Edição 90

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Gazeta Vargas Edição 90

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Flagra

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Os esquerditas da São Francisco

A São Francisco, famosa por seu caráter social, se superou no con-vite do bota-fora do semestre passado. A festa foi realisada na parte baixa da Rua Augusta (após a Avenida Paulista, para o lado do Bixiga). Como o nome já indica, trata-se da àrea mais pobre e menos glamuro-sa da rua. E como forma de divulgar a festa, a concorrente da nossa querida Edesp divulgou o flyer com um menino de terno, um mendigo e uma prostituta. O problema do flyer é a posição de cada uma dessas figuras. O menino de terno senta-se com ar superior acima dos de-mais integrantes da foto, o que sugere uma hierarquia entre eles

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Editorialwww.gazetavargas.org

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ExpedienteEdição

Marina Silva – Editora -Chefe - 6 [email protected]

Redação

Gesley Fernandes - 7˚ [email protected]

Luiz Lockman – 6 [email protected]

Nadia Waked – 5 [email protected]

ArteMarina Simões – 3 [email protected]

Marina Silva – 6 [email protected]

InstitucionalLeonardo Vergani - Presidente – 4°[email protected]

Daniel Fochi – 6 [email protected]

CapaMarina Silva – 4°[email protected]

Conteúdo OnlineJoão Maldos - Diretor de Conteúdo Online - 4 [email protected]

ImpressãoQuality Gráfica

Tiragem3000 exemplares

DISCLAIMERA Gazeta VarGas não se responsabiliza por dados, informações e opiniões contidas em textos devidamente identificados e assinados por representantes de outras entidades

estudantis, bem como nos textos publicados no Espaço Aberto submetidos e devidamente assinados por autor não presente no expediente desta edição. Todos os textos recebi-dos estão sujeitos a alterações de ordem léxico-gramatical e a sugestões de novos títulos. Por ser limitado o espaço de publicações, compete à Gazeta VarGas a escolha dos textos que melhor se enquadram na sua linha editorial, sendo recusados os textos muito destoantes acompanhados das devidas justificativas e eventuais sugestões de alterações.

DIREITOS RESERVADOS — A Gazeta VarGas não autoriza reprodução de parte ou todo o conteúdo desta publicação.

A Gazeta comemora sua edição 90 com uma série de temas

polêmicos decorrentes do semestre passado, desde a questão Israel/Palestina, passando pela legalização da maconha e entrando no papel da universidade bra-sileira. Dentro da FGV abor-damos os temas volta da cerveja e a reaval, além de algumas novidades como o GVG.

O GVG é uma associação de alunos da FGV que visa “integrar o ambiente geve-niano à cultura LGBTTT” e eles se manifestam na Gazeta Vargas a fim de expor seus objetivos e sua visão.

Dentro dos assuntos in-ternos da faculdade, aponta-mos a real situação da reaval e como, apesar de algumas vitórias terem sido conquis-tadas, esta ainda tem um longo caminho pela frente. Contrapomos as vantagens e desvantagens da liberação da cerveja dentro do am-biente do DAGV. E explora-mos as desvantagens do ex-cesso de burocracia. Além de

termos efetuado uma entrevista com a Professora Isabela Cura-do. E como nem tudo é critica nessa vida, encontramos algu-mas histórias curiosas sobre a Fundação e as partilhamos com os leitores.

Abordamos também a ques-tão Israel/Palestina. Uma vez que no início de outubro houve na Escola de Direito a palestra do embaixador da Palestina no Brasil e polêmicas acerca desse evento impulsionaram a Gazeta a tratar do tema. Para tanto con-vidamos um professor da FGV e um historiador e professor de história judaica para exporem sua opinião sobre os dois lados.

Tratamos também sobre a questão da PM na USP que se passou no fim do ano passado. E para isso convidamos dois pro-fessores da Escola de Direito da FGV para tratar sobre o tema.

Duas crônicas e quatro textos de humor completam essa edi-ção de aniversário.

Marina A. Silva

Ah, as polêmicas que nos cercam

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Curtas

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Curtas da Gazeta #89Florecer do Vale

O Florescer do Vale, versão Edes-piana do Getulinho, passou a con-tar com um restaurante por quilo. Aberto das 11:30 às 14:00, o novo quilo têm tido grande aderência de alunos e professores, que lotam o espaço em seu horário de funciona-mento. O ambiente descontraído do restaurante permite maior interação entre os membros da escola, tanto vertical quanto horizontalmente. A facilidade de interação entre alunos e professores é benéfica para a for-mação acadêmica e o restaurante, além de oferecer comida de qualida-de, contribui com esse cenário.

Palestina x Israel

No dia 30 de setembro de 2011, o embaixador da Palestina no Bra-sil,  Ibrahim Alzeben, realizou uma palestra na Escola de Direito de São Paulo para tratar sobre ques-tões do Oriente Médio. A palestra levou a polêmicas em relação à data do evento, uma vez que este foi re-alizado no ano novo judaico, o que afastou a comunidade judaica da pa-lestra. Um e-mail que circulou pelos groups da FGV questionou o even-

to tanto em relação à data escolhi-da, quanto ao conteúdo da palestra. Nesse espírito, a gazeta resolveu dar direito de re, posta aos dois lados, realizando uma série de matérias sobre a Palestina e Israel (páginas 11, 12 e 13 )

Errata

Na ultima edição da Gazeta Vargas 89, no texto referente às entidades foi colocado que a AEISEC figura-va como uma entidade de consul-toria. Este fato não é correto e a Gazeta Vargas vem a corrigir este equivoco. Segundo o presidente-

-eleito para a gestão de 2012 da en-tidade Roberto Ferragi a AIESEC é: “ uma plataforma de desenvolvimen-to de lideranças e com experiências de intercâmbios”. Corrigido o erro os alunos podem agora localizar com maior propriedade o que as en-tidades realmente fazem. Existem, portanto, entidades além das con-sultorias, representações e projetos.

Two Men Down

Em menos de seis meses de ges-tão já tivemos duas baixas de direto-rias na Gestão Resgate. Em menos de duas semanas de gestão o Vice

Presidente Acadêmico de AP saiu do DAGV para seguir outros horizon-tes na USP, deixando tecnicamente o curso de AP sem representação. Agora após cinco meses de gestão, a secretaria geral, participante de diretoria mínima do DAGV, se au-senta do cargo permanentemente. Duas saídas sem uma realocação ou comunicado aos alunos indicam cer-tos problemas de legitimidade com a Gestão Resgate. O estatuto prevê que não há possibilidade de “tapar os buracos” o que dificulta ainda mais o problema de legitimidade visto a necessidade do cargo de se-cretaria geral para uma operação le-gítima como personalidade jurídica. Dois de dez... Quem será o próximo? Façam suas apostas.

Modelo Chinês, Parte IICom a Gioconda 45 o DAGV

buscou se “redimir” pelos recentes buracos no orçamento existentes nos primeiros seis meses de gestão. Contudo, a transparência financei-ra ainda deixa muito a desejar, já que nem o mínimo sobre gastos e lucros foram divulgados aos alunos. O conselho fiscal, órgão cuja função

Altos e BaixosEm alta

» Florecer do Vale

» Gioconda Warm Up

» Reforma do DAGV

» Mensalidades na GV

» Fachada da Nove de Julho

Na mesma » Cerveja no DAGV

» Discussâo das mensalidades

Em baixa » Gioconda 45

» Caixa do DAGV

» USP

» Polícia Militar

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é fiscalizar o orçamento da entida-de continua sem ação, já que nem os próprios membros conseguiram acesso as informações financeiras básicas como um simples DRE. O crescimento da Gestão Resgate é  inegável, mas as suas transparên-cias no tocante aos gastos incorridos são inexistentes. A Gazeta Vargas novamente pede encarecidamente para a diretoria financeira liberar o mínimo sobre as suas despesas se-mestrais não somente pelo fato de ser uma prática de boa governança, mas também pelo direito dos alunos em conhecer onde seu dinheiro de repasse está sendo investido. 

Eleições CAGV

O Centro Acadêmico de Direito está sob nova direção. As eleições, que ocorreram no final do semestre passado, elegeram a chapa “veste a camisa”, que iniciou seu mandato no dia 10 de dezembro. As eleições tiveram duas chapas, como oposi-ção à chapa vencedora tivemos a

“Chapa do amor” que, como o nome já afirma pregava mais amor entre as relações gevenianas, sugerindo

soluções não convencionais para o problema. Na realidade a eleição se deu sob o modelo chapa única, ten-do a “Chapa do Amor” sido criada apenas como forma de oposição, sem pretensões políticas, apenas para reduzir os problemas que uma eleição de “Chapa Única” possui. A nova chapa começou suas ativida-des nas férias, e dentre elas se des-taca reforma na Casa do CA. Ade-mais a Chapa se propões, em carta de boas-vindas enviada aos alunos de direito, a atentar para problemas acadêmicos, como vagas de dupla graduação e baixo número de eleti-vas, além do aumento das mensali-dades.

Aconteceu...

Nos dias 03, 04 e 05 ocorreu no Hotel Casagrande Guarujá o Semi-nário Anual de Planejamento (SAP) da EAESP. Esse evento teve a parti-cipação da maioria dos professores do curso de Administração da FGV para, em conjunto, refletirem, pen-sarem e discutirem tópicos estra-tégicos para o ano de 2012. Além

dos docentes, estiveram presentes alguns presidentes das entidades estudantis, representando a LIDEN e alguns alunos convidados para participarem das quatro principais comissões de discussão. Foram tratados diversos assuntos como a importância da comunidade estra-tégica para a FGV, o perfil do aluno de administração e a aprendizagem. Na sexta feira houve a confraterni-zação inicial, presidida pela diretora Maria Tereza Fleury, assim como a exposição dos trabalhos das coor-denadorias e cursos feitos no ano de 2012. Também foi anunciado a troca de alguns chefes de departa-mento, assim como a substituição do coordenador do curso de gradu-ação. Durante o sábado, os profes-sores e alunos se subdividiam nas comissões e procuravam encontrar saídas, pontos fracos ou até mesmo melhorias para os atuais órgãos com objetivo de estrategicamente criar uma linha definida de ação para o próximo ano. As decisões serão di-vulgadas posteriormente para o co-nhecimento geral do corpo discente e docente.

Curtas da Gazeta #89

Atendimento ruim bar

Problema: bar Problemas: bebida

Problema: lugarProblema: comida

Problema: decoraçãoProblema: musica

Não curtiuCurtiu

0 20 40 60 80 100 120 140 160

Festa não foi uma Gioconda

Gioconda 45: OpiniãoO que foi dito sobre a Gioconda 45 no Facebook?

Em pesquisa realisada pela Gazeta Vargas pelo Facebook, os alu-nos manifestaram, em sua maioria, opiniões negativas em realação à Gio-conda 45, conform pode-se verificar no Gráfico. Importante ressaltar que o grafico não segue qualquer método de pesquisa, inclusive podendo a mes-ma pessoa se manifestar em mais de uma categoria. A pesquisa não reflete a opinião de todos que foram ao even-to, mas dá indícios que a festa não agradou.

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Espaço Aberto

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GVG

I ask for the movement to con-tinue, for the movement to grow, because last week I got a phone call from Altoona, Pennsylvania, and my election gave somebody else, one more person, hope. And after all, that’s what this is all about. It’s not about personal gain, not about ego, not about power — it’s about giv-ing those young people out there in the Altoona, Pennsylvania, hope. You gotta give them hope.

HarVey Milk (1930 – 1978)

Esperança. Por mais que as pessoas digam que desejam carros, casa, muito dinheiro e,

talvez, por isso escolheram a FGV, no fundo, elas querem esperança, mesmo que, porventura, não o reconheçam. Elas querem acreditar que o lugar em que vivem pode ser do jeito que elas gostariam que fosse. Desejam que o mundo se torne mais coerente para vi-verem e para – quem sabe um dia – cria-rem os seus filhos. Sem esperança não há porque acreditar no futuro. O que a maioria das pessoas não enxerga é que todos ao seu redor lutam exatamente pela mesma coisa e, por não notarem isso, acabam não tolerando certas di-ferenças. É porque na essência, são as

diferenças que nos tornam únicos.Por essa razão, queremos abor-

dar abertamente neste artigo, a sigla LGBTTT. Mas não queremos dizer aqui que se deva hastear uma bandei-ra com as cores do arco íris simples-mente por se erguer. Acreditamos que, se contribuirmos, mesmo que modestamente, para a divulgação de uma cultura de respeito às diferen-ças, já teremos dado um passo enor-me em busca do mundo que todos, mesmo não conscientes disso, busca-mos. Garantir que as diferenças sejam ouvidas é respeitar o direito de todos.

Foi pensando nisso que criamos o GVG, uma associação de alunos da FGV com o objetivo de integrar o am-biente geveniano à cultura LGBTTT. Embora seja um grupo ainda novo, o GVG propõe reunir alunos, ex-alunos, professores e funcionários de todas

as escolas da FGV para dar represen-tatividade, prestar apoio, contribuir para a promoção de um ambiente diversificado e respeitoso dentro da Fundação. Além disso, pretendemos estimular o conhecimento dos pro-blemas atuais referentes à intolerân-cia e à discriminação por motivo de orientação e/ou escolha sexual. Que-remos ser um centro de receptivida-

de a alunos, divulgando a produção e a proteção da cultura LGBTTT, além de difundir atividades artísticas e apoiar ações e pesquisas relacionados à história social LGBTTT.

Parece que quem não se enquadra nesta sigla finge não saber como é ser diferente. Talvez se esqueça de que já foi diferente de alguma outra ma-neira: ao ser filho de pais separados, ao ser gordo, ao ser jovem e não ser ouvido pelos pais, ao ser introverti-do, ao ser o último escolhido na aula de Educação Física, ao ser alto, baixo, estrangeiro, negro e até mesmo ao ser garoto novo no colégio. No fundo, o GVG só quer mostrar que não exis-te problema em ser diferente. Viver nada mais é do que passar cada obs-táculo e aprender com cada um deles. E o GVG quer mostrar que ninguém precisa passar por tudo isso sozinho.

Esperança só vem como um em-purrãozinho para essa vida nossa co-tidiana com seus obstáculos rotinei-ros. Assim como aprendeu Pandora ao deixar com que a sua curiosidade a impulsionasse a abrir a caixa que continha todos os males, sendo que o restante foi a esperança. Sonhar é preciso e é em torno de um ideal que damos significância ao transcurso do tempo. É disso que tudo se trata. Transmitir aos outros que não existe ninguém igual e que ser diferente é o que torna cada um de nós fantástico. E, enquanto nós conseguirmos conti-nuar dando esperança, o movimento existirá.

O que nos move?

Todos os interessados em participar ou contribuir podem entrar em contato por meio do e-mail: <[email protected]> ou visitar a nossa página do Facebook.

Não existe problema em ser

diferente

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Luiz Fernando Lockmann

A nova reformulação prevista para 2012 no curso de gra-duação impulsiona todos

os ingressantes do corpo da FGV a pensarem por que reformulamos. Esta vai ser a quinta reformulação em dez anos e expõe alguns pontos fracos no modelo com que, princi-palmente a EAESP, conduz a forma-lização do curso de graduação em administração. O novo curso seria mais enxuto no tocante ao número de matérias e seria conduzido em formato de módulos, impulsionan-do os alunos a estarem continua-mente estudando.

