora:

Prof. Doutor César Augusto Tibúrcio Silva Orientador

Prof. Mestre Cláudio Moreira Santana Examinador

Brasília, 18 de agosto de 2008

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À minha esposa Alana, pela constante compreensão, apoio e incentivo. Aos meus filhos, Lucas e Kenzo.

Aos meus pais, pelo ser-humano que sou.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado todas as condições necessárias para

concluir este trabalho.

À minha esposa Alana, por compreender minha ausência e apoiar minha decisão em

iniciar o curso.

Aos meus pais, Mario e Elisabeth, pelo exemplo de caráter e esforço empregado para

proporcionar aos filhos acesso ao bem mais importante: o conhecimento.

Ao meu orientador, Prof. Dr. César Augusto Tibúrcio Silva, pela paciência e tempo

disponibilizados para me guiar nas etapas de construção deste projeto.

Ao Prof. Mestre Cláudio Moreira Santana, por indicar os pontos de melhoria no

presente trabalho.

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“A man is but the product of his

thoughts. What he thinks, he becomes.”

Mahatma Gandhi

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RESUMO

Um dos objetivos da Contabilidade é divulgar, através das demonstrações contábeis, informações que permitam aos interessados em uma empresa acompanhar o seu desempenho ao longo de sua existência. Historicamente, contudo, tais demonstrações priorizavam a divulgação das análises econômico-financeiras para os shareholders da empresa e, com o tempo, evoluiu para outros grupos de interesse da empresa, os chamados stakeholders. Com a evolução da sociedade e, principalmente o esclarecimento desta em relação ao papel desempenhado pelas empresas em seu meio, surge a necessidade de se obter informações mais precisas da forma como as mesmas contribuem para o meio no qual estão instaladas. A partir desta necessidade, o Balanço Social, e em especial a Demonstração do Valor Adicionado ganha espaço para suprir tal demanda, trazendo à tona o questionamento a respeito da aplicabilidade de tal demonstração sob o ponto de vista da empresa. Este estudo visa avaliar a influência da Demonstração do Valor Adicionado na valorização das empresas de capital aberto que publicam a mesma. O estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa documental, utilizando-se o método quantitativo para se analisar o desempenho das ações das empresas classificadas nos níveis diferenciados de Governança Corporativa da BOVESPA. O resultado encontrado aponta para uma desvinculação da valorização das ações das empresas avaliadas com a publicação da Demonstração do Valor Adicionado, indicando que a mesma possui pouca ou nenhuma influência sobre as decisões do mercado de ações.

Palavras-chaves: Demonstração do Valor Adicionado; BOVESPA; Valor; Demonstração Contábil.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Quantidade de empresas que participaram da amostra por nível de Governança

Corporativa (1996-2006) ...................................................................................................32

Quadro 2: Quantidade de empresas, segundo o nível de Governança Corporativa, que

publicaram a Demonstração do Valor Adicionado (1996-2006).......................................33

Quadro 3: Quantidade de empresas, segundo o nível de Governança Corporativa,

negociadas no mercado a vista, que publicaram a Demonstração do Valor Adicionado

(1996-2006) .......................................................................................................................34

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LISTA DE TABELAS Tabela 1: Empresas que publicaram DVA no Balanço Social .................................................29

Tabela 2: Desempenho das ações das empresas no período analisado.....................................36

Tabela 3: Desempenho das ações por segmento de atuação das empresas ..............................37

Tabela 4: Comparativo do resultado da ação em relação ao resultado do índice BOVESPA..38

Tabela 5: Cálculo do coeficiente de correlação........................................................................39

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LISTA DE ABREVIATURAS ADCE Associação dos Dirigentes Cristãos e Empresas BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo CVM Comissão de Valores Mobiliários DVA Demonstração do Valor Adicionado FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço GRI Global Reporting Initiative IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IBOVESPA Índice da Bolsa de Valores de São Paulo IFRS International Finance Report Standards INSS Instituto Nacional de Seguridade Social LAIR Lucro Antes do Imposto de Renda OIT Organização Internacional do Trabalho PIB Produto Interno Bruto RAIS Relação Anual de Informações Sociais

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................................... 9

LISTA DE QUADROS........................................................................................................................................ 10

LISTA DE TABELAS......................................................................................................................................... 11

LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................................................ 12

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 13

2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................................... 16

2.1 Balanço Social ....................................................................................................................................... 16 2.1.1 Conceitos ....................................................................................................................................... 16 2.1.2 O Balanço Social no Brasil ........................................................................................................... 17

2.2 Valor Adicionado .................................................................................................................................. 22 2.2.1 Conceito econômico ...................................................................................................................... 22 2.2.2 Conceito contábil........................................................................................................................... 23

2.3 Demonstração do Valor Adicionado ..................................................................................................... 24 2.3.1 Usos ............................................................................................................................................... 25 2.3.2 Limitações...................................................................................................................................... 26 2.3.3 Usos da DVA no Brasil.................................................................................................................. 28

3 METODOLOGIA ....................................................................................................................................... 31

3.1 Tipologia ............................................................................................................................................... 31 3.2 Técnica .................................................................................................................................................. 31 3.3 Amostra / População.............................................................................................................................. 31 3.4 Procedimentos ....................................................................................................................................... 32

4 RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................ 36

4.1 Desempenho das ações no período analisado ........................................................................................ 36 4.2 Desempenho das ações por segmento de atuação da empresa............................................................... 37 4.3 Comparativo do resultado da ação em relação ao resultado do índice BOVESPA ............................... 37 4.4 Relação entre a publicação da Demonstração do Valor Adicionado com o desempenho das ações na BOVESPA......................................................................................................................................................... 38

5 CONCLUSÕES ........................................................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 42

APÊNDICE .......................................................................................................................................................... 44

ANEXOS .............................................................................................................................................................. 46

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13

1 INTRODUÇÃO

O surgimento da Contabilidade remonta ao mais antigo dos tempos, ao considerar que

o homem primitivo utilizava conceitos básicos de Contabilidade ao realizar a contagem física

de seu rebanho. Historicamente, o primeiro registro impresso que se tem conhecimento a

respeito da utilização de técnicas contábeis é atribuído ao Frei Pacioli, através da obra

“Summa de Arithmetica, Geometrica, Proportioni et Proportionalita”, publicada em Veneza

em 1494, onde descreve, em um de seus capítulos, o método utilizado pelos mercadores de

Veneza no controle de suas operações, método este que futuramente viria a ser denominado

como Método das Partidas Dobradas. A partir daí, a Contabilidade evoluiu juntamente com o

desenvolvimento do comércio e da economia, impulsionada principalmente pelo advento das

expedições marítimas financiadas pela alta sociedade da época.

Como conseqüência de tal desenvolvimento, começa a se formar a base do objetivo da

Contabilidade que é, segundo Iudícibus (1999, p. 23), o fornecimento de informações

econômicas para os vários usuários, de forma que propiciem decisões racionais. Vale ressaltar

que se considera usuário da informação contábil, a pessoa física ou jurídica que tenha algum

interesse nos dados de uma empresa, em suma, são os chamados stakeholders. Os usuários de

tais informações podem ser classificados, segundo Marion (2003, p.25), como “internos

(gerentes, diretores, administradores, funcionários em geral) ou externos à empresa

(acionistas, instituições financeiras, fornecedores, governo, sindicatos)”.

