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EDITORIAL

Isabel Martins

DiretoraIsabel Martins ([email protected])

Colaboraram neste númeroAna Rita Costa, Emília Freire, Sónia Santos Pereira (jornalistas); João Paulo Dias, Ricardo Meireles, Depositphotos (fotografia); Teresa Valdiviesso, Filomena Nóbrega, Isabel Carrasquinho, Rita Costa; Teresa S. David, Clara A. Pinto, M. Inês Portugal e Castro, Nuno Onofre, Ricardo Paiva, Pedro Reis, Inocêncio Seita Coelho (INIAV); Francisco Rosado da Luz, Rita Teixeira, Jorge S. David (ISA, ULisboa); Ana Margarida Fortes (BioISI, FCUL); Tânia Almeida, Sónia Gonçalves (CEBAL); Nadezhda Nadezhdina (Mendel University, Brno, Rep. Checa); Rita Sousa Veloso

Projeto GráficoLuís Gregório e Rui Garcia

CapaLuís Gregório

PaginaçãoRui Garcia ([email protected])

Responsável comercialAntónio Gabriel ([email protected])

Conselho editorialAlberto Alarcão; António Monteiro; Carlos Noéme; Flávia Alfarroba; Francisco Avilez; Henrique Oliveira; Jorge Boehm; Jorge Garrido; José Portela; Manuel Funenga; Raul Sardinha; Santos Varela

Propriedade

Country ManagerRaquel Rebelo

Direção ComercialSónia Albuquerque

IFE – EDIÇÕES E FORMAÇÃO, S.A.Rua Basílio Teles, 35 – 1.º Dto. 1070-020 LISBOATel.: 210 033 800Fax: 210 033 888E-mail: [email protected].º Contribuinte: 504 700 669Depósito Legal: 3583/83Registo de título: 101324Órgãos sociais: IFE 100%

Tiragem: 11 000 exemplaresPeriodicidade: Mensal

Pré-Impressão, Impressão e AcabamentoJorge Fernandes, Lda.Rua Quinta Conde de Mascarenhas, 9 – Vale Fetal2820-652 CHARNECA DA CAPARICATel.: 212 548 320

Tratamento de base de dados e envelopagemMAILTEC

Distribuição VASPMLP – Quinta do Grajal – Venda Seca2739-511 AGUALVA-CACÉMTel.: 214 337 000

Estatuto editorialDisponível em http://www.vidarural.pt/perfil-editorial/

PublicidadeAntónio Gabriel ([email protected])

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Assinaturas [email protected]

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A proliferação de ‘novas culturas’ nem sempre é acompanhada da necessária organização da produção. Continuamos a assistir a investimentos em produções cujo mercado ainda não existe, algo im-pensável nos dias que correm. É por isso muito positivo olhar para o trabalho de algumas cooperativas nacionais que es-tão a tomar a dianteira na organização da produção, antecipando cenários, concen-trando produção e rentabilizando as suas próprias estruturas. No norte do país, algumas destas cooperativas começaram há algum tempo a procurar alternativas culturais que permitam, por exemplo, reconverter as explorações leiteiras sem capacidade competitiva nas atuais condi-ções. O caso que destacamos nesta edição da VIDA RURAL é um bom exemplo, por variadas razões. Em primeiro lugar, por-que falamos de uma cultura, o espargo, com grande potencial de mercado, mui-ta procura e boa valorização de preços. Acresce que é adequada à generalidade dos solos, sem grandes complicações agronómicas e que assenta bem na lógi-

ca da pequena agricultura de minifúndio, característica desta região do país, com uma forte componente de mão de obra fa-miliar. Para a cooperativa é também uma oportunidade de rentabilizar estruturas de frio que usa para outras culturas e to-dos saem a ganhar.Esta saudável dinâmica é um exemplo a seguir para muitas outras organizações de produtores que têm de assumir a li-derança nos processos de mudança das suas regiões.Mais a sul, com a intensificação da plan-tação de pomares de amêndoa, nota tam-bém para a recente criação de pequenas agroindústrias que vão permitir a con-centração e a transformação da amêndoa, colocando a produção na primeira linha da criação de valor. E quando estas uni-dades têm na sua génese a iniciativa de agricultores, só podemos acreditar que a agricultura nacional está na rota certa, que lhe vai permitir assumir o controlo de uma parte importante da cadeia. Este é claramente o caminho. Haja vontade e capacidade de investimento!

“Esta saudável dinâmica é um exemplo a seguir para muitas outras organizações de produtores que têm de assumir a liderança nos processos de mudança das suas regiões.”

Assumir o controlo

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SUMÁRIO

ABRIL 2017

6. CORREIO AGRÍCOLA

8. MECANIZAÇÃO

SIMA 2017: Inovação sempre em destaque

12. EM FOCO

Forum for the Future of Agriculture:

Estaremos a caminho de uma agricultura

mais sustentável?

14. ESPECIAL

Água traz rentabilidade

18. CULTURAS

Espargos: mais houvesse, mais se venderia!

DOSSIER TÉCNICO

22. A fenologia do sobreiro

26. Obtenção e identificação de genes

relacionados com a produção

e desenvolvimento da cortiça

28. Estrutura e funcionamento das raízes

em sobreiro: o uso de água

32. Importância das massas de água

em áreas de montado para a biodiversidade

36. A importância do sobcoberto arbustivo nas

comunidades de pequenas aves de montado.

Efeitos e recomendações para a sua gestão

40. Cinegética de caça maior em montado

de sobro e azinho

44. NUTRIÇÃO

Espargos

MERCADOS

46. Cotações dos suínos em recuperação

18. CULTURAS

Espargos

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CORREIO AGRÍCOLA

Bairrada lança cartão de fidelização à regiãoA Bairrada, que pretende ser vista como uma região de referência nas áreas do vi-nho, da gastronomia e do turismo, acaba de lançar um projeto pioneiro em todo o país – o ‘Cartão de Cliente Rota da Bairra-da’. Uma iniciativa da Associação Rota da Bairrada (ARB) e dos seus associados e da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), este cartão pretende ser “uma ferramenta de fidelização à região”.Em comunicado, os responsáveis pelo pro-jeto referem que se trata de um cartão “gra-tuito, fácil de usar e com inúmeras vanta-gens” e que tem como objetivo “pretende estreitar e reforçar a relação entre o ‘clien-te’ e a região.”Podendo ser solicitado nos ‘Espaços Bair-rada’ – em Anadia ou Oliveira do Bairro – ou online, através do site www.rotada-bairrada.pt, este cartão não tem validade e mantém todas as regalias em vigor em qualquer altura da sua utilização.

“O modus operandi do ‘Cartão de Cliente Rota da Bairrada’ é seme-lhante a tantos outros que usamos diariamente: tem por base a acu-mulação de pontos nas compras realizadas nos ‘Espaços Bairra-da’ ou no site de e-commerce da Associação, que posteriormente podem ser trocados por produtos do ‘Catálogo de Pontos Bairrada’: um euro equivale a um ponto. Descontos diretos, promoções, oferta de portes, campanhas temáticas as-sociadas aos produtos e serviços comercia-lizados pela Rota da Bairrada e seus asso-ciados, assim como acesso a informação em primeira mão fazem também parte da oferta deste cartão”, acrescentam.Pedro Soares, presidente da CVB e mem-bro da direção da ARB, refere que “o futuro passa, em muito, pelo seu passado e pelas suas gentes, num trabalho conjunto que

teve início com a criação do cluster de es-pumantes Baga Bairrada e que deu o mote a um conjunto de outras ações e ferramen-tas que permitem promover e dinamizar a região da melhor forma. O novo ‘Cartão de Cliente’ faz parte dessa estratégia e visa aproximar a Bairrada dos seus ‘adeptos’. É uma ferramenta que faltava para unir todos os que trabalham diariamente para elevar o nome da região da Bairrada”.

AKI torna-se na primeira cadeia de distribuição a vender insetos auxiliaresCom o objetivo de responder à tendência dos produtos biológicos, que tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos no mercado nacional, o AKI anunciou que vai passar a vender, em loja, insetos auxiliares. De acor-do com a cadeia de distribuição, o objetivo é “democratizar esta tendência e mostrar como ‘é fácil fazer’.”Como refere o AKI, “a partir de agora, qualquer pessoa que tenha como proje-to ‘faça você mesmo’ um jardim ou horta pode passar a usar soluções biológicas e naturais para proteger a sua cultura, sem recorrer ao uso de produtos químicos, res-

peitando e preservando a biodiversidade”.Para além de insetos auxiliares para con-trolar e combater pragas específicas, a cadeia de distribuição disponibiliza agora

também abrigos para que estes bichos se possam desenvolver, proteger e se manter perto das zonas que preservam.Para Pedro Morais Barbosa, responsável de Comunicação Institucional, “esta é uma novidade que muito nos orgulha e que se enquadra a 100% na nossa estratégia de ne-gócio e de responsabilidade ambiental. São produtos que vêm inovar e democratizar o mercado da agricultura biológica, sendo este um nicho no qual queremos apostar. Quere-mos que deixe de ser algo de especialistas. Queremos que passe a ser ‘fácil de fazer’ para qualquer um que tenha esse projeto”.

Sogrape compra 25% de uma das maiores distribuidoras do Reino UnidoDepois de uma parceria estra-tégica com a Liberty Wines para o desenvolvimento das suas marcas no Reino Unido, a Sogrape anunciou a aquisição de 25% da empresa, que é uma das maiores distribuidoras do Reino Unido.Numa nota enviada às redações, a Sogrape refere que “a comple-mentaridade que existe entre a Sogrape UK e a Liberty Wines, tanto ao nível do portfólio como

da gestão de canais e até de re-cursos humanos, é um dos pon-tos mais fortes desta aliança”.“Conhecido por ser uma das grandes montras do mundo, este é um mercado crucial ao crescimento estratégico da So-grape. Com este investimento, estamos simultaneamente a fortalecer a nossa presença em Inglaterra e a aliarmo-nos a um parceiro com grande experiên-cia no on-trade, onde as marcas

da Sogrape, e os vinhos portu-gueses em concreto, revelam ainda um enorme potencial”, explica Fernando Cunha Gue-des, CEO da Sogrape.Para a Sogrape, esta parceria agora reforçada tem como ob-jetivo “maximizar as sinergias através de um maior controle da cadeia de valor. Com este reforço da rede de distribuição, o Grupo procura manter a po-sição de Mateus Rosé no Reino

Unido, mas também, benefi-ciando da grande experiência da Liberty Wines na área da restauração de topo, desenvol-ver marcas como Sandeman, Lan, Casa Ferreirinha, Viña Los Boldos ou Finca Flichman”.A Sogrape teve em 2016 “um ano histórico”, com o volume de negócios da companhia a atingir 214 milhões de euros, mais 3,9% do que no período homólogo.

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CORREIO AGRÍCOLA

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Agromais instala dois sistemas fotovoltaicosA Agromais inaugurou recente-mente dois sistemas fotovoltai-cos numa área total de 7200 m2 e com capacidade para produ-ção anual de energia de cerca de 570,57 MWh e uma poupança de emissões anuais de 176,4 t de CO2. Esta instalação envolveu um investimento de cerca de 400 mil euros.Numa nota enviada às redações, a empresa refere que o projeto de fornecimento e instalação destes sistemas na Hortejo em Pinheiro Grande e na Agromais em Ria-chos (ambos com vida útil esti-mada de 25 anos) foi da respon-sabilidade da Ikaros-Hemera, empresa especialista no setor dos painéis solares fotovoltaicos.Jorge Neves, diretor-geral da Agromais, refere que “estes são alguns dos aspetos relevantes da aposta inovadora da Agromais nas energias renováveis, de que estas duas unidades de produção de energia solar são um primei-ro passo. Consideramos a aposta em energias renováveis funda-mental para podermos tornar as nossas explorações agrícolas au-tónomas em termos energéticos”.Já Duarte Caro de Sousa, diretor--geral da Ikaros-Hemera, refere que entre as principais aplica-ções previstas para as soluções instaladas estão “fornecer ener-gia elétrica a lugares remotos, onde os custos de montagem de linhas elétricas são superio-res aos custos do fotovoltaico; abastecer locais onde não é pos-sível instalar linhas elétricas, alimentar sistemas autónomos, bombas de água para irrigação, sinalização, telecomunicações e muitos outros”.

Comissão Europeia propõe redução anual dos pagamentos diretos para criar fundo de reserva para crisesA Comissão Europeia adotou uma propos-ta para a redução dos gastos anuais com os pagamentos diretos aos agricultores com o objetivo de criar um fundo de reserva para situações de crise. A medida reduz os gastos da PAC, especificamente os paga-mentos diretos financiados pelo European

Agricultural Guarantee Fund (EAGF), com o objetivo de poupar cerca de 400 milhões de euros para eventuais crises nos merca-dos agrícolas.O valor poupado deverá ser usado num fundo de reserva que estará disponível no orçamento da PAC para 2018.

Recentemente, durante o Forum for the Future of Agriculture, Phil Hogan, Comis-sário Europeu para a Agricultura, tinha defendido a necessidade de reduzir o valor gasto nos pagamentos diretos, assim como medidas que permitam modernizar e sim-plificar a Política Agrícola Comum.

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MECANIZAÇÃO

A feira atraiu mais de 1770 empresas de 42 países e teve cerca de 232 000 visitantes, in-cluindo 23% estrangeiros, o que representa uma descida de 3% em relação a 2015. A pre-sença de expositores nacionais também foi menor, numa tendência que parece consoli-dar a aposta noutros salões mais próximos do nosso país (Espanha e Itália).Mas os fabricantes nacionais presentes (Herculano, Galucho e Cordexagri), bem como os representantes em Portugal de marcas internacionais com quem falámos (Kuhn, Kubota, SDF, Manitou, New Holland e John Deere) estão otimistas sobre a per-formance do mercado nacional e – no caso

dos fabricantes – quanto ao crescimento e expansão para outros mercados.Importa referir que no seguimento da fa-lência da Tractores de Portugal, “a Massey Ferguson [do grupo AGCO e que era distri-buída pela empresa nacional no nosso país] quer manter um representante em Portu-gal”, assegurou à VIDA RURAL Paul Dow-deswell, business manager do grupo para a Europa Ocidental e Central, adiantando que “estamos a reunir com vários interessados e esperamos ter novidades em breve”. O res-ponsável garantiu que “até lá, os concessio-nários estão em condições de prestar todos os serviços habituais aos clientes Massey

Ferguson, porque a Bom Pastor, distribui-dor nos Açores, está nesta fase a servir de intermediário para máquinas e peças”.A nível global, as últimas estatísticas do mercado europeu de equipamentos agríco-las, referidas no catálogo oficial do SIMA, relativas a 2014, mostram uma quebra de 3,9% face a 2013. Todavia, uma tendência que se espera que continue a aumentar é a da agricultura de precisão, recorrendo à in-ternet das coisas, a apps, robots, drones e outros meios de medição e apuramento de dados que ajudem cada vez mais os agricul-tores a fazer ‘mais com menos’ e a tomarem decisões por antecipação.

SIMA 2017

Inovação sempre em destaqueA 77.ª edição do SIMA – Salão Mundial de Equipamentos Agrícolas, que decorreu de 27 de fevereiro a 2 de março em Paris, voltou a centrar atenções na inovação que muitos expositores reservam para apresentar no certame, mas, este ano, dando também destaque à conservação do solo, sustentabilidade e ambiente. As empresas nacionais apostam na expansão e os representantes internacionais em Portugal na consolidação e crescimento.

Texto . Emília Freire*

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MECANIZAÇÃO

Herculano apresenta nova imagemA Herculano – Alfaias Agrícolas, do grupo Ferpinta, escolheu o SIMA para apresentar a sua nova imagem, estratégia de produção e expansão, em que investiu cerca de três milhões de euros. Um investimento que in-clui a implantação, que durará dois anos, do sistema Lean, acompanhado pelo Kaizen Institute, “para conseguirmos maior efi-ciência na produção”, explicou-nos o diretor comercial e de marketing.

Luís Silva adiantou que “o principal obje-tivo é expandir para o mercado europeu, mas não só”, já que o declínio de Angola e Moçambique ‘obrigou’ a empresa a procu-rar outros mercados na Europa, “mas tam-bém em África, como Argélia e Marrocos, entre outros países com quem estamos a negociar”.A Herculano tem 210 colaboradores e é lí-der ibérica de reboques. “O ano passado foi o nosso melhor de sempre em Espanha e o mercado nacional também cresceu”, disse o responsável. Portugal e Espanha repre-sentam cerca de 30% para a empresa de Oliveira de Azeméis, que também exporta equipamentos para França, Bélgica, Romé-nia, Bulgária e Hungria, “bem como Nova Zelândia e Austrália, para onde já vende-mos, principalmente grades de discos”. O diretor comercial e de marketing afirmou ainda que “estamos prestes a entrar em In-glaterra, que é o terceiro mercado europeu – depois da Alemanha e da França – e este ano vamos começar também na Escandiná-via, Suíça e Áustria”.No SIMA, a Herculano apresentou algumas inovações, como a cisterna com rodas gran-des, os reboques com novo sistema hidráu-lico e a nova tinta dos reboques, que é ami-ga do ambiente, resultando de uma parceria com a marca Frei Lake.

Galucho aposta na expansãoCrescer fora de portas é também a razão da Galucho ter estado no SIMA, “onde já não participávamos há alguns anos”, admitiu o administrador-executivo. Fernando Roma-na disse à VIDA RURAL que o maior fabri-cante de equipamento agrícola da Península Ibérica está a apostar principalmente “em África (Magrebe, sudoeste africano e África francesa e inglesa) e no sudoeste europeu, para isso abrimos recentemente a Galucho

Bulgária, que vai servir o mercado búlgaro e romeno”. Mercados a explorar são a Sérvia, a Rússia, a Ucrânia e o Cazaquistão.O maior mercado da Galucho é o ibérico e está também em França e Argélia (que coor-dena também Marrocos e Tunísia), com equipas integradas.A empresa de São João das Lampas tem o seu core na área agrícola, mas “a parte de transportes industriais também tem cres-cido, ainda não somos líderes ibéricos, mas queremos ser”, assegura o responsável.Fernando Romana salientou que a Galucho está a “desenvolver soluções integradas pa-ra dinamizar e complementar os equipa-mentos de trabalho no solo, recorrendo a parcerias com outras empresas nacionais, se necessário. Por exemplo, se um cliente grande nos pedir para acoplar equipamento de pulverização podemos convidar a Tomix, como já fazemos com a italiana Alpego, complementando a nossa gama com eles e eles com a nossa”.João Rosa, gestor de cliente da zona Sul, falou-nos de algumas das inovações que a Galucho apresentou no SIMA, nomeada-mente na área das máquinas para preparar a cama de sementeira, como a CH3LR 600, ou o Geo-Sol, “para trabalhar em cima de uma lavoura”, entre outras.

Codexagri lança fio mais avançado do mundoA Cordexagri exporta para 55 países, com o mercado nacional a representar apenas 1 a 2% da sua faturação. A empresa tem delega-ções em França, Inglaterra, Estados Unidos da América, Canadá, Alemanha e Holanda, sendo que o mercado da América do Norte é o maior, representando cerca de 30%, “e com tendência a subir”, assegurou-nos o di-retor de marketing. Rui Vieira adiantou que “França é o nosso segundo mercado”.

SIMA INNOVATIONS AWARDS

A inovação continua a estar no centro do SIMA e os Innovations Awards são o ponto alto do certame nesta área. Em 2017 surgiu uma tendência sem preceden-tes: conservação do solo, melhorando a forma como a pressão dos pneus é ajusta-da ao ambiente operacional. Além disso, os resultados confirmam a tendência do Digital na agricultura, que fornece uma acrescida precisão e a medição das ações, bem como a tendência subjacente de Efi-ciência de todas as áreas: produtividade, segurança, conforto e muito mais.Fique a conhecer as Medalhas de Ouro e Prata.

Medalhas de Ouro• MICHELIN – 2-em 1 pneu evolutivo;• TRELLEBORG – Pressão dos pneus va-

riável baseada na carga.

Medalhas de Prata• CASE IH AGRICULTURE – Trator au-

tónomo sem cabine;• JCB AGRI – Sistema de transmissão va-

riável que combina tecnologias hidros-táticas e ‘Powershift’;

• JOHN DEERE – Sistema inteligente de lubrificação do trator e alfaias;

• NEW HOLLAND – Trator autónomo de elevado desempenho;

• ROUSSEAU – Limpa-bermas hidráuli-co com rotor de acionamento elétrico.

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MECANIZAÇÃO

A empresa nacional produz fio, rede e plás-tico para enfardamento e para horticultura em estufa. No SIMA lançou “um produto novo: um fio agrícola para máquinas de alta densidade, que é o mais avançado do mundo. Somos líderes de mercado neste tipo de produto – o max cord”, explicou o responsável.