É novamente louvável dizer que a Coordenação busca um curso de excelência para todos os alunos e que o nosso sucesso é sucesso deles. No entanto é muito complicado fi-car continuamente reformulando um modelo de curso inteiro para sanar alguns defeitos que este pode deter. Se o problema do volume de matérias hoje é visto como priori-dade para uma reformulação deve--se culpar os mesmos gestores que reformularam o curso há três anos. Era responsabilidade de uma mesa diretiva entender que o acumulo de muitas matérias poderia gerar o problema que atualmente se en-frenta, e se a reformulação foi feita sem esse cuidado obviamente reper-cutiria em danos ao curso como um todo. Hoje recriar o curso indica que as reformulações recorrentes não possuem nenhum beneficio nem no curto e nem no longo prazo.

Reformular cursos em interva-los maiores dá margem para que o curso assente no ambiente da facul-dade, que crie certa cultura de cor-po discente e que unifique o modo

de ensino. O que vemos na EAESP é uma reformulação atrás da outra que não unifica regras, afetando o modo de aprendizagem do aluno as-sim como no modelo de ensino do professor. Espero de verdade que as reformulações não tenham nenhu-ma conotação de competição entre faculdades, uma vez que essa reali-dade de mercado do ensino superior só fere as próprias instituições de ensino. A busca por excelência deve ser vista como a forma de criar indi-víduos superiores e não como modo de superar o outro.

Outro fator interessante que ad-vém com as reformulações são seus custos atrelados. Os custos para re-formular, contratar e demitir pro-fessores, refazer programas entre diversos outros existem e aumen-tar o giro das reformulações só fa-zem com que eles aumentem. Além disso, outro custo intangível com as modificações de grade é a cria-ção de novos perfis de alunos. De-pendendo das mudanças é possível “doutrinar” alunos mais ou menos inclinados ao estudo, às atividades extra-classe, ao estágio entre vários outros fatores. Contudo, o corpo discente torna-se um tanto quanto fragmentado no que se refere aos seus anseios. Isso é observável em diferenças gritantes entre alguns semestres e outros.

O corpo docente, assim como os alunos, deveria opinar na forma e meios de reformulação do curso já que são eles que receberão tais mu-danças. Da mesma forma como se aprende em disciplinas de merca-dologia que é preciso, dentro dessa inevitável realidade de mercado no ensino superior, perguntar ao seu cliente o que ele deseja. O quesito qualidade é demasiadamente sub-

jetivo para ser instaurado tão recor-rentemente sem o questionamento dos indivíduos que irão recebê-lo. Talvez se esses dois grandes atores fossem mais consultados não tería-mos o problema de enxugar o curso na primeira oportunidade. Não pro-ponho ditadura do alunado nem dos docentes, mas prezo pelo bom senso no momento de reformular as bases de ensino. Tudo isso é extremamen-te custosos para todos os lados e deve ser pensado com calma e não de um modo prussiano como se fos-se pílula salvadora. A relação deve ser cooperativa em ambos os lados para criar um sistema tolerável para o ambiente como um todo.

As reformulações são sim neces-sárias, uma vez que o mundo se mo-difica com uma facilidade tamanha. Entender, analisar e refletir sobre os problemas de um curso também é responsabilidades de todos os ato-res dentro do sistema de ensino de dada instituição. Por esses fatores é necessário ter cautela na modifi-cação complexa de um sistema de ensino. Existem custos de discus-são, financeiros, políticos e princi-palmente culturais na modificação de qualquer curso em qualquer ins-tituição de ensino. Além de polêmi-ca, a reformulação, assim como a sua contrapartida reengenharia, é extremamente danosa a toda uma rede de relações sociais dentro de dado sistema. Vão existir os favorá-veis e a tropa de choque contrária à modificação. Por isso que ela precisa ser clara, objetiva e principalmente que mostre os seus benefícios no longo e no curto prazo já que sem-pre irá incorrer-se em custos desfa-voráveis. Portanto, aumentar o giro das reformulações de maneira in-tensa e sem um objetivo central cla-ro denota pouca preocupação com o curso em si.

Reformular para conquistar.Por que reformular? Existem limites?

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Opinião

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rio é claramente inviável para que os alunos se aprofundem nas matérias como eles gostariam. Ainda colocar mais uma variável de horas com-plementares dentro de um horário “travado” passa a ser totalmente pa-tético do ponto de vista de aprovei-tamento do curso em si. Lembrando também que a divulgação e aprova-ção do cumprimento das Atividades Complementares é um processo ex-tremamente burocrático anual que leva tempo para ser concluído de semestre a semestre.

Esse cenário trágico, mas real im-pulsiona a grande maioria dos es-tudantes a utilizar da técnica mais sagaz gvniana: a realocação de recur-sos. Como as ACs figuram no que-sito burocracia, elas continuaram a ser tratadas pelos alunos como uma burocracia que deve ser elimi-nada e não “aproveitada”. A forma mais clássica de cumprimento das ACs é o ingresso em entidades estu-dantis, as quais de uns anos para cá aprenderam bem a voltar parte de seu marketing por novos membros, focando nessa demanda do corpo

do Ministério da Educação (MEC). Já de antemão pode-se gerar a mais dura das conclusões, a qual indica a impossibilidade de modificar a situ-ação vigente mesmo pela vontade da instituição ou de seu corpo discente. Há os que defendam a ingerência do Ministério da Educação no que se refere a como conduzir instituições de ensino superior com objetivos de elevar a qualidade da educação. Há os partidários contra essa interven-ção, os quais indicam que tamanho controle torna as instituições já com qualidade inertes a eventuais mu-danças.

Mesmo com essa imutabilidade da situação é importante criar um pon-to crítico frente a esses nós e deter uma opinião formada quer seja para qualquer uma das duas correntes de pensamento mencionadas. Primei-ramente, sobre as atividades com-plementares é importante salientar que a sua concepção é louvável do ponto de vista teórico. Entretan-to, as Atividades Complementares dentro da Fundação Getúlio Vargas tornaram-se um dos mais intensos gargalos no tocan-te a conclusão do curso de graduação em si. Como se não bastasse todo o ho-rário intenso a que os alunos já estão a mercê, ainda é exi-gido destes mes-mos o cumprimen-to de 300 horas ou dez créditos de ACs até o 7° semestre. O corpo docente já atesta que o horá-

Luiz Fernando Lockmann

Quem nunca se pegou ques-tionando o porquê de existir chamadas na faculdade ou

qualquer outra burocracia precisa começar a prestar mais atenção ao seu redor. É seguro falar que a maio-ria dos estudantes, principalmente na Fundação Getúlio Vargas, já se indignaram pelo menos uma vez com alguma burocracia que “fere” o seu modo de conduzir e gerenciar a faculdade. É natural que o aluno queria descontar a frustração em cima da instituição de ensino quan-to a essa tutelagem diária. Contudo,

algumas das burocracias mais céle-bres dentro da FGV não são exclusi-vas da mesma, nem existem devido a sua vontade.

Somente irei me atentar a três grandes nós que interverem na grande massa burocrática da FGV - a necessidade de completar um número X de horas de atividades complementares, a necessidade de presença em aula e o controle da pesquisa dentro da instituição de ensino. Todos esses nós tem um de-nominador comum: são imposições

Os nós da burocracia: ACs, faltas e pesquisa

A divulga-ção e apro-vação do

cumprimento das ACs é um processo extremamente burocrático

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estudantil. Contudo, a coordenação do curso e não mais o MEC cria cer-tas limitações para o cumprimento das atividades complementares, o que as faz ficarem cada vez mais cus-tosas e laboriosas para uma simples burocracia. Os créditos por horas executadas em estudo de línguas, entidades estudantis, residência

em pesquisa entre outros são limi-tados por semestre com o objetivo de impulsionar o aluno a variar suas “atividades”. No final isso só torna o cumprimento das ACs um grande martírio que mesmo em doses ho-meopáticas ao longo do curso torna--se extremamente difícil e sem sen-tido.

Outro grande nós da burocracia que existe em todas as instituições de ensino no Brasil é a necessidade de presença em sala de aula. A for-ma como essa imposição é cumprida vai de cada instituição de ensino e na FGV esta é cumprida através da chamada em toda aula. Seria hipó-crita de minha parte dizer que essa forma de cumprimento da regra do MEC é seguida por todos os pro-fessores igualmente. Mesmo com a regra explicita no regimento da EAESP e das outras duas escolas da Fúndação Getúlio Vargas, existem professores que não veem a neces-sidade de executar a chamada toda aula. Na visão de alguns, isso dá a

tanto do grau de think-tank quanto para a visibilidade da instituição em âmbito nacional. Contudo, a buro-cracia exige que o corpo docente dê um volume de horas aulas indiscri-navelmente. O professor que busca espaço na instituição de ensino su-perior para a pesquisa acaba por se prender a burocracia da sala de aula em horas delimitadas. Isso reduz

por óbvio o volume de pesquisa exe-cutada dentro da FGV e consequen-temente a produção de conhecimen-to como um todo no Brasil.

São essas e outras que culminam em certos entraves no curso de gra-duação. Novamente é importante dizer que isso não é responsabili-dade exclusiva da Fundação Getú-lio Vargas, já que em quase todas as instituições de ensino superior há os mesmos entraves. Contudo, a forma como esses entraves são lida-dos dentro de cada uma das univer-sidades vai da cultura organizacio-nal das mesmas. É pouco provável que um curso de qualidade sobrevi-va dentro de uma perspectiva buro-crática severa e rígida. É necessário deter certa maleabilidade no trato com os diversos nós, mas mantendo regras claras para sua formalização. Assim como as rápidas e intensas reformulações do curso de gradu-ação, as burocracias deveriam ser de vez em quando reformuladas na mesma intensidade.

liberdade de o aluno escolher se fica ou sai da sala, dando a eles certa autonomia de escolha. Dentro da perspectiva da estratégica já men-cionada de realocação de recursos essa forma de conduzir a chamada auxilia os alunos que priorizam ma-térias ou provas mais intensas.

A chamada e consequentemente as faltas são um problema inegável, pois prendem o aluno não interessa-do ao ambiente de sala de aula. Este mesmo pode acabar prejudicando outros que detém mais interesse em determinada matéria, uma vez que não podem se ausentar da buro-cracia estabelecida. Caso haja mais de X número de faltas ao longo do semestre em dada matéria o aluno é reprovado, além de receber média zero nesta mesma. Esse modelo dra-coniano assim como o cumprimen-to de Atividades Complementares trava todo o poder de escolha do aluno que buscaria agir da melhor forma possível dentro do tempo es-tipulado. A autonomia ironicamen-te é dada ao corpo docente em como conduzir a chamada quer ela seja no começo, no meio ou no final da aula, ou até mesmo não exista. Se a bu-rocracia é imutável então que pelo menos haja uma regra clara para o cumprimento da mesma e que esta seja uniforme a todos.

Por fim gostaria de rapidamente discorrer sobre um nó burocrático um pouco além do corpo discente. A pesquisa dentro da instituição de ensino superior a muito tempo já virou base de comparação e hierar-quização de excelência de um cur-so. Tanto que no ultimo ranking de instituições de ensino internacional apresentado em Londres a USP figu-rou dentro das 200 melhores univer-sidades do mundo. Analistas julgam tal resultado advindo do volume de pesquisa executado pela USP nos últimos anos. A pesquisa dentro da Fundação Getúlio Vargas é feita com todo louvou e cuidado em busca

A chamada e conse-quente-

mente as faltas são um problema inegá-vel, pois prendem o aluno não interessado ao am-biente da sala de aula

O professor que busca espaço na

instituição de en-sino superior para a pesquisa acaba por se prender a buro-cracia da sala de aula

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Gazeteando

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A turma bolha e o Palácio do Governo

Luiz Fernando Lockmann

Duas histórias das tantas que a Fundação Getúlio Vargas já vivenciou, jazem um tanto

esquecidas pelo corpo docente e des-conhecidas pelo grande contingente do alunado. São histórias leves e de cunho histórico para entreter, ao mesmo tempo para ilustrar, como foram conduzidas as negociações nos bastidores da EAESP, no pas-sado. Essas duas experiências, de-mostram também, como foi criada a cultura organizacional da FGV-SP e com ela, ainda existe um “fantasmi-nha” pairando nos dias de hoje .

A Turma BolhaA primeira história envolve a cha-

mada “turma bolha”, e ocorreu no inicio da história da EAESP, nos idos da década de cinquenta. A escola es-tava intensamente dentro da esfera de influência do Rio de Janeiro (fato esse que se repete ironicamente, nos dias de hoje) e somente conse-guiu independência com a primeira eleição direta, para diretor. O pro-fessor Gustavo de Sá e Silva detinha uma larga experiência e vínculo com a escola, além de sua característica forma enérgica de atuação. Este foi o mesmo diretor, que teve força du-rante a sua gestão para retirar um professor da Casa, apreendido no DOI-COD para interrogação, sem o medo de represálias do Governo. Nesse contexto foi criado o curso de Administração Pública, finan-ciado pelo Estado, com objetivo de suplantar uma elite de gestões de órgãos públicos. O curso de Admi-

corpo diretivo não queria parecer ingrato aos norte-americanos, com-partilhadores na construção da EA-ESP, ao fazer acordos paralelos com a Europa que na visão deles não ti-nha interesse em exportar professo-res ao Brasil. Preferiu-se uma abor-dagem mais vinculada aos Estados Unidos, o que não impediu o Conde Matarazzo de oferecer a Mansão Matarazzo, no Morumbi, para que fosse utilizado como centro de es-tudos da EAESP. Não haveria custos atrelados, mas somente uma condi-ção: que a Fundação modificasse seu nome. A família Matarazzo desejava que a Fundação retirasse o nome do tão amado patrono Getúlio Vargas para se tornar a Fundação Francisco Matarazzo. Contudo, o corpo direti-vo da escola recusou tamanha con-dição imposta e o acordo não restou finalizado. A mansão foi entregue logo mais ao Estado devido a dívi-das, tornando-se o que conhecemos como Palácio dos Bandeirantes.

As duas histórias têm um deno-minador comum, que gostaria de ressaltar sem a necessidade de ex-ploração do tema – deixo para refle-xão do leitor. Ambos mostram que intransigência no momento de ne-gociação quer seja do corpo docen-te ou discente, podem render real-mente más decisões de longo prazo. O alunado nunca mais conseguiu reconquistar a confiança ou o po-der extremado que detivera, e, por outro lado a direção da Escola não conseguiu uma área tão boa a cus-to tão baixo de transação, quanto o proposto. Fica a dica à futura elite intelectual do Brasil: pensar antes de tomar decisões e aprender com a história. Por mais singelas que se-jam elas nos permitem pensar onde estamos e iluminam o caminho para onde vamos.

nistração de Empresas já criado, posicionou-se fortemente contra essa medida, alegando que o curso poderia perder qualidade com esse contingente de novos alunos. Para exprimir tal indignação o alunado fez algo inimaginável aos gvnianos de hoje: uma greve generalizada.

