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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 122 / Junho, 2004 / No 2.103

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

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Capa: Luis Hu Rivas

Tema da Capa: TRANSFORMAÇÃO MORAL, inspirado nopensamento de Kardec, assim como no Editorial eno artigo “Evolução e transformação”.

EDITORIAL 4Transformação moral

ENTREVISTA: JOSÉ PLÍNIO MONTEIRO 10

Uma visão da Cruzada dos Militares Espíritas

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 14

Renovemo-nos hoje – Cairbar Schutel

ESFLORANDO O EVANGELHO 21

É para isto – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 24

Zamenhof – Affonso Soares

FEB/CFN – COMISSÕES REGIONAIS 26

Reunião da Comissão Regional Nordeste

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 30

Exame das comunicações mediúnicas que nos são enviadas – Allan Kardec

O dedo de Deus – Espírito Familiar 32SEARA ESPÍRITA 42

Evolução e transformação – Juvanir Borges de Souza 5Ao homem – Augusto dos Anjos 7Integridade – Joanna de Ângelis 8Conclusões populares – Casimiro Cunha 9Indagações a nós mesmos – André Luiz 11As enfermidades espirituais – Marta Antunes Moura 12A subjugação – Allan Kardec 13Lei do Progresso – Washington Borges de Souza 15Bezerra de Menezes adverte sobre as adendas perniciosas – 16

Jorge HessenNosso trabalho – Bezerra 17Antes que venha o arrastão – Richard Simonetti 18No livro d’alma – Auta de Souza 20Dr. March – Uma vida dedicada à caridade – 22

Hélio Ribeiro Loureiro1o Congresso Espírita do Amazonas 25Desculpa – Irene Sousa Pinto 25Muito ajuda quem não atrapalha – Rogério Coelho 29Repensando Kardec – Da Lei de Adoração – 33

Inaldo Lacerda LimaA Lúcida Certeza – Paulo Nunes Batista 34É proibido evocar os mortos? – Severino Barbosa 35Iaponan A. da Silva 36FEB lança obras na 18a Bienal Internacional do Livro 37A morte e a mediunidade – Adésio Alves Machado 39Educação Espírita e o envolvimento social – Dulcídio Dibo 41

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Um dos aspectos mais relevantes relacionados com o estudo da Doutrina Espírita é a análisedas conseqüências decorrentes do conhecimento dos seus princípios.

Ciente de que Deus é a inteligência suprema do Universo, causa primeira de todas as coisas,soberanamente justo e bom; que no Universo se encontram não apenas os elementos materiais,mas, também, os espirituais; que o ser humano é um Espírito imortal, dotado de corpo espiri-tual e de corpo material, este de existência temporária, o homem é levado a rever a escala de va-lores que adota em sua existência. Os valores espirituais e morais são mais importantes porque,sendo perenes, sobrevivem à existência material.

Considerando a diversidade de reações ao conhecimento da Doutrina Espírita, decorrentedos diversos graus de compreensão dos homens, em O Livro dos Médiuns, Primeira Parte, cap.III, item 28, Allan Kardec esclarece que há: 1– os que vêem no Espiritismo apenas uma ciênciade observação: são os espíritas experimentadores; 2 – os que compreendem a parte filosófica doEspiritismo, admiram a sua moral, mas não a praticam: são os espíritas imperfeitos; 3 – os que nãose limitam em admirar a moral espírita, que a praticam e transformam a caridade, no seu senti-do mais abrangente, na regra de proceder a que obedecem: são os verdadeiros espíritas, ou me-lhor, os espíritas cristãos.

Aquele, pois, que se manifestar plenamente convicto dos princípios que a Doutrina Espíritarevela passa a ter por meta, em sua existência, a conquista de valores morais e espirituais, funda-mentados nos ensinos do Evangelho que Jesus nos legou. Sabe que não conseguirá uma alteraçãoimediata de comportamento por força dos hábitos milenarmente sedimentados em sua perso-nalidade, mas trabalhará, a partir daí, no sentido da busca permanente de sua renovação interior,em processo de reeducação, caracterizada pela conquista de novos e melhores hábitos.

É por isto que Allan Kardec, falando sobre “Os bons espíritas” (O Evangelho segundo o Es-piritismo, cap. XVII, item 4) observa: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformaçãomoral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”

EditorialTransformação moral

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Oprogresso das diferentes fra-ções da Humanidade é umfato.

Através dos séculos e milênios,a história do homem mostra-nos aevolução de civilizações, de nações,de raças, de religiões, de conheci-mentos científicos, de costumes ede instituições que progridem, che-gando a pontos culminantes, paradepois entrarem em decadência e setransformarem ou desaparecerem.

Essas transformações, lentas ourápidas no tempo, são uma cons-tante, demonstrando a inferiorida-de do mundo em que habitamos eas inúmeras dificuldades a vencer.

Uma dessas dificuldades, sem-pre presente, tem sido, para o ho-mem, o desconhecimento de sua na-tureza, de sua origem e de seu des-tino.

Diversas religiões, sistemas fi-losóficos antigos e atuais e as maisvariadas ciências cultivadas pelo ho-mem chegaram a conclusões diver-sas, mas nem sempre a resultadossatisfatórios e comprovadamentecorretos.

Podemos observar hoje, numavisão abrangente e retrospectiva,que religiões milenares deparam, naatualidade, com desmentidos a di-versos de seus ensinos e normas,numa demonstração evidente de

que necessitam modificar e retificaras bases em que se assentam.

De outro lado, ciências consi-deradas definitivas em suas funda-mentações deparam com inúmerasdificuldades no seu campo de ação,reclamando retificações de con-ceitos.

É o que ocorre com a Físicaclássica diante das descobertas sobrea natureza da matéria, a partir doprincípio do século XX. Na Medi-cina, na Astronomia e em outrasciências há constantes retificações.

O materialismo, nas suas inú-meras faces, tem contribuído para aignorância das realidades, das ver-dades, da natureza do homem e davida, nas suas múltiplas manifesta-ções – o que acontece desde temposimemoriais.

Ao longo dos muitos milêniosem que o homem vem habitando aTerra, seu interesse maior tem sidoo de valorizar a vida nos seus aspec-tos materiais.

Essa realidade decorre não sóda necessidade de o Espírito adqui-rir experiências e conhecimentosúteis ao seu progresso, em contatocom a matéria, mas também corres-ponde à sua condição de inferiori-dade moral.

Neste mundo de expiações eprovas, todos os homens, Espíritosimortais, submetidos à lei do pro-gresso, compreenderão, um dia, asleis divinas ou naturais.

Para tanto, encarnam e reen-carnam em corpos materiais, ins-

trumentos benditos que lhes permi-tem, através dos próprios esforços,irem conhecendo e praticando asleis naturais.

Assim, o ateu, o materialista,que nega a existência do Criador,pode exercitar a lei do trabalho,da conservação, da reprodução, dadestruição. Noutra existência, alémda repetição das experiências ante-riores, pode exercitar o pensamen-to no culto a Deus, ou dedicar-seao amor ao próximo. Suas expe-riências vão-se somando.

Já os mais experientes, maisdesenvolvidos vão dedicar-se àcomplementação de conhecimen-tos e sentimentos, obedecendo àprópria vontade e à orientação dosEspíritos prepostos.

Desse modo, o progresso gerale o particular de cada um de nósnunca é obra do acaso, ou de umdestino prefixado, como entendemcertas correntes espiritualistas e ma-terialistas, mas decorre do esforço,da compreensão e do ideal, indivi-dual ou coletivo.

...A Doutrina dos Espíritos, o

Consolador, assim como a Mensa-gem do Cristo, representam novasfases na evolução humana.

Através dos séculos e milênios,parcelas da Humanidade, com-preendendo povos e raças, têm sidoconduzidas ao progresso, a novosconhecimentos e a novos estágiosético-morais. >

Evolução e transformaçãoJuvanir Borges de Souza

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Na notável obra de EmmanuelA Caminho da Luz, através da me-diunidade de F. C. Xavier, cuja 1a

edição foi lançada pela FEB emabril de 1945, o autor espiritual sin-tetiza, na Introdução, as experiên-cias terrestres, como o tesouro imor-tal da alma humana:

“Diante dos nossos olhos de es-pírito passam os fantasmas dascivilizações mortas, como se per-manecêssemos diante de um‘écran’ maravilhoso. As almasmudam a indumentária car-nal, no curso incessante dosséculos; constroem o edifíciomilenário da evolução huma-na com as suas lágrimas e so-frimentos, e até nossos ouvidoschegam os ecos dolorosos desuas aflições. Passam as primei-ras organizações do homem epassam as suas grandes cida-des, transformadas em ossuá-rios silenciosos. O tempo, co-mo patrimônio divino do es-pírito, renova as inquietações eangústias de cada século, nosentido de aclarar o caminhodas experiências humanas. Pas-sam as raças e as gerações, aslínguas e os povos, os países eas fronteiras, as ciências e as re-ligiões. Um sopro divino fazmovimentar todas as coisasnesse torvelinho maravilhoso(...).”E nos vários capítulos do livro

assinala, em síntese maravilhosa, osurgimento das raças brancas, a civi-lização egípcia, a Índia milenar, a fa-mília indo-européia, o povo de Is-rael, a China, a Grécia, o ImpérioRomano, reservando capítulo espe-cial para as grandes religiões do pas-sado e a preparação do Cristianismo.

No seio de todos os povos do

Oriente surgiram as primeiras orga-nizações religiosas, assistidas pormensageiros do Cristo.

Em todas as religiões respeitá-veis da Humanidade, em todas aslatitudes terrestres, há sempre algu-ma influência do Cristo, como Go-vernador Espiritual deste orbe.

Essa influência misericordiosa,direta ou indireta, está presente emtodas as épocas, fazendo-se notar deacordo com a compreensão, o grauevolutivo e as condições de cadapovo, raça ou nação.

A vinda do Cristo ao convíviodos homens, há dois mil anos, é ummarco extraordinário na históriahumana, no que diz respeito à vidae às revelações espirituais.

Sem desmentir o que seusemissários tinham transmitido deessencial aos diversos povos, ante-riormente, Jesus, o Cristo, faz-seportador de ensinamentos, revela-ções e exemplificações como jamaisocorrera antes dEle.

O Amor e a Justiça sobressaemde seus ensinos: “Amai-vos uns aosoutros” – “Amar a Deus sobre todasas coisas e ao próximo como a simesmo resume toda a lei e os pro-

fetas” – “Sereis conhecidos comomeus discípulos por muito vosamardes.”

Cumprindo a Lei Antiga, noque nela havia de verdade e de jus-tiça, retificou-a nos pontos em quefora mal-entendida ou mal-inter-pretada pelos homens.

Tornou-se, com sua Mensagemde Luz, o Caminho da Verdade eda Vida.

Mas Ele sabia que os homens,salvo raras exceções, ainda não Oentenderiam na sua justa posiçãocomo o Filho de Deus, nosso Go-vernador e Condutor.

Foi rejeitado no seio do pró-prio povo em que veio testemunhara Misericórdia Divina, sendo por is-so perseguido, preso, processado ecrucificado, numa eloqüente de-monstração de atraso, ignorância einsensibilidade em que se encontra-vam os homens, presos e fanatiza-dos por leis que fizeram e obede-ciam como sagradas.

Entretanto, o Cristo de Deusaproveitou a iniqüidade dos ho-mens para exemplificar as virtudesque pregou, submetendo-se à cruzinfamante, mas transformando-aem símbolo glorioso.

Ele sabia das dificuldades doshomens em assimilar corretamentesua Mensagem, diante do persona-lismo, do egoísmo e do orgulho, di-fíceis de serem vencidos.

Por isso, prevendo as deturpa-ções de seus ensinos, prometeu pe-dir ao Pai o envio de outro Conso-lador, para que fossem reveladasoutras verdades, além de relembrarsuas lições, dando-lhes o justo en-tendimento.

Esse Consolador, como sabemos espíritas estudiosos e sinceros,encontra-se no mundo desde mea-

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O Cristo de Deus

aproveitou a

iniqüidade dos

homens para

exemplificar as

virtudes que

pregou

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dos do século XIX, com a Nova Re-velação trazida pelos Espíritos Su-periores, a serviço do Cristo.

Essa Revelação Nova reafirmaa Mensagem Cristã, no seu justosentido, mostrando a realidade davida do Espírito eterno, ora livre,nos mundos espirituais, ora ligadoà matéria densa, nos mundos mate-riais, como a Terra.

O Espiritismo, a Doutrina dosEspíritos, o Consolador prometido,como a Mensagem Cristã autênti-ca, representam as duas últimas eta-pas, duas novas Eras da evoluçãohumana na Terra.

Allan Kardec, o missionário es-colhido pelo Alto para servir e con-solidar a última Revelação, valeu-sede suas conquistas individuais e demédiuns também em missão espe-cial para desvendar as realidades deum mundo invisível de vastas pro-porções, que está permanentemen-te em comunicação com os ha-bitantes da Terra, mas que nemsempre foi percebido, no decorrerdas idades.

Tornou-se evidente, com asnovas revelações, com as manifesta-ções ostensivas colhidas por todaparte, com as comunicações de vá-rios teores, que o mundo das for-mas está em permanente relaçãocom os mundos invisíveis.

Comprovou-se objetivamentea imortalidade do ser espiritual, queo Cristo já evidenciara na sua ressur-reição, após os tristes episódios doCalvário.

Mas a Revelação Espírita, alémda certeza da continuidade da vi-da, após o decesso do corpo físico,mostrando que, na realidade, nãohá morte, atualizou a Mensagemdo Cristo para um mundo queavançou muito em conhecimentos,

mas se desviou do sentido moral--educativo daquela ação regene-radora.

A Igreja Romana, que paulati-namente se desviara dos ensinosoriginais do Cristo, para apegar-seao poder e aos tesouros transitórios,há muito parece sem forças e semmeios para corresponder às necessi-dades de uma Humanidade que serenova e precisa avançar em conhe-cimentos e moralização.

O Espiritismo vem, pois, nahora aprazada pelo Alto, com amissão de atender às aspiraçõesmais elevadas do espírito humano,de ingressar em nova fase evolutiva,uma nova civilização fundamenta-da em verdades indiscutíveis.

Com a comprovação da sobre-vivência do ser essencial, com asverdades e realidades da reencarna-ção, agora explicada e entendidasem as fantasias que a deturpavam,

a Justiça da Lei Divina pode ser en-tendida perfeitamente.

Além dessas realidades coloca-das em evidência, o Espiritismo rea-bilita todos os ensinos do Cristia-nismo autêntico, deturpados pelasigrejas, por interesses particularesvinculados ao poder, ou por inter-pretações infelizes.

As leis morais, expostas com cla-reza e simplicidade na obra básica daDoutrina Consoladora, são o cami-nho natural na busca da perfeiçãomoral, ao alcance de qualquer inte-ressado em melhorar-se, combaten-do o escolho das paixões, do egoís-mo, do orgulho e do personalismo.

Essa doutrina esclarecedora econsoladora marca uma Nova Erapara a Humanidade, oferecendoao homem, finalmente, o conheci-mento de si mesmo, a antiga aspi-ração da filosofia grega, preocupadacom a edificação do porvir.

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Ao homemTu não és força nêurica somente,Movimentando células de argila,Lama de sangue e cal que se aniquilaNos abismos do Nada eternamente;

És mais, és muito mais, és a cintilaDo Céu, a alma da luz resplandecente,Que um mistério implacável e inclementeAmortalhou na carne atra e intranqüila.

Apesar das verdades fisiológicas,Reflexas das ações psicológicas,Nas células primevas da existência,

És um ser imortal e responsável,Que tens a liberdade incontestávelE as lições da verdade na consciência.

Augusto dos Anjos

Fonte: XAVIER, Francisco C., Parnaso de Além-Túmulo. 16. ed., Rio de Janeiro:FEB, 2002, p. 138. Edição Comemorativa – 70 Anos.

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Aintegridade moral do ser hu-mano é um compromisso quedeve ser mantido em relação à

vida, por meio do qual se hauremvalores que se enriquecem, predis-pondo para a plenitude.

A vulgarização dos sentimen-tos, que decorre da massificação de-voradora dos ideais e da individua-lidade, responde pela paulatinaperda dos requisitos que constituema integridade moral.

A artificial necessidade de con-seguir-se o triunfo a qualquer pre-ço tem conduzido os seus aficiona-dos à perda do significado primor-dial da existência, que é a sua espi-ritualização, ora colocada em planosecundário ou mesmo nem sequerpensada, desde que os interessesimediatos, fixados no prazer e nodesfrutar, rejeitam os demais valo-res, anteriormente cultivados comrespeito e sacrifício.

Certamente, a revolução in-dustrial e tecnológica alterou ocomportamento dos indivíduos emrelação a conceitos castradores pre-dominantes no passado, mais preo-cupados com a aparência do quecom a realidade.

Estribados em propostas per-versas e impeditivas do autodesco-brimento, tornaram-se responsáveispelo atual repúdio, quase automá-tico, a tudo quanto signifique me-

canismo de iluminação, mediante arenúncia e o sacrifício pessoal.

Tais propostas parecem afron-tar a razão contemporânea, desen-caminhando-a dos seus objetivospráticos e imediatos, conseguidos aduras penas, culturais e emocionais.

Sucede, no entanto, que, semabdicar-se do raciocínio, antesadotando-o, torna-se indispensávelconsiderar a fugacidade do corpo edo seu notável mecanismo, prepa-rando-se o ser para o prossegui-mento da evolução em outra con-dição no campo da energia.

