Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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4 de dezembro de 2012 ano XXii n.º 254 QUinzenal GratUito diretora ana dUarte • editor-eXeCUtiva ana morais a cabra Jornal Universitário de Coimbra FUtEBol amEricano Em coimBra o hardcorE voltoU? EntrEvista: João sEmEdo EstUdantEs qUErEm mais aUtocarros micro-conto Pág. 21 ANA DUARTE Pág.10 Pág.9 Pág. 16 Pág.15 Conselho Geral da UC Eleições são já a 6 de dezembro Pág. 2 a 5 A astronomia remete-nos para a compreensão do universo, procu- rando dar resposta às origens do nosso planeta. A forma como a Lua e o Sol interagem com a Terra tem um efeito conhecido ao nível das águas do mar, na amplitude das marés. Contudo, ainda há muito por desvendar nesta ciência, mesmo com toda a evolução tecno- lógica: de olhos postos nos céus. astronomia Universo: o último limite do ser humano Pág. 11 Os Estados-membro procuram um acordo que solucione os problemas da comunidade, perante o clima de crise económica. A União Europeia canaliza grande parte do seu Orça- mento para politicas de coesão que não têm sido suficientes para redu- zir o fosso entre os vários países, o que favorece lógicas de competição, de concorrência e não de conver- gência. União EUroPEia Políticas de coesão não diminuem fosso Pág.17 Depois de na semana passada ter sido reeleito para a Direção-geral da Associação Académica de Coim- bra, Ricardo Morgado aborda em entrevista o facto dos votos em branco terem sido a segunda força política na oposição e o facto de esta ter sido uma campanha mais fraca. ricardo morgado Votos brancos em análise Pág. 4 Mais informação em acabra. net @ Pág. 7 Ex-estudantes recebem ordem de execução fiscal Alunos que boicotaram a propina na década de 1990 são agora intimados a pagar o que devem

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Edição nº 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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4 de dezembro de 2012 • ano XXii • n.º 254 • QUinzenal GratUitodiretora ana dUarte • editor-eXeCUtiva ana morais

acabraJornal Universitário de Coimbra

FUtEBol amEricano

Em coimBra

o hardcorE

voltoU?

EntrEvista:

João sEmEdo

EstUdantEs qUErEm

mais aUtocarros

micro-conto

Pág. 21

ANA DUARTE

Pág.10

Pág.9

Pág. 16

Pág.15

Conselho Geral da UCEleições são já a 6 de dezembro

Pág. 2 a 5

A astronomia remete-nos para a

compreensão do universo, procu-

rando dar resposta às origens do

nosso planeta. A forma como a Lua

e o Sol interagem com a Terra tem

um efeito conhecido ao nível das

águas do mar, na amplitude das

marés. Contudo, ainda há muito

por desvendar nesta ciência,

mesmo com toda a evolução tecno-

lógica: de olhos postos nos céus.

astronomia

Universo: o último limite do ser humano

Pág. 11

Os Estados-membro procuram um

acordo que solucione os problemas

da comunidade, perante o clima de

crise económica. A União Europeia

canaliza grande parte do seu Orça-

mento para politicas de coesão que

não têm sido suficientes para redu-

zir o fosso entre os vários países, o

que favorece lógicas de competição,

de concorrência e não de conver-

gência.

União EUroPEia

Políticas de coesãonão diminuem fosso

Pág.17

Depois de na semana passada ter

sido reeleito para a Direção-geral

da Associação Académica de Coim-

bra, Ricardo Morgado aborda em

entrevista o facto dos votos em

branco terem sido a segunda força

política na oposição e o facto de esta

ter sido uma campanha mais fraca.

ricardo morgado

Votos brancos em análise

Pág. 4

Mais informação em

acabra.net@

Pág. 7

Ex-estudantes recebemordem de execução fiscal

Alunos que boicotaram a propina nadécada de 1990 são agora intimados

a pagar o que devem

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destAque

candidatos primeiro e segundo ciclo

A frequentar a licencia-tura em Direito, CatarinaÂngelo recandidata-se aoConselho Geral (CG). Nas-cida em Coimbra, mascriada no Alentejo, a estu-dante filiada na JuventudeComunista Portuguesamostra-se contra a exis-tência da propina e ele-mentos externos

O que motivou a tua recandi-datura ao CG?O meu nome surgiu porque temosum movimento bastante novoneste momento, e eu era a únicapessoa que conhecia a universi-dade no seu total e já tinha sidocandidata. Era mais fácil ser umapessoa que já estivesse envolvida.

Quais são as principais ban-deiras que o projeto defende?A defesa do interesse dos estudan-tes e pretendemos, em especial,levar a voz dos estudantes aos pro-fessores e ao reitor. Vamos defen-der, no CG, a grande discussão afavor da abolição das propinas.Temos de ter mais transparênciadaquilo que é decidido no CG,tendo em conta os limites estatu-tários, pois há sigilo. Queremos

levar problemas concretos dos es-tudantes ao CG.

O CG conta com a representa-ção de 10 elementos externos.É um número equilibrado?Acho que não. Não consigo com-preender a necessidade de entida-des externas, em especialrepresentantes da ZON e daSONAE, e como é que essas enti-dades externas têm uma palavra adizer no CG que supostamente éde estudantes e professores. Os es-tudantes deviam ter uma propor-cionalidade igual a todos os outrosmembros, porque cinco não é umavoz ativa.

Qual é a solução que pro-pões?Aumentar o número de alunos,mudarem-se os regulamentos.Uma alteração nos regulamentossignifica aumentar a nossa pro-porcionalidade.

Quantos?Dez ou mais. São 18 professores,punha 18 estudantes. Queremosuma proporcionalidade igual.

Faz sentido que os estudantesno CG votem em bloco paraterem mais força?Conforme o motivo. Mas se acausa for mesmo a defesa e o me-

lhoramento para a vida do estu-dante, claro que sim. Temos denos unir todos e defender os estu-dantes.

Também em 2010 afirmasteque “pouca coisa sai parafora do CG”. Se fores eleita,como pretendes contrariarisso?Existem várias possibilidades quenão são usadas para falar sobreisto, pelo menos com a frequêncianecessária. Chamam-se comissõesde curso, Reuniões Gerais de Alu-nos, plenários. Não são os cincorepresentantes que sabem tudo,têm de ouvir os seus representa-dos.

O que é para ti um valor justode propina?Um valor justo é zero.

Mas tendo em conta a con-juntura não seria mais exe-quível a redução gradual?Nunca podemos pedir a reduçãoquando o nosso direito é o zero. Émais fácil, mas não quero facili-dade, quero o meu direito por in-teiro. A redução seja ela qual for,pode significar um muro para aentrada ou para a continuação dequalquer estudante no Ensino Su-perior (ES). Não pensamos na re-dução por ser mais fácil, mas na

abolição porque é um direito.

O Processo de Bolonha e oRegime Jurídico das Institui-ções do ES são sistemas quejá estão implementados háalgum tempo. Ainda faz sen-tido contestar estes sistemas?Enquanto isso causar problemas aestudantes faz sempre sentido. OProcesso de Bolonha só trouxeuma mera reorganização de ciclos,em que nos obriga a pagar mais. Eenquanto isso me afetar a mim eaos outros colegas, faz sentidolutar contra esses regulamentos.

Qual é o balanço que fazes domandato do reitor até ao mo-mento?A questão é que sobreviveu, tendoem conta o clima económico emque estamos. A UC continua a fun-cionar, fecharam alguns cursos,mas a culpa não é do reitor, é dafalta de financiamento. Portanto,o mandato foi bom, não possodizer que foi mau, porque conti-nuamos a sobreviver. Mas a ques-tão é que tem de haver umaposição mais forte. A verdade éque o reitor é um mero funcioná-rio público que está a sobrevivercom tostões e tem de tentar meteresses tostões em tudo. O mandatofoi bom, tem é de ser mais proa-tivo.

“Temos de nos unir e defender os estudantes”Ana Duarte

Ana Morais

“A Alternativa És Tu!”

Catarina Ângelo

ListaA

Novo Conselho Geral eleito esta semanaNa quinta-feira, 6, a comunidade universitária elege os seus representantesno CG. A abstenção de hádois anos é apontadapor todos como algoa inverter

Dois anos depois, os estudantesvoltam às urnas para elegerem ospróximos representantes no Conse-lho Geral (CG) da Universidade deCoimbra (UC). Também este anosão as eleições para os representan-tes dos professores e investigadorese dos trabalhadores não docentes enão investigadores. Depois de, em2007, o Regime Jurídico das Insti-tuições do Ensino Superior (RJIES)ter imposto às universidades a cria-ção deste órgão deliberativo queviria a substituir o Senado Univer-sitário, o CG ainda é um órgão quesoa estranho a alguns estudantes daUC. As grandes alterações provoca-das pelo RJIES neste órgão de ges-tão prendem-se com a falta derepresentatividade estudantil e a in-tegração de elementos externos à

universidade.A dois dias das eleições, os cabe-

ças de cada lista apelam ao voto,para evitar os cerca de 70 por centode abstenção, verificados há doisanos atrás. Afirmam que este órgãoainda passa ao lado de muita gentee que a ligação à comunidade aca-démica é urgente.

Comparativamente ao ano pas-sado, o número de listas para o pri-meiro e segundo ciclos baixou. Sãoelas: lista A – “A Alternativa ÉsTu!”, de novo com Catarina Ângelo,lista C – “UC Contigo”, com a re-candidatura de Luís Rodrigues elista T – “Pelo Teu Futuro”, com o

estreante José Dias. Pelo contrário,na situação do terceiro ciclo, hámais uma lista. Ana Pina Rodriguesassegura a continuidade da lista D– “Dá-te Voz!” e Nelson Coelho en-cabeça a lista N – “Nós Fazemos aUC”. A eleição é feita através do Mé-todo de Hondt, em que os lugaressão distribuídos proporcionalmentepor cada lista, consoante os votosobtidos.

O presidente da Comissão Eleito-ral (CE), António dos Santos Justo,destaca a quantidade de listas nosvários corpos de eleitores: “creioque a universidade está de para-béns, tem motivos para se regozijar

com este ato eleitoral”. O tambémprofessor da Faculdade de Direitoda UC não fica indiferente à absten-ção verificada há dois anos atrás, eafirma que “a CE está empenhadaem fazer os desdobramentos paraque o maior número de eleitorespossa votar”.

A orgânica do CGO CG é composto por 35 membros,sendo dez deles elementos externos,18 professores, dois funcionários ecinco estudantes. Atualmente, opresidente deste órgão é AntónioAlmeida Santos, que substituiuArtur Santos Silva desde maio. San-

tos Silva, também presidente doConselho de Administração do BPIexplica que “pelas regras, é o mem-bro externo do CG mais antigo quesubstitui o presidente eleito” .Naseleições para professores e funcio-nários, existem três listas – algumasdelas também projetos de continui-dade [ver página 5]. Este órgãoreúne quatro vezes por ano, ordina-riamente, e sempre que for pedidopelo reitor da UC ou um terço dosseus membros.

Fazem parte das competências doCG a eleição e destituição, caso sejustifique, do reitor, bem como aapreciação da sua atuação; a fixaçãoda propina; a aprovação do plano deatividade orçamental; a nomeaçãodo Provedor do Estudante; a apro-vação das alterações aos Estatutosda UC, entre outras.

Relativamente aos elementos ex-ternos - um tópico que ainda não éconsensual -, estes são personalida-des de reconhecido mérito. Atual-mente, nove dos dez membros sãoex-estudantes da UC. Os candidatosestudantes, apesar de consideraremque é uma forma de fazer ponteentre a UC e a sociedade, denotamum desequilíbrio entre o númerodestes elementos face à representa-tividade estudantil.

Ana Duarte

Ana Morais

ana Duarte

joão gaspar

Entrevistas na íntegra em

cabra net@

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destAque

O mais novo dos candida-tos ao CG pelo primeiro esegundo ciclos, José Dias,tem 20 anos e é natural deCoimbra. Filiado na Ju-ventude Socialista, o estu-dante frequenta oMestrado em Biologia Mo-lecular e Celular. A ligaçãodo CG aos estudantes é aaposta da lista T, sobre-tudo através do uso do Pe-louro da Ligação aosÓrgãos da Direção-geralda AAC

O que é que motivou a tuacandidatura?Pretendemos encontrar os proble-mas, enfrentá-los e, numa pri-meira instância, estudar muitobem os ‘dossiers’ e depois procu-rar soluções, que passassem pelosdiversos órgãos onde os estudan-tes estão representados.

Quais são as bandeiras daLista T?Temos três campos que vamosquerer abordar, que serão as nos-sas três linhas de ação. A primeiraé o elo de ligação entre os estu-dantes e o Conselho Geral (CG). Asegunda é o melhoramento da

Universidade de Coimbra (UC) avários níveis. E a terceira, a ques-tão mais sensível, é o orçamentoda universidade.

Os estudantes do CG devamter uma postura mais ativano que toca ao diálogo com aAAC, com o Pelouro de Liga-ção aos Órgãos?Na nossa linha de ação temos trêsobjetivos claros. O primeiro delespassa por um esclarecimento aosestudantes daquilo que é o órgão.Pretendemos ter o auxílio dos nú-cleos de estudantes e da Direção-geral da Associação Académica deCoimbra (DG/AAC). Num se-gundo momento, gostaríamos deter um gabinete, talvez com o Pro-vedor dos Estudantes. E o terceiroobjetivo passa por isso, pela liga-ção a todos os órgãos onde os es-tudantes estão representados.

O CG conta com dez elemen-tos externos. É um númeroequilibrado?No seu todo o CG tem trinta ecinco elementos, em que apenascinco deles são estudantes. Eu nãoconcordo. Não concordamos quea representatividade seja tãobaixa. Os estudantes têm um pesomuito superior, deve haver umamaior paridade entre os estudan-tes e os docentes. As entidades ex-

ternas trazem uma outra visão. Noentanto, há um desequilíbrio.

Que solução propões paraatingir esse equilíbrio?Passaria por uma concertaçãoentre os cinco elementos dos es-tudantes, só assim teremos umpeso maior, só com os estudantestodos unidos é que conseguiremoscriar uma mudança. Num se-gundo momento, podemos tentaraumentar o número de estudantesneste órgão.

Foi aprovado o plano estraté-gico da UC. Num ano em queos cortes são mais acentua-dos achas que este planoainda á exequível?Todos os objetivos do plano terãoà partida de ser exequíveis. Nãopodem continuar a haver essescortes, tem de se continuar aapostar na educação - só com aeducação Portugal se conseguedesenvolver cada vez mais, e,como tal, a própria UC tem queinovar. Se o Governo continuar acortar dessa forma podem havermaiores dificuldades na competi-ção internacional. Poderá haveroutra solução que é tentar a buscade mais financiamento exterior.

Consideras que a qualidadedo ensino vai se manterá,

tendo em conta a atual con-juntura financeira?Nessa nossa linha de ação temostrês objetivos específicos. O pri-meiro é a análise correta do orça-mento, uma melhor canalizaçãode verbas. Segundo, uma gestãode infrastruturas que poderá pas-sar pela Reestruturação de Sabe-res. E o terceiro é relativo àspropinas. Recusamos instransi-gentemente uma nova subida daspropinas.

O que é para ti um valor justode propina?O valor justo na opinião da ListaT é zero. Não deverão haver pro-pinas, o Estado deve apostar naeducação, no desenvolvimentodos seus jovens, pois só assim éque os seus jovens desenvolverãoo país.

Qual é o balanço que fazes domandato do reitor até ao mo-mento?O reitor tem conseguido uma liga-ção entre estudantes. Na altura docorte que o Governo ia implemen-tar, conseguiu realmente agregartoda a gente em seu torno. Consi-dero que o seu mandato tem sidobastante bom, tem vindo ao en-contro das espetativas dos estu-dantes, um elo de ligação que hámuitos anos não se via.

“Recusamos uma nova subida das propinas”

“Pelo Teu Futuro”

Ana Duarte

Ana Morais

José Dias

ListaT

candidatos primeiro e segundo ciclo

Com assento no ConselhoGeral (CG) desde que os es-tudantes têm representati-vidade, Luís Rodriguesrecandidata-se novamente.Com 25 anos, frequentaatualmente a licenciaturaem Direito e é natural dePorto de Mós. Com filiaçãopartidária, faz questão dereforçar que a lista é apar-tidária. Apesar de defendera votação em bloco porparte dos estudantes conse-lheiros, confessa que a elei-ção do reitor foi fraturantepara esta concertação

Com quantas pessoas contasno teu projeto?O projeto assenta num grupo deoito pessoas. É um grupo de traba-lho e contamos com o apoio de mui-tos estudantes da universidade. Éum grupo representativo da Uni-versidade de Coimbra (UC).

Quais são as bandeiras do teuprojeto?Uma supervisão muito ativa, infor-mada e consequente do reitor e doConselho de Gestão. O âmbito depropor iniciativas ao bom funciona-mento da UC. A empregabilidade

dos estudantes: a UC tem de usartoda a sua influência, todo o seupoder no âmbito nacional e inter-nacional. A reestruturação dos ser-viços académicos. Entendemos quea administração e os serviços aca-démicos não podem ser um obstá-culo.

O que te levou a recandidatar?Porque acredito que a lista, notempo de mandato, conseguirá con-cretizar na plenitude os desígniosque agora se apresentam. Tenho adisponibilidade pessoal para me de-dicar exclusivamente ao CG. O co-nhecimento e a experiência que fuiacumulando são mais-valias.

Visto que é uma recandida-tura, que trabalho é que ficoupor fazer?Não conseguimos exponenciar maisos resultados porque a eleição doreitor foi fraturante. Votei numlado, eles votaram no outro e desdeaí foi muito fraturante em termosde equipa. Neste CG tentámos estarjuntos. Tive dificuldade em perce-ber os problemas que estavam aacontecer, é preciso instrumentosde informação sobre os problemasreais dos estudantes.

Fazes parte da comissão quede Reestruturação dos Saberes(RS). Referiste que “há uma

fraca vontade de discutir os ce-nários”. Caso sejas reeleito,como é que vais continuar a in-sistir na questão?Neste momento está a ser apreciadaa viabilidade das conclusões do re-latório. O relatório está concluído,já foi entregue há meses e nestemomento está em sede de reitoria.O que foi decidido em CG foi apos-tar no campo das artes. Mas, não hávontade política por parte dos agen-tes da UC para alterarem substan-cialmente a universidade queconhecemos enquanto orgânica.

No ano passado foi aprovado oPlano Estratégico da UC. Na al-tura classificaste-o como “odocumento possível face aoscortes orçamentais”. Num anoem que esses cortes são maisacentuados, este Plano ainda éexequível?O Plano Estratégico foi bem conce-bido e bem discutido, houve umaenvolvência de toda a academia.Aqueles são os nossos objetivos e épara eles que vamos trabalhar. Épara aqueles e não para outros, vaiser feito um grande esforço paraconcretizar aqueles elementos.

O que é para ti um valor justode propina?Um valor que, no mínimo, garantaque nenhum estudante está ex-

cluído do ES.

Que valor é esse?Os mil euros que são pagos é umvalor muito elevado, porque nãojustifica. Nunca aprovei o valor dapropina das licenciaturas e dosmestrados integrados. Essa delibe-ração tem a data de 2004. Nuncaaprovámos, nunca votei se a pro-pina era mil euros ou não.

Quanto ao Regime de Prescri-ções, como é que pensas abor-dar essa questão em CG?Esse problema está a ser resolvido.Estive envolvido na elaboraçãodeste atual regulamento de prescri-ções. Quando soube disto, fui dire-tamente ao reitor. Propus-lhe queeste regime de transição passassepara dois anos e estou convencidoque ele vai alterar isso. Acredito queo problema esteja resolvido naspróximas semanas.