A paralização das aulas foi bem sucedida, também em função da união do corpo discente menor da época. Nas negociações foram ofere-cidas diversas regalias como muitas vagas para o corpo discente na Con-gregação da Escola – instância má-xima para decidir as questões perti-nentes. Contudo, todas as medidas fracassaram e a greve perdurou por dois meses sem que o Centro Acadê-mico da época tomasse uma decisão. O diretor, por sua vez, entendeu a imutabilidade da situação e decidiu por finalizar as atividades letivas do semestre, impossibilitando a últi-ma turma de formandos de concluir o curso. Foi decidido que devido à intransigência do corpo discente as aulas estariam suspensas de fato, e que todos deveriam retornar no semestre seguinte para concluir o anterior. Tivemos pela única vez na história da EAESP, uma “turma bo-lha”, onde não houve formatura e um grande hiato na história do cor-po discente, como um todo.

O Palãcio do GovernoA segunda história diz respeito

ao belo prédio do Governo Estadu-al de São Paulo. No inicio da criação da EAESP o Conde Francisco Ma-tarazzo tinha muito interesse em auxiliar a construção das bases es-truturais da Escola. Tanto, que este pressionava os gestores para colocar dentro do corpo docente, mais pro-fessores de origem europeia, mais especificadamente, os italianos. O

Histórias da Fundação

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Fatos históricos:Nadia Waked

A origem do conflito entre ára-bes e judeus possui origens longínquas na história. A

presença dos judeus na antiga Pa-lestina possui constatações desde o segundo milênio antes de Cristo. Durante a expansão islâmica, no ano de 635, a Palestina foi ocupada pelos árabes e, somente no século VII, ela passaria a serterritório mu-çulmanos. Posteriormente, passaria para o Império Turco Otomano.

No final da década de 1880, The-odor Herzl inicia um movimento sionista, o qual possuía propósi-to de construir uma nação judaica na região da Palestina. Judeus do mundo inteiro passaram a reunir recursos para a compra de lotes de terras na Palestina, pois essas eram férteis e promissoras. Inicialmente, os judeus foram recebidos com hos-pitalidade pelos palestinos, porém atritos em torno das questões de exploração de água e terras férteis originaram os primeiros choques entre os árabes nativos e os colonos judeus. Esse foi o ensejo para ata-ques em outras partes da Palestina e que acabou por suscitar o primeiro protesto palestino contra os esfor-ços judaicos de colonização.

Antes da Segunda Guerra Mun-dial, em 1936, a população judaica na região contabilizava em torno de 34% e, durante a guerra, muitos ju-deus fugiram para a região aumen-tando esse número. Após a Segunda Guerra, a ONU assume a adminis-tração da região e o então presiden-te dos EUA, Truman, determina a divisão da Palestina em duas partes.

de Israel do Estado palestino. Desde então, os conflitos conti-

nuam e esses não possuem previsão de término. Até que seja reconheci-da a tática da política de Estado is-raelense e haja o término das reivin-dicações palestinas, é difícil prever que um dia exista uma situação de equilíbrio entre as partes.

Um território de 14.500 km² (in-cluindo Jerusalém) seria concedido aos judeus e 11.500 km² aos pales-tinos. Em 1948, portanto, é criado o Estado de Israel.

Travados diversos conflitos, no fi-nal os palestinos ficaram sem terri-tório e hoje compõem o maior con-tingente de refugiados do mundo, contabilizando cerca de 3,5 milhões de pessoas. No fim da década de 60 é criada a OLP (Organização Para a Li-bertação da Palestina), tendo como líder Yasser Arafat e a qual atribui ao povo palestino o ideal de identi-dade coletiva.

Somente após a Guerra Fria que se iniciam as conversações para o estabelecimento da paz. Yasser Ara-fat e o primeiro-ministro israelense, Itzhak Rabin, firmam o Acordo de Oslo I (1993), sob patrocínio dos EUA e no qual se estabelecia o re-conhecimento do Estado de Israel pela OLP e a aceitação por Israel da OLP como legitima representante do povo palestino. Um ano depois, a Autoridade Nacional Palestina pas-sa a controlar alguns territórios da Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

As negociações prosseguiam de modo positivo e gradual (segundo Acordo de Oslo – set. 1995), porém o presidente Rabin é assassinado em 1995 e este fato repercute de modo direto no processo de pacificação.

Quando Benyamin Netanyahu, do partido de direita Likud,de Isra-el, é eleito (após o mandato Shimom Peres), o diálogo entre as partes tornou-se extremamente difícil. Após Netanyahu, Ehud Barak é elei-to como primeiro-ministro de Israel em 1999. Era membro do Partido Trabalhista, favorável ao processo de paz. Retoma as negociações e cria-se um corredor ligando a Faixa de Gaza à Cisjordânia. e também é postergada a declaração por parte

A questão árabe-israelense

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Atualidades

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GAZETA VARGAS

Theo Hotz

Falar sobre o conflito Israel-Pa-lestina não é coisa fácil. O tema levanta polêmicas, cria

sentimentos e é difícil não se envol-ver passionalmente com o assunto.

O povoamento judaico na-quela região remonta há cerca de 3500 anos, com períodos de maior e de menor densidade demográfica deste grupo, mas sempre presente. Boa parte da narrativa bíblica (ju-daica ou cristã) se passa nesta terra, a qual teve diversos nomes, depen-dendo de cada conquistador que por lá passou.

Rapidamente esta terra se tornou alvo de reinos e impérios na antiguidade, justamente por sua localização, ponto de ligação entre África, Ásia e Europa. Documentos assírios, babilônicos, persas, mace-dônicos e romanos atestam a exis-tência do povo judeu lá, em diversas épocas, fossem como grupo inde-pendente, ou sob ocupação.

Após a dominação romana e as guerras movidas pelo desejo de independência da província da Judeia, os judeus acabaram sendo derrotados e dispersos pelo vasto território romano, o qual compreen-dia a Europa, norte da África e parte do Oriente Médio. Dividir para go-vernar era prática comum entre os romanos. Desde então, judeus pas-saram a ser minoria dentro da terra de Israel, proibidos por decreto de entrarem na cidade de Jerusalém (renomeada Aelia Capitolina). Era o século I desta era.

No século VII, com o sur-gimento e expansão do Islã toda a região do Oriente Médio e boa par-te da África foram islamizadas. Em 638, os muçulmanos conquistam Jerusalém, tomando-a das mãos

naquela região. Obviamente, dois estados não podem ocupar o mes-mo espaço ao mesmo tempo e, por isso mesmo, a região está fadada a continuar dividida, assim como foi proposto pela ONU, em 1947. De um ponto-de-vista puramente prag-mático, conclui-se que nenhum dos grupos terá a totalidade das terras. Visivelmente a única solução é o es-tabelecimento de dois Estados para os dois povos, coexistindo dentro de fronteiras seguras, com acordos firmados entre ambos os estados de modo a garantir a paz e o equilíbrio político da região � como os acordos firmados entre Egito e Israel e entre Jordânia e Israel.

Para tanto, é necessário es-capar dos discursos totalitários e apaixonados. Defender a existência de Israel não pode significar defen-der toda e qualquer ação do gover-no israelense. Do mesmo modo, defender a existência de um Estado Palestino não pode significar defen-der toda e qualquer ação movida por grupos extremistas como o Hamás ou o Hizbulá (que nem palestino é, diga-se de passagem).

Lideranças israelenses e pa-lestinas já cometeram muitos erros, mas também já souberam dar pas-sos significativos em direção a pos-síveis soluções. Se as negociações estão estagnadas agora, deve-se ao fato de que a intransigência se tor-nou o discurso da vez. Palestinos e Israelenses alegam ser impossível conversar com quem não quer real-mente a paz. E não é que ambos es-tão certos?

Theo hoTz é hisToriador pela Universidade de são paUlo e professor de hisTória JUdai-

ca no colégio i. l. pereTz

dos Persas, e permitem � pela pri-meira vez em 500 anos � que os judeus retornassem à cidade oficial-mente. Contudo, a partir de então, a região geográfica da Palestina passa a contar com uma população majo-ritariamente muçulmana. E assim continuará, apesar das Cruzadas, até o surgimento do Império Turco--Otomano, o qual somente começou a se desmembrar entre 1908 e 1922.

As datas não são colocadas aqui como forma de construir um critério baseado na antiguidade da presença de cada grupo naquela ter-

ra. Ao contrário, coloco estas datas de modo a demonstrar o quanto cada um dos grupos tem pleno di-reito à autodeterminação naquela terra. E aqui reside a maior questão.

Há muito tempo o mun-do não é preto-e-branco. As várias complexidades se sobrepõem con-tinuamente fazendo com que uma solução unilateral (que somente os judeus tenham direito à terra, ou que somente os árabes palestinos tenham esse direito) se torne clara-mente impossível e altamente injus-ta.

A cada momento torna-se mais claro que ambos os grupos têm direito a seus estados nacionais

Diálogo só é possível quando dois falam

As várias complexi-dades se

sobrepõe continua-mente fazendo com que uma solução unilateral se torne claramente impos-sível e alta-mente injusta

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Salem Hikmat Nasse

A história da questão palestina é a história de uma tragédia; uma tragédia em vários atos

cujo desenlace tarda a chegar e se anuncia terrível.

Costuma-se insistir em que qualquer discussão sobre a ques-tão palestina se dê na forma de um debate acerca do conflito árabe--israelense. Nesse debate, pensa--se que é necessário levantar e equilibrar, igualmente legitimar, os argumentos de ambos os lados. Esse exercício abriga, no entanto, uma injustiça pois tende a igualar o ocupante e o ocupado, o opressor e o oprimido.

Na verdade, muito do debate se dá de modo a obscurecer, a fazer esquecer, o fato de que há opressão e há ocupação, esquecer dos pales-tinos nos campos de refugiados, esquecer da ocupação israelense na Cisjordânia e do cerco à faixa de Gaza, esquecer que a expropriação de propriedade e a destruição de casas palestinas é um fato cotidia-no, esquecer dos milhares de pre-sos, das transferências forçadas e das deportações, esquecer que os palestinos não têm liberdade para construir, para se locomover, para reunir as famílias, para trabalhar, senão sujeitos às restrições im-postas pela vontade israelense. A primeira coisa a fazer, portanto, é lembrar.

O discurso israelense, secunda-do pelos Estados Unidos, justifica todos esses males em nome da se-gurança de Israel. Em certa medi-da, esse argumento é incorporado ao exercício de equilibrar a balança entre ‘as legítimas esperanças do povo palestino de ter um Estado independente’ e ‘as legítimas pre-ocupações de Israel com sua segu-

a existência de tal coisa.E ‘coisa’ deve ser palavra apro-

priada porque certamente não se trata de Estado. O que pede a Au-toridade Palestina, composta pelas lideranças que foram cooptadas por israelenses e americanos e que abriram mão das demandas histó-ricas palestinas, é o reconhecimen-to de uma entidade emasculada, dependente, mas mesmo isso se choca contra uma recusa intransi-gente.

Que não haja dúvida: os pales-tinos carregam uma parte da res-ponsabilidade por sua tragédia. Mas as suas derrotas são antes de qualquer coisa devidas à impotên-cia diante de adversários tão for-midáveis quanto implacáveis.

É lugar comum dizer, naquele descabido espírito de equilíbrio a que me referi, que não há solução justa para a questão israelo-pa-lestina. Verdadeira ou não, a idéia tende a legitimar o status quo, de desequilíbrio de forças e de opres-são, como sendo ‘apenas’ um dos estados de injustiça possíveis.

Justiça ou não, tudo indica que se caminha para caminha para um domínio israelense sobre toda a Palestina histórica. Com isto, a não ser que se expulse toda a po-pulação árabe da região, se ins-talará definitivamente um estado de apartheid, ainda que se possa querer chamá-lo por outro nome. A história, e é bom que assim seja, não permite longa vida a regimes assim, ainda que lhes permita algu-ma vida. Mas antes que a história passe seu julgamento definitivo so-bre Israel, é possível que, ajudada por este, reserve aos palestinos o destino de tantos povos impoten-tes: a extinção enquanto povo e en-quanto identidade.

rança’.Ora, ainda que não se possa ne-

gar a preocupação securitária de Israel, a desproporção entre meios e objetivos declarados é tal que de-veria saltar aos olhos a falsidade da tese. Mas antes de lidar com isso, é preciso notar que o argumento tende a naturalizar a idéia de que, por um lado, Israel só age em legí-tima defesa e, por outro, que toda a violência parte dos palestinos, tal-vez porque, devem pensar alguns, são mais predispostos a tal coisa.

Perfurado o véu dessa naturali-zação, é preciso enfrentar o fato de que, independentemente do dis-curso, as ações de Israel mostram uma determinação férrea, sempre suportada pelos Estados Unidos, em não permitir o surgimento de um Estado palestino, especialmen-te de um que mereça o nome.

Dois elementos de prova deve-riam bastar ao juiz mais severo para comprovar a tese. O primei-ro é o constante e irrefreável mo-vimento de Israel para consumar de modo irreversível a ocupação de território palestino: o traça-do do muro de separação é um exemplo disso, mas a expansão e distribuição dos assentamentos é a demonstração mais gritante das intenções da potência ocupante. O segundo pode ser tirado da crôni-ca recente: os episódios do pedi-do, pela Autoridade Palestina, de acesso à ONU e da aceitação da Pa-lestina como membro da UNESCO ajudaram a revelar, para quem ig-norava, a terminante recusa de Is-rael e dos Estados Unidos a aceitar a existência de qualquer coisa cha-mada Palestina se esta não respon-der às condições por eles ditadas, e a disposição desses dois países para punirem o resto do mundo se e quando este ousasse reconhecer

Enxergar a Tragédia

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Cronica

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Victo Waller Sadalla

Os Sonaipsede, pequena tribo da “rica” etnia Oiluteg Sa-grav, que se estende da Evon

Ohluj ao alto do monte Avepati, a planície baixa do Agixib, caracteriza--se por uma série de peculiaridades, tais quais rituais, práticas mágicas e estrutura moral idiossincráticas.

Conforme reza uma das lendas passadas de geração para geração, a fundação da tribo, exemplar Teo-cracia de Legagis, na inóspita região da Ahcor ocorreu pelo místico (cujo papel e figura são análogos ao Faraó egípcio) Yra Odlawso, devido a uma iluminação divina soprada ao seu ouvido pelo deus Otierid.

Estamentalmente, mesmo não sendo uma sociedade estratifica-dora, economicamente falando, há três castas, muito próximas às da sociedade Hindu, a dos Sonula, ou os sem luz, que “financiam”, os Se-rosseforp, ou os que possuem a luz, similares aos sacerdotes, e os So-dagerpme, ou os com quem não se deve conversar, parecidos com os “intocáveis” indianos.

Ainda que não haja nada formal-mente escrito sobre a mitologia, esta não se finda no breve conto do gênese. Passadas de boca em boca entre os Sonula no Roderroc (cômo-do comum para interação breve) por meio de rodas de contos ou então em um grande mural, denominado Koobecaf, de rascunhos quase ru-pestres, a mitologia se incrusta na imaginação severamente limitada e no senso comum destes humanos. Dentre estes mitos, marcados, entre outros, pelo maniqueísmo vulgar e por uma moralidade pautado em um conceito moderno –e aqui por-tanto notamos que é uma comuni-

cantigas entonadas por um mestre de cerimônia; envolve não apenas a específica comunidade, mas tam-bém a toda a etnia Oiluteg Sagrav. Fora esses eventos, o acasalamento dificilmente ocorre entre membros iguais –aparentemente um Tabu–, os quais buscam seus parceiros no além-Agixib.