O desenvolvimento econômico foi, pois, um dos propulsores para a evolução da

Contabilidade. Neste sentido, tem-se testemunhado o crescimento alcançado por algumas

empresas em função da realidade econômica na qual estão inseridas e das estratégias

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competitivas adotadas pelas mesmas, tornando necessário, cada vez mais, prestar conta dos

resultados alcançados aos grupos de interesse das empresas.

Aliada a esta necessidade, começou a surgir uma nova fonte demandante de

informações a respeito do desempenho da empresa, porém com enfoque no papel que a

empresa desempenha como membro constituinte da sociedade no que diz respeito à forma que

esta contribui para o seu desenvolvimento da sociedade.

Surge, assim, a figura do Balanço Social, instrumento que tem por objetivo “[...]

evidenciar, da forma mais transparente possível, informações econômicas e sociais, do

desempenho das entidades, aos mais diferenciados usuários, entre estes os funcionários”.

(TINOCO, 2006, p. 14)

Para tanto o Balanço Social utiliza como forma de evidenciação, a Demonstração do

Valor Adicionado (DVA) que, segundo Luca (1998, p. 28), é “um relatório contábil que visa

demonstrar o valor da riqueza gerada pela empresa e a distribuição para os elementos que

contribuíram para a sua geração”, a saber: funcionários, acionistas, Estado e financiadores.

Diante do exposto, o problema de pesquisa é definido pela seguinte questão:

A publicação da Demonstração do Valor Adicionado possui alguma relação com o

desempenho das ações de uma empresa na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA)?

O objetivo geral do presente trabalho é verificar qual a relação existente entre a

publicação da Demonstração do Valor Adicionado e o desempenho das ações de uma

empresa.

Pretende-se, com este trabalho, especificamente:

• Descrever o conceito de Valor Adicionado

• Apresentar a elaboração da Demonstração do Valo Adicionado e suas limitações

• Apresentar o uso da Demonstração do Valor Adicionado no Brasil

As hipóteses de pesquisa associada ao problema proposto são as seguintes:

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H0) Existe relação entre a publicação da Demonstração do Valor Adicionado

com o desempenho das ações da empresa na BOVESPA.

H1) Não existe relação entre a publicação da Demonstração do Valor

Adicionado com o desempenho das ações da empresa na BOVESPA.

O trabalho está estruturado em 5 partes. Na introdução apresenta-se o tema, objetivo,

hipótese e a pergunta da pesquisa. O segundo capítulo se destina ao referencial teórico, onde

se discorre sobre o resultado da pesquisa bibliográfica realizada sobre os temas relacionados

ao tema do trabalho, a saber: Balanço Social, Valor Adicionado e Demonstração do Valor

Adicionado.

Os procedimentos metodológicos são apresentados no terceiro capítulo do trabalho,

onde é detalhada a tipologia e técnicas utilizadas, bem como os critérios utilizados para

definição da amostra. Também neste capítulo, os procedimentos adotados para tratamento dos

dados levantados são apresentados.

O quarto capítulo é dedicado à apresentação dos resultados e análise dos dados

decorrentes da aplicação do modelo estabelecido para identificar a influência da publicação da

Demonstração do Valor Adicionado sobre as ações das empresas selecionadas. Finalmente, o

quinto capítulo apresenta as conclusões do trabalho.

Page 17: DVA como instrumento de valorização de ações

16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Balanço Social

2.1.1 Conceitos

O Balanço Social surgiu como conseqüência do desenvolvimento das empresas,

provocado pelo crescimento econômico e pelo atingimento de um grau de evolução

tecnológica que propiciou o aumento do ganho das mesmas. A partir da década de 60, nos

Estados Unidos, começam a surgir questionamentos a respeito do papel social desempenhado

pelas empresas, em função da participação deste na guerra do Vietnã e da discriminação de

raça e sexo no emprego. Posteriormente, em 1977, na França, é aprovada a primeira lei sobre

Balanço Social (Lei nº 77.769). Tal lei, Segundo Tinoco (2006, p. 31) “[...] reconhece pela

primeira vez de forma institucional a importância dos trabalhadores no seio da empresa como

usuários da informação contábil e social.”.

Embora seja um tema relativamente recente, alguns conceitos são apresentados por

diferentes autores:

O Balanço Social representa a demonstração dos gastos e das influências (favoráveis e desfavoráveis) recebidas e transmitidas pelas entidades na promoção humana, social e ecológica, sendo que os efeitos dessa interação se dirigem aos gestores, aos empregados e à comunidade, no espaço temporal passado/presente/futuro, tornando-se parte integrante da Contabilidade Social, configurando uma demonstração para a sociedade, e não da sociedade. (KROETZ, 2000, p. 36) Balanço Social é um documento importante, espelho da situação social na empresa, ele testemunha o clima que rege. Plataforma de cooperação ou reivindicação, ele inaugura de maneira implícita uma nova era nos relatório entre a direção e os associados. (DANZIGER apud TINOCO (2006, p. 30)) Balanço Social é um instrumento de gestão e de informação que visa evidenciar, da forma mais transparente possível, informações econômicas e sociais, do desempenho das entidades, aos mais diferenciados usuários, entre estes os funcionários. (TINOCO, 2006, p. 14)

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O Balanço Social é uma demonstração contábil que tem por objetivo a evidenciação de informações de natureza social, com vistas a prestar contas à sociedade pelo uso dos recursos naturais e humanos, demonstrando o grau de responsabilidade social da entidade. (NBC T 15) Balanço Social é o documento pelo qual a empresa apresenta dados que permitam identificar o perfil da atuação social da empresa durante o ano, a qualidade de suas relações com os empregados, o cumprimento das cláusulas sociais, a participação dos empregados nos resultados econômicos da empresa e as possibilidades de desenvolvimento pessoal, bem como a forma de sua interação com a comunidade e sua relação com o meio ambiente. (art. 2° do Projeto de Lei nº 3.116, de 1997)

Apesar de diferirem no conteúdo, as definições apresentadas convergem para uma

mesma necessidade: a mudança do foco das informações estritamente econômico-financeiras

para informações que contemplem questões relativas à contribuição da empresa para a

sociedade.

O Balanço Social, no seu sentido amplo, compreende questões voltadas aos ambientes

econômico, ambiental, social e de cidadania, sendo composto, segundo Tinoco (2001, p. 23)

pelos seguintes elementos:

• Balanço social em sentido restrito (balanço de pessoas)

• Demonstração do Valor Adicionado

• Balanço ecológico

• Responsabilidade social da empresa

2.1.2 O Balanço Social no Brasil

Segundo Tinoco (2001, p. 32), as primeiras articulações para discutir o

comportamento das empresas e sua responsabilidade perante a sociedade surgiram na década

de 60, através da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Na década de 70

a ADCE procura incentivar o debate a respeito do Balanço Social e sua implantação no Brasil,

incluindo em seus congressos tal tema.

