Edicao 81

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F órum DRS Boletim Eletrônico Ano 5 | Edição 81 | Outubro/2011 www.iicaforumdrs.org.br Entrevista Segunda parte da entrevista com o economista polonês Ignacy Sachs fala sobre as atuais políticas relacionadas ao desenvolvimento rural sustentável e fez uma reflexão sobre o futuro do rural Especial Seminário Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil

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Entrevista Boletim Eletrônico Seminário Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil Segunda parte da entrevista com o economista polonês Ignacy Sachs fala sobre as atuais políticas relacionadas ao desenvolvimento rural sustentável e fez uma reflexão sobre o futuro do rural Ano 5 | Edição 81 | Outubro/2011 www.iicaforumdrs.org.br OUTUBRO 2011 www.iicaforumdrs.org.br

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Fórum DRSBoletim EletrônicoAno 5 | Edição 81 | Outubro/2011

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EntrevistaSegunda parte da entrevista com o economista polonês Ignacy Sachs fala sobre as atuais políticas relacionadas ao desenvolvimento rural sustentável e fez uma reflexão sobre o futuro do rural

EspecialSeminário Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil

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no t a ao l e i t o r[ ]

Nesta 81o Edição, o Boletim do Fórum DRS apresenta a segunda

parte da entrevista do Prof. Ignacy Sachs, iniciada no número an-

terior e que aborda as perspectivas do desenvolvimento rural no

Brasil no contexto do que ele vem apresentando como a Revolução Azul. A

matéria especial trás os resultados do Seminário sobre a Gestão do Conhe-

cimento nas Zonas Semiaridas do Nordeste do Brasil.

Boa Leitura.

Coordenação do Fórum DRS

Foto de Capa: Regina Santos/Arquivo IICA

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Contribuir para o desenvolvimento da capacidade técnica, institucional e gerencial dos integrantes

e parceiros, operando também como instrumento de integracao latino-americana para a gestão do conhecimento

relacionado com o desenvolvimento rural sustentável e o combate a pobreza.

O Fórum DRS tem como objetivo

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Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil

JUVENTUDE

SEMIÁRIDOTERRITÓRIOS

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

BOAS PRÁTICASINCLUSÃO POLÍTICA

INCLUSÃO PRODUTIVA

GÊNERO

CONHECIMENTO

DEBATE

TECNOLOGIA SOCIAL

GESTÃO

POLÍTICAS PÚBLICAS

TECNOLOGIA

INICIATIVAS

COMUNICAÇÃO

RESULTADOS

SEMINÁRIO NACIONAL

í n d i c e

Entrevista

Segunda parte da entrevista do economista polonês Ignacy Sachs fala sobre as atuais políticas relacionadas ao desenvolvimento rural sustentável e fez uma reflexão sobre o futuro do rural

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Fotos: Rodrigo Germano

com Ignacy SachsPalestra

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Neste número da seção diálogos você vai poder acompanhar a segunda

parte da 27a Jornada Fórum DRS realizada com o economista Ignacy Sachs.

Após fazer a palestra, publicada na última Edição do Boletim do Fórum DRS,

o economista respondeu as perguntas dos presentes na Jornada. Acom-

panhe o resultado do debate que contou, entre outros, com a presença do

Diretor do Núcleo de Estudos Agrários, Joaquim Soriano; o Diretor Nacional

da Secretaria de Desenvolvimento Territorial, Vital Filho; o chefe de gabinete

do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Mauro Del Grossi; e o especialista

em desenvolvimento rural do IICA Brasil, Breno Tibúrcio.

Boa leitura.

BRENO TIBÚRCIO – Bom, voltamos para a segunda etapa do nosso diálogo, a idéia ago-ra é que cada uma das instituições participantes do “Diálogos” faça uma pergunta e o professor as responde uma por uma. Na seqüência eu peço à SDT para formular a sua pergunta, depois ao Gabinete e depois uma pergunta do IICA.

JOAQUIM SORIANO – Bem, Joaquim Soriano, sou do Núcleo de Estudos Agrários e De-senvolvimento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA). Professor Ig-nacy Sachs, muito obrigado mais uma vez por poder ouvi-lo. Eu queria colocar o seguin-te: aqui no Brasil a Presidente Dilma insistiu no tema do combate à pobreza extrema. Esse problema é difícil, mas eu queria que o senhor apresentasse, ademais dessa expo-sição ampla como se coloca na perspectiva da Revolução Verde e da Revolução Azul, a incorporação desse contingente enorme dos mais pobres. A gente observou recente-mente, no Programa Territórios da Cidadania, que boa parte desses mais desprotegidos, desses mais pobres, no entanto, continuam alheios ao Programa que ao fim e ao cabo é voltado para combater a pobreza rural. Então, qual a sugestão, qual a sua opinião, como incorporar nesse movimento mais amplo, nesse tipo de desenvolvimento, que é o nos-so desafio, essa parte da população, os pobres, os mais pobres dentre os pobres?

Palestra

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IGNACY SACHS – Bom, é um tema extremamente difícil

porque, vamos dizer, aquele contingente dos extrema-

mente pobres não é homogêneo e você não tem uma

solução única para eles. Tem os velhos, tem os doentes,

tem uma série de, vamos dizer, de vítimas de circunstân-

cias das mais diversas. Portanto, é isso que justifica a ne-

cessidade de se ter não só o Bolsa Família, mas outras po-

líticas sociais, porque vai sempre haver um contingente

que você tem que atender com as políticas sociais.

Agora, não é todo o contingente. Não se trata de co-

locar um maior número de pessoas no Bolsa Família e

as coisas fiquem por si mesmo, trata-se de ter o Bolsa

Família e outras políticas sociais para aqueles que apa-

recem na situação daquela miséria, mas essa diferença

quase que no fundo rotativo, porque para pegar os no-

vos necessitados, mas sempre tentando emancipar da

dependência da Bolsa da Família aqueles que podem

ser emancipados.

Então, isso nos leva a fontes de renda através do em-

prego ou do autoemprego, o que vai se desdobrar outra

vez em duas frentes de batalha: que tipo de investimen-

to público ou público-privado ou incentivado, etc. para

gerar essas oportunidades de emprego? Mas também

que tipo de atuação para criar a qualificação necessária

do lado dessas pessoas? E, sobretudo, acho que essa é

uma área que não está sendo suficientemente focada

como tal, que tipo de oportunidades de autoemprego,

que tipo de oportunidades de autoprodução que vão

satisfazer parte das necessidades de articulação?

Da autoprodução eu falei, eu acredito muito em um

grande programa de hortas comunitárias, quem sabe

de pisciculturas comunitárias. Então, não há razão para

não pensar nisso, mas tem ainda o problema da pro-

dução artesanal e atividades produtivas, por exemplo,

para as mulheres que estão com uma parte do tempo

tomada pelos afazeres domésticos e pelo problema do

atendimento dos filhos, mas que podem ter tempo para ter certas atividades realizadas em casa, profissionais.

A gente andou discutindo muito a postura, mostran-do que o investimento necessário é um investimento razoavelmente pequeno. Será que há outras atividades? Eu acredito que sim, inclusive penso que com o progres-so da informática vamos ter possibilidade de ter certas atividades não presenciais, mas de caráter produtivo.

Vocês têm um caso brasileiro, um caso que foi muito discutido em relação às sacoleiras e às vendedoras de cosméticos, números grandes, volumes e recursos que transitam por esses sistemas bastante grandes. o que dá para analisar aí? Isso eu não sei, mas eu acho que é um tema que deveria ser inscrito, ou seja, atividades profis-sionais a tempo parcial realizadas sem a presença, reali-zadas em casa, pode ser produção de doces, produção de não sei que, e eu posso muito bem imaginar uma produção caseira de doces e combinada com a venda desses doces nos estádios de futebol.

Tem uma série de atividades de autoprodução que eu acho que deveriam ser incentivadas e ao mesmo tempo submetidas a algum tipo de controle, ou seja, para não envenenar sessenta mil pessoas assistindo ao fato como um doce estragado. E eu acho que nós te-mos que atacar isso por todos os lados sem esquecer o problema da educação e uma educação um tanto dife-rente, de educação profissional.

Antes de vir aqui hoje de manhã eu participei de uma reunião da Fundação do Banco do Brasil cujo foco era, dentre outras coisas, esse problema da educação pro-fissional à distância e etc. Acho que temos uma amplo leque muito importante que a pobreza tem que ser ata-cada simultaneamente e em várias frentes. Nós temos que aumentar as qualificações do pobre. Nós temos que ver como ele é inserido nos processos produtivos e de onde vem aquela mão estendida que vai fazer com

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que ele seja incluído. Embora ele esteja hoje à beira da

estrada e nós temos que pensar também em formas ra-

zoáveis de financiamento dessas pequenas atividades

produtivas, vocês já têm uma série de instrumentos cre-

ditícios e etc. Mas eu acho que dá para fazer mais, para

pensar em formas de crédito para essas atividades e a

solução virá da soma dessas políticas e não de uma po-

lítica preferida no momento como apresentada como

uma solução milagre.

VITAL FILHO – Professor, eu sou Vital Filho, diretor da

Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), que

por sua vez está dentro do Ministério de Desenvolvi-

mento Agrário. Então, a palavra desenvolvimento está

muito forte.

IGNACY SACHS – Ao quadrado.

VITAL FILHO – Exatamente, ao quadrado, e essa é a

grande preocupação da gente: é como contribuir no

processo de construção e implantação no Brasil de um

modelo de desenvolvimento com foco no rural que

seja sustentável? E aí, os paradigmas aqui levantados eu

acho que já são contribuições que a gente tira no aper-

feiçoamento dessa abordagem que a gente construiu

para trabalhar o desenvolvimento que foi a abordagem

territorial.

Aí, professor, o senhor que acompanha o trabalho

da gente há um tempo, definimos um conceito para

território. Em função do conceito começamos a ne-

gociar com a sociedade civil e o Governo os espaços

geográficos que seriam os territórios, para cada espaço

geográfico foi criado um colegiado de participação de

sociedade civil, cada colegiado construiu seu plano, na

construção do plano a gente trabalhou bastante com

o tripé que o senhor colocou: a questão ambiental, a

questão social, a outra que fala da ocupação da renda

a gente chamou de dimensão econômica. A dimen-

são econômica tem um foco muito concentrado nas

populações. E conseguimos a partir desses colegiados já descentralizar recursos para aprovar um “montão” de projetos. A partir desses projetos e dessa experiência, a gente teve a oportunidade de vender o peixe para o Presidente Lula que cria o programa Territórios da Cida-dania que, hoje, o companheiro Soriano coordena lá no nosso Ministério, que foi uma grande vitória, por quê? Porque extrapolamos das ferramentas do Ministério Se-torial para um conjunto de Ministérios a possibilidade de articular um conjunto de políticas públicas.

Então, a gente acha que nessa caminhada que a gen-te deu, a gente avançou bastante a ponto de influenciar o centro do Governo a criar um programa como o pro-grama Território da Cidadania, preocupação da gente. E aí vem a pergunta: a gente acha que ainda fez pouco, a gente acha que ainda avançou pouco, então, de posse desses paradigmas novos que aí tem dado e conhece-dor dessas ferramentas, desses instrumentos que a gen-te criou no MDA, o que o senhor acha que a gente preci-sa trabalhar? O que a gente precisa desenvolver para dar um upgrade nesse programa e nessas estratégias que a gente adotou para caminhar para um desenvolvimento cada vez mais sustentável?

IGNACY SACHS – Bom, vocês me deram a oportunidade de acompanhar os Territórios de Cidadania, é uma enor-me oportunidade e eu acho que passamos de 60, 120 que é já um grande passo e acho que ninguém mais du-vida da, vamos dizer, existência de um grande programa que é o Territórios da Cidadania. Então, o que fazer para que ele não só se perpetue, mas se aperfeiçoe? Eu te-nho duas observações fundamentais: A primeira é que eu acho que a presença institucional do Ministério nos territórios deveria ser reforçada, tem que ter um dono dos programas no local, aquele toque, eu não sei se é um ou se são dois. Eu acredito que se pode fazer mui-ta coisa gerando Centros de Inovação Tecnológica que podem atender simultaneamente talvez vários lugares, vários territórios.