Por fim, falamos do poder entre os Sonula. Estes marcam seus pa-nos com animais, como o albatroz, o alce, o jacaré, o cavalo e a águia (todos não oriundos da fauna local), em tentativa de criar uma escala de poder. A crença fundamental sub-jacente a todos os signos compar-tilhados entre “os sem luz” parece ser a de que um pode ser superior ao outro pelo poder e/ou pela luz. Isto se deve a dois fatores: serem os “financiadores”, o que impede que qualquer um o seja, tanto pe-los custos quanto pela seleção para se tornar um Sonula, e o ambiente fomentado por uma eterna disputa para ser “o escolhido”, considerado pelos que tem luz como “o melhor”.

Caros leitores, findo aqui meu breve relato sobre essa tribo.

Entretanto, inquieto-me com interrogações que despontam ao comparar nossas práticas sociais com a dos Sonaipsede. Edespianos possuímos as mesmas práticas, mas não entendemos a verdade simples-mente pelo nosso preconceito e por despreparo mental em analisar os símbolos sob outros pontos de vista que não o do nosso grande ego.

“Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil perceber toda a crue-za e irrelevância da magia. Mas sem seu poder de orientação, o homem primitivo não poderia ter dominado, como o fêz, suas dificuldades práticas, nem poderia ter avançado aos estágios mais altos da civilização”.

Malinowski

dade aparentemente desenvolvida–: o “eu”, destacam-se dois elementos que incorporam o mal: Irtimid e Acerac, ambos da classe dos Seros-seforp.

Sem nos distanciarmos dos sím-bolos desta cultura, encontramo--nos com o corpo e seus significados. Assim como na cultura Sonacirema, explanada pelo professor Horace Miner na década de 70 – em “O Ri-tual do Corpo dos Sonacirema” In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) You And The Others, Cambridge Uni-versity Press – possuem os Sonaip-sede, com incrível semelhança, os mesmos processos ritualísticos ao nascer do Sol e em seu crepúsculo; o corpo –principalmente a idéia de sua doença e impotência– é para os Sonaipsede gerador de um horror quase que patológico, e ao mesmo tempo de fascinação; e, logo, basilar para as relações da tribo.

As vestimentas surgem, nesta so-ciedade estamental, como forma de “desigualizar” o corpo quando com-parado com outra casta e aproximar os de mesmo patamar. Ambas as três classes possuem características próprias. Todavia, neste estudo en-dereçado à consciência dos alunos da Edesp, preferi focar no conjunto médio.

A sexualidade, por sua vez, ainda em um corte sobre os Sonula, tam-bém se encontra neste padrão de poder e censura; considerada algo tão amedrontador e proibido que apenas duas vezes ao ano, uma ao primeiro equinócio do calendário ocidental e outra um mês e meio após o solstício de inverno, é per-mitida uma interação mais próxi-ma entre ambos os sexos, em um ritual semelhante ao bacanal, rega-do a destilados de trigo e cevada e

Reflexões sobre a antropologia dos Sonaipsed

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Cronicawww.gazetavargas.org

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Luiz Fernando Lockmann

Vivemos presos dentro de uma realidade de rápida res-posta para tudo, mas um dia

certamente tudo acaba.Em seus últimos meses de vida o rei

Henrique VIII conclama o seu melhor amigo, duque de Suffolk, para uma con-versa a sós. O rei faz a seguinte pergun-ta: “Qual é a perda mais irreparável ao homem?”. O duque prontamente res-ponde que é a virtude do homem. O ve-lho rei sagaz rebate dizendo que através de suas ações ele pode redimir a sua vir-tude. O duque desafia o rei dizendo en-tão que a maior perda de um homem é a sua honra. O rei novamente acaba com o argumento de Suffolk dizendo que da mesma forma que a virtude, as posses, os amores, a honra pode ser recuperada com as ações do individuo. O duque de-sapontado lamenta ao seu mestre não saber a resposta. Então Henrique res-ponde que a perda mais irreparável ao homem é o tempo, o qual não pode ser redimido, retornado ou recuperado.

Após essa breve história não verídica apresentada no seriado “the Tudors”, o qual narra a trajetória de vida de Henri-que VIII, gostaria de discorre um pou-co sobre o tempo. Meu primeiro ponto envolve o custo do tempo. Quanto vale uma boa noite de sono ou um passeio com a família? Esses e outros questio-namentos tem o denominador comum tempo, o qual nos dias de hoje tornou--se fração do que antigamente era. O mais irônico é que o mundo e o tempo não se modificaram em sua estrutura, somente as pessoas que nele habitam. Como dizer então que o tempo encur-tou e que não tempos mais tempo hábil para viver?

Isso é uma das maiores ironias que a sociedade pós-moderna vive, o senso de não saber para onde caminhar. Aliado a evolução na comunicação e na rapidez da tecnologia esse vácuo de objetivo na vida é sanado muitas vezes pelos afaze-res antes não executados. Hoje despen-demos tanto tempo em atividades que não nos compete como seres atuantes que ficamos obviamente sem tempo para viver um dado período de vida. O que se mais vê atualmente é o ser hu-mano com o objetivo de focar-se hoje e viver depois. O importante é se esforçar e em certos níveis sofrer no presente

na vida. Para ilustrar um pouco o pen-samento volto na trajetória do recém--falecido Steve Jobs, o qual buscou a sua perfeição através da arte e da qualidade. Ele dentro de uma realidade econômica feroz propunha algo além da simples análise econômico-financeira de qual-quer projeto. Jobs propunha a realiza-ção do eterno, o qual deteria atributos muito além da nossa tão limitada capa-cidade racional. O futuro infinitonseria exatamente a criação de um legado para o mundo. Novamente repito: melhor morrer um universalista com legado que um especialista perdido no salpicar do mundo.

Essa é a resposta, a meu ver, para a grande busca da imortalidade, a qual não passa de uma vitória sobre o tem-po. Portanto, a confecção de um legado nos torna imortal sob os olhos da histó-ria. O que mais entristece é exatamente enxergar que a maioria dos indivíduos busca através da obsolescência da vida presente não criar o belo e o perfeito, mas sim sobreviver a realidade. O que se busca é depredar aos poucos a socie-dade, construir um castelo com muros e esquecer-se da existência dela. Isso de fato não é vencer o tempo, mais sim tornar o ser humano mais a mercê do sofrimento pela perda deste mesmo. O castelo não compensaria o esforço todo empregado se o individuo deixa se perder no tempo ações prazerosas que nunca mais podem retornar. O ideal é alinhar a busca pela perfeição e pelo legado com o caminhar paralelo no tempo, aproveitando tudo do momen-to presente. As experiências mais caras não são necessariamente as mais gran-diosas ou as mais raras; elas são justa-mente as mais importantes dentro do que o individuo acha mais caro para si mesmo quer sejam em grandes ou pe-quenas coisas.

Finalmente gostaria de ressaltar so-bre a fragilidade da vida. Assim como Jobs e muitos outros a vida, por mais recursos que se tenha, pode se esvair no primeiro momento oportuno. Devido a essa fragilidade é cada vez mais impor-tante analisar e reconhecer as ativida-des e as sensações mais importantes, uma vez que se pode perdê-las em um piscar de olhos. Quando perguntado, dentro de uma perspectiva metafóri-ca, sobre quanto vale uma boa noite de sono livre de preocupações minha res-posta é impagável.

porque no futuro receberíamos algo que nos é caro. Quanto vale efetivamente de tempo fazer o seu milhão antes dos trinta?

Na mesma fala do rei da Inglaterra devo desmistificar a ideia de viver para o futuro tão pura e somente. O sofri-mento de hoje não é necessariamente curado com os desejos do futuro ou com uma realidade distante. Ele deve ser um ponto de partida e não de chegada. Digo isso porque quanto mais expectativas colocamos no futuro maiores os riscos para decepção e o sofrimento recor-rente. O importante é viver e apreciar o tempo que nos é dado para fazer tal ação. Eliminá-lo como uma commodi-ty é no mínimo horrível, partindo da ideia que nunca poderíamos recuperá--lo jamais. Pensar e planejar o futuro é muito importante, mas sem sacrificar as coisas que realmente importam na vida querem elas seja relacionamento, família, hobbys, conhecimento entre tantos outros.

O grande denominador comum da realidade atual é esse descaso pelas re-lações do presente. Não há mais a busca pelo vitruvianismo, chamada também busca pelo ideal e perfeição. Não nos aperfeiçoamos para nos tornarmos se-res pensantes melhores auxiliadores da sociedade como um todo; buscamos realizar algum desejo egoísta distante. Um dos fatores mais sacrificados nessa forma de pensamento são as relações de amizade e amorosas, de sabedoria e de proximidade com a realidade.

O sacrifício do tempo ocorre mu-tuamente com esse desprendimento do aqui e agora e do presente. O sofri-mento pela perda do processo de viver é sanado pela busca eterna de pequenos prazeres substitutos programados a se tornarem cada vez mais obsoletos. A re-alidade atual é consumir em grande in-tensidade e de modo recorrente, a qual precisa em contrapartida dessa obsoles-cência tanto dos bens físicos como das relações sociais.

Tudo isso nos deixaria menos cons-cientes para entender o quanto estamos sacrificando em prol de ilusões futuras, as quais podem não vir a serem concreti-zadas. Buscar a perfeição do ser com ati-vidades de real prazer deve ser o foco do ser humano pensante; o equilíbrio entre mentalidade emocional e racional deve existir com objetivo de manter-se cons-ciente às coisas realmente importantes

Quanto tempo o tempo tem ?

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Contra-Ponto

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GAZETA VARGAS

João Pedro Azevedo Maldos

Quando se toca no assunto da volta da cerveja para o DA, logo pensamos na questão

da integração entre os estudan-tes. Atualmente os momentos de maior união entre os gevenianos são concretizados de duas maneiras distintas: ou em pequenos grupos de amigos no bar ou em grandes eventos promovidos pelo Diretório. Tais momentos são poucos e isola-dos, nos quais há uma tendência de excesso de consumo alcoólico por serem aclamados como dias espe-ciais, nos quais estamos reunidos com nossos colegas e podemos fes-tejar esta época única em nossas vidas. Deste modo, a cerveja pode-ria ajudar a criar um ambiente de integração mais homeopática para o alunado, que está acostumado a um ambiente individualista e altamente competitivo.

Porém, para poder discutir esta questão a fundo, é necessário que se compreenda os argumentos da dis-cussão. Somente a partir da constru-ção de um diálogo articulado entre os corpos da fundação poderemos chegar a uma solução que não seja uma proibição unilateral pela direção e uma cara emburrada pelos estudan-tes.

Os momentos, a época

Quando se fala na época da facul-dade, qualquer pessoa que já passou pela experiência conta como foram anos épicos: mostram-se cheios de histórias para contar, que enchem os olhos de memórias e as bocas de felicidade. A maior parte destes mo-mentos ocorre quando estamos reu-nidos como grupo, ligados por uma

-se na moderação – nem que sejam necessárias restrições pesadas.

A cerveja não é um líquido mági-co que trará bons momentos a todos, transformando todos em amigos. Po-rém, também não é possível que a cerveja sozinha possa transformar o alunado em bêbados inconseqüentes. O consumo responsável é pregado por todo lugar onde há consumo de álcool, e não poderia ser diferente aqui. Dentro da fundação seriam ne-cessárias restrições, para que não se interfira com o bom funcionamento da GV. Restrições de horários (após as aulas, por exemplo) e punições para aqueles que exagerarem e cau-sarem transtornos poderiam ser co-locadas na mesa. Deste modo a dire-ção poderia punir os que não foram apresentados à moderação e permitir o consumo para aqueles que desejam compartilhar momentos tranqüilos com todos seus colegas.

Legal, queria tomar uma breja no DA. E agora, José?É necessário perceber que a volta

da cerveja é algo que os estudantes almejam. Por mais que possa trazer problemas internos para a funda-ção, existem modos de contorná-los. Sabe-se que não é a solução para os problemas de integração do alunado, mas acredito que a possibilidade de tomar uma cerveja no DA aumenta as chances de que as pessoas fiquem na faculdade e aproveitem esta épo-ca para além das salas de aula. Po-rém, não será o corpo docente que irá propor a volta da cerveja. Isto deve ser mais do que uma bandeira para eleições do DA, mas uma proposta séria. Afinal, temos força de voz na fundação e podemos aclamar por um diálogo mais claro sobre a questão.

fundação pela qual temos grande carinho. Porém, o local e o meio fo-ram perdidos. O DA já não se mos-tra mais como um local onde se en-contram os gevenianos, mais parece uma sala de recreação e descanso de funcionários de uma empresa. Al-guns dormem, outros jogam pebo-lim. Todos esperam a próxima aula. A cerveja auxilia neste sentido, pro-movendo momentos de descontração que servem como cola social. Afinal, quando sairmos da faculdade, quais podemos dizer que foram os momen-tos que nos sentimos ligados à GV, ao ambiente universitário e ao grupo ao qual pertencemos? Durante as au-las de cálculo ou quando tomamos uma cervejinha e alguém fez papel de bobo? Quando, daqui a 10 ou 20 anos, nos perguntarem como foi nos-sa passagem pela FGV, poderemos dizer não somente o quão importante foi para a nossa formação profissio-nal, mas que foram momentos únicos partilhados com pessoas interessan-tes, que guardaremos com um sabor de nostalgia.

O consumo responsável e as restriçõesPorém, há de se pensar: o quanto

a cerveja realmente ajuda na criação de uma identidade geveniana entre os alunos? Alguns dizem que não serve como agente de integração, que isto é apenas uma desculpa daqueles que desejam consumi-la livremente na GV. Outros dizem que somente as-sim haverá real integração, já que o ambiente é altamente competitivo e somente através de um lubrificante social podemos nos livrar das grava-tas e dos saltos e vestir nossos shorts e chinelos (metaforicamente, é cla-ro). Acredito que a questão encontra-

Ser ou não ser cerveja...

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GAZETA VARGAS

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Luiz Fernando Lockmann

Não poderiam faltar, obvia-mente, questionamentos sobre o retorno da cerveja

no ambiente do Diretório Acadê-mico, visto que já caminhamos ao encerramento de meia gestão e não há qualquer sinalização de acor-do quanto a volta da “menina dos olhos” dos gvnianos dinossauricos. Parece irônico depois de tantas idas e vindas de campanha para apoio da massa votante que esse assunto caia no esquecimento dos alunos mais empolgados.

A volta da cerveja, além de pole-mica é um assunto espinhoso dentro do corpo discente. Ele efetivamente separa o aluno em dois grupos: os que vivenciaram a época “áurea” e aqueles que não vivenciaram. O que mais chocou na ultima eleição, foi que esse tema voltasse com uma força inacreditável e trazida, às ve-zes, por pessoas que nem mesmo vivenciaram tal período histórico. Muito semelhante com a realidade brasileira, das passeatas jovens pela abertura dos arquivos da ditadura, onde a molecada que não vivenciou a história clama por justiça. Tudo na sua devida proporção, parece extre-mamente alarmante que se tente, ainda , discutir esse assunto per-tinente ao ambiente acadêmico. Quantos problemas acadêmicos que temos e que já foram mencionados na Gazeta Vargas, mas existe ainda o grupo seleto dos gvnianos que só clamam pelo sucesso da cerveja... Pobre Reaval.