Kuhn quer ser líder de mercadoDesde o início do ano que Miguel Vieira, diretor-geral da divisão agrícola da Auto--Industrial, é responsável pela Kuhn e assegurou-nos que a marca “tem uma pe-netração muito interessante nas alfaias agrícolas, que ronda os 20 a 25% e menos visível no material forrageiro, mas começa também a ter mais expressão na mobiliza-ção dos solos”, salientando que “temos uma gama muito completa ao nível dos equipa-mentos agrícolas”.Em Portugal, Miguel Vieira adiantou que “vamos tentar apostar na gama de pulveri-

zação, bem como nos unifeeds automotri-zes que foram remodelados agora e ficou uma gama mais compacta”. O responsável assegurou que “o nosso objetivo é sermos líderes de mercado, o que não me parece muito difícil, uma vez que temos uma gama muito completa”, a marca está a reorganizar a rede de concessionários, tendo como meta ficar com 20.Jürgen Dycker, responsável da Kuhn para a Península Ibérica e a América Latina, frisou que “estamos a trabalhar com a Auto-Indus-trial para fortalecer a presença no País”.Já em relação à Kubota, representada pela Tractores Ibéricos (também do grupo Auto--Industrial), Bruno Pignatelli, diretor-geral da empresa, explicou-nos que a empresa também entrou no mercado das alfaias agrí-colas, ao ter comprado 100% da Kverneland, daí a necessária separação de concessioná-rios – que tradicionalmente vendiam Kuhn e Kubota. “Temos agora uma gama completa de mobilização de solos e pulverização, bem como enfardadeiras e semeadores”, referiu.O responsável adiantou que “o objetivo da Kubota a médio prazo é ser líder em tratores abaixo dos 150 cv. Somos o país da Europa onde a marca tem maior quota, em 2016 a nossa quota foi de 15,7% e há zonas onde es-tamos muito pouco representados”. A líder neste segmento foi a New Holland, com 18%.

New Holland na liderançaAo nível dos tratores e grandes máquinas agrícolas, todas as marcas querem conso-lidar ou aumentar a sua quota de mercado.“O ano 2016 para a New Holland em Portu-gal correu um pouco acima do expectável. Terminámos mais um ano com a liderança de mercado, com uma quota de 17,4%. Fo-mos a marca que mais progrediu em termos de volume em relação aos resultados de 2015 (+ 172 tratores)”, disse o diretor de marke-ting da marca em Portugal.Gonçalo Carvalho salientou que “para 2017 temos o objetivo de continuar na liderança, com crescimento da quota de mercado. Pa-ra tal, temos muitas novidades de produtos que estão a ser lançadas no mercado no de-correr deste ano”.Arnaldo Caeiro, diretor-geral da SDF Por-tugal, adiantou-nos que o grupo tem quatro grandes objetivos para este ano: “Consoli-dar a quota de mercado ao nível do ano pas-sado – 23%, reforçando a presença nos seg-mentos de potencia média/alta, acima dos 120 cv; melhorar o nível de serviço, traba-lhando com os concessionários; continuar a desenvolver o negócio das peças originais; e melhorar a imagem das concessões”.O responsável referiu ainda que “a partir de

meados do ano, vamos ter novos modelos na gama média”.Já João Hébil, responsável da Manitou para Portugal e Espanha, disse à VIDA RURAL que “o nosso objetivo para o mercado nacio-nal é o crescimento sustentado e o acompa-nhamento do mercado”. A marca francesa tem uma quota de cerca de 80% do mercado de telescópicos, “sendo que no setor agrí-cola também temos grande implantação” e acrescentou que “somos o único fabricante que está em Portugal, os restantes são re-presentantes”.Sobre a performance e perspetivas da John Deere no nosso país, o diretor comercial lembra que “o ano de 2016 foi um ano de transição, com o lançamento de algumas novas famílias de tratores, devido às novas leis de emissões, e o desaparecimento por completo dos modelos da família Milénio, o que levou a uma pequena queda na quo-ta de mercado, terminando o ano a nível de matrículas com 8,9% e a nível de registos com 9,8%”.Para o ano de 2017, Diogo Camarate de Cam-pos afirmou que “as perspetivas da John Deere são de recuperação e o principal ob-jetivo é crescer mais do que o mercado está a crescer atualmente. Desse modo, o princi-pal objetivo é voltar a estar acima dos 10% da quota de mercado (matrículas)”.

*A jornalista viajou a convite do SIMA

VALTRA GANHA ‘MÁQUINA DO ANO’

O Valtra A104 HiTech arrecadou o prémio de ‘Máquina do Ano’, na categoria de tra-tores abaixo de 150 cv, durante o SIMA. A escolha esteve a cargo de jornalistas liga-dos à agricultura, representantes de 28 re-vistas europeias e publicações online.“Este é novamente um importante reco-nhecimento para a Valtra e para a AGCO. As Séries T4 e N4 foram eleitas Máquina do Ano 2015 e 2016 e esta é uma enorme continuação onde demonstrámos a força da 4.ª geração dos produtos Valtra. A nos-sa Série A é líder de mercado nos países nórdicos e com a nova Série A prevemos um potencial crescimento a nível global. Investimos no design, fiabilidade e faci-lidade de utilização, para que os nossos agricultores possam desfrutar do trabalho com os produtos Valtra. É realmente uma experiência de condução agradável e valor para o seu dinheiro”, refere Mikko Lehi-koinen, diretor de marketing da Valtra.O A104 HiTech é equipado com um motor diesel Tier 4 AGCO Power de 4,4 litros e possui transmissão e hidráulicos novos.

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EM FOCO

Uma das coisas que ficou clara durante as intervenções de vários dos oradores do evento, entre os quais se contam Kofi An-nan, ex-Secretário-Geral das Nações Unidas e Nobel da Paz, e Phil Hogan, Comissário Europeu para a Agricultura, é que, apesar de os objetivos estarem traçados e terem sido recentemente reforçados com os acordos es-tabelecidos durante a cimeira COP21 Paris, é preciso reforçar a sua implementação.Colaboração, cooperação e compromisso foram algumas das palavras mais ouvidas durante as sessões, nomeadamente durante a intervenção de Kofi Annan, que pediu uma “liderança ousada” por parte de todos os setores para que possamos “transitar para sistemas alimentares, e agricultura, susten-táveis” que permitam alimentar a população mundial que ainda passa fome.

De acordo com Kofi Annan, é preciso mais investimento nos países em desenvolvimen-to e em sistemas alimentares que permitam “produzir mais alimentos com menos recur-sos” e “é preciso cooperação entre os peque-nos e os grandes setores e mais inovação”. “Qual é o objetivo do crescimento económi-

co se não pudermos respirar? Vamos trans-formar a aspiração em ação e construir um mundo alimentar seguro, sustentável e prós-pero baseado nestes pilares de progresso”.Janez Potoc nik, Chair do FFA2017 e Chair-man da RISE Foundation, sublinhou tam-bém que “se queremos atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, a altura para soluções é agora. Não há tempo nem necessidade de esperar pelos outros para avançar”.Ellen MacArthur, fundadora da Ellen Mac-Arthur Foundation e defensora de uma ‘Economia Circular’, defendeu também que é tempo de mudar as práticas utilizadas na indústria agroalimentar. De acordo com a ativista, “os sistemas alimentares atuais são inerentemente ‘desperdiçadores’ e estão ca-da vez mais a ser desfiados pela crescente

FORUM FOR THE FUTURE OF AGRICULTURE

Estaremos a caminho de uma agricultura mais sustentável?Foram cerca de 2000 as pessoas que rumaram no passado dia 28 de março ao Square Meeting Centre, em Bruxelas, para a 10.ª edição do Forum for the Future of Agriculture (FFA), uma organização da Syngenta em parceria com a ELO – European Landowners Organization. No âmbito da iniciativa, alguns dos principais players do setor a nível mundial estiveram reunidos para debater um futuro mais sustentável para a agricultura e a implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Texto . Ana Rita Costa*

Kofi Annan

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EM FOCO

procura e pela perda de produtividade dos solos. Mudar para práticas regenerativas, suportadas por princípios da economia cir-cular, pode ajudar a criar mais valor e a re-construir capital natural”.

Comissário Europeu da Agricultura pediu uma PAC mais moderna“A PAC encaixa-se nos Objetivos de Desen-volvimento Sustentável das Nações Unidas, mas precisa de continuar a ser moderniza-da”. Quem o diz é Phil Hogan, Comissário Europeu para a Agricultura, que marcou presença neste fórum para debater a Política Agrícola Comum da União Europeia.De acordo com o irlandês, a PAC tem sido um dos maiores exemplos de sucesso da União Europeia, contudo precisa de moder-nização e simplificação, aquela que tem sido, aliás, uma das maiores batalhas do atual co-missário para a Agricultura.“A PAC tem garantido a segurança alimentar na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Atualmente, garante a segurança alimentar de milhões de pessoas, muito para além da União Europeia e, apesar de todos os objetivos de ajudar as pessoas a alimenta-rem-se a si próprias, continuará a ser assim, pelo menos nas próximas décadas”, defen-deu Phil Hogan, referindo ainda que, apesar de tudo isto, as pessoas ainda têm a segu-

rança alimentar como “um dado adquirido” e vão continuar “a exigir cada vez mais”.Ainda assim, o responsável pela pasta da Agricultura na União Europeia sublinhou que a agricultura europeia tem de estar adaptada ao século XXI, com a alimentação e nutrição no centro do debate e no centro das ações de todos os produtores agrícolas.“Um sistema de produção agrícola que respon-de ao Acordo de Paris e aos Objetivos de De-senvolvimento Sustentável das Nações Uni-das irá garantir uma agricultura mais resilien-te, baseada em ecossistemas mais saudáveis e um sistema de produção que integre inovação e mais valor ao longo de toda a cadeia, desde a produção ao consumidor”, defendeu.Hogan aproveitou ainda a ocasião para re-ferir que, apesar de terem de ser apoiados, os agricultores europeus devem fazer mais para que a União Europeia possa cumprir as suas obrigações internacionais em termos ambientais. “Os consumidores – que somos todos nós – têm um papel a desempenhar. Temos de ser mais exigentes e mais críti-cos”, concluiu.

Syngenta acelera programa de sustentabilidadeErik Fyrwald, CEO da Syngenta e um dos fundadores do FFA, referiu também durante a iniciativa que “a Syngenta está a levar a cabo

ações que permitem aos produtores produzir da forma mais sustentável possível, usando as melhores tecnologias e práticas disponíveis e monitorizando os benefícios para o ambiente e para os seus resultados [financeiros]”. Uma dessas ações é o ‘The Good Growth Plan’, uma iniciativa lançada pela Syngenta em 2014 com o objetivo de colocar em práticas alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentá-vel das Nações Unidas e cujo progresso foi apresentado no dia 27 de março, também em Bruxelas. Até agora, a empresa já envolveu cerca de 3700 ‘quintas-modelo’ de 42 países nesta ação, que beneficiam da tecnologia e suporte técnico da Syngenta.Para a Syngenta, os seis compromissos glo-bais assumidos até 2020 no âmbito deste pla-no são “centrais na estratégia da empresa, garantindo a sustentabilidade do negócio a longo prazo”. Falamos de erradicar a fome, erradicar a pobreza, proteger a vida terres-tre, produção e consumo sustentáveis, saúde de qualidade, trabalho digno e crescimento económico.Após três anos de implementação, o ‘The Good Growth Plan’ revela que, em 2016, fo-ram beneficiados 4,3 milhões de hectares graças à melhor integração de boas práticas de gestão de solos na oferta comercial da Syngenta, que tem vindo a incentivar a prá-tica da Agricultura de Conservação.Por outro lado, a meta de promover a bio-diversidade em 5 milhões de hectares já foi praticamente atingida. “Trata-se de instalar margens funcionais e corredores ecológicos junto das explorações agrícolas e dos cursos de água, com vista a criar habitats naturais para a fauna e flora locais. Um dos projetos mais vastos decorre no Brasil com o The Na-ture Conservacy, que desde o ano 2000 mobi-liza toda a comunidade agrícola para instalar corredores ecológicos nas margens dos rios no Estado de Mato Grosso. Entre 2014 e 2106 foram recuperados 20 400 hectares para este fim, envolvendo 8200 explorações agrícolas e impactando 2,8 milhões de hectares de terra. Em Portugal, a face mais visível da promoção da biodiversidade é o programa Operation Pollinator, que envolve explorações agrícolas de referência”, explica a Syngenta.Destaque ainda para o objetivo de formar 20 milhões de trabalhadores para o uso seguro dos produtos fitofarmacêuticos, que, desde 2014, já capacitou 17,2 milhões de pessoas nesta área, especialmente em países em desenvolvimento. Na Península Ibérica, as ações de formação sobre calibração de pul-verizadores envolveram 500 agricultores e técnicos no ano de 2016.

*A jornalista esteve em Bruxelas a convite da Syngenta Portugal

Phil Hogan

Janez Potoc nik

Ellen MacArthur

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A conjugação de clima (com muitas horas de sol e poucas geadas) com bons terrenos e, principalmente, muita disponibilidade de água é muito favorável a uma boa produção das frutíferas. Mais ainda quando se esco-lhem variedades precoces e/ou tardias, que permitem entrar mais cedo ou ficar até mais tarde no mercado, “quando mais ninguém tem fruta”, conseguindo assim melhores pre-ços e penetração de mercado.Além de João Serrano, da Fairfruit Portugal, que produz prunóideas, falámos também com Mario Gemperle, da Citrusplus, que optou pela laranja e vai apostar agora na amêndoa, e com Carmelo Sanchez, da Prado de Castro Verde, que está em Portugal desde

2005, a produzir azeite e, mais recentemente, também se ‘rendeu’ à amêndoa.

Produção pode atingir 2500 tA Fairfruit Portugal tem plantações de vá-rias frutas de caroço (pêssegos, nectarinas, alperces e paraguaios), mas também olival. João Serrano é o diretor e sócio da empresa, a par do amigo Pedro Brás da Silva e do pró-prio dono do Fairfruit Group, Pascal Felley.O grupo suíço tem produção de prunóideas na Hungria, Áustria, Espanha e Portugal – estando também a fazer testes na Alemanha e Bélgica – e vende as suas frutas para a Ale-manha, Áustria, Espanha, França, Bélgica e Escandinávia, controlando toda a cadeia.

“Já trabalhava com o Pascal no azeite do grupo – o O’zeite – e decidimos avançar pa-ra esta parceria: através de um projeto de jovem agricultor no PDR 2020 arrendámos terras, com água de Alqueva, para produ-zir os frutos e o Fairfruit Group fornece o know-how e trata do embalamento e comer-cialização”, explica à VIDA RURAL João Serrano, frisando que “tivemos todo o apoio e facilidades. Com a EDIA, o Alentejo tem um futuro promissor”.No âmbito da Fairfruit Portugal, está tam-bém prevista a construção de uma unidade de embalamento, armazém e transformação, em Beja, que “começará ainda este ano, mas só estará a funcionar na próxima campanha.

Texto . Emília Freire

Fotos . João Paulo Dias

Água traz rentabilidadeAlqueva continua a mudar a ‘face’ do Alentejo: os agricultores procuram agora culturas que lhes deem mais rentabilidade e aproveitem, da melhor forma, as excelentes condições da região em termos de clima e solo, a que se veio juntar este bem tão precioso. “Sem água não podíamos fazer nada disto”, sublinha o diretor da Fairfruit Portugal. As frutíferas são hoje escolhas de eleição: o olival e, mais recentemente, o amendoal, mas também há quem aposte em laranjais e pomares de prunóideas.

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Nesta vamos enviar a fruta para a unidade do grupo em Sevilha”. O diretor explica que nesta campanha, que vai começar no final de abril, não esperam muita produção, uma vez que “as árvores ainda só têm um ano, mas com esta terra quase virgem, que só tinha tido cereais, o crescimento foi tão acima das expectativas, que muitas já têm fruto, quan-do normalmente os pêssegos só começam a produzir ao segundo ano e as nectarinas ao terceiro ano”. Esperam uma produção de cerca de 100 toneladas dos 85 hectares que foram plantados em 2016 (40 em Santa Vitó-ria e 45 em Ervidel). Mas quando tudo estiver em plena produção, incluindo os 32 hectares que foram plantados já este ano mais os 13 hectares que serão plantados em 2018 (fican-do com um total de 130 hectares), a produção poderá rondar as 2500 toneladas.

VI gama já está nos planosO diretor refere que “a unidade de Beja irá ter também uma área de transformação, porque há sempre perdas de fruta de segunda cate-goria que queremos cortar e desidratar”.João Serrano adianta que, nas duas parcelas, a Fairfruit está a fazer vários testes de varie-dades que ainda não estão no mercado, em parceria com o centro de genética e produ-

ção vegetal, PSB, de Múrcia. As variedades mais precoces produzem entre finais de abril e fim de maio, enquanto as tardias estendem a produção até 10 de junho.“O investimento, de cerca de três milhões de euros, já está todo feito e, apesar de estar tu-do aprovado, uma vez que o projeto foi sub-metido há dois anos, ainda não recebemos um euro”, lamenta o responsável, adiantando que “o investimento é cerca do dobro do oli-val, uma vez que aqui tudo é manual: podas de ramos, flores e frutos, além da colheita”, por isso já têm 37 colaboradores fixos.A rega é feita em dois tubos paralelos, colo-cado um de cada lado da árvore, para que a planta aproveite o melhor possível a água, sendo uma rega de manhã e outra à tarde, pa-ra aproveitar sempre a sombra. O consumo de água, com árvores adultas, é de 4200 m3/ /ha/ano nos alperces (a partir do quarto ano) e nos pêssegos e nectarinas de 6300 m3/ha/ /ano (a partir do terceiro ano).Na entrelinha, João Serrano deixa as ervas autóctones, “que são na maioria gramíneas, que cortamos duas vezes por ano e deixamos no terreno”. Já o solo foi corrigido apenas em termos de pH, “porque estas árvores gostam de solos mais básicos”. O herbicida é dado só na linha e a fertilização é feita através da re-

ga: “Demos um bom incentivo neste primei-ro ano para estimular o crescimento”.

Gado por laranjasMario Gemperle veio da Suíça, com os pais, há 26 anos para Odivelas, Ferreira do Alen-tejo. Compraram uma herdade com cerca de 250 hectares, criaram a Gemperle – Agro-pecuária e começaram a produzir cereais e gado bovino. “Passa um canal na nossa pro-priedade, ter água foi sempre a condição-ba-se para comprar a terra e regamos por gravi-dade”, afirma o produtor. A água, da barra-gem de Odivelas, depois ligada ao sistema de Alqueva, é que permitiu ao produtor decidir abandonar a criação de bovinos cruzados Li-mousine para apostar na laranja, salientando que “a EDIA tem facilitado a nossa vida”.E porquê laranja? O agricultor explica-nos: “A produção de bovinos tinha uma baixa ren-tabilidade, dependente dos subsídios, e não queríamos continuar assim, por isso fui à pro-cura de alternativas. Com a disponibilidade de água, o olival parecia uma boa opção, mas fiz pesquisas e visitei explorações em Espa-nha e percebi que a laranja tem taxas de ren-tabilidade ainda mais altas e decidi avançar”.Em 2008/2009 criou a Citrusplus, plantou 30 ha, depois em 2010 mais 30 ha e começou

João Serrano, da Fairfruit, produz pêssegos, nectarinas e alperces

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a vender o gado. Hoje tem 185 ha de laranjal na propriedade própria, mais 200 ha planta-dos, já este ano, numa herdade arrendada em Ferreira do Alentejo e “em outubro arren-dei uma herdade, a 2 km aqui da nossa, on-de vamos começar a plantar 250 hectares de amendoal”, com variedades de casca rija, já comprovadas, como a Guara e a Soleta.

Ter fruta quando mais ninguém temA produção de laranja deverá rondar as 3000 t nesta campanha e ainda só com 115 ha a produzir, uma vez que as árvores começam a dar fruto ao terceiro ano. Mario Gemperle vende toda a produção a granel para distri-buidores em Espanha e na Holanda “e vamos entrar noutros mercados”. Não deixa de par-te a possibilidade de vender também para o mercado nacional e até de, mais tarde, poder vir a embalar e criar marca, mas “para já es-tamos bem assim, vamos progredindo passo a passo e está a ser interessante, mas tem de se ter dimensão”, por isso o produtor avan-çou para a plantação de mais 200 ha este ano.“Com dimensão conseguimos vender o má-ximo possível em fresco, mas temos sempre também a alternativa de vender para sumo (uma vez que temos variedades com dupla aptidão) e ainda somos competitivos”, refere

o agricultor.Também Mario Gemperle está a apostar em variedades para produzir fora de época e, as-sim, conseguir ter melhor rentabilidade. “Te-mos variedades tardias, cuja colheita vai até agosto, para conseguirmos estar no mercado quando nem em Espanha têm produção”. En-tre as variedades mais precoces e as tardias, Mario Gemperle diz à VIDA RURAL que a colheita vai de outubro a dezembro e depois de abril a agosto. A laranjeira é uma árvore muito exigente em termos de consumo de água, rondando os 6000 m3/ha/ano e gosta de solo mais arenoso que “tenha uma textura leve, mesmo que tenha pouca matéria orgâ-nica. Fazemos fertirrega e damos azoto, po-tássio, fósforo e cálcio”.A Citrusplus tem quatro colaboradores fixos, mas durante a colheita tem de recorrer a mão de obra temporária – cerca de 50 pessoas (e serão ainda mais consoante a restante área entrar em produção) – que ficam depois tam-bém para a poda que se realiza logo a seguir. Tudo está em produção integrada e tem cer-tificação GlobalGAP.Na herdade onde vive, Mario Gemperle tem ainda dois pivots onde produz 60 ha de lu-zerna, “porque dá-se muito bem e vendo para ovelhas e vacas de leite”.

