Editorial A Nau Espadarte de 1558 - macua.blogs.com · Quando dobrava o Cabo da Boa Esperança,...

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Caro leitor, É para mim um enorme prazer escrever este editorial numa ocasião tão especial em que tantas datas estão a ser comemoradas. Há dez anos a Arqueonautas Worldwide SA (visite www.arq.de) e a Património Internacional SARL receberam do Ministério da Educação e Cultura do Governo de Moçambique a primeira licença para exploração subaquática, a qual lhes permitiu iniciar o seu projecto de proteger a herança cultural subaquática nacional na Ilha de Moçambique e na Província de Nampula. O resultado do nosso trabalho está publicado na última página deste boletim. Há três anos foi inaugurado o Centro de Conservação Marítima e desde então 24 mil moedas de prata e aproximadamente 1000 artefactos foram conservados e documentados (visite www.arq-publications.com). Há um ano saiu a primeira edição deste Boletim A Ilha e estamos agora orgulhosos desta edição especial de 8 páginas. Este esforço é concomitante com a reabertura do Museu da Marinha implementado em 1972. Os mais importantes objectos por nós recuperados do mar ficam a partir de agora em exibição permanente no Museu da Marinha e provêm dos navios portugueses Espadarte, de 1558, do N.ª Sr.ª da Consolação, de 1608, e do São José, de 1622. Estes três naufrágios foram parcialmente pilhados e em risco de se perderem para sempre, como aconteceu com o San Bento, de 1642, o N.ª Sr.ª da Guia, de 1721, o Bredenhof, de 1753, o N.ª Sr.ª Madre Deus e o S. José, de 1721, e tantos outros aos quais se chegou infelizmente demasiado tarde. Ainda muito há a fazer. E com o apoio da linha de moda da Arqueonautas (www.arq.de) pretendemos continuar a sensibilizar, a ensinar know-how através de formação especializada e a continuar a aumentar a colecção do museu da Ilha. Estamos certos de que os efeitos destas sinergias irão trazer benefícios para a Ilha de Moçambique e que o turismo de qualidade será atraído para este local maravilhoso com a reabertura do museu e com o projecto de realização de mergulhos aos sítios dos naufrágios que já foram explorados arqueologicamente. Para concluir, gostaríamos de agradecer o crédito e a cooperação que a população da Ilha de Moçambique deu ao nosso projecto. Igualmente gratos aos muitos amigos que fomos construindo ao longo dos anos na Ilha e em Nampula, e que entusiasticamente nos ajudaram e apoiaram também nos momentos difíceis. E aos incansáveis esforços do General Jacinto Veloso e da Património Internacional, bem como à equipa da Arqueonautas liderada pelo chefe de operações Faure Cambiella e administrada por Alina Reyes, aquele abraço fraterno. Nikolaus Graf Sandizell (Presidente do Conselho de Administração Arqueonautas Worldwide SA) Editorial A História também tem coincidências e esta será uma dessas. A Nau Espadarte afundou-se exactamente no mesmo dia do ano em que, 443 anos depois, viria a ser descoberta. Acaso da História ou prenúncio de que algo maior estaria prestes a acontecer? 1497. Vasco da Gama parte para a descoberta do caminho marítimo para a Índia, e muda, para sempre, o mapa do mundo. 1498. Chega à Ilha de Moçambique e “uma nova era da História do Oceano Índico começava”. O tráfico comercial entre o Oriente e Ocidente intensifica-se, a Ilha de Moçambique ganha singular importância e torna-se indispensável para as naus portuguesas. Durante o século XVI é escala obrigatória e passa a ser uma das mais importantes bases do império português no Oriente, ao lado de Goa, Malaca e Macau. Aqui se fazia a aguada, se reparavam e carregavam os navios. Em 1545, a Coroa decide fortificar a Ilha e é erguida uma obra monumental, a Fortaleza de São Sebastião. É neste ambiente fervilhante que se dá a partida para a Índia da nau portuguesa Espadarte, no ano de 1554. Carregada de especiarias e de porcelana chinesa, regressa à metrópole em 1558, viagem que nunca chegaria ao porto de destino. Quando dobrava o Cabo da Boa Esperança, parte o mastro e tem de regressar à Ilha. Acaba encalhada nas rochas de coral em frente da capela da Nossa Senhora do Baluarte. “Sentimos uma profunda satisfação, um enorme prazer! Nesse momento acaba um longo e complexo trabalho de detective e com final feliz!”, conta Nikolaus Sandizell, administrador da Arqueonautas (AWW), a empresa de arqueologia subaquática responsável pela descoberta e recuperação da nau. “É um momento emocionante, é aquela notícia por que esperamos há muito tempo!” Até ao momento, o trabalho “de detective” é longo e não isento de dificuldades. Na Ilha, alguns locais começam por vender aos turistas porcelana de delicada beleza e rara qualidade. A pergunta surge rápida: de onde vêm estas peças? E impõe-se com urgência recuperar cientificamente estes achados ou tudo acaba no mercado da Ilha, perdendo-se para sempre parte da herança cultural de Moçambique e da Humanidade. Depois de uma cuidada investigação, a equipa da Arqueonautas descobre onde as peças foram encontradas e recuperadas. Entre as pedras de balastro, as missangas foram as primeiras a aparecer e logo de seguida sacos ainda com a forma das especiarias provenientes das Molucas. O mais inesperado achado foram alguns lingotes e fragmentos de ouro, mas o mais espectacular ainda estava para vir: 2000 peças de porcelana Ming parcialmente intactas e outras fragmentadas! É um momento de orgulho e de contentamento, que à Boletim Nº 4 - Agosto 2009 A Nau Espadarte de 1558

Transcript of Editorial A Nau Espadarte de 1558 - macua.blogs.com · Quando dobrava o Cabo da Boa Esperança,...

Caro leitor,

É para mim um enorme prazer escrever este editorial numa ocasião tão especial em que tantas datas estão a ser comemoradas. Há dez anos a Arqueonautas Worldwide SA (visite www.arq.de) e a Património Internacional SARL receberam do Ministério da Educação e Cultura do Governo de Moçambique a primeira licença para exploração subaquática, a qual lhes permitiu iniciar o seu projecto de proteger a herança cultural subaquática nacional na Ilha de Moçambique e na Província de Nampula.

O resultado do nosso trabalho está publicado na última página deste boletim. Há três anos foi inaugurado o Centro de Conservação Marítima e desde então 24 mil moedas de prata e aproximadamente 1000 artefactos foram conservados e documentados (visite www.arq-publications.com). Há um ano saiu a primeira edição deste Boletim A Ilha e estamos agora orgulhosos desta edição especial de 8 páginas. Este esforço é concomitante com a reabertura do Museu da Marinha implementado em 1972.

Os mais importantes objectos por nós recuperados do mar ficam a partir de agora em exibição permanente no Museu da Marinha e provêm dos navios portugueses Espadarte, de 1558, do N.ª Sr.ª da Consolação, de 1608, e do São José, de 1622. Estes três naufrágios foram parcialmente pilhados e em risco de se perderem para sempre, como aconteceu com o San Bento, de 1642, o N.ª Sr.ª da Guia, de 1721, o Bredenhof, de 1753, o N.ª Sr.ª Madre Deus e o S. José, de 1721, e tantos outros aos quais se chegou infelizmente demasiado tarde.

Ainda muito há a fazer. E com o apoio da linha de moda da Arqueonautas (www.arq.de) pretendemos continuar a sensibilizar, a ensinar know-how através de formação especializada e a continuar a aumentar a colecção do museu da Ilha.

Estamos certos de que os efeitos destas sinergias irão trazer benefícios para a Ilha de Moçambique e que o turismo de qualidade será atraído para este local maravilhoso com a reabertura do museu e com o projecto de realização de mergulhos aos sítios dos naufrágios que já foram explorados arqueologicamente.

Para concluir, gostaríamos de agradecer o crédito e a cooperação que a população da Ilha de Moçambique deu ao nosso projecto. Igualmente gratos aos muitos amigos que fomos construindo ao longo dos anos na Ilha e em Nampula, e que entusiasticamente nos ajudaram e apoiaram também nos momentos difíceis. E aos incansáveis esforços do General Jacinto Veloso e da Património Internacional, bem como à equipa da Arqueonautas liderada pelo chefe de operações Faure Cambiella e administrada por Alina Reyes, aquele abraço fraterno.

