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boletim de geociências paranaense Editorial Este volume do BPG oferece um conjunto de contribuições muito especiais para a evolução conceitual das geociências no Brasil, por envolver diferentes abordagens sobre a geodiversidade. Com um time de autores que reflete o estado da arte em boa parte do território brasileiro e com exemplos de outros países, revela-se um panorama consolidado sobre novos rumos na pesquisa geocientífica, que se aproxima das ciências sociais, oferecendo este conhecimento como aporte cultural necessário à cidadania plena e à inclusão. São notórias as consequências sociais, para o Brasil, da descoberta do petróleo e sua possibilidade de extração abaixo da camada de sal das bacias sedimentares costeiras e, por isso, dificilmente este assunto é ignorado, atualmente, em escolas, na mídia ou pela comunidade em geral. O interesse despertado pela geologia, em função do potencial econômico, trouxe em seu bojo a importância da divulgação científica e a necessidade de aumento na massa crítica para questões ligadas ao substrato geológico. Não se pode conduzir um país ignorando-se a geologia no gerenciamento do território e esta geologia não possui somente um valor econômico, mas outros valores que podem estar sujeitos a risco. As ideias de patrimônio geológico ou de patrimônio mineiro são fruto de um amadurecimento científico e de uma consciência social que transcendeu os limites da ciência e abrange questões que tocam a todos os cidadãos deste século XXI. Inicialmente incentivado pela UNESCO, este novo segmento do pensamento geocientífico encontrou eco em vários países e vem se desenvolvendo no Brasil de forma vertiginosa. Não obstante as preocupações com conservação e divulgação da geodiversidade tenham exemplos mais antigos, foi no início dos anos 2000 que o chamado trinômio “geodiversidade-geoturismo-geoconservação” cravou suas raízes no Brasil. Desde então, houve uma difusão assombrosa deste novo paradigma entre geólogos, geógrafos e profissionais ligados ao meio-ambiente, turismo e órgãos de cultura. A geologia vem se tornando menos hermética para a população e participa mais incisivamente no processo de educação e inclusão social. Em sintonia com as rápidas mudanças que acontecem nestes novos tempos, o Boletim Paranaense de Geociências abre suas portas para a publicação de artigos neste novo segmento de pesquisa, mantendo o espírito que norteou o seu surgimento e sua história como importante periódico no panorama nacional. Esperamos que o conteúdo deste volume inspire novas contribuições e que possa subsidiar novas pesquisas e avanços nesta área e em outras. Antonio Liccardo Editor-associado volume 70 (2013)

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boletimde geociências

paranaense

Editorial

Este volume do BPG oferece um conjunto de contribuições muito especiais para a evolução conceitual das geociências no Brasil,

por envolver diferentes abordagens sobre a geodiversidade. Com um time de autores que reflete o estado da arte em boa parte do

território brasileiro e com exemplos de outros países, revela-se um panorama consolidado sobre novos rumos na pesquisa geocientífica,

que se aproxima das ciências sociais, oferecendo este conhecimento como aporte cultural necessário à cidadania plena e à inclusão.

São notórias as consequências sociais, para o Brasil, da descoberta do petróleo e sua possibilidade de extração abaixo da

camada de sal das bacias sedimentares costeiras e, por isso, dificilmente este assunto é ignorado, atualmente, em escolas, na mídia ou

pela comunidade em geral. O interesse despertado pela geologia, em função do potencial econômico, trouxe em seu bojo a importância

da divulgação científica e a necessidade de aumento na massa crítica para questões ligadas ao substrato geológico. Não se pode conduzir

um país ignorando-se a geologia no gerenciamento do território e esta geologia não possui somente um valor econômico, mas outros

valores que podem estar sujeitos a risco.

As ideias de patrimônio geológico ou de patrimônio mineiro são fruto de um amadurecimento científico e de uma consciência

social que transcendeu os limites da ciência e abrange questões que tocam a todos os cidadãos deste século XXI. Inicialmente incentivado

pela UNESCO, este novo segmento do pensamento geocientífico encontrou eco em vários países e vem se desenvolvendo no Brasil de

forma vertiginosa. Não obstante as preocupações com conservação e divulgação da geodiversidade tenham exemplos mais antigos, foi no

início dos anos 2000 que o chamado trinômio “geodiversidade-geoturismo-geoconservação” cravou suas raízes no Brasil. Desde então,

houve uma difusão assombrosa deste novo paradigma entre geólogos, geógrafos e profissionais ligados ao meio-ambiente, turismo e

órgãos de cultura. A geologia vem se tornando menos hermética para a população e participa mais incisivamente no processo de

educação e inclusão social.

Em sintonia com as rápidas mudanças que acontecem nestes novos tempos, o Boletim Paranaense de Geociências abre suas

portas para a publicação de artigos neste novo segmento de pesquisa, mantendo o espírito que norteou o seu surgimento e sua história

como importante periódico no panorama nacional. Esperamos que o conteúdo deste volume inspire novas contribuições e que possa

subsidiar novas pesquisas e avanços nesta área e em outras.

Antonio Liccardo

Editor-associado

volume 70 (2013)

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boletimde geociências

paranaense

volume 70 (2013) 02 - 27

Iniciativas institucionais de valorização do patrimônio

geológico do Brasil

Institutional programs for the valuation of geological heritage of Brazil

KÁTIA LEITE MANSUR , ANTONIO JOSÉ DOURADO ROCHA , AUGUSTO PEDREIRA (in memoriam) ,CARLOS SCHOBBENHAUS , EDUARDO SALAMUNI , FLÁVIO DA COSTA ERTHAL , GIL PIEKARZ ,

MANFREDO WINGE , MARCOS ANTÔNIO LEITE NASCIMENTO , ROGÉRIO RODRIGUES RIBEIRO

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Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected]

Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected] - [email protected]

Universidade Federal do Paraná - [email protected]

Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) - [email protected]

Serviço Geológico do Paraná (MINEROPAR) - [email protected]

Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) - [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - [email protected]

Instituto Geológico de São Paulo (IG) - [email protected]

Resumo

O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir as iniciativas para divulgação e popularização do patrimônio geológico doBrasil. São apresentados casos de âmbito nacional, na forma das ações de inventário promovido pela SIGEP e dos projetos Geoparques eBanco de Dados de Geossítios do Brasil da CPRM. No âmbito estadual são apresentadas as experiências dos projetos Caminhos Geológicosdo Estado do Rio de Janeiro desenvolvido DRM-RJ, Sítios Geológicos e Paleontológicos do Paraná da MINEROPAR, Caminhos Geológicos daBahia da CPRM e Petrobras, dos Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte do IDEMA e dos Monumentos Geológicos de São Paulodo IG-SP. Os casos demonstram que existe um amplo espaço para desenvolvimento dos projetos de geoturismo e divulgação dopatrimônio geológico para a sociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelos serviços geológicos e entidades afins de âmbitoestadual, onde a implantação de painéis interpretativos tem sido um dos principais instrumentos utilizados. Fica clara, ainda, anecessidade de que haja uma organização responsável pela implantação e manutenção dos painéis. Considera-se que estes tipos deprojetos propiciam a participação comunitária e o desenvolvimento de projetos educacionais. Vislumbra-se que as unidades deconservação são lugares especiais para a implantação deste tipo de sinalização, propiciando a divulgação da geodiversidade em conjuntocom a biodiversidade. Por fim, considera-se, ainda, que o maior obstáculo a ser superado é a comunicação com a sociedade. Para tanto,precisa-se avançar no conhecimento sobre o usuário dos painéis interpretativos. É necessária, portanto, a realização de pesquisas sobre opúblico-alvo e planejamento prévio da interpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais a comunicação para despertar o interessedo usuário / visitante.

Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Geoconservação; Geoturismo; Divulgação das Geociências.

Abstract

This paper aims to present and discuss the initiatives for interpretation and popularization of geological heritage of Brazil. Nationalexamples are presented in the form of inventory actions promoted by SIGEP and by CPRM projects: Geoparks and Database of Geosites ofBrazil. At the State level are presented the experiences of the Geological Paths Project of the State of Rio de Janeiro developed by DRM-RJ;Geological and Paleontological Sites of Paraná by MINEROPAR; Geological Paths of Bahia by CPRM and Petrobras; Geological Monumentsof Rio Grande do Norte by IDEMA; and the Geological Monuments of São Paulo by IG-SP. These cases demonstrate that there is a broadspace for development of geotourism projects and popularization of geological heritage for society. This space has been occupied by thegeological survey and related entities at the State level. The implementation of interpretative panels has been one of the maininstruments used. It is clear, though, that is indispensable an organization be responsible for the implementation and maintenance of thepanels. It is considered that these types of projects encourage community participation and the development of educational projects.Protected areas are special places for the implementation of this type of signage, enabling the dissemination of geodiversity inconjunction with biodiversity. Finally, it is considered that the biggest hurdle to be overcome is communication with the society. To do so,will need to advance in the knowledge of the user of the interpretative panels. It is necessary, therefore, to carry out research on the targetaudience and prior planning of interpretation, in other words, it should be increasingly improving communication to user interest.

Keywords: Geological Heritage; Geoconservation; Geotourism; Disclosure of Geosciences.

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1. INTRODUÇÃO

1.2. Popularização da Geologia e Valorização do

Patrimônio Geológico: Compromissos e Desafios

1.1. Histórico

Iniciativas de divulgação da geologia para asociedade no Brasil existem há décadas. Confirma estaafirmação a implantação, em 1988, de 17 marcos deconcreto com descrição geológica de afloramentos aolongo da Rodovia SC-438, na Serra do Rio do Rastro, emSanta Catarina. Esta sinalização deu visibilidade pública àdenominada Coluna White, ou seja, a colunaestratigráfica definida em 1908 no relatório do geólogoIsrael White, sobre a borda sudeste da Bacia do Paraná,um representante clássico da história evolutiva doGondwana (Orlandi Filho et al. 2002).Outros exemplos, como o Parque do Varvito, em Itu, e oParque da Rocha Moutonnée, em Salto, ambos no Estadode São Paulo, fundados na década de 1990, promovem ainformação geológica, por meio da ampla visitação querecebem (Rocha-Campos, 2002a; 2002b).A SIGEP - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos ePaleobiológicos, criada em 1997 com a missão deorganizar o banco de dados nacional, tornou disponívelna internet as descrições de geossítios apresentadaspelos pesquisadores e avaliadas no mérito porrepresentantes de instituições brasileiras relacionadas àGeologia. A SIGEP também vem fomentando descriçõesdos sítios em linguagem popular “com vistas à ampladivulgação das geociências e da mentalidadepreservacionista com relação aos nossos monumentosgeológicos, promovendo assim, simultaneamente, apopularização das geociências” conforme consta daapresentação da comissão no seu endereço eletrônico(http://sigep.cprm.gov.br/).Todavia, somente no início do século 21, projetos dedivulgação geológica sistemática começaram a sere st r u t u ra d o s n o p a í s . E ste s p ro j eto s vê mproporcionando uma abertura para a inserção dageologia nas comunidades, na sinalização de unidades deconservação e no desenvolvimento de programaseducacionais locais. Quase todos baseiam suas iniciativasna confecção de painéis e folhetos interpretativos sobre aevolução geológica de monumentos de importânciapaisagística, científica e/ou turística e se estruturaramcomo projetos de âmbito estadual.

No Brasil, projetos de divulgação científica têmsido cada vez mais comuns, como pode ser avaliado nasedições da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia,onde, a cada nova edição, ampliam-se as atividades e aparticipação popular. Ações relacionadas às áreas depopularização da Física, Medicina, Matemática,

Astronomia, entre outras, vêm despertando grandeatenção nos meios escolares o que certamente permitirá,em pouco tempo, seu fácil reconhecimento eentendimento. Um exemplo desta possibilidade deinserção pode ser tomado da Biologia, onde alguns dosseus termos técnicos já compõem o vocabulário docidadão comum, dado o entendimento da importânciado mundo biótico e da necessidade de se manter oplaneta sadio. Da mesma forma, espera-se incluir orespeito e atenção ao planeta como um todo, paragarantir o espaço de divulgação das Ciências da Terra noconjunto da população.Os grandes agentes de financiamento de pesquisa emC&T já possuem linhas para atendimento das demandasna área de popularização da ciência, desde o CNPq –Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico até as FAPs – Fundações de Amparo aPesquisa de âmbito estadual. Neste contexto, apopularização da geologia pode se desenvolveramplamente.A despeito da repercussão positiva dos projetos dedisseminação do conhecimento geológico no Brasil,tanto no meio geológico quanto na sociedade em geral,um desafio tem sido colocado incessantemente paraaqueles que trabalham com o tema: adequar a linguagemhermética praticada pelos geólogos para entendimentopelo cidadão comum.Os modelos de comunicação pública em ciências aindapromovem polêmicas entre os autores que, cada vezmais, buscam uma forma democrática e inclusiva parapromover os temas de CTS (Ciência, Tecnologia eSociedade) para a população (Durant 1999; Moreira eMassarani 2002; Lewenstein & Brossard 2005; Moreira2006; Navas et al. 2007; Navas 2008). O modelo maistradicional, denominado Modelo de Déficit, parte dopressuposto que o cientista precisa aportar seuconhecimento para aqueles grupos que não o possuem,suprindo um déficit de conhecimento. Esta forma decomunicação vem sendo combatida por não levar emconta os saberes tradicionais. Posteriormente, surgiu oModelo da Participação Pública que estimula aparticipação e manifestação do conhecimento popularpela participação em fóruns, debates e reuniões, ondepúblico e cientistas têm papéis equivalentes.A principal forma de comunicação dos projetos dedivulgação geológica sistemática no Brasil se dá por meioda implantação de painéis interpretativos (Nascimento etal. 2009). Esta técnica é utilizada em muitos países (Hose1997, 2000, 2008; Dias et al. 2003; Carter 2001). Acomunicação também pode ser feita utilizando-se defolhetos, cartazes, jogos, CDs / DVDs, páginas na internet,livros, instalações interativas, entre outros. Pode serrealizada ao ar livre, em museus, em escolas ou, mesmo,na própria residência do usuário, se utilizadasferramentas que permitam a inclusão digital.

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2. PROJETOS EM EXECUÇÃO NO BRASIL

2.1. Visão geral

Um dos compromissos que necessita serassumido pela comunidade geológica brasileira é o daunião perante as ameaças sofridas pelo patrimôniogeológico. Não são poucos os casos de denúncias e,mesmo, destruição de ambientes geológicos especiaiscomo sítios paleontológicos e espeleológicos, dunas eoutros ambientes costeiros, afloramentos únicos para aciência e ensino.

Segundo Cendrero Uceda (1996) e Brilha (2005)a divulgação é uma importante ferramenta a ser utilizadaem programas de geoconservação, cuja essência é agestão científica para a conservação do patrimônio. Agestão, por sua vez, pressupõe a formalização de umgestor e de um programa baseado no conhecimentogeológico e planejamento de ações de controle,divulgação e monitoramento. Este é um ponto críticopara a geoconservação no Brasil: as organizações degestão ambiental, em geral, ainda não incorporam aproteção da geodiversidade na sua missão.

Por outro lado, a maioria das instituiçõesestaduais de cunho geológico foi extinta entre os anos1980 e 1990. Atualmente, apenas oito dos 26 estados

brasileiros possuem instituições específicas voltadaspara fomento da mineração e/ou conhecimentogeológico. São eles: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Paraíba,Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. Há,portanto, um descompasso entre o aumento doconhecimento geológico, com consequente geração deinformação, e a capacidade de gestão do patrimônioidentificado. Os dois mais antigos e prolíficos projetos dedivulgação geológica do Brasil são gerenciados porserviços geológicos estaduais, DRM-RJ e MINEROPAR e,das oito instituições estaduais existentes, quatro delas, asde Goiás, Mato Grosso, Paraíba e Tocantins, ainda nãoiniciaram projeto de disseminação da geologia para asociedade. Por outro lado, o Projeto CaminhosGeológicos da Bahia foi criado sem a coordenação daCBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral.Em 2006, o Rio Grande do Norte, apesar de não possuiruma organização pública com foco específico na geologiae mineração, por meio do Instituto de DesenvolvimentoSustentável e Meio Ambiente, em convênio com aPETROBRAS, criou o Projeto Monumentos Geológicos doRio Grande do Norte. Ainda, foi inaugurado um paineldurante o Simpósio de Geologia do Sudeste, em 2007,pelo projeto Monumentos Geológicos de Minas Gerais(Figura 1), porém, não se tem notícias sobre perspectivasde sua continuidade.

Figura 1 – Painel inaugurado em 2007 no Centro de Geologia Eschwege, em Diamantina, MG

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Já em São Paulo, a instituição pública estadualde geologia, o Instituto Geológico – IG, está vinculado àSecretaria de Meio Ambiente - SMA e criou o ProjetoMonumentos Geológicos. Esta vinculação tem permitidoa aplicação de instrumentos clássicos da gestãoambiental à proteção do patrimônio geológico, como acriação do Conselho Estadual de MonumentosGeológicos, em 2009, para apoiar o IG na elaboração doinventário e na geoconservação. O conselho é consultivoe seus membros são representantes do poder público(SMA) e convidados com reconhecida atuação nos temasrelacionados direta ou indiretamente com geossítios /monumentos geológicos.

A Comissão Brasileira de Sítios Geológicos ePaleobiológicos (SIGEP), criada em 1997, ocupou-se pelaprimeira vez no Brasil da identificação, avaliação,descrição e publicação de sítios do patrimônio geológicode forma sistêmica e com a participação essencial dacomunidade geocientífica. Com suas atividadessuspensas desde meados de 2012, por razões a seguirexplicitadas, a SIGEP representou a mais importante eabrangente iniciativa no movimento pela conservação dopatrimônio geológico nacional, seguida de algumasiniciativas em nível estadual.

Essa iniciativa descreveu e avaliou sítiosgeológicos e paleontológicos de valor excepcional – oschamados geossítios, feições notáveis identificadas nocontexto da extensa diversidade geológica do país querepresentam a memória geológica nacional - patrimôniogeológico do Brasil. Os geossítios são assim locais-chavespara o entendimento da história da dinâmica da Terra eda história da vida, desde a sua formação, razão pela qualprecisam ser preservados. Muitos deles possuemextraordinária beleza paisagística.

O inventário do patrimônio geológico segue,sobretudo, critérios científicos, mas outros tipos deinteresses são considerados, a exemplo do interesseeducativo que é essencial para a formação de alunos eprofessores de todos os níveis de ensino ao seremcolocados frente a frente com a realidade da geologia,representada no geossítio por rochas, minerais e feiçõesgeológicas, um verdadeiro arquivo da natureza. Por outrolado, o interesse turístico e cultural é importante napromoção da geologia junto ao público leigo e podecontribuir para o desenvolvimento sustentado daspopulações locais.

A Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos ePaleobiológicos - SIGEP, contou com representantes dasseguintes instituições: Academia Brasileira de Ciências -ABC, Associação Brasileira para Estudos do Quaternário -ABEQUA, Departamento Nacional de Produção Mineral -DNPM, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis - IBAMA, Instituto Chico

2.2. Ação da SIGEP

Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -IPHAN, Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRAS, ServiçoGeológico do Brasil - CPRM, Sociedade Brasileira deEspeleologia - SBE, Sociedade Brasileira de Geologia -SBG, Sociedade Brasileira de Paleontologia - SBP e Uniãoda Geomorfologia Brasileira - UGB.

A principal atribuição da SIGEP – de elencar osgeossítios brasileiros – foi implementada com ogerenciamento de um banco de dados nacional ed i s p o n i b i l i z a d o e m s i t e d a i n t e r n e t(http://sigep.cprm.gov.br) na forma de artigos científicosbilíngues – inglês e português - elaborados porespecialistas que trabalharam nas áreas dos geossítiosaprovados.

Desde o início, o processo seletivo dosgeossítios seguiu a orientação da SIGEP de avaliação decada sítio segundo sua tipologia principal (Astroblema;Espeleológico; Estratigráfico; Geomorfológico;Hidrogeológico - só casos especiais; História da Geologia,Mineração, Paleontologia; Ígneo; Marinho-submarino;Metamórfico; Metalogenético; Mineralógico;Paleoambiental; Paleontológico; Sedimentar; Tectono-estrutural; outro) e tendo como critérios: (i) suasingularidade na representação de sua tipologia oucategoria; (ii) importância na caracterização de processosgeológicos-chave regionais ou globais, períodosgeológicos e registros expressivos na história evolutiva daTerra; (iii) expressão cênica; (iv) bom estado deconservação; (v) acesso viável; e (vi) existência demecanismos ou possibilidade de criação de mecanismosque lhe assegure conservação e consequenteaproveitamento.

Mesmo instituída e exercendo de fato as suascompetências, a SIGEP não foi oficializada de direito noâmbito do Poder Público, o que lhe tirava a capacidade deadotar medidas legais para a preservação dos geossítios.Assim, em agosto de 2012, quinze anos depois de suacriação, a SIGEP, suspendeu o recebimento de novaspropostas de geossítios em virtude da publicação dePortaria N0 170, de 20 de junho de 2012, da Secretaria deGeologia, Mineração e Transformação Mineral doMinistério de Minas e Energia que instituiu o Grupo deTrabalho Interministerial de Sítios Geológicos ePaleontológicos (GTI-SIGEP) com a responsabilidade depropor a institucionalização das atividades da SIGEP e arevisão dos procedimentos afetos à seleção de novossítios geológicos e paleontológicos de natureza especial eao gerenciamento e divulgação de tais informações, ouseja, com o objetivo de instituir o marco legal quepermitirá impulsionar, de forma oficial, a identificação, apreservação, divulgação, valorização e uso de sítiosrepresentat ivos do patr imônio geológico epaleontológico brasileiro.

O GTI-SIGEP concluiu suas atividades emnovembro de 2012 ao apresentar minuta de proposta deedição de decreto presidencial, objetivando a criação da

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Comissão do Patrimônio Geológico do Brasil, com asatribuições de identificar e reconhecer os bens queconstituem o Patrimônio Geológico do Brasil e definir eencaminhar propostas de acautelamentos aos órgãoscompetentes.

Sintetizando, pode-se dizer que a SIGEP, umacomissão multi-institucional, coordenou e promoveuentre 1997 e 2012, de mãos dadas com a comunidadegeocientífica, o inventário parcial de sítios geológicos epaleontológicos do Brasil a serem preservados na formade artigos científicos complementados por sugestões demedidas de proteção.

A ampla divulgação na internet e em volumesimpressos (livros) (Figura 2), atingindo não só os órgãospúblicos - municipais, estaduais e federal, mas também osetor privado e a opinião pública em geral, certamente éda maior importância para propiciar a preservação e bomuso do patrimônio natural, através da necessária sinergiaentre os vários órgãos públicos, empresas interessadas e

comunidade, envolv idos na preservação dageodiversidade.

Números referentes à produção da SIGEPregistrados no site ou publicados (Schobbenhaus et al.2002, Winge et al. 2009, Winge et al. no prelo) sãoapresentados a seguir:

116 geossítios publicados em 3 volumes edisponibilizados em PDF na internet (Figura 3);51 geossítios aprovados, mas sem descriçãodisponível (Figura 4);4 geossítios dos publicados em versão para leigospublicados na internet;26 sugestões preliminares de geossítios nãoformalizadas;26 propostas de geossítios canceladas (causas:pouca relevância, superposição com outraspropostas, destruição).

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Figura 2 – Capas dos volumes I e II da SIGEP. Acessíveis em: http://sigep.cprm.gov.br

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Figura 3 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, publicados na forma deartigos científicos e complementados por sugestões de medidas de proteção.

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Figura 4 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, sem número decadastro SIGEP e sem publicação disponível na forma de artigo científico.

2.3. Projetos do Serviço Geológico do Brasil - CPRM

2.3.1. Geoparques

A CPRM tem como uma de suas missõesprecípuas a geração e a difusão de informaçõesgeológicas. Por ser o grande gerador e detentor doconhecimento geológico nacional, cabe ao ServiçoGeológico do Brasil com o apoio da área acadêmica e dosserviços geológicos estaduais, realizar de formasistemática o inventário dos sítios do patrimôniogeológico do Brasil, tanto de importância internacional,quanto nacional ou regional/local.

A C P R M p r o m o v e a i d e n t i f i c a ç ã o ,caracterização e avaliação, visando à conservação dopatrimônio geológico brasileiro através do ProjetoGeoparques. Os sítios geológicos ou geossítioscadastrados e quantificados pelo Projeto Geoparquessão destinados a integrar um acervo para a preservaçãodo patrimônio geológico. Também, como membro daSIGEP, a CPRM se ocupou nos últimos 15 anos daidentificação, avaliação, descrição e publicação degeossítios.

Um geoparque corresponde a uma área comlimites bem definidos e com uma dimensão suficientepara que possa servir ao desenvolvimento econômico ecultural local (especialmente por meio do geoturismo)

( h t t p : / / w w w. u n e s c o . o r g / n e w / e n / n a t u r a l -sciences/environment/earth-sciences/geoparks/global-geoparks-network/). Os sítios devem ser importantes doponto de vista da ciência, raridade, educação e / ouestética. Um geoparque é uma área onde geossítiosfazem parte de um conceito holístico de proteção,educação e desenvolvimento sustentável. No entanto, ogeoparque deve levar em conta o contexto da região enão unicamente incluir locais de significado geológico. Asinergia entre a biodiversidade, geodiversidade e cultura,além do patrimônio tangível e não tangível devem ser detal ordem que temas não geológicos devem serdestacados como parte integrante do geoparque,especialmente quando a sua importância em relação àpaisagem e geologia pode ser demonstrado aosvisitantes. Por essa razão, é necessário também incluir edestacar locais de interesse ecológico, arqueológico,histórico e cultural dentro do geoparque (UNESCO 2010).

O programa Geoparque vem suprir uma lacunapara reconhecimento internacional do patrimôniogeológico de importância nacional ou regional. Ainiciativa da UNESCO para apoiar os geoparques, bemsucedida em nível mundial, responde à forte demandaexpressa por muitos países, que tem como objetivo,entre outros, constituir uma série global de sítiosgeológicos ou geossítios destinados a integrar um acervopara a preservação do patrimônio geológico.

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SIGEP

SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS

NÃO PUBLICADOSSítios Nome UF

1 Dunas do Araçá AM

2 Canyon de Xingó SE/AL

3 Pico da Neblina AM

4 Raso da Catarina BA

5 Inselbergs de Quixadá CE

6 Morro de Penedo ES

7 Pães-de-açúcar de Pancas e Pedra Torta ES

8 Cachoeira do Rio das Almas GO

9 Cavernas da região de Guarani de Goiás e São Domingos GO

10 Córrego Alagadinho GO

11 Paraúna GO

12 Pilar de Goiás GO

13 Silexisto microfossilífero e estromatólitos da Fazenda Funil GO

14 Floresta Petrificada de Teresina MA

15 Lençóis Maranhenses e Dlta do Parnaíba PI/MA

16 Vertebrados Permianos de Pastos Bons MA

17 Bacia do Gandarela MG

18 Gruta da Serra do Ibitipóca MG

19 Mina de Passagem MG

20 Pico do Itacolomy de Buritizeiro MG

21 Morraria do Urucum MS

22 Pedreira Saladeiro MS

23 Baías do Pantanal BR/BO

24 Chapada dos Guimarães MT

25 Geyseritos Permianos de Anhembi PA

26 Fósseis Invertebrados de Rancharia PE

27 Fauna Permiana de Mocambo PI

28 Pedra Furada/Serra da Capivara PI

29 Estrias Glaciais de Witmarsum PR

30 Icnofósseis Devonianos de São Luiz do Purunã PR

31 Dedo de Deus RJ

32 Pico das Agulhas Negras RJ

33 Armação dos Búzios RJ

34 Restinga da Marambaia RJ

35 Parque das Dunas RN

36 Astroblema de Cerro do Jarau RS

37 Distrito Mineral do Alto Uruguai RS

38 Parque Guaritas e o litoral de Torres RS

39 Vulcanismo Rodeio Velho do Arroio Carajá RS

40 Furna Marinha de Sombrio SC

41 Mafra-Rio Negro SC/PR

42 Lavas Almofadadas de Pirapora do Bom Jesus SP

43 Marundito do Pico Pelado SP

44 Paleolagunas na Estação Ecológica JurÚia-Itatins SP

45 Turfeira da Campina do Encantado SP

46 Sítio Espeleológico Serra do Martins RN

47 Marmitas do Rio Carnaúba RN

48 Maciço dos Três Picos RN

49 Dioritos Almofadados do Rio Espinharas RJ

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Nesse sentido, os geossítios são vistos comocomplementares à Lista do Patrimônio Mundial daUNESCO, possibilitando desenvolver um mecanismoadequado para o reconhecimento de locais deimportância internacional, identificados a partir deinventários geológicos nacionais (UNESCO 2008; Eder &Patzak 2004).

O Projeto Geoparques da CPRM representaimportante papel indutor na proposição de geoparquesno território nacional. Esse projeto tem como premissabásica a identificação, levantamento, descrição,diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencialpara futuros geoparques no território nacional. Duranteesse processo realiza-se o cadastro e quantificação degeossítios de diversas tipologias, dentro dos limites doproposto geoparque. Para esse trabalho concorre oacervo de levantamentos geológicos existentes no País ea experiência do corpo técnico da empresa, além doaporte de estudos e propostas da comunidadegeocientífica. Em alguns casos, essa atividade indutora éfeita em conjunção com universidades e outros órgãos ouentidades federais, estaduais ou municipais que tenhaminteresses comuns, em consonância com ascomunidades locais. A ação catalisadora desenvolvidapela CPRM representa, entretanto, somente o passoinicial do futuro geoparque. As áreas propostas para osgeoparques foram selecionadas por sua importância

geológica, que em muitos casos associa-se a formas derelevo com excepcional valor estético ou beleza cênica.Nessa etapa inicial as áreas propostas pelo ProjetoGeoparques constituem em primeira instância parquesgeológicos, que possibilitam conhecer a sua históriageológica através dos geossítios, roteiros geológicos oupela geomorfologia da paisagem.

Para a transformação de um parque geológicoem um geoparque, além dos atributos geológicos, outrosatributos devem coexistir na área proposta e ambosdeverão promover o desenvolvimento econômicosustentável e a geoconservação, comumente através dogeoturismo/ecoturismo. Em praticamente todas as áreasselecionadas para os geoparques potenciais, já existe umfluxo turístico, em maior ou menor grau, no entanto, semassociação direta com a geologia. A criação de umaentidade de gestão e outras iniciativas complementarespermitirá que o parque geológico seja transformado emum geoparque, cabendo-lhe promover o geoturismo.Alguns geoparques propostos coincidem em seus limitescom unidades de conservação ou parques naturais, emespecial por apresentarem rara beleza cênica. Noentanto, os limites de um geoparque não coincidemnecessariamente com os parques naturais ou outrasáreas de reservas ambientais. Propostas de áreas compotencial de se transformarem em geoparques, objetodo Projeto Geoparques, estão indicadas na Figura 5.

Figura 5 – Mapa de localização das propostas de geoparques concluídas (1 a 17), em execução e programadas do Projeto Geoparques daCPRM.

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Nos últimos cinco anos foram concluídosestudos de 17 propostas de geoparques pelo ProjetoGeoparques cobrindo áreas de norte a sul do país.Dessas, 14 foram publicadas pela CPRM no primeirovolume do livro “Geoparques do Brasil-Propostas”(Schobbenhaus & Silva 2012). Diversas outras propostasestão em fase de avaliação ou serão avaliadas em etapasseguintes.

Uma atividade essencial realizada pelo ProjetoGeoparques é a identificação, cadastramento e valoraçãode geossítios ou sítios do patrimônio geológico na áreado território proposto para o potencial geoparque. Até omomento foram cadastrados 376 geossítios nos 17propostos geoparques. Esses geossítios apresentamdiferentes pontos de interesse: científico, didático,turístico, cultural e outros. A sua importância varia deregional/local (59 %), nacional (31 %) a internacional (10%). Dentro das áreas propostas para geoparques, cercade 48% relacionam-se a geossítios do Pré-Cambriano,24% do Paleozoico, 24% do Mesozoico e o restante doCenozoico. Os litótipos mais comuns são de interessegeomorfológico, estratigráfico e paleoambiental,normalmente associados a geoformas de valor estéticoou beleza cênica. Outros são paleontológicos, ígneos,petrológicos, metalogenéticos e espeleológicos. Outrosainda incluem importantes registros da história damineração ou ainda tem importantes valores pré-históricos e histórico-culturais associados.

2.3.2. Geossit

As atividades do Projeto Geoparques abrangemo cadastramento e a quantificação de geossítios,contemplando as metodologias de Brilha (2005) e Garcia-Cortés & Urquí (2009), adaptadas ao Brasil.Independentemente das futuras ações a serem tomadascom relação aos propostos geoparques, o cadastramentodos geossítios realizado será incorporado em umaatividade mais ampla de âmbito nacional: o Inventário deSítios do Patrimônio Geológico do Brasil. Para permitir aalimentação de um banco de dados a CPRM desenvolveuum aplicativo web para cadastramento e quantificaçãoautomática de geossítios, denominado GEOSSIT (Lima etal. 2012). O aplicativo GEOSSIT é uma ferramenta para apadronização do cadastramento de geossítios do Brasil. Éde livre consulta e será operado por meio de uma base dedados específica do Sistema GEOBANK do ServiçoGeológico do Brasil - CPRM. O aplicativo web GEOSSIT éoperado mediante utilização das seguintes ferramentasde software livre: linguagem de programação PHP 5.3 ebanco de dados MySQL 5.1.

As informações solicitadas (localização,caracterização geológica e geomorfológica, áreas deinteresse, presença de unidades de conservação, etc.),seguidas da quantificação das características intrínsecas,

do uso potencial e da necessidade de proteção,permitem classificar o geossítio como de interesseregional, nacional ou internacional (metodologia deBrilha 2005) e definir o valor relativo quanto ao interessecientífico, didático e turístico (metodologia de Garcia-Cortés & Carcavilla 2009).

A metodologia de Garcia-Cortés & Urquí (2009)permite também o cálculo da vulnerabilidade dogeossítio cujo valor adicionado ao valor do interessecientifico, didático ou turístico, permite estabelecer aurgência para que sejam adotadas medidas de proteçãoao geossítio.

Apesar de originalmente o GEOSSIT estarvinculado ao Projeto Geoparque, gradativamente foificando claro o potencial de sua utilização comoferramenta para alimentar um banco de dados nacionalde geossítios. Desse modo, o GEOSSIT será integrado aobanco de dados da CPRM, denominado GEOBANK. Paraa c e s s a r o a p l i c a t i v o o e n d e r e ç o éwww.cprm.gov.br/geossit, sendo que a visualização dosdados preenchidos pode ser efetuada clicando no nomedo geossítio. O aplicativo possui o módulo depreenchimento (exige senha) e o módulo de visualização(acesso livre).

2.3.3. Sinalização Interpretativa no Quadrilátero Ferrífero

Projeto financiado pelo Serviço Geológico doBrasil (CPRM) em parceria com a Universidade Federal deMinas Gerais e executado pelo Instituto Terra Brasilis, nocontexto da proposta do Geoparque QuadriláteroFerrífero. Em sua primeira etapa, o projeto teve comoprincipal objetivo a elaboração, confecção e instalação deplacas com informações geológicas em sítios doQuadrilátero Ferrífero, com linguagem acessível ebilíngue (português e inglês), aproximando o cidadãocomum de seu patrimônio geológico e promovendo ageoconservação. Os sítios contemplados foram: Serra doRola Moça, Serra da Piedade, Serra do Curral, Gnaisse deCachoeira do Campo e Pico do Itacolomi. Os painéis desinalização do Geopark Quadrilátero Ferrífero foramidealizados em modelo único no formato prancheta comângulo de inclinação confortável à leitura. Levou-se emconta para isto as características dos locais sinalizados,em sua maioria, áreas de mirante, onde a disposição noformato prancheta favorece a apreciação da paisagem(Figura 6).

Cada painel é composto por dois módulos, nomódulo da esquerda são apresentadas as informaçõessobre o conceito de Geoparque e sobre a geologia doQuadrilátero Ferrífero. Já no módulo da direita sãoapresentadas as informações sobre o geossítiopropriamente dito, focando suas peculiaridades eatrativos, contextualizando-o na proposta do Geoparque(Ruchkys et al. 2012).

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Figura 6 – Exemplos de painéis de sinalização interpretativa naSerra do Caraça e Parque das Mangabeiras, QuadriláteroFerrífero, MG. Fotos: Andreá Trevisol.

2.4. Caminhos Geológicos do Estado do Rio de Janeiro

O projeto Caminhos Geológicos foi concebidoem 2000 e inaugurado em 2001, pelo DRM-RJ – ServiçoGeológico do Estado do Rio de Janeiro. Seu objetivo geralé popularizar a geologia pela implantação de painéisinterpretativos nos principais monumentos geológicosdo Estado do Rio de Janeiro. Como decorrência, setransformou num projeto que tem um forte apelo nageoconservação. São objetivos específicos: (a)Reconhecer e preservar os monumentos geológicos doEstado do Rio de Janeiro; (b) Divulgar o conhecimentogeológico entre as comunidades e também paraprofissionais e cidadãos em geral; (c) Incentivar odesenvolvimento socioeconômico relacionado com ageologia; e (d) Fortalecer o potencial turístico dasregiões, criando novos circuitos de visitação a partir deuma proposta ecológica, científica e cultural.

É um projeto que conta com a parceria fixa doDepartamento de Estradas de Rodagem – DER-RJ e da Ciade Turismo do Estado - Turisrio. Tem nas universidadesque estudam a geologia fluminense a base da parceriacientífica que confere credibilidade ao projeto. Recebeapoio de prefeituras, ONGs, empresas públicas eprivadas e de agências de fomento, como a FAPERJ.

Como foi o primeiro projeto de sinalizaçãosistemática do Brasil, vem cumprindo um papel deindutor de experiências semelhantes em outros estados.Da mesma forma, teve participação decisiva naformatação do Simpósio sobre Monumentos Geológicos,no XLII Congresso Brasileiro de Geologia, em Araxá, em2004, primeira experiência com esta temática no mais

importante evento brasileiro de geologia que,atualmente, já possui réplicas em muitos dos eventosregionais e temáticos.

A comunicação com os não geólogos através dalinguagem, escrita ou visual, sempre foi o grande desafiodo projeto e, por este motivo, ele vem sendo construído apartir da interação com as comunidades onde os painéissão implantados. A metodologia básica de elaboração elocalização dos painéis do Projeto Caminhos Geológicosdo Estado do Rio de Janeiro foi publicada por Mansur &Nascimento (2007).

Até abril de 2013 foram implantados 104 painéisem 31 municípios, cuja manutenção é um itemimportantíssimo a ser considerado (Figuras 7 e 8).

Figura 7 – Painel interpretativo implantado no Pão de Açúcar

Figura 8 – Placa de estrada, indicativa de painel interpretativo.

Seu desenvolvimento envolve ações queavançam além da colocação dos painéis interpretativos,consolidando-se na vertente educacional (Mansur2009a) e outras. Assim, são realizadas ações:

a) na comunidade escolar, envolvendo alunos eprofessores, trabalhos de campo e elaboração dematerial didático e paradidático próprio (Talarico 2004;Talarico et al. 2005, Mansur 2009a) (Figuras 9 e 10);

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Figura 9 – Alunos de São José de Ubá, apontando seus desenhosno painel colocado em sua escola.

Figura 10 – Alunos do Projeto Jovens Talentos para a Ciência emtrabalho de campo em Santo Antônio de Pádua

b) junto à sociedade civil organizada comoONGs, associações de moradores, comitês de bacia,conselhos gestores de Unidades de Conservação - UCs(Nascimento & Mansur 2008), gestores ambientais ecoletivos educadores ambientais, como os livros doProjeto Conhecer para Preservar (Mansur et al. 2007a,2007b) (Figuras 11 e 12);

Figura 11 – Publicações sobre geologia de UCs, organizadas peloColetivo Educador Conhecer para Preservar.

Figura 12 – Treinamento sobre geologia para os funcionários doParque Natural Municipal de Nova Iguaçu

c) na governança local, incluindo prefeituras,produtores rurais (Figura 13), APLs de base turística;

d) no meio acadêmico, apoiando e realizandoconjuntamente pesquisas geológicas com Universidades,como UFF (Figueiredo Jr et al. 2004), UERJ (Schmitt et al.2004, Valeriano 2006); UENF (Alves et al. 2009) e UFRJ eMuseu Nacional (Mansur et al. 2009b) ou na orientaçãoacadêmica de alunos;

e) na parceria com museus, como o Museu daGeodiversidade da UFRJ (Carvalho et al. 2009), e outrasentidades que trabalham na popularização da ciência,como a Casa da Ciência da UFRJ e o MCTI – Departamentode Divulgação e Popularização da Ciência, por meio doProjeto Caminhos de Darwin (Moreira et al. 2009,Mansur 2009d) (Figura 14);

Figura 13 – Apresentação sobre geologia em praça pública paraprodutores rurais em Bom Jardim

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Figura 14 – Painel do Projeto Caminhos de Darwin em Maricá

f) na esfera patrimonial, atuando com o INEPAC(Schmitt et al. 2004) e IPHAN (Mansur et al. 2008), alémdas entidades municipais, no tombamento e preservaçãode bens de natureza geológica (Mansur et al. 2009b).

Também, na expectativa de ampliar o horizontede usuários (ou “visitantes”) do projeto, foi elaboradau m a p á g i n a d a i n t e r n e t(www.caminhosgeologicos.rj.gov.br) que apresentainformações teóricas e abordagens didático-pedagógicas, como jogos, quebra-cabeças e textosvoltados para o público jovem. Possui um webmapa ondese pode acessar cada painel na íntegra, com fotos dosmonumentos e possibilidade de envio de cartões-postaispersonalizados. Garcia et al. (2008) apresentam a fichatécnica do desenvolvimento da página, quaseexclusivamente baseada em softwares livres. Porém, umdos mais importantes itens da página, que ainda está emalimentação, é o inventário dos monumentos geológicosdo Estado do Rio de Janeiro, associado a um esquema devaloração dos bens (Mansur & Carvalho 2010).

Em pesquisa de opinião realizada em locaisonde estão localizados painéis do Projeto CaminhosGeológicos, em 2008, 89% dos entrevistados acreditamque eles são eficientes para a preservação dospatrimônios geológicos sinalizados (Mansur & Silva2011).

O programa Sítios Geológicos e Paleontológicosdo Paraná da Mineropar vem ao encontro do movimentoglobal sobre o inventário, conservação, valorização,divulgação e uso sustentável do patrimônio geológico noâmbito do Estado do Paraná. Levando-se emconsideração que o patrimônio geológico é umpatrimônio natural, as ações já desenvolvidas noprograma, inserido em atuações de diversos órgãosgovernamentais e não governamentais, tiveram como

2.5. Programa Sítios Geológicos e Paleontológicos do

Estado do Paraná

escopo o cumprimento das seguintes metas:

a) definir a política de administração dopatrimônio geológico do Paraná, inserindo estas políticasnas comunidades locais, inclusive para sua conservação;

b) inventariar e selecionar os principais sítiosgeológicos do Estado do Paraná, com o intuito dedemocratizar a informação e o conhecimento científico;

c) integrar estas informações a programas deturismo ou geoturismo;

d) formar e treinar guias e/ou condutores nascomunidades próximas aos sítios geológicosselecionados visando à geração de emprego e renda,bem como à sustentabilidade física e financeira dos sítioscom o envolvimento da comunidade.

O s t r a b a l h o s n e c e s s á r i o s p a r a odesenvolvimento do projeto envolveram a confecção deum inventário inicial, onde foram cadastrados os sítiosgeológicos e paleontológicos de valor turístico maisrelevante do estado. Posteriormente foram escolhidosalguns sítios, de notória relevância, como locais pilotospara a implantação de painéis e confecção de folhetos. Ométodo está centrado em criar aparatos e materiais queestimulem o aprendizado a respeito do ambiente naturale sua formação e/ou evolução ao longo do tempogeológico.

2.5.1. Inventário

O inventário do patrimônio geológico do Paranáfoi realizado tendo por base dois enfoques principais: oprimeiro apoia-se na identificação da demanda dogeoturismo, contemplando-se as principais atrações -paisagens, afloramentos, pontos geológicos,geomorfológicos e paleontológicos notáveis emunidades de conservação, municípios, paisagens comabrangência restrita e/ou em simples afloramentos,todos com significativa visitação e, portanto, comdemandas por explicação geológica mais acurada. Osegundo caminho, em contínuo desenvolvimento eaprimoramento, segue a confecção e o preenchimentode um banco de dados (Figura 15) com informações dascaracterísticas geológicas, geomorfológicas epaleontológicas, com informações acerca daidentificação e da localização, além de informações sobreoutras observações a respeito dos sítios selecionados.

Esse banco de dados serve para a quantificaçãoe a classificação dos geossítios paranaenses. Suaelaboração embasou o desenvolvimento de projetos deroteiros geoturísticos, especificamente os roteirosdenominados de "Geoturismo na Rota dos Tropeiros","Geoturismo em Curitiba" e "Geoturismo no Karst", osdois últimos na região metropolitana de Curitiba.

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Figura 15 – Modelo de ficha eletrônica utilizada para alimentar o banco de dados que permite inventariar o patrimônio geológico epaleontológico do estado do Paraná

Antes da definição de ações de conservação, noentanto, a Mineropar experimentou disseminarconhecimento, o que a permitiu entender que, em setratando de monumentos naturais, membros de umadada população instruídos e educados para a valoraçãode um monumento geológico adquirem rapidamente osentido de sua preservação.

Dessa maneira, para que servisse de elementosconcretos para a própria disseminação do conhecimento,a Mineropar confeccionou e colocou à disposição deturistas e potenciais turistas, os seguintes produtos: (a)painéis geológicos; (b) folhetos geológicos e (c) roteirosgeoturísticos, os quais foram disponibilizados tantofisicamente quanto digitalmente.

2.5.2. Painéis e folhetos geológicos

Os painéis e folhetos servem como material dedistribuição local nos sítios geoturísticos, despertando aatenção de turistas para o patrimônio geológico e anecessidade de cuidados com sua preservação econservação. O conteúdo dos painéis e folhetos fornece

explicações geológicas que abrangem, por exemplo,áreas maiores como é o caso de todo o território domunicípio de Tibagi (Sítio Geológico de Tibagi); de áreasmais restritas, que podem englobar porções de um oumais municípios, por exemplo, o Parque Estadual de VilaVelha (Sítio Geológico Parque Estadual de Vila Velha), outão somente afloramentos notáveis, como, por exemplo,o Sítio Geológico Estrias Glaciais de Witmarsum e atéuma paisagem específica, como a Serra do Mar.

A observação continuada do programa permitiuconcluir que os produtos gerados têm tido grandeeficácia para a divulgação do patrimônio geológico e adisseminação da informação geocientífica.A implantação dos painéis seguiu a experiência doProjeto "Caminhos Geológicos" do DRM-RJ. No estado doParaná foram implantados pela Mineropar 48 painéis em21 diferentes geossítios, quase todos com dimensões de200cm x 120cm (Figura 16). Nesses painéis,confeccionados com adesivo de alta aderência sobrechapa metálica, está descrita a geologia e ageomorfologia do local de interesse, bem como aspectosrelevantes do ponto de vista turístico.

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Figura 16 – Exemplo de Painel Geológico. Sítio geológico Cratera de Impacto de Vista Alegre, município de Coronel Vivida – PR.

Por sua vez, os folhetos geológicos estãorelacionados aos painéis, contendo as mesmasinformações, ou seja, os folhetos permitem que ovisitante tenha em mãos as informações do painel,permitindo que as leve após sua visita ao sítio. Por outrolado, o folheto tem servido como material que desperta aatenção de potenciais turistas que ainda não visitaramdeterminado sítio, nesse caso servindo inicialmentecomo elemento de propaganda e estímulo tanto quantode informação.

Na elaboração, tanto dos painéis quanto dosfolhetos, foram tomados cuidados para o corretodimensionamento do volume de informações, para fazercom que o texto prenda a atenção do usuário. Para tantofoi necessário definir uma adequada densidade deinformações, evitando-se o "didatismo" e que oconteúdo exposto apresente uma redução de conteúdopara torná-lo simples demais.

2.5.3. Roteiros Geoturísticos

São roteiros geológicos direcionados para aeducação e para o turismo. Devido a dificuldades ematrair o cidadão leigo em geociências diretamente pararoteiros geológicos/geoturísticos específicos, uma boaalternativa é compor roteiros adaptados a roteirosturísticos já implantados e em funcionamento, comofator de agregação de valor. Tal estratégia foi assumidapela Mineropar que a considera eficiente, havendoinclusive a implantação de alguns roteiros para oatendimento de demandas de cursos de capacitação

para um público bem diverso, como professores da redede ensino médio e fundamental, guias e condutores deturismo e sociedade em geral.

Um dos exemplos mais didáticos trata-se do"Roteiro Geoturístico de Curitiba" (Liccardo et al. 2008),publicado em forma livro guia, cujo conteúdo abrangediversos pontos turísticos notáveis da cidade onde ageologia e/ou a geomorfologia constituem fatordeterminante da visitação, como por exemplo antigaspedreiras transformadas em parques municipais, queconstituem geossítios científicos importantes.

Outros roteiros que podem ser mencionados,como importante experiência cognitiva e científica, sãoaqueles denominados de "Geoturismo na Rota dosTropeiros" localizada na Bacia do Paraná e nos CamposGerais no Paraná e que abrange um produto turísticoconsolidado no estado; "Geoturismo no karstparanaense", que se trata de um produto adaptado a trêscircuitos turísticos na região metropolitana de Curitiba eque, inclusive, aproveita para mostrar a problemática daocupação urbana do karst, região reconhecidamentefrágil do ponto de vista geotécnico.

2.5.4. Divulgação e Conservação

A divulgação do patrimônio geológico para asociedade, tanto em linguagem científica quanto maispopular, é decisiva para a sua valorização e conservação.Deste modo, a MINEROPAR tem colocado o geoturismocomo um programa importante, pois é através dele que ainstituição tem conseguido divulgar a geologia para a

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sociedade em geral, sensibilizando-a para a importânciada geoconservação.

Ao mesmo tempo o programa aponta para anecessidade de cuidados adicionais com geossítios muitovulneráveis, como determinados afloramentosfossilíferos e de minerais, onde até a coleta, de formadescuidada ou errônea do material para pesquisa,poderia prejudicar de forma irremediável estesgeossítios.

Em função desse necessário cuidado e ematenção à necessidade de preservação e valorização dedeterminados geossítios, a MINEROPAR, em conjuntocom prefeituras, encaminhou para o Conselho doPatrimônio Histórico e Artístico do Paraná (CEPHA – PR),órgão vinculado à Secretaria de Estado da Cultura - PRtrês propostas para a política de tombamento. Oprimeiro geossítio tombado foi uma pedreira desativadano município de Coronel Vivida (PR) com áreaaproximada de 10.000m2, situada no centro da Craterade Vista Alegre, astroblema com diâmetro de 9,5km,onde afloram estruturas que comprovam a colisão de umcorpo celeste com a Terra (Crósta et al. 2011). Além daimportância para a geoconservação, este tombamentocausou a valorização do referido geossítio com aformalização de projetos de infraestrutura para recebervisitantes. O outro geossítio tombado é um lajeado dearenito (Grupo Itararé) com 50 m2 (Figuras 17 e 18), ondeestão impressas estrias glaciais formadas durante aglaciação permocarbonífera na Bacia do Paraná,denominada de “Estrias Glacias de Witmarsum”, játransformada em produto turístico e com medidas degeoconservação tomadas pela própria comunidade. Oterceiro sítio tombado pelo CEPHA igualmente é umlajeado de arenito, pertencente à Formação Furnas(Bacia do Paraná) na região da serrinha de São Luiz doPurunã, onde estão impressos rastros de vermes(icnofósseis) bastante preservados e que possuemgrande interesse paleontológico. Há um quarto geossítiopaleontológico em processo de tombamento que é umimportante afloramento de fósseis de pterossauros emCruzeiro do Oeste - PR.

Portanto, em geoconservação, o programa tematuado na política convencional, ou seja, a dos processosd e to m b a m e n to v i n c u l a d o s a i n st i t u i ç õ e sgovernamentais. A experiência mostrou que para osgeossítios que não estejam em unidades de conservaçãoo regime de tombamento é uma boa política devalorização e preservação do geossítio.

Figura 17 – Estrias Glaciais de Witmarsum. Afloramentotombado pelo CEPHA – PR

Figura 18 – Estrutura implantada para a conservação edivulgação do geossítio.

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2.6. Caminhos Geológicos da Bahia

O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia foi oresultado de reuniões informais mantidas durante o anode 2002 por geólogos da PETROBRAS e da CPRM - ServiçoGeológico do Brasil. Uma vez que alguns desses geólogoseram sócios da Sociedade Brasileira de Geologia emesmo membros da diretoria do Núcleo Bahia/Sergipe,esta Sociedade também passou a participar do projeto.

O plano inicial do projeto era viabilizar aimplantação de cerca de 30 painéis distribuídos ao longodas rodovias BR-324 (Salvador- Feira de Santana), BR101(Conceição do Jacuípe - Alagoinhas), BR-110 (SimõesFilho-Alagoinhas) e BA-093 (Entre Rios - Pojuca). Estasrodovias propiciariam a divulgação dos conhecimentosbásicos sobre a Bacia Sedimentar do Recôncavo.Adicionalmente seriam colocadas cerca de 50 placassecundárias para sinalização dos painéis.

Para a execução deste projeto, foi formada umacomissão composta de um coordenador geral, umconselho editorial com cinco membros e uma equipe deprodução e apoio com três membros; os autores dasinformações a serem apresentadas nas placas seriamconvidados de entidades externas ao projeto.Posteriormente o objetivo do projeto foi ampliado para aconfecção de 36 placas a serem implantadas até o ano de2009, em locais distribuídos por todo o estado da Bahia.

A primeira placa foi inaugurada no dia 4 de abrilde 2004, entre o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda,em Salvador (Figuras 19 e 20).

Figura 19 – Painel dedicado à falha de Salvador..

Figura 20 – Elevador Lacerda que liga os blocos alto e baixo dafalha.

Antes da inauguração uma equipe desceu de“rappel” o Elevador Lacerda. A CPRM- Serviço Geológicodo Brasil produziu e distribuiu um folder resumindo asinformações contidas no painel interpretativo.

A segunda placa foi inaugurada alguns mesesdepois na fonte do Dique do Tororó. De acordo com ofolder distribuído, as águas da fonte do Dique teriam sidoutilizadas desde o século XVIII e a fonte seria de um tipoespecífico (fonte de vale). Os autores convidados para aelaboração desta placa foram professores do Instituto deGeociências da Universidade Federal da Bahia.

Em abril de 2005 foram inauguradas mais duasplacas: no Serrano, na cidade de Lençóis, e no Posto PaiInácio em frente ao morro homônimo, no município dePalmeiras . As Figuras 21 e 22 reproduzem o folderdistribuído na ocasião.

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Luiz Rogério Bastos Leal e Joana Angélica Luz

A elaboração do texto da placa do Serrano contou com a colaboração da Prof. Marjorie C. Nolasco da Universidade Estadual de Feira de

Santana e o da placa do Posto Pai Inácio foi redigido pelo geólogo Antonio Jorge Magalhães, da Petrobras, em colaboração com o geólogo

Augusto J. Pedreira da CPRM.

Figura 21 – Frente do folder patrocinado pela CPRM edistribuído durante a inauguração da placa do Serrano, emLençóis, Bahia.

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Figura 23 – Frente do folder, patrocinado pela CPRM edistribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube PlazaShow.

Finalmente, em junho de 2005, foi implantadauma última placa, dedicada à deriva continental. O localescolhido foi o Aeroclube Plaza Show, um “ShoppingCenter”, localizado à beira-mar na praia de Piatã(Salvador). As Figuras 23 e 24 mostram o folderdistribuído na inauguração da placa.

Figura 22 – Verso do folder patrocinado pela CPRM e distribuídodurante a inauguração da placa do Serrano, em Lençóis, Bahia.

Figura 24 – Verso do folder, patrocinado pela CPRM edistribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube PlazaShow.

Apesar da assinatura de um memorando deentendimento entre os representantes da PETROBRAS,SBG e CPRM por ocasião da inauguração da primeiraplaca, o projeto não teve apoio institucional. Por causadisso, nunca houve contatos prévios com ascomunidades onde as placas seriam instaladas.

Em consequência, as placas foram sendodestruídas, removidas ou abandonadas: a placa da Falhade Salvador, já bastante deteriorada foi removida pelaPETROBRAS para consertos; a placa do Dique do Tororó,simplesmente desapareceu; a placa do Serrano foidestruída pela comunidade; a do morro do Pai Inácio,derrubada por uma tempestade e não recolocada e,finalmente, a da deriva Continental, abandonada edestruída juntamente com o Aero Clube Plaza Show.

O projeto tinha outros desdobramentosprevistos, como a “Cidade da Geologia” e apoio àconfecção de material de divulgação da geologia para serutilizado durante o 43º Congresso Brasileiro de Geologia.Para o desenvolvimento do primeiro projeto foi escolhidaa cidade de Jacobina, em 2002, por suas característicasregionais estratigráficas, sedimentológicas, estruturais,petrológicas, geoeconômicas e tradição mineira. Esteprojeto, sequer saiu do papel.

Finalmente, o último projeto consistiu napreparação de papeis de bandeja para serem distribuídasnos “Shopping Centers” e outros estabelecimentos dacidade de Aracaju, durante a realização do 43º CongressoBrasileiro de Geologia. Foram preparados cinco modelosilustrando fenômenos geológicos (Figura 25), efinanciados por empresas privadas, com os seguintestemas: Terremoto, Tsunami, Vulcão, Petróleo e Gás e OCiclo da Água.

Figura 25 – Papel de bandeja / mini-toalha distribuído durante o43º Congresso Brasileiro de Geologia, em Aracaju-SE.

O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia,mesmo antes da disseminação de conhecimentos acercad e p a t r i m ô n i o g e o l ó g i c o , g e o d i v e rs i d a d e ,geoconservação e geoturismo, foi pioneiro neste aspectona região. Entretanto por falta de apoio federal, estadualou municipal, foi paralisado, estando em estado latente.Havendo tal apoio ele poderá ser reativado, aproveitando

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a extraordinária geodiversidade do estado da Bahia.

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável eMeio Ambiente do RN - IDEMA/RN criou, no início de2006, o projeto Monumentos Geológicos do Rio Grandedo Norte e a partir daí firmou um convênio com aPETROBRAS/CEFET/FUNCERN, estabelecendo para a suaexecução uma parceria em conjunto com a CPRM –Serviço Geológico do Brasil e a Universidade Federal doRio Grande do Norte - UFRN, no intuito de contar umpouco da história geológica potiguar através de painéisexplicativos.

A parceria com geólogos, professores epesquisadores da UFRN, CPRM (Núcleo de Natal –NANA), PETROBRAS e CEFET (atual IFRN) permitiu olevantamento dos dados e a geração das informaçõescientíficas para a confecção dos painéis interpretativosúteis para levar a sociedade o entendimento acerca daevolução geológica do Rio Grande do Norte.

O objetivo do projeto foi propiciar a divulgaçãodas geociências, dos seus monumentos, paraproporcionar uma série de fatores, como: i) reconhecer epreservar os monumentos geológicos do Estado; ii)divulgar o conhecimento geológico entre ascomunidades; iii) fortalecer o potencial geoturístico dareg ião e iv) incent ivar o desenvolv imentosocioeconômico relacionado com a geologia.

2.7. Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte

Figura 26 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Dunas de Jenipabu (emExtremoz). Fotos: Alenuska.

Figura 27 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Dunas do Rosado (em Porto doMangue). Foto: IDEMA.

Figura 28 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Pico do Cabugi (em Angicos).Foto: Marcos Nascimento.

Figura 29 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Granito de Acari (em Acari).Foto: Marcos Nascimento.

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A meta foi confeccionar painéis informativoscom conteúdo didático sobre geologia, geomorfologia,petrologia, paleontologia, arqueologia e espeleologia,contendo nestes um título, mapa de localização,explicação em um texto em português de fácilentendimento (e uma versão resumida em inglês) e osaspectos da evolução geológica de cada pontoselecionado.

No primeiro momento do projeto, foiselecionado em conjunto pelo IDEMA/RN, CPRM e UFRN,um total de 16 pontos de interesse geológico paracolocação dos painéis. Os monumentos escolhidosforam:

a) No Litoral: Morro do Careca, Parque dasDunas, Dunas de Jenipabu (Figura 26), Dunas do Rosado(Figura 27), Arenitos Praiais, Recifes de Corais e Falésiasde Pipa;

b) No Interior: Pico vulcânico do Cabugi (Figura28), Caverna de Pedra de Martins, Granito de Acari(Figura 29), Lajedo de Serra Caiada, Lajedo de Soledade,Tanques Fossilíferos de São Rafael, Mina Brejuí,Pegmatitos de Parelhas e Poço 9-MO-13-RN (primeiropoço produtor de óleo na Bacia Potiguar).

Paralela à implantação desses painéis foramtambém elaborados cartões-postais úteis para umadivulgação mais ampla desses monumentos geológicos.Essa iniciativa, pioneira no Brasil, está recebendo elogiosde pessoas interessadas no assunto e coordenadores deprojetos co-irmãos. Além disso, também foramelaborados os painéis itinerantes, contendo as mesmasinformações e imagens dos painéis colocados ao lado dosmonumentos geológicos. Estes servem para levar àsociedade todas as informações sobre cada monumentosendo muito utilizado em feiras e exposições pelo Estadodo Rio Grande do Norte.

Figura 30 – Outras formas de divulgação das geociências noâmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande doNorte. Espaço Ecológico criado em um Shopping de Natal,expondo as diferentes ações realizadas pelo IDEMA no Estado,com destaque para a Exposição Monumentos Geológicos do RioGrande do Norte e seus painéis itinerantes.

Figura 31 – Outras formas de divulgação das geociências noâmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande doNorte. Visitante admirando os diferentes cartões-postais comimagens da geodiversidade potiguar. Foto: Marcos Nascimento.

A exemplo de estados como Rio de Janeiro,Paraná e Bahia, o Rio Grande do Norte tornou-se o quartoEstado brasileiro a criar um programa específico paraproteção dos monumentos geológicos e divulgaçãodestes para a sociedade.

As primeiras ações bem sucedidas desinalização/divulgação do patrimônio natural geológicono Estado de São Paulo ocorreram com a criação dosParques Municipais “Rocha Moutonnée” (1991) e“Varvito de Itu” (1995), localizados respectivamente nascidades paulistas de Salto e Itu.

Após devidamente estudados (Rocha-Campos,2002a, 2002b) e conser vados , a etapa dedivulgação/sinalização desse patrimônio contou com aelaboração de painéis geológicos explicativos e complacas rodoviárias indicando a atração turística (Figuras32, 33, 34, 35, 36, 37, 38 e 39).

Atualmente, o Parque da Rocha Moutonneépassa por reformas que ampliarão seu potencial turísticoe de divulgação da geodiversidade. Com recursoso r i u n d o s d o D e p a r t a m e n t o d e A p o i o a oDesenvolvimento das Estâncias (DADE), da SecretariaEstadual de Turismo, estão previstas, entre outrasmelhorias, a adequação das normas de acessibilidade,construção de auditório, praça cívica, painéismuseográficos, sinalização e totens explicativos dasatrações, bem como a implantação de réplicas dedinossauros robotizados.

2.8. Projeto Monumentos Geológicos do Estado de São

Paulo

Figura 32 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA – dez.2009)

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Figura 33 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvitode Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).

Figura 34 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvitode Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).

Figura 35 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvitode Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).

Figura 36 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –dez. 2009).

Figura 37 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –dez. 2009).

Figura 38 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Totem de entrada do Parque MunicipalRocha Mountonneé, Salto (SP), confeccionado com o famosogranito róseo de Itu.

Figura 39 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Painéis geológicos (Fonte: Acervo IG/SMA– dez. 2009).

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No governo do Estado, as primeiras políticas dedivulgação do patrimônio geológico também datam dadécada de setenta, especialmente com a publicação doDecreto Estadual nº 11.138/78. Este documentocolocava sob a égide da antiga Divisão de Proteção deRecursos Naturais (DPRN) e do Instituto Geológico (IG) asatribuições de manutenção dos “serviços de conservaçãode monumentos geológicos naturais para fins científicosculturais e turísticos” (artigo 436, VII – grifo nosso).Posteriormente, já na década de oitenta, as ações dedivulgação do patrimônio foram reunidas e repassadasdefinitivamente ao Instituto Geológico, agora integranteda Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA), pormeio da criação da Seção de Monumentos Geológicos(Decretos Estaduais nº 24.931/86 [art. 10°, III] e n°26.942/87 [art. 1°]).

No âmbito da Seção de MonumentosGeológicos foi desenvolvido o Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo, importante instrumento criadopara a divulgação do patrimônio geológico paulista. Oprojeto foi apresentado no dia 27 de março de 2009, nasede do IG, durante a celebração dos 123 anos de criaçãoda Commissão Geographica e Geológica (CGG) da entãoProvíncia de São Paulo. Nesta mesma data também secomemora o aniversário do IG, visto que o instituto éoriundo da referida Comissão.

Ainda em andamento, este instrumento temcomo principal objetivo promover o registro, oconhecimento, a conservação e a divulgação dopatrimônio geológico do Estado de São Paulo, abordandoa geodiversidade como arcabouço fundamental dabiodiversidade.

Alguns produtos deste projeto voltadosespecificamente para a divulgação/sinalização dopatrimônio geológico são: a sua logomarca, os primeirosmarcadores de página da série “MonumentosGeológicos de São Paulo", folderes, bloco de notas,cartões postais, etc. (Figuras 40, 41, 42, 43, 44 e 45).

Figura 40 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Logomarca.

Figura 41 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Marcadores de página.

Figura 42 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Folder de divulgação Secretaria deEstado de Lazer e Turismo.

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Figura 43 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Bloco de notas.

Figura 44 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Cartão postal do MonumentoGeológico Carste e Cavernas do PETAR.

Figura 45 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Cartão postal do MonumentoGeológico do Astroblema de Colônia.

No final de 2012, foram lançados os primeirospainéis geoturísticos com o objetivo de divulgar opatrimônio geológico paulista. Trata-se de painéisautoexplicativos e didáticos que contam a origemgeológica e geomorfológica do geossítio denominado“Morro do Diabo”, localizado no município paulista deTeodoro Sampaio (Figuras 46 e 47). Os painéis reuniraminstituições públicas e universitárias paulistas para suaelaboração e implantação

Figura 46 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do ProjetoMonumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).

Figura 47 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do ProjetoMonumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).

Em 2009 foi criado, por meio da Resolução SMAnº 076/2009, o Conselho Estadual de MonumentosGeológicos (CoMGeo-SP), junto à Secretaria de Estado deMeio Ambiente. O CoMGeo-SP, de caráter consultivo,tem com principal objetivo auxiliar, no âmbito da SMA, asações e atividades que envolvam a pesquisa,conservação e divulgação dos Geossítios e MonumentosGeológicos de São Paulo (grifo nosso). É composto peloSecretário do Meio Ambiente (que é seu presidente),pelo diretor do IG, pelo chefe da Seção de MonumentosGeológicos (que é o Secretário Executivo) e por outros 16Conselheiros, reconhecidos pela atuação nos temasrelacionados aos Geossítios e Monumentos Geológicos(Figura 48).

Além do Varvito de Itu, e da Rocha Mountonnée,outros quatro geossítios compõe os seis monumentosgeológicos declarados pelo CoMGeo-SP até abril de 2013:

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Carste e Caverna do PETAR, Cratera de Colônia, Geiseritosdo Anhembi e Pedra do Baú.

Figura 48 – Reunião Ordinária do CoMGeo-SP – Sede SMA/SP.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto aos aspectos metodológicos, entende-se que:

a) para gerar uma ação sistemática deconservação do patrimônio geológico de um território énecessário categorizar os sítios de interesse, apoiando-seno inventário realizado para, então, definir as medidas deconservação, que necessariamente devem seguir umaordem sequencial.

b) para o desenvolvimento de projetos destanatureza, o método ideal é a implantação dos painéis emdecorrência da finalização do inventário do patrimôniogeológico local, seja a área de um município ou de todo oestado. Apesar disto, geossítios notáveis no estado doParaná, de grande relevância geológica e/ou paisagísticajá comprovada pelo histórico de demanda turística,foram contemplados com os painéis de formaconcomitante à confecção do inventário.

c) é fundamental a avaliação pedagógica domaterial dos painéis, buscando sua continua evolução.Para tanto, conclui-se pela necessidade de solicitar que,tanto leigos no conhecimento geológico quantoprofissionais com experiência em redação emgeociências, opinem sobre o conteúdo gráfico e textualdo material.

d) a disseminação do conhecimento porintermédio dos materiais produzidos são mais efetivosquando acompanhados por cursos de capacitação demonitores e/ou guias. Ou seja, tal ação deve estarprevista em todas as atividades anteriormentemencionadas, seja na elaboração de roteiros ou nasimples implantação de painéis e folhetos em áreas quepermitem a sua realização, como municípios ou unidadesde conservação. Estes cursos multiplicaram a informaçãogeológica para a sociedade local, amplificando aindamais dois dos objetivos principais do programa, que é aeducação e conservação do patrimônio geológico.

De modo mais geral, fica claro que existe umamplo espaço para desenvolvimento dos projetos degeoturismo e divulgação do patrimônio geológico para asociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelosserviços geológicos e entidades afins de âmbito estadual.Os relatos apresentados demonstram esta tendênciapositiva. Acredita-se, pelas notícias que chegam a partirda participação nos diversos eventos realizados pelo país,que novos projetos estejam por despontar em breve. Poroutro lado, o exemplo da Bahia demonstra a claranecessidade de que haja uma organização responsávelpela implantação e manutenção dos painéis.

Observa-se, também, que as unidades deconservação são lugares especiais para a implantaçãodeste tipo de sinalização, propiciando a divulgação dageodiversidade em conjunto com a biodiversidade.

Um aspecto a ser ainda mais discutido econsiderado é que um projeto de sinalização sistemáticapossui um desdobramento muito maior do que adisponibilização de equipamentos de geoturismo. Eletambém propicia a participação comunitária ecertamente o desenvolv imento de projetoseducacionais. Esta inserção necessita ser aproveitada aomáximo.

Por fim, considera-se, ainda, que o maiorobstáculo a ser superado é a comunicação com asociedade. Para tanto, precisa-se avançar noconhecimento sobre o usuár io dos painéisinterpretativos. É necessária, portanto, a realização depesquisas sobre o público-alvo e planejamento prévio dainterpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais acomunicação para despertar o interesse do usuário /visitante.

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Manuscrito ID 31729

Submetido em abril de 2013

Aceito em julho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Valoración del patrimonio geológico en Europa

Valuation of geoheritage in Europe

LUIS CARCAVILLA , ENRIQUE DÍAZ-MARTÍNEZ , LARS ERIKSTAD , ÁNGEL GARCÍA-CORTÉS .1 1 2 1

1

2

Instituto Geológico y Minero de España (IGME) - [email protected] - [email protected] - [email protected]

Norwegian Institute for Nature Research (NINA) - [email protected]

Resumen

Los orígenes del estudio del patrimonio geológico en Europa se sitúan en la segunda mitad del siglo XX, si bien mucho antes ya se habíanpuesto en marcha iniciativas para la protección de enclaves singulares de interés estético. Desde entonces, cada una de las 50 nacioneseuropeas ha diseñado distintas estrategias y mecanismos para el estudio y conservación del patrimonio geológico, con diferente grado dedesarrollo y avance. Este ha dependido generalmente de la iniciativa de los geocientíficos pero también del interés mostrado por lasadministraciones competentes en conservación del patrimonio natural, de manera que, aunque cada país tiene su problemáticaparticular, hay muchas situaciones comunes. Algunos programas globales promovidos desde Europa, como la Red Global de Geoparques yGlobal Geosites, han impulsado el inventario y divulgación del patrimonio geológico, si bien a día de hoy no existe una directiva europeaque promueva la conservación del patrimonio geológico, lo que sin duda impulsaría definitivamente la geoconservación en todos loestados. Algunos países pueden servir de ejemplo al destacar en la elaboración de inventarios nacionales, en la legislación o en el diseñode metodologías para la geoconservación, pero en términos generales, el patrimonio geológico en Europa siempre ha ido a remolque delas iniciativas de conservación de la biodiversidad. Aún queda mucho camino por recorrer para desarrollar sistemas de valoración yestrategias de geoconservación en todos los países.

Palabras clave: Europa; geodiversidad; geoconservación; patrimonio geológico.

Abstract

Although the origins of geoheritage studies in Europe date back to the second half of the 20th century, many initiatives had beenimplemented long time before but towards the protection of unique sites with aesthetic interest. Since then, each of the 50 Europeannations has designed and implemented different strategies and methodologies towards the study and conservation of geoheritage, butwith different degrees of development and advance. This has generally relied on the geoscientists initiative, but also the interest shown bypublic administrations in the conservation of natural heritage, so that, even if each country has its own specific problems, there are alsomany common situations. Some global programs promoted from Europe, such as the Global Geopark Network and Global Geosites, havepromoted inventories and public outreach on geoheritage. Nowadays, there is not a common European directive promoting theconservation of geoheritage, which would certainly promote geoconservation. Some countries may serve as examples of theimplementation of national inventories, legislation or design of methodologies towards geoconservation, but in general terms,geoheritage in Europe has always gone behind biodiversity conservation initiatives. There is still much to be done in order to developgeoheritage assessment systems (valuing) and geoconservation strategies in all countries.

Key words: Europe; geoconservation; geodiversity; geoheritage.

1. INTRODUCCIÓN

Los orígenes del estudio del patrimoniogeológico en Europa se sitúan en la segunda mitad delsiglo XX, cuando tuvieron lugar diversas iniciativaspuntuales, generalmente basadas en experienciasconcretas de geoconservación en afloramientosemblemáticos realizadas incluso décadas antes. En cadauna de las 50 naciones europeas se han diseñadodistintas estrategias y mecanismos para el estudio yconservación del patrimonio geológico, con diferentegrado de desarrollo y avance en función del interésmostrado por las administraciones competentes y de losrecursos disponibles. Desde el continente europeo sehan promovido diversas declaraciones, programas y

recomendaciones con el ánimo de impulsar laconservación del patrimonio geológico y, aunque cadapaís tiene su problemática particular, sí hay muchassituaciones comunes. Algunos programas, como el de laRed Global de Geoparques (GGN, de sus siglas en inglés),sirven de impulso para el inventario, conservación ydivulgación del patrimonio geológico, pero es a escalanacional donde más énfasis debería hacerse, ya queactualmente no existe una directiva europea quefomente la conservación del patrimonio geológico, comosí existe para la biodiversidad. Así que, en términosgenerales, y a pesar de lo mucho que se ha avanzado enesta materia, se puede seguir afirmando que laconservación del patrimonio geológico en Europa no estágeneralizada y que, a pesar de los importantes avances enlas últimas décadas, aún queda mucho camino por

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recorrer para implantar sistemas eficientes de valoracióny de geoconservación.

El estudio del patrimonio geológico figura entrelas más recientes áreas de investigación incorporadas alámbito de la Geología. Es el resultado de una nuevamanera de entender los recursos geológicos como bienescon interés científico y cultural que deben ser protegidosy que pueden ofrecer interesantes posibilidades para eldesarrollo local. Por ello, el estudio del patrimoniogeológico es cada vez más multidisciplinar, incorporandoen su gestión aspectos relacionados con la legislación, losespacios protegidos, el turismo o la economía. El objetivofinal del estudio del patrimonio geológico es promover suconservación, más aún teniendo en cuenta que lamayoría de los enclaves de alto valor geológico sonrecursos no-renovables, por lo que su destrucción esirreversible. Por ello, desde hace unos años se habla degeoconservación, en referencia a las técnicas deconservación del patrimonio geológico, que a menudodifieren de las utilizadas en otros aspectos del medionatural.

A pesar de los importantes avances realizadosen Europa en las últimas décadas, todavía hay clarasdeficiencias en el desarrollo metodológico acerca delpatrimonio geológico, su estudio sistemático, e incluso elreconocimiento general en el propio colectivo deestudiosos de las Ciencias de la Tierra. Se puede afirmarque el patrimonio geológico es el gran olvidado en laprotección del medio ambiente en la actualidad. Inclusose lo sigue considerando como la “cenicienta” de laspolíticas de conservación de la naturaleza, pues es, amenudo, eclipsada por el interés suscitado por losaspectos bióticos del medio natural. A pesar de suinnegable valor, es una constante en Europa que suprotección ha ido siempre a remolque de los pasos dadosen materia de conservación del medio biótico. Sinembargo, desde hace unas décadas, el panoramanacional e internacional está cambiando. Las principalesentidades científicas geológicas se han ido haciendo ecode la necesidad de conservar el patrimonio geológico, eincluso han creado comisiones y grupos de trabajo adhoc. Han surgido asociaciones específicas orientadas alestudio del patrimonio geológico, e incluso la atención alpatrimonio geológico empieza a ser participativa y surgecomo iniciativa de entidades locales y de voluntarios. Y loque es más importante, diversos países han impulsadolos inventarios nacionales y han promulgado leyesespecíficas para la conservación del patrimoniogeológico o con mención explícita dentro de leyes depatrimonio natural. El objetivo del presente trabajo esrealizar un repaso a esta evolución y, sobre todo, a losconceptos y diversas interpretaciones sobre elpatrimonio geológico.

2. ORÍGENES DEL ESTUDIO DEL PATRIMONIO

GEOLÓGICO Y LA GEOCONSERVACIÓN EN EUROPA

El estado de los estudios, especialmente enmateria de conservación, muestra un avance desigualsegún los países. Hay casos en los que existe tradición enel estudio del patrimonio geológico, y otros donde suavance es muy reciente o escaso. Desde el impulsonacional se ha pasado al diseño de planesinternacionales, e incluso existen notables experienciasde acciones participativas de asociaciones nogubernamentales y de voluntariado, cuyos resultados enmateria de conservación empiezan a ser patentes. Enmuchos casos, los términos hasta ahora definidos seintegran en una serie de programas nacionales ointernacionales de patrimonio geológico, siendodenominados por siglas referidas al proyecto en el que seinscriben. Se trata, por tanto, de conceptos análogos,pero que son denominados de diferente manera enfunción del marco legal, administrativo o conceptual enel que se inscriban.

Los trabajos sobre patrimonio geológico ygeoconservación realizados en diversos países europeosdieron lugar a que en 1988 se reunieran geólogos de sietepaíses (Austria, Dinamarca, Finlandia, Reino Unido,Irlanda, Noruega y Holanda) para poner en común susideas y problemáticas. Esta “primera reunióninternacional de geoconservación” incluía entre sustemas fundamentales cómo afrontar el proceso deselección y clasificación del patrimonio geológico y suposterior gestión garantizando su conservación. Estaprimera cita sirvió de base para que se realizaran variasreuniones más, entre las que destaca la que tuvo lugar enDigne (Francia) en 1991, y a la que acudieron más de uncentenar de especialistas, incluyendo geólogos de otrospaíses, como Suiza, Francia, España y Bélgica. Estareunión se considera el germen de una verdaderaconciencia geoconservacionista entre los geólogoseuropeos. Fruto del trabajo conjunto, surgió en 1991 lallamada Declaración de Digne (Martini, 1994), queestablece las bases conceptuales y teórica en las que sebasa la geoconservación. A pesar de que han pasado másde 20 años desde su redacción, sigue vigente y losprincipios en los que se inspira siguen siendo válidos. Unode los efectos de esta reunión fue que tan sólo dos añosmás tarde, en 1993, se creó la Asociación Europea para laConservación del Patrimonio Geológico (ProGEO), de laque hablaremos más adelante.

Como ya se ha comentado, aunque cada nacióneuropea ha llevado su propio camino a la hora deinventariar, proteger y divulgar su patrimonio geológico,hay una serie de características comunes que se repitende manera sistemática. Cabe destacar que, en muchospaíses europeos, los primeros pasos de lageoconservación son realmente antiguos. Generalmentese trata de la protección de algunos afloramientos

3 . A L G U N A S C A R A C T E R Í S T I C A S D E L A

GEOCONSERVACIÓN EN EUROPA

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geológicos singulares, gracias a la mediación depersonajes de la nobleza y realeza de la época. Porejemplo, uno de los antecedentes más antiguos es laemisión de un decreto con fines conservacionistas paracontrolar el acceso a la cueva Baumann (Alemania),emitido en 1668 por el Duque Rudolf August. También enAlemania, en 1832, se protegió el Drachenfels, cerca deBonn, por iniciativa del Príncipe de la corona prusianaFriederich Wilhelm; en 1840, el rey de Bavaria promovióla protección de un corte en rocas jurásicas cerca deWeltenburg; y en 1844 fue protegida una rocagranodirítica llamada Totentein en Sajonia (Röhling,2012). Pero Alemania no es el único caso. Por ejemplo, en1856, el conservador del Museo de Linz convenció a la

Dentro de estos iniciales movimientos conservacionistasdel medio natural, fue la protección de ciertos elementosgeológicos la que adquirió mayor relevancia, debido a sualto valor escénico.

En relación con la protección de lugaresamenazados, la declaración del primer parque nacionaldel mundo, el de Yellowstone en Estados Unidos en 1872,sin duda marcó un modelo de gestión basado en ladeclaración de áreas protegidas que tuvo reflejo en lospaíses europeos. Así, Suecia fue el primer país europeoen declarar una ley de conservación de la naturaleza en1909. Otros países se irían sumando posteriormente aeste enfoque creando sus propias leyes de conservaciónde la naturaleza, como Noruega en 1910, Estonia en 1916y España en 1917. Sin embargo, cabe destacar que, en1837, el rey Leopold I de Bélgica ya había creado laComisión Real de Monumentos y Paisajes conresponsabilidad en la protección de monumentosnaturales (Jacobs, 2012). Fruto de estas legislacionesconservacionistas del patrimonio natural, tuvo lugar unaprimera época de protección de lugares de interésgeológico, generalmente enclaves paisajísticosemblemáticos. Así, en 1919 se protegió el fiordo de Osloen Noruega y en 1923 varios bloques erráticos en elsuroeste del país (Erikstad, 2012); en 1920 fueronprotegidos en Holanda un afloramiento del Carbonífero yun acantilado costero sobre un till l lamadoMirdunmmerklif (Ancker & Jungerius, 2012); y en 1924 sedeclaró el Parque Natural Alpino del Mt. Triglav enEslovenia (Hlad, 2012). Por su parte, Polonia establecióen 1926 una comisión de protección de la naturaleza quedos años más tarde publicó el listado de MonumentoNaturales Inanimados de la República Polaca (Malkowski,1928; Alexandrowicz, 2012), mientras que en España sedeclararon en 1918 sus dos primeros parques nacionales,ambos con una gran significación geológica, y en 1927diversos Sitios Naturales de Interés Nacional mediantelos cuales se protegieron enclaves de gran significacióngeológica (Carcavilla et al., 2009) (fig.2). Por tanto, sonmuchos los países europeos que durante las primerastres décadas del siglo XX protegieron enclaves geológicossingulares, en el marco de una política de protección de lanaturaleza con un cierto aire romántico, dando prioridada los paisajes emblemáticos, en una mezcla deemotividad y admiración por la naturaleza, más que conun verdadero criterio científico o de representatividad.La Primera Guerra Mundial (1914-1917) supuso unparéntesis en esta tendencia pero no una ruptura, comosí lo fue la Segunda Guerra Mundial, que dejó devastadasa gran parte de las naciones europeas.

Figura 1 – Fósil de Archaeopteryx encontrado en las canteras decaliza litográfica de Solnhofen (Alemania), un Konservat-Lagerstätte del Jurásico. Los primeros fósiles de Archaeopteryxse encontraron en estas canteras a finales del siglo XIX.