Essa transitoriedade orgânicatem gerado o hedonismo, a ambi-ção desenfreada para o desfrutar in-tensamente das concessões que sãooferecidas, enquanto é tempo, por-que, de um para outro momentochega a morte, anulando tudo ea tudo consumindo, conforme sepensa nessa filosofia imediatista.

A conclusão, eminentementematerialista, é falha, porque o gozoque se deriva do abuso é perturba-dor, quando não mortal. Ademais,o prazer, em si mesmo, satura apósfruído, deixando sensação de in-completude, de frustração. Em facedesse resultado, foge-se na direçãode novas buscas utópicas, procu-rando-se justificativas para os com-portamentos extravagantes e incon-seqüentes.

Arrastadas pelos impulsos pri-mários, as multidões, esfaimadas oudesorientadas, alternam as festas or-gíacas, nas quais milhões de criatu-ras se esfalfam na agitação e no se-

xo, no álcool e nas drogas, com osdesfiles de protestos violentos, sobjustificativas reais ou interesseiras,promovidas por partidos adversá-rios – que sempre os há em qual-quer forma de governo. O descon-tentamento faz parte da condutahumana e, por isso mesmo, surgemsempre facções novas apresentandoprojetos mirabolantes, absurdos,nos quais se comprazem, gerandoanarquia e malquerença.

...

Torna-se inadiável a redesco-berta da integridade moral do indi-víduo.

Integridade de pensamento, depalavra e de ação.

Mediante a integridade o su-borno e a corrupção cedem lugar àordem e à vivência dos significadosprofundos da Vida.

Não apenas propiciam o cres-cimento dos grupos sociais, seu de-senvolvimento econômico, culturale de relacionamento interpessoal,como também de evolução indivi-dual.

A conquista da integridade élenta e contínua, a fim de que cadaum descubra a própria autenticida-de, adquirindo e preservando osseus valores morais, e não apenas vi-vendo conforme padrões utilitaris-tas, estabelecidos pelo mercado dasofertas e a propaganda exageradaem torno dos encantos fugazes: be-leza física, sempre vencida pelotempo; triunfo pessoal sobre os es-combros de outras vidas; conquis-

Integridade

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tas horizontais de fácil deterioração;rápidas viagens pelos destaques pe-riodísticos...

A integridade, à medida que sevai instalando no sentimento mo-ral, auxilia no descobrimento dosobjetivos reais que todos estabele-cem, mas se encontram em outroscaminhos levados por imposiçõesestranhas, de pessoas ou Instituiçõesque os dirigem para o que lhes émais conveniente, sem auscultar--lhes o íntimo, as suas reais necessi-dades, os seus legítimos interesses.

O verbo ganhar adquiriu pri-mazia no contexto sociológico daatualidade. Ganhar mais dinheiro,ganhar mais posição social, ganharmais poder, ganhar mais aplauso, equando se atinge o topo descobre--se o vazio interior, encontra-se otédio, detém-se na amargura outomba-se na depressão.

Poder-se-ia também estabelecerque se faz necessário conquistar, aoinvés de ganhar, a paz, o controlesobre as paixões, o direcionamentoadequado para a felicidade que,normalmente, independe do que sepossui, revelando-se no que se é.

Com integridade interior acal-mam-se o tumulto das aspiraçõesdesmedidas, a revolta diante dasperdas naturais do processo evolu-tivo, a ansiedade pelo projetar-se ca-da vez mais, a inquietação que nun-ca se satisfaz com o conseguido, omau humor que instala o pessimis-mo.

A programação da integrida-de estabelece como fundamentais:a auto-análise, a fim de identi-ficar-se o que é útil, eliminando oexcessivo e pernicioso; as metasexistenciais, que podem harmoni-zar o coração e iluminar a mente;a conduta a vivenciar em todos os

momentos, produzindo bem-estare saúde global.

É certo que os homens e asmulheres apresentam aspiraçõesmuito diferenciadas em razão dosdiversos níveis de consciência emque transitam. Nada obstante, to-dos possuem interesses em comum,que são colocados em diferente or-dem, dando primazia a um em de-trimento do outro, embora estejamlistados na pauta da eleição geral.

A sabedoria para eleger aquelesque são mais significativos do pon-to de vista moral e espiritual, tornaa integridade pessoal legítima emrelação à aparência da conduta eli-tista ou utilitária que passou a ex-pressar-se na generalidade humana.

...

Jesus desconsiderou os valoresatribuídos ao poder terreno, às coi-sas que enchem os olhos e intumes-cem de orgulho o ser, mas que logoperdem o sentido, quando a enfer-midade, a velhice e a morte se apre-sentam.

Exemplo máximo de integrida-de, transitou entre as criaturas co-mo lídimo representante da felici-dade real, mesmo quando levado aosarcasmo, ao abandono e à traição,à morte infamante...

Os Seus valores, aqueles a quedava sentido, não ficaram sem sig-nificado, embora a vulgaridade dospoderosos de um dia, que foramconsumidos pelo tempo, ou servi-ram de estímulo para a exaltaçãodos perversos e insensatos que tam-bém ficaram no olvido.

Permanecem íntegros, ilumi-nando milhões de vidas que lhesapreendem os conteúdos.

Redescobrir a integridade, nes-te momento de conflitos e danos de

todo porte, é alternativa única, porcerto, para tornar o indivíduo au-têntico perante si mesmo, o seupróximo e Deus.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Dival-do Pereira Franco, em 1/1/2003, no Cen-tro Espírita Caminho da Redenção, Sal-vador, Bahia, Brasil.)

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Conclusões populares

Faze tu, quanto te caiba,Com teus cuidados cristãos!O olho fiel do donoÉ mais ágil que cem mãos.

Quem fala pouco na estradaEvita muita contenda.Prende agora a tua línguaSe não queres que te prenda.

Perdoa e auxilia sempre...Quem ofensas muito apura,Não tem a calma precisa,Nem tem a vida segura.

Aos homens sem Jesus-CristoNão mostres, perdendo a calma,Nem o fundo de teu bolso,Nem o fundo de tua alma.

Se desejas grandes luzes,Não sejas aflito e louco.Em nenhum lugar da vida,O que é muito custa pouco.

Casimiro Cunha

Fonte: XAVIER, Francisco C., Gotasde Luz. 6. ed., Rio de Janeiro: FEB,1994, cap. 14, p. 37-38.

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P. – Há quanto tempo atuano Movimento Espírita?

JPM – Atuo no MovimentoEspírita desde 1978, quando come-cei a travar contato com a Doutri-na, em Brasília.

P. – Como se envolveu com otrabalho de unificação?

JPM – Após o meu envolvi-mento com a Cruzada dos Milita-res Espíritas passei, progressivamen-te, a conhecer outras instituiçõesespíritas, inclusive participando deseus trabalhos. Vieram posterior-mente as atividades desenvolvidasem conjunto por entidades localiza-das no Rio de Janeiro, onde serviacomo profissional, desenvolvendo--se nossa percepção do trabalho es-pírita como um esforço coletivo.

P. – Em que período passou aintegrar a Diretoria da Cruzadados Militares Espíritas?

JPM – Passei a integrar a Dire-toria da CME a partir de 1994.

P. – Quais as linhas mestrasde atuação da Cruzada e como ésua organização?

JPM – As linhas mestras deatuação da Cruzada, consubstan-ciadas no seu Estatuto, assim es-tão definidas: congregar o maior

número de associados com a de-nominação genérica de “Cruza-dos”; realizar o estudo do Espiri-tismo, em seus fundamentos filo-sóficos, científicos e religiosos, so-bretudo nos Grupos de EstudosDoutrinários (GEDs) que vierema funcionar nas Organizações Mi-litares das Forças Armadas, Polí-cia Militar e Corpo de BombeirosMilitar; promover a difusão dou-trinária através de palestras e cur-sos, bem como pelos meios de co-municação, inclusive por intermé-dio de órgão(s) doutrinário(s) pró-prio(s).

P. – Quantos Núcleos estão emfuncionamento? Sempre em espaçosmilitares?

JPM – A CME conta com trin-ta Núcleos, disseminados por gran-de parte do nosso território, do RioGrande do Sul ao Amazonas; deMato Grosso do Sul a São Paulo.Alguns Núcleos funcionam em ins-talações militares e outros em sedeprópria, estes com maior incidênciano sul do País. Em Brasília, porexemplo, nosso Núcleo está ocu-pando instalações no Oratório doSoldado, que abriga também cató-licos e evangélicos, cada qual no seuespaço específico.

P. – Poderia registrar um epi-sódio interessante sobre a presençaespírita propiciada pela Cruzadaem área de difícil acesso?

JPM – Em várias localidadesda Amazônia, até época recente,nossos Delegados constituíam oúnico canal de distribuição de ma-terial doutrinário. Por outro lado,alguns dos nossos Núcleos insta-laram-se junto a comunidades mui-to carentes, com elevados índices deviolência, às quais passaram a levaros benefícios do esclarecimento e dasolidariedade, influindo de manei-

ENTREVISTA: JOSÉ PLÍNIO MONTEIRO

Uma visão daCruzada dos Militares Espíritas

José Plínio Monteiro, falando na Reunião do CFN

O Presidente da Cruzada dos Militares Espíritas, José Plínio Monteiro, comenta osobjetivos e ações da instituição que integra o Conselho Federativo Nacional como

Entidade Especializada

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ra sensível na melhoria desse qua-dro em suas respectivas áreas de in-fluência. Certas áreas, denominadasde “alto risco”, abrigam Núcleos daCME. Ali todos os freqüentadorestêm livre trânsito e até mesmo “pro-teção especial”, sem jamais ocorrerqualquer constrangimento paraquem quer que seja.

P. – Qual ação da Cruzadaconsidera prioritária para favorecera difusão doutrinária?

JPM – As atividades desenvol-vidas pelos Grupos de EstudosDoutrinários certamente consti-tuem a ação primeira, porque en-sejam maior abrangência e estãovoltados para o interior de cadaquartel, alcançando a todos os quedesejarem conhecer o Espiritismo.

P. – Como avalia o desenvol-vimento do Conselho FederativoNacional desde o início de sua par-ticipação?

JPM – Não me sinto muito àvontade para avaliar o desenvolvi-mento do CFN, pela minha peque-nez diante de tão elevado auditório.Diria que a cada encontro tem sidopossível observar a evolução na di-nâmica estabelecida, tanto no querespeita ao conteúdo quanto no queconcerne à objetividade. A CMEtem plena consciência da razão desua presença no encontro e deleparticipa muito mais para aprender,cooperando no que estiver ao seualcance.

P. – Teria uma mensagem aoleitor de Reformador?

JPM – A CME é obra da fra-ternidade. Não divide os homens,nem semeia ódios ou controvérsiaspessoais. Não há imposições, nemdogmas. Pregar-se-á para quem qui-ser ouvir e apontar-se-á para os que“têm olhos para ver”.

A expressão moral-espiritual daCruzada reside na liberdade de crere no respeito a todas as demaiscrenças ou religiões.

Não disputamos honras ougrandezas humanas, mas acredita-mos no amor de Deus e propa-garemos as verdades evangéli-cas. Adoramos Deus e Jesus ànossa forma. Se assim não fora,não compreenderíamos as varia-das modalidades do Cristianismo.São maneiras de adorar o mesmoDeus.

Todas as religiões ou crenças en-cerram verdades divinas. Impossívelseria pela inteligência e fé compreen-der Deus, em sua absoluta sabedo-ria, abandonando os Seus filhos por-que não ficaram filiados a esta emvez daquela religião ou crença. A his-tória das religiões antigas ou moder-nas prova a sucessão progressiva dosconhecimentos espirituais, atravésdos vários estágios da civilização.“Viva de tal forma que o seu exem-plo seja, talvez, o único Evangelhoque as pessoas possam estudar.”

Indagações a nós mesmosQue seremos na casa de nossa fé, em companhia daqueles que

comungam conosco o mesmo ideal e a mesma esperança? Uma fonte cristalina ou um charco pestilento? Um sorriso que

ampara ou um soluço que desanima? Uma abelha laboriosa ou umverme roedor?

Um raio de luz ou uma nuvem de preocupações? Um ramo de flores ou um galho de espinhos? Um manancial de bênçãos ou um poço de águas estagnadas? Um amigo que compreende e perdoa ou um inquisidor que

condena e destrói? Um auxiliar devotado ou um expectador inoperante? Um companheiro que estimula as particularidades elogiáveis do

serviço ou um censor contumaz que somente repara imperfeições edefeitos?

Um pessimista inveterado ou um irmão da alegria? Um cooperador sincero e abnegado ou um doente espiritual,

entrevado no catre dos preconceitos humanos, que deva ser trans-portado em alheios ombros, à feição de problema insolúvel?

Indaguemos de nós mesmos, quanto à nossa atitude na comu-nidade a que nos ajustamos, e roguemos ao Senhor para que o vaso denossa alma possa refletir-lhe a Divina Luz.

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco C., Correio Fraterno. Diversos Espíritos. 5. ed., Rio deJaneiro: FEB, 1998, cap. 23, p. 61-62.

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As enfermidades espirituais pro-duzem distúrbios ou lesões nocorpo físico decorrentes de de-

sarmonias psíquicas originadas dascondições pessoais do enfermo, dainfluência de entidade espiritual, oupor ação conjunta de ambos. Po-dem ser consideradas como de bai-xa, média ou de alta gravidade.

As de baixa gravidade, mais fá-ceis de serem controladas, costu-mam surgir em momentos específi-cos da vida, quando a pessoa passapor algum tipo de dificuldade: per-das afetivas ou materiais; doençasfísicas; insucesso profissional, entreoutras. São situações em que asemoções afloram impetuosamente,gerando diferentes tipos de somati-zações: ansiedade, angústia, doresmusculares, enxaqueca, distúrbiosna digestão (náuseas, cólicas, azia,má absorção alimentar etc.). Ocor-rem distúrbios do sono, da atençãoe do controle emocional. Nessa si-tuação, a prece representa um po-deroso instrumento de auxílio, poiseleva o padrão vibratório do neces-sitado. A mudança vibratória per-mite que a assistência dos benfei-tores espirituais favoreça o reajustepsíquico, emocional e físico. A pes-soa recupera, então, as rédeas sobresi mesma, rompendo com as idéiasperturbadoras, próprias ou de ou-trem.

As doenças espirituais de mé-dia gravidade podem prolongar-sepor anos a fio, mantendo-se dentrode um mesmo padrão ou evoluin-do para algo mais grave. Com opassar do tempo, podem apresentarum quadro sintomatológico carac-terístico de um tipo específico depatologia: insônia persistente; gas-trite e ulceração gástrica; infecções

microbianas repetidas; crises alérgi-cas costumeiras; dores muscularespenosas, formadoras de nódulos oupontos de tensão; dificuldades res-piratórias seguidas da desagradável“falta de ar”; hipertensão; obesida-de ou magreza; crises de enxaquecaprolongadas, não controláveis pormedicamentos; humor claramenteafetado, oscilante entre crises deirritabilidade e impaciência inco-muns e momentos de indiferentis-mo e submissão emocionais; epi-

sódios depressivos repetidos segui-dos de euforia exagerada. Se nãoocorre a desejável assistência espiri-tual em benefício do necessitado,nessa fase da evolução da enfermi-dade, os doentes podem desenvol-ver comportamentos caracteriza-dos, sobretudo, por “manias” e pe-lo isolamento social. As idéias e osdesejos do enfermo ficam giran-do dentro de um círculo vicioso,conduzindo à criação de formas--pensamento, alimentadas pela von-tade do próprio necessitado e pelados Espíritos desencarnados, sinto-nizados nesta faixa de vibração. Asorientações espíritas, se aceitas e se-guidas, proporcionam imenso con-forto, podendo reduzir ou eliminaro quadro geral de perturbações, so-bretudo se associada às ações médi-cas e psicológicas. Assim, faz-senecessário desenvolver persistentetrabalho de renovação mental ecomportamental da pessoa necessi-tada de auxílio. A prece, o passe, aágua fluidificada, o estudo do Evan-gelho no lar, a assistência espiritual(atendimento e diálogo fraterno,freqüência às reuniões de explana-ção do Evangelho e de irradiaçõesespirituais), o estudo espírita, entreoutros, representam instrumentosde auxílio e de renovação psíquica,em geral disponibilizados pelas nos-sas Casas Espíritas.

As enfermidades espirituais,classificadas como graves, são en-contradas em pessoas que revelamperdas temporárias ou permanen-

As enfermidades espirituaisMarta Antunes Moura

Faz-se necessário

desenvolver

persistente trabalho

de renovação mental

e comportamental

da pessoa necessitada

de auxílio

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tes da consciência. A perda da cons-ciência, lenta ou repentina, pode es-tar associada a uma causa fisiológi-ca (velhice) ou a uma patologia(lesões cerebrais de etiologias diver-sas). Nessa situação, o enfermo viveperíodos de alheamentos ou aliena-ções mentais, alternados com ou-tros de lucidez. Esses períodos sãoparticularmente difíceis, pois a pes-soa passa a viver numa realida-de estranha e dolorosa, sobretudoquando o Espírito enfermo vê-se as-sociado a outras mentes enfermas,em processos de simbioses espiri-tuais. O doente requisita atendi-mento médico especializado, nocampo da psiquiatria. A fluidotera-pia espírita suaviza a manifestaçãoda doença, auxiliando o tratamen-to médico. A assistência espiritual,oferecida pela Casa Espírita, agecomo bálsamo, minorando o sofri-mento dos encarnados – doente, fa-miliares e amigos – e dos desencar-nados envolvidos na problemática.O atendimento ao perturbador es-piritual nas reuniões de desobses-são, assim como as irradiações men-tais em benefício do obsessor e doobsidiado produzem resultados sig-nificativos, fundamentais ao proces-so de libertação espiritual.

