Edição do Centenário 06

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Caderno 6 EDIÇÃO ESPECIAL CENTENÁRIO DE DIVINÓPOLIS - SEXTA-FEIRA - 1º DE JUNHO DE 2012 O sobrado do século XIX é o mais antigo casarão do mu- nicípio e, por pouco, não foi destruído. Divinopolitanos protestaram e impediram que os operários da Prefeitura de- molissem o imóvel, que atual- mente abriga o Museu Históri- co. Ainda neste caderno, a dis- puta que as igrejas de Divi- nópolis e Pitangui travaram pela imagem de São Francis- co de Paula. A saúde também é desta- que com o ex-secretário mi- nicipal Zeuler Vítor Ramires, que explica os primeiros pas- sos da área médica. Já no es- porte, Orlando Rosca destaca a necessidade da formação de atletas. Raridade do arraial Foto: Márdem Nogueira Anunciantes desta edição: TIM, Instituto Nossa Senhora da Conceição, ALMG, Sindigusa, Lamar, Gigano, Arranjo e Minauto

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Caderno 6

EDIÇÃO ESPECIAL CENTENÁRIO DE DIVINÓPOLIS - SEXTA-FEIRA - 1º DE JUNHO DE 2012

O sobrado do século XIX é o mais antigo casarão do mu-nicípio e, por pouco, não foi destruído. Divinopolitanos protestaram e impediram que os operários da Prefeitura de-molissem o imóvel, que atual-mente abriga o Museu Históri-co.

Ainda neste caderno, a dis-puta que as igrejas de Divi-

nópolis e Pitangui travaram pela imagem de São Francis-co de Paula.

A saúde também é desta-que com o ex-secretário mi-nicipal Zeuler Vítor Ramires, que explica os primeiros pas-sos da área médica. Já no es-porte, Orlando Rosca destaca a necessidade da formação de atletas.

Raridade do arraial

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Anunciantes desta edição: TIM, Instituto Nossa Senhora da Conceição, ALMG, Sindigusa, Lamar, Gigano, Arranjo e Minauto

Divinópolis1º de junho de 2012

S i m p l e s m e n t e duas palavras são necessárias para que possamos nos tornar referência na forma-ção de atletas no in-terior de Minas, posi-ção que ocupávamos nos anos 1960 e 70: vontade política. Te-mos hoje dois espa-ços ideais para isto, se utilizados de for-ma racional, ou seja, priorizando os aspec-tos técnicos e não só políticos. São eles o DTC Divinópolis Tê-nis Clube e o Ginásio Poliesportivo Fábio Botelho Notini, am-bos devidamente mu-nicipalizados. Esta situação proporciona aos nossos represen-tantes nos governos em nível municipal, estadual e federal via-bilizarem emendas que possam trazer verbas orçamentárias para um trabalho re-almente profissional,

Do que Divinópolis precisa para revelar atletas

sem as maquiagens comuns e corriqueiras muito em prática nos dias atuais com o fa-moso faz de conta. Faz se um auê, com muitos fogos, marketing, mas os tais projetos não saem do papel.

Temos hoje em nos-sa centenária Divi-nópolis mão de obra especializada com o curso de educação físi-ca da UEMG pedindo passagem, educadores físicos podem ser con-tratados, com estágios para um trabalho pro-fissional.

Podemos ter como parâmetros nossas es-colas, sejam elas mu-nicipais, estaduais ou particulares, onde buscaríamos suas re-ferências nas diversas modalidades despor-tivas. Por exemplo, temos a Escola Es-tadual Padre Matias Lobato no handebol, e seus atletas seriam

convidados a treinar e desenvolver suas po-tencialidades em ho-rários alternativos nos espaços supracitados. Tenho absoluta certe-za de que nos tornarí-amos autossuficientes na revelação de atletas que poderiam se cre-denciar para as bol-sas-atletas, ou, na pior das hipóteses, teriam o desporto como fer-ramenta para a socia-bilização dos futuros homens e mulheres voltados para evita-rem a proliferação de novos traficantes, for-necedores e consumi-dores de drogas. Uma situação para a qual nossos governantes insistem em trabalhar com paliativos e não com incursões visan-do a prevenção. Nada melhor do que o es-porte para minimizar essa situação catas-trófica em que vive o Brasil.

Não quero ser o dono da verdade e nem o mágico que ofe-rece uma poção que irá resolver todos os problemas sociais des-

te nosso imenso con-tinente, porém temos, nessa pequena célula chamada Divinópolis, que dar o chute ini-cial. Alguém tem que

começar a sair dos es-critórios e ir para as quadras, piscinas e campos.

Paralelo a este tra-balho podemos desen-volver outro com o tí-tulo de inclusão social através do desporto, em que adolescentes e jovens carentes dos nossos bairros que não oferecem opções de lazer seriam con-vidados a participar

de grupos de iniciação desportiva também nos espaços acima ci-tados, numa parceria com empresas de ôni-bus que os transporta-riam gratuitamente e redes de supermerca-dos para oferecer ali-mentação balanceada durante as aulas.

Estas são duas su-gestões de um eterno educador físico que acredita sempre no

Orlando Rosca

Alguém tem que co-meçar a sair dos es-critórios e ir para as quadras, piscinas e

campos

desporto como me-canismo de integra-ção e formação do ser humano.

Educadores

Parabéns a todos os educadores físicos e dirigentes espor-tivos que, de forma heroica, contribuem para aliviar esta si-tuação caótica em que nosso país se en-contra, e Divinópolis está inserida neste contexto.

Após 31 anos, o nosso Bugre, Gua-rani Esporte Clube volta a disputar uma competição nacio-nal: o Brasileiro da Série D. Em 1981, o time disputou a Taça de Bronze, que era a terceira divi-são do Brasileiro. Desejo a todos que contribuíram dire-ta ou indiretamente para que o nosso Bu-gre confirmasse sua participação sucesso nos seus empreendi-mentos, e parabéns.

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Divinópolis1º de junho de 2012

Guilherme Amaral

O Guarani Esporte Clube, fundado em 20 de setembro de 1930, confunde sua história com a de Divinópolis. Um dos clubes mais tradicionais de Minas Gerais está presente em 82 dos 100 anos da cida-de, que tem o nome di-vulgado por todo o país graças ao Bugre.

Neste ano, em que Di-vinópolis comemora seu Centenário, o Guarani, mesmo com as tradicio-nais dificuldades para se manter, presenteou a ci-dade com a classificação para a Série D do Cam-peonato Brasileiro, mas, devido às já tradicionais dificuldades financeiras, quase foi obrigado a de-sistir da competição.