Asociación Austriaca de Doctores y Científicos para quecomprara un terreno con objeto de evitar que fueranexplotados en cantera unos bloques exóticos de granito(Hofmann, 2012). También a mediados y finales del sigloXIX fueron encontrados interesantes ejemplares fósilesque formaron parte de colecciones de museos (fig.1). Asíque parece que el origen de la preocupación por laconservación y valoración del patrimonio geológicosurgió de la conciencia conservacionista iniciada enalgunos países a finales del siglo XIX y principios del XX,que entendía que ciertos enclaves naturales poseen unnotable valor por sí mismos y que, por lo tanto, deben serprotegidos y conservados.

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Figura 2 – Ciudad Encantada de Cuenca (España), un relievekárstico que fue protegido en 1929 con objeto de representar ladiversidad geológica española.

En la década de los años 60 y 70 del siglo XXresurgió en Europa una filosofía conservacionista de quela actualmente somos herederos. En muchos países seactualizaron las antiguas leyes de conservación de lanaturaleza y se declararon numerosos espaciosprotegidos. Amparados bajo esas leyes, numerososlugares de interés geológico fueron protegidos, pero encasi todos lo casos se trataba de leyes que orientaban susacciones a la preservación de la flora y fauna. La geologíay los elementos geológicos perdieron el escasoprotagonismo que habían tenido hasta entonces,quedando relegados a un segundo plano y siendoconsiderados exclusivamente por su aspecto estético oescénico (fig.3). Si bien la conservación de labiodiversidad recibió un importante impulso, elpatrimonio geológico, salvo honrosas excepciones comoen Gran Bretaña, fue completamente olvidado. Tanto fueasí, que los modernos esfuerzos por impulsar lageoconservación en Europa que se han tomado entre losaños 90 y la actualidad, en muchos casos han tenido enlos propios colectivos y entidades de conservación de lanaturaleza su mayor enemigo, pues no entendían que lageología podía formar parte del patrimonio natural. Seapor convencimiento, por la intensa labor de difusiónpromovida por neocientíficos o por saturación deespacios naturales de flora y fauna, el caso es que en lasúltimas dos décadas el panorama ha ido cambiando,aunque de manera muy desigual en cada país.

Figura 3 – Reserva Natural de las Aiguilles Rouges (Francia), unespacio protegido declarado en la década de 1970 por su flora yfauna, aunque también incluye elementos geológicos de granvalor.

Hoy en día se considera que la gestión delpatrimonio geológico debe basarse en 4 acciones: 1)realizar inventarios, 2) establecer un marco legal queapoye la protección del patrimonio geológico, 3) puestaen marcha de medidas de geoconservación, y 4)divulgación, difusión y promoción de los valores delpatrimonio geológico (Carcavilla et al., 2007). Y aquí esdonde vienen las mayores diferencias entre los paíseseuropeos, pues cada uno de ellos ha afrontado condesigual intensidad y eficacia cada una de estas acciones.Es cierto que prácticamente todos los países cuentan conun inventario, aunque sea preliminar, de lugares deinterés geológico. Pero son muy distintas las entidadesque los han promovido y, sobre todo, el rango legal quetienen los lugares incluidos en dichos inventarios. Elespectro varía entre países con inventarios “informales”promovidos por asociaciones de geocientíficos pero sinningún apoyo legal, y entre países que cuentan concatálogos aprobados por leyes que otorgan unaprotección estricta a un número importante de lugaresde interés geológico. Por ejemplo, Bulgaria hizo su primerinventario nacional el año 1964 con la identificación de55 lugares de interés geológico, y países como GranBretaña y España dieron sus primeros pasos en la décadade los años 70 del siglo XX, aunque en este último caso nollegaría a ser completado por motivos presupuestarios.Por el contrario, otros países han afrontado dichosinventario en épocas muy recientes. El caso es quenumerosos países cuentan con inventarios más o menoscompletos, como Albania que tiene inventariados cercade 350 lugares de interés geológico (Serjani, 2012),Bulgaria que tiene más de 200 lugares de interésgeológico inventariados y cartografiados con criteriosuniformes (Todorov, 2012), Dinamarca que cuenta con uninventario de cerca de 400 lugares (Holm, 2012),Eslovaquia con casi 500 (Liscak, 2012) y Rumanía con másde 200 (Andrasanu, 2012).

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Una singularidad de los inventarios realizadospor los diferentes países es que en la clasificación de loslugares de interés geológico incluidos se han seguidodiferentes sistemas. Si bien en casi todos ellos laclasificación se ha realizado identificando una serie decategorías temáticas, existen muchas diferentes. Así,países con una alta geodiversidad han identificado delorden de 10 categorías de lugares asociadas a disciplinasde Ciencias de la Tierra, como estratigrafía,sedimentología, paleontología, petrología, mineralogía,tectónica, hidrogeología, históricos, cosmogénicos, etc.Este es el caso de los inventarios de países como Rusia,España, Rumanía, Portugal, Italia, Francia o GranBretaña. Por el contrario, en otros países geológicamentemenos diversos, las clasificaciones son más específicas,como en el caso de Islandia, que define rasgosgeomorfológicos del Pleistoceno, elementos del sustrato(volcánicos, estratigráficos, petrológicos, mineralógicos ypaleontológicos) y elementos geológicos del Holoceno(Ásbjörnsdóttir et al., 2012) (fig.4); Holanda incluye sobretodo formas del terreno, procesos y sedimentos delPleistoceno y Holoceno (Ancker & Jungerius, 2012) yLituania algo similar, pero vinculados a las glaciaciones

Figura 4 – Zona termal de Geysir (Islandia), sin duda uno de loslugares de Europa con mayor interés geológico debido a lacombinación de fenómenos volcánicos y tectónicos activos,unidos al glaciarismo.

Figura 5 – Isla de Rab (Croacia), con morfologías exokársticas demuy diverso tipo.

cuaternarias (Satkunas et al., 2012). Por otro lado, enalgunos países, algunos rasgos geológicos adquierenespecial protagonismo, por lo que son objeto de unaespecial atención. Es el caso de los rasgos kársticos,especialmente las cavidades, en Eslovaquia, Eslovenia,Hungría y Croacia (fig.5).

Como ya se ha comentado, la declaración(protección mediante legislación) de espacios protegidoses la principal estrategia utilizada para la protección deelementos geológicos singulares. Este ha sido elmecanismo utilizado en casi todos los países europeos,ya que la protección se refiere a un territorio concretodonde se estipulan una serie de usos permitidos oprohibidos orientados a garantizar la conservación dellugar. Las figuras utilizadas con mayor frecuencia son lasde parque nacional, monumento natural, parque naturalo reserva natural, con sus consiguientes modalidadesnacionales. Pero una característica común en la mayoríade los países europeos es que el hecho de que unelemento geológico esté incluido dentro de un espacioprotegido no siempre garantiza su conservación, ya queno siempre los gestores están al corriente de suexistencia e importancia. El patrimonio geológico va alremolque de la conservación de la biodiversidad y no haalcanzado un protagonismo similar. Por otro lado, si serevisan los porcentajes nacionales de territorio protegidoen cada país se puede apreciar que hay notablesdiferencias. Hay naciones como Finlandia que sólocuentan con un 8% de su superficie protegida (Kananojaet al., 2012), lo que contrasta con el 42% de Austria(Hofmann, 2012). En cualquier caso, estos porcentajessólo aportan una información parcial, ya que la presiónsobre el territorio y el porcentaje de suelo ocupado esmuy desigual en los diferentes países, así que un índicede protección bajo no es necesariamente sinónimo deuna gran presión sobre el medio natural. Unaparticularidad es que diversos países europeos incluyenen sus territorios nacionales regiones de ultramar,diversificando su red de espacios protegidos de caráctergeológico al incluir elementos de contextos geológicosmuy diferentes (fig.6).

Figura 6 – Conos y coladas recientes en el Piton de la Fournaise,en la Isla Reunión, una de las regiones de ultramar francesas,declarada Parque Nacional y World Heritage.

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Con respecto a la gestión del patrimoniogeológico, en muchos de los países europeos hay tresniveles de gobierno: nacional (de todo el país), estatal (deuna región o comunidad) y local (de una comarca,provincia o municipio). Generalmente, el gobiernonacional o federal establece una legislación de referenciay luego los gobiernos estatales pueden adaptarla a suterritorio manteniéndola como está o volviéndola másrestrictiva. Sin embargo, en otros países, la competenciaen materia de conservación de la naturaleza no esnacional sino sólo estatal, mediante organismos oagencias específicas. Uno u otro sistema de gestióntienen sus correspondientes ventajas e inconvenientesen relación con la geoconservación, ya que la sensibilidady predisposición de cada uno de los gobiernos puede sermuy variable. Por otro lado, los servicios geológicoseuropeos también han mostrado una atención desigualal patrimonio geológico, existiendo ejemplos de altaimplicación, como en el caso del Bureau de RecherchesGéologiques et Minières (BRGM) francés o el InstitutoGeológico y Minero de España (IGME), frente a otros queno han atendido este tema. El papel de los serviciosgeológicos ha consistido en impulsar inventarios,desarrollar metodologías de inventario, promovernormas legales que amparen la geoconservación,potenciar actividades de divulgación y promoción delpatrimonio geológico, y participar en programas como elde geoparques.

Desde diversas naciones europeas se hanpromovido en las últimas décadas dos iniciativas globalespara el conocimiento, conservación y divulgación delpatrimonio geológico: los proyectos Global Geosites yGeoparks. Si bien el primero fue abandonado y no sellegó a completar, sí ha servido de estímulo a diversospaíses para plantear un inventario nacional de lugares deinterés geológico de relevancia internacional, como másadelante se describirá. Por su parte, los geoparquessurgieron como una iniciativa europea, pero hansobrepasado este ámbito y son una propuesta global,bajo los auspicios de la UNESCO, en clara expansión y conuna gran proyección de futuro. A ellos habría que añadirel programa World Heritage de la UNESCO, que incluyeentre sus bienes aquellos enclaves que poseencaracterísticas excepcionales que los convierten en losejemplos mundiales en su categoría. Bajo esta figura sehan declarado elementos geológicos tan singulares comoel Volcán Teide (España), la Calzada de los Gigantes(Irlanda) (fig.7), los travertinos de Plitvice (Croacia) o elyacimiento paleontológico de Messel (Alemania).

4. DOS PROYECTOS EUROPEOS DE DIMENSIÓN

INTERNACIONAL: GLOBAL GEOSITES Y GEOPARKS

Figura 7 – Calzada de los Gigantes (Irlanda), lugar de interésgeológico declarado Patrimonio Mundial por la UNESCO y querecibe al año más de 500.000 visitantes.

El proyecto Global Geosites fue puesto enmarcha en 1995 por la Unión Internacional de las CienciasGeológicas (IUGS) con el co-patrocinio de la UNESCO. Sebasaba en la idea de que las estrategias de protección delpatrimonio geológico a nivel internacional requieren uninventario previo. Resulta sencillo comprender ladificultad de establecer un inventario mundial de loselementos más sobresalientes del patrimonio geológicodel Planeta, teniendo en cuenta la complejidad delregistro geológico de la tierra y la gran diversidad delitologías, eventos, paleoambientes, etc, registrados nosolo durante los tiempos geológicos, sino también a todolo largo y ancho del mundo. Por ello, se diseñó unametodología de trabajo que no se dirigía directamente ala selección de los puntos de interés geológico, sino queplanteaba un paso previo: elegir en cada país unoscontextos geológicos (frameworks) en base a su especialsignificado en el registro geológico mundial. En una faseposterior, para cada uno de estos contextos geológicos,se seleccionan los puntos de interés más representativose ilustrativos del mismo. Este concepto de contexto esclave y se refiere a cualquier elemento geológico deescala regional, evento tectónico, metalogenético o decualquier otra naturaleza, serie estratigráfica, asociaciónpaleobiológica, etc. Los puntos de interés geológico o“geositios” (geosites) no son, por tanto, seleccionados deforma aislada sino en el marco de un contextopreviamente escogido por su relevancia internacional. Deeste modo la selección de los puntos de interés geológicose ve orientada y facilitada por su representatividaddentro del contexto geológico abordado y encomparación con otros en el resto del mundo. El objetivoera seleccionar eventos, áreas y característicasfundamentales para comprender la historia geológica delPlaneta y crear una base de datos asociada a nivel global.No se trata de identificar ejemplos concretosrepresentativos de la geología de un país o lugar, sinocontextos geológicos que sean fundamentales paraentender la evolución del Planeta, como registros

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s e d i m e n t a r i o s , fa s e s t e c t ó n i c a s , s i s t e m a smorfogenéticos, etc. Cada país debe identificar suscontextos, para luego comparar con los seleccionados enlos países vecinos. Así se seleccionan los contextos devalor supranacional y global. Siguiendo estametodología, diversos países realizaron sus listados,como Polonia, Bulgaria, España, Reino Unido y Portugal.Como se ha mencionado anteriormente, el proyecto aescala global fue abandonado, pero esta metodologíasirvió a diversos países para realizar un listadohomogéneo de los lugares de interés geológico derelevancia internacional contenidos en su territorio,constituyendo una valiosa herramienta para larealización de inventarios nacionales. Actualmente,ProGEO ha vuelto sobre la idea y ha empezado apromover la continuación del proyecto y que éste searetomado por la IUGS; habiendo conseguido ya que laUnión Internacional para la Conservación de laNaturaleza (UICN) lo adopte en una resolución (Res 5.048de 2012).

Por su parte, los Geoparques surgieron aprincipios de la década de los 90 en Europa, siendoFrancia, Alemania, Grecia y España los socios fundadores(fig.8). Desde entonces, su número ha ido en aumento yya es una iniciativa global. Un geoparque (Geopark oparque geológico) es un territorio que presenta unpatrimonio geológico notable y que lleva a cabo unproyecto de desarrollo basado en su promoción turística,de manera que debe tener unos objetivos económicos yde desarrollo claros. La declaración de un geoparque sebasa en tres principios: 1) la existencia de un patrimoniogeológico que sirva de protagonista y eje conductor, 2) lapuesta en marcha de iniciativas de geoconservación ydivulgación, y 3) favorecer el desarrollo socioeconómicoy cultural a escala local. Así que tres son los pilares quesustentan la creación y funcionamiento de ungeoparque: patrimonio geológico, geoconservación ydesarrollo local. Por ello, los geoparques deben tenerunos límites claramente definidos y una extensiónadecuada para asegurar el desarrollo económico de lazona, pudiendo incluir áreas terrestres, marítimas osubterráneas. En Europa existen ya más de 50geoparques en casi una veintena de países. Italia, Españay Reino Unido son los países que por el momento másgeoparques aportan a la Red Europea. En estos países, losgeoparques se han afianzado como iniciativas parapromover el uso y conservación del patrimoniogeológico. Es importante dejar claro que los geoparquesno son espacios naturales protegidos en sentido estricto(aunque pueden coincidir en espacio y tiempo), sino unterritorio con una estrategia de gestión orientada a lostres principios indicados anteriormente.

Figura 8 – Bosque Petrificado de Lesvos (Grecia), uno de loscuatro lugares fundadores de la iniciativa geoparques a finalesde los años 90.

5. ALGUNOS EJEMPLOS SINGULARES

5.1. Inventarios nacionales: Reino Unido

Dentro del contexto europeo, hay muchosejemplos de buenas prácticas relacionadas con elpatrimonio geológico y la geoconservación. Pero entretodas ellas se pueden elegir unos ejemplos que muestranenfoques particulares a una misma problemática y quehan mostrado ser eficaces, y pueden servir de ejemplo oestímulo a otros países.

En relación con los inventarios, destaca el casodel Reino Unido, donde el estudio del patrimoniogeológico se inició en 1949, aunque el estudiosistemático en realidad comenzó en 1977 y se dio porconcluido en 1990. Este inventario poseía una claravocación conservacionista, ya que estaba acompañadode un mecanismo legal de protección de los LIGs. Estoúltimo es lo que da un especial valor a dicho inventario, yla prueba es que, a pesar del paso del tiempo, existen enla actualidad pocos inventarios europeos quecontemplen dicho aspecto.

En este contexto están los GeologicalConservation Review sites de Gran Bretaña (GCR sites).Estos lugares de interés fueron descritos dentro delmarco del proyecto Geological Conservation Review, queconsistió en un inventario nacional de lugares de interésgeológico que inició su búsqueda de lugares en 1977 yfinalizó en 1990, auspiciado por el Joint NatureConservation Committee (JNCC). No obstante, las laboresde selección de enclaves puntuales ya se habían iniciadoa finales de la década de los 40. Dentro de este proyectose incluía un ambicioso plan de documentación sobre lageología del país y la consulta a numerosos especialistasde diferentes especialidades geológicas. El resultado fuela publicación de 44 volúmenes temáticos de la geologíadel Reino Unido, denominados Geological ConservationReview Series (Ellis, 2005).

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El equivalente en Irlanda del Norte se denominó EarthScience Conservation Review (ESCR).

De los más de tres mil GCR sites identificados seseleccionaron los más importantes (por su relevanciainternacional y nacional) para que gozaran de unaprotección legal (Joint Nature Conservation Committee,2005). De esta manera surgieron los cerca de 1.400 Sitesof Special Scientific Interest (SSSI) que constituyen unared de lugares importantes para el “pasado, presente yfuturo desarrollo de la geología en Reino Unido”, demanera que representan lo más significativo de lageología de ese país, reflejando la diversidad de suhistoria geológica. Su declaración se basa en la Wildlifeand Countryside Act de 1981, aunque recientemente enel año 2000 una nueva normativa denominadaCountryside and Rights of Way Act 2000 (CROW Act)actualizó y aumentó el régimen de protección. Es muyimportante recalcar que los SSSI gozan de un sistema deprotección legal y un amplio reconocimiento a escalanacional, lo que hace que la conservación del patrimoniogeológico en Gran Bretaña sea de las más avanzadas deEuropa. La equivalencia en Irlanda del Norte de los SSSI sedenominan Areas of Scientific Interest (ASSI), y en Galesse denominan Site of Importance for NatureConservation (SINC).

Otro ejemplo de la manera de trabajar en elinventario y conservación del patrimonio geológico enReino Unido es el de los Regionally ImportantGeological/Geomorphological Sites (RIGS). Tambiénfueron establecidos en Gran Bretaña en 1990 por elNature Conservancy Council (NCC) y consiste en unprograma desarrollado por iniciativas voluntarias deasociaciones locales no gubernamentales (RIGS groups)que cuentan con la aprobación informal de lasautoridades locales. Frente a los SSSI y los GCR sites, queson propuestas institucionales, los RIGS son iniciativasvoluntarias de carácter particular que no poseen ningúnreconocimiento legal oficial. Los RIGS groups definen losCounty Geological Sites (CGS), también llamados RIGSsites cuando el propietario del terreno permite el acceso.Ambos sirven de complemento a los SSSI y son puestosen conocimiento de las autoridades y tenidos en cuentaen la planificación. En la actualidad existen más de 50R I G S G r o u p s e n R e i n o U n i d o , f o r m a d o smayoritariamente por museos y asociacionesecologistas, y en menor medida, por sociedadesgeológicas y universidades.

Algunos países han desarrollado la metodologíadel proyecto Global Geosites como sistema para iniciar ocompletar su inventario nacional. Dos de los casos mássobresalientes son los de Portugal y España, que inclusohan colaborado para aplicar una metodología común queles permita complementar la información de cada país.

5.2. Inventario nacional e internacional en el marco del

proyecto Global Geosites: Portugal

En el caso de España, el proyecto se desarrolló entre 1999y 2008 liderado por el IGME, que hace las veces deServicio Geológico Nacional. En una primera fase seidentificaron 20 contextos geológicos españoles derelevancia internacional (frameworks) que fueronpresentados en el 31 Congreso Geológico Internacionalde Río de Janeiro en el año 2000. A partir de entonces, seempezaron a definir los lugares de interés geológico querepresentaban esos contextos, que fueron 148repartidos en 216 recintos. Actualmente España cuentacon una cartografía precisa de esos enclaves y con unabase de datos de los lugares de interés geológico que,como más adelante se explicará, tienen reflejo en elmarco legal de conservación del patrimonio naturalnacional.

Portugal inició las labores del proyecto GlobalGeosites más tarde que España. Pero supo aprovechar laexperiencia de su país vecino para identificar suscontextos de una manera rápida y eficaz. En el año 2000se creó el grupo portugués de ProGeo y en el año 2004 sepropuso una primera lista con 14 contextos de relevanciainternacional (Brilha et al., 2005), varios de los cualestenían una clara conexión con contextos definidos enEspaña. Posteriormente, fueron definidos otroscontextos con la idea de representar la geodiversidadportuguesa, de manera que se definieron un total de 29contextos y 326 lugares de interés geológico. Algunos delos contextos definidos previamente fueron redefinidosy/o englobados en nuevas denominaciones, más ampliasy que daban cabida a otros lugares de interésrelacionados (Brilha et al., 2009). En ellos se ha estimadosu valor intrínseco y su vulnerabilidad para orientar sugestión a las autoridades competentes. De esta manera,la metodología del proyecto Global Geosites ha sidoutilizada en Portugal para definir 15 contextos derelevancia internacional y otros 14 de relevancia nacionalo regional, completando de una manera muy eficaz uninventario nacional que combina la singularidad con larepresentatividad.

Para que la conservación del patrimoniogeológico sea realmente eficaz es necesario contar conun marco legal que ampare su preservación y protección.En la mayoría de los países europeos la protección serealiza en el marco de leyes de conservación delpatrimonio natural, definiendo figuras de protección quepueden englobar o proteger elementos geológicos, comoparques nacionales o naturales, monumentos naturales,etc. En algunos países la legislación para la conservacióndel patrimonio natural pone especial atención en elpatrimonio geológico, como ocurre en el caso de España.

Durante el año 2007, tres nuevas leyessupusieron un cambio radical en lo referente a lalegislación para la geoconservación en España.

5.3. Legislación para la geoconservación: el caso de

España

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La primera de estas leyes fue la Ley 42/2007 dePatrimonio Natural y Biodiversidad, en la que tuvieronuna activa participación el IGME, el Colegio Profesionalde Geólogos (ICOG) y la Sociedad Geológica de España(SGE). La receptividad del Ministerio de Medio Ambientetuvo como resultado que, desde primera vez desde loscomienzos de la geoconservación en España, una Leytuviera entre sus principios inspiradores la conservaciónde la geodiversidad. Las principales aportaciones de laLey son de tres tipos: 1) menciones expresas en susartículos a la geología, patrimonio geológico, geoparquesy geodiversidad; 2) crea un inventario nacional depatrimonio natural que tendrá un inventario de lugaresde interés geológico; 3) adopta medidas de conservacióndel patrimonio geológico y la geodiversidad; y 4) amplialos bienes que pueden ser protegidos, haciendo menciónconcreta a los elementos geológicos como parte de losmonumentos, parques y reservas naturales.

Además, esta Ley dice explícitamente que elMinisterio de Medio Ambiente, con la colaboración de lascomunidades autónomas y de las instituciones yorganizaciones de carácter científico, elaborará unInventario Español del Patrimonio Natural y de laBiodiversidad, que incluirá un inventario de Lugares deInterés Geológico representativo de, al menos, lasunidades y contextos geológicos (frameworks) delproyecto Global Geosites y otros ocho sistemasgeológicos representativos de la geodiversidad española(fig.9). También estipula que se llevará a cabo un PlanEstratégico Estatal del Patrimonio Natural y de laBiodiversidad que incluirá, a su vez, un diagnóstico anualde la situación y de la evolución del patrimonio natural yla biodiversidad y geodiversidad.

Figura 9 – Límite Cretácico-Terciario en Zumaya (España), unode los lugares de interés geológico de relevancia internacionalidentificados en el proyecto Global Geosites.

L a s egu n d a ley imp o rta nte p a ra lageoconservación en España es la Ley de ParquesNacionales, que incluye en un anexo los sistemasnaturales españoles que deben estar representados en laRed de Parques Nacionales, entre los que se encuentrauna decena de sistemas geológicos. Por su parte, la Ley(45/2007) para el Desarrollo Sostenible en el Medio Rural

menciona de manera explícita el turismo geológico yminero (geoturismo) y propone aprovechar los recursosgeológicos para potenciar el desarrollo sostenible en elmedio rural, dando prioridad a la conservación del medioambiente, el paisaje y el patrimonio natural y cultural,algo que va en clara sintonía con la declaración deGeoparques, de los cuales existen 9 en España (año 2013)(fig.10).

Como se puede ver, el nuevo marco normativopone solución (teóricamente) a algunos de los problemasesenciales de la geoconservación en España, como eranla ausencia de un marco legal adecuado, la ausencia deinventario o la inadecuada definición de las figuras deprotección. Los retos para los próximos años seránaprovechar la oportunidad que ofrecen estas nuevasleyes y seguir implantando los programas internacionales(fundamentalmente Geoparks y Global Geosites) para,desde la perspectiva nacional y la internacional, dar elimpulso definitivo a la geoconservación en España.

Figura 10 – Geoparque de Sobrarbe (España), uno de los más de50 pertenecientes a la Red Europea de Geoparques.

5.4. La geoconservación integrada en un marco

holístico: Noruega

Noruega es un país europeo pero no pertenecea la Unión Europea. Como algunos otros países,recientemente ha promulgado leyes relacionadas con laconservación de la naturaleza incorporando referencias ala geoconservación. La Ley de Diversidad Natural del año2009 establece como uno de sus principios proteger ladiversidad biológica y geológica a través de laconservación y el uso sostenible.

Ya se mencionó con anterioridad que lageoconservación tiene raíces muy antiguas en Noruega,con una primera ley de conservación de la naturalezapromulgada en 1910 (Erikstad, 2012). Aunque elpatrimonio geológico no era mencionado de maneraespecífica como justificación para la adopción demedidas de conservación en la legislación, la realidad esque sí ha formado parte del sistema de protecciónnoruego entre 1954 y 2009. Especialmente en el periodocomprendido entre 1970 y la década de los 90, cuandofueron realizados numerosos inventarios y fueron

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declarados numerosas áreas protegidas en forma dereservas, monumentos y paisajes naturales protegidos.Con posteridad, la geología quedó relegada a un segundoplano, como ocurrió en muchos otros países europeos,quedando la geoconservación eclipsada por laprotección de la biodiversidad. Sin embargo, la nuevalegislación ofrece numerosas posibilidades a lageoconservación y la integra dentro de la gestión natural.

Noruega contaba con 2.759 áreas protegidas enenero de 2012, cubriendo un 17% de su superficie.Aproximadamente 200 de ellas están etiquetadas comoáreas de conservación geológica, ya que en ellasdominan los aspectos geológicos o la conservacióngeológica está integrada en su plan de gestión. Muchasde ellas son realmente pequeñas, pero las de grantamaño (como parques nacionales o paisajes protegidos)contienen valores geológicos de gran extensiónintegrados en el paisaje. Una clara tendencia dentro delos parques nacionales es incluir la conservación de loselementos geológicos entre sus objetivos, y aún en loscasos donde no se refleja de manera expresa, estáprotegido desde una perspectiva general como elementoconstitutivo del paisaje y de la naturaleza.

Las islas árticas de Svalvard tienen su propialegislación medioambiental, estando protegido un 60%de su territorio.

La amplitud de miras de la nueva legislación,que incluye la conservación y el uso sostenible comoprincipios, proporciona la oportunidad de incluir elpatrimonio geológico y la geodiversidad en la gestiónambiental. Además, ofrece oportunidades para lageoconservación al margen de la declaración de áreasprotegidas, integrándola en la planificación territorial,evaluaciones de impacto ambiental y estrategias delpaisaje. También incluye elementos geológicos dentro delos sistemas naturales del país, que incluyen hábitats ypaisajes, y empiezan a incorporarse en los inventarioslocales y en la lista nacional de sistemas naturalesamenazados (Erikstad, in press).

La geoconservación en Noruega aún está pordetrás de la preservación ecológica, ambiental y delpatrimonio cultural, pero esta legislación de enfoqueholístico puede favorecer y beneficiar a la biodiversidad,a la geodiversidad y al paisaje.

Los países de la Unión Europea deben sumar asu marco normativo nacional una serie derecomendaciones y directivas de ámbito europeo, siendooptativo en las primeras de ellas y obligatorio en lassegundas traspasarlas a su legislación. En la actualidad noexiste ninguna directiva europea referida al patrimoniogeológico, pero sí hay varias que pueden ayudar osuponer un apoyo a la geoconservación.

6. DIRECTIVAS COMUNITARIAS COMO APOYO A LA

GEOCONSERVACIÓN

En el año 2004 el Consejo de Ministros de laUnión Europea (Council of Europe, 2004) aprobó lasrecomendaciones para la conservación del patrimoniogeológico y de áreas de interés geológico (Rec, 2004).Entre estas recomendaciones se encontraban las depromover y realizar inventarios, reforzar los mecanismoslegales para proteger áreas de interés geológico o asignarrecursos presupuestarios para financiar las iniciativasexpuestas anteriormente. A pesar de que suponían unexcelente marco para el impulso de políticas nacionalesd e g e o c o n s e r v a c i ó n , a l s e r ú n i c a m e n t erecomendaciones, los diferentes países las aplicaron demanera muy desigual y no hubo un seguimiento tras elplazo de 5 años que establecía. Por desgracia, estasrecomendaciones no vinieron seguidas de una directivade geoconservación, que habría sido la herramienta deimpulsarla definitivamente en la Unión.

Por su parte, en el año 2000 fue adoptada laConvención Europea del Paisaje, que fue puesta enmarcha en 2004. Se trata de la primera convención queaborda el multidisciplinar asunto del paisaje con elobjetivo de promover su protección. Parte de la idea deque cada paisaje está formado por diferentescomponentes y estructuras, entre las cuales la geología

Figura 11 – Algunos de los hábitats incluidos en la DirectivaHábitats de la red Natura 2000 de la Unión Europea tienen unaclara componente geológica, como las cavidades kársticas, porlo que muchas de ellas gozan de una protección al menosindirecta. Cueva de Vallgornera (España).

es una de ellas. Por ello, aunque la directiva no centra suatención en el patrimonio geológico, puede servir comoherramienta para la geoconservación de aquelloselementos geológicos que formen parte importante depaisajes singulares y/o representativos. Algo parecidoocurre con la Directiva de Hábitats, creada con objeto deproteger los hábitats más singulares de la Unión Europea.Aunque esta directiva está diseñada con un marcadocarácter fitosociológico, varios de los hábitats incluidosen su listado como de protección especial son elementosgeológicos, como tobas calcáreas, cavidades o sistemasde dunas (fig.11). Por ello, puede suponer unainteresante herramienta para promover lageoconservación en esos sistemas. Su adopción como

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una directiva sería una gran paso hacia delante, aunqueel esfuerzo de reconocer la geoconservación con supropio derecho dentro del sistema de conservación de lanaturaleza (la directiva de hábitats y la red NATURA 2000)debe ser establecido en el trabajo práctico del día a día(Erikstad, en prensa).

Como se ha comentado con anterioridad, enEuropa la legislación y la forma de actuar de cada uno delos países en materia de geoconservación es muydesigual (Wimbledon & Smith-Meyer, 2012; Erikstad,2008). La perspectiva internacional no proporcionagrandes ventajas porque la geoconservación no estácontemplada en ninguna directiva de la Unión Europea,de manera que no existe ninguna imposición paraafrontarla. Se propuso su integración como parte de laEstrategia Europea del Suelo, que aspira a convertirse enuna directiva. En ella, el patrimonio geológico seríaintegrado como una de las funciones del suelo a proteger,entendido el suelo en su sentido más amplio ya quepuede contener o constituir ese tipo de patrimonio. Encaso de que fuera aceptada, constituiría un importantepaso adelante, aunque dicha directiva ha sido retrasada(o incluso detenida) por los numerosos desacuerdosentre los países miembros. El resultado es que lageoconservación no goza del mismo reconocimiento quela conservación de otros elementos del patrimonionatural.

Por otro lado, en Europa se definió la primeraconvención internacional dedicada exclusivamente alpaisaje. Se integra dentro del programa de MedioAmbiente del Consejo de Europa y Naciones Unidasdenominado “Estrategia pan-europea para la diversidadbiológica y del paisaje”, que fue aprobada por losministros de medio ambiente de los 55 países implicadosen Sofía (Bulgaria) en 1995. La acción 4 del Plan de Acciónpara 1996-2000 se denominó “Conservación de lospaisajes” y entre los objetivos formulados para seralcanzados en el año 2000 figuraba “prevenir futurosdeterioros de los paisajes y del patrimonio geológico ycultural a ellos asociados y preservar su belleza eidentidad. Corregir la ausencia de percepción integral delos paisajes como un mosaico de rasgos culturales,naturales y geológicos y establecer una mayor concienciapública y por parte de las administraciones y mejorar suprotección en toda Europa" (Council of Europe, 2006). Laconvención del paisaje aporta una visión muy ampliaenglobando todos los elementos que le confieren calidady singularidad, por lo que puede ser una buenaherramienta para la geoconservación en Europa.Además, hace especial énfasis en cómo la gente percibeel paisaje y en la importancia de la participación eimplicación local.

ProGEO es la Asociación Europea para laConservación del Patrimonio Geológico. Se trata de una

7. EL PAPEL DE PROGEO

ProGEO es un marco de referencia actual a nivelno solo europeo sino también internacional para laconservación y estudio del patrimonio geológico. Elobjetivo principal de esta asociación es dar a lageoconservación un mayor protagonismo y relevancia,para que sea tenida en cuenta en las decisiones sobreconservación del patrimonio natural. ProGEO organizareuniones periódicas y trabaja mediante subcomisionesregionales que agrupan países por criterios geográficos yculturales. La web actual es: http://www.progeo.se

Como se ha visto con anterioridad, no existe unapolítica común para abordar la valoración, estudio yconservación del patrimonio geológico en Europa. Losdiferentes países han abordado el tema según lareceptividad de las administraciones y el dinamismo delos propios geólogos, dando como resultado diversosmodelos que tienen sus particularidades. A pesar de quese asume que el mayor campo de acción para lageoconservación se sitúa en el ámbito local, sin elimpulso de leyes nacionales o directivas transnacionales

8. PERSPECTIVAS DE FUTURO

asociación abierta a todo tipo de profesionales einstituciones que trabajan hacia ese objetivo, y cuentacon miembros de la mayoría de las naciones europeas.ProGEO trabaja para promover la protección de lospaisajes y lugares de interés geológico representativos ymás importantes de Europa, así como las múltiplesformas en que se muestran los fenómenos geológicos ysus resultados, analizando su valor y destacando sobretodo su interés científico e importancia cultural paradefinirlo como patrimonio y que sea protegido como tal.ProGEO intenta dar a la conservación del patrimoniogeológico y la geodiversidad una voz más fuerte enEuropa, y servir como foro de discusión sobre estostemas, asesorando y tratando de influenciar en laspolíticas y la administración del patrimonio (Fig.12).

Figura 12 – ProGEO participa activamente en la integración de lageoconservación en diferentes foros, por ejemplo asistiendo alas dos últimas reuniones de la Unión Internacional deConservación de la Naturaleza (UICN) en 2008 y 2012.

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es difícil que se alcancen objetivos realmenteambiciosos. Actualmente, y a pesar de que se han hechomuchos avances para el diseño de directivas europeas, lageoconservación está en un claro segundo plano frente ala conservación de la biodiversidad. La promulgación deleyes específicas para la conservación del patrimoniogeológico solucionaría este asunto, pero es pocoprobable que las administraciones redacten este tipo denormas legales. Por ello, son también muy interesanteslas normas legales de carácter holístico, que puedenconstituir una buena aproximación porque permitenvincular al patrimonio geológico con otros elementos delmedio natural.

Por otro lado, es interesante cómo, a falta dedirectivas europeas, diferentes instituciones con ProGEOa la cabeza promueven trabajos trasnacionales, como

retomar las labores de inventario del proyecto GlobalGeosites en aquellos lugares donde los trabajosnacionales están más avanzados, como Europasuroccidental o la región báltica. Por su parte, losgeoparques, que van en aumento, también juegan unimportante papel, sobre todo para mostrar cómo elpatrimonio geológico puede constituir un importantemotor para el desarrollo de la economía local. Sin duda,la concienciación y la educación son las armas para elfuturo, por lo que la divulgación no sólo es un recursointeresante, sino una garantía para la geoconservación alargo plazo. Mientras tanto, es esencial trabajar enelaborar inventarios, redactar leyes y asegurar lapreservación de los lugares de interés geológico másamenazados.

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Manuscrito ID 31501

Submetido em abril de 2013

Aceito em julho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

A valorização cultural do patrimônio

geológico-mineiro do ParanáCultural enhancement of the earth and mining heritage of the state of Paraná

GILSON BURIGO GUIMARÃES , ANTONIO LICCARDO , GIL FRANCISCO PIEKARZ .1 1 2

1

2

Universidade Estadual de Ponta Grossa - [email protected] - [email protected]

Minerais do Paraná S.A. - [email protected]

Resumo

O estado do Paraná apresenta características geológicas peculiares em função de sua clara compartimentação espaço-temporal, tendorecebido um aporte de pesquisas desde o século XIX com escopo essencialmente prospectivo para a mineração e desenvolvimentogeocientífico. Com base no conhecimento acumulado e com um novo paradigma científico que aponta a valorização de aspectos nãonecessariamente extrativistas da geologia, este trabalho propõe uma discussão preliminar sobre os pontos que constituem o patrimôniogeológico e mineiro do estado e seu aproveitamento para fins diferentes da mineração. São apresentados os resultados de iniciativasligadas ao patrimônio geológico no Paraná, tais como o Programa SIGEP (nacional) e da Mineropar, além de uma relação preliminar dosgeossítios e áreas representativas do patrimônio geológico do estado. A sensibilização da comunidade científica para algumas questõesde geoconservação aponta para dois pontos-chave: a necessidade do maior envolvimento científico dos geólogos na valorização dopatrimônio e a transposição didática do conhecimento geológico para leigos. Estes desafios constituem um novo paradigma em que tãoimportante quanto desenvolver o conhecimento geocientífico é comunicá-lo à sociedade, de modo a aumentar a massa crítica e permitirmelhores tomadas de decisão no planejamento por parte do poder público e da iniciativa privada.

Palavras-chave: patrimônio geológico; patrimônio mineiro; geodiversidade; estado do Paraná

Abstract

The state of Paraná shows a peculiar set of geological features, closely related to its spatial and temporal framework, which has beenresearched since the nineteenth century, mainly for mining and geoscientific purposes. Based on the accumulated knowledge and a newscientific paradigm, that points to valuing aspects not necessarily linked to economic geology, this paper proposes a preliminarydiscussion of the geosites that make up the earth and mining heritage of the state and its use other than to mineral exploration and miningactivities. Earth heritage initiatives are presented, such as the SIGEP Program (Brazilian Commission of Geological and PalaeobiologicalSites) and from Mineropar (State of Paraná Geological Survey), with a preliminary list of the geosites and representative areas of the earthheritage of the state of Paraná. The awareness of the scientific community for geoconservation issues leads to two key points: the need forgreater scientific involvement of geologists in the valuation process of the heritage, and the didactic transposition of geologicalknowledge to lay person. These challenges constitute a new paradigm, where as important as developing the geoscientific knowledge isbring it to the society, increasing the critical mass and enabling wise decisions at the planning-level by the government and the privatesector.

Key words: earth heritage; mining heritage; geodiversity; state of Paraná.

1. INTRODUÇÃO

As rochas e os minerais, assim como outrosobjetos do estudo geológico (geomorfologia, solos...),representam importante fonte de informaçõestradicionalmente ligada à potencialidade de uso quepodem apresentar. A prospecção mineral ou acapacidade agrícola dos terrenos impulsionaram aevolução da sociedade e trouxeram um valiosoaprendizado sobre várias facetas da geodiversidade.Entretanto, preocupações ligadas ao meio ambiente,assim como os processos de valorização da memóriacoletiva, conduziram ao surgimento de novos conceitossobre patrimônio, que vão além dos aspectos

puramente econômicos.Não obstante a geodiversidade brasileira ser

normalmente tratada como mercadoria, ou seja,materiais que possam ser produzidos e quantificados emunidades monetárias por tonelada, existem outrosaspectos que passaram a ser valorizados nos últimosanos e que indicam uma mudança conceitual no uso dainformação geológica. As geociências apresentaramprofundo progresso nas últimas décadas, amparado nãosomente pela tecnologia, mas também por umamadurecimento científico e cultural traduzido emresponsabilidade e consciência ambiental. Todo oconhecimento gerado inicialmente para a busca deminérios hoje se reflete também em outras interfacescom a sociedade, como estudos de áreas de risco,

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de poluição, geoturismo ou mesmo questões culturais. Opróprio resultado da atividade de mineração é umconjunto cultural valioso para o entendimento daevolução social, denominado hoje como patrimôniomineiro, e que apresenta forte correlação com aArqueologia Industrial.

Desde 1972, a UNESCO promove a evolução dosignificado de patrimônio, inicialmente dividido emnatural e cultural, mas que depois recebeu um maioraporte intelectual para a definição de patrimônioi m a t e r i a l . M a i s r e c e n t e m e n t e d i s c u t e - s einternacionalmente o conceito de patrimônio geológico(ver Gray, 2004; Brilha, 2005; dentre outros), discussãoesta que não pode prescindir do conhecimentoacumulado por geólogos, mas que também não deve serexclusividade destes profissionais.

O Paraná é um dos estados brasileiros queapresenta uma história de aprimoramento doconhecimento geológico que remonta aos tempos doBrasil colonial, com relatórios técnicos tais como os deJosé Bonifácio e Martim Francisco (Andrada, 1847),movidos pela exploração mineral de ouro e diamante, ouos trabalhos de White (republicados em 2008) pelosrecursos energéticos (carvão). O capital científico-cultural acumulado com todos os levantamentos járealizados neste território, seja pelos próprios autores oudisponível em outros trabalhos, permite hoje apossibilidade de discussão a respeito de um patrimôniogeológico do estado, tema que este artigo se propõe aapresentar à comunidade geológica, considerandoespecialmente sua geodiversidade como fator cultural evoltado à possível educação científica em vários níveis,além do potencial econômico.

Alicerçado em um volume de pesquisas daordem de milhares de monografias, mapas, artigos,livros, teses, relatórios técnicos, desde os estudospioneiros do século XIX, pode-se afirmar com segurançaque o Paraná é um estado com uma expressivageodiversidade, no sentido defendido por Gray (2004).Do Paleoproterozoico (eventualmente desde oArqueano) ao Holoceno encontra-se um amplo espectrode produtos magmáticos, sedimentares e metamórficos,em diferentes ambientes geotectônicos, controlandouma variada gama de tipos de solos, formas de relevo emineralizações. Uma parte deste conteúdo constitui oque vem sendo denominado Patrimônio Geológico. Ohistórico de utilização extrativista conduz à possibilidadede se considerar a mineração em certos pontos comoparte de um Patrimônio Mineiro (Liccardo & Cava, 2006).

O conjunto dos geossítios de um lugar queapresentem valor singular do ponto de vista científico,didático, cultural, turístico, econômico ou funcional,compõe seu o Patrimônio Geológico, conforme Brilha(2005). Ponciano et al. (2011) propõem, ainda, uma

2. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E MINEIRO

subclassificação em patrimônio geológico in situ (o acimacitado) e ex situ (como as coleções científicas, museus –aquele que foi retirado de seu lugar de origem). Dado ocaráter preliminar dos levantamentos, este trabalhodiscute apenas o primeiro caso, não obstante aimportância do segundo para a educação.

Nos últimos anos diversos autores têmcontribuído para um entendimento geral deste conceitoe para sua aplicação específica à geodiversidade(Sharples, 2002; Gray, 2004; Brilha, 2005; Carcavilla et al.,2007; Nascimento et al., 2008; Mochiutti, 2013), comuma forte tendência em se selecionar geossítios dedestacada importância científica para compor oPatrimônio Geológico de uma dada região. Porém, aoconsiderar que um dos desafios atuais da comunidadegeocientífica é o de alcançar a sociedade em geral, aapresentação das áreas de destaque da geodiversidadedo estado não pode enfatizar apenas aquelas de valorcientífico-acadêmico. O ponto-chave é que há váriasfrentes de atuação, das quais a educação (formal, nãoformal e informal) em todos os níveis deve serprivilegiada.

É preciso considerar um patrimônio geológicoque seja reconhecido por parte expressiva da sociedadee que não tenha apenas um caráter “corporativo”. Éigualmente importante aos locais com valor científicoque apresentem também outros valores dageodiversidade, como os culturais, didáticos ouestéticos, por exemplo. Zelar pela integridade de locaisque somente uma minoria (geólogos) consegue percebê-los como especiais é tão relevante quanto ampliar aparcela da população em condições de entender eapreciar a geologia e seus segredos. Ambas as linhas deintervenção necessitam da participação direta dosprofissionais de geociências, o que implica numcompromisso de aumentar seus esforços para traduzir àcomunidade o significado de rochas, minerais, fósseis,formas de relevo, solos e os processos que os geram.

Um inventário do Patrimônio Geológico doParaná embasado em procedimentos metodológicoscientificamente debatidos (Brilha, 2005; Lima, 2008),ainda está por ser realizado. O estabelecimento de umahierarquia e classes deverá levar em conta as múltiplasvariantes da geologia (estratigrafia; petrologia; geologiaestrutural / geotectônica; mineração; mineralogia;geomorfologia; paleontologia; geologia ambiental;sedimentologia, etc.) e os grandes domínios tectônico-temporais responsáveis pela geodiversidade paranaense(rochas e estruturas pré-brasilianas e brasilianas;sequências sedimentares da Bacia do Paraná; produtosmagmáticos, sedimentares e estruturais ligados aoprocesso de abertura do Oceano Atlântico; etc.).

Uma vez que se pretenda ampliar o alcance doconceito de patrimônio geológico, este inventário deverátambém contemplar elementos da geodiversidade comvalores culturais, estéticos, didáticos e funcionais (Gray,2004), em consonância com o entendimento de

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patrimônio apregoado pela UNESCO.A história da mineração tem sido usada em

muitos países como um fator de resgate cultural paracomunidades que se desenvolveram em áreas deextração intensa. Na Europa verificam-se vestígios demineração dos tempos do Império Romano ouanteriores, os quais têm sido preservados e resgatadoscomo um aspecto da memória e patrimônio cultural doslugares trabalhados. O conteúdo material relacionado(ruínas, pedreiras, equipamentos...), assim como osaspectos intangíveis (cultura, memória, miscigenação...)são hoje considerados Patrimônio Mineiro, vertente dadiscussão em torno do Patrimônio Geológico. Num paíscomo o Brasil, de histórico fortemente ligado àmineração, estes patrimônios podem convergirfacilmente.

Curitiba, capital precursora no Brasil em váriosaspectos urbanísticos, foi pioneira na valorização doPatrimônio Mineiro, mesmo que não tenha sido esta aintenção inicial, no começo da década de 1990. Numplanejamento ousado, que rendeu grande visibilidade aomunicípio, várias frentes de lavra desativadas foramtransformadas em parques e áreas de lazer público, o quehoje fornece ao turismo a maior parte de seu atrativo nacidade. Não obstante as informações geológicas teremsido esquecidas, por exemplo, na divulgação do ParqueTanguá, Pedreira Paulo Leminski, Universidade Livre doMeio Ambiente e Zoológico Municipal, estes pontosconsiderados entre os principais atrativos turísticoscolocam o visitante em contato com um resgate dahistória de mineração de Curitiba. Liccardo et al. (2008)apresentaram esta correlação entre a geologia e históriada mineração nos parques com os aspectos culturaisatualmente divulgados, buscando uma associação com ouso turístico (geoturismo). Em vários casos ainda épossível encontrar importantes vestígios da atividade,como britadores e outros equipamentos no ParqueTanguá.

Somente a partir de 2003 o PatrimônioGeológico passou a ser discutido no Paraná e istoaconteceu dentro de três grandes movimentos em prolde sua valorização e conservação. O primeiro coube àMineropar, o Serviço Geológico do Paraná, através doprojeto Sítios Geológicos e Paleontológicos do Paranátendo como um de seus principais resultados aimplantação de 48 painéis, presentes em 20 pontos deleste a oeste do Paraná (Figura 1). No âmbito desteprojeto ainda foram editados dois livros (Geoturismo emCuritiba e Geoturismo no Karst) com a seleção degeossítios do município de Curitiba e mais trêsmunicípios vizinhos à capital paranaense, estando umterceiro programado para 2013 (Geoturismo em Tibagi).

Outro movimento ligado a esta temática

3. INICIATIVAS DE VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO

GEOLÓGICO E MINEIRO DO PARANÁ

aconteceu com a participação na lista brasileira de sítiosgeológicos e paleobiológicos, a SIGEP. Nela o Paraná estárepresentado com 13 áreas, entre geossítios publicados epropostas (Figura 1). Há uma evidente distribuiçãodesigual ao longo do território, pois nove dos geossítiosse situam no contexto dos Campos Gerais do Paraná,borda leste do Segundo Planalto Paranaense. No projetoda Mineropar, mesmo com uma distribuição mais amplaque os geossítios da SIGEP, também existe umaconcentração de intervenções na área dos CamposGerais. Assim, não é surpresa o fato de inúmerasinstituições de ensino, do nível fundamental ao superior,do próprio estado ou não, elegerem esta região como umde seus destinos preferenciais para trabalhos de campo evisitas técnicas de diversas disciplinas das geociências(Guimarães et al., 2006; Melo et al., 2007; Guimarães etal., 2009; Melo e Guimarães, 2012).

Estas duas iniciativas valorizam e divulgamaspectos da geodiversidade estadual, inclusive comsobreposição de temas, sendo concebidas para públicosdiferentes (especializado para o SIGEP e mais genériconos painéis da Mineropar). A divulgação e o alcanceresultantes também foram distintos, seja por publicaçãode livros e pela internet (SIGEP) ou diretamente pelavisita aos geossítios (painéis). O conjunto, entretanto,está longe de constituir um panorama pleno dopatrimônio geológico existente no Paraná.

A terceira estratégia, menor em quantidade degeossítios, porém de extrema importância para ageoconservação, foi uma consequência dos movimentosanteriores. Foi o processo de tombamento de quatrogeossítios (Estrias de Witmarsum, Icnofósseis de São Luizdo Purunã, Cratera de Impacto em Coronel Vivida e SítioFossilífero de Pterossauros em Cruzeiro do Oeste) junto àSecretaria da Cultura do Paraná, tornando-os parteintegrante do patrimônio natural do Paraná de acordocom seu valor cultural. O tombamento destes geossítiosnão obedeceu a uma estratégia pré-concebida, o queseria mais adequado, mas sim a necessidades imediatasde preservação de sítios que se encontravam sob o riscoiminente de perda de sua integridade. No Paraná apolítica de tombamento pode se configurar numaimportante ferramenta legal para a preservação econservação do patrimônio geológico (Piekarz et al,2012).

Mesmo com a carência atual de levantamentosque ponderem a relevância científica de geossítios noestado do Paraná, as ações anteriores fornecem subsídiospara a proposição de um conjunto preliminarrepresentativo de seu Patrimônio Geológico-Mineiro(Tabela 1), o qual traduz os principais acontecimentos dahistória da Terra presentes no território paranaense(figuras 2 a 15) e que ajudaram a construir a

4. LISTA PRELIMINAR DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

PARANAENSE

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Plataforma Sul-Americana, com destaque para produtosdo Ciclo Brasiliano, supersequências paleozoicas emesozoicas da principal sinéclise desta plataforma (Baciado Paraná), fenômenos associados à abertura do OceanoAtlântico-Sul e à deriva da Placa Sul-Americana, além domodelado cenozoico do relevo.

São incluídos locais com diferentes níveis deatratividade e acessibilidade, mas que permitemi n t e r p r e t a r g e o p r o c e s s o s q u e n ã o s e j a mdemasiadamente complexos com relativa facilidade detransposição didática. Alguns deles já apresentamestruturas diretamente ligadas ao geoturismo, e que têmservido também como ferramenta de educação nãoformal e combinam valores científicos, didáticos,

culturais, estéticos e funcionais.Pa ra u m a p r i m e i ra a p rox i m a çã o d a

geodiversidade do Paraná (por exemplo, para alunos deensino médio e fundamental e geoturistas), o conjuntode geossítios A a G (Tabela 1) permite reconhecer asgrandes unidades de relevo e a maior parte dos principaisepisódios da história geológica do estado. Estes se situamem unidades de conservação públicas, ou seja, parquesmunicipais (geossítio C) e estaduais (geossítios A, B, E),um parque nacional (geossítio G) e áreas de proteçãoambiental (geossítios D, F), o que facilita oreconhecimento de conexões com a biodiversidade(valor funcional), viabilizando uma percepção integral deaspectos diversos do patrimônio natural estadual.

Figura 1 – Mapa geológico simplificado do Estado do Paraná com indicação dos geossítios cadastrados no SIGEP e dos painéis instaladospela Mineropar. Fonte: Mineropar.

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Tabela 1 – Lista preliminar de geossítios representativos do patrimônio geológico do Paraná.

Geosítio Nome Localização Contexto Geológico

A Ilha do Mel LitoralRochas do Ciclo Brasiliano, Magmatismo Serra Geral,abertura do Oceano Atlântico, transgressões-regressõesquaternárias, dinâmica litorânea

B Complexo Marumbi Serra do MarMagmatismo granítico brasiliano, Sistema de RiftesCenozoicos do Sudeste do Brasil, evolução do relevo,movimentos de massa e áreas de risco

C Grutas de Bacaetava eLagoa Verde

Primeiro PlanaltoParanaense

Sedimentação carbonática da Formação Capiru, faixa dedobramentos brasiliana, recursos minerais (rochascarbonáticas), relevo e aquífero cárstico, riscosgeológicos

D Mirante do Cristo/SãoLuiz do Purunã

Escarpa DevonianaContato Bacia do Paraná-Embasamento, faixa dedobramentos brasiliana (Formação Votuverava),Sequência Paraná da Bacia do Paraná, contrastegeológico-geomorfológico do 1º e 2º planaltos

E Parque Estadual de VilaVelha

Segundo PlanaltoParanaense

Sequências Paraná e Gondwana I (base), relevoruiniforme, carste em arenitos

FMirante do

Morungava/Serra daEsperança

Escarpa da Serra GeralTopo da Sequência Gondwana I (formações Rio do Rastoe Piramboia), Gondwana III, contraste geológico-geomorfológico do 2º e 3º planaltos, área de recarga doAquífero Guarani

GParque Nacional do

IguaçuTerceiro Planalto

ParanaenseMagmatismo Serra Geral, Cataratas do Iguaçu(Patr imônio da Humanidade), pr incipal r ioeminentemente paranaense (rio Iguaçu)

H Pico Paraná Serra do MarMagmatismo granítico brasiliano, Sistema de RiftesCenozoicos do Sudeste do Brasil, evolução do relevo,movimentos de massa e áreas de risco, pontoculminante do Paraná e da região sul do país

I Parque Municipal AníbalKhury

Primeiro PlanaltoParanaense

Faixa de dobramentos brasiliana, sedimentaçãocarbonática da Formação Capiru

JFormação Guabirotuba

(Cidade Industrial deCuritiba)

Primeiro PlanaltoParanaense

Sedimentação plio / pleistocênica da Bacia de Curitiba,mudanças climáticas globais, fósseis de vertebrados,contato com embasamento

K Parques-pedreiras deCuritiba

Primeiro PlanaltoParanaense

Rochas meso a paleoproterozoicas retrabalhadas noCiclo Brasiliano

L Mina da Plumbum emAdrianópolis

Primeiro PlanaltoParanaense

Mineração de chumbo e zinco, faixa de dobramentosbrasiliana, sedimentação carbonática

M Estrias de WitmarsumSegundo Planalto

ParanaenseSequências Paraná e Gondwana I, GlaciaçãoPermocarbonífera, deriva continental, mudançasclimáticas globais

N Monumento da PedraCaída em Rio Negro

Segundo PlanaltoParanaense

Sequência Gondwana I, Glaciação Permocarbonífera,fósseis

O Parque Nacional dosCampos Gerais

Segundo PlanaltoParanaense

Em diversos geossítios (Buraco do Padre, FurnasGêmeas, Cachoeira de Santa Bárbara, etc.):magmatismo granítico brasiliano, sequências Rio Ivaí eParaná, estruturas do Arco de Ponta Grossa, contrastegeológico-geomorfológico do 1º e 2º planaltos, carsteem arenitos, Aquífero Furnas

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P Parque Estadual doGuartelá

Segundo PlanaltoParanaense

Bacias molássicas tardibrasilianas (Grupo Castro),sequências Rio Ivaí e Paraná, diques do MagmatismoSerra Geral, estruturas do Arco de Ponta Grossa,contraste geológico-geomorfológico do 1º e 2ºplanaltos, drenagens antecedentes (canyon do rioIapó), carste em arenitos

Q Diamante do Rio TibagiSegundo Planalto

ParanaenseSequências Paraná e Gondwana I (base), diques doMagmatismo Serra Geral, recursos minerais (diamante eouro), geomorfologia fluvial

R Carvão de FigueiraSegundo Planalto

ParanaenseSequência Gondwana I (Formação Rio Bonito), FloraGlossopteris, deriva continental, recursos minerais(carvão, urânio e água)

S Folhelho betuminoso deSão Mateus do Sul

Segundo PlanaltoParanaense

Sequência Gondwana I (Formação Irati), fósseis, derivacontinental, recursos minerais (óleo, gás, enxofre, argila)

TCachoeiras dePrudentópolis

Segundo e TerceiroPlanaltos Paranaenses

Em diversos geossítios (saltos São Francisco, São João,Barão do Rio Branco, etc.): topo da SequênciaGondwana I (formações Teresina, Rio do Rasto ePiramboia), Gondwana III, soleiras do MagmatismoSerra Geral, contraste geológico-geomorfológico do 2ºe 3º planaltos, maior cachoeira do sul do Brasil (SaltoSão Francisco), área de recarga do Aquífero Guarani

UAstroblema de Vista

AlegreTerceiro Planalto

ParanaenseSequência Gondwana III, feições de impactometeorítico, formas especiais de relevo, eventossingulares e seus efeitos

V Mina de Ametista emChopinzinho

Terceiro PlanaltoParanaense

Magmatismo Serra Geral e mineralização de quartzovioleta em geodos

Figura 2 – Ilha do Mel, geossítio representativo do patrimôniogeológico do Litoral (acervo Mineropar).

Figura 3 – Pico do Paraná, geossítio representativo dopatrimônio geológico na transição Litoral/Primeiro PlanaltoParanaense (Serra do Mar).

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Figura 4 – Parque Tanguá (Curitiba), geossítio representativo dopatrimônio geológico-mineiro do Primeiro PlanaltoParanaense.

Figura 5 – Gruta Bacaetava (Colombo), geossítio representativodo patrimônio geológico do Primeiro Planalto Paranaense.

Figura 6 – Estrias Glaciais de Witmarsum (Palmeira), geossítiorepresentativo do patrimônio geológico do Segundo PlanaltoParanaense.

Figura 7 – Buraco do Padre (Ponta Grossa), geossítiorepresentativo do patrimônio geológico do Segundo PlanaltoParanaense.

Figura 8 – Parque Estadual de Vila Velha (Ponta Grossa),geossítio representativo do patrimônio geológico do SegundoPlanalto Paranaense.

Figura 9 – do Guartelá (Castro/Tibagi), geossítiorepresentativo do patrimônio geológico do Segundo PlanaltoParanaense.

Canyon

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Figura 10 – Extração de geodos de ametista no basalto(Chopinzinho), geossítio representativo do patrimôniogeológico-mineiro do Terceiro Planalto Paranaense.

Figura 11 – Parque Nacional do Iguaçu (Foz do Iguaçu), geossítiorepresentativo do patrimônio geológico do Terceiro PlanaltoParanaense.

Figura 12 – Vestígios da mineração de ouro em Timbotuva(Campo Largo), imagem representativa da história damineração no Paraná.

Figura 13 – Extração de diamantes por mergulho comescafandros (Tibagi/1935).

Figura 15 – Extração de folhelho pirobetuminoso (São Mateusdo Sul).

Figura 14 – Mina de carvão em Ortigueira, ativa até a década de1970.

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5. VALORIZAÇÃO E PROMOÇÃO DO PATRIMÔNIO

GEOLÓGICO PARANAENSE

A história do Planeta Terra deixou capítulosinteressantes e variados no que hoje é o estado doParaná e este é um acervo sobre as memórias doterritório paranaense difundido ainda de modo precárioe certamente insuficiente. Carneiro et al. (2004) expõemcom propriedade os motivos de se incluir temasgeológicos na educação básica, necessários para aformação de cidadãos responsáveis e consequentes. Osautores destacam os desafios de se levar o mundo realpara a sala de aula e vice-versa, a atenção para ageoconservação das áreas especiais para a compreensãodo passado geológico, preferencialmente tomando-se ocuidado de realizar a oferta cultural do patrimôniogeológico local. Exemplos concretos e com resultadosestimulantes, no Paraná e em estados vizinhos (Carneiro,2007; Bruczkovski e Guimarães, 2011; Alencar et al.,2012), demonstram o potencial didático de elementos dageodiversidade na fixação de conteúdos de Ciências eGeografia do ensino fundamental e médio, tomando-sepor base exemplos locais.

Outra maneira de aproximar o patrimôniogeológico da comunidade em geral é através de museus eexposições. O Centro de Informações Minerais ProfessorRiad Salamuni e a Exposição de Minerais e Rochas OrvilleDerby, ambos situados na Mineropar, receberam visitasda ordem de 12.000 estudantes no ano de 2012(PARANÁ, 2012). A externalização do acervo dolaboratório didático de Geologia da UniversidadeEstadual de Ponta Grossa em corredores, saguões e áreaexterior de um de seus blocos didáticos, além dareprodução de quase todo o conjunto de painéisgeológicos da Mineropar, trouxe a oportunidade de tantoa comunidade universitária como a de visitantesocasionais tomarem conhecimento de elementos dageodiversidade em geral, e do patrimônio geológicoparanaense em particular (Liccardo et al., 2012).

Museus, centros de divulgação e exposiçõesacabam sendo, muitas vezes, a melhor forma de levar àpopulação dois componentes da geodiversidade que, porquestões de escala, fragilidade e/ou valor científico,normalmente não podem ser vistos em seus locaisoriginais de coleta: fósseis e minerais. O estado do Paranáé uma referência nacional quando o assunto são osfósseis de invertebrados marinhos do Devoniano, aFauna Malvinocáfrica. Apesar de serem conhecidosdiversos afloramentos fossilíferos da Formação PontaGrossa (Sequência Paraná), principalmente nosmunicípios de Ponta Grossa, Tibagi e Jaguariaíva(inclusive integrando a SIGEP; Bolzon et al., 2002), não hámuito sentido em indicá-los para uma lista dos geossítiosque divulguem à população em geral o patrimôniogeológico paranaense, seja pela dificuldade de prontaobservação dos fósseis, da necessidade de conservaçãode material de interesse científico ou restrições de

acesso, conservação e segurança de alguns destes locais(como é o caso do Sítio SIGEP 65, em Jaguariaíva).

O “conjunto básico” de geossítios (A a G naTabela 1) para contato com o patrimônio geológico doParaná encontra-se, como já destacado, em unidades deconservação. Estas, em maior ou menor proporção,contam com mecanismos de proteção e divulgação( i n fe l i z m e n t e e x c e s s i v a m e n t e d i r i g i d o s àbiodiversidade), algumas delas com equipamentos epessoal voltados à exploração turística. Deve-se ressaltarque na lei federal que criou o Sistema Nacional deUnidades de Conservação da Natureza (SNUC; Brasil,2000), onde são listados seus objetivos, estão explícitasas missões tanto de proteger como de permitir o acessoda população a elementos ímpares da naturezabrasileira, os quais claramente incluem o patrimôniogeológico:

Alguns dos principais destinos turísticos doParaná possuem sua atratividade estreitamentevinculada à geodiversidade (Cataratas do Iguaçu, Ilha doMel, Parque Estadual de Vila Velha), apesar dosoperadores turísticos e gestores das unidades deconservação subestimarem o componente abióticodestes locais. Esforços têm ocorrido para superar estadeficiência, com a implantação de painéis explicativos,treinamentos de guias e condutores, elaboração deroteiros geoturísticos e participação nos conselhosconsultivos das unidades de conservação (Melo, 2006;Guimarães et al., 2006; Letenski et al. 2009; Moreira,2008, 2011), mas ainda há espaço para muito progresso(Melo et al., 2004; Guimarães et al., 2008).

Recentemente tem havido intensos debatessobre uma definição para geoturismo (Hose, 2011;Martini et al., 2012). Mas um consenso entre os teóricosdesta vertente turística está no acréscimo deconhecimento a quem dele usufrui, o que implica apromoção de um ganho cultural. Portanto o geoturismorepresenta ao mesmo tempo uma ferramenta deconservação do patrimônio geológico, geração de rendae valorização e divulgação científico-cultural.

Inst rumentos que podem aux i l ia r a

(...)

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de

notável beleza cênica;

VII - proteger as características relevantes de natureza

geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica,

paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

(...)

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de

pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;

(...)

XII - favorecer condições e promover a educação e

interpretação ambiental, a recreação em contato com a

natureza e o turismo ecológico (artigo 4 da Lei Federal

9.985, 2000).

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disseminação do conhecimento sobre o patrimôniogeológico, tanto no campo do geoturismo como daeducação (formal, informal e não-formal), são os roteirose guias geológicos. Há décadas a comunidade degeocientistas tem lançado mão do recurso da elaboraçãode roteiros para divulgar as peculiaridades dageodiversidade nacional, com ótimos exemplos noestado do Paraná (de Mendes, 1968 a Matsumura, 2010),inclusive culminando na realização do 1º Simpósio deRoteiros Geológicos do Paraná em 2002 (Fernandes et al.,2002).

Estes roteiros, frequentemente voltados a umpúblico especializado (mineralizações de F, Pb e Ag: Limae Silva, 1987; geologia e paleontologia da Bacia doParaná: Zalán et al., 1987, Rösler et al., 2000;icnopaleontologia do Grupo Paraná: Tognoli et al., 2002;geologia do petróleo na Bacia do Paraná: Milani et al.,2006), também acabam por auxiliar novas gerações deprofessores universitários que buscam alternativas paraseus trabalhos de campo. Apenas recentemente tem sepercebido a publicação de roteiros que buscam atenderprofissionais das geociências que não diretamentegeólogos, ou mesmo que pretendam mediar atransmissão de conhecimentos específicos paracondutores de turismo e o público em geral (Letenski etal., 2009; Augusto & Lama, 2010).

Seja porque possuam alcance restrito, muitasvezes acompanhando boletins de resumos ou atas deeventos científicos, ou pela linguagem excessivamentetécnica, os roteiros atendem apenas parcialmente opapel de divulgação do patrimônio geológico. Folhetos,mapas e guias geoturísticos dirigidos ao público em geral,de uso consagrado no exterior, têm começado a ocupareste espaço no Paraná, complementando as funçõesexercidas por painéis, museus e condutores. A coleção defolhetos explicativos produzidos pela Mineropar(disponíveis em www.mineropar.pr.gov.br), os guiasgeoturísticos de Curitiba (Liccardo et al., 2008) e docarste na região metropolitana de Curitiba (Piekarz,2011), o mapa geoturístico de Tibagi (Liccardo et al.,2010) e o mapa/folheto do patrimônio espeleológico dePonta Grossa (GUPE, 2013) são exemplos que deveriamser estendidos às demais áreas ilustrativas do patrimôniogeológico do Paraná.

Nos últimos anos a sociedade brasileira temvisto, nos grandes veículos de divulgação em massa, umnúmero cada vez maior de notícias relacionadas aomundo profissional dos geólogos. As “descobertas dopré-sal”, desastres naturais no Brasil (por exemplo,movimentos de massa em Santa Catarina, Rio de Janeiroe na região litorânea do Paraná) e no exterior(terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas), novidadescientíficas no campo paleontológico ou astronômico (porexemplo, explicações sobre as missões norte-americanas

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

em Marte) têm trazido geólogos aos programas detelevisão, revistas, jornais, etc.

Também com frequência aparecem notíciasdestacando a necessidade do país em formar um númeromaior de geólogos. Isto tem levado a Geologia a serapontada como uma das melhores opções profissionais,em publicações voltadas para estudantes do ensinobásico, com garantias de inserção imediata no mercadode trabalho.

Por outro lado a constatação cotidiana indicaque a sociedade em geral, como regra, possui umaenorme lacuna na compreensão de elementos básicosdas geociências. Isto se revela no contato com alunos dedisciplinas de Geologia Geral (e equivalentes) das sériesiniciais do ensino superior (cursos de Engenharia,Agronomia, Geografia, Biologia). Também esta situaçãoocorre com profissionais de diferentes órgãos daadministração pública, inclusive aqueles responsáveispela prevenção de situações de risco a desastres naturaisou das políticas de uso e ocupação do solo.

No estado do Paraná há atualmente apenas umcurso de graduação em Geologia, mas diversos cursoscom disciplinas básicas das geociências em cursos deGeografia, Ciências Biológicas, Agronomia, EngenhariaCivil, Química, dentre outros. No primeiro caso seriarecomendável a oferta de disciplinas, aos futurosgeólogos, que contemplassem estratégias deidentificação, proteção e divulgação do patrimôniogeológico, tais como Geoconservação e Geoturismo.

No que diz respeito à graduação de profissionaisde outras áreas existe uma dupla missão. “Alfabetizar”geologicamente futuros bacharéis (biólogos, geógrafos,turismólogos, engenheiros etc.) e preparar para a tarefade transmissão de conhecimento geocientífico aquelesque atuarão como professores do ensino fundamental emédio (principalmente professores de Geografia eCiências).

Auxiliar a sociedade a perceber-se comoelemento indissociável e integrante do mundo geológicoé uma ação cultural que não deveria se resumir àsuniversidades e bancos escolares, necessitando serabraçada por indivíduos, associações e órgãos quecongreguem profissionais das geociências. Em todasestas situações acredita-se que os exemplos dopatrimônio geológico paranaense facilitarão oentendimento de aspectos básicos das geociências esuas implicações para a população em geral.

Os resultados e discussões aquiapresentados são oriundos, em parte, de projetosfinanciados pela Fundação Araucária e pela Mineropar,aos quais estendemos nossos agradecimentos. Oscréditos das imagens deste artigo, quando nãodiscriminados, pertencem aos autores.

Agradecimentos:

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Manuscrito ID 32439

Submetido em junho de 2013

Aceito em junho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Patrimônio geológico no estado de São PauloGeological heritage in the the state of São Paulo

VIRGINIO MANTESSO-NETO , ROGÉRIO RODRIGUES RIBEIRO , MARIA DA GLÓRIA MOTTA GARCIA ,ELIANE APARECIDA DEL LAMA , ANTONIO THEODOROVICZ .

¹

²

³Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo - [email protected] - [email protected]

CPRM / SP - [email protected]

Conselho de Monumentos Geológicos / SP - [email protected]

Instituto Geológico de São Paulo - [email protected]

4

Resumo

O Estado de São Paulo tem cerca de 250.000km² e 41 milhões de habitantes, com uma taxa de urbanização que ultrapassa 95%. Suageologia é constituída de cerca de 30% de embasamento cristalino, cerca de 70% de Bacia do Paraná e pequenas bacias terciárias equaternárias; sua geomorfologia reflete essencialmente a base geológica. Seu patrimônio geológico natural é rico e variado, cobrindoquase toda a história terrestre, múltiplas litologias, e uma grande variedade de cavernas, incluindo um dos maiores portais calcários domundo; o patrimônio geológico construído é também muito abrangente, incluindo o uso de rochas locais e importadas. A história damineração no seu território abrange algumas das primeiras minas do Brasil e tem importância continental. O estado criou o primeiroConselho de Monumentos Geológicos do país, tem geossítios de valor científico internacional e está desenvolvendo seu inventário. Tempotencial para pelo menos um geoparque. Conta com muitas instituições de ensino e pesquisa nas geociências, e diversos museus. Portudo isso, a perspectiva para o bom uso do seu patrimônio geológico, com a preservação adequada, é uma possibilidade real e um dosobjetivos de sua comunidade geocientífica.

Palabras clave: São Paulo; patrimônio geológico natural; patrimônio geológico construído; geoparque; geoturismo.

Abstract

The State of São Paulo has an area of 250.000km² (97.000sq.mi.) and a population of 41 million inhabitants, of which over 95% in urbanareas. Its geology is made up of about 30% of crystalline basement terrains, about 30% of Paraná Basin terrains and minor tertiary andquaternary basins; its geomorphology clearly reflects its geological basis. Its natural geological heritage is rich and varied, covering most ofthe Earth's history, multiple lithologies, and a large variety of caves, including one of the largest limestone portals in the world. Its builtgeological heritage is also quite meaningful, including the use of both domestic and imported dimension stones. The history of mining inits territory includes some of the oldest mines in Brazil and has continent-wide meaning. This state created the first Council of GeologicMonuments in the country, has geosites of international significance, and is developing its inventory of geosites. It has the potential for atleast one geopark. It has many geoscience researching and teaching institutions, which host a number of museums. For all of thesereasons, the perspective for the proper use of its geological heritage, with adequate preservation, is a real one, and one of the goals of itsgeoscientific community.

Key words: Sao Paulo; natural geological heritage; built geological heritage; geopark; geotourism.

1. INTRODUÇÃO

O Estado de São Paulo tem 248.223 km²; estádividido em 14 regiões administrativas, com 645municípios e 4 regiões metropolitanas; sua populaçãoem 2013 é de 42,3 milhões de habitantes, dos quais 20,1milhões na Região Metropolitana da Capital. A taxa deurbanização é muito alta, e era, em 2010, acima de95,9%. (SEADE, 2013). Neste trabalho apresentamosuma visão geral e abrangente sobre o patrimôniogeológico no estado, tentando cobrir as várias facetas dotema, e suas interfaces com outras áreas das geociênciase mesmo outras ciências, inclusive humanas.

Dividimos o Patrimônio Geológico em doisgrandes grupos: o natural e o construído. O patrimônionatural é constituído por geossítios, onde o aspecto deinteresse apresenta-se essencialmente em seu estado

original, e a intervenção humana, se houve, teve efeitomínimo. O patrimônio construído abrange todos oselementos da geodiversidade que, por intervençãohumana, tornaram-se itens de valor patrimonial.

No Brasil começou a ser recentementeconstatado o resultado já conhecido em outros países deque roteiros geoturísticos são muito úteis na divulgação edisseminação do conhecimento geocientífico, além decontribuir para a preservação do patrimônio geológico.Assim, esperamos que esse artigo, sem ser um guia,possa eventualmente ser usado como tal, estimulando ousufruto e o estudo dessa rica herança geológica ecultural.

Em grandes linhas, quase 30% do territóriopaulista correspondem ao Embasamento Cristalino (com

2. ESBOÇOS DA GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

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idades entre Arqueano e Proterozoico Superior) e quase70% à Bacia do Paraná (do Devoniano ao Cretáceo),ocorrendo ainda pequenas áreas com coberturascenozoicas, incluindo bacias (intracontinentais e

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Figura 2 – Esboço Geomorfológico do Estado de São Paulo, baseado no conceito de morfoesculturas (Estado de Sao Paulo images, s/d).

As características geomorfológicas sãofortemente condicionadas pela estrutura geológica; sãoreconhecíveis, por critérios morfoesculturais, as

costeiras) terciárias e pacotes sedimentares litorâneos(também intracontinentais e costeiros) quaternários(Figura 1).

Figura 1 – Esboço Geológico do Estado de São Paulo, segundo Santos (2004).

seguintes grandes unidades geomorfológicas: ProvínciaCosteira, Planalto Atlântico, Depressão Periférica,Cuestas Basálticas e Planalto Ocidental (Figura 2).

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Como se nota no esboço geológico da Figura 1,as duas unidades principais do estado são a Bacia doParaná, a noroeste, e o embasamento cristalino, asudeste. Um roteiro que tenha início no extremonoroeste (p. ex. em Ilha Solteira) até o extremo sudeste(p. ex. em Santos) mostrará inicialmente rochasjurocretáceas do topo da Bacia do Paraná pertencentesaos g r u p o s B a u r u e S ã o B e n t o , d e a m b i e n t epredominantemente continental, seguidas de litotipospermo-triássicos do Grupo Passa Dois, de ambientecontinental eólico e, em seguida, rochas de ambientesglácio-marinhos do Grupo Itararé (Carbonífero/Permiano). Localmente, a sudeste, ocorrem tambémdepósitos fluviais a costeiros devonianos do GrupoParaná, que constituem a base da sequência sedimentarque compõe a bacia no estado. O conjunto todo repousasobre uma faixa alongada orientada na direçãonordestesudoeste composta na sua maior parte porrochas metamórficas de baixo a alto grau cortadas porc o r p o s g ra n i t o i d e s d e d i fe r e n t e s i d a d e s .Esseembasamento cristalino tem idades desdearqueanas (~ 3 Ga) até proterozoicas superiores(chegando, pontualmente, a cambrianas, ~ 500 Ma) e foiafetado por inúmeros eventos tectônicos. Numerosasfalhas e zonas de cisalhamento transcorrentes geradascomo resultado de colisões continentais registram osepisódios de aglutinação do SupercontinenteGondwana, no Neoproterozoico, que corresponde aoúltimo grande evento termo-tectônico que afetou aregião – o Brasiliano/Pan-Africano. No Cretáceo teveinício a fragmentação do Gondwana e a abertura doOceano Atlântico Sul, durante a qual o desenho atual dalinha de costa do Continente Sul-Americano começou aser delineado. Subprodutos tardios destes movimentosextensionais, tais como as bacias cenozoicas (Taubaté,São Paulo, etc.) distribuídas ao longo de um rifteorientado paralelamente à costa e a Serra do Mar, umadas mais espetaculares feições do sul-sudeste do Brasil,também foram gerados, além de planícies litorâneas ebacias costeiras, como a de Santos.

Em razão desta grande diversidade de rochas,estruturas, paisagens e processos geológicos construídosao longo de quase toda a história do planeta, o Estado deSão Paulo, detém, em seu território, geossítios de valorinestimável, seja pela relevância geocientífica, belezacênica ou importância histórica. Vários destes geossítiosjá se constituem em (ou estão bastante próximos de)locais de turismo convencional ou de turismo deaventura. Alguns já estão disponíveis como locais devisitação geoturística e possuem projetos de divulgação eproteção. A maioria deles, entretanto, carece de açõesque promovam a interface entre o patrimônio natural eas comunidades, uma situação que representa umgrande desafio para o poder público, a comunidadecientífica e a sociedade.

3. HISTÓRICO DO RECONHECIMENTO E GESTÃO DO

PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

As primeiras ações governamentais visando agestão do patrimônio natural geológico no Estado de SãoPaulo tiveram início na década de 1970, com otombamento parcial da de uma antiga pedreira devarvito no município de Itu, em 1974, pela SecretariaEstadual da Cultura.

Outras ações governamentais visando a gestãodo patrimônio natural geológico iniciaram-se com apublicação do Decreto Estadual nº 11.138/78. Estedocumento colocava sob a égide da antiga Divisão deProteção de Recursos Naturais (DPRN) e do InstitutoGeológico (IG), então órgãos da Secretaria de Estado daAgricultura (SAA), a elaboração de normas técnicas quevisavam o uso racional, a salvaguarda e o serviço deconservação dos Monumentos Geológicos para finscientíficos e culturais, bem como a perpetuidade demonumentos naturais por meio de regimes especiais deproteção (arts. 368, IX e X; 423, IX). Posteriormente, já nadécada de 1980, boa parte dessas atribuições foramreunidas e repassadas definitivamente ao InstitutoGeológico, por meio da criação da Seção de MonumentosGeológicos, quando da expedição do Decreto Estadual nº24.931/86 (art. 10°, III). No ano de 1987, o IG sedesacoplou da Secretaria da Agricultura e foi transferidopara a recém-criada Secretaria de Estado do MeioAmbiente (SMA) (Decreto nº 26.942/87, artº 1º).

Na transição dessas duas décadas a gestão dopatrimônio geológico ganhou outro aliado, a Secretariade Estado da Cultura, por meio do Decreto Estadual n°13.426/79. Neste documento, observa-se um estímulo àvalorização cultural e à proteção desse patrimônio, ao serpreconizada a necessidade da defesa dos monumentosnaturais paisagísticos por meio do tombamento (arts. 3°e 140, § 1°). Finalmente, em 1989, a promulgação daatual Constituição Paulista ratificou a valorização dopatrimônio geológico como bem natural a ser tombado,ao incluir como patrimônio cultural a ser protegido “osconjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico ecientífico” (art. 260).

Na década de 1990, duas importantes ações dopoder público local foram a criação do Parque Municipalda Rocha Moutonneé, em 1991, em Salto, e do ParqueMunicipal Varvito de Itu, em 1995.

O Instituto Geológico, por meio da Seção deMonumentos Geológicos, teve forte atuação na gestãodo patrimônio natural geológico paulista até meados dadécada de 1990, quando iniciou contatos com asprefeituras do estado solicitando indicações ousugestões de ocorrência de lugares com interessegeológico em seu território, que merecessem um estudotécnico. Entretanto, por falta de pesquisadores e depessoal técnico, esta Seção ficou praticamenteinoperante até 2007, quando foi reativada com a

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Monumentos Geológicos, os primeiros marcadores depágina da série “Monumentos Geológicos de São Paulo”e painéis geológicos (Figuras 3 a 6), além da ficha deproposta de criação de Monumento Geológico, folders ebloco de notas.

inserção, via concurso público, de novos pesquisadorescientíficos e com o lançamento dos projetos"Monumentos Geológicos do Estado de São Paulo" e"Monumentos Geológicos da Região de Rio Claro”.

Em 2009 foi criado, por meio da Resolução SMAnº 076/2009, o Conselho Estadual de MonumentosGeológicos (CoMGeo-SP), junto à Secretaria de Estado deMeio Ambiente. O CoMGeo-SP, de caráter consultivo,tem como principal objetivo auxiliar, no âmbito da SMA,as ações e atividades que envolvam a pesquisa,conservação e divulgação dos Geossítios e MonumentosGeológicos de São Paulo. É composto pelo Secretário doMeio Ambiente (seu presidente), pelo diretor do IG, pelochefe da Seção de Monumentos Geológicos (seuSecretário Executivo) e por outros 16 Conselheiros,vindos de diversas áreas de atuação e conhecimento, ereconhecidos por sua atuação nos temas relacionadosaos Geossítios e Monumentos Geológicos.

No âmbito acadêmico, duas iniciativas pioneiraspodem ser citadas dentro do Instituto de Geociências daUniversidade de São Paulo: 1) A criação, em 2011, doNúcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico eGeot ur ismo d a Uni versi dad e de S ão Paul o(GeoHereditas), com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisada USP. O núcleo tem como objetivos principaispromover a pesquisa, a geoconservação e a divulgaçãodo patrimônio geológico no Estado de São Paulo e emoutros estados, tendo como alicerces a Geologia Básica,a divulgação das Geociências e a melhoria da qualidadede vida das comunidades envolvidas. 2) Uma nova linhade pesquisa, denominada “Patrimônio Geológico naturale construído e Geoconservação”, foi incluída, em 2012,no Programa de Pós-Graduação em Mineralogia ePetrologia do IGc/USP.

No estado, há várias instituições comprogramas ligados a aspectos do movimento pelavalorização do patrimônio geológico. Os principaisprogramas e iniciativas são:

4.1. MONUMENTOS GEOLÓGICOS DO ESTADO DE SÃOPAULO

O já mencionado Projeto “MonumentosGeológicos do Estado de São Paulo” tem como principalobjetivo promover o registro, conhecimento,conservação e divulgação do Patrimônio Geológicoestadual, abordando a geodiversidade como arcabouçofundamental da biodiversidade. Visa também preencheruma lacuna na gestão do patrimônio natural geológico,permitindo que o Estado de São Paulo coloque-se emposição compatível com as ações já existentes em esferamundial e em outros estados do Brasil.