Digo isso não em tom de debo-che, mas torço para que a discussão se arraste mais um tempo, e que, fi-nalmente, o ultimo aluno que viven-ciou a cerveja tenha se formado. Um pensamento parecido foi expresso por um ministro alemão, no inicio

EAESP acho pouco provável que a professora Fleury volte atrás, con-juntamente com seus colegas. O que não quer dizer para aqueles ainda esperançosos, já que vimos muitas decisões inesperadas acontecerem nesta mesma faculdade.

Reconquistar o direito perdido no DA, deveria ser analisado com mais cautela pelos poderosos aca-dêmicos do corpo discente, uma vez que esse assunto não possui tantos argumentos prós para o corpo do-cente aprovar. O engavetamento desse assunto por parcela do DA só vem a demonstrar o caráter de ma-rketing eleitoral, que hoje a volta da cerveja tomou. Não há talvez real anseio para o seu retorno, porque efetivamente é um problema dema-siadamente complexo para ser reco-locado de volta na vida de um corpo discente que, em sua maioria, não vivenciou a época antiga.

Cerveja não irá curar o mal da competitividade extrema que se criou dentro do ambiente acadêmi-co, e nas relações entre colegas de fa-culdade. A bebida é um instrumento de celebração e possui locais apro-priados para ser consumido fora do ambiente de ensino superior. Sem pretensão de ter mente fechada, mas existe a real possibilidade que com a volta da cerveja haja excesso de consumo o que acarretaria situa-ções embaraçosas no futuro. E isso nem o tão sólido Diretório Acadêmi-co poderia controlar. O aluno gos-taria da volta da cerveja – mesmo aqueles que nunca provaram dela no DA – mas certamente tal fato não irá melhorar a nossa falta de in-tegração. Para isso é necessário um esforço conjunto das entidades em se alinharem por um fim comum: a força do corpo discente e não inte-resses de grupos.

da Reunificação Alemã, onde se di-zia que as reclamações sobre os ve-lhos dias só acabariam com a morte do último ser vivo daquela época. Basicamente essa discussão vaga e perdida, vai perdurar como aludi-da, até o último aluno que bebeu cerveja no DA, se formar. Acredito que possuímos problemas de caráter muito mais urgente para lidar, do que a aprovação da volta de cerveja para o ambiente “acadêmico”. Não é

o caso de nos mantermos como sa-crossantos alunos intocáveis, mas a presença da cerveja dentro do am-biente do Diretório Acadêmico, não resolveria a falta de integração dos alunos, como amplamente aludido nas campanhas eleitorais.

Há mais de dois anos a cerveja foi retirada de circulação do ambiente do DAGV pelos então diretores Ma-ria Tereza Fleury, Yoshiaki Nakano e Ary Oswaldo Mattos Filho – me-dida essa extremamente impopular, até hoje. Mas cabe questionar se o Corpo Diretivo da faculdade deve-ria ser popular ou correto, na sua visão? Atualmente houve sinaliza-ções de convencimento para a volta da cerveja, porém, em seu último semestre de estada na direção da

E aquela cervejinha...

A presença da cerveja dentro do

ambiente do DA não resolveria a falta de integração dos alu-nos, como ampla-mente aludido nas c a m p a n h a s e l e i t o r a i s

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Politica Interna

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GAZETA VARGAS

A Gazeta Vargas sempre teve curiosidades quanto aos aconteci-mentos fora dos palcos Gvnianos normais. O problema é que essas in-formações nem sempre são repassa-das aos alunos, ora por falta de tem-po, ora por falta de interesse. O que poucos conhecem é o tamanho da rede existente no ambiente da FGV e esse organograma todo é ampara-do por diversos elos. Um dos elos mais importantes para o desenvol-vimento do ensino e aprendizagem da organização Eaespiana é o Cen-tro de Desenvolvimento do Ensino e da Aprendizagem (CEDEA).

Para conhecer um pouco mais dos bastidores, dos processos de deci-são e das histórias da faculdade, a Gazeta Vargas entrevista a coorde-nadora do CEDEA, professora Isa-bela Baleeiro Curado do departa-mento ADM.

» Gazeta: Primeiramente gosta-ríamos de agradecer a presença da senhora e começar perguntando um pouco do seu background aca-dêmico

» Prof. Curado: Bom, como back-ground acadêmico, formei-me em Ciências Sociais na USP e comecei meu mestrado na escola (EAESP). Contudo acabei “pulando” e se-guindo direto para o doutorado. No que se refere à formação comple-mentar para realizar as atividades do CEDEA, cursei o International Teachers Program na Universidade Commerciale Luigi Bocconi o Global Colloquium on Participant-Cente-red Learning (GCPCL), em Harvard . Fiz uma carreira pouco ortodo-xa – logo depois de me formar, fui para os EUA e abri um restaurante de comida brasileira em Miami. Por força de problemas familiares voltei ao Brasil, agora para seguir com o

essencial é saber trabalhar com o equilíbrio entre as inúmeras meto-dologias, as características de cada disciplina e o perfil dos professores. Sem esse equilibro os professores acabam se tornando barreiras às mudanças.

» GV: Quais são os problemas mais recorrentes que o CEDEA en-frenta atualmente?

» Prof. Curado: Bom, problemas recorrentes são algo complicado a se dizer, uma vez que o CEDEA é uma estrutura de apoio. Acabam existindo mais desafios do que pro-blemas. É possível dizer que mape-ar as necessidades dos professores, assim como as dos alunos, já que os processos são longos e mutáveis. Traduzir a pesquisa em conheci-mento prático, assim como adequar os processos e conteúdos às diver-sas formas utilizadas pelos docen-tes, são desafios rotineiros. É im-portante dizer que todas as formas de ensino e aprendizagem têm a sua relevância, mas os professores tem a possibilidade de escolha, sendo o nosso objetivo apoia-los e prepara--los para utilizar esses conhecimen-tos. Outros desafios mais recorren-tes são, por exemplo, trabalhar com as demandas dos vários níveis na mesma escola como MPGI, CEAG,

mestrado. Dei aulas no SENAC – CEATEL (hotelaria) e na ESPM nas disciplinas de gestão e organiza-ções. Ingressei na EAESP como pro-fessora, em 1994 e já fiz um pouco de tudo – consultoria, treinamento gerencial, com foco em programas de trainees, tutoria, coordenação do programa de intercambio na Universidade do Texas são alguns exemplos. Ingressei no CEDEA como assessora em 2006, tornando coordenadora do mesmo em 2007.

» Gazeta: Houve algum choque em sua carreira com a cultura orga-nizacional da FGV?

» Prof. Curado: Com certeza hou-veram vários choques. Vim de uma tradição de professora de Unicamp, onde a cultura informal impera. Pode-se dizer que o estilo hippie de jeans, camiseta e tênis chocou num primeiro momento. Quando entrei eu era confundida como aluna, uma vez que a idade média dos profes-sores da casa era de 55 anos. Acho que os choques existiam por eu ser meio fora do padrão, ainda mais em cursos como CEAG, onde haviam vários alunos mais velhos que eu.

» Gazeta: Quais são os principais desafios em gerenciar um elo tão importante para a EAESP?

» Prof. Curado: Lidar com o sa-ber, sem dúvida! Lidar com um contingente de docentes que já de-tém um saber e com uma escola que também o possui é um grande de-safio e isso acaba perpassando a ló-gica de como transmitir esse saber. Essa lógica mudou muito rápido; é muito diferente o ambiente de hoje se comparado dez anos atrás. Um exemplo característico é lidar com o saber tradicional; pegue a aula ex-positiva como exemplo... Ela tem o seu papel, mas existem outras for-mas de ensino e aprendizagem. O

Entrevista Prof. Isabela CuradoOs bastidores de uma estrutra da apoio Sou a favor

da Reaval para bons

alunos... Essa escola presa por mérito e sucesso. O aluno que não se esforça ao longo do semes-tre não deve ter essa chance

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Entrevista Prof. Isabela Curado CG, etc. Ou apoiar a implantação dos novos cursos, como o MBM e o CGAP. Ou até mesmo capacitar pro-fessores para ministrar aulas em in-glês. Cada caso é um caso.

» Gazeta: Muitas vezes alunos são confrontados com informações ao longo do curso que desconhecem, principalmente quanto a história da EAESP. Esse contingente cresce cada vez mais dentro da faculdade. A senhora não acha que isso pode se tornar um problema?

» Prof. Curado: A escola tem algo interessante... Essa balança entre inovação e tradição; A estrutura muda muita e com essas mudan-ças vem a história. As histórias mais pitorescas, por assim dizer, podem apresentar várias visões, mas acabam demonstrando quem nós somos. A história faz a GV ser GV. Por exemplo, num momento de crise os professores se uniram e ne-gociaram com a Fundação corte de salários para poder manter os cur-sos. Contudo, a perda da história pode gerar obviamente uma perda de identidade. A escola valoriza a meritocracia, o trabalho bem fei-to... A história desconhecida pelos alunos não é problema tão grande, porque eles passam, apesar de lem-brarem a vivência dentro da escola. Entre os professores e funcionários o desconhecimento da nossa a nos-sa história pode gerar uma perda de identidade.

» Gazeta: Qual a maneira mais eficaz de fazer um indivíduo se sentir motivado, dentro de um am-biente de cultura organizacional gvniana?

» Prof. Curado: É preciso resgatar o sentimento de pertencer. A me-lhor forma é relembrar os quatro fatores de motivação de uma esco-lha de carreira – a marca, as opor-tunidades, os propósitos e a cultu-ra. As oportunidades, por exemplo, são atividades que podem motivar tanto os alunos quanto os profes-sores, como a pesquisa, o desenvol-

AE reformulado para 2012 algumas disciplinas terão 4 horas outras 2 horas; algumas disciplinas deverão ter novas logicas para se adequar ao novo curso por óbvio.

» Gazeta: Rapidamente para sa-nar a curiosidade: como é o seu trabalho no dia-dia? E como é a sua atuação na Comissão de Graduação (CG)? Eles se diferem?

» Prof. Curado: No dia-dia o CE-DEA é uma estrutura de apoio in-terno. A nossa atuação se dá por meio de várias atividades de apren-dizagem, desenvolvimento de pro-fessores, competições de casos, apoio à POL e PON, , ao MPGI, ao CEAG e etc. Meus dias nunca são iguais... Não tenho rotina... É sem-pre tem coisas acontecendo simul-taneamente. Desenvolvimento do novo ambiente de aprendizagem, o APRENDER, e processo de prepara-ção na implementação do novo cur-so de AP são exemplos de novida-des. Na Comissão do CG e do CEAG, como representante do CEDEA, meu foco é no ensino e aprendiza-gem. Além disso, tenho o papel na discussão de explicar as diretrizes da escola em relação às garantias de aprendizagem e buscar sinergias entre os diferentes s projetos, nos diferentes cursos.

» Gazeta: Para finalizar gostaria que a senhora fizesse alguma previ-são quanto às mudanças que a EA-ESP vai sofrer nos próximos anos?

» Prof. Curado: A escola está em uma fase de bons ventos, em minha opinião. Nós estamos recrutando professores novos, inovadores e motivados. Vários cursos novos fa-zem com que a gente se mexa; a in-ternacionalização aumentou muito e todos esses fatores criam desafios para todos. Mas eu acho que esta-mos bem direcionados... Temos bons indicadores como o aumento de pesquisa, de internacionaliza-ção, desenvolvimento de pessoas e liderança, entre outros. O mercado obviamente enxerga isso.

vimento pessoal, participação em vários processos, entre outros. Vale lembrar que os propósitos, os ob-jetivos maiores da escola, também são importantes, já que as missões e valores criam esse diferencial.

» Gazeta: Em muitas ocasiões a senhora mencionou a importância de estarmos sempre aprendendo. Como é o seu processo de aprendi-zagem mais clássico?

» Prof. Curado: Bom, meu pro-cesso de aprendizagem é por assim dizer multi-facetado... Eu aprendo dando aula e é muito interessante porque pegar os conceitos e trazer para uma realidade construindo interesse no aluno acaba sendo um momento de troca e todo momento é um desafio. Aprendo observan-do, olhando o mundo e buscando os por quês; aprendo lendo – uma leitura reflexiva de todo tipo. Em suma aprendo refletindo.

» Gazeta: Qual a sua opinião frente às recentes reformulações dos cursos e projetos polêmicos que voltam a ser discutidos como o Reaval? A senhora acha que o corpo discente deveria participar dessas discussões?

» Prof. Curado: Sou a favor da Reaval para bons alunos... Essa es-cola preza por mérito e sucesso. O aluno que não se esforça ao lon-go do semestre não deve ter essa chance. Quanto às reformulações são necessárias e os processos fo-ram pautados pela realocação e pe-las negociações para gerenciar um curso. Tínhamos a necessidade de diminuir o número de disciplinas e aguardamos o final de um ciclo do CG-R para programar essa mu-dança. Mudanças são importantes e necessárias, mas elas levam um tempo. Como já dito, a escola tra-balha nesse equilíbrio entre ino-vações e tradição e a reformulação faz parte disso. O curso tem fatores com alto grau de inovações como as atividades monitoradas, empreen-dedorismo... Nesse novo curso de

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GAZETA VARGAS

Existem trilhas de matérias que são, para alguns professores e alunos, mais trabalhosas que outras, o que impulsiona o aluno a realocar seus recursos disponíveis para esses pro-blemas. Acontece muito com maté-rias de exatas ou algumas que de-mandam raciocínio com números. Não são surpresas que as mesmas matérias mais “trabalhosas” são as que geram índices de reprovação dentro da faculdade, fato esse que já chegou ao conhecimento de alguns professores. Tanto que já são dadas em matérias com alta possibilidade de reprovação espécies de provas que auxiliam notas muito ruins em provas parciais, uma vez que as pro-

vas de meio de semestre já norteiam como a média vai mais ou menos rumar. Outros professores ainda são partidários da não intervenção na nota do aluno – o que está feito, está feito. Contudo, é importante lembrar que ser ou não ser tolerante com a possibilidade de reavaliação nada indica na real exigência que um determinado professor possui frente a sua matéria ministrada.

Atualmente se tramita mais uma proposta de aprovação ao projeto de Reavaliação liderada pelos esforços

são a Comissão de Graduação (CG), o Conselho de Gestão Acadêmica (CGA) e a Congregação, devendo qualquer projeto de natureza aca-dêmica passar por essas instancias nessa ordem especificadamente. O que a história ensinou aos mais ve-lhos foi que devido à polêmica que a Reaval traz não basta que haja con-senso em uma única instancia, uma vez que ela é composta por diversos professores e coordenadores com posturas igualmente diversas. Só para efeitos de ilustração já houve projetos de Reaval derrotados mui-to próximo de sua real aprovação por motivos a serem explorados a seguir.

Então por que negar a um aluno da graduação a possibilidade de uma segunda chance? Segundo as mais diversas opiniões, a Reaval, por sua conotação, iria fraquejar o nível do curso. No atual momento o aluno com média inferior a seis acaba por cair direto na chamada dependên-cia (DP) de determinada matéria e a Reaval viria para dar uma última chance para o eventual repetente na matéria a se empenhar em mais uma prova para evitar a reprovação. Sem que haja esse sistema, para al-guns, rígido demais, o curso não te-ria o reconhecimento e a força que ele tem. Outro senso comum para os anti-partidários da proposta é que a Reaval criaria uma burocracia que facilita a aprovação do aluno deslei-xado. A única forma seria manter o sistema de média seis sem a possibi-lidade de nova prova e consequente-mente novo calculo de média.

