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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq 19 a 23 de outubro de 2015 E DGAR DO V ALLE : I NFLUÊNCIAS NORTE - AMERICANAS E PRÁTICA EM P ORTO A LEGRE 1959/1979 Jânerson Figueira Coelho: Arquiteto e Urbanista, mestrando do Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU – UniRitter), em associação com a Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: [email protected]. RESUMO O presente trabalho é a primeira comunicação a respeito do tema proposto para a dissertação de mestrado intitulada “EDGAR DO VALLE: Influências norte-americanas e práticas em Porto Alegre - 1959/1979, em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UniRitter/Mackenzie, sob a orientação do professor Dr. Sergio Moacir Marques. Inserida na área de concentração “Projeto, Processos e Sistemas”, se apoia no redesenho como pratica reflexiva para realizar um exame aprofundado do projeto no sentido de identificar os procedimentos práticos, teóricos e metodológicos que delinearam a produção arquitetônica do Arquiteto gaúcho Edgar Sirangelo do Valle realizada no estado nas décadas de 60 e 70. O interesse pelo tema se baseia na assertiva de que a arquitetura desse período ainda possui terrenos inexplorados principalmente no que tange à produção de nomes que deram sequência na consolidação da arquitetura moderna regional, e sobretudo no reconhecimento e explicação mais ampla das diversas vertentes que a influenciaram. Nesse contexto, trazer o caso de Edgar do Valle profissional da 3ª geração de arquitetos formados pela UFRGS (1959) , ganha relevância uma vez que, entre 1963 e 1965, realizou sua pós-graduação no Illinois Institute of Technology / Chicago-EUA sob a orientação de Mies van der Rohe. Essa experiência, inédita no contexto local, suscita um olhar mais detalhado à produção desse arquiteto no sentido de identificar suas influências estéticas, modo de conceber o projeto e critérios espaciais e formais abordados. Busca tanto descrevê-las e verificar nelas os valores que refletem o debate arquitetônico de sua formação, estabelecer seu significado e importância no quadro histórico da arquitetura regional, bem como reconhecer possíveis paralelismos com a arquitetura moderna norte-americana do pós-guerra. Palavras-Chave: Arquitetura moderna em Porto Alegre; Influências norte-americanas.

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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

EDGAR DO VALLE: INFLUÊNCIAS NORTE-AMERICANAS E

PRÁTICA EM PORTO ALEGRE – 1959/1979

Jânerson Figueira Coelho: Arquiteto e Urbanista, mestrando do Programa de Pós-

Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU – UniRitter), em associação com a

Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: [email protected].

RESUMO

O presente trabalho é a primeira comunicação a respeito do tema proposto para a dissertação

de mestrado intitulada “EDGAR DO VALLE: Influências norte-americanas e práticas em Porto

Alegre - 1959/1979”, em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e

Urbanismo da UniRitter/Mackenzie, sob a orientação do professor Dr. Sergio Moacir Marques.

Inserida na área de concentração “Projeto, Processos e Sistemas”, se apoia no redesenho como

pratica reflexiva para realizar um exame aprofundado do projeto no sentido de identificar os

procedimentos práticos, teóricos e metodológicos que delinearam a produção arquitetônica do

Arquiteto gaúcho Edgar Sirangelo do Valle realizada no estado nas décadas de 60 e 70. O

interesse pelo tema se baseia na assertiva de que a arquitetura desse período ainda possui

terrenos inexplorados principalmente no que tange à produção de nomes que deram sequência

na consolidação da arquitetura moderna regional, e sobretudo no reconhecimento e explicação

mais ampla das diversas vertentes que a influenciaram. Nesse contexto, trazer o caso de Edgar

do Valle – profissional da 3ª geração de arquitetos formados pela UFRGS (1959) –, ganha

relevância uma vez que, entre 1963 e 1965, realizou sua pós-graduação no Illinois Institute of

Technology / Chicago-EUA sob a orientação de Mies van der Rohe. Essa experiência, inédita no

contexto local, suscita um olhar mais detalhado à produção desse arquiteto no sentido de

identificar suas influências estéticas, modo de conceber o projeto e critérios espaciais e formais

abordados. Busca tanto descrevê-las e verificar nelas os valores que refletem o debate

arquitetônico de sua formação, estabelecer seu significado e importância no quadro histórico da

arquitetura regional, bem como reconhecer possíveis paralelismos com a arquitetura moderna

norte-americana do pós-guerra.

