É tudo verdade

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TOMÁS RANGEL/DIVULGAÇÃO Quarta-feira 09/05/2012 Filme revê origens carnavalescas de Joãosinho Trinta. B5 É TUDO VERDADE Serviço O quê: 4ª edição da mostra de documentários Sesi.doc Onde e quando: no Cine Sesi – Centro Cultural Sesi (av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Paju- çara), de amanhã até o dia 14 de maio, em diversos horários Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) – Doc Internaci- onal; R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia) – Sessão Noturna; R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia) – Passaporte Diário Informações: 3235-5191, 9371-2740 e www.centro culturalsesi.com.br CINEMA. Em 2005, ao contabilizar um público de quase 300 mil pessoas, o documentário Vinicius inaugurou uma nova era para o gênero no País. Pouco menos de uma década depois, o filme que mostrava o lado musical do Poetinha ganhou pares que deram ainda mais visibilidade ao casamento entre cinema e música, como o espectador poderá perceber na 4ª edição da Sesi.doc, mostra que tem abertura amanhã em Maceió. Mas para além dessa vocação particular, a maratona documental também levará para a tela do Cine Sesi títulos que abarcam vertentes como biografias, estudos visuais ou registros etnográficos. Nesta edição, além de passar em revista a programação, a Gazeta traz um bate-papo com Walter Carvalho, autor de Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, a badalada cinebiografia do Maluco Beleza. Vale a pena conferir RAMIRO RIBEIRO REPÓRTER O cinema documental brasileiro tem suscitado fenômenos curiosos. Após atingir um notável nível de maturidade na última década, mais recentemen- te ele serviu de palco para um casamento dos mais sólidos, que pôde ser visto nas telas de todo o País: o do cinema com a música. Arnaldo Baptista, Wilson Simonal, Caetano Veloso, Cartola, Maria Bethânia, Jorge Mautner, Humberto Teixeira, Nana Caymmi, Titãs, Legião Urbana... To- dos eles já foram retrata- dos em documentários. Raul Seixas é o mais novo integrante desse clube. Em cartaz desde o dia 23 de março, Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio ultrapassou a marca dos cem mil espectadores, tor- nando-se um dos títulos do gênero mais vistos nas salas brasileiras. Dirigido pelo cineasta Walter Car- valho, o longa é um dos destaques da quarta edi- ção da Sesi.doc, mostra que será aberta amanhã (10) no Cine Sesi e cujas atividades vão até o próxi- mo dia 14 na sala mantida pelo Serviço Social da In- dústria em Maceió. Coordenador do Cine Sesi, Marcos Sampaio, o Marcão, justifica a criação do evento: “Alguns dos grandes filmes nacionais dos últimos anos perten- cem ao gênero. É a opor- tunidade de oferecer ao público um panorama do que há de mais recente na produção de documentá- rios, sem falar que todos são inéditos por aqui”. De amanhã até segun- da-feira, o público da capi- tal terá a chance de confe- rir trabalhos de diretores como Eduardo Coutinho e Sílvio Da-Rin, além do próprio Walter, que acom- panhará a exibição da ci- nebiografia do mitológico compositor baiano morto Nascido na Paraíba em 1948, Walter Carvalho tor- nou-se um dos profissio- nais mais requisitados do cinema brasileiro – na fun- ção de diretor de fotogra- fia, sua assinatura aparece nos créditos de longas-me- tragens como Central do Brasil , Lavoura Arcaica, Madame Satã e Carandiru. Sua trajetória como reali- zador começou com o do- cumentário Janela da Al- ma (2001), ao qual se se- guiram Cazuza – O Tempo não Para (2004), Moacir Arte Bruta (2006) e Buda- peste (2009). De família ci- nematográfica, Walter é ir- mão do também docu- mentarista Vladimir Car- valho e pai do diretor de fotografia Lula Carvalho. Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio estreou em março e já foi visto por mais de cem mil pessoas, um dos títulos documen- tais mais vistos nas salas brasileiras. Em entrevista por telefone à Gazeta, ele falou um pouco sobre o projeto. Leia a seguir. Gazeta. Em entrevista ao programa Roda Viva, você afirmou que mais do que ter descoberto e conhecido um Raul Seixas, depois de muita pesquisa e de 94 en- trevistas você o inventou. Que Raul é esse? Walter Carvalho. Sim, o Raul que inventei foi o Raul que encontrei na me- mória dos contemporâne- os que o circundavam. Parceiros, amigos, paren- tes, as filhas. Foi através da memória dessas pesso- as que cheguei nessa figu- ra “inventada”. E aqui ca- bem as aspas porque esse termo, “invenção”, não é para elucidar o persona- gem. É apenas uma con- venção da gramática. Volta e meia o nome de Raul reaparece em notícias sobre disputas por direitos autorais e outras questões jurídicas. O filme enfren- tou problemas desse tipo durante sua produção ou no lançamento? Como se deu o contato com as filhas e ex-mulheres? Não tive nenhum tipo de problema. Tive acesso to- tal à família. Só a primeira esposa, Edite, que hoje mora nos Estados Unidos, não quis falar. Não queria relembrar o passado. En- trevistei sua