Nikolaus Graf Sandizell (Presidente do Conselho de Administração Arqueonautas Worldwide SA)

Editorial

A História também tem coincidências e esta será uma dessas.

A Nau Espadarte afundou-se exactamente no mesmo dia do ano em que, 443 anos depois, viria a ser descoberta. Acaso da História ou prenúncio de que algo maior estaria prestes a acontecer?

1497. Vasco da Gama parte para a descoberta do caminho marítimo para a Índia, e muda, para sempre, o mapa do mundo.

1498. Chega à Ilha de Moçambique e “uma nova era da História do Oceano Índico começava”. O tráfico comercial entre o Oriente e Ocidente intensifica-se, a Ilha de Moçambique ganha singular importância e torna-se indispensável para as naus portuguesas. Durante o século XVI é escala obrigatória e passa a ser uma das mais importantes bases do império português no Oriente, ao lado de Goa, Malaca e Macau. Aqui se fazia a aguada, se reparavam e carregavam os navios. Em 1545, a Coroa decide fortificar a Ilha e é erguida uma obra monumental, a Fortaleza de São Sebastião.

É neste ambiente fervilhante que se dá a partida para a Índia da nau portuguesa Espadarte, no ano de 1554. Carregada de especiarias e de porcelana chinesa, regressa à metrópole em 1558, viagem que nunca chegaria ao porto de destino. Quando dobrava o Cabo da Boa Esperança, parte o mastro e tem de regressar à Ilha. Acaba encalhada nas rochas de coral em frente da capela da Nossa Senhora do Baluarte.

“Sentimos uma profunda satisfação, um enorme prazer! Nesse momento acaba um longo e complexo trabalho de detective e com final feliz!”, conta Nikolaus Sandizell, administrador da Arqueonautas (AWW), a empresa de arqueologia subaquática responsável pela descoberta e recuperação da nau. “É um momento emocionante, é aquela notícia por que esperamos há muito tempo!”

Até ao momento, o trabalho “de detective” é longo e não isento de dificuldades.

Na Ilha, alguns locais começam por vender aos turistas porcelana de delicada beleza e rara qualidade. A pergunta surge rápida: de onde vêm estas peças?

E impõe-se com urgência recuperar cientificamente estes achados ou tudo acaba no mercado da Ilha, perdendo-se para sempre parte da herança cultural de Moçambique e da Humanidade.

Depois de uma cuidada investigação, a equipa da Arqueonautas descobre onde as peças foram encontradas e recuperadas. Entre as pedras de balastro, as missangas foram as primeiras a aparecer e logo de seguida sacos ainda com a forma das especiarias provenientes das Molucas. O mais inesperado achado foram alguns lingotes e fragmentos de ouro, mas o mais espectacular ainda estava para vir: 2000 peças de porcelana Ming parcialmente intactas e outras fragmentadas!

É um momento de orgulho e de contentamento, que dá à

Boletim Nº 4 - Agosto 2009

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A Ilha - Boletim Nº 4 - Agosto 2009

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equipa da Arqueonautas razões para continuar no seu propósito de recuperar a herança subaquática mundial. De facto, até este “final

feliz”, muito trabalho fora feito. “Começa-se a pesquisa nos arquivos históricos; de seguida pesquisamos as zonas mais prováveis dos naufrágios e depois faz-se o reconhecimento aos sítios arqueoló-gicos de forma a identificar os naufrágios e a avaliar a sua importância cultural, histórica e comercial. Só então se decide com a Património Internacional, a nossa sócia em Moçambique, e as autoridades governamentais sobre a necessidade e viabil idade da recuperação do navio em causa, para

pessoas não entendem que a protecção in situ não funciona num país como Moçambique que não tem capacidade para proteger a imensa costa de 2600 kilómetros com a actual marinha e guarda costeira. Os naufrágios são todos os dias pilhados e todos os dias se perde para sempre herança cultural marítima. Os mesmos obstáculos acontecem quando chega o momento da comercialização das peças. Todos os objectos únicos e o melhor exemplar de artefactos repetidos ficam no país! Neste naufrágio significou 70% da mercadoria. Só são comercializáveis os que não são classificados como herança cultural marítima e é com esta venda que pagamos as muito dispendiosas intervenções subaquáticas. O dogma de que nada deve ser vendido conjugado com a protecção in situ só leva a uma muito maior perda porque não se evitam os roubos. E Moçambique perde o seu património cultural para sempre”.

Quanto ao Espadarte, o que estava por baixo das pesadas pedras de balastro escapou às maõs dos caçadores ilegais. Os objectos recuperados levaram, então, todo o tratamento científico-arqueológico necessário.

Leonor Veiga foi a curadora responsável pelo projecto desta exposição que abre agora ao público. “A ideia surgiu em 2006, quando se começaram os trabalhos para a musealização da sala em que ficaria a colecção de porcelana Ming. A cada sala, atribuí um tema específico. Como um barco: elementos, formas, armas, instrumentos, bens transportados. Aqui temos a questão de que estes bens foram recuperados e em termos de musealização isso é muito importante, incluiu-se esta questão da conservação na exposição”.

O empreiteiro responsável foi, numa primeira fase, Zainal Abdul Zatar e neste final Saribuna Incupato, conhecido na Ilha por Santana. Para a concretização desta obra foi necessário o apoio e o trabalho da equipa da Arqueonautas, que dedicou imensos esforços para ver o trabalho de dez anos finalmente exposto aos olhos de todos. Leonor conta que nem sempre foi fácil finalizar esta intervenção mas o resultado é compensador.

evitar pilhagens ou destruição do importante sítio arqueológico. Se decidirmos avançar, então procede-se à inventariação e conservação de todos os artefactos recuperados do naufrágio e à documentação minuciosa da estrutura de madeira que resta. O último passo é a publicação do relatório científico e arqueológico do projecto”, esclarece Niki Sandizell. “Um longo trabalho que pode durar anos. Neste caso, valeu a pena. O que foi encontrado foram peças da famosa dinastia Ming do período Jiajing, que durou de 1522 a 1566”. O General Jacinto Veloso, Presidente da Património Internacional, SARL (PI), sócia da AWW em Moçambique, explica que este achado “significa mais um marco que valoriza a Ilha como património universal da humanidade, encruzilhada de civilizações, Norte/Sul, Oriente e Europa”. Niki Sandizell não podia concordar mais: “A colecção de porcelana Ming da nau Espadarte é possivelmente uma das mais interessantes exposições de porcelana chinesa do início do século XVI em África”. Com a abertura desta exposição ao público, Moçambique e a Ilha voltam a figurar no mapa-mundo pela sua localização estratégica e histórica. “Coloca Moçambique nas mais importantes rotas turísticas mundiais, associando o mar e a floresta, a flora e fauna bravia e a história passada e a presente”, afirma Jacinto Veloso. Uma riqueza única.O que agora fica exposto aos olhos de todos os moçambicanos, aos habitantes da Ilha e aos turistas que visitam todos os anos este magnífico sítio é algo especial. “O diferente é o facto de, pela primeira vez, se apresentar ao público achados arqueológicos subaquáticos, vestígios concretos da História dos séculos XVI e XVII que bem ilustram as guerras entre os europeus e os povos de África e Ásia pelo controle das riquezas e do comércio lucrativo da época”, explica Jacinto Veloso. O que faz deste Museu um local de visita obrigatória para quem visite a Ilha e do Director Silvério Nawaito um anfitrião com razões para se orgulhar.

Mas não foi tarefa fácil.

“Há muita incompreensão quanto ao nosso projecto. As

3

“Tem um conceito. É a marca que deixo: o conceito, o percurso, a informação nas paredes, que era inexistente, e uma brochura para levar para casa”.

Em casa ficam estes artefactos únicos e de beleza singular para fascinar os olhos de todos, moçambicanos e estrangeiros, que visitem o Museu da Marinha da Ilha de Moçambique. “Assim se percebe o efeito positivo da protecção da herança cultural marítima nacional e os museus de Moçambique enriquecem tornando-se mais atractivos aos turistas e engrandecendo o património do país”, explica Niki Sandizell.

Jacinto Veloso acrescenta: “Os objectos expostos, já recuperados e reconstituídos os contextos em que foram encontrados, representam o culminar de um paciente e prolongado trabalho científico levado a cabo por todos os que participaram no sucesso de todo o processo até aos resultados expostos ao público”.