Agora iremos a alguns fatos que ocorrem dentro da EAESP que pro-vam que algumas posições sobre a Reaval são puramente hipócritas.

Luiz Fernando Lockmann

Existem diversas semelhanças que unem as três escolas da FGV em São Paulo. Nas ques-

tões de sua configuração espacial, cultura organizacional e politica de ensino a EESP, EDESP e EAESP es-tão em perfeita sintonia e alinha-mento. Contudo, uma diferença pequena nos meandros acadêmicos faz com que exista uma distinção grande entre as escolas menciona-das. A inexistência de uma eventu-al Reavaliação dentro do regimento

da EAESP faz com que alunos e até mesmo membros do corpo docente questionam o porquê de tamanho preciosismo com esse determinado projeto.

O projeto de implementação da Reaval é antigo e não seria ideal eu fazer alusões históricas sobre mo-mentos em que não vivenciei. Con-tudo, é importante ressaltar que por várias razões em momentos histó-ricos diversos a implementação da Reaval foi barrada. Os órgãos res-ponsáveis pela aprovação do projeto

Reanalisar e ReavaliarO polêmico projeto de aprovação da Reavaliação na EAESP vai para frente enfim?

Outro senso comum

para os anti-parti-dários da proposta é que a Reaval criaria uma buro-cracia que facilita a aprovação do aluno desleixado

Ser ou não ser tole-rante com a

possibilidade de reavaliação nada indica na real exi-gência que um de-terminado professor possui frente a sua matéria

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A Gazeta Vargas novamente faz um apelo para que o projeto seja dis-cutido com cautela e que se chegue

a um campo comum para a aprova-ção. A possibilidade de Reavaliação de forma alguma enfraqueceria o curso, esta traria outras aprova-ções marginais benéficas como o auto trancamento do semestre para casos de muitas DPs acumuladas. É importante que haja um senso de pragmatismo e de lobby politi-co para conduzir esse projeto até a aprovação final em Congregação. Sem os pés no chão, sem o senso de real e justo, mais do que o simples ideal, o projeto da Reaval pode vol-tar novamente à gaveta e esperar mais alguns anos. Torcemos pelo contrário...

evento foi logo remarcado para uma sexta feira e finalmente cancelado. O motivo para desistência diz respeito à pressão institucional que o corpo docente dirigente fez ao DAGV para que não levasse a ideia de “ocupa-ção” adiante sob pena da Reaval ser tratada com olhos diferentes numa possível votação, o que obviamente assustou os mobilizadores.

As últimas informações até o fe-chamento dessa edição foram da aprovação do conceito da Reaval em primeira instância na CG. Isso é um passo importante mais não quer dizer que a luta foi vencida como a Gestão Resgate tem comunicado. Essa aprovação indica a formação de um comitê para discussão dos pormenores da Reaval, assim como seus pontos mais polêmicos a exem-plo de qual tipo de aluno deveria ter esse direito de ser reavaliado. A polêmica sempre envolve as médias dos alunos na matéria em questão, a qual pode ou não denotar uma ati-tude frente ao curso como um todo. A uma parcela do corpo docente é clara a ideia que a Reaval não deverá ser inferior ao valor de média 5,5 e muitos alunos compartilham desse pensamento. Contudo, a área aca-dêmica da Gestão Resgate irá lutar nas discussões internas pela elegibi-lidade do aluno com médias inferiores a 5,5 podendo che-gar ao valor de 4,0. Muito estranha essa luta, uma vez que a decisão de Câma-ra Discente, órgão acima da Gestão Resgate, definida no final do mês de setembro pregou a luta pela média 5.0 como parâmetro de definição para o aluno apto a fazer a prova da Reaval e não 4.0.

exaustivos do grupo acadêmico do DAGV. O projeto da Reaval já é bem vista pela Coordenação e trabalhos

conjuntos já estão sendo feitos para que se chegue a um acordo provei-toso para os dois lados. É impor-tante mencionar que na proposta do Diretório Acadêmico os alunos legitimados a executar a Reaval se-riam os com média inferior a seis e superior a cinco. A forma de cálculo da média conseguinte e o número de reavaliações ainda está sendo am-plamente discutido entre membros do corpo discente e docente. Nesse cenário armado é muito provável que a aprovação venha no modo prussiano (de cima para baixo), uma vez que propostas do corpo discen-te fogem muito da realidade que os professores desejam.

Como forma de “pressionar” uma decisão por parte da CG, a Gestão Resgate fez uma mobilização digna de Primavera Árabe no Facebook para conseguir que alunos apoias-sem um tipo de “Ocuppy EAESP”. Por mais bonito e louvável que fos-sem as mensagens do corpo discen-te em apoio ao projeto de Reaval, pouco foi feito para mobilizar efeti-vamente uma ocupação. Tanto que o

É muito provavél que a

aprovação venha no modo prus-siano (de baico para cima), uma vez que propostas do curpo discente fogem muito da realidade que os professores desejam

Na pro-posta do DAGV os

alunos legitimados a executar a Reaval seriam os com média inferior a seis e supe-rior a cinco

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Opinião

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Luiz Fernando Lockmann e Souza e Nádia Waked

“A unanimidade, por excelência, é burra”- lembro a frase de Nelson Rodrigues, com o simples objetivo de aludir à velha polêmica histórica sobre as divergências de opiniões. Chamada por vários

nomes ao longo dos séculos, a oposição sempre foi considerada um instrumento controverso e complexo para ser definido como simplesmente positivo ou negativo. Seu significado dúbio vai de encontro com diversas teses pós-modernas de liberdade civil, ao mesmo tempo em que remete à necessidade de um balanço entre governo e governados. Mas por que considerá-la algo ruim ou bom? O próprio ser humano é tragado por respostas, para questões como essa de maneira ingênua e principalmente maniqueísta. Dirão os simplistas sobre a dificuldade trazida por opiniões e críticas diversas, ou da falta de união causada em momentos históricos inoportunos.

das vozes divergentes se avolumam pela falta de abertura à discussão, implicando em uma versão desastrosa de uma liberdade de expressão. Atualmente, existem temas permitidos para se divergir, mas como no caso da Guerra ao Terror, é necessário se calar pelo “bem comum”. A ética utilitarista é utilizada para reduzir o acesso a informações, criar passividade ou, no limite. medo em uma esfera falsa de discussão legitima. Embora todo o processo seja benéfico para uma “oligarquia”, ele é fadado a um limite.O momento final da falta de uma oposição não é algo fácil de ocorrer, todavia na mesma proporção não é algo raro. Existem exemplos históricos de diversas sociedades que chegaram ao limite da passividade e do medo; e hoje, vemos o mesmo momento ocorrendo no mundo árabe. Populações outrora presas sob a égide da opressão e da falta de liberdade reivindicam direitos civis na esfera pública e privada. Por mais que o exemplo seja a quebra da falta de oposição pelo medo, o próprio descaso pode ser sanado, uma vez que parcelas da

Isso ocorreu tanto no período da 2° Grande Guerra, como também, mais atualmente, no lançamento da Guerra ao Terror. O simplismo do pensamento, nesses dois momentos similares, contestará a validade da liberdade devido ao momento histórico tenso, onde uma nação deveria se unir ao invés de divergir (lembrando que isso vem do mesmo país que fundamentou a necessidade da liberdade de expressão no século XX e XXI).Além de controverso, o tema traz ainda uma discussão mais profunda: seu papel para com a sociedade, como um todo. O silêncio de uma população para com o seu governo, é interpretado erroneamente como aprovação das decisões tomadas. Ironicamente, este mesmo silêncio, baseado em exemplos históricos nos diversos cenários em macro e microambientes, significa na realidade, por parte da sociedade, um descaso para com o bem público. Em outras palavras, o famoso silêncio das ditaduras aludido pela atual presidente do Brasil (utilizando o modelo Madame Le President para evitar polêmicas) significaria tanto o medo da população para com o seu regime, como uma passividade sobre as decisões tomadas por este mesmo regime.Em muitos casos, infelizmente, ainda se influencia o descaso dentro de um ambiente de pseudodemocracia. As reduções

A mitológica leveza da oposição

A responsa-b i l i d a d e pela crítica

é algo tão impor-tante quanto a res-ponsabilidade pelos atos do governo

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Opiniãowww.gazetavargas.org

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população cheguem ao famoso “fundo do poço” da falta de ética e princípios.A oposição deve ser antes de tudo, responsável como disse o senador Aécio Neves e este termo carrega o significado da sempre utilizada arte de reclamação sem argumentos. A responsabilidade pela critica é tão importante quanto a responsabilidade pelos atos de governo. A união deve coexistir com a liberdade de expressão, apesar de muitas vezes parecerem extremamente autodestrutivas.

Oposições nos dias de hoje

Neste ano, diversos movimentos surgiram como forma de representar o descontentamento sobre uma variedade de temas. Nos Estados Unidos o Occupy Wall Street foi a forma de protesto de um determinado grupo de pessoas contra a impunidade dos responsáveis pela crise mundial e o sistema capitalista. Teve como estratégia a ocupação constante de Wall Street onde as pessoas organizavam-se através de assembléias gerais e discutiam as questões colocadas em pauta. No site da organização defende-se que a única conexão em comum com todos os que reivindicam é a seguinte: “somos os 99% que não irão mais tolerar a ganância e a corrupção do 1%”. O movimento inspira-se nas reivindicações da primavera árabe (diversos movimentos no Oriente Médio nesse ano e que possuíam mais uniformidade em relação à pauta de reivindicações).Aqui no Brasil, inspirado pela oposição de Wall Street, surge o

os outros movimentos citados encontra-se na questão da outra lista de reivindicações usada pelo grupo. Além de defenderem o que foi exposto acima, os dissidentes apresentaram propostas de esquerda como a estatização das universidades privadas e o fim do vestibular. O leitor pode questionar a relação entre os movimentos expostos. A primeira encontra-se no fato das reivindicações não possuírem uniformidade quanto à pauta de reclamações, o que pode ser positivo em determinados aspectos, quanto negativo em outros. A pluralidade de pedidos muitas vezes sujeita o movimento a uma falta de objetividade ou até mesmo à sua decadência. Quando muitas causas são pleiteadas, é necessário que se tenha consistência na condução do debate, de modo que sejam atingidas as finalidades almejadas. Podemos perceber que muitas vezes a oposição é feita pela mera necessidade de se protestar, como reflexo do descontentamento geral mas sem um foco claro, o que é extremamente negativo. A população precisa refletir antes de reivindicar, sob pena de ter suas demandas banalizadas. É necessário que se proteste por causas substanciais, sem cair na famosa reclamação sem fundamento.Ao finalizar, podemos destacar a célebre frase do filósofo francês François-Marie Arouet, conhecido pelo pseudônimo Voltaire, dito a um dos seus maiores opositores Jean Jacques Rousseau: “Não concordo com uma palavra que me disse, mas lutarei até o fim dos meus dias para que continues a dizer exatamente o que pensas.”

“Ocupa Sampa”. O movimento, que já completou um mês no dia 15 de novembro, tem como palco de atuação o Vale do Anhangabaú e possui como principais causas da reivindicação a luta pelo apartidarismo, a não violência e a busca pelo consenso onde todos possam participar das tomadas de decisão. Aqui também vemos a diversificação de ideias como pauta para os debates.Como último exemplo, porém não menos importante, pode-se falar da ocupação feita por uma minoria dissidente de 70 alunos na Reitoria da Universidade de São Paulo no mês de novembro. A invasão do prédio da Reitoria pelo Movimento Estudantil não teve aprovação legítima da Assembléia e, no fim, apresentou uma

polarização de opiniões quanto à sua aprovação. Importante ressaltar como a mídia distorceu a finalidade do movimento das mais diversas formas. Não entro no mérito da aprovação do mesmo, o que não podemos negar é que por mais que os meios não tenham sido legítimos, a finalidade do movimento atendia à demanda da grande maioria dos alunos da Cidade Universitária - necessidade de elaboração de um projeto de segurança mais eficiente para o campus e a questão do polêmico Reitor João Grandino Rodas. A relação com

A plurali-dade de pe-d i d o s

muitas vezes sujeita o movimento a uma falta de objetividade

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Atualidades

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Yuri Carajelescov

Quando fui diretor do “C.A. XI de Agosto”, estudantes, fun-cionários e parte expressi-

va do corpo docente pediam maior participação nas decisões sobre os rumos da Universidade de São Pau-lo. Em suma, postulávamos – e essa era uma reivindicação que já vinha de décadas passadas – a democrati-zação das instâncias decisórias, per-passando pela escolha do reitor que, a nosso ver, deveria ser precedida de ampla consulta à comunidade aca-dêmica. Passados mais de 15 anos, as instâncias de decisão da USP pou-co avançaram em termos de engajar a comunidade nas políticas da uni-versidade, o que implicaria em abrir mão de parte do poder, mas também em dividir as responsabilidades por acertos e erros.

Essa estrutura pouco democrá-tica, propícia a manobras de bas-tidores, permitiu a ascensão do atual reitor, o professor João Gran-dino Rodas, com passagem ante-rior pela direção da Faculdade de Direito da USP marcada pela falta de diálogo. Não deixa de ser curio-so que o professor Rodas também se valeu da PM para expulsar estu-dantes e militantes em vigília pela reforma agrária no prédio da FA-DUSP, no Largo São Francisco, oca-sião em que a PM chegou a invadir até o “porão”, sede “XI”, fato não re-gistrado nem durante o AI-5.

Pano rápido. O professor Rodas foi membro indicado pelo Minis-tério das Relações Exteriores da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CE-MDP) entre 1995 e 2002, tendo sistematicamente votado contra o reconhecimento da responsabili-

da PM. De verdade, alguém se sen-te seguro nesta cidade, mesmos nos espaços em que a PM deveria atuar? Infelizmente, ano a ano, a prática e os relatórios demons-tram que essa polícia ainda não foi institucionalmente treinada para a democracia.

Não se desconhece haver na so-ciedade certo fetiche em relação à segurança pública, muito bem sin-tetizado no mantra eleitoreiro da “ROTA na rua”, que visa a interditar o debate e impedir, senão ridicula-rizar, que se discuta a sério, como se propõe a comunidade acadêmi-ca da USP, se o melhor caminho é a PM fazer rondas na cidade uni-versitária, abordando e revistando estudantes suspeitos, vale dizer, os com jeitão de “bicho-grilo”, ou do-tar a guarda universitária de me-lhor estrutura e iluminar mais as ruas. Ou mesmo a decidir pela PM fora do campus, uma vez que é sa-bido que a relação entre os agen-tes do livre pensar e os agentes do aparelho de segurança do Estado nunca foi harmoniosa. Porque não se impuseram a camisa de força prescrita pelo senso comum, os estudantes revoltosos já merecem, no mínimo, um olhar mais compla-cente.

