PRÓ REITORIA DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO - PRPPG DIVISÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUCIONAL – DPGI.
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2 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Editorial
Ensino médico: uma importante questão
Um estudante recém-admitido ao
ciclo clínico deseja e precisa de contato
com um mestre que saiba ensinar
exame físicoQuando se fala da formação do médico,
aborda-se um extenso período, que engloba
graduação e pós-graduação. Pós-graduação
em medicina pode ser lato sensu (residência
médica) e stricto sensu (mestrado e dou-
torado). Mas é a graduação o segmento
mais nevrálgico de toda essa cadeia, pois
é nesse período que vão se fixar as bases
que permitirão ao futuro profissional ter
sucesso na carreira.
Os currículos dos cursos de graduação em
medicina sofreram grandes transformações
nos últimos anos, no mundo e no Brasil.
Nos anos 60 e 70 do século passado a
grade curricular dos cursos de medicina
fragmentava-se em setores e especialidades,
não só no chamado ciclo básico, como no
intermediário/profissional e também no
internato. Isso mudou e hoje o ensino
de graduação em medicina – seja no ciclo
básico, no intermediário/profissional ou
no internato – tende a privilegiar o ensino
generalista. Atualmente a maioria das
escolas médicas no Brasil adotou (ou está
em vias de adotar) um modelo que privile-
gia a filosofia generalista, em todas as suas
etapas. Para mim esse modelo é lógico,
mas pode ter dificuldades de funcionar por
questões logísticas ou mesmo por falta de
docentes adequados para fazê-lo atingir
seus objetivos. Não é minha intenção,
contudo, discutir aqui e agora qual modelo
é o melhor. O que peço é uma reflexão
relativamente aos recursos humanos que
estão sendo formados para ensinar medi-
cina no modelo atual de nossos cursos de
graduação.
Os recursos humanos formados para o
ensino da medicina são provenientes da
pós-graduação stricto sensu, uma vez que os
que nela ingressam já concluíram, habitu-
almente, a lato sensu (a residência médica).
Com as atuais exigências do Ministério da
Educação, dificilmente uma escola médica
com bom padrão admitirá em seus quadros
docentes professores de medicina com
titulação abaixo do mestrado e já porta-
dores de certificado de residência médica
na área; no futuro exigir-se-á o doutorado,
em grande escala. Na maior parte das
escolas médicas públicas os concursos para
preenchimento de vagas de docentes são
abertos já com exigência de doutorado para
os candidatos. Como isso pode influenciar
o ensino médico?
A pós-graduação stricto sensu em medicina
mudou muito nos últimos 10 anos. Hoje ela
nada se parece com a pós-graduação stricto
sensu do passado, que era feita valorizando
igualmente cursos didático-pedagógicos
de formação docente, aprofundamento de
conhecimentos na especialidade médica
escolhida e pesquisa científica (a tese de-
fendida), sendo esta última apenas mais um
dos aspectos considerados. Pecava-se pela
não publicação da tese, frequentemente.
A pós-graduação em medicina atual nada
tem a ver com as especialidades médicas.
Ela é cursada numa linha de pesquisa.
Não se exige mais do candidato, em geral,
aprofundamento nos conteúdos de uma
especialidade médica, nem cursos de for-
mação docente. A tese assumiu enorme
importância e, mais do que ela, sua publi-
cação em forma de artigo, de preferência
em revista de circulação internacional
e com fator de impacto. Tais revistas
objetivam a difusão de conhecimento
novo e altamente especializado, muitas
vezes só inteligível para “pares”, ou seja,
pesquisadores especializados que estejam
investigando assuntos semelhantes. Não
são revistas acessíveis ao médico prático.
A pós-graduação stricto sensu atual implica
em superespecialização e no domínio de
atividades laboratoriais e de bancada.
Para clínicos, cirurgiões e médicos de
especialidades correlatas tal ambiente não
é habitual, acostumados que estão a enfer-
marias, ambulatórios, centros cirúrgicos e
outros setores onde a atividade principal é
a assistência. Os cursos de pós-graduação
assim estruturados são cursos focados quase
que exclusivamente na pesquisa. A pós-
graduação stricto sensu se norteia no fato
de que repassar conhecimento é muito
importante, mas produzir conhecimento
parece mais ainda e, sem dúvida, leva o
profissional a outro patamar.
Em decorrência disso, aberta a vaga em
concurso para docente, apresentam-se os
candidatos e, normalmente, todos possuem
doutorado e, não raro, alguns (às vezes,
muitos) artigos científicos de razoável
valor publicados em revistas de circulação
internacional, em inglês, com fator de
impacto. É fundamental, por isso mesmo,
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sessÃO clínicaHipertensão e Doença Coronariana – Caso II
RelaTO De casOHiperparatireoidismo Normocalcêmico: Uma Entidade Pouco Descrita
O DesaFiO Da iMaGeMDor Torácica, Dispneia e Tosse com Escarros Hemoptoicos
RelaTO De casOHérnia de Amyand
a cOnDuTa DO PROFessORÚlcera Gastroduodenal com H. Pylori Negativo
sessÃO clínicaFraqueza Muscular e Feridas na Pele
RelaTO De casOA Importância da Tomografia Computadorizada no Diagnóstico do Jejuno Biliar
RelaTO De casOCardiomiopatia Dilatada: Diagnóstico Diferencial entre a Forma Alcoólica e da Cocaína
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PROF. DR. GILBERTO PEREZ CARDOSOProfessor Titular do Departamento de Clínica Médica da UFFDoutor em Endocrinologia pela UFRJEditor da revista Conduta® Médica
cOnDuTa MÉDica
para reflexão, perguntar-se o que vai fazer o
docente contratado, onde vai atuar. Com
tal modelo curricular de graduação, se ele
for atuar na pós-graduação stricto sensu,
como pesquisador, ou em algum setor ul-
traespecializado de sua especialidade, tudo
bem. Mas, e se a escola médica estiver
precisando dele para ensinar exame clínico
para os terceiranistas? Ou como precep-
tor para internato generalista? Ou ainda
como cirurgião-instrutor na residência
em Cirurgia Geral, por exemplo? Será que
o candidato com tais credenciais atende
às necessidades da escola médica e dos
alunos? A admissão de superespecialistas
com abundante produção científica tem
enriquecido as universidades no aspecto
“pesquisa” e no atendimento do ensino
ultraespecializado das disciplinas corre-
latas, especializadas. Não há evidências,
entretanto, de adequação ou de benefícios
substanciais trazidos por profissional com
tal perfil para o ensino de atividades e
conteúdos básicos e indispensáveis da
graduação, do internato e mesmo das
grandes áreas em que se oferece a residên-
cia médica. Ou haveria?
Um estudante recém-admitido ao ciclo
clínico deseja e precisa de contato com
um mestre que saiba ensinar exame físico;
um interno em Clínica Médica anseia por
alguém que lhe mostre os meandros do
diagnóstico diferencial; um residente em
Cirurgia quer um docente que ensine toda
a arte e ciência do ato de operar. É pouco
provável que um docente superespeciali-
zado em investigação científica sofisticada
e de bancada seja capaz de exibir a mesma
competência na execução de meticuloso
exame clínico, na formulação de diagnós-
ticos diferenciais, na adoção de condutas
práticas à beira do leito ou mesmo de
penetrar com rapidez e objetividade num
abdome doente. Há exceções de notável
competência nas diversas áreas e habilida-
des, mas são as exceções que confirmam a
regra. Tal modelo seria o ideal, mas é raro,
pelo menos por ora. Não conheço muitos
desses tipos.
O ensino da medicina não pode dispen-
sar a prática, em qualquer especialidade,
principalmente na Clínica e na Cirurgia.
Entretanto, não é o que tenho observado
em concursos mais ou menos recentes de
que participei, como membro de banca
examinadora; neles constatei que o co-
nhecimento e a habilidade profissionais de
cunho prático de boa parte dos candidatos
não era proporcional à sua excelente pro-
dução científica exibida nos currículos.
A própria carreira universitária privile-
gia, para ascensão funcional, publicações
em revistas de impacto e a conquista de
graus como mestrado, doutorado e títulos
(livre-docência), o que é bom, mas valoriza
pouco, academicamente, as orientações de
cunho prático, a preceptoria, o ensino do
exame clínico e outras atividades um tanto
“esquecidas”, porém fundamentais para a
boa formação do médico.
Talvez esteja na hora de repensar tudo
isso.
4 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/20104 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
Hipertensão e Doença Coronariana – Caso IIHypertension and Coronary Disease
Sessão clínica realizada em 7 de agosto de 2008, no XVI Congresso Brasileiro de Hipertensão (Rio de Janeiro – RJ) (caso II)
Coordenador:Prof. Dr. Luiz Antonio de Almeida CamposDiretor Científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia
Apresentadora:Profa. Dra. Lílian Soares da CostaProfessora de Cardiologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de JaneiroDoutora em Medicina
Debatedores:Prof. Dr. Eduardo NagibChefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Municipal Miguel CoutoEx-Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro
Profa. Dra. Maria Eliane Campos MagalhãesProfessora de Cardiologia da Universidade do Estado do Rio de JaneiroDoutora em MedicinaAtual Presidenta da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro
Prof. Dr. Roberto EsporcatteProfessor Adjunto de Cardiologia da Universidade do Estado do Rio de JaneiroDoutor em MedicinaFuturo Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro
ResuMO – Trata-se do relato de caso de um paciente de 62 anos de idade, do sexo masculino, portador de hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia, cuja conduta é discutida em sessão clínica do XVI Congresso Brasileiro de Hipertensão. (Conduta Médica 2010-11 (44) 4-8)
aBSTRaCT – It is a case report of a 62-year-old man, with systemic arterial hypertension and dyslipidemia, which conduct is discussed in a clinical session of the XVI Brazilian Congress of Hypertension. (Conduta Médica 2010-11 (44) 4-8)
DescRiTORes – hipertensão arterial sistêmica; dislipidemia; hipercolesterolemia
KeY-WoRDS – systemic arterial hypertension; dyslipidemia; hypercholesterolemia
PROFa. lílian
P.A.G., 62 anos, masculino, natural
de São Paulo, empresário, em consulta
ambulatorial pela primeira vez após
transferência de cidade, procurou
atendimento médico para realização
de um check-up. Paciente sedentário,
que faz uso rotineiro de AAS 100 mg/
dia e sinvastatina 10mg/dia devido a
uma endarterectomia carotídea direita
aos 54 anos. Pai falecido aos 55 anos
de morte súbita, mãe viva, com 77
anos, portadora de diabetes mellitus
(DM) e hipertensão arterial sistêmica
(HAS), irmão vivo com angioplastia
de coronária descendente anterior
aos 43 anos. Paciente tabagista de 10
cigarros/dia há 32 anos e etilista de 1
dose de whisky/dia.
PROF. luiZ anTOniO
Observem a riquíssima história fa-
miliar com intervenções precoces e
óbito. Observem, também, que esse
paciente, assintomático para doença
isquêmica, possui história de endarte-
rectomia carotídea, a qual expressa a
extensão e a gravidade da sua doença
aterotrombótica inflamatória.
PROFa. lílian
Ao exame físico o paciente estava
corado, hidratado, eupneico e sem
turgência jugular patológica a 30°.
Havia presença de sopro carotídeo
esquerdo e diminuição de pulso em
membro superior esquerdo. Tinha
PA de 170 x 80mmHg, FC de 80bpm,
ictus cordis no 5° EICE, sem frêmitos,
RCR em 3T com B4 de VE, pulsos
pediosos não palpáveis bilateralmen-
te em membros inferiores. O ECG
mostrou ritmo sinusal com alteração
difusa e inespecífica da repolarização
ventricular. O raio X de tórax mos-
trava hiperinsuflação pulmonar. O
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hemograma e a bioquímica sanguínea
mostraram, de relevante, creatinina
de 1,1 mg/dL, ureia de 45 mg/dL,
glicemia de 98 mg/dL, colesterol total
de 272 mg/dL, LDL-c de 196 mg/dL
e PCR de 8,0.
