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FORMAÇÃO EM ECONOMIA SOLIDÁRIA
PROJETO CASA BRASIL
MÓDULO 4
Economia Solidária e
Desenvolvimento Local e
Sustentável
Fabiana Pereira Gomes
Janete Schubert
Maurício José Klein
Ana Cristina Moreira
Tiago Filgueiras Pimentel
Everton Rodrigues
Ministério do Trabalho e Emprego – M.T.E.Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES
Casa Civil da Presidência da República
Instituto Nacional de Tecnologia da Informação - ITI
Secretaria de Comunicação de Social - SECOM
Ministério da Educação - MEC
Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Ministério das Comunicações - MC
Ministério da Cultura - MinC
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG
Serviço Federal de Processamento de Dados - SERPRO
Caixa Econômica Federal - CAIXA
Banco do Brasil S. A. - BB
Centrais Elétricas S.A. - ELETROBRAS
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo - CORREIOS
Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRAS
Este é o quarto de seis cadernos que fazem parte do
programa de formação em Economia Solidária promovido
pelo projeto Casa Brasil em parceria com a Senaes/MTE,
com o objetivo de fomentar o desenvolvimento e o
fortalecimento de iniciativas de Economia Solidária.
Atribuição-Uso Não-Comercial-Compatilhamento pela mesma licença 2.5 Brasil
Você pode:● copiar, distribuir, exibir e executar a obra ● criar obras derivadas
Sob as seguintes condições:Atribuição. Você deve dar crédito ao autor original, da forma especificada pelo autor ou licenciante. Uso Não-Comercial. Você não pode utilizar esta obra com finalidades comerciais. Compartilhamento pela mesma Licença. Se você alterar, transformar, ou criar outra obra com base nesta, você somente poderá distribuir a obra resultante sob uma licença idêntica a esta.
● Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar claro para outros os termos da licença desta obra.
● Qualquer uma destas condições podem ser renunciadas, desde que Você obtenha permissão do autor.
Esta é a versão preliminar do Módulo 4 – Economia
Solidária e Desenvolvimento Local e Sustentável. A
versão definitiva será oportunamente disponibilizada no
sítio www.casabrasil.gov.br.
SumárioApresentação............................................................................................1
1 – Introdução..........................................................................................5
2 – O Ser Humano e o Meio Ambiente................................................5
3 - Contextualizando o desenvolvimento sustentável....................8
3.1 Desenvolvimento Sustentável.....................................................13
3.2 Mas o quê é Desenvolvimento Sustentável?........................14
4 - Desenvolvimento local...................................................................16
4.1 - Princípios do desenvolvimento local e sustentável.........21
4.2 - Condições para o desenvolvimento local e sustentável.24
4.3 - Desenvolvimento local e sustentável: o quê fazer?........28
5 - Economia solidária como ferramenta estratégica para o
Desenvolvimento local e sustentável...............................................29
6 - Referências.......................................................................................32
7 - Anexo.................................................................................................34
Declaração de Joanesburgo sobre Desenvolvimento
Sustentável.........................................................................................34
Apresentação
O Projeto Casa Brasil e a Secretaria Nacional de Economia
Solidária - Senaes/MTE – promovem em parceria um conjunto de
ações de formação em Economia Solidária. Essas ações consistem
em cinco encontros presenciais regionais, um curso a distância, um
conjunto de oficinas e uma comunidade de prática. Este é o quarto
de seis cadernos que compõem o material didático dos encontros
presenciais de Economia Solidária.
Projeto Casa Brasil
O Projeto Casa Brasil oferece, junto a comunidades de notório
baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um espaço
destinado a convergência das ações do Governo Federal nas áreas
de Inclusão Digital, Inclusão Social, geração de trabalho e renda,
além de desenvolvimento e ampliação da cidadania. Trata-se de um
projeto de difusão e formação para o uso intensivo das tecnologias
da informação e comunicação com vistas a preparar as populações
dessas comunidades para o rompimento da cadeia de reprodução da
pobreza.
Entre seus seus objetivos estão promover a emancipação de
cidadãs e cidadãos, proporcionando a universalização do acesso aos
meios, ferramentas, conteúdo e saberes da Sociedade do
Informação, por meio das tecnologias da informação e comunicação,
bem como:
1
• Trabalhar para a redução da desigualdade social.
• Viabilizar a apropriação autônoma e livre das novas
tecnologias.
• Estimular o desenvolvimento da cidadania ativa.
• Fortalecer as ações das organizações da sociedade civil
e a participação popular.
• Contribuir para a formulação de políticas públicas mais
eficazes e justas.
• Promover a integração da comunidade, estimulando o
lazer, a cultura e o convívio social.
• Democratizar as comunicações.
• Proporcionar um espaço para a manifestação cultural
local e regional.
• Estimular e difundir o hábito de leitura.
• Divulgar a ciência.
• Promover inclusão digital e preparação para uma
releitura das tecnologias por meio dos Laboratórios de
Montagem e Manutenção de Equipamentos de Informática.
• Proporcionar à comunidade a oportunidade de criar e
editar conteúdo multimídia.
• Promover o acesso da população às Unidades
Bancárias.
• Promover a divulgação e o acesso aos Programas do
Governo Federal por intermédio das unidades locais do
Projeto Casa Brasil e do Portal Casa Brasil.
2
O Projeto Casa Brasil apresenta este material como parte de
um conjunto de ações de formação em Economia Solidária. O tema
Economia Solidária constitui um dos principais fios condutores do
Projeto, já que articula comunidades a partir de princípios
solidários, promovendo, dessa forma, a inclusão social de seus
agentes. A Economia Solidária valoriza a diversidade, preocupa-se
com a relação do ser humano com o meio ambiente do qual é parte,
oferece alternativas para uma construção social de desenvolvimento
econômico, para a desmistificação das técnicas, para a
democratização da ciência e da tecnologia e para o exercício pleno
da cidadania, identificando-se intimamente com os princípios mais
caros do Projeto Casa Brasil, que, por isso, empreende formações
em Economia Solidária.
Secretaria Nacional de Economia Solidária - Senaes/MTE
Dione ManettiDiretor do Departamento de Fomento à Economia Sol idária
Secretaria Nacional de Economia Sol idária
Ministério do Trabalho e Emprego
A Economia Solidária constitui-se hoje em um importante
instrumento de combate à exclusão social e à pobreza, pois
promove a geração de trabalho e renda para milhões de
trabalhadores(as) de todo o país. Além disso, a Economia Solidária
contesta o modelo excludente, concentrador e perverso da
economia capitalista e propõe a construção de relações econômicas
justas, sustentáveis e solidárias. Por isso, se apresenta como uma
outra forma de organização econômica, que possibilita a promoção
do desenvolvimento justo e solidário.
3
A Economia Solidária constrói-se em diálogo permanente
com as diferentes lutas sociais. Para além das questões específicas
que marcam cada uma delas, a disputa do poder econômico é
elemento central na superação de questões de gênero, sexualidade,
etnia, geração, entre outras.
A SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária, do
Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, tem incentivado o contato
e a interação da Economia Solidária com uma multiplicidade de
aspectos de diferentes lutas sociais. Nesse processo, empreende-se
a articulação da Economia Solidária com as tecnologias livres que,
para além de possibilitar o desenvolvimento tecnológico dos
empreendimentos econômicos solidários, que são fortalecidos pelo
amplo acesso à informação.