A boa notícia é que ainda há muito trabalho para completar os museus em Moçambique. O desafio é conseguir ser mais rápido do que os caçadores ilegais e salvar o recuperável. “Nove em cada dez naufrágios ou foram recuperados na altura do acidente ou foram pilhados recentemente”, explica Niki Sandizell.

Para tanto é necessário continuar o trabalho começado pela AWW e PI em Moçambique. Niki Sandizell adverte que é necessário “mais interesse e desejo de colaborar por parte das universidades e escolas locais e um esforço do Governo para permitir uma troca de know-how nas disciplinas de reconhecimento, escavação, conservação e documentação. Só ensinando entidades locais se poderá proteger a herança cultural maritima de forma duradoura e eficiente”.

O General Jacinto Veloso apela à mesma ideia. “Desejo que se desenvolva a arqueologia subaquática envolvendo cada vez mais cidadãos moçambicanos em todas as disciplinas utilizadas e que a ilha venha a ser centro nacional da arqueologia subaquática, como ciência e formação do pessoal a todos os níveis”. Em nome do futuro.

Filipa Veiga

Entrevista ao Presidente da Associação dos Amigos da Ilha de

Moçambique (AAIM), Sr. Prof. DOMINGOS ANTÓNIO

ZACARIAS 1. O que pensa que representa esta exposição para a Ilha de

Moçambique?A AAIM acredita que a exposição de porcelana Ming, patente a

partir de agora no Museu da Marinha, reforça a prova histórica

de diversos acontecimentos ocorridos ao largo da Ilha de

Moçambique nos tempos da colonização, e, mais precisamente,

os naufrágios das rotas comerciais que aqui aconteceram. 2. O que traz para a população? E para os turistas que a visitam?Para a população traz muita alegria. Para os turistas é uma mais-valia porque explica e recorda o que a Ilha e outros povos passaram em tempos idos.

3. O que espera para o futuro da arqueologia subaquática nesta zona?Esperamos que a Arqueologia esteja presente no futuro da Ilha de Moçambique e que seja uma aposta para pôr em prática outras ramificações. Agradeço a oportunidade e quero salientar a humildade, responsabilidade e sigilo profissional da equipa da Arqueonautas e Património Internacional em serviço. O apoio que tem prestado noutras áreas em muito tem contribuído para o bem da Ilha de Moçambique. Muito obrigado,O Presidente da AAIM (Associação dos Amigos da Ilha de Moçambique)Prof. Domingos António Zacarias.

(cont. pág.2)

A Ilha - Boletim Nº 4 Agosto 2009-

Prof. Domingos António Zacarias

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A Ilha - Boletim Nº 4 - Agosto 2009

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equipa da Arqueonautas razões para continuar no seu propósito de recuperar a herança subaquática mundial. De facto, até este “final

feliz”, muito trabalho fora feito. “Começa-se a pesquisa nos arquivos históricos; de seguida pesquisamos as zonas mais prováveis dos naufrágios e depois faz-se o reconhecimento aos sítios arqueoló-gicos de forma a identificar os naufrágios e a avaliar a sua importância cultural, histórica e comercial. Só então se decide com a Património Internacional, a nossa sócia em Moçambique, e as autoridades governamentais sobre a necessidade e viabil idade da recuperação do navio em causa, para

pessoas não entendem que a protecção in situ não funciona num país como Moçambique que não tem capacidade para proteger a imensa costa de 2600 kilómetros com a actual marinha e guarda costeira. Os naufrágios são todos os dias pilhados e todos os dias se perde para sempre herança cultural marítima. Os mesmos obstáculos acontecem quando chega o momento da comercialização das peças. Todos os objectos únicos e o melhor exemplar de artefactos repetidos ficam no país! Neste naufrágio significou 70% da mercadoria. Só são comercializáveis os que não são classificados como herança cultural marítima e é com esta venda que pagamos as muito dispendiosas intervenções subaquáticas. O dogma de que nada deve ser vendido conjugado com a protecção in situ só leva a uma muito maior perda porque não se evitam os roubos. E Moçambique perde o seu património cultural para sempre”.

Quanto ao Espadarte, o que estava por baixo das pesadas pedras de balastro escapou às maõs dos caçadores ilegais. Os objectos recuperados levaram, então, todo o tratamento científico-arqueológico necessário.

Leonor Veiga foi a curadora responsável pelo projecto desta exposição que abre agora ao público. “A ideia surgiu em 2006, quando se começaram os trabalhos para a musealização da sala em que ficaria a colecção de porcelana Ming. A cada sala, atribuí um tema específico. Como um barco: elementos, formas, armas, instrumentos, bens transportados. Aqui temos a questão de que estes bens foram recuperados e em termos de musealização isso é muito importante, incluiu-se esta questão da conservação na exposição”.

O empreiteiro responsável foi, numa primeira fase, Zainal Abdul Zatar e neste final Saribuna Incupato, conhecido na Ilha por Santana. Para a concretização desta obra foi necessário o apoio e o trabalho da equipa da Arqueonautas, que dedicou imensos esforços para ver o trabalho de dez anos finalmente exposto aos olhos de todos. Leonor conta que nem sempre foi fácil finalizar esta intervenção mas o resultado é compensador.

evitar pilhagens ou destruição do importante sítio arqueológico. Se decidirmos avançar, então procede-se à inventariação e conservação de todos os artefactos recuperados do naufrágio e à documentação minuciosa da estrutura de madeira que resta. O último passo é a publicação do relatório científico e arqueológico do projecto”, esclarece Niki Sandizell. “Um longo trabalho que pode durar anos. Neste caso, valeu a pena. O que foi encontrado foram peças da famosa dinastia Ming do período Jiajing, que durou de 1522 a 1566”. O General Jacinto Veloso, Presidente da Património Internacional, SARL (PI), sócia da AWW em Moçambique, explica que este achado “significa mais um marco que valoriza a Ilha como património universal da humanidade, encruzilhada de civilizações, Norte/Sul, Oriente e Europa”. Niki Sandizell não podia concordar mais: “A colecção de porcelana Ming da nau Espadarte é possivelmente uma das mais interessantes exposições de porcelana chinesa do início do século XVI em África”. Com a abertura desta exposição ao público, Moçambique e a Ilha voltam a figurar no mapa-mundo pela sua localização estratégica e histórica. “Coloca Moçambique nas mais importantes rotas turísticas mundiais, associando o mar e a floresta, a flora e fauna bravia e a história passada e a presente”, afirma Jacinto Veloso. Uma riqueza única.O que agora fica exposto aos olhos de todos os moçambicanos, aos habitantes da Ilha e aos turistas que visitam todos os anos este magnífico sítio é algo especial. “O diferente é o facto de, pela primeira vez, se apresentar ao público achados arqueológicos subaquáticos, vestígios concretos da História dos séculos XVI e XVII que bem ilustram as guerras entre os europeus e os povos de África e Ásia pelo controle das riquezas e do comércio lucrativo da época”, explica Jacinto Veloso. O que faz deste Museu um local de visita obrigatória para quem visite a Ilha e do Director Silvério Nawaito um anfitrião com razões para se orgulhar.

Mas não foi tarefa fácil.

“Há muita incompreensão quanto ao nosso projecto. As

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“Tem um conceito. É a marca que deixo: o conceito, o percurso, a informação nas paredes, que era inexistente, e uma brochura para levar para casa”.

Em casa ficam estes artefactos únicos e de beleza singular para fascinar os olhos de todos, moçambicanos e estrangeiros, que visitem o Museu da Marinha da Ilha de Moçambique. “Assim se percebe o efeito positivo da protecção da herança cultural marítima nacional e os museus de Moçambique enriquecem tornando-se mais atractivos aos turistas e engrandecendo o património do país”, explica Niki Sandizell.

Jacinto Veloso acrescenta: “Os objectos expostos, já recuperados e reconstituídos os contextos em que foram encontrados, representam o culminar de um paciente e prolongado trabalho científico levado a cabo por todos os que participaram no sucesso de todo o processo até aos resultados expostos ao público”.

A boa notícia é que ainda há muito trabalho para completar os museus em Moçambique. O desafio é conseguir ser mais rápido do que os caçadores ilegais e salvar o recuperável. “Nove em cada dez naufrágios ou foram recuperados na altura do acidente ou foram pilhados recentemente”, explica Niki Sandizell.

