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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
EDILENE MENDES CERQUEIRA SOARES
HISTÓRIAS INFANTIS E ATITUDES LEITORAS DAS CRIANÇAS DO GRUPO CINCO
Salvador
2016
EDILENE MENDES CERQUEIRA SOARES
HISTÓRIAS INFANTIS E ATITUDES LEITORAS DAS CRIANÇAS DO
GRUPO CINCO
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, para fins de obtenção de certificado do Curso de Especialização em Docência na Educação Infantil. Orientadora Professora: Dra. Rosemary Lapa de Oliveira
Salvador 2016
EDILENE MENDES CERQUEIRA SOARES
HISTÓRIAS INFANTIS E ATITUDES LEITORAS DAS CRIANÇAS DO
GRUPO CINCO
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação, Faculdade de Educação da Universidade Federal da
Bahia, para fins de obtenção de certificado do Curso de
Especialização em Docência na Educação Infantil.
Orientadora Professora: Dra. Rosemary Lapa de Oliveira
Local, ____ de _____________ de _____.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________ Profa. Dra. Rosemary Lapa de Oliveira (orientadora)
Universidade Federal da Bahia/Universidade do Estado da Bahia
________________________________________ Profa. Dra. Luciene Souza santos
Universidade Estadual de Feira de Santana
Salvador
2016
“Prefiro pensar que o contar é arte para ver, ouvir, sentir; arte para um fazer coletivo;
arte para ser. De uma coisa estou certo, contar histórias emancipa tanto quem
conta, quanto quem ouve. O sujeito ouvinte, e o sujeito leitor. E isso já não
basta”?
Celso Sisto
AGRADECIMENTOS
A
DEUS
Pelo dom da vida, pela magia que nos impulsiona a sonhar e a propor
sonhos... E pela concretização desse momento.
A
FAMILIA
Por estar ao nosso lado em todos os momentos, compreendendo as nossas
ausências, nos ajudando a embalar nossos sonhos e conquistar novos objetivos.
AOS NOSSOS METRES
Por terem sido mediadores tão diferentes e tão importantes no decorrer dessa
jornada, por dividir conosco os seus conhecimentos e nos ajudar a trilhar um
caminho de significados, contribuindo para que tenhamos um novo olhar diante das
nossas práticas profissionais e pessoais.
AOS AMIGOS
Por entenderem as nossas ausências, e torcer pela nossa conquista.
AOS COLEGAS DO CURSO
Por conhecê-los e desfrutar das companhias agradáveis ao longo dessa
jornada, vendo, ouvindo, aprendendo e compartilhando um com o outro.
A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO MUNICIPIO DE SANTANA BÁRBARA-
BA, NA PESSOA DO SECRETARIO DE EDUCAÇÃO: NESTOR MAIA
JUNIOR.
Pelo apoio e reconhecimento da importância da formação continuada dos
professores.
SUMÁRIO
1 PERCURSO HISTÓRICO ................................................................................ 8
2. CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEITURA ................................... 17
2.1 A LEITURA E ATITUDES LEITORAS A PARTIR DAS HISTÓRIAS .............. 20
3 AS HISTÓRIAS QUE SE CONTAM ............................................................... 26
4 CAMPO DE PESQUISA ATRAVÉS DA CONTAÇÃO DE HISTORIA ............ 29
4.1 CENÁRIO E SUJEITO DE PESQUISA .......................................................... 30
4.2 UMA HISTÓRIA CONTA OUTRA ................................................................... 31
4.2.1 João e Maria .................................................................................................. 32
4.2.2 O Caso das bananas .................................................................................... 35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 41
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44
ANEXOS ................................................................................................................... 46
ANEXO A - CRIADO PELAS CRIANÇAS DO INFANTIL GRUPO CINCO TURMA
B......................................................................................................................47
ANEXO B - RODA DE LEITURA, EDUCAÇÃO INFANTIL GRUPO CINCO TURMA
B......................................................................................................................48
ANEXO C - AULA PASSEIO, PRAÇA RINCIPAL DE SANTA BÁRBARA
BA................................................................................................................. 49
ANEXO D - CONTAÇÃO DE HISTÓRIA, EDUCAÇÃO INFANTIL, GRUPO
CINCOTURMA B.......................................................................................... 50
ANEXO E - AULA PASSEIO EDUCAÇÃO INFANTIL, GRUPO CINCO TURMA
B......................................................................................................................51
RESUMO
Este trabalho de pesquisa teve como finalidade observar as atitudes leitoras das crianças do grupo cinco, com foco na contação de história. Objetivou analisar as contribuições das contações de histórias para o desenvolvimento das atitudes leitoras das crianças da Educação Infantil grupo cinco, situando-se no campo das investigações qualitativas, por conseguinte descritivas e interpretativas. A pesquisa teve como sujeitos de pesquisa a própria professora pesquisadora e as crianças de sua sala da Educação Infantil grupo cinco. Para tratar as informações produzidas, buscamos nos apropriar de pensamentos de alguns teóricos que fundamentaram todo o trabalho, entre eles, Solé (2008) e Sisto (20005). Pelos resultados desta pesquisa, foi possível responder a problemática encontrada na sala de aula durante as investigações da minha prática: Como a contação de história influencia as atitudes leitoras das crianças do grupo cinco? Nesse contexto foi possível demonstrar que a contação de história contribui e movimenta os atos de leituras das crianças. Palavras – chave: Educação Infantil; atitudes leitoras; contação de história.
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1 PERCURSO HISTÓRICO
O memorial de formação é uma forma de registro de vivências,
experiências, memórias e reflexões que vem se mostrando imprescindível,
não só para tornar público o que pensam e sentem os profissionais e futuros
profissionais, mas também para difundir o conhecimento produzido em seu
cotidiano (PRADO e SOLIGO, 2005, p. 09)
Através deste trabalho, pretendo compartilhar com o leitor as experiências
nascidas do campo de pesquisa que foi minha própria sala de aula, na qual procurei
perceber as atitudes leitoras de crianças do grupo cinco, notadamente através da
contação de histórias. Para isso, início apresentando meu próprio percurso formativo
enquanto professora e leitora.
Após prestar alguns vestibulares com a finalidade de conseguir uma vaga e
obter uma carreira profissional promissora e também uma ampla experiência de vida
através deuma profissão conquistada em uma universidade pública, meu sonho,
finalmente em 2009se realizou, pois consegui passar no vestibular da (UEFS)
Universidade Estadual de Feira de Santana no Curso de Licenciatura em Pedagogia.
Foi um dos momentos mais felizes da minha vida, afinal a partir daquele curso
encontraria uma base consistente para me firmar como uma profissional em
educação. A vontade em atuar nessa área nasceu após experiência vivida com
crianças oriundas do trabalho infantil com as quais trabalhei durante seis anos como
Educadora Social no Projeto Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.
O Curso de Pedagogia tem como objetivo formar profissionais para uma
prática social humanizada seja na produção da vida cultural ou no exercício do
trabalho, nele, o licenciado exerce suas atividades na educação infantil, nos anos
iniciais do ensino fundamental, na gestão educacional, coordenação e na difusão do
conhecimento em educação.
Assim, diante de tanta novidade e novos conhecimentos, as minhas
expectativas eram muitas, afinal o novo mundo acadêmico me fascinava, entre
tantas descobertas surpreendi-me com a metodologia adotada pelos professores
durante todo o curso, as quais não se restringem apensa em ensinar e informar,
mas, envolve proposta de participação e interação em todas as aulas entre docentes
e discentes, favorecendo a construção de novos saberes. Entre as estratégias
9
utilizadas pelos professores para obter melhores resultados na aprendizagem dos
discentes destaco os seminários, palestras, oficinas, pesquisa de campo, as aulas
passeio, as apresentações teatrais entre outros, enfim, a partir das propostas
apresentadas foi possível perceber as ações pedagógicas de trabalho didático que
contribui com a metodologia a ser desenvolvida pelos discentes, estabelecendo uma
relação com o cotidiano e provocando uma reflexão entre a teoria e a prática
pedagógica.
As aprendizagens adquiridas no curso foram significativas, serviram de base
para compreender os processos que envolvem a aprendizagem das crianças, para
compreender, interpretar e construir textos, ter segurança durante as apresentações
de seminários e discussões em sala, enfim, são construções de um crescimento
pessoal, pois a constante busca pelo conhecimento através da exploração de textos
de autores como, Vygotsky, Piaget, Gadotti, Saviani, Vasconcellos, Veiga, Freire,
entre outros, apresentados durantes as aulas, bem como a metodologia dos
professores fizeram-me refletir sobre as teorias apresentadas e a prática em sala de
aula, levando-me a novas descobertas enquanto pedagoga e a compreensão em
relação a algumas ações advindas do ensino tradicional do qual sou oriunda. Essas
experiências não poderiam ser desprezadas, mas, sim, renovadas dentro de uma
perspectiva que favoreça a aprendizagem significativa dos alunos.
Dentro dessa dinâmica, a troca de experiências entre os colegas foi muito
importante, conhecer outros trabalhos e a realidade de outras escolas nos ajuda a
entender que a aprendizagem vai além da simples sala de aula, mas, também na
participação e socialização dos trabalhos realizados nas diversas esferas da
sociedade.
Portanto, durante a minha trajetória acadêmica, todas as disciplinas me
trouxeram conhecimentos que possibilitaram o exercício de reflexão pedagógica um
olhar atento a pluralidade existente em sala e em meio a ela perceber a
singularidade de cada aluno.
Essa reflexão foi exercitada na prática a partir de 2007, quando passei no
concurso público e fui trabalhar na Educação infantil como grupo cinco, foi um
grande desafio, pois não tinha nenhuma experiência. Ao assumir a sala, percebi que
a prática exigia muito mais do que a simples teoria e a vivência acadêmica não
prepara completamente o professor para lidar com os desafios encontrados entre
eles a indisciplina das crianças, salas superlotas, crianças com alguma necessidade
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especial, a ausência dos pais na vida escolar delas, espaços físicos inadequados e
a falta de apoio pedagógico.
Dessa forma, o aprendizado é conquistado na prática, na experiência do dia,
a dia, e foi em meio às dificuldades em perceber e compreender cada silencio, cada
palavra e cada gesto daquelas crianças que pude, no processo contínuo de ação/
reflexão, construir e desconstruir algumas ações pedagógicas para poder interagir
com eles e assim estabelecer uma relação de confiança e troça.
Portanto, considerar o que é importante como aprendizagem na Educação
Infantil requer um processo contínuo de estudo e pesquisa e isso é uma busca
pessoal de cada um, essa percepção me levou ao encontro de novos desafios
através de alguns cursos de aperfeiçoamento e especialização. Foi o Curso de
Especialização em Docência na Educação Infantil ofertado pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA) que me possibilitou uma ampla visão em relação à minha
própria prática.