Amendoal superintensivoO espanhol Carmelo Sanchez decidiu inves-tir no olival em Portugal em 2005, comprou uma herdade perto de Casével (Castro Ver-de) com 506 ha, com uma barragem própria e plantou 300 ha de olival superintensivo da variedade Arbequina. Mais recentemente, em 2014, a autorização de ir buscar água à Barragem do Monte da Rocha (com 8 km de tubagens e bombagem) permitiu-lhe plantar 80 ha de amendoal – das variedades Guara e Soleta – “que se adaptou muito bem” e cuja primeira colheita será no final de agosto/iní-cio de setembro.Por isso, “e porque o preço está muito in-teressante, uma vez que há mais procura que oferta” decidiu apostar ainda mais na amêndoa e comprou outra herdade em Al-bernoa, com 620 ha, já com água de Alque-va, onde está nesta altura a plantar 85 ha de amendoal superintensivo da variedade Soleta, mais 535 ha de olival superintensivo de Arbequina. “O investimento neste amen-doal é muito elevado, mas esperamos que a rentabilidade seja na mesma proporção”, afirma o produtor, adiantando que “esta-mos a colocar plantas que vêm de um vi-veiro que usa porta-enxertos ‘enanizantes’, para as árvores não crescerem demasiado e

Mario Gemperle produz laranja e vai começar a produzir amêndoa

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podermos utilizar nelas as mesmas máqui-nas do olival”.Carmelo Sanchez baseia esta aposta, nomea-damente, nos bons resultados de uma produ-ção superintensiva de amêndoa que utilizou plantas do mesmo viveiro já com sete anos, com quatro colheitas, na zona de Tarragona e refere que também a Fundação Eugénio de Almeida plantou um amendoal superintensi-vo há um ano e meio, que já visitou e que tem estado igualmente a correr bem.No amendoal intensivo, que tem em Castro Verde, espera uma produção em torno dos 1500 kg/ha, enquanto no superintensivo a produção poderá andar entre os 2000 e os 3000 kg/ha.O preço ronda hoje os 5/6€ por quilo de mio-lo de amêndoa e mesmo o preço médio de 3/4€ “é interessante”. O produtor diz-nos que vai fazer uma parceria com a Migdalo, unida-de de descasque e despela de amêndoa da fa-mília Sevinate Pinto em Ferreira do Alentejo.

Azeite vai a granel para ItáliaA produção de azeite deste agricultor, na pró-xima campanha, deverá rondar 1500 t e irá aumentar nos próximos anos, com a entrada em produção dos novos olivais. “Praticamen-te quase toda a produção vai para Itália em cisternas, sendo depois vendido como pro-duto da União Europeia”, afirma o produtor.Além dos 300 ha de olival de Castro Verde, Carmelo Sanchez plantou também 413 ha em Viana do Alentejo, em 2007, regado com água de barragem própria e que vai buscar ao rio Xarrama, “mas dentro de um ou dois anos também já teremos água de Alqueva”.Começou por extrair o azeite num lagar do grupo Valouro, depois noutro em Ferreira do Alentejo e acabou por passar depois para a Quinta de S. Vicente, com quem fez uma

parceria em 2014 e que comprou depois em leilão em dezembro de 2015. A quinta tem o lagar (onde o agricultor extrai hoje todo o seu azeite) e 180 ha de olival intensivo de Arbequina e Cobrançosa. “Um problema, uma vez que o intensivo exige muita mão de obra, porque há muitas operações culturais que têm de ser feitas manualmente”, por is-so pretende reconvertê-lo progressivamente em superintensivo, onde “fazemos tudo me-canicamente. Tenho três máquinas para co-lher a azeitona e com uma pessoa por turno – normalmente fazemos dois – mais dois tra-

toristas consegue-se fazer tudo”, conta-nos, acrescentando que só tem de contratar cerca de cinco pessoas a mais, que ficam depois da colheita também para a poda.O filho, também Carmelo Sanchez, vai co-meçar agora a trabalhar com o pai e ficará encarregue do lagar, uma vez que o objetivo, a prazo, será embalar uma parte do azeite com marca própria.O olival e o amendoal têm um consumo idên-tico de água, que ronda os 5000 a 6000 m3/ /ha/ano, mas na herdade em Castro Verde, o amendoal tem um compasso maior – de 7/6 – enquanto o olival é de 4 ≈ 1,5, mas em Albernoa os compassos “serão ainda mais ajustados: 3,5 ≈ 1,2 no amendoal e 3,75 ≈ 1,35 no olival”, diz Carmelo Sanchez.O produtor coloca herbicida na linha e na entrelinha, deixa crescer erva autóctone, que corta uma a duas vezes por ano e deixa no terreno. Faz fertirrega e também adubo foliar.Sobre a disponibilidade de plantas no nosso país, Carmelo Sanchez chama a atenção: “É muito difícil arranjar plantas em Portugal, não há viveiristas com capacidade. Assim, para plantar em Albernoa, tive de mandar vir, com um ano e meio de antecedência, de um viveirista de Córdova, com quem traba-lho já há anos, um milhão de oliveiras e 200 mil amendoeiras”. Por isso, vai fazer uma parceria com este viveirista e ceder-lhe 3 ha na Quinta de S. Vicente para ele fazer um vi-veiro de oliveiras.

Carmelo Sanchez, aqui com o filho, produz amêndoa, mas também azeite

4 PERGUNTAS AO PRESIDENTE DA EDIA – JOSÉ PEDRO SALEMA

Que impacto pode ter a recente baixa dos preços da água no perímetro de rega de Al-queva?Garantir a plena utilização das infraestrutu-ras, valorizando a maior reserva estratégica de água da Europa.

Considera que, neste momento, a água fica competitiva?Claramente que sim. Os valores ficam em linha com os praticados na região apesar de exigirem elevações manométricas superiores.

Que reações teve por parte dos produtores?Em geral, muito positivas. Julgo que conse-guimos passar a mensagem de que esta redu-ção exige um enorme esforço e só é possível graças a economias de escala, com a expan-

são da área beneficiada e pela gestão integrada das redes primária e secun-dária, e ainda a implan-tação de centrais foto-voltaicas em larga esca-la para redução da fatura energética do projeto.

Como está o plano de expansão da rede de rega? Qual o calendário previsto?Os projetos estão a decorrer como previsto, depois segue-se a declaração de impacto am-biental e, uma vez conseguido o financiamen-to necessário, poderemos avançar para os con-cursos e para as obras. Se tudo correr como previsto, poderemos ter cerca de 50 mil hec-tares de novas áreas a regar entre 2020 e 2021.

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Rui Pinto, diretor da Cooperativa Agrícola de Felgueiras, faz à VIDA RURAL um ba-lanço muito positivo desta aposta. Este ano, os 15 produtores de espargos verdes associa-dos à cooperativa deverão produzir entre 10 a 12 toneladas, o que significa que vão du-plicar a produção face a 2016. Rui Pinto ga-rante que se houvesse mais espargos verdes, mais se venderia. E dá o exemplo de uma encomenda de uma palete de espargos (800 quilos) que chegou da Holanda e à qual não foi possível dar resposta. “Este ano, toda a gente quer comprar espargos”, sublinha.Não faltará espaço para crescer. A proximi-dade com os grandes centros de consumo europeus é uma boa arma para combater a concorrência dos espargos oriundos do Pe-ru e do México, que não conseguem garantir a mesma frescura. Já a China, também forte produtora, exporta para a Europa espargos em conserva e processados. E no mercado nacional está quase tudo por fazer. Longe de ter um grande consumo, Portugal é ainda assim um importador, cifrando-se a conta em cerca de um milhão de euros por ano.

Expandir com sustentabilidadeO responsável quer ver mais produtores a investir nesta nova cultura na região. Con-tudo, essa expansão deve ter sempre em conta a vertente oferta/procura, alerta, no-meadamente para que haja boa remuneração ao produtor e não se caia em erros como já sucederam com outras culturas. Atualmente, os 15 produtores de espargos verdes têm um total de 22 hectares plantados e Rui Pinto as-segurou já para a próxima época encomendas de garras (as raízes) para mais três hectares. “Queremos um crescimento sustentado, que a remuneração ao produtor seja boa”, frisa.A Cooperativa Agrícola de Felgueiras quer também fazer alguns investimentos para melhorar o processo de embalamento pa-

Texto . Sónia Santos Pereira

Fotos . Ricardo Meireles

Espargos: mais houvesse, mais se venderia!A cultura de espargos verdes é a mais recente aposta da Cooperativa Agrícola de Felgueiras. Esta estratégia, iniciada em 2013, assenta em quatro linhas principais: ocupar com eficácia pequenas parcelas agrícolas (o minifúndio é característico da região); rentabilizar o investimento nas câmaras frigoríficas, utilizadas basicamente na conservação de kiwis; fugir à vaga das plantações de cogumelos e frutos vermelhos; e lançar no mercado um produto diferente, fresco, e com escoamento assegurado.

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ra comercialização. Segundo Rui Pinto, as áreas da lavagem e do corte dos espargos podem ser melhoradas. O responsável está a equacionar a compra de uma serra elétrica, de uma calibradora e também de uma pe-quena câmara frigorífica para agilizar todo o processo de embalamento. Investimentos que deverão ser concretizados em 2018.Neste momento [entrevista realizada no fi-nal do mês de março], a região está em plena colheita. São 12 semanas de apanha, que este ano tiveram início a 10 de março e que ter-minam em junho. Como salienta Rui Pinto, a 10 de março “já tínhamos espargos para comercialização e os espanhóis [grandes produtores] ainda não”. Esta antecipação, fruto do aumento das temperaturas nessa altura, criou “uma janela de oportunidade” para escoar estes hortícolas no mercado.

Colheita diáriaA cultura do espargo exige na época da co-lheita um trabalho intensivo. Todos os dias é necessário cortar os espargos prontos pa-ra comercialização. O produto deverá ter 25 centímetros de altura para estar pronto para o corte, que é manual. O espargo é cortado logo cedo pela manhã e transportado para a Cooperativa Agrícola de Felgueiras até às onze e meia/meio-dia. Nas instalações desta entidade é colocado no frio, para receber um choque térmico de 4 °C ao longo de duas ho-ras. Esta fase é essencial para travar o cres-cimento do espargo que, de outra forma, iria continuar a evoluir dada a quantidade de água que possui. O espargo pode ficar até seis dias no frigorífico sem perder frescura.O espargo é ainda lavado, cortado e emba-lado por funcionários da cooperativa, para que no dia seguinte esteja em locais tão dís-pares como o Mercado Abastecedor do Por-to, na Estela (de onde segue para Espanha), Paços de Ferreira, em restaurantes como o Ferrugem, em Famalicão, e nos hotéis Pes-

tana, no Porto, para além de outros pontos de venda assegurados por intermediários, como são exemplo os supermercados El Corte Inglés. De acordo com Rui Pinto, nes-ta altura, a cooperativa processa entre 200 a 300 molhos por dia, sendo que cada molho tem um peso de 330 gramas.

Remunerar bem o produtorA Cooperativa Agrícola de Felgueiras tem como premissa assegurar uma boa remu-neração ao produtor de espargos verdes. Na última campanha, a cooperativa adquiriu o quilo de espargos a um preço médio de 4,56 euros e, para a atual, Rui Pinto prevê manter o valor. Para o responsável, este “é um preço bom”, mas que exige planeamento. Um dos requisitos é não prolongar a campanha da colheita por mais de 12 semanas.As regiões espanholas de Granada, Badajoz e Madrid são grandes produtoras de espar-gos e uma das estratégias para vencer no mercado, como sucedeu agora, é conseguir antecipar a colheita para garantir bom pre-ço. A outra é terminar a colheita em junho, para que a planta descanse e acumule reser-vas. Como explica Rui Pinto, “com o corte,

a garra autoestimula-se e está sempre a pro-duzir. Quando se deixa de cortar, a planta canaliza a energia para a raiz, para a flor…” Este processo é determinante para a saúde da hortícola. E, no entretanto, os espanhóis vão colocando o seu produto no mercado e o preço, seguindo a linha da oferta e da procura, cai. “Não quero estar a pagar ao produtor 1,50 €/kg”, sublinha o diretor da Cooperativa Agrícola de Felgueiras.

Da plantação à colheitaA cultura de espargos verdes não tem mui-ta ciência. O único senão, poder-se-á dizer, é a necessidade de mão de obra intensiva durante a colheita. É uma boa escolha para minifúndios, já que é um produto rentável mesmo para quem possua terrenos peque-nos. Como conta Rui Pinto, “chegam às ve-zes produtores à cooperativa a perguntar o que podem fazer com meio hectare. É uma carga de lenha às costas!”.A Cooperativa Agrícola de Felgueiras está a comprar em Espanha duas variedades de garras certificadas: a Placosesp e a Darzi-la. Segundo Rui Pinto, são variedades que possuem garantia de sanidade e são comer-cializadas nas medidas standard (35 g) e top (75 g). A cooperativa também vende aos produtores garras biológicas.A grande maioria dos produtores adquire garras standard, já com um tratamento anti-fúngico, que a cooperativa vende a 40 cênti-mos/cada. Por hectare, a cooperativa enten-de que o ideal é plantar 26 mil garras, um investimento ligeiramente superior a 10 mil euros. Nas contas de Rui Pinto, é possível retirar seis toneladas de espargos por hecta-re ao fim de três anos. O responsável adian-ta ainda que o investimento do agricultor ronda os 15 mil euros por hectare – compra de garras, adubo e preparação do terreno.A plantação deve realizar-se em março/ /abril, preferencialmente em solos ricos em

“Na última campanha, a cooperativa adquiriu o quilo de espargos a um preço médio de 4,56 euros e, para a atual, Rui Pinto prevê manter o valor. Para o responsável, este 'é um preço bom', mas que exige planeamento. Um dos requisitos é não prolongar a campanha da colheita por mais de 12 semanas.”

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matéria orgânica e totalmente limpos. A garra coloca-se a 25 centímetros de profun-didade, numa vala com 50 centímetros – que é tapada –, e plantam-se as raízes em linha. O compasso entre linhas deverá ter 1,5 m. A Cooperativa Agrícola de Felgueiras aconse-lha um período de três anos para o desen-volvimento da hortícola, antes da primeira colheita. Isto, para permitir o crescimento da garra e assegurar uma produção que pode chegar aos 15 anos. Nesta fase inicial, o produ-tor mantém o terreno limpo, livre de lesmas e caracóis, e deixa a planta crescer e realizar todo o ciclo. Curiosamente, houve épocas em que esta planta foi considerada ornamental.Nos primeiros dois anos, a cultura de espar-gos carece de muita água, porque a planta está a adaptar-se, mas posteriormente as necessidades de rega diminuem muito. Co-mo adianta Rui Pinto, a rega passa a fazer--se duas a três vezes em épocas críticas, até porque se a hortícola tiver muita água apodrece. A partir do quarto ano, a planta já vai buscar ao solo a humidade que necessi-

ta. Três anos volvidos da plantação, o terre-no entra em velocidade de cruzeiro, com o aproveitamento a 100% da produção.Como é uma cultura nova na região não há a registar doenças relevantes. A principal é o alfinete (até porque grande parte destes terrenos foram campos de milho). Rui Pinto aconselha os produtores a utilizarem um in-seticida nas bordaduras do terreno e sublinha que só se aplica um químico na cultura, her-bicida. No final da campanha, o terreno deve-rá receber duas ou três toneladas de matéria orgânica e nutrientes como o fósforo, caso se-ja necessário, para compensar o que a planta perdeu na colheita. Em dezembro, é ‘cortada rasa’ e o terreno limpo e adubado, deixando em repouso por um período de 90 dias.

A voz de quem produzAntónio Ferreira foi um dos produtores que, em 2013, aceitou o desafio da Cooperativa Agrícola de Felgueiras e investiu na planta-ção de espargos verdes. Este agricultor de Felgueiras tem o seu negócio centrado na produção de legumes (couves, grelos, alfa-ces, tomates, pepinos, feijão-verde) e resol-veu diversificar e ter mais um produto para escoar, quer para a cooperativa quer para os seus clientes de retalho tradicionais. Para já, explora uma pequena produção de 300 m2, mas quer aumentar já este ano.Na sua opinião, a cultura do espargo é “muito fácil. De finais de fevereiro a junho colhe-se e depois deixa-se ficar até dezem-bro”, altura em que é necessário cortar rasa a planta. Os custos são também pequenos, dada a pouca utilização de fertilizantes e inseticidas, diz à VIDA RURAL. A mão de obra assenta muito na família, sendo que

duas pessoas na época da campanha têm sido suficientes. A cultura de espargo tem essa característica, adaptar-se muito bem a minifúndios e a uma agricultura de base fa-miliar. Quanto à utilização de água, no ano passado “pus o aspersor a funcionar nem meia dúzia de vezes”, garante.António Ferreira admite que o preço que re-cebe por quilo da cooperativa “é muito bom”, para além de que comercializa diretamente aos supermercados da região, seus clientes. Este produtor fatura cerca 20 a 30 mil euros por ano e os espargos permitem-lhe ter mais um produto para vender e com valor.Albino Sérgio, produtor de vinho verde e kiwis, na Lixa, começou com meio hectare e hoje já explora dois hectares. Por estes dias, a apanha é árdua. O senhor Veloso, empregado nesta propriedade, é uma das pessoas que co-lhe diariamente os espargos, que já atingiram a altura certa (25 cm). Quando a temperatu-ra está ideal (20 °C de dia e 10 °C de noite), os espargos podem crescer 12 cm no período noturno. Quase que se podia ver. “É um tra-balho de todos os dias”, diz o senhor Veloso. Já Rui Pinto realça que na campanha pode ser necessário o trabalho de três pessoas por hectare, e é isso que encarece o projeto.Para o arranque da cultura de espargos na região, Rui Pinto desafiou seis produtores. O responsável queria “pessoas que acredi-tassem” na cooperativa, que soubessem que “não íamos vender gato por lebre”. Fernan-do Guimarães começou com um hectare em 2013 e, entretanto, tem já outra pequena plantação, ainda em fase de desenvolvimen-to (tem dois anos). Mas este agricultor está confiante. Por estes dias, prepara mais um terreno para plantar novas garras.

A COOPERATIVA

A comemorar 60 anos, a Cooperativa Agrícola de Felgueiras ambiciona tam-bém ter um papel no futuro da produção e comercialização do espargo em Portugal e na Europa. Com 4600 associados, a ins-tituição tem no vinho verde o seu princi-pal negócio. São mais de mil viticultores a vender as suas uvas à cooperativa, que, através da sua associada Vercoope, pro-duz uma média anual de cinco milhões de litros de vinho verde e o comercializa.A cultura do kiwi tem também forte ex-pressão junto dos associados. Felgueiras é o concelho com a maior área de plan-tação de kiwis do país, totalizando 250 hectares, da responsabilidade de 100 pro-dutores. A plantação começou há 35 anos no concelho e hoje a produção ascende a mil toneladas por exercício, 90% com destino ao mercado espanhol – o segun-do país com maior consumo per capita do mundo de kiwi, só ultrapassado pelo Japão. E prepara-se já a plantação de mais quatro hectares. Na sede da cooperativa de Felgueiras estão instaladas câmaras frigoríficas com capacidade para 1600 t de kiwis. Todas as plantações estão cer-tificadas com GlobalGAP.A Cooperativa Agrícola de Felgueiras é responsável por uma faturação da ordem dos nove milhões de euros anuais, com o vinho a valer quatro milhões. A platafor-ma de venda da instituição garante ou-tros quatro milhões. Por sua vez, o kiwi vale perto de meio milhão de euros e o remanescente da receita é obtido através da prestação de serviços. A cooperativa é gerida por cinco administradores e pos-sui 35 funcionários.