Nesse sentido, o Projeto Casa Brasil, do Governo Federal,
cumpre papel central na medida em que suas unidades incorporam
a Economia Solidária como prioridade de atuação. Nesses espaços,
formam-se parcerias que possibilitam a ampliação do conhecimento
em relação às tecnologias livres por parte dos empreendimentos
econômicos solidários, ao mesmo tempo em que promove a
apropriação comunitária dos princípios fundamentais da Economia
Solidária, o que proporciona a construção e a disseminação de uma
cultura em relação a essa forma de organização econômica.
A aliança da Economia Solidária com ações do âmbito
governamental ou da sociedade civil, agregada ao conjunto de
outras lutas sociais que cerram fileiras com a Economia Solidária
para a construção de outro mundo possível e que já acontece,
4
possibilita a consolidação de uma sociedade que tem a autogestão
como elemento central de sua organização.
1 – Introdução
O quarto caderno da Formação Presencial em Economia
Solidária promovido pelo Projeto Casa Brasil e pela Senaes/MTE
trata da relação da Economia Solidária com o desenvolvimento local
e sustentável. Para falar de sustentabilidade, são abordadas as
relações de homens e mulheres com o meio ambiente do qual fazem
parte, incluindo os aspectos sociais, políticos e econômicos. São
discutidas, em seguida, questões relacionadas a desenvolvimento
sustentável e desenvolvimento local, no contexto do movimento
mundial de reação contra os efeitos homogeneizantes e predatórios
da globalização. Finalmente, apresenta-se a Economia Solidária
como ferramenta estratégica para o desenvolvimento local. Com o
intuito de provocar reflexões sobre essa temática, este caderno
apresenta questões conceituais sobre Economia Solidária e
desenvolvimento local e sustentável, trazendo um panorama
histórico do surgimento desse conceito.
2 – O Ser Humano e o Meio Ambiente
A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra.
Cacique Seattle.
O surgimento da espécie homo sapiens é datado de
aproximadamente 200 mil anos atrás - estamos há um bom tempo
5
neste planeta! Façamos, então, um exercício de imaginação, num
passado não muito distante. Vamos tentar vislumbrar a forma como
vivíamos há 300 anos e compará-la ao modo como vivemos hoje.
Vamos pensar, então: quais as mudanças ocorridas nesse período?
De que forma essas mudanças alteram o ambiente em que vivemos?
O Planeta Terra encontra-se num momento crítico. Em virtude
do rápido desenvolvimento das tecnologias e do sistema econômico
vigente nos países de economia central, os nossos sistemas naturais
estão em crise. Por toda parte, constata-se a degradação ambiental
em diversas formas. O mundo perde bilhões de toneladas de solos
férteis anualmente. Os desertos continuam crescendo a uma
velocidade ameaçadora. O abastecimento de energia e água potável
para o futuro próximo está ameaçado, além de outros problemas
generalizados que continuam se agravando, como as mudanças
climáticas recentes ocasionadas pelo impacto do nosso consumo
excessivo de combustíveis fósseis.
Almeida e DaCosta (2007) acreditam que a única forma de
reverter esse quadro é o ser humano sentir-se novamente natureza,
incorporar a natureza. O ser humano não deve se separar do “meio
ambiente”, mas ver sua existência como parte de um “ambiente
inteiro”.
Mas, o que é meio ambiente?
“Lugar determinado ou percebido onde os elementos naturais e
sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações
implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos
históricos e sociais de transformação do meio ambiente – o que a
6
torna uma concepção na qual o homem está incluído. Não se
limitando a considerar com meio ambiente apenas a fauna e a flora
ou os recursos naturais mas, sobretudo, todos os espaços sociais.”
(Reigota, 1995)
A definição de Reigota, vista acima, destaca a importância dos
aspectos históricos e sociais na concepção de meio ambiente.
Assim, incluem-se nela todos os espaços sociais, e, claro, o homem
e a mulher em seus processos históricos, sociais, políticos,
econômicos e culturais.
Uma abordagem muito interessante sobre a relação do homem
e da mulher com o meio ambiente é dada por Guattari (199). O
autor afirma que há três ecologias: a mental ou pessoal, a social e a
ambiental. Para o autor, a ecosofia é o conjunto dessas três
ecologias, necessária e inelutavelmente relacionadas umas com as
outras. O que a ecosofia de Guattari defende é que as relações
entre meio ambiente, sociedade e indivíduo não podem ser
consideradas isoladamente.
A ecologia ambiental deve ser pensada sob o ponto de vista
das relações entre natureza e meio social, nas dimensões social,
política e econômica. Da mesma forma, a ecologia social deve tratar
da reconstrução de formas de convivência em sociedade e pelas
modificações existenciais na essência da subjetividade, no mundo
abstrato das idéias. E a ecologia mental vê sob um novo ponto de
vista a relação sujeito-corpo, de modo a reinventar meios de fugir à
uniformização social vendida pela mídia - o consumismo, o
7
conformismo da moda, as manipulações de opinião pela publicidade,
dentre outros aspectos.
Essa abordagem é uma nova postura em relação à visão
tradicional que coloca a ecologia como o “ambiente natural”,
portanto, externo e separado do homem e da mulher e da
sociedade. Hoje em dia grande parte dos países do mundo conhece
os fenômenos visíveis provocados pelos padrões de produção e
consumo impostos pelo capitalismo – para Weill (2007), tudo indica
que a destruição está chegando, mas de modo lento e invisível, o
que aumenta ainda mais o seu perigo.
Além das questões citadas anteriormente, ampliam-se os
conflitos religiosos e étnicos, as guerras, as desigualdades em todos
os âmbitos provocadas pelo processo de globalização excludente,
que procura impor, a outras nações e povos, padrões de consumo e
de estilo de vida dos países de economia central. Weill (2007)
afirma que o processo de destruição da vida no Planeta começa
individualmente, por uma miragem, uma ilusão de ótica, que o autor
chama de fantasia da separatividade, criada pela dualidade entre o
sujeito que olha para a natureza e os objetos ou pessoas. Fomos
educados para distinguir o mundo exterior de nós, em uma visão
relativizada, construída pelos nossos cinco sentidos e, portanto,
ilusória. Quando trabalhamos sob um ponto de vista que inclui a
vida do ser humano em todas as suas esferas possíveis na
concepção de meio ambiente, podemos ver como todas os seres e
coisas estão inter-relacionados, e falar sobre desenvolvimento
sustentável.
8
3 - Contextualizando o desenvolvimento sustentável
METÁFORA AMBIENTAL
Sobre vacas, bernes e política
Autor: Desconhecido
“Era uma vez uma vaca feliz, saudável e bonita.
Mas nem tudo é perfeito.
A vaca tinha hóspedes.
Alguns bernes se hospedaram nela e alimentavam-se da sua carne. Mas
os bernes eram poucos e pequenos... vaca e bernes viviam em paz.
Aconteceu, entretanto, que os bernes começaram a se multiplicar. Os
bernes aumentavam, mas a vaca não aumentava, confirmando a lei de
Malthus, que disse que “os alimentos crescem em razão aritmética, enquanto
as bocas crescem em razão geométrica.”
O couro da vaca se encheu de calombos, que indicavam a presença dos
bernes. Mesmo assim, a vaca continuava saudável. Ela tinha muita carne de
sobra. Foi então que uma coisa inesperada aconteceu: alguns bernes sofreram
uma mutação genética e passaram a crescer em tamanho... foram crescendo,
ficando cada vez maiores, e com uma voracidade também cada vez maior. Os
vermes magrelos ficaram com inveja dos vermes grandes e trataram de tomar
providências para crescerem também.