Alguns produtos deste Projeto são a sualogomarca, o Inventário Paulista (Preliminar) dos

4. INICIATIVAS NA ÁREA DE PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

Figura 3 – Imagem ilustrativa da Logo do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo.

Figura 4 – Imagem ilustrativa do Inventário Preliminar deGeossítios e Monumentos Geológicos Paulistas do ProjetoMonumentos Geológicos de São Paulo.

Figura 5 – Imagem ilustrativa do marcador de página (frente everso) do Projeto Monumentos Geológicos de São Paulo.

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Foram identificados onze locais com ocorrênciade elementos da geodiversidade apresentandosignificativo valor científico. Segundo a metodologiautilizada para inventário e quantificação desses onzegeossítios, quatro apresentaram também valor científicoem nível internacional. A próxima fase será oencaminhamento desses geossítios para apreciação porparte do Conselho de Monumentos Geológicos(CoMGeo-SP).

Figura 6 – Imagem ilustrativa do Painel Geológico do ProjetoMonumentos Geológicos de São Paulo.

Dos cerca de trinta geossítios identificados noterritório paulista (pela SIGEP ‒ ver item 4.6 ‒ e porinstituições de pesquisa), até meados de 2013, seisapresentaram as condições mínimas para uma gestãoadequada e foram declarados como MonumentosGeológicos Paulistas pelo CoMGeo-SP. São eles: O Carstee as Cavernas do Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira(PETAR); a Rocha Moutonnée; o Varvito de Itu; a Craterade Colônia; os Geyseritos de Anhembi; e a Pedra do Baú.Os demais sítios deverão ser paulatinamente apreciadospelo mesmo fórum.

4.2. MONUMENTOS GEOLÓGICOS DA REGIÃO DE RIOCLARO

De 2007 até 2012 foi desenvolvido o Projeto“Monumentos Geológicos da Região de Rio Claro”(Figuras 7 e 8). Essa região é composta pelos municípiosde Analândia, Charqueada, Corumbataí, Ipeúna,Itirapina, São Pedro, Rio Claro, Limeira e Santa Gertrudes.É conhecida por apresentar um patrimônio naturalbastante diverso, e já conta com trabalhos delevantamento do patrimônio geológico elaborados porZaine & Perinotto (1996), Perinotto (2009), Zaine & Zaine(2009) e Perinotto & Mantesso-Neto (2013a, 2013b),com importantes considerações sobre o potencialturístico da área e propostas de educação ambiental.

Foram objetivos deste projeto:

a) contribuir para o registro, o conhecimento e adivulgação do Patrimônio Geológico do Estado de SãoPaulo;

b) identificar, selecionar e caracterizar opatrimônio geológico de excepcional valor científicoexistente na região, como forma de suportar iniciativasde geoconservação;

c) contribuir com o Inventário Paulista dosMonumentos Geológicos (Ribeiro et al., 2012).

Figura 8 – Elemento da área coberta pelo Projeto MonumentosGeológicos da Região de Rio Claro: Formação Irati (Bacia doParaná, idade permiana), da qual se origina esta placa decalcário, notável por apresentar 9 fósseis de mesossaurídeos,todos com o crânio preservado, e indícios de que um deles sejade uma fêmea prenha. Museu de Geociências IGc/USP. Escala5cm. (Foto: Virginio Mantesso- Neto).

Figura 7 – Elemento da área coberta pelo Projeto MonumentosGeológicos da Região de Rio Claro: o Cuscuzeiro de Analândia,morro-testemunho constituído por arenitos da FormaçãoBotucatu (Bacia do Paraná, idade jurássica), localmente“cozidos” e silicificados pelo basalto da Formação Serra Geral(Foto: Virginio Mantesso-Neto).

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4.3. VALE DO RIBEIRA - PARQUES E GEOPARQUE

Consequência de uma longa e complexa históriageológica que, do Arqueano ao Fanerozoico, envolveu asuperposição de vários eventos tectônicos de abertura efechamento de mares e oceanos, e consequentescolisões de massas continentais e intensa granitogêneseassociada, a região sul-paulista, limítrofe com o estadodo Paraná, conhecida como Vale do Ribeira, secaracteriza por ser uma das mais complexas e variadas nageologia do Brasil. É um geoambiente especial em váriossentidos. Notadamente na sua porção mais montanhosa,conhecida como Alto Vale do Ribeira, apresenta um rico ediversificado patrimônio geológico, ambiental,paisagístico e mineral, com destaque para uma dasmaiores concentrações das mais belas e impressionantescavernas do mundo (cerca de 300 conhecidas), muitasdas quai s com fei çõ es úni ca s e em plenodesenvolvimento (Figuras 9 a 12). O estado de São Paulocriou, pelo Decreto nº 32.283 de 19/05/1958, o ParqueEstadual e Turístico do Alto Ribeira – PETAR(www.petaronline.com.br), com a finalidade deresguardar e proteger o patrimônio espeleológico e a ricabiodiversidade aí presentes; a SIGEP (ver item 4.6)reconheceu a região como um dos importantespatrimônios espeleológicos do Brasil, registrando esse s is t e m a d e c a v e r n a s c o m o S í t i o 0 4 3(sigep.cprm.gov.br/sitio043/sitio043.htm).

Figura 9 – Caverna Teminina, salão conhecido como JardimSuspenso. Foto: Antonio Theodorovicz.

Figura 10 – Caverna Teminina, travertinos em formação. Foto:Antonio Theodorovicz.

Figura 11 – Caverna Teminina, jato d´água saindo do teto dacaverna como uma grande ducha. Foto: Antonio Theodorovicz.

Figura 12 – Caverna Teminina, jato d´água saindo do teto dacaverna como uma grande ducha. Tomada do painel existenteno Núcleo Caboclos. Foto: Antonio Theodorovicz.

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Protegem e também aproveitam turisticamenteo extraordinário patrimônio geológico e ambiental daregião outras grandes áreas de preservação ambiental dacategoria Parques do Sistema Nacional de Unidades deConservação – SNUC, os parques estaduais Intervales ‒PEI e Caverna do Diabo, e o Parque Municipal Morro doOuro de Apiaí (www.apiai.sp.gov.br), este último criadocom o intuito de proteger e aproveitar uma antigamineração de ouro primário.

A l é m d o ex t r a o r d i n á r i o p a t r i m ô n i oespeleológico concentrado nas áreas dos parques,existem outros patrimônios naturais importantes,distribuídos por uma região bem mais abrangente do quea de domínio das áreas de conservação. Esses atributos,em seu conjunto, tornam essa região de alto potencialgeoturístico também um didático laboratório a céuaberto para o estudo dos mais diversos temas da bio egeodiversidade. Parte desse patrimônio não está sendopreservado, sofrendo degradação pelo avançodesordenado das pastagens e dos reflorestamentos comespécies exóticas, que pouco a pouco homogeneízam avegetação com todos seus impactos ambientais e cênicosnegativos.

Infelizmente, causa também impacto negativo aconstatação de que, contrastando com seur i c o p a t r i m ô n i o n a t u r a l , a r e g i ã o éhistoricamenteconhecidapor ser uma das mais pobresdoestado, estando aí localizados alguns de seus municípiosde menores IDHs. Essa contradição leva a concluir quenão se está sabendo aproveitar adequadamente o que aregião tem de melhor ‒ seu patrimônio natural ‒ comofator de melhoria das condições socioeconômicas dapopulação. Muito se tem falado em mudar essa realidadeatravés do ecoturismo. Projetos governamentais comesse intuito são muitos e antigos. No entanto, asiniciativas até o momento tomadas são tímidas e seconcentram basicamente no incentivo à visitação àsáreas dos parques.

Preocupa mais ainda o equivocado conceitoque tem boa parte da população que não se beneficiaeconomicamente do turismo praticado nos parques deque eles são um dos limitadores do desenvolvimentosocioeconômico da região. Esse conceito leva essapopulação a rechaçar qualquer proposta de criação denovas unidades de preservação ambiental da categoriaparques do SNUC. Essa postura, por sua vez, aumentaainda mais o risco de degradação desse patrimônio.

É com essa preocupação que o ServiçoGeológico do Brasil (SGB/CPRM), através do seu ProjetoGeoparques(www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.ex /

sys/start.htm?sid=134) achou por bem selecionar, dentreoutras do Brasil, uma área de cerca de 2.500 km² no AltoVale do Ribeira (www.cprm.gov.br/Geo_Site/), queenvolve partes de municípios paulistas de Apiaí,Iporanga, Ribeira, Barra do Turvo, Eldorado Paulista eItaoca e do vizinho município paranaense deAdrianópolis, como adequada para aplicar uma novidadede uso e ocupação do solo que são os Geoparques -termo criado pela UNESCO, para distinguir áreas domundo onde o patrimônio geológico é preservado e,através do geoturismo, é aproveitado como indutor decrescimento econômico, de cultura e de educaçãoambiental.

É, portanto, um conceito de preservaçãototalmente distinto dos parques do SNUC, uma vez queum Geoparque não é cercado; não é necessário que sejauma figura jurídica; não envolve desapropriações; nãoexige a saída dos moradores; não proíbe nenhuma formade uso e ocupação, nem mesmo da mineração (que podeaté ser aproveitada como um atrativo turístico). É umaconcepção de desenvolvimento sustentável que tem porobjetivo melhorar as condições de vida da população efazer com que ela passe a preservar e a ter orgulho domeio em que vive. Um Geoparque tem também porfinalidade permitir que o turista ao visitá-lo se divirta,que possa, ao mesmo tempo, adquirir conhecimentossobre a sua história e a sua importância geológica. Esseconhecimento é repassado principalmente por meio depainéis interpretat ivos montados em locaisestrategicamente selecionados, denominados deGeossítios.

Geossítio é o termo empregado paracaracterizar um local onde existe uma singularidadequalquer da geodiversidade que mereça ser preservada evisitada, seja pela sua exclusividade, ou pela suaimportância para o entendimento da evolução geológicaem nível local, regional ou global, ou seja, ainda, porqualquer outro aspecto ligado às ciências da Terra ‒inclusive aspectos culturais ou históricos. A cadageossítio está normalmente associado um painelexplicativo, que tem não apenas o objetivo de passarinformações, mas também o de fazer o turista refletirsobre a geologia e o meio ambiente, e conscientizar-se danecessidade da preservação do seu entorno.

Muitas vezes, particularmente em regiões ondea paisagem ‒ ou, em última análise, a geomorfologia ‒ éum atrativo, o geossítio, além de suas outrascaracterísticas, é também um local de onde se podeadmirar uma bela vista (Figuras 13 e 14).

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Figura 13 – Imagem tirada do mirante sobre o vale do rio Betari,exemplo de geossítio de interesse geológico, geomorfológico eturístico. O vale foi condicionado por duas histórias geológicasdistintas, distantes no tempo geológico: a tectônica colisionalBrasiliana, responsável pela deformação das sequênciasmarinhas do Grupo Lajeado, e, no Fanerozoico, a abertura doAtlântico. A paisagem resultante ‒ ou seja, a geomorfologiahoje visível ‒ é um forte atrativo cênico. (Ver também Figura 14,tirada do mesmo local). Foto: Antonio Theodorovicz.

Figura 14 – Imagem tirada do mirante sobre o vale do rio Betari,exemplo de geossítio de interesse geológico, geomorfológico eturístico. O vale foi condicionado por duas histórias geológicasdistintas, distantes no tempo geológico: a tectônica colisionalBrasiliana, responsável pela deformação das sequênciasmarinhas do Grupo Lajeado, e, no Fanerozoico, a abertura doAtlântico. A paisagem resultante ‒ ou seja, a geomorfologiahoje visível ‒ é um forte atrativo cênico. (Ver também Figura 13,tirada do mesmo local). Foto: Antonio Theodorovicz.

Essa filosofia de uso do solo sob o formato deGeoparque coaduna-se perfeitamente com a realidadesocioeconômica e ambiental da região, e também vemao encontro dos projetos governamentais idealizadospara o Vale do Ribeira, que têm como metas promover oseu desenvolvimento, enfatizado no ecoturismo. Aaplicação desse conceito na região pode também seruma ferramenta disciplinadora de práticas negativas deuso e ocupação e de convencimento da população deque é muito mais vantajoso economicamente aproveitaro patrimônio natural com o turismo do que depredá-locom formas inadequadas de uso do solo.

Se uma entidade está situada numa região que apresentacaracterísticas geológicas e outros atributos adequados,d i s p õ e d e i n f r a e s t r u t u r a r e c e p t i v a eadministrativa já em operação compatível com a filosofiade um Geoparque, e apresenta um dossier decandidatura, ela pode vir a receber da UNESCO um selode aval e passar a integrar a Rede Global de Geoparques(Global Geoparks Network ‒ www.globalgeopark.org).Essa rede busca manter, por um sistema de orientação,partilha e colaboração entre seus membros, umaplataforma de ações com o intuito de proteger eaproveitar o patrimônio geológico como indutor deeducação, entretenimento e desenvolvimentosustentável.

Justificativas para tornar realidade um projetode Geoparque na região, segundo os pressupostos daUNESCO, existem muitas. Dentre elas, salientam-se:

i) o excepcional patrimônio espeleológico egeológico (Figuras 13 a 22), em grande parte bemprotegido nas áreas dos parques, porém tambémexistentes em outros domínios, que necessitam serpreservados e podem ser mais bem aproveitadosturisticamente que hoje são – o que seria importantepara melhor socializar as benesses econômicas advindasdo turismo, reconhecidamente gerador de muitosempregos;

ii) a excelente infraestrutura receptiva eeducacional oferecida pelos parques, e à qual, para ficaradequada à filosofia turística de um Geoparque, faltaapenas a sinalização geológica;

iii) a existência de afloramentos de rochasrepresentativas de boa parte da história geológica dasregiões Sul e Sudeste do Brasil, em especial doProterozoico e do Fanerozoico. O Proterozoico éconstituído, principalmente, pelas sequênciasmetavulcanossedimentares e metassedimentaresmarinhas do Supergrupo Açungui (Figura 17), que, naregião, agrega, por justaposição tectônica colisionalBrasiliana, unidades geológicas das mais diferentesorigens e idades. O Fanerozoico é espacialmente poucoextenso, porém, não menos importante, uma vez que érepresentado por diques de diabásio, relacionados àtectônica de abertura do Oceano Atlântico Sul, fato quedesperta bastante curiosidade do turista;

iv) os vestígios da histórica atividade demineração, que deixou um interessante legadoarqueológico (Figura 18), arquitetônico e cultural,incluindo quilômetros de galerias subterrâneas (Figura19), onde chumbo, prata e ouro foram, por muito tempo,explorados; essas galerias já são parcialmenteaproveitadas em empreendimentos turísticos (Figura 20)e continuam sendo importantes para estudos geológicose metalogenéticos;

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v) por toda a região o relevo é montanhoso,arquitetado com belas e curiosas formas e drenado porum denso e complexo sistema de cristalinos cursosd´água, muitos dos quais escorrendo sobre substratorochoso formando corredeiras, cachoeiras e piscinasnaturais (Figuras 21 e 22), constituindo um atrativo parao turismo contemplativo e para a prática de esportesradicais;

vi) a ocorrência de áreas contínuas e bempreservadas do pouco que resta neste estado da MataAtlântica e ecossistemas associados (Figuras 23 e 24), deextraordinário valor turístico, botânico e ambiental,considerada pela UNESCO como Reserva da Biosfera ‒variável que ganha cada vez mais proeminência nocenário turístico mundial atual e soma muitos pontospositivos na proposição de um Geoparque;

vii) - os aspectos culturais da típica tradiçãocabocla e das várias comunidades quilombolas; incluindoa produção da cerâmica artesanal com motivoszoomórficos e antropozoomórficos, única no Brasil;

viii) - o patrimônio arquitetônico da época doBrasil colônia, pequeno, porém bastante representativo.

Figura 15 – Portal da caverna Casa de Pedra. Esculpido em umparedão calcário dobrado, com 219m de altura, é um dosmaiores portais do mundo. Foto: Antonio Theodorovicz.

Figura 16 – Exemplo de um local onde o turista pode observar osefeitos da deformação colisional Brasiliana sobre rocha calcáriado Grupo Lajeado ‒ um geossítio de interesse geológico,paleoambiental e turístico. Exposições desse tipo são raras noBrasil. Foto: Antonio Theodorovicz.

Figura 17 – Bloco de metamorfito dolomítico cinza do GrupoAçungui, comumente chamado “mármore de Apiaí”, no qual aerosão diferencial formou figuras curiosas e surpreendentes.Foto: Antonio Theodorovicz.

Figura 18 – Estrutura em pedra deixada pelas primeirasatividades garimpeiras de ouro aluvionar no Brasil, vestígio daocupação da região desde meados do século XVI. Foto: AntonioTheodorovicz.

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Figura 19 – O Parque Morro do Ouro, em Apiaí, é um bomexemplo de aproveitamento turístico relacionado à história damineração. Entrada do Parque, com estátua de garimpeiro.Foto: Antonio Theodorovicz.

Figura 20 – O Parque Morro do Ouro, em Apiaí, é um bomexemplo de aproveitamento turístico relacionado à história damineração. Uma das várias bocas de galeria da época damineração de chumbo na Mina do Lageado, em Iporanga. Foto:Antonio Theodorovicz.

Figura 21 – Riachos de águas limpas e cachoeiras convidam oturista para uma caminhada. Rio Betari. Foto: AntonioTheodorovicz.

Figura 22 – Riachos de águas limpas e cachoeiras convidam oturista para uma caminhada. Cachoeira das Andorinhas. Foto:Antonio Theodorovicz.

Figura 23 – Exemplo da exuberante vegetação da região,classificada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Foto:Antonio Theodorovicz.

Figura 24 – Exemplo da exuberante vegetação da região,classificada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Foto:Antonio Theodorovicz.

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Pelo descrito, analisado à luz do conceito degeoparque e comparado com geoparques existentes emvárias regiões do mundo, constata-se que a região temcondições para ser transformada em um Geoparque. Seesse conceito for bem aplicado, será uma maneiraeficiente de preservar e melhor aproveitareconomicamente esse extraordinário patrimônionatural. A decisão de transformar a proposta emrealidade depende exclusivamente da vontade dapopulação e de ações conjuntas entre os poderesmunicipal, estadual e federal. Ao SGB/CPRM, através deseu Projeto Geoparques, cabem os papeis de divulgadore indutor do processo, e de apoiador técnico,notadamente no que se refere às questões relacionadasao tema geodiversidade.

4.4. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO LITORAL PAULISTA

Este projeto está vinculado ao GeoHereditas, doIGc/USP e teve início em 2010 com um trabalho voltado àavaliação da potencialidade de trilhas nas Unidades deConservação do Litoral Norte como geossítios. Comobase inicial do trabalho, foram utilizadas as trilhascadastradas no Passaporte de Trilhas de São Paulo,publicado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado.A escolha da região levou em consideração não apenassua grande beleza natural, mas principalmente suahistória geológica, que inclui registros da fusão, dodesenvolvimento e da fragmentação do supercontinenteGondwana ao longo do Neoproterozoico-Paleógeno(Garcia et al., 2011; Garcia, 2012). Além disso, a regiãodetém o maior segmento contínuo preservado da MataAtlântica no Brasil, a maioria dos quais incluídos noParque Estadual da Serra do Mar (PESM), que faz parte doProjeto de Preservação da Mata Atlântica (PPMA), o queaumenta sua importância como zona protegida. Emboraessas unidades tenham sido criadas principalmente parapreservar a biodiversidade, a região tem um grandepotencial de geoturismo, pelos afloramentos rochosos epaisagens em diferentes estágios de evolução geológica.Grande parte dos atrativos turísticos presentes na regiãoestá relacionada a formações rochosas, a processos desedimentação costeiros ou à dinâmica da paisagem, maspouco é divulgado sobre a origem, idade ou processosque levaram à sua formação, bem como sobre asameaças a que estão sujeitas.

A estes aspectos físicos somam-se registros deuma história de ocupação humana que remonta a 2.500anos, além de inúmeras construções do período colonialque contam uma história de desafios entre os povosnativos e os conquistadores. O conjunto destes aspectosdeu origem a uma cultura rica, caracterizada pela misturade costumes de populações tradicionais diversas e quedelinearam os valores culturais atuais. Neste sentido, oapoio à integração da população costeira e/ou geraçãode emprego e renda por estas atividades estão entre osprincipais focos do projeto, pois fazer o conhecimento

científico não ficar limitado a instituições acadêmicas,bem como proporcionar melhores condições de vidapara as comunidades locais, são as principais bases doGeoturismo.

Em meados de 2013, três dissertações deMestrado (respectivamente nas regiões de Ubatuba, SãoSebastião e Ilhabela) e uma tese de Doutorado (na regiãode Caraguatatuba) estão em andamento. Estas pesquisastêm como enfoque principal o inventário dos geossítiosde acordo com critérios de relevância e potencialcientíficos e educacionais, mas locais onde ageodiversidade já constitui um atrativo turísticotradicional não foram descartados. Cerca de trintageossítios, organizados em função da história geológicada região, foram definidos até o momento. Alguns delessão mostrados nas Figuras 25 a 28.

Na Praia de Camburizinho, a sul de SãoSebastião, um belíssimo afloramento de gnaissesortoderivados registra diferentes estágios dos eventosrelacionados à amalgamação e separação do Gondwanadesde o Neoproterozoico até o Mesozoico - dobras queevoluem para uma foliação regional transposta,paleodiques organizados como boudins de anfibolitocom deformação interna e diques basáticos. Na IlhaAnchieta, em Ubatuba, um monzogranito datado em 500Ma (Azevedo Sobrinho et al., 2011), representa um dosregistros mais setentrionais do último evento orogênicoantes da abertura do Atlântico Sul. O costão rochoso daPonta da Sela, no sul de Ilhabela, registra exemplos dediques de composições, tamanhos e relações de intrusãovariadas que, no conjunto, constituem uma feiçãoonipresente no sudeste brasileiro e representam osestágios de fragmentação do Gondwana. Finalmente, ahistória geológica pós-fragmentação do Gondwana podeser observada do Morro do Santo Antônio, emCaraguatatuba, de onde é possível ver a linha de costa, aplanície sedimentar homônima, parte de São Sebastião eIlhabela. Ao fundo, com seu relevo em blocos, destaca-sea feição morfológica mais relevante do litoral da regiãosudeste: a Serra do Mar.

Figura 25 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.Gnaisse ortoderivado com boudins anfibolíticos no Ilhote deCamburizinho, São Sebastião. Foto: Maria da Glória MottaGarcia.

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Figura 26 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.Monzogranito Ilha Anchieta (500 Ma), Ubatuba. Foto: Maria daGlória Motta Garcia.

Figura 27 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.Diques máficos e lamprófiros intrusivos em rochas doembasamento, Ilhabela. Foto: Maria da Glória Motta Garcia.

Figura 28 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.Panorama visto do mirante do Morro de Santo Antonio,mostrando a planície costeira, a linha de costa e a Serra do Mar.Caraguatatuba. Foto: Eliane Aparecida Del Lama.

O inventário do patrimônio geológico do litoralcentral e sul do estado também está em andamento.

A gestão destes geossítios está em fasepreliminar e inclui a confecção de um amplo planogeoturístico que envolva também os aspectos históricose culturais e sirva de base para o desenvolvimento de umturismo sustentável na região. Além disso, a história

geológica da região, além de conhecimento geológicobásico, tem sido disseminada aos monitores ambientaisdas unidades de conservação envolvidas por meio de umprojeto de Interpretação Geológica em Trilhas (Figuras 29a 31). Experiências anteriores sugerem que oconhecimento da importância dos monumentos naturaise das paisagens é um passo imprescindível para que apopulação passe a valorizá-los e protegê-los. Aotornarem-se agentes de disseminação do conhecimento,os monitores aprendem a valorizar não só a flora e afauna, mas também a história da paisagem que os cerca,desenvolvendo o seu senso de pertencimento e devalorização do meio ambiente.

Figura 29 – Exemplo de roteiro geodidático confeccionado combase em técnicas de interpretação ambiental e utilizado emcurso ministrado a monitores ambientais no Núcleo Picinguabado Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba. Mapa daTrilha da Brava da Almada, uma das mais percorridas do parque.Fotos: Maria da Glória Motta Garcia.

Figura 30 – Exemplo de roteiro geodidático confeccionado combase em técnicas de interpretação ambiental e utilizado emcurso ministrado a monitores ambientais no Núcleo Picinguabado Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba. Um de seuspontos de interpretação geológica. Fotos: Maria da GlóriaMotta Garcia.

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Figura 31 – Exemplo de roteiro geodidático confeccionado combase em técnicas de interpretação ambiental e utilizado emcurso ministrado a monitores ambientais no Núcleo Picinguabado Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba. Um de seuspontos de interpretação geológica. Fotos: Maria da GlóriaMotta Garcia.

4.5. AS “PILLOW-LAVAS” DE PIRAPORA DO BOM JESUS

Outra iniciativa que merece destaque estásendo realizada em Pirapora do Bom Jesus, pequenacidade que fazia parte da antiga rota dos Bandeirantes.Além de outros atrativos, a região apresenta potencialpara desenvolvimento do geoturismo, com destaquepara as exposições de rochas ígneas de composiçãobasáltica com estruturas almofadadas (“pillow-lavas”),de grande interesse para os geocientistas. SegundoBoggiani (2010), o projeto de preservação foi organizadopor alunos e professores do LiGEA/Instituto deGeociências-USP e resultou numa Praça Geológica ondefoi instalado um painel explicando, em linguagemadequada a um público leigo, essa feição geológicaincomum (Figura 32).

Figura 32 – Painel informativo em Pirapora do Bom Jesus(LiGEA/IGc-USP), de autoria de E. G. Nakashima. Foto: AndréBonacin.

4.6. SIGEP e GEOSSIT

A SIGEP (Comissão Brasileira de SítiosGeológicos e Paleobiológicos) foi a iniciativa pioneira naidentificação e catalogação de sítios do patrimôniogeológico numa escala nacional; hoje está sob aadministração da CPRM. Já publicou dois volumesimpressos, e o terceiro está em preparo. A versão online éum portal dinâmico, cujas informações atualizadaspodem ser a qualquer momento conhecidas no sitesigep.cprm.gov.br/. Esses projetos cobrem todo o país,mas a Tabela I mostra apenas a situação dos sítioscatalogados no Estado de São Paulo até o mês de junhode 2013, apresentando a respectiva etapa de catalogaçãoe divulgação nos Volumes I e II (já impressos), na versãopré-print do Volume III, e online.

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SítioNº

Título SIGEP(Nome do sítio)

Situação emjunho de 2013

013Icnofósseis da

Usina PortoPrimavera

Vol. II - impresso

021Rocha

Moutonnéede Salto

Endereço daInformação online

sigep.cprm.gov.br/sitio013/sitio013.pdf

Vol. I - impresso

Subtítulo SIGEP(Descrição sucinta)

Rastros de dinossauros e demamíferos em rochas do

deserto neocretáceo Caiuá

Típico registrode abrasão glacial do

Neopaleozoicosigep.cprm.gov.br/sitio021/sitio021.htm

032Sítio Fossilífero

dePirapozinho

Vol. I - impressoExtraordinário depósito

dequelônios do Cretáceo

sigep.cprm.gov.br/sitio032/sitio032.htm

035Pavimento

EstriadoGuaraú, Salto

Vol. II - impressoMarcas de geleira

neopaleozoica no sudestebrasileiro

sigep.cprm.gov.br/sitio035/sitio035.pdf

043

Carste e Cavernasdo Parque Estadual

Turístico doAlto Ribeira

(PETAR)

Vol. I - impressoSistemas de cavernas com

paisagens subterrâneasúnicas

sigep.cprm.gov.br/sitio043/sitio043.htm

049Estromatólitos deNova Campina e

ItapevaVol. III - pré-print

Primeiros estromatólitosdescritos na

América do Sulsigep.cprm.gov.br/sitio049/sitio049.pdf

053Répteis Fósseis

deGeneral Salgado

Vol. III - pré-printRegistro de transformaçõesambientais na Bacia Bauru

durante o Cretáceosigep.cprm.gov.br/sitio053/sitio053.pdf

055Pedra do Baú,

São Bentodo Sapucaí

Vol. III - pré-printImponente relevo residual na

superfície de erosãoGondwana

sigep.cprm.gov.br/sitio055/sitio055.pdf

062 Varvito de Itu Vol. I - impressoRegistro clássico

da glaciaçãoneopaleozoica

sigep.cprm.gov.br/sitio062/sitio062.htm

078FazendaSanta Fé

(Tremembé)Vol. I - impresso

A maior associaçãode fósseis

do Terciário brasileirosigep.cprm.gov.br/sitio078/sitio078.htm

079Jazigo Icnofossilífero

do Ouro(Araraquara)

Vol. I - impressoRicas pistas detetrápodes do

Jurássicosigep.cprm.gov.br/sitio079/sitio079.htm

080Escarpamento

EstruturalFurnas

Vol. I - impressoRaro sítio

geomorfológicobrasileiro

sigep.cprm.gov.br/sitio080/sitio080.htm

087

Jazigo RodoviaQuiririm-Campos

do Jordão,km 11

(Tremembé)

Vol. I - impressoMacrofósseis vegetais

doTerciário

sigep.cprm.gov.br/sitio087/sitio087.htm

098Cavas de OuroHistóricas do

JaraguáVol. I - impresso

Os primórdiosda mineração

no Brasilsigep.cprm.gov.br/sitio098/sitio098.htm

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SítioNº

Título SIGEP(Nome do sítio)

Situação emjunho de 2013

Endereço daInformação online

Subtítulo SIGEP(Descrição sucinta)

116 Cratera de Colônia Vol. II - impresso

Provável astroblemacom registros do

paleoclimaquaternário na Grande

São Paulo

sigep.cprm.gov.br/sitio116/sitio116.pdf

125

Campo deEstromatólitos

Gigantes deSanta

Rosa de Viterbo

Vol. II - impresso

Excelente registrodo litoral

do mar permiano Irati,Bacia

do Paraná

sigep.cprm.gov.br/sitio125/sitio125.pdf

-Cones de

hidrotermalito silicosode Anhembi

Minuta - Revisão

Não tem (N.A.: são milharesde cones silicosos ao meio

de sedimentos finos emargosos do Permiano da

Bacia do Paraná)

sigep.cprm.gov.br/propostas/GeyseritosPermianosAnhembiSP.htm

-Lavas Almofadadasde Piraporado Bom

Jesus, SP

Propostaaprovada

Evidência de atividadevulcânica formadorade crosta oceânica

às margens doRio Tietê

sigep.cprm.gov.br/propostas/Lavas_almofadadas_Pirapora_Bom_Jesus_SP.

htm

-Marundito doPico Pelado,Guarulhos

Propostaaprovada

Vestígios de mineralizaçõesde ouro em mar

mesoproterozoico

sigep.cprm.gov.br/propostas/Marundito_Pico_Pelado_Guarulhos_SP.htm

-Paleolagunas na

Estação EcológicaJuréia-Itatins

Propostaaprovada

Não tem (N.A.: Sítio deinteresse paleoambiental,

sedimentar, estratigráfico egeomorfológico, com

vestígios arqueológicos)

sigep.cprm.gov.br/propostas/Estacao_Ecologica_Jureia_Itatins.htm

-Turfeira da Campina

do Encantado,Pariquera-Açu

Propostaaprovada

Não tem (N.A.: Sítio deinteresse paleoambiental,

sedimentar, estratigráfico epaleontológico, com

vestígios arqueológicos)

sigep.cprm.gov.br/propostas/Turfeira_Campina_Encantado_SP.htm

Tabela 1 – Situação dos sítios do Estado de São Paulo catalogados no SIGEP até junho de 2013, apresentando a etapa da respectivacatalogação e divulgação nos Volumes I e II, já impressos, na versão pré-print do Volume III, e online.

O GEOSSIT (Sistema de Cadastramento eQuantificação de Geossítios) é um aplicativo inovador,recém-disponibilizado online pela CPRM, de livreconsulta, destinado ao inventário, qualificação evaloração quantitativa de geossítios. Com o passar dotempo, os geossítios paulistas serão inseridos nessesistema. Seu site é www.cprm.gov.br/geossit/.

A inexistência de uma estratégia deconservação do patrimônio geológico definida para oEstado de São Paulo dificulta os trabalhos deidentificação, inventário e quantificação dos geossítios, econsequentemente a implantação de novas políticas

5. PERSPECTIVAS DE INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO

GEOLÓGICO NATURAL PAULISTA

públicas voltadas à conservação do patrimônio naturalgeológico. Tal deficiência é recorrente em nível nacional eas iniciativas existentes são geralmente frutos de esforçopessoal, de caráter localizado. Lima (2008) apresentouuma proposta para a sistematização do inventário dopatrimônio geológico brasileiro. Esta proposta, que podeser livremente adotada, de maneira voluntária, pelosestados, requer destes entes federativos os seguintespassos:

a) definição do objetivo do inventário;

b) organização de grupos de trabalho;

c) revisão bibliográfica;

d) identificação e caracterização dos contextos

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geológicos;

e) identificação dos geossítios para cadacontexto geológico;

f) caracterização dos geossítios.

Apesar de ter sido o primeiro estado a criar umconselho para gerir o patrimônio geológico, São Pauloainda carece de uma articulação satisfatória que envolvainstituições de pesquisa e ensino, equipe de especialistase recursos para realizar o inventário sistemático de todoo seu território, fundamental para embasar diversaspolíticas públicas voltadas para a gestão dessepatrimônio. Esse quadro, entretanto, pode mudar com orecém lançado Projeto “Inventário do PatrimônioGeológico Paulista”, organizado pelo Instituto deGeociências da USP em parceria com a Universidade doMinho, Portugal e com o apoio do Programa Ciência semFronteiras, do governo federal (MEC/CAPES/CNPq). Oprojeto tem como objetivo realizar o inventáriosistemático do patrimônio geológico do Estado,utilizando para isso as bases da metodologia aplicada emPortugal, com as devidas adaptações ao nosso território.Com isso, São Paulo poderá vir a ser o primeiro estadobrasileiro a contar com um inventário de seu patrimônio.

A s d i s c u s s õ e s s o b r e p a t r i m ô n i o eparticularmente a abrangência do conceito de“Patrimônio Geológico” são parte do momento atual domeio geocientífico brasileiro, e portanto é convenienteexplicar como esses termos serão aqui utilizados. Poranalogia com alguns conceitos das áreas de estudos dopatrimônio e de museologia (ver, entre outros, Lima,2012 e vários itens de sua lista de referências), serão aquiadotadas duas expressões ainda não muito comuns nomeio geocientífico ‒ salvo, e mesmo assim não commuita frequencia, na comunidade dedicada exatamenteao tema do patrimônio geológico. A expressão“patrimônio geológico construído” será usada emreferência a elementos da geodiversidade, de qualquerorigem, que tenham sido incorporados, seja como base,componente estrutural ou componente decorativo, aconstruções e produtos de vários tipos ‒ na maioria doscasos imóveis, monumentos, túmulos ou estátuas. Aexpressão “patrimônio geológico musealizado”,designará elementos da geodiversidade colocados sob atutela de um museu, lembrando que isso pode ocorrerseja pela remoção do elemento de sua localizaçãooriginal e transporte ao espaço físico do museu (porexemplo, a placa de calcário da Figura 8), seja pelamanutenção do elemento na sua localização original, àqual se aplicará a tutela do museu, constituindo-se amusealização in situ (prática comum em arqueologia,

6. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO CONSTRUÍDO E

MUSEALIZADO

mas no estado de São Paulo ainda muito incipiente napaleontologia e inexistente para a preservação de outroselementos do patrimônio geológico).

O patrimônio geológico construído e omusealizado podem apresentar-se sob diversas formas, eestão com mais frequência associados a ambientesurbanos. Apesar de meio urbano ser na maioria dos casosdissociado da geologia tradicional, vários autores (e.g.Stern et al., 2006; Liccardo et al, 2008; Del Lama et al,2009; Liccardo et al., 2012) defendem que, pelasfacilidades oferecidas ‒ em particular a proximidade e asfacilidades de acesso a baixo custo, que estimulam avisitação por turistas e estudantes ‒ esse é um caminhoprivilegiado para aproximar o público da geologia.

Os elementos possíveis de serem enquadradoscomo patri môni o geo lóg ico const ruí do sãop o te n c i a l m e nte m u i to va r i a d o s e i n c l u e mprincipalmente: elementos geológicos in situ porémretrabalhados por obras, como áreas de antigaspedreiras; e rochas utilizadas na construção civil, emmonumentos, estatuária e em cemitérios. Um tipoparticular de patrimônio geológico construído ‒ e que namaior parte dos casos está fora do ambiente urbano ‒ é oligado a atividades de mineração, indo desde o local deminas até eventuais instalações e equipamentosconservados.

No estado de São Paulo, até o momento, opatrimônio geológico musealizado limita-se a espécimes(rochas, minerais e fósseis) expostos em museus.

O estudo do patrimônio geológico construídonormalmente inclui a aproximação com outras áreas deconhecimento, particularmente a Arquitetura e aHistória. Essa interligação trabalha nos dois sentidos,enriquecendo o conhecimento integrado; esse é umexcelente caminho de divulgação das geociências, eparticularmente da geologia, a qual é reconhecida comouma ciência ainda distante da sociedade (Martini et al.,2012, pg. 187). Conceitualmente, o turismo geológicopode ser entendido como um tipo de turismo cultural,pois, segundo o ICOMOS (1996), “turismo cultural é otipo de turismo cujo objetivo é, entre outros, adescoberta de monumentos e sítios.”

No Estado de São Paulo, há duas cidades comestudos e publicações sobre aspectos do patrimôniogeológico construído: a Capital e a cidade de Rio Claro.Um guia com aspectos do geoturismo e de locaishistóricos das cidades de Santos e São Vicente, impressona forma de folheto, foi apresentado e distribuído no 46ºCongresso Brasileiro de Geologia, em 2012 (Mantesso-Neto et al., 2012).

6.1. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO CONSTRUÍDO NA CIDADEDE SÃO PAULO, AO AR LIVRE

Roteiros geoturísticos para o chamado “centrovelho” de São Paulo já foram propostos por Stern et al.(2006), Augusto & Del Lama (2011), e Rodrigues (2012).

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praticamente toda a cidade ‒ na realidade, pouco maisdo que uma vila, com suas construções em taipa, e rarosimóveis tendo mais de dois pisos. Nessa época, com ariqueza proporcionada pelo café, inicia-se atransformação em uma cidade moderna, com o uso denovos materiais ‒ e inicia-se exatamente por essa região,atualmente chamada de “Centro Velho”, explicando-seassim a concentração nessa área de inúmerosmonumentos e edifícios nos quais a pedra entra comoelemento de construção ou decoração.

Apesar de muitas das rochas utilizadas seremimportadas, principalmente da Itália e de Portugal, hátambém muitas rochas brasileiras, particularmentepaulistas. Entre essas, destacam-se o Granito Itaquera e oGranito Cinza Mauá, o primeiro mais usado no começodo século XX e o segundo, a partir da década de 40 dessemesmo século (Del Lama et al., 2009).

Num percurso pelos principais edifícios emonumentos históricos que compõem o Centro Velhopodem ser visualizadas as seguintes rochas: GranitoItaquera, Granito Cinza Mauá, Granito Rosa Itupeva,Granito Verde Ubatuba, Granito Preto Piracaia, GranitoAzul Bahia, Calcário Sete Lagoas, Arenito Itararé,Cipollino, Porfido Rosso Antico, microbialito, travertino,conglomerado, calcário fossilífero, serpentinito,mármore e sienito. No cômputo geral, as rochas ígneas,principalmente os granitos, foram as preferidas.

O Obelisco da Memória (Figura 33), construídoem 1814, o monumento mais antigo da cidade, é lavradoem Granito Itaquera, uma das rochas que veio a ser maisutilizada, sendo observada em vários monumentos eedifícios.

Figura 33 – O monumento mais antigo da cidade de São Paulo ‒Obelisco da Memória (1814). É constituído pelo GranitoItaquera, e a escadaria implantada no século XX é constituídapelo Granito Cinza Mauá. Foto: Lauro Kazumi Dehira.

O Granito Cinza Mauá foi, e ainda é, muitoutilizado em São Paulo, como pode ser visto em boa partedo revestimento do piso do Centro Velho e em muitasestações do metrô. Apesar de estar localizado um poucodistante do Centro Velho, um dos cartões postais dacidade, o Monumento às Bandeiras, é constituído poreste granito (Figura 34).

Figura 34 – O Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret,esculpido em Granito Cinza Mauá, levou 6 anos para serfinalizado e foi implantado em 1953, para as comemorações doIV Centenário da cidade (25 de janeiro de 1954). Foto: LauroKazumi Dehira.

Rochas sedimentares foram pouco utilizadasnas construções do Centro Velho. Destacamos aqui afachada do Teatro Municipal e a Prefeitura Municipal deSão Paulo. O teatro (Figura 35) é constituído pelo ArenitoItararé, proveniente da área da atual Flona (FlorestaNacional) de Ipanema. O atual prédio da Prefeitura, emestilo neoclássico de inspiração fascista, foi concluído em1938/39, para ser a sede do então poderoso grupoIndústrias Reunidas Francisco Matarazzo; sua fachada érevestida, segundo consta (Folha de S. Paulo, 2004) por170.000 placas de travertino italiano (Figura 36). Omesmo tipo de rocha também é encontrada em váriosedifícios comerciais e residenciais do Centro Velho.

Figura 35 – Teatro Municipal de São Paulo (inaugurado em1911), fachada frontal em Arenito Itararé e base de GranitoItaquera. Foto: Lauro Kazumi Dehira.

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Figura 36 – Prefeitura do Município de São Paulo (prédio de1938), imóvel revestido por travertino italiano. Foto: LauroKazumi Dehira.

As rochas metamórficas foram mais utilizadasem interiores e em monumentos, sendo a maisdestacada o mármore, particularmente o que éconsiderado o mais “nobre” deles para fins de estatuária,o de Carrara, que ocorre em grande parte das fontes emonumentos da cidade.

6.2. PROBLEMAS E PROTEÇÃO DE MONUMENTOS NACIDADE DE SÃO PAULO

Infelizmente, o que se constata é que o estadode conservação da maioria dos monumentos de SãoPaulo não é bom. Como são relativamente recentes, aalteração intempérica teve pouca influência na suadegradação. Sem dúvida, o principal fator de degradaçãodos monumentos é o vandalismo: pichações, quebras,roubo de partes, uso inadequado.

Um triste exemplo dos desafios encontrados é afonte situada na Praça Júlio de Mesquita. Inaugurada em1927, em plena euforia do café, como marco demodernismo da cidade, enfrentou as últimas décadas emum clima de degradação urbana, incluindo queda deatividades comerciais, queda do valor e eventual estadode abandono de imóveis, presença constante de umapopulação de moradores em situação de rua, tráfico dedrogas, e uso da base da fonte como, praticamente,banheiro público. Originalmente a fonte tinha entre seuselementos de decoração 4 faces mitológicas femininas evárias lagostas de bronze, cada peça com cerca de 1m dealtura, que foram quase todas roubadas. O mármore foiacentuadamente atacado pela urina humana e deanimais de companhia. Num projeto de preservação, aPrefeitura concluiu em meados de 2013 um trabalho derestauro da fonte, recolocou ‒ agora feitas de fibra devidro ‒ as faces femininas e as lagostas (localmentemuitas vezes chamadas de “aranhas” ou “caranguejos”) einstalou ao seu redor uma estrutura de pilares de metal epainéis de vidro, formando uma espécie de “aquário”.Esta solução não é uma invenção local; é usada paraproteger monumentos, e mesmo geossítios, em diversos

locais do mundo. Como parte também de um programade recuperação social da área central da cidade, foiestabelecida na praça uma base de policiamento daGuarda Civil Metropolitana (Figura 37).

Figura 37 – Fonte Monumental, instalada em 1927, na PraçaJúlio de Mesquita. Confeccionada em mármore de Carrara, comelementos decorativos originalmente em bronze, hoje em fibrade vidro. Proteção tipo “aquário” instalada em meados de 2013,após restauro ou substituição de todos os elementos da fonte.Notar, à esquerda, veículo da Guarda Civil Metropolitana, emplantão permanente. Foto: Virginio Mantesso-Neto.

Existem outros exemplos de monumentosesculpidos em rocha, e vários imóveis com fachadas emrocha, partes de um patrimônio geológico construído, emlastimável situação de (falta de) preservação. Há tambémoutros casos de cercamento de monumentos, como o daAmizade Sírio-Libanesa, do Duque de Caxias e o deCamões.

Este não deveria ser um padrão para aconservação de monumentos mas infelizmente é umaopção até que se consiga tornar realidade um trabalho deeducação patrimonial mostrando a importância destasobras para a preservação da história da cidade, e quediversos outros desafios sociais sejam superados.

6.3. HISTÓRIA GEOLÓGICA DO CENTRO DE RIO CLARO

Além dos resultados do projeto descrito no item4.2, Perinotto (2009) publicou um excelente trabalhoaproximando geologia, história, e vida cotidiana, fazendouma “demonstração de como as paisagens se sucederamao longo do tempo geológico na cidade de Rio Claro eregião” (pg. 187). Após uma breve introdução deconceitos geológicos (tempo geológico, estratigrafia,evolução biológica, coluna estratigráfica, descrição dasunidades, etc.), o trabalho foca-se no centro da cidade(Praça da Liberdade) e ilustra, com fotos de ambientesatuais similares, o que seria o aspecto do seu entorno aotempo da deposição de cada unidade da colunaestratigráfica local, concluindo com o período da históriahumana.

Esse tipo de trabalho de divulgação científicapode ser um elemento auxiliar na formação de futuras

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gerações com maior consciência preservacionista,componente cada vez mais protagonista de umacidadania plena e responsável. Uma contextualizaçãomais ampla desse potencial é discutida por Perinotto &Mantesso-Neto (2013a e 2013b).

6.4. SHOPPING CENTERS COMO ELEMENTOS DOPATRIMÔNIO GEOLÓGICO CONSTRUÍDO

A proliferação de shopping centers, tanto naCapital quanto nas cidades do interior do estado, é umatendência comercial e urbanística absolutamenteestabelecida. A ABRASCE, Associação Brasileira deShopping Centers, estima que atualmente existam 165no estado, sendo 54 na Capital; em outras palavras, 2/3deles estão no interior (ABRASCE, 2013).

Nos shoppings centers as rochas ornamentaissão muito utilizadas, tanto nas áreas comuns, quanto nasunidades comerciais. As áreas são em geral muitoamplas, e a escolha frequentemente recai sobre acombinação de diversos tipos de rocha, que permitemsoluções estéticas interessantes, pelo uso de rochas comestruturas bastante vistosas, contraste de cores eformação de desenhos com padrões muito variados.

Por esses vários motivos, os shoppings centerstêm potencial para tornar-se locais de destaque dentroda já mencionada possibilidade de usar elementosurbanos como fatores de aproximação do público leigo àsgeociências; sobre essa possibilidade, ver, por exemplo,Sallun Filho & Fairchild (2005).

6.5. ARTE CEMITERIAL, OU FUNERÁRIA, OU TUMULAR

Em várias cidades do mundo os cemitérios sãoincluídos nas listas de atrações turísticas, inclusive comvisitas guiadas que em alguns deles são muitofrequentadas. Osman & Ribeiro (2007, p. 3) atestam queo cemitério é “um ponto turístico consolidado nos maisdiferentes países do mundo”. Entre nós, esse patrimôniosó recentemente começou a ser valorizado, e os maisinteressantes são aqueles datados de um período que vaidesde aproximadamente meados do século XIX atémeados do século XX.

Além do valor histórico e de veneração àmemória de personalidades importantes, no estado deSão Paulo muitos deles são quase que verdadeirosmuseus a céu aberto, com acervos importantesprincipalmente de pequenas obras arquitetônicas e deesculturas. Parte destas é em bronze, mas boa parte é deesculturas em rochas. As rochas presentes podem ser daprópria região, ou vir praticamente de qualquer lugar domundo; uma altamente valorizada é o mármore deCarrara.

A arte tumular pode ser utilizada parageoturismo de diversas maneiras. As rochas utilizadassão muito variadas, e podem apresentar superfícies defratura bruta, ou superfícies polidas (às vezes ambas,

combinadas em diferentes partes do túmulo), eapresentar cantos (triedros), permitindo boa visualizaçãotridimensional de algumas características. O estado atualdela pode permitir observações interessantes sobre aquestão do intemperismo, com a vantagem deapresentar uma data inicial desse processo; já existemestudos sobre esse tema, por exemplo os de Kuzmickas &Del Lama (2008 e 2009).

Indo para o universo de outros saberes, pode-seassociar os túmulos, as estátuas e o material utilizado aquestões de moda, de demonstração de riqueza e depoder, ao estilo artístico do escultor, às maneiras como amorte foi encarada em diferentes momentos e pordiferentes grupos sociais, às diferenças na composiçãoétnica da camada mais rica da sociedade paulistana.

Na cidade de São Paulo quatro cemitérios sãoparticularmente ricos em esculturas pétreas. O daConsolação, primeiro cemitério civil da cidade,inaugurado em 1858, o do Araçá, inaugurado em 1887, eo São Paulo, de 1926, estavam entre os preferidos pelaclasse econômica mais alta. O Cemitério do Brás (QuartaParada), inaugurado em 1893, é o segundo maior emárea dentre os inaugurados no século XIX; apesar do níveleconômico das famílias sepultadas ser inferior aos trêsoutros citados, tem a peculiaridade de ter servido à maiorcomunidade de imigrantes da cidade, a italiana. Como oscemitérios na Itália costumavam ter muitas estátuas e aquase totalidade dos escultores de estátuas em São Pauloera constituída de italianos (Giovannetti Neto, 1992,passim), esse cemitério tem um acervo muito grande deestátuas, apesar destas serem, no geral, menores quenos outros três. Para o Cemitério da Consolação há umRoteiro Geológico (Kuzmickas & Del Lama, 2011). Umestudo bastante aprofundado sobre as rochasornamentais utilizadas no Cemitério da Consolação, suasdiversas formas de alteração e recomendação para aconservação dos jazigos pode ser encontrado emKuzmickas (2013).

No interior do estado, há diversos cemitériosinteressantes, principalmente ao longo dos eixosferroviários que caracterizaram o ciclo do café,favorecidos pela combinação da riqueza gerada pelo“ouro verde” com a presença de imigrantes italianos,que, no cômputo geral, constituem o maior conjunto deescultores que atuaram também no âmbito geográficodo estado. Alguns exemplos, sobre os quais há estudosem dissertações de mestrado e teses de doutoramento,livros publicados ou sites na Internet, são os de Campinas(Saudade), Jundiaí (Nossa Senhora do Desterro), RibeirãoPreto (Saudade), Piracicaba (Saudade), Rio Claro (SãoJoão Batista), São João da Boa Vista (São João Batista) eSantos (Paquetá).

6.6. MUSEUS GEOLÓGICOS

Os museus, particularmente os especializados(geológicos, mineralógicos ou paleontológicos) são uma

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componente importante de preservação do patrimôniogeológico. Existem diversos deles no estado de SãoPaulo. Além do acervo específico de minerais, rochas efósseis, alguns ampliam sua atratividade incluindoseções de espeleologia, de gemologia, de arqueologia, eatrações como esqueletos de dinossauros, loja desouvenirs com venda de livros, minerais e réplicas defósseis. A maior parte deles oferece, medianteagendamento, visitas guiadas específicas para diversasfaixas etárias, ou para grupos de escolares, associações, eoutros. Os principais museus paulistas que abrigam itensdo patrimônio geológico são: Museu GeológicoValdemar Lefèvre, do Instituto Geológico, e Museu deGeociências do Instituto de Geociências da USP, naCapital; Museu de Minerais e Rochas “Heinz Ebert”, eMuseu de Paleontologia e Estratigrafia “Prof. Dr. PauloMilton Barbosa Landim”, ambos do Instituto deGeociências e Ciências Exatas da UNESP, em Rio Claro;Museu de Paleontologia de Monte Alto; e Museu deHistória Natural de Taubaté.

Azevedo (2013) discorre sobre a conservação decoleções geológicas, abordando mais especificamente osminerais, usando como referência o Museu do Institutode Geociências da USP.

São relativamente poucos os itens ligados aopatrimônio mineiro no estado de São Paulo, mas algunstêm grande importância histórica.

No Vale do Ribeira existem as galerias de minasde chumbo e o Parque Morro do Ouro, já mencionadosno item 4.3.

Em Araçariguama, nas proximidades da Capital,existe uma das mais antigas minas de ouro horizontais doBrasil, a Mina do Cantagalo, com uma galeria visitável eum pequeno museu.

Também sobre o ouro, deve-se destacar oGeoparque Ciclo do Ouro (Pérez-Aguilar et al., 2012 e2013), em Guarulhos, que faz parte do livro recémpublicado “Geoparques do Brasil – Propostas”(Schobbenhaus & Silva, 2012, pg. 543-582). A área dogeoparque, criado em 2008, inclui regiões das serras daCantareira e Mantiqueira onde afloram rochasmetavulcanossedimentares mesoproterozoicas doGrupo Serra do Itaberaba. Devido às mineralizações deouro primário ocorrem muitas estruturas arqueológicasrelacionadas à história mineira do primeiro Ciclo do Ourono Brasil (Figura 38). Diversos links indicados nasReferências Bibliográficas trazem mais detalhes.

7. PATRIMÔNIO MINEIRO

Figura 38 – Geoparque Ciclo do Ouro, Guarulhos - Afloramentode margarita-coríndon xisto (marundito) e topázio xisto(topazito) cuja gênese está associada a processoshidrotermais/metassomáticos que geraram zonas de alteraçãohidrotermal, as quais foram posteriormente metamorfisadasna fácies anfibolito. Por seus minerais constituintes (margarita,coríndon, topázio e rutilo), pela raridade das rochas e, porestarem vinculadas à gênese de mineralizações de ouro naregião, apresentam um grande interesse científico eeducacional, sendo mais um elemento de atração doGeoparque Ciclo do Ouro (Pérez-Aguilar et al., 2012).

Uma outra importante pesquisa está emandamento nas proximidades da Capital. Nos arredoresdo Pico do Jaraguá foram identificadas com segurançacinco cavas de mineração de ouro (Carneiro, 2000) que,ao que tudo indica, foram exploradas pela famíliaSardinha a partir da década de 1580. Em 1810 o inglêsJohn Mawe visitou-as e encontrou-as em atividade,descrevendo minuciosamente o processo de lavagem dosolo para separação do ouro (Mawe, 1812, p. 77-79).Nesse mesmo livro (entre as pg. 78 e 79) ele apresentauma imagem muito interessante da “escada” usada paraessa lavagem (Figura 39).

Figura 39 – Gravura publicada por Mawe (1812) das escadas delavagem do ouro, constituindo a única representação gráfica atéhoje encontrada das atividades mineiras na região do Pico doJaraguá. Estão em curso pesquisas visando a identificação exatadesse local.

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A pesquisa para identificar a localização tantoquanto possível precisa dessa escada está em progresso,havendo no momento vários locais selecionados comobons candidatos (Silva, 2013). Em 1820 José Bonifácio deAndrada e Silva, então recentemente chegado dePortugal, realizou, acompanhado pelo irmão MartimFrancisco, uma “Viagem mineralógica na província deSão Paulo”, e no seu relato refere-se às “antigas minas deouro”, nos arredores do Jaraguá, citando nominalmentecinco delas (Silva, 1963, Vol. I, pg. 510), e descrevendoaspectos de sua geologia e técnicas de retirada do ouro.Ele menciona também a existência, nas proximidades, deoutras “muitas e boas minas de ouro, que estãopresentemente abandonadas”, sempre apresentandodados geológicos. As “minas”, ou mais precisamente ascavas, eram todas trabalhadas no solo de alteração, e oouro ocorria também em guapiaras (cascalheirassuperficiais) e em diversos riachos. José Bonifácioreconheceu a associação do ouro in situ a veios dequartzo, e nos depósitos aluviais a diversos minerais(hoje genericamente chamados de “satélites”), mas nãomenciona nenhum trabalho de mineração nas rochasmetamórficas sãs. Outros pesquisadores também falamdessas minas, como Eschwege, Calógeras, Derby, Oliveira(Prefeitura, pg. originais 6-8).

A p e s a r d a á r e a t e r s i d o b a s t a n t edescaracterizada (principalmente por urbanização,industrialização, abertura de estradas e obras deterraplanagem) três das cavas já identificadas estão sobum processo que visa o estabelecimento de um futuroparque, e está em andamento um pedido detombamento pelo IPHAN. As pesquisas prosseguem, masa geologia local sugere que trata-se da mesmamineralização presente no Geoparque Ciclo do Ouro, etambém em Araçariguama. Já foram tambémencontradas outras áreas que preliminarmente parecemser outras cavas similares.

N a q u e stã o d a m i n e rçã o d o fe r ro,importantíssima por sua utilidade desde o início dapresença dos portugueses no Brasil, situa-se na cidade deIperó a antiga Fazenda Ipanema. Nesse local o pai e filhoAfonso Sardinha (homônimos) estabeleceram em 1591os dois primeiros fornos siderúrgicos do país, criando umfoco de irradiação para a colonização de áreas próximas.Com altos e baixos, essas minas foram sempre umareferência e uma esperança nacionais, sendo objeto deestudos e tentativas de melhor aproveitamento, entreoutros, por Varnhagen e por José Bonifácio, no final doperíodo colonial. Durante o Segundo Reinado, a FazendaIpanema atingiu proporções consideráveis (Figura 40).Hoje, é sede de uma unidade de preservação ambiental(Flona Ipanema) e um dos maiores complexos industriaisantigos preservados no estado.

Figura 40 – A Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema(nome oficial) em funcionamento em 1884, durante seuperíodo de auge, que durou aproximadamente de 1865 a 1965.(Foto: Júlio Durski, Coleção Princesa Isabel; fonte:www.cidadedeipero.com.br/ipanema.html).

Com todos esses estudos, os dois conjuntos –antigos locais de mineração de ouro, e fornos deprodução de ferro em Ipanema – tornam-se, tanto pelaantiguidade dos sítios quanto pelo conhecimentoacumulado, importantes referências do patrimôniogeológico e mineiro não só do Estado de São Paulo, masdo Brasil e da própria América do Sul.

Além das iniciativas aqui listadas, deve serdestacado o crescente interesse de professores e alunosnão só das áreas de geociências, mas também das áreasde turismo, de história, e outras, nas questões depatrimônio geológico, geoturismo e afins.

Por outro lado, em regiões onde o geoturismo játem maior tradição – particularmente na Europa ‒ aexperiência demonstra que, com raríssimas exceções, ogeoturismo por si só é economicamente insustentável.“Geoturismo, como qualquer outro tipo de turismo, éuma atividade econômica. Isto significa que espera-seque essa atividade gere dinheiro que garanta uma rendasólida para investidores e trabalhadores. ... Porém, asgeociências não são populares para a população emgeral. ... O número de pessoas interessadas em viajar egastar dinheiro apenas para uma atividade de turismogeológico é inquestionavelmente baixo. Naturalmenteessas atividades são muito benvindas por geocientistas epor quem tem algum tipo de formação nessa área, mas aquantidade de tais pessoas é baixa demais para garantir asustentabilidade econômica de muitas companhias degeoturismo. A ampliação do conceito de geoturismoaumentará o numero de turistas potenciais, umatendência essencial para atingir o sucesso dessaatividade econômica” (Martini et al 2012, pg. 187).

8. CONCLUSÃO: OUTROS DESAFIOS, NOVAS FRENTES E

INTERFACES

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Para ser feita de maneira conscienciosa, a etapainicial de todo esse processo de desenvolvimento dogeoturismo deve iniciar-se pelo preparo do inventário,estudos, classificação, etc., dos geossítios e dos locais depatrimônio geológico construído, e da aplicação dasmedidas de segurança e proteção eventualmentenecessárias. Nos momentos adequados, há trêsimportantes caminhos práticos que podem ajudar aaumentar o volume de geoturistas:

1) investir no inventário, caracterização,proteção e divulgação do patrimônio geológico;

2) facilitar o acesso à informação e, apóspromover a respectiva proteção onde necessário, oacesso físico aos geossítios e aos locais de patrimôniogeológico construído;

3) associar um grande número de locais degeoturismo a atividades turísticas convencionais.

Deve ser sempre lembrado que o geossítio, emesmo os locais de patrimônio geológico construído, secaracterizam por uma total imobilidade física ‒ ninguémconsegue transportar um afloramento para colocá-lomais perto do turista. Assim, só o terceiro caminho ‒ quepor sua vez só pode ser atingido através do primeiro edepois do segundo ‒ permitirá a formação do que osegmento turístico chama de “clusters” (em traduçãoliteral “cachos”), que são aglomerações de atraçõesturísticas relativamente próximas umas das outras,permitindo que se aproveite a presença física do turista“convencional” nas região para oferecer-lhe também,como adicional, programas e atividades geoturísticas.

Esse provavelmente será o caminho para tornareconomicamente viável (ainda que, no início, apenasminimamente) a prática sistemática do geoturismo, umaferramenta que, se bem aplicada, possibilita o bom usodo patrimônio geológico, sua fruição no presente e a suaconcomitante preservação para o futuro.

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Manuscrito ID 32741

Submetido em julho de 2013

Aceito em setembro de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Patrimônio geológico e mineiro do Quadrilátero Ferrífero,

Minas Gerais – Caracterização e iniciativas de uso para

educação e geoturismo

Geological and mining heritage of iron quadrangle, Minas Gerais - Characterization and strategies

for education and geotourism

ÚRSULA AZEVEDO RUCHKYS MARIA MÁRCIA MAGELA MACHADO,

Universidade Federal de Minas Gerais - [email protected] [email protected]

Resumo

O Quadrilátero Ferrífero - QF é internacionalmente reconhecido como uma das maiores províncias minerais do planeta. Constituído porrochas que contam parte da história da Terra associada ao Arqueano e Paleoproterozoico e com vestígios de mais de 300 anos deexploração mineral contínua, especialmente de ouro e ferro, esta região se destaca por seu significativo patrimônio geológico e mineiro.Este trabalho apresenta inicialmente aspectos da geologia e da história da mineração do Quadrilátero Ferrífero. Em seguida, são descritosquinze sítios representativos da história geológica do QF que justificam a relevância de seu contexto geológico e evolução tectônica para acompreensão da história geológica da Terra. Na sequência, é descrito parte do patrimônio mineiro desta região por meio dodetalhamento de onze sítios que compõem parte significativa da história da mineração no Brasil. Finalmente, são apresentadas iniciativasde educação e geoturismo realizadas na região.

Palavras-chave: Quadrilátero Ferrífero; patrimônio geológico; patrimônio mineiro; história da mineração no Brasil; geoturismo.

Abstract

The Quadrilátero Ferrífero (Iron Quadrangle) - Minas Gerais/Brazil is well-known worldwide as one of the world's largest mineral province.The region consists of rocks that show part of Earth's history associated with the Archean and Paleoproterozoic, together with remains ofmore than 300 years of continuous mining, particularly gold and iron. The paper initially presents a general characterization of the IronQuadrangle, considering its geology and mining history. Then, it describes thirteen sites representatives of the geological history,highlighting the relevance of its geological context and tectonic evolution for understanding of the Earth's history. The mining heritage isalso described, detailing eleven sites that compose a significant part of the mining history of in Brazil. Finally, initiatives of geotourism andeducation initiatives developed in the region are presented.

Key words: Iron Quadrangle; geological heritage; mining heritage; history of mining in Brazil; geotourism.

1. INTRODUÇÃO

O Quadrilátero Ferrífero (QF) localiza-se naporção centro-sudeste do Estado de Minas Gerais. Comárea de cerca de 7.000 km², abrange parte dosmunicípios de Bom Jesus do Amparo, São Gonçalo do RioAbaixo, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas,Alvinópolis, Mariana, Ouro Preto, Ouro Branco,Congonhas, Jeceaba, Belo Vale, Moeda, Itabirito, RioAcima, Brumadinho, Mario Campos, Sarzedo, Ibirité,Nova Lima, Raposos, Sabará, Caeté, Belo Horizonte eSanta Luzia (Figura 1).

Constituído por rochas que contam parte dahistória da Terra associada ao Arqueano ePaleoproterozoico e com vestígios de mais de 300 anosde exploração mineral que compõe grande parte ahistória da mineração no Brasil, esta região se destacapor seu significativo patrimônio geológico e mineiro.Suas riquezas minerais e as consequentes atividades

m i n e i r a s d e s e n v o l v i d a s , i n e g a v e l m e n t e ,desempenharam papel fundamental na ocupação dointerior do Brasil.

As buscas por metais preciosos nobrasileiro, que se sucederam pelos séculos XVI e XVII,estão amplamente ligadas ao impacto causado pelasnotícias dos enormes tesouros encontrados na Américapelos espanhóis, sobretudo pela descoberta das ricasminas de prata de Cerro Potosí, em 1545. As descobertasde ouro no atual território mineiro vieram das entradaspaulistanas cada vez mais freqüentes e atentas aoscascalhos e areias dos ribeirões pela experiência naslavras do litoral.

A notícia dos primeiros descobrimentos, porvolta de 1690, fez aumentar o número de expedições deexploração e os achados proliferaram rapidamentecausando o primeiro grande rush minerador da históriamundial. Inicialmente na região de Ouro Preto e Mariana,as famosas “Minas Gerais dos Cataguás” que incluíamjazidas como as de Itaverava, Itatiaia, Antônio Dias, Padre

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Faria, Bento Rodrigues, Ribeirão do Carmo, e logo seexpandiram para Inficcionado (Santa Rita Durão),Furquim, São Caetano (Monsenhor Horta), Ouro Branco,Casa Branca, Itabira do Campo (Itabirito), Catas Altas daNoruega e muitas outras. A região de Sabará caracterizouum novo grupo conhecido como “Minas do Rio dasVelhas” e incluía entre outras as ricas jazidas deCongonhas do Sabará (Nova Lima), Raposos, Santo

Antônio do Rio Acima (Rio Acima). As “Minas do Caeté”incluíam as famosas lavras de Cuiabá e Morro Vermelho.E eram tantas as minas que, em 1720, foi criada aCapitania de Minas Gerais. Ao fim das primeiras décadasdo século XVIII praticamente todo o território das MinasGerais estava ocupado, havia uma profusão de cidades evilas em função da disseminação das lavras auríferas(Machado 2009).

Figura 1 – Mapa de localização com os municípios que integram o Quadrilátero Ferrífero.

Segundo Machado (2009), depois deaproximadamente 100 anos de atividades mineiras emprofusão, o declínio acentuado da extração de ouro nasúltimas décadas do século XVIII trouxe as primeiraspesquisas científicas e contribuições sobre a constituiçãogeológica dos terrenos tendo como objetivo adescoberta de novos recursos minerais. Durante todo oséculo XIX a região foi palco do que havia de mais recenteem termos de ciência na Europa, ao receber em seusterrenos, renomados pesquisadores estrangeiros. Asobservações geológicas desses naturalistas se referem,basicamente, aos mesmos lugares por força de umitinerário de interesse comum, que passavaobrigatoriamente pelas famosas minas de topázio nosarredores de Ouro Preto e minas de ouro, entãoexploradas por companhias inglesas. Alguns dessesestrageiros, com formação mais específica em Geologia,como o Barão de Eschwege, Peter Claussen, Virgil vonHelmreichen, além do detalhamento das formações,

produziram mapas geológicos da região, estando entreestes as primeiras representações da geologia do Brasil.

Na primeira década do século XX, a descobertadas enormes reservas de manganês e ferro colocou maisuma vez a região em evidência no cenário internacional eimpulsionou novamente as atividades mineiras. Emfunção dessas reservas e dos limites da área bemmarcados pelo relevo, a designação QuadriláteroFerrífero foi introduzida na literatura, em 1952, numacomunicação apresentada no XVIII CongressoInternacional de Geologia. A partir daí foi disseminada detal forma que, rapidamente, extrapolou a comunidadegeológica e hoje é amplamente reconhecida e utilizada,indiscriminadamente, para citar ou se referir à região(Machado 2009).

O interesse pela área permanece até os diasatuais, não apenas pelas grandiosas reservas de minériode ferro e outras riquezas minerais existentes, como oouro ainda explorado, mas também por serem sua

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geologia, mineralogia e geodinâmica uma das maisfascinantes do mundo.

Um reconhecimento recente está associado aoseu significativo patrimônio geológico constituído pornumerosos afloramentos de rochas de excepcionalinteresse científico e pedagógico que permitem acompreensão dos processos de evolução da históriageológica da Terra.

Liccardo (2007) salienta a importância de MinasGerais em termos de características geológicas ligadas àhistória da mineração, destacando para a região doQuadrilátero Ferrífero os municípios de Ouro Preto eMariana cuja história e turismo se confundem com amineração e a geologia. Segundo Cesar-Mendes (2003),nestes municípios ainda pode ser visto importantepatrimônio geológico/mineiro, sendo sua preservaçãoprimordial para as gerações futuras. Outros autorestambém registram o valor patrimonial do QuadriláteroFerrífero, como Ruchkys et al. (2006); Silva (2007);Ruchkys (2007); Ruchkys (2009); Ruchkys et al.(2009);Machado (2009); Castro et al. (2011); Ostanello (2012) eRuchkys et al. (2012).

Este importante patrimônio geológico e mineirorevela grande potencial para uso turístico, conformeRuchkys (2007) e pode integrar planos dedesenvolvimento regional agregando valor a produtostípicos tradicionais já existentes. Uma estratégiainteressante é a proposta de criação do GeoparkQuadrilátero Ferrífero apresentada pelo Governo doEstado à UNESCO, em 2009. O QF reúne os requisitosbásicos de um geoparque: é uma área com longa históriade exploração mineral, geologia complexa comafloramentos privilegiados, enorme biodiversidade,belas paisagens, sendo um território propício para açõesbaseadas na geoconservação e geoturismo.

2 . P A T R I M Ô N I O G E O L Ó G I C O - M I N E I R O ,

GEOCONSERVAÇÃO E GEOTURISMO

A palavra patrimônio está associada à herança,aquilo que é transmitido de geração para geração.Segundo Choay (2001) esta palavra foi requalificada pordiversos adjetivos como genético, natural, cultural, entreoutros, que fizeram dela um conceito nômade (Ruchkys2007).

Gallego e García (1996) definem o patrimôniogeológico como o conjunto de recursos naturais nãorenováveis de valor científico, cultural e educativo,incluindo as formações, estruturas geológicas, formas doterreno, os jazimentos paleontológicos e mineralógicos,que permitem reconhecer, estudar e interpretar aevolução da história geológica da Terra e os processosque tem modelado.

Para Riart (2000), o patrimônio mineiro é algomais complexo de se definir, já que em alguns casos estáassociado ao patrimônio geológico, mas também serelaciona com o patrimônio cultural (arquitetônico,

arqueológico, arqueológico-industrial, etc.). O mesmo écolocado por Rodrigues et al. (2011) ao afirmarem que opatrimônio mineiro nem sempre tem tido umposicionamento claro perante ao patrimônio geológico,sendo habitualmente integrado ao patrimônio industrial.

Seguindo o conceito proposto por Cordeiro(2010), o patrimônio mineiro se relaciona ao patrimôniogeológico por incluir os vestígios materiais e imateriaisrelacionados com a atividade mineira, assim como osaspectos geológicos que promovem a exploração.

A necessidade de proteger o patrimôniogeológico e mineiro tem levado ao desenvolvimento deestratégias que incluem a criação de leis para proteçãodeste patrimônio e iniciativas de valorização edivulgação. Cabe salientar que alguns países,principalmente europeus, dispõem de legislaçãoespecífica para a proteção do patrimônio geológico. NoBrasil este patrimônio vem sendo protegido de formaindireta pela criação de unidades de conservação quetem respaldo em diversos instrumentos legaisrelacionados às políticas públicas para a conservação dabiodiversidade. Além disso, existem referências legaisespecíficas para determinados tipos de patrimônio queintegram o patrimônio geológico. Abaíde (2012), porexemplo, destaca o Art. 216 da Constituição Federal de1988, onde no rol dos bens integrantes do patrimôniocultural brasi leiro estão incluídos os sít iospaleontológicos. No caso de iniciativas envolvendovalorização e divulgação merece destaque o geoturismo,que tem como uma de suas preocupações a de tornar opatrimônio geológico e mineiro acessível ao grandepúblico, recorrendo para isso ao artifício de traduzir osignificado deste patrimônio para uma linguagemcomum.

O termo geoturismo passou a ser comumenteutilizado a partir de meados da década de 90 depois queuma primeira definição, cunhada por Hose (1995), foiamplamente divulgada numa revista profissional deinterpretação. Posteriormente, o próprio Hose (2000)definiu geoturismo como sendo:

“A provisão de facilidades interpretativas e

serviços para promover o valor e os benefícios

sociais de lugares e materiais geológicos e

g e o m o r f o l ó g i c o s e a s s e g u r a r s u a

conservação, para uso de estudantes, turistas

e outras pessoas com interesse recreativo ou

de lazer.” (Hose 2000)

Uma definição brasileira de geoturismo foi dadapor Ruchkys (2007) que apresentou a atividade como umsegmento do turismo que tem o patrimônio geológicocomo seu principal atrativo e busca sua proteção pormeio da sensibilização do turista, utilizando para isto ainterpretação para torná-lo acessível ao público leigo,além de promover sua divulgação e o desenvolvimentodas ciências da Terra.

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Para Ruchkys et al. (2006), o geoturismo ofereceoportunidade para uma aproximação da geologia com opúblico, além de ser um novo produto de turismodirecionado a pessoas motivadas por sedeconhecimento intelectual e por atividades que envolvamexploração, descoberta e imaginação. A necessidade deprover conhecimento faz a interpretação, meio eficaz deinformar em linguagem acessível, ter um papelpreponderante no aumento do interesse pela geologia egeoconservação, além de promover sua divulgação.

3. ASPECTOS DA GEOLOGIA DO QUADRILÁTERO

FERRÍFERO

O contexto geológico do Quadrilátero Ferríferoé caracterizado por três grandes associações de litotipos:duas de idade arqueana representadas por terrenosgranito-gnáissicos e por uma unidade do tipo greenstonebelt (Supergrupo Rio das Velhas), e a terceira compostapor uma sequência metassedimentar paleoproterozoicacontendo formações ferríferas bandadas do tipo lago-superior (Supergrupo Minas) (Figura 2). Encontram-se noQuadri látero Ferrífero elementos geológicosrepresentativos de parcela considerável da evolução Pré-Cambriana.

Figura 2 – Mapa geológico simplificado do Quadrilátero Ferrífero. Fonte: Alkmin & Marshak (1998)

Os terrenos granito-gnáissicos correspondemao embasamento cristalino e representam as rochas maisantigas da região (Ca. 2800Ma). Estas rochas distribuem-se ao redor e na parte central do Quadrilátero Ferrífero,e, geralmente, apresentam estrutura dômica. Suasprincipais ocorrências são os complexos do Bação, BeloHorizonte, Caeté, Bonfim e Florestal (Renger et al. 1994).O Supergrupo Rio das Velhas (aproximadamente2700Ma) corresponde a uma seqüência de rochas deorigem vulcânica intercaladas com rochas de origemsedimentar e abrange os Grupos Nova Lima e Maquiné.No Grupo Nova Lima estão concentradas as ocorrências emaiores jazidas de ouro no Quadrilátero Ferrífero,

responsáveis pela designação do estado como “MinasGerais”.

O Supergrupo Minas (de 2500 a 2100Ma) estádividido nos Grupos: Caraça; Itabira e Piracicaba. OGrupo Caraça apresenta as Formações Moeda e Batatal,sendo os quartzitos da Formação Moeda responsáveispela sustentação do relevo de algumas serras do QF(como a Serra da Moeda). O Grupo Itabira apresenta asFormações Cauê e Gandarela. Na Formação Cauê estãoos principais depósitos de ferro do QF. O GrupoPiracicaba é formado pelas formações Cercadinho; Fechodo Funil; Taboões e Barreiro. Ocorrem ainda no QF osGrupos Sabará e Itacolomi. O Grupo Itacolomi, cuja

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deposição se deu entre, aproximadamente, 2100 a1750Ma, é composto principalmente por quartzitos queestão presentes no Pico de Itacolomi, em Ouro Preto, ena Serra de Ouro Branco, em Ouro Branco.

No contexto geológico regional do QuadriláteroFerrífero, além da sequência estratigráfica descritaanteriormente, destaca-se também a presença de rochasbásicas e metabásicas intrusivas que cortam assequências supracrustais e os terrenos granito-gnáissicos especialmente a oeste de Belo Horizonte e naSerra do Caraça (Alkmim & Noce 2006).

O Fanerozoico encontra-se restrito a pequenasbacias intramontanas cenozóicas, como a bacia doGandarela, sendo representado essencialmente porrochas pelíticas, linhitos da Formação Fonseca (Castroet al. 2001) e conglomerados compostos por clastos deitabiritos da Formação Chapada de Canga (Santana et al.1997).

Sobre a evolução tectônica do complexo padrãodo Quadrilátero Ferrífero, destaca-se o modelo propostopor Alkmin & Marshak (1998) no qual os autoresdistinguem quatro fases de deformação ocorridas no QFdentro do seguinte processo de evolução: 1) Formaçãodos terrenos granito-greenstone arqueanos: rochascristalinas mais antigas 3200Ma e deposição do SGRVentre 2800Ma-2700Ma; 2) Formação da bacia Minas:entre 2600-2400Ma (evento extensional); 3) EventoTransamazônico: aproximadamente em 2100Ma, aregião foi envolvida por um cinturão de dobramentos ecavalgamentos com vergência noroeste; 4) Colapsoorogênico transamazônico: entre 2095-2051Ma: regimeextensional com desenvolvimento de terrenos emquilhas e domos; 5) Rift Espinhaço: reflexo no QF dodesenvolvimento da bacia Espinhaço com a intrusão dediques de diabásio em torno de 1750Ma; 6) Brasiliano:segundo evento contracional, ocorreu entre 700-430Mae criou um cinturão de dobramentos e cavalgamentospara oeste que reativou antigas estruturas do QF.

Os recursos minerais, por constituirem insumosessenciais a praticamente todos os ramos do setorindustrial e terem distribuição irregular na crostaterrestre, tem ao mesmo tempo uma enorme dimensãoeconômica e caráter internacional. Assim, é natural ointeresse governamental em pesquisa, exploração eregulação do setor mineral. No caso específico do ouro,desde a antiguidade, esse metal adquiriu statusdiferenciado entre produtos comercializados. É o únicometal precioso que une à facilidade para ser trabalhado,resistência à corrosão, características estéticas comobeleza e brilho e ainda raridade. Estas propriedadesfizeram com que o ouro começasse a ser usado nacunhagem de moedas e na produção de jóias e artefatosainda nos primeiros séculos da antiguidade. Suaspropriedades físicas, químicas e bioquímicas

4. A MINERAÇÃO NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO

garantem-lhe hoje aplicações nas indústrias eletrônica,química, de perfumaria, textil, de impressão, papel,plásticos, produtos alimentícios, laminação de vidros,construção civil, na odontologia na medicina, entreoutras (Nery & Silva 2001).

Entretanto, é basicamente a sua capacidade dereserva de valor que o tornou tão especial. Sobretudo,para Portugal em meados do século XVII profundamenteenfraquecido em termos políticos e econômicos logoapós a separação da Espanha. A nação apresentava umabalança de comércio deficitária advinda dos altos custospara a reinstalação do Reino, da retração dos mercadosconsumidores, particularmente o do açúcar em funçãoda concorrência da produção antilhana e da escassez demetal (Martins 1984).

O ouro brasileiro viria como remédio para essesmales. Tanto que as atividades de mineraçãodesenvolvidas no período de aproximadamente 100anos, entre a descoberta do ouro e a exaustão do minériode fácil extração no Quadrilátero Ferrífero, têmcaracterísticas bem definidas em função da políticamercantilista portuguesa – exploração das riquezascoloniais visando somente o abastecimento dametrópole. A lavra no Ciclo do Ouro era baseada naexperiência e na observação e não em conhecimentocientífico, se caracterizando unicamente pela aplicação eaprimoramento de técnicas de mineração. Lavrava-sesem planejamento, produzindo montanhas de estéreisque eram depositadas muitas vezes sobre camadas ricasinviabilizando seu aproveitamento.

Primeiramente foram descobertos e mineradosos depósitos nos leitos dos rios, os aluviões, onde o ouroera encontrado misturado aos seixos, areia, argila. Acrescente escassez dos cascalhos ricos, facilmenteacessíveis, alterou não só os trabalhos nos leitos dos rioscomo levou os mineiros a buscar os depósitos de aluviãonas margens ou “tabuleiros”, e sob uma camada nãomuito espessa de terra nas encostas dos morros, as“grupiaras”. Nas encostas era usado o método conhecidocomo “talho aberto”. A mineração subterrânea sóacontecia diante da impossibilidade de exploração dofilão rico a céu aberto, uma vez que o serviço era muitopenoso e arriscado. As galerias eram estreitas e sinuosas,escavadas acompanhando a formação do veio, echegavam a atingir centenas de metros, somente naspartes mais ricas eram alargadas. Os morros eramperfurados de um lado para o outro sem o menorplanejamento ou controle, assim aconteceu em OuroPreto, Mariana e outros localidades.

A sede de enriquecimento rápido, o totaldespreparo com relação ao conhecimento da estruturadas jazidas, aliada a falta de orientação ou fiscalizaçãopor parte da metrópole, pelo contrário, a imposição dooneroso quinto sobre o ouro fizeram com que o modo deminerar no ciclo do ouro funcionasse como algoz damina. A exploração do ouro entrou em acentuadodeclínio a partir dos anos 60 do século XVIII.

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Logo depois da independência, aproveitando alegislação brasileira favorável à entrada de capitalestrangeiro para o desenvolvimento da atividade demineração, começaram a chegar os ingleses. Nos anos1820 e 1830 foram formadas na Inglaterra seiscompanhias para explorar ouro em Minas Gerais.

As Companhias inglesas trouxeram mudançassignificativas em todos os estágios de produção de ouro,introduziram o emprego da pólvora e mais tarde dadinamite, amalgamação por mercúrio e a utilizaçãogeneralizada de força hidráulica nas operações dedrenagem, ventilação e transporte (com vagonetes ecaçambas movidos por roda d'água), e engenhoshidráulicos de redução do minério os quais foramresponsáveis pelos maiores ganhos de produtividade.Apesar de terem obtido o controle das melhores jazidas,as companhias inglesas suavizaram o ritmo, mas nãoreverteram a tendência de queda do setor aurífero, pelomenos em termos de quantidade produzida até 1860. Aprodução anual média que havia sido 1.884 Kg em1801/1820, caiu para 1.602 Kg em 1820/1860, dos quais,aproximadamente, 52% foram extraídos em Gongo Soco,Morro Velho e Cata Branca (Martins 1989).

Em fins do século XIX começaram a aparecer osreflexos do apelo capitalista por minerais industriaiscomo carvão, petróleo, ferro e manganês. Com aintensificação e diversificação do processo deindustrialização pós-Primeira Guerra e consequenteaumento da demanda por combustível e matéria-prima,as riquezas minerais do Quadrilátero Ferrífero setornaram, mais uma vez, o centro das atenções, destafeita, o manganês e o ferro. No início dos 1900 o interessedos países produtores de aço, principalmente aInglaterra, pelas jazidas de manganês e ferro de MinasGerais já era patente. Entre 1905 e 1920 houve umaintensa aquisição de jazidas de minério de ferro porestrangeiros. A constituição republicana de 1891 haviaaberto esta prerrogativa. No que se refere ao direito depropriedade das minas, o chamado sistema dominialvigente durante o Império, no qual o subsolo pertence ànação, foi substituído pelo sistema norte-americano,submetendo a propriedade das minas à da superfície(Machado 2009).