A história do Guarani Esporte Clube começa com um presente recebi-do por José de Oliveira Costa, seu fundador. O nome do clube não tem princípios indígenas como algumas pessoas pensam. Aos 17 anos, José ganhou uma bola de presente e convidou os amigos Clóvis, Dur-val e Guará para for-marem um time. Fã de Carlos Gomes, José de Oliveira deu ao clube o nome da mais famosa obra do maestro, a ópe-ra “O Guarani” e o pri-meiro time a entrar em campo era formado por: Faria, Louro e Mingote, Clóvis, Durval e Rabe-lo; Didico, Dedé, Guará, Pacu e Pipilo.

Títulos

Ao longo de seus 82 anos, o Guarani teve participação marcante

no Campeonato Mineiro e conquistou o Módulo II do Estadual em 2002 e 2010; foi vice do Módulo II em 2000, venceu a Se-gunda Divisão em 1994 e um torneio-início em 1964.

A maior conquista do Bugre foi o vice-campe-onato Mineiro de 1961. Naquele ano, o Estadual era disputado por pon-tos corridos, e a equipe divinopolitana só ficou atrás do Cruzeiro, que levantou o troféu de campeão.

Série D

Recentemente,o Gua-rani deu um grande presente à torcida de Divinópolis. No Cam-peonato Mineiro 2012, o Bugre entrou para não ser rebaixado, mas conseguiu fazer boa campanha e terminou a competição em 6o lugar, garantindo uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro.

O Guarani chegou a anunciar a desistência da competição, por falta de recursos financeiros para manter a equipe por mais alguns meses. Mas, com o esforço do atual presidente, Edíl-son Oliveira, e a ajuda de um grupo de em-presários divinopolita-nos, o Bugre confirmou a participação em uma competição nacional de-pois de décadas.

- Foram reuniões inesgotáveis, e feliz-mente as parcerias che-garam a tempo. Sem o apoio dos empresários não seria possível dis-putar a Série D, que tem um custo estimado em R$ 700 mil - explicou o presidente do Bugre.

Em pleno Centenário de Divinópolis, o prin-cipal palco esportivo da cidade vive um di-lema. O estádio Walde-mar Teixeira de Faria, conhecido como Farião, é alvo de duas linhas de pensamento na cidade. Muitos acreditam que o atual estádio do Gua-rani é ultrapassado e com problemas demais e a única solução seria a construção de uma nova arena. Outros já pensam que uma gran-de reforma pode revi-talizá-lo e atrair mais torcedores.

Inicialmente chama-do de Estádio Adriano Maurício, o estádio foi rebatizado com o nome de um de seus jogado-res que botou a mão na massa para construí-lo: Waldemar Teixeira de Faria. O Farião foi inau-gurado em 1949 e o pri-meiro jogo oficial foi o duelo entre Flamengo

e Ferroviário (1x1) pela decisão do campeonato amador de 1950.

Já desfilaram pelos seus gramados grandes craques do futebol bra-sileiro, como Garrin-cha, Ronaldo e Rivaldo. Atualmente, tem capa-cidade de público de 4,8 mil espectadores.

Quem defende a construção de um novo estádio, uma arena es-portiva que possa re-ceber uma série de ou-tros eventos de grande porte, afirma ser ina-ceitável a principal ci-dade do Centro-Oeste de Minas Gerais ter seu único estádio com gra-ves problemas de segu-rança, erguido em uma área inundável e encra-vado em uma área de forte índice de crimina-lidade.

Já quem acredita que o Farião ainda pode ser útil entende que uma grande reforma pode

ser feita no estádio, via-bilizando seu uso por vários anos. Um esboço de projeto de reforma do Farião foi apresenta-do em janeiro deste ano. Autoridades políticas e diretores do Guarani estiveram presentes à apresentação da ideia de municipalização (repasse do estádio à Prefeitura). A reforma custaria R$ 10 milhões, bem menos que a cons-trução de um novo, que consumiria algo em tor-no de R$ 35 milhões.

É nesse estádio aca-nhado, inaugurado há mais de 60 anos e hoje em situação melancóli-ca, que o Guarani, um dos clubes mais tradi-cionais do futebol mi-neiro, realiza seus jo-gos. Depois de décadas, o Guarani participará de uma competição nacional. Classificado para a Série D do Cam-peonato Brasileiro, o

Farião com futuro indefinidoEstádio Waldemar Teixeira de Faria é alvo de duas linhas de pensamento

Bugre receberá no Fa-rião times de outros estados e tentará atrair mais torcedores.

Neste momento em que a cidade festeja seu aniversário de 100

anos, não existe algo concreto em relação ao futuro do Farião, muito menos sobre a possibi-lidade da construção de um novo estádio. A po-pulação aguarda a ação

de quem tem o poder de viabilizar o desen-volvimento, não só no estádio, mas do espor-te que leva o nome da Centenária Divinópolis por todo o Brasil. (GA)

Juliano Vilela

Estádio no bairro Porto Velho tem capacidade de público de 4,8 mil espectadores

Inspirado em ópera de Carlos GomesAos 82 anos, Guarani Esporte Clube disputa a série D do Campeonato Brasileiro

Entrando na disputa da Série D do Campeo-nato Brasileiro, o Gua-rani completará um ano

e meio em atividade no futebol profissional, algo que há pouco tem-po seria inimaginável.

Apesar de todas as difi-culdades por que o clu-be sempre passa, este é um grande presente ao

esporte divinopolitano, dado pelo seu maior ex-poente em Minas Gerais e no Brasil.

Arquivo municipal

Guarani conseguiu vaga na série D após golear o América na última rodada do Campeonato Mineiro

Divulgação/Guarani

Equipe do Guarani foi fundada em 20 de setembro em 1930 e José de Oliveira sugeriu o nome do time

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Da Redação

As festas de Reinado, frequentes e celebradas desde 1850, são o pri-meiro e único registro de bem cultural do mu-nicípio. O Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico – Comphap – aprovou em 2011 o registro de patrimônio imaterial, pelo seu valor cultural, histórico, an-tropológico e sociológi-co.

Os historiadores da Secretaria Municipal de Cultura - Semc - respon-sáveis pela elaboração do processo de reco-nhecimento reuniram um vasto material para comprovar a primazia do Reinado e torná-lo o primeiro bem imaterial de Divinópolis. Pesqui-sas foram feitas nas 15 irmandades do muni-cípio e fotos históricas foram anexadas ao pro-cesso para instituir o re-gistro.