O corpo da pobre vaca passou a ser uma orgia de crescimento. Os bernes
só falavam numa coisa: É preciso crescer!”Mas a vaca não crescia”, ficava do
mesmo tamanho. De tanto ser comida pelos bernes, a vaca ficou doente.
Emagreceu. Mas os bernes nada sabiam sobre a vaca em que moravam. Para
perceberem, seria preciso que eles estivessem do lado de fora.
9
Os bernes estavam dentro da vaca. Assim, não percebiam que sua
voracidade estava matando-a. A vaca morreu!... E, com ela, morreram os
bernes...! Fizeram autópsia da vaca. O relatório do legista observou que os
bernes mortos eram excepcionalmente grandes, bem nutridos, muitos deles
chegando à obesidade.”
(Folha de São Paulo, Caderno Mais, 22/1/06, p. 9).
James Lovelock é um cientista que sugeriu que a nossa Terra é um
organismo vivo, como a vaca dessa parábola. Sendo uma coisa viva, ela pode
ter saúde ou ficar doente.
Sua conclusão é que nós, “os bernes”, já estragamos a Terra, “a nossa
vaca,” além de qualquer possibilidade de cura. A Terra está doente.
O crescimento das nações está provocando profundas mudanças
climáticas irreversíveis: a atmosfera está se aquecendo, as geleiras estão
derretendo, a poluição do meio ambiente aumenta, acontecem catástrofes
naturais numa intensidade desconhecida. Esses são os sintomas dos estertores
da nossa Terra, destruída pela voracidade dos bernes. E o pior está por
acontecer, ele diz. Ecossistemas inteiros serão extintos, e os sobreviventes
terão de se adaptar a um clima infernal...
Nossa relação com o planeta tem se pautado historicamente pela
exploração sem limites. Agimos como se todos os recursos do ambiente
existentes fossem inesgotáveis. Uma pergunta importante é: até quando nosso
planeta irá suportar a velocidade com que o estamos destruindo e explorando?
Outra questão importante que, na maioria dos casos não nos ocorre, é que
integramos esta terra e, como dizia o Cacique Seattle1: Tudo que acontecer à
terra acontecerá aos filhos da terra.
O biogeógrafo americano Jared Diamond, em seu livro “Colapso, como as
sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, lançado em 2005, constrói a
1 Carta do Cacique Seattle ao Presidente Norte-americano. Texto de
domínio público distribuído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
10
tese de que o descuido com as questões ambientais foi a causa do colapso de
algumas civilizações históricas, a exemplo dos Maias no México, dos Anasazis
do Novo México e os Vikings em suas colônias da Groenlândia. Considerando a
tese de Diamond, é possível traçar um paralelo entre as crises que esses povos
enfrentaram e a crise ambiental que o planeta enfrenta hoje. Contudo, é
necessário considerar que a crise que enfrentamos hoje, caso não sejam
tomadas as devidas providências, terá dimensões catastróficas,
comprometendo toda a vida do planeta, incluindo a espécie humana.
Essa degradação ambiental ganha mais evidência na segunda metade do
século XIX, em conseqüência dos efeitos provocados pela Revolução Industrial,
o que deu origem às primeiras reações no sentido de se desenvolver fórmulas
e métodos de diminuição dos danos ao ambiente. Mas foi em 1948 que
autoridades reconheceram formalmente os problemas ambientais. Na reunião
do chamado Clube de Roma2, que tinha por objetivo analisar a situação
mundial e oferecer previsões e soluções para o futuro da humanidade, foi
constatada a falência dos recursos naturais.
Em 1968, o Clube de Roma concluiu que a produção mundial de bens
teria que ser reduzida, de forma que os recursos naturais fossem menos
solicitados, e que teria de haver uma redução gradual dos resíduos,
fundamentalmente do lixo industrial. Por isto, a primeira proposta do Clube de
Roma foi essa: “vamos diminuir a produção industrial”.
Um outro momento importante nesse processo foi a Conferência de
Estocolmo, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de
1972. Como resultado desse evento, houve a criação da Declaração sobre o
Ambiente Humano, que introduziu na agenda política internacional a dimensão
ambiental. Sua tarefa é condicionar e limitar o modelo tradicional de
crescimento econômico e o uso dos recursos naturais. Esta declaração
determinou ao mundo que "tanto as gerações presentes como as futuras
2 O Clube de Roma nasceu na década de 60 e reunia chefes de estado, economistas,
pedagogos, humanistas, industriais, banqueiros, líderes políticos, cientistas, entre outros membros de diversos países. Retirado de:
http://www.ibps.com.br/index.asp?idnoticia=1996: acesso em abri l de 2007.
11
tenham reconhecido como direito fundamental a vida num ambiente sadio e
não degradado".
No início da década de 80, a ONU retomou o debate das questões
ambientais. O documento final desses estudos chamou-se “Nosso Futuro
Comum” ou “Relatório Brundtland3”. O Relatório Brundtland faz parte de uma
série de iniciativas, anteriores à Agenda 21, que reafirmam uma visão crítica
do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e
reproduzido pelas nações em desenvolvimento. Ressalta os riscos do uso
excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos
ecossistemas. Esse relatório aponta para a incompatibilidade entre
desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes no
sistema capitalista.
A segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (que ficou conhecida como Eco-92), realizada no Rio de
Janeiro em 1992, teve como um de seus resultados a formulação de
documentos muito importantes. Porém, muitos dos termos desses documentos
ainda não foram colocados em prática. Isso por tratarem de questões que
estabelecem mudanças no comportamento dos países em relação ao meio
ambiente, o que afetaria diretamente os interesses de grandes corporações
capitalistas.
O documento Agenda 21 é considerada como o resultado mais
importante da Eco-92, e foi assinado por 179 paises. É um texto-chave com as
estratégias que devem ser adotadas para a sustentabilidade. Já foi adotado em
diversas cidades por todo o mundo, inclusive através de parcerias e de
intercâmbio de informações entre municipalidades. A sua implementação leva
em conta, principalmente, as especificidades e as características particulares
das localidade e das cidade para planejar o que deve ser desenvolvimento
sustentável em cada uma delas.
Transcorridos 10 anos da ECO – 92, a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, África do Sul, em
3 Retirado de:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_sustent%C3%A1vel
12
2002 (carta final em anexo), afirma que o Desenvolvimento Sustentável é
construído sobre “três pilares interdependentes e mutuamente sustentadores”
— desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental.
Esse paradigma reconhece a complexidade e o inter-relacionamento de
questões críticas como pobreza, desperdício, degradação ambiental,
decadência urbana, crescimento populacional, igualdade de gêneros, saúde,
conflito e violência aos direitos humanos.
3.1 Desenvolvimento Sustentável
Os colonizadores Espanhóis e Portugueses adotaram estratégia
de colonização exploratória na América Latina durante séculos.
Assim, em suas ações, retiravam a maior quantidade possível de
recursos dos países latinos, indiscriminadamente. Os recursos eram
levados para seus países, o que movimentava a economia européia
mas provocava marginalidade e conseqüentemente imobilidade dos
nossos governos.