PROF. ROBeRTO
Até a PCR elevada ele possui!
PROFa. lílian
Nesse nível, convém estratificar o
risco desse paciente. Ele se encontra
com a pressão arterial no estágio II,
segundo as Diretrizes de Hipertensão,
e com presença de doença cardiovas-
cular – possuindo, assim, risco muito
alto para eventos cardiovasculares
(ver tabela 1). Por ser um paciente
com prevenção secundária, não se
aplica o escore de Framingham;
porém, caso o estratifiquemos pelo
dito escore, ele somará 13 pontos, o
que o leva a um risco de 35 a 45%
de eventos cardiovasculares em 10
anos.
PROF. luiZ anTOniO
Agora vamos discutir sobre as reco-
mendações do controle hemodinâmico
da pressão arterial. Nunca deixo de
lembrar que, quanto mais alto é o risco
do paciente (a despeito das metas se
transformarem em metas mais rigorosas
e intensas), no mundo real o alcance das
metas é muito mais complexo do que
em pacientes de baixo e médio risco.
Gostaria de saber do Prof. Eduardo qual
seria a meta de pressão arterial para esse
paciente, e se essa meta é uma realidade
perseguida e alcançada em sua prática
ambulatorial.
PROF. eDuaRDO
Bem, essa é uma questão difícil. A meta
para esse paciente seria abaixo de 130
x 80 mmHg. Porém, as metas não são
somente pressóricas. Na minha prática,
procuro fazer com que o paciente
entenda o nível de gravidade em que
ele se encontra. Só assim se conseguirá
adesão ao tratamento. Se o paciente
não entender que ele está correndo
risco e que precisa atingir determinadas
metas, as quais incluem as de LDL-c, ele
não irá colaborar. A princípio, esse é
um paciente difícil de conseguir atingir
as metas, por fazer tudo errado. É um
doente que já vem com estilo de vida
completamente alterado, sendo muito
difícil conseguir corrigir tudo ao mesmo
tempo.
PROFa. MaRia eliane
Lílian, nesse paciente com hipertensão
de tão longa data e com ureia tocada de
45mg/dL, eu senti falta de dados que
me mostrassem a existência de algum
grau de acometimento renal, como
alguma perda proteica. Esse dado me
faria pensar numa meta mais agressiva.
E é provável que, com esse tempo de
doença, associado à ureia tocada já
haja certo grau de perda de albumina.
Gostaria de chamar a atenção para o
fato de que esse paciente possui uma
doença aterosclerótica sistêmica, com
sintomatologia padrão: doença de
carótida, doença arterial periférica e,
possivelmente, doença arterial corona-
riana – que ainda não se manifestou mas
que, com tal cortejo de anormalidades,
muito provavelmente estará presente.
Também gostaria de dizer que não
acredito ser o escore de Framingham
complexo; eu mesma o aplico toda
vez que tenho oportunidade, apesar de
saber que podemos errar utilizando seus
resultados.
PROF. luiZ anTOniO
Um dos critérios que, eventualmente,
dificultam esse efetivo controle terapêu-
tico para o alcance de metas é a neces-
sidade imperiosa de associação medi-
camentosa, transformando um homem
ativo num indivíduo que faça ingesta
de uma polifarmácia. Então, pergunto
ao Prof. Esporcatte se esse é um critério
que mereça esclarecimento ao paciente
e, nesse caso, não discriminando cate-
goricamente o escore de Framingham,
mas comentando sempre sobre a impor-
tância do controle dos múltiplos fatores
de risco que ele possui e se esse tipo de
conscientização facilita a prescrição de
múltiplos itens. A segunda pergunta é
sobre qual linha terapêutica seria a ideal
para esse paciente.
PROF. ROBeRTO
A sua primeira pergunta é fundamental,
porque se não houve uma compreensão
do risco que esse paciente tem, ele não
irá seguir o tratamento. Ele merece
uma explanação a mais, seja fazendo-se
esquemas, discutindo-se a fisiopatolo-
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sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
FIGURA 1 ECG com dor, em 4/7/2007
FIGURA 3
ECG sem dor, após estabilização clínica, em 13/9/2007
FIGURA 2
ECG com dor, após o CAT, em 11/9/2007
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gia, mostrando o que é doença crônica
e agudizada e o risco da instabilidade,
mesmo do paciente bem controlado.
Sem isso, será desprezível o resultado
final. Caso eu possuísse somente a
anamnese desse paciente e ele dissesse
que estaria concorrendo a uma eleição
para presidente ou que é piloto de avião,
eu já partiria para uma investigação
definitiva para doença coronariana.
Neste momento eu confesso que não
vejo, a curto e médio prazos, um grande
impacto em estar com a pressão a 120
ou 140 mmHg, visto o restante do tra-
balho que deve ser feito. Deve-se ter
a certeza de que ele não possui doença
isquêmica miocárdica, e a probabilidade
é elevadíssima. Não estaria errado um
método anatômico, mas eu faria um
método funcional. A função renal pode
trazer um dado a mais e tem que ser
investigada. Mas o aspecto metabólico,
com essa glicemia limítrofe e com essa
grave dislipidemia, já dá o subsídio da
linha de ação desse trabalho. Para ele,
além de antiagregante plaquetário e de
estatina, prescreveria IECA ou BRA,
que seriam a primeira opção. Não ex-
ploraria doses elevadas.
PROFa. lílian
A nossa conduta foi manter a dose de
AAS de 100mg/dia, aumentar a dose de
sinvastatina para 40mg, instituir associação
terapêutica com enalapril 20 mg duas vezes
ao dia, atenolol 25 mg/dia, amlodipino 10
mg/dia. Dessa forma o paciente foi contro-
lado satisfatoriamente. Enquanto ele estava
aguardando os resultados dos exames, fez
uma angina de repouso de início recente
com este ECG (ver figura 1).
PROF. ROBeRTO
O ECG mostra bradicardia sinusal
devida à ação do betabloqueador;
eixo elétrico um pouco desviado para
a esquerda; complexo QRS negativo
em DIII e aVF. Mas a alteração mais
importante desse ECG é o infradesnive-
lamento do segmento ST nas derivações
V4, que chega a 4 mm, V5, que chega a 2
mm, e em V6. Caracteriza-se, portanto,
uma síndrome coronariana aguda com
infradesnivelamento do segmento ST.
Associada a dor precordial, caracteriza-
se uma síndrome de alto risco. É um
paciente para dupla ou tripla ação antipla-
quetária (AAS, clopidogrel e tirofiban).
Não é um paciente que necessite de uma
coronariografia de imediato (a menos que
houvesse uma refratariedade clínica ou
instabilidade hemodinâmica), mas sim
nas próximas 24 ou 48h.
PROF. luiZ anTOniO
Observem que ele, até o momento da
estratificação, não havia apresentado
nenhum evento coronariano, acidente
vascular encefálico ou disfunção renal.
A ausência de pulsos pediosos sem
isquemia de membros inferiores não
tem significado clínico maior, a não ser
demonstrar uma perspectiva da doença
aterosclerótica, que ele possui com-
provadamente. Dessa forma, reitero
que a prevenção secundária não é para
eventos cardiovasculares, mas sim para
a não progressão da entidade maior, que
é a aterosclerose sistêmica. Aliás, eu
diria aterotrombose inflamatória, pois
ele possuía PCR de 8,0 e, semanas após,
uma síndrome coronariana.
PROFa. lílian
Ele realizou, então, a coronariografia,
após sete dias do evento precordial (ver
figura 2).
PROF. ROBeRTO
Esse é um grande desafio, pois é uma
síndrome de alto risco. Se não há uma
obrigatoriedade de exame hemodi-
nâmico invasivo, postergar significa
aumentar a chance de eventos nos
dias subsequentes. Então esse paciente
correu um risco maior. Não há um ECG
antes da coronariografia, pois imagino
que o paciente tornou-se estável. O
ECG após o cateterismo mostra-nos
uma intensificação em comparação ao
anterior, pois, além do infradesnivela-
mento, há uma inversão da onda T.
PROFa. lílian
Na figura 3, temos o ECG do paciente
assintomático (ver figura 3).
PROF. luiZ anTOniO
Nagib, no caso de existência de doença
obstrutiva (a qual ainda não foi definida),
você se inclinaria à revascularização cirúr-
gica ou percutânea, ou a outra conduta do
tipo maximização de drogas?
PROF. eDuaRDO
Minha conduta dependeria bastante da
anatomia.
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sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
PROFa. lílian
A cinecoronar iogra f ia mostrou
tronco sem obstruções, descenden-
te anterior de bom calibre, com
obstrução ostial subtotal e leito
distal de bom calibre. Mostrou
também diagonalis de bom calibre
com obstrução ostial de 90%, além
de circunflexa de bom calibre e
com obstrução de 70% na porção
média, segundo ramo marginal de
bom calibre com obstrução de 75%,
e coronár ia d i re i ta de pequeno
calibre com obstrução proximal de
40-50%.
PROF. eDuaRDO
Certamente a conduta seria interven-
ção do tipo revascularização.
PROF. luiZ anTOniO
Gostaria de chamar a atenção, sobre-
tudo aos mais jovens, sobre o dado
“tronco sem obstruções, obstrução
ostial subtotal da descendente anterior
e diagonalis com obstrução ostial de
90%”. Havendo duas lesões de vasos
que se dirigem à porção ântero-lateral
do ventrículo esquerdo, particularmen-
te, considero como lesão de tronco de
coronária esquerda. Não do corpo ou
do óstio do tronco, mas da emergência
de dois vasos fundamentais. Chamo a
atenção sobre isso, pois vamos discutir
qual o melhor modelo de intervenção
para esse paciente. Qual seu modelo de
intervenção para o paciente, professora
Eliane?
PROFa. MaRia eliane
Eu também considero uma lesão de
tronco e não concordo com quem
considera tal anatomia como lesão
distal. Esse paciente possui indicação
de tratamento cirúrgico pela gravida-
de da lesão.
PROF. ROBeRTO
Mesmo que a anatomia não tivesse
essas peculiaridades salientadas pelo
Prof. Luiz Antonio, do ponto de
vista prático, de disponibilidade de
recursos, a revascularização cirúrgica
seria mais barata do que tratar essa
anatomia. É um detalhe prático de
gerenciamento de recursos financei-
ros. Com esses detalhes de lesões
proximais, trata-se do mesmo nível
de risco de uma lesão de tronco e,
portanto, o tratamento deve ser
cirúrgico. Um detalhe bastante in-
teressante e favorável ao paciente é a
descrição da coronária direita de fino
calibre, a despeito das demais não
serem. Isso pressupõe que a revas-
cularização cirúrgica vá contemplar
essas lesões proximais e, sendo o
leito distal de boa qualidade, tenha
um grande impacto de qualidade de
vida e sobrevida. A função ventri-
cular sendo normal, a expectativa
é a supressão da quase totalidade
da isquemia miocárdica ou de, pelo
menos, das áreas mais nobres.
PROF. luiZ anTOniO
Gostaria de agradecer a todos pela par-
ticipação nesta sessão clínica. n
TABELA 1 - Estratificação do risco individual do paciente hipertenso: risco cardiovascular adicional de acordo com os níveis da pressão arterial e a presença de fatores de risco, lesões de órgãos-alvo e doença cardiovascular, segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão*
8 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Pressão Arterial/ Normal Limítrofe Estágio I Estágio II Estágio IIIFatores de Risco
Sem fatores de risco Sem risco adicional Sem risco adicional Risco baixo Risco médio Risco alto
1 a 2 fatores de risco Risco baixo Risco baixo Risco médio Risco médio Risco muito alto
3 ou mais fatores de Risco médio Risco alto Risco alto Risco alto Risco muito alto risco ou lesão em órgão-alvo ou diabetes mellitus
Doença cardiovascular Risco alto Risco muito alto Risco muito alto Risco muito alto Risco muito alto
*Disponível em http://publicacoes.cardiol.br/consenso
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Gestão aprovadaMais de 80% de aprovação dos cooperados levam Celso Barros para uma nova gestão à frente da Unimed-Rio
Os cooperados da Unimed-Rio avali-
zaram uma vez mais a gestão de Celso
Barros na presidência da cooperativa
carioca: ele liderou a única chapa ins-
crita para o mandato 2010/2014, em
eleição que ocorreu em Assembléia
Geral realizada no dia 9 de março.