As enfermidades espirituais re-presentam uma realidade, impossí-vel de ser ignorada, sobretudo nostempos atuais, quando sabemos daexistência de um alerta superior quenos aponta para a urgente necessi-dade de avaliarmos a nossa condu-ta moral, desenvolvendo ações e ati-tudes compatíveis com a Lei deAmor, Justiça e Caridade.

As enfermidades espirituais dei-xarão de existir, esclarecem-nos osbenfeitores espirituais, quando nosrenovarmos para o bem. Nesse

sentido, são oportunas as elucida-ções do Espírito André Luiz: “A en-fermidade, como desarmonia espi-ritual (...) sobrevive no perispírito.As moléstias conhecidas no mundoe outras que ainda escapam ao diag-nóstico humano, por muito tempopersistirão nas esferas torturadas daalma, conduzindo-nos ao reajuste.A dor é o grande e abençoado re-médio. Reeduca-nos a atividademental, reestruturando as peças denossa instrumentação e polindo osfulcros anímicos de que se vale a

nossa inteligência para desenvolver--se na jornada para a vida eterna.Depois do poder de Deus, é a úni-ca força capaz de alterar o rumo denossos pensamentos, compelindo--nos a indispensáveis modificações,com vistas ao Plano Divino, a nos-so respeito, e de cuja execução nãopoderemos fugir sem graves prejuí-zos para nós mesmos.”*

211

*XAVIER, Francisco Cândido. Entre a Terra eo Céu, pelo Espírito André Luiz. 21. ed., Riode Janeiro: FEB, 2003, cap. 21, p. 174.

A subjugaçãoA subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que

a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sobum verdadeiro jugo.

A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o sub-jugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e com-prometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é umacomo fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos ma-teriais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium es-crevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos mo-mentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis,simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mes-mo nas ruas, nas portas, nas paredes.

Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos maisridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem be-lo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via cons-trangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de umamoça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casa-mento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enér-gica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a seajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multi-dão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações;estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era,porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra asua vontade e com isso sofria horrivelmente.

Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 72. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2004,cap. XXIII, item 240, p. 309.

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Meus amigos:

Que Nosso Senhor Jesus-Cristonos conserve o amor no cora-ção e a luz no cérebro, para

que nossas mãos permaneçam vigi-lantes e diligentes no bem.

Quem assinala os dramas deaflição a emergirem da treva nassessões mediúnicas, percebe facil-mente a importância da vida huma-na como estação de refazimento eaprendizado.

Principalmente para nós, osque procuramos no Espiritismouma porta iluminada de esperançapara o acesso à verdade, a existênciana Terra se reveste de subido valor,porque não desconhecemos os pe-rigos da volta à retaguarda.

Sentimos de perto o martíriodas criaturas desencarnadas que sedeixaram arrastar pelos furacões docrime e o tormento das almas, sema concha física, que ainda se ape-gam desvairadamente à ilusão.

Somos testemunhas de culpase remorsos que passaram impunesdiante dos tribunais terrestres, eanotamos a Justiça Imanente, Uni-versal e Indefectível, que confere acada Espírito o galardão da vitóriaou o estigma da derrota, segundo asrealizações que edificou para si mes-mo.

Sabemos que não vale pergun-tar com a Ciência, menoscabandoa consciência, e não ignoramos que

as tragédias e as lágrimas que fazemo inferno, nas regiões sombrias, seoriginam, de maneira invariável, dosentimento desgovernado e vicioso.

Vede, pois, que, em nos con-chegando ao Cristo de Deus, bus-cando-lhe a inspiração para os nos-sos serviços e ideais, nada maisfazemos que situar os nossos prin-cípios no lugar que lhes é próprio,porque a nossa Doutrina Renova-dora é, sobretudo, um roteiro deaperfeiçoamento do homem, com asublimação do caráter.

Entre as realidades amargasque nos visitam os templos de in-tercâmbio e certas predicações decompanheiros cultos e entusiastas,mas imperfeitamente acordadospara as responsabilidades que lhescompetem, lembremo-nos de quequase vinte séculos de Cristianismoverbal viram passar no mundo tro-nos e Estados, organizações e mo-numentos, guerras e acordos, casas

de caridade e santuários de estudoem todas as linhas da civilização doOcidente, erguendo-se em nomede Jesus e tornando ao pó de quenasceram, tão-somente com o be-nefício da experiência dolorosa,haurida entre a sombra e a de-silusão.

Levantemo-nos para a fé quenos redima por dentro.

Deus é o Senhor do Universo eda Natureza, mas determina seja-mos artífices de nossos própriosdestinos.

Renovemo-nos hoje ao Sol doEvangelho!

Cada qual de nós use a ferra-menta das idéias superiores de quejá dispõe e de conformidade com alição de nosso Divino Mestre, estu-dada por nós nesta noite. Trabalhe-mos, “enquanto é dia”, na prepara-ção do futuro de paz.

O Espiritismo não é um es-porte da inteligência. É um cami-nho de purificação para a glóriaeterna.

No cume da montanha quenos compete escalar, aguarda-nos oSenhor como o Sol da Vida.

Desentranhemos, assim, a ge-ma de nossa alma do escuro casca-lho da ignorância, para refletir--lhe a Divina Luz!

Cairbar Schutel

Fonte: XAVIER, Francisco C., Vozes doGrande Além. Diversos Espíritos. 4. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1990, p. 65-67.

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PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Renovemo-nos hoje

O Espiritismo não

é um esporte da

inteligência. É um

caminho de

purificação para a

glória eterna

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Os últimos dois séculos trans-corridos constituem, inega-velmente, período áureo da

história humana, pelas conquistas eresultados conseguidos no exercíciodas atividades intelectuais, científi-cas e tecnológicas.

O adiantamento material e es-piritual foi relevante, permitindo aohomem dar largas passadas, ultra-passar os limites da Terra e conse-guir, por outro lado, conceber a vi-da em novas dimensões.

Tais constatações não signifi-cam, evidentemente, que os habi-tantes terrenos tenham superado aignorância e as imperfeições disse-minadas por diversos recantos doPlaneta. Contudo, ao considerar-mos, por exemplo, a abolição da es-cravidão, em todas as nações, é for-çoso concluir que esse fato, mesmoisoladamente, constitui importantevitória contra a ignóbil prática desubjugar o semelhante, nosso ir-mão, o próximo.

Do ato da condenação do Cris-to de Deus ao culto que hoje lhe éprestado, em muitos locais e por vá-rios segmentos religiosos, nota-segrande alteração do comportamen-to humano. O Sinédrio, com rela-ção a Jesus, não exerceu sua atribui-ção de julgar, como era normal-mente de sua alçada. Naquele episó-dio já havia a condenação anteci-pada do Cristo. Houve, apenas, amontagem de uma impostura, uma

simulação de julgamento para enga-nar e satisfazer o ódio de uma mal-ta ignorante. O mundo de então es-tava mergulhado em densas trevas,que somente o curso do tempo e osemissários divinos têm o encargo dedissipar. Naquelas circunstâncias eperante aquela súcia, o sacrifício in-fame de Jesus teve caráter de um fa-to comum, sem relevância. Aquelebando de algozes, de completa ca-rência intelectual e moral, não po-dia imaginar que sua ação estavarelacionada com os destinos do Pla-neta. Toda aquela encenação consti-tuía o mais infamante labéu da hu-manidade terrena.

Hoje, decorridos dois milêniosdas lamentáveis cenas do Calvário,ainda é imperativo absoluto desalo-jar do coração humano o orgulho eo egoísmo para que o homem pos-sa defender-se da influência perni-ciosa do materialismo e praticar asleis da fraternidade e amor ao pró-ximo, conduta indispensável parasentir-se feliz e encontrar o rumo daperfeição a que se destina.

Pode ser compreensível que apessoa que tenha os olhos perma-nentemente voltados para o chão,em busca de bens perecíveis, nãocreia em Deus. O que é difícil deentender e aceitar é como pode oser humano olhar para o céu, miraras estrelas que cintilam, ter perma-nente contacto com as leis naturaisque regem o Universo e não perce-ber a presença do Criador miseri-cordioso e amoroso que está em to-da a parte.

O advento do Espiritismo, nasegunda metade do século XIX,abriu imensas oportunidades deampliação dos conhecimentos nosdomínios da Psicologia e de outrasatividades científicas. Aprofunda-ram-se conhecimentos atinentes àvida e à matéria inerte. Surgiramnovos horizontes para a Humani-dade. Após milênios, o Espiritismodá ensejo à aproximação da Ciênciae da Religião.

O progresso constante das cria-turas e dos mundos onde habitamfaz parte dos decretos da DivinaProvidência. É, portanto, imposiçãoinabalável. A Doutrina Espírita es-clarece que ocorre primeiramente oadiantamento intelectual, daí resul-tando o progresso moral, sempredificultado pelo orgulho e peloegoísmo que o entravam mas não oimpedem de realizar-se.

O princípio da reencarnaçãoou das vidas sucessivas do Espíritoé a prescrição natural destinada aassegurar-lhe o aperfeiçoamento,sendo que a educação, em sentidoamplo, é o meio eficiente para quea alma atinja a sua destinação. Oprogresso moral das criaturas é,inegavelmente, a grande necessida-de atual da humanidade terrena.

O Consolador prometido e en-viado por Jesus nos exorta a comba-ter permanentemente nossos errose defeitos, grandes ou pequenos,para podermos evoluir. Estimula,também, continuamente, a práticado bem, da justiça, do amor a Deuse ao próximo, da caridade, e a bus-car o conhecimento da verdade, co-mo meios e modos infalíveis deavançar, de conformidade com a so-berana e indefectível Lei do Pro-gresso.

Reformador/Junho 2004 15213

Lei do ProgressoWashington Borges de Souza

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OEspiritismo traz-nos uma no-va ordem religiosa que preci-sa ser preservada. Nela o Cris-

to desponta como excelso e gene-roso condutor de corações e oEvangelho brilha como o Sol na suagrandeza mágica. Doutrina que cres-ceu demasiadamente nos últimoslustros, em suas hostes surgirambons líderes ao tempo que tambémapareceram imprudentes inovado-res com a presunção de “atualizar”Kardec.

A Terceira Revelação é a res-posta sábia dos Céus às interroga-ções da criatura aflita na Terra, con-duzindo-a ao encontro de Deus.Cremos que preservá-la da presun-ção dos reformadores e das propos-tas ligeiras dos que o ignoram eapenas fazem parte dos grupos on-de é apresentado, constitui dever detodos nós.

Bezerra de Menezes tem de-monstrado preocupação com a ma-nutenção da singeleza dos postula-dos espíritas, senão, vejamos: “Nes-te momento, contabilizamos glóriasda Ciência, da Tecnologia, do pen-samento, da arte, da beleza, masnão podemos ignorar as devastado-ras estatísticas da perversidade que

se deriva dos transtornos comporta-mentais (...).

(...) as criaturas humanas ain-da não encontraram o ponto derealização plenificadora. Isto por-que Jesus tem sido motivo de exco-gitações imediatistas no campeona-to das projeções pessoais, na reli-gião, na política e nos interessesmesquinhos.” 1

Se abraçamos o Espiritismo,por ideal cristão, não podemos ne-gar-lhe fidelidade. O legado da to-lerância não se consubstancia naomissão da advertência verbal dian-te das enxertias conceituais e práti-cas anômalas que alguns compa-nheiros intentam impor no seio doMovimento Espírita.

Para os mais afoitos, a purezadoutrinária é a defesa intransigentedos postulados espíritas, sem maiorobservância das normas evangélicas;para outros, não menos afobados, éa rígida igualdade de tipos de com-portamentos sem a devida conside-ração aos níveis diferenciados deevolução em que estagiam as pes-soas. Sabemos que o excesso de ri-gor na defesa doutrinária pode levara graves erros, se enveredarmos pe-las trilhas de extremismos injustifi-cáveis, posto que redundarão emdivisão inaceitável, em face dos im-positivos da fraternidade. É óbvioque não podemos converter defesada pureza kardequiana em cristali-

zada padronização de práticas quepodem obstar a criatividade espon-tânea diante da liberdade de ação.

Não obstante repelir as atitu-des extremas, não podemos abrirmão da vigilância exigida pela pu-reza dos postulados espíritas e nãohesitemos, quando a situação se im-puser, em nos alertar sobre a fideli-dade que devemos a Kardec e a Je-sus. É importante não esquecermosque nas pequeninas concessões va-mos descaracterizando o projeto daTerceira Revelação.

“É necessário preservar o Espi-ritismo conforme o herdamos doeminente Codificador, mantendo--lhe a claridade dos postulados, alimpidez dos seus conteúdos, nãopermitindo que se lhe instale aden-da perniciosa, que somente irá con-fundir os incautos e os menos co-nhecedores das suas diretrizes” 2 Éinegável que existem inúmeras prá-ticas não compatíveis com o proje-to doutrinário que urge sejam com-batidas à exaustão, nas bases dadignidade cristã, sem quaisquer lai-vos de fanatismo, tendente a im-possibilitar discussão sadia em tor-no de questões controversas.

Apresentando certa apreensãoquanto ao Movimento Espírita,nosso Benfeitor recorda: “A BoaNova (...) produz júbilo interno enão algazarra exterior. (...) não élícito que nos transformemos em

Bezerra de Menezes adverte sobre as adendas perniciosas

Jorge Hessen

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Reformador/Junho 2004 17215

pessoas insensatas no trato com asquestões espirituais. Preservar, por-tanto, a pulcritude e a seriedadeda Doutrina no Movimento Espí-rita é dever que nos compete a to-dos e particularmente ao Conse-lho Federativo Nacional atravésdas Entidades Federadas.” 3 (Des-tacamos.)

Sobre os que ainda se fixamdemasiadamente nas questões feno-mênicas, Bezerra lembra: “(...) amediunidade deve ser exercida san-tamente, cristãmente, com respon-sabilidade e critérios de elevaçãopara não se transformar em instru-mento de perturbação e desídia.” 4

O exercício da mediunidade deveser reservado às pessoas que conhe-çam Espiritismo, pelo fato de serextremamente perigosa a participa-ção de pessoas despreparadas emtrabalhos mediúnicos. E por desa-tenção desse tópico, após mais deum século de mediunidade à luz daDoutrina Espírita, temo-la aindaatualmente ridicularizada pelos in-telectuais, materialistas e ateístas,que insistem em desprezá-la até hoje.

Em nome do Espiritismo, háaqueles que propõem práticas alter-nativas, que nada têm a ver com aterapêutica espírita. Em recenteentrevista ao jornal Alavanca –abril/maio-2000 – Divaldo Francoadverte sobre as “terapias alternati-vas – ‘curanderismos’ e a fascinaçãona prática mediúnica, apontando-os como fatores que têm desestabi-lizado o projeto da unidade doutri-nária”.5

É por essas e outras que a re-vista Veja6 registra que os médicosda ala conservadora da Psiquiatriaconsideram os médiuns como do-tados de neuroses, psicoses, desviosde personalidade, esquizofrenias.

Muitos adeptos do Espiritismo des-conhecem Allan Kardec, Emma-nuel, André Luiz, Joanna de Ânge-lis, Bezerra de Menezes e outrosconsagrados expoentes da difusãodoutrinária e lastimavelmente estãoaguilhoados nas práticas que com-prometem todo projeto doutriná-rio.

“Mantende o espírito de paz,preservando os objetivos abraçadose, caso seja necessário selar vossocompromisso com testemunho, nãotitubeeis.” 7 O exercício dos códigosevangélicos impõe-nos a obrigató-ria fraternidade e compreensão paracom os adeptos dessas práticas, oque não quer dizer que devamosomitir-nos quanto à oportuna ad-vertência para que a Casa Espírita

não se transforme em academia deilusões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1Bezerra de Menezes. (Mensagem psicofônica

recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco,

em 9 de novembro de 2003, no encerramento

da Reunião do Conselho Federativo Nacional,

na sede da Federação Espírita Brasileira, em

Brasília. Publicada com o título “Brilhe a vossa

luz”, em Reformador/dezembro/2003, p. 8

(446) e 9 (447).2Idem, ibidem.3 Idem, ibidem.4Idem, ibidem.5Jornal Alavanca – abril/maio-2000. 6Revista Veja. SP, abril -1999.7Cf. Bezerra de Menezes. Mensagem psicofôni-

ca In: Reformador/dezembro/2003.

Nosso trabalhoO nosso trabalho é de dedicação à causa da Verdade, estabelecen-

do as linhas da Fraternidade e do Bem, começando a vivência cristã emnosso íntimo, em nosso lar, na família – a célula gloriosa da nossa re-denção –, para daí partirmos na direção da família terrestre sob asbênçãos do Planeta-Mãe que nos hospeda há milênios.

As nossas decisões são baseadas nas palavras de Jesus; a nossadefinição é o Evangelho, que faz falta ao mundo, e que, aparentementedivulgado, não tem encontrado ressonância nos corações, apesar dememorizado e repetido pelos expoentes das doutrinas religiosas.

Jesus, para nós, é o zênite e o nadir, pelo que tem feito em benefí-cio nosso desde o princípio, nesta grande paixão que mantém por nós,a fim de que nos apressemos para encontrar a paz.

Porfiai, pois, obreiros da Era Nova! Tende a coragem de discutirsem dissentir, de discordar sem separar, porque o nosso fulcro é a Ver-dade que defenderemos com a própria vida, como temos feito – muitosde nós – através dos evos.

Bezerra

Fonte: Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, naReunião do Conselho Federativo Nacional, em 7/11/1992. (Transcrição parcial ex-traída de Reformador de dezembro de 1992, p. 13 (361).)

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Mateus, 13:47-50.