Ainda hoje esse modelo persiste sob outra forma – agora,
tendo como protagonistas grandes corporações, que atuam tanto em
nível global como local. Essas corporações utilizam nossos recursos
minerais e vegetais e exploram a nossa mão-de-obra barata apenas
para seus interesses. Isolam as culturas locais e disseminam
culturas de massas de forma impositiva, descaracterizando assim
identidades locais e gerando marginalidade e conflitos nas
comunidades.
Nesse aspecto, é necessário considerar pontos importantes
como:
• os saberes já existentes na comunidade;
• seus anseios, valores e perspectivas;
13
• valorizar o entendimento da comunidade sobre o
desenvolvimento.
Objetivamente, o desenvolvimento local cria um contexto onde
se manifesta um modo de ser da comunidade. Diz-se que uma
comunidade se desenvolve quando torna dinâmicas suas
potencialidades, não somente econômicas, mas culturais e sociais.
É necessário considerar que o modelo de crescimento
econômico hoje hegemônico – o capitalismo - gerou e tem gerado
enormes desequilíbrios, tanto sociais quanto ambientais. Esse
modelo, por um lado, gerou riqueza e fartura no mundo, e por outro,
aumento da miséria, degradação ambiental e poluição.
3.2 Mas o quê é Desenvolvimento Sustentável?
Diante desse quadro, a idéia do Desenvolvimento Sustentável é
conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação
ambiental e o fim da pobreza no mundo.
Para isso, todas as formas de relação do ser humano com a
natureza devem ocorrer com o menor dano possível ao ambiente. As
políticas, os sistemas de produção, o comércio, os serviços e o consumo
devem existir preservando a biodiversidade e garantindo a distribuição das
riquezas geradas.
Conceitualmente, o Desenvolvimento Sustentável harmoniza o
imperativo do crescimento econômico com a promoção da eqüidade
social e com a preservação do patrimônio natural, garantindo assim
que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas sem
comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras.
14
Esquematicamente, podemos pensar o Desenvolvimento
Sustentável conforme o diagrama abaixo.
Fonte:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/51/Developpement_durable.s
vg
Autor: Johann Dréo
Adaptado por: Miguel Steffen e Janete Schubert
As razões mais profundas que levaram à configuração do
panorama atual do planeta Terra, porém, não são amplamente
conhecidas pela maior parte das populações. Elas estão
relacionadas ao modo em que é estruturado o sistema capitalista,
que apóia a sua produção na exploração indiscriminada do meio
ambiente – ser humano, inclusive -, em busca de maiores lucros. Em
todos os países pelos quais espalha seus tentáculos, o capitalismo
funciona dentro dessa mesma lógica. Dessa forma, os modos de vida
15
Social
Ambiente Econômico
Visibilidade
Sustentável
Eqüitativo
Viável
individuais e coletivos estão se deteriorando progressivamente. É
por isso que milhões de pessoas são condenadas à desnutrição e à
morte, apesar de termos capacidade produtiva para alimentar todas
as populações do planeta.
Assim, precisamos urgentemente pensar:
• Que desafios estão colocados para a sociedade do século
XXI?
• Quais os modelos de desenvolvimento possíveis, em que
pesem as desigualdades sociais, o sistema econômico
vigente e os limites dos recursos da natureza?
• Como podemos estabelecer uma relação entre seres vivos
no seu meio ambiente, o planeta Terra, que seja pautada
pela ética?
• Como criar bens e serviços de forma que os frutos do trabalho sejam
igualmente distribuídos e que sua produção seja realizada de maneira
a preservar os ecossistemas?
Do encaminhamento que será dado a essas questões depende
a continuidade da nossa espécie neste planeta. Por isso, é urgente
que repensemos o modo como temos nos relacionado com o planeta.
Assim, é crucial que se construa a relação necessária entre
desenvolvimento sustentável e desenvolvimento local.
4 - Desenvolvimento local
A temática do desenvolvimento local emerge no contexto da globalização
como reação e resistência a uma economia global e como resposta à exclusão
16
provocada por esse modelo de desenvolvimento, com os objetivos de valorizar
os saberes locais da comunidade e promover uma relação equilibrada e
saudável entre homens e mulheres das comunidades e seu meio ambiente.
De certa maneira, todo desenvolvimento é local, seja esse local um
distrito, um município, uma microregião, a região de um país ou um país. O
conceito de local adquire a conotação de território de desenvolvimento das
ações e passa assim a ser definido como o âmbito atingido por um processo de
transformação em curso.
É possível que a palavra desenvolver queira dizer isso mesmo:
desenrolar, desdobrar, dar seguimento a uma tendência, realizar uma
predisposição genética, rodar um programa herdado. Quer dizer: tornar
dinâmica uma potencialidade.
Uma outra referência, nem sempre explicitamente reconhecida no
conceito, é a idéia de comunidade. Essa é uma idéia central para pensarmos a
questão do desenvolvimento local.
Mas, o quê é comunidade?
O dicionário Houaiss apresenta várias definições para
comunidade. Algumas delas são:
1. estado ou qualidade das coisas materiais ou das noções
abstratas comuns a diversos indivíduos; comunhão;
2. conjunto de habitantes de um mesmo Estado ou qualquer
grupo social cujos elementos vivam numa dada área, sob um
governo comum e irmanados por um mesmo legado cultural e
histórico;
3. população que vive num dado lugar ou região, geralmente
ligada por interesses comuns;
17
4. conjunto de indivíduos com determinada característica
comum, inserido em grupo ou sociedade maior que não partilha
suas características fundamentais;
5. conjunto de indivíduos organizados num todo ou que
manifestam, geralmente de maneira consciente, algum traço
de união;
6. grupo de indivíduos que partilha uma crença econômica
ou social particular e vive em conjunto;
7. conjunto de indivíduos, inclusive de nações diferentes,
ligado por determinada consciência histórica e/ou por
interesses sociais e/ou culturais e/ou econômicos e/ou políticos
comuns.
Diferentes elementos surgem nessas definições:
1. Comunhão
2. Patrimônio comum
3. Espaço geográfico
4. Governo comum
5. Legado cultural e histórico comum
6. Interesses comuns
7. Característica comum dentro de um contexto maior com
outras características diferentes
8. Traço de união
9. Identidade Comum
10.Crença econômica ou social particular
11.Consciência histórica, interesses sociais, culturais,
econômicos ou políticos comuns
18
12.Como podemos ver, o conceito de comunidade parece
simples, mas são muitos os elementos que podem definir uma
comunidade.
Quando uma população ou uma parcela dela identifica-se como
comunidade, ela tem maior poder de transformação, já que suas
ações são potencializadas - como comunidade, ela se organiza, se
protege e se fortalece.
O que nos une é o que nos diferencia como comunidade.
Qual a sua comunidade: o bairro, a cidade, o Estado, o País, o
planeta? Há muitas questões que extrapolam os limites de nossas
comunidades. Há questões do bairro que só podem ser entendidas
em relação a aspectos que são mais abrangentes e que se referem à
cidade. Que papel o nosso bairro exerce na cidade? O que nos une
enquanto comunidade? O que nos diferencia de toda a cidade?
Da mesma forma há questões que são mais abrangentes que a
nossa própria cidade, e se referem ao Estado. Assim também há
questões que são maiores que os nossos Estados, que são da Região
ou do País.
Há ainda as questões que são maiores que o nosso próprio
país. O que nos une? O que nos diferencia dos outros?