De acordo com a do-cumentação apresenta-da, a história das irman-dades do Rosário está atrelada à construção dos primeiros templos católicos no fim do sécu-

Reinado: primeiro e único patrimônio imaterialMemorialistas registram que as festas eram celebradas desde 1850

lo XVIII. Os pesquisado-res e memorialistas re-gistram que as festas do Reinado eram bastante celebradas em 1850.

Para o historiador Fa-ber Clayton Barbosa, o

registro de bem imate-rial enriquece a história do Reinado.

- O município passou a dar mais valor a essa tradição histórica. Do ponto de vista do estado

e do Brasil, Divinópolis mostrou que valoriza este tipo de manifesta-ção - disse.

Para o presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do

Bairro Interlagos, Ma-noel da Costa Felipe, o registro é um reconhe-cimento aos reinadei-ros.

- O Reinado ganhou força após anos de es-

quecimento. É impor-tante porque o poder público tem reconhe-cimento desta tradição - afirmou Manoel da Costa, que está há 48 anos na irmandade.

Secretaria Municipal de Cultura

Reinado surgiu no fim do século XVIII, quando se construíram os primeiros templos católicos

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Ricardo Welbert

A Cúria Diocesana de Divinópolis tentou, mas não conseguiu reaver, a tempo do centenário, a imagem sacra de São Francisco de Paula que tem sido motivo de uma “guerra santa” com o município de Pitangui, a 61 quilômetros. En-quanto o lado divino-politano garante que a estátua pertence ao mu-nicípio, os pitanguenses insistem em dizer que agora ela é deles e nin-guém tasca. A briga já dura mais de dez anos e não tem previsão para acabar.

Na década de 1970, a Igreja Católica registrou um aumento conside-rável no roubo de ima-gens sacras em igrejas. Uma decisão do Concí-lio Vaticano determinou que as peças mais valio-sas fossem retiradas dos templos e ganhassem os museus de arte sacra, onde estariam mais se-guras.

O então bispo de Di-vinópolis, Dom Cris-tiano de Araújo Portela Pena, e o então vigário de Pitangui, padre Gue-rino Valentino Pontello, visitaram os municípios da região para receber as imagens de valor his-tórico, doadas pelos pa-dres locais para fazerem parte do recém-criado Museu Sacro de Pitan-gui, administrado pelo Instituto Histórico de Pitangui - IHP.

Em 24 de março de 1974, o padre divino-politano Evaristo José Vicente levou a ima-gem de São Francisco de Paula para Pitangui, deixando-a aos cuida-dos do IHP. O epicentro do problema está em um recibo, assinado na-quele instante pelo en-tão presidente do insti-tuto, Laércio Rodrigues. Confuso, o texto não especifica se a imagem foi dada ou apenas em-prestada a Pitangui.

- Declaro haver re-cebido, nesta data, do Pe. Evaristo José Vi-cente, de Divinópolis, uma antiga imagem de madeira de São Fran-cisco de Paulo, com a palavra “Charitas” no peito, medindo 86 cen-tímetros de altura e 59 cm. de diâmetro, tendo na cabeça um esplendor de metal. Referida ima-gem será incorporada ao Museu de Arte Sacra de Pitangui, mantido pelo Instituto Históri-co de Pitangui, com a autorização do Exmo. Sr. Bispo Diocesano, D. Cristiano Araújo Pena – disse o presidente do IHP na primeira parte do documento.

Depois de assinar, Rodrigues percebeu que faltava algo no docu-mento. Usando máqui-na de escrever, aparen-temente não quis repetir o texto que já havia da-

tilografado. Preferiu in-serir, logo abaixo, uma observação.

- Obs.: A menciona-da imagem pertence à Paróquia do Divino Es-pírito Santo, de Divinó-polis - finalizou.

Para confirmar a au-tenticidade do comple-mento, o presidente do IHP repetiu sua assi-natura. Não é possível perguntar ao próprio Laércio Rodrigues o que significa o complemen-to porque ele já morreu.

O desentendimento

Como é possível ana-lisar, na primeira parte do documento o desti-natário da imagem afir-ma que a peça seria “in-corporada” ao museu de Pitangui, mas não especifica se a título de doação permanente ou empréstimo. No com-plemento, ao afirmar que a imagem “perten-ce à Paróquia do Di-vino Espírito Santo”, também não deixa cla-ro se a intenção era in-formar sobre a origem da peça ou seus verda-deiros proprietários.

Da banda de Pitan-gui, “incorporada” sig-nifica “dada de vez”, e “pertence à Paróquia do Divino Espírito San-to” é apenas uma refe-rência histórica sobre a origem daquela peça que, a partir daquele momento, passava a ser oficialmente deles.

Divinópolis, por sua vez, entende “incorpo-rada” como sendo algo que não pertence ao museu, mas que pas-sou a fazer parte dele, podendo ser buscada de volta quando des-se na telha. O termo “pertence à Paróquia do Divino” é, na tra-dução divinopolitana, a declaração oficial de que a imagem é nossa e pronto.

Bastante envolvido na disputa pela ima-gem sacra, o ex-presi-dente do Conselho de Proteção do Patrimô-nio Cultural e Turismo (Comcut) de Pitangui, Ronan Ivaldo, morreu em um acidente de car-ro em 15 de dezembro do ano passado. Meses antes, concedeu entre-vista à revista “Ques-tões”, editada pela Fun-dação Educacional de Divinópolis, explican-do que havia proposto uma ação de usucapião de bem móvel para que não restasse nenhum questionamento sobre a propriedade da ima-gem. De acordo com ele, todos os requisi-tos ou pré-requisitos para ajuizar a ação de usucapião eram pre-enchidos satisfatoria-mente. Para quem não sabe, usucapião é um tipo de processo judi-cial também chamado de “prescrição aquisiti-va”, por ser um direito que é adquirido pela

Dez anos de guerra santa Cúria Diocesana tenta reaver estátua de São Francisco de Paula

influência do tempo de posse de um bem. Porém, a tentativa tor-nou-se inválida graças a uma lei da canônica que proíbe usucapião sobre bens da Igreja.

Para garantir a ima-gem, Comcut não per-deu tempo e deu início a um processo de tom-bamento de 22 imagens sacras – o que, de acor-do com Ronan Ivaldo, protegeria as obras e melhoraria o Impos-to sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS - do município. A decisão foi aprova-da pelo prefeito de Pi-tangui, Evandro Rocha Mendes (PT). Notifica-da, a Cúria Diocesana de Divinópolis apre-sentou, dentro do pra-zo, documento no qual condena, por vários motivos, o tombamen-to das imagens listadas pelo IHP.