Ao tempo de Jesus era usado noMar da Galiléia o arrastão,uma forma de pescaria.

Os pescadores preparavam re-des quadradas, bem grandes, quepermaneciam numa posição verti-cal dentro d’água, mediante a utili-zação de pesos e flutuadores. Eramlevadas pelos barcos e deixadas emdeterminada localização. A partirdali eram puxadas para a praia, porcordas, colhendo todos os tipos depeixes, suficientemente grandes pa-ra ficarem presos em suas malhas.

Havia proibições de consumo,pela lei judaica, como está na orien-tação mosaica, em Levítico (11:12):

Tudo o que não tem barbata-nas nem escamas, nas águas, serápara vós abominável.

Juntamente com os peixes nãocomestíveis e de mau sabor, eramjogados de volta ao mar ou iam pa-ra o lixo.

...

Jesus usa a imagem do arrastãopara transmitir um de seus ensina-mentos sobre o Reino dos Céus.

(…) é semelhante a uma redelançada ao mar, que apanha todaespécie de peixes.

Quando está cheia, os pescado-res a retiram e, sentados na praia,escolhem os bons para os cestos, e oque não presta, deitam fora.

Assim será na consumação dosséculos: virão os anjos e separarãoos maus dentre os justos, e os lança-rão na fornalha ardente, onde ha-verá choro e ranger de dentes.

No aspecto físico, o Reino deDeus abrange o Universo. O Cria-dor está em tudo e em todos.

No aspecto individual é umacondição íntima, aquele momentode iluminação em que nos integra-mos plenamente na Vida, cidadãosdo Universo.

No aspecto coletivo seria a ins-talação de uma sociedade formadapor Espíritos iluminados.

Com o crescimento espiritualda Humanidade amplia-se o con-tingente dos que realizaram o Rei-no em seus corações.

Hoje, uma minoria.Em alguns séculos, talvez, a

maioria.Acontecerá, então, o arrastão

da parábola.Colhidos pelas malhas da Jus-

tiça, aqueles que não se enquadra-rem na nova ordem serão jogadosna fornalha ardente…

Naturalmente, trata-se de umsimbolismo, uma imagem forte,que a teologia medieval levou ao péda letra, concebendo a idéia do in-ferno de fogo, onde as almas com-

prometidas queimam sem se con-sumir, em perenes sofrimentos.

...

O Espiritismo oferece idéiadiferente.

Não estarão irremissivelmentecondenados os recalcitrantes. Se-rão simplesmente degredados emplanetas inferiores, onde enfrenta-rão dificuldades e dissabores, soborientação da mestra Dor, lá bemmais severa.

Isso, somado às saudades daTerra e dos afeiçoados que aqui fi-carão, quebrará a rebeldia, favore-cendo sua renovação.

Redimidos, ainda que isso exi-ja o concurso dos milênios, retorna-rão ao nosso mundo.

Segundo Emmanuel, no livroA Caminho da Luz, há algunsmilênios havia um planeta no sis-tema de Capela, uma estrela, naconstelação do Cocheiro, cuja po-pulação atingira um estágio de evo-lução que permitiria a promoçãodaquele planeta.

Deixaria de ser um mundo deexpiação e provas, como é a Terra,cujos habitantes são orientados pe-lo egoísmo, e passaria a mundo deregeneração, com uma populaçãodisposta a assumir a cidadania doReino de Deus.

Ocorre que uma parcela da po-pulação não estava sintonizada comos novos rumos. Então, houve o ar-rastão, envolvendo milhões de re-

Antes que venha o arrastãoRichard Simonetti

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calcitrantes. A direção espiritual doplaneta os transferiu para um mun-do em evolução primária.

Você pode imaginar qual seria,amigo leitor?

Se pensou em nosso planeta,acertou.

Os capelinos encarnaram noseio das raças humanas, promoven-do desde logo grandes transforma-ções, já que mentalmente erammuito mais evoluídos, embora mo-ralmente em estágio semelhante aodos terrestres.

Os antropólogos espantam-secom a civilização neolítica. Em al-gumas centenas de anos grandesconquistas foram obtidas – a do-mesticação dos animais, a descober-ta da agricultura, a formação da es-crita, a utilização de metais, a vidaurbana…

O Homem, que estava pratica-mente na idade da pedra, repenti-namente se viu em meio a grandesconquistas.

Foram iniciativas dos capeli-nos que deram origem, inclusive, àsgrandes civilizações, como a egíp-cia, a hindu, a indo-européia e a he-braica.

Detalhe importante. Não estãobem definidos para os antropólogosos fatores que determinaram sua ex-tinção.

Mas, à luz do Espiritismo, ésimples explicar.

Na medida em que os degreda-dos, renovados e redimidos, retor-naram ao planeta de origem, as ci-vilizações que edificaram entraramem decadência.

Imaginemos uma família rica eabastada, que construa moderno pa-lacete numa favela. Depois de algunsanos, o proprietário muda-se e deixao imóvel para os favelados. Estes,

sem condições para cuidar adequa-damente dele, deixam que se dete-riore, até transformar-se em ruínas.

Foi o que aconteceu com aque-las civilizações. Morreram porque ohomem terrestre não tinha compe-tência para preservá-las.

...

Algo semelhante ocorrerá coma Terra, no grande arrastão.

Seitas pentecostais o anunciampara breve, ainda neste século.

Proclamam seus arautos:– Arrependam-se! Jesus está

chegando!O Espiritismo confirma que is-

so acontecerá, não como uma con-denação eterna, mas como um de-gredo transitório para aqueles quenão realizarem o Reino em suas al-mas.

Parece-me, amigo leitor, quenão ocorrerá em tempo breve. Fácilentender a razão. No Sermão daMontanha Jesus nos dá uma pistade quem ficará, ao proclamar:

Bem-aventurados os mansos, por-que herdarão a Terra.

Significa que ficarão aquelesque houverem conquistado a man-suetude. Se acontecesse agora, cer-tamente, nosso planeta seria trans-formado num deserto, porquantoraras pessoas efetuaram essa con-quista.

Estamos tão longe da mansi-dão, em face do caráter agressivoque caracteriza o homem, orientadopelo egoísmo, que o termo mansoguarda uma conotação pejorativa.

Chamar alguém de manso éxingá-lo, equivalente a dizer quecorre sangue de barata em suasveias.

No entanto, é apenas alguémque venceu a agressividade; que nãoreage ao mal com o mal; que guar-da as raízes de sua estabilidade nopróprio íntimo.

Se bem observarmos, verifica-remos que muitos males que con-turbam as relações humanas, emtodos os níveis, inspiram-se naagressividade, sempre com o propó-sito de favorecer o interesse pessoal.

...

Podemos fazer um teste ligeiro,a fim de verificar se estamos con-quistando a mansidão, habilitando--nos ao Reino, ou se corremos peri-go no arrastão.

1 – Somos submetidos a umacirurgia e permanecemos acamadospor alguns dias.a) Cultivamos a oração e a sereni-

dade, procurando não inco-modar ninguém, nem aumen-tar a preocupação dos fami-liares.

b) Perturbamos a todos com ge-midos e reclamações, como seestivéssemos sob tortura numleito de faquir, sobre um col-chão de pregos.

2 – Um conhecido passa pornós sem nos cumprimentar.a) Consideramos que não nos viu

ou estava distraído. b) Ficamos possessos: – Pretensio-

so! Julga que tem um rei nabarriga!

3 – O cônjuge está meio quie-to, fechado, poucas palavras.a) Imaginamos que deve estar

cansado, querendo um poucode sossego.

b) Estressamos e logo clamamos

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que está querendo nos levar àloucura com seu mutismo.

4 – No trânsito, um motoristabuzina atrás, assim que abre o sinal.a) Consideramos que deve estar

com pressa. Engatamos a pri-meira e seguimos em frente.

b) Castigamos o atrevido, demo-rando para avançar. Se torna abuzinar, fazemos um sinal mal-criado, mandando-o passar porcima.

5 – Cruzamos uma rua prefe-rencial, inadvertidamente. Um mo-torista, cujo carro quase foi atingi-do, faz gesto pejorativo, sugerindobarbeiragem.a) Admitimos que precisamos es-

tar mais atentos.b) Gritamos a plenos pulmões, re-

comendando-lhe que vá pro-curar aquela senhora, que opôs no mundo.

6 – O chefe nos adverte quan-to a uma falha.a) Desculpamo-nos, com a dispo-

sição de melhorar nosso de-sempenho.

b) Mal contemos o desejo de pu-lar em seu pescoço, e, intima-mente, formulamos ardentesvotos de que ele vá para o dia-bo que o carregue.

7 – O subordinado cometeuma falha.a) Tratamos de orientá-lo para uma

melhor condução do serviço.b) Lembramos-lhe de que se não

der um jeito na sua atuaçãoprofissional há dezenas de de-sempregados que podem fazero dobro do que faz, pela meta-de do ordenado.

8 – Os vizinhos envolvem-senuma discussão, pondo-se a gritaruns com os outros.a) Consideramos que devem estar

com algum problema e oramospor eles.

b) Chamamos a polícia para darum jeito naqueles malucos.

9 – O filho vai mal na escola.a) Dispomo-nos a acompanhá-lo

nas tarefas, ajudando-o.b) Damos-lhe uma surra homéri-

ca, prometendo fazer pior sevoltar a tirar notas baixas.

10 – Num grupo de trabalho,em atividade religiosa, não aceitamnossa sugestão.

a) Ficamos tranqüilos, conside-rando que muitas cabeças pen-sam melhor que uma só.

b) Reclamamos que é uma cam-bada de pretensiosos que nãodeixa espaço para ninguém, enos afastamos.

Se nossas respostas envolvemem maioria a opção “a”, podemosficar tranqüilos. Estamos bem emnosso aprendizado espiritual.

Se as respostas mais freqüentesenvolvem a opção “b”, há deficiên-cias comprometedoras.

É preciso cuidado, torcendopara que não venha o arrastão antesde vencermos os arrastamentos daagressividade.

No livro d'almaSe tens fé, não te aflija a noite escura.Ao coração que a lágrima domina,Ele estende, amoroso, a mão divinaE abre as portas da paz, risonha e pura.

Alivia a aspereza da amarguraE sobre as trevas de miséria e ruínaAcende nova estrela matutina,Na esperança sublime que perdura.

Se a crença viva te dirige os passos,Sob a carícia de celestes braçosReceberás o pão, a luz, o abrigo...

Ama a cruz que te ampara e regeneraE, envolvendo-te em santa primavera,O Mestre Amado seguirá contigo.

Auta de Souza

Fonte: XAVIER, Francisco C., Correio Fraterno, por Diversos Espíritos. 5. ed.,Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap. 40, p. 97.

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É para isto“Não retribuindo mal por mal, nem injúria

por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo;sabendo que para isto fostes chamados.”

– (I Pedro, 3:9.)

A fileira dos que reclamam foi sempre numerosa em todas as tarefas do bem.

No apostolado evangélico, reparamos, igualmente, essa regra geral.

Muitos aprendizes, em obediência ao pernicioso hábito, preferem o caminho

dos atritos ou das dissidências escandalosas. No entanto, mais algum raciocínio

despertaria a comunidade dos discípulos para a maior compreensão.

Convidar-nos-ia Jesus a conflitos estéreis, tão-só para repetir os quadros do

capricho individual ou da força tiranizante? Se assim fora, o ministério do Reino

estaria confiado aos teimosos, aos discutidores, aos gigantes da energia física.

É contra-senso desfazer-se o servidor da Boa Nova em lamentações que não

encontram razão de ser.

Amarguras, perseguições, calúnias, brutalidade, desentendimento? São velhas

figurações que atormentam as almas na Terra. A fim de contribuir na extinção

delas é que o Senhor nos chamou às suas fileiras. Não as alimentes, emprestando-

-lhes excessivo apreço.

O cristão é um ponto vivo de resistência ao mal, onde se encontre.

Pensa nisto e busca entender a significação do verbo suportar.

Não olvides a obrigação de servir com Jesus.

É para isto que fomos chamados.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. 21. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. 118, p. 247-248.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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Recentemente, quando estudá-vamos para fazer uma apre-sentação no X Encontro Esta-

dual Espírita-Esperantista do Esta-do do Rio de Janeiro, ocorrido nodia 7/12/03, na sede da FederaçãoEspírita do Estado do Rio de Janei-ro (FEERJ), tivemos a atenção des-pertada para uma informação con-tida no livro O Esperanto na VisãoEspírita, de Ismael Gomes Braga,editado pela Societo Lorenz. Já sa-bíamos que Lázaro Luís Zamenhof,o criador do Esperanto, tinha sidomédico na Polônia, de início comoclínico geral para depois dedicar-seà Oftalmologia. Mas não sabíamosque ele havia passado por agruras fi-nanceiras. Para obter, em um dia detrabalho, o rendimento que ummédico, no centro de Varsóvia,conseguia atendendo a cinco clien-tes, o Dr. Zamenhof tinha queatender a mais de trinta. Foi, verda-deiramente, um apóstolo da Medi-cina. E, como nos encontrávamosem Niterói, cidade onde está sedia-da a FEERJ, nada melhor do queincluir em nossa fala a história deum homem que foi igualmenteapóstolo da Medicina e esperantis-ta, que viveu grande parte de suavida na ex-capital fluminense.

Estamos falando do Dr. Gui-lherme Taylor March, médico ho-meopata, presidente honorário doInstituto Hahnemanniano do Brasil.Embora havendo conhecido o Es-peranto já na idade madura, o Dr.March serviu-se dele para cor-responder-se com médicos homeo-patas de diversas partes do mundo.

De inteligência invulgar, masprofundamente humilde, ele co-nheceu a Homeopatia quando ain-da era um jovem estudante deMedicina. Residia o Dr. March nacapital do Império, na cidade doRio de Janeiro, e é então quandoum jovem empregado adoece e éatendido por um médico homeo-pata. Depois de demorada consul-

ta, prescreveu os remédios que de-veriam ser tomados de hora em ho-ra, e Guilherme, o futuro Dr.March, ofereceu-se para velar a noi-te toda junto ao doente. Quando omédico voltou no dia seguinte, pa-ra a visita ao enfermo, encontrou-ode volta aos seus afazeres de caixei-ro, plenamente restabelecido. Issoimpressionou Guilherme e certa-mente o influenciou para sua entre-ga total à ciência homeopática.

Não dando certo a sua clínicano Rio de janeiro, aceitou o con-vite que um amigo lhe fez e veiomorar e trabalhar em Niterói, anti-ga capital da Província do Rio deJaneiro, onde se estabeleceu numimóvel alugado no centro da cida-de. Foi o primeiro médico homeo-pata de Niterói e, como sempreacertava em seus diagnósticos recei-tando o remédio correto, sua famase espalhou pela cidade, que entãocontava com pouco mais de dez milhabitantes. Não cobrava consulta.Quem podia, pagava como o dese-jasse. Essa prática quase o levou àfalência completa, enquanto os alu-guéis do imóvel onde morava e tra-balhava se avolumavam sem qual-quer solução à vista.

Foi quando aconteceu algoque, nos dias atuais, se torna qua-se inexplicável: a população da ci-dade, extremamente grata a ele, dá--lhe uma casa de presente! Fato iné-

Dr. March Uma vida dedicada à caridade

Hélio Ribeiro Loureiro

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dito na história do País, tamanhaera a gratidão do povo por ele! Oimóvel ficava situado no bairro doBarreto, próximo ao centro deNiterói. Quem chegava do Rio pe-las barcas devia tomar um bondecom destino à vizinha São Gonça-lo, e ao perguntar ao motorneiro(condutor do bonde) onde ficava acasa do Dr. March, ele informavaque não tinha como errar. Ao che-gar em frente à sua casa, o motor-neiro gritava: “Casa do Dr. March!”O efeito era surpreendente: o bon-de ficava quase vazio! A procura eratamanha que, a um seu pedido, opovo construiu, nos fundos de suacasa, uma pequena vila de quartos,para que ele atendesse aos necessi-tados de toda ordem, os quais via-javam dias a pé para consultar-se.As pessoas chegavam e encontra-vam um lugar para descansar, rou-pas limpas, e sempre havia uma so-pa fumegante no fogão para sa-ciar-lhes a fome do corpo.

O Dr. March ganhou tantanotoriedade que não tinha mais co-mo dormir em sua cama. Atendiaaté cerca de meia-noite, tendo ini-ciado seu labor já às seis da manhã,e a um leve toque em sua porta,que dormia destrancada, ele pulavada rede de lona que armava na salae atendia ao doente.

Homens como esse não ficammuito tempo na Terra. E uma insi-diosa doença levou-o ao leito, oque, todavia, não o impediu decontinuar clinicando. Deitado noleito, transformou seu quarto numconsultório e atendia às pessoas alimesmo. Nessa época, havia ganha-do uma pequena farmácia, quemontou em sua própria casa e on-de sua filha Eponina manipulava osremédios por ele receitados. Os

doentes já saíam com o remédiopronto.

Pelo inusitado, uma outraocorrência, ligada ao prestígio doDr. March, merece registro. Os far-macêuticos da cidade, ao atenderemum cliente com receita assinada porele, perguntavam se a pessoa podiapagar o remédio. A resposta eraquase sempre negativa, mas o remé-dio era fornecido gratuitamente,como expressão de respeito a umapessoa que aos olhos de todos era oanjo bom do povo naquela época.