Não serei eu a condená-los pela invasão da reitoria, ainda que con-sidere essa uma péssima estraté-gia, nem apedrejá-los sem direito de defesa como fez a mídia, a pa-trocinar verdadeiro massacre em rede nacional, também porque, de uma maneira geral, simpatizo com a rebeldia dos jovens. Sem a sua força contestadora não teria ha-vido a centelha do maio de 68 em Paris a se espalhar pelo mundo, revolucionando os usos e os cos-tumes, a guerra do Vietnã não te-ria acabado, provavelmente o AI-5 ainda estivesse em vigor e, mais recentemente, a primavera árabe não aconteceria.

dade do Estado e concessão de in-denizações às vítimas e familiares de vítimas da ditadura, inclusive no famoso caso da estilista Zuzu Angel, conforme o livro-relatório Direito à Memória e à Verdade: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, lança-do pela Secretaria Especial de Di-reitos Humanos da Presidência da República em 2007, o que revela muito da personalidade e dos ali-nhamentos do atual reitor da USP.

Uma instituição fragilizada pelo déficit democrático, dirigida por uma pessoa indisposta ao diálogo, gerou o caldo de cultura propício aos arroubos de radicalização vis-tos recentemente.

A mídia em geral propagandeou que os estudantes da USP estavam a lutar pelo direito de fumar o seu baseado no campus livre de incô-modos. Tomar esse reclamo por verdade é supô-los néscios, mas os estudantes da USP são pesso-as inteligentes. Nessa crise, há, de fato, uma sofisticada pauta em debate, por vezes impermeável à grande imprensa, que transcende a questão da segurança e da PM no campus, transita pela (re) abertura do espaço físico da Universidade à cidade de São Paulo e avança no velho tema da democratização de suas instâncias decisórias.

Também para obliterar essa pauta, a doutrina do pensamen-to único, com o seu reducionismo característico, ditou que a PM tem de estar presente na USP, como se isto fosse sinônimo de segurança e como se esta fosse um valor abso-luto. Esquece-se que as estatísti-cas mostram que de cada 5 homi-cídios cometidos e registrados na capital de São Paulo, 1 é de autoria

Quem tem saudade do Coronel Erasmo Dias?

Yuri Carajelescov

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A essa lógica renovadora e re-volucionária que move a roda da História quase sempre se opõe a lógica simplificadora da lei & or-dem. Como se não soubéssemos dos limites intrínsecos ao sistema puro de regras inerentes a esse discurso, incapaz por si só de dar conta da complexidade da vida contemporânea, e desconhecêsse-mos a importância e a força vincu-lante dos princípios. E mais: como se tantas atrocidades já não tives-sem sido cometidas em nome e ao abrigo da lei, que está longe de ser um mandamento divino que não possa ser aperfeiçoado ou mesmo superado. Qual o argumento de defesa dos nazistas julgados em Nuremberg, senão o cumprimento da lei e da ordem?

Essa retórica, de fácil assimi-lação e, por isso, politicamente vantajosa, serviu, no caso da de-socupação da reitoria da USP, de biombo para ocultar excessos e truculências. Ora bem, quando o Estado extrapola, deslegitima-se o uso da força que institucionalmen-te monopoliza.

No episódio, chama a atenção, além da falta de diálogo, a despro-porcional ação do Estado, a mo-bilizar 400 policiais da tropa de choque, 5 veículos de terra e um helicóptero para desalojar 70 es-tudantes desarmados. É uma mé-dia considerável: mais de 5,7 par-rudos policiais da tropa de choque para cada estudante. A magnitude da operação, contrastada com seu objetivo pífio, levou o juiz aposen-tado Wálter Fanganiello Maiero-vitch, que não é um incendiário, em tom de pilhéria, a pontuar em seu blog: “Enquanto o Rio prende o megatraficante Nem, a polícia de Alckimin persegue universitários que [sic] usam maconha”.

Presos e conduzidos ao distrito, os estudantes foram severamen-te enquadrados na lei penal pelas

cada na ilegalidade desde 1964. O governador, certamente am-

parado em enquetes de opinião a lhe indicarem apoio à ação poli-cial, no tom grave dos vitoriosos altaneiros, concedeu entrevistas às redes de televisão para reafir-mar a imagem de homem da lei & ordem, demonstrando que agora São Paulo tinha o seu Rudy Giulia-ni. O reforço nos números do IBO-PE não era algo com que se pudes-se espantar, ainda que lamentável e perigoso já que estimula os polí-ticos em postos de decisão a prati-carem excessos em troca de votos. Nenhuma novidade no front oci-dental, basta recorrer-se ao caso do ex-governador Fleury, muito popular porque a mesma PM, sob seu comando último, trucidou 111 homens sob a custódia do Estado no presídio do Carandiru.

O episódio da desocupação da reitoria pela polícia, além da into-lerância, da falta de diálogo e do desarrazoado uso da força públi-ca, carrega um aspecto simbólico que não pode ser desconsiderado. É que a FFLCH-USP talvez seja um dos poucos espaços institucionais em São Paulo em que a lógica pró--mercado não é hegemônica. Por isso, era preciso uma vitória in-contestável, razão da ação despro-porcional das forças de segurança do Estado a contar com o unísso-no apoio da mídia. A maconha, a ocupação, alguns estudantes mais exaltados e entrincheirados servi-ram de pretexto para se mostrar quem manda nas terras de Pirati-ninga.

No entanto, dadas as últimas mobilizações dos estudantes e o engajamento de outros setores da USP no processo de questiona-mento dessas ações violentas e da própria conveniência da presença da PM no campus, ainda não é pos-sível decretar peremptoriamente vencedores e vencidos.

autoridades policiais. O jornalis-ta Paulo Moreira Leite, da revista “Época”, que acompanhou essa movimentação, relatou que os de-legados receberam da secretaria de segurança pública de São Pau-lo a determinação para agir com o máximo rigor contra os estudan-tes, segundo ele “os policiais fo-ram instruídos a aplicar punições mais duras como parte de um es-forço de imagem do governador Geraldo Alckmin. Como a maioria da população não enxerga o movi-mento dos estudantes com simpa-tia, uma reação considerada enér-gica seria uma forma de associar Alckmin com uma preocupação em defesa da ordem. “Até segunda ordem a ordem é dar o exemplo,” me disse, irônico, um dos policiais que recebera os jornalistas pela manhã.”. Vejam a contradição: se a informação é verdadeira, trata-se de vergonhoso uso político da po-lícia, o que é, por óbvio, contra a lei e muito mais grave do que montar acampamento em prédio público!

A cinematográfica ação policial contou ainda com o expressivo apoio da grande mídia, que, qua-se sempre sem ouvir a sério o ou-tro lado, se incumbiu de tachar os manifestantes de “maconheiros” e “desocupados”, o que retroali-mentava o sentimento de parte da sociedade expressado de forma virulenta e verborrágica nas redes sociais. Alguns que aplaudiam a ação da polícia contra os “maco-nheiros” eram os mesmos que, meses atrás, contraditoriamente, acharam no mínimo necessário o filme-propaganda estrelado pelo ex-presidente FHC a favor da des-criminalização da maconha. Difícil não suspeitar que nutrissem sau-dades pelo Coronel Erasmo Dias, o “gorila” que invadiu a PUC/SP em 1977 a fim de prender os estudan-tes ali reunidos para o encontro de refundação da UNE, entidade colo-

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Espaco Aberto

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GAZETA VARGAS

Dimitri DimoulisA profusão de notícias e debates

sobre os conflitos na “Cidade” Univer-sitária da USP em São Paulo (explica-rei mais adiante as aspas) permaneceu no nível do sensacionalismo. Quem se interessa por três jovens que fumam maconha? As estatísticas oficiais dizem que milhões de brasileiros adotam essa prática que quase nunca comove os ór-gãos de repressão, satisfeitos com a pro-dução de alguns bodes expiatórios.

Tampouco interessam reportagens sobre uma dúzia de pessoas acusadas de danificar prédios públicos ou de gostar de serem fotografadas de capuz e camiseta de grife. Os responsáveis pela gestão do campus podem tomar as providências que acharem adequadas, consertando, pintando e até processan-do os responsáveis. Com um cuidado: a imagem de policiais que invadem Uni-versidades e machucam estudantes faz lembrar páginas negras das ditaduras e não a gestão civilizada de conflitos por representantes escolhidos pela própria comunidade universitária.

Ao mesmo tempo os acontecimentos da USP levantam duas questões cruciais que foram ofuscadas pelos “crimes”, as prisões e as “grifes” dos estudantes.

Primeira questão. O mundo universi-tário deve se perguntar em que tipo de espaço se realiza a pesquisa e o ensino superior. Hoje a pergunta é respondida com a falsa naturalidade de um binô-mio jurídico. Os espaços de instituições privadas pertencem aos seus proprie-tários que costumam mobiliar prédios fechados e vigiados, com muros, catra-cas, câmeras e agentes de segurança. Por serem proprietários, decidem quem pode entrar e o que é permitido fazer, da mesma forma como o dono de uma academia de ginástica decide quem e sob quais condições tem acesso ao esta-belecimento comercial.

Já as Universidades públicas costu-mam ser abertas a todos e fiscalizadas pelas forças de segurança estatais, tal como qualquer rua, parque ou repar-tição pública. Recentemente tendem a imitar as Universidades particulares, contratando empresas de segurança privadas e “fechando” seus espaços.

tário não é privilégio da elite. Expressa a exigência de autonomia e liberdade de uma coletividade unida pela incomum decisão de dedicar-se ao estudo e à pes-quisa no mais exigente nível que a so-ciedade pode imaginar. Que tal começar a pensar no tipo de espaço que a Univer-sidade precisa?

Segunda questão. A Universidade só

pode existir em movimento. Os estu-dantes são força majoritariamente pro-gressista e exemplarmente radical. Cabe a eles organizar um duplo movimento. Movimento de reflexão, de protesto e de iniciativas concretas para criticar e modificar os métodos e os conteúdos do ensino. Sob pena de se tornar copiado-res e admiradores dos professores.

Ao mesmo tempo, cabe aos estudantes organizar um movimento de crítica às causas e aos agentes da ex-trema desigualdade social. Não sou pro-fundo conhecedor do atual movimento estudantil. Mas não me parece injusto afirmar que os processos internos de discussão não têm a menor repercussão social. Suas propostas sobre o ensino não são conhecidas e discutidas publica-mente e muito menos adotadas. E suas ações políticas, além de cumprir alguns rituais como os Congressos da UNE, não ensinam nada e não influenciam o nosso mundo. A esmagadora maioria dos estudantes só quer se movimentar na direção da saída da Universidade, formando-se o mais rápido possível.

Certamente, os estudantes da USP sentem e expressam algo da indignação que atualmente movimenta massas na Europa, nas Américas e em partes da África e da Ásia. Mas não tiveram a ca-pacidade de articular um protesto nem formularam um projeto para reivindicar o “seu” espaço universitário.

Sem espaço de autonomia e liberda-de e sem movimento que deseja inco-modar e mudar o mundo e os próprios estudantes, a Universidade está morta. Poderá ser uma escola de luxo, um la-boratório de alta performance ou um popular parque de diversões públicas. Mas não merece o nome de instituição de ensino superior. Enquanto isso, os alunos podem correr atrás de notas e diplomas e se divertir em “Giovannas” e “Giocondas”.

Pergunta o observador. Se o ensino universitário tem a mesma função in-dependentemente do regime jurídico de sua propriedade, como explicar si-tuações tão díspares? Se a Universida-de pública é (pelo menos foi feita para ser) um espaço de encontro público, de liberdade e intercâmbio de idéias, como aceitar que as Universidades privadas funcionem como espécies de clubes par-ticulares, destinados aos seus membros pagantes?

Há mais. Na locução “Cidade Uni-versitária” o decisivo é a primeira ou a segunda palavra? Se for visto como ci-dade, o campus da USP necessita de po-liciamento intensivo, ostensivo e corro-sivo e a atual reitoria está certa em suas propostas reacionárias. Mas nesse caso deveríamos também instalar câmeras de vigilância na sala de aula, e ter um policial de plantão em cada corredor. Quem sabe algum aluno decide acender um cigarro de maconha, aguardando o professor da USP que costuma se atra-sar, ou algum professor faz críticas polí-ticas que são consideradas crimes pela ainda vigente Lei de segurança nacional da ditadura.

Estamos apontando paradoxos e im-passes para indicar um problema. Se a palavra Universidade tem um sentido forte, este não se limita na qualidade do ensino e da pesquisa. A Universidade não pode ter padrões de funcionamen-to de shopping nem de parque público. Deve ser algo diferente. Um espaço situ-ado entre o público e o privado. Órgãos internos devem ter a exclusiva respon-sabilidade pela qualidade de vida no es-paço universitário (e não somente pela “segurança”) e as forças de segurança só poderão intervir a pedido e nos li-mites do pedido da auto-administração universitária. Trata-se do conceito do “asilo universitário” que situa as depen-dências universitárias além do controle estatal em uma situação de inviolabili-dade. Para garantir a liberdade de pes-quisa e das trocas de projetos e expe-riências em um espaço no qual não se tem medo da arma do policial nem do olhar de reprovação de padres, reitores e seguranças.

Temos aqui a transposição da ideia clássica da privacidade como condição de desenvolvimento e felicidade pesso-al. A inviolabilidade do espaço universi-

A Universidade como espaço e como movimento

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Flavio Lima

E mais uma vez senti que não deveria ter acompanhado meu amigo João a um daque-

les eventos que ele considera extre-mamente interessantes, mas que eu não consigo senão repudiar vee-mentemente: a assembleia dos estu-dantes da USP, que fora convocada para discutir a presença da polícia militar no campus.

Para que o leitor consiga ter al-guma noção do que está ocorrendo, eu explico: os “estudantes da USP”, como eles se auto-intitulam (embo-ra eu só tenha visto, na assembleia, aqueles pseudo-revolucionários sem causa da FFLCH), estão reivindican-do que seja revogado o convênio en-tre a polícia militar e a USP, alegan-do que os policiais não permitem a “livre manifestação dos movimen-tos sociais”, sendo que este fora fir-mado por conta de um assassinato que ocorreu dentro do campus!

Acredito ser meu dever, como lei-tor dos grandes escritos de Reinaldo Azevedo, traduzir a você o que estes “estudantes” (que mais protestam do que estudam) querem dizer com “livre manifestação dos movimen-tos sociais”. O que eles realmente querem, caro leitor, é ter um terri-tório livre da lei, para que pos-sam ficar fumando maconha à vontade! E, para defender a reti-rada da PM, lançam mão dos mais falaciosos argumentos, os quais me proponho a desconstruir a seguir.

Primeiramente, alegam estudar em cursos que enfocam questões como governabilidade e democracia, e que, por isso, têm o dever de discu-tir questões supostamente contro-versas. No entanto, como já foi dito, o fato de eles passarem tanto tem-po debatendo significa que eles não

estão na aula, e que, portanto, não podem se chamar de estudantes (até porque, mesmo quando vão à aula, estudam coisas que não servem a nenhuma utilidade prática, como história, filosofia e sociologia).

Outro argumento que ouvi du-rante a assembleia era o de que a polícia era antidemocrática, já que é uma instituição que surgiu duran-te os tempos da ditadura militar, e que até hoje segue os mesmos prin-cípios. Isso é um absurdo. A polícia não age a não ser que alguém man-

de. E sempre age de acordo com a lei, que é o que há de mais demo-crático, sempre.