filha, Simone, a filha mais velha do Raul, e chegamos ao acordo de- la enviar uma carta pela fi- lha, que a leu para mim através da internet, e é o que está no filme. As ou- tras, duas ex-esposas e du- as ex-companheiras, e as outras duas filhas foram absolutamente acessíveis. Elas me abriram seus baús, com fotos, cartas, documentos. Não tive ne- nhuma restrição. Seu irmão, Vladimir, tam- bém fez uma incursão mu- sical no documentário Rock Brasília e na vida de outro ídolo brasileiro, Re- nato Russo. Vocês troca- ram figurinhas durante es- ses trabalhos? Me fizeram uma pergunta parecida com essa, sobre O diretor paraibano Walter Carvalho acompanhará a exibição do documentário sobre Raul Seixas em Maceió RAUL SEIXAS, MEMÓRIA E INVENÇÃO GUSTAVO MIRANDA/O GLOBO em 1989. A programação contará ainda com obras como o curta Di Melo – O Imorrível, sobre o cantor pernambucano e seu úni- co disco, gravado em 1975. Inédito no circuito comercial, o filme recebeu o Prêmio Aquisição do Ca- nal Brasil no último Cine PE, encerrado no Recife no dia 02 de maio. Ampliando seu menu, neste ano a Sesi.doc esten- de suas atividades para o Museu Théo Brandão, com uma mostra gratuita de filmes etnográficos. Já na tela do Cine Sesi, além dos destaques ‘brazucas’ o público verá títulos inter- nacionais badalados como o iraniano Isto não é um Filme e As Praias de Agnès, da diretora belga Agnès Varda. Outra novidade é a faixa dedicada à produção local, com a exibição dos trabalhos mais recentes de realizadores como Werner Salles e Celso Brandão. O público que aprecia o cinema documental por essas bandas sentiu falta da mostra, que não foi re- alizada em 2011, e partici- pou sugerindo títulos. “As Canções, o próprio Raul e Hotxuá são filmes que fo- ram bastante pedidos”, ob- serva Marcão. Confira a programação da mostra na pág. B2 se a gente tinha combina- do de fazer juntos dois fil- mes sobre música, e eu fa- lei que não. Na verdade, houve uma observação do próprio Vladimir de que se nós combinamos, foi há mais de 40 anos. Porque foi quando comecei a aju- dá-lo no cinema. Foi quan- do ele me introduziu o ci- nema na vida. Como eu era um cara que gostava de rock, dançava rock, de certa forma estava combi- nado ali que isso seria fei- to na frente. E aconteceu 40 anos depois. Essa é que é a verdade. Foi uma com- binação que fizemos sem saber, há 40 anos. Qual a diferença entre foto- grafar documentários e obras de ficção? São poucas. Ou muitas. Depende do ponto de vis- ta. Quando digo que são poucas é que a construção da luz se dá em um nível de princípio. Como lidar com o princípio da luz em relação à questão do obje- to a ser iluminado. Na fic- ção, a preparação desse objeto requer um tempo de feitura daquela luz que no documentário se dá de forma diferente, porque muitas vezes você não tem o tempo necessário para dedicar àquela constru- ção. E aí é a luz instantâ- nea, a luz do momento. A luz em que não se tem tempo de elaboração. Essa é a diferença básica. Ago- ra, o princípio da luz e de sua construção é o mesmo. Seu filho Lula acabou de receber o prêmio de me- lhor fotografia no Festival do Recife. Como você vê o trabalho dele? Também há uma troca de experiências? O Lula é um fotógrafo que começou frequentando o set de filmagem ainda muito garoto. Às vezes ele ia durante as férias ficar comigo, e nessa ele foi se inteirando e descobrindo o que que era um set de fil- magem. Já na adolescên- cia ele resolveu mergulhar um pouco mais nisso e co- meçou a ser assistente, meu e de muitos fotógra- fos do cinema brasileiro, dos mais importantes. Isso deu a ele um tempo de compreensão, fez com que abraçasse esse universo da fotografia com uma certa crença, uma certa dedica- ção. Ao mesmo tempo, ele se oferenda de uma forma muito integrada e verda- deira com essa coisa cha- mada cinema. Ele passou a acreditar nisso. E todas essas coisas juntas o fazem permanecer até hoje inte- ressado e fazendo um tra- balho que o afirma cada vez mais. Ele já fez mais de dez longas-metragens, vai fazer um filme agora nos Estados Unidos. Foi um encontro que chegou a ele e ele se oferendou a es- se encontro. Em 2006 você lançou o do- cumentário Moacir Art e Bruta, sobre o artista plás- tico que vive no interior de Goiás. O que aconteceu de- pois do filme? Você mante- ve contato ou o encontrou novamente? Faz tempo que eu não visi- to o Moacir. Mas ele conti- nua trabalhando, pelo que eu obtive de informações. Acho que o Itaú Cultural está preparando uma pu- blicação com as obras de- le, me ligaram para pegar um depoimento meu. A mãe dele faleceu em janei- ro, mas acho que ele está muito bem. Me falaram que ele está vendo as pin- turas dele no computador, fiquei até curioso para sa- ber mais. Preciso ir lá fa- zer uma visita, vê-lo. Mas ele está muito bem. RR WALTER CARVALHO CINEASTA “O Raul que inventei foi o Raul que en- contrei na memória dos contemporâneos que o circundavam. Parceiros, amigos, pa- rentes, as filhas. Foi através da memória dessas pessoas que cheguei nessa figura ‘inventada’”