António Ferreira aceitou o desafio da cooperativa para produzir espargos

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CULTURAS

Em Vizela, há um produtor associado que in-vestiu na plantação de espargos biológicos, para o qual a cooperativa tem um mercado específico. Por sua vez, Albino Sérgio está a preparar-se para obter a certificação Glo-balGAP para a cultura dos espargos. Toda a sua produção de kiwis já tem esta certifica-ção, importante para quem quer exportar, já que é reconhecida a nível mundial. Rui Pinto reconhece que esse é o caminho, que o mer-cado europeu exige esta certificação, mas vê dificuldades para a maioria dos agricultores devido aos custos do processo. O GlobalGAP exige um conjunto de regras nas áreas da ges-tão, saúde, segurança e higiene no trabalho, gestão de resíduos e poluentes, entre outras.Estes projetos de pequena dimensão podem receber apoios comunitários. Como adian-ta Rui Pinto, um investimento até 40 mil euros tem um apoio de 50%. A compra das garras, de matéria orgânica e fertilizantes, a preparação do terreno, a rega, uma moto-cultivadora são tudo custos elegíveis para financiamento. A Cooperativa Agrícola de Felgueiras é, também nesta área, um par-ceiro para os agricultores, dispondo de um gabinete que elabora as candidaturas e os pedidos de pagamento.

Mercado com boa procuraA produção de espargos verdes dos atuais 15 produtores associados da Cooperativa Agrí-cola de Felgueiras deverá chegar este ano às 10/12 toneladas. Quando começaram as pri-meiras colheitas, em 2015, foram recolhidas duas toneladas destes hortícolas. O número de produções em fase de colheita foi aumen-tando e já no ano passado retiraram-se seis to-neladas, com um total de nove produtores no ativo. O mercado respondeu eficazmente ao escoamento do produto. “No ano passado, es-coámos tudo e mais houvesse”, diz Rui Pinto.Espanha, grande produtor e consumidor de espargos verdes, absorve já 70% da produ-ção dos associados da Cooperativa Agrícola de Felgueiras. Os molhos de espargos saem das instalações cooperativas embalados sob a marca Isla Bonita. Os restantes 30% des-tinam-se ao mercado nacional, quer com a

marca Terras de Felgueiras, marca própria da cooperativa, quer sob marcas de inter-mediários. Rui Pinto quer potenciar a marca própria, melhorar a imagem, pois ainda não conseguiu conquistar mercado, e lançar-se em novos desafios e mercados. Atualmente, os espargos sob marca Terras de Felgueiras encontram-se à venda no Mercado Abaste-cedor do Porto, em pequenos supermerca-dos da região e na loja da cooperativa.Os espargos são comercializados em três formatos diferentes, de acordo com o calibre. Como explica Rui Pinto, os molhos são de ca-libre XL (acima de 16 mm), muito apreciados pelos espanhóis, L (entre 10 e 16 mm), requisi-tados pelo mercado nacional, e fino (inferior a 10 mm), que os ingleses muito apreciam e que se assemelham ao espargo selvagem.No mundo dos produtos normalizados, há sempre desperdícios, mas que podem cons-tituir uma oportunidade. São os espargos que cresceram defeituosos e as sobras do corte para normalizar o produto nos 25 cm.

Rui Pinto vê nestes espargos valor econó-mico e quer avançar com novos projetos já no próximo ano. Como refere, “o mercado inglês é doido por cabeças e nos espargos defeituosos é possível aproveitar as cabe-ças, embala-se em vácuo e exporta-se”. O mercado inglês paga 12 €/kg, avança. O res-ponsável adianta ainda que os 3 cm de caule que não são aproveitados no corte podem ser congelados e vendidos a empresas de ca-tering como base para sopas.

Promover o consumoO espargo, que pode ser encontrado de cor verde ou branca (esta espécie não apanha sol), não teve ainda grande aceitação em Portugal devido ao seu preço, um pouco elevado. É ainda considerado um produto de luxo. Já na Europa Central é muito utilizado na gastronomia. Segundo Rui Pinto, promo-ver o consumo de espargos no país é outro dos desafios.A cooperativa já realiza ações de promoção que vão desde uma receita inserida no mo-lho de espargos sob a marca Terras de Fel-gueiras, a ações de formação e showcooking e, em conjunto com a autarquia, introduziu o espargo na edição gastronómica local “Sa-bores In”. Aliás, já está agendada para 6 de maio uma ação para conhecer e degustar es-pargos, promovida na Cooperativa Agrícola de Felgueiras. O programa, que tem um cus-to de 10€, inicia-se com uma formação sobre a cultura de espargos, seguindo-se uma vi-sita a uma produção local para, no final, os participantes assistirem a uma demonstra-ção culinária com base em espargos e pro-varem essas especialidades, acompanhadas do vinho verde da região.Já todos sabem o valor do consumo de legu-mes e hortícolas na saúde, mas nem todos saberão os benefícios de comer espargos. O consumo deste hortícola, que possui ácido fólico, permite combater defeitos congéni-tos nos fetos e é essencial para um sistema cardiovascular saudável. O espargo é tam-bém um diurético natural e um bom alimen-to para a flora intestinal. De sabor suave, es-te hortícola é pouco calórico.

A CULTURA DE ESPARGOS ASSOCIADA À COOPERATIVA AGRÍCOLA DE FELGUEIRAS

Produtores: 15.Área de plantação: 22 hectares.Plantação: Entre fevereiro/março/abril. Ideal-mente em terrenos com pH 5-6 e que não estejam encharcados. Compassos de 1,5 m ≈ 0,25 m; garra a 25 cm de profundidade numa vala. Estrume no fundo e, caso necessário, fósforo e potássio.Produtividade em velocidade de cruzeiro: 6 t/ha.Escoamento: Espanha absorve 70% da produção

e o restante é adquirido pelo mercado nacional.Preço: 4,56€ é quanto a cooperativa tem pago em média por quilo.Produção anual: 10 a 12 t (previsão para a atual campanha).Necessidades hídricas: Água nos primeiros três anos, depois o sistema radicular desenvolve--se e as necessidades são menores.Problemas: O encharcamento, o alfinete, a ros-

ca e o vento.Mão de obra: Exigência de mão de obra na apa-nha, preparação e controlo de infestantes. Cerca de três pessoas por hectare entre mar-ço e junho. Depois de instalada a cultura, os custos de exploração são mínimos.Colheita: Espargos com mais de 25 cm, direitos, sem sujidades ou terra, coroa fechada, sem defeitos e com algum calibre.

Rui Pinto, diretor da Cooperativa Agrícola de Felgueiras

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A fenologiaA história da fenologia é muito antiga tendo provavelmente surgido entre as sociedades agrícolas primitivas (Puppi, 2007). Contu-do, foi Charles François Antoine Morren (1807-1858), um botânico belga, que em 1853 propôs pela primeira vez o termo “fenolo-gia”, descrevendo-o como a arte de obser-var as fases do ciclo de vida ou atividades de plantas e animais na sua ocorrência tempo-ral ao longo do ano (Lieth, 1974). Atualmen-te, a noção de fenologia engloba o estudo da resposta dos eventos biológicos recorrentes dos seres vivos e as suas relações com os fa-tores bióticos e abióticos (Fig. 1).Na compreensão do comportamento fe-nológico das plantas, o conhecimento das condições de crescimento e desenvolvi-mento, é um complemento a considerar. O comportamento fenológico da planta é ex-presso de acordo com escalas fenológicas sequenciais, mais ou menos detalhadas, que descrevem claramente as diferentes fases de desenvolvimento do ciclo fenológico, os estádios fenológicos. Na impossibilida-de de se fazerem registos fenológicos mais detalhados, os estádios mais relevantes a registar são: o abrolhamento, a floração, a frutificação, surtos de crescimento ao longo do ano, mudanças de cor e quedas de folha (Vilhar et al., 2013).No acompanhamento fenológico são utili-zados vários métodos de observação fenoló-gica que podem ser divididos entre métodos diretos (observação in loco) e indiretos (re-motamente através de aquisição de imagens

por satélites ou câmaras). Num esforço de se reunir e partilhar informação sobre a evolu-ção dos ciclos fenológicos especialmente re-lacionada com as alterações climáticas, têm vindo a surgir redes fenológicas nacionais e internacionais como a EPN (European Phe-nology Network).A fenologia das plantas é um instrumento que devido às suas características, sem re-curso a grande investimento, produz uma informação que deve ser interpretada como uma ponte de comunicação entre as plantas e o Homem permitindo uma deteção preco-ce de mudanças na biosfera.

A fenologia do sobreiroO sobreiro (Quercus suber L.), espécie do-minante dos montados na Península Ibéri-ca, é uma espécie que apresenta uma grande variabilidade em quase todos os parâmetros fenológicos ao nível da árvore, entre árvore numa parcela e entre populações. Contu-do, pode-se considerar, de forma geral, que o comportamento fenológico do sobreiro apresenta as seguintes características:• O abrolhamento dá-se, geralmente, entre

os meses de março e abril, dependendo das condições edafoclimáticas do local. Está sobretudo dependente das tempera-turas atmosféricas que ocorreram antes

do abrolhamento e nunca abrolha em dias com fotoperíodo inferior a 13 horas (Pinto et al., 2011).

• O crescimento vegetativo (alongamento dos ramos e produção de folhas) está re-lacionado com a temperatura e a precipi-tação acumulada antes do abrolhamento. Embora possa haver uma forte componen-te genética, existe por vezes uma correla-ção positiva entre a dimensão do ramo e o número de folhas, podendo haver bene-fícios no crescimento quando se reúnem condições favoráveis à maior absorção de nutrientes (Pinto et al., 2011).

• As folhas geralmente senescem no ano seguinte, na fase do abrolhamento ou um pouco mais tarde no ciclo fenológico (Oli-veira et al., 1994).

O sobreiro é uma espécie monoica, em que as flores masculinas e femininas se encon-tram separadas na árvore. As inflorescên-cias masculinas (amentilhos) emergem sozinhas ou em grupo, aquando o abrolha-mento. As flores femininas estão agrupa-das em curtas espigas, surgindo mais tarde nas axilas das novas folhas. Em Portugal, a época principal de floração inicia-se, nor-malmente, em abril/maio, em regiões do centro sul e sul do país podendo estender-

Teresa Valdiviesso . INIAV, I.P.

Francisco Rosado da Luz . Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa

A fenologia do sobreiroO comportamento fenológico do sobreiro ao longo do tempo espelha a sua expressão ao meio envolvente e às práticas de gestão do montado. Conhecer a fenologia do sobreiro e saber interpretá-la constitui, por isso, uma mais-valia para os produto-res de cortiça.

Figura 1 – Esquema das interações fenológicas

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DOSSIER TÉCNICO

-se até junho/julho em algumas regiões no norte do país, ocorrendo assim distâncias fenológicas de mais de dois meses (Varela, 1994; Varela & Valdiviesso, 1996). A fertili-zação ocorre entre junho e julho, variando de local para local, e a maturação dos fru-

tos ocorre num período alargado, podendo estender-se desde outubro até dezembro (Rosado da Luz, 2015).Através de observações fenológicas e da aplicação de escalas de desenvolvimento fenológico podem construir-se gráficos que

ajudam à compreensão e enquadramento temporal dos diferentes eventos fenológicos do sobreiro (Fig. 2).Entre outras utilizações, a fenologia tem si-do usada como ferramenta, no caso do so-breiro, em diversos temas. Desses, destaca-mos aqui os seguintes:• Alterações climáticas (fenologia vegeta-

tiva);• Suscetibilidade a pragas e doenças;• Previsão de anos de safra para provisio-

namento de sementes;• Problemas de endogamia;• Capacidade e oportunidade de hibridação

com outros Quercus spp;• Apoio ao melhoramento genético;• Previsão da época de libertação de pólen

(alergologia);• Avaliação da eficiência da aplicação de

fertilizantes em sobreiros.

Exemplo de aplicação da fenologia no sobreiroUma das áreas-referência a nível nacional com uma elevada taxa de declínio é a região de Grândola (Fig. 3). Neste sentido foi reuni-da uma equipa multidisciplinar ao abrigo do protocolo IFAP/AFN/CAP/INRB “Aplicação

Figura 2 – Enquadramento temporal-tipo dos diferentes eventos fenológicos do sobreiro numa parcela na região de Setúbal. Cada barra corresponde a um estádio fenológico com duração equivalente ao tamanho da barra. Na parte de cima encontra-se esquematizado o ciclo fenológico vegetativo (barras verde-escuro) e na parte de baixo o ciclo fenológico reprodutivo (barras azuis – floração masculina; barras amarelas – floração feminina; barras castanhas – frutificação)

PUB

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de Técnicas para a Recuperação do Montado de Sobro – Experimentação e Demonstração”.As observações fenológicas em sobreiro fo-ram realizadas em três parcelas na região de Grândola – Água Ferrenha, Barradas da Ser-ra e Mostardeira (2010-2012). Paralelamente a este estudo e à margem do protocolo, uma parcela na Península de Setúbal com ca-racterísticas ideais na produção de cortiça, Quinta da Serra (Azeitão), foi acompanhada fenologicamente no mesmo período, tendo sido acrescentada pela ausência de declínio, para termo de comparação. Em cada parcela foram marcadas 30 árvores (Fig. 4), sendo as observações realizadas quinzenalmente entre novembro e fevereiro e semanalmente durante o resto do ano. A fenologia foliar foi utilizada como ferramenta para a avaliação global das árvores.O contributo da fenologia permitiu a obten-ção de resultados interessantes. Na região de Grândola, a parcela Água Ferrenha, que apresentava o maior índice de mortalidade, concentrou o abrolhamento num período curto e todo o processo de desenvolvimento vegetativo foi mais rápido, com o atempa-mento das folhas 1 mês antes da parcela Mos-tardeira, a parcela em Grândola com menos declínio. Em oposição à primeira, esta últi-ma registou um processo mais progressivo no abrolhamento e um desenvolvimento mais lento da nova folhagem, apresentan-do sucessivos surtos de crescimento até ao final do verão. A plasticidade observada no abrolhamento e desenvolvimento fenológico da parcela Mostardeira conferiu-lhe maior vigor e menor suscetibilidade a eventuais fa-tores abióticos adversos, assim como possí-veis ataques de pragas e doenças. Na Quinta da Serra, em Azeitão, a tendência observada nas parcelas de Grândola exponenciou-se, tendo sido registado um hábito de cres-cimento subcontínuo e um abrolhamento mais tardio e heterogéneo entre árvores, em comparação com as parcelas de Grândola. A ausência do fator stressante do declínio terá, possivelmente, contribuído neste comporta-mento, para além das inerentes diferenças

climáticas. Uma vez que o abrolhamento é difícil de quantificar em árvores adultas de copas por vezes muito altas e densas, optou--se por quantificar a abundância do abrolha-mento num evento fenológico subsequente denominado “orelha de rato” (Fig. 5).Com o recurso à fenologia e a classes de desfolha (Cadahia et al., 1991) foram esta-belecidas classes de vigor para avaliação do mesmo nas árvores das diferentes parcelas. Posteriormente, estes valores foram relacio-nados com a profundidade útil do solo, ten-do sido revelada uma relação proporcional entre os dois fatores (Fig. 6).Observou-se ainda um comportamento fe-nológico diferencial entre as árvores afe-tadas pelo declínio e árvores sãs. Os novos crescimentos de árvores em declínio sur-gem com frequência em gomos epicórmi-cos (ladrões), sinal do seu potencial estado de enfraquecimento. Este tipo de rebenta-ção, em estratos mais interiores da copa e

em madeira mais antiga, leva a um esforço adicional, com consequências adversas e cumulativas no declínio da árvore.Sendo o declínio, hoje em dia, um dos pro-blemas de maior importância nos montados portugueses, e com uma repercussão direta na quebra de produção de cortiça de qua-lidade, torna-se fundamental a utilização de uma ferramenta abrangente de visão in-tegrada que avalie o estado fisiológico (vi-gor, sanidade, etc.) dos nossos montados. A fenologia serviu então, neste caso apresen-tado, como uma ferramenta para avaliar a “saúde” do montado.O comportamento fenológico ao longo do tempo espelha a expressão do sobreiro ao meio envolvente e às práticas de gestão do montado, que para os produtores será uma mais-valia entender.

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Figura 5 – Expressão do estádio fenológico vegetativo “orelha de rato” em quatro montados de sobro ao longo das semanas do ano 2012. As três primeiras parcelas encontram-se na região de Grândola e a última na região de Setúbal

Figura 4 – Exemplo de marcação para acompanhamento fenológico da árvore 20 na parcela Mostardeira, Grândola (Mt 20). O ano de descortiçamento (6) também se encontra assinalado

Figura 3 – Sobreiros em parcelas contrastantes na região de Grândola. À esquerda: árvore em declínio na parcela Água Ferrenha. À direita: árvore sem sintomas de declínio na parcela Mostardeira.

Figura 6 – Classes de vigor e profundidade útil do solo em três parcelas na região de Grândola (Água Ferrenha, Barradas da Serra e Mostardeira) e uma parcela na região de Setúbal (Quinta da Serra) nos anos 2011 e 2012

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O sobreiro representa a segunda espécie dominante da floresta portuguesa, ocupan-do em área cerca de 737 000 ha, com uma contribuição muito relevante para a econo-mia através da produção e transformação da cortiça. Portugal destaca-se como líder mundial do setor da cortiça, com uma mé-dia de cerca de 55% da produção mundial (cerca de 100 mil toneladas anuais), cerca de 60% do valor mundial na transforma-ção e também com mais de 900 milhões de euros de exportação anual (ICNF, 2013; APCOR, 2016), o que, por si só, explica a razão do interesse que esta espécie nos merece. Atendendo a este lugar de relevo que o sobreiro detém e à importância eco-nómica da cortiça, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) tem coordenado vários projetos de investi-gação, sempre convergentes no sentido de aprofundar e contribuir com conhecimento sobre a genética da espécie. Foram alcan-çadas várias metas importantes e adqui-rido conhecimento fundamental e básico, nomeadamente no âmbito da identificação da diversidade genética e da obtenção de sequências genómicas, com o objetivo de identificar marcadores moleculares que possam ser utilizados na avaliação precoce da qualidade do tecido suberoso e promover uma seleção juvenil e atempada das árvores boas produtoras.Em 2009, a Fundação para a Ciência e Tec-nologia (FCT) financiou uma iniciativa a nível nacional, que ficou conhecida como o “Consórcio de ESTs de Sobreiro” e que in-cidiu na produção e caracterização de ESTs (Expressed Sequence Tags – Sequências Expressas), de diferentes tecidos e órgãos, em diferentes estádios de desenvolvimen-to e diferentes condições fisiológicas, para que se conseguisse obter o maior número de sequências. Esta abordagem, denomi-nada transcriptómica, permite identificar os genes expressos e inferir sobre os seus níveis de expressão, durante o desenvolvi-

mento ou em resposta a condições ambien-tais variadas. No âmbito deste Consórcio, foi criada uma plataforma bioinformática onde estão todos os resultados obtidos nos doze projetos envolvidos, que pode ser con-sultada no endereço www.corkoakdb.org e que constitui atualmente o maior recurso genómico disponível. Com base nesses re-sultados foi feita uma análise conjunta que constitui a primeira publicação do consór-cio (Pereira-Leal et al., 2014).

O projeto Sobreiro/0017 – Consórcio de ESTs de sobreiro focou-se na obtenção e identificação de sequências responsáveis pela produção e desenvolvimento da cortiçaPara a realização deste projeto foi selecio-nado o material vegetal da Mata Nacional do Vimeiro, localizada em Alcobaça. Neste campo experimental existem híbridos de Quercus cerris x suber e as suas descendên-cias, com cerca de 40 anos de idade e que apresentam diferentes graus de produção de cortiça (Figura 1). Estes híbridos consti-tuem o material vegetal de excelência para estudar os genes associados à formação da cortiça e, por isso, foram selecionados des-te povoamento dois tipos de árvores: com e sem produção de cortiça.Para a obtenção de ESTs é de fundamental

importância determinar quando e em que tecidos os genes de interesse são expressos. Por isso, é necessário considerar uma cor-reta e adequada seleção e conhecimento do período de colheita do material vegetal.No referido projeto, baseámo-nos no saber já existente sobre a formação da cortiça. A cortiça é um tecido vegetal que se forma pe-la divisão celular de um meristema secun-dário, denominado felogene ou felogénio ou câmbio subero-felodérmico. Este meris-tema divide-se para o exterior para formar células que se vão diferenciando como célu-las suberificadas e se vão acumulando pa-ra formar a cortiça ou súber, envolvendo o tronco, caules e ramos. O felogénio tem uma atividade sazonal que se desenvolve desde o início da primavera e se prolonga até ao iní-cio do outono, interrompendo-se no inverno (Graça e Pereira, 2004; Fortes et al., 2004; Silva et al., 2005).O felogénio forma-se, aproximadamente, ao fim de poucas semanas de desenvolvimento dos caules jovens de sobreiro e o processo de deposição da suberina, principal cons-tituinte químico da cortiça e da formação da parede celular suberificada, é rápido em caules jovens de sobreiro (Cardoso, 2011).Para a obtenção dos ESTs, e com base neste conhecimento da formação do felogénio e da cortiça, em caules jovens de sobreiro, das ár-vores selecionadas foram colhidos ramos do ano, em 2 períodos de crescimento, um no início da primavera (maio) e o outro no iní-cio do outono (setembro/outubro) (Figura 2).

