Eduardo Chagas - A Majestade Da Natureza Em Ludwig Feuerbach
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lic,aLuiz inácio Lula da Silva
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UniversIdade P
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Prof. Jesualdo Pereira Farias
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Pror. Adelaide M
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AC
H
Eduard
o IT
Chagas*
Irei aqui desenvolver e explicar o conceito de na-tureza em
Feuerbach. C
onquanto ele não tenha empre-
endido, infelizmente, um
a formulação com
pleta de suaconcepO
o de natureza como urn todo, isto é, rid() tenha
deixado nenhuma filosofia da natureza explicita e acabada
e também
não tenha redigido nenhum escrito porm
enori-zado e sistem
atizado acerca da natureza, ha, todavia, emsua obra, é'm
diferentes passagens, uma abundância de
aforismos, eP
igramas, definitionen e reflexöes filosóficas
sobre a natureza. Assim
, o conceito de natureza de Feu-
erbach foi desdobrado, em sua obra, na verdade apenas
de maneira fragrt
ntada, mas ele esti, apesar disto, no
centro de sua filosofia. 0 desenvolvimento e a transform
a-çâo desse conceito perpassam
, de certa maneira, com
ofib condutor a totalidade da obra de F
euerbach, abremurn cam
inho para entender a sua filosofia como crítica
ao tefsmo (T
heismus) e ao idealism
o (Idealismus) e nos
permitem
trata-la sistematicam
ente.A
auséncia de uma sistem
atização, ou seja, de uma
precisão ou de uma clara posição no que se refere ao con-
ceito de natureza em Feuerbach encontra-se fundam
entadonisto: que a pretensão principal de sua filosofia é, com
oacim
a aludido, a crftica ao tefsmo (sobretudo ao C
ristia-
• Doutor em
Illosofia (Kassel, A
lemanha). P
rofessor-Doutor da G
raduacao e P6s-
eICIU
Udy20 oo uepartam
ento de fllosofia da Universidade F
ederal do Ceara - U
FC
eC
olaborador do Prograrna de POs-G
raduação da Faculdade de Educação (FA
CED
) daU
FC
. etchagas©uol.com
.br.
37
52
38
nismo) e ao idealism
o (especialmente ã filosofia de H
egel),os quais são deficitårios em
relação ã natureza, visto queeles não só abandonaram
, mas, sobretudo, m
enospreza-ram
a consideração da natureza. A falta em
Feuerbach deum
a reflexion decidida, explicitamente form
ulada sobre anatureza, pode, consequentem
ente, ser entendida, em prin-
cipio, como expressão da ausencia de um
a tematização da
natureza no teismo e no idealism
o em geral. A
cerca destaproblem
åtica deve ser aqui estabelecida, inicialmente, a tese
de que a natureza (Natur) em
Feuerbach possui o primado-
ante o espirito; ela é a primeira estrutura da existencia e
diante dela se põe o entendimento com
o algo secunclårio.P
ara Feuerbach, a natureza m
aterial, que existe, em sua
diferencialidade qualitativa, fora e independentemente
do pensar, é em face do espirito o prim
eiro, o originårio,o que produz tudo de si e não pode ser pensada com
oproduzida, pois ela acha seu sentido tão-som
ente em si
mesm
a. A natureza, entendida com
o totalidade, como
unidade orgånica, como harm
onia de causas e efeltos,com
o pressuposto necessårio para todos os objetos, fe-nôm
enos e criaturas, plantas e animais, inclusive para a
natureza humana, fornece a F
euerbach o fundamento de
sua critica ao teismo e ao idealism
o, isto é, ela é o motivo
de sua konfrontation com am
bos, os quais desconhecemcom
pletamente a autonom
ia e a independência danatureza, porque eles a concebem
meram
ente como obra
de um criador, ou com
o puro desdobramento e exterio-
rização da atividade do espirito. Em
ambos os sistem
asfoi a natureza tratada, portanto, não com
o um existente
objetivo, independente, autônomo, m
as deduzida apenascom
o uma grandeza dependente e inconsistente em
sim
esma. A
ssim com
preendido, mediante um
entendimento
da natureza que se baseia nas caracteristicas imanentes a
ela desenvolvimento continuo de intervenções, progresso
de evoluções e catåstrofes, imediaticidade, autonom
ia, regularidade universal (lei), exercida im
pessoal e logica-m
ente, necessidade, dinamicidade - Feuerbach form
ularå
não só sua critica ao teismo e ao idealism
o, como tam
bémalicerçarå, na m
aturidade, sua própria ética.A
natureza é, para Feuerbach, não só o que limita,
mas tam
bém a potencia que assegura ao hom
em a pos-
sibilidade, a condição para satisfazer suas necessidadesm
últiplas. Natureza, assim
diz ele, "é tudo o que se mostra
ao homem
, abstraido das sugestões supranaturalisticas dacrença deistica, im
ediatamente, sensorialm
ente como base
e objeto de sua vida." Em
bora a concepção de natureza deFeuerbach não seja atom
istico-mec.ånica, - já que para ele
a natureza não é nenhuma m
áquina, nenhuma pura "res
extensa", sem vida, nenhum
a grandeza lógico-matem
åtica,isto é, nenhum
universo que se movim
enta necessaria-m
ente segundo leis mecånicas são a ele "sensibilidade",
"vivacidade", "vitalidade", "fisicalidade", "exterioridade"conceitos-sim
ilares para a existencia material da natureza,
pois a naturezA que existe real, objetivam
ente, expressa suaexistencia m
aterial atrayés de efeitos fisicos, fenômenos
naturais, que existem não apenas idealm
ente no enten-dim
ento, mas constituem
também
para o homem
efeitossensiveis, ob,senrados sensivelm
ente. As teses fundam
entaisdo conceito de natureza em
Feuerbach contra o teismo e o
idealismo podem
ser sintetizadas assim:
A natureza é, em
primeira linha, um
a verdadedada aos sentidos. C
omo objeto dos sentidos, ela
não é um produto nem
da atividade de um puro
eu, do desenvolvimento do espirito, nem
do atoarbitrårio de um
Deus ficticio, sobrenatural, m
as,pelo contrårio, um
a essencia autônoma que existe
independentemente da consciencia hum
ana.