Page 19: DVA como instrumento de valorização de ações

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O Balanço Social volta a ser tema de discussão na década de 90, desta vez com um

maior número de iniciativas tais como a apresentação de anteprojeto no Congresso propondo

a publicação do Balanço Social pelas empresas. Também neste período o Banespa divulga

relatório com suas ações sociais e, em 1997, o sociólogo Herbert de Souza inicia campanha

pela divulgação do Balanço Social pelas empresas. Ainda em 1997, é apresentado o Projeto

de Lei nº 3.116, que estabelece a obrigatoriedade da publicação do Balanço Social para

empresas privadas com mais de 100 funcionários e para todas as empresas públicas,

concessionárias e permissionárias de serviços públicos. Resumidamente, o Projeto de Lei

estabelece que as principais informações a serem divulgadas são:

• Faturamento bruto, lucro operacional e folha de pagamento bruta da empresa

• Número de empregados no início e no final do período

• Número de admissões durante o período

• Impostos pagos

• Alimentação

• Encargos sociais compulsórios

• Previdência privada

• Saúde

• Segurança no trabalho

• Educação

• Participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados

• Outros benefícios

• Contribuições para a sociedade

• Investimentos em meio ambiente

Outra iniciativa que cabe destaque está relacionada ao modelo de Balanço Social

criado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) em parceria com a

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Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Tal modelo, disponível em

www.balancosocioal.org.br, é composto pelos seguintes elementos:

• Receita líquida: receita bruta excluída dos impostos e contribuições, devoluções,

abatimentos e descontos comerciais.

• Resultado operacional: este se encontra entre o Lucro Bruto e o LAIR (Lucro

Antes do Imposto de Renda), ou seja, antes das receitas e despesas não

operacionais.

• Folha de pagamento bruta: Somatório de remuneração (salários, gratificações,

comissões e abonos), 13º salário, férias e encargos sociais compulsórios (INSS,

FGTS e contribuição social).

• Alimentação: gastos com restaurante, vale-refeição, lanches, cestas básicas e

outros relacionados à alimentação de empregados(as).

• Previdência privada: planos especiais de aposentadoria, fundações previdenciárias,

complementações de benefícios a aposentados(as) e seus dependentes.

• Saúde: plano de saúde, assistência médica, programas de medicina preventiva,

programas de qualidade de vida e outros gastos com saúde, inclusive de

aposentados(as).

• Educação: gastos com ensino regular em todos os níveis, reembolso de educação,

bolsas, assinaturas de revistas, gastos com biblioteca (excluído pessoal) e outros

gastos com educação.

• Cultura: gastos com eventos e manifestações artísticas e culturais (música, teatro,

cinema, literatura e outras artes.

• Capacitação e desenvolvimento profissional: recursos investidos em treinamentos,

cursos, estágios (excluído os salários) e gastos voltados especificamente para

capacitação relacionada com a atividade desenvolvida por empregados(as).

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• Creches ou auxílio-creche: creche no local ou auxílio-creche a empregados(as).

• Participação nos lucros ou resultados: participações que não caracterizem

complemento de salários.

• Outros benefícios: seguros (parcela paga pela empresa), empréstimos (só o custo),

gastos com atividades recreativas, transportes, moradia e outros benefícios

oferecidos a empregados(as) podem ser aqui enumerados.

• Total das contribuições para a sociedade: somatório dos investimentos na

comunidade que aparecem discriminados. Os itens na tabela aparecem como

indicação de setores importantes onde a empresa deve investir (como habitação,

creche, lazer e diversão, por exemplo). Porém podem aparecer aqui somente os

investimentos focais que a empresa realiza regularmente.

• Tributos (excluídos encargos sociais): impostos, contribuições e taxas federais,

estaduais e municipais.

• Investimentos realizados com a produção/operação da empresa: investimentos,

monitoramento da qualidade dos resíduos/efluentes, despoluição, gastos com a

introdução de métodos não-poluentes, auditorias ambientais, programas de

educação ambiental para os(as) funcionários(as) e outros gastos com o objetivo de

incrementar e buscar o melhoramento contínuo da qualidade ambiental na

produção/operação da empresa.

• Investimentos em programas/projetos externos: despoluição, conservação de

recursos ambientais, campanhas ecológicas e educação socioambiental para a

comunidade externa e para a sociedade em geral.

• Metas anuais: resultado médio percentual alcançado pela empresa no cumprimento

de metas ambientais estabelecidas pela própria corporação, por organizações da

sociedade civil e/ou por parâmetros internacionais como o Global Reporting

Page 22: DVA como instrumento de valorização de ações

21

Initiative (GRI).

• Número de negros(as) que trabalham na empresa: considerar como

trabalhadores(as) negros(as) o somatório de indivíduos

classificados/autodeclarados como de pele preta e parda (conforme a RAIS).

• Relação entre a maior e menor remuneração: resultado absoluto da divisão da

maior remuneração pela menor.

• Número total de acidentes de trabalho: todos os acidentes de trabalho registrados

durante o ano.

• Normas: conforme as Convenções 87, 98, 135 e 154 da Organização Internacional

do Trabalho (OIT) e os itens da norma Social Accountability 8000 (SA 8000).

• Valor adicionado: receita de venda deduzida dos custos dos recursos adquiridos de

terceiros.

• Outras informações: Outras informações importantes quanto ao exercício da

responsabilidade social, ética e transparência. Declarações para as empresas que

solicitaram o Selo Balanço Social IBASE/Betinho.

Adicionalmente, em 1998, o IBASE, em parceria com Herbert de Souza, lança o selo

Balanço Social IBASE/Betinho, destinado às empresas que publicam o Balanço Social

anualmente segundo o modelo sugerido por esse Instituto.

A partir da década de 90 houve uma crescente preocupação da sociedade em analisar a

contribuição da empresa não somente no desempenho de seu papel econômico, mas também

enquanto instituição social. Neste momento, surge uma demanda latente por informações a

respeito da relação social da empresa com os empregados, sociedade e preservação do meio

ambiente, informações estas que deveriam ser demonstradas através da publicação do Balanço

Social das empresas.

Page 23: DVA como instrumento de valorização de ações

22

Mais recentemente, a Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007, que alterou a Lei das

Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76), procurou, entre outros objetivos, atualizar a legislação

societária brasileira para possibilitar o processo de convergência das práticas contábeis

adotadas no Brasil com aquelas constantes nas normas internacionais de contabilidade (IFRS).

Entre as adequações realizadas, pode-se destacar a obrigatoriedade da publicação da

Demonstração do Valor Adicionado para as companhias de capital aberto, oficializando a

importância da divulgação de informações para a sociedade de forma transparente.

Tal importância é evidenciada através das críticas realizadas por alguns autores em

relação à forma com que a divulgação das informações contábeis é realizada no Brasil. Para

Tinoco (1993, p. 1), a divulgação

[...] não atende ao preceito básico de evidenciação da situação das empresas, registrando basicamente seus eventos operacionais, não captando a inserção das empresas na vida social, a forma como elas se relacionam com seus empregados, seus fornecedores, os usuários de seus serviços, o Governo etc.

2.2 Valor Adicionado

2.2.1 Conceito econômico

Sob o ponto de vista econômico, o conceito de valor adicionado é utilizado pela

Contabilidade Nacional no cálculo do produto de uma economia. A Contabilidade Nacional

tem por objetivo, segundo Simonsen e Cysne (1989, p.101) “fornecer uma aferição

macroscópica do desempenho real de uma economia em determinado período de tempo”,

utilizando o produto como um dos elementos para tal. Cabe esclarecer que o conceito

econômico de produto refere-se ao valor total dos bens produzidos por uma economia em um

determinado período de tempo.

Deve-se tomar o cuidado, segundo alguns autores, de não incorrer em dupla contagem

ao realizar-se a aferição do desempenho da economia. Neste sentido, Dornbusch e Fischer

(1991, p. 38) esclarecem que “[...] na prática, a dupla contagem é evitada, trabalhando-se com

Page 24: DVA como instrumento de valorização de ações

23

o valor adicionado. A cada estágio de produção de um bem, somente o valor adicionado ao

bem naquele estágio é considerado [...]”. Desta forma, Simonsen e Cysne (1989, p.101)

exemplificam que “o minério de ferro que é empregado na fabricação do aço não é computado

no produto, sendo tratado como consumo intermediário. Mas o minério de ferro produzido

para exportação ou para aumento de estoques é bem final, e como tal entra no cálculo do

produto”. Ou seja, deve-se apurar o valor adicionado somente quando se tratar de produto

final, sendo desconsiderado no caso de produto intermediário.