Na década de 30, com as mudançasintroduzidas pela promulgação do Código de Minas dopaís, entre elas a necessidade de autorização do governoda União para pesquisa e lavra e somente para cidadãosbrasileiros ou empresas organizadas no Brasil, ascompanhias estrangeiras que exploravam o minério deferro no Quadrilátero Ferrífero, passaram por umprocesso de nacionalização.

Em 1946, por ordem constitucional, amineração em território brasileiro foi reaberta àparticipação de capital estrangeiro, em 1988 foramrestabelecidas as restrições e, finalmente, em 1995, osimpedimentos ao capital externo foram novamentesuprimidos. Hoje o Quadrilátero Ferrífero é responsável

por cerca de 60% do minério de ferro exportado peloBrasil que, em 2011, atingiu a marca de 331 milhões detoneladas de uma produção da ordem de 390 milhões.De acordo com a Secretaria do Comércio Exterior - SECEX,do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e doComércio Exterior, em 2011, o minério de ferropermaneceu liderando a pauta das exportaçõesnacionais. A Companhia Vale do Rio Doce é,destacadamente ,a principal exportadora brasileira deminério de ferro, com 79% do total das exportações(Sinferbase 2011).

Existem ainda no Quadrilátero Ferríferoocorrências de urânio, prata, arsênio, enxofre, bário,topázio imperial, talco, serpentina, agalmatolito,calcário, dolomito, quartzo, caulim, grafita, rochasornamentais, areia, argilas, entre outras.

As rochas que afloram no Quadrilátero Ferríferodatam do Arqueano e Paleoproterozoico que,juntamente com o Hadeano (intervalo que marca osprimórdios de formação do planeta), ocupam cerca de8/10 da história da evolução da Terra. Nesta época a Terraesteve submetida a diversos eventos como vulcanismo,tectonismo, mudanças na atmosfera, hidrosfera, biosferae nos sistemas de sedimentação. Registros desteseventos estão preservados nos diferentes conjuntos derocha do Quadri látero Ferrífero: complexosmetamórficos de rochas cristalinas arqueanas;sequências do tipo greenstone belts arqueanarepresentada pelo Supergrupo Rio das Velhas es e q u ê n c i a s m e t a s s e d i m e n t a r e s p a l e o emesoproterozoicas representadas pelo SupergrupoMinas, Grupo Sabará e Grupo Itacolomi. Assim, paraapresentação desse patrimônio geológico foramselecionados sítios de diferentes unidades geológicascom base nas descrições de Ruchkys et al. (2006);Ruchkys (2007); Ruchkys (2009); Ruchkys et al. (2009) eRuchkys et al. (2012).

5.1. GNAISSE DE CACHOEIRA DO CAMPO

É um sítio de interesse regional do ponto devista científico e educativo e está localizado no distrito deCachoeira do Campo. O embasamento cristalino granito-gnáissico-migmatítico de composição tonalito-trondhjemito-granodiorito (TTG) corresponde às rochasmais antigas do Quadrilátero Ferrífero, sendo a base detodas as unidades geológicas desta região. Os gnaisses decomposição TTG, juntamente com sequências do tipogreenstone belt, são os constituintes mais característicosdos crátons arqueanos. As primeiras crostas continentaisda Terra e os primeiros núcleos protocratônicos quecomeçaram a se formar em quatro bilhões de anos eramcompostos por gnaisses desse tipo. No Quadrilátero

5. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO QUADRILÁTERO

FERRÍFERO

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Ferrífero o embasamento cristalino é dividido emcomplexos que recebem denominações locaisdiferentes: Complexo Bação; Complexo Bonfim;Complexo Belo Horizonte; Complexo Caeté; ComplexoSanta Bárbara. O sítio do gnaisse de Cachoeira do Campo(Figura 3) encontra-se no Complexo Bação.

5.3. META-ARENITOS DA SERRA DO ANDAIME

Sítio de interesse regional do ponto de vistacientífico e educativo. Este sítio está localizado nomunicípio de Itabirito na Serra do Andaime e estárelacionado ao Grupo Maquiné e o Supergrupo Rio dasVelhas. Os meta-arenitos da Serra do Andaime sãointerpretados por Pedreira (1995) e Baltazar & Pedreira(2000) como uma associação litorânea originados emambiente marinho raso no Arqueano, sendo, portanto, oregistro de uma das primeiras praias do Brasil. Osafloramentos indicam as litofácies desse ambiente: águarasa com influência de maré e dunas costeiras (Figura 5).

Figura 3 – Visão geral do gnaisse de Cachoeira do Campo noComplexo Bação. Fonte: acervo CPRM

5.2. METAVULCÂNICAS DO SUPERGRUPO RIO DASVELHAS

É um sítio de interesse regional do ponto devista científico e educativo. Trata-se de rochametaultramáfica serpentinizada e xistificada da base doSupergrupo Rio das Velhas, representado por sucessõessedimentares e de rochas vulcânicas depositadas noQuadrilátero Ferrífero entre 2800-2700 Ma que contémimportantes depósitos de ouro (Figura 4). Odesenvolvimento do Supergrupo Rio das Velhascaracterizou um evento de crescimento da crostacontinental formando uma plataforma relativamentegrande.

Figura 4 – Afloramento de rocha metaultramáficaserpentinizada da base do Supergrupo Rio das Velhas. Fonte:Dionisio Tadeu de Azevedo

Figura 5 – Detalhe de marcas de onda nos meta-arenitos daSerra do Andaime. Fonte: Dionisio Tadeu de Azevedo.

5.4. QUARTZITOS E CONGLOMERADO BASAL DAFORMAÇÃO MOEDA – SERRA DA MOEDA

Sítio de interesse nacional do ponto de vistacientífico, educativo, estético, cultural e turístico. O sítioestá localizado na Serra da Moeda, cerca de 20 km ao sulde Belo Horizonte. Em um contexto de relativaquiescência global e existência de uma plataformaarqueana recém-consolidada, foi implantada a proto-bacia Minas com sedimentação inicialmente continentale posteriormente marinha. O Supergrupo Minascomeçou a se depositar em aproximadamente 2500Ma,ao longo de uma bacia de margem passiva desenvolvidana plataforma continental preexistente. O primeiroregistro da abertura dessa bacia é marcado pelosmetaconglomerados auríferos e uraniníferos que seencontram na parte basal da Formação Moeda. Asequência é constituída ainda por quartzito que sustentaa Serra da Moeda (Figura 6).

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5.5. SANTUÁRIO DA SERRA DO CARAÇA

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, educativo, estético, cultural, religioso,histórico e turístico, reconhecido pelo SIGEP comopatrimônio geológico do Brasil. Serra do Caraça é o nomegenérico para um conjunto de montanhas que abriga asmaiores altitudes do Quadrilátero Ferrífero, com Pico doSol atingindo 2.072 metros de altitude (Figura 7). Écomposta essencialmente por quartzitos da FormaçãoMoeda do Grupo Caraça, com ocorrência de cavernasentre as quais se destaca a Gruta do Centenário, a maiordo mundo nesta litologia. Seus condutos formam umarede labiríntica quadrática atingindo 481m de desnível e3.790 m de projeção horizontal (4.700m dedesenvolvimento linear). Hoje, o Caraça é uma ReservaParticular do Patrimônio Natural (RPPN).

Figura 6 – Afloramento de quartzito da Formação Moeda naserra homônima.

Figura 7 – Vista geral da Serra do Caraça. Foto: Dionisio Tadeude Azevedo.

5.6. SERRA DA PIEDADE

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, educativo, estético, cultural, religioso,histórico e turístico. Com expressivos afloramentos deBIF's (Banded Iron Formation) regionalmente conhecidascomo itabiritos (Figura 8), a Serra da Piedade foireconhecida pelo SIGEP como patrimônio geológico epaleontológico do Brasil, descrita por Ruchkys et al.(2009). Além da importância geoecológica paracompreensão dos fenômenos que levaram à evolução davida dos oceanos e da atmosfera no Pré-Cambriano, ositabiritos apresentam grande importância econômica.No Quadrilátero Ferrífero, há várias minas de ferrohospedadas dentro de formações ferríferas bandadasonde a lixiviação de minerais de ganga (principalmentequartzo e dolomita) promoveu o enriquecimentoresidual de ferro na rocha.

Figura 8 – Afloramento de itabirito dobrado na Serra dapiedade. Foto: Dionisio Tadeu de Azevedo.

5.7. SERRA DO CURRAL

Sítio de interesse nacional do ponto de vistacientífico, educativo, estético, cultural, histórico eturístico. A serra do Curral corresponde a um homoclinal,cujo eixo se orienta, em linhas gerais, de NE para SW,constituindo o limite norte do Quadrilátero Ferrífero.Afloram na Serra do Curral parte da seqüênciametassedimentar do Supergrupo Minas: grupos Caraça,Itabira e Piracicaba. Essas unidades apresentam inversãoestratigráfica ocasionada pela tectônica e caracterizamuma diversidade litoestrutural e morfológica e um relevoacidentado. A Serra do Curral tem seu nome associado aoantigo Curral Del Rey, arraial que se desenvolveu em suabase e que daria lugar a atual cidade Belo Horizonte.

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5.8. SINCLINAL DO GANDARELA

Sítio de interesse regional do ponto de vistacientífico e educativo. Caracterizado pela ocorrência decarbonatos, um dos indícios da mudança paleoambiental- a dissolução dos gases atmosféricos nas águas conduz àformação do ácido carbônico (H CO ) que é fixado sob a

forma de carbonato de cálcio ou de magnésio (Figura 9).2 3

Figura 9 – Visão geral de afloramento de mármore da FormaçãoGandarela. Foto: Úrsula Ruchkys.

5.9. PEDREIRA DO CUMBI

Sítio de interesse regional do ponto de vistacientífico e educativo. Carbonato rico em estruturassedimentares resultantes da atividade de cianobactérias– os estromatólitos (Figura 10). Os estramatólitos pré-cambrianos, além de ser a evidência indireta mais antigade vida, constituem um importante registro demudanças climáticas, paleogeográficas e ambientais.

Figura 10 – Detalhe dos estromatólitos preservados na Pedreirado Cumbi. Foto: Dionisio Tadeu de Azevedo.

5.10. PICO DO ITACOLOMI

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, educativo, estético, cultural, religioso,histórico e turístico (Figura 11). O Grupo Itacolomi temsua importância global associada ao registro do cicloorogênico no Quadrilátero Ferrífero, fase extencional doEvento Transamazônico. Representa uma deposiçãotípica de ambiente fluvial entrelaçado e leques aluviaisem bacias intermontanas estreitas. Os leques aluviais sãofeições deposicionais que ocorrem tipicamenteadjacentes às áreas montanhosas.

Figura 11 – Vista geral do pico do Itacolomi a partir da cidade deOuro Preto. Foto: Dionisio Tadeu de Azevedo.

5.11. SERRA DE OURO BRANCO

Sítio de interesse regional do ponto de vistacientífico, educativo, estético, cultural, histórico eturístico, tendo sido tombada pelo Instituto Estadual doPatrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA.A Serra de Ouro Branco, a exemplo do Pico do Itacolomi,tem sua importância associada ao ciclo orogênico. Aevolução do QF proporcionou uma estruturação dômicamarcada por diversos sinclinais e anticlinais distribuídospelos compartimentos que o constituem tornandopossível a observação, em campo, de contrastes muitobruscos na topografia, principalmente em trechos ondem o v i m e nto s te c tô n i co s p ro vo ca ra m fo r te sdesnivelamentos. A Serra de Ouro Branco permite oentendimento desta relação entre as cotas altimétricas eas características litológicas e estruturais da região assimcomo disponibiliza excepcionais afloramentos dequartzitos do Grupo Itacolomi. É um marco paisagísticoque materializa o limite meridional do QF no sentido W-E,tendo sido descrito sob o nome de Serra do Deus-Te-Livre, invariavelmente, por todos os naturalistasestrangeiros que estiveram na região nos três primeirosquartéis do século XIX (Figura 12). É formada por umparedão com cerca de 20 km de extensão, tendo em seutopo um planalto cuja altitude varia entre 1.250 e 1.568metros. Possui belos mirantes e muitas cachoeiras.

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5.12. SÍTIO PALEONTOLÓGICO DE FONSECA

Sítio de interesse nacional do ponto de vistacientífico. A bacia de Fonseca, descrita por Mello et al.(2002), foi reconhecida pelo SIGEP como patrimôniogeológico e paleontológico do Brasil. Constitui umclássico exemplo de sedimentos paleógenos, tendodespertado o interesse de vários pesquisadores, desde asegunda metade do século passado, por conterdepósitos de “canga”, linhito e sedimentos fossilíferos. Oregistro fossilífero da Formação Fonseca é caracterizadopor uma grande variedade de famílias de Angiospermas,sendo as famílias Melastomataceae e Mimosaceae asmais abundantes. O fóssil mais notável pertence àFamília Bombacaea – uma flor, relativamente bemconservada, apresentando a impressão das pétalas eandroceu (órgão reprodutor masculino).

5.13. SERRA DO ROLA MOÇA

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, educativo, estético, cultural, histórico eturístico. O Parque Estadual da Serra do Rola Moçaapresenta boas exposições de carapaça lateríticaferruginosa, regionalmente conhecida como canga, cujaformação se deve ao processo de intemperismo doitabirito (Figura 13). Os processos de laterização e aconseqüente formação de canga são relativamenterecentes, estando comumente relacionados a processosde aplainamento do relevo gerados pela atuação deprocessos erosivos. No caso das cangas do QuadriláteroFerrífero, vários autores associam a formação de lateritasao desenvolvimento da superfície de aplainamento Sul-Americana, considerada Paleógena por King (1956).

Figura 12 – Vista geral da Serra de Ouro Branco suportada porquartzitos do Grupo Itacolomi. Foto: Maria Márcia MagelaMachado. Figura 13 – Exposição de canga na Serra do Rola Moça. Foto:

Dionisio Tadeu de Azevedo.

6. PATRIMÔNIO MINEIRO DO QUADRILÁTERO

FERRÍFERO

Com cerca de trezentos anos de atividadeextrativa mineral contínua, o Quadrilátero Ferríferopossui um importante espólio mineiro advindoprincipalmente da exploração do ouro e do ferro. Amineração deixou também um importante legadopatrimonial imaterial ligado à identidade e a memóriadas populações mineras. Parte do patrimônio mineirodo QF é descrito a seguir, com base em Ruchkys etal.(2006); Ruchkys (2007); Ruchkys (2009) e Ruchkys etal. (2012) e Machado (2009), a partir de sítiosrepresentativos de diferentes períodos da história damineração.

6.1. RUÍNAS DA CASA DE FUNDIÇÃO CLANDESTINA DEOURO

Sítio de interesse regional do ponto de vistahistórico, educativo e turístico. O sítio da falsa casa defundição do Paraopeba é de extrema importância parahistória da mineração, sendo um exemplo dosdescaminhos do ouro no Período Colonial. A fundiçãoclandestina de ouro é um exemplo das múltiplas táticasde fraude desenvolvidas no Período Colonial,principalmente no período do estabelecimento dasprimeiras Casas de Fundição oficiais entre 1724 e 1735.Montada por Inácio de Souza Ferreira, juntamente comManuel Francisco e outros cúmplices, em um sítioestratégicamente posicionado, esta fundição cladestinaproduzia barras de ouro e moedas com cunhos legítimos,furtados das casas de fundição e dados como inutilizados(Figura 14).

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Figura 14 – Ruínas da casa de fundição clandestina no vale doParaopeba. Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.

6.2. FÁBRICA PATRIÓTICA

Sítio de interesse nacional do ponto de vistahistórico, científico e educativo. Assim como amineração, a siderurgia também marca a vocação daregião do Quadrilátero Ferrífero.

O ferro era produzido no Brasil, desde o início dacolonização, em pequenas forjas que produziam pormétodos primitivos e, quase que exclusivamente, porforça braçal.

Com a necessidade de suprir as demandas damineração um decreto baixado em 1801 revogou oAlvará de 1785 que proibia a existência de fábricas nacolônia, liberando a fabricação de ferro em escalaindustrial. Entretanto, o impulso para criação de fábricasde ferro só veio em 1808 com a elevação do Brasil a sededo Reino. A “Fábrica Patriótica”, instalada pelo alemãoBarão de Eschwege em Congonhas do Campo, produziuferro pela primeira vez em 12 de dezembro de 1812 efuncionou até por volta de 1822. Foi o primeiroestabelecimento a produzir ferro em escala industrial noBrasil. O conjunto das ruínas da Fábrica Patriótica épreservado pelo IPHAN como testemunho histórico daindústria siderúrgica do Brasil (Figura 15).

Figura 15 – Ruínas da Fábrica Patriótica. Foto: Úrsula Ruchkysde Azevedo.

6.3. MINA DE MORRO VELHO

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, educativo, cultural, histórico e turístico.Em Morro Velho, antiga freguesia de Nossa Senhora doPilar de Congonhas (hoje Nova Lima), a exploração doouro remonta ao período colonial, tendo se iniciado porvolta de 1725. A mina, ao longo de sua existência,experimentou a evolução nas técnicas de mineração doouro e foi nos anos 1920 a mina mais profunda do mundoe a mais produtiva do Brasil tornando-se um referencialpara a história da mineração. A mina foi paralisada emoutubro de 2003 e está atualmente no processo dedescomissionamento. A administração mantém, desde1994, o Centro de Memória Morro Velho, aberto aopúblico, onde é resgatada a história da mineração doséculo XIX com grande acervo de peças e documentoshistóricos.

6.4. HONÓRIO BICALHO

Sítio de interesse regional do ponto de vistaeducativo, cultural e histórico. A descoberta do ouro noRio das Velhas e no Ribeirão de Macacos levou aodesenvolvimento de Honório Bicalho, atual distrito deNova Lima. A localidade experimentou grandeprosperidade até fins dos 1700, quando a fadiga damineração do ouro, impôs à região uma decadência quesó começou a ser revertida depois de praticamente umséculo com a entrada de capital estrangeiro. Depois dastentativas fracassadas de exploração por parte da Societéde Mines D'or de Faria, de capital francês, e da inglesaFaria Gold Mining Company of Brazil Limited, em 1908 aempresa inglesa Saint Jonh Del Rey Mining Companyadquiriu o espólio da mina do Faria, filão mais rico, e aregião voltou a se desenvolver (Figura 16). A localidadepassou a ser conhecida pelo nome da estação ferrroviária– Honório Bicalho, inaugurada em 1890, assim batizadaem homenagem ao engenheiro responsável pelaconstrução do trecho.

Figura 16 – Entrada da mina de ouro do Faria atualmentedesativa em Honório Bicalho. Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.

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6.5. MORRO DA QUEIMADA

Sítio de interesse nacional do ponto de vistahistórico, científico e turístico, onde são encontradosconstruções e galerias de minas relacionadas à extraçãode ouro. O Morro da Queimada abrigou um dosprimeiros núcleos populacionais de Vila Rica, hoje cidadede Ouro Preto. Passou a ser chamado de Morro daQueimada após ser incendiado a mando do entãogovernador, Conde de Assumar, em represália à revoltaliderada por Felipe dos Santos contra a proibição decirculação de ouro em pó e a criação das casas defundição para arrecadação do quinto do ouro em 1720.Hoje, a região do Morro da Queimada está sendotransformada em um parque arqueológico, sendoresponsável por essa iniciativa o Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional – IPHAN.

6.6. MINA DE CHICO REI

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, educativo, cultural, histórico e turístico. AMina de Chico Rei é uma escavação artesanalsubterrânea que se estende sob a cidade de Ouro Pretopor aproximadamente 11.500 metros, distribuídos emvários níveis (Figura 17). Seus primeiros 50 metros, queseguem até o chamado salão de cristais, um átrio a partirdo qual sai um tunel mais elevado, estão iluminados eabertos à visitação turística. O nome tem origem nahistória de Chico Rei, personagem real que segundo atradição oral, foi trazido do Congo como escravo etrabalhou na exploração do ouro até comprar sua cartade alforria e, depois, sua própria mina. Atualmente amina está sendo mapeada por estudantes de geologia.

Figura 17 – Entrada da mina de Chico Rei aberta a visitação.Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.

6.7. MINA DE PASSAGEM

Sítio de interesse nacional do ponto de vistacientífico, educativo, cultural, histórico e turístico. Entre1729 e 1819, vários mineiros obtiveram concessões paraexplorar a propriedade mineral de Passagem até que, em1819, ela foi adquirida, junto com algumas concessõesvizinhas, pelo Barão de Eschwege que criou a primeiracompanhia mineradora do País de capital privado, com onome de Sociedade Mineralógica da Passagem.Eschwege modernizou o processo de lavagem ebeneficiamento do minério aurífero com a instalação deum engenho com nove pilões e moinhos para pedras, atéentão desconhecidos no Brasil e estabeleceu o primeiroplano de lavra subterrânea. A Mina da Passagem,atualmente desativada, pertence à Companhia de Minasde Passagem - CMP e está aberta a visitação. A descidapara as galerias subterrâneas se faz de através de umtrolley, em um plano inclinado que chega a 315m deextensão e 120m de profundidade (Figura 18).

Figura 18 – Entrada da mina da Passagem. Foto: Dionisio Tadeude Azevedo.

6.8. MINA DE GONGO SOCO

Sítio de interesse nacional do ponto de vistaeducativo, cultural, histórico e turístico. No século XIX aMina de Gongo Soco viveu seu apogeu com a mineraçãoaurífera subterrânea, mecanizada e industrializada. Amina foi explorada por ingleses da Cornuália, entre 1826a 1856, que lá criaram uma autêntica vila inglesa, comhospital, capela e cemitério particular (IEPHA, 1995). Asruínas, tombadas pelo IEPHA/MG em 1995, estãolocalizadas no município de Barão de Cocais, a 76quilômetros de Belo Horizonte. Com a escassez do ricomineral, a mina ficou paralizada durante muito tempo e,em 1986, a extração do ouro foi substituída pela do ferro,atividade ainda existente no local (Figura 19).

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Figura 19 – Ruínas da mina de Gongo Soco. Foto: Acervo CPRM.

6.9. CAPÃO DO LANA

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, turístico e histórico. No Brasil, o topázioamarelo foi descoberto por volta de 1760 na região deOuro Preto, provavelmente em aluviões lavados embusca de ouro. A descoberta de topázios no morro daSaramenha, em 1772, atraiu grande número de mineirospara o local. No século XIX as viagens científicasrealizadas por naturalistas europeus no sudestebrasileiro incluiam, invariavelmente, as minas de topázionos arredores de Ouro Preto, em função do interesse quedespertavam. As lavras de topázio do Capão do Lana, naregião de Rodrigo Silva, são objeto de observaçõesgeológicas no relato da viagem por Minas Gerais, em1818, de Spix e Martius e também de Francis de la Porte,o Conde de Castelnau, que lá esteve em 1843 (Machado2009). A Topázio Imperial Mineração iniciou suaoperação em Capão do Lana em 1971, chegando aempregar 80 pessoas. Realizou levantamentosgeológicos e pesquisas de seu subsolo, cumprindo todosos requisitos legais. Opera de acordo com planos de lavraaprovados, acompanhados e fiscalizados pelos órgãosoficiais de mineração (Figura 20). Atualmente, com ritmomodesto de produção continua a abastecer grandesindústrias joalheiras.

Figura 20 – Vista geral da mina de Capão do Lana. Foto: MariaMárcia Magela Machado.

6.10. PONTE DO BIQUINHA

Sítio de interesse nacional do ponto de vistacultural, histórico e turístico. Para evitar o descaminho doouro entre as minas e o Rio de Janeiro, o governoportuguês determinou que apenas o Caminho Velho e,depois, o Caminho Novo, aberto como alternativa paraevitar a rota marítima entre Paraty e o Rio de Janeiro,poderiam ser utilizados para transporte desse bem. Estescaminhos oficiais receberam o nome de Estrada Real. Notrecho Ouro Branco - Ouro Preto existem ainda váriosvestígios arqueológicos como pontes, bueiros, galeriasfluviais e pluviais, contenções, muros de arrimo e restosde piso e é um dos trechos originais mais bempreservados da Estrada Real em Minas Gerais. A Ponte doBiquinha é um destes remanescentes, feita em pedra decantaria, arco pleno ou romano e parapeitos incompletosdo século XIX (Figura 21).

Figura 21 – Vista da ponte do Biquinha em trecho preservado daEstrada Real. Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.

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6.11. FAZENDA PÉ DO MORRO

A Fazenda Pé do Morro foi construída no séculoXVIII, com todas as paredes em pedras, nas proximidadesda Serra de Ouro Branco, daí o seu nome. Serviu comohospedagem para visitantes, atividade que, com otempo, parece ter ganhado muito importância. Emmeados do século XIX teve um acréscimo de pau a piquee sofreu algumas modificações (Figura 22). A origem dafazenda está relacionada à necessidade deabastecimento das sociedades fundadas na baseeconômica da mineração que se preocuparam muitopouco com a produção de gêneros alimentícios, fato queresultou em várias crises de abastecimento durante ociclo do ouro. Atualmente é tombada pelo PatrimônioHistórico e funciona como Hotel Fazenda sendo umexemplo vivo de uma imensa riqueza histórica.

Figura 22 – Vista da Fazenda Pé do Morro. Foto: Úrsula Ruchkysde Azevedo.

6.12. BICAME DE PEDRAS

O Bicame de Pedra foi construído em 1792 porManoel Ferreira Pinto para fornecimento de água paramina de ouro na Serra de Boa Vista. Constitui atraçãoturística da Estrada Real e oferece uma linda vista doCaraça. O muro tem 4 metros de altura com portal emforma de arco romano sobre o qual a água era conduzidapara ser utilizada na lavagem de cascalho para lavra deouro nos séculos XVIII e XIX. Sua construção custou umaarroba (cerca de 15 Kg) de ouro (Figura 23).

Figura 23 – Aqueduto Bicame de Pedra exibindo portal em arcoromano. Foto: Acervo CPRM.

6.13. PICO DE ITABIRITO

Sítio de interesse internacional do ponto devista científico, educativo, estético, cultural, histórico eturístico. Trata-se de um corpo verticalizado de minériode ferro compacto, constituído de óxidos de ferro(hematita e magnetita), de origem hidrotermal, formadodurante o evento termotectônico denominadoTransamazônico, de idade paleoproterozóica e estáinserido na Formação Cauê, Grupo Itabira do SupergrupoMinas (Rosière et al. 2005). O Pico de Itabirito é umareferência histórica e geográfica. Localizado junto àrodovia que liga Belo Horizonte a Ouro Preto, na borda doSinclinal Moeda, serviu como marco geográfico para osbandeirantes e exploradores do território mineiro nosséculo XVI e XVII e para os naturalistas viajantes no séculoXVIII (Figura 24).

Figura 24 – Vista geral do Pico de Itabirito. Foto: Dionisio Tadeude Azevedo.

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7. EXEMPLOS E PROPOSTAS DE VALORIZAÇÃO

PATRIMONIAL NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO

O Quadrilátero Ferrífero já foi e é alvo deprojetos e propostas de valorização de seu patrimôniogeológico e mineiro, sendo neste artigo apresentadas,como exemplos, seis destas propostas: 1) Valorização porpercursos geoturísticos-culturais, proposto por Ruchkyset al. (2006); 2) Criação de um Geopark a ser integrado naGGN/UNESCO proposto por Ruchkys (2007); 3) Excursãovirtual pelo Quadrilátero Ferrífero, proposto pela CPRM(2007); 4) Descomissionamento da Mina de Gongo Soco,proposto por Neto (2008); 5) Painéis interpretativos desítios geológicos em um projeto conjunto desenvolvido,em 2012, pela CPRM/UFMG; 6) Valorização pelogeoturismo do Parque Estadual do Itacolomi, propostopor Ostanello (2012).

Ruchkys et al. (2006) propõem a valorizaçãopatrimonial do Quadrilátero Ferrífero por meio de trêspercursos geoturísticos apresentando quatorze pontosde interesse que contemplam os diferentes aspectos quecaracterizam esta que é uma das regiões geologicamentee historicamente mais importantes de Minas Gerais. Adefinição dos percursos geoturísticos buscou organizar eintegrar as potencialidades do Quadrilátero Ferrífero. Ospercursos auxiliam na organização de segmentosespecíficos, para atender às demandas tambémespecíficas.

Ruchkys (2007) mostra o potencial doQuadrilátero Ferrífero para a criação de um geoparque, apartir da análise dos critérios operacionais da UNESCOpara reconhecimento de áreas como geoparquesdescritos no documento Operational Guideline forNational Geoparks seeking UNESCO´s assistance. Paraisso faz uma seleção de sítios geológicos do QuadriláteroFerrífero representativos de sua história geoecológica eda história da mineração. A seleção desses sítios estábaseada em critérios internacionais e sua descriçãosegue a recomendação da UNESCO e do SIGEP. Com basenessas recomendações os sítios são descritos mostrandosua importância em termos globais e/ou regionais e sãopropostas medidas de proteção. A análise dos sítios e doscritérios da UNESCO mostra que a idéia de criação de umgeoparque reconhecido pela UNESCO pode ser aplicadaao Quadrilátero Ferrífero, constituindo um instrumentode divulgação e conservação de um exemplo significativodo patrimônio geológico pré-cambriano da Terra e dopatrimônio associado à história da mineração do Brasil.

A CPRM disponibilizou em 2007 no sitehttp://www.cprm.gov.br/estrada_real/ o Projeto“Excursão Virtual pela Estrada Real no QuadriláteroFerrífero. Aspectos geológicos, históricos e turísticos”. Oprojeto teve como objetivo proporcionar a sinergia doconhecimento geocientífico com a história, a economia,a sociologia e o turismo de uma região que surgiu para opaís como o berço da própria cidadania nacional desdemeados do século XVII. A excursão apresenta um mapa

do roteiro com a descrição de pontos de interessegeológico e cultural.

Neto (2008) com base em uma avaliaçãomínero-geoambiental apresenta como uma dasalternativas de plano de fechamento para a mina deGongo Soco (cuja expansão está projetada para até 2014)uma valorização para uso exclusivo voltado àconservação. Neste contexto o autor sugere a criação deuma unidade de conservação com vistas à implantaçãode estrutura de pesquisa, divulgação, visitação eeducação. Para esta valorização Neto (2008) salienta aimportância do resgate do passado e a apropriação dahistória local pelas antigas e atuais comunidadesmineras. Tais proposições poderiam contribuir para odesenvolvimento local, por meio de projetos deconservação, restauro e uso turístico e educativo deantigas minas e demais elementos do patrimôniomineiro, a exemplo do que ocorre em muitas regiõesmineiras de diversos países.

Sobre o geoturismo merece destaque o Projetode Sinalização Interpretativa financiado pelo ServiçoGeológico do Brasil (CPRM) em parceira com aUniversidade Federal de Minas Gerais e executado peloInstituto Terra Brasilis. O projeto teve como principalobjetivo elaborar e instalar placas com informaçõesgeológicas em sítios do Quadrilátero Ferrífero comlinguagem acessível, aproximando o cidadão comum deseu patr imônio geológico e promovendo ageoconservação. Na primeira etapa do projeto os sítioscontemplados foram: Serra do Rola Moça, Serra daPiedade, Serra do Curral, Gnaisse de Cachoeira do Campoe Pico do Itacolomi. Além de focar a geologia específicade cada sítio geológico as placas também trazem umainformação geral sobre a evolução geológica doQuadrilátero Ferrífero.

Ostanello (2012) faz um reconhecimento edescrição de feições geológicas localizadas ao longo detrilhas do Parque Estadual do Itacolomi e demonstra suapotencialidade geoturística. Como contribuições dapesquisa, foram feitas considerações sobre a inclusão dogeoturismo às ações de uso público do Parque. A autorasugere também a inserção dos resultados de suapesquisa no contexto do Geopark Aspirante QuadriláteroFerrífero, contribuindo com seus objetivos de divulgaçãoda geologia e desenvolvimento social.

O Quadrilátero Ferrífero é uma provínciamineral rica em geossítios e lugares mineiros. Oesgotamento dos recursos e consequente encerramentoda atividade extrativa no Quadrilátero Ferrífero podemlevar a um processo de declínio social, desertificaçãohumana, degradação patrimonial e ambiental como jáocorrido em outras fases da história da mineração nestemesmo território e há muitos exemplos em outroslugares. Neste contexto, propostas associadas à

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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valorização do patrimônio geológico e mineiro devem serdesenvolvidas e fomentadas tais como a constituição decircuitos geo-mineiros que valorizam o território comoherdeiro de uma história extrativa secular e quepromovam as geociências junto ao grande público.Salienta-se ainda que valores patrimoniais na interfaceentre a geologia e a mineração, cujas atividades sedesenvolvem na região desde o ciclo do ouro no Brasilcolonial, devem ser também valorizados incluindo o

patrimônio imaterial associado. Alguns projetos epropostas já vêm sendo desenvolvidos com este fim e nosúltimos anos tem avançado com o inventário dopatrimônio geológico e mineiro. No entanto, éimportante um levantamento ainda mais detalhado nãosomente em nível de território - Quadrilátero Ferrífero,mas incluindo um inventário do patrimônio geológico emineiro de cada município.

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Submetido em abril de 2013

Aceito em junho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Consideraciones sobre el patrimonio minero desde la

perspectiva de un servicio geológico nacional

Mining heritage considerations from the standpoint of a national geological survey

CARMEN MARCHÁN, ALEJANDRO SÁNCHEZ.

Instituto Geológico y Minero de España (IGME) - [email protected] - [email protected]

Resumen

Se examina el concepto de patrimonio minero como materia de estudio para diversas especialidades de la arqueología, la historia y laetnografía. Se hace una sucinta revisión de los elementos constitutivos de este patrimonio y su posible puesta en valor, con finescientíficos, didácticos y turísticos. Por otro lado, se analiza la importancia de la labor de apoyo que pueden brindar los servicios geológicosnacionales, a la variada gama de entidades comprometidas en la preservación de dicho patrimonio. Se exponen algunas ideas y dosmanuales sobre métodos de identificación y valoración de sus posibles elementos constitutivos. Finalmente, se revisan las principalesorganizaciones internacionales, de ámbitos diversos, que contemplan entre sus cometidos la protección del patrimonio minero.

Palabras clave: Organismos internacionales; patrimonio minero; servicios geológicos; valoración; valorización.

Abstract

We examine the concept of mining heritage from the archaeological, historical and ethnographic point of view. We also make a briefreview of the elements which constitute this patrimony and their potential assessment, for scientific, educational or tourist purposes.Moreover, we look at the support provided by national geological surveys to the varied range of organizations involved in the preservationof mining heritage. Several ideas and two manuals about identification methods, analysis and assessment of potential mining heritagesites are also explained. Lastly, we review the main international organizations from several fields, which include mining heritageprotection as one of their scopes.

Key words: Assessment; geological surveys, international organizations; mining heritage; valuation.

1. INTRODUCCIÓN

1.1. Definición

1.2. Valor histórico y social

El concepto de patrimonio histórico minerocomprende a todos los vestigios de las actividadesmineras del pasado, reciente o lejano, a las que un gruposocial atribuye valores históricos, culturales o sociales(Puche Riart et al. 1994). Es decir, puede tratarse tanto deestructuras muebles e inmuebles, como de objetos,documentos y elementos inmateriales. De esteenunciado tan generalista se deduce que los elementosconstitutivos del patrimonio minero pueden formarparte del patrimonio histórico, arqueológico, industrial,paisajístico cultural, etnográfico o incluso geológico y porlo tanto pueden ser objeto de estudio para laarqueología, la historia de la tecnología, la historiaeconómica y la historia social (Sánchez, 2011).

En la segunda mitad del siglo XIX, cuando losavances tecnológicos aportados por la primerarevolución industrial permitieron la intensificación y

profundización de las explotaciones, se despertó elinterés por los restos de utensilios y artefactos, de edadincierta, descubiertos a medida que se recuperabanlabores antiguas y que se incorporaban a las coleccionesmuseísticas, puesto que en aquella época la geología, laarqueología y la prehistoria se consideraban disciplinascientíficas muy afines.

Hasta los años 60 del siglo XX la noción depatrimonio histórico minero aludía a los restos de lasexplotaciones mineras de los periodos preindustrial yprotoindustrial, es decir anteriores a la primerarevolución industrial, y se circunscribía casiexclusivamente al campo de la arqueología (Figura 1).Conviene recordar que la primera revolución industrialaportó a la minería la máquina de vapor y otros ingenioscomplementarios que facilitaron enormemente, entreotras, las tareas del desagüe y del transporte y al mismotiempo las instalaciones se volvieron más complejas. Deesta manera el patrimonio minero pasa a ser consideradocomo una subdivisión del patrimonio industrial(Guiollard, 2005).

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A partir de esos años se inició el desarrollo de laarqueología industrial, como una nueva especialidad dela historia, y del patrimonio industrial, como conceptoderivado (Parejo, 2010), en el que se abría la posibilidadde incluir aquellas explotaciones mineras de la épocacontemporánea, que reuniesen determinados valores.En las explotaciones mineras de largo recorrido histórico,los restos del periodo industrial se encuentranfrecuentemente superpuestos a los de etapas previas. Suvalor histórico, en este caso, puede proceder de la dobleconsideración de los vestigios arqueológicos y de losrestos calificables como patrimonio industrial (Figura 2).

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Figura 1 – Minas romanas de oro. Las Médulas (España).Patrimonio arqueológico.

Figura 2 – Minas de Río Tinto (España). Patrimonio industrialminero superpuesto.

En ámbitos regionales y locales, el patrimoniominero de época contemporánea significa la memoriafís ica de un pasado, y su recuperación, elrestablecimiento de los vínculos que existieron entre loshabitantes de la zona y los recursos minerales de susubsuelo.

Pero igualmente puede conllevar las opinionesnegativas respecto a la minería, como actividad industrialexplotadora de los trabajadores, contaminante delmedio ambiente y destructora del paisaje.

Tras el cierre y abandono de las explotacionesde un distrito minero, entre la población asentada sueleproducirse una toma de posiciones antagónicas:solamente los que allí trabajaron se sienten partícipes dela cultura minera y manifiestan un orgullo de claseprofesional y entre el resto de la población, por elcontrario, se incrementan las actitudes desfavorableshacia el pasado minero, considerándolo como algoominoso. Tras el transcurso de dos o más generaciones,las posiciones contrarias se matizan, por lo general, yrenace el interés por recuperar la memoria y los vestigiosde aquel pasado.

La explotación de las minas tiene algunaspeculiaridades respecto a otras ramas de la industria. Suubicación está condicionada por la del yacimientomineral y esto, aunque parezca una obviedad, determinael carácter autosuficiente de un buen número deinstalaciones mineras en regiones apartadas, sobre todoen el pasado, hasta tal punto que además de lasinstalaciones directamente relacionadas con el laboreo yel beneficio de los minerales, se les dota de un ampliopanel de instalaciones auxiliares, urbanizaciones,infraestructuras de transporte, plantas de energía,etcétera.

El propio desarrollo de la explotación comportauna evolución continua de los tajos, desde su aperturahasta el cierre definitivo, y la adaptación, modificación odestrucción de las instalaciones ante los avancestécnicos. Los yacimientos se explotan hasta suagotamiento o hasta su pérdida de rentabilidad,quedando las labores, instalaciones e infraestructurasabandonadas y arruinadas, y así ha sido al menos hasta ladenominada era ecológica.

El resultado es un heterogéneo conjunto deelementos susceptibles de constituir un legadopatrimonial de la minería (Pérez de Perceval Verde,2010), clasificables, tal y como se expone en laintroducción, en elementos inmuebles y muebles,documentos, herencia inmaterial y paisaje cultural.Veamos, de forma sucinta, los elementos que puedenincluirse en cada una de estas categorías:

En el patrimonio inmueble se incluyenhabitualmente instalaciones de grandes dimensionesque sin embargo, en determinadas circunstancias, sonsusceptibles de traslado y reubicación, como son lasestructuras metálicas, o de madera, para carga ytransporte (Figuras 3, 4, 5).

2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DEL PATRIMONIO

MINERO

2.1. Patrimonio inmueble

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Figura 3 – Corta Atalaya, minas de Río Tinto (España).

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Labores y obras, subterráneas y a cieloabierto.

Instalaciones y edificaciones para lasoperaciones de arranque, carga, transporte vertical ytransporte horizontal, en la plaza de la mina.

Figura 4 – Casa de máquinas tipo Cornish, mina Santa Catalina,Berlanga (Badajoz, España).

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Instalaciones y edificaciones para lageneración de energía.

Instalaciones mineralúrgicas, metalúrgicas ysiderúrgicas, plantas químicas y edificaciones anexas.

Edificios administrativos.

Urbanizaciones y edificaciones auxiliares decarácter social.

Escombreras y escoriales.

Infraestructuras, instalaciones y edificacionespara el transporte en la periferia de la plaza.

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Infraestructuras, instalaciones y edificacionespara la carga en la periferia de la plaza.

Infraestructuras hidráulicas.

Figura 5 – Hornos de reducción, Pontenova (Lugo, España).

2.2. Patrimonio mueble

La lista de los elementos muebles puede serinacabable y contener tanto a las máquinas específicasde las operaciones mineras como a otras de uso másextendido, herramientas manuales propias del trabajominero, sistemas de iluminación, sistemas de proteccióne incluso utensilios domésticos, documentosparticulares, fotografías y películas (Figuras 6, 7). Unelemento documental de características singulares loconstituyen los testigos de los sondeos, ordenados yclasificados.

Figura 6 – Máquina de vapor locomóvil, minas de Vilanova(Orense, España).

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Figura 7 – Teodolito. Museo Geominero. Instituto Geológico yMinero de España.

2.3. Archivos documentales

Por lo común se trata de documentos delperiodo industrial, porque los de épocas anteriores, siexistieran, deberían encontrarse en los archivoshistóricos nacionales. Constituyen la memoria de lascompañías y son un elemento esencial para el estudio dela historia de las explotaciones abandonadas y de laevolución de las cuencas y distritos (Pérez de PercevalVerde, 2010). Sin embargo, su fragilidad intrínseca,incluso durante las etapas de actividad de las empresas,los hace a menudo irrecuperables (Guiollard, 2005). Deordinario, la documentación se distribuye en tres ocuatro secciones, tales como: dirección, administración,técnica y comercial (Figura 8).

Figura 8 – Acción de la Compañía Minera de Linares. Archivohistórico de la Sociedad Minero Metalúrgica de Peñarroya(S.S.M.Peñarroya)-España (IGME).

2.4. Patrimonio inmaterial

Constituido por la superposición de elementossociales, económicos y culturales a lo largo de losdiversos periodos de actividad de las explotaciones.Igualmente, se incluyen la destreza en los diversos oficiospropios del sector minero y su adaptación a lasinnovaciones de la técnica y la memoria viva de la vidacotidiana y de la actividad laboral en los diversosestamentos de las compañías. Se puede hablar de unacultura minera como simbiosis de las actividadesmeramente productivas y de los usos, comportamientossociales y folclore aportados por la mano de obra de muydiversa procedencia, cultura que puede permanecer trasel abandono de las explotaciones e incluso serreivindicada por la población que ocupa actualmente losantiguos poblados mineros (Pérez de Perceval Verde,2010) (Figura 9).

Figura 9 – Barrenero en la mina Los Guindos, 1936 (Jaén,España).

2.5. Paisaje cultural minero

Según la Convención del Patrimonio Mundial dela UNESCO, el paisaje cultural refleja la influencia deldesarrollo de actividades humanas, de índole diversa,sobre un determinado territorio, interviniendo en élcomponentes naturales y culturales, tanto tangiblescomo intangibles (Figura 10). En nuestro caso, es elresultado de la interacción de las operaciones minerascon el medio natural y lo forman la combinación de loshuecos de las explotaciones, las escombreras, y otrosacopìos diversos, y los restos de las instalaciones, yconstrucciones, con las alteraciones morfológicas ygeoquímicas del terreno derivadas de las explotaciones.

Figura 10 – El Cerco, Peñarroya (Córdoba, España). Paisajecultural industrial y minero.

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Se trata del elemento patrimonial máscontrovertido, puesto que para los detractores de laminería es la constatación de la destrucción yperturbación del medio natural, provocadas por laexplotación «desmedida» de los recursos geológicos. Sinembargo, el paisaje minero puede comportar un valorintrínseco cultural (IGME, 2012) e incluso aportarimpactos positivos al medio, como el afloramiento deelementos del patrimonio geológico o la generación denuevos ecosistemas en los huecos de las explotaciones yen las instalaciones abandonadas.

La valorización, como puesta en valor oincremento de valor, del patrimonio minero es laconsecuencia del interés en recuperar el legado de lapasada actividad minera de una región, o de unalocalidad, promovido por iniciativas muy diversas y quesurgió inicialmente, a finales de los años sesenta delpasado siglo, en los países desarrollados con una fuertetradición minera.

Guiollard (2005) plantea cuatro cuestionesfundamentales, independientemente de la entidad quese proponga llevar a cabo esa tarea: ¿Por qué valorizar?,¿quién valoriza?, ¿con qué objetivos? y ¿con quémedios?.

Las actuaciones más habituales, con objetivoscientíficos, didácticos o turísticos, se traducen en lacreación de museos y archivos mineros, labores minerasinactivas visitables, parques mineros, paisajes culturales,espacios naturales con vestigios mineros, etcétera.

En situaciones de abandono reciente de lasexplotaciones, la valorización del patrimonio puedeconstituir una posible alternativa, con la creación deempleos directos y desarrollo turístico, para resolverproblemas de tipo socioeconómico, pero es fundamentalplanificar los proyectos teniendo presente lascaracterísticas de la población residente y susinquietudes sociales y económicas (Pérez de PercevalVerde, 2010).

La puesta en valor de una antigua explotaciónminera, o de un grupo de explotaciones, no puede seruna intervención aislada, sino un proyecto que precisadefinición y análisis para un plazo medio-largo, no sólopara evitar el fracaso económico, sino igualmente losdaños que pudieran ocasionarse a los vestigios que sepretendía proteger (Sánchez, 2011).

Entre las misiones que tienen encomendadas lamayor parte de los servicios geológicos nacionales, bienque adaptadas a las circunstancias de cada país, figuranlas de crear una infraestructura de conocimiento en elámbito de las ciencias y las tecnologías de la Tierra y

3. VALORIZACIÓN DEL PATRIMONIO MINERO

4. EL PATRIMONIO MINERO EN EL ÁMBITO DE LOS

SERVICIOS GEOLÓGICOS NACIONALES

prestar asistencia técnico-científica, e informar, en eseámbito, a las entidades públicas, privadas y a la sociedaden general. Por otra parte, los servicios geológicoscuentan con fondos documentales en los que estárecogida buena parte de la información generada en elestudio de los yacimientos minerales del territorionacional, por la propia administración estatal y por lostitulares de derechos mineros.

Los estudios sobre los vestigios mineros de losperiodos preindustrial y protoindustrial se enmarcan deforma mayoritaria, como ya hemos dicho, en el campo dela arqueología, constituyendo una especialización quedesde sus inicios ha sabido utilizar la informacióninfraestructural que, de ordinario, proporciona unservicio geológico. Por el contrario, las actuaciones parapreservar y valorizar el patrimonio minero industrialparten de iniciativas promovidas desde una gama muyamplia de entidades, desde asociaciones locales de lospropios habitantes de los distritos mineros, hastaorganismos de las diversas administraciones estatales,pasando por entidades culturales de ámbito diverso,incluso dentro del «amateurismo», y por último desde laspropias compañías mineras. Y salvo en ese último caso,por lo general se aprecia una exigüidad en las propuestasde los aspectos científicos y técnicos de la geología y laminería. Así, los datos históricos, sociales, tecnológicos oeconómicos se presentan desvinculados de lacaracterización del yacimiento, aun tratándose de unrecurso geológico sobre el que generaciones pasadasdesarrollaron una industria.

Por lo tanto, vemos la necesidad de contar con elapoyo de una institución técnica experta en lainvestigación, gestión y aprovechamiento de los recursosminerales y con amplios conocimientos sobre la geologíay la metalogenia del país, que desarrolle un programaencaminado a estudiar, inventariar y valorar elpatrimonio minero, a instancias tanto de lasadministraciones estatales como de otras entidades yasociaciones (Féraud et al., 2001). De esta manera seproporciona a la sociedad, en general, una informaciónde carácter infraestructural indispensable a la hora dellevar a cabo investigaciones científicas acerca del pasadoeconómico, social y tecnológico de un determinadodistrito minero, así como para cualquier tipo de programade actividades didácticas o turísticas relacionadas con elmedio natural.

Evidentemente, la colaboración de un serviciogeológico nacional no puede extenderse al estudio detodas las categorías de elementos patrimonialesexpuestas más arriba. Las competencias están muy clarasen el caso de los elementos inmuebles, una buena partede los muebles, los documentos y los componentesantrópicos del paisaje cultural minero.

Por otra parte , conviene inc id i r endeterminados aspectos de la protección de elementosdel legado minero en los que esta colaboración esfundamental: el rescate y la conservación de los archivos

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documentales, ante su abandono por parte de laspropias compañías, y la preservación ocasional, porrepresentar algún valor científico, didáctico o turístico,de labores mineras abandonadas frente a lasdisposiciones legales de seguridad minera, queobligarían a su destrucción.

En el primer caso, los servicios geológicoscuentan con probada experiencia en la gestión de susarchivos de documentación geológica-minera y más aúnteniendo en cuenta la casi certeza de que ya existandatos, en esos archivos, sobre las minas abandonadasque se pretende valorar, puesto que la mayor parte de laslegislaciones mineras nacionales atribuyen a los serviciosgeológicos la misión de receptores de la informacióngenerada en los trabajos de investigación desarrolladospor las empresas públicas o privadas, sobre las distintascategorías de derechos mineros.

En la hipotética situación de que un proyecto devalorización, con la aquiescencia del organismo decultura pertinente, aconsejara respetar determinadaslabores mineras que por imperativos de seguridaddebieran estar destruidas y cegadas, el servicio geológiconacional puede jugar el papel de mediador legal ytécnico, entre las administraciones y las entidadespromotoras del estudio (Féraud. et al., 2001).

Parafraseando a Luis Carcavilla en suformulación sobre el patrimonio geológico (Carcavilla etal., 2007), podemos decir que cualquier resto de unaactividad minera no es, a priori, patrimonio minero.

La calificación y la valoración de los vestigios delas explotaciones como integrantes de un patrimoniominero comportan habitualmente una fuerte carga desubjetividad, y además no es fácil separar los criterios deidentificación de los de valoración. La identificación deun elemento ya comporta una valoración, a priori. Elatribuir valor patrimonial a una determinada explotaciónminera puede ser fruto de una opinión generalizada, deun grupo de ámbito regional o local, o de un investigadorindependiente (Pearson & McGowan, 2000).

Dada la gran variedad tipológica de loselementos susceptibles de ser clasificados comointegrantes de un patrimonio minero inmueble, esaconsejable llevar a cabo la valoración por un panel deexpertos que, al menos, comprenda las siguientesespecialidades: minería, historia de la tecnología,

5. IDENTIFICACIÓN Y VALORACIÓN DEL PATRIMONIO

MINERO

arqueología, arquitectura, metalurgia y geografía.A día de hoy, no existe unanimidad, ni tan

siquiera a un nivel primordial, en el procedimiento paraabordar la identificación y valoración de los diversoselementos del patrimonio minero, ni tampoco se disponede suficiente información publicada al respecto.

De lo que conocemos, vamos a exponer deforma resumida la guía del Instituto Geológico y Minerode España (IGME) y a hacer una breve referencia a losmanuales del Australian Council of National Trusts andAustralian Heritage Commission.

En la normativa del IGME (IGME, 2009, 2012),para identificar y valorar el patrimonio minero, serecomienda un planteamiento interdisciplinario, querecoge técnicas de la exploración minera y de laprospección arqueológica. De la primera toma elprocedimiento utilizado habitualmente en la descripciónde las características del yacimiento mineral, las laboresmineras que sirvieron para su explotación, así como lasinstalaciones anejas. De la prospección arqueológica,sigue el método del reconocimiento superficial, sinremoción del terreno, para tratar de interpretar lasfunciones de las estructuras visibles.

En cada distrito se hace una selección previa delos indicios de interés potencial, mediante encuestasentre los conocedores de la zona y análisis de ladocumentación existente. El estudio de cada enclavecomporta una nueva revisión de la documentación y unreconocimiento sobre el terreno. Todos los datosquedarán reseñados en una ficha-informe ad hoc, queademás contendrá las conclusiones sobre la valoraciónpreliminar de los restos examinados.

Para la fase de valoración se establecen unosvalores intrínsecos y de uso. Inicialmente lascaracterísticas se puntúan de 0 a 4 y por el caráctersubjetivo de la calificación, como ya se ha indicado, lorecomendable es la valoración múltiple promediada, porun grupo de expertos.

Los intrínsecos se distribuyen según trescriterios o aspectos, que pueden presentarse tantoaislados como combinados: arqueológico industrial,arqueológico e histórico, y paisajístico cultural (tabla 1).Además de esos tres valores intrínsecos se considera unfactor de vulnerabilidad.

El valor de uso representa la posiblerentabilidad económica y social derivada de la utilización,del bien de que se trate, con fines científicos, didácticos yrecreativos o turísticos, de forma independiente ocombinada.

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Valor Elementos Características a valorar

Arqueológicoindustrial

Labores

Instalaciones y edificaciones de la plaza

Instalaciones y edificaciones de laperiferia

Estado de conservaciónGrado de conocimiento científico previoRepresentatividadRelevancia tecnológicaRelevancia arquitectónicaSingularidadRelevancia histórica, económica y social

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Tabla I - Valores intrínsecos

Histórico yarqueológico

Labores

Instalaciones y edificaciones de la plaza

Instalaciones y edificaciones de laperiferia

Estado de conservaciónGrado de conocimiento científico previoRepresentatividadRelevancia tecnológicaRelevancia arquitectónicaSingularidadRelevancia histórica, económica y socialRelación con yacimientos arqueológicos8

Paisajístico cultural Impactos visuales positivos de labores,instalaciones y edificaciones

Grado de transformaciónGrado de evoluciónExtensiónEspectacularidad o belleza

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Se refiere a su estado en el momento de llevar a cabo los reconocimientos sobre el terreno.

Indica si los restos han sido objeto de estudios científicos y su alcance.

Informa sobre la calidad como arquetipo del elemento en cuestión.

Informa sobre el grado de innovación y eficiencia que pudieron alcanzar las labores e instalaciones de las que aún quedan restos.

Informa sobre la singularidad constructiva o representatividad de un género arquitectónico en las instalaciones y edificios y anexos.

Informa sobre las circunstancias que permiten clasificar a uno o más de los diversos restos como peculiares o poco frecuentes, a escala nacional o regional.

Informa sobre la importancia histórica, económica y social que pudieron tener, a cualquier escala territorial, las explotaciones, los materiales extraídos ysus usos.

Informa sobre la posible relación con yacimientos arqueológicos, situados en un radio predeterminado, en los que aparezcan vestigios de actividadesmineras y metalúrgicas.

Se refiere al estado final tras el cierre o abandono de la explotación o explotaciones.

Se refiere al estado actual por implantación de actividades ajenas a la minería.

Admite una valoración doble. Por un lado se puede considerar la extensión como un valor intrínseco del paisaje y por otro la vulnerabilidad disminuye enrazón inversa a la extensión.

De las alteraciones morfológicas generadas por las actividades mineras.

El «Mining Heritage Places AssessmentManual» se editó en 2000 (Pearson & McGowan), trasunas publicaciones previas iniciadas en 1995, con elobjetivo de facilitar el registro, análisis y valoración deenclaves de posible patrimonio minero. Está organizadocon una estructura sencilla, de tal manera que pueda serutilizado por personas no expertas en minería o enpatrimonio, y que sin embargo puedan tomar decisionesbásicas sobre valores patrimoniales.

Se compone de seis guías, las tres primeras sonpara el registro, análisis, identificación y valoración de loselementos que puedan considerarse patrimonio minero,dentro de cada complejo minero. Las otras trescontienen ayudas e informaciones complementarias.Además se incluye un apéndice con información sobrelas tipologías y las morfologías de yacimientos mineralesmás frecuentes en Australia.

6. EL PATRIMONIO MINERO Y LAS ORGANIZACIONES

INTERNACIONALES

6.1. Unión Europea

Las organizaciones internacionales del ámbitode la cultura comenzaron a tomar conciencia, a finales delos años 60 del pasado siglo, de la necesidad de preservarlos restos de instalaciones industriales abandonadas quepudieran tener un valor histórico, tecnológico ocientífico.

El marco normativo europeo en materia depatrimonio industrial se limita a un conjunto derecomendaciones (Rec), propuestas metodológicas ycódigos de buenas prácticas encaminadas a suidentificación, protección, conservación y difusión, entre

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las que podemos destacar: la Rec(1979)872, relativa a laarqueología industrial; la dedicada a las ciudadesindustriales europeas, orientada a la revitalización dezonas tradicionalmente industriales y en declive,Rec(1987)24 y la relativa a la protección y a laconservación del patrimonio técnico, industrial y deobras de arte en Europa, en la que se pone de manifiestola especificidad del patrimonio industrial y el propósitode su protección y conservación, proponiendo a lospaíses miembros la realización de inventarios y laadopción de medidas jurídicas protectoras, Rec(1990)20.

Además de estas recomendaciones, la UniónEuropea ha promovido numerosos programas definanciación para la puesta en valor y conservación delpatrimonio industrial; entre ellos, podemos destacar:

El programa de Itinerarios Culturales en el quese inscribe la «Ruta del hierro» en los Pirineos (2004) queconecta distintos asentamientos a lo largo de unrecorrido transfronterizo vinculado a la explotación dedicho metal. Dentro del mismo programa se encuentratambién el proyecto sobre la “Ruta del wolframio.Memoria de los Hombres y Patrimonio Industrial”(2012).

Dentro de los Programas Interreg, financiadoscon fondos FEDER se están llevando a cabo proyectos depatrimonio minero como fue el proyecto Green Mines,cuya segunda fase es el proyecto ATLANTERRA (2010-2013), sobre puesta en valor de puntos de interés mineroen la Zona Atlántica Europea.

El programa Central Europe, también de laUnión Europea, promueve la cooperación entre países dela Europa Central para mejorar la innovación,accesibilidad y el medio ambiente, y aumentar lacompetitividad y atractivo de sus ciudades y regiones. Elobjetivo principal del grupo de trabajo es reunirconceptos sostenibles de uso innovador del patrimoniocultural tras el cierre de minas (Resource-CE.EU, 2013).

Por último, hay que mencionar el ConvenioEuropeo del Paisaje (Florencia, 20 de octubre de 2000)auspiciado por el Consejo de Europa y ratificado porEspaña el 26 de noviembre de 2007, que constituye unpunto de referencia para la consideración del espaciominero como paisaje cultural. La Estrategia TerritorialEuropea (ETE) incluye los paisajes culturales comointegrantes del patrimonio cultural de la Unión Europea,y los considera un factor económico de importanciacreciente para el desarrollo sostenible. Actualmente seestá llevando a cabo un Plan Nacional de PaisajesCulturales para el período 2012-2016 con el objeto desalvaguardar aquellos más relevantes.

La UNESCO reconoce el valor del patrimonio

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6.2. Unesco

industrial con la incorporación a la lista de LugaresPatrimonio de la Humanidad de numerosos restosindustriales, muchos de ellos derivados de actividadesmineras y metalúrgicas. Es necesario destacar que laUNESCO asigna al concepto de patrimonio industrial unsignificado extenso al no establecer límites cronológicos.

El Consejo Internacional de Monumentos ySitios Histórico-Artísticos (ICOMOS), fundado en 1965, enPolonia, es la única organización internacional nogubernamental cuyo cometido es promover la teoría,metodología y tecnología aplicadas a la conservación,realce y apreciación de los monumentos, los conjuntos ylos referidos sitios. Como tal, forma parte del Comité dePatrimonio Mundial.

En 1981 se estableció la red ICOMOS-ICOM-UNESCO, creándose la base de datos bibliográficos«ICOMOS» y la conexión directa con la UNESCO.

Por otra parte, el Comité Internacional para laConservación del Patrimonio Industrial (TICCIH), es laorganización mundial encargada del patrimonioindustrial y como tal es asesor especial de ICOMOS encuestiones de dicho patrimonio. Es precisamente en laCarta de Nizhny Tagil, resultado del XII CongresoInternacional TICCIH, en 2003, donde se concretanexactamente las definiciones de patrimonio industrial yarqueología industrial. También se establece el periodohistórico en el que se puede hablar de patrimonioindustrial, que se extiende desde el principio de laRevolución Industrial, la segunda mitad del siglo XVIII,hasta la actualidad, si bien se estudian sus raícespreindustriales y protoindustriales anteriores.

La UNESCO auspicia también la Red Global deGeoparques. El patrimonio minero ha servido, en algunoscasos, como criterio fundamental para la declaración degeoparques en Europa, como es el caso de Copper Coast(Irlanda) y Rocca di Cerere (Sicilia) y el Parque Geológico yMinero de Cerdeña, ambos en Italia.

Otros organismos: Con objetivos o fines ligadosa la geología y la minería, pero que también incluyenlíneas de actuación relacionadas con el patrimoniominero: conservación, rehabilitación, puesta en valorpara un desarrollo sostenible:

Los ser v ic ios geológ icos nac ionales ,individualmente y dentro de la organizaciónEurogeosurveys (The Geological Surveys of Europe) queagrupa a 33 de ellos, entre sus objetivos tienen el depreservar el patrimonio minero como parte de laevolución cultural en Europa, así como promover eldesarrollo de instalaciones, lugares y exposiciones quemejoren el conocimiento y valoración de la minería, laexploración minera y la geología, en tanto contribuyen alturismo y al potencial económico.

El patrimonio minero supone un registro departe de nuestra historia cultural y tecnológica;proporciona la oportunidad de gran variedad deexperiencias educativas y puede jugar un importantepapel dentro del turismo cultural, lo que contribuye al

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desarrollo de las economías locales.Así mismo, la Asociación europea de industrias

mineras, menas metálicas y minerales industriales(EUROMINES), que funciona como red para lacooperación e intercambio de información del sector enEuropa y con la comunidad minera mundial, realizaactuaciones sobre el papel que la recuperación delpatrimonio minero puede suponer para el desarrolloregional (Euromines, 2013).

Finalmente, debe mencionarse el ProgramaIberoamericano de Ciencia y Tecnología para elDesarrollo (CYTED), que trata de impulsar larecuperación y reutilización de las zonas mineras tras elcese de la actividad extractiva, articulando políticas yestrategias para la protección del medio ambiente, conuna planificación y gestión del territorio que deberáincluir aquéllas que abordan la protección del patrimoniominero.

Entre sus objetivos específicos está: «En el casode sitios mineros de valor patrimonial promover lapuesta en valor de su legado y la instalación de usosculturales (de turismo cultural de patrimonio minero) yeducativos, como factor que contribuya a dinamizar laeconomía, al mismo tiempo que preservar la identidadlocal».

La protección y el estudio del patrimoniominero, tanto si se refiere a una rama del patrimonio

7. CONSIDERACIONES FINALES

industrial, como al que se considera patrimonio históricoo arqueológico, es hoy día una cuestión de crecienteinterés en ámbitos geográficos y sociales muy diversos.

Los servicios geológicos nacionales, expertos enla exploración y explotación de los recursos mineralespueden desempeñar una labor importante comoasesores de las múltiples entidades que se ocupan delpatrimonio minero. Pero también es aconsejable queadquieran un papel más activo que el de simplesconsultores y, aprovechando su experiencia, medioshumanos y técnicos, aborden programas de inventariodel patrimonio minero de los principales distritos delpaís.

Otra cuestión de capital importancia, en la quelos servicios geológicos deberían tener másprotagonismo, es la recuperación, ordenación y puestaen consulta de los archivos históricos de las compañíasmineras extinguidas.

En lo que concierne a la metodología, o más biena su ausencia, parece recomendable que las diversasasociaciones o federaciones continentales de serviciosgeológicos consideraran este asunto en alguna de suscomisiones, con el propósito de adoptar unas normasbásicas, o guía general, para la identificación y valoraciónde este patrimonio. Pueden contribuir a alcanzaracuerdos las recomendaciones y programas de lasdiversas organizaciones internacionales, del ámbito de lacultura, la minería y la geología, que incluyen entre suscometidos la protección del patrimonio minero.

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Manuscrito ID 31502

Submetido em abril de 2013

Aceito em julho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Panorama actual del patrimonio geológico en Argentina

Current situation of geologiacal heritage in Argentina

FERNANDO MIRANDA, HEBE LEMA.

SEGEMAR, Argentina - [email protected] - [email protected]

Resumen

La República Argentina cuenta con una larga historia en cuestiones de protección del patrimonio natural. No obstante, dentro de estecampo, el concepto más específico de patrimonio geológico es relativamente nuevo. Su tratamiento más integral comenzó a partir delinicio de la década del 90, momento en el cual, instituciones y profesionales de diversos ámbitos, abordaron el interés por la temática.Muchos han sido los esfuerzos individuales, pero en la actualidad se torna necesario un trabajo conjunto, con continuidad en tiempo ybajo un marco legal adecuado. La presente contribución constituye una puesta al día de algunas acciones realizadas, otras que se estánllevando a cabo y el ensayo de algunas reflexiones acerca del futuro en este contexto.

Palabras clave: Patrimonio geológico; Geología; Argentina.

Abstract

The Republic of Argentina has a long history in what concerns natural heritage protection. However, the more specific concept ofgeological heritage is relatively new. Its comprehensive treatment began in early 90s, when some institutions and professionals fromvarious domains developed an interest for this topic. Many have been individual efforts but today it is necessary to work together withcontinuity in time and under a proper legal framework. This contribution presents an update of some actions done in recent years andothers being presently carried out. Finally, some thoughts about the future of geoconservation in Argentina are presented.

Key words: Geological heritage; Geology; Argentina.

1. INTRODUCCIÓN

La República Argentina se extiende desde losAndes hasta la cuenca del Plata y la plataformasubmarina, y desde la llanura chaqueña y la altiplaniciede la Puna hasta la Antártida. La amplia extensión enlatitud y longitud y su ubicación geográfica en elhemisferio austral, le otorga, dentro del ámbito deAmérica del Sur, una gran variedad de geografías y climasy la posibilidad de transitar y admirar escenariosnaturales imponentes. Este abanico de paisajes es elresultado de diferentes procesos geológicos que hanactuado a lo largo de millones de años y que han dejadotestimonio de épocas que abarcan desde los primerostiempos del Proterozoico hasta eventos geológicosrecientes. Muchos de estos paisajes son majestuosos,pero muchos de ellos también son frágiles en extremo.Algunos de ellos albergan o constituyen en sí mismossitios de interés geológico, entendiendo por tales aaquellos cuya exposición y contenido son especialmenteadecuados para reconocer e interpretar lascaracterísticas y la evolución de los procesos geológicosque han modelado nuestro planeta. Estos sitios formanparte del conjunto de recursos naturales de valorcientífico, cultural, educativo y recreativo que aunamosbajo la idea de patrimonio geológico.

2. LOS ANTECEDENTES EN ARGENTINA

Así como el concepto de patrimonio se haimpuesto de modo evidente tanto en la vida culturalcomo en las políticas públicas mundiales de los últimosdecenios, en el caso de la República Argentina puededecirse que la protección del patrimonio natural cuentacon una larga historia. Ya en el año 1913, la sanción de laley 9.080 fue un hito interesante. Esta ley, aunque nuncafue realmente aplicada y hoy en día ha sido superada, fuela primera en declarar como propiedad de la Nación lasruinas y yacimientos arqueológicos y paleontológicos deinterés científico (Endere & Podgorny 1997).

Para esa época también comenzaban a sumarselas inquietudes de naturalistas y profesionales geólogospor la conservación de los espacios naturales. En estesentido, cabe mencionar como ejemplo al Dr. Juan JoséNágera, uno de los primeros geólogos argentinos, que en1932, en ocasión de la publicación de la carta geológicade Tandilia (provincia de Buenos Aires), menciona comouna necesidad la creación de Parques Naturales en esaregión en bien de la comunidad. En sus propias palabrasdice Nágera: “...deberá conservarse la naturaleza originalfacilitándose en toda forma el paseo por los mismos.Deberán publicarse además guías que expliquen suhistoria natural...” (Cingolani 2008). Actualmente laregión de Tandilia es considerada un geositio de

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importancia nacional ya que allí se encuentran las rocas yfósiles más antiguos del país.

Sin duda uno de los acontecimientos másimportantes en el sentido de protección del patrimonionatural fue la sanción de la ley 12.103 (9 de octubre de1934) por la cual se creó la Dirección de ParquesNacionales. Esta permitió la creación de los ParquesNacionales Nahuel Huapi e Iguazú, convirtiendo a laArgentina en el primer país de Latinoamérica y tercero enel mundo en crear Parques Nacionales, luego de losEstados Unidos (Parque Yellowstone, 1872) y Canadá(Parque Banff, 1885). Un detalle de interés para la época,es la aparición de la guía geológica del Parque NacionalNahuel Huapi (Primo 1951) cuyo estilo de escritura estádirigido al público en general (Figura 1).

Figura 1 – Detalle de la tapa de la Guía Geológica del ParqueNacional Nahuel Huapi (Primo 1951).

Dentro del campo del patrimonio natural, elconcepto más específico de patrimonio geológico esrelativamente nuevo en Argentina. No obstante, al incluiren él al patrimonio minero y al paleontológico, vemosque este último contó con leyes de protección desde1913: ley 9.080 y a partir del año 2003 con la nueva ley25.743. Más allá de esta salvedad, el tratamiento delpatrimonio geológico en su integridad comenzó masexhaustivamente a partir de la década de los años 90,momento en el cual, instituciones y profesionales dediversos ámbitos, abordaron el interés y compartieronuna preocupación por la conservación de esta herencia.

En particular, el Servicio Geológico MineroArgentino (SEGEMAR) a partir de la promulgación en1993 de la Ley 24224, que establece en su Capítulo I “Delas Cartas Geológicas” la necesidad de realizar la

investigación geológica regional sistemática del país através de un Programa Nacional de Cartas Geológicas,incorpora en cada Hoja Geológica un capítulo exclusivosobre Sitios de Interés Geológico (SIG), definidos éstoscomo recursos no renovables de índole cultural, cuyaexposición y contenido resultan óptimos para reconocere interpretar el diseño de los procesos geológicos quehan modelado nuestro planeta. Además, en la normativaestablecida para la ejecución de las Hojas, se señala quesu conjunto conforma el patrimonio geológico de cadaregión y del país, destacando incluso que la importanciade algunas singularidades geológicas puede ser de valorsupranacional (SEGEMAR-IGRM, 1994).

Agrega también que su desaparición otratamiento inadecuado constituye un gran daño alpatrimonio de la humanidad, daño que la mayoría de lasveces es irreversible. Con posterioridad, y como anexo dela normativa, se incorporaron y modificaron fichasdescriptivas para el relevamiento y catalogación de lossitios (SEGEMAR-IGRM, 1997). Esto permitió que laInstitución reuniera gran cantidad de información acercade estos lugares y hasta el momento lleva inventariadosmás de trescientos cincuenta sitios de interés.

Como mencionáramos anteriormente, la ideade patrimonio geológico es relativamente reciente enArgentina y ha surgido (o si se quiere resurgido) a partirde las nuevas tendencias europeas, y en simultaneidadcon trabajos y proyectos realizados en escenarioslatinoamericanos. Esto ha fomentado, durante losúltimos años, la aparición de trabajos de carácter local endiversas ramas de la temática, tales como sitios de interésgeológico, geoturismo y parques geológicos, entre otros.

Dentro de los antecedentes vinculados alpatrimonio geológico y su conservación, uno de los casosdestacables es sin duda el vinculado al aspectopatrimonial y de geoconservación del MonumentoNatural Puente del Inca, merecedor de un simposioespecial dentro del XII Congreso Geológico Argentino y IICongreso de Exploración de Hidrocarburos llevados acabo en la provincia de Mendoza en el año 1993.

Enmarcado en el ámbito de la CordilleraPrincipal de Mendoza, el denominado Puente del Inca,uno de los caprichos naturales más famosos de laRepública Argentina (Figura 2), es una complejaestructura natural en forma de puente en arco, cuyoorigen y perdurabilidad se debe, entre otras condiciones,a la presencia de aguas termales en el área (Ramos 1993,Rubio et al. 1993, Aguirre Urreta & Ramos 1996, Ramos etal. 2008). Hasta la construcción del hotel y estación debaños termales que funcionara hasta 1965, el puenteconstituía un sistema natural en equilibrio. La captaciónde las aguas termales hacia el establecimiento para losbaños y el empleo de zanjas de desvío para la confecciónde artesanías mermaron la irrigación natural sobre elpuente, provocando el desecamiento y agrietamiento desu parte superior. Simultáneamente, el tránsito deanimales y vehículos aceleró su erosión e inició el

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paulatino deterioro de su estructura, poniendo al puenteen una situación de inestabilidad. En 1991 el gobiernoprovincial declaró al monumento natural “zonaintangible” mediante decreto 2291/91. Es interesantedestacar la valorización que se hace de este monumentoen el decreto de referencia, el cual plantea:”…lanecesidad de solucionar en forma inmediata el problemasuscitado por el deterioro que presenta la estructurageológica del puente natural existente en la localidadcordillerana de Puente del Inca, monumento provincial,nacional y universal, objeto de admiración generalizada yfuente de recursos turísticos del patrimonio de laProvincia de Mendoza”. Por intermedio de tal decreto serestringió el paso de animales y vehículos, procediendoluego, entre otras obras, al relleno de grietas con salesprovenientes del agua termal, la eliminación de bloquesrocosos del lecho del río y la reactivación del drenajenatural de las aguas termales sobre la estructura delpuente (Rimoldi 1993), algo que podríamos considerarcomo caso de “Geo-restauración” del patrimoniogeológico.

Figura 2 – Monumento natural Puente del Inca, provincia deMendoza. A una altura de 2.719 metros sobre el nivel del mar,las aguas termales y esta curiosa formación natural de puenteen arco ya eran conocidas desde tiempos precolombinos porquienes habitaban el imperio incaico. Muchos fueron losviajeros, naturalistas e investigadores -entre ellos CharlesDarwin- que dedicaron páginas a este singular paisaje. Lacobertura del puente está compuesta por sustancias mineralesy costras algáceas. Si bien las hipótesis sobre el origen de estepuente son variadas, todas señalan a las sales contenidas en lasaguas termales como partícipes necesarios en su formación yperdurabilidad (Fotografía por Luis Fauqué).

3. LEGISLACIÓN

Varios son los autores que señalan que enArgentina la información disponible y las propuestas parala conservación del patrimonio natural se refierenpredominantemente a aspectos biológicos, norecibiendo la misma atención los recursos relacionadoscon los paisajes y sus formas, los procesos y rocas, aexcepción de aquellos que han quedado dentro de áreasprotegidas o que se consideran Monumentos Naturales

(Ley Nacional 22.351/80 “Parques Nacionales,Monumentos Naturales y Reservas Nacionales”) (IbáñezPalacios et al. 2012).

En la actualidad, no hay herramientas legalesdel ámbito nacional directa y estrictamente vinculadas alpatrimonio geológico, pero sí algunas que pueden ayudara su inclusión. En este sentido, la Ley Nacional 25.675/02,Ley General del Ambiente, sancionada el 6 de noviembrede 2002 y promulgada parcialmente el 27 de Noviembrede ese año, persigue entre otros objetivos: Asegurar lapreservación, conservación, recuperación ymejoramiento de la calidad de los recursos ambientales,tanto naturales como culturales, en la realización de lasdiferentes actividades antrópicas (art 2° inciso a.). La LeyNacional 25743/03 de “Protección del patrimonioarqueológico y paleontológico”, promulgada en junio de2003, establece en su articulo 1° que su objeto es lapreservación, protección y tutela del PatrimonioArqueológico y Paleontológico como parte integrante delPatrimonio Cultural de la Nación y el aprovechamientocientífico y cultural del mismo. En su artículo 2° aclaraque: forman parte del Patrimonio Arqueológico las cosasmuebles e inmuebles o vestigios de cualquier naturalezaque se encuentren en la superficie, subsuelo osumergidos en aguas jurisdiccionales, que puedanproporc ionar información sobre los grupossocioculturales que habitaron el país desde épocasprecolombinas hasta épocas históricas recientes, y enrelación al Patrimonio Paleontológico los organismos oparte de organismos o indicios de la actividad vital deorganismos que vivieron en el pasado geológico y todaconcentración natural de fósiles en un cuerpo de roca osedimentos expuestos en la superficie o situados en elsubsuelo o bajo las aguas jurisdiccionales. En tal sentido,entre las facultades señaladas en su artículo 4° seencuentra que será exclusividad del Estado Nacional:ejercer la tutela del Patrimonio Arqueológico yPaleontológico. En orden a ello deberá adoptar lasmedidas tendientes a su preservación, investigación y afomentar la divulgación.

Medina (2012) analiza la presencia del término“geología” en las leyes de Áreas Protegidas provincialescon el fin de resaltar la importancia de la presencia oausencia de este término dentro de una ley, de maneraque la misma no resulte ambigua.

Así este autor señala términos como el de“formaciones geológicas y geomorfológicas” comoobjetos a preservar (provincias de Buenos Aires,Córdoba, Chaco, Chubut, La Pampa, Mendoza, Neuquén,Rio Negro, Salta, San Juan y San Luis); “formacionesfisiográficas” (provincias de Catamarca, Entre Ríos, Jujuy,La Rioja y Tierra del Fuego, donde también se utilizó ladenominación subjetiva de paisaje de gran valorescénico). Y encuentra una tercera situación en las leyesde las provincias de Formosa Ley 1335/00, Misiones Ley2932/92 y Tucumán Ley 6292 donde no se incluyentérminos geológicos ni tampoco sobre aspectos

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Figura 3 – El Parque Nacional Talampaya, en el sudoeste de laprovincia de La Rioja, es una extraordinaria reservapaleontológica y uno de los pocos yacimientos en el mundo quecontiene un interesante y completo registro de vertebradosfósiles que permite explicar su evolución y el desarrollo de lavida en la región durante todo el período Triásico. Tal contenido,junto a un interesante conjunto de geoformas deinconmensurable belleza lo posicionó como Patrimonio Naturalde la Humanidad de UNESCO (Caselli 2008) (Fotografía porFernando Miranda).

Ya en el año 2005, el XVI Congreso GeológicoArgentino (La Plata, provincia de Buenos Aires), incorporala temática de Sitios de Interés Geológico. En elencuentro surgen trabajos vinculados al inventario de 44sitios de interés en la provincia de Entre Ríos (Bertolini etal. 2005) y otros 30 en la provincia de San Juan. Estosúltimos, seleccionados en el marco del Proyecto“Identificación y Valoración del Patrimonio Geológico dela Provincia de San Juan, su Proyección Científica,Cultural, Educativa y Turística” 2003 – 2005 (Baraldo et al.2005).

Contrariamente a lo esperado, para el año 2008la edición del XVII Congreso Geológico Argentino (en laprovincia de Jujuy) no incluyó el capítulo Sitios de InterésGeológico o alguno equivalente. A pesar de ello, trabajosrelacionados participaron en el Simposio de Enseñanzade la Geología, encuentro durante el cual se presentaronpropuestas para la implementación de circuitos deinterés geológico en la Cuenca Carbonífera de Río Turbio,en la provincia de Santa Cruz (Tello & Defago 2008),experiencias vinculadas al trabajo social y la transferenciade conocimientos geológicos a comunidades locales en laprovincia de San Juan (Vallecillo et al. 2008), y unproyecto piloto de implementación de paneles temáticosin situ en la Reserva Laguna del Diamante, provincia deMendoza (Miranda & Sáenz 2008).

No obstante la ausencia de un simposioespecifico en el Congreso, durante su desarrollo sepresentó la obra “Sitios de Interés Geológico de laRepública Argentina – Los geólogos nos cuentan…”editado por el SEGEMAR y al cual nos referimos masadelante en mayor detalle.

Simultáneamente a la aparición del PatrimonioGeológico como tema de congresos y reunionescientíficas, varias universidades nacionales comenzarona abordar esta materia. A modo de ejemplo, la provinciade San Luis incorpora capítulos de geositios en los Atlasde Recursos Geoambientales de las localidades dePotrero de Funes y Juana Koslay, (Ojeda et al. 2007,2008). También la Universidad Nacional de La Plata, através de publicaciones de la Facultad de Humanidades yCiencias de la Educación, abordó la propuesta ynecesidad de realización de un inventario de patrimoniogeológico nacional (Martínez 2008).

Para el año 2011, el XVIII Congreso GeológicoArgentino, realizado en la provincia de Neuquén, volvió apresentar la temática de patrimonio, geositios,geoturismo y geoparques. Es así que en el Relatorio de laprovincia se incorporó un capitulo exclusivo dedicado a ladescripción de un total de 32 sitios o áreas provincialesdestacadas desde el punto de vista geológico-patrimonial(Danieli et al. 2011). A su vez, durante el desarrollo delCongreso, el Simposio (S9) -Patrimonio natural y Culturalen su Contexto Geológico- reunió un interesanteconjunto de trabajos. Entre ellos: propuestas deincorporación de atractivos geológicos a circuitosturísticos tradicionales, como en el caso del cerro San

escénicos del paisaje.

La aparición de la temática de sitios de interésgeológico durante un Congreso Geológico Argentino sedio por primera vez en la XV edición de esa reunióncientífica, en el año 2002, en la provincia de Santa Cruz. ElRelatorio o compendio de la geología de la provinciaanfitriona del evento, incluyó un extenso trabajo enreferencia a 127 sitios de interés geológico distribuidosen todo el territorio provincial. Los sitios seleccionadossurgieron de los incluidos en las hojas geológicas a escala1:250.000 del SEGEMAR y de la contribución yorientación de profesionales con experiencia en laregión. El trabajo se desarrolló bajo el criterio deitinerarios que recorrían grupos de sitios (Ardolino et al.2002).

En ocasión de esa reunión también tuvo lugar elI Simposio de Patrimonio Geológico y AspectosGeológicos y Ambientales de la Espeleología. Los trabajosallí presentados abordaron diferentes temas. Entre ellos:el inventario y caracterización de 28 puntos de interésgeológico del territorio de la provincia de Córdoba -juntoa propuestas para su aprovechamiento y su protección-(Leynaud 2002); una propuesta de valoración turísticarecreativa de recursos geológicos, paleontológicos ypaisajísticos en la ciudad de Neuquén para el proyecto(no concretado) Monumento Natural Parque de losDinosaurios (Vejsbjerg et al. 2002); el relevamiento deáreas de valor científico, cultural y estético en riesgo antela realización de obras de infraestructura en la localidadde Nogolí, provincia de San Luis (Lacreu et al. 2002) y elanálisis de la potencialidad y posibilidades de desarrollode los georecursos del Parque Nacional Talampaya(Caselli 2002) (Figura 3).

4. EL PATRIMONIO GEOLÓGICO Y LA COMUNIDAD

GEOLÓGICA

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Bernardo en la provincia de Salta (Barrientos Ginés &Moya 2011), varios vinculados a la dupla e interacciónentre arqueología y geología (Brandán et al. 2011,Tchilinguirian et al. 2011, Vattuone Sampietro et al.2011), propuestas de rutas geoturísticas (Ermili &Martínez 2011, Guido & Sesma 2011), reflexiones acercade cuestiones de patrimonio geológico, paisaje natural yel rol profesional en este tipo de cuestiones (Kulemeyer2011, Neder & Ríos 2011), propuestas de geositiosespecíficos, como Rosario de La Frontera en la provinciade Salta y el rol del termalismo del área vinculado aldesarrollo histórico de la región (Ríos & Neder 2011),inventario y evaluación de geositios en la Quebrada delPortugués, provincia de Tucumán (Palacios et al. 2011), larelación entre afloramientos rocosos específicos yespecies vegetales amenazadas (Cantero et al. 2011),casos de estudio y recomendaciones para el manejo ygestión del patrimonio geológico y paleontológico(Iparraguirre & Oliva 2011, Goso et al. 2011) y el trabajosocial a partir de la geología en La Cienaga de Huaco,provincia de San Juan (Vallecillo & Caballero 2011), lugardeclarado como Área Natural Protegida por la Cámara deDiputados de la provincia en el año 2005 (ley 7.640). Eneste último caso el área protegida, de unas 9.600hectáreas, tiene por objeto preservar el valor geológico yarqueológico, el equilibrio ecológico y el patrimonioautóctono del lugar. En el sitio pueden observarseformaciones geológicas de gran interés sedimentológicoy fósiles de edad ordovícica.