Natureza [...] é tudo o que tu vés e não se origina
das mãos e dos pensam
entos humanos. O
u, sequiserm
os penetrar na anatomia da natureza, ela
FBU
ERB
AC
H, L. V
orlesu
ngen
über d
as Wesen
der R
eligio
n. O
rganizado por Werner
Schuffenhauer.A
kademie V
erlag, 1967. OW
6, p. 104.
40
2F
2 lbidem., p. 105.
3 Ibidem., p. 104.
christlichen Altertum
s. Organizado por W
erner Schuffenhauer. B
erlin: Akadem
ieV
erlag, 1969, OW
7, p. 259.
o cerne ou a essência dos seres e das coisas cujosfenom
enos, exteriorizagoes ou efeitos, nos quaisexatam
ente sua essência e existência se revelam e
dos quais constam, não tern seu fundam
ento empensam
entos, intengies ou decisCies do querer, m
asem
forças ou causas astronômicas, cósm
icas, [...]quim
icas, fisicas, fisiológicas ou organicas;2
2. a natureza e incriada, eterna, nao deduzivel; elaé em
si mesm
a, existe apenas por Si e rid° por
meio de um
a outra essencia;3.
a natureza é necessaria. Forque eta é, é eta ne-
cessaria, e exatamente assim
como ela é, isto
é, correspondendo as suas próprias leis. Se, a
saber, tudo o que é, é necessariamente por m
eioda natureza, assim
nao tem sentido aceitar urn
espirito ou urn Deus criador que planeja para o
esclarecimento da natureza e, por fim
,4.
a natureza corresponde apenas a si mesm
a.
A palavra "natureza" designa a essencia de todas as
for9as, coisas e seres sensiveis que o homem
distingue desi com
o rid° humanas. "E
ntendo em geral sobre natureza",
assim esclarece Feuerbach,
[...] certamente com
o Spinoza, m
as rid° urn sercom
o o Deus supranaturalistico, que existe e age
corn vontade e razão, mas que atua som
ente con-form
e a necessidade de sua natureza; eta tido é param
im D
eus, como é para Spinoza, ou seja, urn ser
ao mesm
o tempo sobrenatural, transcendente, [...]
misterioso, sim
ples, e sim urn ser m
áltiplo, [...] real,perceptivel corn todos os sentidos.3
A natureza é, pois, apenas explicavel, quando se
reconhece que eta nao é nenhum ser abstrato, despojado
de existencia, mas a unidade da diversidade das coisas
que sao concretas; ou melhor, eta é a m
ultiplicidade dosexistentes singulares, e fora dela nada tern existencia real,a nao ser pensam
entos e representa95es.
Diante do teism
o e do idealism°, que deduzem
anatureza de D
eus ou do espirito, Feuerbach argumenta o
seguinte:1.a natureza precede o espirito e, por isso, é a baseorganica dele;
2.o espirito é, pelo contrario, produto da natureza,tam
bém funktion de urn órgao natural, do cére-
bro humano, ou seja, atividade que não esta fora
do corpo e dos sentidos, e3.