Qual é o balanço que fazes domandato do reitor até ao mo-mento?É globalmente positivo, tendo emconta as circunstâncias muito difí-ceis de governação. Ele não tem tra-balhado sozinho, tem tido o Senadoe o CG, e tem sido um dirigente quetem procurado as melhores solu-ções, ouvindo as pessoas. Este rei-tor não é teimoso.

“A eleição do reitor foi fraturante”Ana Duarte

Ana Morais

“UC Contigo”

Luís Rodrigues

ListaC

rafaela carvalho

stephanie sayuri paixão

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destAque4 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | terça-feira

Com 24 anos, Nelson Coe-lho candidata-se pela pri-meira vez ao ConselhoGeral, inspirado na expe-riência como membro deuma secção da AssociaçãoAcadémica de Coimbra.Nascido em Paris, não temfiliação partidária e encon-tra-se no doutoramentoem Política Internacional eResolução de Conflitos. Alista que encabeça pedemais reconhecimento aotrabalho desenvolvidopelos doutorandos e me-lhores condições de inves-tigação

O que motivou esta candida-tura?Foi uma experiência que tive en-quanto seccionista na Rádio Uni-versidade de Coimbra (RUC), ondetive a oportunidade de entrevistarinvestigadores da universidade.Perguntava o que é que achavamque a universidade podia fazermais e comecei a ver que muitosdoutorandos tinham bastantesideias e os doutoramentos podiamser algo mais.

Quais as principais bandeiras

que a lista defende?Envolver a comunidade académicana solução dos problemas. Os dou-torandos são pessoas com uma ca-pacidade crítica e analíticaextraordinária. Mostrar o potencialcriador da UC, o que é que os dou-torandos andam a fazer, mostrar oseu valor em termos comerciais. Aquestão dos recursos e dos espaços:muitos doutorandos, principal-mente os das áreas das ciências hu-manas e sociais, queixam-se quenão têm um local de trabalho. For-necer ao doutorando mais autono-mia na definição do seu percursodesde o primeiro ano. Acreditonuma ferramenta que já existe,mas que está muito insipiente, queé a dos três I’s: o Instituto de In-vestigação Interdisciplinar. Podesurgir como uma congregação desaberes. Parece-me imprescindívelque um doutorando, que o queira,tenha o direito de ter experiênciade ensino. Existe demasiada buro-cracia e entraves na aquisição derecursos materiais que um douto-rando precisa para investigar.

O CG conta com a representa-ção de 10 elementos externos.Achas que é um número equi-librado?Em 35 membros, cinco estudantese 10 elementos externos faz sentidodependendo de quem são os mem-

bros externos e quem são os estu-dantes.

Faz sentido os estudantes es-tarem em permanente diálogoe votarem em bloco?Os estudantes têm de reunir-se eapresentar as suas ideias uns aosoutros. Obviamente tem que exis-tir a estratégia de tentar chegar aum consenso. Mais do que repre-sentar estudantes, estamos a deci-dir para que rumo é que auniversidade deve ir. A prioridadeé o diálogo.

Houve um relatório sobre aReestruturação dos Saberes(RS) que “ficou na gaveta”.Caso sejas eleito, qual é quevai ser a tua posição?Tive a oportunidade de acompa-nhar esse dossiê. Há demasiadasgavetas na UC que precisam de serabertas. Acredito que a RS tenhasido um projeto muito ambicioso.Acho que se confundiu a questão:reestruturar os saberes não é rees-truturar os espaços.

Este ano as eleições serão auma quinta-feira. Isso nãopode prejudicar os alunos doterceiro ciclo?Prejudica porque muitos douto-randos vêm cá à sexta-feira ter osseus seminários e depois vão em-

bora. Outra coisa que prejudicabastante é a questão dos cadernoseleitorais. Imensos doutorandosnão estão nos cadernos eleitorais.Se tivermos uma pessoa que estáno laboratório a trabalhar e nãopode votar porque não se matricu-lou a tempo, acho que a adminis-tração tem de ir ver a situação.

O que é para ti um valor justode propina?A minha preocupação nesta candi-datura é muito concreta: a formade pagamento da propina no anoda entrega da tese. É exequívelpensar numa forma de pagamentode duodécimos da propina no anoda entrega. Porque não a UC cobrarna medida do tempo que o douto-rando demorar?

Que balanço fazes do mandatodo reitor até ao momento?Quando surgiu este reitor tive umbocadinho a ideia de que era oObama da UC, vai mudar o para-digma. Vi neste reitor a capacidadede redesenhar a UC e de a projetar.Confesso que vejo que o reitor ficouum pouco de pernas cortadas noexercício da sua função e com-preendo porquê. O reitor tentoupromover a mudança na UC, fa-lhou algumas apostas. Aprendeu acomunicar com os estudantes, fá-lo com algum arrojo e humildade.

“Há gavetas na UC que precisam de ser abertas”

“Nós Fazemos a UC”

Ana Duarte

Ana Morais

Nelson Coelho

ListaN

candidatos terceiro ciclo

Natural de Viseu, AnaPina Rodrigues encontra-se no terceiro ano do pro-grama doutoral deCiências da Saúde da Fa-culdade de Medicina daUniversidade de Coimbra(UC). Filiada no PartidoComunista Português,candidata-se num projetode continuidade. As espe-cificidades do seu ciclo deestudos e a resulução dosmesmos parecem ser asua motivação nesta can-didatura.

O que motivou esta candida-tura?Este é um projeto que teve iníciohá dois anos. A lista reforçou-sedesde essa altura até agora, e,portanto, estamos hoje com me-lhores condições de ter capaci-dade de intervir e também deconhecer os problemas de cadaestudante em cada curso, porqueno terceiro ciclo há situaçõesmuito díspares.

Quais são as principais ban-deiras que o projeto de-fende?O reconhecimento do trabalho

dos alunos do terceiro ciclo, quenão são apenas estudantes, sãotambém pessoas que produzemtrabalho científico e que é valiosopara a UC. Fomentar a maior par-ticipação dos estudantes do ter-ceiro ciclo no governo dauniversidade. Fomentar a diver-sidade dos programas doutorais,ou a possibilidade de poder obterECTS’s em várias faculdades semacarretar custos adicionais. Tam-bém o acompanhamento dasteses de doutoramento. Sobre aação social, temos assistido a umadegradação dos serviços presta-dos pelos Serviços de Ação Socialda UC. Sabemos que tudo tem aver com os cortes orçamentais,mas achamos que o ConselhoGeral (CG) também pode tomaruma posição sobre isso.

Realizaram vários encontroscom investigadores e douto-randos, para apurar os pro-blemas e necessidades queestes têm. Como pensamparticipar na resolução dosmesmos?A marcação de data de entrega deteses, que é feita de uma formacega, sem atender à especifici-dade de cada caso. Desde nãohaver material, de a universidadenão conseguir comprar materialnecessário para os projetos, ou

para experiências, que têm umprazo limite. Achamos que pode-mos ajudar a resolver estes pro-blemas, levando-os ao CG.

O CG conta com a represen-tação de 10 elementos exter-nos. Achas que o número deestudantes e elementos ex-ternos é equilibrado?Não achamos. Essa é uma dasnossas questões, a alteração quefoi feita com este Regime Jurídicodas Instituições do Ensino Supe-rior (RJIES) em relação à gestãoda universidade. Tornou-se umagestão muito menos democráticaem que, de facto, a participaçãodas diversas ‘sub-comunidades’da comunidade universitária sãosub-representadas. Achamos queem relação aos membros externospodia ser criado um conselhoconsultivo, onde eles seriam ou-vidos e onde poderiam dar opi-nião. Não nos parece de tododemocrático que quase um terçode um dos maiores órgãos de ges-tão da universidade seja com-posto por pessoas de fora dacomunidade universitária.

Consideras que faz sentidoque os estudantes no CGvotem em bloco para teremmais força?Sempre que possível, sim. Mas

também imagino que haja situa-ções em que não seja possívelatingir unanimidade e aí cada umvotará consoante aquilo que de-fende.O facto de as eleições serema uma quinta vai prejudicara afluência às urnas dos dou-torandos?Na reunião em que isso foi deba-tido fomos contra, batemo-nospor eleições a uma sexta-feira,visto que uma grande parte dosestudantes do terceiro ciclo temaulas à sexta e ao sábado e é nessaaltura que estão na universidade.Estamos a tentar colmatar issocom um maior envolvimento daspessoas.

O que é para a lista D umvalor justo de propina?Em termos de justeza, seria os es-tudantes de doutoramento nãopagarem propinas.

Qual é o balanço que fazes domandato do reitor até ao mo-mento?O que importa realçar é que este éo primeiro reitor que não é eleitopor um número significativo deelementos da comunidade uni-versitária. Achamos que a comu-nidade universitária tem de sermais envolvida, tem que ter maispapel na eleição do reitor.

“No terceiro ciclo há situações muito díspares”Ana Duarte

Ana Morais

“Dá-te Voz!”

Ana Pina Rodrigues

ListaD

Daniel alves Da silva

Daniel alves Da silva

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destAque

quatro anos depois, os docentes e os funcionários da universidade de Coimbra (uC) apresentam listascandidatas ao Conselho Geral (CG). Os vários projetos estão em sintonia quando se fala das melhorias de

condições da instituição, que serão dificultadas pelos tempos adversos. Por Ana duarte e Ana Morais

Professores e funcionários vão a votospara lugar no Conselho Geral

LISTA A •

Com a motivação de alterar algo que durante quatro anosnão foi o desejado, Luz do Céu Esteves, funcionária dosServiços de Gestão Financeira da Universidade de Coimbra(UC), encabeça a lista A para o CG. “A necessidade de al-terar o facto de a representação não ter sido a que desejá-vamos” é o objetivo, explica a candidata.

Com o lema “A©tuar”, a lista A acredita na força do “cap-ital humano”, ao caracterizá-lo como “a peça principal e maisvaliosa”. Segundo Luz do Céu Esteves, “o sucesso da UC sóé possível com o empenhamento e envolvimento de todosos trabalhadores”.

Relativamente ao órgão a que se candidata, a cabeça dalista A denota a pouca transparência do CG, ao referir que“nem sempre deixa transparecer a sua linha de atuação e assuas ideias”. Ainda assim, Luz do Céu Esteves mostra que“embora as deliberações sejam divulgadas, porque têmefeitos a nível externo do órgão”, isso não é suficiente. “Hámuita opacidade e pretendemos que haja transparência emtodos os momentos relativos a todos os trabalhadores”,vinca a funcionária dos Serviços de Gestão Financeira da UC.

Quanto às opções de campanha, a lista A optou por “nãohaver desperdícios em termos de papel”, apostando na pri-mazia do contacto pessoal e “privilegiando sempre o meioinformático”. A ideia que deixam é a de “atuar no passado eatuar no futuro”.

LISTA I •

Funcionário dos Serviços de Gestão Financeira da UC,Sérgio vicente é o número um da lista I, lista recandidata aoCG. Com o ‘slogan’ “Investir”, esta lista pretende reforçar arepresentatividade dos funcionários neste órgão: “temosconsciência de ter representado bem os trabalhadores nãodocentes e que fizemos um trabalho relevante. Queremoscontinuar a fazê-lo”.

As sete estratégias de atuação da lista I vão desde a val-orização do mérito das pessoas que constituem a UC e daelevada qualidade na participação dos funcionários no CG,visto que “um órgão de governo e uma instituição só fun-ciona se governar para as pessoas”.

Projetar a UC dando a conhecer e rentabilizando o quetem de bom e promover a ligação com a cidade, tendo umarelação mais próxima com a sociedade também são aspetosfrisados por Sérgio vicente com linhas de atuação.

Sobre a representação dos elementos externos, a lista Inão advoga a sua redução, pois considera que têm uma“contribuição muito importante para o desenvolvimentodos trabalhos” e podem ajudar a “ir mais além como uni-versidade”.

Sérgio vicente vinca ainda a posição da lista face àspropinas: “têm um efeito perverso de deixar de fora do En-sino Superior um número significativo de estudantes”. Sãoa favor de propinas reduzidas ao mínimo.

LISTA P •

A lista P, liderada por António Queirós, apresenta acandidatura ao CG porque não se sentiram representadosnos últimos anos. “O que queríamos era uma pluralidadeque não há”, atesta o Técnico Superior dos Serviços deGestão do Edificado, Segurança, Ambiente e Segurança eSaúde no Trabalho da UC.

batem-se, em primeiro lugar, por “uma universidadeque valorize o seu património”, que na opinião deQueirós e da lista, “são as pessoas”. O cabeça de lista fazquestão de frisar que a designação atribuída à lista defuncionários não é correta: “é uma designação que de fu-turo tentaremos mudar, agora temos de nos resignar”.Assim, pretendem fazer “entender que este grupo profis-sional com designação pouco prestigiante e sem sentidorepresenta mais de metade dos trabalhadores e quemuitos desempenham funções altamente diferenciadas eprestigiadas”, explana o também licenciado em Medicina.

A lista P pretende que a UC aumente a possibilidadeformativa para os funcionários. António Queirós alertapara o ensino à distância como forma de solucionar a pro-posta: “ é uma ferramenta que esta a ser desenvolvida naUC e que poderá servir este propósito”.

Sobre a representatividade no CG, o Técnico Superiorafirma que “a longo prazo, gostaríamos de atingir a pari-dade”.

LISTA A •

Encabeçada pelo professor da Faculdade de direito daUC (FdUC), José de Faria Costa, a Lista A mostra a con-tinuidade do trabalho desenvolvido ao longo do primeiromandato do CG. Segundo Faria Costa, esta lista “faz ecode um pensamento que é essencial à UC”. Com um pro-grama assente em seis pilares, que se podem encontrarnum “horizonte em que se movem todas as ideias”, a ideiada Lista A é “a autonomia do CG”, vista e consagrada peloquadro normativo como “uma peça fundamental”. Para ocabeça de lista, este órgão “ tem andado muito a reboqueda agenda reitoral”.

“A UC tem muitas fragilidades, mas também tem muitopotencial”, reitera o docente da faculdade de direito, aopropor uma “participação efetiva na definição das políti-cas e das estratégias da universidade”, bem como a forteaposta na internacionalização da instituição. visto que éum projeto de recandidatura, há o reconhecimento deque “ houve coisas que ficaram por fazer”. Ainda assim,Faria Costa encara já o futuro: “o próximo CG vai ter umpapel preponderante porque pode vir a rever os estatu-tos”.

Não se pronunciando sobre o mandato do reitor, FariaCosta referiu também questão da fixação da propina: “alista A estará particularmente atenta a este assunto. Já pro-pus em CG a formação de um fundo de solidariedadepara ajudar os estudantes carenciados”.

LISTA E •

António Gomes Martins, da Faculdade de Ciências eTecnologia, é o cabeça da lista E, liderada anteriormentepelo atual Secretário de Estado do Ensino Superior (ES),João Queiró. A lista, que é de continuidade, tem comoprincipal linha orientadora a “defesa da UC enquantoserviço público nacional”. Gomes Martins afirma que, paraa lista, este é um valor “importantíssimo na democracia”e que “a UC, além de ser a universidade mais antiga dopaís, é uma universidade que se preza por prestar umserviço público de qualidade” e pretende que assim semantenha.

A defesa da autonomia da universidade também é en-carada pela lista E. António Gomes Martins explica que“só assegurando essa autonomia é que se consegue asse-gurar as restantes, como a pedagógica e a científica”. Omesmo não esquece a crise em que o país se encontra,que tem assolado as condições do Ensino Superior, afir-mando que esse será o grande desafio –concretizar linhasestratégicas que não comprometam a qualidade do en-sino praticado.

O professor catedrático da FCTUC alerta ainda para oprogressivo envelhecimento e diminuição do corpo do-cente, que “não tem sido compensado por contrataçõesde rejuvenescimento”. Isto poderá levar a que “o ES fiqueem condições de funcionamento que não são suficientespara prestar o serviço público que deve”.

LISTA U •

Recandidato ao CG é o professor da Faculdade de Ciênciase Tecnologia (FCTUC), João Carlos Marques, pelo projeto decontinuidade, a lista U. Evocando a transversalidade do pro-grama, a lista U faz questão de evidenciar que não tem com-promissos ideológicos. “Somos uma lista transversal entre duasfaculdades, que é importante dizer, e não temos compromissoideológicos”. Com o lema “por uma universidade plural,dinâmica e criativa”, o objetivo central da lista encabeçada porJoão Carlos Marques é “impulsionar a universidade para a suaafirmação nacional e internacional”.

“O último CG não era percetível”, evidencia o docente daFCTUC ao pedir uma “política interna que evite exclusões etenha soluções institucionais”. Para João Carlos Marques, “a ac-ademia quase não dava pelo trabalho e presença do CG”. Tam-bém a atual conjuntura financeira é lembrada pelo candidatoda lista U: “neste momento pode haver a tentação de deixarcair certos setores mais desprovidos de fundos”. Assim, JoãoCarlos Marque vê na interação das faculdades “de forma in-teligente” uma das soluções.

“No que diz respeito à estratégia da UC existem vários prob-lemas de fundo” - para João Carlos Marque esta é uma reali-dade. No entanto, o docente refere “a necessidade de darresposta a esta situação imediata, a situação que o país atrav-essa”. Também a burocratização “excessiva” é um problemapara a lista U, que “está a asfixiar a universidade, a roubar-lheenergia”.

candidatos docentes e investigadores

candidatos não docentes e não investigadores

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eNsINO suPeRIOR6 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | terça-feira

Conjuntura financeira da UC prejudicoumandato dos conselheiros estudantis

desconhecimento dos es-tudantes relativamenteao CG há cerca de dois

anos era de mais de 60 por cento.Ignoravam-se as suas competên-cias, apesar de o número de candi-daturas aos lugares de estudantesconselheiros ter sido superior. Omandato começou em 2010 e, aocontrário dos restantes membrosque compõem o CG, é de apenasdois anos. Chegados ao fim desseciclo, os cinco estudantes conse-lheiros fazem um balanço do seutrabalho no órgão de gestão da UC.

“É um órgão que continua muitofechado em si mesmo, ninguémsabe muito bem o que faz, quandoreúne e porque reúne.” A pouca fa-miliaridade com o CG parece aindanão ter sido revertida ao longo doúltimo mandato dos estudantes.Quem o diz é Filipe Januário, con-selheiro eleito para o primeiro e se-gundo ciclo. O também conselheiro,Pedro Tiago, não crê que “haja umaumento drástico no conhecimentodos alunos do órgão e da institui-ção”. Luís Rodrigues, já represen-tante no CG há dois mandatos erecandidato, considera que “todosos estudantes sabem que a univer-sidade tem de ser governada de al-guma maneira”. No entanto, o

mesmo alerta para o facto de a co-munidade estudantil não entendera composição orgânica da UC. Porsua vez, o conselheiro Pedro Pa-checo encontra na eleição do reitoro momento-chave para impulsio-nar uma “maior atenção por partedos estudantes”. Todavia, o conse-lheiro eleito pelo terceiro ciclo,Pedro Nunes, pede “uma conscien-cialização para representar melhora comunidade como um todo”.

