E se um bloom de cianobactérias batesse à tua porta?

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GONÇALO LOPES e RITA SALGUEIRO Orientação científica: Marina Santos 1 “E se um bloom de cianobactérias batesse à tua porta? ...” TRABALHO EXPERIMENTAL CIÊNCIA VIVA ATRIBUI 3º LUGAR A ALUNOS DA ESCOLA SECUNDÁRIA DO CARTAXO As cianobactérias são bactérias aquáticas com capacidade de realizar a fotossíntese. Algumas formam massivas densidades celulares em ambientes aquáticos terrestres poluídos como reservatórios, lagoas costeiras, lagos de inundação e outros lagos naturais; em resultado do crescimento muito rápido e excessivo, gera-se um bloom (ou florescência) podendo as toxinas libertadas atingir concentrações potencialmente perigosas para a saúde da população humana. Estudos laboratoriais demonstram que os peixes, aquando de um aparecimento de florescências, manifestam sinais de intoxicação semelhantes àqueles manifestados nos mamíferos: alterações dos tecidos do tubo digestivo, das brânquias e morte celular no fígado e rins. A principal via de intoxicação por cianotoxinas é a ingestão de água ou de alimentos com toxinas ou com cianobactérias tóxicas. Em águas de recreio, as cianotoxinas poderão afectar o organismo também por contacto directo com a pele ou por inalação. O perigo maior de intoxicação reside no facto de poderem existir concentrações tóxicas de cianotoxinas sem, no entanto, haver células na água. Isto porque, após morte celular se dá a libertação da toxina que estava contida na célula viva (microcistinas: abreviatura MCYST ou MCYS). Quando isto acontece após um bloom tóxico poder-se-ão encontrar concentrações de toxina muito elevadas na água. Os blooms geralmente são sazonais, o que significa que tendem a ser recorrentes nas mesmas superfícies aquáticas. Geralmente ocorrem no final do verão ou início do outono. Microcystis aeruginosa tem sido descrita como a cianobactéria mais comum em Portugal, e responsável pela síntese toxinas causadoras de efeitos letais a animais e ao homem. Nos animais, o órgão mais afectado pelas microcistinas é o fígado. Com este trabalho expôs-se uma espécie de cianobactéria, Microcystis aeruginosa, a condições ambientais favoráveis e avaliou-se como se comportou em termos de crescimento.

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TRABALHO EXPERIMENTAL CIÊNCIA VIVA ATRIBUI 3º LUGAR A ALUNOS DA ESCOLA SECUNDÁRIA DO CARTAXO

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GONÇALO LOPES e RITA SALGUEIRO

Orientação científica: Marina Santos

1

“E se um bloom de cianobactérias batesse à tua porta?...”

TRABALHO EXPERIMENTAL CIÊNCIA VIVA ATRIBUI 3º LUGAR A ALUNOS DA ESCOLA

SECUNDÁRIA DO CARTAXO

As cianobactérias são bactérias aquáticas com capacidade de realizar a fotossíntese.

Algumas formam massivas densidades celulares em ambientes aquáticos terrestres poluídos

como reservatórios, lagoas costeiras, lagos de inundação e outros lagos naturais; em resultado

do crescimento muito rápido e excessivo, gera-se um bloom (ou florescência) podendo as

toxinas libertadas atingir concentrações potencialmente perigosas para a saúde da população

humana.

Estudos laboratoriais demonstram que os peixes, aquando de um aparecimento de

florescências, manifestam sinais de intoxicação semelhantes àqueles manifestados nos

mamíferos: alterações dos tecidos do tubo digestivo, das brânquias e morte celular no fígado e

rins.

A principal via de intoxicação por cianotoxinas é a ingestão de água ou de alimentos

com toxinas ou com cianobactérias tóxicas. Em águas de recreio, as cianotoxinas poderão

afectar o organismo também por contacto directo com a pele ou

por inalação. O perigo maior de intoxicação reside no facto de

poderem existir concentrações tóxicas de cianotoxinas sem, no

entanto, haver células na água. Isto porque, após morte celular

se dá a libertação da toxina que estava contida na célula viva

(microcistinas: abreviatura MCYST ou MCYS). Quando isto

acontece após um bloom tóxico poder-se-ão encontrar

concentrações de toxina muito elevadas na água.

Os blooms geralmente são sazonais, o que significa

que tendem a ser recorrentes nas mesmas superfícies

aquáticas. Geralmente ocorrem no final do verão ou início do

outono.