Deus, com
o criador da natureza, do mundo, é, em
- verdade, apenas o espfrito do homem
pensadouniversalm
ente. A aceitação de urn D
eus, de uma
crfacao espiritual da natureza, por assim dizer, de
uma transferencia das representa95es do espfrito
sobre a natureza esti em com
pleta oposicaoexistencia da natureza. "E
x nihilo nihil fir (donada nada vem
), isto é, uma lei da natureza e da
razao, válida universalmente. U
rn mundo, criado
em oposição a esta lei fundam
ental, é uma con-
tradição consigo mesm
o, uma contradição corn
todas as leis da natureza, é, em sintese, o m
undoinvertido da teologia, em
que o pensamento é
anterior a matéria, a coisa do pensar, ou seja, a
criança anterior a mae, a gram
a ao so1."4 Feuer-
bach pergunta: como se pode deixar surgir "seres
irracionais de um ser racional? C
omo pode urn
espfrito criar seres sem est:alto?" N
a verdade, se"um
Deus existe, é a existencia do m
undo inexpli-
41 51
42
-§1
cável, porque ela [seria] inteiramente supérflua."5
objeção teistico-idealista "como pode o hom
emsurgir da natureza, ou seja, o espirito da m
atéria",opõe Feuerbach o seguinte:
Responda-m
e, sobretudo, primeiro a pergunta:
como pode nascer do espirito a m
atéria? 11.1 näoachas para esta pergunta nenhum
a resposta, pelom
enos racional, assim tu reconheceräs que apenas
a resposta oposta conduz a ti para o objetivo."6
Não a dedução do espirito da natureza, m
as, pelocontrário, a deduktion da natureza do espirito,é, pois, um
problema insolúvel. Para Feuerbach,
racional começar com
a natureza e só daquipassar para o hom
em, para o espirito.
Os argum
entos, que se poderia apresentar para adefesa da tese feuerbachiana no que tange ao prim
ado danatureza e do nascim
ento do homem
dela, ou seja, de seuesclarecim
ento por ela, podem ser resum
idos assim:
1. A natureza não pode ter sido deduzida do espirito,
já que ela possui uma qualidade com
pletamente
diferente dele; mas o espirito pode ser deduzido
dela e esclarecido por ela, uma vez que o hom
em,
como criação da natureza, é a identidade de todas
as oposições, isto é, a unidade do espiritual como natural. 0 hom
em, no qual a natureza veio ã
consciéncia, sabe de si, conhece a si como unida-
de real, viva, do espirito e do corpo, de todas asqualidadés ativas e passivas, espirituais e sensi-vels. A
qui jaz para Feuerbach o verdadeiro cerneda unidade do pensar e do ser, pois o espiritohum
ano, como sujeito autônom
o,
5 FE
UE
RB
AC
tl, L. Vorlesungen über das W
esen der Rellgion. O
p. ciL, p. 161-162.
• ITO
,yr,tcJUC
Z4.41
CIA
LG
II C.1
glAllIA
"v
a •
ganizado por Werner Schuffenhauer. B
erlim: A
kademie V
erlag, 1971. OW
10, p. 179.
que jä näo tem fora de si de nenhum
a coisa e, porconseguinte, m
ais nenhum lim
ite, jä näo é sujeito'finito' - jä não é o eu, a que se contrapõe o obje-to - é o ser absoluto, cuja expressão teológica oupopular é a palavra D
eus. É, sem
dúvida, o mesm
osujeito, o m
esmo eu, com
o no idealismo subjetivo
- mas sem
limite-s; é o eu, m
as que jä näo parecetam
bém ser eu e, por conseguinte, tam
bém jä näo
se chama eu.7
0 espirito (o eu) não é, pois, apenas sujelto parasi, m
as também
simultaneam
ente predicado deum
a esséncia real; ou seja, ele não é, de modo
nenhum, por si m
esmo com
o tal, mas por si
como esséncia corporal, sensivel; pela corpo-
reidade ele estã aberto ã natureza, ao mundo,
- pois estar no corpo quer dizer nada mais do que
estar no mundo.
2. A riatureza não pode ser deduzida do espirito,
porque o inferior (o anterior) não pode ser es-clerecido e deduzido do superior (do posterior),m
as ante9, pelo contrário, o superior do inferior,com
o todo desenvolvimento prova. D
eduzir anatureza do espirito é, por conseguinte, ilógico,sem
sentido, pois por que se deve fazer passar osuperior por algo inferior, o kom
plex pelo sim-
plex, o "perfeito" pelo "imperfeito"? Feuerbach
advoga que a natureza produziu de si mesm
ao hom
em; ou seja, ela é a esséncia da qual o
homem
nasceu e pela qual se mantém
a suaexisténcia. A
natureza
[...] compreende o hom
em, é ela cuja aniquilaçäo
significa também
a própria aniquilaçâo da existénciahum
ana; somente através dela consiste o hom
em,
somente dela depende ele em
toda a sua atividade,
FEUER
BA
CH
, L. Grunricätze der P
hilosophte der Zulcunft. O
rganizado por Werner
Schuffenhauer. Berlin: A
kademie V
erlag, 1970. C1W
9, p. 299.
44
521
em todos os seus passos. A
rrancar o homem
danatureza significa o m
esmo que tirar os olhos da luz,
o pulmão do ar, o estom
ago dos alimentos e querer
fazer deles seres existentes por Si mesm
os.8
o homem
é urn produto da natureza, uma obra
dela; ele deve, por isso, trata-la e estimA
-la como
"sua mãe", com
o a fonte de seu ser. JA que ele
deve seu nascimento e sua m
anutenção apenasA
s forcas e efeitos naturais, depende ele, porconseguinte, da natureza; quer dizer, ele não énenhum
ser sem necessidade, m
as urn organis-m
o que pressupoe as determinaçoes da natureza,
Agua, ar, alim
ento etc.3. F
or fim, considerar o espirito com
o a premissa
da natureza é sem sentido, pois não se pode ser
indicado de onde ele toma a determ
inação paraa m
atéria. Não é, portant°, o espirito a origem
e a razão de ser da matéria; pelo contrA
rio, anatureza deve ser vista com
o o fundamento do
espirito, isto é, como um
fundamento que não
tern nenhum fundam
ento fora de si mesm
o. 0espirito pode desenvolver-se, assim
, apenas danaturez,a orgA
nica; na verdade, ele é, no homem
,o superior, pois, através dele, o hom
em diferen-
cia-se do anima1.