Tomemos a questão ecológica ou o combate às desigualdades
sociais. Por serem mais amplas, fogem e muito aos limites de
nossas comunidades. Ou mais do que isso, essas lutas alargam o
nosso conceito de comunidade, fazendo-nos pensar em comunidades
19
cada vez mais abrangentes, chegando a uma comunidade global,
planetária, humana.
Boaventura de Souza Santos fala de lutas de dimensão
planetária, são as lutas em defesa de valores humanitários.
"Tratam-se de lutas transnacionais pela proteção e
desmercadorização de recursos, entidades, artefatos, ambientes
considerados essenciais para a sobrevivência digna da humanidade
e cuja sustentabilidade só pode ser garantida à escala planetária.
Pertencem ao patrimônio comum da humanidade, em geral, as lutas
ambientais, as lutas pela preservação da Amazônia, da Antártida, da
biodiversidade ou dos fundos marinhos e ainda as lutas pela
preservação do espaço exterior".
Assim, também a questão da comunidade local tem que ser
recolocada. Mais do que conectar a comunidade local à comunidade
global, as questões passam a ser: como a comunidade local se
relaciona com a comunidade global? Como o local se integra
ao global?
O próprio Boaventura parece dar a pista: "A resistência
consiste em transformar trocas desiguais em trocas de autoridade
partilhada, e traduz-se em lutas contra a exclusão, inclusão
subalterna, a dependência, a desintegração, a despromoção."
Assim, exclusão, inclusão subalterna e dependência são formas
de o Local se relacionar com o Global. A resistência da qual fala
Boaventura é então a luta por conectar a comunidade local de forma
a garantir a sua autonomia, para que não se estabeleça uma relação
20
de dependência em relação à comunidade global (globalizada e
globalizante).
O filósofo Martin Buber vê a categoria comunidade como um
caminho de superação da relação indivíduo - coletividade.
Contrapõe o conceito de comunidade ao de massa. Para ele, ao
perder sua consciência interna, a massa se torna uma máquina de
grande tensão e de intensa energia, mas que não é um organismo.
Perde, portanto, a relação entre o "outro" e o "mundo" e o "si
mesmo". Ao tornar-se comunidade, a massa encontra o si-mesmo. A
identificação e o fortalecimento dos vínculos comunitários são,
portanto, fatores importantes para o desenvolvimento local e
sustentável.
4.1 - Princípios do desenvolvimento local e sustentável
Como foi visto, desenvolvimento local é uma forma de
melhorar a vida de todas as pessoas (desenvolvimento humano e
social), incluindo as gerações atual e futura (desenvolvimento
sustentável). Por isso, quando se pensa em Desenvolvimento Local,
pensa-se em protagonismo local e mudança de paradigma, em
promoção da democracia participativa, em construção de ambientes
equilibrados e produtivos e na sua associação com preceitos
fundamentais da Economia Solidária. São alguns dos princípios de
Desenvolvimento Local:
1 - Democracia Participativa: as políticas de desenvolvimento local
devem vir acompanhadas da intensificação de todas as formas de participação
e protagonismo do povo, como meio de garantir a inclusão justa de todos os
setores da sociedade no desenvolvimento local e nacional.
21
2 - Organização popular: o êxito do modelo depende da capacidade
organizativa e do compromisso de todos os sujeitos do desenvolvimento, e por
eles é necessário promover e garantir a participação e o protagonismo das
comunidades nos processos de diagnóstico, desenho e consolidação das
propostas.
3 - Desconcentração territorial: a estratégia territorial obedece à
necessidade de superar o modelo centralizador, promotor da desigualdade
geográfica e do subdesenvolvimento regional, e de oferecer a todas as
comunidades do país oportunidades iguais de desenvolvimento considerando
as potencialidades locais e a inter-relação de comunidades e regiões.
4 - Redistribuição da terra: os fins da justiça social, soberania alimentar e
equilíbrio territorial dependem do desenvolvimento rural integral e de uma
justa redistribuição de terras. Segue daí o valor estratégico outorgado à luta
contra o latifúndio, e em favor da reforma agrária integral, como meios para
garantir o direito à terra dos campesinos e demais produtores agropecuários.
5 - Ambiente equilibrado e produtivo: para conseguir um
desenvolvimento eqüitativo e duradouro é necessário garantir um
aproveitamento sustentável dos recursos naturais e o respeito ao meio
ambiente em todas as atividades produtivas, industriais e extrativas.
6 - Priorizar a produção nacional: o modelo coloca especial ênfase na
recuperação, fortalecimento, ativação e criação de atividades produtivas
nacionais, e na sua diversificação e eficiência.
7 - Independência e pertinência tecnológica: não se trata de promover a
simples aquisição de tecnologias, mas de conjugar os saberes tradicionais com
os avanços tecnológicos, sob critérios de pertinência. Isso significa combinar a
tecnologia artesanal com a de ultima geração, segundo a necessidade de cada
atividade produtiva.
8 - Soberania alimentar: fortalecer a capacidade da nação para auto-
sustentabilidade. Daí o valor estratégico de ambos os elementos, desde o
ponto de vista da economia sustentável, a defesa e a seguridade nacional.
22
9 - Cooperativismo: as formas de associação econômica e solidária
constituem a modalidade básica de organização para o trabalho em prol dos
objetivos do desenvolvimento local. O cooperativismo como modelo de
organização põe em prática os princípios de interesse coletivo, da
solidariedade, participação igualitária e inclusão social.
10 - Trabalho não-dependente: por meio do cooperativismo e das
associações de produção e comercialização se busca transformar as relações
de produção capitalista dependentes, para formar uma rede de cooperativas e
de produtores independentes mutuamente relacionados com base em
interesses comuns.
11 - Cultura local: esse modelo valoriza e fortalece as vocações e
particularidades locais, regionais e nacionais, levando em conta os saberes e
culturas populares, a história das comunidades, das etnias e de suas raízes.
12 - Igualdade de gênero: a plena incorporação das mulheres, em
igualdade de condições na vida política, econômica e cultural do país, é um
pressuposto fundamental para superar as desigualdades e garantir um
desenvolvimento sustentável e eqüitativo para todos e todas.
13 - Comunicação livre e alternativa: a importância de fortalecer e
promover as formas e meios de comunicação alternativas das comunidades é
vital e necessária para o êxito das novas dinâmicas de desenvolvimento. Por
isso, as experiências de desenvolvimento local devem promover as iniciativas
de comunicação independentes e comunitárias, para garantir a liberdade de
informação e expressão a todos.
Vimos os princípios e a necessidade do fortalecimento das
comunidades para o desenvolvimento local e sustentável.
Abordaremos agora fatores como conhecimento humano,
organização social e condições naturais no que concerne ao
desenvolvimento local e sustentável.
23
4.2 - Condições para o desenvolvimento local e
sustentável
Há alguns fatores importantes para a criação de boas
condições para o fomento ao desenvolvimento local e sustentável.
Educação e conhecimento humano e social, tanto na forma de
escolaridade formal como na de saberes e cultura constituídos na
comunidade apresentam-se como elementos basilares para a
promoção do desenvolvimento local e sustentável.
Conhecimento humano, organização social e condições
naturais
É preciso aumentar o grau de acesso das pessoas não apenas à
renda, mas também à riqueza, ao conhecimento e ao poder ou à
capacidade e à possibilidade de influir nas decisões públicas.