O curso é fruto de convênio entre MEC/SEB/COEDI e a Universidade Federal
da Bahia, os cursistas são exclusivamente professores da Educação Infantil,
coordenadores e gestores de vários municípios da Bahia em atividade, que
ingressaram no programa através dessa seleção pública. O curso surgiu com a
necessidade de fazer algo em prol da melhoria da educação para crianças, assim, o
objetivo principal é qualificar os profissionais atuantes nesse segmento a partir de
um novo olhar pedagógico através do educar, cuidar e o brincar em creches e
centros de educação infantil da rede pública de ensino.
Embora haja avanços no setor educativo no que se refere à promoção de
cursos de aperfeiçoamento, formação e construção de algumas escolas, ainda
assim, a área da Educação Infantil é carente desses e de outros benefícios, a
exemplo de espaços adequados com áreas de laser e recreação bem como
materiais didáticos adequados entre outros, contudo, a interação entre profissionais
da Educação Infantil de diferentes municípios é muito importante, esse contato, os
conhecimentos adquiridos e partilhados ajudam a ampliar a discussão e promover
ações que inquietem não só o meio profissional, mas, a sociedade civil como um
todo e busque melhoria para a Educação Infantil Pública brasileira em geral.
As discussões abordadas por diversos profissionais no decorrer do curso
foram riquíssimas, a exemplo do professor doutor Belintane da USP, no seminário
de abertura com o tema, o relato do fazer pedagógico: a importância do ato, no qual
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ele apresentou a cultura oral e a literatura como bases para o seu trabalho. Segundo
ele, a língua falada e as produções orais devem ter um tratamento didático-
pedagógico importante, já que a carência de materiais didáticos nas escolas
públicas é muito grande.
E em relação à importância do ato, do fazer pedagógico, a professor Leila da
Franca Soares nos contempla com a disciplina: Brinquedo e Brincadeiras na
Educação Infantil, a qual explora a imaginação e a criação na infância, exploração
essa que o professor Pinduca também valida na disciplina Expressão e Arte na
Educação Infantil.
Já o grupo Trup Errante, trouxe para o curso a poesia e a encenação, uma
forma lúdica que ajuda no desenvolvimento da oralidade das crianças. A Educadora
e Terapeuta Josieda Amorim, trouxe alguns questionamentos como: Quem somos
nós? E ao mesmo tempo uma reflexão profunda a respeito dos diferentes
sentimentos e sensações humanas como a escuta, as emoções, o silêncio, enfim,
um corpo com consciência, uma história, alma e espírito.
Essas palavras me fizeram lembrar aminha infância livre e feliz vivida com
meus irmãos, mas, hoje, ao refletir sobre isso, entendo que em alguns momentos ela
foi atropelada, ou seja, me foram dadas atribuições as quais eram de
responsabilidade dos adultos, como: lavar roupa, andar quilômetros para ir à feira
livre vender frutas, ou fazer compras, tomar conta do irmão menor, carregar balde de
água na cabeça, o trabalho no campo dos meus irmãos, enfim, foi uma infância que
não foi vivida em sua plenitude. Mas, naquela época, achava tudo normal, ou
melhor, eu não tinha acesso a informações sobre o assunto como tenho hoje.
A terapia faz isso, mexe no baú das lembranças e provoca a mais tênue
sensação, ajuda a fortalecer o vínculo com a sua verdade. Dentro desse contexto,
Sarmento (2008) fala dessa alternância de posição de conduzir e ser conduzida,
essa socialização da criança advinda de uma organização social, não prevê uma
separação entre o contexto de vida vivido pela criança e o contexto de vida vivido
pelo adulto. A interação trazida pela coordenadora geral do curso Beltrão, através
da leitura de histórias infantis, propõe um diálogo franco e aberto, abordando
assuntos importantes não só do cotidiano escolar, mas, da vida em geral, dentro do
contexto de cada uma.
Ainda, dentro da proposta do curso, outra contribuição valiosa sobre as
possibilidades e limites com relação às Políticas Publica Sociais Brasileiras para a
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educação básica, mais, especificamente a educação infantil e as adequações
necessárias para o seu avanço, foram trazidas pela professora doutora Ordália
Alves Almeida, durante o seu discurso. Ela falada importância das Diretrizes
Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia/ 2006, visando à
formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil bem como nas
outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos e a professora
Marlene Santos que discute sobre as Políticas Públicas para a Educação Infantil.
Entre diversos profissionais que contribuíram para o acontecimento desse
curso, não poderia deixar de citar o professor, doutor Roberto Sidnei Macedo, um
profissional com um vasto conhecimento em educação e suas variantes, nos
momentos em que se fez presente, discorreu sobre diferentes temas, nos levou a
refletir sobre o que é a Etnopesquisa e suas ramificações, a importância da
fundamentação teórica com base em diferentes autores na construção das
pesquisas científicas.
Dentro desse contexto, o fazer do professor pesquisador é muito importante,
como é importante também diferenciar o conceito de Currículo, que segundo ele não
é tudo que acontece na escola, pois o mesmo tem um campo de debate e de
pesquisa os quais precisam de uma maior distinção entre essa disciplina e outros
assuntos que estão ligados à escola, mas, que não estão inclusos na disciplina
curricular. Finalizando com a disciplina: linguagem, oralidade e cultura escrita, na
qual a professora Jucineide Melo vem contemplando toda a proposta do curso.
Assim foi o percurso do curso de Especialização em Docência na Educação
Infantil, um processo de construção e troca de experiências dentro de uma
perspectiva de formação profissional, na qual o conhecimento formativo se configura
por processos e construções de qualificações constituídos na relação com o
conhecimento eleito como formativo.
Portanto, vivenciar os saberes mais simples e as novas descobertas, as
experiências culturais vividas ou apreciadas através de uma simples contação de
história, uma cantiga de roda ou outros movimentos, sejam eles populares ou não,
todas as ações desenvolvidas contemplaram as diferentes realidades profissionais
de cada um sem perder de vista os conhecimentos, a criatividade e a ampla
valorização da aprendizagem das crianças da Educação Infantil, pois é por eles e
para eles o surgimento desse curso e o envolvimento desses profissionais em
educação.
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Sendo assim, as pesquisas advindas desses estudos redundaram em
produções de informações referentes ao ambiente de aprendizado da criança e a
minha escolha foi no campo da constituição do leitor através da leitura de histórias.
Diante das reflexões a esse respeito me dei conta de que as crianças adoravam
esse momento, elas prestavam muita atenção no que estava sendo contado e se
divertiam muito. Contar história é uma constante na minha rotina em sala de aula,
mas, embora ela seja considerada um recurso metodológico utilizada de forma
lúdica, eu costumava utilizar mais para dar início a um conteúdo, seguindo um
planejamento não muito adequado para a educação infantil.
Essas observações foram constatadas após um inventário sobre a minha
prática pedagógica, solicitado para a elaboração do projeto de pesquisa do Curso de
Especialização em Docência na Educação Infantil realizado pela UFBA. A partir da
minha experiência e para compreender melhor tudo que envolve a educação infantil,
construí o tema: Histórias infantis e atitudes leitoras das crianças do grupo cinco.
A partir desse projeto pensamos se seria possível compreender que além do
prazer de entrar em um mundo imaginário, as histórias despertassem as crianças
para o mundo da leitura de uma forma mais lúdica? Essa hipótese se ancora na
premissa de que quando a criança tem contato com o mundo da leitura desde os
primeiros anos de vida, tem mais facilidade para aprender e conviver na escola.
Muitos são os dilemas e discussões acerca desse tema, assim, buscamos
pesquisas nas quais teóricos discutem sobre o tema ou trazem discussões
referentes a ele, compondo o estado da arte que ora se apresenta.
Saito (2011) defende, em sua tese de doutorado, o resultado de uma
pesquisa feita com alguns professores da educação infantil a respeito do seu
trabalho pedagógico, utilizando a contação de histórias. Ela constatou que os
professores usavam as histórias como pretexto para iniciar o conteúdo escolar e não
uma ação voltada para o encaminhamento das crianças e para o desenvolvimento
da leitura e a escrita.
Já, Samori (2012) realizou uma pesquisa com crianças, relacionando a leitura
e a contação de história. Nos dados obtidos, ela diz que parece haver produção de
culturas pelas crianças pesquisadas, que não estão pautadas no planejamento da
ação docente ou em seu direcionamento, mas no que ocorre por meio dos
comentários paralelos feitos entre as crianças sobre a relação direta entre o que
ouvem e suas experiências de vida.
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Sendo assim, busquei compreender o que pensam os autores citados sobre a
contação de história e suas implicações no cotidiano da educação infantil. Para
Samori (2012), os resultados desses estudos destacam a presença da contação de
história e seus elementos que permitem às crianças uma prática interdisciplinar
relacionada com outros modos de expressão (o movimento, a imagem, as leituras).
Já para Saito (2011), a ação pedagógica dos professores observados em
relação à literatura infantil, não era articulada com a oralidade das crianças, o que,
segundo ela, implica no desenvolvimento das habilidades linguísticas, motoras e
emocionais. De qualquer forma, a primeira infância desperta o interesse pela
contação de história e pode se converter em guia para uma formação pessoal. As
histórias encantam as crianças pelos enredos mágicos que cada uma transmite, seja
do conto clássico ao popular desempenham papel importante no processo de
aquisição da linguagem pelas crianças, principalmente nessa fase de ampliação do
seu vocabulário e do imaginário.
Embora os achados das pesquisas tenham explorado a literatura infantil, mais
especificamente a contação de história, de forma a contemplar as suas variantes no
contexto escolar, há ainda uma necessidade em estudar a contação de história,
buscando compreender como se dão as atitudes leitoras das crianças a partir dela.
Acredito que além de transportar as crianças para um mundo imaginário, a contação
de histórias ajuda na formação da criança leitora, seja a leitura de mundo ou
especificamente, como é o caso desse estudo, a constituição do sujeito leitor, ou
seja, a criança autônoma, que ouve, interage, verbaliza, lê imagens.
A partir dessa reflexão, construiu seguinte problema: Como a contação de
história influência as atitudes leitoras das crianças do grupo cinco?
Compreender como a contação de história ajuda no processo de aquisição da
leitura e da oralidade das crianças da educação infantil grupo cinco é uma ação que
pretendo observar durante os momentos da contação.
Vale ressaltar que este projeto tem como objetivo geral analisar as
contribuições da contação de história para o desenvolvimento das atitudes leitoras
das crianças da educação infantil grupo cinco. Quanto aos específicos, o primeiro é
investigar os processos de letramento vivenciados na rotina da sala de aula das
crianças grupo cinco no viés da contação de história e o segundo, é identificar
atitude leitora nas crianças da educação infantil grupo cinco, com base na contação
de história.
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Assim, como já foi dito anteriormente, este projeto parte de uma problemática
surgida após observações da minha própria rotina em sala de aula, localizada em
uma escola pública do município de Santa Barbara-Ba, com dezoito alunos da
educação infantil grupo cinco, a maioria com cinco anos de idade.
Para fundamentar o tema escolhido, busquei referências em: Zilberman (2004);
Abramovich (2004) e Sisto (2005) entre outros, que discutem o tema de forma
contextualizada em diferentes dimensões, além de reflexões da minha prática
pedagógica.
