Edição 152 da Super...

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  • Edio 152 da Super interessante

    Fonte:

    http://super.abril.com.br/superarquivo/2000/conteudo_118464.shtml

    Mistrio no Lago Vostok

    Cientistas acharam bactrias desconhecidas em amostras de gelo no fundo de um

    poo de 3 600 metros de profundidade na Antrtida.

    Esquea os ETs de Marte, os das luas de Jpiter ou os dos planetas fora do Sistema

    Solar. Neste momento, os cientistas s falam das bactrias do gelo, encontradas aqui

    mesmo, na Antrtida, em dezembro passado, pela equipe do bilogo americano John

    Priscu, da Universidade do Estado de Montana. Apesar de no terem vindo de outro

    mundo, como disse Priscu SUPER, elas lembram os seres que esperamos achar fora

    da Terra.

    Os micrbios desconhecidos evoluram no hbitat mais remoto e desolado do planeta,

    onde nenhuma espcie j estudada pode sobreviver. Moram no Lago Vostok, um grande

    volume de gua doce descoberto em 1995, 1 000 quilmetros a oeste do Plo Sul, sob 3

    720 metros de gelo. Foi o fsico ingls Jeff Riddley, da Universidade College, de

    Londres, que detectou o lago analisando imagens de radar fotografadas do espao pelo

    satlite ingls ERS-1. Depois de sua descoberta, cientistas do mundo inteiro voltaram a

    ateno para o Vostok.

    As bactrias foram achadas no fundo de um poo que, desde os anos 80, cientistas

    russos abriam para estudar registros climticos do passado bem em cima do lago, mas

    sem saber de sua existncia. Faltavam apenas 120 metros para chegar superfcie

    lquida (veja na pgina 38) quando o satlite a descobriu. Imediatamente, a perfurao

    foi interrompida para no contaminar o ecossistema virgem, que se supe isolado do

    resto do mundo h 30 milhes de anos. E foi bem a, a 3,6 quilmetros de profundidade,

    que as bactrias foram achadas, em gua congelada do lago. Estavam endurecidas e sem

    atividade vital, o que no quer dizer mortas. Segundo Priscu, elas podem voltar a se

    agitar a qualquer momento.

    At agora, as tentativas de reanim-las fracassaram porque no sabemos como crescem

    e proliferam, diz o cientista. Ser preciso aprender mais sobre elas. Por enquanto so um

    enigma. Verificou-se apenas que possuem alguns genes similares aos de dois grupos de

    micrbios, as proteobactrias, que existem no solo, e os actinomicetes, que moram

    comumente na gua. S que o parentesco deve ser bem distante.

    Um sculo para procriar

    Os habitantes do Lago Vostok devem ter o organismo mais lento j visto, afirmou

    SUPER o microbiologista americano Jim Tiedje, da Universidade de Michigan. Boa

    parte dos microrganismos se reproduz a uma velocidade estonteante. Geram um ser

    completo a cada 30 minutos, explica. J as bactrias do Vostok devem ser hiper-

    retardadas. Procriam uma vez em um sculo.

    http://super.abril.com.br/superarquivo/2000/conteudo_118464.shtml

  • Explica-se: s assim elas poderiam crescer onde quase no h comida, pois

    pouqussimos detritos minerais e orgnicos conseguem atravessar o cobertor branco do

    Plo Sul e chegar l embaixo. Tambm no podem extrair energia da luz, como fazem

    as plantas e a maioria dos germes conhecidos, pois moram na escurido total.

    Os cientistas especulam que os seres do Vostok existem graas ao escasso calor

    emanado do centro da Terra. Isso lhes daria fora para, vagarosamente, digerir migalhas

    orgnicas de carbono e nitrognio aprisionadas no gelo. Os aliengenas que se supe

    existirem em Europa a lua de Jpiter to enregelada quanto a Antrtida podem ter

    evoludo da mesma forma precria.

    Minirrob vai mergulhar na gua fria

    Uma das descobertas mais importantes feitas pelos pesquisadores que estudam o Lago

    Vostok que a gua se acumula l depois que o gelo sobre o solo rochoso se derrete,

    esmagado pelo seu prprio peso. A 3 600 metros de profundidade, a presso 350 vezes

    maior do que a da atmosfera, gerando um calor suficiente para manter a temperatura em

    torno de zero grau Celsius quase 80 graus mais quente do que a cu aberto na Antrtida.