Nomeada “Liderança e Credibilida-
de”, a chapa – que teve apenas uma
alteração em sua diretoria – repre-
senta o sentimento majoritário dos
cooperados, que, em recente pesquisa
realizada pelo Instituto Datafolha e
pela Unimed do Brasil, deram mais de
80% de aprovação para a gestão atual
de Celso Barros, durante a qual por
vários anos acumulou a presidência
da Unimed do Brasil.
Eleito pela primeira vez em 1998 –
quando venceu com 75% dos votos –,
Celso Barros transformou a Unimed-
Rio, então com pouco mais de 200 mil
clientes, numa das maiores potências
do cooperativismo médico no país.
Hoje a Unimed-Rio é a cooperativa
Unimed com maior faturamento em
todo o sistema, soma mais de 800
mil clientes e tem 5.300 cooperados
remunerados acima da CBHPM. Líder
de mercado e top of mind no segmento
de planos de saúde, a Unimed-Rio
comemora um faturamento de R$
2,13 bilhões em 2009, e ostenta um
patrimônio líquido 25 vezes maior do
que o encontrado por Barros em sua
primeira gestão.
“O fato de estarmos desde 1998 sem
chapa concorrente na Unimed-Rio
é, no nosso ponto de vista, uma de-
monstração clara da credibilidade que
nossa gestão transmite para os sócios.
Ser novamente apoiado em chapa
única aumenta nossa responsabilidade
de continuar fazendo a Unimed-Rio
crescer de maneira sustentável, ousada
e moderna, como sempre acreditamos
que deva ser o caminho para o coope-
rativismo médico”, diz Barros. n
Celso Barros participa da votação que confirmou sua reeleição para mais uma gestão à frente da Unimed-Rio
Cooperados Unimed-Rio assistem à apresentação dos resultados da organização em 2009
Barros apresenta os resultados de 2009 durante a Assembléia Geral Ordinária
10 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Autores:Dra. Daniela Barbosa da Silva Lopes CoelhoMédica Residente da Endocrinologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Mariana Mesquita VillelaAcadêmica de Medicina do Huap/UFF
Dr. Gilberto Miranda BarbosaProfessor Associado da Endocrinologia do Huap/UFF
Dra. Lilian Costa Morais GerezDra. Marcelle SnaiderDra. Vivian KernMédicas Residentes da Endocrinologia do Huap/UFF
Prof. Rubens Antunes Cruz FilhoProfessor e Chefe do Serviço de Endocrinologia do Huap/UFF
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
Hiperparatireoidismo Normocalcêmico: Uma Entidade Pouco Descrita Normocalcemic Hyperparathyroidism: An Entity Little Recognized
ResuMO – Paciente feminina de 37 anos realizou densitometria óssea por indicação do reumatologista, apresentando osteopenia no fêmur e terço distal de rádio com dosagens de cálcio, fósforo e PTH normais. Seis meses após foi evidenciada piora da osteopenia em fêmur e PTH sérico elevado. As dosagens seriadas de PTH apresentavam valores crescentes ao longo de dois anos consecutivos. Após nova densitometria evidenciou-se osteopenia acentuada no fêmur. Foram realizados exames de imagem que demonstraram aumento unifocal da paratireoide. (Conduta Médica 2010-11 (44) 10-12)
aBSTRaCT – A 37-year-old woman was submitted to a densitometry indicated by a reumathologist. It revealed declines in bone mineral density compatible to osteopeny at the hip and distal radius, without biochemical abnorma-lities in serum calcium, phosphorus or PTH. Six months later bone mass measurements showed a decline at the hip and elevation of PTH levels. During two years, the successives mesurements of PTH demonstrated its elevation. After a new densitometry, osteopeny was evident in hip. The patient was submitted to exams that identified unifocal increase in parathyroid. (Conduta Médica 2010-11 (44) 10-12)
DescRiTORes – Hiperparatireoidismo primário; osteopenia; cintilografia; PTH
KeY-WoRDS – Hyperparathyroidism; osteopeny; scintigraph; PTH
inTRODuÇÃO
Com prevalência de 1%, o hiper-
paratireoidismo (HPT) primário
cursa com hipercalcemia, e, por
vezes, doença óssea e renal im-
portante (1,2,3). Atualmente, sua
incidência tem aumentado devido
à dosagem sistemática do cálcio
sérico, sendo a maioria dos pacien-
tes assintomática ao diagnóstico.
Em até 15% dos casos todas as
quatro paratireoides estão envol-
vidas (1,2). Não há características
clínicas que permitam diferenciar
a doença focal da multifocal (1,2,4).
No diagnóst ico di ferencial da
hipercalcemia, o HPT é a causa
mais comum – sendo de grande
importância a diferenciação com
outras causas, uma vez que a as-
sociação com doenças malignas
é a segunda causa mais comum e
deve ser diferenciada da primeira
através da dosagem sérica do PTH,
que estará suprimida neste caso
(1,2). Outra s ituação que cursa
com níveis elevados de PTH e
hipercalcemia é o uso de lítio ou
diurético tiazídico, possibilidade
que é facilmente excluída por meio
de um teste terapêutico através da
suspensão da droga (1,2). O diag-
nóstico do hiperparatireoidismo
pode ainda ser feito em pacientes
que apresentem elevados níveis
de PTH com níve i s de cá lc io
10 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 11
>
sérico normal após a exclusão de
outras causas como doença renal,
deficiência de vitamina D e sín-
dromes de má absorção (4,5). Esses
pacientes, à ultrassonografia, apre-
sentam aumento de uma ou mais
paratireoides, e essa condição tem
sido considerada como variante do
HPP, daí surgindo uma nova enti-
dade clínica: o hiperparatireoidis-
mo primário normocalcêmico (6,7).
aPResenTaÇÃO
Paciente feminina de 37 anos,
branca, magra, realizou exame de
densitometria óssea por indicação
do reumatologista, uma vez que
tinha pouca exposição ao sol e
baixa ingestão de leite e deriva-
dos. Negava dores ósseas, fraturas,
astenia, poliúria ou história de
cálculo renal. Em 2003 apresentou
osteopenia no fêmur e terço distal
do rádio (T score -1,6 e -1,8 DP),
com dosagens de cálcio, fósforo e
PTH normais. Seis meses após foi
evidenciada piora da osteopenia
em fêmur e PTH sérico elevado
(95 pg/dL; VN: 12 – 53 pg/dL),
mantendo calcemia e fosfatemia
normais, com calciúria normal e
função renal preservada. Foi então
iniciada reposição de cálcio e vita-
mina D. As dosagens seriadas de
PTH continham valores progres-
sivos (até 276 pg/dl – ver figura
1) ao longo de dois anos. Além
disso, nova densitometria mostrou
coluna lombar preservada e osteo-
penia acentuada no fêmur (T score
-2 DP). A paciente foi submetida
a exames de imagem (ultrassono-
grafia cervical e cintilografia) e,
após localização pré-operatória da
paratireoide afetada, foi realizada
uma paratireoidectomia.
ResulTaDOs
A paciente evoluiu com melhora
sintomática e normalização dos
níveis de PTH após a paratireoi-
dectomia, cujo resultado do histo-
patológico demonstrou a presença
de adenoma produtor de PTH. A
densitometria óssea realizada um
ano após a excisão das paratireoi-
des e instituição da terapêutica
com o uso de cálcio, vitamina D e
bifosfonatos evidenciou ganho de
massa óssea e evitou a progressão
da osteopenia, em comparação à
densitometria inicial.
DiscussÃO
A descoberta ao acaso da osteo-
penia nessa paciente jovem pre-
cipitou o diagnóst ico de HPT
primário assintomático ainda em
fase inicial de normocalcemia.
Porém, deve-se enfatizar que a
paciente em questão apresentava
ciclos menstruais regulares, sem
qualquer evidência de osteopenia
ou osteoporose. A dosagem de
cálcio, fósforo e PTH foi realizada
a fim de se excluírem as causas
secundárias da osteopenia, uma
vez que esta é incomum nessa
faixa etária. Em relação à normo-
calcemia em pacientes com HPT
(níveis elevados de PTH), devem-
se excluir a princípio as causas
secundárias, tais como medicações
(tiazídicos, lítio), deficiência de
25OHD (<20ng/ml), síndrome de
má-absorção intestinal, nefrolití-
ase recorrente ou até mesmo um
HPT incipiente como causas do
quadro (1). Esses pacientes devem
ser tratados de acordo com a causa
que desencadeou o quadro de HPT
normocalcêmico visando à reso-
lução do quadro e acompanhados
cl inicamente com dosagem do
cálcio sérico duas vezes ao ano,
creatinina sérica uma vez ao ano
e densitometria óssea (coluna e
quadril) uma vez ao ano (10). No
entanto, existem controvérsias
quanto à necessidade de cirurgia
em pacientes com hiperparati-
reoidismo assintomáticos (1,4,8).
Após a conferência NIH ficaram
estabelecidos os critérios para a
realização da paratireoidectomia
em pacientes assintomáticos, que
são calcemia acima de 1 mg do
limite superior, calciúria acima de
400 mg/d, redução do clearence em
30% em comparação a indivíduos
da mesma faixa etária, T score
menor que - 2,5 DP, faixa etária
abaixo de 50 anos e impossibilidade
de acompanhamento clínico (9,10).
Dessa forma, foi estabelecido que
os pacientes assintomáticos não
apresentaram aumento na taxa
12 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
de mortalidade. Porém, uma vez
sintomáticos, esses pacientes apre-
sentavam uma maior taxa de mor-
bimortalidade (8,9), necessitando
de tratamento cirúrgico e clínico
associados, visando um aumento
na qualidade de vida e sobrevida.
Este caso demonstra a importância
da investigação das causas secun-
dárias como causa de osteopenia
em mulheres jovens em idade fértil
com ciclos menstruais regulares.
ReFeRÊncias
BiBliOGRÁFicas
1. John P. Bilezikian, M.D. Chapter
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2. Williams, R.H; Larsen, P.R.;
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Bone Min Res 2002; 17 (Suppl 2)
N2-N11; J Clin Endocrinol Metab
2002; 87:5353-5361. n
FIGURA 1
Variação dos níveis de PTH antes e após o tratamento do hiperparatireoidismo
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 13
O Desafio da ImagemThe Image Challenge
Analise os dados e as imagens fornecidos e procure chegar ao diagnóstico.A resposta e os comentários se encontram na página 30.