De acordo com o tex-to, assinado pelo bispo diocesano Dom Tarcísio Nascentes dos Santos, no Brasil, particular-mente em Minas Gerais, muitas imagens sacras continuam desapareci-das porque foram ile-galmente retiradas de capelas e igrejas as quais pertenciam. Por isso, o IHP precisaria provar a origem de cada uma das 22 imagens seleciona-das para o processo de tombamento.

- A imagem de São Francisco de Paula te-ria sido ilegalmente re-tirada se tivesse sido roubada, o que não foi o caso. Temos o recibo da entrega. Além disso, a Constituição Federal assegura o princípio de inocência, ficando a pes-soa que acusa responsá-vel por provar. Como a Cúria Diocesana de Divinópolis ainda não provou que as imagens, entre elas a de São Fran-cisco de Paula, foram roubadas por Pitangui, o tombamento foi con-sumado e hoje todas as estátuas permanecem sob a guarda do Institu-to Histórico de Pitangui

– disse Ronan Ivaldo ao programa “Questões”.

Acusações e defesas

O vigário geral da diocese de Divinópolis, monsenhor José Carlos de Souza Campos, ar-gumenta que o bispo da época poderia em-prestar, mas nunca dar a peça ao IHP.

- A imagem pertence à Igreja. Por isso, dá-la a outro seria contra as leis canônicas. Além do mais, é questão de bom senso. A imagem ficou em Divinópolis por mais de 200 anos e está em Pitangui há apenas 40 – enfatizou.

A antropóloga e his-toriadora Adelan Ma-ria Brandão é uma das fundadoras do Instituto Histórico de Pitangui. De acordo com ela, o tombamento da ima-gem foi possível porque a peça foi reconhecida como propriedade do Museu de Arte Sacra daquela cidade.

- Pitangui é a cidade-mãe de vários outros municípios, incluindo Divinópolis. Por isso mesmo foi escolhida para abrigar tantas pe-ças oriundas de igrejas de toda a região. Guar-dadas no museu, elas ainda preservam a me-mória dos lugares de onde vieram. São peças que interessam não ape-nas aos municípios, mas a toda a humanidade - disse.

Disputa esquenta com sumiço de resplendor

No meio da briga, a Cúria Diocesana de Di-vinópolis pergunta pelo resplendor de metal que, segundo o próprio recibo de 1974, estava na cabeça da imagem quando ela foi entregue em Pitangui.

- Eram raios que indi-cavam santidade - expli-ca o padre José Carlos.

O atual presidente do Instituto Histórico de Pitangui, César Tadeu Miranda, garantiu que

desde que conheceu a imagem sacra, há mui-tos anos, nunca viu o tal resplendor.

O contador e advo-gado Marcos Antônio Faria (“Barrica”), de 66 anos, presidiu o Insti-tuto Histórico de 2003 a 2007. Ele também diz que frequenta o IHP há mais de 25 anos e já se deparou com a imagem de São Francisco de Paula por muitas vezes e nunca viu o resplen-dor.

Apesar disso, o ex-presidente do IHP dá pistas sobre o que pode ter acontecido com a peça. Segundo ele, há décadas aconteceu um roubo no museu. Uma caixa onde estariam guardadas peças como coroas de santas e, pos-sivelmente, o resplen-dor do santo, sumiu do cômodo onde estava ar-mazenada.

- Lembro de ter lido sobre isso em um jor-nal bastante antigo. O curioso é que havia dois vigias trabalhando no lugar e, mesmo assim, a caixa sumiu. Não havia sinais de arrombamento nas portas. Por isso, até hoje não se sabe o que realmente aconteceu - contou.

A Diocese de Divinó-polis chegou a oferecer uma réplica da imagem, em troca da original, mas o Instituto Históri-co de Pitangui não quis, afirmando que jamais permitiria que a ima-gem fosse exposta na igreja em Divinópolis, onde poderia ser rou-bada. O IHP também ofereceu uma réplica da imagem à diocese, que também não aceitou a proposta.

O padre que levou a imagem de Divinópolis para Pitangui continua vivo. O hoje monsenhor Evaristo José Vicente, aos 78 anos, garante que a peça foi emprestada.

- O museu de arte sacra ficou responsável pela imagem, mas não se tornou proprietário dela. Tanto é que o reci-

bo assinado naquele dia diz claramente que ela pertence à Paróquia do Divino Espírito Santo. Há um enorme erro de interpretação de texto por parte do Instituto Histórico de Pitangui - dispara Evaristo.

Restauração

Em 2001, técnicos da Universidade de Ouro Preto realizaram um levantamento das ima-gens sacras guardadas no IHP, avaliaram o es-tado de conservação de cada uma e indicaram medidas de restauração. O Instituto está arcando com um trabalho de re-cuperação de duas ima-gens, sendo uma de São José de Botas e a outra, a polêmica imagem de São Francisco de Paula. O trabalho é realizado em Belo Horizonte pelo restaurador Adriano Reis e deve ser concluí-do em três meses.

- A imagem de São Francisco tinha marcas de ataques de insetos e a pintura estava descolan-do. Estou fixando essas pinturas e recompondo as partes. O dedo min-dinho da mão esquerda está sendo reconstruído - contou o restaurador.

De acordo com ele, o museu é o melhor lugar para armazenar peças como esta.

- Quando a estátua fica exposta, os peque-nos danos causados pelo tempo ou por insetos podem ser facilmente percebidos e resolvidos. O Instituto Histórico de Pitangui acertou ao en-caminhar estas peças para restauração, pois, da forma como estavam, a ação do tempo poderia estragá-las ainda mais - avalia.

Adriano garante que o processo de restaura-ção respeita as caracte-rísticas originais da peça.

- Originalidade é a palavra-chave da res-tauração. Recuperamos o aspecto físico e man-temos as características originais - explica.

Adriano Reis

A polêmica imagem de São Francisco de Paula em fase de restauração em um ateliê de Belo Horizonte

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Divinópolis1º de junho de 2012

100 ANOS DE VIDA

COM SAÚDE DE FERRO.

Homenagem do Sindicato das Empresas Siderúrgicas - Sindigusa - ao centenário de Divinópolis. Uma cidade que

não para de crescer com sustentabilidade e de se desenvolver, gerando qualidade de vida para seus cidadãos.

Parabéns, Divinópolis! A cada dia mais moderna. A cada ano melhor de se viver.