Devido à importância da participação social no desenvolvimento
local, é necessário investir na ampliação das capacidades pessoais
e coletivas, o que podemos considerar como o conhecimento
humano e social acumulado. Baixos níveis de conhecimento humano
indicam baixos níveis de desenvolvimento. A diferença entre a
sociedade Belga, por exemplo, em que a escolaridade média do
trabalhador é de 12 anos, e a brasileira, que não alcança o patamar
de seis anos, pode dar bons indícios sobre o desenvolvimento de
cada país.
Processos de educação informal, em que as ações educativas
não são sistematizadas, e de educação não-formal, em que as ações
são empreendidas fora do sistema regular de ensino, mas de forma
24
sistematizada e com objetivos definidos, têm também grande
importância na organização social. Ações de educação não-formal,
como as que ocorrem no âmbito das unidades Casa Brasil e nas
ações de formação da Senaes, e de educação informal, como a
própria organização da comunidade - por exemplo, em seus
processos de estruturação para a autogestão -, contribuem
grandemente para o fortalecimento da sociedade e para a
construção de uma inteligência coletiva essencial para os processos
relacionados às atividades de Economia Solidaria.
Para se provocar transformação pessoal e do outro, que pode
estar perto ou distante, é necessária também a integração das
comunidades. É na integração e na interação com outros sujeitos da
comunidade que aprendemos a conviver em grupo - devemos saber
que nossas ações isoladas são fracas diante das ações coletivas.
"a educação é um ato de amor, por isso, é um ato
de coragem.
Não se pode temer o debate, a análise da realidade.
Não se pode fugir à discussão criadora, sob pena de
ser uma farsa"
Paulo Freire - Educação como prática da liberdade:
pág: 104
Portanto, o amor relaciona-se com a coletividade e com o
compartilhamento do saber e do conhecimento. O que acima está
expresso é o contrário daquilo que estamos vivendo em nossa
sociedade atual. O modo com que somos educados nos deixa em
constante conflito, e vivemos uma alternância de papéis de
oprimido e opressor. Quando oprimimos o mais próximo ou o mais
distante, oprimimos a nós mesmos.
25
Somos opressores e oprimidos, mas isso não ocorre de forma
necessariamente intencional – em geral, não percebemos. Por isso é
importante termos consciência de que, muitas vezes, nos colocamos
na condição de opressor. Essa condição, no entanto, elimina muitas
ou todas as possibilidades de articulação e integração comunitária.
É necessária, portanto, a permanente vigilância no que se refere à
postura no trabalho, de modo que não se assuma a condição de
opressor, seja por se estar numa posição hierárquica superior no
projeto, seja por se exercer função administrativa, seja porque
alguém é de fora da comunidade ("intrusos") - em qualquer
situação, é importante trabalhar no sentido de promover a
integração e a interação entre os membros do grupo. Assim, é
fundamental que a intervenção na comunidade ocorra de modo que
se valorizem as representações, a linguagem, as relações grupais e
as emoções e afetos característicos do indivíduos que compõem
cada grupo - para que, assim, se possa construir uma verdadeira
ação de transformação social.
A integração depende da interatividade entre dois ou mais
sujeitos. Dessa forma, não podemos exigir apenas apoio de outros
sujeitos às nossas ações, mas também temos que apoiar as
iniciativas dos outros sujeitos. Assim, podemos fortalecer os
diferentes processos e motivar todos os envolvidos – tanto de
dentro quanto de fora da comunidade - com um trabalho coletivo e
colaborativo.
Como já foi dito, outro fator importante para o
desenvolvimento local é a capacidade de organização social e
26
comunitária. Existe uma relação direta entre o grau de associação,
confiança e cooperação com a boa governança e a prosperidade
econômica. Esse processo é amplamente beneficiado pelas ações
educativas informais e não-formais pelos quais passa a comunidade.
O fortalecimento da sua identidade, o revigoramento e a
disseminação de sua cultura e a consolidação de suas relações
sociais e comunitárias dão à comunidade uma capacidade de
organização social e comunitária que favorece significativamente o
seu desenvolvimento local e sustentável.
De outra parte, as condições ambientais e físico-territoriais
herdadas são também determinantes para a promoção do
desenvolvimento local. Conhecer essa realidade e saber relacionar-
se com ela é desafio para qualquer território que almeje o
desenvolvimento.
Pois bem, a equação do desenvolvimento relaciona todas essas
variáveis de uma maneira que ainda não é bem conhecida. Mas já é
bom saber que, para promover o desenvolvimento, é preciso levar
em conta essas diferentes dimensões.
Além disso, não há como promover o desenvolvimento sem
estimular o “protagonismo” local. Isso implica alterar as condições
que determinam a concentração do conhecimento, e que
possibilitaram a concentração do poder e da riqueza, gerando, como
conseqüência, pobreza e exclusão social. Portanto, promover o
desenvolvimento significa promover mudanças políticas,
econômicas, sociais e culturais.
27
O “protagonismo” local é o fenômeno pelo qual os agentes
locais se reconhecem como sujeitos do seu próprio destino. Tornam-
se atores sociais. Logo, trata-se de um processo de
“empoderamento”, de ampliação da esfera pública, de
transformação nas relações entre Sociedade, Mercado e Estado.
O desenvolvimento é um fenômeno que resulta das relações
humanas. São as pessoas que fazem o desenvolvimento . O
desenvolvimento depende do sonho, do desejo, da vontade, da
adesão, das decisões e das escolhas das pessoas. E isso é chamado
de “protagonismo” local.
Portanto, é verdade que podemos até induzir um processo de
desenvolvimento de modo exógeno (que vem de fora), mas só
podemos realizá-lo de modo endógeno (que é gerado dentro da
comunidade). Assim, podemos até mobilizar e convencer as pessoas
em torno de um projeto de desenvolvimento que foi concebido “de
fora para dentro” e “de cima para baixo”. Todavia, para realizá-lo,
vamos precisar da adesão e da participação das pessoas. Quer
dizer, elas vão precisar se engajar neste projeto, como um produto
construído “de baixo para cima” e “de dentro para fora”.
Mas, se é assim, por que não fazemos desse modo desde o
início? Simples: porque os planejadores e os tomadores de decisões,
na maior parte dos casos, não acreditam na capacidade dos agentes
locais de planejarem e gerenciarem seu próprio desenvolvimento.
4.3 - Desenvolvimento local e sustentável: o quê fazer?
Como vimos, para que a renda produzida se distribua,
melhorando as condições de vida da população, é preciso que as
28
pessoas tenham acesso à riqueza, ao conhecimento e ao poder.
Assim, é preciso investir no incremento de todos esses fatores
simultaneamente.
E, nesse sentido, “o desenvolvimento local ou territorial” pode
ser concebido como um processo endógeno de mobilização das
capacidades (humanas, sociais, políticas e culturais) e
aproveitamento das potencialidades econômicas locais com a
finalidade de melhoria das condições de vida da população, não
esquecendo um pressuposto importante: a conscientização de que
seres humanos e meio ambiente são uma coisa só, que o homem e a
mulher são a natureza.
Todo processo de desenvolvimento é uma experiência de
aprendizado. Precisamos transformar as experiências em curso em
observatórios, para não desperdiçarmos a oportunidade de aprender
com os atores locais a construção de novos caminhos para um
desenvolvimento humano, social e sustentável.
Considerando um desenvolvimento que se paute pela ética da
vida, torna-se imperativo, face aos desafios que estão colocados
para a sociedade no século XXI, pensar na nossa responsabilidade
com o planeta e conseqüentemente com as futuras gerações.