Palavras-Chave: Arquitetura moderna em Porto Alegre; Influências norte-americanas.

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1. CONTEXTO

O fim da década de 30 e meados dos anos 40, período que emoldura o

surgimento da arquitetura moderna no Rio Grande do Sul, se confunde com a

própria afirmação da arquitetura como disciplina autônoma na região. Foi um

momento de grande efervescência que culminou com a fundação do ensino da

arquitetura e com a criação do Instituo dos Arquitetos do Brasil no estado.

Num contexto onde a maioria dos projetos eram desenvolvidos por

engenheiros civis e arquitetos na sua maioria estrangeiros – apenas dois eram

formados no Brasil1 –, a arquitetura moderna identificada com as vanguardas

construtivas europeias abre caminho em Porto Alegre no final dos anos 40 a

partir do exemplo de inspiração corbusiana da escola carioca. Projetos de

Arquitetos cariocas em Porto Alegre, segundo Prof. Demétrio Ribeiro, “foram

decisivos para a promoção do pensamento moderno no Estado” (RIBEIRO,

1987. p. 26-31).

Embora a Arquitetura Moderna que passa a se desenvolver no sul do pais

nos anos 50 bebesse das influências do eixo Rio/São Paulo e ainda da vertente

platina, principalmente da uruguaia com sua tradição no planejamento urbano e

estreitas relações acadêmicas, pode se considerar que fatores sociais e

econômicos aliados à uma certa rivalidade por parte de setores da construção

civil local, em certa medida, produziram reflexos de ordem estético/formal que

revestiram a produção local com características tais como discrição e

austeridade.

[...] a Arquitetura Moderna Brasileira no Sul constituiu-se em processos e atributos menos exuberantes formalmente, menos pretensiosos simbolicamente, de menor grandiloquência estrutural e mais modestos economicamente que seus parentes cariocas e paulistas [...] (MARQUES, 2012. p.33)

1 Arquiteto gaúcho Edgar Graeff (1921-1990) Ver: MARQUES, 2012. p. 27) e o arquiteto

alagoano e Alberto de Holanda Mendonça (1920-1956), Ver: (BUENO,2012. p.31)

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Nesse sentido, a arquitetura moderna produzida no estado soube

interpretar essas influências transformando-as em valores próprios, porém não

suficientemente capazes de consagrar uma ideia de escola irradiadora do

pensamento moderno regional, como ocorreu no Rio de Janeiro e

posteriormente em São Paulo.

Trazer o panorama do surgimento e desenvolvimento da arquitetura

moderna na região torna-se oportuno justamente para contextualizar e de certa

maneira problematizar a influência norte-americana na arquitetura porto-

alegrense que passa a se disseminar mais contundentemente no final da década

de 50.