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Eu acredito que se pode fazer muita

coisa gerando Centros de Inovação

Tecnológica que podem atender

simultaneamente talvez vários lugares,

vários territórios.

“Respondendo às perguntas, eu acho que com as ferramen-

tas modernas que temos, culminando as idéias de Paulo Freire e com o computador, podemos criar Centros de Inovação Tec-nológica local que atendem simultaneamente às funções se-guintes: Primeiro, acesso a dados meteorológicos, mercadoló-gicos, consulta tecnológica, consulta médica, em certos casos. Ao mesmo tempo, programas de alfabetização digital para os jovens do lugar e, porque não, atendimento a cursos profissio-nalizantes não presenciais. A gente pode fazer um Centro de Inovação foco de várias políticas, não só de uma, mas isso não se substitui ao diálogo. Portanto, temos que ter duas figuras, não uma figura, alguém que está atrás desses programas local-mente, que mobiliza, que agita, que persuade, que convence, ou seja, eu acho que isso, não sei se isso está sendo contem-plado, alguma figura de agente de desenvolvimento local que deveria ser incorporada.

A segunda questão é a questão da organização, eu diria, quase permanente do debate. Não só sobre o que dói, do que precisa, quais são as urgências, mas levar esse debate ao lado

Ignacy Sachs

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dos potenciais ocultos, jogar na ofensiva, não só na de-fensiva, mas jogar na ofensiva. Ver um pouco mais quais são os potenciais de recursos locais que poderiam ser aproveitados caso seja resolvido, removido um ou dois gargalos. Essa capacidade de pensar o futuro local a par-tir dos recursos locais e de dizer aos homens: “Se vocês me trazem isso, eu consigo colocar em marcha. Aqui tem um assunto em que não está sendo usado, se vo-cês me ajudam como organizar nesse assunto e trazer aquelas capas etc. e etc. Nós podemos começar a fazer isso”. Eu acho que é estimular, vamos dizer, a população a que tomem em suas mãos iniciativas locais, mas que para isso funcione e não funcione só como uma onda de entusiasmo passageiro, é preciso ter a capacidade de um atendimento mais individualizado caso por caso. Porque num caso vão ser uns e num outro caso vai ser uma outra coisa, um terceiro caso vai ser um terceiro, quer dizer, como nós aprendemos a trazer recursos que vêm de fora, mas que podem desempenhar um papel catalítico na mobilização dos recursos locais.

Isso para mim existem três coisas: A primeira já fala-mos, a presença de um agente, isso não pode ser feito por ações isoladas. Venho, faço uma grande reunião, fa-zemos, discutimos e acabou.

A segunda deve ser essa capacidade, esse trabalho com a população para ir identificando as oportunidades locais para dar um passo a frente.

E a terceira, voltamos ao centro, à capacidade de um Ministério, como o do Ministério do Desenvolvimento Agrário, de atender demandas individualizadas, e não querer trabalhar com programas padronizados. Devem haver programas padronizados para começo de con-versa, depois essa capacidade de atender exatamente naquilo que aquele lugar precisa que ponha a mão sem-pre, a mesma coisa que o vizinho precisa. Trazer aquilo que falta para deslanchar aquele processo, se o processo for deslanchado ele vai ser depois um processo que vai

se retroalimentar, vai se autoalimentar com a dinâmica que foi criada.

Posso contar um caso que a gente trabalhou nas fa-velas do Rio de Janeiro, há muitos anos. Favelas, proble-mas extremamente sérios, se você começar a usar esse sistema, porque você tem alguma pequena (...) e você vai envenenar (...) e em outro lugar uma criança, e por aí vai, ficamos com um problema que enquanto não hou-ver um plano local que define o que se quer fazer e que define o que tem que ser presente de fora.

Por exemplo, a coleta de lixo. Se você não coleta lixo na favela, você vai morar embaixo desse lixo. Agora, en-trar com o caminhão para coletar lixo na favela, você não vai entrar. Agora, construir uma espécie de duto, quando você joga o lixo lá em cima ele desce lá em-baixo, isso você pode fazer. Habituar a população lá em cima a jogar o lixo naquele duto, você pode fazer. E se você vai, vamos dizer, reduzir a quantidade do lixo na favela, você vai reduzir a população de ratos da favela e por aí vai, certo? Isso a gente andou fazendo, falando essas coisas, e isso foi no Rio de Janeiro. Como você põe movimento em um processo?

E eu me lembro de uma reunião na Fundação de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (FEMA), a gente conversou, conversou, e quando eu voltei um ano mais tarde me apresentaram 400 diapositivos. Eles decidiram mandar um pesquisador e uma fotógrafa andar pelas favelas para ver o que está acontecendo e onde há inovações, potenciais e etc. A fotografia mais bela é a de um cava-lheiro que reuniu ao redor do seu casebre 12 banheiras de demolição. E foi água dentro dessas banheiras, eu não me lembro o que era, peixe ou coisa parecida. Quer dizer, tem uma série de coisas que acontecem, nós não a conhecemos, não recolhemos. Agora, o que você pode fazer de conhecimento fino das realidades das diferen-tes localidades, mobilizando para isso investidores dos cursos superiores com a densidade hoje de graduação

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superior que vocês têm, o número de voluntários de de-senvolvimento que vocês poderiam mobilizar, dizendo simplesmente: “Sim, você vai passar três meses vivendo em uma favela, você vai fazer um trabalho, organizar um pouco e ver como se organiza o trabalho de um antro-pólogo.” Você vai aprender e o que você vai observar, vai haver um efeito retroativo etc.

Eu acho que dá no fundo muita, muita coisa para ir mobilizando recursos, inclusive a boa vontade dos jo-vens. Eu não quero mobilizar por decreto do Ministro da Educação seis milhões de jovens para um serviço obrigatório na favela, mas eu posso, por exemplo, criar um serviço voluntário dando para isso alguns incenti-vos e dando essa orientação. Ou seja, a gente precisa conhecer mais profundamente um lugar, não só para saber quais as mazelas e quais são os problemas a serem resolvidos, mas também para saber quais são os poten-ciais latentes.

E segundo, os potenciais latentes, você precisa de uma assistência externa que em um caso vai ser de como armar uma piscicultura, no outro caso vai ser como me-lhorar as casas, e etc. Essa capacidade de suscitar, por um lado, uma maior atuação por parte das populações e, por outro lado, gerar uma maior capacidade de aten-dimento pontual das demandas para ir quebrando os gargalos que estão impedindo os processos, eu acho que isso faz parte do desenvolvimento territorial. Para isso você precisa de um mínimo de presença permanen-te do terreno e de uma grande capacidade de resposta às demandas diversificadas. O que é o contrário da nos-sa burocrática de programas empurrados de cima para baixo. Eu não digo que isso seja fácil a construir, mas eu acho que essa é a tarefa que nos espera.

IGNACY SACHS – A idéia de que cada universidade, de cada um dos quatro estados definem as suas priorida-des. Digamos que tem a história da Maria Bonita, as bor-boletas do nordeste e por aí vai. Ou seja, criou-se um

programa que partia para tudo quanto é lado, e isso não foi para frente. Eu acredito que para lutar, a luta, inclusi-ve para a luta contra a extrema pobreza do Nordeste, a gente teria que definir outra vez programas partindo de um bioma. Então, o bioma semi-árido, semi-árido, qual é o problema central do semi-árido? Como aprender a usar bem cada gota d’água.

Agora, mesmo nesse semi-árido, vocês têm o São Francisco, e sem entrar agora na discussão, seria abso-lutamente a estrada sobre a questão da transposição do São Francisco. Vocês têm lá: experiências de agricultura irrigada, e do ponto de vista empresarial, são extrema-mente bem sucedidas, Petrolina. Que do ponto de vista social foram uma coisa perdida, porque se fez os experi-mentos de irrigados em função dos interesses das gran-des empresas e não dos pequenos agricultores. Isso não dá mais para corrigir em Petrolina, mas dá, talvez, para corrigir em tudo aquilo que for feito a partir da transpo-sição do São Francisco.

Segundo, vocês têm lá os reservatórios, então vol-tamos ao problema antigo. Eu não sou especialista do ramo, mas eu acredito que chegou ao ponto de ser um lugar de piscicultura muito importante. Aproveito para fazer uma pequena digressão. Quando nós nos reuni-mos a primeira vez que chegou, já fazem uns 10 anos, a vila, que ficou da construção da represa, ainda não esta-va empreendida. Agora, essa vila tinha 1.040 casas de al-venaria com infraestrutura completa e, inclusive, clubes, tudo que vocês querem. Perdeu-se uma ocasião áurea de criaram uma cidade. Isso nós discutimos na época e não conseguimos reverter o processo, mas isso fica como um lembrete para os novos grandes projetos da Amazônia, nesse caso. Pensar de antemão o que se faz com a vila construída para os construtores da represa. Porque se ela passar por um real simbólico, as autori-dades locais se encontram de repente com uma cidade de cinco mil habitantes, já totalmente construída, com

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toda a infraestrutura, só fica o problema do que você

coloca dentro. Então, se você colocar dentro uma escola

profissional de piscicultura, se você incluir e colocar nos

arredores uma usina de enlatamento de peixe, mas ao

mesmo tempo contém água, tem frutas, et Cetera, e tra-

tamento, processamento de frutas, etc. Se você fizer um

bom planejamento, você, disso ainda, tem uma cidade

com uma vocação produtiva e educacional a custo zero.

Isso é fantástico.

E as perdas desses assentamentos se repetem obra

por obra. Hoje, ao que eu saiba, a cidade de Xingó está

invadida totalmente. Não vale mais a pena não, nós va-

mos fazer uma operação policial para recuperar casas

que deviam estar em mal estado e etc. Isso é um lem-

brete para o futuro, quanto tem uma grande obra, que

requer uma grande concentração de mão de obra e as

condições de trabalho para essa mão de obra requerem

a construção de uma vila, de uma cidade etc. Por que

não fazer de uma maneira a pensar no futuro? E eu tenho

um precedente sobre esse assunto que é extremamente

concludente, foi a construção da Vila Olímpica em Bar-

celona.

A Vila Olímpica em Barcelona foi construída como um

bairro de classe média. Acabou o jogo olímpico, coloca-

ram uma mão de pintura e já todos os apartamentos da

Vila Olímpica estavam vendidos. Bom, eu acho que como

vocês têm várias grandes obras do PAC. Essa questão do

que eu faço, vale à pena pensar no planejamento dos

alojamentos como um embrião de uma cidade futura e

mil casas de alvenarias são...

“ Eu posso, por exemplo, criar um serviço

voluntário dando para isso alguns

incentivos e dando essa orientação.

Ou seja, a gente precisa conhecer

mais profundamente um lugar, não só

para saber quais as mazelas e quais

são os problemas a serem resolvidos,

mas também para saber quais são os

potenciais latentes.

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para projetos novos, porque nós temos já aí a experiên-cia dos projetos inteiros. Agora, vejam, eu me lembro há uns 20, 30 anos atrás, não me lembro mais da data, sa-íram artigos sobre o potencial do Vale do Parnaíba, no Piauí. Sim? Existe um plano de aproveitamento do Vale do Parnaíba, com preferência para pequenos agriculto-res? Acho que não, acho que não tem nada.