Este estudo se caracteriza por uma pesquisa qualitativa, que pretende
descrever a experiência vivenciada na docência, tendo como foco a contação de
história na educação infantil. É, portanto, uma pesquisa de campo ou a etnopesquisa
crítica, por se tratar, nesse caso, de investigar situações envolvidas na minha
experiência como docente, na minha turma da educação infantil grupo cinco.
Portanto, no caso deste estudo, como instrumento de coleta de dados, serão
usados registros das observações e do que dizem as crianças.
Para tentar responder à problematização já abordada, decidi utilizar na
metodologia a pesquisa de campo, por considerar a mais adequada ao
desenvolvimento da pesquisa, uma vez que se busca a obtenção de dados em
profundidade, visando compreender e explicar a realidade vivida pelo investigador e
pelo investigado.
Além disso, o enfoque qualitativo é importante para a problemática
encontrada na rotina da educação infantil. No intuito de conhecer o que já existe de
discussão sobre o tema. Conforme Macedo (2004, p.147), nos estudos de campo,
os fatores não-oficiais assumem grande importância, ao contrário das pesquisas que
valorizam os dados substantivos. Nesse sentido, para se obter dados que
caracterizam a complexidade dos grupos, organizações e instituições em educação,
por exemplo, as informações não-oficiais têm grande importância. Elas facilitam o
entendimento real dos procedimentos burocráticos quase sempre reificados, bem
como questões como a posição do observador em relação aos atores a serem
estudados; os meios de acesso e como ele afetará suas relações com os sujeitos e
como se realizou o contato inicial. Essas são situações cruciais para entendimento
das conclusões do estudo.
Assim, a pesquisa é fundamental em qualquer processo de investigação, pois
através dela encontram-se dados consistentes que podem nortear qualquer trabalho.
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Dessa forma, os instrumentos e procedimentos utilizados dão conta de apreender a
realidade em questão, sem perder a especificidade nem a visão do todo a partir do
campo de pesquisa que foi em uma escola municipal localizada na sede do
município de Santa Bárbara-Ba, a qual abarca alunos do Ensino Fundamental e
duas turmas da Educação Infantil.
Os sujeitos são dezoito crianças da educação infantil do grupo cinco, turma B,
da instituição citada acima, como instrumentos serão utilizados às observações, o
diário de campo, fotos, vídeo e áudio. Analisar os dados relacionados à pesquisa, os
estudos teóricos as ações da professora pesquisadora e das crianças na rotina da
sala, é a forma adotada da interpretação e análise das informações produzidas na
pesquisa.
O quadro teórico desse trabalho se sustenta em Sisto (2005), para a
compreensão da contação de história no ambiente escolar da educação infantil.
Zilberman e Lajolo (1984) são referências para a compreensão da industrialização
da literatura infantil na educação infantil e Abramovich (2004) a importância de ouvir
histórias na educação infantil.
Para Sisto (2005), “uma história estimulante pode apresentar toda sorte de
construção. O que se oculta e vai se revelando aos pouco é próprio do jogo, também
da linguagem”. Para esse autor, quando se conta uma história, começa-se a abrir
espaço para o pensamento mágico. A palavra, com seu poder de evocar imagens,
vão instaurando uma ordem mágica poética, que resulta do gesto sonoro e do gesto
corporal, embalados por uma emissão emocional, capaz de levar o ouvinte a uma
suspensão temporal. Não é mais o tempo cronológico que interessa e, sim, o tempo
afetivo. É ele o elo da comunicação (SISTO, 2005).
Todavia, vale ressaltar a importância da literatura infantil na vida da criança,
bem como seus efeitos a partir do ponto de vista do que se pode entender como
literatura infantil. Para, Zilberman e Lajolo (1984, p.124), “A industrialização da
cultura, além de afetar o modo de produção do livro infantil contemporâneo, favorece
também alguns gêneros e temas, como a ficção científica e o mistério policial”.
Zilberman (2004) afirma que, através das histórias, a criança reconhece o
contorno e a realidade na qual ela está inserida e com a qual compartilha seus
sucessos e suas dificuldades. Assim, é importante que o professor tenha cuidado na
seleção das literaturas a serem trabalhadas em sala de aula, considerando a obra
como um todo. A literatura infantil é um caminho eficaz e lúdico que ajuda a criança
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a desenvolver seus sentimentos e emoções, inserindo-as no mundo das palavras de
uma forma lúdica e prazerosa. Nesse processo, a expressão corporal, a fantasia e
o imaginário infantil são constantemente instigados, os quais ajudam na formação e
ampliação dos seus conhecimentos.
Como escreve Abramovich (2004) “É uma possibilidade de descobrir o mundo
imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e
atravessamos”. Ainda para ela, “escutar historias é o início da aprendizagem para
ser leitor e ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão
do mundo”. ABRAMOVICH (2004).
Dessa forma, ouvir histórias tem uma importância que vai muito além do
prazer proporcionado, ela serve para a efetiva iniciação das crianças na construção
das linguagens, ideias, valores e sentimentos, os quais ajudarão na sua formação
como pessoa. Portanto, essa relação entre a literatura e a oralidade é uma forma de
expressão que requer uma cumplicidade entre o narrador e a arte de contar história.
No intuito de orientar a pesquisa que hora se apresenta, esse trabalho se
desenvolve em sessões, na primeira sessão, fiz uma abordagem do meu percurso
formativo enquanto professora leitora e pesquisadora. Na segunda discutiremos
sobre a criança na Educação Infantil e a leitura, esta entendida como primeira leitura
ou letramento. Já na terceira faremos uma definição sobre a contação de história e o
seu papel e como se insere na rotina da Educação Infantil. Na quarta, abordaremos
a metodologia de forma mais precisa, trazendo a teoria que embasa todo o trabalho
com rigor e profundidade com base em Macedo (2004). Essa sessão será
subdividida em duas subseções. Na primeira, descreveremos o cenário e os sujeitos
de pesquisa. Na segunda, vamos analisaras informações produzidas no campo de
pesquisa e por fim chegaremos às considerações finais.
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2 CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A LEITURA
Do ponto de vista legal, a educação Infantil é a primeira etapa da Educação
Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de zero a cinco
anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual e social, complementando
a ação da família e da comunidade (Lei nº 9.394/96, art.29).
Partindo do que a lei acima afirma, é possível dizer que toda criança,
independente da sua classe social, raça, cor, ou religião tem garantido por lei o
direto a uma educação de qualidade, seja ela pública ou privada.
Com base em Áries (1978) historicamente ações educativas no Brasil, nesse
sentindo a partir do século XIX, aconteciam com certa divisão, ou seja, as classes
sociais mais pobres não tinham o direito a creches e pré-escolas, seus filhos eram
assistidos por órgãos de assistência social, sem nenhum cunho pedagógico,
prevalecendo apenas o caráter assistencialista. Enquanto que para as crianças de
classe social alta, havia outro modelo de diálogo com prática escolar e ambiente
alfabetizador.
Foi em 1959 que as coisas nesse setor começaram a mudar, os movimentos
nacionais e internacionais contribuíram muito para a melhoria do atendimento às
crianças, então foi instituída a Declaração Universal dos Direitos da Criança e do
Adolescente que serviu de base para os movimentos sociais em favor de creches e
pré-escolas como um direito e com proposta pedagógica eficaz para as crianças que
até então eram discriminadas.
Após muitos anos, os movimentos se intensificaram até que na Constituição
de 1988 a Educação Infantil foi reconhecida como dever do Estado e os movimentos
comunitários, entre eles o de mulheres, dos profissionais da educação e do
movimento de redemocratização foram decisivos para a construção da nova
identidade das creches e pré-escolas. Enfim, depois dessa conquista, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº (9.394/96) regulamentou esse
ordenamento, integrou as creches no sistema de ensino e reafirmou os artigos da
Constituição Federal acerca do atendimento gratuito em creches e pré-escolas.
Ainda, nesse mesmo sentido, o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº
10.172/2001, estabeleceu meta para que no final da sua vigência, 2011, a oferta da
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Educação Infantil alcançasse 50% das crianças de 0 a 5 anos e 80% das de 4 a 5
anos.
Mas, é necessário esclarecer que mesmo havendo avanços necessários e
importantes para a melhoria do atendimento e da qualidade oferecida na Educação
Infantil pública no cenário brasileiro, ainda assim, existem entraves que impedem o
fortalecimento da educação infantil. Muita coisa precisa sair da teoria e se firmar na
prática, entre elas, a meta estabelecida pelo PNE que até hoje não foi alcançada e
muitas dessas crianças ainda estão fora das creches e pré- escolas e as que estão
inseridas nesse contexto precisam de uma atenção maior por parte dos órgãos
competentes. Então, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
(DCNEI) são fundamentais na organização, articulação e no desenvolvimento de
proposta pedagógica que orienta os sistemas de ensino. Todavia, essas orientações
de nada adiantam se ficar apenas no campo das perspectivas e não reformular os
princípios e as práticas que norteiam a Educação Infantil.
Portanto, nesse sentido, existe um esforço muito grande por parte dos
educadores, representantes de entidades e estudiosos na área, em busca de
melhorias, através de meios legais, ações que valorizem e capacite os profissionais,
bem como disponibilize espaços físicos adequados para receber esse público dentro
de uma perspectiva pedagógica sólida e significativa.
Assim, o papel do professor é fundamental em possibilitar ações que auxiliem
no desenvolvimento global da criança na Educação Infantil, entre elas, a valorização
e percepção das atitudes leitoras dessas crianças.
Solé (1998, p. 28) comenta que o professor antes de prever algo em relação
ao entendimento de qualquer texto deve explicar para os alunos o seu
embasamento, para então poder verificar, juntamente com as crianças, possíveis
previsões e compreender a importância da coerência. Ainda segundo ela, os alunos
podem participar opinando em relação a determinada leitura, desde que haja uma
escuta sensível e atenta por parte das crianças, mesmo porque elas não precisam
saber ler decifrar o código linguístico para poder trabalhar diferentes textos e refletir
sobre eles durante a leitura.
Nessa fase educativa, não é uma tarefa fácil compreender essa reflexão
como a leitura ou letramento da criança. É necessário entender que em se tratando
do desenvolvimento da leitura na Educação Infantil, todo cuidado é necessário, pois
20
os reflexos na formação leitora da criança podem ser negativos se esta for
considerada apenas a partir da decodificação de palavras.
2.1 A LEITURA E ATITUDES LEITORAS A PARTIR DAS HISTÓRIAS
É difícil pensar em leitura sem considerar a interpretação e a compreensão de
texto, mas falar de leitura no âmbito da educação infantil é colocar em foco os
conhecimentos prévios das crianças os quais não dependem da decodificação das
palavras muito menos da interpretação delas, é sobre essa leitura de mundo das
crianças na educação infantil que discutiremos.