Para tanto é necessário continuar o trabalho começado pela AWW e PI em Moçambique. Niki Sandizell adverte que é necessário “mais interesse e desejo de colaborar por parte das universidades e escolas locais e um esforço do Governo para permitir uma troca de know-how nas disciplinas de reconhecimento, escavação, conservação e documentação. Só ensinando entidades locais se poderá proteger a herança cultural maritima de forma duradoura e eficiente”.

O General Jacinto Veloso apela à mesma ideia. “Desejo que se desenvolva a arqueologia subaquática envolvendo cada vez mais cidadãos moçambicanos em todas as disciplinas utilizadas e que a ilha venha a ser centro nacional da arqueologia subaquática, como ciência e formação do pessoal a todos os níveis”. Em nome do futuro.

Filipa Veiga

Entrevista ao Presidente da Associação dos Amigos da Ilha de

Moçambique (AAIM), Sr. Prof. DOMINGOS ANTÓNIO

ZACARIAS 1. O que pensa que representa esta exposição para a Ilha de

Moçambique?A AAIM acredita que a exposição de porcelana Ming, patente a

partir de agora no Museu da Marinha, reforça a prova histórica

de diversos acontecimentos ocorridos ao largo da Ilha de

Moçambique nos tempos da colonização, e, mais precisamente,

os naufrágios das rotas comerciais que aqui aconteceram. 2. O que traz para a população? E para os turistas que a visitam?Para a população traz muita alegria. Para os turistas é uma mais-valia porque explica e recorda o que a Ilha e outros povos passaram em tempos idos.

3. O que espera para o futuro da arqueologia subaquática nesta zona?Esperamos que a Arqueologia esteja presente no futuro da Ilha de Moçambique e que seja uma aposta para pôr em prática outras ramificações. Agradeço a oportunidade e quero salientar a humildade, responsabilidade e sigilo profissional da equipa da Arqueonautas e Património Internacional em serviço. O apoio que tem prestado noutras áreas em muito tem contribuído para o bem da Ilha de Moçambique. Muito obrigado,O Presidente da AAIM (Associação dos Amigos da Ilha de Moçambique)Prof. Domingos António Zacarias.

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A Ilha - Boletim Nº 4 Agosto 2009-

Prof. Domingos António Zacarias

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Com Nikolaus Sandizell como CEO, o ponto de interesse são

os navios com interesse histórico e cultural e de valor

comercial, de forma a poder financiar o seu propósito maior. A

AWW tem como objectivo, há mais de 10 anos, a carreira

marítima portuguesa com vista a encontrar, explorar e

recuperar arqueologicamente naufrágios. Depois de Cabo-

Verde, desenvolve operações em Moçambique desde 1999.

Desde essa data, as duas empresas, em parceria, perseguem

o seu propósito de preservar a herança nacional marítima

subaquática. Juntas têm participado na realização de vários

projectos de investigação arqueológica, em redor da Ilha de

Moçambique, no âmbito de um acordo com o Ministério da

Educação e Cultura. Este acordo prevê que todas as peças

únicas e os melhores exemplares dos duplicados

permaneçam em Moçambique, ficando a PI e a AWW apenas

com os objectos não classificados como históricos e, por

conseguinte, passíveis de comercialização.

A exposição que agora se inaugura é o resultado deste

trabalho conjunto: peças únicas de porcelana chinesa e

alguns objectos e moedas em ouro e prata que se encontram

depositados no Museu da Marinha.

Em Moçambique foram documentados até ao momento 35

naufrágios, dos quais 3 foram já recuperados.

Criada em 1997, a Património Internacional SARL (PI) nasce

com um propósito - a arqueologia subaquática - e uma

vocação - recuperar e consequentemente preservar objectos

do passado.

O fundador e Presidente do Conselho de Administração em

exercício é o General Jacinto Veloso, personalidade

moçambicana de renome no país e no estrangeiro.

Interessado pela imagem de Moçambique, muito se tem

esforçado em divulgar o património histórico e cultural do país,

detentor de uma riqueza e beleza naturais absolutamente

invulgares. Por ocasião da Expo 98, tudo fez para recuperar o

maior Galeão da “Carreira das Índias”, que naufragou em

frente do Cabo das Correntes na Província de Inhambane.

A PI é uma sociedade comercial anónima, 80% detida pelo

Estado moçambicano e 20% por privados representados pela

sociedade SS Consultores. Mesmo tendo matricialmente um

fim público, a empresa não beneficia de quaisquer subsídios

ou ajudas financeiras por parte do Estado, mas obtém do

Ministério de Educação e Cultura a autorização para

preservar em exclusivo a herança cultural marítima de

Moçambique.

A Arqueonautas Worlwide S.A. (AWW), fundada em 1995,

dedica-se a proteger a herança cultural marítima no mundo.

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Para realizar as intervenções abaixo indicadas, a Património Internacional SARL (PI) e a Arqueonautas SA (AWW) tiveram despesas no valor total de cerca de € 2.550.100, entre 2000 e finais de 2008. Este valor foi utilizado na escavação de cinco naufrágios e na descoberta e reconhecimento de outros trinta locais de naufrágios.

As duas empresas inauguraram o Centro de Conservação Marítima (CCM) da Ilha de Moçambique, projecto que incluiu a reconstrução de dois edifícios, anteriormente em ruínas, na Capitania da Ilha.

Foi também renovado o Museu da Marinha e montada uma exposição de porcelana Ming com o apoio de especialistas em museologia e em porcelana chinesa. A Casa Joaninha, onde reside desde 2000 a equipa Arqueonautas durante a época das operações, está hoje praticamente recuperada pelas sucessivas obras a que tem sido sujeita.

As receitas, que pagaram parte destas significativas despesas, provieram dos seguintes projectos comerciais:

Receitas e despesas das operações de arqueologia marítima realizadas em Moçambique entre 2000 e 2009

Em resumo:

Para a PI/AWW:

€ 2.550.100 Despesas em operações entre 2000 e 2008

€ 1.398.820 Receitas da venda dos artefactos

€ 1.151,280 Perdas para a AWW/PI até ao momento

Para a Ilha de Moçambique:

€ 1.025.920 Valor dos artefactos para a Ilha de Moçambique

Este resumo demonstra que a AWW e a PI contam actualmente com um prejuízo superior a € 1.000.000 (aprox. 1,400,000 dólares americanos).

Se juntarmos os artefactos ainda por classificar e para dividir entre as empresas e o Governo, conclui-se que o projecto atingiu praticamente, neste momento, o ponto de equilíbrio, o que prova que é um projecto comercialmente viável e que a arqueologia subaquática e a consequente protecção da herança cultural de Moçambique é auto-sustentável.

O valor estimado dos artefactos ainda por classificar e parcialmente exibidos na Ilha de Moçambique é o seguinte:

A Ilha - Boletim Nº 4 - Agosto 2009 A Ilha - Boletim Nº 4 Agosto 2009-

MV Indian Ocean Explorer (Navio de Recuperação)

Património Internacional SARL é Arqueonautas Worldwide SA

- 279 objectos e fragmentos de cerâmica e pepitas de ouro do naufrágio IDM-002

€ 171.560

- 6,007 kg de chumbo do naufrágio IDM-003 vendidos como Low Alpha Lead

€ 87.250

- 11.400 moedas provenientes do naufrágio MOG-003

€ 1.140.000

Total Receitas € 1.398.820

- 1.301 objectos e fragmentos de cerâmica e pepitas de ouro provenientes do naufrágio IDM-002

€ 211.670

- 1 torniquete proveniente do naufrágio IDM-002

€ 50.000

- 309 artefactos provenientes do naufrágio IDM-003

€ 48.140

- 41 artefactos provenientes do naufrágio MOG-001

€ 9.170

- 12.000 moedas provenientes do naufrágio MOG-003

€ 240.000

- 600 moedas provenientes do naufrágio MOG-003

€ 120.000

- 4 canhões de bronze provenientes do naufrágio MOG-003

€ 300.000

- 601 artefactos provenientes do naufrágio IDM-010

€ 46.940

Total para a Ilha de Moçambique € 1.025.920

4

Com Nikolaus Sandizell como CEO, o ponto de interesse são

os navios com interesse histórico e cultural e de valor

comercial, de forma a poder financiar o seu propósito maior. A

AWW tem como objectivo, há mais de 10 anos, a carreira

marítima portuguesa com vista a encontrar, explorar e

recuperar arqueologicamente naufrágios. Depois de Cabo-

Verde, desenvolve operações em Moçambique desde 1999.