A tónica da comunicação reser-vada também é unânime. “Estemandato foi muito apertado emtermos de comunicação com o ex-terior”, corrobora Luís Rodrigues.Os estudantes tentaram mas o regi-mento do CG só será mudado nopróximo mandato. E as vias deacesso aos alunos, funcionários edocentes, e até sociedade civil, es-tará facilitada com a criação da pla-taforma Inforestudante – “é muitomais fácil enviar uma notificaçãoque o reitor, o CG ou o Senadoqueiram enviar”, explica o conse-lheiro. O objetivo dos estudantes é“passar o máximo de informaçãopossível daquilo que é o quadro doCG”, atesta Pedro Nunes, mas as re-gras, “de certa forma rígidas relati-vamente àquilo que pode serventilado face ao funcionamento

corrente”, podem prejudicar o en-volvimento de quem está longe domeio.

“É fácil passar ao lado dos estudantes”Quem consultar a página do CGtem apenas acesso aos relatórios. Eisso só foi possível neste mandato.Ainda assim, é insuficiente paramanter os estudantes ao correntedo que se passa lá dentro. Destaforma, “é fácil passar ao lado dosestudantes”, como justifica FilipeJanuário. A falta de exteriorizaçãoantes das deliberações bloqueia aresposta atempada dos estudantesface ao que se possa decidir.

“O CG ganharia se os seus traba-lhos pudessem ser escrutinados portoda a gente”, concretiza PedroTiago. A falta de assento do presi-dente da Direção-geral da Associa-ção Académica de Coimbra étambém apontada como mais umafalha para trazer os problemas reaisdos estudantes à Universidade.

A questão da concertação do votodos estudantes foi defendido portodos os estudantes conselheirosem campanha para colmatar a faltade representatividade. “Defendique temos de ser em uníssono,somos cinco em 35. Nunca podía-

mos internamente mostrar essasdivisões”, assevera Filipe Januário.Opinião corroborada por PedroTiago, que explica que tentou “pas-sar uma visão de unidade”. Por suavez, Luís Rodrigues encontra naeleição do reitor um momento “fra-turante” nesta união: “tínhamos denos pautar pelo interesse dos estu-dantes, mas não podia ir contra aminha consciência”. Da mesmaforma, Pedro Pacheco consideraque o “consenso não foi possível”nesta decisão. Porém, Pedro Nunesrefere que a união dos cinco conse-lheiros “não desvaneceu depois daeleição”. Ainda assim, o represen-tante do terceiro ciclo alerta que“não há um compromisso possívelporque a representação digna doseleitores [terceiro ciclo] não per-mite uma posição conjunta”, devidoàs especificidades deste ciclo de es-tudos, onde a maioria dos estudan-tes não passa o tempo integral nauniversidade.

O que ficou por fazer?Em resposta a esta questão, os con-selheiros estão de acordo ao referi-rem que a conjuntura económica,externa à UC, é a principal razãopor não terem feito mais. “Tinha aambição, talvez utópica, de dar aos

estudantes de Psicologia e Desportomelhores condições físicas”, re-corda Pedro Pacheco. Apesar detodos os membros do CG teremsido unânimes em considerar a in-suficiência nas estruturas físicasdas faculdades, faltou o dinheiro.“A certeza é que foi um mandato in-grato, porque os estudantes viram-se obrigados a concordar com oreitor em tudo o que é a estratégiapara a universidade”, reitera PedroPacheco. Também Filipe Januárioevoca esta problemática: “as coisasque ficaram por fazer têm muito aver com as limitações financeirasda universidade”.

No que diz respeito à representa-ção do terceiro ciclo “é muito,muito minoritária”, afirma PedroNunes. Só agora o mandato foicumprido em pleno, uma vez quePedro Nunes havia sido o únicocandidato há dois anos. Por isso otrabalho foi importante para a afir-mação dos doutorandos. Inês Al-meida, suplente da mesma lista,substituiu este conselheiro numareunião do CG e adianta que apenas“foi feito um balanço do mandatodos quatro anos do CG, já não foiuma reunião onde se tivessem detomar decisões, foi um fim deciclo”.

arQuivo - fÁBio roDrigues

Depois de dois anos de mandato no conselho geral da universidade de coimbra, os cinco estudantes conselheiros fazem um balanço da sua atividade

em altura de fim de mandato, os cinco conselheiros estudantis no Conselho Geral (CG) da universidade deCoimbra (uC) analisam o trabalho desenvolvido e relembram as falhas. A falta de exteriorização do órgão e a conjuntura financeira da uC bloquearam a ação dos representantes. Por Liliana Cunha e Ana Morais

O

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4 de dezembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 7

eNsINO suPeRIOR

6Ricardo Morgado

Ricardo Morgado foi pela se-gunda vez o eleito para lide-rar a Direção-geral daAssociação Académica deCoimbra (DG/AAC). A suareeleição fica marcada pelogrande número de votos embranco e pelo facto de ter aadesão mais baixa dos últi-mos três anos

Como vês estas eleições?Cumprimos o nosso objetivo que eravencer à primeira volta. Não possonão deixar de dizer que nos deixamuito desiludidos a baixa adesão àsurnas que surgiu. Estamos a falarnum universo de quase cinco mil vo-tantes quando o ano passado foi odobro. Houve mais votos brancos doque qualquer uma das duas listas, noentanto, estamos satisfeitos.

A tua lista foi a única que

não foi apresentada oficial-mente. Só se soube dos mem-bros da tua lista muito poucotempo antes dos dias eleitorais.Porquê?Não foi feito porque foi muito difícilcoordenar a agenda de presidentecom o calendário de candidato. De-pois, porque houve decisões nos lu-gares cimeiros que também ficarampara a última. Não consegui gerireste processo como no ano passado.

Foste falar com as pessoassobre o teu projeto?Sim. Claro que no ano passado faleiem muitas aulas e tive cafés com pes-soas individualmente para explicar oprojeto. Este ano não. Agora as pes-soas tinham uma coisa que há muitotempo não tinham – um recandi-dato. Este ano houve uma reduçãopara metade nos votantes, mas nósnão reduzimos para metade. A

minha predisposição para ser candi-dato não era a mesma.

O número dois da tua listadisse que os votos brancos paraele não interessavam no mo-mento.Desde há muitos anos que os votosem branco, e já aconteceu isso no anodo Miguel Portugal e com o EduardoMelo, são a segunda grande força po-lítica. O que quer dizer que são deprotesto contra a DG/AAC ou nãoacreditam em nenhuma das listas. Éimpossível definir o que é um votoem branco.

Carregas algum peso comeles ou excluis a importância?Não excluo a importância, mas osvotos nas outras listas e os em branconão podem ser uma preocupação. Aminha responsabilidade enquantopresidente agora eleito tem de ser a

mesma com 99 por cento ou por 51por cento. Não nos podemos esque-cer que vivemos um momento nopaís muito difícil em que as pessoasdescredibilizam muito as coisas, istotambém chega a Coimbra. Temos in-felizmente uma juventude muitoafastada da política e tudo aquilo queé associativismo.

O Conselho Fiscal (CF) tevemais votos que a DG/AAC e aAssembleia Magna. É uma in-dignação com o CF de atéentão?Houve uma diferença mais para oCF. Posso entender mais facilmenteesse resultado que os votos brancoscomo um protesto mais direto e realà DG/AAC. Ao projeto, contra mimmesmo, as pessoas que escolhi e tudoque tenha a ver com lista L onde eume incluo.

Liliana Cunha

“A minha predisposição para ser candidato não era a mesma”

Presidente reeleito da Direção-geral da Associação

Académica de Coimbra

Boicotantes recebem ordem fiscalA uC está a despachar ordens de execução fiscalrelativas ao boicote às propinas que se realizou há uma década atrás. Alerta-se para a ilegalidade do acervo jáque a dívida prescreveu

“O que tem acontecido é que a Uni-versidade de Coimbra (UC) está a ins-taurar processos de execução a váriosestudantes de dívidas de há muitosanos e não tem base legal para ofazer”, começa por explicar LúciaGomes, aluna da UC no ano de 1998até 2003. Foi uma das estudantes queresolveu boicotar o pagamento daspropinas. Se esta estudante de Di-reito tivesse ingressado no ano letivoanterior poderia fazer o boicote semcargo de consciência já que havia sidodecretada a suspensão da propina.Contudo, os tempos de luta pelo en-sino que se prevê tendencialmentegratuito na Constituição da RepúblicaPortuguesa foram audazes.

Maria Santana estudou Filosofiana UC e também boicotou. Chegou aCoimbra no auge da luta – em 1992.Até agora não pagou nem um tostãoda sua licenciatura. Mal teve hipóteseinscreveu-se imediatamente num es-tágio com vista à formação educacio-nal e comprometeu-se até ao fim deentregar o certificado. “Agora, o pro-blema é sempre que é preciso pediralguma coisa na secretaria, na Filan-trópica eles mandam-me um rol comas dívidas todas que tenho das propi-nas”, afirma num tom sarcástico aagora professora. Maria Santananunca pagou o certificado de habili-tações. Mas exerce a profissão.

Ricardo Matos é outro dos alunosque à época também não pagou aspropinas. Até então. “A universidade,face a esses dois anos, vem tentarconverter uma dívida mais do queprescrita e lançar a autoridade tribu-tária sobre nós”, evoca o agora “en-genheiro informático”. Entre aspasporque não tem o certificado. Na rea-lidade nunca lho pediram. “Sempretrabalhei como informático e enge-nheiro informático na prática”, atestao estudante que entrou para a Facul-dade de Ciências e Tecnologia em1993.

“Já existiam mais de 16 mil boicotantes”Os anos de 94 e 95 ferviam com ofacto de no mandato de Cavaco Silvaa primeiro-ministro a propina podersubir de 250 euros para 1000 euros.Por essa altura, dois destes estudan-

tes estavam na universidade.“Quando avançámos para o boicote játinha existido toda uma contestaçãona academia. Foram anos inteiros dediscussão sobre essa matéria”, frisaRicardo Matos que até foi membro dequatro Direções-gerais da AssociaçãoAcadémica de Coimbra dessa década.

“Já existiam mais de 16 mil boico-tantes”, garante o estudante de Enge-nharia Informática. Transposto paraos dias de hoje seria um número queabarcaria mais de 70 por cento detoda a comunidade estudantil. “Em-bora houvesse muita gente que seapercebia que não se aplicava qual-quer sanção ou qualquer problema,houve muita gente que ficou sempagar mesmo não havendo esseapelo”, recorda Matos. A lembrançadestes tempos boicotantes faz comque Maria Santana continue a defen-der que se tem de ir “no sentido de

boicotar para tomar uma posição,não é o boicote pelo boicote, é para aafirmação de uma posição”.

Boicote hoje?A ordem de execução fiscal está a serenviada a todos os estudantes da UCque devam alguma coisa que remontea estes anos. Lúcia Gomes, que en-tretanto não conseguiu levar o boi-cote adiante por ter de pagar ocertificado e as propinas para poderter acesso à ordem adianta que “estesestudantes não receberam a carta anão ser em 2012”. Lúcia está a ser aadvogada de cerca de nove casosdeste tipo (incluindo o de RicardoMatos) que interpôs um recurso deoposição ao Tribunal Administrativoe Fiscal de Coimbra.

“Neste momento as execuçõesestão a ser tratadas como um impostoquando não devem ser. Já nem se-

quer tem fundamento legal porque naaltura não o podiam fazer e porque jápassaram os quatro anos em que elespodiam notificar as pessoas parapagar”, admite.

“É exigir porque neste momento ovalor da propina é obsceno. É umaespécie de direito de resistência”,adianta a advogada. Lúcia e Ricardoacreditam que vão conseguir levar aoposição avante e não pagar o valorem falta. E quanto à possibilidade deum boicote nos dias de hoje, Lúciaacha que a questão se coloca “aindacom mais força”. Matos pensa queantes de se ponderar o boicote ,“é im-portante ter a academia consciencia-lizada e mobilizada pronta paralutar”. Quanto a Maria, que teve umafrequência no Ensino Superior gra-tuita, afirma que “nem só é possívelcomo é desejável” o boicote a estataxa.

Liliana Cunha

os depoimentos de três estudantes dos anos 90 na uc lembram a possibilidade de nos dias de hoje também se poder recorrer ao boicote

stephanie sayuri paixão

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CuLtuRA8 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | terça-feira

cápor

27NOV

stand-up CoMedy

tagv • 21H3010€ C/desContos

cultura

CineMa

Casa das CaLdeiras

18H30 e 21H30entrada Livre

MúsiCa

tavgv • 21H30 7,5€ C/desContos

teatro

Conservatório de MúsiCa

21H30 • 10€ C/desContos

MúsiCa

tagv • 21H30 12,5€ C/desContos

Por Daniel Alves da Silva

CineMa

aMsCav21H301€ C/desContos

22NOV

CineMa

tagv • 21H304€ C/desContos

teatro

Centro de neuroCiênCias

e BioLogia CeLuLar

21H30 • 10€ C/desContos

MúsiCa

aqui Base tango

23H30 • entrada Livre

Conversa

Conservatório de MúsiCa

21H30• entrada Livre

30NOV

"O LAçO BRANCO"

“sALVAdOR AO VIVO”

JOsé duARte

NOV

20

29NOV

NOV

21NORBeRtO LOBO

“MIM - My INNeR MINd

GOBI BeAR

“OPeRAçãO OutONO”

shAkesPeARe NO CINeMA

ÓsCAR e A seNhORA COR-de-ROsA

suPeRNAdA

24NOV

28NOV

21 a 1NOV DEZ

22 e 26NOV

Aniversário com Pina e PO.EX

“Evocação” começouprecisamente com mú-sica de Erik Satie como

pano de fundo, ao mesmo tempoque eram projetadas fotografiasde Manuel António Pina, junta-mente com a declamação de poe-mas do mesmo.

Num registo muito íntimo, o es-critor, e amigo de Manuel Antó-nio Pina, Álvaro Magalhães,contou ao público que ali se jun-tou algumas histórias do escritor,que escrevia literatura para crian-ças, «mas “para” com muitasaspas», porque “os livros são purae simplesmente” livros. Ao escre-ver para os mais novos, “escrevernão é mais do que brincar”. ParaPina, os livros eram como “obje-tos literários não identificados”,sendo que o seu livro preferidoera o de Winnie the Pooh.

No âmbito da poesia, “o poeta éaquele que vê, está em todo olado”, e Álvaro Magalhães confi-dencia que é “O Inventão”, obrade Manuel António Pina, “quefunda o lugar de poeta”. E comodizia Winnie the Pooh, que Pinacitava, “devemos deixar ir as pa-lavras da forma que lhes der jeitoa elas”, porque o argumento deum livro depende somente daspalavras.

E há muitas outras coisas quevamos descobrindo sobre o cro-nista. A forma como escrevia assuas crónicas, “sempre à últimada hora”, explica Álvaro Maga-lhães. E também como tinha, porvezes, dificuldades em escrever:“eu não tenho ideias nenhumas!”,dizia o Prémio Camões 2011. Oseu sentido de humor era tambémconhecido: “ligava às 4h damanhã para contar uma anedota”,

confidencia Álvaro Magalhães.Manuel António Pina marcava-sepor ser carismático, “uma pessoade ‘gaffes’”, mas rigoroso nas cró-nicas: “gostava de ler manuais deinstruções”, tinha boa memória erecitava poemas de cor.

A sessão terminou com o decla-mar de mais alguns poemas dePina, sendo que o último, de JoãoRasteiro, “Espera um pouco”,constitui uma homenagem desteao poeta. O Presidente da CâmaraMunicipal de Coimbra, JoãoPaulo Barbosa de Melo, fecha oevento com a premissa de quecom esta “Evocação” “progredi-mos em conhecer alguém, ganhá-

mos qualquer coisa”.

“Tensão entre o ser e o tempo”Com o término de um evento, ini-ciou-se, logo de seguida, a inau-guração de um outro:“PROGESTOS_OBGESTOS,1972-2012”, de António Barros,integrado no ciclo “Nas EscritasPO.EX”. Uma exposição de poesiaexperimental, que estará patenteaté ao dia 21 de dezembro, e deentrada livre. Esta é a segundainicitiva do evento “PO.EX”, quese iniciou no dia 3 do mês de ou-tubro.

O comissário da exposição,

Jorge Pais de Sousa, informa queo “PO.EX” é um “movimento ar-tístico complexo, que começa naliteratura e vai para a música,vídeo, performance, etc.”. Assim,a poesia experimental tem “im-pacto na atualidade”.

A exposição de António Barrosé uma “tensão entre o ser e otempo”, onde o próprio artista seapresenta: “o autor e o artista nãoexplicam a sua obra, mostra aobra.” E acrescenta ainda: “é umaescrita do mínimo de palavras, depoucas palavras”. A exposiçãoocupa vários andares da Casa daEscrita, sendo composta por, es-sencialmente, jogos de palavras.

Após ter encerrado há algumas semanas paraobras, o funcionamentocafé-teatro do tAGV seráretomado nos próximosdias, com novoconcessionário

O café-teatro, parte integrante doTeatro Académico de Gil Vicente(TAGV), encontra-se fechado, es-tando a sofrer uma remodelação.Depois de ter expirado o contratocom o anterior concessionário, e deterem sido efetuados dois concursospúblicos para uma nova concessão,vislumbra-se finalmente a reaber-

tura do espaço.O processo de remodelação do

café-teatro atrasou-se, em primeirolugar, devido à realização de umconcurso que “não permitiu chegar aum concessionário novo” e efetuaras obras de remodelação em agosto,como explica o diretor do TAGV,Fernando Matos de Oliveira. “Abri-mos um segundo concurso comnovas condições de funcionamento,horário, e também baixámos o valorda renda”, acrescenta, aparecendoassim “algumas candidaturas inte-ressantes”. A concessão foi atribuídaa Luís Lapa Vitória, que tem expe-riência, explorando um café-teatrona cidade de Munique, tendo von-tade, em Coimbra, de “criar um es-paço cosmopolita”, segundo Matosde Oliveira.

O segundo fator que impede umamaior celeridade no processo de re-

modelação do café-teatro é a classi-ficação do edifício do TAGV comoImóvel de Interesse Público. “Exigecuidados na intervenção que setem”, como refere o diretor, já que opróprio espaço está integrado noprojeto da candidatura a PatrimónioMundial da UNESCO.

As intervenções no café-teatro de-correrão em duas fases: a primeira,com uma pequena mudança no bal-cão e renovação da maquinaria dobar, incidindo também na ilumina-ção e no sistema de som. É assimque o café-teatro abrirá ao público,nas próximas duas semanas. Um in-vestimento de várias dezenas de mi-lhares de euros, suportado peloconcessionário. A segunda interven-ção, que dotará o café-teatro de copapara a confeção de refeições, permi-tirá ao TAGV oferecer “jantares-es-petáculo” ou “jantares-concerto”,

articulando assim a programação doteatro ao funcionamento do espaçocafé-teatro. Contudo, o início dessapróxima fase “não depende do con-cessionário”, mas dos Serviços deGestão do Edificado, Segurança,Ambiente e Segurança e Saúde noTrabalho da Universidade de Coim-bra, responsáveis por “um plano deintervenção para a criação das taiscondições de apoio”, como asseveraFernando Matos de Oliveira.

A incorporação do piano bar, pre-vista nessa segunda fase de inter-venção e que permitirá uma maiorarticulação da programação do tea-tro com a do café-teatro, ainda irádemorar. O diretor aponta o pri-meiro semestre de 2013 como o pe-ríodo em que as intervenções ficarãoconcluídas, depois de cumpridostodos os processos burocráticos ne-cessários à realização das obras.