Para Solé (2008, p.22), a leitura é um processo de interação entre o leitor e o
texto. Ela apresenta alguns atos de leitura que consideraimportantes, os quais o
sujeito leitor deve apresentar em relação ao texto. O primeiro que ela propõe é a
obtenção de uma informação precisa, ou seja, o leitor deve ter um conhecimento
prévio do assunto, mas, para utilizá-lo, o professor pode falar sobre o que será lido
no texto, chamar atenção para pontos importantes do texto que pode ajudar a ativar
os conhecimentos prévios, além disso, deve ler compreender e interpretar o texto.
Outro que ela propõe é seguir instruções que significa que o leitor deve
compreender determinadas regras impostas no texto para que possa extrair as
informações e desempenhar a função que o texto sugere que é ler e compreender a
mensagem que está inserida nele. Obter uma informação de caráter geral, para
Solé, significa que o leitor deve fazer um resumo sucinto que reproduza de forma
geral o texto. Também para essa autora é preciso ler pra aprender, o que significa
ler compreensivamente e aprender a partir dos próprios textos escritos.
Sobre revisar uma escrita própria, ela diz que as crianças são seres ativos
capazes de construírem seus próprios textos orais ou escritos e são capazes de
fazer uma leitura inovadora do mundo. Para ela, ler por prazer é a criança se
apropriar dos textos e construírem sua própria leitura de forma espontânea. Solé
acha importante comunicar um texto a um auditório, ou seja, é uma forma de
incentivar a criança a praticar a leitura e desenvolver a sua autonomia leitora diante
de outros leitores. Também praticar a leitura em voz alta que para Solé é a interação
entre o leitor e o texto e os leitores ouvintes. E, por fim, verificar o que se
compreende, que quer dizer o leitor deve ter um conhecimento sobre o assunto a ser
21
discutido no texto, mas o professor pode ajudá-lo a utilizar seus conhecimentos
prévios dando uma explicação geral sobre o que será lido no texto.
Todos esses atos de leitura propostos por essa autora são importantes na
constituição do leitor, mas nem todos estão ao alcance das crianças do grupo 5, por
se tratar de um processo de codificação e decodificação dos textos estudados, ou
seja, exige uma habilidade leitora autônoma dos sujeitos, no sentido de lerem sem
ajuda, para compreender e interpretar os textos lidos.
No entanto, os tópicos: Informação de caráter geral e verificar o que se
compreende cabem para a Educação Infantil, porque não exigem da criança a
decodificação das palavras muito menos uma leitura autônoma interpretativa do
texto. E, sim, uma leitura própria dos textos que lhe são apresentados, construída a
partir dos seus conhecimentos prévios e da sua relação com as leituras
apresentadas. Essa categoria hora citada contempla a categoria: atos de leitura,
resultante da pesquisa a contação de história e as atitudes leitoras das crianças do
grupo cinco. Ela será discutida na análise das informações do tópico 4.2.1. Segundo
Solé (1998. P. 23 e 24), a leitura segue um modelo interativo. Esse modelo
pressupõe uma síntese e uma integração de outros enfoques que foram elaborados
ao longo da história para explicar o processo de leitura. O modelo hierárquico
ascendente e descendente, no primeiro, considera-se que o leitor, perante o texto,
processe seus elementos componentes, começando pelas letras, continuando com
as palavras, frases em um processo ascendente, sequencial e hierárquico que leva
á compreensão do texto. A proposta de ensino baseada nesse modelo atribui
grande importância às habilidades de decodificação, pois consideram que o leitor
pode compreender o texto porque pode decodificá-lo totalmente.
O modelo descendente anda em sentido contrário: o leitor não procede letra
por letra, mas usa seus conhecimentos prévios e seus recursos cognitivos para
estabelecer antecipações sobre o conteúdo do texto, fixando-se para verificá-las.
Assim, quanto mais informação possuir um leitor sobre o texto que vai ler, menos
precisará se “fixar” nele para construir uma interpretação. Desse modo, o processo
de leitura também é sequencial e hierárquico, mas, neste caso, descendente: a partir
das hipóteses e antecipações previas o texto é processado para a sua verificação.
Assim, a leitura das crianças é vista a partir de uma perspectiva descendente,
pois o interesse é na exploração dos conhecimentos prévios, demonstrados através
das interpretações do que vê, ouve e pensam. Nesse caso, as atitudes leitoras das
22
crianças na educação infantil não perpassam pela decodificação ou domínio das
palavras, mas, a uma leitura anterior à escrita, ou seja, a leitura de mundo,
demonstrado com riqueza de detalhe através do diálogo com seu cotidiano, as
interações na sala de aula, as relações e imaginações que fazem sobre determinada
leitura textuais.
Através dessas ações, a leitura nas crianças se amplia, elas conseguem
atribuir sentidos aos textos de forma mais interativa, nesse caso, vale ressaltar que a
contextualização do professor com relação ao que ouve e propõe em sala deve
priorizar bastante a fala das crianças, porque elas precisam vivenciar e se sentir
parte daquele processo de construção de sentidos com a professora e demais
colegas.
Segundo Solé (1998, p. 27), leitura pode ser considerada um processo
constante de elaboração e verificação de previsões que levam à construção de uma
interpretação. Tomar as histórias como um instrumento de aprendizagem que
oportuniza à criança um contato com a arte das palavras, dos gestos, do imaginário,
da construção das suas ideias, o seu modo de vivenciar as coisas se traduz em uma
leitura mais fácil através de uma interação criadora e própria.
O imaginário infantil é muito fértil, quando se consegue através de uma forma
dialógica demonstrar além do que vê, mesmo que nem sempre encontre resposta
para suas curiosidades, ainda assim, não mudará em nada a maneira de ler o
mundo. Alimentar a memória das crianças com leituras deve ser o cotidiano na
educação infantil, essa prática ajuda na ampliação e consistência das futuras leituras
autônomas, após a alfabetização.
Portanto, trabalhar na educação infantil a leitura das crianças através da
contação de história é possibilitar outras leituras também a partir dela, criando,
narrando e comparando. É certo que esse envolvimento não é comum a todas as
crianças, mesmo porque as vivências e leituras não são iguais nem comuns a todos,
o que é perfeitamente normal quando se refere aos aspectos cognitivos da criança.
Assim, as informações vindas das crianças alicerçadas na fala ou no silêncio
evidenciam uma leitura de significados próprios que requer do professor um olhar
atento para instigar a autonomia e a leitura global entre elas.
Para Navarro (2012), o exercício da leitura no contexto escolar requer uma
prática na qual a linguagem seja valorizada e tida como o início para uma leitura
satisfatória construída a partir de percepções. A leitura das crianças parte de ações
23
e percepções vindas do campo exterior, em que demonstram através da fala uma
compreensão própria do que vê, ouve e sente mesmo não possuindo uma leitura
escolarizada.
Com base nessas considerações, durante uma aula passeio que propus à
minha turma à praça da cidade, algumas crianças ao ver em algumas imagens, logo
demonstraram um conhecimento construído, relacionando-os as historias que
ouviram na sala em relação à construção da cidade. M1 apontou na direção de uma
imagem dizendo: “pró, aqui onde agente está, era essa fazenda, olha, só tinha mato
e uma casa velha. Na história que a senhora contou, a cidade de Santa Barbara
antes era uma fazenda, a primeira coisa construída foi uma igreja”. V aponta pra
igreja no centro da praça e diz: “olha ela aqui, hoje está tudo diferente, não tem mais
mato, agora só tem casas e muita gente morando, muitos carros”. M1 agacha,
aponta para uma imagem e pergunta: “pró, aqui tinha mar?” Respondi dizendo: “não,
por quê?” Ele diz: “então porque tem esses golfinhos e tartarugas aqui? ”V se
aproximou e disse para M1: “você não está vendo que aqui tinha uma piscina, eles
tiraram a água, deve ser pra ninguém entrar e tomar banho, por isso que temos
golfinhos, tartarugas” e logo descobre outro animal: “olha aqui, um leão marinho! “.
Enquanto os outros pulavam e escorregavam dentro da piscina. Nesse momento,
essas crianças demonstram sua capacidade de perceber uma informação de caráter
geral, no momento em que atribuem sentidos aos monumentos, referidos a uma
historia que eles ouviram anteriormente. Vale ressaltar que as siglas acima citadas
são referentes aos nomes das crianças.
Portanto, a leitura das crianças parte de ações e percepções vindas do campo
exterior, em que elas demonstram, através da fala, uma compreensão própria do
que vê, ouve e sente, mesmo não dominando ainda o código linguístico escrito.
Essas atitudes são atos de letramento, os quais antecedem o processo de aquisição
do código escrito. No relato acima, algumas crianças, através da história ouvida e
visualizada, puderam emitir os seus conhecimentos, um saber traduzido em leitura
de mundo como bem fala Freire (1982).
Alguns autores como Teberosky (2003) dizem que a criança que vive em um
ambiente alfabetizador, que tem contato com livros, leituras verbais e visuais, ouve
historias, seja na escola ou no convívio social de um modo geral, reflete essas
práticas positivamente na sua vida e na sua formação leitora.
24
Com relação a esse contexto, quando a criança não está inserida em uma
cultura letrada, seja por parte da família ou até mesmo da escola, elas enfrentam
grandes problemas em relação às outras que participam intensamente dessa
cultura. Vale ressaltar, que embora o papel da família seja importante no processo
que envolva a inserção da criança no mundo da leitura, a escola é o espaço onde
elas têm acesso aos meios que estimulem a sua autonomia e construção da leitura
através de ações e interações pedagógicas.
A contação de história é a primeira forma de leitura que as crianças têm
contato, seja na família ou na escola, na qual ela está sempre presente. Assim,
durante uma contação da história de Rapunzel na sala, percebi diferentes práticas
de letramento por parte de algumas crianças. Antes mesmo de perguntar quem já
ouviu a história, E2 se pronunciou: “eu conheço, a minha mãe comprou o livro pra
mim“. E E3 aproveitou para dizer: “eu também conheço”. Durante a minha narrativa,
essas crianças interagiam citando falas de personagens de forma sequenciada e
clara, outros, porém, ficavam tímidos, mas atentos à narrativa.
As histórias narradas ou lidas em voz alta inspiram e incentiva a criança a
desenvolver o gosto pela leitura e esses momentos são cruciais para a prática do
letramento, pois é nesse momento que eles se expressam e até relacionam a ficção
com a realidade, foi o caso de M1, que após ouvir a história de João e Maria,
quando perguntei o que acharam, ele, se referindo aos doces que João e Maria
pegaram da casa da bruxa disse: “João e Maria estão errados, porque pegar alguma
coisa de alguém é errado” e continuou:
“Pró, a minha tia tem uma venda, um dia eu fui à casa dela e peguei
escondido umas balas, quando cheguei em casa, a minha mãe perguntou: ” quem te deu? “eu disse que peguei escondido, ela disse que ia colocar a minha mão no fogo pra eu nunca mais pegar nada de ninguém e mandou eu ir devolver, só que a minha tia disse, ‘deixa pra lá, pode ficar com as balas”. E concluiu dizendo: “eu nunca mais faço isso”.