Desde essa data, as duas empresas, em parceria, perseguem

o seu propósito de preservar a herança nacional marítima

subaquática. Juntas têm participado na realização de vários

projectos de investigação arqueológica, em redor da Ilha de

Moçambique, no âmbito de um acordo com o Ministério da

Educação e Cultura. Este acordo prevê que todas as peças

únicas e os melhores exemplares dos duplicados

permaneçam em Moçambique, ficando a PI e a AWW apenas

com os objectos não classificados como históricos e, por

conseguinte, passíveis de comercialização.

A exposição que agora se inaugura é o resultado deste

trabalho conjunto: peças únicas de porcelana chinesa e

alguns objectos e moedas em ouro e prata que se encontram

depositados no Museu da Marinha.

Em Moçambique foram documentados até ao momento 35

naufrágios, dos quais 3 foram já recuperados.

Criada em 1997, a Património Internacional SARL (PI) nasce

com um propósito - a arqueologia subaquática - e uma

vocação - recuperar e consequentemente preservar objectos

do passado.

O fundador e Presidente do Conselho de Administração em

exercício é o General Jacinto Veloso, personalidade

moçambicana de renome no país e no estrangeiro.

Interessado pela imagem de Moçambique, muito se tem

esforçado em divulgar o património histórico e cultural do país,

detentor de uma riqueza e beleza naturais absolutamente

invulgares. Por ocasião da Expo 98, tudo fez para recuperar o

maior Galeão da “Carreira das Índias”, que naufragou em

frente do Cabo das Correntes na Província de Inhambane.

A PI é uma sociedade comercial anónima, 80% detida pelo

Estado moçambicano e 20% por privados representados pela

sociedade SS Consultores. Mesmo tendo matricialmente um

fim público, a empresa não beneficia de quaisquer subsídios

ou ajudas financeiras por parte do Estado, mas obtém do

Ministério de Educação e Cultura a autorização para

preservar em exclusivo a herança cultural marítima de

Moçambique.

A Arqueonautas Worlwide S.A. (AWW), fundada em 1995,

dedica-se a proteger a herança cultural marítima no mundo.

5

Para realizar as intervenções abaixo indicadas, a Património Internacional SARL (PI) e a Arqueonautas SA (AWW) tiveram despesas no valor total de cerca de € 2.550.100, entre 2000 e finais de 2008. Este valor foi utilizado na escavação de cinco naufrágios e na descoberta e reconhecimento de outros trinta locais de naufrágios.

As duas empresas inauguraram o Centro de Conservação Marítima (CCM) da Ilha de Moçambique, projecto que incluiu a reconstrução de dois edifícios, anteriormente em ruínas, na Capitania da Ilha.

Foi também renovado o Museu da Marinha e montada uma exposição de porcelana Ming com o apoio de especialistas em museologia e em porcelana chinesa. A Casa Joaninha, onde reside desde 2000 a equipa Arqueonautas durante a época das operações, está hoje praticamente recuperada pelas sucessivas obras a que tem sido sujeita.

As receitas, que pagaram parte destas significativas despesas, provieram dos seguintes projectos comerciais:

Receitas e despesas das operações de arqueologia marítima realizadas em Moçambique entre 2000 e 2009

Em resumo:

Para a PI/AWW:

€ 2.550.100 Despesas em operações entre 2000 e 2008

€ 1.398.820 Receitas da venda dos artefactos

€ 1.151,280 Perdas para a AWW/PI até ao momento

Para a Ilha de Moçambique:

€ 1.025.920 Valor dos artefactos para a Ilha de Moçambique

Este resumo demonstra que a AWW e a PI contam actualmente com um prejuízo superior a € 1.000.000 (aprox. 1,400,000 dólares americanos).

Se juntarmos os artefactos ainda por classificar e para dividir entre as empresas e o Governo, conclui-se que o projecto atingiu praticamente, neste momento, o ponto de equilíbrio, o que prova que é um projecto comercialmente viável e que a arqueologia subaquática e a consequente protecção da herança cultural de Moçambique é auto-sustentável.

O valor estimado dos artefactos ainda por classificar e parcialmente exibidos na Ilha de Moçambique é o seguinte:

A Ilha - Boletim Nº 4 - Agosto 2009 A Ilha - Boletim Nº 4 Agosto 2009-

MV Indian Ocean Explorer (Navio de Recuperação)

Património Internacional SARL é Arqueonautas Worldwide SA

- 279 objectos e fragmentos de cerâmica e pepitas de ouro do naufrágio IDM-002

€ 171.560

- 6,007 kg de chumbo do naufrágio IDM-003 vendidos como Low Alpha Lead

€ 87.250

- 11.400 moedas provenientes do naufrágio MOG-003

€ 1.140.000

Total Receitas € 1.398.820

- 1.301 objectos e fragmentos de cerâmica e pepitas de ouro provenientes do naufrágio IDM-002

€ 211.670

- 1 torniquete proveniente do naufrágio IDM-002

€ 50.000

- 309 artefactos provenientes do naufrágio IDM-003

€ 48.140

- 41 artefactos provenientes do naufrágio MOG-001

€ 9.170

- 12.000 moedas provenientes do naufrágio MOG-003

€ 240.000

- 600 moedas provenientes do naufrágio MOG-003

€ 120.000

- 4 canhões de bronze provenientes do naufrágio MOG-003

€ 300.000

- 601 artefactos provenientes do naufrágio IDM-010

€ 46.940

Total para a Ilha de Moçambique € 1.025.920

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A Ilha - Boletim Nº 4 Agosto 2009-

7

o dia inteiro com essa máscara na cara. Quando se retira, a pele fica como seda. E um pedaço de pau dá para um ano e custa apenas um euro e meio!A Ilha de Moçambique é um lugar mágico que me introduziu na cultura do Índico – uma nesga de terra onde se tropeça em cacos de porcelana Ming em qualquer ponto das praias, onde missangas de vidro, velhas de quinhentos anos, dão à costa, onde a lua brilha com tanta intensidade que nos ilumina os passos, onde há gente tão interessante que ali encontra refúgio do mundo frenético. Custou-me muito deixar a ilha. Foi muito gratificante poder trabalhar num lugar que se adora. O panorama muda: água cristalina, um recife de coral, areia fina como pó e branca como só se vê em poucos lugares do mundo.Moçambique é um cadinho de cul tura afr icana, predominantemente macua, indiana e árabe. A juntar a isto, a língua portuguesa, a casa portuguesa. Tenho a certeza de que, aos poucos, a ilha vai recuperar o fascínio (que nunca perdeu) e a beleza de outros tempos. É, sem dúvida, um lugar único.

A Arqueonautas e o Museu

A primeira vez que vi os Arqueonautas em plena actividade

assisti ao transbordo de dois canhões seiscentistas de um

barco, no meio do mar, até ao Centro de Conservação Marítima.Os canhões datam de 1622, do tempo de Filipe III, rei de

Portugal, com escudo português e armaria espanhola. Um deles

foi recuperado com o bronze intacto, talvez por estar enterrado

por debaixo de um metro de areia. Este canhão pesa três

toneladas e é muito trabalhado. O segundo só pesa 2,5

toneladas. O processo de os retirar do barco e de os colocar

numa plataforma até à terra é duro, mas bonito de ver.Até então só tinha tido contacto com o trabalho da Arqueonautas

em terra. Esta proximidade com o mar deu-me ideias para expor

a colecção de porcelana Ming (que os Arqueonautas

descobriram em 2003), do reinado de Xiang-Gi, imperador

adepto do taoismo - daí a grande presença de motivos

naturalistas. A figuração é mais rara, mas existe. Algumas peças

têm qualidade imperial!Numa segunda fase, a Dr.ª Maria Antónia Pinto de Matos, uma

conceituada especialista portuguesa em porcelana chinesa, e

eu conseguimos dar uma ordem de exposição da porcelana por

motivos: dragões, grous, flores, caranguejos, louça branca.A Arqueonautas tem um projecto fantástico, de enorme

complexidade. Os investigadores pesquisam em arquivos,

exploram o mar, mergulham 20, 30 ou 40 metros ou mais para

encontrar vestígios de uma história, que, de outra forma, não se

poderá contar. No final, o museu fica mais rico e a Ilha, aos

poucos, entra de novo no mapa.O apoio mecenático da Arqueonautas Worldwide SA e da sua

parceira Património Internacional SARL foi essencial para esta

nova exposição.