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Entrevista com o diretor Walter Carvalho e a mostra Sesi.Doc

Transcript of É tudo verdade

Page 1: É tudo verdade

TOMÁS RANGEL/DIVULGAÇÃO

Quarta-feira 09/05/2012

Filme revê origens carnavalescas de Joãosinho Trinta. B5

É TUDO VERDADE

Serviço O quê: 4ª edição da mostra de documentários Sesi.doc Onde e quando: no Cine Sesi – Centro Cultural Sesi (av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Paju-çara), de amanhã até o dia 14 de maio, em diversos horários Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) – Doc Internaci-onal; R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia) – Sessão Noturna; R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia) – Passaporte Diário Informações: 3235-5191, 9371-2740 e www.centro culturalsesi.com.br

CINEMA. Em 2005, ao contabilizar um público de quase 300 mil pessoas, o documentário Vinicius inaugurou uma nova era para o gênero no

País. Pouco menos de uma década depois, o filme que mostrava o lado musical do Poetinha ganhou pares que deram ainda mais visibilidade ao casamento entre cinema e música, como o espectador poderá perceber na 4ª edição da Sesi.doc, mostra que tem abertura amanhã em Maceió.

Mas para além dessa vocação particular, a maratona documental também levará para a tela do Cine Sesi títulos que abarcam vertentes como

biografias, estudos visuais ou registros etnográficos. Nesta edição, além de passar em revista a programação, a Gazeta traz um bate-papo com

Walter Carvalho, autor de Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, a badalada cinebiografia do Maluco Beleza. Vale a pena conferir

RAMIRO RIBEIRO REPÓRTER

O cinema documental brasileiro tem suscitado fenômenos curiosos. Após atingir um notável nível de maturidade na última década, mais recentemen-te ele serviu de palco para um casamento dos mais sólidos, que pôde ser visto nas telas de todo o País: o do cinema com a música. Arnaldo Baptista, Wilson Simonal, Caetano Veloso, Cartola, Maria Bethânia, Jorge Mautner, Humberto Teixeira, Nana Caymmi, Titãs, Legião Urbana... To-dos eles já foram retrata-dos em documentários. Raul Seixas é o mais novo integrante desse clube.