Bom, é aí que vocês como ministério poderiam, em combinação com o Ministério do Planejamento, come-çar a pensar. No MDA a questão: o que fazer com os pe-quenos, que estão aí, alguns na extrema miséria, outros em miséria menor, etc., etc.? Mas quem está pensando sobre as potencialidades do aproveitamento dos recur-sos latentes de várias áreas geográficas do Brasil, que es-tão ainda por serem aproveitadas. Eu acho que é essa visão que está apontando. Por isso que eu acho que tal-vez tenha chegado o momento de recolocar bem alto a prioridade do planejamento.

A história do planejamento é uma história curiosa, ela começa quando o instrumento na mão do plane-jador se chama ábaco, e nem existe mais, calculadora. Começa aonde? Começa primeiro por causa de guerras e depois, primeira grande experiência de planejamento, de desenvolvimento, acontece em um gigantesco país subdesenvolvido com o ábaco na mão e em um regime autoritário. Mesmo assim o planejamento faz uma entra-da sensacional e existe um breve momento depois da Segunda Guerra Mundial onde todo mundo está plane-jando, inclusive os Estados Unidos na aliança para o pro-gresso exige dos países Latino-americanos que botem na mesa planos, planos mais ou menos superficiais, mas planos.

E bem no período da, vamos dizer, da contrareforma neoliberal, para usar a terminologia antiga, e o planeja-mento desaparece hoje, quase totalmente no horizon-te, quando em meio tempo nós criamos instrumentos que podem fazer o planejamento muito mais eficiente

MAURO DEL GROSSI – Em Itaipu funcionou.

IGNACY SACHS – Em Itaipu não funcionou totalmente,

mas conseguiram recuperar uma parte. Eu estive em Itai-

pu há um ano atrás, uma parte dessa vila está hoje fun-

cionando como um centro de pesquisas razoavelmente

importante. Eu não digo que transforma mil casas de al-

venaria em um instituto de pesquisas, porque... Mas eu

digo que lá tem lugar para pesquisa, para a educação e

para a produção. E isso é um tema que, a meu ver, o Brasil

deveria encarar com muita seriedade, porque tem gran-

des obras em marcha, e vão ter outras PACs em marcha

e vai se repetir a cada vez. Isso vai se repetir a cada vez.

Portanto essa é a minha primeira observação.

E a segunda observação é que eu acho que está fal-

tando, pelo menos eu não conheço nenhum estudo crí-

tico da experiência de Petrolina. Porque por um lado foi

um enorme sucesso, vocês estão exportando uvas do

Nordeste semi-árido e outras coisas etc. Mas do ponto

de vista social? Eu não vi passar um aluno (...). Sobre o

que é hoje Petrolina, para poder discutir o que poderia

ter sido se tivesse havido no começo um programa cria-

do, de preferência ao pequeno produtor, no momento

da criação do perímetro irrigado. Essa questão do pe-

queno produtor, do perímetro irrigado, essa questão do

pequeno produtor de peixe nos projetos, vamos dizer

de piscicultura, é uma questão fundamental. Porque se

você conseguir, de saída, construir uma estrutura social

razoável, vai dar um processo de desenvolvimento to-

talmente diferente do caso de... Eles disseram, as van-

tagens comparativas resultantes do setor de irrigação

serem todas monopolizadas por algumas grandes em-

presas. Por isso eu acho que esse debate tem que ser

levado sempre junto.

Ou seja, o que eu faço com os recursos naturais? Para

quem? Com que participação? Etc. E nisso eu acho que

há um campo para melhorar a atuação, e, sobretudo,

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do que era na época do ábaco, porque temos o com-putador.

E com LU estamos sentados em cima de 50 ou mais anos de experiência, onde ao lado dos casos autoritá-rios, ou de casos menos autoritários, que houve uma experiência de planejamento bastante prolongada, que é a Índia, os indianos começaram a planejar com a in-dependência. Isso significa em 1949, estamos em 2010, eles têm 60 anos de experiência. Eu não digo que ela é toda positiva, eu digo que ela existe 60 anos de experi-ência em um país que tem hoje mais de um bilhão de habitantes.

Cadê isso? Qual é a universidade brasileira que dá uma aula sobre o planejamento em guerra? Com o fato de doutores, doutorando brasileiros, que vão estudar lá e mesmo que façam um estudo crítico, e eu não estou dizendo que o planejamento em guerra não é o que eu desejaria para todos, eu apenas digo que em sessenta anos de planejamento em um país em desenvolvimen-to, de um país que tem um tamanho, de mais de um bilhão de habitantes. Problemas que ele enfrentou, que são gigantescos, alguns foram solucionados, outros con-tinuam gigantescos, um país extremamente pobre, com uma estrutura federal como a de vocês, com a diferença que lá se fala 15 línguas diferentes e se escrevem em sete alfabetos diferentes e etc., etc. E assim mesmo existe.

Quem está escutando isso para tirar, vamos dizer, as experiências positivas? Houve também o caso do plane-jamento francês, que também está mais ou menos intei-rado hoje, mas que durou durante 40 anos, etc.. Eu acho que nós temos que fazer dever de casa, analisar aqueles casos, da maneira mais crítica possível para dizer que tipo de planejamento nós queremos para hoje, para amanhã, com que instrumentos, através de que institui-ção, etc., etc.. Senão, a luta contra a extrema pobreza vira um programa, a produção de vinho, de uva no semiári-do vira outro programa, e os programas ficam correndo

por suas raias sem ter essa articulação e sem responder de uma maneira clara aos, vamos dizer, aos desafios do momento, que podem ser os mais diversos.

Eu acho que chegou o momento de querer fazer mais do que o planejamento do orçamento. Porque sal-vo erro da minha parte, o Ministério do Planejamento hoje é essencialmente o Ministério do Orçamento.

MAURO DEL GROSSI – Agora, está mudando, temos boas notícias.

IGNACY SACHS – Bravo! Mas isso faz parte do nosso debate de hoje. Ou seja, agora, voltando à pobreza ex-trema, primeiro não se pode esquecer que é um dever humanitário ter para casos de pobreza extrema progra-mas sociais, simplesmente de atendimento. O problema é não ficar nisso.

Da mesma maneira, eu acho que a Bolsa Família foi enorme passo para frente, na história do desenvolvi-mento social do Brasil, mas que a ambição deveria ser a longo prazo de sair do Bolsa Família, e não de se per-petuar. Ou seja, em um primeiro passo, fazer do Bolsa Família um instrumento que muda de mãos, ou seja, eu emancipo, de um lado, através da iniciação do processo produtivo aqueles que entraram pelo lado da Bolsa, do Bolsa Família e estão em condições de se emancipar, eu coloco no lugar deles outros. Eu não estou dizendo que se deve desativar o programa Bolsa Família, eu digo que ter um programa Bolsa Família não significa que não se deva ter um programa de emancipação da Bolsa. Por-tanto, por um lado, eu tenho que ir buscando saídas dos programas sociais de cunho assistencial, através de pro-gramas sociais de cunho, eu diria, produtivista. Ou seja, como puxar aqueles que em um primeiro momento eu ajudei a sobreviver, para que se tornem um elemento ativo do processo de desenvolvimento. Por outro lado, eu devo manter as minhas políticas sociais para atender os que estão no fundo do poço.

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Portanto, eu acho que a luta contra a extrema po-breza requer como primeiro andar, como andar térreo, uma política de atendimento a essa gente, e eu direi uma política diferenciada na medida em que o público, que representa a extrema pobreza, não é um público homogêneo. São coisas bem diferentes, eles acabam fi-cando fora da estrada por razões diferentes e, portanto, requerem formas de assistência diferenciada.

Bom, dito isso, com todas as precauções que eu to-mei, de um lado e do outro lado, para mim o problema central do desenvolvimento, se eu tiver que dar três prioridades, serviria: a primeira, emprego; a segunda, emprego; e a terceira, emprego. Nós temos que rea-prender a pensar desenvolvimento em termos de cria-ção de oportunidades de trabalho decente.

Essa palavra trabalho “decente” à primeira vista pare-ce um pouco esdrúxula, mas que em segunda aproxi-

mação, ela diz o que ela diz, ou seja, ela introduz critérios qualitativos que nós temos que respeitar. Tem que ser um trabalho realizado em condições de trabalho decen-tes, que geram uma renda decente, dadas as condições da economia do país no qual estamos, e que dá lugar a relações humanas, decentes, sem truques, que traba-lham.

Bom, então, trabalho decente deveria está no ponto de partida de toda a reflexão sobre as estratégias de de-senvolvimento a longo prazo. Agora, eu já abri emprego, autoemprego, autoemprego parcial, atividades para tra-balhar extras. Do ponto de vista científico, eu acho que nós temos que voltar com grande força ao estudo dos orçamentos. Ou seja, quanto tempo que a gente tem que reservar para descanso, para poder trabalhar em condições normais? Ou depois, quanto tempo para ati-vidades produtivas fora, atividades produtivas dentro da casa, atividades não produtivas.

Primeiro não se pode esquecer que é um dever humanitário

ter para casos de pobreza extrema programas sociais,

simplesmente de atendimento.

O problema é não ficar nisso.

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A gente não (...), quer dizer, podemos ter diferentes modelos culturais do uso do tempo, necessidade, e claro que esses modelos não são os mesmos para os homens e as mulheres, nem são os mesmos para as diferentes cidades.

A gente começou a trabalhar isso nos anos 70, e por uma razão ou outra esses trabalhos não continuaram, mas acho que eles são muito importantes, servem até para uma visão... Um livro extremamente importante nessa, em toda essa discussão, é um livro do Huizinga, um belga, que se chamava Homo Ludens, porque nós somos ao mesmo tempo homo fala e homo ludens. É onde... Eu acho que aí há pistas extremamente interes-santes para um trabalho muito mais acadêmico.

Ou seja, dito isso, voltando à pobreza, eu me pergun-to se não há um espaço para reabrir um velho debate dos anos da ditadura da pobreza na crise de 29, de duas sequências, ou seja, trabalhos públicos e que vão nesse (...), que se chamava trabalhos públicos e (...), ou seja, tra-balhos públicos com uma intensidade capitalística ex-tremamente baixa. Deve haver espaço, agora, não para fazer qualquer coisa, ou seja, o olhar para (...), e sim iden-tificar as áreas onde nós poderíamos voltar a um con-ceito que está totalmente, eu não diria esquecido, está acumulado em trabalhos públicos. Porque, olha, o que tem ainda aqui de conserto da infraestrutura, de aber-tura de canais, de abertura de não sei o quê, etc., etc. e a questão da escolha da tecnologia para esses trabalhos públicos sem cair no extremo de que é tudo fazer de (...), mas também sem cair no outro extremo de deixar que as coisas se passem por máquinas importadas.

Acertar a melhor intensidade de capital dos trabalhos das obras públicas, eu acho que é sim um campo para, se eu tiver que planejar desenvolvimento no Brasil, eu certamente me voltaria alguma atenção a essa questão: aonde estão os nichos para trabalhos públicos de in-tensidade moderada em capital? Porque isso para mim

gera para um fundo de investimento dado um número maior de gente empregada.

E dentro dessa lógica, eu gostaria de reprisar um as-sunto que está também bastante esquecido, que é um problema da manutenção, da conservação do parque existente de imóveis, de bens de capital, dos automó-veis da vida e etc.. Através de uma manutenção melhor você prolonga a vida útil, portanto você reduz a neces-sidade de investimento de reposição.

A questão é se eu jogo fora depois de três anos e compro um novo, ou se eu uso o dinheiro que eu pou-po ao manter cinco anos ao invés de três para entregar à gente que faz aquela manutenção, isso são questões que em uma comissão de planejamento deveriam ser discutidas. O que fala contra a manutenção, é que você mantém e que também o custo de produtividade que era razoável quando eram novos, mas que viram obso-letos se são mantidos durante anos.