9 1st° não significa, de modo
FEUER
I3AC
H, L. V
orlesungen über das Wesen der R
eligion. Op. cit., p. 91.
9 Nos Principlos da Filosofia do ficturo, F
euerb
ach
chama a atencio para o fato de
que o homem
de nenhum m
odo se distingue do animal so pelo pensam
ento. "Sua
essêncla toda é, pelo contrário, o que o distingue do animal." E
le indica ainda: "0hom
em nä° 4 urn ser particular com
o o animal, m
as urn ser universal, par conse-guinte, não é urn ser lim
itado e cativo, mas urn ser ilim
itado e livre; corn efeito, auniversalidade, a ilim
ita9Ao e a liberdade são inseparáveis. E
esta liberdade também
não reside numa faculdade particular, no querer, na verdade, da m
esma m
aneira queesta universalidade M
c> Sc situa num
a disposição espedal da faarldade de pensar, naratho - esta liberdade, esta universalidade estende-se ao seu ser total. Sem
clOvida,
os sentidos animals sto m
ais apurados do que os humanos, rnas apenas em
relacãoa com
as determinadas, necessariam
ente conexas corn as necessidades do animal, e
são mais agudos Justarnente par causa desta determ
ination, desta limitação exclusiva
nenhum, que ele seja o prim
eiro de acordo corno desenvolvim
ento natural. 0 espirito, isto é, osuperior, o com
pleto, é, ao c,ontrário, resultado,sem
pre o ültirno, o posterior. No espirito hum
ano,a natureza atinge o A
pic,e de seu desenvolvimento;
af ela se torna urn ser pes,soal, autoconsciente,inteligivel; ou seja, no hom
em, a natureza tom
aconsciencia de si m
esma. 0 hom
em é, pois, um
ser qualitativamente diferente de todas as outras
formas de existencia na natureza."
Em
bora não haja em Feuerbach nenhum
a concep-ção uniform
e, homogenea e inequivoca da natureza, 6-nos
permitido constatar o seguinte: a referencia A
autonomia
da natureza (Selbständigkeit der Natur) é o fundam
ento dacritica, ou m
elhor, o cerne da reaktion feuerbachiana contrao teism
o e o idealismo, que se desdobra em
tres diferentesfases de desepyolvim
ento: 1. como aproxim
ação critica aopanteism
o (identidade da natureza corn Deus), 2. com
orecusa direta A
teologia cristã e A filosofia hegeliana (a natu-
reza como criação de D
eus ou como deduktion do espirito)
e 3. como critica p
grcial a religião da natureza (antropo-m
orfização ou personificação da natureza). Nos escritos de
juventude dos anos 20 e 30 do século XIX
, particularmente
a Dissertagdo sobre a R
azão (Dissertation über die V
ernunftou D
e Ratione una, universali und infinita) (1828), os Pen-
samentos sobre a N
orte e a Imortalidade (G
edanken iiber
a algo de determinado. 0 hom
em não tern o faro de urn aio de caça, de urn corvo;
mas apenas porque o seu olfato pode abranger todas as esp4cies de odores, por
isso é um sentido livre e indiferente a respeito de odores particulares. M
as onde umsentido se ergue sobre os W
rites da particularidade e de sua vinculação a necessidade,eleva-se ai a urns significação e dignidade autonom
as, teóricas: sentido universalo entendim
ento, sensibllidade universal é espiritualldade. Mesm
o os sentidos infe-riores, o olfato co paladar, se elevam
no homem
a atos espirituals." Cf. FE
UE
RB
AC
H,
L. druncisiitze der Philosophie der Zulcunft. Op
. cit., p.335-336.''' C
f. HO
ITH
ER
, J. Ludw
ig reuerba.chund seine materialistische W
eltanschauung In
p. 302-355, e JE
SS
III, M. I. D
ie materialistL
sche Philosophic ludw
ig reuerbachs.B
erlin, 1956. p. 3-41.