Assim, o conceito econômico para valor adicionado é a diferença entre o valor

produzido de um determinado bem e o valor do insumo utilizado para a sua fabricação.

2.2.2 Conceito contábil

Diferentemente do conceito econômico, o conceito contábil de valor adicionado é

apurado em função das transações econômicas realizadas em uma empresa. Nesse ambiente, o

valor adicionado é obtido através da diferença entre os valores de saída do bem produzido

pela empresa e os valores de entrada dos insumos utilizados para produzi-lo, ou seja:

Valor adicionado = valor de saída do bem – valor dos insumos utilizados na produção

Analogamente ao conceito econômico, o conceito contábil também desconsidera os

insumos intermediários utilizados para a fabricação do bem do cálculo do valor. Desta forma,

insumos como mão-de-obra, energia elétrica, máquinas etc. devem ser desconsiderados na

apuração do valor adicionado no ambiente de uma empresa.

Page 25: DVA como instrumento de valorização de ações

24

2.3 Demonstração do Valor Adicionado

Luca (1998, p.28) conceitua a Demonstração do Valor Adicionado como “[...]

conjunto de informações de natureza econômica. É um relatório contábil que visa demonstrar

o valor da riqueza gerada pela empresa e a distribuição para os elementos que contribuíram

para a sua geração”.

A Demonstração do Valor Adicionado, como elemento do Balanço Social, surge como

forma de divulgação dos resultados de uma empresa através de uma linguagem diferente das

comumente utilizadas nas demonstrações contábeis tradicionais, evidenciando de que forma a

riqueza gerada pela empresa foi repartida entre os agentes ligados a ela, a saber:

• Funcionários: engloba todos os gastos realizados com pessoal, incluindo o

pagamento de salários, contribuição social, previdência privada etc.

• Governo: recolhimento de impostos, visando remunerar os investimentos

realizados em infra-estrutura para permitir a realização das atividades da empresa.

• Acionistas: remuneração do capital investido na empresa, através do pagamento de

dividendos ou juros sobre capital próprio.

• Financiadores: remuneração dos recursos emprestados sob a forma de capital de

terceiros.

A literatura sobre o tema ainda não apresentou consenso a respeito da metodologia

para o cálculo do valor adicionado. Luca (1998, p. 35) cita três metodologias diferentes, de

autores distintos, para se chegar ao valor adicionado da empresa:

Segundo Martins, de modo geral, calcula-se o valor adicionado pela diferença entre as vendas brutas e o total dos insumos adquiridos de terceiros (custo das mercadorias vendidas, matéria-prima e outros materiais consumidos, serviços adquiridos de outras empresas etc.). Para Gray e Mauders, o valor adicionado deve apresentar, em termos monetários e para um certo período, a riqueza líquida da empresa, isto é, a diferença entre o valor total dos seus rendimentos (incluindo, mas não necessariamente limitado, a receita de vendas) e o valor dos materiais e serviços obtidos de outras empresas.

Page 26: DVA como instrumento de valorização de ações

25

Moorley apresenta a riqueza da empresa, chamada de valor adicionado, como sendo a soma de toda a remuneração dos esforços consumidos nas atividades da empresa para um certo período.

Em função disso, Tinoco (2006, p. 68) cita que ainda existem, mesmo nos países onde

a mesma é mais utilizada, pontos de conflitos para a elaboração dessa demonstração, pois a

Demonstração do Valor Adicionado pode ser elaborada de acordo que o enfoque desejado

pela empresa, uma vez que não existe uma regra rígida para o seu conteúdo e elaboração.

2.3.1 Usos

A leitura das informações apresentadas na Demonstração do Valor Adicionado

permite a sua utilização pelos mais diversos segmentos da sociedade, bem como pode auxiliar

na análise e elaboração de índices para avaliar o desempenho das empresas que a publicam,

através do uso das análises vertical e horizontal.

Dado que o cálculo da Demonstração do Valor Adicionado é baseado no conceito de

valor adicionado aplicado pela Contabilidade Nacional, tal demonstração pode auxiliar no

cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) ao somar-se o valor adicionado produzido por todos

os agentes econômicos do país.

Também pode ser possível utilizar a Demonstração do Valor Adicionado para a

concessão de financiamentos ou subsídios governamentais ao analisar-se de que forma a

empresa está contribuindo para o desenvolvimento da sociedade através do recolhimento de

impostos e do emprego de mão-de-obra.

Outra aplicação da demonstração, de acordo com o IBASE, refere-se à avaliação de

projetos transnacionais, onde há uma troca de benefícios entre o investidor estrangeiro e o

país que o recebe. Nesta situação, a Demonstração do Valor Adicionado pode ser utilizada

como mecanismo de avaliação de resultados.

Page 27: DVA como instrumento de valorização de ações

26

2.3.2 Limitações

Ainda não foram verificados, nas publicações brasileiras a respeito da Demonstração

do Valor Adicionado, pontos congruentes em relação à metodologia utilizada para elaborar a

mesma. Conforme Tinoco (2006, p.68) “[...] isso se deve basicamente à falta de uma

harmonização para essa demonstração, assim como por não possuirmos regras rígidas para

seu conteúdo e classificação [...]”.

Desta forma, Cosenza (2003, p. 17) elenca a base de cálculo, depreciação, ganhos

financeiros, provisões, resultados negativos, leasing e subvenções como os principais pontos

conflitantes. Para Tinoco (2006, p. 68) tais pontos referem-se a depreciação, INSS do

empregador, equivalência patrimonial, remuneração e encargos com pessoal, impostos,

remuneração do capital e provisão para contingências.

Já Luca (1998, p.37) aponta a produção versus vendas, depreciação, remuneração e

encargos com pessoal, impostos, remuneração do capital, receita financeira e receita de

equivalência patrimonial e Provisão para contingências como pontos de conflito. Scherer

(2006, p. 90) cita como limitações a confusão com a DRE, indução errônea da maximização

do valor, falta de padronização e aumento de custos. Finalmente, para Vieira (2004, p. 48) os

pontos conflitantes são valores totalizados, diferença entre produção e vendas, depreciação,

remuneração e encargos com pessoal, impostos, remuneração do capital, receitas financeiras e

de equivalência patrimonial, provisão para contingências e provisão para devedores

duvidosos.

Detalharemos, a seguir alguns pontos comuns citados pelos autores:

a) Base de cálculo

Tendo em vista que a elaboração da DVA é baseada no conceito de valor

adicionado, surge a discussão sobre qual conceito deve ser utilizado para a elaboração da

mesma: econômico ou contábil. Neste caso, a adoção do conceito contábil é mais comum,

Page 28: DVA como instrumento de valorização de ações

27

pois está mais relacionado com os princípios contábeis utilizados na elaboração das

demais demonstrações. Além disso, permite a sua reconciliação com a Demonstração do

Resultado do Exercício, o que dá maior transparência para a DVA.

b) Depreciação

Citado como um dos pontos mais polêmicos, aqui se discute basicamente se a

depreciação deve ser lançada como redutora de vendas para se chegar ao valor adicionado

líquido ou como parte da destinação do valor adicionado bruto. Assim, de acordo com

Vieira (2004, p. 51), asa representações da DVA para cada um destes casos está

apresentada no Anexo B e Anexo C, respectivamente.

c) Impostos

A empresa remunera o governo pelos investimentos realizados em infra-estrutura

para permitir a realização das atividades da empresa. Desta forma, este é visto como

participante da criação da riqueza da empresa. A discussão, por alguns autores (vide, por

exemplo, Cunha, 2002, p. 92), em relação a este ponto refere-se à inclusão ou não do

governo como elemento beneficiário da repartição do valor adicionado gerado pela

empresa.