A doença insidiosa progrediude uma tal forma que o Dr. Marchentrou em coma. Foi quando ocor-reu mais um lance emocionante desua extraordinária vida. Um de seusfilhos era bancário e, ao finalizarum atendimento, deu ao cliente seucartão de visita, em que figurava onome March. O cliente, curiosocom aquela coincidência, pergunta--lhe se ele tinha algum parente quejá havia morrido e que assinava “G.March”. Ele respondeu, assustado,que quem assinava assim era seu paique, entretanto, estava vivo, em co-ma, mas vivo. O cliente então lhemostra uma receita homeopáticaadquirida no dia anterior, pela viada psicografia. Explicou-lhe queatravés de uma jovem sonâmbula,residente num bairro pobre nãomuito distante do centro da cidade,de nome Engenhoca, o Espírito deum médico, que se assinava “G.March”, estava atendendo a muitagente... Era o Dr. March que, des-dobrado, atendia aos deserdados detoda a sorte.

Mas, chegou o dia em que eleteve que partir. E Niterói cobriu-sede luto. Foi o enterro mais concor-rido daquela época. Podemos afir-mar que todos os habitantes da ci-

dade, beneficiados ou não por ele,acorreram às ruas para saudar o cor-tejo fúnebre. Um trecho de poucosquilômetros, que poderia ser per-corrido em no máximo meia hora,levou mais de seis horas para secompletar. Era o povo que não dei-xava passar o cortejo a transportaro corpo daquele que ficou conheci-do como o “Pai dos Pobres” de nos-sa região.

Poucos meses depois, na sedehistórica da Federação Espírita doEstado do Rio de Janeiro, numasessão nobre, é proposta a criaçãode um Instituto que tivesse o nomedo Dr. March e que fosse destinadoa meninas órfãs. E, no início da dé-cada de trinta do século passado,numa memorável tarde de verão,católicos, protestantes, judeus, ma-çons reuniram-se aos espíritas flu-minenses para fundar o InstitutoDr. March. Chico Xavier ficouciente do ocorrido. Nessa época,sua mãe, Maria João de Deus, lhehavia ditado o livro Cartas de umamorta, e ele resolveu doar os direi-tos autorais para o nascente Institu-to, que funciona até hoje, não maiscom meninas órfãs, mas como umacreche gratuita que atende a quasetrezentas crianças.

Homens como esse, históriascomo essa, não podem ficar es-quecidos. Por isso, estamos prepa-rando a edição de um livro sobrea vida desse apóstolo da Medicina,que se utilizou do Esperanto paraaprimorar-se na ciência homeo-pática. Ele soube, sem dúvida,devotar- se à prática do Bem, as-sociando-a aos ideais da fraterni-dade universal inscritos no estan-darte do Esperanto.

Ao Dr. March, nossa eternagratidão.

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Lázaro Luís Zamenhof é umapersonalidade universal, cul-tuada em todas as regiões do

Planeta pelos que utilizam o Espe-ranto e praticam seus ideais de fra-ternidade, concórdia, união acimade quaisquer fronteiras, materiais eespirituais.

Recentemente, um eminenteesperantista japonês, Kanzi Ito,concluiu um grandioso projeto,concebido e iniciado em 1973, depublicar a obra completa de Zame-nhof, cuja editoração foiconcluída no correnteano, atingindo a impo-nente cifra de 57 alenta-dos volumes, em que fi-guram, principalmente,as obras originais e tradu-zidas, dicionários, perió-dicos, epistolário, corres-pondência do compiladorcom outros biógrafos deZamenhof, obras de ou-tros pioneiros da LínguaInternacional, entre mui-tas peças ligadas à figurado criador do Esperanto.

Mas não apenas eru-ditos reverenciam a me-mória do grande apósto-lo da Fraternidade, ben-feitor da Humanidade,

nascido em 15 de dezembro de1859 na pequena cidade polonesade Bialystok. Em todos os qua-drantes do globo, associações de es-perantistas, disseminadas tanto emgrandes centros de cultura comoem mal conhecidos lugarejos, põemem prática o genial instrumento decomunicação, exercitam os ideaissuperiores a ele indissoluvelmenteligados, assim homenageando, pelodiuturno serviço no Bem, aqueleque desceu aos cenários terrestrescom a missão de contribuir para oadvento da fase universalista da vi-da em nosso mundo.

No Brasil, a influência das idéiase princípios do Espiritismo, acolhi-

da pelo coração generoso de imensaparcela de sua gente, permitiu queaqui se estabelecessem poderosos eidôneos canais de comunicação comas regiões esclarecidas do mundo es-piritual, através dos quais tambémtemos recebido belas, edificantesmanifestações de habitantes doAlém-Túmulo a respeito do Espe-ranto.

A que aqui vamos reapresentaré um soneto do grande poeta brasi-leiro Cruz e Souza, em que expressasua reverente homenagem à figurade Lázaro Luís Zamenhof. Ao ladodo original em português, recebidopor Francisco Cândido Xavier,transcrevemos a não menos magis-tral versão em Esperanto feita peloeminente literato esperantista, mes-tre em Lingüística, atual Presidenteda Academia de Esperanto, Prof.Geraldo Mattos.

A FEB E O ESPERANTO

ZamenhofAffonso Soares

Zamenhof

Grande Irmão, Missionário e Mensageiro, Não acendeste, em vão, na noite escura, A estrela da esperança, terna e pura, Que brilha agora para o mundo inteiro.

Não sofreste, debalde, o cativeiro Da carne que é flagelo e desventura; Tua mensagem lúcida fulgura Sob o amor do Divino Pegureiro.

Em teu apostolado augusto e santo, Desfraldaste a bandeira do EsperantoUnindo os povos na Fraternidade!...

Gênio Celeste entre os Celestes GêniosBrilharás na memória dos milênios, Vanguardeiro da nova Humanidade!

Zamenhof

An1elo, misiisto, frato pia, Ne vane vi, en nokto de mizero, Lumigis la kandelon de l’espero, Brilantan nun tra l’tuta mondo nia.

Ne vane vin turmentis la karcero De l’karno – skur1o kaj malbono fia, 0ar sub la beno de l’Pa7tisto Dia, Mesa1o via brilas por la vero.

Per Esperanto, Sankta Apostolo,Vi ligis mem popolon al popoloEn amo kaj frateco /iopova!

Nun, 0ielulo inter diaj briloj,Vin dankos kaj memoros la jarmiloj,Ho Pioniro de l’homaro nova!

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AFederação Espírita Amazonense realizou, no período de 8 a 11 deabril, o 1o Congresso Espírita do Amazonas, como parte das come-morações de seu Centenário, mas destacando, também, o Bicente-

nário de Nascimento de Allan Kardec, os 120 anos da Federação EspíritaBrasileira e os 140 anos do lançamento de O Evangelho segundo o Es-piritismo. O tema central – O Espiritismo na construção de um mundomelhor – foi abordado em palestra pública na Sessão de Abertura, queocorreu no Auditório da Universidade do Estado do Amazonas.

As atividades do Congresso desenvolveram-se no Instituto DenizardRivail, através de palestras e painéis a cargo dos expositores Alberto Ribei-ro de Almeida (PA), Altivo Ferreira (SP), André Luiz Peixinho (BA), JoséAlberto Machado (AM), Luciano Klein Filho (CE) e Samuel Nunes Ma-galhães (AM). Foram, também, apresentados temas livres nos intervalosdas exposições.

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1o Congresso Espírita do Amazonas

Sessão de Abertura: Saudação da Presidente da FEA,Sandra Farias de Moraes, ladeada por (a partir da esquerda): André Luiz

Peixinho, Altivo Ferreira, Samuel Magalhães e Luciano Klein Filho

DesculpaEscuta serenamenteQuem te repele ou censura.Há muito fel de amargura,Em forma de maldição.Às vezes quem te maltrataArrasta apenas consigoSede, fome e desabrigoPor brasas no coração.

Quem te injuria e escarnece,Na frase agressiva, azeda,Em si sofre a labaredaQue verte do próprio mal.Toda cólera é doença.Aquele que se enraiveceSolicita o pão e a preceDo socorro fraternal.

Muita gente cai nas trevas,Por não achar, no caminho,Brandura, silêncio e ninho,No peito amigo de alguém.Inda que ofensas te cubramE lâminas te retalhem,Que as tuas forças não falhemNa força que espalha o bem.

Desculpa, constantemente,O golpe, a pedrada, o insulto,Apesar do pranto oculto,Amargo, desolador!

Quem tolera e quem perdoa,Embora de alma ferida,Encontra, na própria vida,O reino do Eterno Amor.

Irene Sousa Pinto

Fonte: XAVIER, Francisco C., VIEI-RA, Waldo. Antologia dos Imortais.4. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002,p. 97-98.

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Realizou-se em Fortaleza (CE),no período de 16 a 18 de abril, aXVIII Reunião Ordinária da Co-missão Regional Nordeste do Con-selho Federativo Nacional, da Fede-ração Espírita Brasileira, com a

presença de integrantes de todas asEntidades Federativas da Região:Federação Espírita do Estado deAlagoas, Federação Espírita do Es-tado da Bahia, Federação Espírita doEstado do Ceará, Federação Espíri-

ta do Maranhão, Federação Espíri-ta Paraibana, Federação EspíritaPernambucana, Federação EspíritaPiauiense, Federação Espírita doRio Grande do Norte e FederaçãoEspírita do Estado de Sergipe. Com-pareceram, também, a Presidenteda Federação Espírita Amazonense(Região Norte), o Presidente da As-sociação Médico-Espírita do Cearáe uma representante da AssociaçãoBrasileira de Divulgadores do Es-piritismo. A equipe da FederaçãoEspírita Brasileira contou com 13participantes.

Sessão de Abertura

A Sessão de Abertura, iniciadacom prece e saudação da Presiden-te da FEEC, Olga Lúcia Espíndola

FEB/CFN - COMISSÕES REGIONAIS

Reunião da Comissão Regional Nordeste

Sessão Plenária: Aspecto parcial da Mesa

Reunião dos Dirigentes: Aspecto parcial (I)

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Freire Maia, e dirigi-da pelo Coordena-dor das ComissõesRegionais, ocorreuna noite de 16 deabril, sexta-feira,quando foi proferi-da a palestra públicacomemorativa doBicentenário de Nas-cimento de AllanKardec, por Lucia-no Klein Filho, que,utilizando datashow, fez excelenteexposição sobre fatos e vultos dahistória do Espiritismo na França eno Brasil.

Reunião Geral

A Reunião Geral foi instaladana sexta-feira, após a palestra públi-ca, quando o Coordenador prestouinformações gerais sobre a pauta aser desenvolvida e, após a apresen-tação individual de todos os parti-cipantes, interrompeu os trabalhos,a fim de que tivessem início, namanhã de sábado, dia 17, as setereuniões setoriais: a dos Dirigentese as das Áreas de Atividade Mediú-nica, Comunicação Social Espírita,Estudo Sistematizado da DoutrinaEspírita, Infância e Juventude, Ser-viço de Assistência e Promoção So-cial Espírita e Atendimento Espiri-tual no Centro Espírita.

Reunião dos Dirigentes

Esta reunião contou com os se-guintes participantes: pela FEB –Altivo Ferreira (Coordenador), An-tonio Cesar Perri de Carvalho (Se-cretário-Executivo da Secretaria Ge-ral do CFN) e Edinólia Pinto Peixi-nho (Secretária adoc, na ausência,

por recomendação médica, do titu-lar Francisco Bispo dos Anjos); pe-las Federativas Estaduais, os respec-tivos Presidentes – Alagoas, Sebas-tião Geraldo da Silva; Bahia, Creu-za Santos Lage; Ceará, Olga LúciaEspíndola Freire Maia; Maranhão,Ana Luiza Nazareno Ferreira; Paraí-ba, José Raimundo de Lima; Per-nambuco, Sônia Maria ArrudaFonseca; Piauí, Ornálio BezerraMonteiro; Rio Grande do Norte,Sandra Maria Borba Pereira; e Ser-gipe, Raimundo Gregório. Os Pre-sidentes estiveram acompanhadospor Vice-Presidentes, Assessores e,como observadores, alguns convi-dados.

O Coordenador informou aospresentes que a FEB estava lançan-do, na Bienal Internacional do Li-vro, em São Paulo, a edição espe-cial de O Evangelho segundo oEspiritismo, comemorativa dos 140anos de sua publicação (foi distri-buído um exemplar a cada Federa-tiva), assim como os quatro primei-ros volumes da Revue Spirite(Revista Espírita), de Allan Kardec,em tradução de Evandro NoletoBezerra.

Aprovada a Ata da Reunião de2003, Cesar Perri coordenou a ex-posição sobre o andamento e os re-

sultados do curso “Capacitação Ad-ministrativa para Dirigentes de Ca-sas Espíritas” – transmitido em to-da a Região, durante o ano de 2003–, com o relato, pelas Federativas,das atividades desenvolvidas juntoaos seus órgãos regionais e CentrosEspíritas para a implementação docurso, adaptando-o em consonân-cia com as realidades próprias e ascondições dos participantes, massem sair dos objetivos e metas pro-postos.

Quanto ao assunto da reunião,“Ação da Casa Espírita ante osavanços e necessidades do homem– com vistas à avaliação das expe-riências colhidas com a aplicação doProjeto”, os Dirigentes relataram asprovidências adotadas para a aplica-ção do Projeto elaborado e aprova-do na Reunião de 2003, salientandoos resultados já obtidos em algumasCasas Espíritas. Na próxima reu-nião serão trazidas as informaçõessobre como foram desenvolvidas asatividades pertinentes ao Projeto: oque foi feito, com quem, e quais osindicadores de sucesso.

A próxima reunião será realiza-da em Teresina (PI), nos dias 8, 9 e10 de abril de 2005, com aborda-gem do assunto “Preparar o CentroEspírita para interagir no processo

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Reunião dos Dirigentes: Aspecto parcial (II)

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28 Reformador/Junho 2004

federativo, na sua condição de uni-dade fundamental do MovimentoEspírita”.

Sessão Plenária

A Reunião Geral foi reiniciada,com a Sessão Plenária, na manhãde domingo, dia 18. Proferida aprece, foram apresentados os se-guintes relatos dos trabalhos desen-volvidos nas reuniões setoriais:

Área da Atividade Mediúni-ca, coordenada por Marta Antu-nes de Oliveira Moura, com oapoio de Edna Maria Fabro. As-sunto da reunião: “A Prática Me-diúnica: 1. Qualificação do tra-balhador do grupo mediúnico;2. Organização e funcionamen-to do grupo mediúnico (tipos,funções, estruturas); 3. Comunica-ção dos Espíritos: a equipe encar-nada, a equipe espiritual, o diálo-go com os Espíritos; 4. Avaliaçãoda prática mediúnica.” Assuntopara a próxima reunião: “Sugestõesde procedimentos e roteiros para aprática mediúnica”.

Área da Comunicação SocialEspírita, coordenada por MerhySeba, com o apoio de Sônia Regi-na Ferreira Zaguetto. Assunto dareunião: “Planejamento Estratégi-co na comunicação integrada”, sen-do abordadas, também, as Cam-panhas da FEB aprovadas peloConselho Federativo Nacional. As-sunto para a próxima reunião: “OEspiritismo na TV: desafios e opor-tunidades”.

Área do Estudo Sistematizadoda Doutrina Espírita, coordenadapor Maria Túlia Bertoni. Assuntosda reunião: “1. Avaliação do II En-contro Nacional de Coordenadoresde ESDE; 2. Estudo do Manual de

Organização e Funcionamento doESDE”. Assunto para a próximareunião: “Campanha de interioriza-ção do ESDE”.

Área da Infância e Juventude,coordenada por Rute Vieira Ribei-ro, com o apoio de Miriam LúciaHerrera Masotti Dusi. Assunto dareunião: “O papel do DIJ no Movi-mento Espírita”. Assunto para apróxima reunião: “Campanha deInteriorização do Trabalho da In-fância e da Juventude”.

Área do Serviço de Assistênciae Promoção Social Espírita, coor-denada por José Carlos da Silva Sil-veira, com o apoio de Maria deLourdes Pereira de Oliveira. Assun-tos da reunião: “1. As políticas pú-blicas e a Assistência e PromoçãoSocial Espírita; 2. A interação doSAPSE e o Terceiro Setor; 3. Expe-riências das Federativas no Contro-le Social (Conselhos de Direito).Assunto para a próxima reunião:“Resultados da aplicação do Ma-nuaL do SAPSE pelos Centros Es-píritas”.

Área do Atendimento Espiri-tual no Centro Espírita, coordena-da por Maria Euny Herrera Ma-

sotti. Assunto da reunião: “Análiseda Reunião de Assistência Espiri-tual – Item IV de Orientação aoCentro Espírita. Assunto para apróxima reunião: “Técnicas de En-trevistas no Atendimento Frater-no”.

Reunião dos Dirigentes: O re-lato dos principais assuntos tratadospelos Dirigentes coube à Secretáriada reunião, Edinólia Pinto Peixi-nho.

No encerramento dos traba-lhos, os Presidentes das Federati-vas visitantes fizeram suas conside-rações finais e despedidas, salien-tando, todos, o fraterno acolhi-mento dos dirigentes e trabalha-dores da Federação Espírita do Es-tado do Ceará. Em clima de mui-ta emoção, a Presidente da FEECagradeceu aquelas calorosas mani-festações e apresentou os devota-dos colaboradores que ensejaram oêxito da reunião. O Coordenador,em breves palavras, apresentou osagradecimentos da equipe da FEBe convidou o Presidente da Fede-rativa do Piauí, anfitriã da próxi-ma reunião, para proferir a precefinal.

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Reunião dos Dirigentes: Aspecto parcial (III)

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“(...) Estejamos certos de quemuito coopera e auxilia semprequem trabalha e não atrapalha.”