1
7bd und Unsterblichkeit) (1830), a Introdução à L
ogica eM
etafisica (Einleitung in die L
ogik und Metaphysik) (1829-
1930), a tïistória da Filosofia M
odema (G
eschichte derneueren Philosophie) (1835
-1936) e aApresentaçã o, D
esen-volvim
ento e Critica da Filosofia L
eibniziana (Darstellung,
Entw
iclung und Kritik der L
eibnizschen Philosophie) (1837),trata Feuerbach a natureza de um
ponto de vista panteista.P
artindo de um panteism
o que se orienta sobretudo emG
iordano Bruno, Jakob B
õhme e B
aruch Spinoza, ele tenta,já nesse periodo, restabelecer, em
face da depreciação danatureza pela religião cristã e em
oposição ã identidadeform
al de pensar e ser postulada pela filosofia hegeliana,um
a reconciliação entre ser e pensar, uma unidade entre
natureza (matéria) e D
eus (espirito). No panteism
o ele vé, naverdade, não só tal reconciliação, m
as também
a superaçãodo subjetivism
o e da personificação de Deus (de um
Deus
transcendente), e, por isso, o panteismo sinaliza para ele a
solução para os problemas filosóficos fundam
entais. Nem
cristianismo, nem
idealismo podem
solucionar adequada-m
ente tais problemas, porque eles não tém
formulado um
arelação adequada para a natureza. A
ssim com
o no idealismo,
em geral, tam
bém no cristianism
o o eu domina o m
undo ese considera com
o o Único ser espiritual que existe; nele estã
salvo apenas a pessoa, não a natureza, o mundo; centraliza-
do no eu, na pessoa, o cristianismo é apenas um
a religião,na qual se revela um
abandono completo da natureza, pois
nele foi consumado um
a separação entre a natureza e Deus.
Enquanto para o teism
o o espirito é imaterial, não sensivel,
transcendente, e Deus um
a esséncia absoluta que existepara si, personificada, extram
undana ou estranha ao mundo,
admite, ao contrário, o panteism
o, abstraindo aqui as suasdiferentes tradições, D
eus imerso na natureza; com
isto, elede,staca a unidade do m
undo com D
eus (com o espirito). Se
a caracteristica essencial do teismo é, por conseguinte, o
isolamento de um
a esséncia do pensamento, abstraida da
Em
sua obra anônima, Pensam
entos sobre Morte e
Imortalidade (G
edanken über 7bd und Unsterblichkeit ou,
resumidam
ente, Tbdesgedanken) (1830), o jovem
Feuerba-ch concebe D
eus panteisticamente, pois E
ste é, para ele,o ser que une a naturez,a e o hom
em, o todo do existente.
Portanto, Feuerbach concebe Deus não com
o sujeito, como
pessoa, isto é, como m
odelo, imagem
ou retrato da per-sonalidade hum
ana, o que seria, para ele, um ser superfi-
cial, sem profundidade, m
as como o todo, o fundam
entouniversal do kosm
os inteiro, isto é, não só do hom
em,
como tam
bém da natureza. E
m oposição ã tradição teista,
para qual Deus com
o pessoa absoluta, pura, representao espirito superior ou a autoridade sagrada, desprendidoda natureza, trata-se para o jovem
Feuerbach de conceberD
eus também
como natureza.
11 E
le defende, de maneira
radical, o panteismo:
Se censuras o puro panteism
o, porque ele fazde D
eus o todo, entšo tu deves se deparaf•coma reprovação de representar o pior panteism
o, opanteism
o particular. Pois, ao pensar Deus só sob
a determinhção do ser-em
-si e do saber-de-si ou,m
elhor, do ser-para-si, e, por conseguinte, só soba determ
inação da particularidade e da diferencia-lidade, então tu elevas, precisam
ente, o algo, nãocertam
ente o todo, mas o particular, ã condição
de absoluto.12
" Deus é nem
pura natureza, nem puro e.spirito, m
as Ele contém
ambos os m
omen-
tos necessariamente: natureza e espirito. C
f. AS
CH
ER
I, C. Feuerbachs B
ruch rnit derSpekulatton. Einleitung zur krtlischen A
usgabe uon ikuerbach: Notw
endigkett etnerVeranderung (1842). Frankfurt am
Main: E
uropa Verlag W
ien, 1969. p. 26 e 36: "OD
eus de IbdesgedanIcen é 'espiritd, tem em
sua esséncia ambos os polos: cons-
ciéncia e natureza." Em
7bdesgedanken, Deus náo é, com
o o referido autor escreveadiante, "um
a pessoa absoluta, diferente da natureza e em oposição a ela, m
as Ele
comprende em
sua esséncia também
a natureza [...). Deus é não apenas pessoa,
mas tam
bém natureza, tam
bém esséncia e substáncia e, enquanto tal, principio da
47 {1.1.3
12 FEUER
BACH
, L. dedanken über Tbd und Unsterblichkeit. O
rganizado por Wem
erS
chuffenhauer. Berlim
: Akadem
le Verlag, 2000. O
W 1, p. 213.
Deus no interior da natureza.
48
a4
"TU
nao podes agora", pergunta ele, então, ao ini-m
igo imaginario do panteism
o,
[...] elevar-te também
ao pensamento de que D
eusé tudo e, por sua vez, consciente de si; que E
le, aosaber de Si m
esmo, sabe tudo com
o Si e a si m
esmo
como tudo? M
c) podes também
unir o ser-para-side D
eus corn seu ser-todo.13
Abstraindo do panteism
o (Pantheismus), Feuerbach
designa todas as outras doutrinas de "egoism°, zelo de Si
mesm
o, vaidade, cobiga, mercenaria, idolatria"."