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Divinópolis1º de junho de 2012

Ricardo Welbert

Mais antiga cons-trução existente em Divinópolis, o sobrado que hoje abriga o Mu-seu Histórico de Divi-nópolis (MHD) esteve à beira da destruição, mas escapou devido à união dos divinopolita-nos. Segundo registros do século XIX, o sobra-do foi construído por escravos em apenas 40 dias, a mando do capi-tão Domingos Francis-co Gontijo, que passou a morar nele.

O cômodo da fren-te, no primeiro andar, foi adaptado para ser uma mercearia. Não se sabe por quanto tempo o construtor residiu no sobrado. Sabe-se que ele morreu em 30 de março de 1902. A partir de então, o casarão foi utilizado como cinema,

escola, local de lua de mel do então presiden-te da Câmara, coronel Antônio Olímpio de Moraes, posto de saú-de e casa de padres. Em 24 de agosto de 1978, o prédio foi fechado e passou a sofrer com a ação do tempo, que causou o desabamen-to de parte do telhado e graves estragos nas paredes, nos assoalhos, nas portas e nas jane-las.

Preocupados com a preservação do edifí-cio, moradores uniram esforços para exigir ações das autoridades públicas no sentido de recuperar a relíquia. Os fartos abaixo-assinados e manifestos sensibi-lizaram a Câmara e a Prefeitura, que traba-lharam para gerar a Lei nº 1.782, de 26 de abril de 1982, que declarava o casarão e seu entor-

no como “de interesse histórico e artístico do Município”.

Mutilação

Para surpresa dos di-vinopolitanos que res-piravam aliviados com a “preocupação” dos governantes, na manhã de junho do mesmo ano, parte do prédio foi demolida por uma má-quina da Prefeitura. Na ocasião, o Governo Mu-nicipal alegou que pre-tendia “urbanizar a pra-ça”. O fato repercutiu rapidamente. Em igual velocidade, moradores indignados promove-ram vigílias, manifestos e debates acalorados que receberam ampla cober-tura da mídia local. Em 12 de junho, 23 entida-des da cidade se uniram e escreveram uma carta aberta ao então prefeito Galileu Teixeira Macha-

do, na qual afirmavam que a demolição de par-te do prédio foi feita “a toque de caixa”, suge-rindo que se tratava de uma ação realizada com interesses financeiros.

O ataque ao patrimô-nio histórico promovido pelo próprio governo do município foi camu-flado pela Lei nº 1.794, de 11 de junho de 1982, que alterou a redação da lei anterior. Em 3 de dezembro de 1982, ou-tra lei polêmica foi san-cionada, invalidando as anteriores, para o “pro-jeto de urbanização da praça Dom Cristiano”.

Povo na briga

Uma ação popular movida na Justiça sobre o “Caso casarão” impe-diu que a máquina de-molidora atacasse nova-mente o que sobrou do prédio. Em 1983, o Go-

verno Municipal passou às mãos de defensores da preservação do ca-sarão. Logo, uma nova lei invalidou a anterior. Em 22 de junho de 1985, a Prefeitura deu início à restauração do sobrado, com orientação do Insti-tuto Estadual do Patri-mônio Histórico e Ar-tístico de Minas Gerais (Iepha).

Em 15 de dezembro de 1988, a Lei nº 2.456 declarou “tombado, em virtude de seus notórios valores históricos e ar-quitetônicos, o sobrado de propriedade do Mu-nicípio”. Em 31 de maio de 1986, o casarão pas-sou a abrigar o museu.

Em 2010, teve início no museu um proces-so de digitalização das imagens do arquivo (que incluem fotogra-fias, jornais e documen-tos antigos). Em torno de 250 imagens estão

disponíveis para con-sulta da população, que pode ainda copiá-las di-retamente do computa-dor.

Memória hoje

De acordo com a co-ordenadora do MHD, Tânia Marilza dos San-tos, o principal objetivo da instituição é contar, preservar e disponibi-lizar a história do mu-nicípio através de suas atividades.

– E isso só é possí-vel porque uma parcela significativa da comu-nidade se importa e se identifica com o mu-seu, doando objetos que compõem a cultura da cidade. Isso possibilita a realização de exposições fora e dentro do espaço físico, atendendo às ne-cessidades e demandas da própria população – explica.

Divinopolitanos impedem demoliçãoMunicípio quase perdeu, na década de 1980, o último casarão que sobrou do arraial

Sobrado foi construído por escravos em 40 dias

Funcionários da Prefeitura acompanham manifestação Protesto reuniu dezenas de

divinopolitanos na porta do sobrado

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Divinópolis1º de junho de 2012

Douglas Oliveira

Divinópolis possui cinco principais unida-des de saúde, além de outros postos de aten-dimento para atender a população do município e pacientes de outras cidades. Ter um alto ní-vel de investimentos, atendimentos e acompa-nhamentos nesta área é de fundamental impor-tância para qualquer cidade, em qualquer parte do mundo. Dados do Ministério da Saú-de (MS) mostram que o Brasil aplica menos de 4% de seu Produto In-terno Bruto (PIB), a ri-queza total do país, na saúde pública. Outros países, como Reino Uni-do, Alemanha, Canadá e Espanha, investem o do-bro dessa porcentagem.

Além dos hospitais, o município conta ain-da com 14 unidades de saúde para atender o público, além de 13 pos-tos do Programa Saúde Familiar (PSF). Segun-do dados da Secretaria Municipal de Saúde (Se-musa), os investimentos anuais giram em torno de R$ 113 milhões. Se-gundo a secretária mu-nicipal de Saúde, Chèrie Mourão, outros inves-timentos serão feitos e mais outras unidades de atendimento serão inauguradas. Uma de-las dividirá o número de atendimentos no Pronto-Socorro, com a criação da Unidade de Pronto-Atendimento Sudeste, além de outras três unidades.

Hospitais

O Pronto-Socorro de Divinópolis atua como uma Unidade de Pron-to-Atendimento (UPA). A média de atendimen-tos é de 103 mil pessoas por ano. Fundado em 1º de junho de 2000, a obra surgiu como uma solicitação do programa Orçamento Participati-vo de 1997. Os investi-mentos ficaram em mais de R$ 1,1 milhão, sendo R$ 200 mil provenientes do Ministério da Saúde, R$ 900 mil do Gover-no do Estado e mais R$ 1.240.000 da Prefeitura.