ResuMO – Trata-se do caso de um paciente do sexo masculino, com 24 anos de idade e previamente sadio e assintomático, apresen-tando queixas de dor torácica, dispneia e tosse com escarros hemoptoicos, 12 horas após o uso de cocaína fumada (crack). Uma tomografia computadorizada de alta resolução (TCAR) foi realizada. (Conduta Médica 2010-11 (44) 13;30)
aBSTRaCT – It is a case report of a 24-year-old man, previously healthy and without symptoms, with complaints of thoracic pain, dyspnea and cough with hemopthysis 12 hours after smoking crack cocaine. A high resolution computed tomography was performed. (Conduta Médica 2010-11 (44) 13;30)
DescRiTORes – dispneia; tosse; hemoptise
KeY-WoRDS – dyspnea; cough; hemopthysis
Autores:Prof. Edson Marchiori Professor Titular e Chefe do Departamento de Radiologia da UFF,Coordenador Adjunto do Curso de Pós-Graduação em Radiologia da UFRJ
Profa. Gláucia ZanettiDoutora em Radiologia pela UFRJ,Professora de Clínica Médica (Pneumologia) da Faculdade de Medicina de Petrópolis
Paciente masculino, 24 anos, previamente sadio e assintomático, com
Queixas de Dor Torácica, Dispneia e Tosse com Escarros Hemoptoicosdoze horas após o uso de cocaína fumada (crack)Case report of a 24-year-old man, previously healthy and without symptoms, with
Complaints of Thoracic Pain, Dyspnea and Cough with Hemopthysis twelve hours after smoking crack cocaine
FIGURAS 1 e 2
Tomografia computadorizada de alta resolução mostrando consolidações focais esparsas, com broncograma aéreo de permeio, observando-se opacidades em vidro fosco na periferia das consolidações
14 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
Hérnia de AmyandAmyand’s Hernia
Autores:Dr. André Figueiredo AccettaMédico Cirurgião do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Prof. Italo AccettaProfessor Titular de Cirurgia de Emergência da Faculdade de Medicina da UFF
Prof. Pietro AccettaProfessor Titular de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina da UFF
Dr. Ary Nascimento BassousMédico Cirurgião do Huap/UFF
inTRODuÇÃO
A hérnia de Amyand é um aconte-
cimento extremamente raro, carac-
terizado pela presença do apêndice
cecal no interior de um saco herniário
inguinal. Foi descrita pela primeira
vez em 1735 por Claudius Amyand,
após operar um paciente com hérnia
inguinal, cujo conteúdo do saco her-
niário era o apêndice cecal inflamado
e necrosado. Atualmente o termo
“Amyand” também tem sido empre-
gado quando o apêndice está normal
e dentro do saco herniário1.
RelaTO DO casO
Paciente de 60 anos deu entrada no
Serviço de Emergência com queixa de
dor na região ínguino-escrotal direita
com evolução de dois dias. Relatou ser
portador de hérnia inguinal à direita há
10 anos, porém há 48 horas a hérnia se
exteriorizou e não foi mais possível re-
duzi-la, surgindo ainda vômitos e febre.
Negou alterações urinárias ou intesti-
nais. Ao exame apresentava-se lúcido,
febril e taquicárdico, com o pescoço,
membros e tórax sem anormalidades. O
abdômen era plano, flácido, doloroso à
palpação profunda nos quadrantes infe-
riores, sem sinais de irritação peritoneal
e com hérnia ínguino-escrotal à direita,
irredutível, muito dolorosa à palpação,
com hiperemia e edema nessa região.
O hemograma mostrava 18 mil 100
leucócitos, e a rotina radiológica para
abdômen agudo revelou sinais sugesti-
vos de níveis hidroaéreos no intestino
delgado. Com impressão diagnóstica de
hérnia ínguino-escrotal estrangulada,
preparamos e indicamos tratamento
cirúrgico através de inguinotomia à
ResuMO – Os autores relatam o caso de um paciente de 60 anos operado com diagnóstico de hérnia ingui-nal estrangulada, em que se constatou tratar-se de hérnia de Amyand. Foram realizados apendicectomia e reparo da hérnia com tela, pela via inguinal. A evolução pós-operatória foi satisfatória. (Conduta Médica 2010-11 (44) 14-15)
aBSTRaCT – The authors report a case of a 60-year-old man diagnosed with a strangulated inguinal hernia. During the surgical treatment an Amyand’s hernia was found. Appendectomy through herniotomy and placement of a mash for hernioplasty were performed. (Conduta Médica 2010-11 (44) 14-15)
DescRiTORes – Hérnia de Amyand; apendicite aguda; hérnia inguinal
KeY-WoRDS – Amyand’s hernia; appendicitis; inguinal hernia
14 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 15
direita. Após dissecção e abertura do
saco herniário indireto, encontramos
no seu interior o apêndice cecal in-
flamado e com necrose (ver figuras 1 e
2). Optamos por apendicectomia pela
via inguinal, irrigação exaustiva da
ferida operatória com soro fisiológico
e tratamento da hérnia com tela à Li-
chteinstein. A evolução foi satisfatória,
com alta hospitalar no terceiro dia de
pós-operatório.
cOMenTÁRiOs
O apêndice cecal é encontrado em
aproximadamente 1% das cirurgias das
hérnias inguinais. Quando inflamado,
tal incidência cai para 0,1% 2. Embora
a inflamação espontânea do apêndice
não possa ser descartada, é possível que
episódios recorrentes de encarceramen-
to ou estrangulamento da hérnia sejam
fatores importantes na evolução para
apendicite aguda.
Os casos relatados na literatura demons-
tram a ocorrência da hérnia de Amyand
em qualquer faixa etária, do recém-nato
ao idoso, sem predileção por sexo.
O quadro clínico depende da extensão
do processo infeccioso e da presença
ou não de peritonite. O achado de
massa dolorosa irredutível na região
inguinal, associado ou não a sinais in-
flamatórios (hiperemia e edema) nessa
topografia traduz a ocorrência de hérnia
estrangulada. Febre e dor contínua no
quadrante inferior direito do abdômen,
exacerbada à palpação, são frequentes.
Entretanto, encontrar sinais sugestivos
de peritonite mais parece ser exceção
do que regra.
Geralmente o diagnóstico de hérnia
de Amyand é estabelecido durante seu
tratamento cirúrgico. A tomografia
computadorizada é capaz de detectar
a inflamação do apêndice cecal no
interior do saco herniário. Porém, ex-
cepcionalmente esse exame é solicitado
quando o diagnóstico pré-operatório
for de hérnia inguinal estrangulada,
conforme ocorre na quase totalidade
desses casos3.
A abordagem cirúrgica da hérnia de
Amyand depende da forma de sua apre-
sentação, de acordo com a extensão da
inflamação e da contaminação da cavi-
dade abdominal. A via de acesso por
inguinotomia parece segura para realizar
apendicectomia (quando há apendicite
aguda) e reparar a hérnia. Nas situações
em que o apêndice se encontra normal é
aconselhada apenas a sua redução para a
cavidade abdominal, sem retirá-lo4.
O emprego de tela no reparo das hérnias
com presença de secreção purulenta foi
contraindicado pela maioria dos autores
consultados2,4,5. Entretanto, o pequeno
número de casos em uma única institui-
ção não permite afirmar com segurança
que o uso da tela seria maléfico nessa
situação.
ReFeRÊncias BiBliOGRÁFicas
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variation of Amyand’s hernia: gan-
grenous appendicitis in incarcerated
inguinal hernia sac. Eur. J. Gen. Med.
5: 112-4, 2008.
2- KWOK, C. M.; SU, C. H. Amyand’s
hernia. A case report and review of
literature. Case Rep. Gastroenterol. 1:
65-70, 2007.
3- MILANCHI, S.; ALLINS, A.D.
Amyand’s hernia; history, imagine and
management. Hernia 12: 321-2, 2008.
4- JAWALD, M.; RAHMAN, N.U.
Amyand’s hernia: appendix within
an inguinal hernia. Pakistan J. Surg.
22:181-2, 2006.
5- YILDZ, F.; TERZI, A. Amyand’s
hernia mimicking acute scrotum. Eur.
J. Gen. Med. 6: 116-8, 2009. n
FIGURAS 1 E 2
Saco herniário aberto com o apêndice cecal inflamado e necrosado
16 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Professor, qual sua conduta
frente a um paciente com
úlcera gastroduodenal com
H. pylori negativo?
A CONDUTA DO PROFESSORNeste espaço, renomados professores de Medicina
respondem sobre sua conduta diagnóstica e/ou terapêutica.
O leitor pode enviar sua pergunta para [email protected].
sempre que nos depararmos com
um paciente portador de úlcera
gástrica e/ou duodenal é obrigatório
afastar a presença do Helicobacter
pylori (H. pylori), pois esse bacilo
es tá presente em 60 a 70% das
ulceras gástricas e em 80 a 90% das
duodenais. É de grande importância
essa conduta, uma vez que a recidiva
ulcerosa, quando não se erradica o
H. pylori, chega a 95% segundo a
literatura.
Para descartarmos definitivamente
a presença do H. pylori devemos
lançar mão de exames complemen-
tares. Entre eles, podemos citar o
exame sorológico com dosagem de
anticorpos, o teste respiratório pela
dosagem do carbono marcado (13 e
14), o exame de cultura, o teste da
urease e o histopatológico através de
biópsias da mucosa gástrica. Temos
que ter, no mínimo, dois desses
exames negativos para valorizarmos
o resultado.
Devemos lembrar, também, que
nas ulcerações em que o H. pylori
é negativo devemos tentar chegar
à sua etiologia, como veremos a
seguir, para resolução definitiva
das lesões.
As lesões ulceradas gastroduodenais
só ocorrem quando há um desequi-
líbrio entre os fatores defensivos e
agressivos da sua mucosa. Entre os
fatores defensivos temos o extraepi-
telial (a camada de muco composta
de glicoproteínas e bicarbonato que
tem a capacidade de neutralizar o Ph
– que varia em torno de 2 intragás-
trico a 7 ao entrar em contato com a
mucosa), o epitelial (que é represen-
tado pela intensa renovação epitelial
e pela membrana celular, composta
de fosfolipídios que repelem a água
evitando a lesão pelo contato do íon
hidrogênio com a mucosa), e temos
também o fator de proteção epitelial
(que é composto pelo bicarbonato e
a prostaglandina gástrica / PGE2).
Esses fatores de defesa evitam a
agressão à mucosa, não permitindo
a formação ulcerosa.
Vários fatores podem concorrer para
o desequilíbrio entre defesa e agres-
são à mucosa, mas o principal ainda
é o medicamentoso, resultado do uso
desordenado de medicamentos e da
falta de orientação, tanto da popula-
ção como de alguns profissionais da
área de saúde. Além do ácido ace-
tilsalicílico, os anti-inflamatórios
não hormonais (muito utilizados
principalmente por reumatologistas
e ortopedistas) se constituem nos
Úlcera gástrica em Zollinger-Ellison
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 17
Prof. Agostinho Soares da Silva Professor Adjunto IV no Departamento de Medicina Clínica e Coordenador do Curso de Especialização de Gastroenterologia da Universidade Federal Fluminense (Niterói – RJ)
principais medicamentos que, na
atualidade, levam a lesões ulcera-
tivas da mucosa gastroduodenal.
Isso porque esses medicamentos,
além de interferirem na bomba de
sódio – levando à grande entrada de
água na célula e consequentementre
à lise celular –, bloqueiam a ciclo
oxigenase, que representa um fator
vital na defesa celular.
Sempre que possível devemos inter-
romper o uso do medicamento. Mas,
quando sua utilização for indispensá-
vel, devemos proteger a mucosa com
bloqueadores da bomba de prótons
(BBP) ou com outro medicamento
de contato: tínhamos o misoprostol,
que atualmente está proibido no
Brasil, e temos o sucralfato.
Nas hipovolemias graves, princi-
palmente nos grandes queimados
(que vão apresentar hipóxia tissular
devido ao fechamento dos esfíncte-
res pré-capilares pela liberação das
catecolaminas levando à formação
das conhecidas úlceras de Curling),
devemos fazer reposição volêmica o
mais rápido possível para evitarmos
a liberação das catecolaminas.
No estresse, as lesões ocorrem devido
à desgranulação mastocitária, libe-
rando na circulação histamina,
serotonina e heparina, substâncias
estas que promovem um fechamen-
to dos esfíncteres pós-capilares – o
que leva à estagnação capilar, com
consequente sofrimento celular e
redução de seus fatores de defesa.
Devemos, a todo custo, reduzir os
fatores de estresse, ainda que utili-
zemos a ajuda de um profissional da
área afim. Podemos utilizar também,
tanto como profilaxia quanto como
tratamento, os bloqueadores da
bomba de prótons (BBP).