– André Luiz1

OEspírito de Verdade desenha,com muita nitidez e perfei-ção, o modus operandi dos

verdadeiros obreiros do Senhor, aoafirmar:2

“(...) Ditosos os que hajam di-to a seus irmãos: ‘Trabalhemos jun-tos e unamos os nossos esforços, afim de que o Senhor, ao chegar, en-contre acabada a obra’, porquantoo Senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim,vós que sois bons servidores, vós quesoubestes impor silêncio aos vossosciúmes e às vossas discórdias, a fimde que daí não viesse dano para aobra!’ Mas, ai daqueles que, porefeito das suas dissensões, houveremretardado a hora da colheita, poisa tempestade virá e eles serão leva-dos no turbilhão! (...)”

Erasto nos ensina como reco-nhecer os verdadeiros obreiros doSenhor:3

“(...) Reconhecê-los-eis pelosprincípios da verdadeira caridadeque eles ensinarão e praticarão.Reconhecê-los-eis pelo número deaflitos a que levem consolo; reco-nhecê-los-eis pelo seu amor ao pró-ximo, pela sua abnegação, pelo seudesinteresse pessoal; reconhecê-los-

-eis, finalmente, pelo triunfo deseus princípios (...).”

Em página de peregrina belezae onusta de ensinamentos úteis pa-ra a nossa Vida de relação, AndréLuiz ensina:4

“(...) Se você não consegue evi-tar a irritação, use o silêncio; senão aprova o socorro material aosnecessitados, não apague a chamada beneficência no coração daque-les que a praticam; se ainda nãosente facilidade para esquecer asfaltas alheias, não considere porsubserviência a atitude louváveldos irmãos que olvidam o mal, aqualquer instante, em louvor dobem; se não acredita no valor dodiálogo construtivo, em favor dosirmãos ignorantes e infelizes, nãomenospreze o esforço daqueles queo cultivam buscando a libertaçãodos companheiros ensombrados emdesequilíbrio; se não admite o am-paro das Entidades humildes, nasupressão das dificuldades de Espí-rito e das desarmonias do corpo,enquanto estamos na Terra, nãomenoscabe o apoio de semelhantesauxiliares que se guiam pelas bên-çãos da Natureza; se não dispõe derecurso para a cordialidade com to-dos, não impeça que outros a exem-plifiquem, na prática da fraterni-dade; se não suporta o clima de in-tercâmbio com os amigos encarna-dos ou desencarnados, ainda presos,

de certo modo, às trevas de Espíri-to, não subestime o trabalho dequantos se dedicam a reconfortá-lose esclarecê-los; se não pode abraçaros portadores de opiniões e crençasdiversas das suas, não julgue por ir-responsabilidade a tarefa respeitá-vel de quantos se aplicam à solida-riedade para aproveitamento nobem de todos os obreiros da fé quenos partilhem a convivência e o ca-minho; se não sabe unir os irmãosde experiência na sustentação dasboas obras, não tenha por bajula-ção o comportamento daqueles quecolaboram na harmonia e entrosa-mento de todos os corações para obem.

É natural pense cada um comopossa e ninguém deve promover aviolência na Obra de Deus, mas,em qualquer tempo e situação, es-tejamos certos de que muito coope-ra e auxilia sempre quem trabalhae não atrapalha.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1XAVIER, Francisco C., Endereço da Paz. Ed.

CEU.

2KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Es-

piritismo.121. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2003,

cap. XX, item 5, p. 315.

3Idem, ibidem, item 4, p. 314.

4XAVIER, Francisco C., Endereço da Paz. Ed.

CEU.

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Muito ajuda quem não atrapalha

Rogério Coelho

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Muitas comunicações nos fo-ram enviadas por diferentesgrupos, quer nos pedindo

conselho e julgamento de suas ten-dências, quer, da parte de alguns,na esperança de as verem publica-das na Revista. Todas nos foram en-tregues com a faculdade de delasdispor como melhor entendêssemospara o bem da causa. Fizemos o seuexame e classificação e esperamosque ninguém haja de surpreender--se ante a impossibilidade de inseri--las todas, considerando-se que,além das já publicadas, há mais detrês mil e seiscentas que, por si sós,teriam absorvido cinco anos com-pletos da Revista, sem contar umcerto número de manuscritos maisou menos volumosos dos quais fa-laremos adiante. A apreciação críti-ca deste exame nos fornecerá maté-ria para algumas reflexões, de quecada um poderá tirar proveito.

Em grande número encon-tramo-las notoriamente más, nofundo e na forma, evidente produ-to de Espíritos ignorantes, obsesso-res ou mistificadores e que jurampelos nomes mais ou menos pom-posos com que se revestem. Publicá--las teria sido dar armas à crítica.Circunstância digna de nota é que a

quase totalidade das comunicaçõesdessa categoria emana de indivíduosisolados, e não de grupos. Só a fas-cinação poderia levá-los a ser toma-dos a sério e impedir se visse o ladoridículo. Como se sabe, o isolamen-to favorece a fascinação, ao passoque as reuniões encontram controlena pluralidade das opiniões.

Todavia, reconhecemos comprazer que as comunicações dessanatureza formam, na massa, umapequena minoria. A maioria dasoutras encerra bons pensamentos eexcelentes conselhos, sem significarque todas devam ser publicadas, eisto pelos motivos que vamos expor.

Os bons Espíritos ensinammais ou menos a mesma coisa portoda a parte, porque em toda a par-te há os mesmos vícios a reformar eas mesmas virtudes a pregar. Eis umdos caracteres distintivos do Espiri-tismo; muitas vezes a diferença estáapenas na correção e elegância doestilo. Para apreciar as comunica-ções, tendo em conta a publicidade,não se deve considerá-las de seuponto de vista, mas do do público.Compreendemos a satisfação que seexperimenta ao obter algo de bom,sobretudo quando se começa, masalém do fato de que certas pessoaspodem ter ilusão sobre o mérito in-trínseco, não se pensa que em cemoutros lugares se obtêm coisas se-melhantes, e o que é de poderoso

interesse individual pode ser bana-lidade para a massa.

Além disso, é preciso conside-rar que, de algum tempo para cá, ascomunicações adquiriram, em todosos aspectos, proporções e qualidadesque deixam muito para trás as queeram obtidas há alguns anos. Aqui-lo que então era admirado parecepálido e mesquinho junto ao que seobtém hoje. Na maioria dos centrosrealmente sérios, o ensino dos Espí-ritos cresceu com a compreensão doEspiritismo. Desde que por toda aparte são recebidas instruções maisou menos idênticas, sua publicaçãopoderá interessar apenas sob a con-dição de apresentar qualidades adi-cionais, como forma ou como al-cance instrutivo. Seria, pois, ilusãocrer que toda mensagem deve en-contrar leitores numerosos e entu-siastas. Outrora, a menor conversaespírita era uma novidade que atraíaa atenção; hoje, que os espíritas e osmédiuns não se contam mais, o queera uma raridade é um fato quasebanal e habitual, e que foi distancia-do pela vastidão e pelo alcance dascomunicações atuais, assim como osdeveres do escolar o são pelo traba-lho do adulto.

Temos à vista a coleção de umjornal publicado no princípio dasmanifestações sob o título de A Me-sa Falante, característico da época.Diz-se que o jornal tinha de 1.500

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Exame das comunicaçõesmediúnicas que nos são enviadas

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a 1.800 assinantes, cifra enorme pa-ra a época. Continha uma porçãode pequenas conversas familiarese fatos mediúnicos que, então,atraíam profundamente a curiosi-dade. Aí procuramos em vão algu-ma coisa para reproduzir em nossaRevista; tudo quanto tivéssemos co-lhido seria hoje pueril e sem inte-resse. Se o jornal não tivesse desapa-recido, por circunstâncias que nãovêm ao caso, só poderia ter vividocom a condição de acompanhar oprogresso da ciência e, se reapare-cesse agora nas mesmas condições,não teria cinqüenta assinantes. Osespíritas são imensamente mais nu-merosos do que então, é verdade;mas são mais esclarecidos e queremum ensinamento mais substancial.

Se as comunicações não ema-nassem senão de um único centro,sem dúvida os leitores se multipli-cariam em razão do número deadeptos. Mas não se deve perder devista que os focos que as produzemse contam aos milhares e que portoda parte onde são obtidas coisassuperiores não pode haver interessepelo que é fraco ou medíocre.

Não falamos assim para desen-corajar as publicações; longe disso.Mas para mostrar a necessidade deuma escolha rigorosa, condição si-ne qua non do sucesso. Aprofun-dando os seus ensinamentos, os Es-píritos nos tornaram mais difíceis emesmo exigentes. As publicaçõeslocais podem ter uma imensa utili-dade, sob um duplo aspecto: espa-lhar nas massas o ensino dado naintimidade e mostrar a concordân-cia que existe nesse ensino sobre di-versos pontos. Aplaudiremos istosempre e os encorajaremos toda vezque forem feitas em boas condições.

Antes de mais nada convém de-

las afastar tudo quanto, sendo de in-teresse privado, só interessa àqueleque lhe concerne; depois, tudoquanto é vulgar no estilo e nasidéias, ou pueril pelo assunto. Umacoisa pode ser excelente em si mes-ma, muito boa para servir de instru-ção pessoal, mas o que deve ser en-tregue ao público exige condiçõesespeciais. Infelizmente o homem épropenso a imaginar que tudo o quelhe agrada deve agradar aos outros.O mais hábil pode enganar-se; o im-portante é enganar-se o menos pos-sível. Há Espíritos que se compra-zem em fomentar essa ilusão em

certos médiuns; por isso nunca seriademais recomendar a estes últimosque não confiassem em seu própriojulgamento. É nisto que os grupossão úteis: pela multiplicidade de opi-niões que eles permitem colher.Aquele que, neste caso, recusasse aopinião da maioria, julgando-se maisiluminado que todos, provaria sobe-jamente a má influência sob a qualse acha.

Aplicando esses princípios deecletismo às comunicações que nossão enviadas, diremos que em3.600 há mais de 3.000 que são deuma moralidade irreprochável, e ex-celentes como fundo; mas que des-

se número nem 300 merecem pu-blicidade e apenas 100 têm méritofora do comum. Como essas comu-nicações vieram de muitos pontosdiferentes, inferimos que a propor-ção deve ser mais ou menos geral.Por aí pode julgar-se da necessida-de de não publicar inconsiderada-mente tudo quanto vem dos Espí-ritos, se quisermos atingir o obje-tivo a que nos propomos, tanto doponto de vista material quanto doefeito moral e da opinião que os in-diferentes possam fazer do Espiri-tismo.

Resta-nos dizer algumas pala-vras sobre manuscritos ou trabalhosde fôlego que nos remeteram, entreos quais não encontramos, em trin-ta, mais que cinco ou seis de realvalor. No mundo invisível, comona Terra, não faltam escritores, masos bons são raros. Tal Espírito é ap-to a ditar uma boa comunicaçãoisolada, a dar excelente conselhoparticular, mas incapaz de produzirum trabalho de conjunto comple-to, passível de suportar um exame,sejam quais forem suas pretensões eo nome com que se disfarce comogarantia. Quanto mais alto o nome,maior o cuidado. Ora, é mais fáciltomar um nome que justificá-lo; eispor que, ao lado de alguns bonspensamentos, encontram-se, mui-tas vezes, idéias excêntricas e traçosinequívocos da mais profunda ig-norância. É nessas modalidades detrabalhos mediúnicos que temosnotado mais sinais de obsessão, dosquais um dos mais freqüentes é ainjunção por parte do Espírito deos mandar imprimir; e alguns pen-sam erradamente que tal recomen-dação é suficiente para encontrarum editor atencioso que se encarre-gue da tarefa.

No mundo

invisível, como na

Terra, não faltam

escritores, mas

os bons são

raros

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É principalmente em seme-lhante caso que um exame escrupu-loso é necessário, se não nos quiser-mos expor a fazer discípulos à nossacusta. É, ainda, o melhor meio deafastar os Espíritos presunçosos epseudo-sábios, que se retiram inevi-tavelmente quando não encontraminstrumentos dóceis a quem façamaceitar suas palavras como artigosde fé. A intromissão desses Espíri-tos nas comunicações é, fato conhe-cido, o maior escolho do Espiri-tismo. Toda precaução é pouca pa-ra evitar as publicações lamentáveis.Em tais casos, mais vale pecar porexcesso de prudência, no interesseda causa.

Em suma, publicando comu-nicações dignas de interesse, faz-se

uma coisa útil. Publicando as quesão fracas, insignificantes ou más,faz-se mais mal do que bem. Umaconsideração não menos impor-tante é a da oportunidade. Algu-mas há cuja publicação seria in-tempestiva e, por isso mesmo, pre-judicial. Cada coisa deve vir a seutempo. Várias das que nos são di-rigidas estão neste caso e, con-quanto muito boas, devem seradiadas. Quanto às outras, acharãoseu lugar conforme as circunstân-cias e o seu objetivo.

Allan Kardec

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –maio de 1863. Tradução de Evandro No-leto Bezerra.

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(Thionville, 25 de dezembro de1862. Médium: Dr. R...)

Nós vos demos a entrever a au-rora da regeneração humana.Nisto, como em toda a mar-

cha da humanidade através das ida-des, deveis ver o dedo de Deus.

Já vo-lo dissemos muitas vezes:Tudo que acontece aqui na Terra,como tudo quanto se passa no Uni-verso inteiro, está submetido a umalei geral: a do progresso.

Inclinai-vos ante ela todos vósque, orgulhosos e soberbos, preten-deis colocar-vos acima dos desígniosdo Todo-Poderoso! Buscai por todaa parte a causa de vossas desgraças,como de vossos prazeres, e aí reco-nhecereis sempre o dedo de Deus.

Mas, direis, então o dedo de

Deus é o fatalismo! Ah! guardai-vosde confundir essa palavra ímpia comas leis que a Providência vos impôs,essa mesma Providência que vos de-ve ter deixado o livre-arbítrio, para,ao mesmo tempo, vos deixar o mé-rito de vossos atos, mas que lhestempera o rigor por essa voz, tantasvezes desconhecida, que vos advertedo perigo a que vos expondes.

O fatalismo é a negação do de-ver, porquanto, sendo nossa sorte fi-xada previamente, não nos cabemudá-la.

Em que se tornaria o mundocom essa horrível teoria, que aban-donaria o homem às pérfidas suges-tões das piores paixões? Onde esta-ria o objetivo da criação? onde arazão de ser da ordem admirávelque impera no Universo?

Ao contrário, o dedo de Deus

O dedo de Deus

é a punição sempre suspensa sobrea cabeça do culpado; é o remorsoque corrói o coração, censurando--lhe os crimes a cada instante dodia; é o horrendo pesadelo que otortura durante longas noites inso-nes; é esse rastro sangrento que osegue em todos os lugares, comopara reproduzir a seus olhos, inces-santemente, a imagem de sua mal-vadez; é a febre que atormenta oegoísta; são as perpétuas angústiasdo mau rico, que vê em todos quedele se aproximam espoliadores dis-postos a roubar-lhe um bem maladquirido; é a dor que experimen-ta em sua última hora por não po-der levar seus inúteis tesouros!

O dedo de Deus é a paz do co-ração reservada ao justo; é o suaveperfume que vos repleta a almaapós uma boa ação; é esse doce pra-zer que se experimenta sempre aofazer o bem; é a bênção do pobreque se assiste; é o doce olhar deuma criança cujas lágrimas enxuga-mos; é a prece fervorosa de umapobre mãe, a quem se proporcio-nou o trabalho que a deve arrancarda miséria; é, numa palavra, o con-tentamento consigo mesmo.

O dedo de Deus, enfim, é ajustiça grave e austera, temperadapela misericórdia! o dedo de Deusé a esperança, que não abandona ohomem em seus mais cruéis sofri-mentos, que o consola sempre edeixa entrever ao mais criminoso, aquem o arrependimento tocou, umrecanto da morada celeste, do qualse julgava rejeitado para sempre!

Espírito Familiar

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –setembro de 1863. Tradução de EvandroNoleto Bezerra.

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Procuremos compreender bemmais o pensamento espírita,penetrando no conhecimento

profundo desta Parte Terceira de OLivro dos Espíritos, que trata dasLeis Morais, cujo capítulo primei-ro, “Da Lei Divina ou Natural”,examinamos em nosso estudo ante-rior. São luminosos assuntos emque, com Allan Kardec, nos eluci-dam os Espíritos Reveladores atra-vés de onze outros capítulos demagna importância para nós, emcumprimento à função do Espiritis-mo ou Consolador, neste planeta.

Continuemos, hoje, com o ca-pítulo denominado “Da Lei deAdoração”, em seis aspectos gerais:1. Objetivo da adoração; 2. Adora-ção exterior; 3. Vida contemplati-va; 4. A prece; 5. Politeísmo; e 6.Sacrifícios.

Comecemos pelo Objetivo daadoração (questões 649 a 652), me-ditando atentamente em sua consis-tência, que se firma na elevação denosso pensamento a Deus e quedEle nos aproxima. Em cada um denós, Seus filhos, está presente a Sua

essência de Criador e Pai, tal comonuma obra de arte qualquer costu-ma-se identificar a alma de seu au-tor.

Ora, em relação a Deus, quenos criou à Sua semelhança, isto é,sendo ele Espírito, Espíritos tam-bém nos fez, tal condição, portan-to, impõe-nos um sagrado dever: ode estarmos nEle tanto quanto Ele,em essência, está em nós (João,14:23), o que só se pode conseguirpor uma constante reflexão em Seusupremo Amor e pelo que esperaEle de nós, desde a nossa criação:colocar-nos à Sua imagem (capítu-lo XVII de O Evangelho segundo oEspiritismo). Se os Espíritos supe-riores dão-nos a percepção do hábi-to de orar, sempre observado em Je-sus, pelos seus discípulos, é que talhábito também nos convém, e mui-to!