Me chamou a atenção uma con-versa entre dois estudantes que estavam a meu lado, durante a as-sembleia: um deles, pelo que enten-di, fazia Letras, o outro, Ciências Sociais. Ambos pareciam não saber da existência do incrível aparelho de higiene pessoal chamado de gilete: tinham barbas enormes, o que signi-ficava, é claro, que eles não traba-lhavam (afinal, que tipo de emprego aceitaria alguém tão mal arrumado), e que, portanto, não sabiam o que significa viver no mundo real. Ao que o de Letras perguntou ao outro se ele era contra a PM no campus, este respondeu:

— Na verdade, não. Eu não acho

que o campus da USP deve ter re-gras diferentes do restante da so-ciedade. Eu sou contra a existência da PM, isso sim. Em lugar nenhum do mundo existe polícia militar; só no Brasil, justamente um país onde tivemos uma ditadura também mili-tar. Não basta tirarmos a PM daqui do campus, embora isso deva ser feito primeiro. Temos que lutar para acabar com a existência dessa ins-tituição que serve aos interesses de alguns poucos porcos. A ditadura só mudou de formato; antes, o inimigo era claro: a ditadura militar. Agora, não é mais. Temos a ditadura do ca-pital.

Acredito ser desnecessário mos-trar o quão ridículos são esses argu-mentos: esse é um discurso de quem estuda algo abstrato e fica preso ao que os professores falam, tornando--se incapaz de observar o que acon-tece na prática.

Outra coisa que eles alegam é que no dia do assassinato, a polícia esta-va fazendo uma ronda pelo campus, e não conseguiu impedir o crime. Eles dizem que a polícia não garan-te a segurança, que só está ali para reprimir os movimentos estudantis. Outra falácia, uma vez que o fato de policiais estarem no campus não ne-cessariamente garante que não ocor-rerão assassinatos, uma vez que eles podem estar ocupados prendendo os próprios maconheiros da FFLCH, que, se não fumassem, teriam-lhes deixado livres para impedir o crime.

Espero ter deixado bastante claro que o verdadeiro motivo por trás desse movimento é a maconha, esse câncer na sociedade atual, e que esses vagabundos da USP se utiliza-rão de qualquer tipo de argumento, como os que mostrei acima, para conseguir de volta o seu nirvana dos drogados.

O que eles realmente querem é

ter um território livre da lei para que possam ficar fu-mando maco-nha à vontade

A Assembléia dos esfumantes da USPGevênio Padrão vai à USP e relata suas experiências

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completo. Consumidor é tão culpa-do quanto traficante, já que se não tivesse um não ia ter o outro, e am-bos devem sofrer penas pesadas, podendo chegar até a morte!

Outro ponto importante a ressal-tar é a necessidade de resgatar esses jovens dessa vida de boemia com valores da família, da tradição e da propriedade. Você pai de família que enfrenta esse problema tão sério e já pegou seu filho injetando essa erva do demônio, leve seu filho no culto da ACAD mais próximo. Lá os en-carregados irão auxiliá-lo a resgatar o seu menino ou menina dessa vida de perdição. Com o poder do divino e das rodas de oração, poderemos expulsar os demônios presentes na vida desses jovens perdidos. Não deixe que os entorpecentes levem os filhos para longe da família e dos valores tão caros para o brasileiro sensato.

Por fim gostaríamos de fazer um apelo a todos os leitores para larga-rem mão do vício. Cheirem flores, fumem cachimbo, injetem vitamina D entre muitos outros. Saibam que a Associação estará sempre aqui para livrar os que querem ser salvos des-sa maldição e para eliminar as más influências pérfidas. Já de antemão avisamos que entramos com pedido de impeachment contra o ex-presi-dente FHC que estimula discussão sobre legalização e pedido de prisão a esses cantores de rock estimula-dores da violência e do consumo de drogas. É preciso que a parcela con-servadora da sociedade brasileira lute em prol da família e dos valores tão queridos. Não deixaremos va-gabundos maconheiros dominarem a política e a cultura do nosso país para promover pouca vergonha e insanidade. Unam-se a nossa causa antidrogas de qualquer tipo. Por que corpo saudável é corpo lúcido!

outras barbaridades. Nós da ACAD apoiamos muito a força policial em cima desse contingente de vagabun-dos que não querem nada da vida. O ocorrido na cidade Universitária é um exemplo de como a maconha destrói esse mundo. Apoiamos a força policial em cima desses “estu-dantes” comunas. A PM deveria dar uma sova para que nunca mais eles fumem na vida! Bons tempos quan-do a Ditadura eliminou esse proble-ma tão difícil da sociedade brasi-leira... Saudades do general Geisel. Ainda mais o importante é prender todos os influenciadores e trafican-tes; os que resistirem ao esforço da

lei e da ordem devem resolver na bala com os policiais. Após a prisão dos sobreviventes, a pena deverá ser condizente com o tipo de crime bai-xo e pesado que seja o consumo des-sas porcarias verdes. Nós da ACAD não entendemos a graça em ficar cheirando maconha por aí.

Gostaríamos de propor ao po-der estadual e consequentemente à União que crie uma policia espe-cial para revistar e recolher toda e qualquer droga existente, assim como colocar na cadeia do consu-midor das mesmas. Maconheiros são párias da sociedade e devem ser tratados exatamente assim. Es-peculamos que talvez a entrada no mundo das drogas seja talvez a falta de educação e influência dos valores da família brasileira. Caso haja um afrouxamento na lei veremos essa sagrada instituição desmoronar por

ACAD – Associação dos Cidadãos Anti-Drogas

Em defesa dos valores da famí-lia, dos bons costumes, da esperança nas crianças e da

garantia da tradição escrevo repre-sentando uma parcela da sociedade preocupada com esse negócio aí da legalização das drogas. Onde já se viu isso? Uma pouca vergonha des-lavada totalmente na cara do pai de família contribuinte e honesto! Essa palhaçada aí de legalização é impe-rar totalmente a vagabundagem dessa parcela autointitulada juven-tude. Para nós isso tudo é um bando de jovens revoltados e vagabundos sem nenhuma perspectiva ou valor de certo ou errado. Já digo de ante-mão que legalizar é cuspir na cara da família brasileira.

Primeiro é importante lembrar que drogas destroem vidas, matam as nossas crianças, emburrecem nossos jovens e dão impotência aos nossos adultos. Sim! Digo a você lei-tor que acha que drogas não afetam o seu desempenho sexual. Oras, já viu maconheiro com filhos bem cria-dos? Isso tudo dá problemas veja bem. Por essas e outras que a ACAD luta dia após dia para retirar do mundo dos entorpecentes os nossos filhos, os quais são constantemente colocados em associação aos maus elementos. Nós da ACAD sabemos que nunca são nossos filhos os en-volvidos com esse tipo de coisa, e que eles são influenciados pelas más companhias.

Agora para falar especificamente da maconha, maior combustível de escolinhas da esquerda brasileira. Maconheiro é tudo comunista oras! Já viu um que não é?! Pois bem fu-mar além de emburrecer a juventu-de a faz virar comunista e disposta a invadir prédios públicos entre

Morte a essa pouca vergonha

Essa pa-lhaçada aí de legali-

zação é imperar a vagabunda-gem

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A direita raivosa deste nosso país grita a plenos pulmões, mas não consegue silenciar

nossa revolução. Dizem eles que nunca usaram drogas, mas o que é a aspirina senão uma droga? A legali-zação da maconha faria todo mundo ficar mais relax, saca? Não entendo esse estresse todo com crise eco-nômica, guerras na Arábia, e essas invenções inúteis do mundo moder-no. É coisa de gente que não sabe fumar um e ficar jogadinho num canto, em paz! Nossa, até eu fiquei meio nervoso... peraí que vou fazer uma parada aqui...

Cara, já imaginou se todo o ar do mundo virasse madeira? Acho que o mundo ficaria que nem naquele filme do Robert Deniro... era Pulp Fiction o nome? Não, é outro. Acho que tinha alguma coisa a ver com a Austrália. Não é Procurando Nemo, que é desenho animado. Nem Ava-tar, porque esse se passa no futuro. Qual era o nome do ator mesmo? Aquele cara, que fez o Morpheus em Matrix! Puts, esqueci mesmo.

Ah, vamos voltar ao nosso ponto. Esse pessoalzinho que manda PM e tropa de choque atrás de usuário tem que aprender a viver a vida, se livrar da neurose. Como mestre Bob Marley diz, “uma erva natural não pode te prejudicar”. Muitos dos problemas da sociedade brasileira poderiam ser resolvidos se o Esta-do resolvesse legalizar. Aliás, não só legalizasse, mas providenciasse uma quantidade generosa de cannabis na cesta básica. Todo mundo ia traba-lhar feliz, de boa com a vida. Seria o fim da violência, porque ninguém ia querer levantar pra fazer algo tão difícil quanto matar ou roubar.

Vejam, por exemplo, que o final dos anos 60 e começo dos 70 foi uma época muito boa para as artes

centro-esquerda querem. E a socie-dade reclama, mas estamos lutando pelos nossos direitos! Pura manipu-lação da mídia, que enche a cabeça das pessoas de novela e propaganda, sem mostrar o que a gente sofre por fazer algo que é ilegal, mas tão enri-quecedor para o espírito.

É interessante observar como existem temas intocados pela mídia brasileira, que só se preocupa com o superficial. São temas filosóficos que trazem desenvolvimento pes-soal para quem consegue acessá-los. E somente através da legalização da maconha podemos chegar a realiza-ções tão inspiradoras. Por exemplo, outro dia fiquei observando os mo-vimentos de uma mosca na minha sala durante horas e aprendi que não devo me preocupar tanto com meu futuro profissional. Percebi que a mosca consegue viver sem ler li-vros ou estudar para provas. Por que eu sou obrigado a fazer isso? Afinal, não faz sentido ler sobre algo que já foi entendido por outros. É preciso deixar o brasileiro sonhar sobre coi-sas novas e não repetir o velho!

A maior esperança que se pode ter pelo futuro deste país é a mar-cha da maconha. Neste lugar estão reunidas as mentes mais profundas da sociedade brasileira, que pen-sam o futuro do país de maneira revolucionária. Precisamos lutar por um futuro onde as pessoas não sejam obrigadas a trabalhar seis ou até OITO horas por dia pra conse-guir viver decentemente. E o único modo de pensar o desenvolvimento do país é se estivermos aptos, com a mente aberta para o futuro. Por isso a legalização é tão importante. Enquanto o combustível da direita é o ódio e a violência, o nosso é a paz e o amor. Lutamos por ideais de li-berdade, igualdade e fraternidade, nunca antes vistos na história.

e o país cresceu economicamente a taxas nunca antes vistas. É fácil ver a relação entre a juventude hi-ppie, pesada usuária de drogas, e o desenvolvimento do Brasil. Não dá para negar os dados estatísticos! Se quisermos que o país cresça de maneira significativa devemos per-mitir que a juventude pense com a mente mais aberta. Somente assim alcançaremos um futuro mais justo e igualitário.

Interessante observar que sem-pre chamam usuário de vagabundo, não é? Quem diz essas coisas não sabe o quanto o usuário trabalha no

dia a dia pra conseguir viver tran-quilamente. Até mais do que o ci-dadão comum! Já viu como é difícil conseguir um baseado hoje em dia? Tem que subir morro, se esconder da PM, comprar seda, dichavar... é muito trabalho! E é um esforço ex-tra que não seria necessário se ven-desse na farmácia. Imagina quantos postos de trabalho seriam criados! Todos ganham com a legalização, até o traficante, que viraria farma-cêutico.

Nós temos o direito de fazer o que quisermos com nossas mentes. O único lugar onde era permitido fu-mar agora tá cheio de PM. Por isso a gente ocupou aquele prédio da rei-toria. Antes que aquilo virasse uma ditadura militar, como a direita e a

420: o que seríamos sem você?

Esse pesso-alzinho que manda

a PM atrás dos usu-ários tem que aprender a viver a vida, se livrar da neurose

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As 23h30 do mesmo dia, enquan-to os alunos se preparavam para a balada de abertura do protesto, que seria organizada dentro da sala da atual diretora, a PM, já embalada com a experiência da USP, foi envia-da para expulsar os manifestantes do prédio.

“Que deselegante!” afirmou uma estudante. “Esses brutos não tem o direito de nos tirar daqui à força, vê o que ele fez com a manga da minha blusa. Já era!” disse, mostrando a manga da batinha branca mancha-da. Alunos sendo escortados para fora da faculdade foi uma cena que ocupou toda a madrugada. Mas nem assim os manifestantes desanima-ram, podia-se ouvir por toda aveni-da nove de julho os gritos apaixona-dos: “você sabe não quem eu sou”, “ meu pai ficará sabendo disso” e principalmente “ eu não tenho nada a ver com isso”.

Até agora os representantes dos alunos invasores não haviam se manifestado oficialmente, mas uma comitiva estudantil que falou à imprensa classificou a ação da PM como “uma puta falta de sacana-gem” e “que não era justo a PM agir

de forma tão truculenta enquanto a gente tava se preparando pro esquen-ta”.

Os alunos foram enca-minhados para a delega-cia para a elaboração de um Boletim de Ocorrên-cia e uma conversa com os respectivos pais.

Agora a diretoria da faculdade investiga o su-miço de vários sachês de café Nespresso do res-taurante dos professores, mas mais detalhes não fo-ram divulgados.

recido ao corpo discente e também à imprensa que cobria o aconteci-mento. “Eu não acreditava quando vi, mas finalmente os alunos estão se mostrando politizados” disse um manifestante. Dentre asreivindica-ções dos alunos estavam a volta da cerveja no DA e a realização de cof-fee breaks nas aulas do período da manhã. “Assim não dá pra assistir aula. A gente tem que acordar mui-to cedo pra vir pra cá e não dá pra tomar café da manhã direito.” Con-tou um estudante à imprensa. Os alunos também exigiam como con-dição para desocupar o local o fim das matérias de finanças e a redução da carga horária pela metade.

A mídia, já experiente pelos acon-tecidos da USP decidiu apoiar os alunos nesse movimento. Os jornais retratavam os alunos como concien-tizados e em luta de seus direitos, dando ênfase à uniformidade de suas reinvindicações. Um relatório passa-a-passo da organização do movimento foi divulgada pela revis-ta “ Olhe”, sendo a única parte não mencionada, o café da tarde, que na opinião de muitos alunos foi o me-lhor momento da ocupação.

Marina Simões

Neste último mês, a Universidade de São Paulo (USP) foi palco de uma série de protestos que culminou na invasão da reitoria da universidade e na polêmica ação da PM para a retirada dos estudantes. Os protes-tos, a invasão e a retomada de posse serviram de mote para uma série de debates acalorados e para a divisão da opinião pública entre favoráveis e contra a presença da PM.

No dia seguinte ao ocorrido, vá-rias outras faculdades colocaram em pauta a adesão à greve geral em um gesto de solidariedade. Após uma série de debates, no começo desta semana os alunos da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP – FGV) resolveram aderir à greve, a derradeira ocupa-ção do prédio da Avenida Itapeva teve início quando os alunos volta-vam do Economíadas.

A ocupação de apenas um dia ganhou força quando o estoque de cerveja de um dos ônibus que volta-va de Americana para a FGV se esgo-tou, servindo de estopim para a revolta dos alunos, os quais alegaram que a ocupação na verdade era uma forma de protesto pelo desmantelamento do movimento Occupy Wall Street e a decepção com a Gioconda Venuta deste semestre.

Segundo fontes inter-nas, durante a manhã os alunos organizaram um brunch no sétimo andar, há relatos de que um chá da tarde, repleto de ca-napés de salmâo, foi ofe-

E se...A PM invadisse a EAESP

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