Trabajos más recientes incluyen la presentacióndel primer circuito de geoturismo en la provincia deCórdoba, y primero con carácter oficial en el país;iniciativa coordinada entre la Dirección de Geología de laSecretaría de Minería de Córdoba y la Agencia CórdobaTurismo (Sfragulla et al. 2010). El circuito se desarrolla alo largo de 120 km sobre la Ruta Provincial Nº 28, entrelas localidades de Tanti y Chancaní. Posee una direccióngeneral este-oeste que atraviesa las principales unidadesgeológicas aflorantes en ese sector de las SierrasPampeanas de Córdoba y cuenta con 14 puntos deinterés geológico y/o paisajístico con panelesinformativos sobre los aspectos geológicos del lugar.Entre ellos: el Batolito de Achala, intrusión granítica deedad devónica (principal unidad geológica de la región);yacimientos pegmatíticos ricos en minerales decolección; el contacto del Batolito con rocasmetamórficas de edad cámbrica inferior; el ComplejoVolcánico de Pocho, compuesto por traquiandesitasneógenas y uno de los lugares panorámicos masespectaculares de la Sierra de Córdoba, conocido comoLos Túneles, que como su nombre lo indica resultan enuna serie de túneles excavados en rocas metamórficas dela Sierra de Pocho (Sapp et al. 2008).

Otro nuevo aporte es el inventario preliminarrelacionado con criogeoformas cuaternarias de la regióndel Parque Nacional Campo de Los Alisos (Sierra delAconquija) en las provincias de Tucumán y Catamarca

cuyo objetivo, además de divulgar y contribuir a lapreservación de ese patrimonio geológico, plantea laposibilidad de generar recursos para la actividad turística(Ibáñez Palacios et al. 2012). Una de las contribucionesmás recientes corresponde a un trabajo integral queabarca propuestas de geoconservación aplicables a laRepública Argentina -tomando como base las prácticasde esta temática en España, Portugal y el Reino Unido- eideas para la realización del inventario sistemático delpatrimonio geológico argentino y su respectivaevaluación cuantitativa (Medina 2012).

Dentro del contexto de patrimonio geológico esimportante destacar la realización de trabajos yproyectos que rescatan al patrimonio de origen minero.Entre ellos, el vinculado a las posibilidades de desarrollode un turismo sustentable basado en el patrimoniogeológico-minero e industrial en la región sudeste de laprovincia de Buenos Aires (Fernández & Ramos 2007),donde la enorme disponibilidad de rocas de aplicación,posibilitó el desarrollo de una actividad minera pujante.Trabajos posteriores condujeron a propuestas para lacreación de rutas turísticas y para la dinamización deespacios basados en el patrimonio geológico-minero delSistema de Tandilla (Fernández et al. 2008). Hoy en día,una importante área de Tandil que incluye las sierrascomo recurso natural y con potencial turístico estádeclarada como paisaje protegido (Ley Provincial 14.126,marzo de 2010, Congreso de la Provincia de BuenosAires). Esto promovió trabajos de inventario (localizacióny evaluación del estado actual) de áreas con pasivosambientales mineros en la localidad de Tandil quepermitieron su valorización y el análisis de su inserciónterritorial y valor patrimonial como parte de unaalternativa de uso recreativo sostenible (Fernández et al.2012).

Otras propuestas han tratado el tema de lasoportunidades y obstáculos para transformar elpatrimonio geológico-minero en productos turísticos endiferentes provincias del país -particularmente donde laactividad minera ha desaparecido- las políticasorientadas al turismo minero y su potencialidad paraincrementar las posibilidades de estas regiones(Fernández et al. 2009). Una de estas iniciativas fue eldenominado Programa Nacional de Turismo GeológicoMinero (2001/2002), convenio entre el Ministerio deTurismo y la Secretaria de Minería de la Nación, cuyo finfue el de promover los sitios que por sus característicasgeológico – mineras pudiesen atraer el interés y generaringresos económicos a través de la actividad turística.

Acciones similares y más recientes ha tomado laprovincia de Catamarca a través de su Secretaría deTurismo provincial. Esta dependencia se encuentraestudiando las factibilidades para la creación de uncircuito de turismo minero en la zona, no sólo con el

4.1 Patrimonio Minero

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objetivo de difundir la actividad minera y mejorar laactividad y oferta turística catamarqueña, sino tambiénpensando en los posibles beneficios que estos circuitosbrinden a las comunidades aledañas a las minas. La ideaes comenzar con experiencias piloto y entre las áreasbajo consideración se encuentran el complejo Muschaca,en Andalgalá, las ruinas de las minas de oro de Incahuasi(Monumento Histórico Nacional, Decreto N° 16.482 del17/12/1943) ubicadas en Antofagasta de la Sierra, y otrascomo Yampa, Farallón Negro y la Alumbrera (Diarios“Andalgala Hoy”, Catamarca, 12/10/12 y La UniónDigital”, Catamarca, 13/09/12).

Existen otros varios emprendimientos en losque el patrimonio minero es parte fundamental de lapropuesta turística y del patrimonio del lugar, entre ellosMina La Carolina, en la provincia de San Luis, el famosocablecarril de la mina la Mejicana en la provincia de laRioja (Figura 4) declarado Monumento HistóricoNacional por decreto Nº 999 del 25/10/1982 (Marcos2008) o las geodas de Minas de Wanda-Libertad, en laprovincia de Misiones (Ávila et al. 2008) sólo paramencionar algunos.

Figura 4 – Estación Nº 1 del Cablecarril de la mina La Mejicanaen Chilecito. Allí el museo "Dr. Santiago Bazán" exhibemaquinarias, herramientas y elementos diversos utilizados enla época de funcionamiento del cable (Fotografía por FernandoMiranda).

5. LOS PARQUES GEOLÓGICOS Y LOS GEOPARQUES

Otra de las modalidades en la conservación yvaloración del patrimonio geológico es la que aborda elconcepto de parques geológicos y geoparques. Argentinacuenta con varios parques geológicos o reservas quec o n t e m p l a n , p r i n c i p a l m e n t e , c o n t e n i d o spaleontológicos, pero también geológicos y mineros. Sibien no se trata de geoparques miembros de la RedGlobal de Geoparques (GGN) amparados bajo la tutelade la UNESCO, comparten objetivos similares:conservación, educación y desarrollo sustentable.

El Geoparque Bryn Gwyn (que en galés significa“Loma Blanca”) se localiza en el noreste de la provinciadel Chubut, sobre la margen sur del río homónimo y a 8kilómetros de la localidad de Gaiman. El origen de esta

reserva natural de más de 250 hectáreas se remonta a1993, siendo la primera en su tipo de toda Sudamérica.Operado por el Museo Paleontológico Egidio Feruglio(MEF) con sede en Trelew, el geoparque ofrece unrecorrido por el pasado natural de este rincón de laPatagonia. Allí se pueden observar fósiles parcialmenteexpuestos (Figura 5) testigos de una historia de cambiosgeológicos y climáticos que afectaron la región durantelos últimos 40 millones de años, desde mediados delperiodo Paleógeno a la actualidad. El geoparque ofreceexcursiones diurnas y nocturnas, con guías profesionalesy programas vinculados a paleontología, botánica yastronomía (Cúneo 2008).

Figura 5 – Protecciones vidriadas en los sitios con restos fósiles(Fotografía Fernando Miranda).

El Parque Geológico Sanagasta, en la provinciade La Rioja, fue creado por decreto Nº 115 del 7 de Marzodel 2001 y ratificado por Ley Provincial Nº 7093. Se tratade un área de poco más de 800 hectáreas ubicadapróxima a la Villa Sanagasta. El hallazgo de un grannúmero de nidos y abundantes cáscaras de huevos dedinosaurios significó un cambio en el esquemageocronológico de la región, trasladando al CretácicoSuperior estratos considerados hasta entonces terciarios(Hünicken 2005, Tauber 2007). Debido a las excelentesexposiciones de rocas graníticas del basamento y de lasecuencia sedimentaria, con buenos contactos ycontrastes de colores que hacen de la geomorfología unrecurso paisajístico, se propuso al Gobierno de laProvincia de La Rioja la creación del Parque GeológicoSanagasta. El Decreto de creación adjudica al CentroRegional de Investigaciones Científicas y TransferenciaTecnológica (CRILAR) el control científico y académico deeste parque geológico. El parque ha tomado gran impulsodurante estos últimos años, convirtiéndose en un granatractivo desde el punto de vista ambiental, ecológico,educativo y turístico.

La Reserva natural Divisadero Largo, en laprovincia de Mendoza, comprende 492 hectáreas,ubicadas en el pedemonte de la precordillera, 8kilómetros al oeste de la ciudad de Mendoza, capital de laprovincia. Fue declarada Área Protegida en 1983 y su

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nombre hace referencia al Cerro Divisadero, desde el cuallos nativos avistaban el tránsito de las manadas deguanacos y otros animales para darles cacería. Más alláde la belleza natural del área, se destaca en la Reservauna evidente falla geológica cuyo desplazamiento hapermitido el afloramiento de diferentes niveles de rocassedimentarias que representan un intervalo de tiempomayor de 200 millones de años. El principal propósito dela creación de la Reserva lo constituye la protección delconjunto de afloramientos de rocas sedimentariasfosilíferas (Figura 6).

Figura 6 – Panorama desde el Mirador Geológico de la ReservaNatural Divisadero Largo (Fotografía por Cecilia Iglesias).

La provincia de Neuquén ha adquirido gran significado anivel paleontológico debido a sus numerosos eimportantes hallazgos de sitios fosilíferos y por esta razónhoy se la conoce como “Tierra de Dinosaurios”. El CentroPaleontológico Lago Barreales (CePaLB), comprende unyacimiento que posee gran cantidad de restos fósiles delperíodo Cretácico: peces, plantas, tortugas, cocodrilos,pterosaurios, dinosaurios herbívoros de diversos gruposy dinosaurios carnívoros como Unenlagia paynemili yMegaraptor namunhuaiquii. En síntesis un ecosistemacasi completo de un lapso de la Era Mesozoica. El Centro(Figura 7) depende de la Universidad Nacional delComahue, que resguarda esta pequeña parte del sueloneuquino. Con el apoyo de empresas y del gobiernoprovincial, se cuenta con instalaciones adecuadas, quegarantizan tanto la protección del patrimonio natural ycultural del área, como las condiciones de seguridad delequipo de trabajo permanente, de los estudiantes y delpúblico visitante.

El sitio ha tomado trascendencia internacionalya que se ha convertido en la única excavación dedinosaurios en el mundo, abierta al público todo el año.El CePaLB tiene como finalidad la educación en geología ypaleontología a través de las vivencias personales queobtienen los visitantes en las excavaciones, senderosinterpretativos y miradores panorámicos, así como en lasvisitas al centro de interpretación con proyección devideos, a la sala de exhibición paleontológica con serviciode guías y al laboratorio, donde el visitante puedeinteriorizarse de las técnicas de trabajo para lapreparación de piezas fósiles para su exposición (Calvo

et al. 2008).

Figura 7 – El Centro se encuentra enmarcado por un paisajenatural en el que se desarrollan actividades educativas yculturales para todos los grupos que visitan el sitio, para todoslos niveles, incluso el universitario. Se muestran todas lasetapas en el rescate de restos de dinosaurios, desde laextracción hasta su estudio científico final y puesta enexhibición de las piezas rescatadas (Fotografía Jorge Calvo).

También cabe destacar acciones tendientes a lapreservación del patrimonio a través de la interacciónentre el Estado y la actividad privada. Un ejemplo de elloes el de la protección y puesta en valor turístico delBosque Petrificado “Florentino Ameghino” bajo la figurajurídica de Custodio Rural (Lech & Reinoso 2008, Reinoso& Lech 2010). Esta área situada en el valle inferior del RíoChubut, departamento Gaiman, provincia del Chubut, esun recurso natural no renovable y al mismo tiempo unobjeto del patrimonio cultural-paleontológico. Laexperiencia en esta área concilia actividades científico-académicas, de protección patrimonial, empresarial-turística privada, junto a un programa de actividadeseducativas. El plan de manejo contempla aportecientífico, desarrollo turístico, inversión empresarialprivada en infraestructura y servicios y, sobre todo, lacoordinación y contralor del Estado como el responsableprimario de la preservación del patrimonio. El BosquePetrificado “Florentino Ameghino” (Figura 8) seencuentra en un terreno privado, con los derechosinalienables que ello conlleva; no obstante el dominio deese elemento patrimonial es exclusivo del EstadoProvincial.

Figura 8 – El Bosque petrificado “Florentino Ameghino" es elprimer Custodio Rural de la Provincia del Chubut y único en laRepública. El Bosque forma parte de la Formación Salamanca, ylos troncos petrificados corresponderían a árboles queformaban parte de un extenso bosque de lauráceas y fagáceasque existió hace 60 millones de años.

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La Reserva Natural Pehuen Co-Monte Hermoso,en la costa atlántica del sudeste de la provincia de BuenosAires, alberga, en una extensión de más de 3 kilómetros alo largo de la playa, rocas sedimentarias del Pleistocenotardío en las que se pueden observar numerosas huellasfósiles. Se trata de un yacimiento paleoicnológico dondese conservan pisadas de fauna y megafauna (megateriosy gliptodontes) de 12.000 años de antigüedad. Lacantidad y calidad de improntas fósiles lo convierten enun lugar único. En el área de la Reserva se encuentra a suvez uno de los dos puntos de mayor importanciapaleontológica descubiertos por Darwin en el transcursode su viaje a bordo del Beagle (1832 y 1833), la BarrancaMonte Hermoso. Otro de los sectores de la Reservaconserva el testimonio de huellas de aborígenes de 7.000años de antigüedad. En diciembre de 2005, la Cámara deDiputados de la provincia de Buenos Aires promulgó laley 13.394 que lo declara Reserva Geológica yPaleontológica Provincial, aunque aún no ha sidoreglamentada ni puesta en práctica (Manera, 2008).

El Servicio Geológico Minero Argentino(SEGEMAR) es el organismo a quien incumbe, entre otrasfunciones, el relevamiento geológico y temático delTerritorio Nacional, aportando la investigación de basenecesaria para el desarrollo productivo, y debiendoatender asimismo a la difusión de sus resultados y a laprotección del patrimonio natural. En este escenario, yconsciente de la importancia que tiene la identificaciónde los Sitios de Interés Geológico (SIG), el SEGEMAR inicióa fines del año 2004 -en oportunidad de conmemorar100 años de su creación -el proyecto Sitios de InterésGeológico de la República Argentina. A fin de alcanzaralgunos de sus objetivos y llevar a cabo otras tareasespecificas, el Instituto de Geología y Recursos Minerales(IGRM) del SEGEMAR creó el Grupo de Trabajo de Sitiosde Interés Geológico, cuya función es dar a conocer a lacomunidad en general los sitios de interés geológico,difundir el conocimiento geológico y brindar informaciónque sirva de base para la realización de otras actividadesvinculadas con el medio natural (Lema & grupo CSIGA,2007).

El proyecto se orientó fundamentalmente asatisfacer una demanda cada vez más creciente delpúbl ico en general , proporc ionando datos,características y explicaciones que en formacomprensible permitan al público acceder alconocimiento geológico de áreas emblemáticas del país.Para una mejor valoración y comprensión delpatrimonio, este proyecto requirió del trabajo conjuntocon instituciones locales, provinciales y municipales,constituyéndose de este modo en una fuente deinformación útil para pobladores, escuelas yorganizaciones vinculadas al turismo.

6. EL PROYECTO SITIOS DE INTERÉS GEOLÓGICO DE LA

REPÚBLICA ARGENTINA

7. ALGUNAS ACCIONES DE DIVULGACIÓN DEL

PATRIMONIO GEOLÓGICO

En una primera etapa el Grupo de Trabajo seabocó a la edición del libro “Sitios de interés geológico dela República Argentina, los geólogos nos cuentan…”(CSIGA 2008). Esta publicación fue el resultado delesfuerzo conjunto del SEGEMAR y más de 120 autoresrepresentantes de 40 instituciones públicas y privadas,así como de organizaciones no gubernamentales. La obrase organizó en dos volúmenes que corresponden al nortey sur del país y se ocupa de los “cómo, cuándo y por qué”de 72 sitios de interés - entre los que se incluyen lugaresfamosos por sus paisajes - y en los que se tratan diversostemas tales como vulcanismo, geomorfología,paleontología, hidrogeología, tectónica, peligrosidadgeológica y estratigrafía, entre otros.

Los capítulos fueron editados por la Comisión deSitios de Interés Geológico de la República Argentina(CSIGA) con el objeto de llegar a un público noespecializado, por lo que cada sitio está descrito conlenguaje ameno e ilustrado con mapas, fotografías,esquemas y cuadros cronológicos que facilitan lacomprensión de los diferentes procesos y temasgeológicos. Algunos capítulos sugieren medidas deprotección y, donde éstas ya están en vigencia, otrasnuevas son puestas a consideración.

Las conexiones entre geología y antropología,así como referencias históricas sobre la actividad mineray las exploraciones e investigaciones científicas pioneras,enriquecen algunos de los capítulos, además demenciones especiales sobre flora y fauna. Al especialinterés geológico de la gran mayoría de los SIG escogidos,se contempló la accesibilidad, buen estado depreservación y gran belleza y expresividad escénica. Losvolúmenes están escritos en idioma español y cada sitiocuenta con un breve resumen introductorio en inglés. Laobra tiene el propósito de difundir el conocimientogeológico, contribuir a la transmisión del pensamientocientífico y estimular actividades educativas, y de estamanera promover la protección del patrimonio (Miranda& grupo CSIGA, 2009, 2010; Echeverría et al. 2010).

Figura 9 – Sitios de Interés Geológico de la República Argentina.Volumen I (Norte) y Volumen II (Sur).

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Tanto el proyecto, como la obra, han sidogalardonados con sendos premios: el VII premioConvenio Andrés Bello “Somos Patrimonio” en el año2008 y el Premio Especial Bicentenario otorgado en 2010por Gaea, Sociedad de Estudios Geográficos de laRepública Argentina en virtud del carácter divulgativo dela obra.

Para el público en general, el patrimoniogeológico y la geología como ciencia son muy pococonocidos, a pesar de las interrelaciones entre el entornogeológico, los demás elementos del ecosistema y elmedio socio-cultural. Sin embargo, en estas últimasdécadas, el interés por los aspectos geológicos delterritorio muestra un marcado crecimiento (Voth 2008).Teniendo en cuenta esta consideración y con el objetivode identificar actividades e inquietudes de los lectores ypotenciales interesados en la temática de la publicación,y a fin de establecer futuras líneas de trabajo, se procedióa la elaboración de una breve encuesta permanente en laque se consultaba acerca del motivo de interés en el libro(Miranda 2011). Sin ponderar a aquellos profesionalesvinculados específicamente con las Ciencias Geológicas,los resultados arrojaron que la población interesadacorrespondía a personas con estudios universitarioscompletos o en curso y de variadas profesiones:administración, agronomía, biología, comunicaciónsocial, contabilidad, docencia, geografía, guardaparques,informática, ingeniería, medicina y turismo. También serecibieron consultas por parte de estudiantes, tiendas deventa de libros y puestos de regalos o recuerdos enmuseos, ONGs y fundaciones.

Por los intereses e inquietudes planteadospuede señalarse que: el 31 % se vinculaba con el área deeducación; al turismo le correspondió el 14%: agencias uoperadores, y particulares que manifestaron su deseo deconocer más sobre los lugares que visitarían o habíanvisitado; un 15 % lo requirió como material de consulta:solicitudes de bibliotecas, fundaciones, organizacionesno gubernamentales y otras instituciones; el 8% paracultura general -interés por las áreas naturales o por lasciencias geológicas; un 7% agrupó a quienes consultaronpor la posibilidad de reventa, tanto en tiendascomerciales como en tiendas de museos y el 1 %correspondió a otros motivos. Un 23 % no respondió laencuesta, pero de los datos recabados surgió claramentela fuerte atracción que en general despiertan los temasgeológicos.

La divulgación científica admite muy variadasformas, tales como conferencias, muestras, museosinteractivos, charlas, libros, revistas y folletos, entreotros (Gallardo 2005). Muchas son las personas quevisitan un área en particular atraídas por su paisaje. Allí,la información a través de paneles temáticos in situ deaquello que se contempla en forma directa resulta degran efectividad y una buena oportunidad de acercar alpúblico en general a aspectos concernientes a lasciencias de la Tierra.

En este sentido, en enero de 2007, se realizó unaexperiencia piloto (Figura 10) en la Reserva NaturalLaguna Diamante, provincia de Mendoza, que contó confinanciamiento privado y estatal (Miranda & Sáenz 2008).El área en cuestión se encuentra a unos 3.500 metros dealtura sobre el nivel del mar en la cordillera de los Andes ya escasos kilómetros del límite argentino-chileno. A pesardel difícil acceso, el área recibe durante la temporadaestival numerosos visitantes, locales y extranjeros, quedesarrollan diferentes actividades, entre ellas, pescadeportiva, andinismo o “simplemente” turismo. Si bien lareserva contaba en su haber con cuantiosa informaciónsobre flora y fauna, aquella relacionada a la geología delárea y al paisaje -que es lo que el público percibe en formainstantánea- resultaba escasa o confusa. En el ámbito dela reserva se destaca la imponente figura del VolcánMaipo, de 5.323 metros de altura, inmerso en unaestructura oval de 20 por 16 kilómetros denominadaCaldera Diamante, cuyas paredes, constituidas por rocassedimentarias y volcánicas más antiguas, rodean alvolcán. La historia más “reciente” del área,científicamente documentada (Sruoga et al. 2005), seremonta a la súbita erupción de unos 350 kilómetroscúbicos de cenizas incandescentes o ignimbritas unos450.000 años atrás. Esto y el posterior desarrollo delvolcán Maipo durante los últimos 100.000 años,permiten acercar al público en general a uno de losaspectos más espectaculares de las ciencias de la Tierra,el volcanismo.

El éxito de esta primera prueba indujo acontinuar con la tarea en otros lugares del país

Figura 10 – El cartel, de 200 por 70 centímetros, consta de untexto principal en el que se describen los estadios evolutivos delcentro eruptivo volcán Maipo – caldera del Diamante, textossecundarios vinculados al paisaje actual, historia eruptiva ypeligrosidad, vistas panorámicas explicativas y fotografías dediferentes sectores del área, imagen satelital y texto resumidoen inglés.

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La ejecución de los paneles, financiados confondos otorgados por el Convenio Andrés Bello (Miranday grupo CSIGA 2009) está a cargo de la Comisión de Sitiosde Interés Geológico de Argentina del SEGEMAR. La tareacomienza con sitios propuestos por los potencialesinteresados (Municipio, ONG´s, etc), que en la medida delas posibilidades, son examinados en el terreno paraevaluar su interés geológico, accesibi l idad,infraestructura disponible (prevención de actosvandálicos) y ubicación espacial para el diseño de lospaneles. Atendiendo a las sugerencias y necesidades delos receptores locales, los temas son seleccionados ypresentados con el soporte de artículos científicosactualizados y con la participación activa deprofesionales que desarrollan tareas en el área,garantizando un óptimo nivel de información.

Trabajos de esta índole se han realizado en laReserva Natural Urbana General San Martín en laprovincia de Córdoba (Gaido et al. 2010); en La ReservaNatural Urbana Parque del Este, Baradero y en diferentesáreas de San Pedro, ambas localidades de la provincia deBuenos Aires (Voglino 2008, Miranda et al. 2011); en elárea del Monumento Histórico Nacional y PatrimonioCultural de la Humanidad de la UNESCO (1999) Cueva delas Manos, en la provincia de Santa Cruz (Geuna &Escosteguy 2008), en el Parque provincial Aconcagua enla Provincia de Mendoza (Cegarra y Ramos 2008); en elárea del Lago Buenos Aires, localidad de Los Antiguos,provincia de Santa Cruz (Escosteguy & Geuna 2008), y seproyecta continuar con estas tareas en el ámbito deParques Nacionales, por ejemplo en el parque NacionalMonte León en la Provincia de Santa Cruz (Sacomani et al.2008). Todos estos paneles abordan los contenidosgeológicos que el visitante puede contemplar (Figuras 11a 18).

Figura 11 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. ReservaNatural Laguna del Diamante, provincia de Mendoza.

Figura 12 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. ReservaNatural Urbana Geral. San Martin, provincia de Córdoba.

Figura 13 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR.Monumento Histórico Nacional y Patrimonio de la Humanidad.Cueva de Las Manos, provincia de Santa Cruz.

Figura 14 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. ReservaNatural Urbana Parque del Este, provincia de Buenos Aires.

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Figura 15 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. ReservaNatural Vuelta de Obligado, provincia de Buenos Aires.

Figura 16 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. ParqueProvincial Aconcagua, provincia de Mendoza.

Figura 17 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Puente delInca, provincia de Mendoza.

Figura 18 – Paneles temáticos instalados en el marco delproyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. LosAntiguos, provincia de Santa Cruz.

Durante el año 2012 otras acciones relacionadascon paneles temáticos -desde otros organismos- fueronla puesta en valor del patrimonio paisajístico y laimplementación de miradores interpretativos en laprovincia de Jujuy. Esto fue llevado a cabo a través de unPrograma Nacional de Inversiones Turísticas y deSeñalización Turística de la Provincia de Jujuy, encaradopor la Secretaría de Turismo y Cultura de la provincia conel apoyo del Ministerio de Turismo de La Nación. Losmiradores y los paneles (Figura 19) brindan informaciónsobre paisajes icónicos de la provincia y muestran enmuchos casos una breve descripción de las formacionesgeológicas, con textos en idioma español, inglés yportugués. Están ubicados a la vera de rutas nacionales yprovinciales. Entre los puntos seleccionados seencuentran las Salinas Grandes, la Cuesta de Lipán, laPaleta del Pintor, las Huellas de Dinosaurios, las Termasde Reyes, el Dique La Ciénaga, la Laguna Desaguadero (enYala) y el Parque Nacional Calilegua.

Figura 19 – El primer mirador geológico de Jujuy fue habilitadoen la localidad de Purmamarca, con vista al Cerro Siete Colores(Fotografía por Fernando Miranda).

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6. REFLEXIONES FINALES

El concepto de patrimonio geológico esrelativamente nuevo en nuestro país. No obstante, de lospárrafos anteriores se desprende que no han sido ni sonpocos los profesionales e instituciones interesados en lamateria. Cabe aclarar aquí que solo hemos hechomención de algunas acciones, siendo conscientes de laexistencia de trabajos vinculados al tema en otrasdiferentes áreas del país.

Sin embargo, más allá de los muchos esfuerzosindividuales se torna necesario un trabajo conjunto y concontinuidad en el tiempo. Es entonces cuando surgencuestiones acerca de ¿Cómo lograr éxito en el desarrollode los programas, especialmente cuando muchas veceslos recursos económicos no son los adecuados? ¿Cómoevitar la superposición de tareas a nivel de Instituciones?¿De qué manera conservar el entusiasmo de proyectosque se inician?...

Cada pregunta tendrá su particular respuesta,pero sin duda hay premisas fundamentales que cumplir, ylas siguientes son algunas:

1) Inventario, catalogación y confección de unlistado sistemático de los bienes que integran elpatrimonio geológico, a escala local, provincial o regionaly nacional.

2) Designación de un organismo de nivelnacional que sea referente y a la vez formador en el tema,encargado de articular el accionar de los distintos actoresintervinientes.

3) Formulación de una política de divulgación yprotección del patrimonio geológico, con adjudicaciónde recursos adecuados.

4) Continuidad de los programas en el tiempo.

La identificación, descripción, divulgación yprotección del patrimonio geológico es de vitalimportancia pues su degradación casi siempre esirreversible. Los sitios de interés geológico deben serconsiderados como un elemento más del patrimonio, eincluidos en una correcta gestión del territorio, puestoque, siendo los sitios construcciones naturales, desde elmomento en que se los conceptualiza y se brindaconocimiento sobre ellos se transforman en una partefundamental del patrimonio natural y cultural de laspersonas, paso indispensable para promover a suprotección.

Debe insistirse en que el patrimonio geológicoabarca múltiples aspectos que a menudo se olvidan.Como ejemplo vaya el resguardo y mantenimiento decolecciones centenarias de rocas, minerales y fósiles quehan soportado décadas de abandono.

Dada su particularidad, es necesario evaluar - enel contexto de normas generales - medidas de protecciónconcretas para el patrimonio geológico, entendiendocomo parte de esto el desarrollo de legislación específica.

En la actualidad, tanto los destinos turísticosmás conocidos como aquellos menos tradicionales, peroque también son visitados por gran cantidad de personas,requieren como valor agregado la información geológicacomo parte de las actividades recreativas y turísticas quepromueven la apreciación del medio natural. Estospaisajes son inmejorables aliados para introducir aterceros en el tema del patrimonio geológico.

Los resultados de cualquier estrategia deprevención sólo se ven a largo plazo; el tiempo urge y sedebe asumir esta tarea como un compromiso.

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Manuscrito ID 31555

Submetido em abril de 2013

Aceito em julho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Patrimônio geológico e mineiro no nordeste do Brasil

Geological and mining heritage in northeastern Brazil

Resumo

O Nordeste brasileiro apresenta uma diversidade geológica ímpar e que faz parte do patrimônio geológico nacional. Esta região, emtermos de minerais, rochas, fósseis, paisagens (relevo), além de outros elementos da geodiversidade, apresenta exemplos dos maisdidáticos e completos, indo desde rochas antigas do embasamento cristalino (> 3 bilhões de anos) até as coberturas de dunas (< 5 milanos) e sedimentos recentes em seus leitos de rios, lagos e lagunas. Muitos desses exemplos constituem potenciais monumentos que vêmatualmente despertando, além do interesse científico-didático, também turístico, histórico e cultural. No momento temos ao todos 164geossítios cadastrados, espalhados em diferentes bases, constituindo 14 categorias temáticas, com destaque para a sedimentologia,paleontologia e geomorfologia. São inúmeros os exemplos de patrimônio geológico-mineiro identificados, porém convém lembrar, queesses são apenas uma pequena amostra do que o Nordeste possui. Conhecer melhor este patrimônio e protegê-lo é de suma importância,haja vista que ele possui a particularidade de ser único e irrecuperável: uma vez deteriorado estará perdido para sempre!

Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Patrimônio Mineiro; Nordeste.

Abstract

The Brazilian Northeast has a unique geological diversity and is part of the national geological heritage. This region, in terms of minerals,rocks, fossils, landscapes (relief), and other elements of geodiversity, presents examples of the most instructive and comprehensive,ranging from ancient rocks of the crystalline basement (> 3 billion years) until the coverage dunes (<5000 years) and recent sediments intheir beds of rivers, lakes and lagoons. Many of these examples are potential monuments, which are now awakening, as well as scientificinterest-didactic, too touristic, historical and cultural. At the moment we have all 164 geosites, scattered in different bases, constituting 14thematic categories, with emphasis on sedimentology, paleontology and geomorphology. There are countless examples of geological-mining heritage identified but it should be remembered that these are only a small sample of what the Northeast has. Better understandthis heritage and protecting it is importance, given that it has the particularity of being unique and irretrievable: once decayed is lostforever!

Key words: Geological Heritage; Mining Heritage; Northeast.

1. INTRODUÇÃO

Recursos Naturais são todas as partescomponentes da natureza, exceto o homem e os seusprodutos, que possam ser pelo mesmo aproveitadas dediferentes formas. Assim a palavra recurso natural estavinculada a uso e não envolve valor intrínseco dado anatureza ou as divisões nela estabelecidas pelo homem.Os recursos dividem-se em bióticos e abióticos, emgrandes termos. Os primeiros são em sua maioriarenováveis se respeitados os seus ciclos geracionais e ossegundos envolvem recursos similares conduzidos porciclos puramente geoquímicos como a água e o ar (auto-limpantes) e não renováveis, ou seja, de uso nãoretornável ao meio, a exemplo dos minerais, rochas,recursos energéticos (carvão mineral, hulha, óleo) cujouso pelo homem implica na sua supressão da natureza.Aqui vale apontar que estes últimos podem sofrer, depoisda retirada e primeiro uso, reciclagem, reutilização,reduzindo a necessidade de retirada primária, comotodos os demais recursos. Mas não podem ser criados,

plantados, ou ter seu ciclo de reconstituição respeitado,pois não apresentam tal processo, exceto no tempogeológico, ao qual o homem e suas necessidades nãopode se submeter ou esperar.

Dentro destes recursos ditos energéticos ouminerais fósseis estão alguns cujo uso o homem nãoconsegue mais abrir mão, apesar de conseguir reduzirseu volume de retirada primária, pois apresentamimportância hoje similar a água, ar e energia. Comoexemplo pode-se citar: o vidro (sílica ou quartzo), osplásticos (petróleo), diversos metais como o ferro,chumbo, alumínio; os materiais de construção comoblocos, tijolos, filtros e telhas (argilas) areia, fragmentode rocha, o cimento (calcário); os minerais de usostecnológicos como terras raras, titânio, ouro, diamante;entre muitos outros. Eles atendem no dia a dia, na saúde,na habitação, na escola, no avanço da ciência e da cultura.

Como se pode perceber a relação entre ohomem e os minerais e rochas é intensa e antiga e destelongo aprendizado tem resultado toda(s) a(s)

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MARCOS ANTONIO LEITE DO NASCIMENTO*, ANTONIO JOSÉ DOURADO ROCHA**,MARJORIE CSEKO NOLASCO***.

*Universidade Federal do Rio Grande do Norte - [email protected]

**Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected]

***Universidade Estadual de Feira de Santana - [email protected]

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civilização(ões) humana(s), conclui-se o homem éminero-dependente!

Deve se destacar que a configuração geológicadefine a própria escolha de locais de fixação eurbanização, ou colonização e dominação, peladisponibilidade de recursos. Por isto mesmo o desenhoda ocupação ou urbis denuncia, ainda hoje, os dois maisimportantes deles: a conformação da paisagem noquesito acesso e segurança e a presença da água- umrecurso necessário a vida e de múltiplos usos, ao longo daqual se extende toda a civilização, para não adentrar naconquista do fogo.

A maioria dos recursos citados tem origemdireta ou indireta na mineração, assim sendo a mina é aexpressão do uso dos recursos abióticos, a mais clara euma das mais antigas marcas da relação entre asociedade e a geodiversidade e da dependênciageológica da humanidade.

Patrimônio diz de herança, daquilo que falasobre a identidade de um grupo, de um local, região, domundo! Algo relevante, marcante em cada nível ou emtodos eles, para o Homem. Pode ter várias tipologias,como o recurso, as mais amplas delas são material eimaterial, além de natural ou cultural que podem semesclar com os anteriores. Em ambas as divisões, osprimeiros grupos (material e cultural) são fartamenteconhecidos e trabalhados, como em edificações,tombamento de monumentos, prédios, moveis,esculturas e mesmo em alguns raros casos, em áreasmineiras especialmente de ouro.

Já os termos Patrimônio Natural e Imaterial sãomenos difundidos, refere-se o primeiro a paisagens,artes rupestres pré-históricas e outros sítiosarqueológicos e, o segundo, a memória no seu aspectonão documental e ao que não é tocável, mas relaciona-sea manifestações culturais e sociais, como festejos ecostumes, a música, as históricas contadas e aoartesanato.

Contextualizado os conceitos e suas definições,será que as minas e a mineração fazem parte damemória, ou mais amplamente da herança de um povo?Deve-se registrar que é mais comum e usual oreconhecimento do rural no agropecuário, noextrativismo animal e vegetal como atividades de povostradicionais. Talvez, por desconhecimento ou um silênciopouco esclarecido, ou ainda por não serem os povosmineiros dados a conversas ou aparições, o extrativismomineral, a atividade minera ou ainda mais longegarimpeira, não é reconhecida formalmente. Entretanto,em diversos países da Europa e America Latina,especialmente de influência espanhola, já se reconhece eindica a existência de um patrimônio mineiro.

Uma mina expõe o patrimônio geológico deuma região como poucos pontos do planeta, permitindoa formação de profissionais diversos e o entendimentodo funcionamento da “nossa casa” Terra, assim elaguarda patrimônio dito natural, do tipo geológico.

Também guarda toda a memória das técnicas e dasdificuldades dos povos das minas, para o bem e para omal, a forma como lidamos e nos apropriamos dosrecursos, implicando patrimônio imaterial e material.Seja no alto dos Andes, nos Pirineus, na ChapadaDiamantina ou em Diamantina, ou mesmo em Carajás.Da prata ao sal, do diamante ao ferro, a história daevolução humana, dos domínios entre os povos, e datecnologia, esta marcada e conduzida pelo fazer mineiroe seu desenvolvimento.

O povo que trabalha dentro da Terra, ou éherdeiro destes, compreende ou aprende como poucos aentendê-la, a reverenciá-la, a respeitá-la como força quecria trabalho e possibilidades e também que mata! Umanoção que assusta outros grupos profissionais epopulações não mineiras. Sua forma de ser, suashistórias, suas músicas, seus “causos” são moldados pelasua relação com a rocha, o minério, a paisagem,configurando arraigados vínculos com a mineração epatrimônio imaterial.

Não é possível entender em separado estepatrimônio. O patrimônio mineiro é um patrimôniomisto: material no que diz respeito ao natural que égeológico e paisagístico, histórico no que se traduzindustrial e arquitetônico, tecnológico e documental eimaterial tanto cultural como também histórico centradona memória, na cultura, nas artes e no trabalho, ou seja,na natureza da relação dos grupamentos mineiros egarimpeiros com as rochas.

Assim, apresentar o patrimônio geológico-mineiro do Nordeste do Brasil é o objetivo principal desseartigo. Conhecê-lo é de suma importância para protegê-lo, pois só se cuida daquilo que se conhece!

2. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E MINEIRO

O patrimônio pode ser considerado como bemou conjunto de bens culturais ou naturais, de valorreconhecido para determinada localidade, região oupaís, ou para a humanidade, e que, ao se tornar(em)protegido(s), como por exemplo, pelo tombamento,deve(m) ser protegido(s) para o usufruto de todos oscidadãos. Portanto, o conceito de patrimônio é muitoamplo e está associado a uma herança comum, que temimportância para uma dada região, um dado país oumesmo para toda a humanidade. Os bens culturais enaturais, saberes e modos de fazer pertencem a todos e,portanto, devem ser cuidados para que não se percam.

Integra o patrimônio natural, o patrimôniogeológico, que é constituído pelos geossítios (sítiosgeológicos ou locais de interesse geológico) queregistram a memória da história da Terra, num períodoque alcança milhares, milhões e até bilhões de anos e queincluem (i) afloramentos de rochas; (ii) minerais; (iii)fósseis; (iv) conjuntos de valor paisagístico: serras,montanhas, picos, vales; e (v) coleções de museus degeociências ou de história natural. Porém, quando esses

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elementos da geodiversidade se encontram em umespaço territorial compreendido por atividades deextração, a esse conjunto é dado o nome de patrimôniomineiro. Assim é inegável a forte associação entre essesdois tipos de patrimônios, o geológico e o mineiro,mesmo os mesmos sendo considerados tipos depatrimônios distintos. Para Brilha (2005), dada adiferença de conceitos e metodologias, esses dois termosdevem ser mantidos separados.

Um geossítio é considerado a “ocorrência de umou mais elementos da geodiversidade (aflorantes querpor resultado da ação de processos naturais, quer devidoà intervenção do homem), bem delimitadogeograficamente e que apresenta valor singular do pontode vista científico, educativo, cultural, turístico ou outro”(Brilha, 2005).

O conceito de patrimônio geológico estáestreitamente relacionado à geodiversidade, contudoeste patrimônio não deve ser encarado como sinônimode geodiversidade, esta sendo a variedade de ambientesgeológicos, fenômenos e processos ativos que dãoorigem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos eoutros depósitos superficiais que são o suporte para avida na Terra. O patrimônio geológico é apenas umapequena parcela da geodiversidade, que apresentacaracterísticas especiais e, por conseguinte,merece/necessita ser conservado.

Assim, o patrimônio geológico é definido como“o conjunto de geossítios inventariados, caracterizados ebem delimitados geograficamente, em uma dada área ouregião, onde ocorrem um ou mais elementos dageodiversidade com elevado valor científico, pedagógico,cultural, turístico e outro” (Brilha, 2005; Nascimento etal. 2008).

De acordo com Cortés (1996) esse patrimôniopode ser classificado pelo seu conteúdo emE s t r a t i g r á f i c o , P a l e o n t o l ó g i c o , Te c t ô n i c o ,Hidrogeológico, Petrológico, Geotécnico, Mineiro,Mineralógico, Geomorfológico, Geofísico, Geoquímico eMuseus e coleções, entre outros. Vale ressaltar aqui queeste autor credita o “mineiro” como um tipo depatrimônio geológico.

3. OS DIFERENTES TIPOS DE PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

Uma das primeiras providências para sedesenvolver qualquer atividade ligada a geodiversidade(e, consequentemente, ao seu patrimônio geológico-mineiro) é a identificação de aspectos geológicos comparticular valor científico, educativo ou turístico. Nesteúltimo caso, no nordeste brasileiro, por exemplo, semdúvida, muitos locais de interesse geológico já eram

atrações turísticas antes de os geocientistas os teremestudados. Alguns são verdadeiros cartões-postais, queservem, inclusive, para atrair turistas do exterior, comdestaque para Lençóis Maranhenses (MA); Jericoacara eCanoa Quebrada no litoral cearense (CE); Cânion do RioSão Francisco (Al/SE); Morro do Careca e Dunas deJ e n i p a b u ( R N ) , e n t r e m u i t o s o u t r o s .

O Nordeste, por sua geodiversidade, é detentorde inúmeras feições geológicas que possuemcaracterísticas de patrimônio. A seguir, serãoapresentados exemplos de geossítios nas diversascategorias em que o patrimônio geológico pode serclassif icado: geomorfológico, paleontológico,espeleológico, sedimentológico, paleoambiental,marinho e tectônico; acrescentando ao final opatrimônio mineiro, este sempre intimamente ligado aopatrimônio geológico.

3.1. PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO

No Nordeste brasileiro, o relevo se destacaproporcionando paisagens de grande beleza cênica commirantes que permitem a contemplação dessas áreas,formadas por chapadas, serras, picos, morros ecachoeiras, cujos melhores exemplos são: ChapadaDiamantina (BA), Serra da Capivara e Sete Cidades (PI);pico vulcânico do Cabugi (RN), dentre muitos outros.

De forma geral, nesse relevo destacam-se duascategorias de altos topográficos, ambas com sua baseconstituída por rochas cristalinas (metamórficas e/ouígneas). Uma categoria possui no topo coberturassedimentares identificadas pelo topo plano (asconhecidas chapadas). Estas estão representadas pelasserras de Santana, dos Martins e Portalegre (ambas noRN) e pelas chapadas sustentadas por rochassedimentares, no caso Chapada do Araripe (CE/PE/PB),Chapada do Apodi (RN/CE), Chapada da Ibiapaba (CE/PI)e Chapada Diamantina (BA) (Figuras 1 a 6). Aquelasconstituídas unicamente por rochas cristalinas, portantoformadas por litologias ígneas e/ou metamórficas,mostram-se com topo pontiagudo ou irregular. Naconstituição desse relevo, destacam-se as serras, os picose afloramentos de rochas cujos melhores exemplos sãoas serras/picos do Cabugi e do Totoró (RN), do Jabre (PB),entre outras. Essas serras e picos são formadosprincipalmente por granitos, basaltos, mármores egnaisses. Locais como o Morro do Pai Inácio-BA (Pedreira& Bomfim, 2002), o Parque Nacional de Sete Cidades-PI(Della Favera, 2002), os Eolinitos de Flecheiras/Mundaú-CE (Carvalho et al. 2009) e a Ponta de Jericoacara-CE(Julio et al. 2012) fazem parte do cadastro de geossítiosda Comissão Brasileira de Sítios Geológicos ePaleobiológicos (SIGEP).

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Figura 1 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado noNordeste. Morro do Pai Inácio, Chapada Diamantina (BA).

Figura 2 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado noNordeste. Chapada do Araripe (CE).

Figura 6 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado noNordeste. Pico do Cabugi (RN).Figura 3 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado no

Nordeste. Pedra da Tartaruga, Parque Nacional Sete Cidades(PI).

Figura 4 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado noNordeste. Serra de Portalagre (RN).

Figura 5 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado noNordeste. Pico do Totoró (RN).

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A atuação dos processos erosivos, compredomínio de erosão diferencial, juntamente com aatuação dos processos de intemperismo, proporcionamo desgaste da rocha, com a conseqüente formação docenário atual.

No litoral do Nordeste do Brasil, a paisagem sedestaca pela presença de falésias, escarpas costeirasabruptas, muitas vezes não cobertas por vegetação, quese localizam na linha de contato entre a terra e o mar,sendo do tipo ativa ou inativa, especialmente entre osestados do Ceará e da Bahia. A associação dessepatrimônio com o patrimônio sedimentológico é bemevidente, em geral, essas paisagens são formadas porarenitos e conglomerados, principalmente da FormaçãoBarreiras. Como alguns exemplos de destaque, têm-se asfalésias de Pipa (RN), Ponta Grossa (CE) e Porto Seguro(BA). Outros atrativos paisagísticos do litoral nordestinosão as dunas geradas por acumulação de areiadepositada pela ação do vento, podendo ser fixas oumóveis. Muitas dessas dunas são consideradas cartões-postais dos lugares onde ocorrem. É o caso das dunas dosLençóis Maranhenses (MA), do Morro do Careca (RN) eda área da Lagoa do Abaeté em Salvador (BA) (Figuras 7 a10). Destacam-se ainda os cordões de arenitosencontrados em boa parte do litoral nordestino,descritos como beachrocks (ou arenitos praiais) queservem como substrato rochoso para acúmulos dediferentes tipos de corais. Locais como o Campo deDunas inativas do médio Rio São Francisco-BA (Barreto etal. 2002), a Costa do Descobrimento do Brasil-BA(Dominguez et al. 2002), o Cânion do Rio Sergi-BA(Pedreira 2002) e os Arrecifes-PE (Barreto et al. 2010)fazem parte do cadastro de geossítios da ComissãoBrasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP).

Figura 7 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneasobservado no Nordeste. Falésias da Praia de Pipa (RN).

Figura 8 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneasobservado no Nordeste. Falésias da Praia de Ponta Grossa (CE).

Figura 9 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneasobservado no Nordeste. Dunas dos Lençóis Maranhenses (MA).

Figura 10 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneasobservado no Nordeste. Dunas do Morro do Careca (RN).

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A intenção de utilizar a paisagem (e seu relevo)como atração geoturística, por exemplo, vem danecessidade de cobrir uma lacuna do ponto de vista dainformação. A idéia é permitir que o observador (umturista, por exemplo) não só contemple aquelaspaisagens, mas também entenda algo sobre os processosgeológicos responsáveis por sua formação, o queacarretaria maior valorização do cenário.

3.2. PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO

O fascínio em saber algo sobre o passado davida na Terra faz com que os locais onde existem essesregistros sejam hoje sítios paleontológicos bastantevisitados.

No Nordeste, são inúmeros os sítiospaleontológicos, destacando-se a Chapada do Araripe(CE-PE), o Vale dos Dinossauros (PB), a rica faunapleistocênica da Serra da Capivara (PI), os estromatólitosdas fazendas Cristal e Arrecife (BA), o Lajedo do Apodi(RN), os tanques fossilíferos de Itapipoca (CE) e SãoRafael (RN), entre muitos outros (Figuras 11 a 14). Oprincipal interesse em um sítio paleontológico é apresença de fósseis, que compreendem restos ouvestígios deixados nas rochas por animais e/ou plantasno passado geológico.

Figura 11 – Exemplo de patrimônio paleontológico noNordeste. Fóssil de inseto libélula (símbolo do Museu dePaleontologia de Santana do Cariri, CE).

Figura 12 – Exemplo de patrimônio paleontológico noNordeste. Pegada de dinossauro no Vale dos Dinossauros emSousa (PB).

Figura 13 – Exemplo de patrimônio paleontológico noNordeste. Estromatólito na Fazenda Arrecife (BA).

Figura 14 – Exemplo de patrimônio paleontológico noNordeste. Fóssil de megafauna no Lajedo de Soledade (RN).

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U m e x c e l e n t e e x e m p l o d e s í t i o spaleontológicos no Nordeste brasileiro está noGeoparque Araripe, primeiro geoparque nacional comreconhecimento da Rede Global de Geoparques sob osauspícios da UNESCO. Provavelmente, a região é a maisrica em depósitos de vertebrados fósseis do Brasil e umdos mais importantes do mundo, chamando a atençãopelo excelente estado de preservação. É de lá a origemdos milhares de fósseis de peixes encontrados nas feirase lojas por todo o Brasil – vale salientar que o comércio defósseis é crime. No geoparque, ocorrem fósseis dedinossauros (mais raros), bem como de peixes,tartarugas, crocodilianos, pterossauros, foraminíferos,crustáceos, gastrópodes, ostracóides, bivalves eequinóides. A região oferece uma possibilidade únicapara se compreender parte importante do passadogeológico e da vida na Terra.

Em muitos sítios paleontológicos sãoencontradas também artes rupestres (pinturas egravuras) representando aspectos do dia-a-dia, danças,ritos e cerimônias dos antigos habitantes da região, alémde figuras de animais, alguns já extintos. Essas artes pré-históricas, com idades que variam de 2 a 12 mil anos,estão gravadas em paredões de rochas. Vale salientarque, muitas vezes, as artes rupestres fazem parte dossítios paleontológicos; todavia, estas são consideradaspatrimônio cultural e protegidas pelo Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e,portanto, enquadram-se no patrimônio cultural.

Outros sítios paleontológicos do nordeste estãocadastrados junto a Comissão Brasileira de SítiosGeológicos e Paleobiológicos (SIGEP), são eles: FazendoCristal-BA (Srivastava & Rocha 2002a), Fazendo Arrecife-BA (Srivastava & Rocha 2002b), Icnofósseis da Bacia doRio do Peixe-PB (Leonardi & Carvalho 2002), MembroCrato da Formação Santana-CE (Viana & Neumann 2002),Membro Romualdo da Formação Santana (Kellner 2002),Toca da Janela da Barra do Antonião-PI (Guerin et al.2002), Lajedo de Soledade-RN (Porpino et al. 2009),Tanques Fossilíferos de Itapipoca-CE (Ximenes 2009) eAfloramento Fossilífero de Oiti-PI (Pociano et al. 2010).

3.3. PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO

Esse tipo de patrimônio se refere às cavernasque se desenvolvem, principalmente, em calcários emármores, embora ocorram também em formaçõesferríferas bandadas, arenitos, quartzitos e granitos. Essetipo de relevo apresenta um conjunto de feições muitocaracterísticas que, além das próprias cavernas,configuram uma grande beleza cênica, como maciçosrochosos expostos, paredões ou escarpas, vales, torres,depressões, dolinas, lagoas, além dos espeleotemas(estalactites, estalagmites, bolo de noiva, etc).

Segundo Auler & Zogbi (2005), o Nordeste éuma região favorável à descoberta de novas grutas. NaBahia, por exemplo, destaca-se a Gruta do Padre, com

16,3 km de extensão – terceira maior caverna descobertano país. As principais cavernas de interesse ocorrem naregião da Chapada Diamantina, com várias de grandeextensão e beleza, como a Lapa Doce. Registra-se, ainda,a região de Campo Formoso, que apresenta as duasmaiores cavernas do país: Toca da Boa Vista (Auler &Smart, 2002) e Toca da Barriguda, com 105 km e 32 km deextensão, respectivamente. No município de Morro doChapéu existem a Gruta dos Brejões com 7 km deextensão, com grande diversidade de espeleotemas, e acaverna do Cristal, com cerca 4 km de extensão,praticamente desprovida de espeleotemas, embora compotencial paleontológico (Figuras 15 e 16).

Figura 15 – Exemplo de patrimônio espeleológico no Nordeste.Gruta dos Brejões (BA), formada em calcários.

Figura 16 – Exemplo de patrimônio espeleológico no Nordeste.Casa de Pedra de Martins (RN), formada em mármore.

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No Ceará, uma das mais conhecidas é a Gruta deUbajara, um dos parques nacionais mais antigos doBrasil. No Rio Grande do Norte, a região entre FelipeGuerra e Apodi concentra a maior quantidade decavernas, com destaque para a Casa de Pedra de Martins,considerada a segunda maior caverna em mármore doBrasil.

Muitas cavernas no Nordeste já sãoconsideradas de uso turístico. Esse tipo de geoturismo,também denominado “turismo espeleológico” (ouespeleoturismo), é a prática puramente esportiva erecreativa de visitação às cavernas, mas que deve serrealizada com o auxílio de especialistas. Para Auler &Zogbi (2005), a abertura de uma caverna para o turismoem massa provoca uma série de intervenções que podemvir a alterar ou mesmo danificar permanentemente acaverna. A instalação de luz artificial, por exemplo, podelevar à alteração da temperatura e da umidade dacaverna. Uma das cavernas mais impactadas pelaadaptação para o turismo é a Furna dos Morcegos (SE),próxima a Paulo Afonso (BA). Nessa gruta, a escavação deum elevador na rocha e a construção de um enormechafariz descaracterizaram irreversivelmente o ambienteda caverna.

Na lista dos sítios espeleológicos cadastrados naComissão Brasi le ira de Sít ios Geológicos ePaleobiológicos (SIGEP) estão a Toca da Boa Vista-BA(Auler & Smart 2002), as Grutas de Iraquara-BA(Laureano & Cruz Jr. 2002), a Lapa dos Brejões-BA(Berbert-Born & Karmann 2002) e o Poço Encantado-BA(Karmann et al. 2002).

3.4. PATRIMÔNIO PALEOAMBIENTAL

Os paleoambientes correspondem aosambientes antigos em que ocorreu a formação dasrochas. A reconstituição dos paleoambientes exige oestudo das fácies, características litológicas epaleontológicas das formações geológicas, quepermitem compreender e interpretar o ambienteexistente quando o estrato sedimentar se formou.

No Nordeste brasileiro alguns geossítios,inclusive cadastrados na Comissão Brasileira de SítiosGeológicos e Paleobiológicos (SIGEP), são consideradospatrimônio paleoambiental, como é o caso das serras doTombador (Pedreira & Rocha 2002) e do Sincorá(Pedreira 2002), ambas na Chapada Diamantina (BA),sendo a primeira um belo registro de um deserto antigoe, a segunda, exemplo de paleopláceres de diamantecom beleza paisagística. Os calcários da Pedreira Poty(PE) (Albertão & Martins Jr. 2009) mostram evidências deum evento catastrófico no primeiro registro do limite K-Tdescrito na América do Sul, enquanto na região de Brejodo Piauí (PI) são descritos pavimentos estriados (Caputo& Ponciano 2010), registrando geleiras continentais comcerca de 360 milhões de anos (Figuras 17 e 18).

Figura 17 – Exemplo de patrimônio paleoambiental noNordeste. Calcários da Pedreira Poty (PE) onde ocorre registrodo limite K-T.

Figura 18 – Exemplo de patrimônio paleoambiental noNordeste. Pavimentos estriados na região de Brejo do Piauí (PI)evidenciando antiga geleira.

3.5. PATRIMÔNIO TECTÔNICO

Esse tipo de patrimônio está ligado a qualquerprocesso geológico em que se tem movimentação oudeslocamento de massas rochosas, construindo oureorganizando a estrutura terrestre devido a tensõescrustais, por exemplo, orogênese, epirogênese,falhamentos, diapirismo, etc.

Assim, feições estruturais ímpares impressassobre as rochas podem ser identificadas comopatrimônio, a exemplo das importantes deformaçõestectônicas cenozóicas observadas em rochassedimentares da Formação Barreiras nas falésias na Praiade Ponta Grossa (CE) (Sousa et al. 2009), já cadastrada nalista da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos ePaleobiológicos (SIGEP), bem como a Falha Geológica deSalvador (BA), esta caracterizando o desnível existenteentra a Cidade Alta e a Cidade Baixa da capital da Bahia.Olhando em direção ao Elevador Lacerda, observa-se

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ao fundo um paredão de rocha. Essa escarpa que une aCidade Alta e a Cidade Baixa - incluindo toda a faixaesverdeada pela vegetação - define o Plano da FalhaGeológica de Salvador (Figuras 19 e 20).

Figura 19 – Exemplo de patrimônio tectônico no Nordeste.Falésias na Praia de Ponta Grossa (CE).

Figura 20 – Exemplo de patrimônio tectônico no Nordeste.Escarpa de Falha na cidade de Salvador (BA).

4. ESTÁGIO ATUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE GEOSSÍTIOS

NO NORDESTE

A região nordeste do Brasil possui uma grandediversificação litológica, com ampla distribuição ao longoda escala de tempo geológico. Este fato implica em umaresponsabilidade da comunidade local com apreservação dos geossítios que constituem patrimôniogeológico desta região. Essa responsabilidade deve sercompartilhada pelos geólogos e demais profissionais queatuam na área, entidades de classe, órgãos públicos eempresas particulares, além das universidades.

Neste sentido, o passo inicial seria decidir o quedeve ser protegido. Essa decisão exige a realização de uminventário amplo (estadual, por exemplo) sistemático degeossítios, que poderia ser desenvolvido tendo comobase as unidade litológicas, na escala 1:250.000, queconstam do GEOBANK (Banco de Dados) da CPRM.

Em um levantamento realizado para a região

nordeste chegou-se a 164 geossítios identificados,embora vários ainda não possuam a respectiva descriçãoe, inclusive, em alguns casos as coordenadas não estejamdisponíveis (Figura 21). Para tal levantamento lançou-semão de fontes bibliográficas (Figura 22), descritas abaixo:

19 geossítios - Schobbenhaus et al 2002;

08 geossítios - Winge et al 2009;

03 geossítios - Wing et al (no prelo);

14 geossítios - Já aprovados pela SIGEP;

47 geossítios - Cadastrados no aplicativoGEOSSIT desenvolvido pela CPRM;

25 geossítios Dsiponibilidados na Tese deDoutorado de Pereira (2010);

48 geossítios - Schobbenhaus & Silva 2012.

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Figura 21 – Total de geossítios identificados na região nordeste(dados de Abril de 2013).

Figura 22 – Fontes consultadas para identificação dos geossítiosna região nordeste.

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A análise por estados mostra a Bahia com omaior número de geossítios identificados (Figuras 23 e24). No outro extremo está o estado de Alagoas, com umgeossítio identificado. Esta situação decorre,provavelmente, no primeiro caso da presença deuniversidade, unidade regional da CPRM, órgão estadualcom atuação no setor mineral ou tradição de pesquisaem algum campo da geologia, a exemplo dapaleontologia. E, no segundo caso do fato de não existirum curso de geologia no estado, nem a presença de umaSuperintendência ou Núcleo da CPRM em Maceió.

De uma maneira geral o atual cenário deidentificação de geossítios reflete também a açãoindividual de alguns pesquisadores, bem como o fato deque algumas instituições já se mostram receptivas aoassunto.

Figura 23 – Distribuição da quantidade de geossítios porestados no nordeste.

Figura 24 – Distribuição dos geossítios por estados no nordeste.

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Os geossítios identificados estão distribuídos em 14 categorias temáticas, com destaque para a sedimentologia,paleontologia e geomorfologia (Figura 25).

Figura 25 – Classificação temática para os geossítios encontrados no nordeste.

O cenário atual relativo ao número de geossítios, distribuição por estados e número de classes temáticas, deveráter alterações profundas, na medida em que sejam implementados os cadastramentos estaduais. Esse cadastramento podeser conduzido pelos estados, de acordo com uma sistemática a ser estabelecida, ou mesmo venha ser realizado pela CPRM.Neste último caso teríamos 3 cenários distintos (Tabela 1):

Projetos Características do Geossítio Vantagens Desvantagens

Em desenvolvimentoAo final dos trabalhos o chefe

do projeto indica osgeossítios.

Baixo custo. Respostas acurto e/ou médio prazo. --------------------------------

ConcluídoO geólogo que foi o chefe doprojeto indica os geossítios.

Baixo custo. Respostas acurto e/ou médio prazo.

A equipe do projeto podenão mais pertencer aos

quadros da empresa.

A ser iniciado Ao final dos trabalhos o chefedo projeto indica os

geossítios.

Respostas a médio/longoprazo.

Não é possível prever a datade conclusão do projeto.

Tabela 1 – Sistemática envolvida no cadastramento de geossítios.

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Em face do tamanho e do grau de dificuldade datarefa, seguramente a CPRM deverá buscar parceiras,preferencialmente com as universidades, que inclusive jádesenvolvem o cadastro em alguns estados do Nordeste.

A mineração apresenta um potencial enormena divulgação dos elementos da geodiversidade. Essaatividade já é bastante difundida em outros países e, noNordeste, tem forte potencial ainda a ser explorado.

A Mina Brejuí (Currais Novos – RN), localizada acerca de 180 km de Natal (RN), na região do SeridóPotiguar, é um exemplo de sucesso no que se refere àadaptação de uma mina para desenvolvimento deatividade geoturística. Ela foi uma das maioresprodutoras de scheelita (minério rico em tungstênio) daAmérica do Sul, com sua exploração iniciada em 1943 etendo seu apogeu durante a Segunda Guerra Mundial.Em 1996, essa mina teve suas atividades paralisadas,retornando a elas no ano de 2005. No entanto, já a partirde 2000, as atividades voltadas ao turismo começaram aser implantadas. Hoje, a mina Brejuí é considerada omaior parque temático do Rio Grande do Norte, sendovisitada diariamente por turistas e estudantes oriundosde todas as regiões do Brasil e do exterior,contabilizando-se mais de 30.000 turistas em visita àmina. Os turistas e estudantes podem desfrutar dasriquezas históricas e culturais da mina por meio davisitação aos túneis e galerias, dunas de rejeito, museumineral e outras atrações (Figura 26 a 29).

5. PATRIMÔNIO MINEIRO

Figura 26 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado naMina Brejuí (Currais Novos, RN). Entrada com Parque Temático.

Figura 27 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado naMina Brejuí (Currais Novos, RN). Entrada do túnel preparadopara visitação (Galeria Fernando, nível 3378).

Figura 28 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado naMina Brejuí (Currais Novos, RN). Bica e vagonete utilizados paradescida e retirada do minério.

Figura 29 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado naMina Brejuí (Currais Novos, RN). Um dos salões visitados dentroda Mina Brejuí.

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Outra estratégia importante é criar roteiros queintegrem minas e garimpos, assim valorizando epreservando esse rico patrimônio mineiro. Um exemplodesse tipo de roteiro foi publicado por Liccardo &Nascimento (2008) sendo definido como “Roteiro deTurismo Mineral no Nordeste” (Figuras 30 a 32). Neste, opassado e o presente registram a história, a identidade ea cultura da região associada aos diferentes recursosminerais encontrados em minas e garimpos. Oconhecimento geocientífico disponibilizado nesteroteiro valoriza o patrimônio geológico-mineiro,tornando-o acessível às comunidades locais e aosvisitantes.

Esse roteiro é apresentado em consonânciacom atrativos turísticos tradicionais, unindo quatroestados do Nordeste e dois pólos de entrada do turismointernacional (Natal/RN e Fortaleza/CE). Integra aindaprodução com potenciais consumidores. O trajetoproposto parte de Natal/RN e termina em Fortaleza/CE,mas pode ser utilizado em ambos os sentidos. Ao longodesta rota são considerados os principais pólos com asseguintes localidades: Natal/RN; Lajes Pintadas/RN comprodução de água-marinha e esmeralda, além deminerais de coleção ligados aos pegmatitos e pedra-sabão; Currais Novos/RN com a famosa Mina Brejuí(scheelita), já transformada em atração turística, e um

núcleo de artesanato mineral e lapidação; Carnaúba dosDantas/RN com quartzo rosa, espessartita e berilo;Parelhas/RN com turmalinas verdes, azuis e vermelhas,água-marinha, heliodoro e outros; Equador/RN comraríssimos euclásios azuis; Junco do Seridó/PB com aúnica produção mundial de turmalina-da-Paraíba,material que alcança preços de até 100 mil dólares porgrama e uma profusão de rochas ornamentais; CampinaGrande/PB com o Centro Gemológico do Nordeste;Souza/PB, importante sítio paleontológico/arqueológicodentro do trajeto, com as pegadas de dinossauros;Tenente Ananias/RN com água-marinha e esmeralda;Solonópole/CE com turmalina e água-marinha;Quixeramobim/CE que produz berilo em seu entorno e éum pólo de desenvolvimento de joalheria eaproveitamento de materiais; Pedro II/PI com a segundamaior produção mundial de opala nobre, associada àBacia Sedimentar do Parnaíba, e um forte núcleo deartesanato mineral e joalheria; Buriti dos Montes/PI queapresenta produção inicial de opala-de-fogo, tambémligada às rochas sedimentares. Este roteiro apresentauma série de atrativos geoturísticos ligados à paisagemdo sertão, propondo uma verdadeira interação dointenso turismo que acontece no litoral com o interiordestes estados.

Figura 30 – Uso de minas e garimpos em roteiro de turismo mineral. Mapa do Roteiro de Turismo Mineral no Nordeste.

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Figura 31 – Uso de minas e garimpos em roteiro de turismomineral. Fluorescência em scheelita da Mina Brejuí (RN).

Figura 32 – Uso de minas e garimpos em roteiro de turismomineral. Opala nobre produzida em Pedro II (PI).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há poucos anos as pesquisas em geologia, queeram voltadas quase exclusivamente para a prospecçãomineral, incorporaram a discussão do meio ambiente aoensino e à pesquisa, sintonizando rapidamente com asexigências de uma conscientização mundial sobre asrelações do homem com seu habitat. As inúmeras linhasde pesquisa, teses e publicações que surgiram deramnovo corpo ao estudo da geologia, inclusive aprimorandoe adaptando a extração mineral para minimização deimpactos.

A dependência do homem com relação aextração/uso mineral evoluiu da coleta (como os

recursos bióticos) até as grandes minas, que são umaforma elaborada de coleta (extração). Pode se observardesde a pré-história exemplos desta dependência emtrês linhas básicas que conduzem ao avanço cultural

2. As habitações que inicialmente usam aprópria paisagem em forma de grutas, lapas e cavernas,seguida da moldagem de barro em varas, evoluindo até ovidro e as ligas metálicas.

3. A saúde e a guerra, que se confundem e secomplementam, indo do bastão as pontas de flechas efacas de pedra, da pólvora e das armas de metal e ogivasnucleares as agulhas e bisturis a laser e equipamentos deradioterapias.

Algo semelhante acontece hoje quanto àinclusão da geodiversidade na ampla compreensãoambiental. Encarar certos aspectos da geodiversidadecomo algo valioso – Patrimônio no seu sentido maisnobre – traz à tona uma mudança de paradigma, umanova conscientização do profissional em geociências.Incluir o meio abiótico e fazer com que a sociedadecompreenda o estreito vínculo da biodiversidade com ageodiversidade são hoje necessidades prementes. Avisão segmentada do meio ambiente dos anos passadosnão serve mais num mundo globalizado de hoje, queacompanha os processos naturais de transformação doplaneta – terremotos, tsunamis, furacões, vulcões - emtempo real.

Assim, conhecer essa parte do patrimônionatural, relacionado ao meio abiótico é de sumaimportância e o nordeste brasileiro tem uma diversidadegeológica ímpar e que faz parte do patrimônio geológiconacional. Percebe-se, por fim, que a região nordeste doBrasil, em termos de minerais, rochas, fósseis, paisagens(relevo) e outros elementos da geodiversidade,apresenta exemplos dos mais didáticos e completos,indo desde rochas antigas do embasamento cristalino (>3 bilhões de anos) até as coberturas de dunas (< 5 milanos) e sedimentos recentes em seus leitos de rios, lagose lagunas. Muitos desses exemplos constituempotenciais monumentos, que vêm atualmentedespertando, além do interesse científico-didático,também interesses turístico, histórico e cultural. Tãoimportante quanto, é o potencial nordestino em termosde patrimônio mineiro.

etecnológico:

1. Os registros do homem feito em pedras e cominsumos minerais, evoluindo para as tintas, o uso dografite e o laser.

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Manuscrito ID 31446

Submetido em abril de 2013

Aceito em julho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Conservação e restauro do patrimônio geológico e sua

relevância para a geoconservaçãoConservation and restoration of geological heritage and its relevance to geoconservation

KÁTIA LEITE MANSUR, LUIZA CORRAL MARTINS DE OLIVEIRA PONCIANO,ALINE ROCHA DE SOUZA FERREIRA DE CASTRO, ISMAR DE SOUZA CARVALHO

Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected] - [email protected] - [email protected] -

[email protected]

Resumo

O desenvolvimento e adaptação de metodologias e diretrizes específicas para a conservação e o restauro do patrimônio geológico esão temas relevantes para as ações voltadas para a Geoconservação. A fim de contribuir para o desenvolvimento desta área, foram

analisadas intervenções em monumentos e geossítios brasileiros e internacionais, visando sua preservação frente às ameaças naturais ouantrópicas. Algumas medidas de conservação e restauro podem deteriorar o valor científico, didático e estético dos geossítios, quandonão é realizado um planejamento adequado e análise crítica prévia. São sugeridas algumas ações práticas para o controle da erosão eoutros efeitos do intemperismo, o restauro de geossítios danificados por vandalismo e a realização de projetos de educação patrimonial,incluindo a participação de profissionais de diversas áreas para consolidar novos métodos de preservação do patrimônio geológico.

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Palavras-chave: Geoconservação, Restauro, Educação Patrimonial, Patrimônio Geológico.

Abstract

This paper aims to highlight the necessity to develop and adapt methodologies and guidelines to conservation and restoration of theand geological heritage. At the moment, these issues have been superficially discussed in the available literature on

Geoconservation in Brazil. The interventions in national and international monuments and geosites were analyzed in form to contribute totheir preservation against natural and anthropogenic threats. Some conservation and restoration technics can damage the aesthetic,scientific and didactic value of the geosites, if the responsible for its protection doesn´t make planning and critical analysis of theinterventions. It is suggested practical actions to erosion control and other weathering effects, to the restoration of geosites damaged byvandalism and to the implementation of projects of heritage education. It is important too, the participation of professionals of severalknowledge areas to consolidate news approaches to the preservation of geological heritage.

in

situ ex situ

Key words: Geoconservation, Restoration, Heritage Education, Geoheritage.

1. INTRODUÇÃO

Com base na análise das várias formas deproteção do patrimônio cultural, Flores (2005) definePreservação como todas as ações que beneficiam amanutenção do bem cultural, incorporando, inclusive, alegislação. Conservação é o conjunto de medidasdestinado a conter as deteriorações de um objeto ouresguardá-lo de danos. Restauração é o trabalho derecuperação feito em construção ou em objetoparcialmente destruído ou é a intervenção que se realizanum objeto com a finalidade de recompô-lo. Para Flores(2011) a conservação visa interromper os processos dedeterioração, conferindo estabilidade à obra, enquanto arestauração atua sobre um objeto para não apenasconferir-lhe estabilidade, mas recuperar, ao máximopossível, as informações nele contidas. Todas estasdefinições foram apropriadas de análises sobre os bensculturais e conclui-se que a preservação envolve aconservação (prevenção ou manutenção) e a restauração

(recuperação) (Mansur 2011). A compreensão destesconceitos pode variar de acordo com a área em que sãoutilizados. Para o patrimônio geológico, no entanto,parecem perfeitamente aplicáveis. Destaca-se que opatrimônio paleontológico está incluso nesta análise.

O patrimônio cultural conta com a preocupaçãosistemática para sua proteção desde a RevoluçãoFrancesa, com a tomada de consciência após a destruiçãode bens artístico- culturais e a decisão de restaurá-los,além da expropriação dos bens do clero, dos imigrados eda monarquia, o que configura, inclusive, o valor públicodo patrimônio (Choay 2001).

Segundo Gonçalves (2002), é a distânciaespacial ou temporal em relação àquilo que os benssignificam que os faz desejáveis e, consequentemente,alvo das práticas de apropriação, restauração epreservação. Enquanto significantes, esses objetos sãousados para significar uma realidade que jamais poderáser trazida por eles, uma realidade que será, como todoobjeto de desejo, para sempre ausente. As práticas deapropriação, restauração e preservação desses objetos

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Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155

são estruturalmente articuladas por um desejo"permanente e insaciável" pela autenticidade, que é oefeito de sua própria perda. O restauro possui uma CartaPatrimonial específica (Cury 2000), a Carta de Veneza, de1964, sobre a conservação e a restauração demonumentos e sítios, embora o tema seja tratado desdea Carta de Atenas, de 1931, que foi a primeira a serinstituída no âmbito da Sociedade das Nações,organismo internacional que antecedeu à Organizaçãodas Nações Unidas – ONU. Merece menção a Carta deParis, de 1962, relativa à salvaguarda da beleza e docaráter das paisagens e sítios e também se destaca aimportância do Parque Nacional de Yellowstone. Criadoem 1872, nos Estados Unidos, foi o primeiro parque a serpreservado nos moldes atuais, sem a presença humana(Bensusan 2006). Para Choay (2001) a Itália foi a primeiranação a se preocupar com a conservação dos seusmonumentos, ainda no século XIX.

No caso do patrimônio construído, antigamenteos reparos eram feitos substituindo-se toda a rochadegradada por um material novo similar, o que destruía aoriginalidade do monumento. Há, desta forma, que sefazer uma discussão sobre os aspectos éticos e estéticosda restauração (Fernandes 2008).

Serão apresentadas a seguir algumas tentativasisoladas de proteção contra as ameaças naturais eantrópicas, como a instalação de coberturas e até mesmoo soterramento dos geossítios, que podem deteriorar ovalor científico, didático e estético destas localidades,quando não é realizado um planejamento adequado eanálise crítica prévia.

Este trabalho tem ainda como objetivo enfatizara necessidade do desenvolvimento e adaptação demetodologias específicas para a conservação e o restaurodo patrimônio geológico. Assim sendo, são sugeridaslinhas de ação para o controle da erosão, restauro degeossítios danificados e projetos de educaçãopatrimonial, incluindo a participação de profissionais dediversas áreas para consolidar novos métodos depreservação do patrimônio geológico brasileiro.

Portanto, a fim de contribuir com a conservaçãodos geossítios e com a conservação das

amostras retiradas destas localidades (depositadas emcoleções científicas) e de seus registros associados,optou-se por utilizar a separação proposta por Poncianoet al. (2011) de elementos e do patrimôniogeológico, a fim de aprofundar a discussão sobre asmetodologias mais adequadas para a conservação erestauração dos elementos considerados comopatrimônio em seu lugar de origem ou fora dele.

O componente do patrimônio geológico éclaramente identificado pela maioria dos geocientistas,estando ainda em processo de reconhecimento pelasociedade em geral. De outro modo, a caracterização docomponente é complexa até mesmo entre acomunidade científica, ainda estando em debate quaiselementos podem ser incluídos e, mesmo, se os

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elementos podem ser classificados comopatrimônio geológico.

Segundo Ponciano et al. (2011), acompanhandoo conceito de Brilha (2005), patrimônio geológicocorresponde ao conjunto de depósitos minerais oufossilíferos (aflorantes ou não), paisagens e solos de umadeterminada região, bem delimitados geograficamente,onde ocorrem elementos da geodiversidade comsingular valor do ponto de vista científico, didático,cultural, estético, entre outros.

Os mesmos autores definem patrimôniogeológico como os exemplares da geodiversidaderetirados do seu sítio de origem para integrarem coleçõescientíficas de instituições de pesquisa e os registrosrelacionados à coleta, guarda e estudo deste material ede outros elementos da geodiversidade que apresentemconspícuo valor científico, didático, cultural, estético,histórico entre outros. Citam como exemplos: (1) ascoleções científicas de rochas, minerais, fósseis e solosem museus, universidades e outros institutos depesquisa; (2) as publicações científicas raras ou históricas(livros e artigos em periódicos); (3) os dados científicosnão publicados e com valor associado a aspectos dahistória da ciência ou sobre descobertas científicas(monografias, dissertações, teses, cadernetas de campo,fotografias, filmes, ilustrações, mapas, perfisestratigráficos, entre outros); (4) as reproduções(réplicas, esculturas, desenhos e pinturas) de fósseis,rochas e minerais e as reconstituições anatômicas,biomecânicas, paleoambientais, paleoecológicas epaleogeográficas realizadas com técnicas, métodos econhecimentos vigentes em época pretérita; e (5) osinstrumentos científicos e laboratórios antigos utilizadosno desenvolvimento de estudos geológicos,paleontológicos e em áreas relacionadas.

A deterioração das rochas pode ocorrerlentamente para a escala humana, entretanto algunstipos são alterados com maior facilidade devido às suascaracterísticas intrínsecas e à ação antrópica.Vandalismos e outros fatores, como a poluiçãoatmosférica e hídrica, aceleram o processo intempérico(Reys et al. 2008).

A degradação natural das rochas pode ocorrerpor processos químicos e físicos, que podem seracelerados por agentes biológicos, devido (1) às reaçõesque se processam na superfície e nas descontinuidadesdas rochas, com a formação de minerais secundários; (2)aos fenômenos de expansão e contração dos minerais,provocados por variações térmicas, abalos físicos devárias origens, e por expansões decorrentes da geraçãode minerais secundários (hidratação de mineraisargilosos expansivos, ação da tensão superficial da águano decurso de processos naturais de saturação esecagem, e ação das forças de cristalização de sais); e (3)

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2. MARCO CONCEITUAL

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ao crescimento de micro-organismos e vegetais sobre asrochas, além dos detritos fecais de diversos tipos deanimais, como pássaros, morcegos e roedores (Aires-Barros 1991). Em cavernas, por exemplo, a simplespresença de visitantes pode aumentar a umidade relativado ambiente, o que pode danificar espeleotemas eoutros elementos do geossítio. Isto, quando não sãodepredadas por visitantes, como vem ocorrendo desdecom as cavernas mais conhecidas do país, como a Grutade Maquiné, até outras de menores dimensões (Figuras 1e 2).

da preservação do seu valor intrínseco. Por esta razão,antes da intervenção, é necessário definir umametodologia adequada às características de cadageossítio: documentar e registrar todas as açõesrealizadas durante a restauração, a metodologia, osmateriais e as análises empregadas (modificado de Reyset al. 2008). Um bom exemplo a ser citado é o estudo pararestauração de rochas no sítio arqueológico do Vale doCôa, em Portugal, onde ensaios e experiências foramrealizados por empresas que utilizaram técnicas eabordagens diversas, com o intuito de preservar pinturasrupestres em xisto, ameaçadas por intemperismo eerosão (Fernandes 2008). No Brasil, sítios arqueológicosde alta relevância, sofrem com deterioração natural edepredação antrópica (Figura 3 a 6).

Figura 1 – Espeleotemas danificados por depredação. Gruta deMaquiné, MG, uma das mais importantes e famosas do Brasil(Fotografia: Kátia Mansur, 2007).

Figura 2 – Espeleotemas danificados por depredação. Cavernada Pedra Santa, em Cantagalo – RJ, uma das poucas cavernascalcárias mapeadas no estado foi fechada para a visitaçãoporque seus espeleotemas vêm sendo destruídos (Fotografia:IBAMA Nova Friburgo).

Figura 3 – Deterioração natural em sítios arqueológicos.Crescimento de líquen e vegetação sobre parte da exposição

do Sambaqui da Tarioba, em Rio das Ostras, RJ. Em 2012este sítio foi fechado temporariamente à visitação para quefosse feita manutenção e higienização do afloramento(Fotografia: Kátia Mansur, 2010).

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Figura 4 – Deterioração natural em sítios arqueológicos.Eflorescência salina em painel de pinturas da Serra da Capivara,Piauí (Fotografia: Ismar de Souza Carvalho, 2010).Por outro lado, deve-se destacar que

intervenções efetuadas com o objetivo de conservação erestauro do patrimônio não devem ultrapassar o limiar

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Figura 5 – Depredação em sítios arqueológicos. Pinturarupestre usada como alvo de tiros na Serra da Lua, Pará(Fotografia: Marcela Nogueira de Andrade).

Figura 6 – Depredação em sítios arqueológicos. Pichação sobrep i n t u r a r u p e s t r e n a P e d r a d o C a s t e l o , P i a u í(Fotografia:hyperlinK"http://www.restaurabr.org/siterestaurabr/ARC_Vol_3/CONSERVACAODEARTERUPESTRENONORDESTEDOBRASILluiscavalcante.pdf"http://www.restaurabr.org/siterestaurabr/ARC_Vol_3/CONSERVACAO%20DE%20ARTE%20RUPESTRE%20NO%20NORDESTE%20DO%20BRASIL%)uis%)20cavalcante.pdf).

Os métodos hoje utilizados para restauro são cada vezmais eficientes e consideram o aspecto final do bemrestaurado de formas variadas, de acordo com aabordagem teórica escolhida. Desde o século XIX, duascorrentes se destacaram como tendências antagônicasno ocidente, lideradas por Viollet-le-Duc, na França, eJohn Ruskin, na Inglaterra. A tendência francesa é maisintervencionista e defende o retorno, o mais próximopossível, à aparência original do bem. Já a inglesadefende a postura de que as intervenções sejamrealizadas apenas para a consolidação do monumento,descartando as questões estéticas (Braga 2003).

A evolução desses conceitos resulta na teoria dorestauro crítico criada por Cesari Brandi na década de1930, na Itália. Brandi estabelece critérios paraintervenções de restauro, onde são considerados tantovalores estéticos quanto históricos. Reintegrações sãopermitidas desde que preservando a autenticidade daobra. O tratamento das lacunas deve ser reconhecívelquando visto de perto, buscando a unidade potencial daobra. Dois princípios básicos foram estabelecidos: o deutilização de materiais reversíveis e o da mínimaintervenção. Quando não é possível o uso de materiaisreversíveis, deve-se procurar por aqueles que aceitemnovos tratamentos, o que foi denominado como terceiroprincípio, o da compatibilidade (Brandi 2000).

A princípio, pode-se analisar o conceito depatrimônio por sua origem etimológica, como sendo algode valor que é passado ou herdado por uma nova geração(Gonçalves 2002; Assunção 2003). Na atualidade,segundo Grunberg (2000), o significado permanece, epode ser também atribuído a um bem cultural, ou seja,àquilo através do qual se pode compreender e identificaruma determinada cultura, situado em um determinadolocal e tempo. Um bem cultural ou um patrimônioconstituem uma evidência concreta de experiência dopassado. Se isso não ocorrer, não há sentido na suapreservação (Grunberg 2000).

O próprio conceito de Patrimônio remete à ideiade valor, o que nos permite lembrar o seu caráter designo. É uma poderosa construção sígnica, constituída einstituída a partir de percepções identitárias eintegralmente vinculada ao sentimento de pertença, apartir do qual se reflete em todos os jogos da memória ese expressa em todas as representações sociais. Emoutras palavras, expressa as relações que cada gruposocial estabelece com a natureza ou com sua produçãocultural, estando diretamente influenciado pelasmaneiras sob as quais cada sociedade compreendeNatureza e Cultura (Scheiner 2006).

Um patrimônio pode ser dividido em benstangíveis e intangíveis. O primeiro reúne qualquerevidência material, como construções e documentos. Osegundo corresponde aos elementos que não sematerializam, ocorrem em um determinado tempo, masnão se perpetuam, como o modo de fazer, as danças, asreceitas culinárias, entre outros. Estes se preservam

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através da tradição e da sua prática (Grunberg 2000). Noque tange ao patrimônio geológico, pode-se encontrarestas duas formas. As técnicas de coleta, preparação,métodos de lavra e outros modos de fazer são partes dopatrimônio intangível, enquanto que os afloramentos,paisagens e amostras, por exemplo, são tangíveis.