Café-teatro reabrirá parcialmente este mês

Daniel alves Da silva

a sessão, na casa da escrita, terminou com a dclamação de poemas de Manuel antónio pina

Daniel Alves da Silva

A poesia encerrou as comemorações do segundo aniversário da Casa da escrita, no dia 30 de novembro, com a “evocação” a Manuel António Pina e a inauguração de “Nas escritas PO.eX”. Por Beatriz Barroca

A

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4 de dezembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 9

CuLtuRA

Com o objetivo de manter o espíritohardcore vivo, um grupo de amigos decidiu criar a Zona Centro hardcore.Numa altura de crise, poderemos assistir ao renascer do movimento? Por daniel Alves da silva

É nas imediações do Sta-tes Club, em Celas, quenuma gélida sexta-feira se

começam a juntar alguns fãs dohardcore e do metal. “O hardcore éum movimento da rua”, revela Ri-cardo Martins, mais conhecido pelasua alcunha Libelinha. Um dosmentores da Zona Centro Hardcore(ZCH) resume assim o espírito domovimento.

Quando os fundadores começa-ram a ir aos concertos, em Lisboaou ao Porto, repararam que viamvárias vezes as mesmas caras. “Co-meçámos a perceber que eram deCoimbra”, explica Libelinha. A ZCHsurgiu mais tarde. “Foi na alturaem que fomos a um festival mar-cante”. É assim que Libelinha de-fine o Resurrection Fest, o festivalem Vivero, na Galiza, que reúne umcartaz rico em hardcore, punk emetal. Como estiveram tantotempo juntos, a preparar a viagem,surgiu a ideia: trazer bandas, co-meçar a mostrá-las às pessoas. Re-tomando as ideias que já tinha fazeruns concertos em Coimbra. “Vamosfazer uma coisa em Coimbra,vamos fazer acontecer em Coim-bra”, palavras de Libelinha que ser-vem de mote à ZCH.

Responderam mais de cem pes-soas ao apelo de mais uma noite dehardcore com travo a metal no úl-timo evento organizado pela ZCH.O States recebeu os conimbricensesFight Today e os Switchtense, ori-ginários da Moita. Uma união depúblicos. Como refere Jorge Casta-nheira, também da ZCH “há umamaior aceitação dos nichos”. Hápúblico que começa a unir-se sobuma só bandeira. «Não o metal,não o hardcore, mas o ‘under-ground’», sentencia.

Os Fight Today surgiram pelamão, ou melhor, pela guitarra deLibelinha. “Já tinha pensado naminha cabeça fazer uma banda dehardcore”, confessa. Quando co-meçou com a ZCH a organizar osconcertos em Coimbra, decidiu“andar com o projeto para afrente”. Com Hélio Moreira nos vo-cais, o guitarrista Carlos AndréPinto, Xico Dinamite no baixo e ba-

teria a cargo de Fernas, a bandasurgiu. Para haver pelo menos umabanda hardcore de Coimbra, “li-gada não só à zona centro”, maspara mostrar que é possível fazerhardcore na cidade. A banda apre-sentou as suas composições numconcerto que, apesar de curto, ficoumarcado pela satisfação da banda epúblico, que nas filas da frente seentregou ao moche.

Entre o punk e o metalPara o radialista Nuno Ávila, ohardcore foi um movimento que “játeve alguma visibilidade em Coim-bra” na altura em que o Centro deTrabalhadores de Celas trouxe al-gumas bandas desse género. O mo-vimento de Celas foi, paraLibelinha, paradigmático. Recorda-se de ter assistido ao concerto dosX-Acto, “a banda de referência dohardcore”, na época. Um concertoque nunca se irá esquecer. Estavamuita gente do hardcore. Coimbravivia nessa altura do rock e do punkmais niilista. Quando a malta dohardcore apareceu, “a querer falarde política nos concertos”, de as-suntos sociais, foram mal recebidospela “malta do punk”, confidenciaRicardo Martins.

Havia uma música dos X-Actoque se chamava “Too MuchSmoke”. “Eles pediam às pessoas

do público para pousarem os cigar-ros”, conta Libelinha, para os nãofumadores terem o direito de estarnum local sem fumo. Lembra-se dopessoal mais velho, começava “tudoa acender cigarros”. Na música se-guinte, chamada “Carne é Crime”,via-se o pessoal a “vir todo cá fora,comprar cachorros e hambúrgue-res”, desafiando a banda.

Para Libelinha, “o hardcore jáestá a voltar”. Não está na moda,

mas começa-se a evidenciar. Numafase de crise, “o hardcore voltaoutra vez a fazer sentido”.

O hardcore pode agregar outrospúblicos. É “um filho do punk queé uma espécie de bastardo dometal”. Daí que na organização dosconcertos, há sempre algo “para opessoal do metal e para o pessoaldo punk”, continua Libelinha.“Sempre dentro da família dessaraiz musical”, adita. São poucos,querem pessoas para conversar,para trocar ideias. “Porque a basedessas três correntes musicais éisso, é a troca de experiências”, apartilha do conhecimento, acres-centa ainda.

Movimento com seguidores“Queremos soltar a nossa raiva, e ohardcore sempre foi isso”. Libeli-nha volta a sintetizar o movimentonuma só frase. Apesar da dificul-dade em arranjar espaços para osconcertos. “O objetivo é continuara trazer cada vez mais e melhoresbandas”, assume Libelinha. Já con-seguiram trazer alguns dos maioresnomes do hardcore nacional e al-gumas bandas internacionais. Para

além disso, já estão marcadas datascom bandas internacionais atémarço de 2013.

“Se começar a haver mais con-certos, há pessoas que vão começara aparecer mais”, refere NunoÁvila. “O movimento começa a fer-vilhar e a ter mais seguidores”, jáque segundo o radialista “ainda hápúblico com apetência para ver este

género de bandas”.Depois da enérgica atuação dos

SwitchTense, onde sobressaiu o‘headbang’ sincronizado dos espe-tadores com algum ‘crowdsurfing’à mistura, chega o momento detentar perceber qual a recetividadedo público. Ricardo Pereira assumevir sempre que pode ao States, vertodas as bandas. “Há que apostarem Coimbra”, continuar o esforço.Ficou contente por ver uma casa

cheia. Assume que uma das melho-res formas de divulgação destesmovimentos é o passa-a-palavra,“entre amigos”.

Resumindo, “se as bandas nãotocam, não aparecem, logo nãoexistem”, afirma Ricardo Martins.E acrescenta: “podem ainda estarna garagem”, esperando uma opor-tunidade para mostrarem o seuvalor. “O que eu digo é para o pes-soal se mexer, para fazerem acon-tecer”, aconselha o músico.

Para Nuno Ávila, “se houver con-certos, se o público aparecer, se co-meçarem a aparecer discos,algumas reportagens, se as coisascomeçarem a ser faladas”, os jovensque estão a começar uma bandapodem sentir-se atraídos para o gé-nero. “Se aquela banda conseguiu,nós também poderemos conse-guir”, é o pensamento que ecoa noespírito das novas bandas, segundoo radialista. “Poderá, de facto,haver aí um renascer mais forte domovimento hardcore”, finaliza.

Pode-se questionar se este des-pertar do hardcore é chama efé-mera ou a semente de uma cenaque, nas palavras de Jorge Casta-nheira, ou Piri, “está a explodir”.

A

a Zona centro hardcore tem vindo a organizar concertos para manter vivo o movimento

Estará o movimento afervilhar?

HardcoreDaniel alves Da silva

O hardcore podeagregar outros públicos. É “um filho do punk que é bastardo do metal”

“Se as bandas nãotocam, não aparecem,logo não existem”,afirma o músicoLibelinha

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desPORtO10 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | terça-feira

isto por muitos como umdesporto violento, o fute-bol americano vai alcan-

çado, ainda assim, uma maiorquantidade de praticantes e adep-tos. É uma modalidade de equipa ede contacto que, apesar de muitasvezes confundido com o râguebi,por ser uma variação deste, dá maisimportância à velocidade, agilidadee capacidade tática. Surgiu nos Es-tados Unidos da América, sendoum desporto extremamente popu-lar, em particular nas universida-des, onde se iniciou e desenvolveu.

Em Portugal, este desporto co-meçou a ser praticado há cerca desete anos, com a formação de duasequipas, os Porto Renegades e osLisboa Navigators. Existe até umaLiga Portuguesa de Futebol Ameri-cano (LPFA) que na primeira edi-ção, em 2009, contou com cincoequipas, quatro delas portuguesase outra espanhola, com o estatutode equipa convidada. Este ano vairealizar-se a quarta competição daLPFA e as expetativas são favorá-veis, visto que o número de equipastem vindo a aumentar gradual-mente. Espera-se, portanto, umamaior competitividade em relaçãoàs edições anteriores, todas venci-das pelos tricampeões Lisboa Navi-gators.

Os projetos já criados neste âm-

bito impulsionaram uma nova vagade desportistas que optam por estamodalidade, que está em fase decrescimento com o aparecimentode novas equipas, como os CoimbraTemplars. “Assim como todas asequipas foram um exemplo paranós, também vamos ser um exem-plo para outras equipas e cidadesmais próximas”, explicam DarlannMendes e Miguel Malato, os doisimpulsionadores deste novo pro-jeto. A ideia surgiu de uma outra

iniciativa, os Coimbra Black Wol-ves, que, por falta de divulgação eadesão, falhou: “acabei por me des-leixar nesse aspeto, pois tambémnão queria aceitar a responsabili-dade de ter de gerir uma equipa, e oprojeto, o primeiro de futebol ame-ricano na cidade, acabou por mor-rer”, confessa Miguel, o mentor deambas equipas.

Os Coimbra Templars são umprojeto relativamente recente, nas-cendo de uma parceria entre dois

ex-jogadores que decidiram criaruma equipa em Coimbra. Miguel,que já foi jogador dos Porto Rene-gades, explica como tudo começou:“conheci o Darlann (que já tinha jo-gado futebol americano no Brasil)pelo Facebook, e queria participarnos treinos do Porto. Mas depoischegámos à conclusão que isso fi-cava caro para nós e acabamos porter esta ideia em conjunto”.

A união faz a forçaEm relação à composição daequipa, o número de participantesque compareceram no primeirotreino foi de pouco mais de uma de-zena, sendo que apenas metadedeles deverão permanecer empe-nhados no sucesso do projeto. A se-leção dos jogadores rege-se apenaspor um critério, que é ter pelomenos 17 anos, a idade mínima exi-gida para participar na Liga, que é oobjetivo a longo-prazo idealizadopelos fundadores dos CoimbraTemplars. Darlann revela que essaé a beleza do futebol americano:“joga o magro, o gordo, o alto, olento… Qualquer um pode jogar!Cada um tem uma função especialno jogo”.

É um desporto que se caracterizapelo seu jogo em equipa, que fun-ciona como uma unidade, e nãoexiste uma estrela, explica Miguel

Malato: “um bom ‘receiver’ [joga-dor rápido em posição ofensiva quese desloca em rotas curtas e longaspara receber passes] que apanhebem a bola, se não tiver um ‘quar-terback’[o jogador que faz o lança-mento] que passe bem ou uma boalinha defensiva que o proteja é in-diferente”.

Neste momento, os CoimbraTemplars, tal como outras equipasportuguesas, não têm treinador.São os jogadores mais experientes

que vão orientando os novos prati-cantes, pois, sendo um desporto re-cente em Portugal, a tarefa deencontrar um técnico torna-se maiscomplicada. “Mesmo que um joga-dor possa não saber nada quandoentra na equipa, passados doismeses pode saber mais que outroque já lá está há dois anos”, justificaDarlann. É uma modalidade que re-quer interesse, estudo das regras etáticas e empenho por parte de cadajogador.

Uma questão de treinoPara os Coimbra Templars, o obje-tivo dos últimos treinos passa portransmitir a forma como o jogo fun-ciona, as regras e táticas, porquemuitos dos novos praticantes nãoas conhece. Como o número de jo-gadores ainda é reduzido e por nãohaver equipamento, “não dá paratreinar com toda a “essência” dodesporto”. Miguel e Darlann depa-ram-se com um outro problema:“como a maior parte das pessoasque participa nos nossos treinossão estudantes da universidade,muita gente tem aulas até às 20h e,durante a semana, só pode treinar ànoite”. Os treinos têm-se realizadono Parque Verde do Mondego, aosdomingos, à tarde, pois para pude-rem fazê-lo durante a semana serianecessária a cedência de um campocom melhores condições.

“Já tentei entrar em contato coma Associação Académica de Coim-bra para nos fornecerem umcampo, como o de Santa Cruz ou o[Estádio]Universitário, mas aindanão obtive uma resposta”, afirmaMiguel. Para o jogador, esse cená-rio seria o ideal, pois qualquerajuda era boa para a equipa. Acurto-prazo, os objetivos são con-seguir um campo para os treinos,divulgação e a adesão de um maiornúmero de jogadores.

O ‘kickoff’ de um novo projetoos coimbra templars treinam no parque verde da cidade aos domingos à tarde

Já ouviu falar em ‘touchdown’, ‘endzone’ ou ‘quarterback’? Não são termos tão reconhecidos como ‘penalties’ ou ponta-de-lança, mas surgem agora no desporto português associados a uma modalidade que se expandiu a partir do outro lado do Atlântico - o futebol americano. Por Rita Abreu e tiago Rodrigues

“Assim como todasas equipas foram umexemplo para nós,também vamos serum exemplo”

rafaela carvalho

V

rafaela carvalhorafaela carvalho

“Já tentei entrar emcontato com a AACpara nos forneceremum campo, mas aindanão obtive resposta”

coimbra templars rafaela carvalho

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4 de dezembro de 2012 | terça-feira | a cabra | 11

CIêNCIA & teCNOLOGIARevolução nocancro dapróstata estaráem Coimbra?

O investigador da Universidade deCoimbra (UC), Ricardo Leão, liderouo desenvolvimento de um estudo quepode possibilitar avanços nos trata-mentos do cancro da próstata. Estadoença oncológica, que constitui asegunda causa de morte na popula-ção masculina a nível mundial, podecausar disfunção erétil e dificuldadeem urinar. Atualmente, esta patolo-gia pode ser tratada com recurso a ci-rurgia, radioterapia, quimioterapia,entre outras, sendo um tipo de can-cro que é mais incidente na Europa enos Estados Unidos da América, emhomens com idade superior a 50anos.

O estudo deste médico tem comoobjetivo principal “avaliar o efeito dedeterminadas drogas numa popula-ção específica de células tumorais”,explica Ricardo Leão. Essa resistên-cia pode dever-se a “células denomi-nadas ‘tumor initiating cells’ [célulasiniciadoras do tumor]”. Outra das fi-nalidades deste estudo é, em con-junto com outros do género,“compreender os mecanismos de re-sistência destas células aos fármacosque hoje utilizamos”, refere.

Apesar de ser improvável quequalquer estudo, por si só, revolu-cione os métodos terapêuticos, o tra-balho de Ricardo Leão obteve“resultados interessantes”. O respon-sável pela investigação afirma que osavanços resultantes do seu trabalhopodem traduzir-se em “novas drogaspara doentes” cuja doença oncológicaestá num estado avançado.

Em termos práticos, este estudopode ter influência no tratamentodesta doença e contribuir para uma“melhor compreensão desta patolo-gia séria e com grande prevalência”.Contudo, será necessário passar “aosensaios clínicos e daí tirar as devidasconclusões” para obter “mais e me-lhores resultados”, continua o clí-nico.

O estudo foi reconhecido pela So-ciedade Portuguesa de Urologia(SPU) e pela empresa Astellas queatribuiram uma bolsa no valor deoito mil euros à equipa de investiga-ção. Este prémio permitiu a “aquisi-ção de meios laboratoriais essenciaisa esta fase do trabalho” e possibilitouo início do “trabalho experimental egerar alguns resultados prelimina-res”. Ricardo Leão salienta que estabolsa reconhece a “qualidade do pro-jeto” e que, sem este apoio, o projetonão teria passado da “fase in vitro”.

O grupo de trabalho multidiscipli-nar revela-se empenhado em conti-nuar a desenvolver este estudo queconta com a colaboração do CentroHospitalar da UC, das faculdades deMedicina e Farmácia e centros de in-vestigação. O sucesso deste estudoconstitui mais uma prova de que emCoimbra é possível levar a cabo in-vestigações médicas relevantes.

Hugo Teixeira Mota

João Neves

ntre signos do zodíaco edescobertas de novos pla-netas há muita diferença.

Astronomia e astrologia são pala-vras parecidas mas não têm, no en-tanto, grande relação entre si.“Muitas pessoas vêm à Secção deAstronomia perguntar pelo que oseu horóscopo lhes reserva”, afirmao vice-presidente da Secção de As-tronomia, Astrofísica e Astronáuticada Associação Académica de Coim-bra (SAC), Luís Antunes.

A partir dos estudos astronómicosé possível compreender o nosso pas-sado e também antever como será aevolução do cosmos. “A astronomiaserve para conhecer como surgiu ouniverso e as nossas origens. A par-tir do passado é possível fazer umaprevisão minimamente fiável do fu-turo”, explica Luís Antunes.

De uma forma sucinta, a astrono-mia tem como objetivo estudar tudoaquilo que se encontra para lá da at-mosfera terrestre - nomeadamenteos astros, os planetas e os demaiscorpos celestes. A partir disso, estaciência procura entender o funcio-namento do universo e do nosso pla-neta. “A Terra é um astro queinterage com outros e daí que certosfenómenos terrestres, como algunsfenómenos atmosféricos e o efeitode marés, também sejam incluídosna astronomia”, explicita o membro

da direção da Sociedade Portuguesade Astronomia (SPA) e professor as-sistente na Escola Superior de Tec-nologia e Gestão de Viseu(ESTV-IPV), Alexandre Aibéo.

A grande rotura na astronomiaadvém da criação do telescópio noinício do século XVII. Anterior-mente, o ser humano contava ape-nas com a sua própria visão parapresumir o que acontecia além docéu. Quatro séculos depois, este ins-trumento evoluiu e passou por di-versas melhorias, assim como aastronomia em geral.

“Do ponto de vista filosófico, a as-tronomia, como todas as ciências, éagora guiada por um processo obje-tivo e racional, e não pelas correntessociais ou religiosas, como era ocaso na altura de Copérnico ou deGalileu. De resto, a tecnologia evo-luiu imenso e permite-nos hoje fazerperguntas aparentemente maisavançadas, mas o processo é omesmo, continuamos a olhar o céu”,resume Alexandre Aibéo.

A relação entre Portugal e a astronomiaO primeiro curso superior que sur-giu em Portugal, na área da astro-nomia, foi em 1984, seguindo-se-lhemestrados e doutoramentos. Hojeexistem vários centros de investiga-ção no país, muitos deles com inser-

ção internacional. Em Coimbra,existe o Observatório Astronómicoda Universidade de Coimbra (UC),onde é realizada investigação em as-tronomia e astrofísica.

Além disso, existem grupos de es-tudo astronómicos amadores na ci-dade, como é o caso do AlfaCentauri, fundado em 2008. Deacordo com Luís Antunes, os astró-nomos amadores têm uma maior di-ficuldade nas grandes cidades.“Muita luminosidade implica nãoconseguir observar”, diz.

No panorama internacional, Por-

tugal está integrado no ESO (Euro-pean South Observatory – emportuguês, Observatório Europeudo Sul). A participação no ESO “temtrazido coisas boas para Portugal”,refere o astrónomo e professor au-xiliar no Departamento de Matemá-tica (DM) da Faculdade de Ciênciase Tecnologia da UC (FCTUC), JoãoManuel Fernandes. De acordo como astrónomo, o ESO tem contri-

buído muito com estudos cósmicosatuais, já que detém os melhores te-lescópios da atualidade, dentro dasua classe.