Adicionalmente, embora a Lei 11.638/07 estabeleça a obrigatoriedade da publicação

da Demonstração do Valor Adicionado pelas empresas de capital aberto, ainda existem

questões a serem esclarecidas, tais como:

a) o artigo 188 da referida Lei define a Demonstração do Valor Adicionado como “[...] o

valor da riqueza gerada pela companhia [...]”. Braga e Almeida (2008, p. 36)

questionam se o conceito de geração de riqueza “[...] será fixado com base na receita

computada na demonstração do resultado do exercício ou com base na produção.”;

Page 29: DVA como instrumento de valorização de ações

28

b) Braga e Almeida também ressalta que a receita de Equivalência Patrimonial é

classificada, por alguns profissionais no grupo de Geradores do Valor Adicionado,

enquanto que outros a classificam no grupo de retenção para investimento.

Visando diminuir as divergências em relação à elaboração da Demonstração do Valor

Adicionado, Cosenza (2003, p. 16) aponta que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

“[...] emitiu Parecer de Orientação CVM nº 24/92 em que apresenta alguns critérios a serem

seguidos na divulgação da DVA, desenvolvido pela FIPECAFI.”.

2.3.3 Usos da DVA no Brasil

Até dezembro de 2007, a Lei 6.404/76 não listava a publicação da Demonstração do

Valor Adicionado como obrigatória, conforme redação do seu artigo 176:

Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: I - balanço patrimonial; II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III - demonstração do resultado do exercício; e IV - demonstração das origens e aplicações de recursos

Em virtude disso, poucas empresas tomaram a iniciativa de realizar tal publicação.

Tinoco (2006, p. 138) apresenta as empresas pioneiras na publicação do Balanço Social.

Coma base na informação disponibilizada pelo autor, a tabela a seguir foi elaborada com o

intuito de identificar as publicações de Balanço Social que continham informações sobre a

Demonstração do Valor Adicionado.

Page 30: DVA como instrumento de valorização de ações

29

Tabela 1: Empresas que publicaram DVA no Balanço Social Empresa Ano de publicação do Balanço Social Divulgou DVA?

Telebrás 1990 Não informado CMTC 1991 Não informado Banespa 1992 e 1998 Sim (em ambos os anos) Banco do Brasil 1997 Não Banco Brasileiro de Desconto 1998 Não Banco Itaú 1998 Não Nossa Caixa Nosso Banco 1998 Não FEBRABAN 1998 Sim Cia. Carris 1998 Sim Grupo RBS 1997 Não Usiminas 1999 Sim Odebrecht 1998 Não Aracruz Celulose 1998 Sim Telesp Celular 1998 Não Telesp Celular Participações 2000 Sim Light 1998 Sim Votorantim Celulose e Papel 1998 Não Cia. Hidroelétrica do São Francisco 1998 Não Cia Paulista de Força e Luz 1998 Não Furnas 1998 Não Eletrobrás 1998 Não Ceval Alimentos 1998 Sim Petrobrás 1998 Não

Conforme pode ser observado, apesar do número de publicações de Balanço Social

(23), apenas 8 continham informações sobre a Demonstração do Valor Adicionado.

Tal situação tende a se modificar a partir de 2008 em função da alteração da Lei

6.404/76 realizada pela Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007. A nova redação do artigo

176, dada por esta lei, é a seguinte:

Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: I - balanço patrimonial; II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III - demonstração do resultado do exercício; IV - demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação dada pela Lei nº 11.638,de 2007) V - se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007)

Page 31: DVA como instrumento de valorização de ações

30

Alternativamente, algumas empresas adotaram o modelo do IBASE para publicação da

Demonstração do Valor Adicionado, conforme apresentado no Anexo A.

Independentemente da forma como a Demonstração do Valor Adicionado será

divulgada, Cosenza (2003, p. 17), afirma que “[...] a informação contábil deve estar cada vez

mais orientada para satisfazer múltiplos e diferentes objetivos de informação e fornecer os

dados necessários e corretos para cada situação concreta.”.

Page 32: DVA como instrumento de valorização de ações

31

3 METODOLOGIA

3.1 Tipologia

A presente pesquisa é classificada como documental tendo em vista que foram

utilizados dados que ainda não receberam tratamento analítico para realizar o teste das

hipóteses a serem validadas.

3.2 Técnica

O método quantitativo foi utilizado para realizar a análise dos dados.

3.3 Amostra / População

A população escolhida para esta pesquisa foi definida em função das empresas listadas

no segmento especial da BOVESPA que realizaram publicação da Demonstração do Valor

Adicionado entre os anos 1996 e 2006 (vide Apêndice).

A composição da amostra foi elaborada através do método não probabilístico, sendo

utilizada a amostragem por julgamento. Este tipo de amostragem consiste, segundo Barbetta

(2003, p. 56) na escolha de elementos julgados como típicos da população que se deseja

estudar.

A justificativa na utilização de tal metodologia ampara-se no fato de que a publicação

da Demonstração do Valor Adicionado não era obrigatória no período analisado. Desta forma,

a quantidade de empresas resultante de uma eventual amostragem probabilística poderia ser

prejudicada em função da seleção de empresas que não apresentassem a DVA nas suas

Page 33: DVA como instrumento de valorização de ações

32

demonstrações contábeis. Assim, evitou-se o risco de excluir da pesquisa alguma empresa que

pudesse ter publicado a DVA. Como resultado, obteve-se uma amostra formada por 42

empresas, dos mais diversos segmentos.

A seleção dos elementos para compor a amostra objeto de estudo foi realizada

mediante identificação das empresas constantes dos níveis diferenciados de Governança

Corporativa listados pela BOVESPA, o Quadro 1 apresenta a quantidade de empresas por

nível de Governança Corporativa em 02/06/2008.

Nível de Governança Corporativa Quantidade de empresas Bovespa Mais 1 Novo Mercado 98 Nível 2 19 Nível 1 44 Total 162

Quadro 1: Quantidade de empresas que participaram da amostra por nível de Governança Corporativa (1996-2006)

Deste total, identificou-se, por meio de consultas ao Relatório da Administração e

Notas Explicativas, 42 empresas que publicaram a Demonstração de Valor Adicionado no

período analisado.

3.4 Procedimentos

A seleção do universo de empresas a serem analisadas foi realizada através de consulta

ao site da BOVESPA, onde foram identificadas aquelas que estavam classificadas nos níveis

diferenciados de Governança Corporativa. Conforme Quadro 1 anterior, o número de

empresas classificadas em tal segmentação totalizava 162 em 02/06/2008.

Definido o universo a ser trabalhado, procedeu-se à tarefa de consultar as

demonstrações contábeis, especificamente o Relatório da Administração e as Notas

Page 34: DVA como instrumento de valorização de ações

33

Explicativas, de cada empresa para identificar o ano de publicação da Demonstração do Valor

Adicionado. A consulta a tais informações foi realizada por meio das Demonstrações

Financeiras Padronizadas, disponibilizadas pela BOVESPA no do Sistema Divulgação

Externa ITR/DFP/IAN. Obteve-se, como resultado, a estratificação, por nível de Governança

Corporativa, das empresas que publicaram DVA entre 1996 e 2006, conforme apresentado no

Quadro 2.