Além de atender mo-radores do município, o Pronto-Socorro atende ainda outras 21 cidades, entre elas, Formiga, Car-mo do Cajuru, Arcos, Itapecerica, Japaraíba, Lagoa da Prata, entre outras, que somam cer-ca de 90 mil pessoas de fora da cidade, em mé-dia, anualmente.

Outro hospital que visa a atender a deman-da de pacientes é o São João de Deus, constru-ído pela Ordem Hos-pitaleira São João de Deus em parceria com o empresário Geraldo Corrêa. A obra foi inau-

gurada em 1968. Ante-riormente, em 1966, já havia sido inaugurada a Escola de Enfermagem.

Atualmente, o hospi-tal conta com 17.600 m² de área construída, com 250 leitos e 200 médicos. São 70% de atendimen-tos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com atendimento a 57 cida-des do Centro-Oeste de Minas. Anualmente, são 190 mil atendimentos ambulatoriais, 15.200 internações, 13.600 ci-rurgias e três mil partos. A média é de 220 aten-dimentos diários. Entre todos esses números, os principais serviços reali-zados são de nefrologia, hemodinâmica, oncolo-gia e cardiologia, além de obstetrícia.

O hospital Santa Mô-nica faz parte do grupo Santa Mônica Saúde. É um dos maiores con-juntos hospitalares do Centro-Oeste de Minas e abrange também o plano de vida Saúde-Vida, a clínica de diag-nósticos por imagem, Bioimagem, o serviço de remoções, SalvaVidas, o Instituto de Neurologia e do Coração de Divinó-polis (Incord), além da Associação Beneficente Doutor Sebastião Go-mes Guimarães.

São 300 médicos que atendem cerca de 40 es-pecialidades. As acomo-dações do hospital são divididas em duas par-tes, com apartamentos e quartos duplos. O blo-co cirúrgico conta com seis salas. Em março de 2011, um novo pronto-atendimento foi inaugu-rado e, com a ampliação, contou com cinco con-sultórios e mais 30 leitos de observação, além de salas para que pacientes possam receber curati-vos, sala de emergência com desfibriladores e monitores.

O hospital foi funda-do em outubro de 1959 e recebeu o nome de Casa de Saúde e Maternidade Santa Lúcia pelo Doutor Walden Rausch. Exis-tem cinco leitos de UTI para adultos, além de 20 leitos para tratamento intensivo.

Acccom

Além dos hospitais, Divinópolis conta ain-da com uma importante instituição, o Centro As-sistencial da Associação de Combate ao Câncer do Centro-Oeste de Mi-nas (Acccom). Ela foi fundada em 21 de março de 1995 com o objetivo de realizar trabalhos de prevenção, tratamento e assistência aos pacientes em tratamento contra o câncer, além de oferecer apoio aos familiares. É uma instituição sem fins lucrativos, políticos ou religiosos. Atualmente, a entidade recebe cerca de 300 mil pessoas por

Saúde para cidade e regiãoMunicípio tem cinco hospitais e 14 unidades de atendimento

ano, entre as 84 cidades e outras localidades do Centro-Oeste de Mi-nas, Alto São Francisco e parte do Sudoeste do estado.

A primeira obra rea-lizada pela entidade foi o Hospital do Câncer, inaugurado em 2001 e que atende mais de 250 mil pessoas por ano. O local foi construído pela necessidade de atender pacientes que não con-seguiam vagas em hos-pitais de Belo Horizonte e outras cidades.

Logo após a inaugu-ração do Hospital do Câncer, a segunda am-pliação foi a construção da Casa de Apoio, em ju-lho de 2004, criada para

o acolhimento gratuito com hospedagem, ali-mentação, entre outros serviços. São oferecidos também serviços de as-sistência social, com fornecimento de cestas básicas e remédios para pacientes carentes. No local, também são rea-lizados programas de prevenção, oficinas te-rapêuticas, palestras, seminários e campanhas de campanhas públicas. Os investimentos para a construção foram de cerca de R$ 1,5 milhão.

A terceira construção foi o Centro Assisten-cial, que atende mais de 20 mil pessoas por ano e, agora, com as novas instalações, deve aten-

der ainda mais pessoas.

Futuro da saúde

Com a construção do Hospital Público, os aten-dimentos à saúde em Di-vinópolis podem ganhar mais espaço, profissio-nais, agilidade e qualida-de. É o que garantem as autoridades da saúde no município. Quase meta-de das obras está pronta. A expectativa de inaugu-ração da unidade é entre dezembro de 2012 e feve-reiro de 2013.

São mais 120 novos lei-tos, sendo 20 destinados ao Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Além dis-so, o local tem capacidade para mais 380 leitos. Ao

todo, poderão ser atendi-dos 435 mil habitantes de todo o Centro-Oeste de Minas.

A secretária municipal da Saúde, Chèrie Mourão, espera que o setor se de-senvolva a cada ano e que as pessoas tenham mais acesso garantido.

– Independentemente de quem estiver no poder, é preciso que mais inves-timentos sejam feitos. Es-pero que todos os inves-timentos que estão sendo feitos e planejados conti-nuem e sejam concluídos. É preciso que a saúde pri-mária tenha cada vez mais investimentos, especial-mente para as gestantes, hipertensos, diabéticos e idosos – completa.

Hospital do Câncer recebe 300 mil pessoas por ano de várias partes do país

Christhyam de Lima

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Divinópolis1º de junho de 2012

Zeuler Vítor Ramires

Divinópolis em seus 100 anos de emancipação política coleciona fatos e segredos, que em qual-quer área e na medicina não poderia ser diferente, que nos encanta e emo-ciona. Tomo a liberdade de iniciar estes comen-tários reproduzindo um texto extraído do traba-lho “A SAÚDE EM DI-VINÓPOLIS” elaborado no INESP em 1.980 pela equipe de pesquisa que reuniu os seguintes cola-boradores Alba Simone Leite Castro, Cícero Plí-nio Bittencourt, Elizabeth Gonçalves, Maria Auxi-liadora de Faria, Maria Dulce Souto Bittencourt e Raquel Garcia Neto Vieira, tendo a orienta-ção técnica do Professor Gilson Soares. Este texto faz parte do relatório do Dr. João Machado, então chefe do Centro de Saúde de Divinópolis, dirigido a seu chefe imediato na Secretaria de Estado da Saúde, Dr. Eugênio Au-gusto Muller:

“... nossa maior preo-cupação tem sido procu-rar pela propaganda ver-bal e escrita melhorar o habitat, assim como des-pertar a consciência sanitá-ria no meio da população, porquanto, achamos que sem esses elementos tudo falhará. De nada valerão instalações vistosas, apa-relhagens modernas, apa-rências enfim, em meios que desconheçam noções de profilaxia das doenças, preocupando com exte-rioridades, em detrimen-to do que é específico, e, por vezes, simples. Sem transformar os hábitos de pensamento que ainda do-minam o povo, de modo geral, torna-se impossível a melhoria do meio, como também, o desenvolvi-mento integral da sanida-de. Entendemos que a instrução aliada à edu-cação sanitária, serão ala-vancas imprescindíveis a esse cometimento de be-nefício comum

Temos procurado in-crementar o serviço de Hi-giene profissional, expli-cando principalmente aos manipuladores de gêneros alimentícios, o perigo que representam o tifo e as di-senterias, etc., para a co-munidade, quando os que lidam com gêneros são portadores de germes des-sas doenças. Acentuamos, cada vez mais, o valor das imunizações preven-tivas...”. Mas “não preva-lecem os conselhos... se falecem os próprios meios de afastar os perigos que trazem a água impura, a falta de esgotos e a falta da coleta e incineração do lixo...”

“Desde o início vimos notando que da parte do povo, em todos os recan-tos por onde temos anda-do, dão superioridade à parte curativa, em detri-mento da parte preventiva da medicina, defeito que conserva sempre, apesar da insistência da propa-ganda sanitária”. Mesmo permanecendo “uma at-mosfera tantas vezes ilu-sória de cura por remédios

e de resistências às medi-das higiênicas de saúde, julgamos que o principal objetivo da sanidade é a moderna profilaxia, unida ao saneamento e aos mo-dernos processos de ali-mentação racional”.

Chamamos a atenção para a atualidade destes comentários escritos em 1.940, e acreditamos que em razão de precursores desta grandeza, Divinó-polis tem construído por todos estes anos, em certos períodos mais e em ou-tros menos, uma trajetória de cuidados com a Saúde Pública centrada na pre-venção e participação de todos os atores da comu-nidade.

1900

Relatos históricos dão conta que na última dé-cada de 1.800 o primeiro médico que aqui traba-lhou foi o Dr. Francisco Alves Cabral e de 1.900 a 1.910 o Dr. Alencar de Tal, que conviveram com a total ausência de sane-amento básico e com do-enças como Verminoses, Disenterias, Tifo, Doenças Sexualmente Transmissí-veis, Malária, etc. De 1.910 a 1.920 o 3º médico foi o Dr. Alexandre (Dr. Xandi-co). Em 1.915 a Santa Casa inicia seu funcionamento em regime precário. Sur-gem também os médicos visitadores da Caixa de Pecúlio dos empregados da Estrada de Ferro Oeste de Minas e o 1º Serviço de Saúde Pública: Posto de profilaxia rural.

No período de 1.923 a 1.930 houve a tentativa de expansão dos serviços de profilaxia, a criação da assistência aos ferroviários e o início do saneamento básico com a canalização da água.

1930

De 1.930 a 1.945 regis-trou-se a preocupação com a Hanseníase com a conseqüente instalação do Pavilhão de Divinópolis. Assistiu-se a medidas de combate à Malária, tendo as condições meteorológi-cas contribuído para tal. Na Saúde Pública o nome de fundamental impor-tância foi o do Dr. João Machado, batalhador pela Educação para a Saúde, de cuja autoria transcre-vemos parte do relatório introdutório deste artigo. É importante salientar que as administrações municipais continuavam alheias à gestão da saúde.

1945

No período de 1.945 a 1.966, com a crise do regime de capitalização e o nascimento do sani-tarismo desenvolvimen-tista, foram agregados novos serviços médicos: em 1.946 o serviço mé-dico da Rede Mineira de Viação, em 1.950 os Institutos de Aposen-tadoria e Pensões com o SAMDU (Serviço de Assistência Médica Do-miciliar e de Urgência), em 1.953 o serviço médi-co do SESI. Neste perío-do houve nova tentativa

de expansão da Saúde Pública, com a vitória contra a Malária e com o tratamento da água. A medicina curativa inicia arrancada técnica e eco-nômica e a Santa Casa é ampliada.

1966

No período de 1.966 a 1.973 assistiu-se ao acir-ramento da crise políti-co- institucional e à pri-vatização da assistência médica, em seu período áureo em Divinópolis, onde a Santa Casa en-cerrou suas atividades e nasceram 3 Hospitais Gerais: o Hospital Santa Lúcia com o Dr. Walde-mar Henrique Rausch, o Hospital São Judas Ta-deu com o Dr. Hélio Coe-lho de Souza e o Hospital São João de Deus, obra idealizada pelo Irmão Diamantino Ferreira e executada graças ao es-pírito empreendedor e humanista do Sr. Geral-do Correa. Nesta época assistimos uma funda-mental transformação no perfil dos profissionais de saúde que aportavam ao nosso município, com a chegada de especialis-tas de diversas áreas do conhecimento médico e da assistência à saúde na visão mais abrangen-te possível. Divinópolis firmou-se definitivamen-te como importante pólo de convergência na área de assistência. Iniciou-se também nesta época a Assistência Psiquiátri-ca com o Hospital São Lucas sob a orientação técnica do Dr. Ovídio e posteriormente com a implantação da Clínica Bento Menni das Irmãs Hospitaleiras de São João de Deus. A tentativa de instalação de uma esco-la de medicina em nossa cidade foi abortada neste período. A edificação do Hospital Santa Mônica ocorreria décadas mais tarde.

1974

No período de 1.974 a 1.979 assistiu-se em Divinópolis um grande impulso na assistência à saúde pública, resultado do esforço e grande com-petência profissional do Dr. Cícero Plínio Bitten-court responsável pelo então Departamento de Saúde da administração moderna e eficiente do prefeito Antônio Martins Guimarães. É curioso res-saltar que por inciativa do Dr. Cícero foi instala-da a Fundação Municipal de Saúde, inclusive con-tando com um Conselho Municipal de Saúde, an-tecipando em vários anos o dispositivo da Consti-tuição de 1.988 que esta-beleceu o Sistema Único de Saúde (SUS) e seus órgãos operacionais. A assistência médica foi em grande parte assumida pelos sindicatos de clas-se, organizações de medi-cina de grupo e serviços próprios de empresas. Neste período iniciaram-se, mais organizadamen-te, as medidas de prote-ção ao meio ambiente, as

100 anos de história da medicina em Divinópolisações fundamentais de medicina social e a Asso-ciação Divinopolitana de Saúde Escolar (ADISE), torno a enfatizar sob a inspiração definitiva do Dr. Cícero, que também foi o primeiro Diretor Re-gional de Saúde, órgão regional da Secretaria de Estado da Saúde.