Com a vida útil que eu (...) aos diferentes equipa-mentos, como eu faço, vamos dizer, a arbitragem entre colocar mais mão de obra para prolongar a vida útil de um equipamento, ou colocar mais dinheiro na compra do novo equipamento? Isso são problemas sobre os quais não há uma resposta automática dada uma vez por todas e de antemão. A gente tem que se internar nas realidades e começar a ver onde estão as alternati-vas, e depois tentar buscar as melhores alternativas de acordo com a ordem das prioridades que a gente quer atender.

Eu acredito que vocês tenham bastante espaço para criar bastante emprego em uma manutenção melhor ao invés de permitir que alguns equipamentos sejam descartados e repostos com equipamentos novos. Isso diz certamente, diz respeito certamente ao parque imobiliário. Uma boa manutenção de um prédio vai prolongar a sua vida útil. Então, com essa alternativa,

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ou eu coloco dinheiro todo ano na manutenção, ou eu

começo a poupar dinheiro hoje, porque daqui a 10 anos

ter que construir um prédio novo.

Sem cair nos extremos, eu não digo que nós deva-

mos a todo custo manter automóveis construídos há

vinte anos atrás, mas tampouco aceito essa tese de que

nós devemos jogar fora os automóveis depois de cinco

anos, entendeu?

Bom, isso para dizer que há espaço para planejar,

que há espaço para colocar esses problemas sempre

em termos de alternativas, e depois de promover solu-

ções negociadas com os atores do processo de desen-

volvimento (...). A grande novidade do momento que

estamos vivendo é que nós hoje estamos reconhecen-

do a importância de um planejamento democrático,

no qual o diálogo quadripartite, eu digo quadripartite,

entre o estado desenvolvimentista, os empresários pri-

vados e públicos, os trabalhadores de todos os níveis e

a sociedade civil organizada, esse diálogo tem que ser

organizado a todos os níveis, para todos os problemas.

E isso é novo, relativamente novo, o reconhecimento da

sociedade civil organizada é um fenômeno de 30, 40 ou

50 anos.

JOAQUIM SORIANO – Acho que o brasileiro tem mais.

PROFESSOR ARACI – Bom, para mim um planejamento

é isso. Eu uso a definição do planejamento que certa-

mente eu acho que é muito boa, mas ela é certamente

é mais breve possível. Costumava dizer que o planeja-

mento é o pensamento colocado em atos. Nós temos

que aprender a colocar na mesa variantes, definir bem

quais são os critérios com os quais nós queremos avaliar

essas variantes, promover o debate quadripartite com

a quase certeza que nenhuma das variantes vai ser re-

tida. Quase total certeza que a partir da discussão so-

bre as variantes colocadas na mesa, vai surgir uma nova

proposta que procura aproveitar as melhores partes de

cada uma das variantes e descartar aquelas que menos

interessam. Bom, é esse o processo que nós temos que

colocar em funcionamento a todos os níveis, a nível Fe-

deral, a nível das regiões, a nível local, certamente a nível

do planejamento do que fazermos com os territórios de

cidadania.

BRENO TIBÚRCIO – Eu gostaria de encerrar esse diálogo

com uma pergunta menos complexa que as anteriores.

Bom, sou Breno Tibúrcio, especialista em desenvolvi-

mento rural sustentável do IICA Brasil. Na sua opinião,

professor, qual o papel das agências multilaterais de

cooperação, dos organismos internacionais, perante os

desafios para 2012 que o senhor colocou e na questão

da educação da pobreza rural no Brasil?

IGNACY SACHS – Eu acredito que não se pode pensar

em uma cooperação internacional sem colocar na mesa

a questão do papel das agências multilaterais dos tipos

mais diversos. Vou responder depois que eu desenvol-

ver uma reflexão: posso estar errado, eu penso que se

não tivéssemos tido as Nações Unidas provavelmente já

teríamos passado por uma Terceira Guerra Mundial, ou

seja, elas tiveram um papel importante e fica o embate

entre os dois sistemas anteriores em um momento em

que eles estavam em uma posição de briga de gatos.

Bom, dito isso eu não creio que o sistema das Nações

Unidas esteja hoje bem adaptado às tarefas que nos es-

peram. Deixo de lado a questão do Conselho de Segu-

rança onde a presença do Brasil, da Índia e da Africa do

Sul são postulações evidentes e onde há evidentemente

uma resistência das grandes potências atuais. Porque a

China sim e a Índia não? Porque a França e não o Brasil?

Portanto, o problema do Conselho da Segurança é um

problema que não está resolvido, e eu no lugar de vocês

certamente ficaria insistindo sobre o assunto, ainda que

tenham poucas esperanças de que isso aí seja resolvido

em um futuro próximo, porque os que já estão lá dentro,

estão fazendo todo o possível para não.

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Mas, deixando isso de lado, vamos a esse problema que a meu ver está maduro para ser tratado em um fu-turo próximo. Uma cooperação melhor articulada em nível mundial, ela passa, a meu ver, como eu já disse e não vou repetir, por uma redefinição da geografia das cooperações técnicas, dando absoluta prioridade aos biomas, porque aí você tem pelo menos um denomina-dor comum, você tem o mesmo tipo de recursos. Mas ela passa também por uma boa revisão do que fazem as diferentes agências das Nações Unidas, que muitas vezes se comportam como irmãs e eu coloquei isso em um livro e eles não gostaram, e eu chamei isso, elas se comportam como irmãs. Cada uma querendo puxar a brasa para o seu lado. Onde termina a Unesco e começa o Clube? Onde termina o Clube começa isso e aquilo. E por que um banco mundial e os bancos regionais. E onde termina o banco mundial e onde começa o banco interamericano?

Ou seja, há uma série de brigas de sobreposições e

etc., que eu acho muito difícil, ou seja, embora fiel ao

que eu disse sobre a manutenção e a renovação, eu

acho que o edifício das Nações Unidas, que foi inven-

tado em 1944 ou 1945, merece talvez uma boa revisão.

Mas não vamos nos deter a isso. Isso aí vai durar anos.

Onde há espaço para atuar mais ativamente? Sempre

nessa lógica de biomas. Fazer com que as comissões re-

gionais das Nações Unidas comecem a trabalhar melhor

entre si. Está certo? Porque nós temos a CEPAL, nós te-

mos a ECAFE, nós temos a ERCOM africana, nós temos a

européia, só que elas criaram universos separados.

E isso tem que ser, de uma maneira ou de outra, proi-

bido, precisamente por programas horizontais. Eu acre-

dito que isso seja possível, mas requer um desenho que

não está, por enquanto, na mesa.

Uma cooperação melhor articulada em nível

mundial, ela passa, a meu ver, como eu já disse e

não vou repetir, por uma redefinição da geografia

das cooperações técnicas, dando absoluta

prioridade aos biomas, porque aí você tem pelo

menos um denominador comum, você tem o

mesmo tipo de recursos.

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Vou dar um exemplo de duas instituições pequenas, ambas poderiam ter um papel mais importante. Uma delas é a UNITAR, não sei se vocês já ouviram falar da UNITAR, que é a United Nations Institute for Training and Research. É uma pequena instituição sediada em Gene-bra, depois de ter sido sediada na sede de Nova Iorque e que tem a particularidade de ser hoje dirigida por al-guém muito conhecido aqui, porque ele foi um diretor e escritor aqui no Brasil, o Carlos Lopes, um cidadão do mundo. O que faz essa instituição? Ela pode ser extre-mamente útil em articular, por exemplo, programas de pesquisa para o bioma, uma oportunidade.

Bom, mas o boom de quando foi criada as Nações Unidas já não vale mais aquele valor. Em uma peque-na instituição com um orçamento que certamente não deve estar hoje maior que cem milhões de dólares que criou uma série de institutos espalhados no mundo, que têm uma atuação totalmente insignificante. Agora dá para recolocá-la nos eixos? Obviamente que dá, se ela se concentrar sobre a questão de propor, coordenar pro-gramas chamando as universidades, por exemplo, do sul a trabalharem juntas sobre certos temas, um papel ex-tremamente importante nesse negócio da construção dos programas. Dá para uma instituição dessas evoluir, só que requer um pouco de pensamento, tudo isso para dizer: O sistema das Nações Unidas nasceu da análise crítica da sociedade das nações entre as duas Guerras Mundiais, teve os seus altos, teve os seus baixos acho que em última instância nos poupou conflitos mun-diais extremamente graves e requer um “ajornamento”, palavra italiana, mas diz o que diz. O ajornamento em francês é o misajour, precisa de uma modernização e infelizmente ninguém está pensando nesse momento. Então está se fazendo mudanças incrementais, aqui faz um pedacinho, lá monta um programa, lá cria uma pe-quena agência e etc. Nós precisamos de uma visão do que as Nações Unidas deveriam ser para a segunda me-tade do século XX.

Eu estou por dentro, estamos em 2012, estou dan-do 38 anos para o ajornamento, talvez eu esteja exage-rando um pouco. O que eu quero dizer para encerrar este assunto, é que o ajornamento das Nações Unidas deveria vir essencialmente de uma reflexão dos países emergentes, porque eles são a maioria das Nações Uni-das. E a minoria dos países ricos não está interessada no ajornamento. Vocês deveriam estar interessados no ajornamento das Nações Unidas, mas para poderem atuar nesta comunicação deveriam votar em uma meia dúzia de bons especialistas em direito internacional, em relações internacionais, para que comecem a pensar em que direção se deve empurrar o sistema das nações unidas. Isso será certamente difícil e doloroso e, portan-to, por enquanto, devemos nos contentar e aproveitar o que já existe.

A Unesco já teve altos, já teve baixos, não me pro-nuncio a mudança radical na Unesco, é uma pulga que assumiu a direção geral, e não tenho opinião clara. Mas isso vocês têm cientistas, têm diplomatas que sabem que acompanham etc.

E eu concluiria isso dizendo que a grande reforma das Nações Unidas são esquecidas como um dos te-mas, e aí uma cooperação dos emergentes para colocar na mesa uma proposta articulada, seria a meu ver, uma enorme importância. Eu não acredito que os países eu-ropeus, os Estados Unidos ou a China estejam prepara-dos a abdicarem das posições de força que tem hoje no sistema das Nações Unidas.

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no t í c i a s do f ó r um[ ]

Seminário sobre agricultura no Rio de Janeiro terá a participação do IICA

O Brasil vem apresentando um complexo repertório

de políticas e instrumentos de intervenção direcionados

à agricultura. Ao mesmo tempo uma série de estudos e

pesquisas se voltam para analisar a dimensão e os resul-

tados dessas iniciativas. Com este cenário, o Observatório

de Políticas Públicas para a Agricultura (OPPA/UFRRJ) rea-

liza entre os dias 10 e 11 de novembro, o Seminário Inter-

nacional “Políticas Públicas, Atores e Agricultura no Brasil:

desafios e possibilidades em jogo”.

O evento que acontece na sede do CPDA/UFRRJ (Av.

Presidente Vargas, 417 - Centro - Rio de Janeiro) terá a par-

ticipação do IICA com o diretor-executivo do Fórum DRS,

Carlos Miranda, no dia 10 (quinta-feira), às 10 horas. Com

o tema - Experiências, aprendizagens, avanços e limites

no exercício das políticas públicas para a agricultura bra-

sileira - Miranda será um dos expositores da manhã ao

lado de Guilherme Delgado (IPEA) e Jan Van Der Ploeg

(Universidade de Wageningen-Holanda).

No dia 11 será a vez do Assessor Técnico do Fórum

DRS, Breno Tibúrcio, participar do Seminário. Na pales-

tra, o assessor do IICA irá expor sobre o desenvolvimento

territorial e a produção de biodiesel. A proposta é tratar

dos atores sociais e dos mecanismos de política em jogo.

Com o apoio de diversas instituições e agências de fo-

mento, o Seminário possui entrada franca e as inscrições

serão feitas no próprio local.