O VLT (Very Large Telescope) e oAlma, acrónimo de Atacama LargeMilimetre and Sub-Milimetre Array,são telescópios únicos em termostecnológicos, e o E-ELT (EuropeanExtremely Large Telescope) pro-mete ser o primeiro telescópio gi-gante do mundo. “Os paísesmembros do ESO, como Portugal,têm assim uma vantagem competi-tiva importante sobre os restantes,que estão de algum modo limitadosao uso de telescópios menos avan-çados”, conta a astrónoma e mem-bro da direção da SPA, JoanaAscenso.

O salto entre a Terra e a LuaA transposição da última fronteirado Homem ocorreu durante aGuerra Fria, com a corrida ao es-paço por parte das duas potênciasmundiais, os EUA e a URSS, “sendoesta uma tremenda demonstraçãode poder”, afirma Alexandre Aibéo.A pegada do ser humano em sololunar, protagonizada por Neil Arms-trong, continua em aberto, respon-sável por uma das grandes dúvidasda astronomia: será que alguma vezestivemos realmente na Lua?

do primeiro telescópio às pegadas do homem na Lua passaram-se somentequatro séculos. O universo, que já foi motivo de temor e crenças humanas, vai-setornando mais claro para nós. Por stephanie d’Ornelas e Joel saraiva

O desconhecido aos nossos olhos

rafaela carvalho

o céu continua a atrair hoje o homem, como o faz desde os primórdios da humanidade.

espaÇo

E

Alfa Centauri, fundado em 2008, é um dos grupos astronómicos amadores da cidade

Page 12: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

O qUe fALTA em COImbrA?12 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | Terça-feira

Partilhar em comunidade e pensar no que falta em Coimbra. A comunidade

criada por um grupo de três ex-estudantes da Universidade de Coimbra (UC)

tornou-se de certo modo viral e já responde por si só com soluções.

Internautas escolhem a falha, votam e ainda participam na solução

do problema. Por Liliana Cunha e João Valadão

própria pergunta jápor si é algo posi-tivo, porque leva aspessoas a pensar

sobre as coisas”, explica o criadorda questão, Daniel Lopes. O quefalta em Coimbra? No momento, apergunta poderá bloquear a res-posta por alguns instantes, mas ob-riga o cidadão a considerar do querealmente pode falhar na cidade.Esta espécie de experiência socialainda está no arranque. Pode-seencontrar na comunidade de “Oque falta em Coimbra” um vastoconjunto de problemas que qual-quer um pode inscrever numfórum com ‘rating’ e direito a vota-ção. “É uma série de problemas,certo? Se alguém tiver a capaci-dade de resolver o problema é win-win”, afiança outro dos mentoresdo projeto, Pedro Gaspar. Em con-junto com Sérgio Santos, está com-posta a equipa que saiu direta daFaculdade de Ciências e Tecnolo-gia da UC para incubar uma em-presa destinada a projetos queenvolvam indústrias criativas.

Está ponderado que tanto se re-solve o problema como se podefazer um negócio à volta deste.Porém, antes do negócio chega oretorno de preocupações de quempossa viver na cidade e de um olharpor vezes tímido na hora de res-ponder. A sugestão que reúne omaior número de votos é “mais au-tocarros, sobretudo depois dameia-noite”, e os comentários deretorno vão ao encontro disso. Re-clama-se mais acessibilidade peloPolo II, alude-se à maior utilização

de bicicletas pela cidade, há aindaquem atente que o dinheiro vaipara os táxis e outros há que numacidade “com bastante vida no-turna” consideram que se devia“apostar em transportes a partirdessa hora”. A razão prende-se, se-gundo Sérgio Santos, com o “pú-blico mais jovem”.

Dentro desse público mais jovemestá Ana Costa, de 29 anos. A tran-seunte na Rua Ferreira Borges rea-giu cética à pergunta, mas de entremuitas queixas fala também dostransportes públicos à noite. Comovive na freguesia de Santo Antóniodos Olivais, vê-se impossibilitadade sair de fora do círculo. “Podiam-se mexer [as pessoas], mas não semexem”, queixa-se. Por outro lado,Laura Peixoto, de 21 anos, consi-dera que as bibliotecas da cidade“deviam ter mais informação” eaponta a “fraca restauração pertoda Escola Superior de Educação deCoimbra”, onde estuda. Outro dospontos frequentemente abordadono site é a questão da segurança.Sara Rodrigues, de 24 anos, apontaa “falta de segurança noturna ediurna”, especialmente “em certospontos da Alta”. A jovem sugere acolocação de polícias à noite noslocais “mais problemáticos”.

Na perspetiva de Luís Coimbra,de 29 anos, a cidade “poderia sermuito melhor aproveitada”. Ojovem conimbricense admite quepoderia haver uma maior varie-dade de espaços noturnos: “temosprincipalmente duas discotecas cáno inverno, e no verão temos o es-paço das docas”.

Criar discussão por ela

mesma resolve os problemas

Sérgio Santos assume que a comu-nidade poderá servir como um in-termediário entre as pessoas e asideias. O responsável lembra que“muitas vezes acontece que essesproblemas nem precisam de umaação concreta, muitas vezes o pro-blema é não haver divulgação”.Para os responsáveis do projeto,outro dos objetivos é gerar discus-são, já que “criar discussão pelaprópria discussão resolve os pro-blemas”, argumenta Pedro Gaspar.O mesmo adianta que o fomentarda discussão tem um propósito:“ver os problemas, apresentar ou-tros e comentá-los, o que já é umbom efeito a gerar”.

No caso da realização de um en-contro, os responsáveis do projetoorganizariam os primeiros eventos.No entanto, estes eventos seriamsessões não muito prolongadas,onde se tentariam encontrar reso-luções para situações concretas. Oresponsável dá o exemplo de umfim-de-semana em que pessoas,particularmente na área da enge-nharia e designer, se juntem para“criar pequenas aplicações ou so-luções para resolver algum pro-blema”.

A “inépcia” da CMC

Na opinião dos próprios criadoresdo site, as pessoas “estão bastantedistantes da Câmara Municipal deCoimbra (CMC) e há uma certainépcia desta em fazer coisas peloscidadãos”, conclui Sérgio Santos.Para o informático o que falta é

Laura Peixoto,

de 21 anos,

considera que

as bibliotecas

da cidade

“deviam ter mais

informação” e

aponta a “fraca

restauração perto

da Escola Superior

de Educação de

Coimbra”, onde

estuda

“A

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O qUe fALTA em COImbrA?4 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 13

“uma ligação melhor com as pes-soas que estão a tentar resolver osproblemas da cidade e as que estãoa identificá-los”. Contudo, PedroGaspar considera que “se tivermospessoas da Câmara a olhar e a pen-sar nas sugestões, já conseguiría-mos fazer algo de bom”.Questionado sobre o ganho de cre-dibilidade do projeto, Sérgio San-tos acredita que “só o facto de aspessoas terem cientes aquilo deque faz falta já é meio caminhopara isso ser mudado”. DanielLopes comenta que “interessa queas coisas sejam feitas” e acrescentaque “já muita gente fala por aí e oimportante é ter pessoas que secheguem à frente”.

Sérgio Santos complementa quemuitos dos pedidos que existem“tratam da questão da transparên-cia, de serem apresentados maisdados por parte da CMC”. O infor-mático sustenta que se “se tivésse-mos informação aberta sobre o queestá a ser feito pela CMC, isso po-deria ser tratado por outras pes-soas”. O mesmo defende ainda quehá a perceção de que se espera“que o problema vá parar à Câmarae que seja ela a resolvê-lo” e acres-centa que um dos objetivos do pro-jeto é “também mudar um bocadoisso”.

O que falta mais?

Restarão com certeza muitas maissugestões que os habitantes destacidade gostavam de deixar. Entreelas – um supermercado na alta,bares mais calmos com um am-biente mais familiar ou estaciona-mentos em sítios estratégicos paradinamizar polos de comércio quenão os ‘shoppings’. “Só não vêquem não quer”, aponta para o ce-nário Luís Coimbra. Nota-se umcerto esmorecer na cara destas pes-soas a quem frente a frente se per-guntou o que faltava. E é tambémpor isso que este projeto e esta ex-periência social querem testar atéonde vai: “o site pode não ser a res-posta total mas é um abre olhos”,assegura Pedro Gaspar. Se apenasum dos problemas ficar resolvidojá é mais um habitante dentro dacomunidade que estará predis-posto a dar a solução a outro quetenha o mesmo receio.

Ativar “a cidadania no global” éoutra das formas de interpretar oprojeto. A ideia de pôr todas aspessoas em rede a discutir sobre oque poderá beneficiar todas é comcerteza um enaltecimento da en-treajuda mesmo numa cidade comcerca de 140 mil habitantes. O siteoquefaltaemcoimbra.pt continuaráa recolher propostas e a dar semnotar por isso as soluções no pró-prio fórum. Se as coisas evoluíremserá por parte da iniciativa dequem por lá escreve: “queríamosuma experiência social que não fi-casse afetada desde início porquem é que estava a organizar epor detrás disso. Para tentar nãoviciar nem tender para nenhumlado a conversa”, contextualizaSérgio Santos. Por isso, partilha-seem rede.

AS 5ILUSTRAção poR TIAgo dInIS

+

1º“Mais autocarros,

sobretudo depois

da meia-noite”

419votos

2º“Restaurar e pintar a

fachada de edifícios

abandonados e

degradados”

253votos

3º“Tirar aquele

"lixo" pintado nas

monumentais”

231votos

4º“Reabilitação urbana

da baixa”

223votos

5º“Comida depois das

04h00 da manhã”

141votos

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CIdAdE14 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | Terça-feira

Assinado no passadomês de Novembro, estáem desenvolvimento o Projeto de Acompanhamento Individualizado do Percurso Escolar dasCrianças do Planalto doIngote (AIPEC)

O projeto, que visa o combateao absentismo e ao abandono es-colar, é constituído por um grupode trabalho que, entre outros, in-cluí: a Câmara Municipal deCoimbra (CMC), a Escola Secun-dária D. Dinis e a Cáritas Dioce-sana de Coimbra.

O vereador da Habitação da câ-mara municipal, Francisco Quei-rós, começa por explicar que oprojeto nasce da “rede social daprópria autarquia, que envolveum conjunto de instituições so-

ciais do concelho”. O vereadoracrescenta que já tinha sido“constatado um abandono escolarelevado naquela zona da cidade”e aponta razões como a “pobrezae constrangimentos do ponto devista social”. Dessa constataçãosurgiu a “necessidade de criar umprotocolo que envolva várias ins-tituições, para procurar formas de

reduzir o absentismo e o insu-cesso escolar”, afirma ainda.

O projeto AIPEC conta com vá-rias vertentes, de acordo comcada uma das instituições. Pri-meiramente, cabe às escolas iden-tificar o problema e reportá-lo. Odiretor da Escola Secundária D.Dinis, Augusto Nogueira, explanaque quando “os alunos estão emausência, ficamos atentos e co-

municamos o caso à Comissão deProteção de Crianças e Jovens”.Posteriormente, é assinado “umdocumento de responsabilidadeentre os pais e os alunos, com co-nhecimento das escolas”, adiantaAugusto Nogueira, assegurandoser este o mecanismo geralmenteadotado. O diretor da Escola Se-cundária D. Dinis esclarece que,“graças ao trabalho que tem sidofeito, no terceiro ciclo consegui-mos praticamente erradicar oabandono”. O professor reco-nhece, no entanto, que a extensãodo ensino obrigatório até aos 18anos poderá constituir um pro-blema. “Há dois anos tínhamoszero por cento de abandono,agora vai ser mais complicado”,observa o professor.

Razões familiarese culturaisO abandono e o absentismo esco-lar parecem, no caso dos Bairrodo Ingote e do Bairro da Rosa, es-tarem assentes em dois pontos: aquestão da etnicidade e as famí-lias afetadas pela ausência de umafigura paternal. As crianças deetnia cigana, particularmente do

sexo feminino, constituem umdos grupos mais sensíveis - o quese prende com o facto de “os paiscasarem-nas muito cedo”, frisaAugusto Nogueira. Por outrolado, há “casos pontuais de jovensde famílias destruturadas, pelosmais diversos motivos”, esclareceainda o diretor da escola.

Também presente neste projeto

está a Cáritas Diocesana de Coim-bra, através do seu Centro Comu-nitário de São José. A diretora,Guida Rasteiro, afirma que o cen-tro está “incumbido de fazer umacompanhamento sistemático àscrianças que frequentam a escolana área de residência” da institui-ção. O acompanhamento é feitona ordem das quarenta crianças,de todos os ciclos do ensino.

O papel principal do centropassa por fazer “a intermediaçãoentre as escolas e as famílias,sempre que se justifiquem situa-ções de abandono ou absen-tismo”, comenta ainda GuidaRasteiro.

Um fenómeno emcrescimento?Questionado sobre a possibili-dade do abandono escolar ser umfenómeno recorrente, FranciscoQueirós diz que “existem duasforças contrárias”. O vereadorcontrapõe a atual conjuntura eco-nómica com o esforço feito pelasinstituições envolvidas no projetoe conclui que se “é verdade que háum maior esforço de um conjuntode instituições, também é verdadeque a situação tenderá a piorar”.Augusto Nogueira corrobora aafirmação e reconhece que “o pe-rigo do abandono tem tudo a vercom as condições sociais”. Comuma opinião diferente, GuidaRasteiro aponta para a diminui-ção do abandono escolar e afirmater “consciência de que poderánão aumentar, a tendência émesmo diminuir”.

As crianças e jovens do Bairro do Ingote e do Bairro da Rosa são particularmente afetadas pelo fenómeno de absentismo e abandono escolar

João Valadão

Instituições assinam protocolo no combate ao abandono escolar

RAfAELA CARvALho

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Este projeto já con-seguiu “erradicar”parte do abandonoescolar, segundoFrancisco Queirós

“A intermediaçãoentre as escolas e asfamílias”, é um dosobjetivos do projetode acompanhamento

Page 15: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

4 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 15

CIdAdE

Falta de serviço noturno afeta cidadãosOs SMTUC asseguram, através de um sistema de autocarros, o transporte urbano na cidade e arredoresentre as cinco e meia da manhã e a meia-noite. Contudo, quem deseje circular pela cidade a partir dessahora tem de obrigatoriamente utilizar o serviço de táxis. Por Ian Ezerin e Stephanie d’Ornelas

onstantemente abordadanas redes sociais e no meioestudantil está a possibili-

dade de Coimbra usufruir de umarede de transportes noturnos. Ànoite e de madrugada, a Baixa e azona da Praça da República são oslocais mais procurados por estu-dantes e a população jovem deCoimbra. Nem todos têm sorte deviver nas habitações do centro dacidade. O estudante do quinto anoda Faculdade de Farmácia, resi-dente em Celas, comenta que “eraimportante haver mais autocarros ànoite, não só para quem sai à noite,mas também para quem vai estudarpara associação ou para as canti-nas”.

A ausência de transporte públicono período noturno leva a conse-quências na vida da cidade e dos ci-dadãos. A estudante residente emSanta Clara, Carina Rodrigues, queutiliza os transportes públicos todosos dias, esclarece que “saio à noiteprincipalmente para Praça da Re-pública, mas como não há o auto-carro de regresso a casa, tenho deesperar pela disponibilidade de co-nhecidos que me dão boleia”.

Os residentes de áreas centraissão também atingidos com esta si-tuação. O estudante Adriano Mou-rão, residente na Praça doComércio, sempre que vai a algumlugar distante e tem que regressar à

noite, depende de transportes al-ternativos. “Eu já tive problemaspara voltar do Fórum, tenho sem-pre que voltar de táxi”, conta. O es-tudante tem também dificuldadesem movimentar-se no período deaulas: “tenho que apanhar o auto-carro uma hora antes, deviam exis-tir mais linhas para o Polo II”.

A procura não ésignificativa

O administrador dos Serviços Mu-nicipalizados de Transportes Urba-

nos de Coimbra (SMTUC), ManuelCorreia de Oliveira, esclarece que aideia de introduzir os horários su-plementares no período da uma atéàs cinco de manhã não é uma reali-dade provável. “Isso é impraticável,está fora de questão por várias ra-zões”, afirma o responsável. Na ex-periência de Manuel Correia deOliveira, a procura não é significa-tiva e comprova isso com uma via-gem que fez num dos últimosautocarros do dia, em que a certa

altura apenas se encontrava o pró-prio, o motorista e um utente.

A possibilidade de uma rede no-turna nunca foi, no entanto, tentadaem Coimbra. A exceção dá-se ape-nas em ocasiões especiais, como nasemana da Queima das Fitas (QF).Nos últimos quatro anos foram dis-ponibilizados transportes gratuitospara apoiar as noites do Parque: “naperspetiva dos estudantes utiliza-rem o menos possível os automó-veis”, conta o administrador. Deacordo com Manuel Correia de Oli-veira, durante os quatro anos emque foi disponibilizado o transportenoturno na QF só num foi conse-guido apoio para isso, mas pratica-mente simbólico. O administradorconta que o valor dispensado parapossibilitar os autocarros é alto.“Representa um bocado de di-nheiro, foi um valor significativo”,afirma.

Por ter condições diferentes dasempresas semelhantes que existemno Porto e em Lisboa, os SMTUCestão mais limitados no seu desen-volvimento, uma vez que os trans-portes urbanos são propriedade daCâmara Municipal de Coimbra, e sóhá o apoio financeiro por parte domunicípio.

Falta de financiamento“É muito difícil sobreviver e por issoé que não temos a possibilidade de

uma renovação da frota que gosta-ríamos de fazer”, esclarece ManuelCorreia de Oliveira. O administra-dor constata que entre 2002 e 2010a frota foi renovada, “isso era possí-vel porque era a única verba do Es-tado, através do Plano deInvestimentos da AdministraçãoCentral, distribuído por intermédiodo Instituto da Mobilidade e dosTransportes Terrestres (IMTT), ex-plica Manuel Correia de Oliveira.Há três anos que os SMTUC não re-cebem este valor, facto que implica

um maior esforço às viaturas queestão em serviço. A necessidade derenovação da frota é essencial, vistoque “ainda sete dos autocarros emfuncionamento são de 1984”, sus-tenta o administrador.

A última aquisição dos SMTUCcom a verba do IMTT foi um ‘trol-ley’, comprado em 2009. Foi possí-vel pagar metade do valor do meiode transporte com a verba recebidado instituto, na altura. A perspetivaera comprar um ‘trolley’ por ano

com a verba municipal, mas issonão se concretizou. “A ideia era terem cinco ou seis anos, umas seisviaturas dessas a funcionar”, expõeManuel Correia de Oliveira. O ‘trol-ley’ custou 475 mil euros, mais de280 por cento do valor de um auto-carro comum, que custa cerca de170 mil euros.

O administrador acredita que acompra dos ‘trolleys’ vale a penaporque a manutenção desses veícu-los é muito mais reduzida. “Aindatemos um ou dois motores de ‘trol-leys’ encaixotados, nunca foramsubstituídos e estão a funcionar”,explica. Além disso, em termos am-bientais, os ‘trolleys’ não produzemtanta poluição nem tanto barulhocomo os restantes autocarros.

A recente renovação do sistemados passes levou a benefícios con-sequentes no funcionamento doserviço. Permite, em tempo real,saber a procura em cada uma das li-nhas. Nos sistemas antigos osdados sobre o número de viagensera uma aproximação da procura,mas com o novo sistema cada passeutilizado permite saber o númerode viagens utilizadas. Além disso, oadministrador dos SMTUC explicaque o desconforto relacionado noprocesso de carregamento dos pas-ses: “em 2013 será possivelmentecarregar o passe pela internet”.