No ano de 2007 trabalhei na Ilha de Moçambique. Jamais esquecerei o privilégio que me foi dado de conceptualizar a montagem do Museu de Marinha no Palácio de São Paulo. Foram trinta e cinco dias intensos, em que vivi o dia a dia da ilha como se fosse a última vez. Aquela pequena língua de terra é, sem dúvida, o local mais incrível que conheci e o que toca mais o coração.Adoro a atmosfera decadente, as ruínas à espera de uma mão amiga, a luz deficiente nas ruas realçando o luar, as crianças lindas por todo o lado, a sensação de que o tempo parou. Ali não estamos em 2009, no presente, mas no passado. Mas a Ilha de Moçambique é também sinónimo de lixo, de ruas esburacadas, de pessoas pobres, de muitas doenças. Apercebi-me de problemas difíceis de resolver e também dos sinais positivos de mudança desde que ali cheguei pela primeira vez em 2004. É pena que todo este processo demore tanto tempo; mas o que é preciso é que a Ilha de Moçambique permaneça autêntica e linda como só ela é. A parte norte da ilha continua a ser recuperada. A escola ficou impecável, os jardins cuidados e, aos poucos, novas infra-estruturas foram sendo criadas. Enquanto lá estive, surgiu uma livraria nova, uma loja de vinhos, um pequeno bar, todos com a traça característica da ilha, onde o chão das casas é de um vermelho intenso e feito de um material que me deixava as solas dos pés completamente pintadas quando andava descalça.A minha primeira morada foi na parte oriental, na casa de Yasmeen, mulher do Presidente do Concelho Municipal da Ilha, que me ensinou muitas coisas da ilha e das suas gentes. À minha frente tinha a Ilha das Cobras, ou Ilha do Farol. O lado inverso dá para o continente. Em geral, quem se estabeleceu na ilha, quem lá investiu, apostou no lado do continente, e tem diariamente um pôr do Sol lindíssimo. A Ilha de Moçambique tem um património fabuloso mas sempre em risco. A Fortaleza de São Sebastião, um magnífico baluarte que servia de defesa contra os piratas, esteve prestes a ser pintada com as cores de uma empresa de telecomunicações. Felizmente não aconteceu, porque houve quem se insurgisse e parasse o processo.Uma tarde fui com o pessoal da Arqueonautas – empresa que está a recuperar e proteger o património subaquático - tomar um refresco ao campo de jogos. Havia ali um pequeno bar, onde os rapazes jogavam à bola e as meninas aplaudiam, como em qualquer outra parte do mundo.Adoro a comida da Ilha de Moçambique, os sabores locais, como xima, uma espécie de massa feita com farinha de milho, matapa de algas e caju com molho de coco. Uma noite fui com o meu tio saborear essas iguarias. Uma delícia! O meu tio, que a início ficou apreensivo com a minha escolha, adorou a xima e a matapa! Aprendi com ele que se come tudo dos camarõezinhos de Moçambique. A casca é fininha e tem cálcio, o que é bom porque na ilha é difícil conseguir leite.Eu gosto muito de mussiro, um produto de beleza que é também um dos cartazes da ilha. Um dia, a Alina, a médica cubana, e eu pintámos a cara com mussiro. Na ilha, as mulheres passeiam-se

Trinta e cinco dias e um museuPensava eu, ingenuamente, que chegava aqui e fazia uma sala

do museu, aquela a que sempre chamei «Sala Ming». Mas a vida

trocou-me as voltas e deparei com um museu muito deteriorado,

em que era urgente intervir. «Vamos lá fazer a reorganização do

Museu de Marinha todo», dissemos nós. Foi feito e ficou lindo.Tinha estado na Ilha de Moçambique em 2006 e notado a

repetição constante de espólio: muitas âncoras, muitos canhões,

muitas lanternas. Cresceu então a ideia de fazer salas temáticas:

a sala dos canhões, a sala das âncoras. Mas era só uma

intenção. A seu tempo poderia eventualmente tornar-se uma

realidade.Dotado de vastos conhecimentos de marinha, Nikolaus

Sandizell, director-geral da Arqueonautas, escolheu os melhores

exemplares de cada tipo de âncora, de canhões, de armas de

marinheiros, de instrumentos de navegação, de bóias de vidro. A

ideia base pegou. As salas ficaram temáticas, tendo passado a

títulos mais abrangentes: Sala da Navegação, Sala das Armas…Durante a fase de reparação das paredes do Palácio de São

Paulo, o arquitecto Francisco Monteiro perguntou: «Já reparaste

na cor original das paredes deste museu? Olha com cuidado para

este azul cobalto. É a cor original das paredes do Palácio!»

Incrível!De facto, cenograficamente, o azul fazia todo o sentido, por criar

um ambiente marinho, embora fosse um risco fazer algo tão

«atrevido». Os móveis para a porcelana, para os quais

tínhamos escolhido um tom alaranjado, contrastante com o

azul da porcelana, voltaram à cor base, o branco «sujo». Que

concordância cromática: paredes azuis com porcelana azul e

branca! (*)Foi uma luta até ao último instante. Era necessário pintar,

montar, preparar montras, a parte gráfica… Por sugestão

minha, toda a informação gráfica foi feita em português, inglês

e francês, uma vez que a ilha tem sobretudo turismo cultural

oriundo das Ilhas Reunião e de Madagáscar e num museu há

que impressionar o visitante.Ainda me lembro da ida a Nampula fazer as últimas compras.

Não havia corante azul para as paredes, não havia tinta para

os móveis, não havia parafusos... Na ilha já tudo tinha

acabado! A uma semana da abertura tínhamos a obra

praticamente parada por falta de material! Eram precisos

candeeiros com focos e só havia dois candeeiros em toda a

cidade da Nampula. Lá fui engendrando maneiras de resolver

mais esse problema. O Zico ajudou-me e cedeu-me os

candeeiros dele. Depois eu comprei uns novos no Maputo e

enviei-os para a ilha!

Leonor Veiga

Designer de Equipamento pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, estudou e aprendeu a técnica do batik numa pós-graduação na Indonésia, faz pintura, tapeçaria e maquilhagem profissional e a lista dos seus interesses seria difícil de terminar.

Um dia, quando visitava o Museu do Judaísmo em Berlim, em 2003, decidiu que gostaria de trabalhar em museus. Estagiou no Museu Arqueológico do Fundão, organizou e catalogou a colecção privada de arte africana do artista Raul Indipwo, desenvolveu o projecto de curadoria do Museu de Marinha da Ilha de Moçambique, deu aulas de Têxteis Tradicionais Indonésios no Museu de Arte de Macau e no Museu do Oriente, em Lisboa, e fez pesquisa para a exposição do Barroco Internacional no Victoria & Albert Museum de Londres! Estava definida a sua área.

Leonor é hoje designer e monitora do Museu da Água de Lisboa e encontra-se no momento a fazer a dissertação de Mestrado em Estudos Curatoriais, da responsabilidade da Faculdade de Belas-Artes e da Fundação Calouste Gulbenkian.

Leonor é uma personalidade multitasking

A Ilha - Boletim Nº 4 - Agosto 2009

(cont. pág.6)

Moedas de Prata do Naufrágio San José

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A Ilha - Boletim Nº 4 Agosto 2009-

7

o dia inteiro com essa máscara na cara. Quando se retira, a pele fica como seda. E um pedaço de pau dá para um ano e custa apenas um euro e meio!A Ilha de Moçambique é um lugar mágico que me introduziu na cultura do Índico – uma nesga de terra onde se tropeça em cacos de porcelana Ming em qualquer ponto das praias, onde missangas de vidro, velhas de quinhentos anos, dão à costa, onde a lua brilha com tanta intensidade que nos ilumina os passos, onde há gente tão interessante que ali encontra refúgio do mundo frenético. Custou-me muito deixar a ilha. Foi muito gratificante poder trabalhar num lugar que se adora. O panorama muda: água cristalina, um recife de coral, areia fina como pó e branca como só se vê em poucos lugares do mundo.Moçambique é um cadinho de cul tura afr icana, predominantemente macua, indiana e árabe. A juntar a isto, a língua portuguesa, a casa portuguesa. Tenho a certeza de que, aos poucos, a ilha vai recuperar o fascínio (que nunca perdeu) e a beleza de outros tempos. É, sem dúvida, um lugar único.