Com o tema “Políticas Públicas, Atores e Agricultura no Brasil: desafios e possibilidades em jogo”, o evento acontece nos dias 10 e 11 de novembro

LANÇAMENTO – Durante o evento o Fórum DRS promoverá

o lançamento de duas edições da Série DRS. A edição 13,

sobre Marco Jurídico, e a 14, a respeito de atores sociais

nas políticas públicas. Os dois livros estão disponíveis no

site do Fórum DRS para dowload.

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�� OUTUBRO 2011 www.iicaforumdrs.org.br

no t í c i a s do f ó r um[ ]

Termina o VI Fórum Internacional de Desenvolvimento Territorial

O encerramento do VI Fórum Internacional de Desenvolvimento Territorial que aconteceu em Sal-vador (BA), de 23 a 28 de outubro, contou com o último painel sobre os requisitos para a construção de estratégias sócioprodutivas. Além disso, uma mesa de encerramento formada pelo diretor-executivo do Fórum DRS, Carlos Miranda, e o secretário de Desenvolvi-mento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio, Jerônimo Souza, finalizou o evento.

Carlos Miranda agradeceu aos parceiros e a todos os participantes e lembrou que a ideia de discutir o tema da 6ª edição nasceu da importância da inclusão sócioprodu-tiva. “Tivemos a visão da sociedade com a coordenação do Cândido do Ibase e ele nos mostrou uma questão primor-dial. Vamos nos incluir em uma modelo que nos excluiu?”, lembrou.

A sexta-feira também contou com a participação de Miguel Carbajal, Vice Ministro de Desenvolvimento Rural do Equador, e com a contribuição de Roberto Marinho, re-presentante da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego. Miguel contou que o país tem investido principalmente na educação pública para diminuir os altos níveis de exclusão.

O Vice Ministro também explicou que a extrema po-breza no Equador sofreu uma redução importante. ”Em 2000, os pobres representavam 39% da população. Hoje

Evento debateu políticas públicas e estratégias para a inclusão sócioprodutiva, entre 23 e 28/10, em Salvador (BA), com boa participação do público

são 12%. Para esse número di-minuir, é necessário fortalecer as redes de comercialização alter-nativas, investir na ciência e na tecnologia e melhorar o acesso ao crédito dos bancos públicos”, afirmou Miguel.

Integração - O economista do BN-DES Bruno De Conti concordou e

mostrou que os bancos públicos são fundamentais para promover a inclusão sócioprodutiva. “Muitas pessoas não conseguem acessar o sistema financeiro e o crédito. É quando o banco público entra para ajudar, mas o simples fornecimento de dinheiro não é suficiente. O auxílio precisa estar associado à capacitação e à infraestrutura”, ressaltou.

O economista citou que programas como o Pronaf, Crediamigo, Crescer e Microcrédito funcionam para aten-der essas demandas, principalmente dos beneficiados pelo Bolsa Família. “Com essas iniciativas, eles podem ir além da mera transferência de renda” , disse Bruno. O coordenador da mesa professor da UFSC Lauro Mattei disse que o Pronaf precisa mudar. “É preciso ter outra política territorial”, frisou.

O encerramento também foi marcado por uma ma-nifestação de alguns participantes do Fórum, a maioria integrantes da Rede Nacional de Colegiados Territoriais. Eles pediram maior participação de representantes do mo-vimento social no próximo Fórum, não só do Colegiado, como também, de mais organizações não governamentais ligadas ao tema nos painéisdo evento.

Foto: Pedro Ladeira

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��www.iicaforumdrs.org.br OUTUBRO 2011

no t í c i a s do f ó r um[ ]

Chega ao fim o IV Curso Internacional sobre Desenvolvimento Territorial

Depois de nove dias, foi

encerrado o IV Curso Interna-

cional Atualização Conceitual

e Intercâmbio de Experiências

em Políticas Públicas de De-

senvolvimento Territorial, pro-

movido em Salvador (BA) pelo

Fórum DRS/IICA. Técnicos e

dirigentes de organizações so-

ciais, membros de colegiados

territoriais, gestores públicos, entidades de fomento do

Brasil e de outros países latino-americanos (Argentina,

Costa Rica, Equador, Honduras, Paraguai, República Do-

minicana e Uruguai) participaram das aulas que come-

çaram em 16/10.

Contextualização das políticas públicas de desenvol-

vimento territorial no Brasil, evolução das concepções

de políticas públicas de desenvolvimento rural, experi-

ências de desenvolvimento territorial no Brasil e em pa-

íses latino-americanos, lições aprendidas das experiên-

cias brasileiras, metodologias para a sistematização de

experiências de políticas e programas territoriais foram

alguns dos conteúdos temáticos trabalhados nos seis

módulos.

Na segunda-feira (24/10), os dois grupos que foram

divididos no fim de semana para fazerem uma visita a

campo (Litoral Sul e Bacia do Jacuípe) trocaram as ex-

Troca de experiências e avaliação final dos participantes fecham o último dia do evento promovi-do pelo Fórum DRS/IICA, em Salvador (BA)

periências vivenciadas nos ter-

ritórios. Coletivamente, foram

debatidas questões como pro-

tagonismo social, articulação

de políticas públicas, novas

institucionalidades, marco ju-

rídico e financiamento, entre

outros, mediados por Breno

Tibúrcio (IICA) e Sílvia Zimmer-

man (UFRRJ).

De modo geral, a avaliação final feita pelos partici-

pantes (brasileiros e estrangeiros) do IV Curso Interna-

cional foi positiva. Maior contato com os moradores e

articuladores dos territórios, mais atividades culturais

e ações de integração foram algumas das sugestões

feitas.

Os alunos continuaram em Salvador até o dia 28 de

outubro. Como complemento ao Curso, eles participam

do VI Fórum Internacional de Desenvolvimento Territo-

rial: estratégias de inclusão sócioprodutiva, que come-

çou no dia 25, com aproximadamente 500 participantes

do Brasil e também do exterior.

Foto: Lorena Castro

Page 24: Edicao 81

�4 OUTUBRO 2011 www.iicaforumdrs.org.br

sob r e d r s[ ]

Brasil ganha Centro de Excelência contra a Fome

A Organização das Nações Unidas lançou um Centro de Ex-

celência contra a Fome com sede em Brasília. O núcleo da ONU

vai prestar assistência a governos de países da África, da Ásia e

da América Latina. A experiência do Brasil em políticas de com-

bate à fome permitiu a criação do Centro que pretende transmi-

tir conhecimento e técnica desenvolvidos no País, assim como,

promover modelos de merenda escolar e formas seguras de nu-

trição ao redor do mundo.

A nova instalação usará as experiências do Programa Mun-

dial de Alimentos (PMA) que é a maior agência humanitária do

mundo no combate à fome. O anúncio oficial aconteceu no dia

7 de novembro durante a abertura da 4ª Conferência Nacional

de Segurança Alimentar e Nutricional que está sendo realizada

em Salvador.

A Diretora Executiva do PMA, Josette Sheeran, elogiou o Bra-

sil. “Como um campeão mundial na luta contra a fome, o Brasil

tem uma rica experiência a ser compartilhada com os governos

interessados em aprender como os brasileiros. Junto com o Bra-

sil, estamos compartilhando este conhecimento com o resto do

mundo”.

O economista brasileiro Daniel Balaban será o diretor do

Centro. O mestre em relações exteriores destacou que o Brasil

ganhou respeito e tornou-se referência. “A implementação das

políticas de transferência de renda é um exemplo bem-sucedido.

O nosso objetivo é transmitir o conhecimento e a técnica desen-

volvidos aqui, por meio de treinamentos, do estímulo à adapta-

ção às culturas e ao modo de viver de cada país. No total, vamos

atuar em 18 países”, disse.

Na Conferência onde aconteceu o lançamento foram apre-

sentados ainda os principais eixos do Plano Nacional de Segu-

rança Alimentar e Nutricional de coordenação do Ministério de

Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS). O Plano deve

entrar em vigor no ano que vem. A ministra do MDS Tereza Cam-

pello comemorou os avanços.

“A primeira grande vitória é ter colocado dentro da agenda

nacional o problema da fome, construindo políticas estrutu-

rantes. A segunda grande questão é a construção e valorização

do fortalecimento da agricultura familiar e a terceira é estarmos

construindo no Brasil um exemplo de desenvolvimento econô-

mico garantindo a inclusão”, destacou.

ONU escolhe o País devido a experiência com programas sociais e pelos avanços na última década

Ana Nascimento/MDS

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��www.iicaforumdrs.org.br OUTUBRO 2011

sob r e d r s[ ]

Governo define sustentabilidade e erradicação da

pobreza como prioridades

A Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Sustentável, a Rio +20, deve discutir um compromisso global

pautado pelo crescimento com sustentabilidade e pela erradi-

cação da pobreza extrema. Essa é a visão do Brasil apresentada

à ONU e que servirá como base para as negociações internacio-

nais que antecedem o encontro no Rio de Janeiro.

“Ao trazer a conferência, o Brasil assume um compromisso

muito maior. O país precisa exercer a liderança e sugerir metas

concretas de desenvolvimento. Se não há fronteiras para a cri-

se econômica, então as soluções sociais e ambientais também

devem ser pensadas a nível mundial”, afirmou Esther Bemerguy,

secretária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social

da Presidência da República (CDES).

Durante a reunião do G20, a presidenta Dilma Rousseff anun-

ciou alterações na data. A Rio +20 está marcada para a semana

do dia 20 de junho. O governo federal vai utilizar as experiências

do Bolsa Família, do Luz para Todos, do Bolsa Verde e do Brasil

sem Miséria para propor um esforço coletivo pela erradicação

total da miséria.

No VI Fórum Internacional de Desenvolvimento Territorial, o

diretor-geral do Ibase comparou a situação atual com a experi-

ência da Eco 92. “Vinte anos depois estamos pior e nada foi feito.

Estados Unidos, Europa e Japão não querem assumir um com-

promisso. Se no Brasil temos a usina de Belo Monte e o código

florestal, por que a conferência está se resumindo à economia

verde? Será que nós, enquanto sociedade, não podemos inverter

isso?”, propôs Cândido Grzybowski.

O documento enviado à ONU coletou subsídios de uma

consulta pública feita em setembro pelo Ministério do Meio

Ambiente. Em pouco mais de duas semanas, 139 questionários

foram respondidos pela sociedade civil, academia, empresas e

governos locais. Além da criação de indicadores que avaliem o

compromisso de todos com o desenvolvimento sustentável, es-

ses setores acreditam que deve ser estimulada uma plataforma

de diálogo permanente, que não esteja restrita à Conferência.

Diretor do Ibase criticou direcionamento da Conferência para a economia verde durante o VI Fórum de Desenvolvimento Territorial

Foto: Pedro Ladeira

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�6 OUTUBRO 2011 www.iicaforumdrs.org.br

sob r e d r s[ ]

Brasil está muito atrasado na gestão de resíduos

sólidos, afirma pesquisadora

A menos de três anos da Copa do Mundo de 2014 a reciclagem volta a ser tema de destaque especialmente nas cidades sedes. A pesquisadora em economia solidária Jacqueline Rutkowski disse que o Brasil tem que aproveitar o momento favorável para mobilizar a sociedade e os ges-tores públicos a repensarem sobre os resíduos sólidos.

O Brasil ficou conhecido como o País onde o lixo se tornou alternativa para milhões de pessoas entrarem no mercado de trabalho. A doutora em Engenharia de Pro-dução acredita que a vontade política somada a cons-cientização da população pode ajudar a evitar inúmeras consequências como o aumento astronômico da produ-ção de resíduos no mundo.

Doutora em Engenharia de Produção e pesquisadora do IICA Jacqueline Rutkowski disse que o Brasil deve aproveitar o momento favorável da Copa do Mundo

Estamos muito acostumados em gerar

resíduos. A gente compra um sapato hoje

em dia e ele vem com quatro embalagens

diferentes. O mesmo acontece com o copo

de água que jogamos fora toda hora.