Temos também as lesões expansi-
vas neurológicas, principalmente
a s que comprometem o tá lamo
e hipotálamo, onde emergem os
nervos vagos, levando às ulceras de
Cushing –que podem ser diagnosti-
cadas pelo exame clínico e exames
complementares como tomografia
computador i zada e res sonância
magnética. O tratamento, sempre
que possível, é neurocirúrgico, mas
podemos fazer uso de medicamentos
como os BBP.
Entre os tumores neuroendócrinos
temos o gastrinoma, conhecido como
Zollinger-Ellison, que produz grande
quantidade de gastrina, levando
a múltiplas ulcerações. Devemos
conf i rmá- lo com a dosagem de
gastrina e localizar a lesão através
de exames complementares como
tomografia computadorizada, resso-
nância magnética e ecoendoscopia,
para possibilitar a retirada do tumor
e obter a cura definitiva.
Temos ainda várias outras causas de
úlceras gastroduodenais, e entre elas
podem ser citadas a causa metabóli-
ca (como no hiperparatireoidismo),
a intoxicação por cromo, a doença
de Crohn, a tuberculose, e outras.
Mesmo estas sendo causas raras de
ulcerações gastroduodenais, devem
sempre ser lembradas quando não se
tem uma etiologia ainda definida.
O tratamento deve ser sempre o da
patologia de base, pois o tradicional
normalmente leva à perpetuação
ulcerosa. n
18 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
Fraqueza Muscular e Feridas na PeleMuscle Weakness and Cutaneous Wounds
Sessão clínica realizada no dia 9 de setembro de 2009, na 10a Enfermaria do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UniRio (Rio de Janeiro - RJ).
Apresentadores:André Gustavo MeliloAnna Carolina FreitasInternos de Medicina da UniRio
Participantes:Prof. Rogerio Neves MottaProf. Fernando Raphael FerryProfessores da Clínica Médica B / 10a Enfermaria do HUGG / UniRio
Guilherme Almeida Rosa da SilvaPaula HaffnerPaola CostaAndré Barros NogueiraMédicos Residentes / 10a Enfermaria do HUGG / UniRio
Patrícia Nathaly Guedes da SilvaÍris Silva de BarrosBruno Silva NaniInternos de Medicina da UniRio
Ariane AragãoLuciana Ribeiro Mariana de Brito ColomboLaura Luna MachadoRafael AlmeidaFelipe de BarrosAntonio Pedro MenteraFausto Petrillo CotrimSamuel NetoMaristella RusAcadêmicos de Medicina da UniRio
inTeRnO anDRÉ
Identificação: E.R.S., 33 anos, mas-
culino, solteiro, pardo, brasileiro,
natural da Paraíba, residente em
Manguinhos, no Rio de Janeiro, pe-
dreiro, evangélico.
Queixa Principal: “fraqueza muscu-
lar e feridas na pele”
História da Doença Atual: História
de miosite inflamatória (anti-Jo 1)
há dois anos, em uso de prednisona.
Há dois meses apresenta fraqueza
muscular progressiva, acometendo
membros de forma proximal e simé-
trica, sem associação com repouso
ou esforço físico, com diminuição
da capacidade laborativa. Relata
piora sintomatológica há cinco dias,
evoluindo com dificuldade para de-
ambular e leve disfagia. Apresenta
lesões crostosas, hemáticas, não pru-
riginosas e indolores nos membros,
creditadas a tuberculose cutânea em
tratamento vigente (dois meses e
meio). Nega mialgia, febre, tosse,
náuseas, vômitos ou demais queixas
clínicas. No dia 6 de agosto de
2009, em consulta ambulatorial, foi
encaminhado para a 10ª enfermaria
para investigação, diagnóstico e
tratamento.
História Patológica Pregressa: Não
sabe informar sobre doenças comuns
na infância. Tuberculose pulmo-
nar há um ano, t ratamento por
seis meses com RIP finalizado em
janeiro/2009. Nega diabetes melli-
tus, hipertensão arterial sistêmica,
HIV/Aids, alergias, cirurgias prévias
ou hemotransfusões. Tem histórico
complexo de quatro internações
prévias: 1ª) dez/2007 - Quadro de
ResuMO – Trata-se do relato do caso de um paciente de 33 anos, do sexo masculino, que se apresentou com queixas de fraqueza muscular e feridas na pele. Informa história de miosite há dois anos, em uso de prednisona. Há dois meses apresentou fraqueza muscular progressiva e, há cinco dias, dificuldade para de-ambular e leve disfagia. Foi internado para investigação. O caso é discutido em sessão clínica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. (Conduta Médica 2010-11 (44) 18-23)
aBSTRaCT – It is a case report of a 33-year-old man with complaints of muscle weakness and cutaneous wounds. His complaints began two years ago, with miositis and use of prednisone. Two months ago the muscle weakness became strong and progressive, and five days ago he had dysphagia and difficulty of walking. The patient was admitted to the hospital to investigate the clinical picture. The case report is discussed in a clinical session in the Universitary Gaffreé e Guinle Hospital. (Conduta Médica 2010-11 (44) 18-23)
DescRiTORes – Feridas; fraqueza muscular; disfagia
KeY-WoRDS – Wounds; muscle weakness; dysphagia
18 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 19
>
dor e paresia em membros superio-
res e inferiores, realizada biópsia
de segmento de músculo deltoide,
com diagnóstico de miosite crônica
inespecíf ica, FAN 1/320, tendo
recebido alta hospitalar em uso de
prednisona, levotiroxina T4 e me-
totrexate; 2ª) março/2008 - Quadro
de lesões nodulares nos membros
inferiores e mialgia, tendo sido
administrada cefazolina, obteve-se
melhora do quadro e alta; 3ª) julho/
2008 - Quadro de dor torácica e
tosse produtiva, diagnóstico de tu-
berculose pulmonar, tendo recebido
alta hospitalar para tratamento am-
bulatorial com RIP; 4ª) maio/ 2009
- Apresentava lesões nodulares,
dolorosas e quentes, além de lesões
gomosas pelo corpo, associadas a
febre intermitente e dor intensa
em membros, teve diagnóstico de
tuberculose cutânea através de ba-
ciloscopia BAAR positiva (secreção
de abscesso), e foi iniciado RIPE,
apresentava anti-HIV negativo e
anti-Jo 1 reativo, tendo recebido
alta (D29 IH) para seguimento do
tratamento ambulatorialmente.
História Familiar: Tem pai e mãe
vivos; desconhece doenças prévias
paternas e diz ter mãe hipertensa;
relata ter duas irmãs com históricos
de hepatite e epilepsia separada-
mente, além de dois irmãos hígidos;
não tem filhos. Não sabe relatar
doenças comuns na família ou algum
parente com doença semelhante no
momento.
História Fisiológica: Nascido de parto
a fórceps, eutócito, a termo. Cresci-
mento e desenvolvimento adequados
com a idade, sexarca aos 14 anos.
Alega múltiplas parceiras com uso
de preservativos nas relações sexuais.
Nega relações homossexuais.
História Social: Mora em casa de
alvenaria, com condições higiêni-
co-sanitárias satisfatórias. Nega a
presença de animais domésticos. É
tabagista há 20 anos (carga tabágica
20 maços-ano); etilista há 20 anos
(mas alega fim do etilismo há apro-
ximadamente um ano); nega uso de
drogas ilícitas. Medicações de uso
regular: prednisona 40mg 1x dia, RIP
há dois meses e meio - tratamento
para tuberculose cutânea.
inTeRna anna
O exame físico, na admissão, revela-
va regular estado geral. O paciente
estava lúcido, orientado no tempo e
espaço, cooperativo, restrito ao leito,
prostrado, eupneico, afebril, hidra-
tado, corado, acianótico, anictérico,
com perfusão capilar periférica sa-
tisfatória e ausência de linfonodos
palpáveis, queixando-se de fraqueza
e mialgia intensas.
Sinais Vitais: FC - 79 bpm; FR -
19irpm; PA - 130x80 mmHg; Tax:
36,6oC.
Aparelho Cardiovascular: Ausência
de cicatrizes, massas ou abaulamen-
tos. Ictus não palpável. Ritmo
cardíaco regular, 2 tempos. Bulhas
normofonéticas, sem sopros ou ex-
trassístoles.
Aparelho Respiratório: Frêmito to-
racovocal normal, expansibilidade
preservada, atimpânico à percussão.
Murmúrio vesicular diminuído em
bases, sem ruídos adventícios.
Abdômen: Ausência de cicatrizes,
massas ou nódulos. Peristalse presen-
te. Abdome timpânico à percussão,
flácido, indolor à palpação, ausência
de massas ou visceromegalias. espaço
de Traube livre.
Membros Inferiores: Sem edema,
panturrilhas livres, pulsos pediosos
amplos e simétricos.
Exame Neurológico: Força muscular
grau III/IV, sensibilidade e reflexos
profundos preservados. Mialgia pre-
judica o exame.
Pele: Rash eritematoso em tórax e
membros superiores, máculas eri-
tematosas em membros inferiores,
lesão fistulizada com saída de secre-
ção purulenta no membro superior
esquerdo.
Exames Complementares:
O hemograma apresentava hemoglo-
bina de 12,5g/dL, estava normocrô-
mico e normocítico, com plaquetas
de 638.000/mm3, leucócitos de
26.600/mm3 com 10% de bastões
e 80% de segmentados, VHS de
66mm. A bioquímica apresentava
de alterados CPK de 16.840U/L
(VR 32 a 294 U/L), aldolase de
108,2U/L (VR < 7,6 U/L), LDH
de 1600 U/L (VR 120 a 246 U/L),
TGP de 192U/L e TGO de 386U/L,
e gama-GT de 149U/L.
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 19
20 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
A radiografia de tórax evidenciou
campos pulmonares com presença
de pequeno infiltrado bilateral em
base de ambos os hemitóraces, seios
costofrênicos e cardiofrênicos livres,
mediastino sem desvios.
Na internação, foi realizada hidra-
tação vigorosa com 2.500 ml de SF
0,9% por dia, prednisona 40 mg/
dia, esquema RIP para a tuberculose
cutânea (a pirazinamida foi substitu-
ída pelo etambutol após três dias de
internação), furosemida 20 mg 2x/dia
e ranitidina 50 mg 2x/dia.
No dia seguinte à internação, a
Reumatologia visitou o paciente e
sugeriu o inicio de antibioticoterapia
com cobertura para estafilococos
(pela infecção secundária das lesões
cutâneas), além de início de Tramal
50 mg IV 6/6h e amitriptilina 50
mg ao dia para as intensas mialgias,
complexo B duas vezes ao dia devido
ao esquema para tuberculose, coleta
de hemoculturas e oxacilina 1g 4/4h
IV. Foi prescrita dieta oral pastosa,
devido ao grau de disfagia. Pacien-
te evoluiu com humor deprimido
e choroso, com piora progressiva
e significativa da fraqueza muscu-
lar, não sendo capaz de flexionar o
pescoço. Havia força muscular grau
II em membros inferiores e grau III
em membros superiores. Referia
melhora da mialgia e involução das
lesões crostosas. Desde a admissão
mantinham-se os picos febris diários
(38 - 39oC), geralmente noturnos. O
paciente evoluiu com piora do rash
cutâneo e prurido intenso, e nesse
momento optou-se pela suspensão
da oxacilina, substituindo-a por
cefazolina 1g IV 8/8h. Foi também
suspensa a furosemida e reduzida a hi-
dratação para 1000ml/dia. A diurese
era 7100ml/dia; o EAS estava normal
e urocultura negativa. Devido ao
exantema difuso, foi realizada punção
de veia subclávia direita.