Com João Valadão

C

Entre a meia noite e as cinco e meia da manha os utentes estão limitados à utilização do serviço de táxis

“Como não há autocarro de regresso a casa,tenho de esperar porquem me dá boleia”

ServiçoS municipalizadoS de tranSporteS urbanoS de coimbra

StEPhAnIE SAyURI PAIxãoStEPhAnIE SAyURI PAIxãoStEPhAnIE SAyURI PAIxão

StEPhAnIE SAyURI PAIxão

“Isso é impraticável,está fora de questãopor várias razões”,afirma o administradordos SMTUC

Page 16: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

PAÍS16 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | Terça-feira

13 anos depois da sua fun-dação, o Bloco de Esquerda(BE) sofre a sua primeirarenovação na liderança dopartido. A saída de Fran-cisco Louçã deu lugar a umacoordenação paritária en-cabeçada por Catarina Mar-tins e João Semedo. Foi esteúltimo, deputado que as-cendeu à coordenação dopartido, que faz um balançoda atualidade política e so-cial de Portugal e algumasdas soluções propostas peloBE, em entrevista ao JornalA Cabra

O BE apresentou seis medidas

para salvar a economia. Acre-

dita que o Governo ponha em

prática alguma das propostas?

Não. O PSD e o CDS-PP já tornarammuito claro que não aceitarão pro-postas de alteração ao Orçamentodo Estado (OE) que propuseram naAssembleia da República (AR). Aexpectativa que tenho é que vamoscontinuar o combate que travamostodos os dias, e sempre para queeste Governo seja demitido. Paraque haja um Governo de esquerdaque possa aplicar as propostas queforam rejeitadas na disussão desteOE.

O BE defende a renegociação

da dívida. Como encara o plano

de refundar o Memorando, que

o Governo anunciou?

Quando o Governo fala em refundara divida do Memorando, significa o

agravamento da política de austeri-dade, reduzindo a despesa pública,para poder recuperar mais quatromil milhões de euros. Como vai oGoverno diminuir essa despesa? Re-duzindo e descaracterizando o que éhoje o nosso Estado Social. O Go-verno já disse que será na despesacom a saúde, a escola pública, a se-gurança social e através do despedi-mento de dezenas de milhares defuncionários públicos que vai redu-zir esses quatro mil milhões deeuros. A refundação do Memo-rando, do ponto de vista do Go-verno, é mais Memorando, nosentido de mais austeridade e maisdesemprego.

Na atual conjuntura acha pos-

sível o Presidente da República

demitir o Governo?

Muitas vezes as pessoas pergunta-nos se um Governo com maioria naAR pode ser demitido. A estabili-dade e as competências de um go-verno não são medidas alcançadas easseguradas apenas por uma maio-ria parlamentar. O que vemos e re-gistamos na sociedade portuguesa éque este Governo incompatibilizoucom o país e até com a base políticae social que o elegeu. Se este Go-verno continuar agravar a dívida pú-blica, aumentar o défice e odesemprego, se a pobreza não dei-xar de continuar a crescer no nossopaís, como é que o Presidente daRepública pode permitir que o Go-verno continue esta obra de destrui-ção social e económica do país? Eletem um compromisso que assumiucom os portugueses, de respeito pelaConstituição. Esse compromisso de-verá levá-lo a interromper esta go-

vernação. Se o Governo não se de-mitir, pode também acontecer atra-vés do CDS-PP, que tem feito muitomalabarismo para simultaneamenteestar no Governo, e ao mesmotempo estar na oposição. Há tensõesna própria coligação, e isso é umponto de fragilidade, que resulta deum contexto onde um país não acre-dita no Governo. No entanto, serádifícil porque, na realidade, PSD eCDS-PP foram as forças que apoia-ram a recandidatura de Cavaco Silvaà Presidência da República, foramos partidos que o puseram emBelém. PSD e CDS-PP têm umamigo em Belém, mas a política nãose pode basear nas amizades.

O BE coloca a hipótese de

algum tipo de coligação pré-

eleitoral? Com que partidos?

Não. O que é norma, na democra-cia, é que cada partido concorra porsi às eleições, e julgo que assim seráno caso de haver eleições antecipa-das. O Bloco procurará ter os me-lhores resultados possíveis, e depoisse verá a possibilidade de um enten-dimento para formar um governo deesquerda.

O BE aceitaria fazer parte de

uma coligação pós-eleitoral

com o PS e a sua atual direção,

caso esta assuma uma posição

inequivocamente contra o me-

morando?

O BE definiu uma fronteira a partirda qual considera que é possível queum governo execute uma política deesquerda. Um governo que diga“nós queremos mudar as políticasdo Memorando, não queremos maisMemorando” é um governo que deu

um passo muito importante parapoder vir a concretizar uma políticade esquerda. Veremos se há condi-ções para isso. Depende da expres-são da vontade eleitoral. Se houveruma maioria de esquerda e um en-tendimento mínimo para um pro-grama de esquerda, não será porresponsabilidade do BE que não ha-verá um Governo de esquerda emPortugal.

Há quem defenda a saída dos

países com economias mais

frágeis do euro. O BE reco-

nhece que isso seria uma opção

válida para economias como a

portuguesa?

A nossa posição é clara: não pomosem hipótese a saída da UE nem asaída do euro. É evidente que a in-tegração de Portugal na Zona Eurosuscitou um conjunto de problemascuja dimensão talvez tenha sido malavaliada. Mas as consequências dasaída do euro seriam devastadoras,neste momento. Haveria uma des-valorização [de moeda] brutal, e ostrabalhadores portugueses ficariamnuma situação muito mais difícil.Nós não equacionamos essa possi-bilidade, temos é de admitir que ofuturo da Europa é uma caixinha desurpresas. Nós não abandonamos aideia europeia, mas reconhecemosque há muitos fatores de desagrega-ção da UE. Veja-se o que se está apassar com uma discussão tão sim-ples como a de um Orçamento Co-munitário: os países mais fortes, quetêm mais responsabilidade, são osgovernos que mais querem cortar nasua comparticipação para Orça-mento da UE. Há elementos naspróprias políticas liberais e conser-

vadoras de desagregação da ideiaeuropeia e do projeto da construçãoda UE. Neste contexto, e apesar des-tes pontos de interrogação sobre ofuturo, consideramos, e não temosnenhuma dúvida sobre isso, que sairdo euro seria um suicídio para o paíse que traria consequências gravíssi-mas para as condições de vida dostrabalhadores portugueses.

Na sua opinião, os estudantes

devem-se envolver em ações

promovidas pela sociedade

civil, que transcendem os pro-

blemas especificamente estu-

dantis?

Primeiro, o estudante é um cidadão,tem direitos de cidadania, e tem in-teresses e problemas enquanto por-tuguês. Há um conjunto deproblemas muito próprios nessesetor social importantíssimo na so-ciedade portuguesa. Julgo que hojeum em cada três jovens está desem-pregado – são números exorbitan-tes e chocantes e que criam enormestensões na sociedade. É natural quehaja cada vez mais participação dejovens e de estudantes na movimen-tação social. Depois existem os pró-prios problemas dos estudantes, doEnsino Superior (ES) e nos outrosgraus de ensino. Todos sabemos queos apoios sociais têm sofrido cortessignificativos: as propinas não dei-xam de aumentar, as bolsas estão-sea reduzir em número e em valor;isso cria um colete-de-forças que di-ficulta grande parte dos estudantesa conseguirem concluir os seus es-tudos na universidade.

António Cardoso

Daniel Alves da Silva

João Semedocoordenador do bloco de eSquerda

“Sair do euroseria um suicídio”

AnA moRAIS

Entrevista na íntegra em

cabra net@

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4 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 17

MUNdO

Orçamento da UE não traduz coesão

Estados-membro debatem orçamento daUnião Europeia, quepode por em causa osfundos para a politica decoesão.Assimetrias entrepaíses também podemsofrer

Num clima de crise económico-financeira, os estados-membrotêm debatido sobre a procura deum acordo que satisfaça todas aspartes. A problemática do Orça-mento Europeu prende-se com adistribuição que implica que “sefaçam escolhas que são fundamen-tais para a política europeia”,afirma a eurodeputada do Bloco deEsquerda (BE), Marisa Matias.Seis anos após a negociação do pri-meiro Orçamento orientado parauma Europa alargada para 25 es-

tados-membro, o impasse man-tem-se agora numa Europa de 27.Perante a discussão sobre a distri-buição das parcelas orçamentais, apossibilidade da Política AgrícolaComum (PAC) manter a parcelacorrespondente a quase metadedas despesas permanece, deixandoa política de coesão para segundoplano.

Previstas nos tratados europeus,estas políticas têm sido despreza-das nas negociações, procurando-se uma diminuição dapercentagem que lhes corres-ponde. Nas palavras da eurodepu-data, “vê-se muito esta narrativa depaíses que são contribuintes líqui-dos e outros que são beneficiários”olhando apenas para a contrapar-tida que cada estado. O mesmo éreiterado pelo eurodeputado inde-pendente, Rui Tavares, que refereque a política de coesão “é a vítimamais fácil, para a qual os países quequerem diminuir o orçamento daUnião se viram”. Contudo, o euro-deputado relembra o carácter pro-gramático dos artigos dos tratadoseuropeus relativos à coesão, “de-

vendo estar refletidos em todas aspolíticas da UE”.

Desequíbrios nas relações entre os estados-membrosApós a aprovação do Tratado deLisboa, foi extinta a exigência deunanimidade nas tomadas de deci-são do Conselho da União Euro-peia, abrindo caminho para umdesquilíbrio de poderes em favorde países de maior dimensão,como a Alemanha ou a França. “Ospaíses passaram a ter peso dife-rente nas decisões do Conselho”,afiança Marisa Matias, tendo comoconsequência “mais legitimidadepara interferir nos assuntos daUE”. Porém, a influência desta al-teração na balança de poderessobre as decisões orçamentais éposta de lado pelo ex-eurodepu-tado do Partido Social Democrata eprofessor catedrático da Faculdadede Direito da Universidade deCoimbra, Manuel Lopes Porto. Oprofessor afirma não ver “na re-ponderação dos votos do Conselhono Tratado de Lisboa um fator”.

Porém, o social-democrata vêtambém uma agravante na entradados países leste-europeus. “O alar-gamento foi bom para os países deleste e respetivas populações”, mas“pela sua população e pelo estadoem que estão justificam as verbasrecebidas” representando “umanova concorrência não so em ma-téria de fundos mas também emtermos de competitividade”.

Resultados insuficientesda politica de coesãoApesar de representar cerca de umterço do Orçamento da UE, os re-sultados da aplicação do dinheironas políticas de coesão têm sido in-suficientes. “Esta política de coe-são tem ganho muito má fama emBruxelas, de um fundo mal apli-cado por comissários e que perdemuito em corrupção em certos paí-ses onde há fenómenos de corrup-ção endémica”, assegura RuiTavares. Porém, a eurodeputadado BE coloca o ónus sobre as me-didas de austeridade, reiterandoque “no orçamento comunitárioque deveria colmatar as lacunas,

acabamos por ver também um Or-çamento de austeridade, que favo-rece também lógicas decompetição, de concorrência e nãode convergência”.

Independentemente da primaziadada aos fundos destinados à poli-tica de coesão comunitária en-quanto aparelho-chave dissuadorde assimetrias económicas, a suaforma de aplicação é desprovida deconsenso. “Estes fundos são neces-sários para a UE para cumprir assuas obrigações legais, como o pa-gamento de bens, trabalhos e ser-viços providenciados” afirmouMartin Schulz, presidente do Par-lamento Europeu em comunicadooficial, após recusa dos negociado-res do Orçamento em comparecerà reunião com o Conselho. No en-tanto, em queixume dos resultadosdas negociações e citado pelo sitedo canal de televisão News Asia, opresidente do Partido SocialistaEuropeu, Hannes Swoboda, reiteraque “se não conseguem concordarem pagar as contas, em que é queeles podem concordar?”.

Com António Cardoso

Washington e Coloradolegalizam consumoe comércio de canábis.América Latina perspetiva a mesmapossibilidade

No passado dia 6 de novembroos estados norte-americanos deWashington e Colorado aprova-ram, em referendo, a legalização do

uso de canábis para fins recreati-vos, para maiores de 21 anos eposse até 28,3 gramas. Esta me-dida resultou da procura de “novasabordagens e práticas mais corre-tas por todo o mundo”, assumindoque “existem vantagens numa pos-sível legalização”, nas palavras deTim Surmont, doutorando emCiência Política na UniversidadeNova de Lisboa, ex-conselheiro po-lítico sobre droga no município ho-landês de Gemeente e antigoinvestigador na área do fenómenodas drogas na Universidade deGent.

Num país onde, de acordo comTim Surmont, “os níveis de con-sumo e tráfico são equivalentes ousuperiores aos da maioria da Eu-ropa”, o movimento pró-legaliza-ção tem registado um crescimentosignificativo de apoiantes, nos últi-mos anos. Ainda assim, a Agênciade Combate à Droga, dos EstadoUnidos da América, promete a opo-sição das leis federais à legalizaçãodo uso de canábis, com o apoio dosestados mais conservadores“menos propícios a votar neste tipode leis”, afirma o politólogo.

Apesar da controvérsia, a regula-

mentação poderá trazer, a longoprazo, vantagens económicas. Se-gundo o investigador, “o Estadopoderá beneficiar a nível fiscal, masnão é possível prever se trará maisbenefícios do que custos”. Os con-sumidores também poderão bene-ficiar da legalização, com umproduto regulado pelo Estado quepoderá ser avaliado na sua quali-dade.

Porém, Tim Surmont alerta paraos riscos que possam surgir com alegalização: “criar impostos asse-gura que as organizações crimino-sas continuarão a produzir e a

distribuir marijuana ilegalmente”.Perante esta situação, vários chefesde estado da América Latina têmprocurado soluções relativas aoproblema da droga e da sua possí-vel legalização. Contudo, esta me-dida iria enfrentar a oposição doscartéis, que têm como fonte delucro a exportação e o comércio ile-gal. O ambiente político atual temsido pautado pela procura de solu-ções para o problema da droga,ainda assim é difícil prever a eficá-cia destas medidas no contexto in-ternacional.

Com António Cardoso

América abre portas à legalização da canábis

JoAnA AmoRIm.

Apesar de representar cerca um terço do orçamento da UE, a aplicação nas políticas de coesão têm sido insuficiente para diminuir o fosso entre os países

Luís Azevedo

Pedro Martins

Pedro Martins

Bárbara Sousa

Page 18: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

ArTES18 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | Terça-feira

s miúdos são problemáti-cos, e quando vivem emdificuldades são-o ainda

mais. Mas Henry Barthes (interpre-tado de forma sublime por AdrienBrody) não quer saber. Os seussentimentos ficaram no passado, oupelo menos é o que quer transpare-cer. Já lhe bastam os problemas dasua vida pessoal. A última coisa deque precisa é de se preocupar commais uma fornada de alunos mal-comportados, criados por um sis-tema defeituoso, que acabarão porlhe sair das mãos ainda antes deconseguir distingui-los pelo nome.“Não há responsabilidade em ensi-nar, mas sim em garantir que nin-guém se matará na sala de aula”,confessa-nos.

Na sua opinião, a culpa dos miú-dos irrequietos é dos pais irrespon-sáveis. “Para ser pai devia ser

preciso apresentar currículo”, diz acerta altura. O realizador Tony Kaye- que já abordou esta temática deputos problemáticos no sobeja-mente conhecido “América Proi-bida” - quer deixar esta posiçãobem vincada.

Neste drama, em jeito de docu-mentário, Kaye não rompe os câno-nes dos filmes do género. Apesar da“Indiferença” (tradução à letra dotítulo original “Detachment”) desteprofessor, a personagem de Brodyacaba por se deixar envolver. Sabe-se que o coração humano é molequando a personalidade parecemais dura e a verdade é que esta é aúnica forma de Barthes esquecerpor momentos a sua difícil vida pes-soal e a sua solidão, e se sentir ne-cessário. Vimos o mesmo acontecercom Michelle Pfeiffer em “MentesPerigosas” e com Ryan Gosling em

“Half Nelson”.No fundo, esta é a história de ho-

mens e mulheres que sendo jovensse sentem velhos e sendo velhos sevêm perante uma vida sem memó-rias boas. Tony Kaye leva-nos a va-guear por uma vida crua, cheia deruas desertas e perigosas. Uma via-gem vertiginosa ao âmago de umasolidão desconsolante. O intuito émostrar que o bullying não só entrealunos, mas também atinge os pro-fessores e nem todos têm, para obem e para o mal, a coragem de oenfrentar com humor negro e umfrasco de comprimidos.

“O Substituto” quer mostrar quea solução de todos os problemasnão está ao virar da esquina. Fica, ebem realisticamente, a ideia de queo sistema está pelas horas da mortee nem um drama romanceado poderesolver o problema.

O Substituto

CiN

EM

A

Corações de ardósiacrítica de lourenço carvalho

de

TONy KAyE

com

AdrIEN brOdy,ChrISTINA hENdrICKS

2012

stá na moda fazer dofim do mundo a “co-queluche” do ci-

nema. E este último ano,sabe-se bem porquê, têm-serevelado bastante profícuonesta matéria. Só que estapraga contamina todos. Nãotemos apenas aqueles 'block-busters' - como “Armageddon”ou “2012” - que se aproveitamda forma como o público sesente fascinado pelo medo e osubmergem em vistosos efeitosespeciais. O dito cinema deautor também começa a mos-trar sintomas de tal mal - “Me-lancolia” de Lars von Trier foi odesastre a que se assistiu noinício deste ano e depois foiAbel Ferrara que se atirou decabeça para o fim e se afogoudramaticamente com “4:44 –

Último dia na Terra”.Nesta Manhattan, onde vive

o casal de artistas Cisco ( Wil-lem Dafoe) e Skye (ShanynLeigh), Abel Ferrara rompecom o mito de que com o fimdo mundo vem o caos e a anar-quia. Não há multidões emfúria, carros a arder ou mon-tras destruídas. O mundo pa-rece estar como sempre foi: ocontador dos táxis continua e aainda há comida ao domicílio.

O que Abel Ferrara se es-força por nos mostrar é quequando chegar a hora final oque todos procuraremos é oreencontro com os que nosforam mais próximos e a artecomo catarse, como exteriori-zação do medo e forma de cadaum se sentir menos perdido esozinho.

Porém, depois de tudo isto,será esta visão realista? Nãoserá acreditar demasiado nabondade da natureza humana?Não devia a promessa do fimser o fim em si? Não podemosdeixar de perguntar porquetudo continua a funcionar damesma forma. “4:44” está car-regado de situações irreais esem nexo.

Ferrara tentou mostrar queo apocalipse é só mais umacontecimento na rotina dodia-a-dia. Um acontecimentotão ordinário que nem razãosuficiente para apanhar umamoca é. E, apesar de ser umavisão melhor do que a quequalquer ‘blockbuster’ nosmostrou até agora, tambémnão convence.

