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Marcel Franco
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Marcel Franco
Belém – Pará 2008
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Copyright © 2008 by Marcel Franco
Capa: Marcel Franco
Todos os direitos reservados ao autor. Registrada na Biblioteca Nacional, Escritório do Direito Autoral, sob o nº
427109, no Livro 799, Folha 269, em 12/03/2008.
e-mail: [email protected]
Home Page: http://www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/marcelfranco.php
Blog: http://interfacesculturais.blogspot.com
Impresso no Brasil
Franco, Marcel, 1983 - Ebulição/ Marcel Franco. - Belém: Gráfica M.J.
Garrido, 2008. 31 p. 1. Literatura brasileira 2. Poesia contemporânea I.
Franco, Marcel. II Título
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“Ler Marcel é viajar no lendário amazônico que pulula em suas idéias, ora expressas, ora escondidas no ciclo das matas, das águas. Em outro momento, volta à forma primeva, num jogo de palavras que prende e faz pensar, indagar, inquirir. Ele constrói e desconstrói racionalmente o poema, como um arquiteto, mas assumindo sua condição de ‘pedra’.”
Izarina Tavares Membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias
“Marcel é um poeta ‘novo’, íntegro, que vem construindo tijolo por
tijolo, no mundo moderno, o seu caminho na literatura. Assinala como tantos outros, uma singularidade poética que não deixa a desejar, que enfoca do insólito a surpresa, do choque a parafernália, o que torna possível a poesia surrealista.”
Socorro Paixão Acadêmica de Letras e pesquisadora de Literatura Comparada da UEPA.
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ÁGUA, SOL E AMOR: TUDO A GOSTO Março, depois do massacre das águas, Abril um Maio de flores Pra enfeitar os amores de Junho O tempo começou a esquentar... Junho mandou Junina Mergulhar nas águas de Julho E haja água! E haja sol! E haja amor!
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ALMA Depois do Trauma, Alma Pede Calma, Pede Tempo, Paciência Deixe a Alma: Palma Fraca, Folhagem no Chão
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AMOR DE BICHO
Meu amor é vagabundo, É de todo o mundo, Não vale um centavo, sequer É um amor qualquer, É um lixo! Meu amor é um amor de bicho
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CADÊ O FILÉ DO PEIXE? O rio apanha Pega remada Do pescador O pescador apanha Gurijuba, dourada E manda pro Exterior Pra nossa caldeirada Vai o peixe de segunda
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COISA DE MODISTA Agora é um tal de “fica”: uma derivação da promiscuidade. “Fica” com um aqui, com outro ali. Nada de namorar! Mas isso é coisa de modista. Que me permita a semântica dizer que isso é galinhagem
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DEFINIÇÃO MEDÍOCRE O que é o poeta surdo? É o que não ouve barulho dos carros, Das ruas gritantes, Dos gritos de medo, Do sonho dos outros. E prefere o telefone mudo, E as antenas de “TV” distantes, E a inexistência de qualquer ruído, De portas abertas para o anonimato.
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DESCONSTRUÇÃO Penso rEpenso Desenho Racionalmente Arquiteto Mas não sou arquiteto, sou pedra!
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ENCANTARIA O segredo da mata vinha se espalhando Na beira do rio Era cobra virando gente Era gente virando cobra Era o dia da viração Era gente virando casa Era gente virando chão E nessa viração Eu virava boto Em Alter-do-Chão
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ERRANTE
Minha mulher anda distante Talvez esteja perdida em suas palavras Ou talvez ande metida No sonho dos outros Minha mulher anda distante E não sabe a hora de voltar
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FITIÇO O vento me soprou E eu fui bater na beira do mar Pus meus sonhos nas águas E cantei pra Iemanjá Eu vi gente virar boto Eu vi boto virar gente Mas não pude ver a lua Porque São Jorge foi me buscar
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MARROM E VERDE Barro fundo De água doce Rio navalha Por baixo Da tapera Açaí saindo Do barro fundo Chão de palha
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MEIO-A-MEIO A gente no meio do mundo É meio mundo de gente A gente é meio mundo O mundo é o meio da gente
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MODOS DE VER O MUNDO Eu vejo o mundo na vertical Mundo crescente, comercial Eu vejo o mundo na vertical Mundo inchado, anti-natural Eu vejo o mundo O mundo não me vê Eu vejo o (in)mundo Um mundo prestes a morrer Eu vejo mundo na vertical Mundo soberbo, mau Eu vejo o mundo na vertical Mundo atômico, anti-transcedental