Obtenção e identificação de genes relacionados com a produção e desenvolvimento da cortiçaAtendendo ao lugar de destaque que o sobreiro detém em Portugal e à importância económica da cortiça, o INIAV tem coordenado vários projetos de investigação, para aprofundar o conhecimento sobre a genética desta espécie, como contribu-to para a avaliação precoce da qualidade do tecido suberoso e seleção juvenil e atempada das árvores boas produtoras.

Filomena Nóbrega, Isabel Carrasquinho, Rita Costa . INIAV, I.P.

Ana Margarida Fortes . Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI), FCUL

Rita Teixeira . Instituto Superior de Agronomia (ISA)

Tânia Almeida, Sónia Gonçalves . Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL)

Figura 1 – Povoamento de híbridos Quercus cerris x suber com diferentes níveis de produção de cortiça (foto de Isabel Carrasquinho)

Figura 2 – Ramos do ano no início da primavera e no início do outono (fotos de Isabel Carrasquinho)

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DOSSIER TÉCNICO

Os ramos foram imediatamente congelados em azoto líquido e, posteriormente, conser-vados a -80 °C. Subsequentemente, o RNA total foi extraído, separadamente para cada amostra. Para a construção de bibliotecas de cDNA (conjunto de cópias de DNA que representam o conjunto de mRNAs), foram preparadas duas amostras compostas: a amostra 1 (Pool 1) com o RNA das árvores produtoras de cortiça e a amostra 2 (Pool 2) com o RNA das árvores sem produção de cortiça. Para se obter o maior número de ESTs, foram construídas duas bibliotecas normalizadas, para a deteção e identifica-ção de transcritos raros, e duas bibliotecas não normalizadas que permitem indicar quantitativamente os níveis de expressão dos transcritos, mas que não permitem a deteção de transcritos de baixa abundância.

ResultadosA abordagem transcriptómica desenvolvi-da neste projeto gerou um total de 1 975 404 sequências (reads). Para as bibliotecas nor-malizadas e para o Pool 1 (árvores com pro-dução de cortiça) obtiveram-se cerca de 211 milhões de pares de bases em cerca de 604 sequências com 350 bp de tamanho médio. Para o Pool 2 (árvores sem produção de cor-tiça) obtiveram-se cerca de 598 sequências

com tamanho médio de cerca de 340 bp (Tabela 1).Para as bibliotecas não normalizadas e para o Pool 1 (árvores com produção de cortiça) obtiveram-se cerca de 262 milhões de pares de bases em cerca de 675 reads com 389 bp de tamanho médio. Para o Pool 2 (árvores sem produção de cortiça) obtiveram-se cer-ca de 543 reads com tamanho médio de cer-ca de 352 bp (Tabela 2).A análise de expressão génica, que está em curso, possibilitará agora a identificação de genes e grupos funcionais de genes asso-ciados aos tecidos estudados neste projeto. Esses resultados poderão contribuir para o conhecimento de alguns mecanismos mole-culares envolvidos na formação da cortiça e os genes encontrados podem ser candidatos para estudos de marcadores a serem utiliza-dos na seleção precoce de árvores produto-ras de boa cortiça.

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A.; Gaspar, M.; Gonçalves, S.; Graça, J.; Horta, M.; Iná-

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Mendonça, D.; Miguel, A.; Miguel, C.; Morais-Cecílio,

L.; Neves, I.; Nóbrega, F.; Oliveira, M.; Oliveira, R.; Pais,

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Ramalho, J.; Ribeiro, A.; Ribeiro, T.; Rocheta, M.; Ro-

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TABELA 1 – SUMÁRIO DOS RESULTADOS

DA PIROSEQUENCIAÇÃO OBTIDOS

PARA AS BIBLIOTECAS NORMALIZADAS

Bibliotecas

normalizadasPool 1 Pool 2

N.º de sequências (reads) 604 414 598 094

N.º total de bases (Mbp) 211 616 383 203 136 849

Tamanho médio (bp) 350 340

TABELA 2 – SUMÁRIO DOS RESULTADOS

DA PIROSEQUENCIAÇÃO OBTIDOS

PARA AS BIBLIOTECAS NÃO NORMALIZADAS

Bibliotecas

não normalizadasPool 1 Pool 2

N.º de sequências (reads) 675 965 543 584

N.º total de bases (Mbp) 262 549 977 191 305 649

Tamanho médio (bp) 389 352

PU

B

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Os sobreiros ocupam com frequência so-los delgados e/ou com baixa capacidade de retenção de água, e estão sujeitos à eleva-da variabilidade sazonal e intra-anual da precipitação e à escassez de água no verão, características do nosso clima. Estas são condições propícias à ocorrência de défices hídricos. O impacto de períodos de seca nas árvores depende da sua intensidade, dura-ção, frequência, das características edafo-climáticas locais, da fase fenológica em que ocorrem, e da interação com outros tipos de stress.Para sobreviverem e crescerem em am-biente Mediterrânico, os sobreiros desen-volveram estratégias adaptativas que lhes permitem, dentro de certos limites, manter um balanço favorável entre a água perdida pelas folhas (ex. folhas pequenas e espes-sas, perdas de água reguladas pelos esto-mas, redução da área foliar em períodos críticos descartando as folhas) e a água captada pelas raízes (acesso a diferentes fontes de abastecimento através do enrai-zamento em profundidade e em extensão). No entanto, quando os limites de tolerância da espécie são ultrapassados pode ocorrer mortalidade. A manutenção de conforto hí-drico em períodos de seca permite também que os sobreiros consigam um balanço de carbono favorável (trade-off carbono-água via estomas).Na zona mais quente e seca do clima Me-diterrânico (Csa – classificação de Köppen--Geiger), que em Portugal corresponde à zona sul, a aridez está a aumentar (Spinoni et al., 2015), facto que poderá estar a con-tribuir para a redução da produtividade, para o aumento da mortalidade arbórea, e a condicionar a sustentabilidade do ecos-sistema montado de sobro. Neste contexto é fundamental adaptar a gestão florestal a estes condicionalismos, procurando mini-mizar riscos, otimizar o uso dos recursos,

promover a melhoria da produtividade e a manutenção dos serviços ecossistémicos. Isto implica, entre outros aspetos, um me-lhor conhecimento do funcionamento hí-drico dos sobreiros e da vegetação que lhes está associada nos montados, para melhor fundamentar as recomendações de gestão.Diversos trabalhos têm analisado as respos-tas da parte aérea dos sobreiros à seca. A resposta da componente subterrânea, raí-zes em interação com fatores físicos e bio-lógicos do solo, tem sido menos estudada. Canadell et al. (1996) verificaram que o enraizamento em profundidade tende a au-mentar com a aridez, sendo fundamental na adaptação das árvores em regiões áridas e semiáridas. A exploração de lençóis freáti-cos (reservatório mais eficiente para trans-ferência intersazonal e interanual de água do que o solo) tem sido também documen-tada em diferentes estudos (O’Grady et al., 2006; David et al., 2007, 2013; Barbeta et al., 2015; Yin et al., 2015).O recurso a métodos de injeção de ar e es-cavação mecânica, a técnicas inovadoras de medição dos fluxos de seiva em troncos (transpiração-uso de água) e raízes de so-breiros, e a isótopos estáveis (18O e deutério,

traçadores do movimento da água), associa-do à monitorização de variáveis ambientais (meteorológicas, água do solo e do lençol freático) e outras variáves fisiológicas, per-mitiu-nos conhecer: (1) os padrões de enraí-zamento – estrutura; (2) o funcionamento hídrico – estado hídrico dos sobreiros ao longo do ano e origem da água usada em cada período (solo não saturado e saturado) (David et al., 2004, 2007, 2013).

A estrutura das raízesOs padrões de enraizamento dos sobreiros dependem de características genéticas, das condições ambientais locais (climáticas, ti-po de solo, litologia), da idade e densidade das árvores, do tipo de vegetação do sobco-berto e da gestão praticada nos montados (ex: mobilizações de solo). Diferentes pa-drões de enraizamento podem resultar em diferentes tipos de funcionamento.Desde os primeiros estádios de germinação das bolotas é visível o rápido enraizamento em profundidade (Fig. 1) em plântulas de re-generação natural, o que facilita o acesso à água e nutrientes e permite alocar reservas.A instalação de parcelas experimentais em diferentes condições de clima, solo e hidro-

Teresa S. David, Clara A. Pinto . INIAV, I.P.

Nadezhda Nadezhdina . Institute of Forest Botany, Dendrology and Geobiocenology, Mendel University, Brno, República Checa

Jorge S. David . Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa

Estrutura e funcionamento das raízes em sobreiro: o uso de águaO conhecimento da estrutura e funcionamento das raízes é fun-damental para sustentar melhores práticas de gestão e antever algumas respostas dos sobreiros às alterações climáticas. Mo-bilizações de solo que danifiquem ou destruam as raízes podem desacoplar as árvores das fontes de abastecimento de água, induzindo artificialmente stress hídrico e comprometendo a sua sobrevivência.

Figura 1 – Desenvolvimento vertical da raiz de uma plântula de sobreiro de regeneração natural

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DOSSIER TÉCNICO

geologia, na região de Évora e na Compa-nhia das Lezírias, permitiu observar que:– Num leptosolo sobrejacente a gnaisse

fraturado da região de Évora, o sistema radicular apresentou um forte desenvol-vimento horizontal (Fig. 2a), excedendo largamente os limites de projeção das copas, com enxertos entre raízes da pró-pria árvore, o que permite maximizar a exploração de água e nutrientes. O en-raizamento em profundidade foi visível através de fraturas na rocha subjacente (Fig. 2b).

– Num cambissolo dístrico sobrejacente a granito consolidado da região de Évora, o acesso das raízes a água de profundidade foi mais dificultado pelas características da rocha.

– Num solo arenoso da Companhia das Le-zírias foi possível analisar o desenvolvi-mento do sistema radicular, em profundi-dade, até ao nível mínimo do lençol freá-tico no verão. O recurso a um sistema de injeção de ar ligado a um compressor, pa-ra exposição do sistema radicular super-ficial, e a posterior escavação mecânica,

permitiu observar um sistema radicular dimórfico, constituído por uma rede den-sa de raízes superficiais (Fig. 3a), ligadas a raízes de desenvolvimento vertical (profundantes) (Fig. 3b), e uma raiz prin-cipal ramificada, em profundidade, num conjunto de raízes pouco lenhificadas, filamentosas. Estas raízes, imersas du-rante parte do ano (lençol freático rela-tivamente superficial flutuando entre 1,5 e 4,5 m de profundidade no inverno e fim de verão, respetivamente), apresentam adaptações a condições de deficiência de oxigénio.

O funcionamento das raízesA monitorização dos fluxos de seiva nos troncos permitiu verificar que quando o solo superficial seca, se as raízes consegui-rem captar fontes de água subterrânea, os sobreiros podem continuar a transpirar e crescer no verão (diferentes surtos de cres-cimento vegetativo) (David et al., 2007, 2013; Pinto et al., 2011).Com base na análise da estrutura e fun-cionamento das raízes, na Companhia das Lezírias, foi possível estimar a contribuição relativa das fontes potenciais de água (solo

Figura 2 – a) Desenvolvimento horizontal das raízes excedendo os limites de projeção da copa; b) Penetração de raíz profundante por fractura de rocha

a) b)

PUB

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não saturado e saturado) para a transpira-ção das árvores, assim como a magnitude da redistribuição hidráulica – movimento de água através das raízes entre zonas de so-lo com potenciais de água distintos. No fim do verão (solo seco à superfície), as raízes redistribuíram água do solo profundo, satu-rado (mais húmido), para o solo superficial – elevação hidráulica (Hydraulic lift).Com base nas medições contínuas de flu-xo de seiva nas raízes, e num modelo ne-las baseado e validado pelas medições de fluxo de seiva nos troncos, foi possível si-mular o funcionamento das raízes ao longo do ano. Os resultados evidenciaram o uso preferencial de água do solo superficial du-rante a maior parte do ano (cerca de 70% em termos anuais) e de água subterrânea no verão (cerca de 80% do mês mais seco) (Fig. 4). O uso preferencial de água sub-terrânea no verão foi também confirma-do pela análise da composição isotópica em 18O e deutério da água do xilema de raminhos, água do solo e água do lençol freático. Apesar da reduzida magnitude do Hydraulic lift (6% da transpiração no mês mais seco), o seu impacto ecológico é rele-vante. Esta água, elevada para a superfície, é disponibilizada às raízes finas da própria árvore (maior longevidade das raízes), e às raízes da vegetação do sobcoberto, fa-

cilitando também a absorção de nutrientes do solo superficial e contribuindo para a manutenção das interações planta-planta (coexistência de espécies, estabelecimento de plântulas). O processo de redistribuição hidráulica constitui, pois, um importante serviço prestado pelas raízes dos sobreiros ao ecossistema.

Impacto na gestão O conhecimento da estrutura e funciona-mento das raízes é fundamental para sus-tentar melhores práticas de gestão e ante-ver algumas das respostas dos sobreiros às alterações climáticas. É importante ter presente que em ambiente Mediterrânico: (1) as restrições hídricas são a principal limitação à sobrevivência e produtividade das árvores; (2) é previsível um aumento da incidência de episódios de seca extrema, potenciadores de stress hídrico e mortali-dade; (3) as árvores em stress hídrico são mais vulneráveis ao ataque de pragas e doenças; (4) a competição pelos recursos disponíveis pode ser minimizada ajustan-do, por exemplo, a densidade das árvores e a densidade da vegetação do sobcoberto (competição); (5) as raízes dos sobreiros são fundamentais na adaptação à seca, procurando captar reservas de água sub-terrânea; (6) as mobilizações de solo, que

danifiquem ou destruam as raízes, podem desacoplá-las das fontes de abastecimento de água, induzindo, artificialmente, stress hídrico e comprometendo a sobrevivência das árvores.As intervenções ao nível da gestão devem ter em consideração as condições edafo-climáticas locais, as características adap-tativas dos sobreiros, as características da vegetação do sobcoberto e os cenários pre-visíveis das alterações climáticas. É funda-mental melhorar o conhecimento dos pro-cessos fisiológicos subjacentes à resposta das árvores à seca e a outros tipos de stress que, em campo, se conjugam.

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Figura 4 – a) Variação mensal da transpiração e da precipitação durante um ano em que o défice hídrico estival se prolongou até novembro (primeiros 3 meses dos gráficos); b) Contribuição relativa (%) da água do solo e da água do lençol freático para a transpiração mensal (forte dependência da água subterrânea nos meses mais secos), e contribuição do Hydraulic lift (HL) (adaptado de David et al., 2013)

a) b)

Figura 3 – a) Rede densa de raízes superficiais; b) Raízes profundantes partindo de raízes superficiais

a) b)

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Os montados de sobro e azinho são sistemas agrossilvopastoris que, para além do seu gran-de valor produtivo e rara beleza paisagística, são também caracterizados por níveis de bio-diversidade elevados, elemento que tem vindo a ser alvo de procura crescente por parte das populações.Contudo, sujeitos a inúmeras pressões nos últimos anos, de que se destacam as doenças, alterações climáticas, o abandono rural e a in-tensificação agrícola, bem como as más práti-cas de gestão que lhe estão associadas (p. ex. gradagens e podas excessivas), estes sistemas têm sofrido elevada degradação e perda da sua sustentabilidade. Como consequência, os montados têm visto a sua expressão reduzida em termos de densidade, área e rendimento, e a sua biodiversidade diminuída.

Os montados e a biodiversidadeOs montados ocorrem na Bacia Mediterrâni-ca, sendo mesmo considerados um dos ecos-sistemas mais ricos em biodiversidade do Oeste desta bacia (2), já por si designada um hotspot de biodiversidade(1) (10). Devido ao seu elevado valor biológico, estão ainda classifi-cados como habitats de interesse comunitário pela Diretiva Habitats (Dir 92/43/CEE). A sua biodiversidade está normalmente associada a uma matriz de habitats diferentes, com uma componente arbórea dominante, que inclui pastagens, áreas arbustivas e culturas de ce-reais, à qual se deverão acrescentar também os diferentes tipos de massas de água que ne-les ocorrem ou os atravessam.Com efeito, os corpos e linhas de água que po-demos encontrar nos montados são eles pró-prios dotados de uma fauna e flora ricas e par-ticulares, que muito poderão contribuir para elevar a biodiversidade de uma dada região. Ao integrarem ecossistemas tão valiosos como os montados, estas massas de água valorizam-

-nos ainda mais, servindo simultaneamente de suporte à diversa fauna que albergam ou que por eles passa nas suas rotas migratórias (caso das aves), através da alimentação, água e abri-go que lhe proporcionam.Os montados constituem, pois, um bem va-lioso, não só pelo seu valor económico mas também de conservação, pelo que as práticas de gestão que lhes estão associadas deverão sempre incluir a conservação e promoção da sua diversidade biológica. E, neste contexto, assumem particular relevância a conservação e proteção das massas de água que neles ocor-rem, em particular das de menores dimensões,

aspeto que tem sido recorrentemente negli-genciado na condução e exploração dos mon-tados e que assume maior significado face às inúmeras pressões a que os mesmos vêm sen-do submetidos, as quais acarretam consequên-cias nefastas para a sua biodiversidade, em ge-ral, e aquelas massas de água, em particular.

A biodiversidade das águas interioresAs “zonas húmidas” são dos ecossistemas mais ricos e produtivos da biosfera. Como tal, inúmera legislação internacional atesta a sua importância e visa proteger, direta ou indire-tamente estes ecossistemas. São exemplo as

M. Inês Portugal e Castro & Nuno Onofre INIAV, I.P.

Importância das massas de água em áreas de montado para a biodiversidadeDotados de elevada riqueza faunística e florística, os montados têm visto a sua produção e biodiversidade afetadas pelas inúme-ras pressões a que vêm sendo submetidos. As massas de água que neles ocorrem também sofrem as consequências destes condicionalismos, ficando assim impedidas de dar o seu relevan-te contributo para a diversidade biológica dos montados.

TABELA 1 – TIPOLOGIA DAS MASSAS DE ÁGUA QUE SE PODERÃO ENCONTRAR EM MONTADO

Tipo de massa de água Definição

LagosMassas de água com área 2 ha (9), em geral permanentes. Podem ser naturais

ou criadas artificialmente. Incluem as albufeiras e açudes para rega

Lagoas

Massas de água com uma área de 1 m2 a 2 ha, podendo ser permanentes (Fig. 1) ou sazonais e naturais ou criadas por intervenção humana (ver 1, 4 cit in 11).

Incluem os charcos temporários* (Fig. 2) e permanentes, pequenos açudes para bebedouro de animais (Fig. 3), brejos e pegos

*Incluem os charcos temporários mediterrânicos (Fig. 2), que são charcos temporários típicos das regiões mediterrânicas, “muito pouco profundos, isolados de massas de água

permanentes, sujeitos a um ciclo periódico de inundação e de seca, e que possuem uma flora e fauna características e adaptadas a esta alternância de fases” (12). Apresentam ainda dimensões reduzidas, ocorrem em substratos impermeáveis, a profundidade da água

é usualmente 40 cm e o período de inundação não ultrapassa em geral os 5 meses (3)

ValasCanais artificiais, criados fundamentalmente com fins agrícolas e que geralmente i) possuem

fisiografia plana linear, ii) seguem os limites lineares do terreno, curvando frequentemente em ângulos retos e iii) apresentam pouca relação com a forma natural da paisagem (13)

Ribeiras

Massas de água corrente de pequenas dimensões, essencialmente de origem natural. Diferem das valas por i) terem geralmente fisiografia plana sinuosa, ii) não seguirem os limites lineares

do terreno ou, se seguirem, precederem a existência desses limites, e iii) mostrarem relação com a forma natural da paisagem (13). Em regra, deixam de ter caudal corrente no estio

Rios Massas de água lóticas de maiores dimensões, essencialmente de origem natural (13)

Figura 1 – Flamingos a alimentarem-se numa lagoa de água permanente (retirado de DIARIO AMATE)

(1) Hotspots de biodiversidade são áreas muito ricas em biodiversida-de e, simultaneamente, ameaçadas. Ou seja, são áreas com grande riqueza de diversidade biológica (vegetal ou animal) própria da região, a qual se encontra sujeita a um alto grau de destruição (75% ou mais).