Em cartaz desde o dia 23 de março, Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio já ultrapassou a marca dos cem mil espectadores, tor-nando-se um dos títulos do gênero mais vistos nas salas brasileiras. Dirigido pelo cineasta Walter Car-valho, o longa é um dos destaques da quarta edi-ção da Sesi.doc, mostra que será aberta amanhã (10) no Cine Sesi e cujas atividades vão até o próxi-mo dia 14 na sala mantida pelo Serviço Social da In-dústria em Maceió.

Coordenador do Cine Sesi, Marcos Sampaio, o Marcão, justifica a criação do evento: “Alguns dos grandes filmes nacionais dos últimos anos perten-cem ao gênero. É a opor-tunidade de oferecer ao público um panorama do que há de mais recente na produção de documentá- rios, sem falar que todos são inéditos por aqui”.

De amanhã até segun-da-feira, o público da capi-tal terá a chance de confe-rir trabalhos de diretores como Eduardo Coutinho e Sílvio Da-Rin, além do próprio Walter, que acom-panhará a exibição da ci-nebiografia do mitológico compositor baiano morto

Nascido na Paraíba em 1948, Walter Carvalho tor-nou-se um dos profissio-nais mais requisitados do cinema brasileiro – na fun-ção de diretor de fotogra-fia, sua assinatura aparece nos créditos de longas-me-tragens como Central do Brasil, Lavoura Arcaica, Madame Satã e Carandiru. Sua trajetória como reali-zador começou com o do-cumentário Janela da Al-ma (2001), ao qual se se-guiram Cazuza – O Tempo não Para (2004), Moacir Arte Bruta (2006) e Buda-peste (2009). De família ci-nematográfica, Walter é ir-mão do também docu-mentarista Vladimir Car-valho e pai do diretor de fotografia Lula Carvalho. Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio estreou em março e já foi visto por mais de cem mil pessoas, um dos títulos documen-tais mais vistos nas salas brasileiras. Em entrevista por telefone à Gazeta, ele falou um pouco sobre o projeto. Leia a seguir.

Gazeta. Em entrevista ao programa Roda Viva, você afirmou que mais do que ter descoberto e conhecido um Raul Seixas, depois de muita pesquisa e de 94 en-trevistas você o inventou. Que Raul é esse? Walter Carvalho. Sim, o Raul que inventei foi o Raul que encontrei na me-mória dos contemporâne-os que o circundavam. Parceiros, amigos, paren-tes, as filhas. Foi através da memória dessas pesso-as que cheguei nessa figu-ra “inventada”. E aqui ca-bem as aspas porque esse termo, “invenção”, não é para elucidar o persona-gem. É apenas uma con-venção da gramática.

Volta e meia o nome de

Raul reaparece em notícias sobre disputas por direitos autorais e outras questões jurídicas. O filme enfren-tou problemas desse tipo durante sua produção ou no lançamento? Como se deu o contato com as filhas e ex-mulheres? Não tive nenhum tipo de problema. Tive acesso to-tal à família. Só a primeira esposa, Edite, que hoje mora nos Estados Unidos, não quis falar. Não queria relembrar o passado. En-trevistei sua filha, Simone, a filha mais velha do Raul, e chegamos ao acordo de-la enviar uma carta pela fi-lha, que a leu para mim através da internet, e é o que está no filme. As ou-tras, duas ex-esposas e du-as ex-companheiras, e as outras duas filhas foram absolutamente acessíveis. E las me abr iram seus baús, com fotos, cartas, documentos. Não tive ne-nhuma restrição.

Seu irmão, Vladimir, tam-bém fez uma incursão mu-sical no documentário Rock Brasília e na vida de outro ídolo brasileiro, Re-nato Russo. Vocês troca-ram figurinhas durante es-ses trabalhos? Me fizeram uma pergunta parecida com essa, sobre

O diretor paraibano

Walter Carvalho

acompanhará a exibição do

documentário sobre Raul Seixas em

Maceió

RAUL SEIXAS, MEMÓRIA E INVENÇÃO

GUST

AVO

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A/O

GLOB

O

em 1989. A programação contará ainda com obras como o curta Di Melo – O Imorrível, sobre o cantor pernambucano e seu úni-co d isco, gravado em 1975. Inédito no circuito comercial, o filme recebeu o Prêmio Aquisição do Ca-nal Brasil no último Cine PE, encerrado no Recife no dia 02 de maio.