Quanto à Adoração exterior(questões 653 a 656) ou das apa-rências, nisso o próprio Cristo viaum certo simulacro de adoração ouadoração ostentatória, com o pro-pósito de ser alguém reconhecidocomo piedoso. E, na verdade, o queDeus quer é a sinceridade de cora-ção naquele que ora, fazendo-o si-lenciosamente, sem qualquer alar-de. Daí, nunca nos julgar apenaspor nossos atos, mas sobretudo por

nossas intenções gravadas para sem-pre no âmbito da consciência.

Com relação à Vida contem-plativa (questão 657), refere-se aosque se afastam do mundo para nãose contaminarem com o mundo.Nesse grupo salientam-se os que,pelo egoísmo, se tornaram fanáti-cos, formando um mau juízo daDivindade – o de que Deus despre-za os maus. É um equívoco decor-rente da falsa crença no inferno,que não deixa de ser uma infâmiados “doutos” teólogos contra o Paide Amor e Bondade. O afastamen-to do mundo tira daquele que opratica o exercício do amor frater-nal, exercício que tanto agrada atémesmo a nós que somos pais aindaimperfeitos, em relação aos nossosfilhos.

Analisemos, em seguida, o quar-to aspecto, aquele que se nos afigu-ra o mais importante para a criatu-ra humana, no dever de adoraçãoao nosso Criador e Pai, que é Aprece ou ação propriamente dita deorar (questões 658 a 666).

Dizem-nos os Espíritos supe-riores que é sempre mais agradávela Deus, quando a prece é ditada pe-lo coração, sem exagero ou excessode palavras. Talvez, em face disso,nos tenha deixado o amado Mestreo exemplo de como se deve orar,

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Repensando KardecDa Lei de Adoração(Questões 649 a 673 de O Livro dos Espíritos)

Inaldo Lacerda Lima

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através do Pai Nosso constante dosversículos 9 a 13 do capítulo sextodo livro de Mateus, que é o segun-do dentre o três em que se situa oSermão da Montanha.

Sendo, pois, a prece um ato deadoração, precisa ela estar investidada mais profunda e sincera humil-dade, como do mais elevado res-peito. Aliás, no entender deste mo-desto articulista, a prece não deixade ser uma entrevista com Deus,num diálogo em que Ele nos falaatravés de nossa consciência. E osamigos espirituais nos esclarecem(questão 659) que a três coisas nospropomos pela prece: louvar, pedire agradecer.

A prece pode, ainda, tornarmelhor a quem quer que o deseje,desde que saiba valorizar o poder daVontade. E, na questão seguinte, osEspíritos assistentes do Codificadornos instruem que o essencial não éorar muito, mas orar bem, pois omérito não deve estar na extensãoda prece, mas no propósito sincerode correção dos próprios defeitos.

O quinto aspecto (questões667 e 668) diz respeito ao Politeís-mo, que já deveria estar fora de co-gitação ou de qualquer forma desentido no momento histórico emque vivemos, não fosse a predomi-nância do materialismo, revigoran-do a ignorância. Não deveria havermais dúvida alguma a respeito daunicidade divina, salvo em povosque ainda separam ou dividemDeus, em suas convicções religiosas.O supremo Ser sentido e vivencia-do no coração das massas religio-sas – Deus –, repetimos, é o Cria-dor e Pai de toda a Humanidade,sem exceção de raças e de crenças,chamem-nO Alá, Tao, Jeová ououtro nome. O que importa é re-

conhecê-lO como Pai de Amor eBondade de todos os homens, bonse maus, justos ou injustos, porquetodos, um dia, por evolução alcan-çarão plenitude espiritual da per-feição.

Quanto ao último aspecto, Sa-crifícios (questões 669 a 673), emalguns pontos eles prevalecem naalma humana, infelizmente aindahoje, como prova de ignorância.No passado, de que se guardamainda amargas lembranças, porquegravadas nas páginas indeléveis daHistória, os homens extrapolaramdo sacrifício de animais irracionaispara a ação de queimar criaturashumanas na barriga ígnea de seusdeuses de bronze; nas chamadasguerras “santas”, ainda em voga noOriente, entre judeus, palestinos eoutros; e, finalmente, durante cer-ca de um milênio, fizeram espetá-culos com o assassinato odioso eperverso dos chamados hereges, emfogueiras colossais, contrariando oquinto Mandamento da lei divina

exarada no Monte Horeb da cadeiado Sinai, em face da mediunidadede Moisés.

Infelizmente, predominam ain-da, em muitos lugares deste astrodo céu, e muitas vezes em caráteroficial, outros tipos de sacrifícioscomo a pena de morte, a prática in-fame do aborto, a eutanásia, as guer-ras etc. Todavia, irmãos espíritas, fazparte do nosso trabalho mantermosvibrações intensíssimas no sentidoda extinção dessas práticas alimen-tadas, umas pela vaidade e outraspela lamentável ignorância doEvangelho de Jesus, por culpa dasreligiões que, embora dizendo-secristãs, se atêm mais à lei antiga doque à lei expressa no Evangelho.

Abreviar tudo isso, no sentidodo que nos fala o capítulo 24 doEvangelista Mateus, seja o nossoprincipal esforço junto ao Pai deAmor e Bondade, numa adoraçãofirme e consentânea com todo onosso espírito de religiosidade à luzdo Consolador prometido.

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A Lúcida CertezaPaulo Nunes Batista

Já fui cego e vaguei pelos escurosprofundos túneis dos negativismos,Desci às profundezas dos abismosonde se apagam todos os futuros.

Em meu caminho ergui os altos murosde orgulhos, de maldades, vis egoísmos.Mas recebi dos céus, como batismos,dores que me curaram de erros duros.

O Bem sarou-me todas as feridas.Fiquei bom – fiz do Bem a fortalezaalém das mortes, para além das vidas...

Eu hoje sou a Lúcida Certezade que depois das vindas e das idasexistem Céus de Paz e de Beleza!...

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Àépoca de Moisés, a naçãomais poderosa da Terra era oEgito. O povo considerava

deuses os faraós, porque estes pos-suíam amplos e ilimitados poderesde vida e morte sobre os seus go-vernados. A certeza na sobrevivên-cia da alma e sua manifestação aosvivos, bem como o seu retorno aoutro corpo em nova existência, eracrença comum, aliás, registrada empergaminhos e papiros, existentesmuito antes do legislador hebreu eseus escritos.

Conforme registros históricosdas antigas civilizações, não eramapenas os egípcios, mas também osbabilônios, os mesopotâmios, oscaldeus e demais povos, que cuida-vam das manifestações mediúnicas.Além desses, também os hebreus, àsocultas. Isto significa dizer que aevocação dos mortos era prática co-mum. Estava na moda, pode-se di-zer. Todavia, aqueles que chamavamos Espíritos, não o faziam com fina-lidade útil, primada pelo respeito,pelo sentimento de piedade, oumesmo pela necessidade de se ins-truírem sobre as coisas do Além--Túmulo.

Consultando-se cuidadosamen-te os livros de Moisés, que são oscinco primeiros que abrem o VelhoTestamento, que os judeus chamam“Torah”, verifica-se que, enquanto

por um lado, insignificante mino-ria de pessoas, naquela época, evo-cava os mortos para deles receberconselhos e elevadas instruções es-pirituais, isto com respeito e serie-dade, por outro lado, a grandemaioria levava a evocação para ocampo da leviandade, da adivinha-ção, da superstição, do charlatanis-mo, da magia e coisas similares.

Naquela remotíssima época, oabuso alcançou um patamar tão es-túpido, mas tão estúpido mesmo,que as práticas mediúnicas consti-tuíam comércio rentável, de grandeproveito para os médiuns e seusatravessadores.

Para Moisés, que tinha comomissão libertar os hebreus da escra-vidão dos egípcios, não foi fácilcombater os abusos da mediunida-de comercializada. Os costumes es-tavam muito enraizados no espíritodo povo.

Como bem reza a Bíblia, é ver-dade que Moisés proibiu terminan-temente a evocação dos mortos.Veja-se o que ele diz: “Não é permi-tido entreter relações com eles [osEspíritos], seja imediatamente, sejapor intermédio dos que os evocame interrogam.” (Levítico, 19:31.)Afirma mais em Deuteronômio,18:10-12: “Nunca exista entre vósquem consulte adivinhos, quemobserve sonhos e agouros, quem usede malefícios, sortilégios, encanta-mentos, ou consulte os que têm oEspírito pitônico e se dão práticas

de adivinhação interrogando osmortos. O Senhor abomina todasessas coisas e destruirá, à vossa en-trada, as nações que cometem taiscrimes.” (O Céu e o Inferno, cap.XI, item 1, 52. ed., FEB.)

Moisés, percebendo que a evo-cação dos Espíritos era abusiva, in-duzindo os fanáticos até mesmo aosacrifício de suas próprias vidas,proibiu-a.

A proibição foi justa. Teve co-mo objetivo evitar o alastramentodo mal, pois, como sabemos, não sepode fazer uso da mediunidadecom fins levianos e comerciais. Co-mo ensina o Espiritismo, os bonsEspíritos também repudiam esse ti-po de tráfico.

E mesmo que tais práticas te-nham continuado e perdurem atéo presente, fora dos Centros Espí-ritas e por médiuns interesseiros,coube ao Espiritismo a tarefa deapresentar à Humanidade o ladomoral, construtivo, nobre, elevado,que advém das relações dos ho-mens com os Espíritos, através dasevocações.

Como se vê, a proibição do le-gislador e profeta hebreu, Moisés,de nenhum modo atinge o Es-piritismo. Jamais se teve conheci-mento de que os espíritas, no pas-sado ou no presente, pela mediu-nidade ou sem ela, tenham sacrifi-cado pessoas ou animais para aten-der aos caprichos dos Espíritos. Emuito menos dos seus consulentes.

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É proibido evocar os mortos?Severino Barbosa

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É mais do que verdade que noterreno da mediunidade, por sinal,vastíssimo, difícil e escorregadio,vez ou outra surge um médiumdescuidado que, por mero interessepessoal, faz da prática mediúnicaum meio de vida. E quando issoacontece, eclodem as críticas azedasdos adversários, apontando a Dou-trina Espírita como culpada. A acu-sação é injusta. E diga-se, a bem daverdade, servindo-me do raciocíniológico de Allan Kardec, que o Espi-ritismo é tão culpado por esses mé-diuns irresponsáveis quanto a Me-dicina, a Ordem dos Advogados, aprópria Justiça e demais órgãos re-presentativos das classes profissio-nais, pela irresponsabilidade dosmaus médicos, maus advogados,maus juízes etc.

Ora, se o Espiritismo existisse,como doutrina codificada, à épocade Moisés, claro que ele teria apro-vado a proibição de evocar-se osmortos (com fins comerciais) de-cretada pelo legislador hebreu.

Afirma Allan Kardec, em OCéu e o Inferno, que os espíritas nãointerrogam nem os astros nem osmortos “(...) para adivinhar a verda-de sabiamente velada aos homens(...)”. Diz também que os espíritas,em comunicação com os mortos,não são movidos por curiosidade oupela cupidez, mas por “(...) um sen-timento de piedade, um desejo deinstruir-se e melhorar-se, aliviandoas almas sofredoras (...)”. (Cap. XI,item 4, p. 158, 52. ed., FEB .)

A conclusão é que Moisés teverazão para proibir a evocação dosEspíritos, com vistas a corrigir osabusos. Mas, hoje, com a discipli-na e as orientações do Espiritismo,ele a aprovaria sem a menor restri-ção.

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Desencarnou em 7 de marçode 2004 o nosso companhei-ro Iaponan Albuquerque da

Silva, Secretário de Reformadordesde 21 de março de 1998. Antesfoi suplente do Conselho Superiorda Federação Espírita Brasileira, de1981 a 1983, passando a efetivo de1984 a 1989. Nasceu a 4 de agostode 1930.

Deixou nas páginas de Refor-mador, como excelente jornalistaque era, uma série de artigos, comopor exemplo, “Fatos históricos doEspiritismo no Brasil”, em 1982;“Ainda fatos históricos do Espiritis-mo no Brasil”, também em 1982;“P. P. Didier – Editor de Allan Kar-dec”, em 1981; “Centenário deuma perseguição”, em 1980; “Umhomem chamado Amor”, artigo so-bre Chico Xavier, em 1980. Salien-tou-se também como hábil cronis-ta em contos bem arquitetados,quer pelos assuntos, quer pela lin-guagem.

Seus trabalhos sempre prima-ram pela qualidade, pela moral es-pírita, pelos conhecimentos históri-cos e científicos, jamais descuidan-do de trazer a estudo e comentáriosas respostas dos Espíritos Revelado-res dadas a Kardec.

No final do seu artigo “Civili-zação e Progresso” lembrou-nos oque se segue: “A nós, espíritas, com-pete o dever inadiável de, à luz do

Evangelho de Jesus-Cristo, bata-lharmos pela implantação dos prin-cípios cristãos, acrisolarmos vir-tudes e fugirmos às esdrúxulas fór-mulas de renovação calcadas em ex-tremismos de violência, cientes dasluminosas palavras de André Luiz:‘O homem renovado para o Bem éa garantia substancial da felicidadehumana’.”

Iaponan, além de jornalista, eracontador, tornando-se espírita aos17 anos de idade. Casado com D.Elisa, não deixou filhos. Seu corpofoi sepultado a 8 de março no Ce-mitério de Irajá.

Em setembro de 2003 publi-cou em Reformador seu último tra-balho, a que intitulou “Lição doCotidiano”.

Certamente, após o seu tres-passe, foi festivamente recebido pe-lo grande amigo e confidente, demuitos anos, Alberto Nogueira daGama, com quem mantivera lon-gos contatos sobre os mais diferen-tes assuntos, especialmente de na-tureza espírita

Iaponan A. da Silva

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AFederação EspíritaBrasileira participouda 18a Bienal Interna-

cional do Livro de São Pau-lo, de 15 a 25 de abril, lan-çando diversas publicações:os quatro primeiros volu-mes da Revista Espírita, doislivros infantis e uma edi-ção comemorativa dos 140anos de O Evangelho segun-do o Espiritismo. Durante osdez dias da Bienal, mais de50 mil pessoas visitaram onosso stand.

Com 120 anos deexistência e amostras deseu catálogo de 412 títu-los, a FEB teve uma atua-ção exclusivamente insti-tucional na Bienal. Oslivros estavam à mostra, mas nãoeram vendidos no stand da Editorae sim pelas livrarias e distribuido-res, já que a FEB entende que nãodeve concorrer com seus revende-dores. Todos os visitantes recebe-ram dos recepcionistas informaçõessobre as edições FEB e uma listacom o nome e endereço de todosos stands que revendiam livros daFederação. 10 mil exemplares deReformador e 26 mil sacolas perso-nalizadas, com material informati-vo sobre a Doutrina Espírita e oslançamentos editoriais da FEB, fo-ram distribuídos. Segundo os re-vendedores, 35 mil livros editados

pela Federação foram vendidos naBienal.

Para as crianças, foram distri-buídos 26 mil exemplares da publi-cação Turma da Paz com Allan Kar-dec, com passatempos, jogos, brin-cadeiras e diversas informações sobrea Doutrina Espírita e Kardec.

As autoras dos livros O Coelhi-nho Mexe-Mexe e Bom Louro – aVice-Presidente da FEB, Cecília Ro-cha, e Zaira Silveira – autografaramos dois primeiros volumes da sérieinfantil nos stands da Federação Es-pírita do Estado de São Paulo(Feesp) e da Associação das Edito-ras, Distribuidoras e Divulgadores

do Livro Espírita (Adeler). Indica-da para crianças de 5 e 6 anos, a sé-rie infantil – integrada ainda peloslivros Surpresa no Campo, O GatoLindinho, A Sementinha Amarelae A Gotinha de Orvalho, que serãolançados nos próximos meses – éescrita em linguagem acessível, comtextos curtos, belas ilustrações, alémde adesivos e passatempos relacio-nados com personagens da história.

Como parte das comemoraçõesdo Bicentenário de Nascimento deAllan Kardec, que transcorre em ou-tubro de 2004, a FEB lançou suaprimeira tradução, em português,dos 12 volumes da Revue Spirite

FEB lança obras na 18a Bienal Internacional do Livro

Aspecto do público presente no stand da FEB

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(Revista Espírita), editada pelo pró-prio Allan Kardec de 1858 a 1869.A nova tradução da Revista Espíritaé de Evandro Noleto Bezerra, Se-cretário-Geral da FEB, médico, es-tudioso da gramática francesa e au-tor de diversos artigos e traduções.O projeto gráfico dos 12 volumes édo designer Tarcisio Ferreira.

Editada por Allan Kardec, a Re-vista Espírita – Jornal de Estudos Psi-cológicos – é um clássico, fundamen-tal para entender-se o pensamentokardequiano. Foi lançada em 1o dejaneiro de 1858 e serviu como labo-ratório experimental para as obras eprojetos futuros do Codificador doEspiritismo. Muitos textos que apa-recem em suas páginas depois fize-ram parte das obras de Kardec quese seguiram à publicação de O Livrodos Espíritos. A Revue foi, também,peça fundamental para o intercâm-bio de espíritas e simpatizantes devárias partes do mundo, embora suagrande vocação sempre tenha sido a

contribuição para à difusão da nas-cente Doutrina Espírita

A edição comemorativa de OEvangelho segundo o Espiritismo, emhomenagem aos 140 anos de lança-mento do livro, foi impressa em pa-

pel chamois, com capa semiflexível,formato 14x21cm, em novo proje-to gráfico.