Microcystis aeruginosa tem sido descrita como a cianobactéria mais comum em

Portugal, e responsável pela síntese toxinas causadoras de efeitos letais a animais e ao

homem. Nos animais, o órgão mais afectado pelas microcistinas é o fígado.

Com este trabalho expôs-se uma espécie de cianobactéria, Microcystis aeruginosa, a

condições ambientais favoráveis e avaliou-se como se comportou em termos de crescimento.

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Concluiu-se que o padrão de crescimento, em condições laboratoriais, de Microcystis

aeruginosa, ao longo de cerca de um mês seguiu, aproximadamente, a variação esperada para

uma espécie bacteriana.

No dia 22 de Maio de 2010 (Dia Mundial da Biodiversidade), entre outras actividades,

foi efectuada, no Pavilhão do Conhecimento, a entrega do terceiro prémio (escalão Ensino

Secundário) aos alunos Gonçalo Lopes e Rita Salgueiro (12ºB da Escola Secundária do

Cartaxo), pelo trabalho apresentado na sequência da actividade experimental "E se um bloom

de cianobactérias te batesse à porta?" (integrante do Projecto "Oceanos, Biodiversidade e

Saúde Humana", promovido pela Equipa Ciência Viva).

Durante a execução deste trabalho realizaram-se

testes de toxicidade utilizando cianobactérias tóxicas

como substância de referência sobre dois organismos

diferentes: algas (Chlorella vulgaris) e um pequeno

crustáceo (Artemia salina).

Concluiu-se que as microcistinas tiveram um

poder inibitório elevado sobre a divisão celular da alga

Chlorella, podendo mesmo ter-lhe causado a morte. A

toxicidade da hepatotoxina de Microcystis aeruginosa

induziu uma mortalidade significativamente elevada nas

larvas do crustáceo Artemia salina.

Este facto permitiu colocar a hipótese, muito

provável, de que estas substâncias produzidas pelas

cianobactérias têm um potencial tóxico

extremamente elevado para o Homem. Demonstrou-

se, em muito pequena escala, o elevado grau de

danos biológicos que causa, directa ou

indirectamente, nos ecossistemas.

O controlo da qualidade da água está, cada vez mais, a ser tomado pelas entidades

governamentais como uma necessidade absoluta. Actualmente, para além das análises

químicas, são realizados vários testes biológicos, entre eles a verificação da existência de

substâncias tóxicas, que possam provocar intoxicações agudas ou crónicas, como as toxinas

produzidas por cianobactérias, que têm, nos últimos anos, vindo a tomar um lugar de destaque

entre os trabalhos de investigadores, sobretudo devido ao aparecimento de inúmeras

intoxicações em animais e também no Homem.

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O despiste destas substâncias ainda não é realizado de uma forma sistemática pelas

entidades que controlam a qualidade da água surgindo, por vezes, nas águas de consumo,

doses que, ainda que baixas, podem provocar problemas em termos de saúde pública.

A prevenção dos blooms de cianobactérias poderá ter solução se se tomarem medidas

preventivas, e de precaução, relativamente à qualidade e quantidade dos efluentes, descargas,

escorrências e lixiviações de determinados produtos químicos e/ou orgânicos para as

superfícies aquáticas, essencialmente dulçaquícolas (terrestres): excesso de fertilizantes e

adubos agrícolas, descargas de efluentes não pré-tratados em ETARes, sobrecargas de

matéria orgânica.

E, se um bloom de cianobactérias nos batesse à porta… … nunca beberíamos água de uma superfície aquática eutrofizada, nem com aparência

de conter um bloom; não autorizaríamos a utilização (recreacional ou para consumo) de uma

superfície aquática com essas características, nem pela parte de crianças, nem de animais de

estimação ou pecuária; seguiríamos as instruções das autoridades sanitárias, contactaríamos

as entidades sanitárias em caso de contacto físico com esse tipo de água.

O tratamento da água afectada por blooms é efectuada com uma filtração inicial das

cianobactérias, seguida de ozonização e fitração por biofiltros de carvão para remoção das

microcistinas.

… E, a partir desse dia, colocaríamos no “portão” de entrada o seguinte aviso:

SÓ SE PERMITE A ENTRADA A…

William Rees e Mathis Wackernagel

… PEGADAS ECOLÓGICAS, LIMPAS.

Preservando-se os ambientes dulçaquícolas, ajuda-se a preservar o ambiente marinho.

Ajuda-se a preservar a Biodiversidade.

E, em última análise, preserva-se a sobrevivência e a Saúde Humanas.