A vulgaridade dofim do mundo

4:44 – Último dia na terra”

rafaela carvalho

“ O

E

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Artigo disponível na:

FiLME

de

AbEL FErrArA

editora

ALAMbIqUE

2012

Page 19: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

FEITAS4 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 19

em vistas as coisas, amúsica sempre evoluinum contraciclo à socie-

dade. E o conceito é bem maissimples do que parece. Quemcriou o blues, roubado e disse-minado nas épocas mui primiti-vas do capitalismo dominadopor brancos? Os escravos ne-gros, símbolos da opressão. Odoom-metal nasceu no ReinoUnido, fruto do aborrecimentodo industrialismo em série.Hoje em dia, à superfície, a mú-sica sustenta-se no plástico, naprodução industrial em série, nomau e no ordinário. À margemde tudo isto, começa felizemntea surgir uma nova música mar-ginal, que vê no que está lá atrásuma fonte inesgotável de rein-venção. Uma nova arte, se mepermitem, um movimento nobi-líssimo onde pontificam nomescomo Flying Lotus ou GaslampKiller, que vêem no passado umreflexo do futuro. Nesta espécie

de contraciclo, o norte-americano começa agora a assumir po-sição de destaque na Brainfeed e muito do mérito deve-se a“Breakthrough”. No sexto registo de originais, revela-se ins-tantaneamente uma colecção de harmonias distorcidas, me-lodias quentes (Gonjasufi canta e produz num par de feixas) evariações brilhantes que assentam e crescem com as váriastexturas quebradas de ‘flow’ inesgostável – por entre ‘sam-pling’ e criação, fica uma espécie de homenagem ao labirín-tico trabalho de Fly-Lo. No fundo, este trabalho de reciclagemcontracíclico de William Benjamin Bensussen resulta numproduto totalmente novo e refinado. Apesar de, em abono daboa verdade, “Breakthrough” se revelar-se muito mais cere-bral que “Spit to The Grave”, mas menos dançável e noctívagoque a mixtape “Akuma No Chi Ga Oduru”, fica no ar a certezade que William sabe escolher o melhor caminho, o introspec-tivo: aquele que é sempre mais difícil, mas que nos permiteconhecer-nos mais e melhor a nós próprios.

á cinquenta anos, Rentes de Car-valho fixou-se no país onde hátrês séculos viveu e escreveu Es-pinoza, famoso filósofo nascido

de uma família judaica expulsa de Portugale radicada em Amsterdão. Puro acaso. Masacaso apenas no país de destino, porqueabandonar Portugal é uma estranha lei queo tempo não consegue revogar. Só para al-guns, claro. Não é estranho, portanto, ter-se ignorado durante tanto tempo um autorque, felizmente ainda vivo, só aos oitentaanos vê consagrar-se uma obra que é dasmais relevantes que a literatura portuguesanos legou em muito tempo. O país é estreito,é certo, de espaço e de mentes, o que semdúvida não contribui nem para a criaçãonem para a fruição de obras cuja arte nãoestá em primeiramente lucrar, ou imedia-tamente fazer render.

Rentes de Carvalho domina um tom euma argúcia invulgares na narrativa portu-guesa. Os oficiais da escrita em portuguêsesquecem-se com frequência de que a forçae a coragem são essenciais para que a escritase aguente de pé, não se dissolva no ar comofumo. A clareza e a nitidez do olhar são afinsà limpidez da prosa. Se um autor não vêbem, não escreve bem; se um escritor pensade modo retorcido, a frase sai-lhe retorcida.Ora, a leitura do romance La Coca mostracomo é possível escrever-se em portuguêssem se recorrer ao nevoeiro. Pelas críticasque li ao livro e à escrita do autor, fala-semuito de um tom jornalístico ou cinemato-gráfico. Eu diria que estamos perante umromance de qualidade ímpar, perante a li-teratura no que de melhor ela tem. Não éjornalismo, embora o tom seja o da impar-cialidade da investigação; não é guião de ci-nema, ainda que a nossa imaginação recrie

constantemente, com uma clareza de filme,as cenas que se vão sucedendo. Esta prosavem de longe, da tradição de António Vieirae de Eça de Queirós.

É um português regressado à sua terranatal quem narra a história. Em busca dememórias da infância, de um tempo irre-mediavelmente perdido, procura com-preender o modo como o tráfico de drogaalterou a realidade social do Minho e da Ga-liza. Com a calma de um detective, vai-seencontrando com figuras do seu passado,ao longo de um território de fronteira quecruza, alternadamente, para se aperceber deque o mundo quase pacífico de outrora docontrabando do álcool e do tabaco, se vê in-vadido pelas redes de tráfico de droga, comtudo o que isso acarretou: a violência, o en-riquecimento da noite para o dia, as amea-ças, as vinganças... As personagens vãodesfilando, evocando um passado muitodistinto, um passado talvez deformado pelamemória: «Relâmpagos de memória. Tãovivos como se os factos acabassem de acon-tecer. Por vezes incómodos, feitos juízes,opondo-se aos arranjos que inconsciente-mente propomos para moldar as versões dopassado. (...) A memória que nos põe empalcos onde nunca estivemos (...) Cheiatambém de armadilhas em que de boa von-tade caímos. (...) A memória e o seu com-parsa, o esquecimento.»

Um grande poder de sugestão e um olharterno que o autor lança sobre as suas per-sonagens fazem deste um livro singular. Sóa mestria e um grande domínio da matériada escrita podem dar obras assim. Ler hojeRente de Carvalho é ler um clássico no seutempo.

Que coca é esta que nos falta?

quase um trauma de perda –como aqueles sujeitos lastimo-sos que dois meses após o fimda relação continuam a insistir

em debitar por tudo quanto é rede socialas fotos daquela viagem a dois para ver odesbotar das amendoeiras em flor – a in-dústria cultural norte-americana, ou pelomenos a dos videojogos, não superou ofim da União Soviética. ‘World in Con-flict’ deitava-se a imaginar uma invasãorussa da costa oeste dos Estados Unidose, de década a década, ‘Red Alert’ traz-nos ao ideário o envilecimento de um Le-nine humanoide.

Para ‘Call of Duty: Black Ops II’, isto ébrincadeira de meninos, e vai muito maislonge. Um enredo capaz de fazer corar oargumentista mais básico da ação con-temporânea da era Reagan. Toda a raizde uma confrontação entre analepses eprolepses tem lugar em 2025, a bordo doUSS Obama, durante (pasme-se Fu-kuyama!) a segunda Guerra Fria. Peloolhar de vários personagens (marca deCoD) somos levados por diferentes mis-sões que ultrapassam a mais esquizofré-nica noção de intersecção de linhas dehistória e temporais. Tão depressa par-tilhamos um apartamento com Noriega,como avançamos armados até aos den-tes com Savimbi perante um magote de

guerrilheiros do MPLA, de catana empunho e um irrepreensível português doBrasil na ponta da língua. E tudo isto sobum pano narrativo onde aparecem bempontuados cada um dos elementos doconflito dramático.

De resto, não se almeja grande evolu-ção na série de CoD, a estrutura de cam-panha é a mesma de sempre, as armas –até mesmo as futuristas – têm um certogosto de já visto e a liberdade de jogocontinua determinada pelo comandanteda missão. A emancipação de escolha dojogador, essa sobra para duas ou três op-ções disponíveis ao longo dos inúmero edolorosamente infinitos trechos narrati-vos que persistem em interromper cadacinco minutos de ação.

Remanesce a derradeira esperança, aúltima cidadela, aquilo que a Treyarchdeveria ter reconhecido como a suagrande aposta, num período em queestão bem patente que os modos de cam-panha em FPSs estão, para grande la-mento, votados à sua morte. Ainda longede ‘Battlefield’, nota-se porém um grandeavanço desde ‘CoD:MW’. Tanto na suaforma “casual”, como na opção ‘zombie’,que regressa com novas preferências.

No final, assalta-nos uma dúvida: queé feito do 9/11 no meio de tudo isto?

OUViR

de

j. rENTES dE CArvALhO

editora

qUETzAL

2011

de

GASLAMP KILLEr

editora

NINjA TUNE

2012

breakthrough”

antónio matoS Silva

Artigos disponíveis na:

Hla coca”

João miranda

bruno cabral

call of duty: black ops ii”

JOGAR

black ops 2 oua urgência de

um lançamento

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

LER

O revisitar do próprio

É

A Coca quenos faltava

plataforma

PC, PS3, XbOX 360, WII U

editora

TrEyArCh/ACTIvISION

2012

B

Page 20: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

Perguntar a razão deabandonar Bolonhasupõe, primeiro, per-

guntar a razão por que se adoptouBolonha. Ora, Bolonha não foi

adoptado por qualquer razão

ligada à melhoria da quali-

dade do ensino. Bolonha resul-tou, tão só, da necessidade deharmonização dos ciclos de estu-dos a nível europeu a fim de sim-plificar o livre reconhecimento noespaço comunitário dos diplomasde estudos pós-secundários com aduração temporal mínima de trêsanos. Bolonha, nessa medida,

mais não representa que um

instrumento de consecução

de um mercado interno

definido, também, pela livrecirculação de pessoas.

Com Bolonha sacri-

ficou-se a qualidade, a

densidade e a profun-

didade dos programas,

com o empobreci-

mento dos conteúdos e

a fragilização dos sabe-

res; donde, a tec-nicização, aburocratiza-ção e a se-

cundarização do ensino superior.Bolonha implicava um

claro aumento do investi-

mento e do financiamento

público no ensino superior,necessário, desde logo, para

permitir um ensino de proxi-

midade pessoal entre o do-

cente e os alunos, proximidadeapenas possível com uma dimi-nuição severa da ratio professo-res/alunos.

Aplicar Bolonha num con-

texto de restrição orçamen-

tal é tarefa, pois, impossível.

Não estamos, pois, em Bolo-

nha. Nunca estivemos em

Bolonha. Estamos numa pá-

lida caricatura de Bolo-

nha. Caricatura pelaqual o Estado, demodo engenhoso con-seguiu, em contra-

venção ao

estipulado na

Constituição da Re-

pública Portuguesa,

através da nova rea-

lidade a que

os Mes-

t r a d o s

dizem respeito, pratica-

mente deixar de financiar es-

paços significativos dos

estudos pós-secundários,

convertendo o ensino supe-

rior, antes bem público, em

bem praticamente privado,atento o elevadíssimo valor dasrespectivas propinas/preços.

Com Bolonha o saber bana-

lizou-se, o quantitativo sobre-leva o qualitativo, o descritivo oexplicativo, o demonstrativo o crí-tico. Com Bolonha, em con-

texto de crise económica e de

subfinanciamento politica-

mente orientado, o ensino

superior tende a voltar ser

um ensino de elites, mas nãode elites culturais-científicas,mas, apenas, de elites sócio – eco-nómicas, logo um ensino clas-sista.

Acabar com Bolonha, no

quadro brevemente descrito,é um imperativo. Apenas semBolonha o ensino superior poderárecuperar o perdido ‘status’ depausado e democrático local deconstrução e transmissão críticade conhecimento.

SOLTAS20 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | Terça-feira

UMA IdEIA PArA O ENSINO SUPErIOr

MANUEL CASTELO brANCO • PrESIdENTE dO ISCACrITMO CONTAGIANTE

O Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) foi, durante uma hora,espetador de cinco grandes talentos da música portuguesa. Da von-tade de trocar ideias, experiências e emoções surgira pela vontade defazer música e partilhar o palco os que são hoje os SuperNada. A pro-duzir desde 2002, a banda, que junta Manuel Cruz, Rui Lacerda, Eu-rico Amorim, Miguel Ramos e Francisco Fonseca, lançou este ano oseu primeiro CD – “Nada é possível”. Uma compilação de dezasseisfaixas apaixonantes que faziam adivinhar um emocionante concerto.

Com uma sala composta, das mãos de Manuel Cruz irromperam osprimeiros sons. Da guitarra e do baixo emergem os primeiros acor-des. Da bateria surgem batidas frenéticas. Das teclas do piano soltam-se as notas e o silêncio cai. O ritmo foi aumentando e uma sinfónicacombinação de sons penetraram-nos os ouvidos. Atrevidamente, ascordas vocais vibram e a música completa-se. E assim envolvidosnuma perfeita simetria se introduziram.

A deliciosa harmonia entre os membros era notória. Manuel Cruz,com a melodia da sua voz e uma profunda criatividade, fez combinaros mais estranhos e vibrantes sons, que foram completando cada mú-sica tocada. A energia e o à-vontade da banda, em palco contaminaramo público, que não resistiu em juntar-se aos artistas e sentir de pertotodo aquele frenético momento. Tornou-se assim um concerto de ami-gos para amigos.

O pedido de mais músicas foi deixado. Que continuem a produzir!Que continuem esta prematura compilação de sons! Que continuem aapaixonar! Que continuem a vibrar! Que continuem juntos pois todoo concerto foi o imperativo exemplo que a boa música portuguesa nãomorreu.

Por inês Martins

abandonar bolonha

CrITIC’ArTE

InêS mARtInS

...só havia um telemóvelna Associação Académica deCoimbra.

A luta estudantil havia obrigadoAntónio Guterres, pretendente doPS ao cargo de Primeiro-Ministro,a declarar paixão pela educação.Perante a nossa Academia, pro-mete ainda revogar a lei das pro-pinas do governo PSD de CavacoSilva e Ferreira Leite.

Chegado ao poleiro, apenas asuspende e, passados dois anos,

cai-lhe a máscara da paixão. Em1997, faz entrar em vigor a suaprópria lei de propinas.

As eleições para a Direcção-geral da Associação Académica deCoimbra (DG/AAC), que atéentão decorriam em Março, porimposição estatutária passampela primeira vez a realizar-se emNovembro, como hoje acontece.

Logo após as eleições, já em De-zembro, há 15 anos, a Academiaacorre em massa ao Teatro Aca-

démico de Gil Vicente. Em As-sembleia Magna, declara guerra amais uma lei que volta a exigir àsfamílias maior esforço no finan-ciamento e exclui estudantesmenos recursos económicos doensino superior.

Uma semana mais tarde, a Aca-demia sai à rua numa das maio-res manifestações estudantis queCoimbra viu. Começou SMS's, defaculdade em faculdade, de salaem sala, interrompendo aulas e

esclarecendo os colegas para quese juntassem aos milhares que jáenchiam a Praça do D. Dinis. Emluta, os estudantes descem as Mo-numentais em direcção à Baixa.

Na altura não os pude acompa-nhar. Com outros colegas daDG/AAC, estava incumbido depreparar o momento final da-quela acção de luta.

Fomos à volta até ao Parque daCidade e montámos uma lei emponto grande. Ensopámo-la de

gasolina e, assim que a manifes-tação lá chegou, ateámos-lhefogo, para gáudio da Academiaem luta.

Foi o início de um ano de duraluta que inspirou, mobilizou ejuntou estudantes de todo o paísem várias acções de contestação.

NAqUELE TEMPO...Por ricardo Matos

RAfAELA CARvALho

D.R.

Page 21: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

arregada de anéis, a mãoafagava pesadamente opróprio busto em már-

more negro.“Nasci portuguesa e isso quer

dizer muita coisa, não acha?”O francês parou de escrever,

passou por ela os olhos frios dejovem peixe translúcido.

“Se tivesse nascido espanhola,seria diferente?”

“Era uma grande fogueira!”“E assim?”Ela alongou os olhos em busca

de um infinito possível na paredeforrada a fotografias e deixou cairas palavras num passe de tangoque o francês acompanhou com oaparo da caneta sobre o chão dopapel.

“Assim… Sou uma espécie defogo preso…”

O whisky tinha chegado ao fim eElvira também. O vermelho per-feito das unhas pontuava o mapade veias inchadas que lhe cruza-vam a mão. Virou-se numa fúriapara a grande gaiola onde frenteá janela chilreavam canários, ben-galins, bicos-de-lacre e atirou-lhescom a água do gelo derretido querestava no copo.

“Já disse que não quero maisninguém a cantar nesta casa!”

Deixou cair a cabeça para trásnuma pose de teatro , esfregou umdedo nas gotículas de água querestavam nas paredes do copo,molhou a pele atrás das orelhas egritou numa pose de vedeta an-tiga: “Bravô!”

Jean Pierre desligou o gravador,arrumou os papeis e quase que seassustou quando ela se aproximoupor trás da cadeira, mergulhou amão na palha solta do seu cabelo e

lhe entornou no rosto uma bafo-rada do seu perfume pesado.

Elvira agarrou-lhe o queixo epuxou-lho para trás. Aproximou orosto cheio de creme do rostodele. Agarrou-o com firmeza efalou-lhe com inesperada fragili-dade: “Tu c’est joli, mon petit…Podias dizer Bravô!”

A voz do francês soltou-se semgrande convicção: « Bravô…“

Elvira puxou ainda mais a ca-beça do rapaz e encostou a nucaao seu ventre mole. “Um dia tal-vez te deixe possuíres-me…”

“Não me parece que a Elviraseja o género de mulher que sedeixa possuir…”

A mão de Elvira parecia umagarra de ferro e os olhos de JeanPierre fixavam-se no queixo dela,no pescoço de peles soltas ondeaparecia a marca amarelada definal de tempestade onde acabavaa maquilhagem.

Ela largou-lhe a cabeça combrusquidão, dirigiu-se camba-leante ao piano e abriu-lhe atampa.

“Madame…”“Senta-te. Não te dei autoriza-

ção para sair! Vou cantar para ti.”Ah! Mais non! Não lhe pagavam

para tanto!Elvira atacou uma das suas ve-

lhas canções.

“Foi estreada no Alhambra deMadrid!”

Fechou os olhos, deixou correras mãos ferrugentas pelo teclado,puxou a cabeleira atrás e, numavoz perdida, cantou e cantou semreparar que Jean Pierre saía silen-ciosamente.

No final deixou cair a cabeçasobre o teclado. Levantou-se acusto. De olhar turvo, dirigiu-se àjanela lançando a mão teatral emdirecção aos pássaros.

“Hoje estivemos inexcedíveis,meus queridos! Fomos um êxito!”E não reparou que dois dos passa-ritos estavam caídos, imóveis,num canto da gaiola.

SOLTAS4 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 21

brAvôPor josé Fanha MICrO-CONTO

á se passou mais uma quin-zena fértil em novidades jáesperadas. Ricardo Mor-

gado foi reconduzido como presi-dente da direcção-geral da AAC. Dizque houve uma taxa de abstenção, eque bem fica esta expressão quandode eleições se fala, até parece umacoisa a sério, de cerca de 80 porcento. Porém, houve outros mo-mentos altos, fora a sempre emotivasuper-terça-feira.

Nas respectivas campanhas, al-guns candidatos animaram o debatepúblico, diatribes notáveis ofereci-das ao vento. Uma candidata fez oobséquio de oferecer um bonito tí-tulo: “não sou a favor das manifes-tações”, lapso tão notável comotremendo, justificou, as coisas quea ingenuidade e a inexperiência po-lítica fazem. Na mesma entrevista,Celina mostraria ainda um palpi-tante coração de manteiga que, cu-riosamente, não fala através dohabitual pumpum pumpum, antessegreda o nome de seu dono, nãoresiste aos magníficos encantos do

magnífico reitor, notáveis casos car-diovasculares se observam emCoimbra.

Se a sinceridade de Celina é de al-guma forma tocante, pouco habitualque é nestas andanças dos sufrá-gios, houve ainda outro tipo defrontalidade. Uma frase, pumba,então e oh Ricardo, quanto aos 900colaboradores do ano passado erammesmo colaboradores, ah isso, “amaior parte foi para preencher opapel”, saúde-se a sinceridade. E oRicardo continua, “isto é tudo muitobonito mas as eleições também setêm que ganhar”, eh pah mas oh Ri-cardo então mas isso pode não pa-recer muito correcto a algumpessoal, afinal de contas, pode-seganhar e ser uma coisa bonita. Ahnão há problema, atenção, “este anonão será o mesmo sistema”. Ufa,podemos respirar de alívio, comuma afirmação destas, de certezaque este paladino democrático er-radicou o cacique e o tachismo doscorredores do número um da PadreAntónio Vieira.

