Economia Brasileira No Sec XIX Parte I
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Economia de Transição para o Trabalho Assalariado (Século XIX). In: FURTADO,
Celso. Formação Econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
Dos textos indicados como “Bibliografia Sugerida”, encontra-se neste clássico
do Prof. Celso Furtado o subitem 4.1. A economia brasileira no Século XIX, inserido no
item 4, Economia Brasileira do programa de Noções de Economia do CAD. Está
colocado que este pequeno esforço da nossa parte não esgota o que poderá ser exigido
do candidato, dado o alto nível do concurso, porém servirá para apontar caminhos
futuros.Interessa conhecer algo sobre o autor de Formação Econômica do Brasil.
Nascido na Paraíba, em 1920, mudou-se em 1939 para o Rio de Janeiro, ingressando no
ano seguinte na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), tendo concluído o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais em
1944, mesmo ano em que foi convocado para integrar a Força Expedicionária Brasileira
(FEB), servindo na Itália. Em 1946, ingressou no curso de doutoramento em economia
da Universidade de Paris-Sorbonne, concluído em 1948 com uma tese sobre a economia
brasileira no período colonial. Em 1949, mudou-se para Santiago do Chile, integrando a
recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão das Nações
Unidas. Sob a direção do economista argentino Raúl Prebisch, a CEPAL se tornaria
naquele período um importante centro de debates sobre os aspectos teóricos e históricos
do desenvolvimento.Na década de 1950, Furtado presidiu o Grupo Misto CEPAL-
BNDES, que elaborou um estudo sobre a economia brasileira que serviria de base para
o Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek. Mais tarde, é convidado para o
King's College da Universidade de Cambridge, Inglaterra, onde escreveu Formação
Econômica do Brasil. O Professor Celso Furtado faleceu em 2004.
Ao final do período colonial – último quartel do século XVIII - a Economia
Brasileira apresentava-se, observada em conjunto, nas palavras de Celso Furtado, como
uma constelação de sistemas. Se alguns desses sistemas conseguiam articulação entre si,
outros permaneciam praticamente isolados. Tais articulações se operavam em torno de
dois polos principais, a saber, as economias do açúcar e a do ouro.
Ao núcleo açucareiro articulava-se, ainda que de forma cada vez mais frouxa, a
pecuária nordestina. Ao núcleo mineiro articulava-se o hinterland pecuário sulino, que
abrangia terras de São Paulo ao Rio Grande. Para Furtado, a ligação frouxa desses dois
sistemas seria o Rio São Francisco, cuja pecuária oscilava, em face da meia distância
entre o Nordeste e o Centro-Sul para o mercado que ocasionalmente oferecesse maiores
vantagens. Ao Norte encontravam-se os dois centros autônomos do Maranhão e do Pará.
Quanto ao Maranhão, cumpre anotar que apesar de constituído como sistema autônomo,
articulava-se com a região açucareira através da periferia da pecuária nordestina. Neste
caso, o Pará encontrava-se efetivamente como único núcleo totalmente isolado, vivendo
exclusivamente da economia extrativa florestal organizada pelos jesuítas com base na
exploração da mão-de-obra indígena, sistema que não pagava impostos e que entrara em
decadência com a perseguição movida pelo Marquês de Pombal.
Furtado avaliou que dos três sistemas – a faixa açucareira, a região mineira e o
Maranhão – os quais ligavam-se de maneira fluída e imprecisa por meio do hinterland
pecuário, apenas o Maranhão conheceu uma prosperidade efetiva naquele último quartel
do Dezoito. Seus colonos, adversários tradicionais dos jesuítas na luta pela escravização
dos índios haviam sido ajudados pela criação de uma Companhia de Comércio
altamente capitalizada, sendo que a ajuda financeira permitiu a importação em grande
escala de mão-de-obra africana. Naquele contexto, o Maranhão foi ainda beneficiado
pela modificação no mercado mundial de produtos tropicais (sobretudo o algodão e o
arroz), em face da Guerra de Independência dos EUA e pela Revolução Industrial
Inglesa.
Contudo, com a desarticulação da produção açucareira da então colônia francesa
do Haiti – onde quase meio milhão de escravos lá concentrados revoltaram-se em 1789,
destruindo parte da riqueza ali acumulada – abrira-se para o Nordeste açucareiro nova
etapa de prosperidade, fazendo mais que duplicar no período da Guerras Napoleônicas,
o valor das exportações de açúcar. Com a atividade industrial inglesa, de elevado
consumo de algodão, tanto o Maranhão, quanto o Nordeste passam a dedicar-se com
mais ênfase na produção desse artigo,o que somado às dificuldades enfrentadas pelas
então colônias espanholas passam a repercutir de certa forma ainda mais no mercado de
produtos tropicais e couros. A Colônia portuguesa na América experimenta então, entre
os anos oitenta do Dezoito e o fim da era colonial, uma prosperidade precária, fundada
em condições de anormalidade do mercado mundial de produtos tropicais.
( Continua...)