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DOSSIER TÉCNICO

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Convenções de Ramsar, de Berna e de Bona, as Diretivas Habitats e Aves e a Diretiva Qua-dro da Água.Porém, quando se trata de proteção e gestão de massas de água, a atenção normalmente centra-se nas de maiores dimensões, descu-rando o papel fundamental desempenhado pelas de menores dimensões no equilíbrio da paisagem e na biodiversidade local e regio-nal. Com efeito, o baixo valor económico dos pequenos corpos de água levou a que até há pouco tempo se tenha menosprezado a sua biodiversidade potencial, com a presunção de se estar em presença de versões inferiores dos seus homólogos de maiores dimensões (5). Contudo, testemunhos recentes têm mostrado que as pequenas massas de água podem con-tribuir significativamente para a biodiversi-dade aquática das paisagens, quer em termos de riqueza de espécies, quer pela presença de espécies raras e/ou de espécies únicas (ver 1,

5, 6, 13).Os diferentes tipos de massas de água que po-demos encontrar nos montados descrevem-se na Tabela 1. Estudos realizados em diferentes tipos de

massas de água dulciaquícolas inseridas em áreas agrícolas mostram que todos contri-buem de forma significativa para a biodiversi-dade de uma dada região, mas cada um supor-ta números diferentes de espécies, espécies ou combinações não encontradas nos outros ha-bitats e quantidades distintas de espécies ra-ras (5, 6, 13). Assim, no que respeita à riqueza de espécies (medida como o número de espécies de plantas aquáticas e de macroinvertebrados aquáticos ou de diferentes taxa destes grupos presentes), o padrão geral observado nestes estudos foi sempre o mesmo, consistindo no seguinte:

As lagoas também se destacaram por supor-tar consistentemente, tanto local como regio-nalmente, maior número de espécies raras a nível nacional (5, 6, 13) e de espécies não pre-

Ao nível local (diversidade alfa)

Rios > Lagoas > Ribeiras > Valas (6, 13)

Ao nível regional (diversidade gama)

Lagoas > Rios > Ribeiras > Valas (13)

Lagoas + Lagos > Rios + Ribeiras > Valas (6)

Lagoas > Rios > Lagos > Ribeiras > Valas (5)

sentes nos outros tipos de habitat (espécies únicas) (6, 13).Podemos assim concluir que, embora a gestão e manutenção dos diversos tipos de massas de água encontrados valorize significativamente uma dada paisagem e devam ser consideradas no seu conjunto, as lagoas podem ser particu-larmente importantes para a biodiversidade de uma dada região (1, 5, 6, 13). Têm ainda a seu favor o facto de exigirem menores custos de manutenção da sua qualidade e menores es-forços de gestão associados, por possuírem áreas de drenagem substancialmente mais pequenas do que os outros tipos de massas de água (5). A sua inclusão nas medidas de prote-ção da biodiversidade aquática proporcionará, deste modo, boas oportunidades de melhorar a biodiversidade a nível regional (13). Por outro lado, permitirá a criação de “bolsas” de eleva-da biodiversidade em paisagens alteradas pelo Homem e tornará a proteção da biodiversi-dade aquática mais eficaz e economicamente mais eficiente (5).Das diferentes massas de água que podemos encontrar nos montados assumem particular relevância os charcos temporários mediterrâ-nicos (CTM), pela diversidade biológica que os caracteriza, e ainda os pequenos e médios açudes (PMA), coincidindo amplamente a área de distribuição de ambos com a área de distribuição principal dos montados.

Os CTM e a biodiversidade dos montadosOs CTM (Fig. 2) estão incluídos na designação genérica de lagoas (Tabela 1). Particularmen-te ricos em biodiversidade, o seu valor único é devido às comunidades próprias de plantas e à grande quantidade de espécies em risco que abrigam (12). São considerados um habi-tat prioritário pelo Anexo I da Directiva Ha-bitats. Albergam ainda espécies só existentes na Península Ibérica(2) e outras de distribui-ção restrita em Portugal(3). Servem de refúgio e alimentação a inúmeras espécies de aves migradoras e outras espécies de fauna carac-terísticas dos montados. São também habitat de postura preferido de diversos anfíbios, que neles encontram a segurança proporcionada pela ausência potencial de predadores comuns noutros habitats aquáticos (p. ex. peixes), as-peto particularmente importante dada a re-gressão global substancial que as populações de anfíbios vêm sofrendo nas últimas décadas (8). Os charcos temporários têm ainda um papel ativo no sequestro de carbono e conse-quente mitigação dos efeitos das mudanças climáticas a nível global.

Figura 2 – Charco temporário mediterrâneo (foto de V. Sancho. Càdec, S.L.)

(2) Por exemplo, Marsilea batardae e Branchipus cortesi.(3) Por exemplo, Crassula vaillantii e Eryngium galiodes.

Figura 3 – Açude para abeberamento de gado (retirado de http://www.luizberto.com)

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Não obstante o seu valor, os CTM têm sofri-do clara regressão nos últimos anos (3, 12), em consequência das alterações entretanto veri-ficadas no uso do território. E isto reflete-se claramente no caso dos montados, que devido aos condicionalismos socioeconómicos têm sido, em alguns casos, inadequadamente geri-dos ou até abandonados, com as consequentes perdas de biodiversidade, em geral, e de char-cos temporários, em particular, em resultado da deterioração destes, aplanamento dos solos e conversão em charcos permanentes.

Os PMA para abeberamento de gado e a biodiversidade dos montadosAté há pouco mais de 3 décadas, nas paisagens quentes e secas, como as de montado, as fontes de água para o gado e a fauna selvagem restrin-giam-se aos cursos de água – que no caso das ribeiras, no verão, deixam de correr e se resu-mem a conjuntos de pegos de água parada nos locais mais profundos dos leitos –, a grandes barragens e a bebedouros artificiais colocados nos “montes” e no campo. Contudo, nas últi-mas 2 ou 3 décadas, o número e a dispersão dos PMA, para abeberamento de gado ou por ve-zes para rega, aumentaram de forma extraor-dinária no país, em particular no Alentejo.Estes PMA vieram incrementar a biodiversi-dade dos montados, não só fornecendo água à fauna dos sistemas de montado, como fazen-do introduzir, através de colonização natural, inúmeras espécies de ecologia aquática. Entre elas conta-se a proliferação de invertebrados, anfíbios e aves. E de entre estas últimas citam--se, p. ex. patos, galinhas-de-água, galeirões, garças e, inclusive, o tartaranhão-ruivo-dos--pauis, espécie ameaçada [Vulnerável], cuja população nidificante se concentrava antes nas zonas húmidas litorais (7), mas que hoje em dia é frequente a nidificar nos PMA em ple-no interior alentejano (N. Onofre, dados n. pub.).

Medidas de gestão das massas de água em montadosA existência de legislação, por si só, não se re-vela suficiente para a proteção e conservação eficazes dos diferentes tipos de massas de água, em particular das de menores dimensões (in-cluindo os CTM), muito por culpa do desconhe-cimento generalizado da sua importância eco-lógica e das suas relevantes funções ambientais.Apesar da redução que se tem verificado na sua abundância, da sua vulnerabilidade, que decorre da sua sazonalidade e reduzida di-mensão, e da ameaça que sobre eles paira em muitas regiões, os CTM são um habitat natural ainda muito comum na paisagem alentejana. Por isso, dever-se-á dar-lhes especial atenção quando da gestão e condução dos montados.Visando a proteção e promoção da biodiversi-

dade dos montados deverão ser consideradas particularmente as seguintes medidas de pro-teção das massas de água:• Boas práticas agrícolas e florestais: i) evi-

tando a mobilização profunda do solo (p. ex. com grades de disco) e o seu nivelamento e drenagem excessivos (aspeto fundamental no caso dos CTM); ii) prevenindo que os poluentes atinjam as massas de água, atra-vés da aplicação moderada de pesticidas e fertilizantes nas culturas, da definição de uma melhor calendarização para sua aplica-ção, da criação de zonas tampão de vegeta-ção ribeirinha (que simultaneamente cons-tituem habitat para a fauna selvagem) e da conversão integral da atividade agrícola na sua área de drenagem (apenas no caso das pequenas massas de água); iii) promoven-do o pastoreio extensivo na envolvente das massas de água e vedando ao gado algumas zonas das suas margens.

• Garantir que os novos PMA para abebera-mento do gado possuam um talude lateral vertical numa das margens junto ao paredão (com 2,5 m de altura e de preferência mais de 5 m de comprimento) – possibilitando que algumas espécies escavem galerias, ninhos e tocas – e uma zona de margens suaves, vedada à circulação do gado (à distância de 1-2 m do nível de pleno armazenamento de água do açude) (Fig. 4).

• Fomentar a criação de charcos temporários e a preservação e reabilitação dos já existentes.

• Sensibilizar e envolver as comunidades lo-cais e os proprietários através da divulgação do conhecimento que se tem, em particular

dos CTM, para que o seu real valor seja com-preendido por todos e tido em conta nas polí-ticas de gestão e ordenamento do território.

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Figura 4 – Açude para abeberamento do gado (PMA) visto de cima. a) Corte longitudinal com vista para o lado oposto do talude para tocas e ninhos; b) Corte longitudinal com vista para o talude

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À exceção das zonas húmidas e dos cursos de água e suas galerias ripícolas, os monta-dos são dos ecossistemas terrestres mais ri-cos e diversificados em aves selvagens. São utilizados por 100 a 120 espécies de aves, sendo que entre 80 e 100 são nidificantes e bem mais de 20 são invernantes ou utilizam os montados apenas de passagem (2, 3, 4, 5). Depois dos trabalhos de L. Matos em 1978 (6) e J. Rabaça em 1983 (7), os dados pessoais agora apresentados fazem parte deste pri-meiro conjunto (8). Muito trabalho tem sido feito na área da avifauna dos montados, po-dendo encontrar-se largo número de refe-rências no livro “O montado e as aves: boas práticas para uma gestão sustentável” (4).

Áreas de estudo e métodos utilizadosLocalização e características das parcelasEm 1984 foram escolhidas duas parcelas de montado de sobro com mato na bacia do Tejo. A primeira situava-se junto ao cru-zamento do Infantado (38°50'N; 8°44'W), enquanto a segunda localizava-se em Vale Zebrinho, Cabeção (39°01'N; 8°06'W).Para se entender convenientemente as di-ferentes composições da vegetação e das respetivas comunidades de pequenas aves, importa descrever as características das parcelas com o seguinte pormenor (1):1) Infantado: a) A área da parcela de censo ti-

nha 13,5 ha; b) O estrato arbóreo era consti-tuído essencialmente por sobreiros (Quer-cus suber) e por raros pinheiros-bravos (Pinus pinaster), tendo sido adensado com sobreiro cerca de 20 anos antes. A densida-de média do arvoredo era de 68,2 árvores/ /ha (√ = 25,6). Devido à reflorestação efe-tuada no ano de 1960 e à regeneração natu-ral que entretanto se desenvolveu, fruto da

longa ausência de limpeza, o povoamento arbóreo era algo irregular; c) O sobcober-to era dominado em 70% por Esteva (Cis-tus ladanifer) e em 57% da área de esteval o Grau de Cobertura (GC) era superior a 88% e tinha uma altura média de 1,6 m; nos restantes 43% de esteval mais aberto o GC aproximava-se dos 43% e a sua altura mé-dia dos 0,7 m(2). Os restantes 30% da cober-tura do solo da parcela eram constituídos por clareiras herbáceas; d) O sobcoberto não era limpo há cerca de 20 anos.

2) Cabeção: a) A área da parcela de censo ti-nha 17 ha; b) O coberto vegetal era cons-tituído por um estrato arbóreo regular de sobreiros e raros pinheiros-mansos isolados (P. pinea), com uma densidade

arbórea média aparentemente homogénea (141,5 árvores/ha e √ = 35,1); c) O sobcober-to era constituído na sua maioria por mato baixo (ocupando cerca de 70% da área), sendo o resto constituído por vegetação herbácea nas linhas de água e algumas cla-reiras. A altura do mato variava entre os 0,35-0,45 m e o mesmo era dominado por Sargaço (C. salvifolius)(3); d) O mato tinha sido gradado 2 anos antes. O relevo era se-melhante ao da parcela do Infantado, i.e., plano ou muito levemente ondulado.

Metodologia de recenseamento de pequenas avesA metodologia de recenseamento de aves foi o Método dos Mapas (cf. 9, 10). Entre a

Nuno Onofre . INIAV, I.P.

A importância do sobcoberto arbustivo nas comunidades de pequenas aves de montado. Efeitos e recomendações para a sua gestãoOs montados de sobro e de azinho, para além do seu valor eco-nómico, social e ecológico, têm uma importância excecional para o património natural do nosso país. A elevada riqueza das suas comunidades avifaunísticas deve-se ao arvoredo autóctone sobrejacente e às distintas formas de gestão do seu sobcoberto.

Figura 1 – Montado de sobro, relativamente aberto, com mato

(1) Os inventários dendrométricos (n = 25 e n = 8, respetivamente no Infantado e Cabeção) e florísticos (n = 19 e n = 16) foram realizados pelos colegas João Varela, Esmeralda Pereira e Ana Teresa Veiga.(2) Outras espécies arbustivas no Infantado: Sargaços (C. salvifolius e C. crispus), Tojo (Ulex parviflorus) Halimium sp, Murta (Myrtus communis), entre outras.(3) Outras espécies arbustivas em Cabeção: Tojo (Ulex parviflorus) e Rosmaninho (Lavandula stoechas), respetivamente com alturas médias de 0,72 e 0,30 m), e Halimium spp, entre outras.

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segunda quinzena de março e a primeira de julho, foram realizados 12-13 dias de visita a cada parcela, intervalados entre uma sema-na a quinze dias. As contagens das aves ini-ciavam-se cerca de meia a uma hora após o amanhecer e no mesmo dia, ao entardecer, efetuava-se uma segunda contagem, uma vez que para algumas espécies se obtém melhores rendimentos de deteção auditiva no fim do dia.Para cada comunidade de pequenas aves, cal-cularam-se os índices usuais deste tipo de tra-balho, como o N.º total de espécies (S), Densi-dade total/10 ha (D), Diversidade de Shannon--Wiener e Equitabilidade de Pielou (J').

ResultadosNas tabelas 1 e 2 apresentam-se os resulta-dos obtidos estritamente pelo Método dos Mapas em ambas as parcelas durante o pri-meiro ano, 1984.

No InfantadoNo Infantado foram determinadas como nidificantes 23 espécies, cuja abundância absoluta totalizou os 70,4 casais (ca.) por 10 ha. No ano seguinte este resultado foi confirmado, com 24 espécies, e a densidade total de casais foi de 72,1 ca./10 ha.A espécie predominante foi o Rouxinol-co-

mum (L. megarhynchos), com 13,1 ca./10 ha, seguida da Toutinegra-dos-valados (S. mela-nocephala) – 8,4 ca./10 ha – e do Melro-pre-to – 8,0 ca./10 ha. Outras espécies com abun-dâncias interessantes ou intermédias, foram o Chamariz (S. serinus) – 7,3 ca./ha –, a Felo-sa-poliglota (H. polyglotta) – 5,8 ca./ha – e o Chapim-azul (C. caeruleus) – 5,8 ca./ha.Destas 23 espécies, 17 (74%) são essencial-mente consumidoras de invertebrados e principalmente de insetos, e quanto às res-tantes 6, normalmente com uma dieta gra-nívora ou vegetariana, alimentam as suas crias durante a época de reprodução princi-palmente com invertebrados.Sete destas espécies, quase 1/3, nidificam em cavidades, em alguns casos em antigos ninhos escavados por pica-paus, mas na sua maioria fazem-no em buracos que resultaram do apo-drecimento de troncos e ramos na sequência das podas, ou em fendas e saliências na casca.Na parcela do Infantado e no montado adja-cente, foi contabilizado um total de 49 espé-cies, das quais 32 são residentes todo o ano, 10 nidificantes estivais e 7 exclusivamente invernantes.Nestes montados, de entre as espécies referi-das acima, contavam-se 5 aves de rapina diur-nas (Milhafre-preto [Milvus migrans], Águia--d’asa-redonda [Buteo buteo], Águia-calçada

[Hieraaetus pennatus], Águia-cobreira [Cir-caetus gallicus] e Peneireiro-vulgar [Falco tinnnculus]) e, de entre as noturnas, o Mo-cho-galego (Athene noctua) e a Coruja-do--mato (Strix aluco).

Em CabeçãoEm Cabeção (Tabela 2), em 1984, contabili-zaram-se 20 espécies como nidificantes, com uma abundância absoluta total de 60,1 ca./10 ha e em 1985 contaram-se 19 espécies e uma den-sidade total de casais de 67,7 ca./10 ha.Na parcela de Cabeção, duas espécies desta-caram-se pela sua elevada abundância, com cerca de 11 ca./10 ha: o Chapim-azul (C. cae-ruleus) – tipicamente com ninhos em cavida-des de troncos e de pernadas – e o Tentilhão--comum (F. coelebs) – que nidifica em ni-nhos em forma de taça nos ramos de árvores e arbustos. Ou seja, só as populações destas duas espécies perfizeram 38% da população total da comunidade ornítica recenseada na parcela. O Estorninho (S. unicolor) e o Cha-mariz (S. serinus), respetivamente com tipo-logias de nidificação similares à das duas an-teriores, seguiram-se em abundância. Neste montado, a larga maioria das espécies recen-seadas nidificam no arvoredo, em cavidades ou sobre forquilhas de ramos, enquanto as restantes nidificam no solo ou em vegeta-

TABELA 1 – COMPOSIÇÃO E DENSIDADE DE ESPÉCIES DE PEQUENAS AVES DETERMINADAS ESTRITAMENTE PELO MÉTODO DOS MAPAS

NA PARCELA DO INFANTADO EM 1984

Nome comum Nome científico Dieta NInho N.º ca. certos N.º ca. marginais N.º ca./13,5 ha N.º ca./10 ha

Rola-brava Streptopelia turtur V T – V1, V2 3 1 3,5 2,6

Cuco-canoro Cuculus canorus I P – V1, V2 – 1 0,5 0,4

Poupa Upupa epops I C – V1, S – 1 0,5 0,4

Carriça Troglodytes troglodytes I C, T – V2 1 – 1,0 0,7

Rouxinol-comum Luscinia megarhyncos I S, T – V2, V3 17 2 18,0 13,1

Cartaxo-comum Saxicola (torquata) rubicola I S, T – V2, V3 2 – 2,0 1,5

Melro-preto Turdus merula I, v T – V1, V2 8 6 11,0 8,0

Tordo-comum Turdus viscivorus I, v T – V1, V2 1 – 1,0 0,7

Felosa-poliglota Hippolais polyglotta I, v T – V1, V2 6 2 8,0 5,8

Toutinegra-de-cabeça-preta Sylvia melanocephala I, v T – V2, V3 9 5 11,5 8,4

Chapim-rabilongo Aegithalos caudatus I c – V1, V2 2 2 3,0 2,2

Chapim-azul Cyanistes (Parus) caeruleus I C – V1, s 5 6 8,0 5,8

Chapim-real Parus major I, v C – V1 2 5 4,5 3,3

Trepadeira-azul Sitta europaea I, v C – V1 1 – 1,0 0,7

Trepadeira-comum Certhia brachydactyla I C – V1 1 1 1,5 1,1

Papa-figos Oriolus oriolus I, v T – V1 1 1 1,5 1,1

Picanço-real Lanius meridionalis I* T – V1 – 1 0,5 0,4

Estorninho-preto Sturnus unicolor I, v C – V1 2 – 2,0 1,5

Tentilhão-comum Fringilla coelebs V T – V1, V2 1 3 0,5 1,9

Chamariz Serinus serinus V, i T – V1, V2 6 8 10,0 7,3

Verdilhão Carduelis chloris V, i T – V1, V2 – 1 0,5 0,4

Pintassilgo Carduelis carduelis V T – V1 1 2 2,0 1,5

Bico-grossudo Coccothraustes coccothraustes V, i T – V1, V2 2 – 2,0 1,0

Total (n.º de casais) (D) 96,0 70,4

Riqueza (S) 23,0

Índice de Diversidade de Sannon (H') 3,88

Índice de equitabilidade de Pielou (J') 0,86Legenda: V = dieta vegetariana (sementes, rebentos, folhas, flores); I = dieta de invertebrados (principalmente insetos); I* = invertebrados e pequenos vertebrados. Letras em maiúsculas: dieta principal e durante o período reprodutivo ou todo o ano. Letras em minúsculas: dieta secundária, na maior parte das vezes no outono e inverno, como acontece com as aves essencialmente insectívoras; T = ninho em taça e em céu-aberto; C = ninho em cavidade; P = parasita, colocando os ovos em ninhos de outras espécies, normalmente nos de taça em arbustos; S = ninho no solo ou muito perto dele, escondido em vegetação herbácea ou debaixo de pequenos arbustos; V = ninho em vegetação: V1 = arbórea; V2 = arbustiva; V3 = herbácea. Em maiúsculas: micro-habitat principal; Em minúsculas: micro-habitat secundá-rio. Ca. = casais; casais marginais = ca. com territórios sobre o limite da parcela. Dieta baseada em Cramp (15).

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ção baixa – herbácea –, ou na parte debaixo de arbustos. Na parcela do Infantado, para muitas espécies o ninho era feito no estrato arbustivo, de acordo com a sua bioecologia.Na parcela de Cabeção e no montado adja-cente, foram registadas aproximadamente 51 espécies, das quais 35 são residentes todo o ano, 8 são nidificantes estivais e 8 são exclu-sivamente invernantes. Destas 51 espécies, 4 eram aves de rapina diurnas (Águia-d’asa--redonda, Águia-calçada, Águia-cobreira, Buzardo-vespeiro [Pernis apivorus], e o fal-cão Ógea [Falco subbuteo], sendo que as 3 primeiras acabaram por nidificar na parcela anos depois). De entre as noturnas foram de-tetadas nesta zona a Coruja-das-torres (Tyto alba) e a Coruja-do-mato.