Uma semana após, em nova visita,
a Reumatologia sugeriu reduzir a
prednisona para 30 mg. Em vista da
piora do rash cutâneo, interrogamos
eritema multiforme minor por deri-
vados penicilínicos. Três dias após
a diminuição da dose de prednisona,
houve piora clínica, tendo o paciente
apresentado força muscular grau I,
dispneia e esforço respiratório, além
de disfagia moderada. A Reumato-
logia optou por realizar micropulso-
terapia com metilprednisolona 250
mg IV, obtendo melhora da disfagia
mas não da força muscular.
A Dermatologia, então, descreveu
lesões dermatológicas sugestivas
de dermatomiosite, com rash erite-
matoso descamativo generalizado,
poupando apenas a face (veja fotos
1 a 4).
Em vista da piora clínica a despeito
da micropulsoterapia, a Reumatolo-
gia optou por aumentar a prednisona
para 60 mg/dia e avaliou o início de
ciclofosfamida na semana seguinte.
Também foi realizada biópsia na
perna esquerda pela Dermatolo-
gia, e enviado material para exame
histopatológico, interrogando-se
dermatomiosite, farmacodermia e
vasculite. Houve piora progressiva
com aumento da frequência cardíaca
(~120 bpm), com incursões respi-
ratórias superficiais – fadiga respi-
ratória – e taquipneia. O paciente
evoluiu com hipopneia, cianose e
torpor. Foi, então, realizada entu-
bação orotraqueal associada a ven-
tilação mecânica, e providenciada a
transferência do paciente para o CTI.
A bioquímica e o hemograma estão
plotados nas tabelas 1 e 2. Deve ser
dado especial destaque aos valores
elevados de LDH e CPK, e CK-MB.
inTeRnO anDRÉ
O caso é de um homem de 33 anos
com fraqueza e elevação das enzimas
musculares CPK e aldolase. O diag-
nóstico diferencial gira em torno
dos seguintes: miastenia gravis, sín-
drome de Guillan-Barré, síndro-
me miastênica de Eaton-Lambert,
doença do neurônio motor, distrofia
muscular de Duchene, infecções
virais ou oportunistas, miopatias
por drogas (penicilamina, colchi-
cina, cocaína, heroína), desordens
endócrinas (hipotireoidismo, hipo/
hiperparatireodismo, etc), rabdo-
miólise e polimiosite. A miastenia
gravis é uma doença da placa neural
e causa fraqueza principalmente
facial; a Guillan-Barré geralmente
cursa com fraqueza muscular ascen-
dente; na síndrome miastênica de
Eaton-Lambert, a fraqueza muscular
20 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 21
>
é melhorada com a movimentação
do grupamento; na doença do neu-
rônio motor, as enzimas musculares
são normais e a fraqueza muscular
tende a ser mais axial; a distrofia
muscular de Duchene se apresenta
na infância. As infecções virais ou
oportunistas surgiriam na presença
de um quadro infeccioso. Não há
relato de uso de drogas, afastando as
miopatias ocasionadas pelo seu uso,
assim como não há história clínica
de endocrinopatias ou de condições
que pudessem levar à rabdomiólise,
tais como trauma, queimaduras, etc.
Ficamos, então, com o diagnóstico
de polimiosite, que é um processo
inflamatório idiopático não supu-
rativo da musculatura esquelética,
manifestado clinicamente por fra-
queza proximal e simétrica, elevação
laboratorial das enzimas musculares
e alterações eletromiográficas de
miopatia. Contudo, esse paciente
também possuía lesões dermato-
lógicas características, tais quais
heliótropo e pápulas de Grotton, o
que o insere no quadro clínico de
dermatopolimiosite.
inTeRna anna
Irei falar um pouco sobre miopatias
inflamatórias. A polimiosite/der-
matomiosite tem incidência baixa
(1:100.000), predominância em
mulheres 2:1 e faixa etária de 7-15
anos e 30-50 anos. A etiologia é
desconhecida, e a teoria multifatorial
com um processo imunomediado em
FIGURA 4
Lesões descamativas em tórax e membros superiores, além de lesões crostosas cicatriciais de tuberculose cutânea em tratamento
FIGURA 1
Pápulas de Grotton: formações elevadas, escamosas, simetricamente distribuídas nos nós dos dedos
FIGURA 2
Mão de mecânico: fissuras e lesões ásperas escuras em regiões lateral e palmar dos quirodáctilos
FIGURA 3
Heliótropo: exantema violáceo em pálpebras superiores com edema periorbitário
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 21
22 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
7/8/09 10/8/09 14/8/09 17/8/09 20/8/09 24/8/09 26/8/09ureia (10-50) 20 21 14 14 17 15 20Creatinina (0,7-1,3) 0,3 0,4 0,3 0,3 0,3 0,2 0,1Glicemia (60-100) 69 88 83 76 77 90 86LdH (230-460) 3205 - - 2854 - 2970 -CPK (24-195) - Sem Kit 8033 - - - 10296CKmB (0-25) - - 560,3 - - - -tGP (0-41) 195 185 161 160 183 194 -tGo (0-38) 359 325 325 359 475 380 -Proteínas (6,1-7,9) 5,5 5,0 5,2 5,3 5,3 5,5 6,3Globulina (2,5-3,3) 2,9 2,5 2,71 2,82 3,13 3,6 3,31albumina (3,5-4,8) 2,6 2,5 2,5 2,5 2,2 2,4 3,0Bil. total 0,39 - 0,27 0,25 0,33 0,29 0,38Bil. direta 0,11 - 0,08 0,09 0,10 0,12 0,12Sódio (136-145) 132 130 - 131 129 128 130Potássio (3,5-5,0) 4,3 4,6 - 4,5 4,2 4,3 3,8Cloro (102-109) 96 96 - 97 98 104 96magnésio (1,5-2,5) 1,3 1,2 1,5 1,3 1,6 - -Cálcio corrigido (8,5-10) 10,4 - 9,6 10,1 9,6 - -taP 10,6s/87% - - 13,1s/57% - 13,5s/54% - inR 1,07 - - 1,34 - 1,39 - Ptta 30,05 - - 31,2 - 30,0 -
sessÃO clínica / CliniCal SeSSion
TABELA 1
Evolução laboratorial da bioquímica
pacientes geneticamente suscetí-
veis é a mais aceita. As hipóteses
que fundamentam essa teoria são
a associação com outras desordens
autoimunes e a presença de autoan-
ticorpos circulantes. A patogenia
da polimiosite é caracterizada por
lesão direta mediada pela imunidade
celular através de linfócitos TCD8+,
com invasão das fibras musculares
saudáveis, estando o infiltrado in-
flamatório localizado no interior do
TABELA 3 Relação dos autoanticorpos com a poli/dermatomiositeTABELA 2 Evolução do hemograma
22 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
7/8/09 10/8/09 14/8/09 17/8/09 19/8/09 24/8/09
RBC (4,5-5,9) 4,17 4,02 4,02 4,31 4,33 4,42
HGB (12-17) 11,5 11,2 11,0 11,8 11,9 12,0
HCt (36-50) 36,4 35,2 34,7 37,0 36,9 37,4
VCm (80-100) 87 88 86 86 85 85
HCm (25-32) 27,6 27,9 27,4 27,5 27,4 27,2
CHCm (32-35) 31,6 31,8 31,8 32,0 32,2 32,2
PLt (150,400.103) 634.000 587.000 530.000 398.000 370.000 79.000
WBC (5-11miL) 17.700 15.100 14.600 11.700 10.000 8.200
nEu (45-70seg) 84 82 66 (1mt) 76 764 62
Bt (1-5) 07 05 07 05 03 04
Lin (20-45) 04 06 12 07 20 14
mon (4-10) 04 02 07 05 02 05
EoS (1-5) 07 05 07 07 11 15
VHS (H:<15) - - 47 - - -
Reticul. (0,5-2) 1,7 4,3 - 0,9 - 1,8
autoanticorpos Prevalência acomedimento Prognóstico (5 anos)anti - Jo - 1 20% dPi; artrite; Ruim Fenômeno de (mais comum na Pm) Raynaud; (apr. 75%) mãos de mecânico anti - mi - 2 10% dm início agudo Bom com rash em "V" (mais comum na dm) com alterações em (> 95%) cutículas anti - SRP 5% doença início agudo; muito Ruim envolvimento cardíoco; fraqueza (apr. 35%) severa anti - Pi - 7 5% Pm com dPi - (exclusivo da Pm) anti - Pi - 12 5% Pm com Pdi - (exclusivo da Pm)
fascículo, sem comprometimento
vascular ou deposição de imunocom-
plexos. Já a dermatomiosite é ca-
racterizada por lesão direta mediada
pela imunidade humoral, através
da deposição de imunocomplexos
em vasos na intimidade muscular,
com microangiopatia e isquemia
muscular. As manifestações clínicas
envolvem vários órgãos, e podem
ser referidas como mal-estar, febre,
fadiga, artralgia, artrite com rigidez
matinal, dispneia aos esforços, tosse,
palpitações, arritmias cardíacas e,
mais caracteristicamente, fraqueza
muscular simétrica e proximal – e, no
caso de dermatomiosite, pápulas de
Grotton, heliótropo, mão de mecâni-
co, erupções eritematosas. A miosite
por corpúsculos de inclusão é uma
entidade miopática inflamatória que
atinge mais homens com idade acima
de 50 anos, e é de evolução insidiosa,
lenta e contínua. A fraqueza muscu-
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 23
doses imunossupressoras, pulsotera-
pia ou imunossupressores. Devem-se
utilizar medidas como cinesioterapia
para evitar contraturas musculares
e repouso no leito no caso de infla-
mação severa. As medidas gerais se
baseiam em prevenção da osteoporo-
se, mudança periódica no leito e não
exposição direta aos raios solares. O
nível sérico de CPK isolado não é
parâmetro fidedigno de melhora. A
baixa resposta ao tratamento pode ser
devida à dose inadequada de corti-
coide, redução excessiva da dosagem,
diagnóstico errôneo, malignidade
associada ou miopatia concomitante
causada pelos esteroides.
alunO na PlaTeia
A CPK alta indica sempre necrose
muscular?
PROF. FeRnanDO
Sim, a CPK é uma enzima presente
nas células musculares. Quando
ocorre lesão com perda da integridade
da membrana celular, essa enzima ex-
travasa para o meio externo e pode ser
dosada no soro. Como na poli/derma-
tomiosite ocorre lesão imunomediada
no endomísio, tal processo termina
com a necrose de fibras musculares
e liberação de grande quantidade de
enzimas para o meio externo. Quanto
maior o dano celular, maior a concen-
tração de enzimas no soro.
PROF. ROGeRiO
É importante salientar que a maioria
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 23
lar é distal e assimétrica, com fraque-
za facial leve encontrada em um terço
dos casos. Os níveis de CPK podem
estar normais ou moderadamente
aumentados, e o diagnóstico é feito
com biópsia muscular.
inTeRnO anDRÉ
Pode haver a associação de poli/
dermatomiosite com outras doenças
do tecido conjuntivo ou desordens
autoimunes, sendo assim denomina-
das de síndromes de superposição.
A poli/dermatomiosite possui alta
associação com câncer, sendo a in-
cidência de malignidade três vezes
maior que na população saudável,
com pico de incidência dois anos
antes ou após o desenvolvimento de
miosite. Os tumores mais comuns
são os de pulmão, mama, ovário,
cólon, reto, estômago, pâncreas,
melanoma e linfomas não-Hodgkin.
A presença do tumor maligno não
afeta a manifestação da doença, não
influencia a resposta terapêutica e
sua erradicação não afeta a evolução
da doença muscular. Podemos en-
contrar, como manifestações labora-
toriais da poli/dermatomiosite, pre-
sença de autoanticorpos (ver tabela
3), elevação das enzimas musculares,
eletroneuromiografia com padrão
miopático e biópsia muscular, tida
como padrão-ouro. O diagnóstico é
fundamentado nos achados clínicos,
laboratoriais, eletroneuromiográfi-
cos e histológicos. O tratamento é
realizado com glicocorticoides em
das doenças dermatológicas, excluin-
do psoríase, piora com a exposição
solar. Esse paciente chegou a usar
imunossupressor?
inTeRna anna
Não, ele não chegou a iniciar imunos-
supressor devido à piora do quadro e
à transferência dele para o CTI. Era
um paciente de difícil manejo, visto
que o aumento do corticoide piorava
a tuberculose.
alunO na PlaTeia
O que poderia explicar essa piora
rapidamente progressiva do paciente
em questão?
inTeRna anna
Provavelmente foi a diminuição da
dose de corticoide devido ao quadro
de tuberculose cutânea que ele de-
senvolveu.