Nível de Governança Corporativa Quantidade de empresas Empresas que publicaram DVA Bovespa Mais 1 0 Novo Mercado 98 17 Nível 2 19 3 Nível 1 44 22 Total 162 42

Quadro 2: Quantidade de empresas, segundo o nível de Governança Corporativa, que publicaram a Demonstração do Valor Adicionado (1996-2006)

Identificadas as empresas que fariam parte da amostra, o passo seguinte foi obter o

histórico de cotação das ações negociadas na BOVESPA. O levantamento de tais dados foi

realizado através de “download” de arquivo contendo o histórico de cotações das ações

negociadas na BOVESPA no período analisado.

Através de tais arquivos, observou-se que cada elemento da amostra selecionada

possuía vários tipos de ações negociadas na bolsa de valores. Desta forma, foi necessário

identificar a ação com maior volume de negociação para ser utilizada como parâmetro para a

análise estatística. O critério utilizado para realizar tal identificação foi a soma da quantidade

de ações negociadas anualmente por elemento da amostra, cujo resultado apontaria a ação

com maior influência na rentabilidade da empresa analisada. Para realizar tal levantamento,

optou-se por realizar uma simplificação para permitir o agrupamento das ações tendo em vista

a grande de variedade de tipos de ações encontrada. Como exemplo, citam-se as ações de tipo

PNA, PNB, PNC, PND, PNE, PNF, PNG e PNH agrupadas como PN. Outro ponto que

Page 35: DVA como instrumento de valorização de ações

34

restringiu a seleção da amostra foi o fato de ter sido utilizado somente ações negociadas no

mercado a vista.

Desta forma, após a aplicação de tais critérios, a quantidade final de elementos da

amostra a serem analisados passou a ser de 33 empresas, segmentadas conforme apresentado

a seguir:

Nível de Governança Corporativa

Quantidade de empresas

Empresas que publicaram DVA

Quantidade final de empresas da amostra

Bovespa Mais 1 0 0 Novo Mercado 98 17 10 Nível 2 19 3 2 Nível 1 44 22 21 Total 162 42 33 Quadro 3: Quantidade de empresas, segundo o nível de Governança Corporativa, negociadas no mercado a vista, que publicaram a Demonstração do Valor Adicionado (1996-2006)

Selecionadas as empresas e calculada as médias dos preços médios negociados da ação

com maior volume de negociação, realizou-se então o cálculo da rentabilidade da ação tanto

para o ano de publicação da DVA, quanto para o ano anterior, através da equação abaixo. O

objetivo de tal cálculo foi identificar a influência da publicação desta demonstração no

desempenho da ação da empresa.

1001Re xPMA

PMAentabilidad

i

f

t

= , onde:

Rentabilidadet = rentabilidade da ação para o período t

PMAf = Preço Médio da Ação na BOVESPA no final do período t

PMAi = Preço Médio da ação na BOVESPA no início do período t

Também através do site da BOVESPA, obteve-se a série histórica de fechamento do

índice BOVESPA. Com os dados do valor médio do índice, pôde-se calcular a variação do

mesmo para o período analisado.

Page 36: DVA como instrumento de valorização de ações

35

Uma vez realizados o cálculo da rentabilidade da ação das empresas e da variação do

índice BOVESPA, procurou-se identificar a relação entre a publicação da DVA e o

desempenho da ação na BOVESPA através da seguinte equação:

1t1t

tt

RIBVRA

RIBVRAVariação

−−−

−= , onde:

RAt = Retorno da ação no ano de publicação da DVA

RIBVt = Retorno do IBOVESPA no ano de publicação da DVA

RAt-1 = Retorno da ação no ano anterior à publicação da DVA

RIBVt-1 = Retorno do IBOVESPA no ano anterior à publicação da DVA

Tal equação procura indicar que haverá relação entre a publicação da Demonstração

do Valor Adicionado e o desempenho da ação na BOVESPA se o resultado da mesma for

positivo, fica demonstrada a relação entre os retornos. Caso contrário, isto é, para um

resultado negativo, a relação é inexistente.

Page 37: DVA como instrumento de valorização de ações

36

4 RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS

A seguir serão apresentadas as análises realizadas para avaliar o comportamento das

ações das empresas estudadas em relação à publicação da Demonstração do Valor

Adicionado, conforme estabelecido na hipótese do presente trabalho.

4.1 Desempenho das ações no período analisado

Conforme pode ser observado na Tabela 2, 61% (20) das empresas analisadas

obtiveram valorização de suas ações entre o período de 1996 e 2006. Tal valorização, quando

estratificado segundo o nível de Governança Corporativa, demonstra que 35% (7) delas

estavam classificadas no Novo Mercado, 10% (2) no Nível 2 e 55% (11) no Nível 1. Por outro

lado, as ações das empresas que apresentaram desvalorização totalizaram 39% da amostra

estudada, com a seguinte distribuição: 23% no Novo Mercado, 0% no Nível 2 e 77% no Nível

1.

Tabela 2: Desempenho das ações das empresas no período analisado Quantidade de empresas Resultado Nível 1 Nível 2 Novo Mercado Total Global Valorização 11 2 7 20 Desvalorização 10 0 3 13 Total Global 21 2 10 33

Page 38: DVA como instrumento de valorização de ações

37

4.2 Desempenho das ações por segmento de atuação da empresa

A análise dos dados em relação ao segmento de atuação das empresas mostra que as

ações que obtiveram valorização no período analisado estão concentradas nas empresas

atuantes nos segmentos Energia Elétrica (4), Papel e Celulose (3) e Bancos (2) que juntas

representam 45% das empresas que publicaram a Demonstração do Valor Adicionado e

obtiveram valorização das ações.

Tabela 3: Desempenho das ações por segmento de atuação das empresas Desempenho da ação

Segmento de atuação Valorização Desvalorização

Total Global

Água e Saneamento 1 1 Alimentos 1 1 Aluguel de carros 1 1 Bancos 2 1 3 Carnes e Derivados 1 1 2 Energia Elétrica 4 1 5 Fios e Tecidos 1 1 Holdings Diversificadas 1 1 Madeira 1 1 Materiais de Construção 1 1 Material Rodoviário 1 2 3 Minerais Metálicos 1 1 Motores, compressores e outros 1 1 Papel e Celulose 3 3 Petroquímicos 2 2 Seguradoras 1 1 Serviços Médicos-Hospitalares, Análises e Diagnósticos

1 1

Siderurgia 1 1 Telecomunicações 2 2 Transporte Aéreo 1 1 Total Global 20 13 33

4.3 Comparativo do resultado da ação em relação ao resultado do índice BOVESPA

A Tabela 3 indica que, nos períodos de valorização da bolsa de valores, 16 empresas

(48% do total da amostra analisada) acompanharam tal desempenho, enquanto que 10

Page 39: DVA como instrumento de valorização de ações

38

empresas alcançaram o resultado oposto. Da mesma forma, nos períodos de desvalorização da

bolsa de valores, 3 empresas acompanharam este resultado e 4 alcançaram valorização.