A FEB exibiu uma série de vídeosem seu stand. Além de um filme sobrea vida do médium Francisco CândidoXavier e a fita O Espiritismo, deKardec aos dias de hoje, a Federaçãoreproduziu imagens da sessão soleneem homenagem aos seus 120 anos deexistência e ao Bicentenário de Nasci-mento de Allan Kardec, o Codifica-dor da Doutrina Espírita.

Através de sua área editorial,a Federação Espírita Brasileira jápublicou, aproximadamente, 38,64milhões de livros exclusivamente es-píritas: romances, poemas, mensa-gens, livros de caráter científico, fi-losófico e religioso. Os livros deAllan Kardec somam 10,18 milhõesde exemplares e os psicografadospor Chico Xavier totalizam 15,35milhões e ainda 13,11 milhões deexemplares de outros autores: livrosinfantis, obras de caráter científico,filosófico e moral. Sessão de autógrafos da Revista Espírita, por seu tradutor Evandro Noleto Bezerra

Sessão de autógrafos dos livros infantis da FEB, por suas autoras Cecília Rocha e Zaira Silveira

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Aponte de intercâmbio entre osdois mundos – a mediunida-de – constitui-se numa das

concessões divinas às suas criaturas.Mediante tal recurso é possível hau-rir as indispensáveis forças morais eespirituais para a consecução denosso objetivo maior na vida terre-na, qual seja a de buscar a liberda-de espiritual através da nossa evo-lução.

Manobras ardilosas, preparo dehábeis documentos foram elabora-dos por religiosos imediatistas parasilenciar as Vozes Amigas viventesno além-túmulo. Não conseguiram,muito pelo contrário, foram surgin-do outras e mais outras, falando--nos às consciências, ajudando-nosa crescer para Deus, concitando--nos à prática do bem e do amor aopróximo, expandindo-se a mediu-nidade irresistivelmente.

Pouco ou quase nada consegui-ram aqueles manobreiros das cons-ciências alheias com a ameaça desuas fogueiras, de um inferno ar-dente para calar as vozes dos imor-tais. O interesse acendrado dosEspíritos para prosseguirem ajudan-do-nos foi imenso, continua enor-me, não obstante todas as armadi-lhas, artimanhas utilizadas pelosmaus servidores do Evangelho, os

quais, utilizando-se da perseguição,pressupunham silenciar as vozes le-vantadas das tumbas. Estas são depais e mães, de amigos e familiaresoutros, carinhosos e fraternos, re-tornando da sepultura para acalen-tar e inspirar seus entes débeis edesinformados.

O correio da mediunidadeagora aberto não vai mais fechar,noticiando o mais possível, dentrodas nossas necessidades evolutivas,aquilo que precisamos saber e com-preender.

Amigos e conhecidos, mento-res e guias abnegados insistem nouso da palavra mediúnica, escrita efalada, conjugando companheirosempenhados nas lutas de ascensãoespiritual ainda na retaguarda terre-na. Paralelamente a estes, outros sur-gem, sedentos de vingança entretormentosas reminiscências, invejo-sos e maus, procurando prejudicaros incautos da Terra; são os adver-sários do passado, vencidos pelasurdiduras da pusilanimidade, apro-veitando-se de suas condições de in-visibilidade para dar vazão às suasojerizas e idiossincrasias em longosprocessos obsediantes.

As vinculações são feitas men-te a mente, conforme os pensamen-tos acalentados, estabelecendo-se asintonia, consciente ou inconscien-temente. Inicia-se, assim, um pro-cesso que geralmente desemboca naobsessão e suas conseqüências sem-pre lamentáveis, para ambas as par-tes, alongando-se no tempo.

A morte, importa saber, nãoparalisa jamais a dinâmica da vida– o amor –, estuando aqui e alémnum permanente esforço para a to-dos adaptar a uma existência felizna Espiritualidade.

Há, houve, está havendo e ha-verá sempre intercâmbio de ondasmentais, quando as permutas de ex-periências são trocadas entre os li-bertos da carne e os a ela aprisiona-dos, testemunhando a indestruti-bilidade da alma de conformidadecom o ensinado pela Doutrina Es-pírita.

Os cultuadores da verdade e osque viveram o Evangelho, na suareal expressão, brilham além dastrevas, prenunciando a eterna ma-drugada, donde retornam triunfan-tes a fim de cantarem as sonorasmelodias das belezas imortais, con-vidando os atentos ouvintes para afelicidade e a paz destinadas a todosos filhos de Deus.

Dentre as dores do ser huma-no, uma das mais pungentes, perti-nazes e profundas é, indubitavel-mente, a que decorre da separaçãofísica imposta pela morte. O ho-mem, de modo geral, não se achaainda acostumado ao fenômenobiológico natural da vida – a morte.Nada que se lhe compare, tal o di-laceramento provocado nos teci-dos sutis da alma, mesmo quandoaguardada.

Ela é a única realidade de queninguém pode fugir, graças ao seucaráter determinístico, convidando

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A morte e a mediunidadeAdésio Alves Machado

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a todos para que nos projetemos, omais cedo possível, na imortalidade.

Quantas vezes ela surge sorra-teira arrebatando os afetos e carre-gando os adversários, mas sempreprovocando emoção, mais aindaem se tratando dos amores, enig-maticamente realizando a transfe-rência de um para outro estágio davida.

A morte pode ensejar felicida-de e triunfo, sendo ela, nesse caso,libertação, mas pode também fazer--se grilheta e cárcere para as cons-ciências comprometidas, intoxica-das pelos vapores da insensatez edas paixões comprometedoras.

A ninguém poupa e prima porigualar a todos, selecionando-os deconformidade com os títulos mo-rais auferidos no transcurso dasexistências.

Nunca deveríamos rebelar-nosdiante das conjunturas da morteque nos separou de um ente ama-do, porque tal separação não aten-de aos caprichos do acaso, mas àsdeterminações do Criador, o únicoa deter o poder sobre as nossasexistências. Ela, a separação, jamaisserá definitiva, requisitando nossapaciência e nosso preparo para oreencontro.

Os afetos aguardam-nos espe-rançosos, anelando que cumpramosnossos deveres e obrigações, e quenunca os decepcionemos através demanifestações de revolta ou de de-sespero, totalmente injustificáveis.Vivem eles como nós vivemos e vi-veremos, tendo-os apenas comoaqueles que se anteciparam na via-gem de volta, não se encontrandoapartados de nós.

Apesar de não os vermos, estãoao nosso lado caso os amemos, ouvinculados a nós, se os detestamos.

Não os fixemos na memória deforma inditosa, sob os caprichos dapaixão ou debaixo do sabor amargoda nossa dor, devendo, sim, luarizara saudade no regaço da oração, ali-mentando a certeza de reencontrá--los.

Utilizemos, portanto, as nossashoras disponíveis para pensar nelese produzir o Bem, em nome deles epor amor a Jesus, orando sempre, econvertendo nossas moedas e floresde efêmeras durações em reconfor-to para os outros seres que padecemprivações.

Nossos gestos de amor serãopor eles benditos, acercar-se-ãomais de nós, visando a ajudar-nos eencorajar-nos ao prosseguimentodas tarefas.

Deslocando o amor em direçãodo sofrimento alheio diminuiremosa nossa dor, tudo realizando em no-me dos que partiram, certos de quevivem e se encontram ligados a nós.

Somente o corpo morre. OEspírito que o anima é imortal eprossegue, em encarnações sucessi-vas, que “são sempre numerosas,porquanto o progresso é quase in-finito”, diz-nos O Livro dos Espíri-tos, na questão 169.

Saibamos considerar o quantode fragilidade existe no organismoatravés do qual nos movimentamos,e, ao final de mais um dia vivido naTerra, pensemos na possibilidade deo perdermos mediante a transfor-mação imposta pela morte.

Não é o sono uma quase de-sencarnação? Quem tem certezaplena e absoluta de que despertaráno dia seguinte? Não nos emanci-pamos do corpo nestas horas e nãovamos ao encontro de nossosafins?

Façamos sempre uma avaliação

do nosso dia, procurando analisar oque foi feito, de certo e de errado,insistindo por viver sempre com aretidão que é característica de quemdispõe de pouco tempo, confiandono prosseguimento da vida após otraspasse.

Desenfaixemo-nos de tudoquanto nos possa reter na retaguar-da e, sempre que nos sintamos ata-dos a ela, recordemos a necessidadede prosseguir a existência, desvin-culando-nos de todo tipo de capri-cho humano, avançando para oamanhã, a fim de alcançarmos otriunfo em nossa imortalidade.

A morte, seja violenta ou se ar-raste por meses e anos, chega sorra-teira, ceifando corpos, espalhandoangústia, mutilando aspirações aca-lentadas, mais ainda quando são osjovens os atingidos. Vai espalhandoluto e dor.

Aparatos vários, rituais cheiosde adornos cingiram-na, numa ten-tativa de desvincular-lhe o impactoou, pelo menos, diminuir-lhe otrauma. Foram inúteis as solenida-des e cerimoniais porque a morte osdispensa, como também as concei-tuações pessimistas dos que a con-sideram como o fim da vida.

Nós, Espíritos, vitalizadores damatéria, preexistimos e sobrevive-mos a ela, porque somos a causa, asua força mantenedora, acionando--lhe a vitalidade, pondo-a em mo-vimento e lhe propiciando esponta-neidade, sendo incontestável, pois,a nossa sobrevivência.

Devemos pensar, sim, no fenô-meno da morte e com freqüência,anelando habituar-nos à idéia, afim de não sermos surpreendidosquando o depararmos em nós ounum ente querido. É uma fatalida-de biológica da qual ninguém está

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isento, competindo-nos viver de talforma que estejamos sempre pron-tos a submeter-nos a tal imperativo,aceitando-lhe a presença como úni-ca maneira de nos libertar, presosque nos achamos ao corpo físico.Mas, somente uma existência dignanos credenciará à felicidade. Quemse mantiver intoxicado pelos vapo-res dos vícios, da delinqüência, dainsensatez, da criminalidade sentir--se-á ainda agrilhoado aos impera-tivos da vida carnal, sofrendo sem omínimo entendimento, vendo-sesem acreditar no que vê, assistindoà putrefação do corpo de forma do-

rida, sendo aniquilado por vermesfamélicos.

A viagem material é umaaprendizagem que deve ser exerci-tada, imprimindo-lhe uma condu-ta moral, mental e vivencial corre-ta, digna, respeitosa, honesta, fazen-do ao próximo tudo quanto gosta-ríamos que ele nos fizesse.

Não devemos lamentar osmortos, nem nos amedrontar dian-te da morte, evitando rebeldia emágoa, considerando a existênciapós-morte apenas como a de umavida em níveis vibracionais diferen-tes, em faixas evolutivas diversas.

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Observamos que os primeirosempenhos do Governo Fede-ral instalado para o período

de 2003-2006 foram as conclama-ções ao envolvimento de toda a so-ciedade brasileira no combate aosproblemas permanentes: a fome, aeducação, a saúde, as desigualdadessociais e outros. De outro lado, aImprensa leiga diariamente nosmostra um elenco de vícios da na-tureza humana existencialista, ime-diatista: a violência, a corrupção, oabuso do poder econômico, a vida--mercadoria e tantas mais, indican-

do a total ausência de sentido daexistência humana. Neste contexto,totalmente desanimador, o espíri-ta consciente procura, tanto quan-to possível, crer na esperança e, nes-te propósito, acreditamos que aEducação seja potência criadora.Estamos especificamente nos refe-rindo à Educação Espírita, aplica-da, guardadas as proporções, à vi-vência diária, obtida através dosCursos de Espiritismo, como o Es-tudo Sistematizado da DoutrinaEspírita. Ela poderá instruir e con-solar, contrapondo-se a todos ospoderes negativos que causam da-nos ou impõem limites à vida hu-mana, neste sociedade de consumoem que vivemos.

Na conclamação geral do no-

Educação Espírita e o envolvimento social

Dulcídio Dibo

vo Governo Federal, dinamizadopelos Ministérios da Educação e daCultura, a Doutrina Espírita, atra-vés de seu movimento doutrinário,muito poderá contribuir, notada-mente na Educação, procurandopreparar brasileiros úteis à Socieda-de, colocando-se a serviço desta ede outras causas. E, por tal razão,observamos que os espíritas cons-cientes passaram a valorizar o patri-mônio de conhecimentos, porquea base doutrinária para a Educaçãoé o Livro. Cresce, neste sentido,junto ao público espírita e não es-pírita, a convicção de que o saberespiritual está justamente na reli-giosidade inerente à Doutrina Es-pírita aplicada à vivência cotidianae não nos grandes espetáculos pon-tuais. É que somos leitores e nãoespectadores.

A Fé espírita é raciocinada. AEducação Espírita aplicada à vivên-cia diária, através do livro doutri-nário, possui, admitimos, três efei-tos imediatos à sociedade brasileira:a) desenvolvimento do sentimentoreligioso, sem, contudo, cair no fa-natismo ou proselitismo religiosos;b) resignação nas vicissitudes da vi-da cotidiana, todavia, sem acomo-dação com as trevas da ignorânciamaterial e espiritual; c) estímulo àindulgência para com os defeitosalheios, sem desestimular o traba-lho construtivo e o progresso hu-mano e social, incentivando aleitura de obras que possam seraplicadas em favor da causa socialbrasileira e outras de cunho edifi-cante. E é por isto que Emmanuel,na psicografia de Francisco C. Xa-vier, sinaliza: “A cultura reclamapublicações: o Espiritismo tem suaalavanca na expansão do livro quelhe expõe os postulados.”

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Acre: III UNEACREA Federação Espírita do Estado do Acre realizou em9 de abril, na Escola Glória Peres, de Rio Branco, oIII Encontro de Unificação do Espiritismo no Acre(UNEACRE), com o tema central Transformação parauma nova consciência, cuja abordagem esteve voltadapara a tomada de consciência do espírita quanto aoseu papel relativamente aos laços afetivos, ao Es-piritismo enquanto ciência e religião, e à necessidadeda iniciativa pessoal para a paz.

R. G. do Norte: Eventos espíritas da FERNDestacamos, da Agenda 2004 da Federação Espíritado Rio Grande do Norte, os seguintes eventos: Abril– Foi realizado no dia 24 o Seminário Comemorati-vo aos l40 anos de O Evangelho segundo o Espiri-tismo, com o tema O Evangelho e a ética perene deJesus; Maio – Seminário Os prazeres da alma, comFrancisco do Espírito Santo; e Programação com JoséRaul Teixeira; Junho – Encontro de ComunicadoresEspíritas do Rádio.

Espanha: Jornada Espírita em BarcelonaA II Jornada Espírita de Barcelona ocorreu no dia 18de abril passado, em comemoração ao lançamento deO Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, com o apoiodos Centros Espíritas daquela cidade espanhola.A programação compreendeu palestras e seminários,em que foram abordados os temas: O Livro dos Es-píritos: Introdução ao estudo da Doutrina Espírita;Espiritismo: Como eu te sinto; O Perispírito; Es-piritismo e Centro Espírita, este último apresentadopelo Presidente da Federação Espírita Espanhola, Sal-vador Martín.

R. G. do Sul: Encontro de EvangelizadoresA Federação Espírita do Rio Grande do Sul, atravésdo seu Departamento de Infância e Juventude, reali-zou, com a presença de cerca de 1.400 participantes,mais um Encontro Estadual de Evangelizadores Es-píritas, nos dias 3 e 4 de abril deste ano, abrangendoa temática A Evangelização Espírita como Chave doProgresso Moral da Humanidade. Participaram doevento a Vice-Presidente da FEB, Cecília Rocha, pio-

neira no desbravamento da evangelização no Estadodo Rio Grande do Sul, Sandra Maria Borba Pereira,Presidente da Federação Espírita do Rio Grande doNorte, Sérgio Lopes, médico psiquiatra, e Gládis Pe-dersen de Oliveira, Vice-Presidente da FERGS.

Argentina: Bicentenário de Allan KardecEm comemoração ao Bicentenário de Nascimento deAllan Kardec, a Confederação Espiritista Argentinapromove em sua sede (Sánchez de Bustamante, 463 –Buenos Aires), no dia 11 de junho corrente, um Atopúblico em que serão proferidas duas conferências:uma sobre Allan Kardec e sua obra, pelo escritor e his-toriador do Espiritismo, Sr. Florentino Barrera, vin-culado à Sociedade “Vida Infinita”; e outra sobreJuventude e Espiritismo, pelo Sr. Fernando Qua-glia, membro da Instituição Espírita “Joanna de Ân-gelis”.

Congresso de Psicologia e EspiritismoRealizou-se no salão nobre da Federação Espíritado Estado de São Paulo, nos dias 16 e 17 de maio, oII Congresso Brasileiro de Psicologia e Espiritis-mo, promovido pela Associação Brasileira de Psicólo-gos Espíritas e com o tema central Psicologia e Fé,que foi desenvolvido através de palestras e cincoworkshops.

Paraguai: Semana EspíritaOrganizada pelo Movimento Espírita Paraguaio,realizou-se em Assunção, no período de 11 a 18 deabril, uma Semana Espírita dedicada a Allan Kardec,por seu Bicentenário de Nascimento. As palestras daSemana foram proferidas nos sete Centros Espíritasdo Paraguai.

Pernambuco: Seminário sobre DepressãoA Federação Espírita Pernambucana promoveu na suasede, em Recife, de 22 a 23 de maio, o Seminário De-pressão: Causas, Conseqüências e Tratamento, com aparticipação de Izaias Claro, escritor espírita, Presi-dente da Comunidade Espírita Joanna de Ângelis, deOswaldo Cruz (SP), e autor de vários livros sobre o as-sunto.

SEARA ESPÍRITA

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