2. INFLUÊNCIAS DA ARQUITETURA NORTE AMERICANA

Irradiada através dos arquitetos europeus que migraram para América

após a 2ª guerra – principalmente Richard Neutra, Mies Van der Rohe, Walter

Gropius e Marcel Breuer – e pelos arquitetos americanos da costa oeste, a

influência norte-americana começa a estabelecer relações reciprocas no Brasil

mais amplamente a partir de São Paulo. As bienais de São Paulo da década de

1950 constituíram um canal importante na divulgação de projetos de arquitetos

americanos por aqui. As obras dos arquitetos Craig Elwood e Ed Killingsworth

obtiveram premiação nas edições do evento de 1953 e 1961 respectivamente. O

paulista Oswaldo Arthur Bratke (1907-1997) foi um dos arquitetos que,

interessado nos aspectos construtivos da arquitetura, se aproxima de nomes

como Marcel Breuer e das experiências inovadoras da costa oeste norte-

americana. Bratke foi o primeiro latino americano a ter uma obra2 publicada na

Revista Arts & Architecture, seguido de Barragán, O’ Gorman, Oscar Niemeyer,

2 Residência-ateliê – Bratke, rua Avanhandava. Ver: SEGAWA, Hugo. DURADO, Guilherme

Mazza. Oswaldo Arthur Bratke. ProEditores, São Paulo, 1997

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Lucio Costa e Burle Marx. A publicação promoveu a realização do programa

Case Study Houses, idealizado pelo editor John Entenza e tinha como mote

principal a realização, em caráter experimental, de 36 projetos de moradias por

arquitetos convidados 3 , entre 1945 e 1964. Essa experiência acabou

influenciando a arquitetura moderna de forma global.

Manifestando-se paralelamente e, de certo modo discreta, a influência

americana era encarada com certa reticência pelos arquitetos locais. O

engajamento político dos arquitetos brasileiros que erguiam a bandeira de uma

arquitetura socialmente renovadora, fundada em valores éticos e sociais, seria

uma das possíveis razões para a reticência com relação à influência norte

americana sobre a arquitetura brasileira.

Em se tratando da arquitetura brasileira do pós-guerra jamais se pode esquecer o fato de que a maioria dos arquitetos de importância tinham forte compromisso político com movimentos de esquerda e desprezavam a cultura norte americana.4 (MAHFUZ, 2014, p.19)

Em Porto Alegre, a obra que surge como um “ponto de inflexão à

hegemonia Corbusiana” (LUCCAS, 2010) foi o Palácio Legislativo do Estado

(Figura 1), objeto de concurso público vencido pela equipe de Gregório Zolko

(1932) e Wolfgang Schöedon (1924). Segundo L.H. Lucaas, a proposta da

equipe paulista, vitoriosa neste concurso, “continha orientação

internacionalizada [...]”e “precipitaria a ruptura da unidade corbusiana

inquestionável que a arquitetura local mantinha” (LUCCAS, 2010).

3 Participaram do programa os arquitetos Richard Neutra, Charles e Ray Eames, Raphael

Soriano, Pierre Koenig, Craig Elwood e Ed Killingsworth, entre outros 20 Ver: (SMITH, 2002) 4 Al hablar de arquitectura brasileña de la posguerra no se puede jamás olvidar el hecho de que

la mayoría de los arquitectos de importancia tenían flerte compromiso político con movimientos de izquierda y despreciaban la cultura norte americana. (Tradução livre do Autor)

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Figura 1 Palácio Legislativo do Rio grande do Sul / 1958 – Gregório Zolko (1932) e Wolfgang Schöedon (1924).

Fonte: (XAVIER; MIZOGUCHI, 1987 p.146)

Em depoimento concedido aos arquitetos Flávio Kiefer e Viviane Vilas

Boas Maglia, o arquiteto Moacir Moojen Marques, em comentário acerca do

resultado do concurso de que participou em equipe com os arquitetos Marcos

David Hekman e Luís Carlos da Cunha, ilustra como essas mudanças eram

vistas pelos atores locais:

[...] nós estávamos presos a essa arquitetura mais durona, mais corbusiana, de paralelepípedos, paredes fechadas. Esse projeto que ganhou é bem miesiano. Nós nos sentimos traídos porque ganhou uma arquitetura que não era nossa. Houve muito debate porque nosso projeto tentava contextualizar o Palácio Legislativo e pousou uma borboleta Miesiana ali no centro cívico, que nós achávamos inadequada, não havia um ‘ibope’ assim tão grande do Mies. (KIEFER, MAGLIA, 2000. p.111)