Para Fonseca (2005), o patrimônio situa-seentre dois pontos, o primeiro correspondente àsidentidades coletivas, envolvendo questões comomemória e tradição, e o segundo envolvendo a suautilização como meio de legitimar a ideia de nação. Emambos os casos, o que muda é o valor simbólico atribuídoao bem cultural. Ressalta-se que há o entendimento queos bens naturais podem ser compreendidos comoculturais, uma vez que estão diretamente associados àsapropriações e atribuições de valor, produtos da açãohumana. Um objeto, uma paisagem, uma área, umdocumento, ou até uma dança ou procissão, enquantoestão apenas com a sua atribuição de funcionalidade,não são patrimônio. A diferença está na interpretaçãoque autoridades legítimas realizam ao atribuir um valorsimbólico de excepcionalidade perante os demais (Lima1997). A reinterpretação que se faz do produto culturalao qualificá-lo na categoria de bem cultural é umaatribuição de valor, um juízo elaborado pelo campocultural que o consigna como elemento possuidor decaráter diferencial, que o distingue, tornando-o especiale em posição de destaque perante os demais objetos danatureza (Lima 1999).

De modo diverso do patrimônio construído, asmetodologias de conservação e restauração dopatrimônio geológico são tratadas de modo disperso esuperficial na literatura. A maioria dos trabalhosexistentes aborda outras etapas das medidas necessáriaspara a promoção da geoconservação, conforme indicadopor Brilha (2005).

A geoconservação, ou conservação dopatrimônio geológico, pressupõe a adoção de medidascomo inventário, quantificação, proteção legal,divulgação, conservação e monitoramento de geossítios(Brilha 2005). Existem diversas publicações tratando dealgumas destas medidas. No entanto, pouco materialencontra-se disponível sobre a conservação dopatrimônio geológico na forma de geossítios ameaçadospela ação antrópica ou natural.

A conservação de ao menos uma parte dopatrimônio geológico poderia ser viabilizadaadaptando-se a metodologia da Arqueologia demanutenção de blocos testemunhos (Delphim 2004),assegurando assim que ao menos uma parte dos sítiosseja preservada para pesquisas futuras. Além da questãocientífica, a conservação do patrimônio geológicotambém é relevante pela manutenção da potencialidade

3. CONSERVAÇÃO DE SÍTIOS GEOLÓGICOS E

PALEONTOLÓGICOS IN SITU

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de desenvolvimento sustentável no local na forma deprojetos de geoturismo e educação patrimonial.Contudo, a continuidade das pesquisas científicas podeser afetada dependendo do tipo de estratégia deconservação aplicada ao patrimônio . Se otombamento for escolhido para um determinadogeossítio, as pesquisas que dependem de coleta dematerial poderiam de ser interrompidas, por exemplo, seisto não estiver previsto no ato normativo dotombamento. Caso o sítio possua elementos muito

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frágeis e mesmo assim seja divulgado para receberturistas antes da instalação de estruturas de proteção, opatrimônio pode acabar sendo rapidamente depredado(Ponciano et al . 2011; Souza et al . 2007).

Para que a conservação do patrimônioseja efetiva é necessária uma estrutura de fiscalizaçãoeficiente e a integração com outras políticas deconservação, a fim de evitar vandalismos ou furtos nosgeossítios. Estes atos geralmente estão relacionados coma ação de “paleo-piratas” ou “geovândalos”, grupos quealém de furtarem fósseis também destroemafloramentos e seu entorno (Fedonkin et al. 2009).Porém, alguns geocientistas (formados ou em formação)também são responsáveis por diversos tipos dedepredação, seja por ignorância ou omissão. Marcaçõesde símbolos e números feitas em tinta permanente, porexemplo, não deixam de ser pichações só porque foramfeitas por pesquisadores. Afloramentos históricos emuito utilizados para fins científicos, didáticos e turísticosdeveriam ter ao menos suas partes principaisconservadas do melhor modo possível.

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Figura 7 – Amostra coletada na pista de pegadas de dinossaurosem Sousa, Paraíba, danificou a integridade do geossítio.

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Devido à maior exposição ao intemperismo, opatrimônio geológico deve ser constantementemonitorado, pois, mesmo em locais com baixo impactoantrópico, os processos naturais também causam adestruição de exemplares da geodiversidade ouinviabilizam o acesso aos afloramentos. Um exemplo deconservação integrada com o componenteé o do Museu “Phu Kum Khao Dinosaur Site”, na Tailândia(Boonchai et al. 2009) e Geoparque Lesvos, na Grécia. NoBrasil, alguns exemplos de conservaçãocombinada com musealização de sítios arqueológicostambém são conhecidos, como sambaquis no Rio deJaneiro e petroglifos em Santa Catarina (Figuras 9 a 14).Assim, com o objetivo de reduzir os efeitos da exposiçãocontínua às alterações naturais, diversos tipos deestruturas de proteção são construídos, comocoberturas para sombreamento ou isolamento domaterial, andaimes para controlar e facilitar o acesso dosvisitantes e barreiras para escoramento ou desvio deáguas superficiais. Contudo, estas interferências podemser exageradas ou equivocadas, ocasionando até mesmoo desinteresse dos visitantes pelos geossítios. Ainstalação de estruturas deve ser bem planejada, depreferência por uma equipe multidisciplinar, com baseem uma ampla análise das características dos geossítios edo clima local, para orientar a escolha dos melhores tiposde materiais e metodologias. A implantação de barreirasfísicas, como coberturas, muros, grades e cercas,também pode ser empregada para impedir aaproximação dos visitantes de elementos maisvulneráveis, porém não pode obstruir a visualização dosobjetos de interesse (Mansur & Nascimento 2007;Ponciano et al. 2011).

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Figura 9 – Exemplo da união dos dois modos de conservação.Museu “Phu Kum Khao Dinosaur Site” construído ao redor deum geossítios com os fósseis , na Tailândia (extraída deBoonchai et al. 2009). O clima úmido local é um sério problemapara a conservação do afloramento e, em 1999, um prédiopermanente foi construído cobrindo o afloramento.

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Figura 10 – Afloramento do Geoparque de Lesvos (Grécia), ondeuma estrutura foi construída para proteger os troncosfossilizados. O resultado estético desta intervenção éinadequado (fotografia extraída de apresentação de JoséBrilha).

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Figura 11 – Musealização no Sambaqui da Tarioba, em Riodas Ostras, RJ (Fotografia: Kátia Mansur, 2010).

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Figura 8 – Afloramento de diamictito da Formação Bebedouro,na Chapada Diamantina, onde a extração de amostras do clastode gnaisse causou danos ao afloramento (Fonte: Mansur, 2009).

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Figura 13 – Estrutura construída para proteção dos petroglifosno Costão do Santinho, Florianópolis, SC. Fotografia:http://trilhasemfronteiras.blogspot.com.br/2009/06/sitio-arqueologico-no-costao-do.html.

Figura 14 – Costão do Santinho, Florianópolis: petroglifosofrendo intemperismo que produz esfoliação na rocha( I C O M O S , 2 0 0 8 ) . F o t o g r a f i a :http://trilhasemfronteiras.blogspot.com.br/2009/06/sitio-arqueologico-no-costao-do.html.

Talvez por falta de tradição na área deconservação e restauro de sítios geológicos ,observa-se que, na tentativa de conservar um geossítio,às vezes são utilizados métodos que podem colocá-lo emmaior risco ou comprometer seu caráter estético. AFiguras 15 a 19 ilustram alguns sítios geológicos,paleontológicos e arqueológicos ameaçados por açãonatural ou antrópica que sofreram intervenções comobjetivo de conservação e restauração. Um casoexemplar para a discussão de conservação noBrasil é o dos pavimentos com pegadas de dinossauro emSousa, na Paraíba, conhecido como o Vale dosDinossauros. A erosão fluvial, o intemperismo e asinundações vêm colocando em risco este que é um dossítios paleontológicos e arqueológicos (representadospelos petroglifos associados aos icnofósseis) maisimportantes do Brasil.

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Figura 15 – Sítio de Laetoli, na Tanzânia: são as mais antigaspegadas de humanoides (3,7 milhões de anos), impressas sobrecinza vulcânica. O geossítio foi recoberto por solo para impedira erosão e destruição antrópica. Posteriormente, sementespresentes no solo utilizado neste processo brotaram ecolocaram a área em risco de destruição ainda maior. Discute-se, inclusive, a retirada das placas com as pegadas para suarealocação em um museu (Fotografia: http://www.african-archaeology.net/news/news.html). Vista do sítio recoberto porrochas em 2011. Importante ressaltar a ineficiência do usoturístico, didático ou científico do sítio enquanto permaneceresta condição, mas a sua integridade deve vir em primeiro lugar.

Figura 12 – Musealização no Sambaqui da Beirada, emSaquarema, RJ (Fotografia: Felipe Medeiros, 2006).

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Figura 17 – Volta Redonda, RJ: construção de praça na tentativade conter a erosão em afloramento de depósitos sedimentarescom evidências de neotectônica, onde se conseguiu evitar orevestimento do afloramento por grama após explicar aimportância didática do local para os moradores (Fotografia:Luiza Ponciano, 2007).

Figura 18 – Sousa, PB: erosão fluvial no pavimento que contémas pegadas de dinossauros (Fotografia: Ismar Carvalho, 2010).

Figura 19 – Rio Piranhas, Parque Vale dos Dinossauros, Sousa,Paraíba - Foi construído um muro que, infelizmente, nãoconsegue deter as águas durante o período chuvoso(Fotografia: Aline Castro, 2012).

Por vezes é o crescimento das cidades queprovoca a destruição de geossítios. Este é o caso dacidade de Picos (Piauí), onde os afloramentos fossilíferossão sistematicamente removidos para serem utilizadosem aterros de rios e áreas alagáveis (como os buritizais)visando à construção de casas no centro da cidade. Osafloramentos que ainda resistem e são acessíveis nãorecebem qualquer tipo de proteção ou indicação deexistência. Algumas localidades fossilíferas citadas naliteratura já não podem mais ser encontradas, pois ospontos de referência utilizados desapareceram (Souza2006; Ponciano et al. 2010, 2012).

Figura 20 – Destruição de afloramento fossilífero da FormaçãoPimenteira, na entrada da cidade de Picos (PI). Toda a áreaplana da fotografia era a continuação do morro visto ao fundo.Este afloramento, rico em icnofósseis e concreções fossilíferas,foi removido entre 2009 e 2011 para aterrar o buritizal da figura21, visando a construção de um estacionamento (Fotografias:Luiza Ponciano, 2012).

Figura 16 – Espanha: afloramento de depósito glacial com, no Parque Alto Tajo, protegido com grades para

evitar geovandalismo. Infelizmente as grades também causamum efeito secundário negativo junto aos visitantes (Fotografia:Luis Carcavilla).

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Figura 21 – Buritizal em Picos (PI), citado na figura 20(Fotografia: Luiza Ponciano, 2012).

Ta i s p ro b l e m a s s ã o a g rava d o s p e l odesconhecimento da importância destes geossítios pelapopulação do entorno, que ainda necessita serapresentada e conscientizada sobre o significado dosfósseis que podem ser encontrados nos quintais de suascasas em Picos. A retirada dos fósseis sem a preocupaçãocom a educação e conscientização da comunidade geraameaças ao patrimônio geológico, pois quando ospesquisadores saem dos sítios os moradores podemacabar depredando o local na busca por materiais devalor econômico. Cita-se o exemplo dos clastos facetadosincrustados em pavimentos estriados no sul do Piauí(Caputo & Ponciano 2010) que foram parcialmentearrancados pela população local após verempesquisadores fotografando e tomando medidas nalocalidade. A falta de comunicação com os moradorespode chegar a originar conflitos, e a comunidade podetentar impedir o acesso dos pesquisadores aosafloramentos.

Situação similar ocorre com os afloramentos doMembro Crato, da Formação Santana da Bacia doAraripe, entre os municípios de Santana do Cariri e NovaOlinda, Ceará. A maior parte dos geossítios são pedreirasem atividade, onde a extração do calcário laminado não élegalizada (Figuras 22 e 23). Estas pedreiras representamuma das poucas oportunidades de emprego nestaregião, porém provocam impactos ambientais relevantescomo remoção da cobertura de solo, retirada da mataúmida, destruição dos corpos hídricos e disposiçãoinadequada de rejeitos. Os fósseis encontrados nestesafloramentos possuem inegável valor científico, tantopela diversidade de organismos, quanto pela qualidadeda preservação que apresentam. Nesta conjuntura, agrande dificuldade que envolve a conservação dogeossítios da região é conseguir conciliar os interesseseconômicos, científicos e sociais. As iniciativas deeducação não formal podem ser uma boa opção. NasFiguras 24 e 25 podemos verificar um projeto dedivulgação e educação realizado pelo Geoparque

Araripe, através da criação do Geossítio Pedra Cariri, numtrecho de uma pedreira abandonada. Neste geossítio épossível obter informações sobre a geologia e os fósseisencontrados ali, assim como o seu processo de extração.No entanto, este exemplo também demonstra que aindaé necessária uma maior discussão sobre a musealizaçãode geossítios, principalmente quando os fósseis nãoestão expostos.

Figura 22 – Bacia do Araripe: Mina Pedra Branca, onde as lajesde calcário laminado (ou pedra cariri) são extraídas. Atravésdesta atividade, fósseis são encontrados diariamente.(Fotografia: Aline Castro, 2012).

Figura 23 – Bacia do Araripe: trabalhador manejando as lajes.Esta atividade apresenta-se como alternativa de emprego emovimenta a economia da região (Fotografia: Aline Castro,2012).

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Figura 24 – Geoparque Araripe: geossítio Pedra Cariri, comdestaque para os painéis interpretativos. (Fotografia: Aline

Figura 25 – Bacia do Araripe: alunos da rede pública que fazemparte do Programa Jovens Talentos, coordenado pelo GeoparkAraripe. O programa consiste na conscientização dostrabalhadores das pedreiras e no recolhimento de fósseisdoados para o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri(Fotografia: Aline Castro, 2012).

4. CONSERVAÇÃO DOS ELEMENTOS DO

PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

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O patrimônio geológico , sob a forma decoleções científicas, é resultado da coleta dos fósseis emlocais com risco de degradação, incorporando-os a umambiente controlado. Idealmente, diversos fatores comoa umidade, temperatura, sujidades e acesso de pessoalteriam de ser constantemente monitorados. Esteambiente representa uma área de segurança, onde oacervo é registrado, documentado, sofre intervenções(quando necessário) e é acondicionado em mobiliárioadequado (Ponciano et al. 2011, Souza et al. 2007).

Além da guarda das cadernetas de campo, asinformações mais relevantes sobre a coleta do materialtambém devem ser registradas em fichas catalográficas,no período mais breve possível após o recebimento das

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amostras e de preferência com a participação dospróprios coletores. O controle terminológico de taisfichas deve ser padronizado, pois auxiliará na posteriorrecuperação da informação. Ao serem inseridos noacervo, os fósseis, rochas e outros elementos dageodiversidade devem ser acondicionados edocumentados corretamente por profissionaisexperientes contratados especialmente para este fim, oscuradores. Estes são responsáveis pela conservação,guarda, manutenção, seleção de acervo e dos sistemasde documentação da coleção. Os sistemas dedocumentação são tão importantes quanto os própriosacervos, pois neles está registrada a memória de cadaexemplar. Por isso, o correto acondicionamento dadocumentação, bem como sua automação edisponibilização do banco de dados via Internet sãomedidas de segurança consideradas essenciais (Souza etal. 2007). Ainda referente à importância dadocumentação, destaca-se o trabalho do Comitê deDocumentação do Conselho Internacional de Museus(ICOM), o CIDOC. O Comitê recomenda algumasdiretrizes para museus ou instituições de pesquisa quequeiram realizar um tratamento museológico sobre o seuacervo. As diretrizes são extensas e, por isso, serãodestacadas apenas aquelas consideradas maisimportantes pelas autoras. Todas as demais informaçõespodem ser consultadas no sít io do CIDOC(http://icom.museum/the-committees/).

A documentação do acervo sempre deve ser amais completa possível e a ficha catalográfica deveconter inúmeros campos, mesmo que nem sempre estessejam preenchidos. Estas fichas devem conterinformações que conectam a ficha ao objeto, ou seja, oregistro de uma numeração que remeta ao local onde oacervo está depositado (gaveta ou armário) e ao próprioacervo (lastro).

Outras informações, além das classificaçõestaxonômicas e litoestratigráficas usuais em acervosgeopaleontológicos, devem integrar a ficha. Essescampos devem remeter (1) à forma de aquisição doacervo e nomes dos coletores; (2) à integridade do objeto(conservação), (3) ao número e se possível identificaçãodos espécimes da amostra; (4) às suas medidas e outrascaracterísticas, com descrição por escrito; (5) àinstituição de guarda e informações dos curadores, entremuitos outros. Informações que registram a memória doacervo (como fotografias do objeto e do local deproveniência, mapas de localização e as cadernetas comas informações dos trabalhos de campo) também sãomuito importantes, sendo raras as instituições queefetuam tal registro. Também integram a memória doobjeto os dados de empréstimo, participações emexposições, figuração em artigos, os números de tomborecebidos anteriormente (como os do livro de entrada oude outras coleções), entre outras possibilidades.

O p r o c e s s o d e m u s e a l i z a ç ã o epatrimonialização adotado para os fósseis, rochas e

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minerais também pode ser utilizado, com algumasadaptações, para a guarda de suas reproduções einformações relacionadas. Aconselha-se inclusive ainserção de réplicas, esculturas, desenhos, pinturas einstrumentos antigos nas coleções dos museus,universidades e outros institutos de pesquisa brasileiros,desde que (re)significados como patrimônio.

A conservação das publicações científicas rarase/ou históricas e dos dados científicos não publicadospossibilita a recuperação de valiosas informações sobresítios que já foram destruídos pelo crescimento dascidades ou exploração comercial. A digitalização dosacervos pelas bibliotecas tem sido importante aliadonesta tarefa. Numa outra vertente, a conservação dascadernetas de campo, além do valor histórico, tambémauxilia na reconstituição do contexto geológico deamostras depositadas em museus e universidades, que,posteriormente, podem vir a ser estudadas porpesquisadores que não acompanharam o processooriginal de coleta e mapeamento. Um bom exemplo de

patrimônio geológico são as cartas, mapas,cadernetas de campo e Fotografias do paleontólogoKenneth Edward Caster, da Universidade de Cincinnati(Ohio, EUA), que realizou diversos trabalhos de campo noBrasil na década de 1940 (Ponciano 2013). Estesdocumentos representam um importante registro dosprimórdios da paleontologia e geologia no Brasil. Ascadernetas de campo de K.E. Caster já possibilitaram, emagosto de 2012, a descoberta de horizontes comconcreções ferruginosas da Formação Pimenteirana cidade de Picos. Infelizmente, o principal ponto decoleta de concreções fossilíferas de K.E. Caster é ummorro localizado no centro de Picos, hoje em diacompletamente ocupado por construções. Como esteafloramento não é mais acessível para coleta de materiale novas pesquisas (Figura 26), as informações sobre estalocalidade só podem ser recuperadas a partir destasantigas cadernetas de campo, o que destaca aimportância da conservação dos elementos dopatrimônio geológico (Ponciano 2013).

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Figura 26 – Afloramento fossilífero da Formação Pimenteira estudado em 1947 por K.E. Caster, em Picos (PI), atualmente inacessível paranovas pesquisas .in situ

5. RESTAURO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

Pelo exposto, fica claro que são necessáriasanálises prévias sobre os métodos de preservação dosgeossítios contra o intemperismo, como a contenção deerosão, controle do fluxo de águas superficiais,consolidação de rochas, preenchimento de fraturas efissuras, entre outros, antes da execução do restauro dosgeossítios e elementos do patrimônio geológico.

Neste contexto de restauro do patrimôniogeológico, entendido como as intervenções realizadasc o m a f i n a l i d a d e d e r e c o m p o s i ç ã o s e mdescaracterização do valor intrínseco dos objetos, umalinha de pesquisa que deve ser desenvolvida é a deestudos sobre adequação dos métodos de restauro dopatrimônio construído que possam ser aplicados aosgeossítios.

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P r o c e s s o s d e r e s t a u r o e x e c u t a d o sindevidamente podem piorar o estado de deterioraçãoda superfície exposta das rochas, modificando oudanificando seu aspecto estético, pela perda de brilho emanchamentos, devido à interação das característicasintrínsecas das rochas com os agentes do meio ambientee os procedimentos de fixação, limpeza e manutenção(Frascá 2003).

Cada caso deve ter sua análise e soluçãoprópria. Isto fica muito evidente quando se observa aPedra do Índio, em Niterói, RJ (Figuras 27 e 28). Estemonumento natural foi tombado como patrimônioestadual e encontra-se em franco processo de erosão.Uma decisão urgente a ser tomada é quanto à realizaçãode uma intervenção para contenção do processo erosivodo mar ou, então, observar seu desabamento.

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Figura 27 – Pedra do Índio em Niterói, tombada pelo Estado,por parecer do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural –INEPAC. Imagem de 1894 (acervo do Museu HistóricoNacional).

Figura 28 – Pedra do Índio em Niterói. Imagem de 2008(Fotografia: Kátia Mansur).

O uso de escoras ou o preenchimento dasfraturas podem ser soluções a serem consideradas. Emcasos onde é necessária a contenção da erosão, um dosfatores a ser considerado é a composição da argamassaou resina que poderia ser utilizada no preenchimento dasáreas fraturadas, pois ela deve ser compatível com o tipode rocha. Por exemplo, em uma rocha porosa, a utilizaçãode argamassa inadequada pode levar à percolação deáguas pluviais. Rachaduras, quebras, manchas e lascastambém podem ser originadas pela cristalização de saisintroduzidos na rocha pelo cimento utilizado nasargamassas (Smith 1999). As empresas de conservaçãoque trabalham com patrimônio construído geralmenteutilizam argamassas à base de cal hidráulica, que é umproduto que endurece tanto no ar quanto na água.

O preenchimento de fraturas e fissuras seriaparticularmente útil em um geossítio como o de Souza(Figuras 29 a 33), onde a ameaça aos icnofósseis epetroglifos é iminente. Outra ocorrência recorrente é o

crescimento de vegetação nestas fraturas e moldes, quealém de dificultarem a visibilidade, aceleram o processode destruição destes icnofósseis pelo intemperismo.

Figura 29 – Exemplos de restauração do patrimônio geológico.Restauro de patrimônio construído – Partenon de Atenas(Grécia), onde é nítida a diferença do mármore original e arestauração atual. O processo de restauração tem sido maiscuidadoso que as intervenções anteriores, que resultaram naintensificação das fissuras e fraturas e consequente destruiçãodos blocos originais de mármore. Atualmente as novas peças demármore são fixadas com grampos de titânio e um tipo decimento solúvel, metodologia que também poderia seraplicada em geossítios (Fotografia: Luiza Ponciano, 2010).

Figura 30 – Uso de argamassa como solução parapreenchimento de fraturas: fraturas em rocha do sítioarqueológico de arte rupestre do Vale do Côa, em Portugal(fotografia extraída de Fernandes, 2008).

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Figura 31 – Uso de argamassa como solução parapreenchimento de fraturas: uso em sítio paleontológico emAliaga, Espanha (Fotografia de Kátia Mansur, 2009).

Figura 32 – Uso de argamassa como solução parapreenchimento de fraturas: uso em sítio paleontológico emAliaga, Espanha . É possível ver os detalhes do preenchimentocom argamassa, além do contorno acentuado das pegadas, quecausou um impacto desnecessário ao afloramento (Fotografia:José Brilha).

Figura 33 – Possível uso de argamassa como solução parapreenchimento de fraturas: algumas pegadas em Sousa nãoestão dentro do território protegido pelo Parque dosDinossauros, o que agrava ainda mais a situação dos geossítios.Estas amostras afloram em terreno particular e os proprietáriosnão recebem incentivos para preservá-las. A pegada e opetroglifo atravessados pelas fraturas poderão ser facilmentedestruídos pela erosão se não for realizada uma intervenção nolocal (Fotografia: Aline Castro, 2012).

O preenchimento de furos originados pelacoleta de testemunhos também é outro método derestauro em geossítios, onde poderiam ser utilizadosdiferentes tipos de argamassa. Uma metodologiasugerida por MacFadyen (2011) é primeiramentepreencher o espaço com outro testemunho de diâmetroligeiramente menor ou com pequenos fragmentos darocha, retirados de blocos rolados do mesmo tipo derocha (nunca de material ). O espaço restante deveser preenchido com argamassa e/ou resina adequadaspara o tipo da rocha que está sendo restaurada. A partesuperior do furo deve ser recoberta com o pedaçoquebrado do testemunho que foi extraído, ou deve serreproduzida a textura da superfície da rocha trabalhandoa argamassa ou resina. No caso do uso de fragmentos derocha, eles devem ser reduzidos para um tamanhopequeno e misturados à argamassa ou resina antes daaplicação no furo, para que o espaço seja completamentepreenchido.

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A tentativa de restauração apresentada a seguirdemonstra uma intervenção efetuada incorretamente(Figuras 34 e 35). Foi solicitado que o grupo depesquisadores responsável pela coleta dos testemunhosem um geossítio clássico na costa oeste da Escóciaretornasse ao local para restaurar a parte danificada.Além de não terem sido completamente preenchidos, osfuros foram recobertos com um material de textura ecoloração diferentes, que não foi resistente aointemperismo em curto período de tempo. Comoagravante, os fragmentos de rocha no interior dos furosforam coletados de calcários , situados na zona decontato com a intrusão de onde foram removidos ostestemunhos (MacFadyen 2011).

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Figura 34 – Tentativa de restauração efetuada incorretamenteem um geossítio clássico na costa oeste da Escócia (MacFadyen2011).

Figura 35 – Tentativa de restauração efetuada incorretamenteem um geossítio clássico na costa oeste da Escócia (MacFadyen2011).

Outro geossítio do Reino Unido (Wales)constitui um exemplo muito interessante de restauraçãode um afloramento modificado por ações antrópicas,visando conter o processo de erosão costeira e enchentes(Figuras 36 e 37). As autoridades locais constataram em2006 a construção ilegal de um muro gabião de 110metros de extensão, que cobriu cerca de 50 metros de umgeossítio de especial interesse científico. Após uma longadisputa, em 2011 foi realizado o processo de restauração,quando as rochas do muro foram removidas e enterradasna praia, após acordo entre as autoridades locais e odono da terra. As rochas foram enterradas na esperançade auxiliar a conter o processo erosivo, motivo daconstrução do muro pelo dono da terra (Roberts 2011).

Figura 37 – A situação do local antes do processo derestauração, em 2006 (Roberts 2011).

Figura 36 – Aparência do geossítio em 2011, após a remoção domuro gabião que estava cobrindo parte de um geossítio ondeafloram tilitos que marcam um importante contatoPleistoceno/Quaternário.

Nos casos de restauro, uma importante questãoa ser discutida é a reversibilidade das intervenções,conforme mencionado na proposta de Brandi (2002).Apesar dos materiais utilizados atualmente nestes tiposde procedimentos serem considerados reversíveis, todasas intervenções alteram os objetos enfocados. Mesmoque os vestígios materiais possam ser removidos apósalgum tempo, os efeitos da interação entre eles e oobjeto não serão totalmente reversíveis. O intervalo detempo em que terá de ser realizada a manutenção dasintervenções e a quantidade de recursos alocados

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também devem ser considerados, para que seja viávelmanter as intervenções efetuadas do modo como foramoriginalmente planejadas (Fernandes, 2008).

A erosão é, sem dúvida, o processo natural quemais põe em risco o patrimônio geológico.Curiosamente, ela é responsável pela construção damaioria dos geomorfossítios porque tem papel central naescultura do relevo. Em alguns sítios onde a atuação daerosão é intensa assume-se a perda da paisagem, porqueo processo é inexorável e a escala da intervençãonecessária é muito grande (Mansur et al. 2012). A perdada paisagem antiga pode ser entendida como o ganho deuma nova paisagem. Este é o caso observado na Ilha doFrancês, no Arquipélago de Sant'Anna, em Macaé. Noslineamentos associados a falhas (brechas tectônicas), háuma intensificação do intemperismo que favorece ainfiltração de água e a consequente instabilidade daencosta (Figuras 38 a 41). A praia teria se formado pelorecuo da encosta por movimentos de massa sucessivosno tempo. Este processo levará à divisão da ilha, uma vezque a erosão na vertente leste apresenta processoidêntico.

Figura 38 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,RJ. Imagem Google Earth com os lineamentos. A e B,representam vistas das praias.

Figura 39 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,RJ. Vista da praia na porção A da Ilha (Figura 38).

Figura 40 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,RJ. Movimento de massa no ponto A e B (esquerda e direita -Figura 38).

Figura 41 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,RJ. Movimento de massa no ponto A e B (esquerda e direita -Figura 38).

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A Ilha do Francês é um exemplo de construçãoda paisagem, onde se constata que a atuação deprocessos erosivos considerados como visualmentedesagradáveis podem condicionar a formação de locaisde grande beleza cênica. A beleza do processo geológicose destaca, apesar da aparente feiúra da cicatriz naencosta (Mansur et al. 2012).

Vale, ainda, destacar o uso geoturístico,científico e educacional que pode ser dado a sítiosdegradados pela mineração, sem que restauro sejarealizado. Exemplos como os de Ametista do Sul (RS) e oParque Paleontológico de São José de Itaboraí, RJ devemser destacados (Figuras 42 e 43).

Figura 42 – Usos para áreas degradadas. Ametista do Sul, RS:área de visitação geoturística com apresentação de materiais eprocessos utilizados na lavra (Fotografia: Ismar Carvalho,2010).

Figura 43 – Usos para áreas degradadas. Parque Paleontológicode São José de Itaboraí, RJ: com o fim da vida útil da jazida, aárea foi abandonada pela empresa mineradora. Hoje, um novouso está sendo viabilizado para a área na forma de geoturismo(Fotografia: Kátia Mansur, 2012).

6. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

A Educação Patrimonial é uma ferramentapedagógica desenvolvida pela área cultural, mas que éperfeitamente adaptável como proposta de trabalho naslocalidades onde ocorrem os geossítios, no intuito decomplementar a grade de ensino e as atividadesgeoturísticas (Castro & Machado 2011). Entende-se porEducação Patrimonial o processo permanente esistemático de trabalho educacional enfocando opatrimônio como fonte primária de conhecimento e deenriquecimento individual e coletivo, utilizando objetose/ou expressões como ponto de partida paradesenvolver atividades pedagógicas, observando-os,questionando-os e explorando nos aspectos possíveis etraduzindo-os em conceitos e conhecimento (Grunberg2000). Esse processo é muito útil para a preservação dopatrimônio geológico por dois principais motivos. Oprimeiro deles é o investimento na sua salvaguarda. Umavez que a população local passa a se identificar e acompreender a importância daqueles elementos dageodiversidade como patrimônio, ela irá desejar eincentivar a sua proteção. Na ausência do poder público,depredações e vandalismos poderão ser coibidos pelapopulação local. O segundo motivo é o compromissosocial que todos os cientistas devem ter. Com a propostada educação patrimonial há um retorno para acomunidade, transmitindo o conhecimento que foiconstruído através dos geossítios (Souza 2006; Castro &Machado 2011).

Nesta linha, destacam-se alguns projetossistemáticos de popularização da geologia que têm sidoinstituídos no Brasil, como os Caminhos Geológicos doRio de Janeiro (2001), Sítios Geológicos e Paleontológicosdo Paraná (2003), Caminhos Geológicos da Bahia (2003),Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte (2006)e Monumentos Geológicos de São Paulo (2009). Emgeral, baseiam-se em iniciativas ligadas ao Geoturismo eGeoconservação, especialmente por meio deimplantação de painéis interpretativos (Piekarz &Liccardo 2006; Cunha et al. 2006, Nascimento et al. 2007;Mansur & Nascimento 2007).

Estas iniciativas podem inverter a tendênciageral ainda vigente em nosso país de tentar retirar amaior quantidade possível de elementos dageodiversidade de seu lugar de origem, com o objetivo desalvá-los da destruição em lugares ermos e com umapopulação que desconhece a sua importância científica,didática e patrimonial. Um projeto que pode auxiliar naconservação dos geossítios é o GEOSSIT, um bancode dados da CPRM destinado ao inventário, qualificaçãoe valoração quantitativa de geossítios brasileiros(http://www.cprm.gov.br/geossit/geossitios), sendolivre consulta e operado por meio de uma base de dadosespecífica do Sistema GEOBANK da CPRM. Também sãomuito relevantes os trabalhos publicados pela SIGEP(Comissão Brasi leira de Sít ios Geológicos e

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Paleobiológicos: http://sigep.cprm.gov.br/sitios.htm) e op r o j e t o G e o p a r q u e s :http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=134).

Atualmente, a necessidade de um retorno doconhecimento científico para a população do local ondesão coletados os fósseis é cada vez mais difundida.Acredita-se que somente através da inclusão dacomunidade local em projetos de educação patrimonial egeoturismo (com a instalação de museus, parques,centros de pesquisa e outras formas de geração detrabalho e renda), a conservação do patrimôniogeológico poderá ser concretizada em um país comas dimensões e problemas sociais do tamanho do Brasil(Ponciano et al. 2011).

A realização de programas de educaçãopatrimonial também é fundamental para combaterameaças como o geovandalismo e outros danosantrópicos ao patrimônio. Em locais de visitação turística,um projeto especial de interpretação do geossítio deveser elaborado para buscar uma melhor relação entre ovisitante e a preservação do patrimônio. Entende-se queos aspectos funcionais e estéticos de um sítio devem serdesenvolvidos em toda a sua potencialidade, portantodiversos profissionais devem ser envolvidos nos projetos,como engenheiros, geógrafos, arquitetos, biólogos,museólogos e turismólogos, além de geólogos epaleontólogos, obviamente. A inclusão da disciplina degeoconservação nos cursos universitários que formam osprofissionais citados acima também contribuiria para adifusão da importância da conservação do patrimôniogeológico.

A análise preliminar dos estudos de casoapresentados indica que devem ser direcionados maisesforços na proposição e experimentação de materiais etécnicas de conservação e restauração voltadas para opatrimônio geológico, assim como para a compreensãode tudo o que está associado com as intervenções, comoas causas e efeitos dos processos naturais e antrópicosque interferem no local. Por exemplo, alguns trabalhosde arqueologia realizam um monitoramento topográficodos afloramentos e das vertentes onde estes seencontram, além da análise detalhada de fatoressísmicos, geomorfológicos e climáticos da região.

A efetividade da conservação do patrimônio

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7. COMENTÁRIOS FINAIS

geológico dependerá da implantação eficaz deuma ampla estrutura de fiscalização, manutenção e deatividades didáticas e recreativas contínuas, que devemser reavaliadas e adaptadas segundo os tipos e graus deproblemas da área e de participação da população doentorno e visitantes dos geossítios. As atividadesdidáticas e recreativas e o monitoramento dasinstalações e da infraestrutura devem ser frequentespara evitar o abandono dos sítios pela comunidade

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epelos visitantes, pois se o local não estiver em boascondições de visitação (afloramento visível aos visitantes,com os acessos e infraestrutura limpos e bemconservados, por exemplo) as pessoas irão se deslocarpara outras regiões.

O restrito conhecimento geológico epaleontológico da maioria da população brasileira,derivado da precária educação formal e informal na áreadas geociências, tem relação direta com a carência demedidas de conservação e restauração do patrimôniogeológico. Grande parte dos professores dos diferentesníveis de ensino não foi apresentada nem aos conteúdosbásicos de geologia e paleontologia durante mais de umadécada e meia de ensino formal. Enquanto estasdisciplinas não são incluídas nos currículos escolares emtodos os níveis de educação formal, projetos de educaçãopatrimonial nas comunidades próximas aos sítiospaleontológicos, exposições em museus, publicação detextos de divulgação em sites e revistas, palestras ecursos professores são alternativas para auxiliar nadivulgação das geociências para a sociedade.

F i n a l m e n t e , é m u i t o i m p o r t a n t e odesenvolvimento de uma visão patrimonial em todosaqueles que trabalham direta ou indiretamente com osgeossítios brasileiros, independentemente de suaformação acadêmica. O nosso patrimônio geológico estásujeito a diversos tipos de ameaças, e em muitos casos ospróprios geocientistas são os responsáveis por suadestruição. Portanto, sugere-se que antes da realizaçãoda coleta de material em trabalhos de campo, adistribuição e o modo de ocorrência das concentraçõesfossilíferas e de outros elementos da geodiversidadesejam avaliadas de acordo com as peculiaridades dosdepósitos e os objetivos dos estudos, a fim de evitar aretirada excessiva de material dos geossítios.Acredita-se que a conservação dos geossítiospoderia ser mais difundida e aprimorada através daelaboração de um código de conduta para trabalhos decampo em Geologia e Paleontologia no Brasil.

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Manuscrito ID 31871

Submetido em maio de 2013

Aceito em julho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Conservação do patrimônio paleontológico do Geopark

Araripe (Brasil): enquadramento, estratégias e

condicionantes

Conservation of geological heritage of Geopark Araripe (Brazil): framework, strategies and

constraints

MARIANA VILAS BOAS*, JOSÉ BERNARDO R. BRILHA*, FLAVIA FERNANDA DE LIMA**

*Universidade do Minho, Portugal - [email protected] - [email protected]

**Geopark Araripe - [email protected]

Resumo

O reconhecimento da importância geológica do Geopark Araripe é, em grande parte, fruto da sua riqueza paleontológica, destacando-se abacia sedimentar do Araripe que contém, à escala mundial, uma das mais importantes associações fossilíferas do Cretáceo Inferior.Infelizmente, apesar do impedimento legal, continua a se verificar o comércio ilegal de fósseis da bacia do Araripe e a saída de muitos delesdo país. Os mais raros e com melhor grau de preservação, que adquirem deste modo um excepcional valor científico, são os alvosprivilegiados deste comércio. São várias as causas para esta situação, que está documentada há décadas, mas que tarda em se encontraruma solução. Com este trabalho pretende-se promover ações que integram uma estratégia de educação formal e informal, no sentido deconsolidar a prática da geoconservação do patrimônio paleontológico do Geopark Araripe. Embora se reconheça que os resultados eefeitos concretos destas propostas não sejam imediatos, são iniciativas que podem ser utilizadas numa estratégia de geoconservação.Estas ações são aplicáveis no Geopark Araripe, assim como em outras áreas fossilíferas do Brasil e do mundo.

Palavras-chave: patrimônio paleontológico, fósseis, geoconservação, Geopark Araripe.

Abstract

The geological recognition of the importance of the Araripe Geopark is mainly due to palaeontological features, with emphasis on theAraripe sedimentary basin that contains one of the most important fossil associations of the world for Lower Cretaceous rocks.Unfortunately, despite the existent legal framework, the illegal trade of fossils of the Araripe basin is still active with the consequentsmuggling of many fossils out of the country. The main targets for this trade are the rarest fossils with perfect preservation conditions,which acquire an exceptional scientific value. There are several causes for this situation that is documented for decades but with noefficient solution implemented so far. This work intends to promote and disseminate several activities that may integrate a formal andinformal education strategy in order to consolidate the geoconservation of the palaeontological heritage in the Araripe Geopark. As anyother educational plan, the expected results will not be immediate but, even so, these proposals can be applied in the geoconservationstrategy of the Araripe Geopark or in any other fossil areas of Brazil and of the world.

Key words: palaeontological heritage, fossils, geoconservation, Araripe Geopark.

1. INTRODUÇÃO

A geoconservação tem como objetivo aconservação e gestão do patrimônio geológico,materializado pelo “conjunto de todos os geossítiosinventariados e caracterizados numa dada área ouregião” (Brilha 2005). De acordo com este autor, umaestratégia de geoconservação pretende manter aintegridade física dos geossítios, assegurando umadequado uso científico, educativo ou turístico. Asiniciativas de gestão de geossítios devem ser adaptadasao tipo de elemento geológico que interessasalvaguardar. A conservação de um geossítiogeomorfológico, por exemplo, pode não ser conseguidausando as mesmas estratégias que são aplicadas a um

geossítio mineralógico ou paleontológico.O patrimônio paleontológico possui diversas

especificidades face a outros tipos de patrimôniogeológico. Concretamente, deve ter-se em consideraçãoque a conservação de geossítios paleontológicos não serestringe à conservação exclusiva dos fósseis, uma vezque o seu contexto geológico também deve servalorizado (Henriques 2007). No entanto, em algumassituações, este objetivo pode não ser o mais apropriado,e pode até mesmo ser impossível de alcançar, havendo anecessidade de enveredar por uma gestão equilibrada dolocal, onde muitas vezes a preservação de um sítio ou deum espécime in situ pode não ser o melhor interesse paraa ciência (Besterman 1988). Em muitas situações, amelhor maneira de preservar fósseis consiste no seuresgate e transporte para instituições que possam

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assegurar a sua proteção. Ao contrário de outroselementos da geodiversidade, a conservação dopatrimônio paleontológico ex-situ pode manter o seuvalor científico, educativo e turístico. As coleçõesmuseológicas, desde que bem geridas e colocadas àdisposição de todos, são usadas para pesquisascientíficas por paleontólogos (valor científico), sãovisitadas por estudantes de diversos graus de ensino(valor educativo) e são admiradas pelo público em geral(valor turístico).

O patrimônio geológico está sujeito a diversostipos de ameaças (Gray 2004; Brilha 2005), a grandeparte delas de origem antrópica. Algumas destasameaças são particularmente fortes sobre os benspaleontológicos, em particular. O elevado valoreconômico de alguns fósseis, em resultado de fatorescomo raridade, qualidade de preservação, valor estético,etc., dão origem a um comércio que, em grande parte dospaíses, é ilegal, colocando em risco muitas jazidaspaleontológicas, em especial em países com níveissocioeconômicos mais débeis. Segundo Carvalho & Da-Rosa (2008), a questão da preservação do patrimôniopaleontológico brasileiro é bastante complexa. Ocontrabando nacional e internacional de fósseis, bemcomo as atividades de exploração mineral, são fatoresque limitam a adoção de estratégias de conservação, emcomunidades onde as jazidas fossilíferas representamuma fonte de rendimento para as populações.

O aumento da pesquisa científica, desde adécada de 70 do século XX, destacou a alta diversidade equalidade do registro paleontológico da bacia do Araripe,no nordeste brasileiro. Porém, este aumento devisibilidade contribuiu para um incremento do interessegeneralizado deste registro, que associado a poucasmedidas efetivas para a sua conservação, originou ummaior risco de perda dos fósseis, em especial devido aocomércio ilegal (Kellner 2002; Viana & Neumann 2002;Viana 2002; Martill 2011; Vilas-Boas 2012). Além disso,nesta região, a conservação dos elementospaleontológicos está em permanente conflito com amineração, atividade de grande relevância econômica esocial que suporta uma percentagem significativa dapopulação.

A criação do Geopark Araripe, que pretendepromover o desenvolvimento sustentável dos municípiosconstituintes do seu território e a melhoria das condiçõesde vida dos seus habitantes, constitui uma estratégia quepode contribuir para a conservação do patrimôniopaleontológico local sujeito a uma depredação jádocumentada. Este trabalho pretende elencar as razõesque explicam as ameaças ao patrimônio paleontológicono Araripe e propor programas, projetos e ações decunho educativo, que podem ser implementados peloGeopark Araripe, para apoiar a conservação destenotável patrimônio paleontológico brasileiro e mundial.

2. ENQUADRAMENTO LEGAL PARA A PROTEÇÃO DO

PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO BRASILEIRO

3. GEOPARK ARARIPE

De acordo com a legislação brasileira, existeuma base legal para a proteção do patrimôniopaleontológico. Atualmente, no ordenamento jurídicobrasileiro, embora alvo de várias interpretações, osfósseis são definidos como bens integrantes dopatrimônio cultural (artigo 216º da Constituição Federal -CF), com natureza de bem de domínio público (nostermos do artigo 20º da CF). Os fósseis são tambémregidos pelo Decreto-lei nº 4.146/42 onde se refere que“os depósitos fossilíferos são propriedade da Nação, e,como tais, a extração de espécimes fósseis depende daautorização prévia do Departamento Nacional deProdução Mineral, do Ministério da Agricultura”(atualmente o Departamento Nacional de ProduçãoMineral - DNPM, vincula-se ao Ministério de Minas eEnergia). Porém, a conservação do patrimôniopaleontológico no Brasil ainda está longe de atingir osresultados preconizados pela respectiva legislação. Oconjunto das leis brasileiras apresenta subjetividade noque respeita à sua aplicação, de forma a possibilitar apreservação de jazidas fossilíferas, enquanto patrimôniocultural da sociedade brasileira, como também pareceser insuficiente para assegurar a proteção destes bens,enquanto propriedade da União (Abaide 2009).

Em função das peculiaridades do material fóssil,previsivelmente existe uma contraposição na fixação decompetências para a gestão do patr imóniopaleontológico. Como o património paleontológico éconsiderado património cultural por determinação legal(artigo 216.º da CF), o IPHAN (Instituto do PatrimónioHistórico e Artístico Nacional) deve zelar por medidas deproteção a esse património (Dresh 2006). Mas por outrolado, devido ao Decreto-lei 4.146/42, o DNPM tem aresponsabilidade de fiscalizar e controlar o exercício dasatividades relacionadas ao património fossilífero(colheita, transporte, entre outras) de modo a assegurara sua proteção. Para além da questão legal, parece haveralguma dificuldade de atuação do DNPM no que respeitaà proteção e conservação do patrimônio paleontológicobrasileiro, em especial pelo fato de existirem extensas enumerosas áreas de mineração sob a fiscalização de umreduzido número de técnicos.

O Geopark Araripe foi criado a partir dainiciativa da Universidade Regional do Cariri (URCA) emparceria com o Governo do Estado do Ceará. Foi aceito,em 2006, na Rede Global de Geoparques, sendo até hojeo único geoparque da América do Sul a integrar estaestrutura internacional, reconhecida pela UNESCO.

O geoparque localiza-se no sul do estado doCeará, na região nordeste do Brasil (Figura 1) e integra osmunicípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão

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Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri, totalizando umaárea de 3796 km². A gestão do geoparque é atribuição daURCA e possui um grupo amplo de apoio institucional:uma coordenação executiva; um conselho de gestãoformado por representantes de instituições do terceirosetor, poder público municipal, estadual e federal, einiciativa privada; um comitê científico formado porinvestigadores da URCA e outras instituições de pesquisado território; e uma equipe técnica com profissionais dediferentes formações acadêmicas. Além disso, aestrutura do Geopark Araripe também compreende oMuseu de Paleontologia da URCA, em Santana do Cariri.

A estratégia adotada para o Geopark Araripe é apromoção do desenvolvimento territorial sustentável daregião, tendo como mote principal o fortalecimento deatividades científicas, culturais, turísticas e econômicas,com ênfase na história evolutiva da Terra e da Vida.

O campo de atuação do Geopark Araripeabrange atividades no âmbito do patrimônio geológico,biológico, arqueológico e cultural, como também daeducação ambiental. O Museu de Paleontologia da URCApromove a aproximação entre o conhecimentopaleontológico e as escolas públicas e particulares daregião do Cariri, possibilitando a visitação de alunos eprofessores. Na pesquisa científica, destaca-se arealização de escavações paleontológicas, dentro dogeossítio Parque dos Pterossauros, e também o projeto“Jovens Paleontólogos” desenvolvido pelo GeoparkAraripe em parceria com o museu e escritório do DNPM

no Crato. Neste projeto, jovens do ensino médio domunicípio de Santana do Cariri, são capacitados nastemáticas de geologia e paleontologia, visando olevantamento de dados e a coleta de materiaispaleontológicos nas explorações de calcário da região.

O Centro de Interpretação e EducaçãoAmbiental do Geopark Araripe, localizado no municípiodo Crato, constitui outro importante ponto de apoio paraa recepção de escolas e visitantes. Possui um espaço deexposição e interpretação dos principais elementosnaturais e culturais do geoparque, onde também têmlugar oficinas lúdicas, no âmbito da educação ambiental,com o objetivo envolver a comunidade, em especial asescolas. Todas as atividades estão relacionadas com ospropósitos do geoparque, nomeadamente oficinas deréplicas de fósseis, teatro de bonecos, reutilização demateriais recicláveis, entre outras.

Tem-se verificado uma expressiva consolidaçãoda proposta de geoparque no território desde 2009, emespecial ao nível da educação ambiental, dageoconservação, da comunicação e promoção dogeoturismo e do aumento da efetivação de parcerias comos diversos atores do território. Contudo, é notório oforte sistema burocrático adotado, que dificulta atomada de decisões em tempo útil. Muitas das atividadesdesenvolvidas pelo Geopark Araripe apresentam umcaráter pontual, sem continuidade temporal, o quediminui a sua eficácia quanto aos resultados esperados epossíveis de alcançar.

Figura 1 – Mapa de localização do geoparque no Brasil e no estado do Ceará. Sede dos municípios do Geopark Araripe: *1– Santana doCariri; *2 - Nova Olinda; *3 - Crato; *4 - Juazeiro do Norte; *5 – Barbalha; *6 - Missão Velha (adaptado de Geopark Araripe 2010).

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A evidência morfoestrutural mais significativana área do Geopark Araripe é representada pela Chapadado Araripe, um planalto que apresenta altitudes médiasque variam entre 700 e 1000 metros (Geopark Araripe2010).

Quanto ao enquadramento geológico geral, ogeoparque insere-se na área da bacia sedimentar doAraripe, que se estende pelos estados do Ceará,Pernambuco e Piauí. É a mais extensa das baciasinteriores do nordeste do Brasil, sendo que a suaocorrência engloba a Chapada do Araripe e o Vale doCariri (Assine 1992). A bacia sedimentar do Araripeapresenta uma complexa história geológica, constituídapor sequências estratigráficas, limitadas pordiscordâncias regionais, que representam o registofragmentário da formação de bacias em ambientestectônicos distintos (Assine 2007). A bacia estáestreitamente ligada aos períodos Jurássico e Cretáceo,quando os continentes da América do Sul e da Áfricaeram parte do antigo continente Gondwana, quelentamente se separou com a abertura do oceanoAtlântico Sul (Herzog et al. 2008). Entre as váriasformações da bacia do Araripe, a Formação Santana éestratigraficamente a mais complexa e também a maisestudada, não só pelas extensas jazidas de gipsita, masprincipalmente por constituir o principal depósitofossilífero brasileiro (Assine 1992). Na verdade, o

Geopark Araripe insere-se numa região conhecidainternacionalmente pelo importante registro geológicodo Período Cretáceo, com particular destaque para o seuconteúdo paleontológico, que apresenta um excepcionalestado de preservação e uma enorme diversidadebiológica dos fósseis.

O reconhecimento nacional e internacional doGeopark Araripe é, em grande parte, fruto da sua riquezapaleontológica associada à bacia sedimentar do Araripeque contém, à escala mundial, uma das mais importantesassociações fossilíferas do Cretáceo Inferior. A notóriadiversidade de fósseis da bacia sugere a existência de umambiente pretérito favorável à vida, associado acondições especiais de pós-morte que favoreceram afossilização. A distinção de Konservat-Lagerstätten éaplicada à Formação Santana pois esta apresenta fósseiscom um grau de preservação extraordinário.

Segundo Assine (2007), a Formação Santana éconstituída pelas Camadas Ipubi (gipsita) e pelosMembros Crato e Romualdo, dois dos principaisdepósitos fossilíferos do Brasil e do mundo desta idade(Figura 2).

4. O PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO DO GEOPARK

ARARIPE

Figura 2 – Alguns exemplares da riqueza fossilífera da Formação Santana. Membro Crato: A, Brachyphyllum obesum Heer, 1881; B,Cordulagomphus fenestratus Carle & Wighton, 1990; C, Arariphrynus placidoi Leal & Brito, 2006. Membro Romualdo: D, Araripemysbarretoi Price, 1973; E, Neoproscinetes penalvai Figueiredo & Silva Santos, 1987; F, Cladocyclus gardnery Agassiz, 1841 (a nomenclaturados fósseis foi obtida em Moura et al. 2006 e em Saraiva et al. 2010).

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O Membro Crato representa a sequênciainferior da Formação Santana e possui origem lacustrina.Apesar da maioria dos estudos paleontológicos destemembro ter início na década de 1980, em pouco mais de20 anos foram descobertas e descritas mais de 200 novasespécies a partir das rochas do Membro Crato (Martill &Bechly 2007). Este registro fossilífero destaca-se peladiversidade, abundância e qualidade de preservação defósseis, nomeadamente fósseis de algas, vegetais,artrópodes, moluscos, peixes, anfíbios, pterossauros epenas de aves (Carvalho & Santos 2005). Esta diversidadede grupos zoológicos e botânicos justifica que acomunidade científica direcione esforços para oreconhecimento geológico e caracterização dapaleobiota, colocando os afloramentos desta formaçãoentre os mais importantes sítios paleontológicosmundiais (Lima 1979; Barreto et al. 2000; Barreto et al.2012). Destaca-se ainda a grande abundância ediversidade de espécies representantes da classeInsecta, que corresponde a cerca de 80% das espéciesdescritas para este membro (Moura et al. 2006).

A preservação dos exemplares fósseis doMembro Romualdo, que representa a sequênciaestuarina, é, na maioria dos casos, excepcional o quetornou este material paleontológico conhecido em nívelnacional e internacional (Kellner 2002). Este membroapresenta uma biota diversificada, com exemplaresfósseis de vegetais, artrópodes, moluscos, equinoides,peixes, dinossauros terópodes, além de uma grandevariedade de pterossauros (Carvalho & Santos 2005). Aictiofauna constitui o grupo de organismos maisabundantes, sendo composta por mais de 19 gênerospertencentes a várias famílias (Wenz et al. 1993; Maisey2000 apud Fara et al. 2005). Os fósseis são encontradosprincipalmente em nódulos e concreções calcárias,sendo comum a preservação tridimensional sem exibirsinais de compactação (Kellner 2002). É ainda frequentea ocorrência de espécimes totalmente articulados efósseis de vertebrados e invertebrados com elevadaqualidade de preservação dos tecidos moles (Martill

1988; Kellner 1996; Kellner & Campos 1998; Smith 1999apud Fara et al. 2005).

Na região do Geopark Araripe, este patrimôniopaleontológico está acessível no Museu de Paleontologiada Universidade Regional do Cariri, no município deSantana do Cariri (que reúne uma coleção superior a 3 milexemplares) e no Centro de Pesquisas Paleontológicas daChapada do Araripe (CPCA) vinculado ao DNPM, nomunicípio do Crato (Carvalho & Da-Rosa, 2008).

São várias as ameaças que afetam aconservação do patrimônio paleontológico do GeoparkAraripe e, de modo geral, de toda a região da bacia do

5. AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO DO

GEOPARK ARARIPE

Araripe. O comércio de fósseis ao longo das últimasdécadas tem representado uma verdadeira ameaça aopatrimônio paleontológico da região do Araripe e do país,apesar de ser ilegal no Brasil. As inúmeras descobertas denovos exemplares de grande qualidade fez com que estesfósseis começassem a ser mais valorizados por cientistas,museus, colecionadores e paleontólogos amadores,aumentando a demanda por novas amostras.

Como em qualquer relação comercial, ocomércio de fósseis está baseado numa relação entre a“oferta” e a “procura” (Tabela 1). Por um lado, a “oferta” ésustentada por uma população inserida numa região comuma situação socioeconômica desfavorecida, que nãoreconhece nem valoriza os fósseis enquanto patrimôniode todos. Por outro lado, a relevância científica e estéticados fósseis, que lhes confere um elevado valoreconômico, contribui para a existência de uma “procura”diversificada. O excelente grau de preservação, a suabeleza, o fato de serem exemplares representativos doseu tempo geológico e até mesmo todo o imagináriocriado à sua volta, fazem destes fósseis um objeto decontemplação pelo cidadão comum e um precioso bemcientífico, desejado pela comunidade científicapaleontológica.

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Comércio ilegal de fósseis no Araripe

OFERTA

Fatores

- Vasta ocorrência de fósseis, em parte resultado daatividade extrativa;

- Baixo nível salarial dos trabalhadores das pedreirasque encaram a venda de fósseis como complementode renda;

- Deficiente fiscalização e controle por parte do DNPMe das forças policiais;

- Reduzida conscientização social sobre o realsignificado e valor patrimonial dos fósseis.

PROCURA

Fatores

- Relevância científica dos fósseis;

- Relevância estética dos fósseis;

confere

- Elevado valor econômico aos fósseis.

Atores

- Trabalhadores das pedreiras;

- Coletores amadores;

- Intermediários.

Atores

- Palentólogos profissionais e amadores;

- Público em geral;

- Instituições como museus, universidades, etc.

Tabela 1 – Fatores e atores que dominam a relação entre a “oferta” e a “procura” e que enquadra o comércio ilegal de fósseis no Araripe.

A vasta ocorrência de fósseis na região da baciado Araripe é, em parte, resultado da atividade deexploração mineral, onde os trabalhadores apresentambaixo nível salarial e encaram a venda de fósseis comoum complemento de renda. Infelizmente, são poucos osproprietários das pedreiras que estabelecemprocedimentos rigorosos para os trabalhadores nãorecolherem os fósseis para posterior venda. Para aextração da gipsita (Camadas Ipubi da FormaçãoSantana), normalmente as pedreiras removem toda acamada de rochas que está sobrejacente. Esta é acamada correspondente ao Membro Romualdo, uma dasmais fossilíferas da Formação Santana. Como resultadodesta atividade, o nível de concreções fossilíferasexposto é, comumente, depositado nas enormesacumulações de “rejeitos”. Apesar da exploração degipsita ser essencialmente na parte sudoeste da Chapadado Araripe (Pernambuco), a maior parte dos registros darecolha ilegal de fósseis centra-se no Ceará, sendoapenas alguma em Pernambuco (Vidal & Castro 2009).No Piauí, como não existe exploração de gipsita, asconcreções calcárias são encontradas em menorquantidade. Para além desta ocorrência de concreçõesfossilíferas, típicas do Membro Romualdo, na exploraçãod o c a l c á r i o l a m i n a d o o c o r r e u m n ú m e r osurpreendentemente elevado de fósseis de altaqualidade do Membro Crato (Martill & Bechly 2007). Nolado leste da Chapada do Araripe, coincidente com a áreado Geopark Araripe, existe a indústria da “Pedra Cariri”,

para produção de rochas ornamentais (pedras depavimentação e revestimento) e também de cimento.Devido à informalidade e alta rotatividade dosprodutores é difícil ter um controle do material fossilíferoque tem origem nas áreas de mineração, para finscomerciais. Apesar de ser um ato ilegal, sabe-se queparte da venda dos fósseis da bacia do Araripe estáassociada às explorações de calcário laminado. Osdestinatários desta venda são vários, desderevendedores conhecidos na região, colecionadoresparticulares e até pesquisadores l igados àsuniversidades.

Além destes fatores, a falta de fiscalização eficaze a existência de legislação com caráter subjetivo no querespeita ao patrimônio paleontológico, têm contribuídopara o comércio ilegal de fósseis. As leis, apesar de teremsido criadas para proteger os fósseis muito raros ecientificamente importantes, determinam de formamuito confusa quem tem competência para avaliar epreservar o patrimônio paleontológico. A únicaregulação sobre fósseis não está enquadrada no Códigode Mineração, nem na lei de patrimônio cultural, mas simnuma lei especial (Decreto Lei 4.146/42) que nãoestabelece nenhum regime para além de definir acompetência do órgão responsável pelo setor mineironacional para fiscalizar e autorizar a extração de fósseiscom fins científicos. Segundo o Decreto-Lei 4.146/42, osfósseis estão sob fiscalização do DNPM, uma vez queestes integram os bens e riquezas do solo que compõem

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o domínio da União mas, ao mesmo tempo, sãoconsiderados como bens integrantes do patrimôniocultural, onde a lei confere a fiscalização ao órgão dacultura (IPHAN).

A solução para reduzir, ou mesmo eliminar, asameaças ao patrimônio paleontológico do GeoparkAraripe não é simples uma vez que estas são sustentadaspor fatores diversos. Alguns desses fatores estãorelacionados com a raridade e qualidade de preservaçãoe outros são de tal amplitude que não permitem aimplementação de medidas que dependem apenas doGeopark Araripe, mas sim de várias instituições em nívelfederal e estadual. No entanto, o geoparque pode fazerum importante trabalho com as comunidades locais,especialmente no que se refere à educação.

A promoção da educação é essencial emqualquer programa de desenvolvimento sustentável,particularmente numa estratégia de geoconservação emgeoparques. Com efeito, práticas cotidianas deconservação do patr imônio paleontológico,protagonizadas pelos cidadãos, só se efetivam se estescompreenderem o caráter excepcional da fossilização e arelevância do registro fóssil para o conhecimento dahistória da vida na Terra e para a antevisão do futuro doplaneta (Henriques 2007). Assim, é proposta umaestratégia educativa com várias ações de âmbito formal einformal que visam consolidar a prática da conservaçãodo patrimônio paleontológico no Geopark Araripe. Estaestratégia educativa foi planejada de forma a atingir omáximo da população do geoparque e tanto é aplicávelneste território, como noutras áreas fossilíferas do Brasile até mesmo de outros países, com eventuais adaptaçõesa outras realidades.

6.1. AÇÕES EDUCATIVAS FORMAIS

As ações educativas de caráter formal têm comofinalidade difundir o conhecimento sobre o patrimôniopaleontológico do Geopark Araripe e alertar acomunidade escolar sobre a importância da prática dageoconservação, assim como disponibilizar novasferramentas educativas aos professores. É proposto umcurso de formação para professores que lecionamCiências e Geografia no nível de ensino médio, com aduração de 2 dias. O curso contemplaria uma parteteórica, onde seriam discutidos conceitos degeoconservação e apresentado o patrimôniopaleontológico do Geopark Araripe. Na parte prática sãopropostas aulas de campo, as quais proporcionariam aosprofessores uma forma mais estimulante de abordagemsobre o geoparque e o seu patrimônio paleontológico. Nocaso dos professores não possuírem uma formaçãocientífica mínima sobre geociências, este curso deve ser

6. ESTRATÉGIAS PARA A CONSERVAÇÃO DO

PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO DO GEOPARK ARARIPE

antecedido de um outro onde seriam ministradosconhecimentos básicos de paleontologia, geologiasedimentar e tempo geológico.

6.2. AÇÕES EDUCATIVAS INFORMAIS

A educação informal do público em geral é umaspecto muito relevante na perspectiva dasustentabilidade de um geoparque. O entendimento dosconceitos da conservação do patrimônio natural ecultural e o respeito pela identidade regional sãoessenciais para um padrão de desenvolvimentodiferenciado, como é entendido pelo conceito degeoparque (Baci et al. 2009). Neste sentido, sãopropostas várias ações educativas de caráter informal,dirigidas ao público em geral, nomeadamente àpopulação local, trabalhadores das pedreiras e turistas.Estas ações foram planejadas tendo em conta ascaracterísticas socioeconômicas da população local, mastambém a promoção de um turismo sustentável.

6.2.1. Exposição itinerante de fósseis do Araripe

Com esta ação pretende-se divulgar opatrimônio paleontológico do Geopark Araripe, em que oseu público-alvo é constituído pelos estudantes e opúblico em geral.

Consiste na organização de uma exposiçãoitinerante com fósseis da bacia do Araripe e que deverápercorrer os seis municípios que integram o GeoparkAraripe. Esta exposição deverá ser exibida em locais quepossam atrair o maior número possível de visitantes,assim como em todas as escolas do geoparque.

6.2.2. Concurso: O fóssil do ano

O concurso é dirigido à população local, e emparticular aos trabalhadores das pedreiras. O principalobjetivo desta iniciativa é distinguir cidadãos residentesno território do Geopark Araripe que doam fósseis poreles resgatados. Também tem como finalidade contribuirpara a salvaguarda de mais e melhores fósseis esensibilizar a sociedade para a importância dopatrimônio paleontológico da região.

Este concurso deverá ser promovido peloGeopark Araripe, com o apoio do Museu dePaleontologia da URCA e do DNPM, escritório regional doCrato. Todos os anos, um júri avalia as ofertas que foremfeitas e atribui um certificado a quem resgatar e entregaro exemplar fóssil com maior valor científico/educativo.Este fóssil deverá integrar a coleção do Museu dePaleontologia, com reconhecimento público expresso aoseu doador.

6.2.3. Fóssil Quiz

Com esta iniciativa pretendemos divulgar

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informações sobre o patrimônio paleontológico doAraripe, para o público em geral. Esta ação consiste emcolocar questões diversas, na página do geoparque nainternete, sobre o patrimônio paleontológico local e quepodem ser respondidas pelo público. Todos os mesesserá elaborada uma nova questão e será selecionada apessoa que der a resposta correta no mês anterior (teráde haver um sorteio, no caso de haver várias respostascorretas). Ao vencedor seria atribuído um prêmiosimbólico alusivo ao Geopark Araripe.

6.2.4. Ser paleontólogo por dois dias

Esta é uma ação para candidatos a paleontólogoamador, que tem como público-alvo os turistas e opúblico em geral. Pretende-se proporcionar aexperiência de ser paleontólogo promovendo, emsimultâneo, o contato do geoparque com as pedreiraslocais. O programa desta atividade seria distribuído pordois dias, mas poderia ser dada oportunidade departicipar apenas no primeiro dia. Depois de uma breveapresentação sobre o patrimônio paleontológico doAraripe, o participante seria convidado a recolher fósseisque ocorrem nas lajes calcárias extraídas nas exploraçõesde “Pedra Cariri”. Também seria ministrado um rápidotreinamento sobre como proceder numa primeiraseleção e tratamento dos exemplares recolhidos,recorrendo a um kit de paleontólogo fornecido aosparticipantes (martelo de bico chato, pincel, lupa,talhadeira e papel para embrulhar as amostras). Duranteo segundo dia seria realizado o tratamento dosexemplares selecionados anteriormente. Dependendodo estado do material, seriam facultadas técnicas depreparação mecânica e limpeza das amostras. Numa faseposterior, estas amostras poderiam ser colocadas naexposição do próprio museu, como também poderiamser aproveitadas para outras exposições, por exemplonaquelas propostas na ação “Exposição itinerante dosfósseis do Araripe”.

Durante toda a atividade os participantesdevem ser acompanhados por um paleontólogo, ouresponsável do geoparque com formação adequada.Destaca-se também que, durante o recolhimento dosfósseis nas mineradoras, os participantes estarão sempresob a orientação do DNPM e de um trabalhador daempresa destacado para o efeito.

6.2.5. Escavação paleontológica para estudantes

Os estudantes do ensino médio são público-alvodesta ação, que pretende que estes vivenciem asatividades de coleta e preparação de fósseis,promovendo o envolvimento das pedreiras locais nogeoparque.

Os estudantes (máximo 10) do ensino médio dediferentes escolas da região seriam convidados aparticipar numa semana de coleta de fósseis. Durante o

período de férias escolares, os jovens efetuariamtrabalhos com fósseis nas lajes calcárias extraídas naspedreiras da região. Fariam também uma primeiraseleção e tratamento dos exemplares recolhidos, sob aorientação de um professor ou responsável pelaatividade. Alguns dos fósseis encontrados pelosestudantes seriam doados às respectivas escolas, com aficha técnica completa e identificação do aluno que oresgatou. Esta atividade deve decorrer sempre sob asupervisão do DNPM.

6.2.6. Empresa amiga do fóssil

Esta ação é dirigida especialmente às empresasmineradoras e tem com objetivo principal criar umaparceria entre o geoparque e as empresas, de forma apromover a conservação dos fósseis e destacar oimportante papel das mineradoras no resgate dosmesmos. Propõe-se a atribuição, por parte dogeoparque, de um selo “empresa amiga do fóssil” para asmineradoras que colaborarem com as atividadesdesenvolvidas pelo geoparque e que doarem os fósseisque vão sendo encontrados durante a atividade demineração. Esta ação deverá ter o apoio do Museu dePaleontologia da URCA e do DNPM.

No Geopark Araripe, dentre os vários tipos depatrimônio geológico, o paleontológico é dos que mais seencontra sujeito a pressões antrópicas que podemcontribuir para a sua perda irreparável. Toda a região dabacia do Araripe enfrenta o grande problema docomércio ilegal de fósseis. Este é resultado de umconjunto de fatores interligados, que materializam váriasameaças à integridade do patrimônio paleontológico.Atualmente, apesar do aumento de condicionanteslegais e das políticas de fiscalização, esta prática persistede uma forma mais comedida, mas não menosalarmante. Existe uma “procura” pela qualidade e nãopela quantidade, isto é, a procura pelos fósseis é menosintensa mas, no entanto, seletiva na medida em que osfósseis mais raros e com maior valor científico,continuam a sair da região e até mesmo do territóriobrasileiro.

Mediante a magnitude dos vários fatores queafetam diretamente a conservação do patrimôniopaleontológico, entende-se que o campo de atuação doGeopark Araripe deverá estar próximo da população. Éproposto que o geoparque tenha como alvo os “atores”intervenientes na perda deste patrimônio paleontológicode relevância mundial, ou seja, as pessoas que de forma,direta ou indireta, podem influenciar o destino dosfósseis da região.

O Geopark Araripe está inserido numa regiãoeconomicamente desfavorecida, onde a populaçãoenfrenta vários problemas de ordem social e educativa.

7. CONCLUSÕES

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Como consequência, esta população denota um baixoreconhecimento da importância do patrimôniopaleontológico local. Este fato está na base das razõesque levam à existência de uma “oferta” de fósseis quealimenta o comércio ilegal, obviamente complementadopela sua vasta ocorrência na região e uma deficientefiscalização e controle por parte do poder público. Poroutro lado, a “procura” pelos fósseis é sustentada porpessoas que os valorizam pela sua importância científicae até mesmo pela sua beleza, e que também estãodisponíveis para os comprar, características queaumentam ainda mais a valoração econômica destepatrimônio.

Apesar de ser necessário encontrar uma rápidae definitiva solução para a conservação do patrimôniopaleontológico do Araripe, destaca-se que a estratégiaeducativa proposta, para ser implementada pelosgestores do Geopark Araripe, dificilmente irá produzirresultados duradouros a curto prazo. No entanto, tendoem conta a dimensão e variedade dos fatores quepropiciam a depredação do patrimônio paleontológico,as ações educativas concebidas são uma contribuição no

combate ao comércio dos fósseis.Em complemento a esta estratégia educativa, o

incremento da fiscalização e a consequente aplicação dasleis vigentes no país, ambos fora das competências doGeopark Araripe, poderiam dar um importante sinal aoscompradores que, de alguma forma, incentivam a coletade fósseis por parte de uma população ainda poucoesclarecida. É sobre os compradores que as medidasfiscalizadoras e repressivas devem ser mais incisivas, umavez que a redução de seu número certamente conduzirá auma diminuição da coleta de fósseis desincentivando,deste modo, o comércio de patrimônio paleontológico.

Terminar com o comércio ilegal de fósseis podeparecer uma pretensão ingênua. Desde que haja umfóssil com valor econômico e um potencial comprador,existem condições para que este bem seja negociado. Noentanto, os geoparques, enquanto instrumentos dedesenvolvimento territorial, possuem a obrigação decriar estratégias que promovam a conscientização dasociedade e a necessária mudança de mentalidades que,inevitavelmente, vão contribuir para o tão almejadodesenvolvimento sustentável.

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Manuscrito ID 31418

Submetido em abril de 2013

Aceito em junho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

A extração de diamantes na história geológica

e mineral no ParanáDiamond extraction in mining and geolocical history of Paraná

ANTONIO LICCARDO*, LUIZ ANTONIO CHIEREGATI**

*Universidade Estadual de Ponta Grossa - [email protected]

**Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected]

Resumo

O início da extração de diamantes no Paraná remonta à segunda metade do século XVIII, poucas décadas depois da descoberta destemineral em Diamantina (MG). Pouco conhecido em seus aspectos de gênese, depósitos e reservas, este diamante retirado da Bacia do RioTibagi e adjacências é estudado há muito tempo e teve vários ciclos de maior ou menor importância econômica. Os depósitos de origemsecundária, minerados durante muitos anos por garimpeiros e mergulhadores em pesados escafandros, proporcionam intensos debatesquanto à compreensão de sua gênese e alimentam o folclore e a cultura locais. Ao longo da evolução da ciência geológica no Paraná oentendimento sobre estes diamantes recebeu um expressivo aporte de informações, sem que, no entanto, isto resultasse em controlesprospectivos ou modelos geológicos mais precisos. Rochas kimberlíticas ou lamproíticas nunca foram localizadas na região, assim comonão há indícios de minerais mantélicos que pudessem ser ligados à sua gênese. A associação com as rochas sedimentares glaciogênicas doGrupo Itararé parece ser a melhor possibilidade de fonte, sem maiores comprovações, entretanto. Considerados de importância menorno panorama de produção diamantífera do Brasil, estes depósitos apresentam um contexto histórico especial de cunho científico,socioeconômico e cultural que começa a ser tratado como patrimônio na ótica da valorização da geodiversidade que ocorre em escalamundial. A correlação do conteúdo geocientífico e da história mineral com os aspectos socioculturais é o caminho para que as váriasfacetas deste contexto ímpar da região de Tibagi sejam devidamente consideradas. Este artigo propõe o aporte da informação geológicapara o fortalecimento e valorização do patrimônio imaterial constituído pela memória da extração de diamantes no Paraná.

Palavras-chave: diamante; patrimônio mineiro; história da mineração.

Abstract

The beginning of diamond extraction in Paraná goes back to the second half of 18th century, a few decades after the discovery of thismineral in Diamantina, Minas Gerais. Little known on the aspects of its genesis, deposits and reserves, this diamond from of the TibagiRiver basin and vicinity have been studied from long time and had several cycles of greater or lesser economic importance. The secondarysource deposits, mined for many years by divers in heavy helmets provide intense debates as to the understanding of its genesis and feedon the folklore and local culture. The efforts to identify huge deposits and/or the primary sources of these diamonds led to a significantamount of geological information about this region, without however, resulting in prospective controls or more accurate geologicalmodels. Kimberlitic or lamproitic rocks have never been found in the region, as well as there is no evidence of mantelic minerals that couldbe linked to its genesis. The connection with the glacio-sedimentary rocks of Itararé Group appears to be the best possible source,however with no further evidence,. Considered to be of minor importance in diamond production of Brazil, these deposits have ahistorical context of scientific, socio-economic and cultural nature that begins to be treated as equity in the context of global geodiversitydiscussion. The correlation of scientific content and mineral history with social and cultural aspects is the path for the development of thisunique context. This paper proposes the connection between geological data and cultural heritage constituted by the memory ofdiamond extraction in Paraná.

Key words: diamond; mining heritage; mining history.

1. INTRODUÇÃO

Entre 1725 e 1866, a maior parte dos diamantesnas cortes europeias era proveniente do Brasil e teve umpapel extraordinário na economia e cultura de Portugal.A importância dos diamantes nesta época refletiu-se emtoda a Colônia de várias maneiras, inclusive nosdesconhecidos depósitos do rio Tibagi, no atual territóriodo Estado do Paraná, segunda ocorrência encontrada atéentão na América Portuguesa.

Descobertos em 1754, esses sempre forampouco conhecidos quanto ao seu potencial de produçãoou reservas, situação que persiste até hoje. Mesmo sem ocontrole oficial e produzindo clandestinamente, osdepósitos no Paraná participaram da produção brasileirado período áureo (séculos 18 e 19) e sofreram asinfluências da conjuntura político-econômica. Contudo,algumas diferenças levaram esta região a um contextosocioeconômico menos dependente da mineração, massujeita à sua influência por mais de dois séculos.

O aspecto cíclico é uma característica da

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produção no rio Tibagi, com picos de extração em certasépocas que podem ser correlacionados comcircunstâncias econômicas e sociais do Brasil, como amigração de garimpeiros baianos no início do século 20(Liccardo et al., 2012). Condicionantes ligadas à geologiados depósitos e às características mineralógicas podemter sido fatores determinantes para este contexto de

Figura 1 – Aspectos típicos das técnicas de recuperação de diamantes do leito ativo no Rio Tibagi: garimpeiro trabalhando manualmentedepósitos de cascalho. Foto A. Liccardo, 2008.

produção mineral peculiar e fazem destes depósitos umconjunto único em termos científicos e culturais. AsFiguras 01 e 02 mostram um típico garimpeiro da regiãoutilizando as mesmas técnicas de prospecção que seutilizava há 200 anos e um mergulhador da década de1980, ainda utilizando escafandros alimentados porbombeamento manual.

Figura 2 – Aspectos típicos das técnicas de recuperação de diamantes do leito ativo no Rio Tibagi: mergulhador com escafandro paratrabalhos mecanizados no fundo do rio. Foto D. Mesquita, 1985.

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O s d e p ó s i t o s e n c o n t r a m - s epredominantemente em leito ativo de rios e córregos,com eventuais paleocascalheiras em depósitos decolúvio e elúvio. Com distribuição aparentementeerrática, as ocorrências estendem-se por boa parte do

Segundo Planalto Paranaense, com uma forteconcentração no rio Tibagi entre a cidade homônima e omunicípio de Telêmaco Borba, não obstante algumasmanchas de extração ao norte e ao sul (Figura 03).

Figura 3 – Mapa de distribuição dos depósitos diamantíferos sobre o Segundo Planalto Paranaense. A mancha entre Tibagi e TelêmacoBorba é a mais significativa, onde a extração se concentrou. Modificado de Mineropar (2006).

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Uma revisão dos dados conhecidos e apossibilidade de correlação com análises socioculturaisda região são as propostas deste artigo e podem trazer oaporte da informação geológica ao âmbito da discussãocultural. Este conjunto aponta a atividade de extração dediamantes no Paraná como um tipo de patrimônioimaterial que requer levantamentos mais específicospara a sua eventual preservação.

O viajante francês Saint-Hilaire (1820), aopassar pelo Paraná, mencionou a existência decontrabandistas de diamante, próximo à Jaguariaíva, ecogitou que este já poderia ser conhecido dos primeirosbandeirantes, no século XVI. O primeiro registro escrito,no entanto, sobre a presença de diamante nesta região éde 1754, por Ângelo Pedroso Lima, quando seu escravode nome Anselmo, faiscando os córregos em busca deouro se deparou com uma “pedra cristalina e lustrosa”(sic). Esta foi colocada na coroa de Nossa Senhora daPenha e, posteriormente, entregue ao governador da vilade Santos, Inácio Elói de Madureira (Lopes, 2002).

Em 1802, Martim Francisco de Andrada (irmãode José Bonifácio), então diretor geral das Minas dePrata, Ouro e Ferro da capitania de São Paulo, esteve naregião em expedição científica examinando os córregosMonjolo, Faisqueira, Fortaleza, São Domingos, SantaRosa, Borges e quase todos os braços do Tibagi em ambasas margens. Seu relatório é bastante extenso edetalhado, incluindo uma descrição dos diamantesencontrados. Segundo ele,

2. DA DESCOBERTA AO SÉCULO 19

garimpos de diamante no Sul nunca dispuseram dagrande quantidade de escravos utilizados em MinasGerais, já que a média de escravos naquela região maispobre, de economia mais ligada à pecuária, era de umescravo por propriedade menor que 100 ha (Gutierrez,2006).

Bigg-Wither (1878) citou fatos curiosos em seusdiários, que ajudam a dimensionar a produção na época,como a troca de um escravo ao preço de 100 libras poruma xícara de diamantes, ou que o preço usual de umdiamante de “pura água” (incolor), pesando um quartode oitava (1g), era de 50 libras. Relatou, também, ocontato com Herbert Mercer sobre uma malogradatentativa de mineração pelos ingleses. Descendentesdeste engenheiro publicaram mais tarde importantesrelatos sobre os garimpos de Tibagi (Mercer & Mercer,1934).

Possivelmente graças à interpretação dosrelatos positivistas de Bigg-Wither (1878), disseminou-sea ideia de que por baixo da cidade de Tibagi estende-seum “rico lençol de diamantes”, já que o inglês especulousobre a extensão das paleocascalheiras lavradas a cercade 5 km do município. De fato, ainda hoje, nessalocalidade conhecida como Lavra dos Ingleses, sãoproduzidos pequenos diamantes.

Ainda em finais de século XIX, intensificou-se oestudo sobre a geologia no Brasil, com os trabalhos deHartt (1870) que fez referência ao diamante do Tibagi emseus levantamentos e especialmente Derby (1878), quepublicou o primeiro estudo detalhado sobre a geologiada província diamantífera do Paraná.

Orville Derby, considerado o pai da geologiaparanaense, sugeriu que a possível fonte dos diamantesseriam os arenitos da Formação Furnas (Devoniano) queuma vez trabalhados pelos rios dispersariam estesminerais nos sedimentos do leito.

3.1. PRIMEIRA METADE DO SÉCULO

Por volta de 1912, os garimpos que seencontravam em quase total abandono começaram areceber afluência de garimpeiros vindos de Minas Geraise Bahia, que se fixaram na região, influenciando aeconomia e a cultura locais. Com a explosão econômicado diamante entre os anos 20 e 40, outros pesquisadoresdesenvolveram estudos sobre este mineral e suageologia. Oliveira (1927), no detalhamento do primeiromapa geológico do Paraná, escreveu uma nota sobre odiamante, concordando com a origem aventada porDerby (1878), e Bastos (1936) e Oliveira (1937) orelataram mais minuciosamente para o ServiçoGeológico Mineralógico.

3. O CONHECIMENTO E A EXTRAÇÃO A PARTIR DO

SÉCULO 20

“...uns cor de aguardente do reino, outros brancos, cor

de prata, e alguns cor de aços cristais brancos e

amarelos de ouro...”. O mineralogista especula, ainda,

sobre as fontes deste mineral: “...os diamantes foram

achados em caldeirões tendo sido transportados pelas

águas que com as grandes chuvas, rasgando as

formações poudinguiças, lavaram-nas e consigo os

trouxeram. Quanto porém aos tirados das ditas

formações não permanentes, que de riquezas se não

deveria esperar quando estas se descobrissem?”

O u t r o s f a m o s o s v i a j a n t e s t a m b é mmencionaram a existência de diamantes neste território,que se estende pelos Campos Gerais do Paraná, aexemplo de Eschwege (1833) que cita o rio Tibagi comosendo o mais rico da região. O engenheiro inglês Bigg-Wither (1878) em sua passagem pelo Paraná apontou orecrutamento forçado de homens para a Guerra doParaguai (1864-1870) como um fator desestimulantepara a mineração na região Sul. Sugeriu, ainda, que adecadência da mineração do diamante só ocorreu porausência de uma companhia importante, tendo a regiãosido explorada apenas superficialmente. De fato os

¹ Termo do português arcaico provavelmente proveniente do inglês puddingstone, ou conglomerado.

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As informações mais completas, no entanto, sãodevidas a Oppenheim (1936), do antigo Serviço deFomento da Produção Mineral, que descreveu osgarimpos, enumerou as ocorrências (Tabela 1) ediscorreu sobre a geologia e possível gênese destemineral. Oppenheim (1936) contrapôs-se às ideiassugeridas por Derby e atribuiu a dispersão de diamantesao desgaste de rochas ácidas do embasamento(pegmatitos), conforme as teorias predominantes emsua época, defendidas principalmente para os diamantes

de Minas Gerais por Djalma Guimarães (1933). Noentanto o autor apontou como “rocha matrizs e c u n d á r i a ” n o T i b a g i s e q u ê n c i a s g l a c i a i sconglomeráticas do Permiano Inferior (atual GrupoItararé) e descartou qualquer participação das inúmerasintrusões básicas presentes na região. As Figuras 04 a 07mostram os perfis do rio Tibagi em três pontos distintos,enfatizando as características geomorfológicas dosdepósitos diamantíferos, conforme a interpretação deOppenheim (1936).