Foto: Lorena Castro

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��www.iicaforumdrs.org.br OUTUBRO 2011

No entanto não é apenas a Copa do Mundo que pode acender o tema. “Nossa lei ficou cerca de uma década parada. Com a aprovação criamos um motor para os municípios se moverem. A lei prevê que até 2014 acabem com os lixões”, destacou a consultora do IICA que lamentou o costume da população de gerar resíduos.

“Estamos muito acostumados em gerar resíduos. A gente compra um sapato hoje em dia e ele vem com quatro embalagens diferentes. O mesmo acontece com o copo de água que jogamos fora toda hora”, criticou Jacqueline que também apontou o poder público como fator decisivo para a melhora do pro-blema. “Estamos muito atrasados neste assunto. Vejo que também falta vontade política de investir recur-sos”, frisou.

Sobre a Copa do Mundo, Jacqueline lembrou que a população flutuante das cidades sedes irão aumentar consideravelmente. “Vai trazer muito consumo e, con-sequentemente, resíduos sólidos. Por isso é positiva todas as políticas em torno do tema com a chegada do evento. Pensar na geração e destinação do lixo é fundamental”. Segundo ela, mais de 500 mil pessoas vivem hoje da coleta e comercialização no Brasil, mas apenas 10% são organizados em cooperativas ou as-sociações.

A pesquisadora repercutiu o caso de Belo Horizon-te (MG), onde o legislativo sancionou uma lei em que os supermercados não podem mais distribuir sacolas plásticas. “Grande parte da população respondeu bem e hoje vai ao mercado como nossas avós, com uma sacola, mas outros ainda criticam a medida. Ainda te-mos muito que progredir. Em uma escala maior, ainda temos 4 mil municípios que não têm nenhuma gestão de resíduos sólidos”, completou.

*Jacqueline Rutkowski é formada em Engenharia Mecânica e dou-tora em Engenharia de Produção. Desde 2000 se tornou pesquisadora na área de economia solidária com foco na reciclagem. Atualmente é

consultora do IICA na parceria com a Fundação Banco do Brasil.

A SÉRIE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL expressa a efetiva

colaboração tanto da Representação do IICA no Brasil quanto do Fórum

Permanente de Desenvolvimento Rural Sustentável em busca do desenvolvimento

agrícola e do bem-estar das comunidades rurais.

Reúne artigos assinados por renomados profissionais nacionais e internacionais

com o objetivo de difundir e suscitar o intercâmbio de conhecimentos e de

iniciativas bem-sucedidas de desenvolvimento sustentável no meio rural,

promovidos por instituições acadêmicas, instituições governamentais e

nãogovernamentais e organizações da sociedade em geral.

Série

Desenvolvimento Rural Sustentável

Mais detalhes da Série no site: www.iicaforumdrs.org.br

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�� OUTUBRO 2011 www.iicaforumdrs.org.br

e ven t o s[ ]

III Colóquio sobre agricultura familiar e desenvolvimento ruralPainéis e oficinas irão compor o III Colóquio Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural, evento que acontecerá nos dias 17 e 18 de novembro em Porto Alegre. O ob-jetivo do Colóquio é contribuir na elaboração de uma agenda de trabalhos e pes-quisas acerca da construção de mercados e suas relações com a agricultura familiar, os desafios e implicações para o desenvolvimento rural. Realizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural, o evento con-ta com apoio e promoção do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) e Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e do Núcleo de Estudos Agrários e Desen-volvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (NEAD/ MDA). Com o tema “Construção de mercados para a agricultura familiar: desafios para o desen-volvimento rural”, os debates serão realizados através de quatro painéis e quatro oficinas.

I Jornada Questão Agrária e Desenvolvimento

Para refletir sobre temas da questão agrária e do desenvolvimento rural paranaen-se, representantes de diferentes grupos de pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pensaram na necessidade de integrar localmente atores sociais, mo-vimentos do campo e interessados. A demanda gerou a I Jornada Questão Agrária e Desenvolvimento, que vai debater o tema “Dimensões e perspectivas dos sujei-tos do campo paranaense na multidimensionalidade da questão agrária”, de 16 a 18 de novembro, no município de Lapa, no Paraná. As inscrições de participantes podem ser feitas gratuitamente até 09 de novembro no site do evento. Com o ob-jetivo de refletir sobre o desenvolvimento rural e as questões agrárias no Paraná, o evento procura desenvolver uma forma coletiva de identificar problemas e buscar soluções, implementando ações e práticas sobre questões rurais e ambientais com a colaboração de pesquisadores, professores, estudantes e membros de organiza-ções de agricultores.

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Rede de Estudos Rurais A Rede de Estudos Rurais vai selecionar até oito artigos para compor dossiê temático sobre “Contextos Rurais e agenda ambiental no Brasil: práticas, políticas, conflitos, interpretações”. A chamada pública está com as inscrições abertas até 14 de novembro de 2011. O resulta-do dos artigos selecionados será divulgado no dia 20 de dezembro, e a publicação eletrô-nica do dossiê ocorrerá em 30 de março de 2012. Os textos deverão ser enviados no prazo para o e-mail [email protected]. Os artigos devem conter abordagens originais, atuais e relevantes na temática do dossiê. Dirigida principalmente a jovens pesquisadores, a seleção pretende reunir trabalhos de mestrado e doutorado a fim de aprofundar o debate sobre temas como os conflitos em torno da construção de grandes obras de infraestrutura e projetos agropecuários, além da polêmica acerca do novo código florestal.

e ven t o s[ ]

Seminário Internacional de Políticas Públicas, Atores e Agricultura no Brasil: desafios e possibilidades em jogo

O Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura (OPPA/UFRRJ) realiza entre os dias 10 e 11 de novembro, o Seminário Internacional “Políticas Públicas, Atores e Agricultura no Bra-sil: desafios e possibilidades em jogo”. O evento que acontece na sede do CPDA/UFRRJ (Av. Presidente Vargas, 417 - Centro - Rio de Janeiro) terá a participação do IICA com o diretor-executivo do Fórum DRS, Carlos Miranda, no dia 10 (quinta-feira), às 10 horas. Com o tema - Experiências, aprendizagens, avanços e limites no exercício das políticas públicas para a agricultura brasileira - Miranda será um dos expositores da manhã ao lado de Guilherme Delgado (IPEA) e Jan Van Der Ploeg (Universidade de Wageningen-Holanda).

Mais informações: http://www.ufrrj.br/cpda/oppa/

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espec i a l[ ]

Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil

JUVENTUDE

SEMIÁRIDOTERRITÓRIOS

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

BOAS PRÁTICASINCLUSÃO POLÍTICA

INCLUSÃO PRODUTIVA

GÊNERO

CONHECIMENTO

DEBATE

TECNOLOGIA SOCIAL

GESTÃO

POLÍTICAS PÚBLICAS

TECNOLOGIA

INICIATIVAS

COMUNICAÇÃO

RESULTADOS

SEMINÁRIO NACIONAL

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Seminário Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil

Há seis meses foi lançado em Brasília o programa de Ges-tão do Conhecimento nas Zonas Semiáridas do Nordeste Brasileiro, que tem como foco facilitar o acesso ao conheci-mento e às ferramentas necessárias para quebrar o ciclo da pobreza rural na região. Como primeira atividade do Progra-ma foi realizado entre os dias 14 e 16 de setembro, em Salva-dor, o Seminário Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste Brasileiro. O evento teve como obje-tivo impulsionar o Programa lançado em maio e a busca por organizar redes de colaboração e de intercâmbio de conhe-cimentos e experiências na região. Durante os três dias de evento, aproximadamente 300 convidados foram divididos em painéis na tentativa de implementar propósitos e com-ponentes. Veja neste especial o que foi discutido e os princi-pais pontos debatidos durante o evento.

Cerca de 300 participantes entre eles gestores públi-cos, técnicos, acadêmicos e dirigentes de movimentos sociais, discutiram, entre os dia 14 e 16 de setembro, idéias para a implementação do Programa Gestão do Co-nhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste Brasileiro durante Seminário que levou o mesmo nome do Progra-ma. O evento teve como objetivo facilitar o acesso ao co-nhecimento e às ferramentas necessárias para quebrar o ciclo da pobreza rural na região.

O diretor-executivo do Fórum DRS, Carlos Miranda, dis-se que o seminário foi o primeiro passo para pensar como enfrentar a pobreza na região. “Durante os três dias discuti-mos a gestão do conhecimento em diferentes experiências e nossa aposta é que o projeto seja amplamente difundido e que seja aceito, em outros estados, como na Bahia”, disse se referindo ao governo que abraçou o evento.

Veja neste especial os principais pontos debatidos du-rante cada painel do Seminário

Abertura - A mesa de abertura foi formada pelo repre-sentante do IICA no Brasil, Manuel Otero, o diretor de operações do FIDA, Ivan Cossio, o coordenador geral da AECID, Jesus Molina, e o chefe de gabinete da Seplan (BA), Benito Juncal, todos parceiros no programa.

Abertura

Foto: Lorena Castro

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Segundo o pesquisador, o conhecimento passa a ser

fundamental para a qualificação das pessoas. “O custo

operacional do conhecimento diminuiu muito e a eficiên-

cia aumentou. Temos muita produção nas universidades,

mas temos que aproveitar”, explicou Mário que lançou

um desafio. “Temos que buscar a informação que existe

para não gastarmos com o que já se tem”.

Especialistas contextualizam o semiárido com a ges-

tão do conhecimento – (PAINEL 1)

No primeiro painel do Seminário foram abordadas três

visões complementares sobre a região. Três especialistas

contextualizaram as dinâmicas agrárias, a pobreza rural e

o desenvolvimento sustentável e os desafios das políticas

públicas na região com a coordenação do chefe de gabi-

nete da Seplan (BA), Benito Juncal.

A professora da Universidade Federal de Pernambuco

Maria Nazaré debateu as transformações políticas, econô-

micas e sociais. Para ela, a reprodução da precariedade

da pobreza, com trabalho degradado, não é desenvolvi-

mento. “Existe uma imposição aos agricultores que des-

qualifica os saberes camponeses. Isso é uma violência”,

destacou. A socióloga falou também sobre o esvazia-

mento do campo. “Um espaço vazio e sem vida não gera

desenvolvimento rural e o êxodo, por exemplo, contribui

para isso.”

Convidados como o gestor do BNB, José de Carvalho, o diretor superintendente do Sebrae, Edival Passos, e os secretários estaduais do Sergipe e da Paraíba, José Sobral e Marenilson da Silva, respectivamente, falaram da impor-tância do evento. “Vamos discutir a experiência de todos os estados do Nordeste semiárido, onde se encontram 22 milhões de brasileiros, pois vemos a necessidade da socialização do conhecimento. Com o programa pode-remos identificar e difundir o conhecimento para mudar a realidade da região”, explicou Sobral que é secretário da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Sergipe.

O representante do Sebrae, Edival, lembrou que a Bahia é o segundo maior exportador de frutas do Brasil. “Temos uma produção muito rica e a ideia é aproveitar o potencial do Nordeste a começar pelos pequenos agricul-tores”, destacou. Já o secretário do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca da Paraíba, Marenilson da Silva, elogiou o programa. “Modificar a vida do semiárido pelo conhecimento é uma alternativa necessária”, acredita.

Durante a abertura do seminário Juncal mostrou pre-ocupação em resgatar a questão do semiárido no Estado. “Dentro da nossa cultura ficamos de costas para essa re-gião. Vamos mostrar uma Bahia além da área litorânea”, destacou o chefe de gabinete que revelou a importância do tema para a Bahia. “Dois terços do semiárido se localiza no Estado e, até hoje, não temos nenhum centro espe-cializado”.