Após essa narrativa, E1 aproveitou para contar que: “o ladrão roubou a moto
do meu tio e ta preso”. EV se posicionou dizendo que: “na vida real, quem faz coisas
erradas vai preso, mas na história tudo é inventado de mentira”. Essas atitudes
leitoras estão de acordo com os atos de leitura de Solé (2008) relativas à
compreensão do texto, conforme veremos adiante.
Segundo Sisto (2005) cada vez que um professor conta história na sua sala
25
de aula sem preocupações didáticas, uma biblioteca se abre, o contar será sempre
maior e a soma pessoal e social que o conto proporciona é um fazer coletivo,
Assim, é a proposta da contação de história. Ao possibilitar que as crianças
discutam nas rodas de conversa sobre os textos, as contações de história fortalecem
a autonomia e a confiança do leitor em si mesmo. Essa mudança é visível quando
uma criança tímida passa a falar durante as conversas propostas e a fazer parte das
peças de teatro por vontade própria.
Essa foi uma experiência fantástica que vivi na minha sala com a aluna M3,
ela não se expressava verbalmente, cheguei a pensar que fosse muda, a timidez era
tanta que nem no intervalo ela interagia com as outras crianças. Mas, quando ouvia
as histórias, até o silêncio dela mudava, a ponto dela passar a contar e interpretar as
histórias. Sendo assim, Sisto (2005, p. 22) diz que a cumplicidade construída pelo
narrador entre a história e o ouvinte, deixa espaço para o envolvimento e criação do
ouvinte em transitar pelas histórias construídas segundo ele “pelas pausas,
silêncios, ações, gestos e expressões de forma harmônica”.
Portanto, a interação proposta pela contação de história, através da retomada
de informações de caráter geral e compreensão do texto, é uma forma de contato
que ajuda as crianças a superarem a timidez, pois a troca do olhar, do gesto e da
palavra, é um momento de partilha entre contador e ouvinte. Nesse momento de
interação não existem regras nem restrições para nenhum dos envolvidos, apenas o
deleite de um momento lúdico conduzido por leituras sedutoras e criativas, conforme
assinala Sisto (2005).
26
3 AS HISTÓRIAS QUE SE CONTAM
Segundo Sisto (2005) esse costume remonta aos primórdios da humanidade
quando ainda não havia a escrita e os materiais que pudessem manter e circular os
registros históricos, e na atualidade própria das classes iletradas, a tradição oral era
a única forma de comunicação.
Como se vê, a contação de histórias é uma das artes mais antigas. Através
dela as pessoas conseguem expressar e provocar o mais oculto dos sentimentos, a
alegria, o suspense, ou até mesmo o medo, seja através dos gestos, dos objetos ou
das palavras, esses sentimentos são exibidos de forma espontânea de modo que os
sujeitos envolvidos se vêem como parte das histórias através dos personagens ou
dos enredos. Sisto (2005) ainda diz que contar história é uma arte e como tal exige
beleza e harmonia, o contador deve ser habilidoso, comunicativo deve apresentar
também uma linguagem corporal que acrescente mais ao entendimento da história.
Segundo Abramovich (2004):
Para contar uma história seja qual for é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras.... Contar histórias é uma arte... E tão linda!!!. É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro.... Ela é o uso simples e harmônico da voz.
Conforme declaram os autores acima, a contação de história é a harmonia
entre os sons e as palavras que além do envolvimento físico e emotivo, alimenta os
sonhos, enriquece as palavras, incentiva a linguagem oral e escrita das crianças,
inserindo-as no mundo da leitura.
Abramovich (2004) acrescenta que ouvir histórias é um acontecimento
importante na vida da criança, pois, as histórias despertam o interesse em todas as
idades. E sendo as crianças, segundo essa autora, sujeitos que possuem uma
capacidade imaginativa intensa, as histórias inseridas no dia a dia da Educação
Infantil, deixa as crianças em contato com diferentes textos e promove a interação.
As histórias apresentam diferentes caminhos que revelam um mundo letrado para as
crianças da Educação Infantil.
27
Com relação a isso, Abramovich (2004) diz que é importante na formação das
crianças ouvir muitas histórias desde o ensino infantil, é o início da aprendizagem
para ser um leitor e ter um caminho infinito de descobertas e compreensões de
mundo. Não importa o tipo de história, o importante é que elas influenciam as
crianças a ler outros livros, desperta diferentes sensações, daí a importância da
inserção na rotina da Educação Infantil.
Como se sabe, a história é um instrumento que atua na formação do
indivíduo, todavia, o cuidado que o professor deve ter durante a escolha das
histórias e da forma de apresentar, deve estar de acordo com a faixa etária do
público destinado. Com relação a isso, o RCNEIS (BRASIL, 1998, p. 156) dizem
que: “A organização do espaço físico deve ser aconchegante, com almofada,
iluminação adequada e livros, revistos etc. organizados de modo a garantir o livre
acesso às crianças”.
Ainda sobre isso, Sisto (2005) diz que o contexto, o ambiente deve ser
preparado de acordo com as histórias que serão contadas. O professor deve utilizar
todos os recursos que tem disponível na escola para envolver ainda mais as
crianças e enriquecer as histórias, nesse processo, os fantoches, as imagens, o
teatrinho e outros objetos, são valorosos nessa ação, além dos conhecimentos
pedagógicos e humano.
O professor, através da sua formação, tem acesso a diversas possibilidades
de interação com a literatura e inseri-la na sua sala de aula é um dos meios mais
comuns para possibilitar o contato das crianças da Educação Infantil com a leitura e
a contação de histórias é uma das formas eficaz para esse acesso, preservando o
seu caráter lúdico, mas, utilizando-a como recurso para o enriquecimento da prática
docente. É importante que essa narrativa seja adotada como metodologia, assim
favorece a promoção de conhecimentos e diferentes aprendizagens entre as
crianças no âmbito escolar.
A utilização das histórias em sala de aula socializa, educa, aproxima as
pessoas, instrui, desenvolve a sensibilidade e a inteligência. Na contação das
histórias, muitas coisas são retratadas, pessoas, lugares, acontecimentos, sonhos,
desejos, enfim, ela desequilibra os sujeitos ao mesmo tempo em que propõe um
encontro dele com o eu interior, através das diferentes sensações provocadas.
Entre esses textos estão os contos de fadas que apresentam dilemas em sua
trama. Conforme Machado (1994, p.45), é isso que define o conto de fada.
28
Herói é o personagem que vive grandes aventuras e consegue vencer todos os problemas que surgem à sua volta. Por isso ele é considerando o personagem principal, cujas ações, pensamentos e sentimentos acompanhamos com maior interesse. O herói é também chamado protagonista da história. Nem sempre o herói é um personagem com qualidades positivas. Existem heróis que são atrapalhados, malandros e vivem grandes situações de embaraço, mas continuam sendo protagonistas. Esses são conhecidos como anti-heróis.
Nesta pesquisa, utilizei os contos de fada porque fazem parte de um gênero
textual que emociona, diverte e instiga a criança a perceber os dilemas da vida real.
Contudo, o mais importante na utilização desse gênero é compreender as leituras
significativas das crianças através da fala com relação ao texto apresentado, no
caso, O conto de João e Maria, e a possibilidade da imaginação criadora que os
levam a construir e expor atos de leitura, atos esses que já foram citados
anteriormente como sendo as categorias de análise desta pesquisa.
Outro texto trazido para a pesquisa se inscreve no gênero fábula. Segundo
Fernandes (2001), fábulas são pequenos textos narrativos que transmitem em
linguagens simples mensagens morais relacionadas ao comportamento no cotidiano.
Neles, geralmente, as personagens são animais com comportamento humano.
A utilização desse gênero na minha pesquisa. Foi para analisar se a vivência
dos animais, contida no texto, desperta os sentidos das crianças em compreender
os fatos que se desenrolam, atribuindo-lhes sentidos, levando-as à sua constituição
leitora. Sobre essa constituição no sujeito leitor, ressalto novamente os atos de
leitura de Solé (2008) que serão considerados para análise nesta pesquisa: levantar
informações de caráter geral e compreender o texto. Esses atos já foram citados no
tópico 2.1.
Para fins de análise, foram contempladas a fábula: O caso das bananas, dos
autores Mariana Massarine e Milton O. Filho. E o conto de fadas João e Maria.
29
4 CAMPO DE PESQUISA ATRAVÉS DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
Como já foi citado anteriormente, o presente trabalho possui uma linha
metodológica com base na etnopesquisa-critica, por tratar-se de uma pesquisa de
campo acerca da leitura das crianças através da contação de história na educação
infantil, desenvolvida na sala de aula da professora pesquisadora.
Para seu desenvolvimento, ancoro-me metodologicamente em Macedo (2004,
p. 153, 154). Para ele, a etnopesquisa-critica contribui para a formação do professor
pesquisador de modo que não o engesse diante de diferentes posições teóricas
encaminhamentos metodológicos enquanto sujeitos de sua prática pedagógica.
Ainda conforme Macedo, na etnopesquisa-crítica, o pesquisador mergulha no campo
de pesquisa com foco na investigação e compreensão dos fatos que envolvem a
teoria e a prática, ao mesmo tempo em que se preocupa com o sujeito em seu
contexto histórico e social. Assim, quanto mais o pesquisador se envolve com o
objeto da sua pesquisa, maior será a compreensão acerca dessas vivências. Para
nortear esse trabalho, alguns objetivos foram elencados, o geral é analisar as
contribuições da contação de história para o desenvolvimento das atitudes leitoras
das crianças da Educação Infantil grupo cinco. Os específicos são primeiro,
investigar os processos de letramento vivenciados na rotina da sala de aula das
crianças do grupo cinco no viés da contação de história, o segundo, identificar
atitude leitora nas crianças da Educação Infantil grupo cinco, com base na contação
de história.
O tema desse trabalho é histórias infantis e as atitudes leitoras das crianças
do grupo cinco, que surgiu a partir da pergunta de pesquisa, como a contação de
história influencia as atitudes leitoras das crianças do grupo cinco?
O acesso ao campo de pesquisa desse trabalho surgiu daminha vivência
como professora regente da Educação Infantil há três anos na mesma instituição, o
que possibilitou uma relação direta com as crianças e a percepção das reações
vindas delas quando (re) contavam algumas histórias. Essa reação me instigou a
investigar mais sobre as leituras das crianças com o foco nas contações de histórias
as quais norteiam esta pesquisa.
Segundo Macedo (2004), o pesquisador deve manter uma relação direta com
o objeto de pesquisa para que os resultados alcançados sejam satisfatórios.
30
Nesse enfoque, para produzir as informações, procurei desenvolver durante a
pesquisa ações pedagógicas que pudessem dar conta da compreensão das atitudes
leitoras das crianças com base na contação das histórias. Foi de suma importância
envolver as crianças nas atividades em campo que se deu em três etapas. A
primeira foi desenvolvida através da contação de história no espaço escolar: sala de
aula e auditório, as experiências foram registradas em fotos, vídeos, áudios e textos.