1 São Francisco Pocinho Cachoeira Feia21 41

2 Poço de Carranca Limeira Salto Aparado22 42

3 Cachoeira dos Pampas Barreirinho Poço do Gique23 43

4 Cachoeira dos Pinheiros Caldeirões Salto dos Alemães24 44

5 Mato bom Saltinho Cachoeirinha25 45

6 Cachoeira das Cavernas Mandasaia Chupador26 46

7 Cachoeira do Bonifácio Imbauzinho Cachoeira dos Quizamba27 47

8 Cachoeira da Usina Pedra Grossa Barra Grande28 48

9 Cachoeira de Tibagy Anta Magra Caldeirão29 49

10 Salto Peludo Arroio Grande Ilha dos Cavalos30 50

11 Santa Rosa Drummond Cachoeira dos Porcos31 51

12 Cascalho duro Cachoeira do Tigre Cachoeirinha32 52

13 Barra da Conceição Cachoeirinha Cachoeirão33 53

14 Poço do Assombro Vira Panela Cachoeira do Horácio34 54

15 Rio Imbaú Estreito Poço do Tigre35 55

16 Saltinho Ilha das Formigas Cachoeira Grande36 56

17 Cachoeira dos Ingleses Ilha Fechada Jaguatirica37 57

18 Lambedor Cachoeira dos Pupos Areado38 58

19 Varanol Barra do Lageado Salto Mauá39 59

20 Cachoeira da Mortandade Cachoeira Grande40

Tabela 1 – Ocorrências de diamante cadastradas por Oppenheim em 1936.

Figura 4 – Perfil transversal do rio Tibagi, num dos garimpos conhecido como Mato Bom acima do município de Tibagi, ilustrando oentendimento, à época, das armadilhas de relevo para os depósitos diamantíferos (baseado em Oppenheim, 1936).

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Figura 5 – Perfil longitudinal do rio Tibagi, num dos garimpos conhecido como Mato Bom a montante do município de Tibagi, ilustrando oentendimento, à época, das armadilhas de relevo para os depósitos diamantíferos (baseado em Oppenheim, 1936).

Figura 6 – Perfil transversal mostrando as cascalheiras e sua concentração em certos trechos, nos garimpos de Cascalho Duro, já nomunicípio de Telêmaco Borba (baseado em Oppenheim, 1936).

Figura 7 – Perfil transversal mostrando as cascalheiras e sua concentração em certos trechos, nos garimpos de Salto dos Alemães, já nomunicípio de Telêmaco Borba (baseado em Oppenheim, 1936).

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Passado este período de intensa garimpagem,Maack (1968) publicou uma comunicação sumária emque afirmou ter extraído diamante das rochas glaciais daregião. Este fato, contudo, ainda não foi confirmado pornenhum outro autor e sobre o local exato desta possívelextração se perdeu com a morte de Maack.

Na década de 1980, um novo surto demineração ocorreu no Tibagi e empresas como a CPRM ea Mineropar implantaram grandes projetos de pesquisa eprospecção na região, incluindo uma lavra experimental(Mineropar) em Campina dos Pupos, no município deTelêmaco Borba. Neste período, Svisero (1979) teve aoportunidade de analisar a mineralogia e as inclusõesdestes diamantes e Chieregati (1989), em dissertação demestrado posterior, realizou um extenso panoramasobre a geologia dos depósitos, baseado em numerososlevantamentos de campo da CPRM. Mais tarde algunsdados foram complementados por Perdoncini (1997),também em dissertação de mestrado. Vários trabalhossobre o diamante de Tibagi foram ainda apresentadosem 2010, por ocasião do Simpósio Brasileiro de Geologiado Diamante que aconteceu pela primeira vez em Tibagi,reaquecendo as discussões sobre o tema.

3.2. LAVRA EXPERIMENTAL DA MINEROPAR

Entre 1982 e 1987 a Mineropar, à época umaempresa estatal dedicada à pesquisa, prospecção efomento da mineração, realizou atividades de pesquisa eextração de diamante e ouro na bacia do rio Tibagi emvárias localidades, entre elas Ilha dos Cavalos, BarraGrande e Campina dos Pupos, no âmbito do ProjetoDiamante. Na localidade conhecida como Campina dosPupos foi implantada uma lavra experimental quepermitiu um detalhamento geológico da morfologia doleito do rio, com seu característico trapeamento. Estalavra foi realizada em uma parceria da Mineropar com acooperativa de garimpeiros existente à época, quecontava com 55 associados, e com o geólogo detentordos direitos minerários, Atamon Domingues de Oliveira,sobre um antigo garimpo, caracterizado por cascalheirasque formam ilhas em trechos do rio. As atividadesenvolveram o desvio das águas por bombeamentocontínuo e a construção de uma barragem para secagemdo leito, a dragagem para a retirada do cascalhomineralizado transportado por meio de vagonetes eguinchos (ver Figura 08) e a posterior lavagem eseparação com uso de jig em local seco, para arecuperação do diamante (Liccardo & Mesquita, 2010).

Figura 8 – Imagem da geomorfologia do fundo do rio Tibagi,obtida na época da construção da barragem e desvio das águas.Em alguns trechos a profundidade do rio pode alcançar 30m eficam evidentes as inúmeras armadilhas para concentração dediamante. Atualmente este local, Campina dos Pupos, inclusiveo muro, foram cobertos pelas águas, graças à construção dahidrelétrica em Salto Mauá, a jusante. Foto D. Mesquita, 1985.

Registros mantidos desta época indicam aretirada de 6.741 pedras (1.836,96 ct) em três grandeslotes: o primeiro, com 1.628 pedras, pesando 456,11ct, osegundo com 3.206 pedras que totalizavam 848,90ct (verFigura 09) e o terceiro lote que se compunha de 1.907pedras que pesavam 531,96ct. Esses dados permitiram ainferência de algumas características gerais sobre osdiamantes produzidos nesta localidade com bastanterepresentatividade, já que os trabalhos eramcontrolados sistematicamente pelas três partesinteressadas e representam, possivelmente, o melhorcontrole estatístico já realizado em populações dediamantes desta região em mais de 250 anos de extração(considerando a quantidade de espécimes). Das 6.741pedras (1836,96 quilates) retiradas em poucos meses deextração descontínua por problemas com chuvas,percebe-se o tamanho pequeno em média (0,27ct).Ainda conforme estes registros, o maior destesdiamantes pesava 9,10ct (avaliado em US$ 2.180,00 emnovembro de 1985), sendo muito pouco comum noslotes a presença de pedras com mais de 3ct. O materialrecuperado nesta lavra experimental foi classificadocomo tipo gema (41%), tipo “lasca” (parcialmenteaproveitável em lapidação - 19%) e tipo indústria (40%).As Figuras 10 a 12 mostram a distribuição dos indivíduosconforme esta classificação e o peso para diferentes lotes(Liccardo & Mesquita, 2010).

Não obstante as dificuldades para a construçãoda barragem, que foi interrompida inúmeras vezes emfunção da grande variação do nível do rio pelas chuvas, eindependentemente dos resultados econômicosobtidos, as informações sobre o leito do rio Tibagi nestaépoca e esta significativa população de diamantestrouxeram novas ideias sobre as características dosdepósitos e dos diamantes.

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Figura 9 – Parte do segundo lote produzido em 1985 pela lavraexperimental na Campina dos Pupos, município de TelêmacoBorba, mostrando as principais características dos diamantesde Tibagi, como a predominância de cristais inteiros porexemplo. Foto: Mineropar, 1985.

Figura 10 – Distribuição da quantidade de indivíduos (barras àesquerda) e peso dos diamantes (barras à direita) nos intervalosde tamanho entre menores que 0,17ct e maiores que 2ct, numapopulação de 646 indivíduos classificados como “gema”.Baseado nos dados de produção da Mineropar em 1985.Liccardo e Mesquita, 2010.

Figura 11 – Distribuição da quantidade de indivíduos (barras àesquerda) e peso dos diamantes (barras à direita) nos intervalosde tamanho entre menores que 0,17ct e maiores que 2ct, numapopulação de 285 indivíduos classificados como “lasca”.Baseado nos dados de produção da Mineropar em 1985.Liccardo e Mesquita, 2010.

Figura 12 – Distribuição da quantidade de indivíduos (barras àesquerda) e peso dos diamantes (barras à direita) nos intervalosde tamanho entre menores que 0,17ct e maiores que 2ct, numapopulação de 695 indivíduos classificados como “indústria”.Baseado nos dados de produção da Mineropar em 1985.Liccardo e Mesquita, 2010.

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3.3. SITUAÇÃO NO SÉCULO 21

Mais recentemente, em 2005-2006, houve umaretomada na produção, com dezenas de dragas atuandoao longo do rio, entre Tibagi e Telêmaco Borba. Estefenômeno de aquecimento do mercado se explicaparcialmente pela entrada do Brasil, nesta época, nosistema internacional de certificação de procedência dediamantes, conhecido como Processo Kimberley. Em2006 a Mineropar editou um histórico da mineração noParaná, onde os diamantes receberam papel destacado(Liccardo & Cava, 2006). Irregularidades legais namineração, problemas ambientais e a crise econômicainternacional em 2009 levaram a um novo período deretração, situação que parece perdurar até o momento.Períodos de grande produtividade intercalados comper íodos de grande recessão, somados aodesconhecimento da origem geológica ainda hojeparecem confirmar a história cíclica de extração dediamantes em Tibagi.

O maior rigor na fiscalização de impactosambientais em leitos de rio, nos últimos anos, levou agrandes dificuldades na legalização de garimpos e nadefinição de áreas de extração. A recente construção debarragens para hidrelétricas sobre as áreas maisprodutivas também gerou dificuldades para a extração, oque aponta para uma possível extinção desta atividadena região nos próximos anos.

Liccardo et al. (2012) propuseram umaabordagem como patrimônio cultural para todo ocontexto do diamante em Tibagi e adjacências,discutindo a correlação entre as características dosgarimpos, do diamante e sua gênese com a história locale o desenvolvimento peculiar que aconteceu nesta partedo Brasil. Em 2013, o governo estadual prepara umalegislação adequada para eventuais registros etombamentos de patrimônios cultural e imaterial, ondepossivelmente este conjunto de fatores possa vir a seenquadrar.

Os garimpos de diamante da bacia hidrográficado rio Tibagi (PR) e áreas adjacentes vêm sendoexplorados desde o século dezoito, em cascalheiras doleito ativo dos rios, em aluviões antigos e recentes, bemcomo em colúvios. Estas ocorrências estão posicionadassobre rochas da Formação Furnas (Devoniano) e doSubgrupo Itararé (Permo-Carbonífero), na porçãosudeste da Bacia do Paraná e os depósitos são, em geral,de pequenas dimensões, tendo havido em alguns locaistrabalhos mecanizados de lavra e de beneficiamento. Oteor em diamante é baixo, oscilando entre 0,04 a 0,80ct/m3 nos níveis mais ricos. No decorrer dos anosoitenta, a produção dos garimpos oscilou entre 400 a1.000 ct/ano (Chieregati & Svisero, 1990).

Svisero (1979) mostrou, por meio de análises

4. DISCUSSÃO GEOLÓGICA

em microssonda eletrônica, que inclusões de granada,espinélio e olivina contidas nestes diamantes, possuemcaracterísticas químicas típicas de diamantesperidotíticos, apontando uma derivação a partir defontes essencialmente kimberlíticas. No decorrer de1984, a CPRM e a Mineropar realizaram pesquisas deavaliação dos garimpos da região, ocasião em que foramclassificados e avaliados os tipos de depósitos, tendo sidoressaltado o teor baixo das ocorrências (CPRM1984,1986). A partir da década de 1980 houve umaintensa busca por kimberlitos no Brasil, como o ProjetoKimberlitos (Mineropar, 1986), mas a localização dasfontes dispersoras destes diamantes do Paraná, contudo,ainda permanece desconhecida.

Chieregati et al. (1987) apresentaram um estudoprospectivo baseado no rastreamento de mineraispesados, a partir de uma amostragem regional realizadaem garimpos dos rios Verde, Itararé, Jaguariaíva, Cinzas,Laranjinhas e Tibagi, cobrindo uma área deaproximadamente 200x150km. Os resultados indicarama presença de magnetita, ilmenita, cromita, jacobsita,limonita, granada, turmalina, epidoto, hornblenda,rutilo, monazita, xenotímio, apatita, zircão, estaurolita,cianita, anatásio, coríndon, cassiterita, sulfetos, ouro ediamante, com algumas variações de frequência nasáreas amostradas. Os minerais de interesse prospectivo,como a granada e a ilmenita, foram analisados commicrossonda eletrônica e as análises químicas indicaramgranada rica em FeO (25,55-34,68%), que corresponde aotermo almandina, derivada provavelmente de rochas doembasamento cristalino. Da mesma forma, os cristais deilmenita são isentos de MgO e Cr2O3, impurezas típicasde ilmenitas kimberlíticas, tendo sido relacionadastambém a rochas do embasamento (Chieregati & Svisero,1990).

A ausência dos indicadores tradicionais dekimberlitos (piropo cromífero, ilmenita magnesiana,cromita magnesiana e diopsídio cromífero), constituemuma situação geológica diferente daquela observada emoutras regiões, como em Coromandel, Minas Gerais(Svisero et al., 2005), o que sugere que o diamante daregião do Tibagi esteja relacionado a ciclos erosivosantigos. Outras evidências relativas ao diamante e àgeologia da região reforçam essa possibilidade, como porexemplo:

a) diamantes de granulometria baixa equalidade gemológica alta (% de gemas entre 60 a 70%),sugerindo transporte prolongado (Liccardo et al., 2010);

b) associação dos depósitos a unidadespermocarboníferas da Bacia do Paraná, onde estãopresentes litotipos derivados de glaciação (diamictitos);

c) presença de pavimentos estriados por ação degeleiras em rochas da região (Chieregati 1989, Rocha-Campos et al. 2008).

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As direções de paleocorrentes registradas noslitotipos (sedimentos do Grupo Itararé e rochas doembasamento) indicam transporte (pré ruptura docontinente Gondwana) de S para N e NW (Santos et al.,1996). A associação desses fatos sugere que osdiamantes da região do Tibagi foram transportados porprocessos glaciogênicos durante a deposição dossedimentos permocarboníferos da Bacia do Paraná. Asfontes dispersoras estariam situadas a sul dos depósitosatuais, possivelmente no continente africano em umaépoca anterior a fragmentação do Gondwana. Chieregatiet al. (2010) apresentaram nova interpretação dos dadosque confirmam a proveniência do diamante dosdepósitos de origem glacial do Grupo Itararé. Não háevidências geoquímicas ou mineralógicas, ou mesmodatações dos diamantes até o momento, que pudessemcorroborar algum destes modelos genéticos.

A história geológica destes diamantesapresenta pontos de especial fascínio e remetem a umamplo entendimento dos processos naturais que oplaneta passou em termos temporais e espaciais. Estahistória devidamente adaptada a outras linguagens podeser utilizada como fator de cultura e educação científica,conforme os critérios preconizados pela UNESCO nasúltimas décadas. Em termos de geologia regional, ascaracterísticas enigmáticas dos processos de deposição,desde a intemperização da rocha portadora (kimberlito)até as armadilhas de relevo fluvial, determinaram o tipode mineração e a sua continuidade desde suadescoberta, há mais de 200 anos, até os dias de hoje,i n f l u e n c i a n d o d i r e t a m e n t e n o s a s p e c t o ssocioeconômicos locais.

Conforme ressaltado por diversos autores, odiamante da região de Tibagi caracteriza-se pelapredominância de pedras pequenas com peso médiovariando entre 0,1 e 0,3ct. Chieregati (1989) estudou adistribuição do peso de diamantes de garimpos deTelêmaco Borba e de Tibagi a partir de um lote de 219pedras, obtendo uma moda predominante em torno de0,10ct. Liccardo & Mesquita (2010), descreveram um lotede 6.741 pedras com tamanho médio de 0,27ct, nãoobstante eventuais espécimes com até 10ct. Algunsrelatos citam pedras de 107ct, mas sem maiorcomprovação. Historicamente, não são conhecidasocorrências de grandes diamantes na área de Tibagi,como aquelas registradas na região de Coromandel(MG), onde são frequentes pedras com dezenas oumesmo centenas de quilates (Reis, 1959).

Chieregati (1989) caracterizou a morfologia apartir de vários lotes obtidos no leito ativo do rio Tibagiem 1985, num total de 2.210 pedras. O exame individualdos exemplares permitiu identificar os principais hábitoscristalinos, estando presente por ordem de frequênciadecrescente: 61,0% de rombododecaedros, 16,0% de

5. CARACTERÍSTICAS DOS DIAMANTES

octarrombododecaedros, 10,3% de cristais irregulares,5,7% de fragmentos de clivagem, 4,3% de octaedros, 1%de geminados, 1% de cristais cúbicos e 0,5% de agregadoscristalinos. De modo geral, os diamantes são bemformados, euédricos, sendo pequeno o número defragmentos de clivagem, como mostra a Figura 13.

Figura 13 – Imagem parcial de um lote de 102 diamantesretirados de um colúvio (Lavra dos Ingleses, em Tibagi) em2012. Os cristais enquadram-se perfeitamente em todas asdescrições já realizadas desde o século XIX, mostrandoconsiderável constância nas características físicas, como ap r e d o m i n â n c i a d e fo r m a s d e t ra n s i ç ã o , c o m orombododecaedros ou hexatetraedros. Foto Liccardo, 2012.

O mesmo autor levantou as características decor do diamante da região a partir de lotes de garimposdas regiões de Telêmaco Borba (130 pedras), Ortigueira(115 pedras), Rio Santa Rosa (21 pedras), e Campina dosPupos (1.605 pedras), perfazendo um total de 2.115exemplares. A análise do conjunto indicou a presença porordem decrescente de 56,5% de cristais incolores, 23,6%de castanhos claros, 9,7% de castanhos escuros, 6,4% deamarelos e 3,6% de verdes. Apesar dos diamantesapresentarem dimensões pequenas comparadas comoutras áreas garimpeiras, eles se destacam pela presençade pedras coloridas (fancy colors), atualmente de grandevalor no mercado.

Barelli (1973) identificou, por meio de difraçãode raios X, inclusões de olivina, enstatita e granada nointerior de diamantes de garimpos do rio Tibagi. Meyer &Svisero (1975) analisaram, por meio da microssondaeletrônica, cristais de piropo cromífero contendo até17,5% de Cr2O3 e de espinélio rico na molécula cromita.Svisero (1979) apresentou análises, também pormicrossonda, de olivina (forsterita), piroxênio (enstatita)e espinélio (cromita) e as características químicas destasinclusões indicam uma paragênese típica de diamantesperidotíticos.

Barelli (op.cit.) estudou um lote de 27 cristaispor espectroscopia no infravermelho, onde constatou apredominância do tipo Ia, ou seja, diamantes contendoimpurezas de nitrogênio. Liccardo et al. (2010)

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analisando um lote de 11 amostras de cores variadas,verificaram tratar-se de diamantes do tipo IaAB. Este tipode diamante é o mais comum na natureza e nele onitrogênio ocorre na forma de agregados A, B e emgrupos de três átomos conhecidos como N3. Estescentros absorvem parcialmente a luz causandocolorações pálidas entre o amarelo e o castanho, e grausvariados de fluorescência. Ainda segundo os referidosautores, os diamantes incolores apresentam os centros Ae B em proporções semelhantes. Nos diamantescastanhos predominam os centros B e nos amarelos everdes os centros A.

Uma das características marcantes dosdiamantes da região de Tibagi é a predominância dostipos gemológicos sobre os do tipo indústria, naproporção de 65/35%, respectivamente. Outraqualidade gemológica de destaque é a presença dediamantes coloridos (fancy). Com relação à cor, a análisede um lote de 120 pedras baseada nos critérios doGemological Institute of America (GIA), indicou apresença de 50% de diamantes incolores (categorias D aG), seguidos por 30 a 40% de cristais de cor castanha(categorias Q a R) e menos de 5% de diamante verde ouamarelo intenso (Liccardo et al., 2010). Embora nãoexistam dados estatísticos em relação ao grau de pureza(clarity) dos diamantes de Tibagi, a prática comercial temevidenciado a predominância de cristais com poucasinclusões e de bom aproveitamento na lapidação. Alémdisso, o predomínio de cristais euédricos em relação afragmentos de clivagem (lascas) e agregados cristalinos éoutro fator positivo no aproveitamento destesdiamantes.

Entre 1730 e 1733, o preço do diamante naEuropa “despencou” pelo excesso de diamantes nomercado (Azevedo, 1988) e, a partir de 1740, a extraçãono Brasil passou a ser totalmente controlada pela CoroaPortuguesa, com direitos exclusivos para a compra dosdiamantes produzidos. Esta situação perdurou até aindependência em 1822 quando, então, volta a ser livre aprocura por esta gema.

A mineração plena de diamante só veio a sedesenvolver no Brasil com a chegada do século XIX,revelando grandes jazidas (Lins et al., 2000). Apesar denotícias sobre a existência de diamantes na Bahia (e noParaná), a produção até então se concentrou em MinasGerais. Segundo Martins et al. (1989), entre 1830 e 1865houve a maior produção de diamantes no Brasil,superada logo depois pela descoberta dos riquíssimosdepósitos na África. A maior parte dos autores atribui adecadência na mineração à perda de valor econômico nomercado internacional em função das pedras quechegavam das minas africanas.

Apesar do papel periférico da mineração emTibagi, o conhecimento da população sobre a existência

6. INFLUÊNCIA SOCIOCULTURAL DA MINERAÇÃO

do diamante remonta ao século XVIII, o que diferenciaculturalmente esta região de qualquer outra do Paraná eaté mesmo do sul do Brasil. A articulação entreexploração mineral e as práticas culturais costuma serefletir nas características singulares dos lugares deocorrência, neste caso o município de Tibagi,principalmente, e outros nos arredores, como TelêmacoBorba, Ortigueira ou Jaguariaíva.

A cultura de mineração esteve desde o inícioarraigada aos primeiros desbravadores (brancos) doterritório e teve grande impulso no século XX, com avinda dos mineradores de Minas Gerais e Bahia, negros emulatos em sua maioria. A miscigenação da população,desde então, causou um enriquecimento cultural que sereflete hoje no folclore, músicas e no imaginário doshabitantes da região. Tibagi tem hoje uma das maiorespopulações negras do Paraná. Boa parte da históriaeconômica de Tibagi também está relacionada aosaquecimentos (e rupturas) da economia da mineração,assim como às flutuações populacionais com levas demineradores que iam e vinham conforme as épocas demaior ou menor produção (Liccardo et al., 2012).

Diversamente de outras áreas diamantíferas noBrasil, onde grandes achados fizeram fortunas imediatase trouxeram, como consequência, o aumento deviolência e o extremo contraste social, em Tibagi há umatendência para a produção de pedras pequenas, o quepossivelmente causou um impacto menor e determinoua extração paulatina, sem grandes surtos. Não obstante,a participação desta extração mineral na economia localapresentou inúmeros reflexos, entre eles oassentamento de boa parte dos garimpeiros que vieram acompor a população da região.

O Museu Histórico Desembargador EdmundoMercer, também chamado Museu do Garimpo, éconhecido como um dos mais importantes acervos doParaná. Criado em 1985 com a proposta de manutençãocultural da história do município, destacou-se peloconteúdo ligado ao garimpo, sendo sua principal sala deexposições o único local da região Sul do Brasil aapresentar os objetos, imagens e textos sobre o tema damineração. Dos museus diretamente ligados à história dodiamante no Brasil, o museu de Tibagi figura entre osmais completos e bem documentados, além de constituiratualmente um atrativo turístico obrigatório domunicípio. Uma das salas do museu também é dedicada àparticipação dos negros na formação da identidadecultural do município (Liccardo et al., 2012).

A Constituição Federal de 1988, em seus artigos215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural aoreconhecer a existência de bens culturais de naturezamaterial e imaterial e, também, ao estabelecer outrasformas de preservação - como o Registro e o Inventário -

7. CONTEXTO DO DIAMANTE COMO PATRIMÔNIO

IMATERIAL

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além do Tombamento, instituído pelo Decreto-Lei nº. 25,de 30/11/1937, que é adequado, principalmente, àproteção de edificações, paisagens e conjuntos históricosurbanos (IPHAN, 2013). Os Bens Culturais de NaturezaImaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios davida social que se manifestam em saberes, ofícios emodos de fazer; celebrações; formas de expressãocênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares,como mercados, feiras e santuários que abrigam práticasculturais coletivas.

A Organização das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) define comoPatrimônio Cultural Imaterial:

"as práticas, representações, expressões,

conhecimentos e técnicas – com os instrumentos,

objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são

associados - que as comunidades, os grupos e,

em alguns casos os indivíduos, reconhecem como

parte integrante de seu patrimônio cultural".

Esta definição está de acordo com a Convençãoda UNESCO para a Salvaguarda do Patrimônio CulturalImaterial, ratificada pelo Brasil em março de 2006(IPHAN, 2013). Como patrimônio cultural ou imaterialestão compreendidas, então, as possibilidades deutilização dos recursos naturais para os mais variadosfins, bem como as práticas cotidianas relacionadas aomodo de vida, organizado no que se pode chamar deexperiências vividas. O patrimônio cultural,representado tanto pela cultura erudita quanto pelacultura popular, pode ser identificado nas manifestaçõessociais atuais, e mais do que isso, pode ser consideradoelemento importante na formação sociocultural daspopulações que lhe são recorrentes.

Desde a década de 1970, a relação da sociedadecom as práticas cotidianas passou a receber atenção evalorização, sendo considerada como patrimônioimaterial, uma memória que contribui com oentendimento da ordenação social, espacial eeconômica, como, aliás, pode ser encontrado nosmunicípios do Paraná ligados à extração de diamante. Opatrimônio cultural torna-se incorporado à sociedadequando, associada a ele, a memória social é fixadaatravés de elementos que possuem significado para avida coletiva, e a importância deste patrimônio estádiretamente relacionada à carga simbólica que elerepresenta, assim como ao poder de pertencimento queele proporciona (Monastirsky, 2005). A história dodiamante em Tibagi refere-se a esta carga de simbolismoe certamente exerce papel fundamental na cultura local.

Tibagi e Telêmaco Borba, os principaismunicípios produtores de diamante, apresentaram umaevolução socioeconômica diferente da maioria dosmunicípios da região, como Castro, por exemplo, cujainfluência da pecuária e do tropeirismo no século XIXimpregnou culturalmente de maneira diversa do que aprática garimpeira. Mesmo o número de escravosligadosà mineração foi muito inferior aos utilizados nasfazendas ligadas à pecuária e, mais ainda, semcomparação com áreas mineradoras de Minas Gerais ouBahia. Certamente a extração de diamante no sul do paísnão recebeu a mesma ênfase de outras áreas e por issoseus ciclos de altos e baixos não tiveram impactonegativo tão profundo. Esta característica, por si só, fazdesta história de extração algo diferente de outroslugares do Brasil e permitiu a longevidade desta atividadede maneira artesanal.

As grandes cheias do rio Tibagi tornam inviáveisos trabalhos em certas épocas do ano, obrigando àsazonalidade na atividade extrativa e impondo atividadesparalelas de subsistência aos garimpeiros (como aagricultura, por exemplo). Diamantes grandes sãoextremamente raros e, na maior parte dos casos, otamanho pequeno das pedras limita os ganhos, nãoobstante serem de ótima qualidade gemológica. Odesconhecimento de sua origem geológica ou, maisespecificamente, de sua rocha-fonte dificulta projetosracionais que proponham um planejamento nos moldesde uma mineração moderna. Esta conjuntura faz com quea atividade de mineração seja de pequeno porte e comtendência a utilizar técnicas tradicionais de trabalhoartesanal. Possivelmente os aspectos histórico-culturaisdeste processo representem maior valor para acomunidade que o aspecto econômico ligado a estaatividade, no caso desta região.

Com a construção de barragens parahidrelétricas no rio Tibagi é possível que a garimpagem,nos moldes em que é praticada atualmente, seja extinta.A proposta desta discussão é que se busquemmecanismos de preservação e valorização do conteúdohistórico-cultural e sejam avaliados seus impactos sobrea sociedade e a memória local. O conhecimento e asreflexões geológicas devem ser considerados umimportante instrumento para alicerçar este processo, porapresentar dados consistentes e registros de altaconfiabilidade. Assim como estes dados costumambalizar pesquisas de prospecção geológica, podem serutilizados também para balizar o registro comopatrimônio imaterial do Paraná.

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Manuscrito ID 31655

Submetido em maio de 2013

Aceito em julho de 2013

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boletimde geociências

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Mina do Morro do Ouro, Apiaí, SP – A transformação em

parque

Morro do Ouro Gold Mine, Apiaí, SP – Transformation into a park

HÉLIO SHIMADA

Instituto Geológico – SMA, São Paulo - [email protected]

Resumo

A extração de ouro em depósitos secundários em Apiaí, no sul do Estado de São Paulo, foi iniciada na segunda metade do século 17, sendorealizada de maneira descontínua até meados do século 19. A mineração subterrânea na mina do Morro do Ouro foi iniciada em 1889,funcionando de maneira intermitente até 1942, quando foi paralisada compulsoriamente, e não mais voltou a operar. Em 1998, apóslongo tempo de abandono, foi transformada em área de utilidade pública por meio de lei municipal. Em 2002, foi elaborada proposta paraa conversão da mina abandonada em atrativo turístico, aproveitando as galerias ainda preservadas e as ruínas do beneficiamento. Aproposta foi aceita pelo município, que iniciou a efetiva implantação do parque em 2003. Em 2004, foi oficialmente criado o ParqueNatural Municipal do Morro do Ouro, caracterizando a conversão de um passivo ambiental em sítio geoturístico.

Palavras-chave: Morro do Ouro; Apiaí; mina de ouro; geoturismo; parque natural.

Abstract

The exploitation of gold in secondary deposits started in Apiaí in the second half of the 17th century, and was discontinuously performeduntil the end of the 19th century. The underground mining was initiated in 1889 in the Morro do Ouro mine and operated intermittentlyuntil 1942, when it was compulsorily closed, not operating since them. In 1998, after being abandoned for a long time, it turned into anarea of public interest by a municipal law. In 2002, a proposal to turn the former mine into a geotouristic attraction was accepted by themunicipality wich started the effective set up of the park in 2003. In 2004, the Parque Natural Municipal do Morro do Ouro was officiallycreated, characterizing the conversion of an environmental liability into a geotouristic site.

Keywords: Morro do Ouro; Apiai; gold mine; geotourism; nature park

1. Introdução

O presente texto apresenta o Parque NaturalMunicipal do Morro do Ouro (PNMMO), em Apiaí, SP,criado numa mina abandonada de ouro, convertendo umpassivo ambiental em importante sítio geoturístico. Sãoabordados o contexto geológico da mineralizaçãoaurífera, o histórico da mineração no Morro do Ouro, oprocesso de criação do PNMMO e as considerações sobreseu futuro e as possibilidades de outras iniciativassimilares na região.

2. Localização

O PNMMO localiza-se imediatamente a leste dazona urbana de Apiaí (Figuras 1 e 2), no divisor de águasdas bacias dos rios Ribeira de Iguape e Paranapanema.

O acesso, partindo de São Paulo, pode ser feito peloseguinte roteiro: rodovia Castelo Branco (SP-280) atéTatuí; rodovia Tatuí – Itapetininga (SP-127), e rodoviaItapetinga – Apiaí (SP-250). Uma outra opção de acesso, apartir de São Paulo, é a rodovia Regis Bittencourt (BR-116) até Jacupiranga; rodovia Jacupiranga – Eldorado (SP-193); e rodovia Eldorado – Apiaí (SP-165) passando porIporanga, com o trecho até Apiaí ainda não pavimentado.

Partindo de Curitiba, o roteiro de acesso é:rodovia Curitiba – Adrianópolis (PR-476) e rodoviaRibeira – Apiaí (SP-250). Opcionalmente, há o acesso viaJacupiranga, como acima descrito.

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Figura 1 – Localização do Parque Natural Municipal do Morro do Ouro.

Figura 2 – O Parque Natural Municipal do Morro do Ouro em imagem do Google Earth.

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3. Contexto geológico da mina do Morro do Ouro

A região da mina do Morro do Ouro está situadano alto Vale do Ribeira, no largo segmento crustaldenominado Cinturão Ribeira, com cerca de 2.500 km deextensão e constituindo parte do Sistema OrogênicoMantiqueira (Brito Neves et al., 1999). O CinturãoRibeira, paralelo à linha da costa sudeste, é cortado porum sistema de zonas de cisalhamentos transcorrentesdextrais, relacionado às colisões oblíquas entre oscrátons São Francisco, Congo, Luís Alves e Paranapanemadurante o Neoproterozóico (Campanha & Sadowski,1999; Faleiros et al., 2011). No Neoproterozóico, durantea Orogenia Brasiliano/Pan-Africana, esse segmentocrustal foi amalgamado, deformado e metamorfizado(Heilbron et al., 2004; Faleiros et al., 2011; Siga Junior etal., 2009, 2011; Campanha et al. 2008a, b). Vários autores

realizaram trabalhos de caráter regional no Vale doRibeira, entre os quais podem ser citados Campanha(1991), Daitx (1996), Fassbinder (1996) e Faleiros (2008).A porção sul do Cinturão Ribeira abrange, de norte parasul, os terrenos compostos Apiaí, Curitiba e Luís Alves,delimitados pelas zonas de cisalhamento Lancinha eSerra do Azeite. O Terreno Apiaí, onde está situado oMorro do Ouro (Figura 3), é composto por sequências derochas supracrustais de baixo a médio grau metamórfico,originalmente designadas como Grupo Açungui,posteriormente elevado à categoria de Supergrupo(Campanha, 1991; Campanha & Sadowski, 1999). Aregião foi também objeto de vários projetos demapeamento geológico e trabalhos avulsos como osexecutados pela CPRM (1981) e Chiodi Filho (1984).

Figura 3 – Contexto geológico da região de Apiaí.

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No Morro do Ouro, predominam as rochasmetamórficas de baixo grau da Formação Água Clara(Figura 5), com a predominância de xistos variados comintercalações de calcários, filitos, dolomitos, rochascalciossilicáticas e quartzitos. As mineralizações auríferasdo Morro do Ouro ocorrem em dois tipos de minério:veios de quartzo escuro (Figura 4) cortando rochasmetassedimentares de fácies xisto verde da FormaçãoÁgua Clara (ca. 1450 - 1500 Ma; Weber et al., 2004) e

minér io l imoní t i co, formado por quarzt i to(possivelmente chert recristalizado) enriquecido emóxidos de ferro e intercalado com níveis de limonita(Paiva e Morgental, 1980) (Figura 6). Nos veios, o ouroestá contido nas estruturas cristalinas dos sulfetosmetálicos de ferro e cobre que, quando oxidados,apresentam o ouro na forma livre, em partículas dedimensões variadas. No minério limonítico, o ouro livreestá associado aos óxidos presentes.

Figura 4 – Veio de quartzo aurífero no teto do túnel T-15.

Faleiros (2012) estudou os regimes de fluidoshidrotermais e a formação dos veios de quartzo auríferodo Morro do Ouro, identificando dois sistemas: veios NWextensionais subverticais e veios NE subverticaisparalelos aos planos axiais de dobras apertadas. Osprimeiros foram formados sob pressão de fluidoslitostática a supralitostática (110 - 225 MPa a 225º C), e osúltimos foram formados sob pressão de fluidos próxima avalores hidrostáticos (55- 80 MPa e a 225º C). Os doistipos de veios apresentam inclusões fluidas dos sistemasCO -CH e H O-CO -CH -NaCl-CaCl , com salinidades

variando de 4 a 67% em peso de NaCl equivalente.2 4 2 2 4 2

A mesma autora sugere que os veios mineralizadospodem estar relacionados à falha do Carumbé,transcorrente dextral de direção NE, adjacente ao Morrodo Ouro, que teria atuado como falha-válvula. Os fluidoshidrotermais em interação com as rochas encaixantesforam, provavelmente, enriquecidos em ouro nelascontido, ocorrendo a posterior precipitação devido àsalterações nas condições físico-químicas dos fluidos. Taisvariações ocorreram como consequência de flutuaçõescíclicas na pressão dos fluidos e do regime tectônicoassociado a episódios de atividades sísmicasrelacionadas à falha.

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Figura 5 – Mapa geológico simplificado da área do Morro do Ouro.

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Figura 6 – Perfil geológico esquemático A-B (NW-SE) da área do Morro do Ouro.

4. Breve histórico da mina do Morro do Ouro

As mineralizações auríferas do Morro do Ourosão conhecidas, segundo Calazans (1996), desde asegunda metade do século 17, quando aventureiros embusca de ouro, partindo de Iguape, subiram o rio Ribeirade Iguape até o local então denominado Porto de Apiahy,a jusante de Itaóca. Sánchez (1984) cita como possível adescoberta no ano de 1675. Desse local, alcançaram osribeirões com cascalho aurífero nos arredores da cidadeatual. O número de garimpeiros aumentou rapidamente,instalando-se o povoado em Vila Velha do Peão, a nortedo Morro do Ouro. Este passou a ser vasculhado pelosmineradores por volta do ano de 1770, em busca deminérios coluviais e eluviais. Na área a oeste do morrosurgiu o povoado de Santo Antonio das Minas de Apiahy,elevado à categoria de vila em 14 de agosto de 1771. Foi o19º povoado paulista a se tornar município; porém, suaemancipação consolidou-se somente em 6 de agosto de1797, sendo elevado a comarca em 7 de janeiro de 1937.

Após a exaustão das reservas de minériosecundário superficial, foi iniciada a lavra subterrânea dominério primário no Morro do Ouro, que funcionou demaneira intermitente entre 1889 e 1942. Neste ano, foiparalisada de maneira compulsória pelo governo federaldevido ao fato de a mina ser operada por uma empresajaponesa, permanecendo a mina paralisada eabandonada até o início dos anos 2000. Paiva eMorgental (1980) sintetizaram cronologicamente osfatos relevantes relacionados à mina do Morro do Ouro:

- A empresa Resende & Cia. incumbiu o Eng.Gonzaga de Campos a realizar pesquisa na zona de Apiaí,tendo sido a propriedade do Morro do Ouro, consideradaa mais importante entre as estudadas.

- José de Souza organizou uma sociedade,instalando pilões de madeira com sapatas de aço paratrituração do minério, construindo também uma estradade carros de boi subindo o morro.

- Antonio Carlos Melchert constituiu, com algunsamigos, a empresa Antonio Melchert & Cia., montando

1885

1889

1902

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um sistema de dez pilões e completo equipamento paraamalgamação e cianetação. A iniciativa não produziu osresultados esperados, sendo paralisada em 1904,limitando-se os trabalhos às pesquisas em pequenaescala até o ano de 1910.

- David Carlos MacKnight, Frank Edward Krug eWalter Charnley obtiveram uma opção para estudar ajazida e oportunamente constituir uma empresamineradora. Planejando operações conjuntas com asinstalações de Melchert, encomendaram um moinhocom capacidade de 50 toneladas diárias; porém, a mortes ú b i t a d o ú l t i m o m o t i v o u o f ra c a s s o d oempreendimento. O maquinário ficou depositado emItapeva (então Faxina) até 1922.

- MacKnight e seus sócios adquiriram aspropriedades do Morro do Ouro e Água Limpa. Nomesmo ano, um incêndio destruiu as instalações deMelchert. Mesmo assim, o grupo continuou a lavra dominério, abrindo 1.600 m de galerias e recuperando 6,5kg de ouro através de amalgamação até o ano de 1924. Ometal recuperado tinha 76% de ouro e 24% de prata.

- Com o advento do Código de Minas, em 1934,MacKnight, Krug e Charnley conseguiram o Manifesto deMina sob registro no 399, em 20 de abril de 1939. A minae seus imóveis estavam então arrendados, desde 16 demarço de 1939, à Cia. de Mineração de Apiaí, comparticipação de capital japonês, pelo prazo de 15 anoscom opção para outros 15. A atividade dessa empresa foiautorizada pelo Decreto no 5.021 de 13 de dezembro de1939, dando-se início imediato aos trabalhos. No prazode um ano, foram abertos 2.500 m de galerias, das quaissaíram cerca de 10.000 t de minério a um teor médio de 5g/t. Na época, as reservas da jazida foram estimadas em100.000 toneladas de minério. O tratamento do minérioconsistia em britagem, moagem, e recuperação do ourogrosso por amalgamação com mercúrio. O ouro fino erarecuperado por cianetação, onde o metal era dissolvidoem solução de cianeto de sódio e, após filtragem,recuperado por precipitação com adição de zinco.

- Com o início da segunda guerra mundial, a mina foiparalisada por força do Decreto Lei no 4.166, quedeterminou o confisco dos bens dos súditos do EixoAlemanha - Itália - Japão, sendo nomeadosinterventores.

- Ordem de liquidação extra-judicial da empresa.

1910

1922

1939

1942

1945

1960 - A União reconhece que os legítimos donos daempresa não eram súditos do Eixo, devolvendo oremanescente do empreendimento à Cia. de Mineraçãode Apiaí. Porém, a longa paralisação havia provocado ocolapso no sistema subterrâneo de galerias,inviabilizando o reinício da lavra conforme o planooriginal. Somando-se a isso as condições desfavoráveisdo mercado do ouro na época, a empresa considerouinviável um novo planejamento de lavra.

Paiva e Morgental (1980) estimaram a reservaremanescente de minério, para os dois tipos citados e

acima da cota 860 m, em 1.040.000 t de minério, comteor médio ponderado de 2,58 g/t de ouro. A estimativaadmitiu a extensão do minério ao Morro da Água Limpa.

Em 28 de maio de 1998, a lei municipal de autoria doentão vereador Donizetti Borges Barbosa transformou oMorro do Ouro em área de utilidade pública, inicialmentevisando apenas preservar os mananciais da cidade.Shimada (2002) observou que as ruínas das instalaçõesde beneficiamento poderiam ser recuperadas e algumasgalerias ainda permitem acesso seguro, exibindo asmineralizações auríferas, e propôs à prefeitura de Apiaí oaproveitamento geoturístico da mina do Morro do Ouro,nos moldes de iniciativas similares que conheceu noexterior. A proposta foi aceita pela prefeitura, decidindo-se pela criação de um parque natural municipal. Naépoca, a propriedade do terreno ainda era privada,constituindo obstáculo para o projeto. Em 2003, aempresa Camargo Corrêa Cimentos, que opera fábrica nacidade, adquiriu o terreno, doando-o à prefeitura. Assim,teve início a efetiva implantação do parque, oficializadapelo Decreto Municipal 003/2004. Atualmente, o ParqueNatural Municipal do Morro do Ouro, em área de cercade 450 hectares, recebe constantes melhorias nainfraestrutura e conta também com trilhas de caminhadae um Centro de Informações Turísticas que funciona 24horas/dia, todos os dias da semana, inclusive feriados(Figura 7), transformando-se em destacado atrativogeoturístico e de educação ambiental da região, descritopor Shimada (2008).

5. A criação do Parque Natural Municipal do Morro do

Ouro

Figura 7 – CIT - Centro de Informações Turísticas do PNMMO

O PNMMO constitui o primeiro dos atrativosrelacionados à história da mineração na região, cujoinício remonta ao século 17, mas tem sido poucovalorizado. Nesse contexto, Silva & Shimada (1997) eShimada et al. (1998) já haviam estudado as minasabandonadas de chumbo e prata da região, propondo arecuperação e aproveitamento geoturístico desses sítios,compondo o "Roteiro das Minas" regional. Os variadosatrativos naturais da região, aliados a esse roteiro,resgatariam a rica história da mineração e seria mais uma

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interessante opção para os visitantes.

No PNMMO, complementando a infraestruturaexterna de recepção de visitantes e da recuperação dasinstalações de beneficiamento (Figura 9), foi proposta amelhoria das condições do túnel T-15 (Figura 8), o maisbem preservado, onde é possível implantar um roteiro devisitação que permite a observação das mineralizações.Para tanto, foi contratada a consultoria de umEngenheiro de Minas, que elaborou relatório propondomedidas de segurança nas galerias (Figura 10), comointerdições de trechos perigosos, aberturas de saídas deemergência e escoramentos localizados.

Figura 8 – Uma das entradas do túnel T-15

Figura 9 – Ruínas das instalações de beneficiamento, próximasao CIT

O acesso seguro às galerias da antiga mina nãoproporcionaria apenas atrativo para os turistas, mastambém de pesquisadores interessados em estudos damineralização aurífera, como os realizados por Faleiros(2012).

O Parque Natural Municipal do Morro do Ouro éuma iniciativa pioneira na região do alto Vale doRibeira/alto Paranapanema, e tem atraído numerososvisitantes, principalmente dos municípios vizinhos,incluindo excursões didáticas das escolas. No entanto, acriação do Parque Natural Municipal do Morro do Ouropode ser considerada apenas parcialmente bem sucedidaporque, apesar de regularmente visitado, aindademanda medidas essenciais para a sua completaimplantação. Considera-se adequada a infraestruturaexterna de recepção; mas, as medidas propostas para a otúnel T-15 ainda não foram executadas devido àindisponibilidade de recursos, comprometendo apreservação do patrimônio geológico nele contido.Também não foi realizado o mapeamento dos demaistúneis para possível aproveitamento geoturístico.

C o n s id era - s e a l ta mente re leva nte apreservação dos atrativos geoturísticos do PNMMO e dasoutras minas antigas da região, visto que a região ésabidamente carente de opções de renda. O aporte derecursos pelos turistas certamente contribuiria para odesenvolvimento sustentável e valorizaria a história damineração.

6. Considerações finais

Paralelamente, foi proposto o mapeamentodetalhado dos demais túneis do Morro do Ouro, paraseleção daqueles mais adequados para potencialaproveitamento geoturístico.

Figura 10 – Proposta de adequaçãodo túnel T-15 da mina doMorro de Ouro ao geoturismo.

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Agradecimentos: O autor agradece a Secretaria deTurismo, Cultura e Meio Ambiente que, nas pessoas desua Secretária, Milena Alencar, da Diretora de MeioAmbiente Paula Daniel Fogaça e do Diretor do PNMMO,Francisco de Assis Ferrenha Junior, forneceraminformações importantes para este artigo.

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Manuscrito ID 30970

Submetido em fevereiro de 2013

Aceito em junho de 2013

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boletimde geociências

paranaense

Cavernas como patrimônio geológico

Caves as geological heritage

HEROS AUGUSTO SANTOS LOBO*, PAULO CESAR BOGGIANI**

*Universidade Federal de São Carlos - [email protected]

**Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo - [email protected]

Resumo

Cavernas são feições geológicas que apresentam também aspectos bióticos e abióticos, além dos geológicos, que possibilitam enquadrá-las em diferentes categorias do patrimônio natural. Se forem considerados ainda aspectos históricos e culturais, outras formas deenquadramento como patrimônio são possíveis, além do paisagístico, no qual a maioria das cavernas do Brasil vem sendo enquadradas,quando caracterizadas como patrimônio. No presente texto pretende-se discutir a relação entre cavernas e patrimônio geológico,entendendo-se como patrimônio geológico apenas as feições geológicas de excepcional valor científico. Partindo-se desse pressuposto,raras são as cavernas que podem ser enquadradas desta forma. Para subsidiar trabalhos futuros no enquadramento de cavernas comopatrimônio geológico, o que somente deverá ser feito após a realização de inventário e categorização de valores, é apresentado umpanorama geral sobre as cavernas no Brasil, com destaque para as que apresentam feições geológicas notáveis, juntamente comdiscussão sobre as formas de acesso da sociedade a esse patrimônio e sua proteção.

Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Cavernas; Carste; Geoturismo; Espeleoturismo.

Abstract

Caves show not only geological features, but also biotic and abiotic characteristics, everything which allows them to be classified asnatural heritage sites. Caves can be classified as sites of historic and cultural heritage, in addtion of landscape heritage value, by which themost Brazilian caves are classified. In this text, there is a discussion about the relationship between caves and geological heritage, keepingin mind that only which is remarkable in terms of geological record is considered as a heritage. Under this definition, not all caves can beconsidered as Geological Heritage. An overview of Brazilian caves is shown with the subject to begin the discussion, because only after acomplete inventory will be possible to list the caves which can be regarded as geological heritage, along with a discussion on the visitationand the conservation of Brazilian caves.

Key words: Geological Heritage; Caves; Karst; Geotourism; Speleotourism.

1. INTRODUÇÃO

Cavernas são mais conhecidas pela beleza deseus espeleotemas ou dimensões de seus portais esalões subterrâneos. Geralmente são esses atributos osprimeiros a serem utilizados para justificar a importânciae necessidade de sua preservação. No entanto, cavernasnão apresentam apenas valores cênicos e paisagísticos.Apresentam um rico conjunto de elementos bióticos,climáticos, paleontológicos e geológicos por vezesatípicos, o que justifica enquadrá-las com patrimônionatural. Podem também, conforme o caso, seremconsideradas patrimônio cultural, histórico earqueológico, dada a diversidade de característicasnaturais, históricas e culturais que apresentam.

No presente texto, é apresentada discussãosobre o enquadramento específico de cavernas comopatrimônio geológico, entendendo-se este, a princípio,como as feições geológicas raras e excepcionais queauxiliam na interpretação da evolução geológica do

Planeta. Ao seguir esse direcionamento, raras serão ascavernas a serem enquadradas como patrimôniogeológico, o que não exclui, naturalmente, a classificaçãoem outras categorias patrimoniais.

Apenas após um inventário detalhado e o maiscompleto possível das cavernas brasileiras é que seriapossível listar as que poderiam vir a ser consideradae x c l u s i v a m e n t e c o m o p a t r i m ô n i ogeológico. No sentido de subsidiar essa discussão éapresentado diagnóstico preliminar, em parte no que jáfoi proposto para a Comissão Brasileira dos SítiosGeológicos e Paleobiológicos – SIGEP.

Definidas as cavernas a se enquadrarem comopatrimônio geológico, o próximo passo é dar acesso aesse patrimônio para a sociedade. Apesar de muitascavernas no Brasil encontrarem-se em franca atividadeturística, pouco ou nada é divulgado a respeito doconhecimento geológico e raras são as regiões onde ascomunidades envolvidas se beneficiam desta atividadeturística.

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2. CAVERNAS COMO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

Uma caverna pode vir a ser consideradapatrimônio geológico se ela, por si só, possibilitarinterpretação paleoambiental ou paleoclimática, oumesmo apresentar registro geológico atípico. A ausênciade preservação destas feições implica em prejuízo para asciências geológicas no sentido de não ser mais possívelentender o processo que ali ocorria.

Levando-se em consideração que para seclassificar como patrimônio, nas mais diferentescategorias, a excepcionalidade e raridade é um dosprincipais critérios, nem toda caverna se enquadra comopatrimônio geológico, assim como nem toda edificação,documento ou bem cultural é considerado patrimônioarquitetônico, histórico ou cultural.

Uma caverna pode vir a ser considerada comopatrimônio paisagístico, em função da excepcionalbeleza, mas isso não implica que essa caverna venha a serum patrimônio geológico. Pode também vir a ser inseridacomo patrimônio histórico, se ela foi palco de algum atopassado de importância histórica, ou cultural, comoalgumas utilizadas para eventos religiosos. Da mesmaforma que pode ser considerada como patrimôniopaleontológico ou arqueológico, em função dapreservação de fósseis e vestígios humanos pretéritos.

Uma caverna pode, então, ser enquadradacomo patrimônio paisagístico, histórico, cultural,paleontológico ou arqueológico, mas a questão que sepretende levantar é como uma caverna pode serconsiderada patrimônio geológico, no seu sentidoexclusivo, ou seja, relacionado a feição ou processogeológico raro e excepcional que seja fundamental para oentendimento da evolução geológica da área onde seencontra ou da evolução cárstica em geral.

A Associação Européia para Conservação doPatrimônio Geológico (ProGEO) apresentou protocolo eprincípios de geoconservação (ProGEO 2011) ondepatrimônio geológico é definido como as localidades(geossítios) e objetos (espécies in situ e em museus) quefornecem percepções especiais para a evolução orgânicae inorgânica da Terra desde sua formação, há 4,5 bilhõesde anos atrás.

Pela definição acima, fica claro que nem todafeição geológica ou paleontológica pode sercaracterizada como patrimônio geológico. Aexcepcionalidade do patrimônio geológico, assim comoem outras formas de patrimônio, já havia sido destacadana definição apresentada por Brilha (2005), segundo aqual, esse tipo de patrimônio envolve o conjunto deocorrências in-situ (geossítios) e ex-situs (coleçõesmuseológicas), onde elementos da geodiversidade têmum excepcional valor científico. A diferença é que ocitado autor considera também as feições queapresentam valores educativos e turísticos associados.

No processo de definição das feições geológicase amostras que venham a ser consideradas comopatrimônio é necessário definir a valoração destasocorrências, o que acaba sendo algo subejtivo, comoapresentado por Brilha (2005), o que torna difícil ecomplicado o processo de categorização e definição doque venha a ser considerado patrimônio geológico.

Algumas cavernas no Brasil já são consideradaspatrimônio e tombadas pelo Iphan – Instituto doPatrimônio Artístico e Histórico Nacional, tendo comobase os valores paisagísticos. As grutas do Lago Azul eNossa Senhora Aparecida, localizadas em Bonito-MS,foram registradas no Livro do Tombo Arqueológico,Etnográfico e Paisagístico deste órgão em função de seuvalor paisagístico e a gruta da Mangabeira, na Bahia, peloseu valor cultural. Cabe ressaltar que na instrução para otombamento destas cavernas, nenhum aspecto explícitoda geologia foi considerado (Delphim 2009).

São raras, portanto, as cavernas que possam vira ser considerada exclusivamente como patrimôniogeológico. Se uma caverna apresenta dimensõesextremas, esta pode ser enquadrada como patrimôniopaisagístico, bem como quando apresenta espeleotemascom formas, arranjos e cores inusitados, mas nãoexclusivamente geológico. Seria geológico se apresenta-se ocorrência mineralógica rara, independente da belezados espeleotemas.

Em função do potencial de uma caverna pararegistros paleoambientais, principalmente a partir deestudos geoquímicos de espeleotemas, este pode vir aser um critério significativo para definir uma cavidadecomo patrimônio geológico. Os estudos paleoclimáticosa partir de espeleotemas são realizados a partir dainvestigação do registro de razões isotópicas de oxigênio,juntamente com datações das variações desses registrospelo método U/Th. O Brasil tem se mostrado uma regiãoimportante para esse tipo de estudo, em função dadistribuição geográfica das cavernas por diferenteslatitudes, o que possibilita comparações das variaçõesclimáticas registradas no mesmo intervalo de tempo(Auler et al. 2009, Cruz Jr et al. 2009).

Uma caverna pode apresentar fenômenogeológico atípico no processo de sua formação ou degeração de determinado espeleotema raro. Exemploseria a toca da Boa Vista na Bahia, considerada a maiorcaverna no Hemisfério Sul, onde interpreta-se que suaorigem estaria relacionada a raro processo de oxidaçãode sulfetos (Auler & Smart 2002). Na Serra daBodoquena, em Mato Grosso do Sul, o processo deformação de tufas calcárias é tão intenso ao ponto deformar cavidades com dezenas de metros dedesenvolvimento. Ao contrário das demais cavernas,essas cavidades originam-se pelo crescimento de tufa aoredor redor do espaço e não por dissolução, como amaioria das cavernas, sendo assim cavernas acrescionais(Sallun Filho et al. 2009). Exemplo deste atípico processo

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de formação de caverna em tufas foi descrito também noVale do Ribeira - caverna do Rio Fria - no Estado de SãoPaulo (Sallun Filho et al. 2011).

Outra forma de uma caverna vir a serconsiderada como patrimônio geológico seria apresença, em seu interior, de exposição de feiçãoexcepcional da rocha encaixante, mas nesse caso, acaverna teria sua importância apenas em função depossibilitar o acesso e observação desta feição e não pelasua característica geoespeleológica intrínseca.

As cavernas apresentam dimensão variada esão formadas principalmente em rochas carbonática,podendo se desenvolver também em arenitos,quartzitos e formações ferríferas.

Neste vasto cenário espeleológico, torna-seimpossível obter uma estimativa real sobre a quantidadede cavernas que existem no mundo. No Brasil, asestimativas variam bastante, chegando em 300.000cav id a d es ( P i ló & A u ler 2 0 1 1 ) , d a s q u a i saproximadamente 10.220 já foram cadastradas, segundodados do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação deCavernas (CECAV), do Instituto Chico Mendes deConservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado aoMinistério do Meio Ambiente (Jansen et al. 2012).Grande parte das cavernas conhecidas encontra-se nasextensas áreas de exposição de rochas carbonáticas doBrasil Central (MG, GO, DF, BA), no vale do Ribeira (SP/PR)e na Serra da Bodoquena (MS), bem como em áreas emfranca expansão de lavra de minério de ferro, como aSerra dos Carajás, no Pará.

Se quantitativamente as comparações perdemsentido na vastidão de cavernas existentes no país e nomundo, qualitativamente elas ganham escopo a partirdos critérios tradicionalmente estabelecidos, comograndezas, variedades litológicas, fenômenos raros oumesmo contextos paisagísticos diferenciados. A começarpelas grandezas, e com base nos dados do CadastroNacional de Cavernas (CNC) da Sociedade Brasileira deEspeleologia (SBE 2013) e da National SpeleologicalSociety (NSS 2013), a mais extensa caverna do mundo já

3. PANORAMA DAS CAVERNAS NO BRASIL E

POTENCIAIS SÍTIOS GEOLÓGICOS

conhecida é a Mammoth Cave, nos Estados Unidos daAmérica, com aproximadamente 643 km já mapeados.No Brasil, a mais extensa é a Toca da Boa Vista, em CampoFormoso, BA, que já tem 107 km explorados e mapeados,sendo a 21ª na lista mundial. A mais profunda de todas éo abismo Voronya (também conhecido como Krubera),na Geórgia, na fronteira entre Europa e Ásia, com 2.197 mde profundidade. No Brasil, o abismo Guy Collet, emBarcelos, no Estado do Amazonas, é o maior desnível járegistrado, com 670 m. Além disso, trata-se do maisprofundo abismo em quartzito do mundo.

Ainda no campo das grandezas, está emterritório brasileiro a caverna que provavelmente possuio maior pórtico de entrada do mundo, a gruta Casa dePedra, no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira(PETAR), em Iporanga, SP, cujo registro oficial é de 215 mde altura. Sem conotação de grandeza mundial, mastambém com dimensão notável em sua categoria, o lagodo Cruzeiro, no interior do Buraco do Inferno da Lagoa doCemitério, em São Desidério, BA, possui área de 12.860m2, sendo o maior lago subterrâneo conhecido no país. Agruta das Bromélias, no Parque Estadual de Ibitipoca,Minas Gerais, com 2.342 m de desenvolvimento, estáentre as cinco mais extensas do mundo nas litologiasarenito/quartzito – apesar de não estar oficialmentelistada pela NSS (2013). Uma última menção interessantena escala das grandezas é a gruta Riacho Subterrâneo, emItu, SP. Com 1.291 m já topografados, trata-se da maisextensa caverna em granito no manto de alteração dessarocha do Brasil e, embora também não conste na lista daNSS (2013), se posiciona na atualidade como a terceiramais extensa do mundo para tal l i to logia.

No campo dos fenômenos naturais raros, talvezo caso mais notável no Brasil seja o sifão de ciclointermitente no interior da dolina do João Baio, em SãoDesidério, BA. Trata-se de uma das ressurgências do rioJoão Rodrigues, por meio da gruta do João Baio I, nofundo da dolina homônima. Em um período cíclico depoucos minutos, pode-se observar a variação do nível dorio na saída da caverna, que oscila entre 30 cm e 100 cm,conforme a época do ano (Figuras 1 a 4). Trata-se de umregistro único no país, e um dos poucos já descritos nomundo.

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Figura 2 – Estágio intermediário de variação do nível d'água naressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA.(Fotografia de Alexandre Lobo).

Figura 3 – Estágio intermediário de variação do nível d'água naressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA.(Fotografia de Alexandre Lobo).

Figura 4 – Quarto estágio de variação do nível d'água naressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA. Onível d'água apresenta o seu volume máximo. O ciclo completoocorre em menos de 5 min (fotografias de Alexandre Lobo).

Figura 1 – Primeiro estágio de variação do nível d'água naressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA. Onível d'água apresenta o seu volume mínimo habitual.(Fotografia de Alexandre Lobo).

A análise das cavernas que constam da na listada Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos ePaleobiológicos – SIGEP na categoria de sítiosespeleológicos (Tabela 1) demonstra que parte são

apresentadas em conjunto e integradas ao carste onde sedesenvolvem ou isoladas, mas em ambos os casos forampropostas principalmente com base no valor paisagístico,e não apenas no geológico.

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Sítio Localização Categoria de proteção

Carste e Cavernas do Parque EstadualTurístico do Alto Ribeira, SP

Iporanga e Apiaí, SP Parque Estadual.

Carste de Lagoa Santa, MGVespasiano, Pedro Leopoldo,Confins, Lagoa Santa, Matozinhos,Funilândia e Prudente de Morais,MG

Área de Proteção Ambiental - APA Federal,Parque Estadual e Monumentos NaturaisEstaduais.

Gruta do Centenário, Pico do Inficionado(Serra do Caraça), MG

Mariana e Catas Altas, MG Reserva de Patrimônio Natural Privada –RPPN.

Toca da Boa Vista, BA Campo Formoso, BA Localizado em área particular, semproteção formal específica.

Cavernas do Vale do Rio Peruaçu, MG Januária e Itacarambi, MG Parque Nacional.

Grutas de Iraquara, BA Iraquara, Seara e Palmeiras, BAParcialmente em Parque Nacional. Grandeparte das cavernas se encontra em áreasparticulares, sem proteção formalespecífica.

Lapa dos Brejões - Vereda RomãoGramacho, Chapada Diamantina, BA

São Gabriel, João Dourado e Morrodo Chapéu, BA (Berbert-Born &Karmann 2012)

APA Estadual.

Caverna Aroe Jari, Chapada dos Guimarães,MT

Chapada dos Guimarães, MT Localizado em área particular, semproteção formal específica.

Poço Encantado, Chapada Diamantina(Itaetê), BA

Itaetê, BA Localizado em área particular, semproteção formal específica.

Furna do Buraco do Padre, PR Ponta Grossa, PR APA Estadual e Parque Nacional.

Gruta do Lago Azul, MS Bonito, MS Patrimônio tombado pelo Iphan eMonumento Natural Estadual.

Tabela 1 – Sítios espeleológicos descritos no SIGEP - Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos e Paleobiológicos e estado atual deproteção. Fonte: Dados do SIGEP (2013), complementado pelos autores.

Existe ainda no SIGEP outros dezesseis sítiosespeleológicos indicados e mais oito sugestõespreliminares, como a gruta de Maquiné, MG e as grutasdo Parque Nacional de Ubajara, CE. Embora a lista sejaconsiderável, não esgota em representatividade avariedade espeleológica nacional. Exemplos como agruta Guy Collet, em Barcelos, AM, ou mesmo o carste deSão Desidério, BA, estão entre aqueles que merecemdestaque no âmbito nacional e mundial, e demonstramque a lista dos sítios geológicos no SIGEP, na categoria decavernas, necessita ser complementada.

No âmbito mundial, a questão do patrimônioespeleológico e cárstico vem sendo tratada pela UniãoInternacional para a Conservação da Natureza (IUCN),sob os auspícios da UNESCO. A primeira tentativa deobtenção de uma lista mundial, publicada por Williams(2008), aponta para um total de 45 sítios ao redor domundo, que são listados como bens do patrimôniom u n d i a l co m fe i çõ e s cá rst i ca s e cave r n a s

internacionalmente significativas. Em sua maioria, estãolocalizados em regiões temperadas úmidas (13 sítios) etropicais úmidas (7 sítios). Em termos geopolíticos,destacam-se a Austrália, China (5 sítios cada), Cuba eEstados Unidos (3 sítios cada). Além desta lista, umasegunda acompanha a publicação, com locais querepresentam tentativas para a inclusão na lista, com 30sítios. Nesta lista aparece a única menção ao Brasil, com ocanyon do rio Peruaçu, localizado no Parque NacionalCavernas do Peruaçu, entre Januária e Itacarambi, MG(Figuras 5 a 8). Segundo Williams (2008), sua inclusão sejustifica por se tratar, possivelmente, do mais longocanyon formado por colapso em área cárstica registrado,acompanhado de uma caverna com excepcionaldecoração de espeleotemas, percorridos por um rio comsignificativa variação no nível d'água. Além disso, outrasfeições chamam a atenção ao autor, como as enormesdolinas de colapso, pontes naturais, nascentes e rios efeições cársticas típicas.

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Figura 5 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte deMinas Gerais. Gruta do Janelão. (Fotografia de Heros A. S.Lobo).

Figura 6 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte deMinas Gerais. Painel de pinturas rupestres no paredão ao ladoda lapa dos Desenhos. ( ).Fotografia de Heros A. S. Lobo

Figura 8 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte deMinas Gerais. Sítio arqueológico escavado na lapa do Boquete,onde foram encontrados vestígios datados em 12.000 BP( ).Fotografia de Heros A. S. Lobo

Figura 7 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte deMinas Gerais. Feições do carste local, na trilha da lapa doCarlúcio. ( ).Fotografia de Heros A. S. Lobo

Por outro lado, cabe ressaltar que a inclusão deum sítio na lista de patrimônios naturais mundiaisdepende de critérios já estabelecidos pela UNESCO,sendo a lista de áreas cársticas e cavernas uma primeiratentativa de enquadramento. Em síntese, os critérios quejustificam a inclusão de um sítio como patrimônio naturalmundial são, conforme Williams (2008):

- abrigar fenômenos naturais superlativos, ouáreas de excepcional beleza natural ou importânciaestética;

- apresentar exemplos marcantes dos estágiosda história da terra, incluindo registros da vida, processosgeológicos e de desenvolvimento do relevo, ou mesmocaracterísticas geomórficas ou fisiográficas significativas;- apresentar exemplos marcantes de processosecológicos e biológicos evolutivos, de ecossistemasterrestres, aquáticos, costeiros e marinhos;

- abrigar hábitats importantes para aconservação in situ da diversidade biológica, incluindoaqueles que contêm espécies ameaçadas de marcantevalor universal, sob a ótica da ciência ou da conservação.

Do ponto de vista técnico, uma área pode serconsiderada como patrimônio natural da humanidade aoatender a um dos requisitos acima. No caso específicodas cavernas e áreas cársticas, Williams (2008) citatambém que a localização no hemisfério sul é um critérioimportante a ser considerado, uma vez que a maioria dossítios formalmente reconhecidos se localiza nohemisfério norte, o que aumenta a importância destetipo de estudo no Brasil.

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4. USO TURÍSTICO DAS ÁREAS CÁRSTICAS E CAVERNAS

O turismo no Brasil em área cársticas e cavernasainda é subexplorado, em relação ao seu potencial deaproveitamento. Aproximadamente 200 cavernasapresentam algum tipo de visitação no país (Lobo et al.2008) seja de forma turística tradicional - comocontemplativo, educacional, religiosos e de aventura - oucom visitação esporádica.

Poucas são as cavernas com fluxo constante devisitação e com infra-estrutura adequada. As cavernasmais visitadas têm recebido fluxos anuais da ordem de50.000 visitantes, como é o caso das grutas do Lago Azul(Bonito-MS) e de Maquiné (Cordisburgo-MG). Algumaspodem receber ordem de grandeza semelhante, masdevido a não apresentarem controle de número devisitas fica difícil precisar, como seriam algumas cavernasda Chapada Diamantina na Bahia. No PETAR, o conjuntode cavernas recebe por volta de 20 000 visitas por ano.Também é notável o fluxo de visitação em cavernas querecebem romarias, como o santuário de Bom Jesus daLapa, na Bahia. Nos últimos anos, a visitação destacaverna, com seu interior transformado em igreja, tem seaproximado da casa de 1 milhão de visitantes, entreromeiros e turistas. Trata-se de uma forma diferenciadade visitação, motivada pela religiosidade.

Dentre os casos citados, exemplos como a grutade Maquiné ou as cavernas do PETAR são emblemáticos,por despontarem como destinos evidentementeespeleoturísticos, com alto grau de dependência dodesenvolvimento do turismo em função das cavernas.Como consequência, observa-se o desenvolvimento dacadeia produtiva do turismo em função destes atrativos,com maior grau de especialização e formação dascomunidades locais para atender especificamente aestas demandas, gerando centenas de empregos diretose indiretos e permitindo ampliar o desenvolvimentolocal.

Por outro lado, ações como o fechamento dascavernas ocorrido em 2008 no PETAR, por falta de licençaambiental dos empreendimentos turísticos alirealizados, geraram situações que contradizem osprincípios sociais do Ecoturismo e mesmo doEspeleoturismo (sensu Lobo et al. 2010). Isto porque ofluxo de visitantes à região, no período de fechamentodas cavernas, chegou praticamente a zero (Lobo 2008),gerando prejuízos temporários para as comunidadeslocais dependentes do turismo e mesmo para a imagemdo destino, os quais ainda não são plenamenteconhecidos. Alia-se a isso o fato de que, passados cincoanos, as cavernas ainda não têm um instrumento legal degestão implantado, funcionando em caráter precário esem um procedimento adequado de limites de uso egestão do fluxo de visitantes, prejudicando a imagem dodestino e afastando os turistas da região.

Em outro contexto, a gruta do Lago Azul, emBonito-MS, embora seja a caverna com maior número devisitas anuais no Brasil nos últimos anos, não pode sercons iderada como um dest ino t ip icamenteespeleoturístico. A exposição massiva na mídia faz comque os turistas que visitam Bonito necessariamentequeiram ir à gruta, mas é necessário ressaltar que a grutanão é o único atrativo a atrair turistas à região, procuradapelos rios e nascentes de águas límpidas com formaçõesde tufas calcárias na forma de cachoeiras e barragensnaturais associadas ao relevo cárstico. A existênciadestes atrativos se deve à sua localização em um terrenocárstico, o qual por suas características geológicas ehidrogeológicas, gera formas de relevo inusitadas evisualmente atraentes. Bonito, em suma, é um destinode turismo cárstico, termo pouco usado no Brasil, mascomum no exterior, tendo como exemplos clássicos oKras Turizen esloveno, o Plitvice Jezera, na Croácia oumesmo os parques cársticos chineses. Nestes casos, aabordagem é voltada para aspectos gerais da paisagem,mais próximo ao Geoturismo, como recentemente vemsendo recentemente desenvolvido no Brasil. Todavia, aregião de Bonito ainda aproveita de forma incompletaeste contexto paisagístico cárstico, deixando deconsiderar um potencial latente de educação einformação ao visitante, principalmente relacionado aoexcepcional conjunto de tufas calcárias em suasdrenagens. Projeto em curso para implantação doGeopark Bodoquena - Pantanal pode contribuir para oinício da reversão deste cenário.

O Brasil é deficiente de legislação específicapara a proteção de suas áreas cársticas e cavernas.Diversas tentativas de proposição de uma legislação paratal já foram realizadas, com notável enfoque nascavernas (como elementos isolados) e, em perspectivasmais amplas, com alguma abordagem sistêmica. A faltade articulação específica da sociedade civil, aliada à baixaprioridade que notoriamente é dada no âmbito políticopara a questão ambiental, culminaram recentemente napromulgação do Decreto 6.640, de 7 de novembro de2008. Este, segundo seu caput, tem por objetivo dispor“sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneasexistentes no território nacional”.

Na prática tal instrumento vem sendoquestionado pela sociedade civil e em comunicaçõescientíficas (e.g. Berbert-Born 2010; Trajano & Bichuette2010; Figueiredo et al. 2010), sobretudo em função datentativa de classificação das cavernas segundo graus derelevância. De um modo geral, argumenta-se que ocaminho de classificação da relevância abrepossibilidades para definir uma caverna comoirrelevante, sob critérios ainda não consolidados e

5. MEDIDAS FORMAIS DE PROTEÇÃO DO CARSTE E DAS

CAVERNAS

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e desproporcionais em relação aos diversos estudosambientais necessários. Por outro lado, na prática, osestudos de análise de relevância têm apontado pararesultados que inviabilizam o desenvolvimento dealgumas atividades de mineração na área onde ascavernas ocorrem, o que demonstra que o mencionadodecreto e seus mecanismos posteriores não atendem deforma satisfatória nem os aspectos da conservação enem aqueles do desenvolvimento econômico.

Deve-se considerar que a atividade turística emcaverna, necessária para acesso da Sociedade a esse beme para o desenvolvimento de projetos educacionais, senão realizada com os cuidados e planejamentoespecíficos pode gerar danos até irreversíveis (Cigna &Burri 2000; Lobo 2006). No Brasil, tem sido empregado oPlano de Manejo Espeleológico (PME) como instrumentopara compor ou até mesmo substituir o processo delicenciamento ambiental de empreendimentosturísticos, embora não haja consenso sobre ser este oformato mais adequado para tal (Boggiani et al. 2007). Osresultados práticos destes instrumentos têmdemonstrado que o enfoque dos estudos muitas vezes éequivocado, pois concentra-se na descrição ecaracterização geral do ambiente, mas sem considerar demodo adequado a escala, intensidade e frequência dovetor de pressão representado pelo turismo. Assim,muitos dos PMEs produzidos no país são amplos em seusdiagnósticos ambientais – e, portanto, custosos – esuperficiais em aspectos fundamentais, como o manejodo Espeleoturismo e a avaliação do impacto dasinfraestruturas internas e externas necessárias àvisitação.

Talvez o maior problema neste caso seja fato deque os PMEs das poucas cavernas brasileiras quepossuem este estudo não são implantados comopropostos originalmente. Os PMEs vêm se tornandoapenas um instrumento formal para fins decumprimento da legislação ou para precaução do órgãogestor em caso de implicações legais – por exemplo,quando da ocorrência de acidentes fatais. Desta forma,não há sequer como discutir a eficácia do PME, já queexemplos concretos de seu funcionamento ainda sãoraros no Brasil.

Outro aspecto a ser considerado no âmbito daconservação do carste e das cavernas do Brasil é a suarelação com o desenvolvimento agrícola. Instrumentoscomo os providos por meio do Decreto 6.640 sãonormalmente aplicados nos casos de atividades demineração e de hidrelétricas, onde existe a evidentepossibilidade de supressão ou destruição total de umaárea, carecendo de estudos que autorizem estesprocedimentos. Para as atividades de turismo, prevê-se aelaboração de Planos de Manejo Espeleológico, através

do qual tem-se por objetivo promover a visitaçãoturística com o mínimo de impacto ambiental. Noentanto, observa-se que as atividades agrícolas não têmsido objeto de análise por nenhum diploma legal querelacione as suas práticas à conservação do carste e dascavernas. Trata-se de um caso delicado e de necessidadede resolução urgente, já que tais atividades, muitasvezes, não promovem a supressão direta do recursoambiental, mas podem causar danos irreversíveisprincipalmente na rede hidrológica superficial esubterrânea, além da aceleração dos processos erosivose também pelo uso de defensivos agrícolas. Comoexemplo, é comum a ocorrência de cavernas assoreadasquase que por completo, quando da existência depropriedades agrícolas à montante dos cursos d'águaque as alimentam.

Sendo possível enquadrar cavernas nas diversasformas de patrimônio, na sua maioria pelo valorpaisagístico, raras são as que podem vir a serenquadradas exclusivamente como patrimôniogeológico. Para tal, deve-se considerar apenas aquelasque apresentam fenômeno geológico raro, ou entãoregistro paleoambiental ou climático. De uma certaforma, as dimensões excepcionias de galerias, portais edesenvolvimento total, poderiam justificar a inclusão nacategoria de patrimônio geológico, e não apenaspaisagístico, uma vez que encontram-se relacionadas aprocessos geológicos também excepcionais.

Com a expansão da atividade minerária,discussões vêm sendo realizadas sobre a relevância deuma caverna. Diante desta situação, a definição de quaisse enquadram como patrimônio geológico é necessária.Definidas as cavernas que representam patrimôniogeológico, formas para sua conservação devem serimplantadas. Para tanto, o recurso de tombamento, ou oenquadramento na modalidade de Unidade deConservação de categoria Monumento Natural, têm semostrado satisfatórios.

Outra medida a ser tomada é o amplo acesso dasociedade a esse patrimônio, através do Geoturismo e doEspeleoturismo, com ênfase nos projetos educacionais ede divulgação científica. Tendo em mente que essasformas de turismo, como modalidades derivadas doecoturismo, implicam no benefício das comunidadelocais. Desta forma, as cavernas cumpririam sua funçãosocial, vindo a ser não mais um problema para aexpansão econômica, e sim uma possível soluçãosustentável para regiões sem opções de emprego erenda.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Manuscrito ID 31698

Submetido em abril de 2013

Aceito em agosto de 2013

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Knickpoint Finder: ferramenta para a busca de geossítios

de relevante interesse para o geoturismo

Knickpoint Finder: tool for searching geosites of relevant interest for geotourism

EDUARDO SALAMUNI, EDENILSON ROBERTO DO NASCIMENTO, PEDRO AUGUSTO HAUCK DA SILVA,GUSTAVO LOPES QUEIROZ, GRACIANY DA SILVA

Universidade Federal do Paraná - [email protected]

Resumo

O trabalho objetiva mostrar a aplicação no geoturismo de uma nova ferramenta computacional de análise morfométrica da rede dedrenagem baseada nos métodos de Hack (1957, 1973) e Etchebehere (2004), para aplicação em estudos de enfoque neotectônico. Arotina criada trabalha a partir de um modelo digital de elevação (MDE) de modo a gerar um mapa de pontos de ruptura de declive dedrenagem e/ou quebra de relevo (knickpoints) e foi programada em Python para uso acoplado ao software de sistemas de informaçãogeográfica ArcGIS®, denominada de Knickpoint Finder.Uma área de estudo foi selecionada de maneira a testar e avaliar a capacidade dosoftware na análise e identificação de knickpoints a partir do estudo da morfologia de um recorte geográfico na Serra do Mar no estado doParaná, com o objetivo de determinar possíveis geossítios com interesse geoturístico. Após a aplicação da ferramenta na área de estudoconstatou-se que os dados de knickpoints obtidos podem caracterizar com rapidez e eficácia pontos de interesse relevante à pesquisageoturística inicial, principalmente no que tange ao inventário de pontos de beleza cênica relevante em se tratando de corredeiras,cachoeiras ou cascatas. Para que a análise regional possa ser realizada a contento é necessário o emprego de técnicas de representaçãoespacial de dados que podem ser realizadas pelo próprio ArcGIS®, imediatamente após o processamento do Knickpoint Finder. Osresultados da técnica mostraram-se satisfatórios na correlação da maior ocorrência de knickpoints com a probabilidade do encontro degeossítios em áreas de grande amplitude, constatando-se ganho de velocidade de delimitação dos mesmos. Desta forma pode-seconsiderar a ferramenta virtual obtida como satisfatório recurso de auxílio na análise morfométrica voltada ao geoturismo, podendo seraplicada em qualquer área onde haja cobertura de modelos digitais de elevação.

Palavras-chave: Geoturismo; geossítios; MDE; knickpoint; software.

Abstract

The study aims to illustrate the geotourism application of a new computational tool for morphometric analysis of the drainage networkthat is based on Hack (1957, 1973) and Etchebehere (2004), for application in studies of neotectonic approach. The computational routineworks starting from a digital elevation model (DEM) to generate a map of drainage-slope breaking points and/or relief break (knickpoints)and was programmed in Python for use coupled to the geographical information systems software ArcGIS®, and has been namedKnickpoint Finder. An area of study was selected in order to test and evaluate the software's ability to analyze and identify knickpointsfrom the study of the morphology of a geographical cutout in the Serra do Mar in the state of Paraná, in order to determine possiblegeosites with geotouristic interest. After application of the tool in the area of study, it was verified that the knickpoint data obtained cancharacterize quickly and effectively points of interest relevant to the initial geotouristic research, especially in regard to the inventory ofrelevant points of scenic beauty when it comes to rapids, waterfalls or cascades. To ensure that the regional analysis can be donesuccessfully it is necessary to employ spatial data representation techniques which can be performed directly in ArcGIS, immediately afterthe processing of Knickpoint Finder. The results of the technique where satisfactory in the correlation of the highest occurrence ofknickpoints with the probability of finding geosites in extensive areas, which demonstrated the speed gain in delimiting these sites. Thus,the obtained virtual tool is considered a satisfactory feature in assisting morphometric analysis focused on geotourism, which can beapplied in any area where there is coverage of digital elevation models.

Key words: Geotourism; geosites; DEM; knickpoint; software.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com Hose (1995), o turista que visitaum patrimônio natural, ao adquirir conhecimento arespeito da geologia e/ou geomorfologia de um sítio,deixa de ser apenas um espectador da estética dapaisagem. Assim, o geoturismo passa a ter também pormissão agregar conhecimento técnico e/ou científico ao

valor estético, que sendo subjetivo, pode valorizar aindamais a paisagem, inclusive para que estas sejampreservadas como patrimônios naturais ou culturais.

Segundo Moreira (2011) o geoturismo é umatendência mundial que vem propiciando uma atividadeeducativa, além de acrescentar "uma nova dimensão ediversidade ao produto turístico oferecido". Liccardo

(2008) ressaltam que o geoturismo fundamenta-senos conceitos de geodiversidade, patrimônio geológico e

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geoconservação. Assim sendo, sítios geológicos (ougeossítios) são locais de relevante interesse para oestudo geológico ou geomorfológico, importante sob oponto de vista geocientífico, que necessitam possuirapelo didático e/ou turístico, fundamentalmente devidoà singularidade das formações geológicas tais comoafloramentos especiais, artefatos naturais, por exemplo,uma cratera de impacto de meteorito ou o própriometeorito, grandes bombas vulcânicas - camadas ouformações fossilíferas, ou sítios geomorfológicosmarcantes pela sua beleza estética natural e/ou pela suahistória evolutiva, fazem parte do universo dageodiversidade que pode servir aos propósitos dogeoturismo. Grandes exposições artificiais tais comopedreiras, apesar de sua ausência de apelo cêniconatural, podem ser úteis aos estudos da geodiversidadelocal.

A determinação de elementos geomorfológicosou morfoestruturais notáveis, que constituem um dostipos de geossítios, a partir de imagens de abrangênciaregional, traz uma complexidade inerente devido àdificuldade de se realizar a análise visual ponto a ponto.Em razão dessas limitações, foi confeccionada uma rotinaautomática, ou seja, um que funciona demaneira acoplada ao ArcGIS®, denominado deKnickpoint Finder, cuja finalidade é a de buscar locaisonde há quebras de relevo em segmentos de drenagens,perenes ou intermitentes, denominados de .

Segundo Crosby & Whipple (2006)são quebras ou rupturas de declive, que criam anomaliasde relevo no perfil longitudinal do canal de um rio. Deacordo com esses autores e outros pesquisadores, taiscomo Gardner (1983), Whipple (2004), Bishop .(2005) e Harbor . (2005), são várias as causas dessedesequilíbrio mas as principais estão ligadas à naturezados litotipos envolvidos, sua erosão diferencial e a bruscamudança de nível de base, inclusive pelas estruturastectônicas herdadas de ciclos anteriores ou ainda pelaneotectônica local.

Geralmente, os são anomalias,geradas a partir da ampliação do gradiente topográfico,que formam corredeiras e cachoeiras. Portanto, adeterminação de é um dos caminhos para seidentificar cachoeiras que podem ser consideradas comobons geossítios, posto que, quase sempre, estãoassociados à formação e modificação da paisagem a serconsiderada como atrativa ao geoturismo.