3. A OBRA DE EDGAR DO VALLE: UM TEMA PROPOSTO

A virada da década de 50 para a década de 60 foi um momento de grande

vitalidade para arquitetura nacional com “a organização do Concurso Público

Nacional para o Plano Piloto de Brasília em 1957 e a deflagração da luta para

uma nova legislação profissional específica para os arquitetos em 1958, pelo

Instituto dos Arquitetos do Brasil” (PEREIRA, 1987. p.34-37). O contexto gaúcho

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igualmente vivia um período de otimismo com o lançamento da revista Espaço-

Arquitetura, em 1958, que se colocava como um instrumento de unificação do

meio profissional, e a campanha para a reforma do ensino, efetivada em 1962

pelos professores Demétrio Ribeiro e Edgar Graeff.

É nesse contexto que Edgar do Valle inicia sua carreira. Logo nos

primeiros anos funda, em sociedade com o colega Arquiteto Francisco Pedro

Bopp Simch, o escritório Valle e Simch Arquitetos, que por 12 anos desenvolvem

grande número de projetos de edifícios industriais à residências unifamiliares.

Edgar do Valle possui em seu currículo um montante expressivo de mais

de 600 projetos executados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e

Miami - USA. Grande parte dessa produção, edifícios comercias, residenciais e

casas, pode ser classificada como uma arquitetura de tecido e qualidade média.

No entanto o registro dessas obras em publicações e pesquisas é raro o que

torna este estudo especialmente relevante. Das publicações que relacionaram

projetos do arquiteto, constam apenas algumas breves descrições, o que acaba

tornando difícil uma interpretação mais precisa de seu trabalho. O livro

“Arquitetura moderna em Porto Alegre” A. Xavier e I. Mizoguchi incluem duas

obras de Edgar: o Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues de 1976

(Figura 2) e o Edifício Trinidad de 1977.

Figura 2 | Planta baixa Centro Municipal de Cultura / 1976 – Edgar do Valle.

Fonte: (XAVIER; MIZOGUCHI, 1987, p.305)

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Outra publicação que traz um projeto de Edgar é a Galeria Imcosul (Figura

3), é o artigo “Da rua corredor ao centro comercial: tipologias comerciais em

Porto Alegre dos anos 30 ao princípio dos 90” de Claudia Piantá Costa Cabral.

Aqui a autora faz um comparativo entre os edifícios das Lojas Renner (1976, Luiz

Braga), Imcosul (1976, Edgar do Valle, Jorge Ruhl) e Ferramentas Gerais (1975,

Castelar Peña, Júlio Collares).

Figura 3 | Ed. Imcosul / 1976 – Edgar do Valle & Jorge Ruhl.

Fonte: STREETVIEW. Disponível em: https://goo.gl/maps/YjmOC> Acesso em 05 mai de 2015, às 13h22 min

Outro aspecto importante é justamente o contexto em que Edgar inicia

sua carreira em 1959, um ano após o resultado do concurso do Palácio

Legislativo, tornando atraente situar sua participação nesse momento “novo” que

a arquitetura porto-alegrense atravessava, principalmente pelo fato de Edgar ter

realizado um curso de pós-graduação (1963-1965) no Illinois Institute of

Technology / Chicago-EUA, sob a orientação de Mies van der Rohe e ter atuado

no Escritório Chicago Civic Center Architects entre 1964/1965.

Nesse contexto, o trabalho proposto pretende estabelecer como objeto de

estudo principal, as obras destacadas do arquiteto por sua relevância e filiação

aos princípios teóricos e operativos experimentados fora do país. Busca-se tanto

descrevê-las como verificar nelas os valores que refletem o debate arquitetônico

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de sua formação, os procedimentos que embasam sua pratica projetual e

possíveis paralelismos com algumas posturas e visões compartilhadas nessa

experiência acadêmica e prática nos Estados Unidos e como ela se manifesta

em sua obra.