A segunda foi a hora do conto e reconto, as crianças eram os narradores das
histórias, utilizaram diferentes textos e teatro de fantoche. E a terceira atividade foi
uma aula passeio, o roteiro foi uma visita à biblioteca da cidade que já estava
agendada, na qual lhes foi apresentado o acervo infantil e contação de história pela
professora C que lá trabalha. Enfim, meios pelos quais serviram para a produção de
informações para dar resposta á pergunta de pesquisa.
Para a sustentação desse trabalho e saber o que já existia acerca das
contações de história na Educação Infantil, busquei compreensão em alguns autores
entre eles, Sisto (2005) e Abramovich (2004). Eles discutem a importância da
contação de história na sala de aula, em especial na Educação Infantil, bem como o
papel do contador como parte principal nessa ação. E para compreender o que é
leitura e todo o processo que a envolve, apoiei-me em Solé (1998).
Com relação às histórias, algumas foram usadas como suporte, A Cigarra e a
Formiga, O Patinho Feio, Os Três Porquinhos, Chapeuzinho Vermelho, Gato de
Botas, Menina Bonita do Laço de Fita, A Galinha Xadrez, Rapunzel, o Caso das
Bananas e João e Maria. Mas, como instrumento de observação para a pesquisa
foram utilizadas apenas as duas últimas citadas, porque como já foi dito
anteriormente, trouxe esses textos para a minha pesquisa pela riqueza de suas
leituras e percebi que as crianças se envolveram muito com os enredos contendo
bruxa, príncipes, princesa, mistério, suspense e enredos policiais, despertando
atitudes leitoras nas crianças, relacionando as atitudes leitoras trazida por Solé
(2008) levantar informações de caráter geral e compreender o texto, ambas já
citadas.
4.1 CENÁRIO E SUJEITO DE PESQUISA
A instituição na qual foi realizada a pesquisa é uma escola municipal, localiza
no centro da cidade de Santa Barbara-Ba, possui 8 salas, abarca alunos do infantil
31
ao quinto ano. A escola não possui espaço nem brinquedos destinados ao público
infantil, possui um retroprojetor, uma TV e dois aparelhos de som quebrados, possui
um computador, um notebook e uma maquinam de Xerox que quase sempre está
com defeito, não tem biblioteca, existe um auditório e uma sala dos professores,
nesta última ficam expostos alguns livros didáticos velhos, o acervo que chega a
escola destinada á Educação Infantil, ficam encaixotados dentro da secretaria, os
professores da respectiva turma quase não tem acesso porque quando essas
literaturas chegam os professores do Ensino Fundamental já pegaram e não
devolvem porque não existe um controle interno.
Diante da ausência na escola de um espaço que propicie as crianças o
acesso a livros e a um ambiente diferenciado como é o caso de uma biblioteca,
construir na minha sala de aula o cantinho da leitura com literaturas infantis
compradas por mim e algumas doações os quais as crianças têm contato
diariamente na sala de aula e em alguns finais de semana quando levam livros
escolhidos por eles para casa.
As crianças selecionadas para essa pesquisa foram as 18 que formam a
turma B da Educação Infantil, sendo 8 meninos e 10 meninas, 2 meninas de 4 anos
os demais de 5 anos. 11 deles residem na zona rural da cidade e 7 na zona urbana,
as crianças na sua maioria são oriundas de classe social baixa, sendo que muitos
são filhos de trabalhadores rurais, sendo 3 deles filhos de comerciantes e 1 de
funcionário público, 10 crianças são de raça negra e 8 parda.
Para a identificação das crianças será utilizado às letras iniciais dos seus
respectivos nomes, sendo que nas letras que se repetiram acrescentamos números,
E1; E2; E3; M1; M2; M3; M4; M5; P; PVe V. As oito crianças aqui citadas foram as
mais falantes, contamos também com a participação da bibliotecária que nos
recebeu na biblioteca da cidade, mostrando o acervo e contando histórias para as
crianças, além do apoio e compreensão da diretora da instituição EV e da
coordenadora MM em compreender a importância e relevância da minha pesquisa.
4.2 UMA HISTÓRIA CONTA OUTRA
Para Sisto (2005), uma história estimulante pode apresentar toda sorte de
construção, o que se oculta e vai se revelando aos pouco é próprio do jogo, também
da linguagem. De certo que a realização de uma releitura dos contos tradicionais
32
não pode ter como ponto principal a substituição do ritual da contação.
Através da contação, o narrador expõe seus gestos e sentimentos, deixa o
ouvinte em contato com ele e aproxima a criança do adulto através das relações
estabelecidas durante o ato narrativo. Mas vale ressaltar que a exploração da leitura
utilizando o livro também é importante, porque incentiva a criança a manusear e
estar em contato com os livros, ajuda a desenvolver o interesse pela leitura. Ajuda a
compreender que existe uma relação entre a linguagem oral e a linguagem escrita,
visualizando os códigos linguísticos nos textos impressos. Assim, compreendemos a
importância das leituras das histórias no processo de construção da aprendizagem
com relação às atitudes leitoras das crianças da Educação Infantil do grupo cinco.
Compreendemos que esse processo se dá em meio à interação com o outro e
consigo mesma, através de diferentes canais expressivos e linguísticos.
Para analisar as informações produzidas no campo de pesquisa, utilizamos os
atos de leitura conforme construídos no capítulo 2.1, como categorias de análise das
informações produzidas junto aos sujeitos de pesquisa. A leitura é um processo
formativo que vai além da simples decodificação de palavras, portanto, as
informações produzidas junto aos sujeitos de pesquisa permitem constatar que a
leitura das crianças na Educação Infantil leva à construção de conhecimentos.
Para um melhor entendimento dessas construções feitas pelas crianças
pesquisadas, serão apresentadas as atitudes leitoras em episódios de trabalho com
o texto literário na sala de aula. Os tópicos seguintes apresentam esses percursos.
4.2.1 João e Maria
A história de João e Maria foi contada para as crianças. Ela narra a aventura
de dois irmãos, João e Maria, filhos de um pobre lenhador que, em acordo com a
esposa, decide largá-los na floresta porque a família não tinha condições de mantê-
los. No caminho pela floresta, João e Maria espalham migalhas de pão, mas, as
migalhas são comidas pelos pássaros e eles acabam perdidos na floresta.
As crianças gostaram muito da história, porque após a contação elas
aplaudiram muito, havia uma expressão de contentamento no rosto delas, e antes
mesmo de iniciarmos um diálogo, alguns pediram para contar a história de novo. E
eu contei, depois conversamos sobre a história e no diálogo, perguntei se já
conheciam a história, alguns disseram que sim. A partir desse diálogo foi possível
33
elencar alguns atos de leitura demonstrados por algumas crianças.
Quando M1 diz “pró se na vida real o pai fizer isso com o filho, ele também é
ruim”. V complementa: “A... você não vê na televisão, não? têm mãe e pai que
matamo próprio filho, e deixam o filho na rua sozinho”. E1 completa: “É mesmo, V..
(pausa) outro dia eu fui... (pausa) pra Feira de Santana com a minha mãe e vi um
menino todo sujo na rua pedindo dinheiro”.
Diante desse diálogo entre as crianças, após a contação da história de João e
Maria é possível destacar que elas foram capazes de extrair uma informação de
caráter geral: o abandono de menores. Isso se torna visível no momento em que V
relaciona o fato com o infanticídio que ela reporta ter ouvido na TV e quando E1
relaciona com uma criança carente que viu na rua. Além disso, as crianças
relacionaram conhecimentos que têm em relação ao que compreenderam do texto, e
essa leitura é bastante clara quando M1 estabelece uma relação entre a história e a
vida real, fala de família e sentimento. V coloca a sua opinião, faz paralelo da fala do
colega com o cotidiano, citando notícias vindas de meios de comunicação. E E1
conclui relatando uma ação que ele viu na vida real que também está relacionada ao
texto: o abandono da criança. Fazem relatos de fatos do dia a dia de forma
sequenciada, expondo com clareza o que compreenderam.
Com base na categoria ato de leitura de Solé (2008), a contação de história
aproxima a criança do adulto através da relação humana estabelecida entre a
criança ouvinte e o adulto narrador, além de oportunizar acriança a vivenciar os
elementos misteriosos da vida através de pensamento e da imaginação, contribui
para que elas expressem as suas leituras.
O resultado final da produção de leitura desenvolvida com essa história
culminou com uma produção textual em grupo, na qual duas crianças: V e M1 se
sobressaíram mais na produção oral, a qual eu me fiz de escriba, segue o texto
abaixo, e uma produção ilustrativa da história, que também será descrita em
seguida.
“A menina e os bichinhos Era uma vez, uma menina bonita que andava no deserto, ela andava, andava e nunca chegava na casa dela. Ela encontrou um peixe brilhante, pegou o peixe, comprou um aquário, colocou ele dentro e levou para casa. Ela encontrou um leão faminto que correu atrás dela, ai ela foi para a casa correndo, então ela encontrou uma girafa com sede, ela levou para casa e deu água. Então o pai e a mãe dela chegaram e disseram pra ela que só podia ficar com um bichinho. Então ela escolheu o peixe dourado. O pai levou a girafa para o
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zoológico”. Autores: alunos do infantil B grupo cinco, (2015).
Segundo Solé (2008), a convivência social e familiar ajuda a criança
naspráticas de leitura e escrita quando são práticas diárias na vida da criança, ajuda
no processo de ampliação das noções e percepções leitoras que elas já têm e que
são ampliados no manuseio dos livros, jornais, revistas e diferentes símbolos
linguísticos.
Portanto, conforme a autora, nas produções leitoras das crianças essa
relação é percebida na produção do texto, quando elas compreendem que o texto
deles deve ser registrado. Na segunda produção, quando registra através de
desenhos o que pensam, ainda possui uma leitura rica um vocabulário ampliado
quando cita palavra como brilhante e dourado que não são palavras usadas
cotidianamente, mas, é resultado de um letramento resultante de conhecimentos
prévios.
Na atividade de ilustração de história, as crianças criaram o seu livro de
história, elas dobraram o papel oficio ao meio, alguns conseguiram dobrar direitinho,
outros não, desenharam alguns personagens da história outros não, a maioria
desenhou um menino e uma menina, representando João e Maria.
Mais uma vez, as crianças demonstraram que são capazes de captar e
significar informações de caráter geral no texto, no momento em que desenham os
principais personagens. Mas percebemos que algumas crianças fogem a isso e
desenham situações que extrapolam o texto, como foi o caso de M1, que desenhou
a bruxa e a casa dela, que não era a de doce. Segundo ele, era o porão onde ela
morava. Outros como, V, E3, E2, incluíram na história outros elementos: casas, o
lobo mau, pai, mãe gato, e bola. Assim, percebemos que os atos de leitura não são
alcançados ao mesmo tempo por todas as crianças e que cada um tem seu tempo
de dar conta dos atos de leitura. A análise desse fato, embora seja relevante, não
será mote de debate nesta pesquisa, posto que nosso foco já tenha sido definido.