ResiDenTe GuilHeRMe
O fato de haver uma infecção secun-
dária também piora o quadro clínico.
O grande impasse com esse paciente
foi a decisão de realizar a pulsotera-
pia. Sabia-se que era muito arriscado
realizá-la na vigência de uma infec-
ção secundária, mesmo se tratando
de tuberculose cutânea. No Medline
só havia um artigo correlacionando
dermatomiosite com tuberculose
cutânea.
PROF. ROGeRiO
Agradeço a todos pela sessão. n
24 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
inTRODuÇÃO
Obstrução intestinal por cálculo biliar
é uma doença rara, correspondendo
a desde 1% até 4% dos quadros de
oclusão intestinal mecânica (1). É
mais prevalente em mulheres e idosos,
podendo representar 25% dos casos
de obstrução intestinal em pacientes
maiores de 65 anos que não possuem
cirurgia abdominal prévia ou hérnia (1).
Está associada a alta morbimortalidade,
principalmente quando o diagnóstico
não é feito precocemente.
O quadro se desenvolve a partir de uma
colelitíase complicada com colecistite
que inflama a parede vesicular e intes-
tinal adjacente, causando uma fístula
do sistema biliar com o trato gastroin-
testinal. Em aproximadamente 65 a
77% dos casos a comunicação ocorre
com o duodeno, seguido pelo cólon
(10-25%) e estômago (5%) (2). O local
mais frequente de impactação é o íleo
terminal e válvula íleocecal, devido
à redução do seu calibre e ao fraco
peristaltismo. Outros locais menos
comuns são jejuno, duodeno e cólon.
Os cálculos impactados geralmente
apresentam mais de 2,5cm.
O quadro clínico é variável, dependen-
do do local de impactação do cálculo,
podendo apresentar-se de forma aguda,
intermitente ou crônica. Os sinto-
mas mais comuns são dor abdominal,
náuseas e vômitos, ocorrendo também
distensão abdominal e febre.
O diagnóstico clínico é difícil, depen-
dendo de achados radiológicos e/ou
Autores:Prof. Walter Assis MelloProfessor Adjunto de Radiologia do Departamento de Radiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Prof. Miguel Chaves FilhoProfessor Adjunto de Cirurgia do Departamento de Cirurgia Geral da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Daniele Pitanga TorresFernanda Mello ErthalMariana Mesquia VillelaXimene Lima da Silva AntunesInternas do Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF
A Importância da Tomografia Computadorizada no Diagnóstico do Jejuno BiliarThe Importance of Helical CT in Diagnosis of Jejunal Gallstone Biliary
ResuMO – A obstrução intestinal por cálculo biliar é uma rara complicação da colelitíase, correspondendo a de 1 a 4% dos quadros de oclusão intestinal mecânica. O local mais frequente de impactação é o íleo terminal, sendo menos comum no duodeno, jejuno e cólon. Apresenta elevada morbimortalidade, princi-palmente quando não diagnosticada precocemente. O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância da tomografia computadorizada no diagnóstico precoce dessa rara entidade: o jejuno biliar. (Conduta Médica 2010-11 (44) 24-26)
aBSTRaCT – Intestinal obstruction by gallstones is a rare complication of cholelithiasis, which corresponds to 1 to 4% of frames mechanical intestinal obstruction. The most frequent site of impaction is the terminal ileum, and least common is in the duodenum, jejunum and colon. It is related with high morbidity and mortality, especially when not diagnosed early. The objective of this case report is to demonstrate the importance of computed tomography in early diagnosis of this rare entity: the jejunum gallstone biliary. (Conduta Médica 2010-11 (44) 24-26)
DescRiTORes – Jejuno biliar; obstrução intestinal; tomografia computadorizada
KeY-WoRDS – Jejunal gallstone; intestinal obstruction; CT
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
24 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 25
cirúrgicos. A tomografia computadori-
zada é o principal exame para o diagnós-
tico, em função de sua melhor resolução
e capacidade de auxiliar na escolha da
melhor abordagem cirúrgica.
O tratamento é cirúrgico, mas a melhor
abordagem ainda não é consenso.
Existem duas estratégias cirúrgicas: a
enterolitotomia isolada e a enteroli-
totomia associada à colecistectomia e
reparo da fístula (3).
RelaTO De casO
Paciente feminina, 68 anos, obesa,
hipertensa, multípara, deu entrada no
Serviço de Emergência do Hospital
Universitário Antônio Pedro em feve-
reiro de 2009, com quadro de dor abdo-
minal tipo cólica com duração de dois
dias, predominante em flanco esquerdo
com irradiação para mesogástrio, que
não cedia a analgésicos, associada a
vômitos biliosos. A paciente não tinha
febre, parada de eliminação de gases ou
quaisquer outros sintomas.
Exame Físico:
Paciente com queda do estado geral,
desidratada, hipocorada, afebril, nor-
motensa. Aparelho cardiovascular e
respiratório sem alterações. Abdome
flácido, com peristalse débil, doloroso
à palpação profunda, principalmente
em fossa ilíaca e flanco esquerdos.
Membros inferiores sem alterações
Conduta:
Passagem de sonda nasogástrica, com saída
de 450 ml de suco gástrico bilioso, sendo
colocada em sifonagem. Foram iniciadas
antibioticoterapia e hidratação venosa.
Foram solicitados exames de imagem e
laboratoriais.
Exames Complementares:
US abdominal - Vesícula biliar preenchi-
da com múltiplas imagens ecogênicas e
com espessamento parietal. Vias bilia-
res de calibre normal. Alças intestinais
de delgado distendidas.
TC de abdome sem contraste - Vesí-
cula biliar pouco distendida, com
irregularidade parietal com conteúdo
gasoso. Evidência de volumoso cálculo,
medindo aproximadamente 3,5cm, em
alça jejunal determinando distensão
de alças a montante. (ver figuras 1, 2A
e 2B)
Laboratório - Hto - 47.9%; Hb - 15,2; Leu-
cócitos - 30600 (0/9/0/0/4/61/17/9);
U - 131; Creatinina - 2,87; Na - 131; K
- 3,9; PCR - 20,82; TGO -16; TGP -11;
FA -100; GGT - 52; Bd - 0,33; Bi - 0,39;
Amilase - 670; Lipase - 32; Glicose -
131; INR - 1,16; PTT - 0,89.
FIGURA 1
Tomografia do abdome sem contraste mostra vesícula biliar reduzida de volume, contendo gás (cabeça de seta) no seu interior, e irregularidade na parede vesicular e duodenal adjacente (seta)
FIGURA 2 Tomografia do abdome sem contraste mostra (A) duodeno e jejuno distendidos (setas), e (B) cálculo com 3,5cm impactado no jejuno (seta)
A
B
>
26 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Evolução:
A paciente evoluiu com quadro de
insuficiência pré-renal e piora da de-
sidratação, sendo indicada cirurgia de
urgência. Na laparotomia visualizaram-
se alças de jejuno distendidas, cálculo
biliar de aproximadamente 3,5cm
obstruindo a luz intestinal, fístula co-
lecisto-duodenal e um segundo cálculo
volumoso no infundíbulo vesicular. Foi
realizada jejunolitotomia com colecis-
tectomia e reparo da fístula.
DiscussÃO
A radiologia é de fundamental im-
portância no diagnóstico da obstru-
ção intestinal por cálculo biliar, em
função da inespecificidade do quadro
clínico. Entre os exames de imagem, os
mais usados são radiografia simples de
abdome, ultrassonografia e tomografia
computadorizada.
Na radiografia simples e nos exames
contrastados podemos encontrar nível
hidroaéreo, alças intestinais dilatadas,
edema de parede, pneumobilia e con-
traste na árvore biliar, além de cálculo
ectópico, no interior de alças intesti-
nais, visível em apenas 10% dos casos.
A ultrassonografia pode demonstrar
pneumobilia, sinais sugestivos de cole-
cistite, vesícula de contorno irregular,
colelitíase, fístula, ou, ainda, vesícula
colapsada, sendo difícil sua visualiza-
ção.
A tomografia computadorizada é um
método altamente sensível e específico
em determinar a presença de obstru-
ção intestinal e demonstrar seu sítio e
sua causa, proporcionando um rápido
diagnóstico com melhor resolução e
maior acurácia, coisa importante numa
situação emergencial (7). É capaz de
demonstrar os sinais anteriormente
descritos, além de estimar o tamanho
do cálculo impactado, o local da fístula
e a transição da alça dilatada para a
colapsada com maior precisão. Sendo
assim, é de fundamental importância
por permitir o diagnóstico precoce e
conduta adequada, evitando sérias com-
plicações tais como distúrbios hidroele-
trolíticos, lesões isquêmicas, ulcerações
intestinais, abscessos, perfuração livre e
peritonite.
Lassandro e colaboradores avaliaram 27
casos de íleo biliar a fim de comparar os
métodos radiológicos e observaram a
tríade de Rigler (aereobilia, obstrução
intestinal e cálculo ectópico) em apenas
14,81% das radiografias de abdome,
11,11% das ultrassonografias e 77,78%
das tomografias computadorizadas,
reforçando esta última como o melhor
método diagnóstico (1).
Dessa forma, a tomografia computado-
rizada é recomendada para avaliação
de pacientes com suspeita de obstrução
intestinal, particularmente quando o
quadro clínico e os achados radiológicos
convencionais se mostram insuficientes
para elucidação do diagnóstico.
O caso em questão confirmou os relatos
da literatura. A paciente apresentou
achados inespecíficos ao ultrassom e
radiografia de abdome, sendo o diagnós-
tico firmado através da TC, na qual foi
encontrada a tríade de Rigler.
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RelaTO De casO / CaSe RePoRT
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 27
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
Cardiomiopatia Dilatada: Diagnóstico Diferencial entre a Forma Alcoólica e da CocaínaDilated Cardiomiopathy: Differencial Diagnosis between the Alcoholic and Cocain Form
Autores:Prof. Antonio Alves de CoutoProfessor Titular da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Dra. Annie de Azeredo Coutinho Médica Graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
Dr. Jorge Costa JuniorMédico Graduado pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
Amanda Loureiro BonomoEndyer FehlbergRafael Rodrigues MatiasRenato Castelo BrancoThiago Alexsandro GonçalvesThomas Moreira CarvalhoAcadêmicos de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF)
ResuMO – Os autores apresentam o caso de um paciente de 46 anos com história de insuficiência cardíaca congestiva, etilismo e uso de cocaína. O diagnóstico diferencial inclui vários elementos que serão discutidos a seguir. (Conduta Médica 2010-11 (44) 27-29)
aBSTRaCT – The authors report the case of a 46-year-old patient with severe heart failure besides the heavy use of alcohol and cocaine. Differencial diagnosis includes several features as we will discuss in this article. (Conduta Médica 2010-11 (44) 27-29)
DescRiTORes – Cardiomiopatia dilatada; álcool; abuso de cocaína
KeY-WoRDS – Dilated cardiomyopathy; alcohol; cocaine abuse
inTRODuÇÃO
Diante de paciente com insuficiência
cardíaca com grave disfunção sistólica
(fração de ejeção muito reduzida),
impõe-se o diagnóstico de cardio-
miopatia. Descreveremos, a seguir, o
caso de um paciente de 46 anos com
cardiomiopatia dilatada associada ao
uso de álcool e cocaína.