No tocante à assistên-cia médica expandiu-se a gama de especialidades médicas que garantiam a possibilidade de trata-mentos, em nosso muni-cípio, de patologias que anteriormente só eram possíveis de serem abor-dadas em centros mais evoluídos. Especialida-des como Neuro-cirur-gia, Medicina Intensiva (CTI), diversas especia-lidades médica e cirúr-gicas, diversos métodos de diagnósticos clínicos e por imagem tiveram seu despertar com a decor-rente evolução que torna-ram possível esta realida-de hoje conhecida.

1980

De 1.980 a 1.990 cons-tatou-se a eclosão da cri-se estrutural da saúde e a consolidação das pro-postas reformadoras da mesma, com encaminha-mento das ações defendi-das pelo movimento da Reforma Sanitária Brasi-leira, onde se viabilizaria a gestão da saúde mais próxima do cidadão e da comunidade. Assim assistiu-se à instalação das Ações Integradas de Saúde (AIS), com gestão colegiada onde eram re-presentados a Federação (através do Inamps: Dr. Zeuler Vitor Ramires da Silva), o Estado (através da Diretoria Regional de Saú-de: Professor Gilson Soa-res) e o município (através do Secretário Municipal de Saúde: Dr. Milton Soa-res Ferreira). Neste perío-do instituiu-se a Secretaria Municipal de Saúde.

Em decorrência das propostas da VIII Confe-rência Nacional de Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi definitivamente consolidado pela Consti-tuição Federal de 1.988 o que fez caminhar a mu-nicipalização da Saúde permitindo na gestão do prefeito Aristides Salga-do dos Santos um salto de qualidade na gestão da Saúde Pública ocasião em que profissionais de diversas categorias, todos engajados nas propos-tas da Reforma Sanitária Brasileira se reuniram na Secretaria Municipal de Saúde e realizaram um ciclo de importantes pro-postas e conquistas nesta área tão fundamental da administração pública. Devemos aqui salientar a implantação do Fundo Municipal de Saúde, que permitiu o gerenciamento de recursos diretamente pela Secretaria Municipal de Saúde e o Conselho Municipal de Saúde que concedeu ao cidadão e à sociedade civil organiza-da a responsabilidade e o direito de fazer o controle social do Sistema Único de Saúde (SUS), em cumpri-mento do estabelecido na

Constituição Federal. Esta equipe multi-disciplinar foi mantida e prestigiada pelo prefeito sucessor Do-mingos Sávio, culminando com a solidificação do Sis-tema Municipal de Saúde, organizado em níveis de assistência, onde a atenção primária de saúde ocupa-va seu importante papel de principal porta de en-trada do sistema e com esta funcionando satisfa-toriamente, permitiu a ins-talação do Pronto-Socorro Municipal, unidade que veio sanar as dificuldades enormes do atendimen-to da antiga unidade que funcionava precariamente em local inadequado em acomodações diminutas cedidas pelo Hospital São João de Deus.

Hospital do Cancer

Cabe aqui citar um fato de significativa impor-tância para a evolução da assistência em nosso Mu-nicípio, qual seja, a inau-guração do Hospital do Câncer, obra tornada re-alidade pela iniciativa da Associação de Combate ao Câncer do Centro Oes-te de Minas (ACCCOM), que permitiu assistir, aqui mesmo, os portadores de patologias oncológicas, sem as atribulações cau-sadas pelo deslocamento incômodo a outros centros de atenção.

Divinópolis neste pe-ríodo foi a nona cidade brasileira a alcançar a prerrogativa de gerir a saúde através da habi-litação Semi-plena pela Norma Operacional Bá-sica (NOB/93), no ano de 1.994. e em sequencia a Gestão Plena do Siste-ma Municipal pela Nor-ma Operacional Básica (NOB/96) em 1.998. Estas habilitações permitiram as ações técnicas e operacio-nais que nortearam desde então a condução dos des-tinos da assistência à saú-de em nosso município, evidentemente com o esti-lo administrativo de cada gestor municipal, às vezes mais comprometido com a saúde pública e outras ve-zes nem tanto.

São notórias as diver-sas dificuldades na presta-ção de serviço aos reque-rimentos cada vez mais complexos da assistência à saúde. Citamos como exemplos a dificuldade de formação de profissionais realmente engajados no

espírito da universalidade da assistência e as com-plexidades representadas pelas exigüidades das instalações físicas e instru-mentais requeridas para uma eficiente prestação de serviço. Quanto a forma-ção dos recursos humanos para a saúde, Divinópo-lis tem sido contemplada através das escolas de ní-vel superior, aqui implan-tadas nos últimos anos, pelo INESP (Universidade do Estado de Minas Ge-rais), Universidade de Al-fenas (Unifenas), Univer-sidade Federal de São João Del Rey (UFSJ), na gestão do prefeito Demétrius Arantes Pereira,Faculdade Pitágoras e FACED com cursos da área e formação acadêmica em Medicina, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia, Farmácia e Bioquímica, Nutrição, As-sistência Social, Biologia e Administração de Servi-ços de Saúde. Assistimos atualmente aos esforços da administração pública, gestão do prefeito Vladi-mir de Faria Azevedo, em dotar nosso município de mais um hospital geral de caráter público e regional que certamente virá mini-mizar as dificuldades ge-radas pela falta de número adequado de leitos hos-pitalares, tão necessários para dar resposta efetiva à grande demanda da vasta área de responsabilidade que o município de Divi-nópolis tem como cidade Polo da região Centro-Oeste de Minas Gerais, bem como na instalação de unidades de Pronto-atendimento (UPA) e de Unidades Primárias de Saúde/Equipes de Saúde da Família (UPS/ESF), a serem mais estrategica-mente distribuídas, encar-gos a serem cumpridos pela atual Secretária de Saúde do município Rose-nilce Cherrie Mourão, que com muita eficiência tam-bém fez parte da equipe profissional da SEMUSA de 1.993/2.000, juntamen-te com o seu corpo de di-rigentes.

Espero ter cumprido, em espaço tão limitado, a solicitação deste Jornal Agora, através do convite-intimação de seu Diretor-presidente, Coronel Pedro de Magalhães Faria para fazer uma viagem pelos caminhos trilhados pelos abnegados profissionais de Saúde desta terra cen-tenária.

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Arquivo Pessoal

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