. Fara o
jovem Feuerbach, tido ha nenhum
a discrepancia entre Deus
e Natureza, pois se D
eus
"nio é pura e simplesm
ente pessoa absoluta, istourn puro quem
sem o que, um
a pessoa sem ser [...],
mas é pessoa e sim
ultaneamente ser", então ele,
"como D
eus, como pessoa autoconsciente, é urn ser
diferente de todos as seres", é também
"natureza".15
Assim
, para o jovem F
euerbach, Deus M
c, é urnsujeito puro, pois ele contém
em si tam
bém sua diferença,
que é, precisamente, a natureza. Se a natureza nao se en-
contrasse presente em D
eus, estaria a diferença, o impulso
da atividade, o comego e o principio da vida fora D
ele, e,assim
, Ele seria urn ser rid° absoluto, nao independente,
nao autonomo, sem
espirito. Deus é, portant°, nem
uma
personalidade pura, sem espirito, sem
alma, nem
uma natu-
reza pura, uma m
atéria ou colecao de objetos mortos, m
astotalidade, generalidade, universalidade. D
eus se diferenciade tudo aquilo que E
le nao é, mas E
le é tudo. "Ele é", com
adiz Feuerbach, "uno consigo e uno para si, na m
edida emele é uno corn o todo."
16Isto porque sua esséncia e seu ser
" Ibid
em., p
. 213.
p. 216.
Ibid
em., p
. 212.
constituem, precisam
ente, toda a esséncia e todo o ser, enao ser do algo, ser do particular, ser do singular. A
ssimcom
o Deus, é a natureza, tam
bém, totalidade, universali-
dade. Em
bora Deus e natureza contenham
, aqui, o mesm
oconteado, a saber, o todo, eles se diferenciam
pela forma
como o todo aparece. 0 todo, com
a esta em D
eus e é Deus
mesm
o, é urn ser uno, absoluto feito unidade, e, par isso,E
le é ser para si mesm
o, o ser do todo; o todo, como esta
na natureza e é natureza, é, ao contrario, a multiplicidade
organica dos objetos e dos fenômenos sensivelm
enteobservaveis, experim
entaveis. Nao se trata aqui, todavia,
apenas de uma diferensa puram
ente formal entre a uni-
, dade e a pluralidade, pois Deus com
a o todo universal sefundam
enta no fato de que Ele se m
anifesta nä.° som
entena unidade, m
as também
na diferença, nao apenas nauniversalidade, m
as também
na singularidade, porqueE
le representa nao so o limitado, bem
assim o ilim
itado.F
euerbach quer livrar o conceito de Deus de um
a con-cepcs ao subjetiva, que entende D
eus coma pessoa, para
fundamenta-lo no sentido panteista.N
uma clara oposi9ao a teologia m
onoteista-crista,que faz da esséncia hum
ana a origem de D
eus e da natu-reza urn produto da creatio ex nihilo, concebe o m
isticoJakob B
ohme a natureza (a m
atéria) corn inerente a Deus,
inseparavel dele. E Spinoza identifica D
eus corn a naturezam
esrna (dens sive natura) e esclarece esta coma a génese
do homem
; mediante a naturez,a (a substancia divina) ele
supera, então, a contradição de Descartes entre m
atéria(res extensa) e espirito (res cogitans). A
aproximação de
Feuerbach a essas formas de panteism
os, concebidas par13iihm
e e Spinoza, foi, contudo, superada posteriormente,
nos anos de 1836-1937, sobretudo em seu escrito contra
Spinoza. Em
oposição ao panteismo, no qual a natureza e
Deus foram
conc,ebidos corno idênticos e a matéria tratada
divino da extensio), Feuerbach quer nao mais um
a identi-
50
3
fikatio
n da substância com
a natureza, uma im
anéncia deD
eus no mundo, isto é, não m
ais um "D
eus siu
e natu
ra" (umD
eus que é tal como a natureza), com
o que designa95es dasubstância Ú
nica, infinita (Deus e naturez.a são um
= pan-teism
o), mas a separação entre D
eus e natureza, ou seja,a decisão "au
t Deu
s, aut n
atura" ( ou D
eus ou a natureza).O
nde Deus foi identificado, em
sentido abstrato, com a na-
tureza ou, ao contrário, a natureza objetiva confundida comD
eus, lã não estão nem D
eus nem a natureza. Isso significa:
ele quer esclarecer nem a natureza com
o algo divino, nemD
eus como algo im
anente ã natureza, mas, pelo contrário,
a natureza autônoma sem
Deus. S
ob a premissa, D
eusse m
anifesta na natureza, o panteismo venera a natureza,
diviniza o real, o que existe materialm
ente; por isso, elena verdade, um
a negatio
n da teologia, m
as baseadaainda em
posições teológicas. E,ssa censura de Feuerbach
se dirige contra todos aqueles que veem na natureza um