Possivelmente em nenhum outro momento histórico foi tão urgente
e necessário repensar nossa cultura, em sentido amplo, revendo
conceitos como o crescimento, a riqueza, o consumo, a educação. O
desafio está colocado para cada um e cada uma de nós. A partir
disso, o que faremos? Quais serão nossas atitudes?
29
5 - Economia solidária como ferramenta estratégica para o
Desenvolvimento local e sustentável
Desenvolvimento não é apenas aumento da produtividade
global, como em geral é compreendido. Não é o crescimento
econômico gerado como resultado de investimentos realizados por
capitais privados ou públicos em uma região. Quando pensamos em
desenvolvimento apenas nesses níveis em geral ocorre agravamento
da questão social, devido à precarização das relações de trabalho e
ao aumento do desemprego. Isso ocorre porque essa concepção de
desenvolvimento considera somente seu aspecto econômico
quantitativo e ignora o aspecto distributivo. Tal prática favorece a
concentração do capital e gera desigualdades sociais e territoriais,
além de degradação ambiental e desvalorização das culturas locais.
É por essa razão que desenvolvimento não se deve limitar a
ampliação de investimentos para gerar produção. Existem outras
concepções de desenvolvimento que consideram muito mais as
pessoas envolvidas nesse processo, que geram justiça social,
cidadania, valorização da diversidade cultural e sustentabilidade
ambiental. Tudo isso sendo articulado com as atividades
econômicas. Esse é o modelo de desenvolvimento proposto pela
Economia Solidária.
O fortalecimento da Economia solidária como estratégia de
inclusão econômica e social oferece um caminho com grande
potencial para o desenvolvimento, em especial o local ou territorial
sustentável. A inserção da economia solidária nesses processos
fortalece a combinação de ações estruturantes de acesso e
30
incentivo às alternativas locais de geração de trabalho com outras
melhorias nas condições de vida da população.
O desenvolvimento local sustentável e solidário requer a
democratização do acesso e a ampliação de programas e projetos
que contribuam para a criação e fortalecimento das redes, das
cadeias, das centrais de comercialização e do sistema de comércio
justo, de modo a dar sustentabilidade aos diversos
empreendimentos solidários.
Neste sentido, a indução do desenvolvimento local ou territorial requer a
combinação de políticas públicas adequadas com as necessidades e
potencialidades locais. Essa forma de promover desenvolvimento está
sendo conduzida atualmente no Brasil. Várias comunidades estão se
mobilizando para promovê-lo de modo coletivo, através de
cooperativas ou associações de produtores familiares, redes,
cadeias produtivas e grupos informais.
Trata-se, portanto de um desenvolvimento comunitário ou
solidário, porque sua principal característica é que todos os
envolvidos se beneficiam de seus resultados econômicos, sociais,
políticos e culturais. Esse compartilhamento é feito com respeito à
diversidade de raça, etnia, gênero, geração e opção religiosa. Por
essa razão é possível dizer que a Economia Solidária é uma
estratégia para um novo modelo de desenvolvimento sustentável,
includente e solidário.
É verdade que as comunidades que buscam promover o seu
próprio desenvolvimento dessa forma demandam apoio e assistência
de qualidade dos diferentes órgãos de governo (União, Estados e
31
Municípios), dos bancos públicos, de organizações não-
governamentais, das universidades e dos movimento sociais. Todo
esse apoio contribui para ampliar e qualificar a participação do
coletivo envolvido, identificando e desenvolvendo suas
potencialidades socioeconômicas, étnicas e culturais na busca de
níveis crescentes de bem-estar.
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34
7 - Anexo
Declaração de Joanesburgo sobre Desenvolvimento
Sustentável
Das origens ao futuro
1. Nós, representantes dos povos do mundo, reunidos durante a Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo, África do Sul,
entre 2 e 4 de setembro de 2002, reafirmamos nosso compromisso com o
desenvolvimento sustentável.
2. Assumimos o compromisso de construir uma sociedade global
humanitária, eqüitativa e solidária, ciente da necessidade de dignidade
humana para todos.
3. No início desta Cúpula, crianças do mundo nos disseram, numa voz
simples, porém clara, que o futuro pertence a elas e, em conseqüência,
conclamaram todos nós a assegurar que, através de nossas ações, elas
herdarão um mundo livre da indignidade e da indecência causadas pela
pobreza, pela degradação ambiental e por padrões de desenvolvimento
insustentáveis.
4. Como parte de nossa resposta a essas crianças, que representam
nosso futuro coletivo, todos nós, vindos de todos os cantos do mundo,
formados por diferentes experiências de vida, estamos unidos e animados por
um sentimento profundo de que necessitamos criar, com urgência, um novo e
mais iluminado mundo de esperança.
5. Por conseguinte, assumimos a responsabilidade coletiva de fazer
avançar e fortalecer os pilares interdependentes e mutuamente apoiados do
desenvolvimento sustentável - desenvolvimento econômico, desenvolvimento
social e proteção ambiental - nos âmbitos local, nacional, regional e global.
6. Neste Continente, Berço da Humanidade, declaramos, por meio do
Plano de Implementação e desta Declaração, sermos responsáveis uns pelos
outros, pela ampla comunidade da vida e por nossas crianças.
35
7. Reconhecendo que a humanidade se encontra numa encruzilhada,
estamos unidos numa determinação comum, a fim de realizar um esforço
determinado para responder afirmativamente à necessidade de apresentar um
plano prático e visível, que leve à erradicação da pobreza e ao
desenvolvimento humano.
De Estocolmo ao Rio de Janeiro a Joanesburgo
8. Trinta anos atrás, em Estocolmo, concordamos sobre a necessidade
urgente de reagir ao problema da deterioração ambiental. Dez anos atrás,
durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, concordamos que a proteção do
meio ambiente e o desenvolvimento social e econômico são fundamentais para
o desenvolvimento sustentável, com base nos Princípios do Rio. Para alcançar
tal desenvolvimento, adotamos o programa global Agenda 21 e a Declaração
do Rio, aos quais reafirmamos nosso compromisso. A Cúpula do Rio foi um
marco significativo, que estabeleceu uma nova agenda para o
desenvolvimento sustentável.
9. Entre o Rio e Joanesburgo, as nações do mundo se reuniram em
diversas conferências de larga escala sob a coordenação das Nações Unidas,
incluindo a Conferência de Monterrey sobre Financiamento ao
Desenvolvimento, bem como a Conferência Ministerial de Doha. Essas
conferências definiram para o mundo uma visão abrangente para o futuro da
humanidade.
10. Na Cúpula de Joanesburgo muito se alcançou na convergência de um
rico tecido de povos e pontos de vista, numa busca construtiva por um
caminho comum rumo a um mundo que respeite e implemente a visão do
desenvolvimento sustentável. Joanesburgo também confirmou haver sido feito
progresso significativo rumo à consolidação de um consenso global e de uma
parceria entre todos os povos de nosso planeta.
Os Desafios que Enfrentamos
11. Reconhecemos que a erradicação da pobreza, a mudança dos
padrões de consumo e produção e a proteção e manejo da base de recursos
36
naturais para o desenvolvimento econômico e social são objetivos
fundamentais e requisitos essenciais do desenvolvimento sustentável.