    Em alguns pontos, entretanto, o termmetro esfria e a temperatura cai um pouco abaixo

    de zero. Com isso, o lquido volta a congelar (veja infogrfico), o que acaba produzindo

    a circulao de gua. Analisando as imagens de radar, descobrimos que o lago est

    sempre trocando gua com o gelo acima dele, disse SUPER o glaciologista ingls

    Martin Siegert, da Universidade de Bristol. O processo muito lento. Leva 10 000 anos

    para encher o Vostok por completo.

    Carona microscpica

    Apesar da lentido, a descoberta soou como alerta depois de ter sido publicada, em

    fevereiro, na revista inglesa Nature. que, se a gua circula, torna-se muito fcil

    contamin-la por inteiro. Assim, o Comit Cientfico de Pesquisas da Antrtida que

    rene cientistas de 32 pases e supervisiona todas os projetos de estudo no continente

    decidiu que o lago s ser abordado depois que for comprovado um mtodo limpo, isto

    , capaz de tirar amostras l do fundo sem provocar alteraes no ambiente aqutico.

    Uma idia usar um minirrob teleguiado que mergulhe e borrife anti-spticos sua

    volta para impedir que micrbios da superfcie entrem de carona no ecossistema

    desconhecido.

    S ento ser possvel saber que mistrios, alm das bactrias letrgicas, o Lago Vostok

    abriga. Pode haver bichos ainda mais inimaginados, como algas do gelo. Ou seres

    parecidos com medusas primitivas, as diatomceas, um pouco mais do que gosmas

    vivas. Ser fascinante descobrir como a vida evoluiu e se adaptou a esse mundo inslito,

    prev o americano Jim Tiedje.

    Base russa

    Na desolada Estao Vostok, na rea russa da Antrtida, cientistas escavaram um poo

    para estudar sinais do clima preservados no gelo. Depois de furar 3 600 metros, tiveram

    uma surpresa. Descobriu-se um lago, intacto, 120 metros mais abaixo.

    Mar doce sob o gelo

  • Com 240 quilmetros de comprimento e 50 de largura, o equivalente metade da rea

    da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, o Vostok um dos quinze maiores lagos do

    mundo. Esta imagem feita por radar mostra sua rea sob o gelo. Est a 1 000

    quilmetros do Plo Sul. A cor amarela no mapa indica depresses no terreno.

    O Lago Vostok no o nico sob o cobertor frgido da Antrtida. Imagens feitas por

    radar mostram que h mais sessenta ou oitenta cavidades lquidas no continente. Apesar

    de serem bem menores, tambm podem abrigar seres minsculos.

    1. A presso aqui embaixo 350 vezes maior que a da atmosfera. Ela espreme o gelo e

    o aquece de 80 graus Celsius negativos at um pouco acima de zero grau.

    2. Nesta margem, no lado sul do lago, o calor gerado pela alta presso derrete o gelo.

    Por a a gua entra. Ela demora at 10 000 anos para encher a cavidade inteira.

    3. No fundo do Vostok h lama e detritos orgnicos. Os cientistas acreditam que

    podero encontrar aqui seres nunca vistos.

  • 4. Uma parte do lquido permanece no Vostok at meio milho de anos. Aqui, com o

    termmetro pouco abaixo de zero grau, a gua que encosta no gelo volta a enrijecer,

    formando esta placa.

    5. Como a crosta de gelo da Antrtida escorrega sempre na direo do mar, o

    movimento arrasta com ele a gua recongelada.

    Sonda profunda

    No fim do tnel, as camadas de gelo tem 400 000 anos de idade. Sob presso do gelo, o

    buraco tende a se fechar. S continua aberto porque recebeu uma injeo de 60

    toneladas de querosene. A composio molecular do lquido resiste ao esmagamento.

    Seres gelados

    Bactrias desconhecidas foram achadas nesta parte da placa, de gua recongelada. Sua

    populao chega a 1 000 exemplares por litro de gelo derretido. Em 1 litro d'gua da

    superfcie h 1 bilho de exemplares. Parecem um chumao de algodo.

    Fonte:

    http://super.abril.com.br/superarquivo/2000/conteudo_118464.shtml

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