Tabela 4: Comparativo do resultado da ação em relação ao resultado do índice BOVESPA

Resultado do IBOVESPA Valorização Desvalorização

Valorização 16 4 Resultado da ação Desvalorização 10 3

Gráfico 1: Dispersão das empresas analisadas segundo o resultado da ação/IBOVESPA

4.4 Relação entre a publicação da Demonstração do Valor Adicionado com o

desempenho das ações na BOVESPA

Os resultados obtidos através da aplicação da equação apresentada no capítulo

anterior, não foram consistentes o suficiente para validar a hipótese apresentada neste

trabalho. Embora, em alguns casos, a valorização das ações das empresas tenha acompanhado

a valorização da BOVESPA, não se pode afirmar, categoricamente, que a mesma deveu-se,

exclusivamente, em função da publicação da Demonstração do Valor Adicionado.

Tal afirmação é validada através do cálculo do coeficiente de correlação (Tabela 5)

entre os elementos que compõem a equação utilizada:

IBOVESPA

Ação

+

+-

IBOVESPA

Ação

+

+-

Page 40: DVA como instrumento de valorização de ações

39

RAt – RIBVt ⇒ Variável “a”

RAt-1 – RIBVt-1 ⇒ Variável “b”

Tabela 5: Cálculo do coeficiente de correlação

Variável “a” Variável “b”

Variável “a” 1 Variável “b” -0,11025 1 Fonte: Elaboração própria

Segundo Anderson, Sweeney e Williams (2002, p. 457), a intensidade da correlação

linear é graduada pelos seguintes intervalos:

0,6 ≤ r < 1 – Dados fortemente correlacionados

0,3 ≤ r < 0,6 – Correlação relativamente fraca entre as variáveis

0 < r < 0,3 – Correlação muito fraca, pouco se pode concluir sobre esta relação

Desta forma, para o coeficiente de correlação calculado de 0,11025, temos a

confirmação de que não se pode atribuir a valorização da ação da empresa à publicação da

Demonstração do Valor Adicionado.

Page 41: DVA como instrumento de valorização de ações

40

5 CONCLUSÕES

O presente trabalho teve por finalidade identificar a relação entre a publicação da

Demonstração do Valor Adicionado e o desempenho das ações na BOVESPA para as

empresas listadas nos níveis diferenciados de Governança Corporativa. Para tanto, foi

realizado levantamento do desempenho das ações de tais empresas no ano de publicação da

DVA e o ano anterior, comparando tais dados com o desempenho da BOVESPA no mesmo

período.

Através da equação definida para evidenciar tal relação, foi possível identificar que a

publicação da Demonstração do Valor Adicionado não causou influência esperada no

desempenho da ação, muito em função do comportamento do desempenho das ações em

relação ao índice BOVESPA. Desta forma, pode-se responder ao problema de pesquisa com a

afirmação de que, utilizando a metodologia apresentada no presente trabalho, não é possível

identificar a relação entre a publicação da Demonstração do Valor Adicionado e o

desempenho das ações de uma empresa na BOVESPA.

As relações identificadas entre o desempenho da ação da empresa e o comportamento

do índice BOVESPA não permitiram chegar a uma conclusão que validasse a hipótese

apresentada neste trabalho. Uma possibilidade da inexistência de tal relação é o fato de que a

Demonstração do Valor Adicionado analisa fatos passados ocorridos na empresa, uma vez

que a base de sua elaboração está na Demonstração do Resultado do Exercício. Por outro

lado, o desempenho histórico da empresa pode não ser a única variável utilizada pelo

investidor para a tomada de decisão. Também podem ser levados em consideração os aspectos

futuros da empresa analisada, tais como análises de tendência do mercado no qual a empresa

atua, projetos em desenvolvimento pela empresa que possam gerar maior fluxo de receita etc.

Page 42: DVA como instrumento de valorização de ações

41

Embora a Demonstração do Valor Adicionado não possa ser utilizada como forma de

suscitar a valorização das ações de uma empresa, na medida em que se acreditava que uma

maior transparência na divulgação das informações contábeis poderia sensibilizar

positivamente investidores do mercado de capitais, não se deve tirar sua importância enquanto

instrumento de análise, pois tal demonstração apresenta de forma diferenciada o quanto a

empresa gerou de riqueza para a sociedade e como a mesma foi distribuída entre os agentes

econômicos que participaram de tal processo. Adicionalmente, a DVA evidencia o quanto a

empresa está exercendo seu papel dentro da sociedade, uma vez que utiliza dos recursos

provenientes da mesma para executar suas atividades.

Finalmente, não se poderia deixar de comentar que as alterações realizadas, pela Lei

11.638/07, na Lei das Sociedades por Ação, ao instituir a obrigatoriedade da publicação da

Demonstração do Valor Adicionado, irá proporcionar maior visibilidade da Contabilidade

enquanto fonte de informação para auxiliar na tomada de decisões estratégicas.

Sugere-se como temas para pesquisas relacionadas ao assunto, a ampliação da amostra

utilizada e realizar novo comparativo entre o desempenho das ações das empresas com o

desempenho do IBOVESPA. Adicionalmente, poder-se-ia sugerir metodologia padrão para a

elaboração da Demonstração do Valor Adicionado, dado que a literatura sobre o assunto não

apresenta um consenso sobre este tema.

Page 43: DVA como instrumento de valorização de ações

42

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APÊNDICE Relação de empresas participantes da amostra Razão Social Ano publicação DVA BCO BRASIL S.A. 1998 CIA ENERGETICA DE MINAS GERAIS - CEMIG 1999 CIA SANEAMENTO BASICO EST SAO PAULO 1999 FRAS-LE S.A. 1999 ITAUSA INVESTIMENTOS ITAU S.A. 1999 RANDON S.A. IMPLEMENTOS E PARTICIPACOES 1999 USINAS SID DE MINAS GERAIS S.A.-USIMINAS 1999 DURATEX S.A. 2000 SADIA S.A. 2000 ULTRAPAR PARTICIPACOES S.A. 2000 VOTORANTIM CELULOSE E PAPEL S.A. 2000 ARACRUZ CELULOSE S.A. 2001 BRASIL TELECOM S.A. 2002 CENTRAIS ELET DE SANTA CATARINA S.A. 2002 CIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO 2002 CIA VALE DO RIO DOCE 2002 WEG S.A. 2003 BRASIL TELECOM PARTICIPACOES S.A. 2004 BRASKEM S.A. 2004 CIA FIACAO TECIDOS CEDRO CACHOEIRA 2004 CIA PARANAENSE DE ENERGIA - COPEL 2004 ETERNIT S.A. 2004 GOL LINHAS AEREAS INTELIGENTES S.A. 2004 IOCHPE MAXION S.A. 2004 NATURA COSMETICOS S.A. 2004 TAM S.A. 2004 PORTO SEGURO S.A. 2005 BCO INDUSVAL S.A. 2006 BCO ITAU HOLDING FINANCEIRA S.A. 2006 CAMARGO CORREA DESENV. IMOBILIARIO S.A. 2006 CIA TRANSMISSAO ENERGIA ELET PAULISTA 2006 DIAGNOSTICOS DA AMERICA S.A. 2006 EDP - ENERGIAS DO BRASIL S.A. 2006 EQUATORIAL ENERGIA S.A. 2006 IGUATEMI EMPRESA DE SHOPPING CENTERS S.A 2006 KLABIN S.A. 2006 LIGHT S.A. 2006 LOCALIZA RENT A CAR S.A. 2006 M.DIAS BRANCO S.A. IND COM DE ALIMENTOS 2006 MEDIAL SAUDE S.A. 2006 PERDIGAO S.A. 2006 UNIPAR UNIAO DE IND PETROQ S.A. 2006 BCO CRUZEIRO DO SUL S.A. 2007 BCO INDUSTRIAL E COMERCIAL S.A. 2007 CESP - CIA ENERGETICA DE SAO PAULO 2007 CIA HERING 2007 CPFL ENERGIA S.A. 2007 GRENDENE S.A. 2007 KLABIN SEGALL S.A. 2007