Palestra Inaugural - A palestra inaugural do evento foi realizada pelo especialista em Tecnologia da Informação Mário Salimon. O especialista lembrou que é preciso dar mais ênfase nas pessoas, ao invés da parte técnica. “Ve-mos um crescimento da tecnologia que a cada dia está mais barata. No futuro, a substituição por máquinas pode se tornar uma realidade”, revelou Salimon, que se referia a capacidade da ciência em simular um cérebro humano nas próximas décadas.

Palestra Inaugural

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Nazaré criticou o mundo rural de alguns estados

brasileiros, onde o campo só tem grandes plantações e

máquinas. “Temos que ter campo povoado, diferente da

concentração produtiva da terra e da degradação dos

recursos naturais. É preciso fazer um espaço com vida

integrado com a sociedade”, alertou, com uma suges-

tão. “A tecnologia tem que chegar aos camponeses, mas

também é preciso compreender a forma de pensamen-

to e funcionamento deles”.

O professor do Instituto de Economia da Unicamp

Antônio Buainain apresentou uma nova fotografia da

região semiárida.” O esteriótipo da pobreza com indica-

dores sociais baixos não pode ser nossa única visão. A

região está em profundo processo de tranformação e

temos que incorporar isso para combater a pobreza e

fazer a inclusão social”, frisou.

O integrante do projeto As Novas Caras da Pobreza

Rural lembrou da desertificação da região que atinge

58% do território. “Temos uma caatinga ameaçada, mas

apesar de todos os efeitos negativos, 709 municípios

cresceram cerca de 50% nos últimos anos com os in-

vestimentos do PAC, privados e até mesmo do turismo”,

revelou Buainain.

Em sua palestra, a gestora de Políticas Públicas pela

Fundação Joaquim Nabuco Brenda Braga analisou al-

guns programas que foram adotados a partir de 2003

como modelo de desenvolvimento sustentável. “Vimos

que os recursos cresceram quatro vezes entre 2002-2010

e que a cobertura foi ampliada, mas todo esses inves-

timentos e esforços ainda são insuficientes”, acredita a

consultora do IICA, que elogiou a integração dos gover-

nos do Nordeste. “Precisamos de um plano estratégico

para a região e trabalhar em conjunto é essencial para

pensar em desenvolvimento.”

Durante segundo painel foram apresentadas as metas do Pro-

grama de Gestão do Conhecimento

As três macro áreas do Programa de Gestão do Conhe-cimento em Zonas Semiáridas do Nordeste Brasileiro es-tão definidas. São as inovações produtivas e tecnológicas, os negócios rurais e o manejo dos recursos sustentáveis e naturais em relação às mudanças climáticas. Os eixos foram apresentados pelo IICA, FIDA e AECID durante se-minário nacional que aconteceu nesta semana na Bahia.

“A definição dessas prioridades é fundamental para não dispersarmos do foco do Programa. O objetivo é ajudar a população pobre a melhorar suas condições de vida”, explicou o coordenador de operações do FIDA no Brasil, Ivan Cossio. Segundo ele, a instituição não pode atuar como protagonista, mas como facilitador do Pro-grama.

O FIDA identificou que há uma diferença de renda de mais de 50% entre os produtores que têm bolsas de es-tudos e estágios técnicos e os que usam o conhecimento tradicional. “É importante saber como produzem, se or-ganizam e resolvem os problemas. Todos os dias usam aquilo que pensaram e existe o risco desse saber não ser aproveitado”, afirmou Ivan Cossio.

Durante o segundo painel do seminário, houve o consenso de que é necessário reduzir a distância entre o conhecimento científico e o popular. “Precisamos olhar sem preconceitos para os saberes locais igualmente im-portantes”, ressaltou Alejandro Dorado, representante da

Painel 1

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AECID. Os organizadores vão promover oficinas e seminá-rios direcionados aos atores das comunidades.

Manuel Otero, representante do IICA no Brasil, des-tacou o mapeamento dos atores institucionais para a construção da plataforma de redes colaborativas. Otero recordou que o apoio dos governos do Nordeste é funda-mental. “Sem vontade e compromisso políticos o projeto fracassaria”, disse.

Mandamentos de Padre Cícero são lembrados por palestrante

durante terceiro painel do Fórum

Em painel sobre práticas de manejo sustentável no semiárido, diretor da INSA, Salcedo, fez questão de citar conselhos do Padre. Há mais de cem anos, quando nin-guém falava em ecologia, Padre Cícero pregou no sertão nordestino mandamentos que hoje são considerados palavras de consciência ambiental. No terceiro painel, o diretor do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Ignacio Salcedo, lembrou dos conselhos sábios para os sertanejos que tratavam de conservar o sertão para ele não virar um deserto só.

Com o tema - Boas práticas de manejo sustentável do ambiente semiárido e de seus recursos naturais - cinco es-pecialistas de diferentes órgãos esboçaram experiências e desafios para a realidade do semiárido. Salcedo parafra-seou Padre Cícero. “Não toque fogo, não cace, faça cister-na, plante cada dia uma árvore, aprenda a tirar proveito da caatinga...se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo ter sempre o que comer”.

Enquanto nos dias atuais a desertificação aumenta, o representante da Embrapa José Nilton apontou o desafio de superá-la com conhecimento. “A recuperação da vege-tação nativa é lenta, demora cerca de 13-15 anos. As vezes nos perguntam por que optamos pelo manejo florestal com eucalipto, mas o processo é ágil”, destacou o chefe

Painel 3

adjunto de transferência de tecnologia que alertou sobre o aumento da desertificação na caatinga,especialmente na Bahia e Ceará.

O consultor do IICA Gertjam Beekmam aproveitou para citar a Agenda 21 e os Objetivos do milênio da ONU. Segundo ele, o primeiro é importante, pois estabeleceu a importância de cada país a se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, ONGs e todos os setores da sociedade po-deriam cooperar para os problemas sócio-ambientais. “Temos que considerar sempre a Agenda, assim como o projeto da ONU que analisou os maiores problemas mundiais, como a pobreza e a água. No Nordeste 2.200 domicílios rurais não dispõem de água com boa quali-dade”, observou.

Experiências - Para tratar de algumas experiências o re-presentante da Articulação no Semiárido Brasileiro(ASA) Luciano Silveira e a professora da Universidade Campone-sa Luciana Cantalice apresentaram projetos que criaram alternativas para os problemas da região. No ASA, Lucia-no tratou das 352 mil cisternas construídas no Nordeste por meio do Programa de Formação e Mobilização Social para o Convivência com o Semiárido.

“A idéia é aumentar a capacidade dos agricultores e ativar redes entre os municípios que mostre que o pro-blema é comum para gente poder criar novas experiên-

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cias”, revelou. Já Luciana contou sobre o UniCampo. “São jovens e lideranças que participam do projeto de exten-são, no qual une a ciência e o saber local. “Criamos um fogão solar que impressionou muita gente”.

Convidados mostram como as tecnologias sociais ajudam na

sustentabilidade

Projetos que deram certo indicam a necessidade de comprometimento do poder público local. No último painel do dia 15 de setembro foram motivadas discus-sões sobre práticas inovadoras de tecnologias sociais e o empreendedorismo produtivo na região.

“Quando a tecnologia criada pela comunidade ou ins-tituição for assimilada para melhorar diferentes aspectos ela é social”, explicou Jefferson D’Avila Oliveira, gerente de parcerias, articulações e tecnologia social da Fundação Banco do Brasil. Para ele, o protagonismo social, o respei-to cultural, a solidariedade econômica e o cuidado am-biental são dimensões que devem ser observadas.

Foi o que aconteceu em Paranatama (PE), onde cin-qüenta mulheres que viviam em condições violentas aumentaram a produção de leite. “Elas transformaram a paisagem caprinocultora da região. Isso mostra que quando há motivação e organização o ambiente é mais propício para a mudança”, afirmou Walmar Jucá, gerente do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável de Pernambuco (Prorural). Ao apresentar diversas iniciativas de tecnologias sociais durante o seminário, Jucá enfati-zou a importância do comprometimento do poder públi-co local para o bom andamento dos projetos.

A questão é desafiadora, pois os gestores precisam abandonar vaidades institucionais em prol de uma sus-tentabilidade duradoura. Essa foi a opinião do gerente da unidade de serviços do Sebrae Nacional Paulo Alvim. Para ele, as tecnologias sociais também precisam transformar a produção.

“Temos que agregar valor ao mesmo tempo em

que prestamos atenção nas características do bioma

da caatinga”, destacou Alvim, que citou que a comer-

cialização da geléia de umbu foi além do semiárido e

conquistou mercados mais sofisticados, como na Eu-

ropa. “O comerciante não pode ser o único a lucrar, o

produtor também tem que tirar proveito econômico

da venda”, completou.

Jovens e mulheres devem ser valorizados no campo

No último tema do seminário na Bahia, convidados

ressaltam o potencial dos atores rurais. Palestrantes

trataram do papel emancipatório dos gêneros e das

jovens lideranças. A assistência técnica transversal de

juventude e de gênero é essencial para incluir esses

segmentos na economia e na sociedade do semiári-

do. Esse foi o consenso entre os participantes do últi-

mo tema abordado no Seminário Gestão do Conheci-

mento, realizado em Salvador.

O coordenador do Projeto Dom Helder Câmara,

Felipe Jalfim, apresentou as ações referenciais para

a criação de experiências inovadoras de desenvolvi-

mento rural sustentável a serem utilizadas nas agri-

culturas familiares e na reforma agrária. O projeto atua

em 337 comunidades do sertão nordestino e utiliza

metodologias participativas chaves, como a forma-

ção de grupos de interesses de jovens e mulheres e

a experimentação participativa. “A formação se dá

pela prática, quando os agricultores se apropriam do

conhecimento específico e deixam de depender do

técnico. Essa é base da geração de conhecimento”, ex-

plicou Jalfim.

É o caso do consórcio agroecológico feito em parce-

ria com a Embrapa Algodão. As famílias produzem 2 mil

quilos de grãos de fibra enquanto o método tradicional

no roçado rende 600 quilos. Durante sua apresentação,

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Jalfim ressaltou que o técnico é um ator fundamental no

processo e que precisa criar uma relação com o local. “É co-

mum o profissional assessorar uma comunidade durante

cinco anos e desconhecer a realidade daquelas pessoas”,

afirmou.

Parcerias - O Projeto Dom Helder Câmara conta com a

ajuda de ONGs quando encontra dificuldades para identi-

ficar as demandas de uma região. No Sertão do Pajeú (PE),

o trabalho é desenvolvido com a ajuda da ONG feminista

Casa da Mulher do Nordeste. “Lá, as mulheres geraram ren-

da e conquistaram um emponderamento econômico. Dei-

xaram de ser ajudantes e se reconheceram como sujeitos”,

detalhou a representante Graciete Santos. Segundo ela,

o modelo de sociedade patriarcal reproduzido no campo

deve ser discutido. “Precisamos repensar outras relações fa-

miliares, pois esse modelo legitima a violência doméstica”.

Durante o seminário Célia Firmo, coordenadora pe-

dagógica do Movimento de Organização Comunitária

(MOC), explicou que nos Territórios de Sisal e Bacia do

Jacuípe e outros 60 municípios, as crianças brincam e

aprendem numa perspectiva não sexista. “Os professores

do campo assistidos pelo MOC confeccionam materiais

didáticos e fazem propostas curriculares que são repassa-

das para as secretarias de educação e podem ser utiliza-

das em outros locais”.

Seminário terminou com contribuições para a formulação de

propostas

O encerramento do seminário contou com um painel

que teve como objetivo estabelecer uma agenda temá-

tica com a participação dos gestores, técnicos, represen-

tantes dos movimentos sociais e acadêmicos. Um debate

entre os participantes finalizou o evento. As sugestões e

críticas contribuirão para a formulação de propostas, pró-

ximo passo do programa.