Ampliando seu menu, neste ano a Sesi.doc esten-de suas atividades para o Museu Théo Brandão, com uma mostra gratuita de filmes etnográficos. Já na tela do Cine Sesi, além dos destaques ‘brazucas’ o público verá títulos inter-nacionais badalados como o iraniano Isto não é um Filme e As Praias de Agnès, da diretora belga Agnès Varda. Outra novidade é a faixa dedicada à produção local, com a exibição dos trabalhos mais recentes de realizadores como Werner Salles e Celso Brandão.

O público que aprecia o cinema documental por essas bandas sentiu falta da mostra, que não foi re-alizada em 2011, e partici-pou sugerindo títulos. “As Canções, o próprio Raul e Hotxuá são filmes que fo-ram bastante pedidos”, ob-serva Marcão. Confira a programação da mostra na pág. B2

se a gente tinha combina-do de fazer juntos dois fil-mes sobre música, e eu fa-lei que não. Na verdade, houve uma observação do próprio Vladimir de que se nós combinamos, foi há mais de 40 anos. Porque foi quando comecei a aju-dá-lo no cinema. Foi quan-do ele me introduziu o ci-nema na vida. Como eu era um cara que gostava de rock, dançava rock, de certa forma estava combi-nado ali que isso seria fei-to na frente. E aconteceu 40 anos depois. Essa é que é a verdade. Foi uma com-binação que fizemos sem saber, há 40 anos.

Qual a diferença entre foto-grafar documentários e obras de ficção? São poucas. Ou muitas. Depende do ponto de vis-ta. Quando digo que são poucas é que a construção da luz se dá em um nível de princípio. Como lidar com o princípio da luz em relação à questão do obje-to a ser iluminado. Na fic-ção, a preparação desse objeto requer um tempo de feitura daquela luz que no documentário se dá de forma diferente, porque muitas vezes você não tem o tempo necessário para dedicar àquela constru-ção. E aí é a luz instantâ-nea, a luz do momento. A luz em que não se tem tempo de elaboração. Essa é a diferença básica. Ago-ra, o princípio da luz e de sua construção é o mesmo.

Seu filho Lula acabou de receber o prêmio de me-lhor fotografia no Festival do Recife. Como você vê o trabalho dele? Também há uma troca de experiências? O Lula é um fotógrafo que começou frequentando o set de fi lmagem ainda muito garoto. Às vezes ele

ia durante as férias ficar comigo, e nessa ele foi se inteirando e descobrindo o que que era um set de fil-magem. Já na adolescên-cia ele resolveu mergulhar um pouco mais nisso e co-meçou a ser assistente, meu e de muitos fotógra-fos do cinema brasileiro, dos mais importantes. Isso deu a ele um tempo de compreensão, fez com que abraçasse esse universo da fotografia com uma certa crença, uma certa dedica-ção. Ao mesmo tempo, ele se oferenda de uma forma muito integrada e verda-deira com essa coisa cha-mada cinema. Ele passou a acreditar nisso. E todas essas coisas juntas o fazem permanecer até hoje inte-ressado e fazendo um tra-balho que o afirma cada vez mais. Ele já fez mais de dez longas-metragens, vai fazer um filme agora nos Estados Unidos. Foi um encontro que chegou a ele e ele se oferendou a es-se encontro.

Em 2006 você lançou o do-cumentário Moacir Arte Bruta, sobre o artista plás-tico que vive no interior de Goiás. O que aconteceu de-pois do filme? Você mante-ve contato ou o encontrou novamente? Faz tempo que eu não visi-to o Moacir. Mas ele conti-nua trabalhando, pelo que eu obtive de informações. Acho que o Itaú Cultural está preparando uma pu-blicação com as obras de-le, me ligaram para pegar um depoimento meu. A mãe dele faleceu em janei-ro, mas acho que ele está muito bem. Me falaram que ele está vendo as pin-turas dele no computador, fiquei até curioso para sa-ber mais. Preciso ir lá fa-zer uma visita, vê-lo. Mas ele está muito bem. RR ‡

WALTER CARVALHO CINEASTA

“O Raul que inventei foi o Raul que en-

contrei na memória dos contemporâneos que o circundavam.