Comparação das comunidades do Infantado e de CabeçãoNo conjunto das parcelas do Infantado e de Cabeção foram registadas 31 espécies no to-tal, sendo que apenas 12 são comuns a ambas, a saber: Cartaxo-comum (S. rubicola), Mel-ro-preto (T. merula), Papa-figos (O. oriolus), Estorninho-preto (S. unicolor), Tentilhão-co-mum, Chamariz e Pintassilgo (C. carduelis), Poupa (U. epops), Chapim-azul, Chapim-real (P. major), Trepadeira-azul (S. europaea), Trepadeira-comum (C. brachydactyla), sen-do que a primeira nidifica no solo e as outras em árvores, as cinco últimas em cavidades (ver Tabelas 1 e 2).Onze (11) aparecerem exclusivamente no

Infantado – Rola-brava (S. turtur), Cuco-ca-noro (C. canorus), Carriça (T. troglodytes), Rouxinol-comum (L. megarhynchos), Tor-do-comum (T. viscivorus), Felosa-poliglota (H. polyglotta). Toutinegra-de-cabeça-preta (S. melanocephala), Chapim-rabilongo (A. caudatus), Picanço-real (L. meridionalis), Verdilhão (C. chloris), Bico-grossudo (C. coccothraustes).

Consequências do tipo de maneio do sobcoberto arbustivoO maior número de espécies detetado no In-fantado terá a ver, muito provavelmente, com a maior complexidade estrutural e florística do seu sobcoberto arbustivo. O montado do Infantado, embora não tivesse a estrutura de um bosque, aproximava-se da de um sobrei-ral, uma vez que o estrato arbustivo era mui-to desenvolvido, tanto horizontalmente (GC 60-70%), como verticalmente (altura média entre os 0,7 e os 1,6 m), não sendo cortado há mais de 20 anos. Na parcela de Cabeção, o mato por seu turno tinha sido limpo ape-nas 2 anos antes e a sua altura média rondava os 0,35-0,45 m, sendo a densidade média do arvoredo mais de duas vezes superior à do Infantado (141,5 vs. 68,2 árv./ha). Por um la-do, a presença e as elevadas ou significativas densidades de espécies no Infantado como o Rouxinol-comum, Melro, Felosa-poliglota e Toutinegra-de-cabeça-preta são reveladoras da “forte” presença de mato. No que se refe-re às espécies de nidificação arborícola, as

elevadas densidades de Tentilhão e de Cha-pim-azul (e também as das duas trepadeiras) são reveladoras de uma grande densidade de arvoredo que, para além da elevada disponi-bilidade de cavidades para nidificação, for-nece “abundante” micro-habitat de alimen-tação para as 3 últimas espécies. No caso do Tentilhão tal micro-habitat de forrageio estava principalmente nas clareiras e no fra-co grau de cobertura do mato e na vegetação mais rasteira da parcela.Os resultados apresentados aqui têm, por um lado, características similares aos de Rabaça (7, 11) e, por outro, aos de Almeida (12). Rabaça (7), na sua parcela B (localizada a 40 km para sul da parcela do Infantado), e onde o mato tinha uma idade de 15-17 anos, também en-controu grandes densidades de Rouxinol-co-mum, Melro e Toutinegra-de-cabeça-preta, e índices descritores da comunidade de peque-nas aves e sua estruturação muito parecidos. No que se refere à composição da comunida-de, repara-se que 61% são espécies comuns a ambas as parcelas, 21% são exclusivas de Ca-beção e 18% exclusivas da parcela com mato de Rabaça (7, 11).Estas duas parcelas de montado correspon-dem a montados com “gestão ocasional” (4), uma vez que a intervenção no sobcoberto (e aparentemente no arvoredo) é muito pouco frequente.O mesmo aconteceu com os resultados de Almeida (12) de 1987 e 1988, enquanto o ma-to não foi inteiramente limpo e os sobreiros

TABELA 2 – COMPOSIÇÃO E DENSIDADE DE ESPÉCIES DE PEQUENAS AVES DETERMINADAS ESTRITAMENTE PELO MÉTODO DOS MAPAS

NA PARCELA DE CABEÇÃO EM 1984

Nome comum Nome científico Dieta NInho N.º ca. certos N.º ca. marginais N.º ca./13,5 ha N.º ca./10 ha

Poupa Upupa epops I C – V1, S – 1 0,5 0,3

Pica-pau-malhado Dendrocopos major I* C – V1 – 1 0,5 0,3

Pica-pau-galego Dendrocopos minor I C – V1 – 1 0,5 0,3

Cotovia-arbórea Lullula arborea I, v S, T – V3 3 5 5,5 3,2

Cartaxo-comum Saxicola (torquata) rubicola I S, T – V2, V3 4 – 4,0 2,4

Melro-preto Turdus merula I, v T – V1, V2 – 1 0,5 0,3

Papa-moscas-cinzento Muscicapa striata I C – V1 3 3 4,5 2,6

Chapim-de-poupa Lophophanes (Parus) cristatus I C – V1 1 1 1,5 0,9

Chapim-azul Cyanistes (Parus) caeruleus I C – V1, s 14 7 19,5 11,5

Chapim-real Parus major I, v C – V1 4 2 5,0 2,9

Trepadeira-azul Sitta europaea I, v C – V1 2 5 5,5 3,2

Trepadeira-comum Certhia brachydactyla I C – V1 5 3 6,5 5,0

Papa-figos Oriolus oriolus I, v T – V1 – 1 0,5 0,3

Estorninho-preto Sturnus unicolor I, v C – V1 9 – 10,0 5,9

Pardal-francês Petronia petronia V, i C – V1 2 – 2,0 1,2

Tentilhão-comum Fringilla coelebs V T – V1, V2 14 1 19,0 11,2

Chamariz Serinus serinus V, i T – V1, V2 7 5 9,5 5,6

Pintassilgo Carduelis carduelis V T – V1 3 – 3,0 1,8

Escrevedeira-de-garganta-preta Emberiza cirlus V, I T – Vs, V3, V2 1 – 1,0 0,6

Trigueirão Emberiza calandra V, I T – Vs, V3, V2 1 – 1,0 0,6

Total (n.º de casais) (D) 102,0 60,1

Riqueza (S) 20,0

Índice de Diversidade de Sannon (H') 3,58

Índice de equitabilidade de Pielou (J') 0,83Legenda: Abreviaturas como na legenda da Tabela 1.

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descortiçados, e cuja parcela se localizava apenas a cerca de 4 km para sul da nossa parcela de Cabeção. Nesta parcela, a den-sidade média dos sobreiros era de cerca de 100 árv./ha (ligeiramente inferior à densi-dade da nossa parcela de Cabeção) e o mato tinha uma altura média de 0,8 m e um co-berto arbustivo com 0,8 m de altura (logo, mais alto em cerca do dobro), mas ocupando 50% da área da parcela. Entre 1987-1988, os parâmetros indicadores da comunidade de pequenas aves estudada por Almeida (12) foram também parecidos com os da nossa parcela de Cabeção, exceto que valores dos índices de Diversidade e de Equitabilidade foram mais elevados, provavelmente devi-do ao maior desenvolvimento e complexi-dade do sub-bosque dessa parcela. No que se refere à composição das comunidades, 60% são comuns às duas parcelas, 24% são exclusivas da parcela de Almeida (12) – em-bora todas elas tenham sido detetadas nas proximidades da parcela de Cabeção – e 16% são exclusivas desta última.Estas duas parcelas de montado, de Cabeção e de Almeida (12), correspondem a montados com “gestão frequente” (4), i.e., em que o mato é roçado regularmente, regra geral de 4-5 anos.A variação nos parâmetros descritores das comunidades e em particular a Riqueza (S) (número de espécies-base comuns e número de espécies específicas de cada parcela ou censo), obtidos nos censos realizados por estes três autores (N. Onofre, Rabaça [7, 11] e Almeida [12]), revelam, por um lado, a gran-de riqueza avifaunística dos montados de sobro, mas também a grande variação que as suas comunidades poderão sofrer fruto das diferentes ações de gestão e da sua duração.A parcela de Almeida (12) sofreu limpeza parcial de mato em junho de 1988 e total em 1990. Em 1991, o povoamento encontrava-se sem mato e descortiçado. Em resultado dos censos efetuados por esta bióloga em 1991, verificaram-se os seguintes parâmetros des-critores da comunidade de pequenas aves: S =  14, D = 30,2; H' = 3,54; J' = 0,93. Ou seja, o número de espécies baixou para 65% e a densidade das pequenas aves para menos de metade, ao mesmo tempo que o índice de Di-versidade baixou para 80%! De acordo com Almeida (12), a redução na avifauna deveu-se principalmente à remoção do sub-bosque, não só porque privou várias espécies do seu substrato arbustivo para nidificação (Melro, Toutinegra-de-cabeça-preta e Escrevedeira--de-garganta–preta [E. cirlus]), como privou algumas espécies que nidificam em árvores do substrato de alimentação, como o Cha-pim-real (P. major), as trepadeiras, o Tenti-lhão, o Papa-moscas-cinzento (M. striata) e

o Rabirruivo-de-testa-branca (P. phoenicu-rus). A maior parte destas pequenas espé-cies de aves afetadas (que desapareceram ou diminuíram fortemente em abundância) é insectívora, pelo que limpezas completas do sobcoberto poderão ter efeitos negativos no controle de pragas florestais, à partida (veja--se Ceia e Ramos [13, 14]).

Sugestões de maneio do sobcoberto arbustivoNão existem estudos que comprovem o efei-to de desmatação em faixas, nomeadamente a sua largura e densidade, sobre as popula-ções de espécies de aves nidificantes nos es-tratos arbustivos em qualquer povoamento florestal em Portugal. A sua eliminação total nas parcelas é certamente negativa, uma vez que eliminam o substrato de nidificação e de alimentação da quase totalidade de espécies de aves que aí criam e subsistem e que na sua maioria são insectívoras (veja-se Cramp [15]). As desmatações eliminam também par-te do substrato de alimentação de outras aves insectívoras que nidificam no arvoredo (veja-se ainda Cramp [15]). O real efeito da eliminação deste estrato arbustivo nas co-munidades de insetos e de pragas do sobrei-ro e da azinheira, em consequência da eli-minação dos habitats das aves insetívoras, é basicamente desconhecido, mas veja-se (13).Neste caso, para além do constante em (4), sugere-se o seguinte, enquanto não se obti-ver melhor informação:1) Em áreas superiores a 5-10 ha, o mato de-

ve ser limpo em faixas;2) As faixas de mato a deixar não deverão

ter uma largura inferior a 3-5 metros;3) O espaçamento entre faixas de mato por

limpar deve situar-se entre os 5-10 metros;4) A rotatividade na limpeza do mato na

unidade de gestão superior a 5-10 ha, só deve ter lugar com uma periodicidade de 5-8 anos, devendo nessa altura ser corta-das as faixas de mato deixadas antes;

5) O mato deve ser cortado preferencial-mente com corta-matos de correntes e, caso sejam utilizadas grades de disco, a profundidade não deverá ser superior a 10 cm (ver Van Halder et al. em (4)(4).

6) Ter em conta as recomendações gerais descritas em (4).

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(8) Para além das consequências nefastas no sistema radicular de sobreiros e azinheiros (corte de raízes e transmissão de doenças) (5), profun-didades superiores destroem abrigos no solo de vários animais vertebrados úteis, provocando mesmo a morte, p. ex. no caso das serpentes (N. Onofre, dados pessoais).

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A caça é uma atividade ancestral que suscita emoções e paixões, tanto dos seus defensores como dos contestatários, mas é seguramente uma atividade crucial no ordenamento e ges-tão dos recursos silvestres e tem um elevado potencial económico, nomeadamente para os territórios rurais de menor densidade popu-lacional e mais desfavorecidos. Estimamos que a atividade cinegética possa movimentar anualmente cerca de 330 milhões de euros.A cinegética pode, e deve, ser usada como ferramenta de apoio à gestão das populações de animais selvagens, contribuindo para o equilíbrio dos ecossistemas, a promoção da biodiversidade e para uma ocupação territo-rial que contribua para a redução da incidên-cia de incêndios florestais. Por exemplo, nos últimos anos, tem sido possível a recuperação de populações animais que se encontravam praticamente extintas em Portugal – linces, veados e corços –, pela ação das várias entida-des gestoras de zonas de caça associativa, tu-rística, municipal e nacional. Existem também situações inversas, de excessos populacionais de algumas espécies cinegéticas, como é o caso de alguns ungulados, principalmente de javalis, que causam elevados danos no ecos-sistema, prejuízos económicos nas culturas e aumentam os riscos de acidentes rodoviários.O grande desafio é promover uma gestão equilibrada das espécies cinegéticas, de for-ma a assegurar a evolução sustentável das po-pulações e obter proveitos económicos da ati-vidade. Para tal, é necessário compatibilizar a cinegética com as atividades agroflorestais ou tomar opções alternativas de ordenamento e gestão. O caso dos montados é bastante in-teressante porque tem um elevado potencial para a caça e para a pecuária, requer a inter-venção humana para a sua sustentabilidade e coloca diversos desafios técnico-económicos de ordenamento e gestão. Um exemplo clássi-co é a necessidade de proteger as novas plan-tações de sobreiros e azinheiras, em locais de grande densidade de veados ou javalis, atra-vés da instalação de vedações ou de proteto-res individuais, sob pena da sua destruição.Atualmente, de acordo com o inventário flo-

restal realizado em 2010, existem 737 000 ha de montado de sobro e 331 000 ha de montado de azinho, que correspondem a 35,4% da su-perfície florestal do continente português. Se o montado de sobro permite elevados réditos provenientes da cortiça, o montado de azinho é valorizado pela pecuária extensiva e pela ca-ça, destacando-se o caso do porco Alentejano criado em regime de montanheira. No entan-to, a bovinicultura continua a ser a atividade preferida pela grande maioria dos proprietá-rios e gestores destes montados, muito incen-tivados pelo prémio às vacas em aleitamento.

O excesso de populações cinegéticas de caça maior tem vindo a provocar danos cada vez maiores no ecossistema dos montados. Tam-bém a produção bovina causa um impacto ne-gativo nos solos e nas plantas, nomeadamente através do sobrepastoreio e do excesso de piso-teio em solos muitas vezes esqueléticos (com o consequente aumento da erosão), e de danos severos nas azinheiras e sobreiros jovens, comprometendo o desejado renovo florestal.É pois neste contexto que se pretendem equa-cionar alternativas de ordenamento e gestão dos montados, no sentido de se melhorarem os rendimentos das explorações agrícolas, promovendo em simultâneo a gestão equili-brada e sustentável das populações animais e da biodiversidade. Para o efeito, partindo-se de dois exemplos concretos de herdades de grandes dimensão no Alto Alentejo, discu-tem-se modelos alternativos de substituição da exploração bovina pela caça de ungulados (veados e javalis) ou pela complementaridade das duas atividades. No entanto, antes da dis-cussão da exploração cinegética no montado, apresentamos uma síntese da nossa estimati-va do valor económico da caça.

O valor económico da caçaA partir dos gastos de consumo dos caçado-res, estimamos que o negócio da caça ronde os 330 milhões de euros. Nesta estimativa in-cluímos todas as despesas com a atividade ci-negética, desde os custos com o serviço de ca-ça (pagamento através de quotas ou por peça abatida), com a aquisição de armas, munições, acessórios de caça, roupa e calçado, até a ali-mentação dos cães, despesas de deslocação, taxas e licenças diversas. Foi utilizada infor-mação proveniente de vários serviços oficiais e instituições privados do setor, assim como foi feita a recolha de informação primária através de entrevistas a especialistas do setor da caça (p.e. matilheiros e organizadores de safaris) e de um inquérito a caçadores.A principal despesa é com o serviço caça, correspondendo a 31% do valor total, e é rea-lizada sobretudo nas zonas de caça associa-tiva (72,3 M€) e nas zonas de caça turística (26,6 M€). As receitas provenientes de caça-dores estrangeiros representam apenas 2% do valor do serviço caça (1,6 M€). Os custos com armas, munições e outras despesas associadas (licenças de uso e porte de arma, licenças de caça, seguros de responsabilidade civil) repre-sentam 26% do total, destacando-se o custo com a aquisição de armas (66,3 M€). A terceira parcela mais importante são as despesas com as viagens nacionais, 21% do total (transportes em viaturas próprias, dormidas e restauração). A partir de uma estimativa das distâncias das viagens realizadas pelos caçadores (e tendo em consideração o número de caçadores por viatura), apurámos um custo de 59,3 M€. Na hotelaria e restauração são gastos 11,2 M€. As despesas com acessó-rios de caça, vestuá-rio e calçado, repre-sentam 11% do total (35 M€). Os cães de caça têm um custo de 32,6 M€ (10% do to-tal), sendo o principal gasto com a alimen-tação – 20,9 M€. Os gastos com licenças,

Ricardo Paiva, Pedro Reis, Inocêncio Seita Coelho INIAV, I.P.

Cinegética de caça maior em montado de sobro e azinhoOs montados têm um elevado potencial para a caça e para a pecuária extensiva, requerendo uma intervenção humana ade-quada para garantir a sua sustentabilidade. Para tal, colocam--se diversos desafios técnico-económicos para o seu correto ordenamento e assegurar uma gestão eficaz.

Figura 1 – Cervídeo e javalis

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DOSSIER TÉCNICO

identificação, vacinação e outros encargos sanitários, ainda tem um valor significativo – 8,1 M€.

A atividade cinegética e a pecuária – o caso do montadoO sistema extensivo montado tem um elevado potencial para a exploração cinegética de caça maior, juntamente, ou em alternativa, à pecuária exten-siva com bovinos. A partir da informação de campo, proveniente de duas herdades com montado de sobro e azinho, vamos fazer um ensaio sobre a conjugação das atividades cinegética (caça maior de javali e veado) e bovi-nicultura extensiva.As duas herdades têm um pouco mais de 1000 hectares cada uma, locali-zam-se no Alto Alentejo, nos concelhos de Elvas e Portalegre, com montado misto de sobro e azinho, em mais de 3/4 da área, com mato e uma pequena área de culturas forrageiras anuais (entre 4% a 6%). Os bovinos são da raça Alentejana ou cruzados, e o encabeçamento é de 0,3 cabeças normais (CN) por hectare de superfície agrícola utilizada (SAU). É feita a suplementa-ção animal com palha, feno e alimento concentrado, e a área de pastoreio corresponde à SAU de cada uma das explorações agrícolas. Nas herdades existe caça menor (perdiz, coelhos e lebres) e javalis. Em nenhuma das duas existem veados.Ambas as explorações estão devidamente infraestruturadas, têm tratores próprios, instalações pecuárias e parcelas cercadas (com uma área média em torno dos 60 ha). O montado é cuidado, com podas periódicas de 10 anos e são feitas intervenções, de cinco em cinco anos, para gestão da ve-getação do sobcoberto. Na tabela 1 são apresentadas receitas, em euros por hectare de SAU, provenientes da venda de bovinos, e os subsídios do regi-me de pagamento único (RPU), das medidas agroambientais e prémios aos bovinos. A estrutura dos apoios é semelhante nos dois casos, variando o valor do RPU que depende do histórico.Gerir populações de fauna selvagem (veados e javalis) exige a aplicação de princípios básicos que assegurem a gestão sustentável dos recursos naturais envolvidos. Em primeiro lugar, o habitat tem de ser o adequado às características ecológicas das espécies a explorar, sendo que o monta-do associado a zonas de mato (refúgio e descanso) e a culturas forrageiras (disponibilidade alimentar) representam, de facto, as condições ideais ao estabelecimento deste tipo de animais. Por outro lado, a capacidade de su-porte do meio tem de ser bem avaliada, de acordo com os recursos e carac-terísticas da exploração.Na gestão cinegética temos de ter em consideração alguns fatores, dos quais salientamos: adaptação das espécies ao território (neste caso, do java-li e veado ao sistema montado); densidades compatíveis com a capacidade de suporte do meio, a fim de evitar danos significativos no habitat natural (e permitir a regeneração das quercíneas); criação de um mosaico diverso, constituído por folhosas e matos intercalados por clareiras, sementeiras específicas para a fauna, existência de pontos de água; ordenamento das espécies pecuárias de forma a minimizar a competição entre animais do-

TABELA 1 – INDICADORES TÉCNICO-ECONÓMICOS

Indicador Unidades Herdade A Herdade B

Montado (Sb e Az)ha

890 759

Mato 105 160

Olival

ha

0 20

Pastagens permanentes 852 759

Forrageiras anuais 38 58

Vacasn.º de efetivos 270 257

CN/SAU 0,29 0,32

Área média de cada parcelaha

61 56

N.º de charcas 0 4

RPU

euros/SAU

24 70

Subsídios agroambientais 64 64

Prémio aos bovinos 36 34

Venda de bovinos 78 82

PU

B

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mésticos e os animais de caça maior; existên-cia de barreiras protetoras das culturas (p.e. vedações, cercas elétricas, canais de rega).O principal, ou um dos principais, fator crítico é a gestão equilibrada entre a carga animal e a capacidade de suporte do ecossistema, que em termos equilibrados deveria ser da ordem dos 100 cervídeos. Nos casos em apreço, para her-dades com uma dimensão média de 1000 hec-tares, que visam a exploração económica, a população de caça maior poderá chegar a um efetivo de 300 cervídeos e 100 javalis com o recurso ao cultivo forrageiro e alguma suple-mentação. Este encabeçamento deve ser po-rém monitorizado em permanência de modo a introduzir correções sempre que necessário.A gestão da população de cervídeos deve ser feita de acordo com um plano de gestão anual, onde se define previamente, de acordo com os censos efetuados, o número de animais e a classe etária a retirar do efetivo. Prioritaria-mente devem ser retirados animais jovens e adultos com defeito ou em más condições sani-tárias, e ser estabelecida uma pirâmide etária, em que a base é constituída por animais jovens saudáveis e bem conformados, até ao topo da pirâmide, onde devem constar os animais adultos, que constituem os troféus para os ca-çadores. Estes podem ser bem valorizados, po-dendo atingir, a partir dos oito anos de idade, valores da ordem dos 1500€ ou mesmo 2000€, se apresentarem características excecionais.Relativamente à população de javalis, a sua gestão tem de ser feita essencialmente por monitorização permanente, já que as fêmeas podem ter três partos em dois anos, o que facilmente poderá dar origem a um excesso de população. Neste sentido, a montaria e as esperas deverão ser equacionadas de forma a conter os níveis populacionais em valores ecologicamente aceitáveis.