12. O profundo abismo que divide a sociedade humana entre ricos e
pobres, junto à crescente distância entre os mundos desenvolvidos e em
desenvolvimento, representam uma ameaça importante à prosperidade, à
segurança e à estabilidade globais.
13. O meio ambiente global continua sofrendo. A perda de biodiversidade
prossegue, estoques pesqueiros continuam a ser exauridos, a desertificação
toma mais e mais terras férteis, os efeitos adversos da mudança do clima já
são evidentes e desastres naturais são mais freqüentes e mais devastadores;
países em desenvolvimento são mais vulneráveis e a poluição do ar, da água e
do mar segue privando milhões de pessoas de uma vida digna.
14. A globalização adicionou uma nova dimensão a esses desafios. A
rápida integração de mercados, a mobilidade do capital e os significativos
aumentos nos fluxos de investimento mundo afora trouxeram novos desafios e
oportunidades para a busca do desenvolvimento sustentável.
Mas os benefícios e custos da globalização são distribuídos
desigualmente, e os países em desenvolvimento enfrentam especiais
dificuldades para encarar esse desafio.
15. Corremos o risco de perpetuação dessas disparidades globais e, a
menos que ajamos de modo a modificar fundamentalmente suas vidas, os
pobres do mundo podem perder a confiança em seus representantes e nos
sistemas democráticos com os quais permanecemos comprometidos,
enxergando em seus representantes nada além de imagens pomposas e sons
retumbantes.
Nosso Compromisso com o Desenvolvimento Sustentável
16. Estamos determinados a assegurar que nossa rica diversidade, que é
nossa força coletiva, será usada numa parceria construtiva para a mudança e
para alcançar o objetivo comum do desenvolvimento sustentável.
37
17. Reconhecendo a importância de ampliar a solidariedade humana,
instamos a promoção do diálogo e da cooperação entre os povos e civilizações
do mundo, a despeito de raça, deficiências, religião, idioma, cultura e tradição.
18. Aplaudimos o foco da Cúpula de Joanesburgo na indivisibilidade da
dignidade humana e estamos resolvidos, através de decisões sobre metas,
prazos e parcerias, a rapidamente ampliar o acesso a requisitos básicos tais
como água potável, saneamento, habitação adequada, energia, assistência
médica, segurança alimentar e proteção da biodiversidade. Ao mesmo tempo,
trabalharemos juntos para nos ajudar mutuamente a ter acesso a recursos
financeiros e aos benefícios da abertura de mercados, assegurar o acesso à
capacitação e ao uso de tecnologia moderna que resulte em desenvolvimento,
e nos assegurar de que haja transferência de tecnologia, desenvolvimento de
recursos humanos, educação e treinamento para banir para sempre o
subdesenvolvimento.
19. Reafirmamos nossa promessa de aplicar foco especial e dar atenção
prioritária à luta contra as condições mundiais que apresentam severas
ameaças ao desenvolvimento sustentável de nosso povo. Entre essas
condições estão: subalimentação crônica; desnutrição; ocupações estrangeiras;
conflitos armados; problemas com drogas ilícitas; crime organizado; corrupção;
desastres naturais; tráfico ilegal de armamentos; tráfico humano; terrorismo;
intolerância e incitamento ao ódio racial, étnico e religioso, entre outros;
xenofobia; e doenças endêmicas, transmissíveis e crônicas, em particular
HIV/AIDS, malária e tuberculose.
20. Estamos comprometidos a assegurar que a valorização e
emancipação da mulher e a igualdade de gênero estejam integradas em todas
as atividades abrangidas pela Agenda 21, as Metas de Desenvolvimento do
Milênio e o Plano de Implementação de Joanesburgo.
21. Reconhecemos o fato de que a sociedade global possui os meios e
está dotada de recursos para encarar os desafios da erradicação da pobreza e
do desenvolvimento sustentável que confrontam toda a humanidade. Juntos
tomaremos medidas adicionais para assegurar que os recursos disponíveis
sejam usados em benefício da humanidade.
38
22. A esse respeito, visando contribuir para o alcance de nossos objetivos
e metas de desenvolvimento, instamos os países desenvolvidos que ainda não
o fizeram a realizar esforços concretos para atingir os níveis
internacionalmente acordados de Assistência Oficial ao Desenvolvimento.
23. Aplaudimos e apoiamos o surgimento de grupos e alianças regionais
mais robustos, tais como a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África
(NEPAD), para a promoção da cooperação regional, do aperfeiçoamento da
cooperação internacional e do desenvolvimento sustentável.
24. Continuaremos a dedicar especial atenção às necessidades de
desenvolvimento dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento e dos
Países Menos Desenvolvidos.
25. Reafirmamos o papel vital dos povos indígenas no desenvolvimento
sustentável.
26. Reconhecemos que o desenvolvimento sustentável requer uma
perspectiva de longo prazo e participação ampla na formulação de políticas,
tomada de decisões e implementação em todos os níveis. Na condição de
parceiros sociais, continuaremos a trabalhar por parcerias estáveis com todos
os grupos principais, respeitando os papéis independentes e relevantes de
cada um deles.
27. Concordamos que, na busca de suas atividades legítimas, o setor
privado, tanto grandes quanto pequenas empresas, tem o dever de contribuir
para a evolução de comunidades e sociedades eqüitativas e sustentáveis.
28. Concordamos também em prover assistência para ampliar
oportunidades de emprego geradoras de renda, levando em consideração a
Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da Organização
Mundial do Trabalho (OMT).
29. Concordamos que existe a necessidade de que as corporações do
setor privado implementem suas responsabilidades corporativas. Isto deve
ocorrer num contexto regulatório transparente e estável.
39
30. Assumimos o compromisso de reforçar e aperfeiçoar a governança
em todos os níveis, para a efetiva implementação da Agenda 21, das Metas de
Desenvolvimento do Milênio e do Plano de Implementação de Joanesburgo.
40
O Multilateralismo é o Futuro
31. Para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável,
necessitamos de instituições multilaterais mais eficazes, democráticas e
responsáveis.
32. Reafirmamos nosso compromisso com os princípios e propósitos da
Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, bem como com o
fortalecimento do multilateralismo. Apoiamos o papel de liderança das Nações
Unidas na condição de mais universal e representativa organização do mundo,
e a que melhor se presta à promoção do desenvolvimento sustentável.
33. Assumimos adicionalmente o compromisso de monitorar, em
intervalos regulares, o progresso alcançado na implementação das metas e
objetivos do desenvolvimento sustentável.
Fazendo Acontecer!
34. Estamos de acordo que este deve ser um processo inclusivo,
envolvendo todos os grupos principais e os governos que participaram da
histórica Cúpula de Joanesburgo.
35. Assumimos o compromisso de agir juntos, unidos por uma
determinação comum de salvar nosso planeta, promover o desenvolvimento
humano e alcançar a prosperidade e a paz universais.
36. Assumimos compromisso com o Plano de Implementação de
Joanesburgo e com a aceleração do cumprimento das metas socioeconômicas
e ambientais com prazo determinado nele contidas.
37. Do continente Africano, Berço da Humanidade, afirmamos
solenemente aos povos do mundo e às gerações que certamente herdarão este
planeta estarmos determinados a assegurar que nossa esperança coletiva para
o desenvolvimento sustentável seja realizada.
Expressamos nossa mais profunda gratidão ao povo e ao Governo da
África do Sul por sua hospitalidade generosa e excelentes acomodações
destinadas à Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável.
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