Parceiros, amigos, pa-rentes, as filhas. Foi através da memória dessas pessoas que cheguei nessa figura

‘inventada’”

Page 2: É tudo verdade

GAZETA DE ALAGOAS, 09 de maio de 2012, Quarta-feira2 Caderno BB

A socialite e empresária

Fátima Pontual

Calheiros, clicada na

Serata Italiana

deste colunista

A querida senhora Erusa Amorim, que completou ontem seus 90 anos, festejou a data em família

A socialite Letéia Lacerda Lamenha Couto, clicada na Serata Italiana deste colunista

ROMEU DE LOUREIRO [email protected]

Duas homenagens O centenário do Quebra de Xangôs (de 1912) acaba de ganhar duas grandes homenagens: o ballet 1912:Oração e Vozes, da Companhia de Dança Maria Emília Clark, e o número especial da revista Graciliano, da nossa Imprensa Oficial. Na inventiva coreografia do ballet, cumpre destacar o impactante grand finale, quando bailarinos, usando saiotes brancos (como o dos orixás), vão tombando ao solo, numa representa-ção visual do Quebra de 1912. Já na Graciliano, difí-cil escolher entre tantos e tão bons textos – entre os quais há um registrando a preservação, no Museu do Ihgal, de imagens e objetos de cultos afros resgatados dos terreiros (a Coleção Perseverança).

EDILSON OMENA/CORTESIA

DIVULGAÇÃO

EDILSON OMENA/CORTESIA

FEIRA DA FRATERNIDADE De hoje até sexta-feira, no Ginásio Cinecista Jorge Assumpção (ali, na Ladeira da Rodoviária Velha), a Feira da Fraternidade. Promoção da Arquidioce-se Metropolitana, com o objetivo de, por meio da venda (a preços módicos) de produtos doados pela comunidade católica, arrecadar recursos para dar prosseguimento as suas ações assistenciais. Nas barracas, como voluntárias, damas católicas de nossa sociedade, como d. Rosa Medeiros.

NO CIEE O “tzar dos shoppings”, Robson Rodas, comunican-do que seu “filho primogênito”, o Maceió Shop-ping, receberá o Selo do Centro de Integração Em-presa-Escola (Ciee) por sua participação no proje-to: abriga 13 jovens, entre 17 e 20 anos, como aprendizes. A entrega do selo acontecerá esta noi-te, durante a solenidade de inauguração da nova sede do Ciee (ali, na Gruta), após a qual haverá um coquetel de confraternização.

COMENDA Por indicação do verea-dor Sílvio Camelo, a Câ-mara Municipal de Ma-ceió conferiu, sexta-fei-ra, ao famoso oftalmo-logista Alan Barbosa a Comenda Mário Gui-marães, em reconheci-mento aos seus relevan-tes serviços à comuni-dade maceioense.

∫ Circulando de idade nova, desde o sábado (quando foi lembrada e festejada), a renomada arquiteta e designer Ana Maria Maia Nobre.

∫ Festeja idade nova, hoje, a empresária Maria da Graça Monteiro (do Buffet San Martin).

∫ Bodas de trigo completam, neste dia, Thaís (nascida Rêgo) e Thomás Monte Xavier de Souza (neto do comendador Benício Monte).

AVISO Restam poucas mesas (a preços diferencia-dos) para o baile (aber-to ao público pagante) que o Iate Clube Pajuça-ra realizará, na sexta-feira (dia 11), em co-memoração ao vizinho Dia das Mães . Com Brinquinho e sua banda na animação.

COMENDA DA OAB-AL Coube ao presidente da OAB-Nacional, Ophyr Ca-valcante, agradecer por todos os agraciados com a Comenda Zephyrino Lavenère Machado (instituí-da pela OAB-AL para homenagear personalidades que se destaquem no combate à corrupção) – en-tre os quais o arcebispo de Maceió, d. Antônio Mu-niz, a corregedora do CNJ, ministra Eliana Cal-mon, o ministro do STJ Humberto Martins, o pro-curador-geral do Estado, Marcelo Teixeira Caval-cante, e o ex-presidente do Conselho Federal da OAB, Marcelo Lavenère Machado.