Quanto à outra candidata, con-fesso que não me é fácil mandar obitaite. Acima de tudo, tenho muitadificuldade em discernir algumacoisa de uma frase proferida comsotaque açoriano, quanto maismensagens políticas, mea culpa. Oproblema seria decerto ultrapas-

sado, pensei, assim pudesse ler umaentrevista, e aí estava ela, hossananas alturas. Abro a página, vamos láentão, eis que o jornal em questãome brinda com um hipnotizanteplano a la Daniel Oliveira que meimpediu de pensar em algo maisque não tentar adivinhar o que

aqueles olhos diziam, se aquelepreto e branco escondia um cinti-lante verde-esmeralda se um verti-ginoso azul celeste, são de facto asjanelas da Alma.

E chegou o debate, nos decrépitose abandonados grelhados, quase sesentia o saudoso aroma do frango,quase se ouvia a pele aviária encar-quilhar na brasa. O que se ouviamesmo eram os ecos do passado,perpetuados e redundantes, e pal-mas, muitas palmas. A repetição detodos os anos, fórmulas para ganhareleições, que têm de se ganhar, nãoesqueçamos as sábias palavras deRicardo, nem que para isso hajacada vez menos gente a ouvir, cadavez mais gente a dizer o mesmo, eoutros que não sabem o que dizem,e outros que não fazem o que dizem,há até quem não diga o que faz. AhAAC, quando te perguntarem o queés, responde: a sinédoque do país.aprendi a gostar de ti.

ENTrE A ArrEGAçA E O CALhAbéPor bacharel jorge Gabriel

LStEPhAnIE SAyURI PAIxão

TOdA A vIdA EM qUINzE dIAS

José Fanha, nascido em lisboa,sabe como poucos contar históriasvoltadas para crianças e jovens. Estehomem de palavras sabe tambémcomo expressar as suas emoçõesaos adultos, como neste micro-conto, “Bravô”. Além da vertentepoética, José Fanha é declamador,contador de histórias, autor de letrasde canções, histórias para crianças,dramaturgo, com textos para rádio,teatro, guionista de televisão e ci-nema. o escritor português estudouno Colégio Militar entre os 10 e 17anos, mas a educação rígida nãocontemplava o seu espírito livre eartístico. na década de 70, viveu aditadura e percebeu a realidade cin-zenta do país, quando as pessoasnão eram livres para falar e aprovei-tar a vida em todas as suas poten-cialidades. Esse momento foi ocatalizador para que nascesse aí opoeta de intervenção. Ele faz parteda geração de poetas que encontra-ram na literatura uma forma de lutarpela liberdade, declamando para aspessoas que era preciso acabar coma ditadura para que elas fossem maislivres e felizes.

Stephanie D’Ornelas

JoSÉ FAnHA61 AnoS

C

IlUSTrAção Por João PEdro FonSECA

Page 22: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

OPINIãO22 | a cabra | 4 de dezembro de 2012 | Terça-feira

Perante a recente vaga de priva-tizações que varre o nosso país, éimportante olhar para o caso dauniversidade pública e tentar per-ceber de que forma podemos nósser atingidos pelas políticas decredo neoliberal deste governo queameaçam o acesso ao conheci-mento livre no Ensino Superior(ES) público.

Em questões de (in)sensibili-dade social, as posições deste go-verno têm vindo a clarificar-se, eas tragédias sociais e económicasque destas decorrem são diaria-mente vividas e sentidas por mui-tos de nós; os sucessivos cortes nofinanciamento ao ES, o aumentoanual do valor das propinas e oscortes nas bolsas são algumas dasmedidas que as propulsionam edesencadeiam.

Há, no entanto, um “inimigofantasma”, que nos cerca (e seacerca), que se entranha, e cujaporta de entrada (aberta, quemsabe pelo “Dr.” Relvas, que paraefeitos de abertura de portas nãohá equivalências que bastem) temsido construída por um ministro

de um governo que tem por objec-tivo não só a privatização dos re-cursos materiais e empresas deserviço público de um país, comotambém a privatização de um pa-trimónio imensamente mais va-lioso: o património intelectual ecultural. Para tal, vai sorrateira-mente mercantilizando estrutural-mente a universidade pública,fazendo de estudantes, professorese investigadores, meros peões numjogo de caça ao lucro, subvertendoo conhecimento à lógica de mer-cado, desrespeitando o que é (edeve ser) um processo de criaçãointelectual livre e fora da órbita edo raio de acção de grandes em-presas cujas pretensões não vãoalém da obtenção do lucro má-ximo, possibilitando a uma eliteeconómica um nível de vida quepermite muito mais luxos que odos “bifes todos os dias” e que“aguenta” toda e qualquer austeri-dade, situando-se assim longe damiséria do resto do povo.

Para que não sejamos engolidospor esta gigante máquina de capi-tal legitimada e promovida pelo

governo é necessária uma visãocrítica e uma política de acção con-creta e bem definida. Por muito es-timulantes e criativas que sejam asacções simbólicas, o seu efeito prá-tico está longe de ser o desejado, ecorre-se o risco de qualquer dia o“crime” se tornar real e de acor-darmos nas mãos de uma entidadeexterna que passa a decidir o nossofuturo como se de contentores demercadorias se tratasse. O pri-meiro passo é a consciencializaçãodos estudantes para a realidade emque o ES verdadeiramente se en-contra e tal não pode acontecersem a promoção de iniciativas queestimulem o debate e aproximemas decisões políticas das salas deaula, dos auditórios, dos bares oudas cantinas.

Indicadores como a taxa de abs-tenção nas últimas eleições para aDireção-geral da Associação Aca-démica de Coimbra são claros e in-diciam um afastamento dosestudantes e da academia, nummomento tão crucial como o quehoje vivemos; é essa a realidadeque é preciso, antes de mais,

mudar.E a responsabilidade que Coim-

bra tem, pela sua história de resis-tência e luta académica, é a de nãose deixar subjugar pelos desígniosde uma elite política e económicaque pretende fazer da universidadeum meio acrítico e amorfo, facil-mente influenciável e manobrável,ao serviço do poder vigente e deum reduzido número e empresaspor ele legitimadas.

Por tudo isto e muito mais háque dizer não ao Regime Jurídicodas Instituições do ES, não às polí-ticas de mercantilização do ES, nãoà submissão intelectual e culturale não à privatização do conheci-mento, que deve ser público e livre,de todos e para todos.

há que dizer não aoregime Jurídico dasinstituições do eS,não às políticas demercantilização doeS, não à submissãointelectual e culturale não à privatizaçãodo conhecimento”

manifeSto contra a privatização do conhecimento

franciSco nuneS, eStudante de Sociologia da faculdade economia da univerSidade de coimbra

cartaS à diretora

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

No início de 2012 cheguei emCoimbra motivado pelos excelentestextos produzidos pela Universidade.Apesar de muitas diferenças, aqui,entendi que a cultura pode transcen-der as fronteiras delimitadas nopapel e percebi duas sociedades queora se alinham e outras se distan-ciam(Brasil e Portugal). Um dos mo-mentos de alinhamento é o amor aofutebol e o seu significado naciona-lista.

Com alguns amigos e amigas vi-brei com a vitória da Briosa na TaçaPortugal de 2012. Apesar das muitascomemorações o que realmente cha-mou a minha atenção foi a conversaque tive com um amigo portuguêsbenfiquista.

Ele me falava da importância davitória da Briosa e, ao mesmo tempo,se remetia ao ambiente vivido nafinal de 1969. A sua esperança que avitória da Académica, mesmo sendobenfiquista, pudesse ser um incen-tivo para reação do país Portugal,ficou marcada em meu peito.

Após alguns pedidos de esclareci-mento, finalmente, entendi queaquela final foi um momento de con-testação a um regime. Como os pan-teras negras, nas olimpíadas de 1968,mostraram ao mundo que o punhocerrado, em luva preta, era a força deum povo, o manto negro da final de

1969 foi a forma que a Académicamostrou que a luta contra um regimeera inadiável e irrevogável.

Assim como me emocionei ao re-viver o passado, meu coração aindapulou, gelou e se aqueceu no dia dareunião no TAGV, onde tive a opor-tunidade de viver um momentocoimbrão.

Naquele dia, consegui ficar sen-tado ao lado esquerdo do palco oumesa de apresentação da UC, comopreferirem. Ao fim do discurso doreitor, quando ele ficou de frentepara o lado que eu estava, em posi-ção desafiadora, olhando para o pú-blico a sua frente e com a palavraCHEGA. Demorou um pouco para euentender que a capa vermelha aovento, uniforme azul e o S em seupeito nada mais era que a imagina-ção agindo em meus olhos e tudo nãopassava de uma ocasião muito bemestudada e trabalhada. Aquele mo-mento, para mim, foi uma premoni-ção do que seria uma linda manhã.

Bem, chegamos a Coimbra com aideia da independência do discursoestudantil e com o peito inflamadoem conhecer a sua história da épocaque a faculdade de Química traba-lhava para formulação dos artefatosque protegiam os portugueses da in-vasão espanhola. Mas como nemtudo na história constrói o presente,

ao perceber que o alinhamento domanto negro, representativo dos es-tudantes da UC, com o terno do re-presentante da Académica era maisimportante que a sua fala indepen-dente e contestadora percebi queaquele dia seria esvaziado por umdiscurso não condizente com o vigorestudantil.

Da imagem revigorante e eferves-cente do manto negro suspenso aoar, mostrando a energia e consciên-cia , vi um discurso alinhado e per-missivo ao do reitor. Para minhasorte e acho que para maioria dospresentes, um grupo pediu a palavrae salvou aquela manhã demons-trando a energia perdida. Naqueleinstante, recordando o grupo depunk rock brasileiro Titãs, lembreide um trecho de suas músicas “OPULSO AINDA PULSA...”. E passeia imaginar uma Coimbra que vivesem medo do seu passado porqueeste se torna tão grande ou impor-tante quanto mais inexpressivasforem as ações do presente.

No meu pequeno curso em Coim-bra, vi um clube que após 73 anosvoltou a vitória, ao mesmo tempo,povos se reuniram na Praça da Re-pública para uma conquista portu-guesa demonstrando que ser daUniversidade de Coimbra não é ob-rigatoriamente ser de Portugal, por-

tugueses confiaram na força do cen-tro, uma manifestação no TAGV quenão acontecia há anos e, por último,a greve geral de Portugal que culmi-nou na exoneração dos principaisexecutivos da rede de TV estatal.

Dessa maneira penso ou imaginoque Coimbra é o centro, é o pulsar, aalegria, o incentivo, enfim, é o cora-ção que enquanto pulsar de maneiraindependente, sua respiração arejatodas as outras partes do corpo Por-tugal.

Assim como onde há fumaça háfogo, imagino que onde há um cora-ção pulsando e livre, há força paraluta e contestação. Que o mantonegro seja novamente o símbolo dacontestação, que seja proibido o seu“alinhamento com o terno”, que asua cor seja a expressão sombria deum povo consciente, que o seu usocontínuo e ininterrupto seja o luto deuma geração e, principalmente, a de-monstração que a academia suportaas pressões que surgem e apesar demuitas vezes calada que tod@s sai-bam que por baixo do manto aindahá um coração que bate livre deideias e autónomo de princípios.

onde há fumaça háfogo, imagino queonde há um coraçãopulsando e livre, háforça para luta e contestação. que omanto negro seja no-vamente o simboloda contestação”

coimbra é o coração que pulSa!rogério lima barboSa, doutorando do ceS/uc

Page 23: Edição 254 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

OPINIãO4 de dezembro de 2012 | Terça-feira | a cabra | 23

Secção de Jornalismo,

Associação Académica de Coimbra,

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3000 - Coimbra

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e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo iCS nº116759Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores Stephanie Sayuri Paixão (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Su-perior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Paulo Sérgio Santos (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País& Mundo) Secretária de Redação Mariana Morais Paginação António Cardoso, Catarina Gomes, Rafaela Carvalho Redação

Beatriz Barroca, Daniela Proença, Emanuel Pereira, Ian Ezerin, João Martins, Joel Saraiva, Luís Azevedo, Miguel Patrão Silva, PedroMartins Colaborou nesta edição Bárbara Sousa, Hugo Teixeira Mota, Inês Martins, João Neves, Rita Abreu, Tiago Rodrigues,Stephanie D’Ornelas Fotografia Ana Duarte, Ana Morais, Daniel Alves da Silva, Fábio Rodrigues, Inês Martins, Joana Amorim,João Gaspar, Rafaela Carvalho, Stephanie Sayuri Paixão ilustração Carolina Campos, Joana Cunha, João Pedro Fonseca, TiagoDinis Colaboradores permanentes António Matos Silva, Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, CatarinaGomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terên-cio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Rafaela Carvalho, Ricardo Matos, Rui Craveirinha, TiagoMota, Torcato Santos Publicidade António Cardoso - 914647047 impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922,Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coim-bra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos José Fanha, Manuel Castelo Branco

RAfAELA CARvALho

A Cabra errou: Na edição nº 253, na entrevista feita ao candidato para aDireção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), RicardoMorgado, referia-se que este pertencia à Juventude Social Democrática,quando esta juventude se intitula Juventude Social Democrata.

Na mesma edição, em entrevista à também candidata à DG/AAC, AlmaRivera, a sua filiação partidária não ficou esclarecida. Alma Rivera é filiadana Juventude Comunista Portuguesa.

Ainda na edição 253, no artigo “Uma facada que tem sido a Arquiteturapor Coimbra”, a primeira frase (“Pediram mais romance para uma escolasem identidade.”) encontra-se errada. Onde se lê “pediram mais romance”deve ler-se “pediram mais escola”.

Aos visados, o nosso pedido de desculpas.

editorial

a abStenção mecânica

Depois das eleições para os corpos gerentes da Associação Acadé-mica de Coimbra, eis que surgem mais dois atos eleitorais: eleiçõespara o Conselho Geral (CG) e para o Senado. A 6 de dezembro, os

estudantes voltam às urnas, mas desta feita para elegerem os seus repre-sentantes num dos órgãos de gestão mais importantes da Universidade deCoimbra (UC).

Os projetos apresentados dos estudantes do primeiro e segundo ciclosforam menos comparativamente ao ano passado. Há duas listas de conti-nuidade, que se pautam por objetivos semelhantes de há dois anos atrás.Relativamente ao terceiro ciclo, há mais uma lista a concorrer. Os douto-randos e investigadores, que por vezes passam por uma “comunidade àparte” da UC, revelam este ano uma maior consciencialização sobre esteórgão e da importância que tem. Sabemos que a UC nem sempre apre-senta as melhores condições de trabalho, por isso, há que lutar por elas. Eé de louvar que os alunos do terceiro ciclo estejam a fazer isso, desta vezcom mais força.

A consciencialização também passa pela maior propaganda verificada.Há dois anos, apurou-se cerca de 70 por cento de abstenção neste ato elei-toral, bem como uns modestos 63,7 por cento de desconhecimento face aeste órgão. Com a divulgação que tem sido feita – maioritariamente noFacebook -, é de esperar que os estudantes se mexam e exerçam o seu di-reito de voto para um órgão que realmente pode mudar as suas vidas e oseu percurso académico.

Ricardo Morgado, reeleito para o próximo mandato na Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) não se sen-tiu predisposto a investir na campanha como no ano anterior. O

ano passado estava diferente, estava como numa “batalha”. No ano pas-sado houve pré-campanha. Este ano, não houve apresentação de lista, nãohouve ‘merchandising’ no término da Festa das Latas e não houve (pa-rece) um oponente de ideias como à altura fez parecer André Costa. A lutapolítica não esteve à altura? O que importa destacar é que Morgado satis-faz-se com uma maioria absoluta que acaba por ser apenas – pretensa.

Votou-se em bloco no branco e a abstenção voltou a ganhar. Nada quepareça abalar o propósito do projeto que quer apresentar uma verdadeiraremodelação na estrutura dos pelouros. O novo presidente firmou que es-colheu as pessoas pelo mérito, mas, quanto ao facto de ter deixado algunscom provas dadas de fora, afirma que a palavra final é sempre sua. Nãoserá dos 22926 possíveis votantes? A legitimação de uma DG/AAC queteve a pior afluência às urnas dos últimos três anos quer evidenciar doispêndulos: o primeiro, que a maior parte não sabe ao que vota, por quemvota e para que é que serve o seu voto; o segundo, que o facto de “muitagente achar que já estava ganho à partida” fez com que não houvesse briona campanha. O voto, esse, surge de uns mecanicistas que insistem emnão divulgar o porquê de não irem à urna.

Por Liliana Cunha e Ana Duarte

o que importa destacar é que morgado satisfaz-se com uma maioria

absoluta que acaba por ser apenas - pretensa.votou-se em bloco no branco e a abstençãovoltou a ganhar

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FarraPos por rita abreu 200

x 100Que te seja permitido vaguear,

que te seja permitido amar.Que a verdade esteja em ti e a

mentira nunca seja um entrave.Que te lembres que batalhas

não são guerras e nada está per-dido, que o mundo te pertença enão tu a ele.

Que te sejam permitidas as cal-ças rasgadas, que os teus ténis es-tejam sujos e a tua mente clara.

Que nunca a tua vida seja apreto e branco e o azul te lembreo mar.

Que a melodia nunca seja doadeus mas de um até já.

Que nunca sintas que o tempopassa demasiado depressa e queas amizades sejam para sempre.

Que a saudade seja passageira.Que a vaidade não te impeça de

viver.“ Sê meia dúzia de farrapos e

emenda-te a ti mesmo”

A Câmara Municipal de Coimbra(CMC) estabeleceu um protocolode cooperação entre várias insti-tuições da cidade, com vista a com-bater o absentismo e o abandonoescolar de crianças e jovens do Pla-nalto do Ingote. Numa altura emque conjuntura atual ameaça se-riamente aumentar os níveis de in-sucesso escolar, a iniciativaapresenta-se como uma mais-valiana articulação dos diversos apoiosda cidade. O vereador da habitaçãoda CMC, Francisco Queirós, reco-nhece o esforço feito pelas entida-des envolvidas, mas teme que asituação possa piorar devido aosconstrangimentos económicosatuais. J.V

Câmara Municipalde Coimbra 

União Europeia

É impossível não olhar para odocumento como mais um gestode imposição da vontade dos paí-ses ditos mais ricos contra osmenos desenvolvidos. Se é supostoa política de coesão aproximar rea-lidades económicas e sociais, a ver-dade é que na prática isso nãopassa de uma demagogia. Mas nãose critique apenas a política fran-cesa e alemã. É importante que seprocure olhar cada vez mais para oque realmente se passa e para aforma como são aplicados deter-minados fundos, nomeadamenteem países onde é conhecido o his-torial de corrupção. Assim, defacto, não há dinheiro que apro-xime. P.S.S.

puBLiCiDaDe

Reitoria

A reitoria da Universidade deCoimbra está a emitir desde esteano ordens de execução fiscal auma taxa vulgarmente apelidadade propina e que remonta à épocaem que mais de 16 mil estudantesa boicotavam. O que acontece éque esta espécie de perseguição,só pode ter esse nome dado queestão a haver cobranças a alunosque já haviam desistido do curso,o que é ilegal. Remonta a anosmuito anteriores que já caduca-ram o prazo de prescrição, porisso a universidade não pode que-rer encaixar nos seus cofres di-nheiro a que já não tem direito.Aguarda-se pelo resultado daoposição. L.C.Pág. 14 Pág. 7 Pág. 9

stephanie sayuri paixão