Aqui cabem alguns esclarecimentos quanto à delimitação física e

cronológica do trabalho. O recorte será definido na medida em que o conjunto

arquitetônico do arquiteto em estudo for acessado e, assim, reconhecido. No

momento nos atemos a definir como marco inicial os primeiros vinte anos da sua

atuação que, em tese, representam, desde o ponto de vista plástico-formal, o

auge de sua carreira. Portanto, o trabalho pretende abordar as obras realizadas

no Rio Grande do Sul entre 1959 a 1979, período manifesto e frutífero do

aprendizado e da prática de Edgar.

4. AS QUESTÕES

Tendo Edgar circulado em um meio de grande prestígio internacional e

em franca proximidade com o Mestre Mies van der Rohe e outros arquitetos de

renome, surge a necessidade de verificar se de fato comparecem em sua obra

afinidades com a arquitetura norte-americana do pós-guerra.

I. O contexto efervescente em que Edgar inicia sua carreira o teria

estimulado a continuar seus estudos no exterior?

II. De que madeira a experiência no exterior se relaciona com seu

aprendizado na faculdade de arquitetura da UFRGS?

III. A influência é assumida de forma direta e consciente?

IV. Existiu alguma preferência pessoal pela obra de um ou outro arquiteto

em especial?

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Ainda é necessário examinar como esses aspectos enfrentam a realidade

local do ponto de vista cultural, político e econômico, e também no que se refere

à tecnologia, mão de obra e oferta de materiais.

5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA INICIAL

Os principais referenciais teóricos que subsidiarão a dissertação tratam,

a priori, do panorama da arquitetura moderna em Porto Alegre e de seus

desdobramentos no período tratado.

Um título importante é o clássico “Arquitetura Moderna em Porto Alegre”

em que Alberto Xavier e Mizoguchi reúnem os exemplares mais representativos

da arquitetura moderna construídos em Porto Alegre. O livro é uma espécie de

guia que registra exatamente meio século, iniciando com a Exposição

Farroupilha de 1935 e ainda traz uma ampla introdução que trata da arquitetura

no Rio Grande do Sul desde o surgimento da capital como povoado, por volta de

1772 (MACEDO, 1987. p. 31-35), passando pela arquitetura do século XIX

(CURTIS, 1987. p. 16-22), a presença de arquitetos estrangeiros (WEIMWER,

1987. p. 23-25), o período de surgimento e desenvolvimento da arquitetura

moderna (RIBEIRO, 1987. p. 26-31), o processo de estruturação do ensino de

arquitetura (GRAEFF, 1987, p. 32-33), a arquiteta moderna em Porto Alegre na

década de 60 (PEREIRA, 1987. p. 34-37) e as décadas de 70 e 80 (MIZOGUCHI,

1987. p. 38-41). O volume relaciona 160 obras organizadas cronologicamente

de acordo com a data realização dos projetos. As obras são apresentas

brevemente referindo-se basicamente aos aspectos do contexto, programa e

sítio, acompanhados de material gráfico como plantas, geralmente, e cortes,

eventualmente.

O livro “Guia de Arquitetura Moderna em Porto Alegre”, de Guilherme

Essvein de Almeida, João Gallo de Almeida e Marcos Bueno, traz uma espécie

de itinerário de arquitetura moderna em Porto Alegre, complementando e

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atualizando, com um precioso registro fotográfico de Marcelo Donadussi, a

publicação anterior de XAVIER e MIZOGUCHI.

6. METODOLOGIA

Para o cumprimento dos objetivos da dissertação, propomos a definição

de uma metodologia de pesquisa que se estrutura em oito etapas:

I. Pesquisa bibliográfica: Levantamento de textos (periódicos, livros,

teses, dissertações, catálogos e artigos) correlatos ao tema da

dissertação.