A comendadeira, professora, escritora e poetisa Isvânia Marques (presidente da

Apalca), clicada na nossa Serata Italiana

EDILSON OMENA/CORTESIA

AMANHÃ, 10/05 19h00 Abertura 19h10 Trama da Memória –

Urdidura do Tempo, de Pedro da Rocha

20h00 As Canções, de Eduardo Coutinho

SEXTA, 11/05 16h30 Isto não é um Filme,

de Jafar Panahi 18h00 Interiores ou 400

Anos de Solidão, de Werner Salles Bagetti

18h00 Prova de Artista,de José Joffily

20h00 Hotxuá, de Letícia Sabatella e Gringo Cardia

21h30 Di Melo – O Imorrível, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro

SÁBADO, 12/05 17h00 Passione, de

John Turturro 19h00 Marinete,

direção coletiva 19h30 Avenida Brasília

Teimosa, de Gabriel Mascaro

21h00 Profissão Músico, de Daniel Vargas

DOMINGO, 13/05 16h00 As Praias de Agnès,

de Agnès Varda 18h00 Arquivo José

de Chalé, de Celso Brandão

18h40 Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho

20h40 Debate com o diretor Walter Carvalho e o produtor Denis Feijão

SEGUNDA, 14/05 19h00 Meu Lugar, de

Guilherme Fontana 19h30 Paralelo 10, de

Sílvio Da-Rin 21h00 Debate com o diretor

Sílvio Da-Rin

Dia a dia, a programação da maratona

CONTINUAÇÃO DA PÁG. B1. Confira os destaques da 4ª edição da Sesi.doc e monte um roteiro para curtir a mostra

Proibido por uma ordem do governo de Mahmud Ahmadinejad de deixar o Irã e também de filmar ou de sair de casa, o cineasta Jafar Panahi produziu sob essas condições um dos filmes mais instigantes de 2011. O longa é tudo o que o títu-lo desmente. Filmado em coautoria com o cineasta Mojtaba Mirtahmasb, este quase documentário esmiuça o dia a dia de Pahani em sua prisão do-miciliar, onde é impossibilitado de levar adiante a sua arte, que deu à cinematografia oriental obras como O Espelho, O Balão Branco e O Círculo.

Com este documentário sobre a canção napolitana, o ator e diretor ítalo-americano dá uma de jardi-neiro e cultiva suas raízes peninsulares. Turturro é descendente de sicilianos e de bareses, mas foi encontrar na turbulenta Nápoles o epicentro para cultivar sua italianidade. Aqui, ele sai em busca daquilo que é bastante conhecido na canção de Nápoles, mas busca, também, e talvez em es-pecial, a maneira como essa história musical sobrevive, avança, se mescla e se transmuta.

Com As Praias de Agnès, a belga de 80 anos faz uma retrospectiva de sua vida: no filme, ela revisi-ta todas as que conheceu em seus momentos mais importantes. No documentário autobiográfico, ela relembra os tempos em que foi fotógrafa, seu ca-samento com o cineasta Jacques Demy e sua luta no movimento feminista, além das pessoas impor-tantes com quem viveu e os filmes que fez.

O cinema tem dado a chance ao Brasil de fazer uma revisão sobre a relação dos ‘civilizados’ com os povos indígenas. O condutor de Paralelo 10 é o ser-tanista José Carlos Meirelles, figura carismática e com boas histórias para contar. Ele e o antropólogo Terri Aquino sobem o rio Envira, no Acre, depois de ficar um ano e meio afastados da região do Para-lelo 10 Sul, linha de fronteira com o Peru. O filme os acompanha durante duas semanas, enquanto se dirigem à região onde irão ajudar os povos Madija e Ashaninka a encontrar melhores formas de se relacionar com outros mais ‘hostis’.

Filmado nos moldes do ótimo Jogo de Cena, de 2007, em que personagens reais e fictícios narram histórias tocantes de suas vidas, As Canções amar-ra a vida de pessoas por meio de canções afetivas. Por pouco mais de uma hora, anônimos se alternam na cadeira diante do diretor e iniciam um corolário de suas vidas. Amores fracassados, mortes, perdas e êxitos são contados como a um pai afetuoso.