Nessa segunda produção, percebe-se que as crianças trazem uma leitura de
elementos de outras histórias (chapeuzinho vermelho) quando trazem o lobo mau
para o seu texto, fazem uma leitura de alguns personagens que exercem funções
semelhantes dentro do texto exposto e de outros que eles conhecem, fazendo uma
relação entre personagens e suas ações.
Também com relação à leitura, Sisto (2005) diz que nas atitudes leitoras das
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crianças não se espera por hipóteses, porque não se trata de um jogo entre autor e
leitor, porque não se espera nenhum tipo de previsão em relação à compreensão
leitoras das crianças na Educação Infantil.
Mas, uma leitura simples alicerçada no que eles veem, ouve e pensam,
mesmo quando algumas demonstram uma insegurança para falar e muitas vezes
repetem oque o coleguinha falou ou se mantém calados, ainda assim, existe um
repertório letra do oculto que não está explicito, mas, está ali, manifestado no
silêncio que muitas vezes pode ser em resposta ao texto discutido, que naquele
momento pode não ser atrativo ou importante para ele.
Segundo Freire (1982) “a leitura do mundo precede sempre à leitura da
palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”. Conforme o
autor, o que se espera com as atitudes leitoras das crianças não está no texto
propriamente dito, mas, de uma leitura própria resultante de conhecimentos prévios
como serão reafirmados nas próximas produções de leitura do texto seguinte.
4.2.2 O caso das bananas
Para apresentar as atitudes leitoras das crianças, fiz a leitura do texto o caso
das bananas. Trata-se de uma história de suspense, que envolve o roubo de um
cacho de banana do macaco, que só deu por falta ao acordar na manhã seguinte.
Apresentei o livro para as crianças, iniciei a leitura e ao longo ia mostrando para eles
as imagens. Ao visualizar o lagarto, M1iniciou o seguinte diálogo: “Olha parece uma
lagartixa”, logo M2 respondeu, “não parece nada, o rabo dele é muito grande” e
segue citando outros animais, “a águia consegue voar bem alto e vê tudo aqui em
baixo lá de cima” (faz os gestos). M1 interrompe perguntando: pró o que é
sonâmbulo? E antes mesmo que eu respondesse M2 fala: “é uma pessoa que anda
dormindo”, e continua e detetive é....(pensa) “uma pessoa que investiga outra que
rouba, eu vi no filme” e me pergunta “não é, pró”? Não me prolonguei na explicação,
mas, respondi que sim, porém complementei: “ele investiga pessoas que fazem
outras coisas escondido”.
Eles não conheciam a história, então ficaram muito curiosos. Alguns pegaram
o livro e começaram a rever, perguntei se a história lembrava alguma coisa pra eles,
enfim, em resposta, V falou: “tudo que tem na história tem na vida real, os bichos, a
36
banana, e o roubo também”.
Segundo Solé (2008), a leitura para as crianças tem que ter uma finalidade
que eles possam compreende e partilhar, pois, os sujeitos são diferentes no modo
de ser e ler. Conforme a autora, nessa perspectiva, entre o texto e leitor, é
importante salientar que as estratégias utilizadas considerem os atos de leitura da
criança conforme os seus conhecimentos e interesses prévios não exigindo mais do
que o que eles sabem e fortalecera relação de socialização das leituras entre elas.
De acordo com a categoria informação de caráter geral e verificação do que
se compreende, na produção acima, as crianças demonstram conhecer e diferenciar
alguns animais e suas características. Demonstram também um interesse e
curiosidade em saber o significado de palavras não ouvidas no seu cotidiano,
quando M1 pergunta o que é sonambulismo, já M2 demonstra uma oralidade clara e
espontânea além de interesse e acesso à mídia televisiva ao relacionar a palavra
detetive ouvida no texto a um personagem visto no filme.
Antes, era difícil alguns tomarem a iniciativa pra ler. Mas, com a roda de
leitura se tornou habitual na sala após a minha pesquisa, logo M3 e M4, que
pareciam bastante tímidas da sala se prontificaram a iniciar a leitura.
M4 se posiciona e diz que vai contar a história da “Raposa e as uvas”, ela,
mostra o livro para os colegas, começa a leitura à medida que vai lendo mostrando
as imagens para os colegas. E assim, vários textos foram apresentados e
reapresentados: A cigarra e a formiga, Rapunzel, Branca de neve. De repente M1
apresenta um livro diferente, ele pega um dicionário ilustrativo da língua portuguesa
que estava dentro do baú e diz: “eu vou ler esse livro pesadão” ergue o livro e
mostra para os colegas,
Antes de M1 iniciar a leitura, M2 pergunta: “que livro é esse, pró”? Respondi:
“um livro que tem palavras e imagens escritas em tamanho menor, chamado
dicionário”. M1 coloca o livro sob as pernas e mostra para os colegas: “isso é um
submarino, ele anda debaixo da água lá no fundo do mar, as pessoas não o veem.
Eu já assisti a um filme em que os homens foram em um submarino desse atacar os
seus inimigos” M1 passa as folhas, PV sentado ao lado olhando fixamente para o
livro diz: “olha um urso” e aponta na direção, M1 contesta: “não é um urso nada, é
um urso panda”, vira o livro na minha direção e fala: “não é, pró”, eu respondo
fazendo um sinal de positivo.
De repente, a coordenadora MM entra na sala, deseja bom dia, mas, nem
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todos respondem M1 continua empolgado com a leitura no livro, me levanto e vou
atender à coordenadora, as crianças continuam na roda. Ao retornar, percebo que as
crianças se dividiram em pequenos grupos, E2 no centro da roda dizendo: “vem
minhas alunas, vem, que eu vou ler pra você”, algumas crianças estão ao redor dela
se aproximam, e ela começa a fazer a leitura do livro de Chapeuzinho Vermelho,
muito empolgada e as colegas TI, K, M3, M4 ficam bastante atentas à leitura dela.
Eu resolvo não interferir apenas observo, gravando com o celular, de
repenteE1 se levanta com alguns livros sob a cabeça e diz: “quem quer comprar
livros? Eu tô vendendo”. Logo a roda se transforma em uma grande feira de livros, e
as crianças começam a se movimentar de um lado para o outro, dizendo: “olha o
livro, quem quer comprar”, E1 tira uma moeda do bolso, se aproxima de P, dizendo:
“quanto é?Eu vou comprar todos os seus livros” P entrega os livros para ele e pega
a moeda, em seguida vai até M1, devolve a moeda e pega os livros de volta, TI, K,
M3 e M4, logo se aproximam dos demais colegas que lideram a feira de livros,
enquanto E2 permanece sentada empolgada com a sua leitura.
Segundo Solé (2008), a leitura é um processo de interação entre o leitor e o
texto, ela exige motivação por parte do professor ao apresentar textos diversificados
e tarefas em que as crianças pratiquem a leitura de forma prazerosa e contínua.
Então, conforme a autora é possível reafirmar que as atitudes leitoras das
crianças citadas nas ações acima são informações de caráter geral e de
compreensão resultantes de um momento de interação, entusiasmo e empatia com
os textos oferecidos. A disposição das crianças ao socializar suas leituras através
dos textos lidos mostrou uma alegria que fluiu através de uma linguagem simples e
espontânea.
Outra atitude leitora foi a feira de livros que eles organizaram de forma livre,
demonstrando conhecer o espaço de uma feira livre pela organização e palavras
usadas como: “vem comprar “além do modo de ocupar o espaço. Demonstraram
saber que existe uma relação entre comprar e vender, reconheceram a nossa
moeda brasileira, demonstraram mais criatividade e facilidade em relatar fatos do
cotidiano, mais uma vez demonstraram o gosto pela TV e a preferência pelo gênero
filme, quando M1 relaciona o submarino ao filme que viu. M1 demonstra conhecer
também animais que não é comum da nossa fauna ao identificar um urso panda.
Vale ressaltar que a leitura não deve ser imposta, e sim valorizada e
incentivada, é sobre essa valorização dos atos leitores das crianças em momentos
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de pura inspiração e alegria que reafirmamos as leituras informativas de caráter
geral e compreensivas desses pequenos leitores que segue sendo explorada na
atividade abaixo.
O teatro de fantoche é uma apresentação feita com bonecos. Para a estrutura
do palco, utilizei papelão e TNT. Falei para as crianças que elas iriam receber a visita
de dois coleguinhas que vinham contar histórias para elas, mas, para se
apresentarem, pediram que apagassem as luzes da sala. Antes de iniciar a
apresentação, M1 se levantou e falou: “Pró... pró deixa eu contar a história com
eles?”, M2também se habilitou: “eu conto com você M1”. Diante de tamanha
autonomia, não seria possível recusar o pedido e privá-los de interagir com os
demais colegas.
Então, eles tomaram a posição atrás da cortina cada um com um dos
bonecos e apresentaram os textos abaixo, com destaque para M1 que conduziu
toda contação:
“Bom dia, gente, eu vou contar uma história pra você, era uma vez João e o pé de feijão, João saiu e plantou um bocado de feijão, de repente quando ele olhou viu um castelo”. M2: “nossa olha”, M1: “ai eu fui arrancar o feijão pra botar no fogo, quando puxei bem forte ..hum (faz gesto), você não sabe o que descobri” M2:” Hum...Hum” (pensativo), M1: “o feijão era mágico e você não sabe quem morava no castelo”.
Antes de M2 responder, as crianças que ouviam atentas gritaram em couro, “a
bruxa”, pra surpresa M1 responde: “não, um gigante”. M1 diz: “fim terminou a história
ê...ê...ê, cadê a palma, gente”, as crianças aplaudiram animadamente.Em seguida,
M1 fala: “eu vou perguntar uma coisa”.
M1 “O que você entendeu da historia”? R. E2: “João plantou um pé de feijão”. M1: “O feijão era mágico ou de cozinhar”? R. E2: “Mágico” M1: “Ele viu o que”? R. E1: “Um castelo” M1: “E o que tava dentro do castelo”? R. E1: “A princesa”. M1 (risos) “foi o gigante”. M1” Vocês gostaram da história”? R. Todos: “gostou”.
Nesse texto é possível identificar que M1 busca através de perguntas
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coerentes e pertinentes com o que ele falou saber se os colegas entenderam o
texto. Diante das respostas dadas principalmente por E1 e E2, houve uma
compreensão do texto em questão, M1 considera as respostas dos colegas, mas se
coloca ao discordar da resposta de E1, quando em uma das respostas diz que
dentro do castelo havia uma “princesa”.M1 traz informações de caráter geral e
compreensão ao afirmar que o feijão se planta, depois arranca e coloca no fogo,
descrevendo uma forma de trabalho agrícola que faz parte da vivência dele,
relaciona isso à história de “João e o pé de feijão”, lembra a arte circense ao citar a
palavra “mágico”. Demonstram conhecimentos prévios com os de outros textos
ouvidos na sala, ao citar as palavras castelo, princesa e gigante.
“Era uma vez um palhaço no circo, o senhor palhaço disse, nossa! Eu não sei fazer malabarismo, eu sou muito pequeno, e aquela coisa que você usa de pneu pra fazer malabarismo, em gente, então, ele pegou e.... apareceu no touro e no final todo mundo aplaudiu ele”. Autor: M1, Educação Infantil grupo cinco, turma B.