A Arqueonautas e o Museu

A primeira vez que vi os Arqueonautas em plena actividade

assisti ao transbordo de dois canhões seiscentistas de um

barco, no meio do mar, até ao Centro de Conservação Marítima.Os canhões datam de 1622, do tempo de Filipe III, rei de

Portugal, com escudo português e armaria espanhola. Um deles

foi recuperado com o bronze intacto, talvez por estar enterrado

por debaixo de um metro de areia. Este canhão pesa três

toneladas e é muito trabalhado. O segundo só pesa 2,5

toneladas. O processo de os retirar do barco e de os colocar

numa plataforma até à terra é duro, mas bonito de ver.Até então só tinha tido contacto com o trabalho da Arqueonautas

em terra. Esta proximidade com o mar deu-me ideias para expor

a colecção de porcelana Ming (que os Arqueonautas

descobriram em 2003), do reinado de Xiang-Gi, imperador

adepto do taoismo - daí a grande presença de motivos

naturalistas. A figuração é mais rara, mas existe. Algumas peças

têm qualidade imperial!Numa segunda fase, a Dr.ª Maria Antónia Pinto de Matos, uma

conceituada especialista portuguesa em porcelana chinesa, e

eu conseguimos dar uma ordem de exposição da porcelana por

motivos: dragões, grous, flores, caranguejos, louça branca.A Arqueonautas tem um projecto fantástico, de enorme

complexidade. Os investigadores pesquisam em arquivos,

exploram o mar, mergulham 20, 30 ou 40 metros ou mais para

encontrar vestígios de uma história, que, de outra forma, não se

poderá contar. No final, o museu fica mais rico e a Ilha, aos

poucos, entra de novo no mapa.O apoio mecenático da Arqueonautas Worldwide SA e da sua

parceira Património Internacional SARL foi essencial para esta

nova exposição.

No ano de 2007 trabalhei na Ilha de Moçambique. Jamais esquecerei o privilégio que me foi dado de conceptualizar a montagem do Museu de Marinha no Palácio de São Paulo. Foram trinta e cinco dias intensos, em que vivi o dia a dia da ilha como se fosse a última vez. Aquela pequena língua de terra é, sem dúvida, o local mais incrível que conheci e o que toca mais o coração.Adoro a atmosfera decadente, as ruínas à espera de uma mão amiga, a luz deficiente nas ruas realçando o luar, as crianças lindas por todo o lado, a sensação de que o tempo parou. Ali não estamos em 2009, no presente, mas no passado. Mas a Ilha de Moçambique é também sinónimo de lixo, de ruas esburacadas, de pessoas pobres, de muitas doenças. Apercebi-me de problemas difíceis de resolver e também dos sinais positivos de mudança desde que ali cheguei pela primeira vez em 2004. É pena que todo este processo demore tanto tempo; mas o que é preciso é que a Ilha de Moçambique permaneça autêntica e linda como só ela é. A parte norte da ilha continua a ser recuperada. A escola ficou impecável, os jardins cuidados e, aos poucos, novas infra-estruturas foram sendo criadas. Enquanto lá estive, surgiu uma livraria nova, uma loja de vinhos, um pequeno bar, todos com a traça característica da ilha, onde o chão das casas é de um vermelho intenso e feito de um material que me deixava as solas dos pés completamente pintadas quando andava descalça.A minha primeira morada foi na parte oriental, na casa de Yasmeen, mulher do Presidente do Concelho Municipal da Ilha, que me ensinou muitas coisas da ilha e das suas gentes. À minha frente tinha a Ilha das Cobras, ou Ilha do Farol. O lado inverso dá para o continente. Em geral, quem se estabeleceu na ilha, quem lá investiu, apostou no lado do continente, e tem diariamente um pôr do Sol lindíssimo. A Ilha de Moçambique tem um património fabuloso mas sempre em risco. A Fortaleza de São Sebastião, um magnífico baluarte que servia de defesa contra os piratas, esteve prestes a ser pintada com as cores de uma empresa de telecomunicações. Felizmente não aconteceu, porque houve quem se insurgisse e parasse o processo.Uma tarde fui com o pessoal da Arqueonautas – empresa que está a recuperar e proteger o património subaquático - tomar um refresco ao campo de jogos. Havia ali um pequeno bar, onde os rapazes jogavam à bola e as meninas aplaudiam, como em qualquer outra parte do mundo.Adoro a comida da Ilha de Moçambique, os sabores locais, como xima, uma espécie de massa feita com farinha de milho, matapa de algas e caju com molho de coco. Uma noite fui com o meu tio saborear essas iguarias. Uma delícia! O meu tio, que a início ficou apreensivo com a minha escolha, adorou a xima e a matapa! Aprendi com ele que se come tudo dos camarõezinhos de Moçambique. A casca é fininha e tem cálcio, o que é bom porque na ilha é difícil conseguir leite.Eu gosto muito de mussiro, um produto de beleza que é também um dos cartazes da ilha. Um dia, a Alina, a médica cubana, e eu pintámos a cara com mussiro. Na ilha, as mulheres passeiam-se

Trinta e cinco dias e um museuPensava eu, ingenuamente, que chegava aqui e fazia uma sala

do museu, aquela a que sempre chamei «Sala Ming». Mas a vida

trocou-me as voltas e deparei com um museu muito deteriorado,

em que era urgente intervir. «Vamos lá fazer a reorganização do

Museu de Marinha todo», dissemos nós. Foi feito e ficou lindo.Tinha estado na Ilha de Moçambique em 2006 e notado a

repetição constante de espólio: muitas âncoras, muitos canhões,

muitas lanternas. Cresceu então a ideia de fazer salas temáticas:

a sala dos canhões, a sala das âncoras. Mas era só uma

intenção. A seu tempo poderia eventualmente tornar-se uma

realidade.Dotado de vastos conhecimentos de marinha, Nikolaus

Sandizell, director-geral da Arqueonautas, escolheu os melhores

exemplares de cada tipo de âncora, de canhões, de armas de

marinheiros, de instrumentos de navegação, de bóias de vidro. A

ideia base pegou. As salas ficaram temáticas, tendo passado a

títulos mais abrangentes: Sala da Navegação, Sala das Armas…Durante a fase de reparação das paredes do Palácio de São

Paulo, o arquitecto Francisco Monteiro perguntou: «Já reparaste

na cor original das paredes deste museu? Olha com cuidado para

este azul cobalto. É a cor original das paredes do Palácio!»

Incrível!De facto, cenograficamente, o azul fazia todo o sentido, por criar

um ambiente marinho, embora fosse um risco fazer algo tão

«atrevido». Os móveis para a porcelana, para os quais

tínhamos escolhido um tom alaranjado, contrastante com o

azul da porcelana, voltaram à cor base, o branco «sujo». Que

concordância cromática: paredes azuis com porcelana azul e

branca! (*)Foi uma luta até ao último instante. Era necessário pintar,

montar, preparar montras, a parte gráfica… Por sugestão

minha, toda a informação gráfica foi feita em português, inglês

e francês, uma vez que a ilha tem sobretudo turismo cultural

oriundo das Ilhas Reunião e de Madagáscar e num museu há

que impressionar o visitante.Ainda me lembro da ida a Nampula fazer as últimas compras.

Não havia corante azul para as paredes, não havia tinta para

os móveis, não havia parafusos... Na ilha já tudo tinha

acabado! A uma semana da abertura tínhamos a obra

praticamente parada por falta de material! Eram precisos

candeeiros com focos e só havia dois candeeiros em toda a

cidade da Nampula. Lá fui engendrando maneiras de resolver

mais esse problema. O Zico ajudou-me e cedeu-me os

candeeiros dele. Depois eu comprei uns novos no Maputo e

enviei-os para a ilha!

Leonor Veiga

Designer de Equipamento pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, estudou e aprendeu a técnica do batik numa pós-graduação na Indonésia, faz pintura, tapeçaria e maquilhagem profissional e a lista dos seus interesses seria difícil de terminar.