aexpressão de D
eus ou uma corporificação de um
a ideia.E
m verdade, teism
o e panteismo são, para ele, m
undosextrem
os, invertidos: no teismo, a diferença entre espirito
e natureza é absolutizada, porque o homem
diviniza aquiapenas a si m
esmo; no panteism
o, a natureza foi, ao in-vés, adorada, pois aqui o hom
em projeta na natureza sua
prõpria esséncia.A
natureza é, sim, o principlo, a esséncia, da filoso-
fia spinoziana. Mas a natureza de Spinoza não é nenhum
objeto da sensibilidade, nenhum exterior, externo, nenhum
outro visivel, manifesto, m
as uma esséncia abstrata, não
sensivel, metafisica, que não tem
nenhuma realidade fora
da substância (de Deus). A
natureza, deduzida por ele te-ológica ou m
etafisicamente com
o objeto de Deus, não
para se entender como natureza em
sentido qualitativo,objetivo e sensivel, pois ela está separada da divisibilida-de, da m
ultiplicidade e de todas as determinações que ela
contém em
sua realidade sensivel, objetiva. Ante Spinoza,
para quem a natureza
a expressão das qualidades internas de Deus, com
o sin-gularidade, perfeição, eternidade, universalidade etc., poisD
eus como substância é para ele a natureza infinita, pura,
não a natureza finita, "suja" ou "manchada", Feuerbach a
designa, em verdade, com
o fundamento e objeto sensivel,
qualitativo e material da vida hum
ana. Não hã em
Feuerba-ch um
dualismo entre natureza criadora e natureza criada,
entre natureza indeterminada e determ
inada, pois hã paraele, na realidade, apenas um
a natureza, à qual o homem
deve a sua existéncia. A position de Spinoza, segundo a qual
a natureza é indivisivel, simples, sem
diferença, expressatão-som
ente uma concepção ab,strata de natureza. Sob este
aspecto, poder-se-ia suscitar perante Spinoza as seguintesquestões: com
o se pode reduzir a natureza, ante a totalida-de de seus elem
entos, na forma de um
a simples substância?
Se a natureza divina não se apresenta nas plantas, nem nos
animais, nem
, pos homens, nem
no universo das coisasfinitas, que sentido se ergue, então, para se falar aindade natureza? C
omo pode um
a natureza finita, qualitativa,objetiva, na qual valem
, por exemplo, as leis pretensas da
natureza, ser ainda pensada na e com a natureza absoluta-
mente infinita? C
omj
é possivel uma natureza atem
poral,não externa, sim
ples e indivisivel determinar o com
posto,a pluralidade, isto é, a natureza realizada? A
tais questõesSpinoza não dã nenhum
resposta.A
ssim, evidencia-se aqui, na filosofia spinoziana,
uma falha que provém
da absoluta indiferença que a subs-tância tem
para a determinidade, e seus atributos são, por
isso, nela e em si indiferentes e infinitos. A
substância como
existéricia (como realidade ou com
o unidade) é deficiente,porque ela é existéncia pura, incondicionada e indeter-m
inada, e, com isso, falta a ela o principio da diferença,
da determinidade. N
este sentido, podemos afirm
ar que asubstância de Spinoza, apesar de sua relev'ãncia, não apre-senta ainda um
a solução adequada no que diz respeito â
51
fi
porque eta, do mesm
o modo com
o seus atributos, é tota-lidade sem
realidade, ou melhor, realidade abstrata, vazia,
sem conteádo e não concreta. Podem
os ainda verificar, já nocom
eço da etica de Spinoza, que o conceito de ambos os
atributos e sua relaçâo para a substAncia rem
etem a outro
problema, a saber, o pensam
ento e a extensáo apresentam-
se essencialmente diferentes entre si, pois o pensam
entonä .° pressupO
e a extensão e esta não aquele, já que cadaqual é para si m
esmo urn atributo absoluto: os atributos são
definidos como autonom
os e independentes um dos outros.
Se o pensamento e a extensão, porém
, WA
.° sac) identicos,expressam
, todavia, simultaneam
ente, a mesm
a substAncia,
como pode, então, a substA
ncia ser uma unidade? Já que
os atributos sac) distintos e, ao mesm
o tempo, constituem
aessencia da substA
ncia, entáo a substAncia possui, conside-
rada sob este Angulo, um
a essencia dupla, em si diferente.
Os dois atributos produzem
, evidentemente, na substA
nciaum
a separação que não e,stá em sintonia corn o conceito
da unidade da substAncia spinoziana.