O Secretário de Agricultura Familiar, José Aldo, desta-

cou que o desafio agora é integrar o processo de constru-

ção. “Sempre desejamos isso ao longo da história, agora

temos que fazer com que os processos fragmentados

se integrem para ajudar a mudar a vida das pessoas do

semiárido”, explicou. Para ele, a oportunidade foi lançada

pelo programa. “Temos que articular o conhecimento das

famílias do campo, academia e das organizações sociais”,

completou.

O relator Cláudio Lesa elogiou o seminário e disse que

ele deixa um grande aprendizado. “Cada um com a sua

cultura e concepção acrescentou na elaboração de ques-

tões para transformar em mais conhecimento”, acredita o

consultor do IICA que comentou sobre a abordagem do

seminário. “Entendemos melhor o contexto do Nordes-

te e tivemos apresentações muito ricas que serão muito

aproveitadas”.

Por fim, o coordenador da CET, Ubiramar Bispo, mais

conhecido como Mazinho, explicou que o projeto faci-

litará o acesso do conhecimento para a população rural.

“O programa vai criar mais possibilidades de desenvolvi-

mento para o semiárido, fortalecer o que existe e reduzir

a distância entre a academia e o campo”, revelou.

Painel 3

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Antônio Buainain

Professor da Unicamp fala sobre programa

Antônio Buainain destacou o desafio de aprender durante a implementação do programa nos próximos anos

Após o seminário que debateu o tema, em Salvador (BA), o pesquisador da Unicamp Antônio Buainain elogiou o programa e destacou a importância do Brasil aprender a registrar as experiências, se apropriar do conhecimento gerado e reproduzir na tentativa de evitar os erros.

O professor, que esteve presente no primeiro painel, faz parte do Instituto de Economia da Unicamp e é um dos integrantes do projeto A Nova Cara da Pobreza Rural. Entre 1999 e 2006, fez pesquisas sobre o semiárido e acompa-nhou programas como o Credifundiário. Buainain disse que é importante criar a cultura da gestão do conheci-mento no País.

“Ainda não sabemos fazer gestão do conhecimento no Brasil. Vamos ter que aprender enquanto fazemos a im-plementação”, revelou o pesquisador que enalteceu a ponte que poderá ser criada entre os envolvidos. “Temos muitas pesquisas com temas de interesse do semiárido e também recursos. O programa é oportuno porque vai permitir a ponte entre os pesquisadores, ONG`s e bene-ficiários”, afirmou.

Alguns anos atrás, quando o FIDA elaborou um docu-mento que definiu as estratégias do Fundo no Brasil, Bu-ainain participou da discussão e chamou a atenção para a gestão do conhecimento na ocasião. “Eles acabaram le-vando em consideração o que falamos e hoje se tornou um projeto com o apoio da Agência Espanhola (AECID)”, conta o especialista em economia agrária.

Durante a apresentação, o professor da Unicamp deu uma visão geral sobre a pobreza rural e o desenvolvimento sus-tentável. “O semiárido está em processo de transformação e acabamos ficando restritos a visão de que a região é seca, pobre e atrasada. Isso é verdade, lá se tem a maior concentra-ção da pobreza rural do Brasil, mas é errado pensar assim.”

Nos últimos dois anos Buainain visitou o semiárido para a formulação de projetos com o FIDA e o BID. “Você passa a ter uma visão distinta após as visitas de campo em vários estados e na conversa com os interlocutores”, explicou. Segundo ele, quem está à frente dos projetos não tem tempo, nem condição para fazer essa reflexão. “A ideia é fazer com que essas duas frentes trabalhem juntas, porque também não cabe aos pesquisadores implementarem o projeto”, finalizou.

A ideia é que os resultados do Seminário contribuam para o Programa com o objetivo final de constituir re-des de cooperação e intercâmbio para a difusão de co-nhecimento de boas práticas da convivência na região.

Durante a abertura do seminário Juncal mostrou preo-cupação em resgatar a questao do semiárido no Estado. “Dentro da nossa cultura ficamos de costas para essa re-gião. Vamos mostrar uma Bahia além da área litorânea”, destacou o chefe de gabinete que revelou a importân-cia do tema para a Bahia. “Dois terços do semiárido se localiza no Estado e, até hoje, não temos nenhum cen-tro especializado”.

SERVIÇO:

Veja todas as apresentações, áudios e vídeos do Semi-nário Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste do Brasil no site WWW.iicaforumdrs.org.br

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Reunião do Conselho Agropecuário do Sul será neste mês, em Brasília

Brasília (DF) será sede do XXI Reunião Ordinário do Con-selho Agropecuário do Sul (CAS), que será realizado daqui a duas semanas, nos dias 22 e 23/11. O fórum reúne os mi-nistros de Agricultura da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Para-guai e Uruguai. Será a primeira vez que Mendes Ribeiro Filho, que assumiu a pasta em agosto, participa do encontro.

O status da febre aftosa na região, produção e comercia-lização de grãos e o estado das negociações internacionais que envolvem o bloco são os assuntos principais a serem debatidos. A agenda também foi pautada pela reunião de chefes da Rede de Coordenação de Políticas Agropecuárias (REDPA), realizada em outubro, no Rio de Janeiro.

Entre as prioridades do encontro está o surto da febre aftosa no Paraguai, em setembro. De acordo com dados do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal local, foram sacrificados 819 bois. A situação afesta o país e os outros membros do CAS, dada a suspensão das exportações do Paraguai para este produto.

Essa é a segunda e última reunião de 2011. A primeira, em Buenos Aires, abordou, entre outros temas, o aumento dos preços e volatilidade nos preços das commodities, mu-dança climática, variabilidade e o impacto na agricultura.

Fundado em 2003, o CAS é o fórum de discussão e deba-te sobre políticas públicas no Cone Sul.

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i n t e r n ac i o na l[ ]

Debate sobre agricultura familiar e segurança alimentar no Paraguai

Agricultura familiar e segurança alimentar foram assun-tos abordados no painel promovido pelo Ministério de Agri-cultura e Pecuária, FAO, IICA e Faculdade de Ciência Agrárias da Universidade Nacional de Assunção, de 25 a 28/10, no auditório do campus, no Paraguai.

Representantes da empresas agropecuárias, de comu-nidades indígenas, organizações não governamentais, au-toridades paraguaios, técnicos e funcionários do Ministério, alunos e docentes da UNA participaram das discussões.

A alta nos preços dos alimentos e a importância da agri-cultura familiar para o país e a coexistência com a agricul-tura empresarial foram comentados pelos participantes no evento.

José Graciano da Silva (diretor-geral adjunto para a Amé-rica Latina e Caribe e diretor-geral eleito da FAO), Hernán Chiriboga (representante do IICA no Paraguai) e Enzo Car-doso (ministro de Agricultura e Pecuária do Paraguai) foram os painelistas. O decano da Faculdade de Ciências Agrárias, Lorenzo Meza, também participou das discussões.

Seminário na Universidade Nacional de Assunção discutiu temas relacionados ao desenvolvimento rural sustentável no país

Foto: Regina Santos

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[ ]pub l i c a ções

Estatísticas do Meio Rurall

O Núcleo de Estudos Agrários e Desen-volvimento Rural do Ministério do De-senvolvimento Agrário (NEAD/MDA) lan-çou, no último dia 25, durante a abertura do VI Fórum Internacional de Desenvol-vimento Territorial, em Salvador, a quarta edição da publicação Estatísticas do Meio Rural. O estudo foi produzido em parce-ria com Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Estatísticas do Meio Rural 2010-2011 traz dados e indicadores consolida-dos de estudos feitos pelo MDA e Dieese e apresenta, pela primeira vez, informa-ções geradas pela divulgação do Censo Agropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Censo 2006 possibilitou que fossem fornecidas informações qualificadas a respeito da realidade no campo, permitindo o acom-panhamento da dinâmica das relações de trabalho e das transformações no meio rural.

Coord. Editorial: Dieese/Nead/ MDA

A revista Retratos de Assentamentos é uma publicação voltada para a discussão da política agrária, abordando ainda a execução da reforma agrária e de experi-ências de pesquisa em assentamentos ru-rais. O periódico recebeu mudanças sig-nificativas recentemente, no lançamento de duas edições durante a V Jornada de Estudos em Assentamentos Rurais em São Paulo, passando a receber artigos de especialistas e outros pesquisadores vin-culados a centros da comunidade cientí-fica brasileira. Ainda em fase de digitali-zação, as últimas duas edições (13 e 14) podem ser solicitadas através do e-mail [email protected]. Retratos de As-sentamentos é editada, desde 1994, pelo Núcleo de Pesquisa e Documentação Rural (Nupedor) vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimen-to Regional e Meio Ambiente do Centro Universitário de Araraquara (Uniara. A re-vista, que se tornou semestral, recebe em fluxo contínuo artigos para análise no e-mail: [email protected].

Coord. Editorial: Uniara

Revista Retratos de Assentamentos

Coordenação: IICA/Fórum DRS

Reportagem de TV mostra como foi o evento em Salvador

Desenvolvimento territorial, inclusão só-cioprodutiva e agricultura familiar foram alguns dos temas debatidos entre parti-cipantes e palestrantes no VI Fórum Inter-nacional de Desenvolvimento Territorial, de 25 a 28/10, em Salvador (BA). Cerca de 500 gestores públicos, acadêmicos e representantes de organizações da so-ciedade civil e de movimentos sociais do Brasil e do exterior se encontraram para tratar de inclusão sócioprodutiva. Parti-cipantes e palestrantes promoveram um intercâmbio e a difusão das experiências de diversos países da América Latina no enfrentamento da pobreza rural, agricul-tura familiar, entre outros temas. Veja a reportagem:

h t t p : / / w w w. i i c a fo r u m d r s . o rg . b r /IICA2010/Index.asp?Pagina=Noticias_Mostar&ID_NOTICIA=19104

Page 41: Edicao 81

41www.iicaforumdrs.org.br OUTUBRO 2011

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Coordenação: IICA/Fórum DRS

Vídeo sobre visita técnica ao Território Bacia do Jacuípe

De 16 a 24/10, em Salvador (BA), repre-sentantes de movimentos sociais, da so-ciedade civil e de instituições públicas do Brasil e de diversos países da América La-tina participaram do IV Curso Internacio-nal Atualização Conceitual e Intercâmbio de Experiências em Políticas Públicas de Desenvolvimento Territorial. O objetivo do curso, promovido pelo IICA por meio do Fórum DRS, foi atualizar os partici-pantes sobre os aspectos concentuais e operacionais relacionados à aplicação de políticas públicas para o desenvolvi-mento territorial. Uma das ações foi dar uma visão prática por meio de uma visita a campo. A reportagem retrata como foi a experiência na Bacia do Jacuípe. Alunos brasileiros e estrangeiros que participa-ram do curso promovido pelo IICA e Fó-rum DRS, em Salvador (BA), constataram o protagonismo da região.

Veja o vídeo:

h t t p : / / w w w. i i c a fo r u m d r s . o rg . b r /IICA2010/Index.asp?Pagina=Noticias_Mostar&ID_NOTICIA=19101

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Page 42: Edicao 81

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E x p e d i e n t e

P a r c e i r o s

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Page 43: Edicao 81

O próximo número do Boletim do Fórum DRS será especial e trará um

artigo do professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),

Lauro Mattei, a respeito do VI Fórum Internacional de Desenvolvimento

Territorial: Estratégias de inclusão Sócioprodutiva, que aconteceu de 25 a 28

de outubro deste ano, na cidade de Salvador. Além disso, o leitor poderá

acompanhar, na seção Especial, como foi o IV Curso Internacional de

Atualização Conceitual e Intercâmbio de Experiências em Políticas Públicas

de Desenvolvimento Territorial ,também realizado em Salvador de 16 a 28

de outubro, com destaque para as visitas de campo aos territórios da

Bacia do Jacuípe e Litoral Sul. Não perca!

Page 44: Edicao 81

Lençóis Maranhenses

Barreirinhas-MA