RelaTO DO casO
Identificação: Paciente masculino,
46 anos.
Queixa Principal: Falta de ar.
História da Doença Atual: Paciente
de 46 anos, negro, desempregado, foi
internado há 21 dias na enfermaria
de Cardiologia do Hospital Univer-
sitário Antonio Pedro (Huap), da
Universidade Federal Fluminense,
com relato de dispneia aos pequenos
esforços e repouso, apresentando-se
em anasarca.
Ficou internado por 10 dias, e obteve
alta com medicação para ICC e anti-
coagulação. Após 11 dias retornou ao
Huap e foi internado novamente por
apresentar a mesma sintomatologia da
primeira internação. Nega abandono
do tratamento ou infração da dieta
hipossódica.
História Patológica Pregressa: Nega
amigdalite de repetição na infância ou
febre reumática; nega diabetes.
História Social: Ex-tabagista (três
cigarros/dia, interrompeu o uso há
10 anos), etilista social de final de
semana e ex-usuário de cocaína por
dois anos. Reside em casa com quatro
cômodos, com água de cisterna e sa-
neamento básico.
eXaMe FísicO
Ao Exame: Paciente lúcido e orienta-
do no tempo e espaço, normocorado,
hidratado, acianótico, ictérico(2 +/ >
28 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
+4), taquipneico, com esforço abdo-
minal respiratório e afebril ao toque.
Sinais Vitais: PA 130x90 mmHg; FC
122 bpm; FR 30 irpm
Aparelho Cardiovascular: Presença
de onda V, pulso radial simétrico
e com amplitude diminuída, pulso
pedioso diminuído à esquerda, RCI,
B1 normofonético,
B2 com desdobramento leve, presença
de B3, SS 2+/6+, que aumenta com a
inspiração em foco tricúspide.
Aparelho Respiratório: Murmúrio
vesicular universalmente audível com
estertores em ambas as bases.
Abdome: Fígado aumentado de tamanho
(a 5 cm do rebordo costal direto) e dolo-
roso à palpação superficial.
Membros Inferiores: Panturrilhas
livres, sinal de cacifo 2+/+4, ausên-
cia de sinais de insuficiência venosa
crônica.
eXaMes cOMPleMenTaRes
Laboratório: Ht: 40,9; Hb: 13,2;
VCM 98 (VR: 90-92); sódio: 139;
potássio: 4.2; albumina: 3.8; TGO:
32; TGP: 25; FA: 116; gama GT: 416;
BT: 3.78; BD: 1.38; BI: 2.39.
Ecocardiograma: Compatível com a
clínica do paciente.
ECG: Ritmo de fibrilação atrial
com ÂQRS + 90o, sobrecarga atrial
direita e importante sobrecarga
ventricular direita, rotação horária
(ver figura 1)
Radiografia de Tórax: Cardiomegalia
global com pouca congestão pulmo-
nar. (ver figura 2)
DiscussÃO
As cardiomiopatias são doenças pri-
márias do músculo cardíaco, e têm
causa desconhecida. Porém, cada
vez mais se reconhecem mutações nas
proteínas cardíacas, como a distrofina,
gerando a disfunção miocárdica. Às
vezes a mutação está presente até nos
lisossomos como descrito recente-
mente na cardiomiopatia LAMP 2,
que pode ser hipertrófica ou dilatada,
e geralmente está associada com pré-
excitação [1, 2].
Aparentemente, o uso inveterado
de álcool levaria à cardiomiopatia
secundária. Entretanto, o etilismo
exagerado evolui com cardiomiopatia
dilatada considerada primária, porque
haveria uma alteração imunogenética
em CD4 e CD8 permissiva dessa con-
dição, principalmente nos usuários
por mais de cinco anos de quantidade
RelaTO De casO / CaSe RePoRT
FIGURA 1
FIGURA 2
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 29
superior a 1200mL de cerveja por
dia, 300mL de vinho ou 50mL de
aguardente – para o sexo masculino.
Nas mulheres basta um terço dessas
doses. A miocardiopatia dilatada
primária mais comum é a alcoólica e
geralmente apresenta vários achados,
como o BRE completo [3, 4].
O usuário de cocaína pode desenvol-
ver disfunção miocárdica através de
hipertensão crônica que, ao longo
do tempo, evoluiria com fibrose e
insuficiência cardíaca sistólica – o que
certamente não foi o caso do paciente
em questão.
A cocaína, classicamente, tem efeito
direto inotrópico negativo que, uma
vez perpetuado, geraria focos de
fibrose e necrose com cardiomiopatia
dilatada secundária.
A cocaína pode também determinar
comprometimento cardiovascular
através de vasoespasmo, principal-
mente na coronária circunflexa, e
assim poderia, com o tempo, gerar uma
cardiomiopatia isquêmica. Parece que
a disfunção miocárdica da cocaína
teria como base o hiperadrenergismo,
com alteração das correntes de cálcio
e consequente vasoespasmo, levando
a focos de fibrose miocárdica que
dilatam o coração. Outras compli-
cações cardiovasculares relacionadas
ao abuso de cocaína são miocardite,
miocardiopatia hipertrófica secun-
dária, dissecção aórtica, trombose,
AVE, hemorragia cerebral e diferen-
tes formas de isquemia visceral, entre
outras [5].
Urge que, diante de um caso de
insuficiência cardíaca estágio C ou
D, estabeleçamos o diagnóstico de
forma primária ou secundária de car-
diomiopatia. No caso apresentado
há evidências indiscutíveis do com-
prometimento alcoólico (gama GT,
fosfatase e bilirrubina aumentados).
Por outro lado, não resta dúvida de
que a cocaína também contribuiu
para a disfunção miocárdica. É muito
importante, quando se faz uma ana-
mnese (particularmente no Brasil),
tentarmos fazer o máximo para se
ter a informação, principalmente no
tocante ao uso de drogas ilícitas.
Infelizmente, a enfermidade do pacien-
te decorreu de agressões que poderiam
ser perfeitamente evitáveis, como o uso
da droga e a ingestão de álcool.
Não há tratamento específico da
forma crônica dessas condições, já que
a terapia consiste no uso judicioso de
diurético e IECA ou zartan, carvedi-
lol, inibidor da renina, ressincroniza-
ção, aquaréticos e transplante, além
da espironolactona. Devemos realçar
que, infelizmente, a insuficiência car-
díaca grave mata mais rapidamente
que um câncer metastático.
Neste caso, um dilema apresentado
é a fibrilação atrial para ser tratada
em hepatopatas – o que é uma faca
de dois gumes. De qualquer modo,
devemos usar doses pequenas, como
por exemplo 1 mg de varfarina ao
dia.
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O professor Antonio Alves de Couto (centro) com os
demais autores do artigo
30 Conduta médiCa ● ano Xi - n044 -aBR/mai/Jun/2010
Resposta de The Image Challenge
O Desafio da Imagem da página 13
Paciente masculino, 24 anos, previamente sadio e assintomático, com queixas de dor torácica, dispneia e tosse com escarros hemoptoicos, doze horas após o uso de cocaína fumada (crack)
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Diagnóstico: Pulmão de crackcomentários: Nos Estados Unidos, calcula-se que a população usuária de cocaína esteja entre 5 e 8 milhões, sendo a principal forma utilizada a da cocaína fumada (crack). No Brasil, embora as estatísticas sejam bastante falhas, vem sendo observado um importante e progressivo aumento no número de usuários desse tipo de droga. A inalação de crack pode induzir uma variedade de alterações pulmo-nares agudas, incluindo hemorragia alveolar, edema pulmonar agudo e infiltrações pulmonares de diversas naturezas. Os sintomas mais comu-mente observados são dor torácica, dispneia, tosse produtiva, febre e hemoptise.As complicações relacionadas ao uso da cocaína incluem arritmias cardíacas, infarto miocárdico, hemorragia subaracnoidea, complicações obs-tétricas, convulsões, distúrbios psiquiátricos e complicações respiratórias, podendo inclusive ocorrer morte súbita. Uma vez que o pulmão é o principal órgão exposto, complicações pul-monares são frequentemente observadas como consequência do ato de fumar o crack.Sintomas respiratórios agudos em geral se de-senvolvem poucas horas após o uso da droga, mas podem aparecer em minutos. Os sintomas respiratórios agudos incluem tosse seca ou com eliminação de sangue ou de material escuro, decorrente da inalação de resíduos dos produtos de combustão, além de disp-neia, febre, dor torácica, asma e episódios de broncoespasmo. Deve-se ressaltar que muitos usuários negam a utilização de drogas ilícitas em um primeiro momento, podendo haver confirmação posterior por teste toxicológico de urina. Eventualmente alguns achados ao exame físico podem sugerir o diagnóstico, como o achado de queimaduras nas pontas dos
dedos, decorrentes do manuseio de cachimbos de vidro, em geral usados para fumar a droga, ou a presença de escarro negro, característico do uso de crack, atribuído à inalação de re-síduos carbônicos do butano ou do algodão embebido em álcool, usado para acender a cocaína. Exposição pulmonar marcada e repetida à cocaína fumada tem sido associada a um largo espectro de complicações pulmo-nares, incluindo edema pulmonar, hemorragia alveolar difusa, exacerbações agudas graves de asma, barotrauma, infiltrações pulmonares com eosinofilia, pneumonia intersticial não específica e bronquiolite obliterante com pneumonia em organização, bem como in-filtrações pulmonares agudas associadas a um espectro de achados clínicos e patológicos, referidas como “pulmão de crack”. As altera-ções pulmonares mais comuns são o edema e a hemorragia alveolar. O edema pode ser de natureza cardiogênica ou não cardiogênica, por aumento da permeabilidade capilar pul-monar. Achados de necropsia mostram que a hemorragia alveolar é muito frequente nesse grupo, não só de forma aguda, como muitas vezes de forma crônica, sem a ocorrência de hemoptise, cursando de forma assintomática. O barotrauma pode se desenvolver, como resultado do acentuado esforço inspiratório, frequentemente seguido por manobra de Valsalva prolongada e tosse violenta, que acompanha a inalação dos vapores de cocaína. O súbito aumento da pressão intrabrônquica e intra-alveolar, com ruptura alveolar e pe-netração do ar no interstício, pode acarretar pneumomediastino, pneumotórax ou pneu-mopericárdio. A agressão térmica com dano à via aérea pela inalação de corpos estranhos e/ou vapores excessivamente quentes durante o ato de fumar pode ser facilitada pelo efeito anestésico local da cocaína na cavidade oral e vias aéreas (em adição à sensibilidade alterada pelo uso da droga). Em nosso paciente, as alterações se situaram em campos pulmonares superior e médio, como é habitualmente visto em doenças de origem inalatória. As lesões se caracterizaram por consolidações, nódulos do espaço aéreo e opacidades em vidro fosco. As alterações pulmonares eram extensas e desapa-receram quase que completamente ao controle tomográfico realizado 15 dias após a interrup-ção do uso da droga, sob corticoterapia. O tratamento com corticosteroides é contro-verso. Alguns autores consideram que não há evidência que seu uso altere a evolução
clínica. Outros trataram seus pacientes com pequenos cursos, relatando que seu uso pode ser benéfico. Tem sido observado, nos últimos anos, um aumento muito grande no uso de cocaína fumada. O médico assistente deve estar atento a essa possibilidade diagnóstica, e conhecer suas múltiplas manifestações clí-nicas e radiológicas, devendo ser ressaltado que, muitas vezes, a história do uso da droga é omitida pelos pacientes.
Conduta médiCa ● ano Xi - n044 - aBR/mai/Jun/2010 31
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Seus artigos se constituem em relatos e discussões de casos práticos de aten-dimento ambulatorial e/ou hospitalar, em que é preservada a identidade dos pacientes e em que são utilizados exclusivamente procedimentos e condutas consagrados na literatura científica, sem nenhuma finalidade de produzir conhecimento novo que utilize investigação com seres humanos.