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MANGELS INDUSTRIAL S.A. 2007 MARISA S.A. 2007 ODONTOPREV S.A. 2007 PARANAPANEMA S.A. 2007 SLC AGRICOLA S.A. 2007 TERNA PARTICIPACOES S.A. 2007

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ANEXOS ANEXO A – BALANÇO SOCIAL 2007 (MODELO IBASE) 1 - Base de Cálculo 2007 2006 Valor (Mil reais) Valor (Mil reais) Receita líquida (RL) 0 0 Resultado operacional (RO) 0 0 Folha de pagamento bruta (FPB) 0 0 2 - Indicadores Sociais Internos 2007 2006 Valor (Mil reais) Valor (Mil reais) Alimentação 0 0 Encargos sociais compulsórios 0 0 Previdência privada 0 0 Saúde 0 0 Segurança e saúde no trabalho 0 0 Educação 0 0 Cultura 0 0 Capacitação e desenvolvimento profissional 0 0 Creches ou auxílio-creche 0 0 Participação nos lucros ou resultados 0 0 Outros 0 0 Total - Indicadores sociais internos 0 0 3 - Indicadores Sociais Externos 2007 2006 Valor (Mil reais) Valor (Mil reais) Educação 0 0 Cultura 0 0 Saúde e saneamento 0 0 Esporte 0 0 Combate à fome e segurança alimentar 0 0 Outros 0 0 Total das contribuições para a sociedade 0 0 Tributos (excluídos encargos sociais) 0 0 Total - Indicadores sociais externos 0 0 4 - Indicadores Ambientais 2007 2006 Valor (Mil reais) Valor (Mil reais) Investimentos relacionados com a produção/ operação da empresa

0 0

Investimentos em programas e/ou projetos externos 0 0 Total dos investimentos em meio ambiente 0 0 Quanto ao estabelecimento de “metas anuais” para minimizar resíduos, o consumo em geral na produção/ operação e aumentar a eficácia na utilização de recursos naturais, a empresa

( ) não possui metas ( ) cumpre de 51 a 75% ( ) cumpre de 0 a 50% ( ) cumpre de 76 a 100%

( ) não possui metas ( ) cumpre de 51 a 75% ( ) cumpre de 0 a 50% ( ) cumpre de 76 a 100%

5 - Indicadores do Corpo Funcional 2007 2006 Valor (Mil reais) Valor (Mil reais) Nº de empregados(as) ao final do período 0 0 Nº de admissões durante o período 0 0 Nº de empregados(as) terceirizados(as) 0 0 Nº de estagiários(as) 0 0 Nº de empregados(as) acima de 45 anos 0 0 Nº de mulheres que trabalham na empresa 0 0 % de cargos de chefia ocupados por mulheres 0,00% 0,00% Nº de negros(as) que trabalham na empresa 0 0 % de cargos de chefia ocupados por negros(as) 0,00% 0,00% Nº de pessoas com deficiência ou necessidades especiais 0 0 6 - Informações relevantes quanto ao exercício da cidadania empresarial

2007 Metas 2008

Relação entre a maior e a menor remuneração na empresa 0 0 Número total de acidentes de trabalho 0 0 Os projetos sociais e ambientais desenvolvidos pela empresa foram definidos por:

( ) direção ( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

( ) direção ( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

Os pradrões de segurança e salubridade no ambiente de trabalho foram definidos por:

( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

( ) todos(as) + Cipa

( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

( ) todos(as) + Cipa

Quanto à liberdade sindical, ao direito de negociação coletiva e à representação interna dos(as) trabalhadores(as), a empresa:

( ) não se envolve ( ) segue as normas da OIT

( ) incentiva e segue a OIT

( ) não se envolverá

( ) seguirá as normas da OIT

( ) incentivará e seguirá a OIT

A previdência privada contempla: ( ) direção ( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

( ) direção ( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

A participação dos lucros ou resultados contempla: ( ) direção ( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

( ) direção ( ) direção e gerências

( ) todos(as) empregados(as)

Na seleção dos fornecedores, os mesmos padrões éticos e de responsabilidade social e ambiental adotados pela empresa:

( ) não são considerados

( ) são sugeridos ( ) são exigidos ( ) não serão considerados

( x) serão sugeridos ( ) serão exigidos

Quanto à participação de empregados(as) em programas de trabalho voluntário, a empresa:

( ) não se envolve ( ) apóia ( ) organiza e incentiva

( ) não se envolverá

( ) apoiará (x ) organizará e incentivará

Número total de reclamações e críticas de consumidores(as): na empresa _______ no Procon _______

na Justiça _______ na empresa _______

no Procon _______ na Justiça _______

% de reclamações e críticas atendidas ou solucionadas: na empresa _______%

no Procon _______%

na Justiça _______%

na empresa _______%

no Procon _______%

na Justiça _______%

Valor adicionado total a distribuir (em mil R$): Em 2007: Em 2006: Distribuição do Valor Adicionado (DVA): ___% governo ___% colaboradores(as) ___%

acionistas ___ % terceiros ___% retido ___% governo ___% colaboradores(as) ___% acionistas ___ % terceiros ___% retido

7 - Outras Informações

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ANEXO B – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO (Depreciação como destinação do valor adicionado)

1 – RECEITAS

1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços

1.2) Provisão para devedores duvidosos – Reversão/(Constituição)

1.3) Não Operacionais

2 – INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui ICMS e IPI)

2.1) Matérias-primas consumidas

2.2) Custos das mercadorias e serviços vendidos

2.3) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros

2.4) Perda/Recuperação de valores ativos

3 – VALOR ADICIONADO BRUTO (1 – 2)

4 – VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA

4.1) Resultado de equivalência patrimonial

4.2) Receitas financeiras

5 – VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (3 + 4)

6 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO

6.1) Pessoal e encargos

6.2) Impostos, taxas e contribuições

6.3) Juros e aluguéis

6.4) Juros sobre o capital próprio e dividendos

6.5) Retenções (Depreciação)

6.6) Lucros retidos/prejuízo do exercício

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ANEXO C – DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO (Depreciação como redutora do valor adicionado)

1 – RECEITAS

1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços

1.2) Provisão para devedores duvidosos – Reversão/(Constituição)

1.3) Não Operacionais

2 – INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui ICMS e IPI)

2.1) Matérias-primas consumidas

2.2) Custos das mercadorias e serviços vendidos

2.3) Materiais, energia, serviços de terceiros e outros

2.4) Perda/Recuperação de valores ativos

3 – VALOR ADICIONADO BRUTO (1 – 2)

4 - RETENÇÕES

4.1) Depreciação, amortização e exaustão

5 – VALOR ADICONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3 – 4)

6 – VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA

6.1) Resultado de equivalência patrimonial

6.2) Receitas financeiras

7 – VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5 + 6)

8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO

8.1) Pessoal e encargos

8.2) Impostos, taxas e contribuições

8.3) Juros e aluguéis

8.4) Juros sobre o capital próprio e dividendos

8.5) Lucros retidos/prejuízo do exercício