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MULTIFUNCIONAL O poema poemático Tem no eixo temático O sócio-cultural-didático O poema anti-estático É, além de policromático, Multifocal e tático O poema plástico, Em números acrobáticos, É menos teórico e mais prático O poema léxico-gramático É Mais semântico Que sintático Mais poético Que prosaico
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O PARTO Ah, como sofrem As esferográficas! Esferográvidas De poemas Parindo sobre os papéis Papéis-berçários Ah, como sofrem As esferográficas! Esferográvidas Mães abandonadas Pelo poeta Após o parto
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POBRE BICHO MALINADO Olhares misteriosos Espalham medo No meu topázio-coração Torcem e tecem Os fios da melancolia E a minha vida Rola e roda E cai do trapézio E eu, pobre bicho malinado, Angustiado, vou-me acabando Por aí
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POEMINHA SOLTO O tempo, o ser, o ventre De dentro, o vento sopra E acalma a alma de nós Sob a lua ao meio O universo vaga A dor apaga E seguimos juntos Pelos caminhos semi-abertos
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POÉTICA Um artífice pode mais Mas não pode tudo Porque tudo Não está acabado E precisa ser Re Criado Re Criado ProCriado
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PONTA DE AMOR Ponta de amor Pontiaguda Ponta de agulha Ponteando o peito Ponta de amor Pontuda Ponta-d’água Ponto de ebulição Ponta de amor Pontada Ponta do dia Pontícula Ponta de amor Prenúncio de paz Ponto a favor
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PROMESSAS & POTOCAS Palavras dos Homens palavras oblíquas que irritam meus ouvidos Ao ouvi-las me coça a garganta me dá vontade de gritar: “Ora metam a língua na boca e procurem o que fazer, cambada de pilantras!”
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SOBRESSALTO
Saio de casa Sem norte Vou pra qualquer lugar Alguém me diz: — Boa sorte! Não volte antes Do sol raiar!
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SONHO TUPINIQUIM Rio Guamá Poluído, diurético Assento do luar Rio de homem Mata a fome Da província amazônica Rio cortado Rio do lado Da Federal Rio das contravenções Entorpece o coração Do poeta transeunte Rio que não ri Foi um dia, quem sabe, Um sonho tupiniquim
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SUB-MUNDO Lâmpada fria, Rua morta, Chuva fina. Ratos gigantescos Ficam transitando Nos bueiros. Insetos encandeados Perseguem casas, Janelas e portas. Passos fogem Da assombração Que assobia: É a Matinta! O mendigo Treme debaixo Do papelão — É o frio! Muito cuidado
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Com as esquinas, Com os cemitérios, Com as visagens Que cochicham! A noite abre O portão Do sub-mundo. O relógio marca Zero hora. As pestes saem Para assolar A madrugada, Os incrédulos. E a cidade fica Absorta de medo.
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VIRAMUNDO Cheiro de terra Amor plantado No chão da inércia E do esquecimento O vento sopra E conforta a alma Da gente Caboclos semideuses Baixam nos corpos Dos seres semidementes Nas viradas da lua As marés reviram A nossa mente
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ÍNDICE
o Água, Sal e Amor Tudo a Gosto, 5 o Alma, 6 o Amor de Bicho, 7 o Cadê o Filé do Peixe?, 8 o Coisa de Modista, 9 o Definição Medíocre, 10 o Desconstrução, 11 o Encantaria, 12 o Errante, 13 o Fitiço, 14 o Marrom e Verde, 15 o Meio-a-Meio, 16 o Modos de Ver o Mundo, 17 o Multifuncional, 18 o O Parto, 19 o Pobre Bicho Malinado, 20 o Poeminha Solto, 21 o Poética, 22 o Ponta de Amor, 23 o Promessas & Potocas, 24 o Sobressalto, 25 o Sonho Tupiniquim, 26 o Sub-Mundo, 27 o Viramundo, 29
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Nasceu em 19/07/1983, na cidade de Belém/PA. É poeta, crítico literário, professor de comunicação (língua portuguesa, literatura, produção e recepção de textos) e estudante do curso de Letras da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Foi premiado em vários concursos de poesia. Publicou o poema "Poesia Crua" na Antologia do 2º Concurso de Poesias, realizada pelo Centro Acadêmico de Letras da UFPA - CAL/UFPA,
intitulada "Verbos Caninos" (Setembro/2006). Participou da 9ª Feira Pan-Amazônica do Livro. É co-fundador da Associação dos Contadores de História, Escritores e Ilustradores do Pará – ACHEI/PA. Atualmente reside em Belém.