O objetivo do presente trabalho é explanargenericamente o funcionamento do

, bem como abordar sua aplicabilidade nogeoturismo por meio da apresentação de um estudo decaso, ou seja, o Salto Morato localizado na Serra do Marparanaense e classificado como geossítio relevante,ligado a uma quebra de relevo, que por sua vez configurauma anomalia de drenagem.

software

knickpoints

knickpoints

et al

et al

knickpoints

knickpoints

software Knickpoint

Finder

2. MÉTODO

3. DESENVOLVIMENTO

O trabalho basicamente foi desenvolvido apart ir de testes laboratoriais por meio degeoprocessamento e observação de resultados emimagens orbitais, as quais foram comparadas comfotografias reais de geoformas notáveis.

Como necessárias para o desenvolvimento dotrabalho foram utilizadas as seguintes ferramentas: o

para a busca de anomalias derelevo em drenagem; o algoritmo denominado de

desenvolvido para unificar segmentos dedrenagem; o de geoprocessamento ArcGISv.10.1® para o sistema básico de integração deinformação e plataforma de funcionamento do

; as imagens do(SRTM® - NASA), processadas - via

interpolação pelo método de convolução cúbica - peloProjeto Topodata e com resolução espacial de 30m. Paraa busca dos identificados foram visualizadasas imagens do Google Earth®, onde foram localizadas asreferências espaciais dos pontos de interesse turístico.

Os equipamentos de informática utilizados sãocomputadores simples de mesa, com capacidade deprocessamento mediana a boa, e funcionamento de doismonitores simultâneos. A plataforma na qual foidesenvolvido o é o Windows®, todavia oalgoritmo pode ser adaptado para programas de GISdesenvolvidos para o Linux, porém isso depende dotrabalho de adaptação de um usuário mais especializado.

3.1 RELAÇÕES GEOMÓRFICAS E GEOTURÍSTICAS

Em qualquer região é possível encontrar locaiscom características do meio físico que, pela sua natureza,possam ser consideradas como patrimônio geológico.Em geral são paisagens que apresentam uma ricageodiversidade, seja pela sua formação original seja pelatransformação da mesma, via intemperização, nessecaso o conjunto Pão de Açúcar e Corcovado; oudeformação estrutural, nesse caso a impressionanteZona de Falha Além Paraíba. Ambos os casos, localizadosno estado do Rio de Janeiro, podem ser denominados degeossítio sem qualquer restrição.

Tais geossítios são passíveis de receber a visitade turistas, leigos ou profissionais das geociências, cujoolhar diferenciado, proporcionado pelo conhecimentogeológico e morfoestrutural já levantado, pode impactarpositivamente a atividade geoturística. Tal disseminaçãodo conhecimento comprovadamente valoriza oambiente do entorno como um todo, já que inibe suadegradação por meio de impactos antrópicos negativose, consequentemente, tem o viés de contribuir para odesenvolvimento econômico local, por meio da atividade

software Knickpoint Finder

River

Merge

software

Knickpoint Finder raster Shuttle Radar

Topography Mission

knickpoints

software

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turística sustentável.De acordo com Rodrigues (2009), o Patrimônio

Geológico não pode ser visto exclusivamente do pontode vista do conhecimento científico mas além disso, deveter condições de ser transmitido ao público por meio deações de divulgação de Geologia que se encaixam naprópria perspectiva geoturística, que se desenvolve emtorno de um geossítio ou geotopo. Os geossítios podemser pontos ou áreas naturais de notável beleza cênica eque possuem formações de interesse geocientífico, tantono que concerne à sua formação ou à sua esculturação.Em geral ali se confunde a natureza geológica dosubstrato ou do elemento cênico com sua evoluçãogeológico intrínsecas da região em foco, bem como suaevolução geomorfológica, essencialmente ligada aprocessos morfotectônicas, (Nascimento et al. 2008,Silva 2008).

Nesse contexto, a quebra de relevo, comoelemento geomórfico, é um tipo de modificação napaisagem, indicativas de relevantes estruturas(morfoestruturas) que possibilitam a predição ou adefinição de eventuais geossítios, passíveis depreservação e/ou uso para o geoturismo (Piekarz 2011),ou seja, são intrinsicamente relevantes como PatrimônioGeológico.

A determinação de uma área ou local(geoforma) como geossítio ou geotopo, de maneirageral, independe da sua escala de abrangência, postoque a grandeza escalar não determina, a princípio, suaimportância geocientífica. Igualmente, um geossítioindepende de sua importância do ponto de vistaeconômico.Tanto no primeiro quanto no segundo casodeve-se considerar que tanto as Cataratas do Iguaçuquanto o Salto Santa Rosa na região central dos CamposGerais (Tibagi-PR) devem ser reconhecidos comoimportantes sítios geológicos/geomorfológicos. Noentanto, é necessário considerar que o geoturismo comoatividade, depende, em parte, de uma vertenteeconômica.

O conhecimento atual das geoformas quepodem ser caracterizadas como importantes geossítiosainda é baixo no Paraná (Lima et al. 2010), posto que apreocupação em catalogar tais elementos naturais ébastante recente, como mostram documentos técnicosinternos da Minerais do Paraná S.A. (MINEROPAR). Adificuldade está centrada na complexidade dalocalização e da avaliação in situ de um dado elementogeomórfico, necessária à sua consideração comogeossítio relevante, tanto do ponto de vista de sua belezacênica quanto do interesse geológico-científico quedesperta em estudiosos e/ou visitantes.

Em função disso é interessante considerar que autilização de ferramentas automáticas e/ou digitais devisualização em forma de imagens de satélite, modelosdigitais de elevação, mapas hipsométricos, fotografiasaéreas, entre outros pode ampliar, em muito, oinventário de geossítios. Os de visualizaçãosoftwares

automáticos estão disponíveis em vários ambientes,desde os mais sofisticados de GIS até os popularesGoogle Earth®e BingMaps®. Todavia, esquadrinhar umaimagem em busca de um desconhecido elementogeomórfico de real interesse ao geoturismo é umtrabalho manual bastante cansativo e, na maior parte dasvezes, pouco eficaz.

O , acoplado aoArcGIS, busca pontos que caracterizariam rupturas noterreno, que recebem o nome técnico de , eque em síntese, estando localizados em um rio podemrevelar a existência de uma cascata ou cachoeira eeventualmente poderiam ser considerados geossítios ougeotopos. A busca se realiza de forma automática, apartir de imagens que possuam dados altimétricos,independente da escala de levantamento e abrangênciaregional e diminui em muito e até anula a complexidadeinerente à identificação manual de locais onde há taisrupturas de relevo. Em geral, tais anomalias não sãofacilmente identificáveis em imagens de satélite oufotografias aéreas, pois o caráter bidimensional comum àmaioria das imagens impede a identificação emensuração dos . Sendo assim, é necessária autilização de imagens com dados topográficos paracaracterizar cachoeiras, cascatas, corredeiras, enfimlocais com mudanças abruptas de relevo, a partir de umperfil longitudinal, ou um trecho do perfil de um rio ou docurso de uma drenagem intermitente.

É importante ressaltar que os estudos dedeformação de superfície ou de paisagens mostram querios ou canais de drenagem naturais são bastantesensíveis às modificações da cota do terreno, ou níveisgeodésicos de referência, ainda mais quando ocorremcom rapidez em resposta a sistemas tectônicos ativos(Keller& Pinter 1996). Tal consideração tem sidoabordada por diversos autores que estudam processosde mudanças morfológicas do terreno em áreas sujeitas asismos a partir de processos tectônicos ativos (Volkov

1967, Burnett & Schumm 1983, Rodriguez & Suguio1992, Merrits & Hesterberg 1994).

Ou seja, rios são excelentes elementosgeomórficos com possibilidade de mostrar estruturas, aonível de superfície do terreno, criadas a partir deprocessos tectônicos (morfotectônica). A quebra derelevo é uma das características mais notáveis nasuperfície e pode ser caracterizada por importantesanomalias de drenagem (nesse caso traduzidas porcachoeiras ou cascatas) e, em geral, são representadospelos , os quais, dependendo da diferença dacota da quebra de relevo, bem como do volume de água eacréscimo de energia propiciam efeitos paisagísticosnotáveis. Nesse caso poderiam ser considerados comoalvo inicial para considerá-los como geossítios.

O software Knickpoint Finder tem por focoacelerar o processo da análise geomórfica emorfométr ica no contexto geomorfo lóg ico,possibilitando um bom grau de precisão e detalhe na

software Knickpoint Finder

knickpoints

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et

al.

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busca desses pontos paisagísticos, que a depender deoutros fatores, como por exemplo sua importânciageocientífica e sua facilidade de acesso, podem seconstituir excelentes pontos geoturísticos.

3.2 MÉTODOS

O software se baseia noparâmetro morfométrico proposto por Hack (1973),denominado de índice StreamLenght-Gradient (SL) - ouÍndice de Hack - e refere-se a perfis longitudinais de riosou de segmentos de drenagem, que indicam anomaliaslocais (Martinez 2011). Esse parâmetroé obtidopelo cálculo da declividade do segmento da drenagemmultiplicada pela distância entre o segmentoconsiderado e a nascente do rio. Etchebehere(2004) propuseram uma derivação do Índice de Hack,denominando-o de RDE (Relação Declividade-Extensão),que leva em consideração o aumento da energia dacorrente em determinado segmento da drenagem,utilizando como variável a declividade da superfície docanal. O índice RDE para um segmento (RDEs) pode sercalculado da seguinte maneira (figura 1):

RDEs (Eq. 1)

ça altimétrica entre as duasextremidades de um segmento ao longo de umrio;

ão do trecho em planta;

L = distância entre a extremidade inferior dessetrecho e a nascente do rio.

Knickpoint Finder

et al.

et al.

= (ΔH / ΔL) . L

ΔH = diferen

ΔL = extens

O objetivo final, após medir os índices RDEs dediversos segmentos e os índices RDEt de suas respectivasdrenagens, é compará-los para determinar quaissegmentos possuem declividade anômala.

As anomalias mais significativas determinam osde interesse de estudos morfotectônicos ou

morfoestruturais. Keller & Pinter (1996) estudaram oíndice SL da San Gabriel Mountains, Sul da Califórnia, eperceberam que al i os valores mostram-seanormalmente altos, o que possibilitou a geração de

ligados a altas taxas ascensionais de terreno.O índice RDE, proposto por Etchebehere

(2004), foi utilizado para criar o algoritmo que identificaque, por sua vez, embasou a confecção do

para operar em conjunto com oArcGIS®, como uma . O algoritmo desta

ferramenta utiliza imagens com dadosaltimétricos, de onde a drenagem tridimensional éobtida para a análise de RDEs e RDEt, cujos cálculosnecessitam da confecção dos perfis longitudinaiscompletos de todos os rios que estão sendo estudados.Desta forma, é necessário unificar todos os segmentosem cada uma das linhas de drenagem para que sejareconhecida como uma feição única, da cabeceira à foz.Para este processo como não existe ferramentaespecífica no ArcGIS®, foi criado um algoritmo exclusivodenominado de .

Após a unificação dos segmentos de drenagem,a ferramenta transforma as linhas 2D da rede dedrenagens em linhas 3D, adicionando o valor de altitude(Z), obtido da imagem que contém os dados altimétricos,utilizando-se, no caso do ArcGIS®, da ferramenta

. Após esta etapa cada nó (vértice) decada linha possuirá os valores de altitude (Z), além decoordenadas X e Y. Ao final do processo é feita a mediçãodos índices RDE e marcado automaticamente um pontono mapa ( ).

O banco de dados dos pontos gerados guardam,além das coordenadas X e Y e do grau de anomalia, osvalores de RDEs, RDEt e RDEs/RDEt do segmento. Há umarelação de escala de trabalho, que é uma variávelfornecida pelo usuário, ou seja, quanto menor o valor daequidistância altimétrica fornecida pelo usuário, maiorserá o número de dados (pontos) no resultado final.Assim, o resultado final da ferramenta Knickpoint Finderé uma malha de pontos, cuja densidade dependedaescala de trabalho e do valor escolhido para as curvas denível virtuais (equidistância altimétrica fornecida pelousuário).

Para testar a ferramenta desenvolvida, oKnickpointFinder foi aplicado ao recorte geográfico daSerra do Mar paranaense, com o intuito de obter os

(figuras 3 e 4), os quais foram analisados à luzdos dados geológicos (figura 2).

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et al.

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Knickpoint Finder

software toolbox

raster

River Merge

InterpolateShape

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4. DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO

Figura 1 – Perfil longitudinal de um canal, mostrando como oíndice RDEs é medido para um segmento de comprimento l,diferença altimétrica de h, e distância da nascente do rio de L.

ΔΔ

A variante RDE total (RDEt), que se refere àextensão total de um rio, leva em consideração adeclividade total entre a nascente e a foz, e o logaritmonatural de toda a sua extensão (Seeber & Gornitz 1983,Etchebehere 2006). O cálculo é feito da seguinte forma:

RDEt = ( H / L) .ln(L) (Eq. 2)Δ Δ

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Por meio das figuras 3 e 4, é possível observarque há uma grande quantidade de no fronteda escarpa da serra, nos segmentos de rios que formam abacia hidrográfica litorânea. Isso faz sentido exatamentepelo fato de ali haver importante sequência de quebrasde relevo, geradas fundamentalmente por rupturas dosterrenos, nesse caso pela ocorrência de falhas geológicascom direção NE-SW, bem como por alinhamentosestruturais como diques de diabásio com direção NW-SE.

Assim, é possível que as rupturas de terreno,geradas pelas reativações de planos de falhas de direçãoNSW e também estruturas menores de direção NW, nasquais se acomodam trechos de rios, apresentem

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boadensidade de Todavia, não se podedescartar que há gerados por processoserosivos e/ou intempéricos que agem de forma diversaem litotipos variados, devido às diferenças de resistênciaentre rochas de natureza diversificadas.

A seleção de áreas com prováveis locais queapresentam pontos geomórficos de beleza cênicarelevante, representam os alvos preferenciais para apesquisa facilitando a busca por pontos de real interesse.É possível traçar um paralelo, dessa forma, com osmétodos de exploração mineral e a busca por alvos deinteresse econômico.

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Figura 2 – Mapa geológico simplificado da região da Serra do Mar paranaense (Fonte: Nascimento 2013)

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Partindo-se desse princípio, o método permiteque o aumento da escala da imagem aproxime, por suavez, o objeto de análise e a busca visual restrita a áreasonde o adensamento de é maior, permitindoque se possibilite ampliar a identificação dos pontos deinteresse. Na figura 4, por exemplo, há três áreas deinteresse, a sul, no centro da área e a norte. São nessasáreas que a busca de deve se concentrar paraque se aumente a chance de encontrar geossítios com

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potencial vocação geoturística ou até mesmo voltada aoturismo de aventura.

Optando-se por uma dessas concentrações,verifica-se em imagens de satélite do Google Earth oponto exato onde o representado por umacascata/cachoeira, está posicionado. A partir desseponto é possível determinar se o local encontrado é, defato, compatível com os critérios intrínsecos a umgeossítio.

Knickpoint,

Figura 3 – Modelo digital de elevação mostrando os principais identificados na área de estudo, a partir dos valores de RDEs.knickpoints

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Figura 4 – Mapa de estimativa de densidade de identificados na área de estudo.knickpoints

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A figura 5 mostra a sequência utilizada para abusca de um sítio relevante para o desenvolvimentogeoturísitico local. Nesse caso o geossítio é representadopela cachoeira de Salto Morato de cerca de 160 m dequeda de água, já conhecida, cujas coordenadasgeográficas de latitude é 25°09'50”S e de longitude é48°17'54”O.

A figura 6 mostra que foi possível encontrar oSalto Morato e muitos outros pontos de grande belezanatural utilizando-se da técnica de busca simples a partirde imagens de satélite e dos pontos de maismarcantes encontrados pelo

knickpoints

software.

Para a definição de que esse ponto, de fato,constituiria um geossítio seria necessário olevantamento de sua relevância geocientífica, porexemplo ressaltando que nesse caso, caracterizaria aevolução morfotecônica de sua região de abrangência.No caso em tela, o ponto encontrado constitui umexcelente referencial para o entendimento da evoluçãogeomorfológica e geológica-estrutural do fronte daescarpa da Serra do Mar. Como já se conhece, deantemão, sua vocação turística, principalmente oturismo de aventura, é possível classificá-lo como umgeossítio.

O Knickpoint Finder funciona acopladoao ArcGIS®. Um dos ganhos fundamentais no processoautomático de identificação de é a rapidez dabusca desse tipo de anomalia, ou elementomorfométrico, em imagens que deve necessariamenteestar em formato e possuir dados altimétricos.

O aumento na velocidade e na facilidade debusca de dados morfométricos, no caso ostorna a ferramenta eficaz e eficiente na identificação deprováveis geossítios de interesse geoturístico, em setratando de rupturas de relevo em perfis longitudinais derios ou segmentos de drenagem.

Os necessariamente precisampassar por uma avaliação visual em ferramentas virtuaisdo tipo Google Earth® e Bing® e para que possam serconsiderados geossítios de interesse geoturísticoprec isam, poster iormente, passar por umacaracterização e avaliação focadas nessa meta. Talavaliação deve incluir os critérios que têm sido propostose apresentados em vários trabalhos de pesquisa sobregeoturismo como, por exemplo, a síntese mostrada porNascimento (2008).

O Knickpoint Finder é um de códigoaberto à comunidade e está disponível na forma dearquivo digital no sítio eletrônico do Grupo de Pesquisaem Neotectônica da Universidade Federal do Paraná(http://www.neotectonica.ufpr.br). A partir do códigoaberto, eventuais interessados podem adaptá-lo emoutros programas ou pacote voltados a GIS, necessitandopara isso que o algoritmo seja modificado de acordo comas especificações do programa de geoprocessamento.

6. CONCLUSÃO

software

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raster

knickpoints,

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et al.

software

Figura 5 – Sequência de etapas necessárias para se identificarum geossítio a partir de um modelo digital de elevaçãoutilizando-se o Knickpoint Finder.software

Figura 6 – Esquema de identificação de um ponto geoturístico,neste caso o Salto Morato, a partir de análise multi-escala deimagens de satélite do Google Earth®. O relevo apresentaexagero vertical de 3 vezes (escalas indefinidas)

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Manuscrito ID 32797

Submetido em julho de 2013

Aceito em setembro de 2013

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paranaense

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Iniciativas institucionais de valorização do patrimônio

geológico do Brasil

Institutional programs for the valuation of geological heritage of Brazil

KÁTIA LEITE MANSUR , ANTONIO JOSÉ DOURADO ROCHA , AUGUSTO PEDREIRA (in memoriam) ,CARLOS SCHOBBENHAUS , EDUARDO SALAMUNI , FLÁVIO DA COSTA ERTHAL , GIL PIEKARZ ,

MANFREDO WINGE , MARCOS ANTÔNIO LEITE NASCIMENTO , ROGÉRIO RODRIGUES RIBEIRO

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Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected]

Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected] - [email protected]

Universidade Federal do Paraná - [email protected]

Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) - [email protected]

Serviço Geológico do Paraná (MINEROPAR) - [email protected]

Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) - [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - [email protected]

Instituto Geológico de São Paulo (IG) - [email protected]

Resumo

O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir as iniciativas para divulgação e popularização do patrimônio geológico doBrasil. São apresentados casos de âmbito nacional, na forma das ações de inventário promovido pela SIGEP e dos projetos Geoparques eBanco de Dados de Geossítios do Brasil da CPRM. No âmbito estadual são apresentadas as experiências dos projetos Caminhos Geológicosdo Estado do Rio de Janeiro desenvolvido DRM-RJ, Sítios Geológicos e Paleontológicos do Paraná da MINEROPAR, Caminhos Geológicos daBahia da CPRM e Petrobras, dos Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte do IDEMA e dos Monumentos Geológicos de São Paulodo IG-SP. Os casos demonstram que existe um amplo espaço para desenvolvimento dos projetos de geoturismo e divulgação dopatrimônio geológico para a sociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelos serviços geológicos e entidades afins de âmbitoestadual, onde a implantação de painéis interpretativos tem sido um dos principais instrumentos utilizados. Fica clara, ainda, anecessidade de que haja uma organização responsável pela implantação e manutenção dos painéis. Considera-se que estes tipos deprojetos propiciam a participação comunitária e o desenvolvimento de projetos educacionais. Vislumbra-se que as unidades deconservação são lugares especiais para a implantação deste tipo de sinalização, propiciando a divulgação da geodiversidade em conjuntocom a biodiversidade. Por fim, considera-se, ainda, que o maior obstáculo a ser superado é a comunicação com a sociedade. Para tanto,precisa-se avançar no conhecimento sobre o usuário dos painéis interpretativos. É necessária, portanto, a realização de pesquisas sobre opúblico-alvo e planejamento prévio da interpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais a comunicação para despertar o interessedo usuário / visitante.

Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Geoconservação; Geoturismo; Divulgação das Geociências.

Abstract

This paper aims to present and discuss the initiatives for interpretation and popularization of geological heritage of Brazil. Nationalexamples are presented in the form of inventory actions promoted by SIGEP and by CPRM projects: Geoparks and Database of Geosites ofBrazil. At the State level are presented the experiences of the Geological Paths Project of the State of Rio de Janeiro developed by DRM-RJ;Geological and Paleontological Sites of Paraná by MINEROPAR; Geological Paths of Bahia by CPRM and Petrobras; Geological Monumentsof Rio Grande do Norte by IDEMA; and the Geological Monuments of São Paulo by IG-SP. These cases demonstrate that there is a broadspace for development of geotourism projects and popularization of geological heritage for society. This space has been occupied by thegeological survey and related entities at the State level. The implementation of interpretative panels has been one of the maininstruments used. It is clear, though, that is indispensable an organization be responsible for the implementation and maintenance of thepanels. It is considered that these types of projects encourage community participation and the development of educational projects.Protected areas are special places for the implementation of this type of signage, enabling the dissemination of geodiversity inconjunction with biodiversity. Finally, it is considered that the biggest hurdle to be overcome is communication with the society. To do so,will need to advance in the knowledge of the user of the interpretative panels. It is necessary, therefore, to carry out research on the targetaudience and prior planning of interpretation, in other words, it should be increasingly improving communication to user interest.

Keywords: Geological Heritage; Geoconservation; Geotourism; Disclosure of Geosciences.

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1. INTRODUÇÃO

1.2. Popularização da Geologia e Valorização do

Patrimônio Geológico: Compromissos e Desafios

1.1. Histórico

Iniciativas de divulgação da geologia para asociedade no Brasil existem há décadas. Confirma estaafirmação a implantação, em 1988, de 17 marcos deconcreto com descrição geológica de afloramentos aolongo da Rodovia SC-438, na Serra do Rio do Rastro, emSanta Catarina. Esta sinalização deu visibilidade pública àdenominada Coluna White, ou seja, a colunaestratigráfica definida em 1908 no relatório do geólogoIsrael White, sobre a borda sudeste da Bacia do Paraná,um representante clássico da história evolutiva doGondwana (Orlandi Filho et al. 2002).Outros exemplos, como o Parque do Varvito, em Itu, e oParque da Rocha Moutonnée, em Salto, ambos no Estadode São Paulo, fundados na década de 1990, promovem ainformação geológica, por meio da ampla visitação querecebem (Rocha-Campos, 2002a; 2002b).A SIGEP - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos ePaleobiológicos, criada em 1997 com a missão deorganizar o banco de dados nacional, tornou disponívelna internet as descrições de geossítios apresentadaspelos pesquisadores e avaliadas no mérito porrepresentantes de instituições brasileiras relacionadas àGeologia. A SIGEP também vem fomentando descriçõesdos sítios em linguagem popular “com vistas à ampladivulgação das geociências e da mentalidadepreservacionista com relação aos nossos monumentosgeológicos, promovendo assim, simultaneamente, apopularização das geociências” conforme consta daapresentação da comissão no seu endereço eletrônico(http://sigep.cprm.gov.br/).Todavia, somente no início do século 21, projetos dedivulgação geológica sistemática começaram a sere st r u t u ra d o s n o p a í s . E ste s p ro j eto s vê mproporcionando uma abertura para a inserção dageologia nas comunidades, na sinalização de unidades deconservação e no desenvolvimento de programaseducacionais locais. Quase todos baseiam suas iniciativasna confecção de painéis e folhetos interpretativos sobre aevolução geológica de monumentos de importânciapaisagística, científica e/ou turística e se estruturaramcomo projetos de âmbito estadual.

No Brasil, projetos de divulgação científica têmsido cada vez mais comuns, como pode ser avaliado nasedições da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia,onde, a cada nova edição, ampliam-se as atividades e aparticipação popular. Ações relacionadas às áreas depopularização da Física, Medicina, Matemática,

Astronomia, entre outras, vêm despertando grandeatenção nos meios escolares o que certamente permitirá,em pouco tempo, seu fácil reconhecimento eentendimento. Um exemplo desta possibilidade deinserção pode ser tomado da Biologia, onde alguns dosseus termos técnicos já compõem o vocabulário docidadão comum, dado o entendimento da importânciado mundo biótico e da necessidade de se manter oplaneta sadio. Da mesma forma, espera-se incluir orespeito e atenção ao planeta como um todo, paragarantir o espaço de divulgação das Ciências da Terra noconjunto da população.Os grandes agentes de financiamento de pesquisa emC&T já possuem linhas para atendimento das demandasna área de popularização da ciência, desde o CNPq –Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico até as FAPs – Fundações de Amparo aPesquisa de âmbito estadual. Neste contexto, apopularização da geologia pode se desenvolveramplamente.A despeito da repercussão positiva dos projetos dedisseminação do conhecimento geológico no Brasil,tanto no meio geológico quanto na sociedade em geral,um desafio tem sido colocado incessantemente paraaqueles que trabalham com o tema: adequar a linguagemhermética praticada pelos geólogos para entendimentopelo cidadão comum.Os modelos de comunicação pública em ciências aindapromovem polêmicas entre os autores que, cada vezmais, buscam uma forma democrática e inclusiva parapromover os temas de CTS (Ciência, Tecnologia eSociedade) para a população (Durant 1999; Moreira eMassarani 2002; Lewenstein & Brossard 2005; Moreira2006; Navas et al. 2007; Navas 2008). O modelo maistradicional, denominado Modelo de Déficit, parte dopressuposto que o cientista precisa aportar seuconhecimento para aqueles grupos que não o possuem,suprindo um déficit de conhecimento. Esta forma decomunicação vem sendo combatida por não levar emconta os saberes tradicionais. Posteriormente, surgiu oModelo da Participação Pública que estimula aparticipação e manifestação do conhecimento popularpela participação em fóruns, debates e reuniões, ondepúblico e cientistas têm papéis equivalentes.A principal forma de comunicação dos projetos dedivulgação geológica sistemática no Brasil se dá por meioda implantação de painéis interpretativos (Nascimento etal. 2009). Esta técnica é utilizada em muitos países (Hose1997, 2000, 2008; Dias et al. 2003; Carter 2001). Acomunicação também pode ser feita utilizando-se defolhetos, cartazes, jogos, CDs / DVDs, páginas na internet,livros, instalações interativas, entre outros. Pode serrealizada ao ar livre, em museus, em escolas ou, mesmo,na própria residência do usuário, se utilizadasferramentas que permitam a inclusão digital.

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2. PROJETOS EM EXECUÇÃO NO BRASIL

2.1. Visão geral

Um dos compromissos que necessita serassumido pela comunidade geológica brasileira é o daunião perante as ameaças sofridas pelo patrimôniogeológico. Não são poucos os casos de denúncias e,mesmo, destruição de ambientes geológicos especiaiscomo sítios paleontológicos e espeleológicos, dunas eoutros ambientes costeiros, afloramentos únicos para aciência e ensino.

Segundo Cendrero Uceda (1996) e Brilha (2005)a divulgação é uma importante ferramenta a ser utilizadaem programas de geoconservação, cuja essência é agestão científica para a conservação do patrimônio. Agestão, por sua vez, pressupõe a formalização de umgestor e de um programa baseado no conhecimentogeológico e planejamento de ações de controle,divulgação e monitoramento. Este é um ponto críticopara a geoconservação no Brasil: as organizações degestão ambiental, em geral, ainda não incorporam aproteção da geodiversidade na sua missão.

Por outro lado, a maioria das instituiçõesestaduais de cunho geológico foi extinta entre os anos1980 e 1990. Atualmente, apenas oito dos 26 estados

brasileiros possuem instituições específicas voltadaspara fomento da mineração e/ou conhecimentogeológico. São eles: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Paraíba,Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. Há,portanto, um descompasso entre o aumento doconhecimento geológico, com consequente geração deinformação, e a capacidade de gestão do patrimônioidentificado. Os dois mais antigos e prolíficos projetos dedivulgação geológica do Brasil são gerenciados porserviços geológicos estaduais, DRM-RJ e MINEROPAR e,das oito instituições estaduais existentes, quatro delas, asde Goiás, Mato Grosso, Paraíba e Tocantins, ainda nãoiniciaram projeto de disseminação da geologia para asociedade. Por outro lado, o Projeto CaminhosGeológicos da Bahia foi criado sem a coordenação daCBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral.Em 2006, o Rio Grande do Norte, apesar de não possuiruma organização pública com foco específico na geologiae mineração, por meio do Instituto de DesenvolvimentoSustentável e Meio Ambiente, em convênio com aPETROBRAS, criou o Projeto Monumentos Geológicos doRio Grande do Norte. Ainda, foi inaugurado um paineldurante o Simpósio de Geologia do Sudeste, em 2007,pelo projeto Monumentos Geológicos de Minas Gerais(Figura 1), porém, não se tem notícias sobre perspectivasde sua continuidade.

Figura 1 – Painel inaugurado em 2007 no Centro de Geologia Eschwege, em Diamantina, MG

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Já em São Paulo, a instituição pública estadualde geologia, o Instituto Geológico – IG, está vinculado àSecretaria de Meio Ambiente - SMA e criou o ProjetoMonumentos Geológicos. Esta vinculação tem permitidoa aplicação de instrumentos clássicos da gestãoambiental à proteção do patrimônio geológico, como acriação do Conselho Estadual de MonumentosGeológicos, em 2009, para apoiar o IG na elaboração doinventário e na geoconservação. O conselho é consultivoe seus membros são representantes do poder público(SMA) e convidados com reconhecida atuação nos temasrelacionados direta ou indiretamente com geossítios /monumentos geológicos.

A Comissão Brasileira de Sítios Geológicos ePaleobiológicos (SIGEP), criada em 1997, ocupou-se pelaprimeira vez no Brasil da identificação, avaliação,descrição e publicação de sítios do patrimônio geológicode forma sistêmica e com a participação essencial dacomunidade geocientífica. Com suas atividadessuspensas desde meados de 2012, por razões a seguirexplicitadas, a SIGEP representou a mais importante eabrangente iniciativa no movimento pela conservação dopatrimônio geológico nacional, seguida de algumasiniciativas em nível estadual.

Essa iniciativa descreveu e avaliou sítiosgeológicos e paleontológicos de valor excepcional – oschamados geossítios, feições notáveis identificadas nocontexto da extensa diversidade geológica do país querepresentam a memória geológica nacional - patrimôniogeológico do Brasil. Os geossítios são assim locais-chavespara o entendimento da história da dinâmica da Terra eda história da vida, desde a sua formação, razão pela qualprecisam ser preservados. Muitos deles possuemextraordinária beleza paisagística.

O inventário do patrimônio geológico segue,sobretudo, critérios científicos, mas outros tipos deinteresses são considerados, a exemplo do interesseeducativo que é essencial para a formação de alunos eprofessores de todos os níveis de ensino ao seremcolocados frente a frente com a realidade da geologia,representada no geossítio por rochas, minerais e feiçõesgeológicas, um verdadeiro arquivo da natureza. Por outrolado, o interesse turístico e cultural é importante napromoção da geologia junto ao público leigo e podecontribuir para o desenvolvimento sustentado daspopulações locais.

A Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos ePaleobiológicos - SIGEP, contou com representantes dasseguintes instituições: Academia Brasileira de Ciências -ABC, Associação Brasileira para Estudos do Quaternário -ABEQUA, Departamento Nacional de Produção Mineral -DNPM, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis - IBAMA, Instituto Chico

2.2. Ação da SIGEP

Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -IPHAN, Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRAS, ServiçoGeológico do Brasil - CPRM, Sociedade Brasileira deEspeleologia - SBE, Sociedade Brasileira de Geologia -SBG, Sociedade Brasileira de Paleontologia - SBP e Uniãoda Geomorfologia Brasileira - UGB.

A principal atribuição da SIGEP – de elencar osgeossítios brasileiros – foi implementada com ogerenciamento de um banco de dados nacional ed i s p o n i b i l i z a d o e m s i t e d a i n t e r n e t(http://sigep.cprm.gov.br) na forma de artigos científicosbilíngues – inglês e português - elaborados porespecialistas que trabalharam nas áreas dos geossítiosaprovados.

Desde o início, o processo seletivo dosgeossítios seguiu a orientação da SIGEP de avaliação decada sítio segundo sua tipologia principal (Astroblema;Espeleológico; Estratigráfico; Geomorfológico;Hidrogeológico - só casos especiais; História da Geologia,Mineração, Paleontologia; Ígneo; Marinho-submarino;Metamórfico; Metalogenético; Mineralógico;Paleoambiental; Paleontológico; Sedimentar; Tectono-estrutural; outro) e tendo como critérios: (i) suasingularidade na representação de sua tipologia oucategoria; (ii) importância na caracterização de processosgeológicos-chave regionais ou globais, períodosgeológicos e registros expressivos na história evolutiva daTerra; (iii) expressão cênica; (iv) bom estado deconservação; (v) acesso viável; e (vi) existência demecanismos ou possibilidade de criação de mecanismosque lhe assegure conservação e consequenteaproveitamento.

Mesmo instituída e exercendo de fato as suascompetências, a SIGEP não foi oficializada de direito noâmbito do Poder Público, o que lhe tirava a capacidade deadotar medidas legais para a preservação dos geossítios.Assim, em agosto de 2012, quinze anos depois de suacriação, a SIGEP, suspendeu o recebimento de novaspropostas de geossítios em virtude da publicação dePortaria N0 170, de 20 de junho de 2012, da Secretaria deGeologia, Mineração e Transformação Mineral doMinistério de Minas e Energia que instituiu o Grupo deTrabalho Interministerial de Sítios Geológicos ePaleontológicos (GTI-SIGEP) com a responsabilidade depropor a institucionalização das atividades da SIGEP e arevisão dos procedimentos afetos à seleção de novossítios geológicos e paleontológicos de natureza especial eao gerenciamento e divulgação de tais informações, ouseja, com o objetivo de instituir o marco legal quepermitirá impulsionar, de forma oficial, a identificação, apreservação, divulgação, valorização e uso de sítiosrepresentat ivos do patr imônio geológico epaleontológico brasileiro.

O GTI-SIGEP concluiu suas atividades emnovembro de 2012 ao apresentar minuta de proposta deedição de decreto presidencial, objetivando a criação da

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Comissão do Patrimônio Geológico do Brasil, com asatribuições de identificar e reconhecer os bens queconstituem o Patrimônio Geológico do Brasil e definir eencaminhar propostas de acautelamentos aos órgãoscompetentes.

Sintetizando, pode-se dizer que a SIGEP, umacomissão multi-institucional, coordenou e promoveuentre 1997 e 2012, de mãos dadas com a comunidadegeocientífica, o inventário parcial de sítios geológicos epaleontológicos do Brasil a serem preservados na formade artigos científicos complementados por sugestões demedidas de proteção.

A ampla divulgação na internet e em volumesimpressos (livros) (Figura 2), atingindo não só os órgãospúblicos - municipais, estaduais e federal, mas também osetor privado e a opinião pública em geral, certamente éda maior importância para propiciar a preservação e bomuso do patrimônio natural, através da necessária sinergiaentre os vários órgãos públicos, empresas interessadas e

comunidade, envolv idos na preservação dageodiversidade.

Números referentes à produção da SIGEPregistrados no site ou publicados (Schobbenhaus et al.2002, Winge et al. 2009, Winge et al. no prelo) sãoapresentados a seguir:

116 geossítios publicados em 3 volumes edisponibilizados em PDF na internet (Figura 3);51 geossítios aprovados, mas sem descriçãodisponível (Figura 4);4 geossítios dos publicados em versão para leigospublicados na internet;26 sugestões preliminares de geossítios nãoformalizadas;26 propostas de geossítios canceladas (causas:pouca relevância, superposição com outraspropostas, destruição).

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Figura 2 – Capas dos volumes I e II da SIGEP. Acessíveis em: http://sigep.cprm.gov.br

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Figura 3 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, publicados na forma deartigos científicos e complementados por sugestões de medidas de proteção.

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Figura 4 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, sem número decadastro SIGEP e sem publicação disponível na forma de artigo científico.

2.3. Projetos do Serviço Geológico do Brasil - CPRM

2.3.1. Geoparques

A CPRM tem como uma de suas missõesprecípuas a geração e a difusão de informaçõesgeológicas. Por ser o grande gerador e detentor doconhecimento geológico nacional, cabe ao ServiçoGeológico do Brasil com o apoio da área acadêmica e dosserviços geológicos estaduais, realizar de formasistemática o inventário dos sítios do patrimôniogeológico do Brasil, tanto de importância internacional,quanto nacional ou regional/local.

A C P R M p r o m o v e a i d e n t i f i c a ç ã o ,caracterização e avaliação, visando à conservação dopatrimônio geológico brasileiro através do ProjetoGeoparques. Os sítios geológicos ou geossítioscadastrados e quantificados pelo Projeto Geoparquessão destinados a integrar um acervo para a preservaçãodo patrimônio geológico. Também, como membro daSIGEP, a CPRM se ocupou nos últimos 15 anos daidentificação, avaliação, descrição e publicação degeossítios.

Um geoparque corresponde a uma área comlimites bem definidos e com uma dimensão suficientepara que possa servir ao desenvolvimento econômico ecultural local (especialmente por meio do geoturismo)

( h t t p : / / w w w. u n e s c o . o r g / n e w / e n / n a t u r a l -sciences/environment/earth-sciences/geoparks/global-geoparks-network/). Os sítios devem ser importantes doponto de vista da ciência, raridade, educação e / ouestética. Um geoparque é uma área onde geossítiosfazem parte de um conceito holístico de proteção,educação e desenvolvimento sustentável. No entanto, ogeoparque deve levar em conta o contexto da região enão unicamente incluir locais de significado geológico. Asinergia entre a biodiversidade, geodiversidade e cultura,além do patrimônio tangível e não tangível devem ser detal ordem que temas não geológicos devem serdestacados como parte integrante do geoparque,especialmente quando a sua importância em relação àpaisagem e geologia pode ser demonstrado aosvisitantes. Por essa razão, é necessário também incluir edestacar locais de interesse ecológico, arqueológico,histórico e cultural dentro do geoparque (UNESCO 2010).

O programa Geoparque vem suprir uma lacunapara reconhecimento internacional do patrimôniogeológico de importância nacional ou regional. Ainiciativa da UNESCO para apoiar os geoparques, bemsucedida em nível mundial, responde à forte demandaexpressa por muitos países, que tem como objetivo,entre outros, constituir uma série global de sítiosgeológicos ou geossítios destinados a integrar um acervopara a preservação do patrimônio geológico.

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SIGEP

SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS

NÃO PUBLICADOSSítios Nome UF

1 Dunas do Araçá AM

2 Canyon de Xingó SE/AL

3 Pico da Neblina AM

4 Raso da Catarina BA

5 Inselbergs de Quixadá CE

6 Morro de Penedo ES

7 Pães-de-açúcar de Pancas e Pedra Torta ES

8 Cachoeira do Rio das Almas GO

9 Cavernas da região de Guarani de Goiás e São Domingos GO

10 Córrego Alagadinho GO

11 Paraúna GO

12 Pilar de Goiás GO

13 Silexisto microfossilífero e estromatólitos da Fazenda Funil GO

14 Floresta Petrificada de Teresina MA

15 Lençóis Maranhenses e Dlta do Parnaíba PI/MA

16 Vertebrados Permianos de Pastos Bons MA

17 Bacia do Gandarela MG

18 Gruta da Serra do Ibitipóca MG

19 Mina de Passagem MG

20 Pico do Itacolomy de Buritizeiro MG

21 Morraria do Urucum MS

22 Pedreira Saladeiro MS

23 Baías do Pantanal BR/BO

24 Chapada dos Guimarães MT

25 Geyseritos Permianos de Anhembi PA

26 Fósseis Invertebrados de Rancharia PE

27 Fauna Permiana de Mocambo PI

28 Pedra Furada/Serra da Capivara PI

29 Estrias Glaciais de Witmarsum PR

30 Icnofósseis Devonianos de São Luiz do Purunã PR

31 Dedo de Deus RJ

32 Pico das Agulhas Negras RJ

33 Armação dos Búzios RJ

34 Restinga da Marambaia RJ

35 Parque das Dunas RN

36 Astroblema de Cerro do Jarau RS

37 Distrito Mineral do Alto Uruguai RS

38 Parque Guaritas e o litoral de Torres RS

39 Vulcanismo Rodeio Velho do Arroio Carajá RS

40 Furna Marinha de Sombrio SC

41 Mafra-Rio Negro SC/PR

42 Lavas Almofadadas de Pirapora do Bom Jesus SP

43 Marundito do Pico Pelado SP

44 Paleolagunas na Estação Ecológica JurÚia-Itatins SP

45 Turfeira da Campina do Encantado SP

46 Sítio Espeleológico Serra do Martins RN

47 Marmitas do Rio Carnaúba RN

48 Maciço dos Três Picos RN

49 Dioritos Almofadados do Rio Espinharas RJ

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Nesse sentido, os geossítios são vistos comocomplementares à Lista do Patrimônio Mundial daUNESCO, possibilitando desenvolver um mecanismoadequado para o reconhecimento de locais deimportância internacional, identificados a partir deinventários geológicos nacionais (UNESCO 2008; Eder &Patzak 2004).

O Projeto Geoparques da CPRM representaimportante papel indutor na proposição de geoparquesno território nacional. Esse projeto tem como premissabásica a identificação, levantamento, descrição,diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencialpara futuros geoparques no território nacional. Duranteesse processo realiza-se o cadastro e quantificação degeossítios de diversas tipologias, dentro dos limites doproposto geoparque. Para esse trabalho concorre oacervo de levantamentos geológicos existentes no País ea experiência do corpo técnico da empresa, além doaporte de estudos e propostas da comunidadegeocientífica. Em alguns casos, essa atividade indutora éfeita em conjunção com universidades e outros órgãos ouentidades federais, estaduais ou municipais que tenhaminteresses comuns, em consonância com ascomunidades locais. A ação catalisadora desenvolvidapela CPRM representa, entretanto, somente o passoinicial do futuro geoparque. As áreas propostas para osgeoparques foram selecionadas por sua importância

geológica, que em muitos casos associa-se a formas derelevo com excepcional valor estético ou beleza cênica.Nessa etapa inicial as áreas propostas pelo ProjetoGeoparques constituem em primeira instância parquesgeológicos, que possibilitam conhecer a sua históriageológica através dos geossítios, roteiros geológicos oupela geomorfologia da paisagem.

Para a transformação de um parque geológicoem um geoparque, além dos atributos geológicos, outrosatributos devem coexistir na área proposta e ambosdeverão promover o desenvolvimento econômicosustentável e a geoconservação, comumente através dogeoturismo/ecoturismo. Em praticamente todas as áreasselecionadas para os geoparques potenciais, já existe umfluxo turístico, em maior ou menor grau, no entanto, semassociação direta com a geologia. A criação de umaentidade de gestão e outras iniciativas complementarespermitirá que o parque geológico seja transformado emum geoparque, cabendo-lhe promover o geoturismo.Alguns geoparques propostos coincidem em seus limitescom unidades de conservação ou parques naturais, emespecial por apresentarem rara beleza cênica. Noentanto, os limites de um geoparque não coincidemnecessariamente com os parques naturais ou outrasáreas de reservas ambientais. Propostas de áreas compotencial de se transformarem em geoparques, objetodo Projeto Geoparques, estão indicadas na Figura 5.

Figura 5 – Mapa de localização das propostas de geoparques concluídas (1 a 17), em execução e programadas do Projeto Geoparques daCPRM.

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Nos últimos cinco anos foram concluídosestudos de 17 propostas de geoparques pelo ProjetoGeoparques cobrindo áreas de norte a sul do país.Dessas, 14 foram publicadas pela CPRM no primeirovolume do livro “Geoparques do Brasil-Propostas”(Schobbenhaus & Silva 2012). Diversas outras propostasestão em fase de avaliação ou serão avaliadas em etapasseguintes.

Uma atividade essencial realizada pelo ProjetoGeoparques é a identificação, cadastramento e valoraçãode geossítios ou sítios do patrimônio geológico na áreado território proposto para o potencial geoparque. Até omomento foram cadastrados 376 geossítios nos 17propostos geoparques. Esses geossítios apresentamdiferentes pontos de interesse: científico, didático,turístico, cultural e outros. A sua importância varia deregional/local (59 %), nacional (31 %) a internacional (10%). Dentro das áreas propostas para geoparques, cercade 48% relacionam-se a geossítios do Pré-Cambriano,24% do Paleozoico, 24% do Mesozoico e o restante doCenozoico. Os litótipos mais comuns são de interessegeomorfológico, estratigráfico e paleoambiental,normalmente associados a geoformas de valor estéticoou beleza cênica. Outros são paleontológicos, ígneos,petrológicos, metalogenéticos e espeleológicos. Outrosainda incluem importantes registros da história damineração ou ainda tem importantes valores pré-históricos e histórico-culturais associados.

2.3.2. Geossit

As atividades do Projeto Geoparques abrangemo cadastramento e a quantificação de geossítios,contemplando as metodologias de Brilha (2005) e Garcia-Cortés & Urquí (2009), adaptadas ao Brasil.Independentemente das futuras ações a serem tomadascom relação aos propostos geoparques, o cadastramentodos geossítios realizado será incorporado em umaatividade mais ampla de âmbito nacional: o Inventário deSítios do Patrimônio Geológico do Brasil. Para permitir aalimentação de um banco de dados a CPRM desenvolveuum aplicativo web para cadastramento e quantificaçãoautomática de geossítios, denominado GEOSSIT (Lima etal. 2012). O aplicativo GEOSSIT é uma ferramenta para apadronização do cadastramento de geossítios do Brasil. Éde livre consulta e será operado por meio de uma base dedados específica do Sistema GEOBANK do ServiçoGeológico do Brasil - CPRM. O aplicativo web GEOSSIT éoperado mediante utilização das seguintes ferramentasde software livre: linguagem de programação PHP 5.3 ebanco de dados MySQL 5.1.

As informações solicitadas (localização,caracterização geológica e geomorfológica, áreas deinteresse, presença de unidades de conservação, etc.),seguidas da quantificação das características intrínsecas,

do uso potencial e da necessidade de proteção,permitem classificar o geossítio como de interesseregional, nacional ou internacional (metodologia deBrilha 2005) e definir o valor relativo quanto ao interessecientífico, didático e turístico (metodologia de Garcia-Cortés & Carcavilla 2009).

A metodologia de Garcia-Cortés & Urquí (2009)permite também o cálculo da vulnerabilidade dogeossítio cujo valor adicionado ao valor do interessecientifico, didático ou turístico, permite estabelecer aurgência para que sejam adotadas medidas de proteçãoao geossítio.

Apesar de originalmente o GEOSSIT estarvinculado ao Projeto Geoparque, gradativamente foificando claro o potencial de sua utilização comoferramenta para alimentar um banco de dados nacionalde geossítios. Desse modo, o GEOSSIT será integrado aobanco de dados da CPRM, denominado GEOBANK. Paraa c e s s a r o a p l i c a t i v o o e n d e r e ç o éwww.cprm.gov.br/geossit, sendo que a visualização dosdados preenchidos pode ser efetuada clicando no nomedo geossítio. O aplicativo possui o módulo depreenchimento (exige senha) e o módulo de visualização(acesso livre).

2.3.3. Sinalização Interpretativa no Quadrilátero Ferrífero

Projeto financiado pelo Serviço Geológico doBrasil (CPRM) em parceria com a Universidade Federal deMinas Gerais e executado pelo Instituto Terra Brasilis, nocontexto da proposta do Geoparque QuadriláteroFerrífero. Em sua primeira etapa, o projeto teve comoprincipal objetivo a elaboração, confecção e instalação deplacas com informações geológicas em sítios doQuadrilátero Ferrífero, com linguagem acessível ebilíngue (português e inglês), aproximando o cidadãocomum de seu patrimônio geológico e promovendo ageoconservação. Os sítios contemplados foram: Serra doRola Moça, Serra da Piedade, Serra do Curral, Gnaisse deCachoeira do Campo e Pico do Itacolomi. Os painéis desinalização do Geopark Quadrilátero Ferrífero foramidealizados em modelo único no formato prancheta comângulo de inclinação confortável à leitura. Levou-se emconta para isto as características dos locais sinalizados,em sua maioria, áreas de mirante, onde a disposição noformato prancheta favorece a apreciação da paisagem(Figura 6).

Cada painel é composto por dois módulos, nomódulo da esquerda são apresentadas as informaçõessobre o conceito de Geoparque e sobre a geologia doQuadrilátero Ferrífero. Já no módulo da direita sãoapresentadas as informações sobre o geossítiopropriamente dito, focando suas peculiaridades eatrativos, contextualizando-o na proposta do Geoparque(Ruchkys et al. 2012).

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Figura 6 – Exemplos de painéis de sinalização interpretativa naSerra do Caraça e Parque das Mangabeiras, QuadriláteroFerrífero, MG. Fotos: Andreá Trevisol.

2.4. Caminhos Geológicos do Estado do Rio de Janeiro

O projeto Caminhos Geológicos foi concebidoem 2000 e inaugurado em 2001, pelo DRM-RJ – ServiçoGeológico do Estado do Rio de Janeiro. Seu objetivo geralé popularizar a geologia pela implantação de painéisinterpretativos nos principais monumentos geológicosdo Estado do Rio de Janeiro. Como decorrência, setransformou num projeto que tem um forte apelo nageoconservação. São objetivos específicos: (a)Reconhecer e preservar os monumentos geológicos doEstado do Rio de Janeiro; (b) Divulgar o conhecimentogeológico entre as comunidades e também paraprofissionais e cidadãos em geral; (c) Incentivar odesenvolvimento socioeconômico relacionado com ageologia; e (d) Fortalecer o potencial turístico dasregiões, criando novos circuitos de visitação a partir deuma proposta ecológica, científica e cultural.

É um projeto que conta com a parceria fixa doDepartamento de Estradas de Rodagem – DER-RJ e da Ciade Turismo do Estado - Turisrio. Tem nas universidadesque estudam a geologia fluminense a base da parceriacientífica que confere credibilidade ao projeto. Recebeapoio de prefeituras, ONGs, empresas públicas eprivadas e de agências de fomento, como a FAPERJ.

Como foi o primeiro projeto de sinalizaçãosistemática do Brasil, vem cumprindo um papel deindutor de experiências semelhantes em outros estados.Da mesma forma, teve participação decisiva naformatação do Simpósio sobre Monumentos Geológicos,no XLII Congresso Brasileiro de Geologia, em Araxá, em2004, primeira experiência com esta temática no mais

importante evento brasileiro de geologia que,atualmente, já possui réplicas em muitos dos eventosregionais e temáticos.

A comunicação com os não geólogos através dalinguagem, escrita ou visual, sempre foi o grande desafiodo projeto e, por este motivo, ele vem sendo construído apartir da interação com as comunidades onde os painéissão implantados. A metodologia básica de elaboração elocalização dos painéis do Projeto Caminhos Geológicosdo Estado do Rio de Janeiro foi publicada por Mansur &Nascimento (2007).

Até abril de 2013 foram implantados 104 painéisem 31 municípios, cuja manutenção é um itemimportantíssimo a ser considerado (Figuras 7 e 8).

Figura 7 – Painel interpretativo implantado no Pão de Açúcar

Figura 8 – Placa de estrada, indicativa de painel interpretativo.

Seu desenvolvimento envolve ações queavançam além da colocação dos painéis interpretativos,consolidando-se na vertente educacional (Mansur2009a) e outras. Assim, são realizadas ações:

a) na comunidade escolar, envolvendo alunos eprofessores, trabalhos de campo e elaboração dematerial didático e paradidático próprio (Talarico 2004;Talarico et al. 2005, Mansur 2009a) (Figuras 9 e 10);

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Figura 9 – Alunos de São José de Ubá, apontando seus desenhosno painel colocado em sua escola.

Figura 10 – Alunos do Projeto Jovens Talentos para a Ciência emtrabalho de campo em Santo Antônio de Pádua

b) junto à sociedade civil organizada comoONGs, associações de moradores, comitês de bacia,conselhos gestores de Unidades de Conservação - UCs(Nascimento & Mansur 2008), gestores ambientais ecoletivos educadores ambientais, como os livros doProjeto Conhecer para Preservar (Mansur et al. 2007a,2007b) (Figuras 11 e 12);

Figura 11 – Publicações sobre geologia de UCs, organizadas peloColetivo Educador Conhecer para Preservar.

Figura 12 – Treinamento sobre geologia para os funcionários doParque Natural Municipal de Nova Iguaçu

c) na governança local, incluindo prefeituras,produtores rurais (Figura 13), APLs de base turística;

d) no meio acadêmico, apoiando e realizandoconjuntamente pesquisas geológicas com Universidades,como UFF (Figueiredo Jr et al. 2004), UERJ (Schmitt et al.2004, Valeriano 2006); UENF (Alves et al. 2009) e UFRJ eMuseu Nacional (Mansur et al. 2009b) ou na orientaçãoacadêmica de alunos;

e) na parceria com museus, como o Museu daGeodiversidade da UFRJ (Carvalho et al. 2009), e outrasentidades que trabalham na popularização da ciência,como a Casa da Ciência da UFRJ e o MCTI – Departamentode Divulgação e Popularização da Ciência, por meio doProjeto Caminhos de Darwin (Moreira et al. 2009,Mansur 2009d) (Figura 14);

Figura 13 – Apresentação sobre geologia em praça pública paraprodutores rurais em Bom Jardim

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Figura 14 – Painel do Projeto Caminhos de Darwin em Maricá

f) na esfera patrimonial, atuando com o INEPAC(Schmitt et al. 2004) e IPHAN (Mansur et al. 2008), alémdas entidades municipais, no tombamento e preservaçãode bens de natureza geológica (Mansur et al. 2009b).

Também, na expectativa de ampliar o horizontede usuários (ou “visitantes”) do projeto, foi elaboradau m a p á g i n a d a i n t e r n e t(www.caminhosgeologicos.rj.gov.br) que apresentainformações teóricas e abordagens didático-pedagógicas, como jogos, quebra-cabeças e textosvoltados para o público jovem. Possui um webmapa ondese pode acessar cada painel na íntegra, com fotos dosmonumentos e possibilidade de envio de cartões-postaispersonalizados. Garcia et al. (2008) apresentam a fichatécnica do desenvolvimento da página, quaseexclusivamente baseada em softwares livres. Porém, umdos mais importantes itens da página, que ainda está emalimentação, é o inventário dos monumentos geológicosdo Estado do Rio de Janeiro, associado a um esquema devaloração dos bens (Mansur & Carvalho 2010).

Em pesquisa de opinião realizada em locaisonde estão localizados painéis do Projeto CaminhosGeológicos, em 2008, 89% dos entrevistados acreditamque eles são eficientes para a preservação dospatrimônios geológicos sinalizados (Mansur & Silva2011).

O programa Sítios Geológicos e Paleontológicosdo Paraná da Mineropar vem ao encontro do movimentoglobal sobre o inventário, conservação, valorização,divulgação e uso sustentável do patrimônio geológico noâmbito do Estado do Paraná. Levando-se emconsideração que o patrimônio geológico é umpatrimônio natural, as ações já desenvolvidas noprograma, inserido em atuações de diversos órgãosgovernamentais e não governamentais, tiveram como

2.5. Programa Sítios Geológicos e Paleontológicos do

Estado do Paraná

escopo o cumprimento das seguintes metas:

a) definir a política de administração dopatrimônio geológico do Paraná, inserindo estas políticasnas comunidades locais, inclusive para sua conservação;

b) inventariar e selecionar os principais sítiosgeológicos do Estado do Paraná, com o intuito dedemocratizar a informação e o conhecimento científico;

c) integrar estas informações a programas deturismo ou geoturismo;

d) formar e treinar guias e/ou condutores nascomunidades próximas aos sítios geológicosselecionados visando à geração de emprego e renda,bem como à sustentabilidade física e financeira dos sítioscom o envolvimento da comunidade.

O s t r a b a l h o s n e c e s s á r i o s p a r a odesenvolvimento do projeto envolveram a confecção deum inventário inicial, onde foram cadastrados os sítiosgeológicos e paleontológicos de valor turístico maisrelevante do estado. Posteriormente foram escolhidosalguns sítios, de notória relevância, como locais pilotospara a implantação de painéis e confecção de folhetos. Ométodo está centrado em criar aparatos e materiais queestimulem o aprendizado a respeito do ambiente naturale sua formação e/ou evolução ao longo do tempogeológico.

2.5.1. Inventário

O inventário do patrimônio geológico do Paranáfoi realizado tendo por base dois enfoques principais: oprimeiro apoia-se na identificação da demanda dogeoturismo, contemplando-se as principais atrações -paisagens, afloramentos, pontos geológicos,geomorfológicos e paleontológicos notáveis emunidades de conservação, municípios, paisagens comabrangência restrita e/ou em simples afloramentos,todos com significativa visitação e, portanto, comdemandas por explicação geológica mais acurada. Osegundo caminho, em contínuo desenvolvimento eaprimoramento, segue a confecção e o preenchimentode um banco de dados (Figura 15) com informações dascaracterísticas geológicas, geomorfológicas epaleontológicas, com informações acerca daidentificação e da localização, além de informações sobreoutras observações a respeito dos sítios selecionados.

Esse banco de dados serve para a quantificaçãoe a classificação dos geossítios paranaenses. Suaelaboração embasou o desenvolvimento de projetos deroteiros geoturísticos, especificamente os roteirosdenominados de "Geoturismo na Rota dos Tropeiros","Geoturismo em Curitiba" e "Geoturismo no Karst", osdois últimos na região metropolitana de Curitiba.

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Figura 15 – Modelo de ficha eletrônica utilizada para alimentar o banco de dados que permite inventariar o patrimônio geológico epaleontológico do estado do Paraná

Antes da definição de ações de conservação, noentanto, a Mineropar experimentou disseminarconhecimento, o que a permitiu entender que, em setratando de monumentos naturais, membros de umadada população instruídos e educados para a valoraçãode um monumento geológico adquirem rapidamente osentido de sua preservação.

Dessa maneira, para que servisse de elementosconcretos para a própria disseminação do conhecimento,a Mineropar confeccionou e colocou à disposição deturistas e potenciais turistas, os seguintes produtos: (a)painéis geológicos; (b) folhetos geológicos e (c) roteirosgeoturísticos, os quais foram disponibilizados tantofisicamente quanto digitalmente.

2.5.2. Painéis e folhetos geológicos

Os painéis e folhetos servem como material dedistribuição local nos sítios geoturísticos, despertando aatenção de turistas para o patrimônio geológico e anecessidade de cuidados com sua preservação econservação. O conteúdo dos painéis e folhetos fornece

explicações geológicas que abrangem, por exemplo,áreas maiores como é o caso de todo o território domunicípio de Tibagi (Sítio Geológico de Tibagi); de áreasmais restritas, que podem englobar porções de um oumais municípios, por exemplo, o Parque Estadual de VilaVelha (Sítio Geológico Parque Estadual de Vila Velha), outão somente afloramentos notáveis, como, por exemplo,o Sítio Geológico Estrias Glaciais de Witmarsum e atéuma paisagem específica, como a Serra do Mar.

A observação continuada do programa permitiuconcluir que os produtos gerados têm tido grandeeficácia para a divulgação do patrimônio geológico e adisseminação da informação geocientífica.A implantação dos painéis seguiu a experiência doProjeto "Caminhos Geológicos" do DRM-RJ. No estado doParaná foram implantados pela Mineropar 48 painéis em21 diferentes geossítios, quase todos com dimensões de200cm x 120cm (Figura 16). Nesses painéis,confeccionados com adesivo de alta aderência sobrechapa metálica, está descrita a geologia e ageomorfologia do local de interesse, bem como aspectosrelevantes do ponto de vista turístico.

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Figura 16 – Exemplo de Painel Geológico. Sítio geológico Cratera de Impacto de Vista Alegre, município de Coronel Vivida – PR.

Por sua vez, os folhetos geológicos estãorelacionados aos painéis, contendo as mesmasinformações, ou seja, os folhetos permitem que ovisitante tenha em mãos as informações do painel,permitindo que as leve após sua visita ao sítio. Por outrolado, o folheto tem servido como material que desperta aatenção de potenciais turistas que ainda não visitaramdeterminado sítio, nesse caso servindo inicialmentecomo elemento de propaganda e estímulo tanto quantode informação.

Na elaboração, tanto dos painéis quanto dosfolhetos, foram tomados cuidados para o corretodimensionamento do volume de informações, para fazercom que o texto prenda a atenção do usuário. Para tantofoi necessário definir uma adequada densidade deinformações, evitando-se o "didatismo" e que oconteúdo exposto apresente uma redução de conteúdopara torná-lo simples demais.

2.5.3. Roteiros Geoturísticos

São roteiros geológicos direcionados para aeducação e para o turismo. Devido a dificuldades ematrair o cidadão leigo em geociências diretamente pararoteiros geológicos/geoturísticos específicos, uma boaalternativa é compor roteiros adaptados a roteirosturísticos já implantados e em funcionamento, comofator de agregação de valor. Tal estratégia foi assumidapela Mineropar que a considera eficiente, havendoinclusive a implantação de alguns roteiros para oatendimento de demandas de cursos de capacitação

para um público bem diverso, como professores da redede ensino médio e fundamental, guias e condutores deturismo e sociedade em geral.

Um dos exemplos mais didáticos trata-se do"Roteiro Geoturístico de Curitiba" (Liccardo et al. 2008),publicado em forma livro guia, cujo conteúdo abrangediversos pontos turísticos notáveis da cidade onde ageologia e/ou a geomorfologia constituem fatordeterminante da visitação, como por exemplo antigaspedreiras transformadas em parques municipais, queconstituem geossítios científicos importantes.

Outros roteiros que podem ser mencionados,como importante experiência cognitiva e científica, sãoaqueles denominados de "Geoturismo na Rota dosTropeiros" localizada na Bacia do Paraná e nos CamposGerais no Paraná e que abrange um produto turísticoconsolidado no estado; "Geoturismo no karstparanaense", que se trata de um produto adaptado a trêscircuitos turísticos na região metropolitana de Curitiba eque, inclusive, aproveita para mostrar a problemática daocupação urbana do karst, região reconhecidamentefrágil do ponto de vista geotécnico.

2.5.4. Divulgação e Conservação

A divulgação do patrimônio geológico para asociedade, tanto em linguagem científica quanto maispopular, é decisiva para a sua valorização e conservação.Deste modo, a MINEROPAR tem colocado o geoturismocomo um programa importante, pois é através dele que ainstituição tem conseguido divulgar a geologia para a

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sociedade em geral, sensibilizando-a para a importânciada geoconservação.

Ao mesmo tempo o programa aponta para anecessidade de cuidados adicionais com geossítios muitovulneráveis, como determinados afloramentosfossilíferos e de minerais, onde até a coleta, de formadescuidada ou errônea do material para pesquisa,poderia prejudicar de forma irremediável estesgeossítios.

Em função desse necessário cuidado e ematenção à necessidade de preservação e valorização dedeterminados geossítios, a MINEROPAR, em conjuntocom prefeituras, encaminhou para o Conselho doPatrimônio Histórico e Artístico do Paraná (CEPHA – PR),órgão vinculado à Secretaria de Estado da Cultura - PRtrês propostas para a política de tombamento. Oprimeiro geossítio tombado foi uma pedreira desativadano município de Coronel Vivida (PR) com áreaaproximada de 10.000m2, situada no centro da Craterade Vista Alegre, astroblema com diâmetro de 9,5km,onde afloram estruturas que comprovam a colisão de umcorpo celeste com a Terra (Crósta et al. 2011). Além daimportância para a geoconservação, este tombamentocausou a valorização do referido geossítio com aformalização de projetos de infraestrutura para recebervisitantes. O outro geossítio tombado é um lajeado dearenito (Grupo Itararé) com 50 m2 (Figuras 17 e 18), ondeestão impressas estrias glaciais formadas durante aglaciação permocarbonífera na Bacia do Paraná,denominada de “Estrias Glacias de Witmarsum”, játransformada em produto turístico e com medidas degeoconservação tomadas pela própria comunidade. Oterceiro sítio tombado pelo CEPHA igualmente é umlajeado de arenito, pertencente à Formação Furnas(Bacia do Paraná) na região da serrinha de São Luiz doPurunã, onde estão impressos rastros de vermes(icnofósseis) bastante preservados e que possuemgrande interesse paleontológico. Há um quarto geossítiopaleontológico em processo de tombamento que é umimportante afloramento de fósseis de pterossauros emCruzeiro do Oeste - PR.

Portanto, em geoconservação, o programa tematuado na política convencional, ou seja, a dos processosd e to m b a m e n to v i n c u l a d o s a i n st i t u i ç õ e sgovernamentais. A experiência mostrou que para osgeossítios que não estejam em unidades de conservaçãoo regime de tombamento é uma boa política devalorização e preservação do geossítio.

Figura 17 – Estrias Glaciais de Witmarsum. Afloramentotombado pelo CEPHA – PR

Figura 18 – Estrutura implantada para a conservação edivulgação do geossítio.

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2.6. Caminhos Geológicos da Bahia

O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia foi oresultado de reuniões informais mantidas durante o anode 2002 por geólogos da PETROBRAS e da CPRM - ServiçoGeológico do Brasil. Uma vez que alguns desses geólogoseram sócios da Sociedade Brasileira de Geologia emesmo membros da diretoria do Núcleo Bahia/Sergipe,esta Sociedade também passou a participar do projeto.

O plano inicial do projeto era viabilizar aimplantação de cerca de 30 painéis distribuídos ao longodas rodovias BR-324 (Salvador- Feira de Santana), BR101(Conceição do Jacuípe - Alagoinhas), BR-110 (SimõesFilho-Alagoinhas) e BA-093 (Entre Rios - Pojuca). Estasrodovias propiciariam a divulgação dos conhecimentosbásicos sobre a Bacia Sedimentar do Recôncavo.Adicionalmente seriam colocadas cerca de 50 placassecundárias para sinalização dos painéis.

Para a execução deste projeto, foi formada umacomissão composta de um coordenador geral, umconselho editorial com cinco membros e uma equipe deprodução e apoio com três membros; os autores dasinformações a serem apresentadas nas placas seriamconvidados de entidades externas ao projeto.Posteriormente o objetivo do projeto foi ampliado para aconfecção de 36 placas a serem implantadas até o ano de2009, em locais distribuídos por todo o estado da Bahia.

A primeira placa foi inaugurada no dia 4 de abrilde 2004, entre o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda,em Salvador (Figuras 19 e 20).

Figura 19 – Painel dedicado à falha de Salvador..

Figura 20 – Elevador Lacerda que liga os blocos alto e baixo dafalha.

Antes da inauguração uma equipe desceu de“rappel” o Elevador Lacerda. A CPRM- Serviço Geológicodo Brasil produziu e distribuiu um folder resumindo asinformações contidas no painel interpretativo.

A segunda placa foi inaugurada alguns mesesdepois na fonte do Dique do Tororó. De acordo com ofolder distribuído, as águas da fonte do Dique teriam sidoutilizadas desde o século XVIII e a fonte seria de um tipoespecífico (fonte de vale). Os autores convidados para aelaboração desta placa foram professores do Instituto deGeociências da Universidade Federal da Bahia.

Em abril de 2005 foram inauguradas mais duasplacas: no Serrano, na cidade de Lençóis, e no Posto PaiInácio em frente ao morro homônimo, no município dePalmeiras . As Figuras 21 e 22 reproduzem o folderdistribuído na ocasião.

1

2

Luiz Rogério Bastos Leal e Joana Angélica Luz

A elaboração do texto da placa do Serrano contou com a colaboração da Prof. Marjorie C. Nolasco da Universidade Estadual de Feira de

Santana e o da placa do Posto Pai Inácio foi redigido pelo geólogo Antonio Jorge Magalhães, da Petrobras, em colaboração com o geólogo

Augusto J. Pedreira da CPRM.

Figura 21 – Frente do folder patrocinado pela CPRM edistribuído durante a inauguração da placa do Serrano, emLençóis, Bahia.

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Figura 23 – Frente do folder, patrocinado pela CPRM edistribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube PlazaShow.

Finalmente, em junho de 2005, foi implantadauma última placa, dedicada à deriva continental. O localescolhido foi o Aeroclube Plaza Show, um “ShoppingCenter”, localizado à beira-mar na praia de Piatã(Salvador). As Figuras 23 e 24 mostram o folderdistribuído na inauguração da placa.

Figura 22 – Verso do folder patrocinado pela CPRM e distribuídodurante a inauguração da placa do Serrano, em Lençóis, Bahia.

Figura 24 – Verso do folder, patrocinado pela CPRM edistribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube PlazaShow.

Apesar da assinatura de um memorando deentendimento entre os representantes da PETROBRAS,SBG e CPRM por ocasião da inauguração da primeiraplaca, o projeto não teve apoio institucional. Por causadisso, nunca houve contatos prévios com ascomunidades onde as placas seriam instaladas.

Em consequência, as placas foram sendodestruídas, removidas ou abandonadas: a placa da Falhade Salvador, já bastante deteriorada foi removida pelaPETROBRAS para consertos; a placa do Dique do Tororó,simplesmente desapareceu; a placa do Serrano foidestruída pela comunidade; a do morro do Pai Inácio,derrubada por uma tempestade e não recolocada e,finalmente, a da deriva Continental, abandonada edestruída juntamente com o Aero Clube Plaza Show.

O projeto tinha outros desdobramentosprevistos, como a “Cidade da Geologia” e apoio àconfecção de material de divulgação da geologia para serutilizado durante o 43º Congresso Brasileiro de Geologia.Para o desenvolvimento do primeiro projeto foi escolhidaa cidade de Jacobina, em 2002, por suas característicasregionais estratigráficas, sedimentológicas, estruturais,petrológicas, geoeconômicas e tradição mineira. Esteprojeto, sequer saiu do papel.

Finalmente, o último projeto consistiu napreparação de papeis de bandeja para serem distribuídasnos “Shopping Centers” e outros estabelecimentos dacidade de Aracaju, durante a realização do 43º CongressoBrasileiro de Geologia. Foram preparados cinco modelosilustrando fenômenos geológicos (Figura 25), efinanciados por empresas privadas, com os seguintestemas: Terremoto, Tsunami, Vulcão, Petróleo e Gás e OCiclo da Água.

Figura 25 – Papel de bandeja / mini-toalha distribuído durante o43º Congresso Brasileiro de Geologia, em Aracaju-SE.

O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia,mesmo antes da disseminação de conhecimentos acercad e p a t r i m ô n i o g e o l ó g i c o , g e o d i v e rs i d a d e ,geoconservação e geoturismo, foi pioneiro neste aspectona região. Entretanto por falta de apoio federal, estadualou municipal, foi paralisado, estando em estado latente.Havendo tal apoio ele poderá ser reativado, aproveitando

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a extraordinária geodiversidade do estado da Bahia.

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável eMeio Ambiente do RN - IDEMA/RN criou, no início de2006, o projeto Monumentos Geológicos do Rio Grandedo Norte e a partir daí firmou um convênio com aPETROBRAS/CEFET/FUNCERN, estabelecendo para a suaexecução uma parceria em conjunto com a CPRM –Serviço Geológico do Brasil e a Universidade Federal doRio Grande do Norte - UFRN, no intuito de contar umpouco da história geológica potiguar através de painéisexplicativos.

A parceria com geólogos, professores epesquisadores da UFRN, CPRM (Núcleo de Natal –NANA), PETROBRAS e CEFET (atual IFRN) permitiu olevantamento dos dados e a geração das informaçõescientíficas para a confecção dos painéis interpretativosúteis para levar a sociedade o entendimento acerca daevolução geológica do Rio Grande do Norte.

O objetivo do projeto foi propiciar a divulgaçãodas geociências, dos seus monumentos, paraproporcionar uma série de fatores, como: i) reconhecer epreservar os monumentos geológicos do Estado; ii)divulgar o conhecimento geológico entre ascomunidades; iii) fortalecer o potencial geoturístico dareg ião e iv) incent ivar o desenvolv imentosocioeconômico relacionado com a geologia.

2.7. Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte

Figura 26 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Dunas de Jenipabu (emExtremoz). Fotos: Alenuska.

Figura 27 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Dunas do Rosado (em Porto doMangue). Foto: IDEMA.

Figura 28 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Pico do Cabugi (em Angicos).Foto: Marcos Nascimento.

Figura 29 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos parasinalização geoturística no RN. Granito de Acari (em Acari).Foto: Marcos Nascimento.

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A meta foi confeccionar painéis informativoscom conteúdo didático sobre geologia, geomorfologia,petrologia, paleontologia, arqueologia e espeleologia,contendo nestes um título, mapa de localização,explicação em um texto em português de fácilentendimento (e uma versão resumida em inglês) e osaspectos da evolução geológica de cada pontoselecionado.

No primeiro momento do projeto, foiselecionado em conjunto pelo IDEMA/RN, CPRM e UFRN,um total de 16 pontos de interesse geológico paracolocação dos painéis. Os monumentos escolhidosforam:

a) No Litoral: Morro do Careca, Parque dasDunas, Dunas de Jenipabu (Figura 26), Dunas do Rosado(Figura 27), Arenitos Praiais, Recifes de Corais e Falésiasde Pipa;

b) No Interior: Pico vulcânico do Cabugi (Figura28), Caverna de Pedra de Martins, Granito de Acari(Figura 29), Lajedo de Serra Caiada, Lajedo de Soledade,Tanques Fossilíferos de São Rafael, Mina Brejuí,Pegmatitos de Parelhas e Poço 9-MO-13-RN (primeiropoço produtor de óleo na Bacia Potiguar).

Paralela à implantação desses painéis foramtambém elaborados cartões-postais úteis para umadivulgação mais ampla desses monumentos geológicos.Essa iniciativa, pioneira no Brasil, está recebendo elogiosde pessoas interessadas no assunto e coordenadores deprojetos co-irmãos. Além disso, também foramelaborados os painéis itinerantes, contendo as mesmasinformações e imagens dos painéis colocados ao lado dosmonumentos geológicos. Estes servem para levar àsociedade todas as informações sobre cada monumentosendo muito utilizado em feiras e exposições pelo Estadodo Rio Grande do Norte.

Figura 30 – Outras formas de divulgação das geociências noâmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande doNorte. Espaço Ecológico criado em um Shopping de Natal,expondo as diferentes ações realizadas pelo IDEMA no Estado,com destaque para a Exposição Monumentos Geológicos do RioGrande do Norte e seus painéis itinerantes.

Figura 31 – Outras formas de divulgação das geociências noâmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande doNorte. Visitante admirando os diferentes cartões-postais comimagens da geodiversidade potiguar. Foto: Marcos Nascimento.

A exemplo de estados como Rio de Janeiro,Paraná e Bahia, o Rio Grande do Norte tornou-se o quartoEstado brasileiro a criar um programa específico paraproteção dos monumentos geológicos e divulgaçãodestes para a sociedade.

As primeiras ações bem sucedidas desinalização/divulgação do patrimônio natural geológicono Estado de São Paulo ocorreram com a criação dosParques Municipais “Rocha Moutonnée” (1991) e“Varvito de Itu” (1995), localizados respectivamente nascidades paulistas de Salto e Itu.

Após devidamente estudados (Rocha-Campos,2002a, 2002b) e conser vados , a etapa dedivulgação/sinalização desse patrimônio contou com aelaboração de painéis geológicos explicativos e complacas rodoviárias indicando a atração turística (Figuras32, 33, 34, 35, 36, 37, 38 e 39).

Atualmente, o Parque da Rocha Moutonneépassa por reformas que ampliarão seu potencial turísticoe de divulgação da geodiversidade. Com recursoso r i u n d o s d o D e p a r t a m e n t o d e A p o i o a oDesenvolvimento das Estâncias (DADE), da SecretariaEstadual de Turismo, estão previstas, entre outrasmelhorias, a adequação das normas de acessibilidade,construção de auditório, praça cívica, painéismuseográficos, sinalização e totens explicativos dasatrações, bem como a implantação de réplicas dedinossauros robotizados.

2.8. Projeto Monumentos Geológicos do Estado de São

Paulo

Figura 32 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA – dez.2009)

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Figura 33 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvitode Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).

Figura 34 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvitode Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).

Figura 35 – Sinalização/divulgação do Monumento GeológicoVarvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvitode Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).

Figura 36 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –dez. 2009).

Figura 37 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –dez. 2009).

Figura 38 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Totem de entrada do Parque MunicipalRocha Mountonneé, Salto (SP), confeccionado com o famosogranito róseo de Itu.

Figura 39 – Sinalização / divulgação do Monumento GeológicoRocha Mountonneé: Painéis geológicos (Fonte: Acervo IG/SMA– dez. 2009).

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No governo do Estado, as primeiras políticas dedivulgação do patrimônio geológico também datam dadécada de setenta, especialmente com a publicação doDecreto Estadual nº 11.138/78. Este documentocolocava sob a égide da antiga Divisão de Proteção deRecursos Naturais (DPRN) e do Instituto Geológico (IG) asatribuições de manutenção dos “serviços de conservaçãode monumentos geológicos naturais para fins científicosculturais e turísticos” (artigo 436, VII – grifo nosso).Posteriormente, já na década de oitenta, as ações dedivulgação do patrimônio foram reunidas e repassadasdefinitivamente ao Instituto Geológico, agora integranteda Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA), pormeio da criação da Seção de Monumentos Geológicos(Decretos Estaduais nº 24.931/86 [art. 10°, III] e n°26.942/87 [art. 1°]).

No âmbito da Seção de MonumentosGeológicos foi desenvolvido o Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo, importante instrumento criadopara a divulgação do patrimônio geológico paulista. Oprojeto foi apresentado no dia 27 de março de 2009, nasede do IG, durante a celebração dos 123 anos de criaçãoda Commissão Geographica e Geológica (CGG) da entãoProvíncia de São Paulo. Nesta mesma data também secomemora o aniversário do IG, visto que o instituto éoriundo da referida Comissão.

Ainda em andamento, este instrumento temcomo principal objetivo promover o registro, oconhecimento, a conservação e a divulgação dopatrimônio geológico do Estado de São Paulo, abordandoa geodiversidade como arcabouço fundamental dabiodiversidade.

Alguns produtos deste projeto voltadosespecificamente para a divulgação/sinalização dopatrimônio geológico são: a sua logomarca, os primeirosmarcadores de página da série “MonumentosGeológicos de São Paulo", folderes, bloco de notas,cartões postais, etc. (Figuras 40, 41, 42, 43, 44 e 45).

Figura 40 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Logomarca.

Figura 41 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Marcadores de página.

Figura 42 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Folder de divulgação Secretaria deEstado de Lazer e Turismo.

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Figura 43 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Bloco de notas.

Figura 44 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Cartão postal do MonumentoGeológico Carste e Cavernas do PETAR.

Figura 45 – Primeiros produtos do Projeto MonumentosGeológicos de São Paulo: Cartão postal do MonumentoGeológico do Astroblema de Colônia.

No final de 2012, foram lançados os primeirospainéis geoturísticos com o objetivo de divulgar opatrimônio geológico paulista. Trata-se de painéisautoexplicativos e didáticos que contam a origemgeológica e geomorfológica do geossítio denominado“Morro do Diabo”, localizado no município paulista deTeodoro Sampaio (Figuras 46 e 47). Os painéis reuniraminstituições públicas e universitárias paulistas para suaelaboração e implantação

Figura 46 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do ProjetoMonumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).

Figura 47 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do ProjetoMonumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).

Em 2009 foi criado, por meio da Resolução SMAnº 076/2009, o Conselho Estadual de MonumentosGeológicos (CoMGeo-SP), junto à Secretaria de Estado deMeio Ambiente. O CoMGeo-SP, de caráter consultivo,tem com principal objetivo auxiliar, no âmbito da SMA, asações e atividades que envolvam a pesquisa,conservação e divulgação dos Geossítios e MonumentosGeológicos de São Paulo (grifo nosso). É composto peloSecretário do Meio Ambiente (que é seu presidente),pelo diretor do IG, pelo chefe da Seção de MonumentosGeológicos (que é o Secretário Executivo) e por outros 16Conselheiros, reconhecidos pela atuação nos temasrelacionados aos Geossítios e Monumentos Geológicos(Figura 48).

Além do Varvito de Itu, e da Rocha Mountonnée,outros quatro geossítios compõe os seis monumentosgeológicos declarados pelo CoMGeo-SP até abril de 2013:

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Carste e Caverna do PETAR, Cratera de Colônia, Geiseritosdo Anhembi e Pedra do Baú.

Figura 48 – Reunião Ordinária do CoMGeo-SP – Sede SMA/SP.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto aos aspectos metodológicos, entende-se que:

a) para gerar uma ação sistemática deconservação do patrimônio geológico de um território énecessário categorizar os sítios de interesse, apoiando-seno inventário realizado para, então, definir as medidas deconservação, que necessariamente devem seguir umaordem sequencial.

b) para o desenvolvimento de projetos destanatureza, o método ideal é a implantação dos painéis emdecorrência da finalização do inventário do patrimôniogeológico local, seja a área de um município ou de todo oestado. Apesar disto, geossítios notáveis no estado doParaná, de grande relevância geológica e/ou paisagísticajá comprovada pelo histórico de demanda turística,foram contemplados com os painéis de formaconcomitante à confecção do inventário.

c) é fundamental a avaliação pedagógica domaterial dos painéis, buscando sua continua evolução.Para tanto, conclui-se pela necessidade de solicitar que,tanto leigos no conhecimento geológico quantoprofissionais com experiência em redação emgeociências, opinem sobre o conteúdo gráfico e textualdo material.

d) a disseminação do conhecimento porintermédio dos materiais produzidos são mais efetivosquando acompanhados por cursos de capacitação demonitores e/ou guias. Ou seja, tal ação deve estarprevista em todas as atividades anteriormentemencionadas, seja na elaboração de roteiros ou nasimples implantação de painéis e folhetos em áreas quepermitem a sua realização, como municípios ou unidadesde conservação. Estes cursos multiplicaram a informaçãogeológica para a sociedade local, amplificando aindamais dois dos objetivos principais do programa, que é aeducação e conservação do patrimônio geológico.

De modo mais geral, fica claro que existe umamplo espaço para desenvolvimento dos projetos degeoturismo e divulgação do patrimônio geológico para asociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelosserviços geológicos e entidades afins de âmbito estadual.Os relatos apresentados demonstram esta tendênciapositiva. Acredita-se, pelas notícias que chegam a partirda participação nos diversos eventos realizados pelo país,que novos projetos estejam por despontar em breve. Poroutro lado, o exemplo da Bahia demonstra a claranecessidade de que haja uma organização responsávelpela implantação e manutenção dos painéis.

Observa-se, também, que as unidades deconservação são lugares especiais para a implantaçãodeste tipo de sinalização, propiciando a divulgação dageodiversidade em conjunto com a biodiversidade.

Um aspecto a ser ainda mais discutido econsiderado é que um projeto de sinalização sistemáticapossui um desdobramento muito maior do que adisponibilização de equipamentos de geoturismo. Eletambém propicia a participação comunitária ecertamente o desenvolv imento de projetoseducacionais. Esta inserção necessita ser aproveitada aomáximo.

Por fim, considera-se, ainda, que o maiorobstáculo a ser superado é a comunicação com asociedade. Para tanto, precisa-se avançar noconhecimento sobre o usuár io dos painéisinterpretativos. É necessária, portanto, a realização depesquisas sobre o público-alvo e planejamento prévio dainterpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais acomunicação para despertar o interesse do usuário /visitante.

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Manuscrito ID 31729

Submetido em abril de 2013

Aceito em julho de 2013

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