A economia da caça maior no sistema montadoA caça maior ao javali e veado é, com os de-vidos cuidados, compatível com a exploração pecuária, sejam bovinos ou pequenos rumi-nantes. Nos dois casos apresentados, existem javalis que podem fornecer receitas à explora-ção agrícola através das montarias e esperas.Para a dimensão considerada, uma herda-de com 1000 ha, estimamos uma receita de 12 150€, proveniente das vendas de “esperas” e “montaria” e da carne dos animais abatidos. Uma gestão sustentável permite 35 postos para uma montaria e 16 esperas. Valorizando cada uma a 150€, temos um total de 8400€. É ex-pectável o abate de 50 animais, com um peso médio de 60 kg. Valorizando a carne a 1,5 €/kg, temos 4500€.Na exploração de cervídeos existe uma com-

petição direta com os bovinos que resulta na necessidade de investir numa vedação de caça maior. Neste caso, a vedação deverá ter uma altura de 2,30 m, embora a experiência tenha constatado que uma rede de 2,00 m só é ultrapassada em situações de recurso ex-tremo, como por exemplo numa perseguição que implique uma grande dificuldade de fuga. Para uma área de 1000 ha, estimamos que são necessários cerca de 25 km de rede. Sendo o preço de 7750 €/km, temos um investimento de 193 750€. Podemos assumir um período de vida útil de 12 anos, pelo que teremos uma de-preciação anual (amortização) de 16 145 €/ano. A estrutura produtiva da exploração de veados é semelhante à dos bovinos extensivos para carne, exceto a vedação.

Nos 1000 ha é possível ter uma exploração com uma população de 300 veados, numa pro-porção aproximada de 150 machos e 150 fêmeas com idade superior a um ano. Com esta popu-lação, podemos estimar que anualmente serão caçados nove troféus, três adultos, 18 machos jovens e 30 fêmeas. Relativamente às crias, de-verão ser retiradas do efetivo quatro machos e quatro fêmeas (sem valor comercial). Face aos valores unitários esperados para os troféus, animais abatidos e valor da carne, estimamos uma receita anual de quase 33 000€:• 9 troféus ≈ 1200 €/troféu = 10 800€

• 3 adultos ≈ 300 €/animal = 900€

• 18 machos representativos ≈ 80 €/animal = 1440€

• 30 fêmeas ≈ 60 €/animal = 1800€

• Carne dos 60 animais (120 kg/animal ≈ 2,5 €/kg) = 18 000€

Três notas sobre o investimento na exploração de veados e na comparação da exploração bo-vina com a caça maior de cervídeos. Existem apoios ao investimento que poderão ascender aos 80%, o que significa reduzir o custo anual da cerca para cerca de 3230€. Assim, o benefí-cio líquido rondará os 30 000 €/ano, próximo do valor do prémio às vacas aleitantes.A segunda nota é relativa à área destinada aos cervídeos. As contas apresentadas acima são relativas à exploração dos 1000 ha com vea-dos, mas pode haver uma situação mista, onde apenas uma parte seja destinada a este tipo de caça maior, sendo que 400 ha são considera-

dos como suficientes para viabilizar este tipo de atividade.A terceira nota é relativa ao efetivo de veados (300) que corresponde a menos de 60% do nú-mero de cabeças normais de vacas atualmen-te existentes nas herdades. Isto significa me-nores necessidades forrageiras. Assumimos este número de efetivos cinegéticos porque os veados têm um impacto superior aos bovinos na renovação do arvoredo.A concluir este ponto, gostaríamos de apre-sentar uma alternativa de exploração dos ungulados através do recurso exclusivo de montarias. Neste caso, teríamos ações de caça envolvendo javalis e veados conjuntamente. Numa gestão sustentável teríamos a venda de 35 postos a um preço unitário de 600€ mais as vendas das reses (4500€ dos javalis e 18 000€ dos veados). A receita total seria de 43 500€, valor próximo do obtido através da explora-ção cinegética por espécie (45 090€).

Notas finais– Os valores de referência apresentados

exigem uma gestão cinegética adequada e exigente sob o ponto de vista técnico e ambiental, de forma a viabilizar a produ-ção sustentável de animais de alto valor económico.

– Não existem diferenças significativas do produto bruto entre as duas formas de ex-ploração da atividade cinegética acima re-feridas (gestão por montaria e gestão por espécie).

– A comparação entre a produção bovina ex-tensiva e a cinegética de caça maior deve ser analisada caso a caso tendo em consi-deração vários fatores, tais como a capa-cidade de produção forrageira, os apoios ao investimento em vedações, os prémios atribuídos aos bovinos e a efetiva valoriza-ção das peças de caça.

– Para além da exploração cinegética, esta atividade potencia a existência de outras atividades não agrícolas, nomeadamente o turismo de natureza.

– Se for criada uma dinâmica de oferta in-ternacional de caça maior, haverá fortes probabilidades de se conseguir obter uma maior valorização dos recursos territo-riais, seja pelo aumento da procura do re-curso caça, ou seja pelo consumo de bens e serviços associados (p.e. a restauração, viagens e alojamento).

Bibliografia

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Paiva, R. (coord.); Coelho, I.S.; Reis, P., 2015. Valor econó-

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NUTRIÇÃO

O consumo diário de hortofrutícolas está na moda e a tendência espera-se, pelo bem da saúde pública, ser intemporal. Entre 2010 e 2015, em Portugal, as exporta-ções de frutas, legumes e flores apresenta-ram um crescimento médio anual de 11%. O ano passado, entre janeiro e novembro, comparando com o período homólogo do ano anterior, aumentaram 6%.Nem todas as tendências de consumo ali-mentar são passíveis de ser seguidas por to-dos os consumidores, sendo algumas quase exclusivas para públicos com um poder de compra superior. Neste contexto encontra-mos, por exemplo, o consumo de espargos.

Segundo dados da FAO (Food and Agricul-ture Organization), a China é o principal produtor mundial, tendo como principais destinos o fabrico de conservas e proces-sados de espargos (90% do produzido). Na Europa, destacam-se Espanha e Alemanha.Portugal apresenta uma área de produção praticamente inexistente, mas poderá não estar a percecionar o potencial de exporta-ção que este alimento tem. Inúmeras varie-dades melhoradas e híbridas desta cultura estão disponíveis para produção, incluindo opções para propagação de forma vegetativa.Sob o ponto de vista de consumo, é mais fre-quente encontrarmos espargos frescos verdes

Espargos

Rita Sousa VelosoNutricionista

Portugal apresenta uma área de produção praticamente inexistente, mas poderá não estar a percecionar o potencial de exportação que este alimento tem. Inúmeras variedades melhoradas e híbridas desta cultura estão disponíveis para produção, incluindo opções para propagação de forma vegetativa.

e brancos e espargos brancos em conserva. Considerando as características nutricionais, existem algumas diferenças entre os dois.

Estes alimentos apresentam baixa densida-de energética, elevado teor em fibra (90% insolúvel), são fonte de vitaminas do com-

1 porção de espargos brancos

20 kcal, 0 g de lípidos, 3 g de hidratos de carbono,

2 g de proteínas, 2 g de fibra

e 1 g de açúcares de absorção rápida

1 porção de espargos verdes

25 kcal, 0 g de lípidos, 5 g de hidratos de carbono,

2,75 g de proteínas, 2,7 g de fibra

e 2,4 g de açúcares de absorção rápida

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NUTRIÇÃO

tais no nosso organismo. A carência desta provoca anemia, degeneração neuronal, de-créscimo da creatinina e aumento da crea-tinúria. Em casos extremos, lesões muscu-lares, deformações embrionárias, degenera-ção do miocárdio e necrose hepática.A vitamina K ativa proteínas envolvidas no metabolismo do cálcio. A carência des-ta vitamina é frequente em casos de mal-nutrição, antibioterapia prolongada, com a utilização de anticoagulantes e em casos de hemorragias em crianças.O folato é essencial para uma gravidez sau-dável, reduzindo o risco de defeitos do tubo neural do feto.Envolver os espargos com um polme à base de ovo e pão integral ralado e assar no forno pode ser uma alternativa interessante para introduzir este alimento na dieta.

Dica para o produtorO tempo de prateleira dos espargos frescos é de 3 a 5 dias à temperatura ambiente. A sacaro-se, fonte primária de hidratos de carbono para a maioria das plantas, pode prolongar a vida de prateleira pós-colheita dos espargos. Nes-te sentido, o acondicionamento em atmosfera controlada, que reduz a perda de sacarose, au-menta o tempo útil dos espargos para comer-cialização. Um estudo publicado em 2015 reve-lou que o armazenamento dos espargos a 2 °C, 90% de humidade e em soluções de sacarose de 3, 5 e 10% resultou em maior concentração de rutina nos espargos, quanto maior a con-centração da sacarose, e o aumento de vida de prateleira em 20 dias. Estude a qualidade sen-sorial dos espargos em diferentes ambientes e selecione o mais rentável.

plexo B, vitaminas A, E, K e folato, assim como minerais, como cobre e ferro.A elevada percentagem de fibra insolúvel torna este alimento um alimento pouco fer-mentável, ou seja, interessante em contexto de obstipação, uma vez que esta fibra, este “resíduo”, passa intacto pelo trato gastroin-testinal. As amêndoas apresentam esta ca-racterística e, comparando com os espar-gos, 4 unidades de espargos correspondem a 15 amêndoas no que respeita à quantidade de fibra, aproximadamente 1 g.Contém compostos bioativos como saponi-nas, flavonoides, frutanos e aminoácidos. O flavonoide mais abundante é a rutina (60% a 80% do teor fenólico total dependendo da

variedade – verdes apresentam maior per-centagem). Apenas os verdes contêm clo-rofila e os brancos apresentam outros com-postos fenólicos ausentes nos verdes.Vários estudos identificam os espargos co-mo alimentos com vantagem para a saúde, à semelhança de outros vegetais, como ali-

mentos potenciadores da resposta antioxi-dante do organismo, contribuindo para a prevenção de doenças crónicas não trans-missíveis, como hipertensão arterial, dis-lipidemia, entre outras. Segundo o estudo “Food Chemistry”, publicado em 2005, por investigadores da Universidade do Estado de Washington, os espargos apresentam igual resposta antioxidante independente-mente das diferenças nos compostos bioati-vos. Outros estudos referem que, por exem-plo, a presença de clorofila nos espargos verdes lhes confere maior capacidade. A vitamina E tem função antioxidante, di-minui a hemólise das hemácias, assim como está relacionada com outras atividades vi-

“O tempo de prateleira dos espargos frescos é de 3 a 5 dias à temperatura ambiente. A sacarose, fonte primária de hidratos de carbono para a maioria das plantas, pode prolongar a vida de prateleira pós-colheita dos espargos."

TABELA 1 – QUANTIDADE DE VITAMINA E

PRESENTE POR PORÇÃO DE ALIMENTO

Alimento (1 porção) Vitamina E (mg)

Passas 13,50

Amêndoas 7,33

Óleo de girassol 5,59

Espargos 2,16

Óleo de amêndoa 2,12

Óleo de milho 1,94

Azeite 1,94

Alperce 1,55

Caju 0,26

Fase no ciclo de vida

DRI* (de acordo com ciclo

de vida, com intervalos que

variam com a idade)

Bebés 4 a 5

Crianças 6 a 7

Adolescentes 11 a 15

Adultos 15

Grávidas 15

Lactantes 19*Dietary references intakes (doses diárias recomendadas)

Fonte: U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service: Nutrient Database for Standard Reference

TABELA 2 – QUANTIDADE DE VITAMINA K

PRESENTE POR PORÇÃO DE ALIMENTO

Alimento (1 porção) Vitamina K (µg)

Espinafres congelados

confecionados1027

Brócolos confecionados 220

Espargos confecionados 144

Couve confecionada 73

Feijão-verde cru 47

Cenoura crua 14

Batata confecionada 0,5

Laranja crua 0

Fase no ciclo de vida

DRI* (de acordo com ciclo

de vida, com intervalos que

variam com a idade)

Bebés 2,0 a 2,5

Crianças 30 a 55

Adolescentes 60 a 75

Adultos 90 a 120

Grávidas 75 a 90

Lactantes 75 a 90*Dietary references intakes (doses diárias recomendadas)

Fonte: U.S. Department of Agriculture, Agricultural Research Service: Nutrient Database for Standard Reference

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. abril 2017

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MERCADOS

NOVILHO R3Semana 09 3,79¤Semana 10 3,76¤Unidade: EUR/kg Carcaça

FRANGO vivoSemana 09 0,83¤Semana 10 0,83¤Unidade: EUR/kg Peso Vivo

PORCO Classe ESemana 09 1,67¤Semana 10 1,71¤Unidade: EUR/kg Carcaça

BORREGO ISemana 09 2,04€Semana 10 2,04€Unidade: EUR/kg Peso Vivo

SUÍNOS

MercadoPORCO*

Classe E (57%)

PORCA**

Refugo

VARRASCO**

Reprodutor

LEITÃO***

<12 kg 19-25 kg

Alto Alentejo – 150,00(1) 275,00(1) 45,00(1)** 70,00(1)**

Baixo Alentejo – 150,00(1) – 45,00(1)** 80,00(1)**

Alentejo 1,55 – – 3,01 2,10

Algarve 1,77 0,80* – 3,00 –

Beira Interior 1,47 – – – –

Beira Litoral 1,54 – – 3,17 –

Entre Douro e Minho 1,74 – – – –

Unidades: *€/kg Carcaça; ** €/unid.; ***€/kg Peso Vivo Raça não especificada (1) Raça Alentejana Cotação mais frequente, de 06/03 a 12/03

OVINOS

MercadoBORREGO*

(<12 kg)

BORREGO*

(13-21 kg)

BORREGO I*

(22-28 kg)

BORREGO II*

(>28 kg)

OVELHA**

Refugo

Alentejo Litoral – – 2,60 2,40 20,00

Alentejo Norte 3,00 2,30 2,00 1,80 18,00

Alto Tâmega 3,25 3,15 – – 12,50

Beja – 2,10 1,90 1,80 12,00

Castelo Branco 3,25 – – – 15,00

Coimbra 3,00 – – – 30,00

Cova da Beira 3,00 – – – 20,00

Elvas – 2,40 2,20 – 18,00

Estremoz – 2,40 1,70 – 20,00

Évora – 2,30 2,20 2,25 12,00

Guarda 3,30 3,30 – – 17,00

Ribatejo 3,00 2,40 1,70 1,70 25,00

Terra Fria 3,25 3,15 – – 12,50

Terra Quente 3,25 3,15 – – 12,50

Viseu 3,00 – – – 35,00

Unidades: *€/kg Peso Vivo; **€/unid. Raça não especificada Cotação mais frequente, de 06/03 a 12/03

CAPRINOS

MercadoCABRA*

Refugo

CABRA*

Reprodutora

CABRITO**

(<10 kg)

CABRITO**

(>10 kg)

Alentejo Norte 20,00 65,00 3,20 2,50

Alto Tâmega 10,00 40,00 3,85 –

Coimbra 35,00 – 3,50 –

Cova da Beira 20,00 60,00(1) 3,50 –

Estremoz 25,00 65,00 2,10 2,30

Guarda 25,00(1) 60,00(1) 3,80 3,80

Ribatejo 30,00 65,00 4,10 3,50

Sertã 30,00 70,00 4,00 –

Terra Fria 11,00 40,00 3,85 –

Terra Quente 11,00 40,00 3,85(1) –

Viseu 35,00 100,00 4,00 3,20

Unidades: *€/unid.; **€/kg Peso Vivo Raça não especificada (1) Raça Serrana Cotação mais frequente, de 06/03 a 12/03

AVES E OVOS

ProdutoMercado

Dão-Lafões Litoral Centro Ribatejo e Oeste

GALINHA viva pesada* 0,50 0,42 0,45

GALINHA viva semi-pesada* 0,15 0,25 0,30

FRANGO vivo* 0,85 – 0,80

FRANGO 65%** 1,30 1,30 1,40

PERU vivo* – – 1,35

PERU 80%** 2,30 – 2,45

PERUA viva* – – 1,30

OVO L embalado (ovotermo)*** 0,95 0,95 1,05

OVO M embalado (ovotermo)*** 0,85 0,85 0,95

OVO S embalado (ovotermo)*** 0,75 0,75 0,85

OVO a peso 60-68 g**** 0,85 0,93 1,02

Unidades: *€/kg Peso Vivo; **€/kg Peso Carcaça; ***€/dúzia; ****€/kg Cotação mais frequente, de 06/03 a 12/03

As cotações médias do porco classe E e S apresentaram nova subida, nu-ma altura em que o mercado tende a estabilizar, apesar de continuar a forte concorrência de produto im-portado. A oferta de leitões tem sido escassa, acompanhando a procura, o que é normal para a época. No Alen-tejo, a oferta de suínos foi abundante, com procura média, e subida acen-tuada de preços (+ 10 cêntimos nos porcos e 21 cêntimos nos leitões).Nos bovinos, tendência de manuten-

ção de preços nas diversas classes na maioria das regiões e na Bolsa do Bo-vino. Oferta e procura estão fracas e continuam as trocas comerciais com Espanha, com entrada de carne e saí-da de vacas.Nas aves, os preços seguem a rota de estabilidade, com oferta excedentá-ria em relação à procura. A exceção é a região do Ribatejo e Oeste onde a procura está relativamente animada.Nos ovinos, tónica também de estabi-lidade nas seis regiões analisadas.

Cotações dos suínos em recuperação

BOVINOS

Mercado

NOVILHA*

(12-18 meses)

NOVILHO*

(12-18 meses)

VITELA/O**

(6-8 meses)

VITELÃO***

(8-12 meses)

VACA*

Abate

VITELO***

(<3 meses)

VITELO***

(3-6 meses)

Cruzado

CharolêsTurina

Cruzado

CharolêsTurina

Cruzado Charolês Cruzado

CharolêsTurina

Cruzado

CharolêsTurina Turina Turina

Fêmea Macho

Alentejo Litoral 3,90 – 3,95 – 2,30 2,30 750,00 – – – – –

Alto Tâmega 3,00 3,00 3,50 3,20 – – 650,00 520,00 – – – 520,00

Castelo Branco – 3,35 3,85 3,45 – – – – – – – –

Coimbra 4,00 3,30 4,00 3,30 – – – – 2,20 1,80 – 240,00

Entre Douro e Minho – 3,20 – 3,20 – – – 500,00 – 2,20 130,00 250,00

Elvas 3,90 – 3,90 – 2,10 2,80 660,00 – 2,50 – – –

Évora 3,95 – 3,95 – 2,20 2,80 690,00 – 2,00 – – –

Guarda – 3,50 4,00 3,40 – – – – – – 115,00 –

Ribatejo 4,10 3,10 4,05 3,10 – – 700,00 450,00 2,40 2,20 170,00 290,00

Terra Fria 3,00 3,15 3,50 3,25 – – 475,00 450,00 – – – 436,00

Unidades: *€/kg Carcaça; **€/kg Peso Vivo; ***€/unid. Cotação mais frequente, de 06/03 a 12/03

Gil G

arcia

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