II. Classificação: Levantamento, caracterização e seleção das obras no

período estudado;

III. Entrevista com o arquiteto: Momento oportuno para se fazer

indagações sobre sua biografia, percepções sobre o momento em que

antecede o seu ingresso na Faculdade, vivência no curso de

Arquitetura da UFRGS, temporada de estudos no exterior e as suas

rotinas de ofício.

IV. Pesquisa gráfica: Levantamento de informações e de peças gráficas

relativas aos projetos selecionados.

V. Pesquisa de campo: Visita às obras selecionadas do arquiteto e

registro fotográfico.

VI. Redesenho: Elaboração e redesenho de peças gráficas como

perspectiva axonométrica, plantas, cortes e elevações dos projetos

selecionados de modo a obter um material adequado, de mesma

escala e qualidade gráfica, com o objetivo de sistematizar nossas

análises.

VII. Analise gráfica: Segundo os principais paradigmas da arquitetura

moderna, analisar os projetos individualmente e em paralelo às

referências internacionais importantes para a sua formação teórica e

técnica. Para tal se fará um exame minucioso dos redesenhos

impressos através de intervenções, esquemas e diagramas,

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verificando principalmente as características das linguagens

arquitetônicas utilizadas.

VIII. Reflexões: Síntese das análises e conclusões.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Colocados esses aspectos historiográficos da arquitetura moderna em

Porto Alegre, seu desenvolvimento e influencias, feito esse panorama inicial da

participação de Edgar nesse contexto bem como a identificação da escassez de

material publicado sobre sua produção, conclui-se que a análise deste conjunto

de projetos contribui para um maior entendimento e compreensão dos

desdobramentos da arquitetura moderna em Porto Alegre desde o ponto de vista

de suas influências. Além disso, oferecer material referencial para o estudo das

arquiteturas de qualidade média que constituem tecido nas cidades e dirigir

conteúdo consistente para o ensino e a prática para a futuras gerações.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Guilherme Essvein de; ALMEIDA, João Gallo de; BUENO, Marcos. Guia Arquitetura Moderna em Porto Alegre. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.

BUENO, Flávio Teitelroit. A obra do arquiteto Carlos Alberto Holanda de Mendonça. 2012. 404 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.

CABRAL, Claudia Piantá Costa. Da rua corredor ao centro comercial: tipologias comerciais em Porto Alegre dos anos 30 ao princípio dos 90. Arqtexto. Porto Alegre. N.0 (2000), p.31-43.

KIEFER, Flávio; MAGLIA, Viviane Villas Boas. Refinaria Alberto Pasqualini – entrevista com os autores. In: PEIXOTO, Marta; LIMA, Raquel Rodrigues. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis: textos selecionados, Porto Alegre, 2000, n. 2.

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LUCCAS, Luís Henrique Haas. A escola carioca e a arquitetura moderna em Porto Alegre. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 073.04, Vitruvius, jun. 2006 Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.073/346>. Acesso em 19 mai. 2015, às 8h05min.

LUCCAS, Luís Henrique Haas. O Sul por testemunha: declínio da hegemonia corbusiano-carioca e ascensão da dissidência paulista na arquitetura brasileira anos 50. Pós. Ver: Programa Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – FAUUSP. n. 27, São Paulo, jun. 2010. Disponível em:<http://www.revistas.usp.br/posfau/article/download/43680/47302>. Acesso em 18 mai. 2015, às 11h05min.

MAHFUZ, Edson da Cunha. Estructura portante y estructura formal. DPA30 ARQUITECTURA PAULISTA. 2014. Dep. Proyectos-UPC.

MARQUES, Sérgio Moacir. Fayet, Araújo & Moojen: Arquitetura Moderna Brasileira no Sul - 1950 / 1970. 2012. 746 f. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.

PEREIRA, Miguel. Arquitetura moderna em Porto Alegre – os anos 60. In: XAVIER, A.; MIZOGUCHI, I. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. Pini, São Paulo, 1987.

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