Um dia, quando visitava o Museu do Judaísmo em Berlim, em 2003, decidiu que gostaria de trabalhar em museus. Estagiou no Museu Arqueológico do Fundão, organizou e catalogou a colecção privada de arte africana do artista Raul Indipwo, desenvolveu o projecto de curadoria do Museu de Marinha da Ilha de Moçambique, deu aulas de Têxteis Tradicionais Indonésios no Museu de Arte de Macau e no Museu do Oriente, em Lisboa, e fez pesquisa para a exposição do Barroco Internacional no Victoria & Albert Museum de Londres! Estava definida a sua área.

Leonor é hoje designer e monitora do Museu da Água de Lisboa e encontra-se no momento a fazer a dissertação de Mestrado em Estudos Curatoriais, da responsabilidade da Faculdade de Belas-Artes e da Fundação Calouste Gulbenkian.

Leonor é uma personalidade multitasking

A Ilha - Boletim Nº 4 - Agosto 2009

(cont. pág.6)

Moedas de Prata do Naufrágio San José

Este boletim tem o patrocínio deA ILHA é propriedade da Património Internacional SARL

Nº de Registo: 045/Gabinfo-Dec/2007

Tiragem: 3.000 Exemplares

Maquetização: Neide Pinto

Impressão: Sógrafica Lda

Distribuição: J.V. Consultores Internacionais Lda.

Fich

a Té

cnic

a

Colaboração do Wampula Fax.

Arqueonautas Worldwide S.A.Rua das Murças, 88 / 3rd. Floor

9000-058 FunchalPortugal

www.arq.dewww.arq-publications.com

[email protected].: +351 21 4663040Fax: +351 21 4662769

Património Internacional SARLAv. Armando Tivane, 890 - R/C

Maputo- Moçambique Tel.: 21 493160 Fax: 21 493163

RELATÓRIO DOS TRABALHOS DA PATRIMÓNIO INTERNACIONAL SARL É DA ARQUEONAUTAS WORLDWIDE SA (2000 ATÉ 2008)

Sabia que??“Sabia que a Ilha de

Moçambique era um

importante ponto de

comércio entre o Reino de

Monomotapa e o mundo

árabe muito antes da

chegada dos portugueses

em 1498?”

Por: Anja Bartels Suermondt

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique15-05-2001IDM-001

Sítio pilhado há décadas. Apenas restaramartefactos enterrados entre as pedras de balastro.

Escavação total das áreas definidas.Ilha de Moçambique30-05-20011558EspadarteIDM-002

Sítio pilhado e carga de chumbo vendida.Escavação total das áreas definidas.Ilha de Moçambique03-07-20011608N.S. daConsolação

IDM-003

Observação apenas.Ilha de Moçambique04-07-2001IDM-005

Observação apenas.Ilha de Moçambique04-07-2001IDM-004

Observação apenas.Ilha de Moçambique06-07-2001IDM-006

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique30-04-2002IDM-009

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique30-04-2002IDM-008

Sítio severamente pilhado.Escavação numa área limitada e pesquisa detalhada em curso.

Recife de Mogincual09-07-20021802NªSª Madre Deus e S.José

MOG-001

Sítio localizado através de garrafas de gin oferecidas a turistas.

Escavação total das áreas definidas.Ilha de Moçambique18-07-2002IDM-010

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique05-09-2003IDM-011

Observação apenas.Ilha de Mafamede20-09-2003ANG-001

Vários canhões de bronze roubados e derretidos.

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moma27-09-200310/8/1721Na. Sa. da GuiaANG-002

Observação e pesquisa pré-perturbação.Recife de Santo António01-11-20031512Santo AntónioANG-004

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha da Caldeira01-11-2003ANG-003

Sítio totalmente pilhado.Observação e pesquisa pré-perturbação.Recife de Silva 17-11-20036/6/1753BredenhofANG-005

Observação e pesquisa pré-perturbação.Recife Infusse01-12-2003MOG-002

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Crusse09-12-20031789S. António e AlmasNAC-001

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique26-03-2004IDM-012

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique04-04-2004IDM-013

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique13-04-2004IDM-014

Observação apenas.Ilha de Moçambique29-04-2004IDM-015

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique07-06-200425/07/1622Santa TeresaIDM-017

Observação apenas.Ilha de Moçambique28-06-2004IDM-018

Sítio localizado através de notícias de canhões de bronze roubados.

Escavação numa área limitada e pesquisa detalhada em curso.

Recife Infusse27-09-200424/06/1622São JoseMOG-003

Observação apenas.Quissimajulo13-10-2004T'hertNAC-002

Observação apenas.Pinda18-10-2004NAC-003

Observação apenas.Pinda19-10-20041826S. João BaptistaNAC-004

Observação apenas.Pinda19-10-2004NAC-005

Observação apenas.Pinda20-10-2004NAC-006

Observação apenas.Pinda20-10-2004NAC-007

Observação apenas.Recife de Vadiazi11-11-2004CAD-001

Observação apenas.Ilha de Moçambique19-05-2007IDM-019

Observação apenas.Baía de Lunga07-08-2007MOG-004

Observação apenas.Baía de Lunga07-08-2007MOG-005

Sítio severamente pilhado, possivelmente nosanos 70, com a utilização de dinamite.

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique20-05-200827/12/1642São BentoIDM-020

ObservaçõesOperaçãoSítioDescobertoData

naufrágioNomeCódigo

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique15-05-2001IDM-001

Sítio pilhado há décadas. Apenas restaramartefactos enterrados entre as pedras de balastro.

Escavação total das áreas definidas.Ilha de Moçambique30-05-20011558EspadarteIDM-002

Sítio pilhado e carga de chumbo vendida.Escavação total das áreas definidas.Ilha de Moçambique03-07-20011608N.S. daConsolação

IDM-003

Observação apenas.Ilha de Moçambique04-07-2001IDM-005

Observação apenas.Ilha de Moçambique04-07-2001IDM-004

Observação apenas.Ilha de Moçambique06-07-2001IDM-006

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique30-04-2002IDM-009

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique30-04-2002IDM-008

Sítio severamente pilhado.Escavação numa área limitada e pesquisa detalhada em curso.

Recife de Mogincual09-07-20021802NªSª Madre Deus e S.José

MOG-001

Sítio localizado através de garrafas de gin oferecidas a turistas.

Escavação total das áreas definidas.Ilha de Moçambique18-07-2002IDM-010

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique05-09-2003IDM-011

Observação apenas.Ilha de Mafamede20-09-2003ANG-001

Vários canhões de bronze roubados e derretidos.

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moma27-09-200310/8/1721Na. Sa. da GuiaANG-002

Observação e pesquisa pré-perturbação.Recife de Santo António01-11-20031512Santo AntónioANG-004

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha da Caldeira01-11-2003ANG-003

Sítio totalmente pilhado.Observação e pesquisa pré-perturbação.Recife de Silva 17-11-20036/6/1753BredenhofANG-005

Observação e pesquisa pré-perturbação.Recife Infusse01-12-2003MOG-002

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Crusse09-12-20031789S. António e AlmasNAC-001

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique26-03-2004IDM-012

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique04-04-2004IDM-013

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique13-04-2004IDM-014

Observação apenas.Ilha de Moçambique29-04-2004IDM-015

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique07-06-200425/07/1622Santa TeresaIDM-017

Observação apenas.Ilha de Moçambique28-06-2004IDM-018

Sítio localizado através de notícias de canhões de bronze roubados.

Escavação numa área limitada e pesquisa detalhada em curso.

Recife Infusse27-09-200424/06/1622São JoseMOG-003

Observação apenas.Quissimajulo13-10-2004T'hertNAC-002

Observação apenas.Pinda18-10-2004NAC-003

Observação apenas.Pinda19-10-20041826S. João BaptistaNAC-004

Observação apenas.Pinda19-10-2004NAC-005

Observação apenas.Pinda20-10-2004NAC-006

Observação apenas.Pinda20-10-2004NAC-007

Observação apenas.Recife de Vadiazi11-11-2004CAD-001

Observação apenas.Ilha de Moçambique19-05-2007IDM-019

Observação apenas.Baía de Lunga07-08-2007MOG-004

Observação apenas.Baía de Lunga07-08-2007MOG-005

Sítio severamente pilhado, possivelmente nosanos 70, com a utilização de dinamite.

Observação e pesquisa pré-perturbação.Ilha de Moçambique20-05-200827/12/1642São BentoIDM-020

ObservaçõesOperaçãoSítioDescobertoData

naufrágioNomeCódigo