Ele consegue oralizar de modo que as outras crianças se sentiram parte da
história. Segundo Freire (1988), através de exemplos do cotidiano, mostramos como
lemos o mundo o tempo todo: Desde que nascemos, vamos aprendendo a ler o
mundo em que vivemos.
Assim, toda história por mais simples que seja, proporciona na leitura da
criança riqueza que permite uma organização interna exposta nas suas leituras. No
texto acima, M1 fala da alegria, da magia e do encantamento quando cita“ o palhaço
no circo” ele fala de sentimentos (dúvida) quando diz que o palhaço não sabe fazer
malabarismo, (medo) quando diz “eu sou muito pequeno” e de (coragem) quando diz
“então ele apareceu no touro”. Mistura elementos concretos da vida real (pneu e
touro) com os personagens do circo (palhaço, malabarista).
“Pedro então andou, andou com o pai e viu um cachorrinho na feira,
ele falou, eu quero esse cachorrinho, o pai falou não que esse
cachorro é brabo, não pai eu quero ele, ta bom pode comprar, nossa!
Esse cachorro é muito caro, olha o preço, ai tudo bem, Pedro
comprou o cachorro, ai foi andando e viu uma coleira, nossa! Pai eu
quero uma pra botar no meu cachorro, tudo bem pode comprar. Ai ou
pai eu quero uma bola pra brincar com o meu cachorro, tudo bem
pode comprar, ai em casa Pedro brincava com o cachorro, rau...
mordeu a perna de Pedro, Pedro abandonou aquele cachorro, ai pai
eu quero comprar outro cachorro, ou pai eu posso comprar esse
daqui? Aí o pai disse ele não pode ser brabo, ele comprou, ele falou
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ou pai eu posso dá um nome pra meu cachorro, o nome dele é
tampinha. Pedro joga a bola mais tampinha não pegou, aí Pedro
treinou o seu cachorro e depois o cachorro aprendeu a pegar a bola”.
Autor: M1 Educação Infantil grupo cinco turmas B.
Mais uma vez, ao terminar a contação de história, a criança lança perguntas
ao seu público:
M1, “palmas gente... ê..ê” ele termina a sua exposição oral fazendo novamente perguntas para os colegas. M1: “Você gostou da história gente”? R.Todos: “gostou” M1. ” Que nome o menino deu para o cachorro”? R.Todos: Tampinha. M1. ” Como é o nome do menino gente”? R. Todos: “Pedro”. M1.Gente, se você for comprar um cachorro, compra um mansinho, porque brabo morde”.
Segundo, Solé (2008) “o trabalho de leitura costuma se restringir a ler texto e
responder algumas perguntas relacionadas a ele”. Vale ressaltar que essas
afirmativas não se aplicam às produções descritas acima, pois, não se trata aqui de
textos criados com a finalidade de fazer perguntas e obter respostas, embora haja a
criação delas, mas, como também afirma Solé (2008), “o foco aqui não é o resultado
da leitura e sim o seu percurso.
Essas produções são resultado de um percurso de leituras demonstrado
pelas crianças através das suas criatividades e autonomia leitora. As crianças
demonstram muito interesse e envolvimento com a leitura, com destaque para M1,
que conduz a narração misturando elementos do cotidiano com os dos textos
estudados, manuseia o fantoche e muda a voz de acordo com a fala dos
personagens, cria e conduz as perguntas com certa facilidade, além de contar
histórias de forma sequenciada.
Com relação a essas atitudes leitoras, Fanny Abramovich (2004), diz que,
“Não devíamos esquecer nunca que o destino da narração de contos é o de ensinar
a criança a escutar, apensar e a ver com os olhos da imaginação”.
Assim, as histórias ativam o imaginário das crianças e ajudam-nas a criarem as suas
próprias leituras e perguntas, elas conseguem visualizar imagens mesmo não
visíveis, tornando-se participantes ativos nas suas produções leitoras.
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo.
Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática...
(Paulo Freire)
Ao término deste trabalho, cabem algumas reflexões acerca das motivações e
participações que embalou esta pesquisa. Tudo iniciou com um “Memorial” no qual
descrevi sobre a minha vida pessoal e profissional, para acesso ao curso de
Especialização em Docência da Educação Infantil, ministrado pelo campo da UFBA-
FACED, sob a supervisão geral da professora Lícia Beltrão e a companhia agradável
das professoras de ACPP: Regina e Neuza, iniciado há dois anos. Enquanto
professora da Educação Infantil e discente desse curso, pude perceber e
compreender melhor as lacunas existentes na minha prática em sala de aula,
através do Projeto de Pesquisa.
Para chegar a esse entendimento, o caminho percorrido foi longo, mas, não o
suficiente para que eu possa dar como encerrada a minha caminhada em prol de
uma Educação Infantil Pública de qualidade e um fazer pedagógico compreendido
como suficiente nas minhas aprendizagens. Nesse percurso, ressalto aqui a
importância de todos os professores e palestrantes que ministraram as aulas e
oficinas, durante o curso.
As professoras: Leila Soares, Marlene Santos, Eliza Pacheco, Natalia Ordália,
Jucineide Melo, Licia Beltrão, Rosy Lapa, Mary Arapiraca e Risonete, os
professores: Belintane, Pinduca, Roberto Sidneie o grupo de teatro Trup Errante e
todos os colegas de trabalho que se fizeram presente nessa caminhada e
acrescentaram conhecimentos relevantes no meu crescimento pessoal e
profissional.
Para fundamentar e direcionar este trabalho de pesquisa, foi importante
perceber na minha prática algo que me inquietou e as reações das crianças durante
os momentos em que eu contava algumas histórias, foi a inquietação que me
motivou a pesquisar e responder: como a contação dehistorias influenciava as
atitudes leitoras das crianças do grupo cinco. A partir dessa inquietação, surgiu o
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projeto de pesquisa com o tema:Históriasinfantis e as atitudes leitoras das crianças
do grupo cinco que culminou com esse trabalho monográfico de conclusão do curso
de Especialização em Docência da Educação Infantil, sob a orientação da
professora doutora Rosemary Lapa.
Para embasar a minha pesquisa e validar as leituras das crianças com base
nos contos, foi necessária uma pesquisa anterior intitulada o Estado da Arte, na qual
busquei compreender o que já havia de pesquisa nessa área, algumas como as de
Saito (2011) e Samori (2012) se aproximam, mas, não responderam à minha
inquietação.
Fundamentei essa pesquisa em alguns teóricos, mas, a minha fonte de
inspiração foi em: Solé (2008), Sisto (2005) e Abramovich (2004). Além de Macedo
(2004) que me inspirou a fundamentar a etnopesquisa crítica. Para melhor
compreender as atitudes leitoras das crianças, respondi a alguns objetivos: analisei
as contribuições das contações de história para o desenvolvimento das atitudes
leitoras das crianças da Educação Infantil grupo cinco, investiguei os processos de
letramento vivenciados na rotina da sala de aula das crianças do grupo cinco no viés
da contação de história e, por último, identifiquei atitudes leitoras nas crianças da
educação infantil, com base na cotação de história.
Os objetivos de pesquisa foram respondidos com base nos atos de leitura
elencado por Solé (2008) “informação de caráter geral e verificar o que se
compreende” e a categoria atos de leitura resultante desta pesquisa. Diante das
diferentes experiências, percebemos que as histórias vivenciadas e criadas
provocaram as crianças a lidarem com seus dilemas, enigmas, imaginação e
fantasia, levando-os a ler comigo e com os demais e assim, fazer uso social dos
códigos linguísticos através da fala e praticando a leitura.
Segundo Sisto (2005), escolher a história a ser contada de acordo a faixa
etária é muito importante, principalmente ao nível de desenvolvimento cognitivos e
os valores culturais no caso das crianças da educação infantil. A seleção das
histórias deve ser de acordo com os interesses das crianças relacionadas ao
presente ou a que gostariam de viver. Ele ainda assegura que o professor não deve
cobrar da criança repetições de dados da história, esse tipo de ação não acrescenta
na expressão criadora da criança, o interessante, segundo ele é estimular um
debate, uma conversação com foco na temática do texto e nas relações que possam
ter com as vivências das crianças.
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A forma que o professor conduz as suas práticas depois de uma contação ou
leitura de uma história influencia o gosto ou a rejeição pela leitura por parte das
crianças. Considerando o prazer das crianças, demonstrado em suas leituras a partir
dos contos, é necessário que o professor motive esses pequenos leitores na sua
sala de aula, apresentando-lhe diferentes obras literárias que instigue a sua
imaginação, observação a comunicação e aumente o interesse para a leitura.
Esta pesquisa nos ensinou que a contação de histórias é um recurso viável e
importante dentre as práticas de leitura que o professor deve utilizar na sua rotina da
Educação Infantil, possibilitando uma série de vivências e diferentes leituras das
crianças. Para isso, é importante que o professor adote na sala de aula uma leitura
prazerosa em relação às histórias, para que elas não virem tarefas rotineiras e
acabe não despertando o gosto pela leitura nas crianças.
Perceber a sensibilidade das crianças em todos os detalhes em uma simples
contação de história é algo maravilhoso e deve ser levada em consideração
tamanha relevância em relação a essas atitudes leitoras no decorrer da Educação
Infantil.
Portanto, se percebem atitudes leitoras das crianças quando elas relacionam
fatos do texto com os da vida real, conversam sobre os textos, citam exemplos reais
com certa facilidade, fazem releituras dos textos, manuseiam e folheiam os livros de
forma correta, criam seu próprio texto, identificam ambientes, personagens e suas
características dentro e fora do texto, representam e improvisam, utilizam mais os
livros também nas brincadeiras, além do cantinho e o baú de leitura da sala,
socializam suas experiências, diferenciam e associam diferentes objetos e ações,
fazem exposição oral e escrita, opinam com autonomia em diferentes assuntos,
melhoram a escuta e a timidez. Tal como vimos acontecer ao longo desta pesquisa.
Podemos concluir que a utilização da contação de história na Educação
Infantil é uma estratégia estimuladora que mobiliza os atos de leitura da criança.
Mas, os resultados e a análise aqui apresentados não devem ser considerados
como resultados finais e sim exemplos de um estudo de campo que instiga outras
leituras. Concluo reafirmando a importância de se valorizar as atitudes leitoras das
crianças que não se restringem apenas à contação de história, mas, às leituras de
um modo geral na Educação Infantil.
44
REFERÊNCIAS
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45
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46
ANEXOS
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Anexo A - Criado pelas crianças do Infantil grupo cinco - turma B.
48
Anexo B - Roda de leitura, Educação Infantil grupo cinco - turma B.
49
Anexo C - Aula passeio, praça rincipal de Santa Bárbara – Ba. Educação
Infantil grupo cinco - turma B.
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Anexo D - Contação de história, Educação Infantil, grupo cinco- turma B.
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Anexo E - Aula Passeio Educação Infantil, grupo cinco turma B.