Segundo Feuerbach, pertence a Spinoza o grandem
érito de haver submetido a oposição das partes e do todo,
do corpo e da alma, da natureza e do espfrito, a unidade
da substAncia, já que toda parte singular da substA
nciapertence a sua natureza. A
pesar disto, acentua Feuerba-
ch, e aqui em concordância corn H
egel, que Spinoza Ilk)tinha reconhecido a substA
ncia como espfrito e o espfrito
como substA
ncia, ou seja, não tinha determinado a subs-
tAncia com
o espfrito. For isso, etc não chegou não so aoprincfpio da unidade com
o também
ao da diferença e rid°encontrou a verdadeira unidade. A
objecão de Feuerbachcontra Spinoza consiste precisam
ente nisto, a saber, que aunidade de Spinoza não foi determ
inada suficientemente,
porque falta a eta a realidade da diferença, da determini-
dade. A filosofia de Spinoza é, na verdade, um
a filosofiada identidade, isto é, da identidade de D
eus e natureza, de
assim, carecem
ao conceito spinoziano de substAncia a
diferenca, o princfpio da autonomia, da autodeterm
inação,que se encontra, no entanto, expressam
ente na filosofialeibnizeana. Feuerbach ye, em
princfpio, na Doutrina das
Mônadas de L
eibniz, uma alternativa para a unidade entre o
espfrito e a matéria. Pertence a m
ônada espiritual a forma,
mas eta contern sim
ultaneamente em
si também
a matéria,
que é a sua representação obscura. Mas enquanto L
eibnizconsidera a m
atéria meram
ente como um
a representaçãoescura, confusa, F
euerbach a reconhece, pelo contrário,com
o o vfnculo positivo que liga o interior corn o exterior,•
as mônadas reciprocam
ente.S
eguindo a primazia da natureza, que tern seu
•fundam
ento em si m
esma, e sob a consideraçáo de sua
autonomia com
o objeção (Einw
and) ao tefsmo e ao idea-
lismo, ve-se, na segunda fase do pensam
ento de Feuerbach,o seu conceito
[ de natureza em conexão corn sua crftica
ao Cristianism
ut, ao mesm
o tempo, em
discussdo corn afilosofia hegeliana, isto é, o segundo perfodo de sua con-cepção de natureza que envolve, especialm
ente, os escritosde 1839-1943, com
o Ppm a C
ritica da Filosofia Ilegeliana(Z
ur Kritik der hegelschen Philosophic) (1839), A
Esséncia
do cristianismo (D
as Wesen des C
hristentums) (1841), 7'e-
ses Provisórias para uma R
eforma da Filosofia (V
orläufigeT
hesen zur Reform
der Philosophic) (1842), Necessidade
de uma R
eforma da Filosofia (N
otwendigkeit einer V
erän-derung der Philosophic) (1842) e Principios da Filosofia doFicturo (G
rundsätze der Philosophie der Zukunft) (1843). A
palavra natureza, náo no sentido da natureza humana, isto
é, como natureza do hom
em, do genero hum
ano, mas,
pelo contrário, no sentido da natureza, tat como ela é em
si me,sm
a, isto é, no sentido da natureza material, aparece
nas obras mencionadas, e isto é visfvel na obra principal de
Feuerbach, A E
sséncia do Cristianism
o, muito raram
ente.Feuerbach rid() desenvolve aqui nenhum
a teoria da nature-para defende-la contra
a•
a atitude cristá frente a eta.
54
2F
Feuerbach deixa claro que a teologia cristá se
relaciona negativamente perante a natureza. N
o cristia-nism
o, o homem
se concentra apenas em si m
esmo,
pois ele desliga-se da conexão com a natureza e faz de
si uma essencia absoluta e sobrenatural. A
separação danatureza, do m
undo, é, por conseguinte, o ideal essencialdo cristianism
o: o cristão (Christ) desdenha o m
undo,por exem
plo, pela sua fé no fim do m
undo; ele nega anatureza, pois esta significa a finitude, a transitoriedadee nulidade de sua existencia. E
ssa depreciação ou desva-lorização religiosa pela natureza tem
consequencias parao julgam
ento da natureza humana por parte da teologia,
pois esta condena também
a dimension natural-sensivel
da natureza do homem
e, diante desta, enaltece o espirito.E
ste entendimento negativo do cristão para com
a naturezatorna-se, por exem
plo, mui evidente não só na D
outrinada C
riação (Kreationslehre), m
as também
na Doutrina do
Pecado Original (E
rbsündeslehre), pois esta, fundada nodesdém
pela natureza, baseia-se num sentim
ento de culpacondicionado pela falha e fraqueza do hom
em e, por isso,
na negação de sua corporalidade, de sua sensibilidadepresa ã natureza. U
ma confirm
ação para isso acha-setam
bém nisso, "a saber, que o hom
em deve, de acordo
com o entendim
ento cristão, livrar-se precisamente de
sua natureza corporal (da "natureza transgredida") param
erecer e conseguir a vida eterna, sem as tentações e os
desejos da carne. Precisamente porque a natureza expres-
sa objetividade, necessidade, corporalidade, sensibilidade,ela o negativo, por assim
dizer uma prova dos lim
ites dainterioridade, do sentim
ento religioso, isto é, a barreiraconcreta que se opõe ã illusion de um
a existencia sobre-natural. D
este ponto de vista cristão, ela deve, portanto, serelim
inada, negada. Feuerbach argumenta que D
eus (o todosuprem
o, a esséncia sublime), o qual a fantasia religiosa
criou, é apenas uma representation fantasm
agórica do genero hum
ano, uma konstruktion subjetiva do hom
em,
abstraida de todas as fronteiras e restrições da natureza, e
a religião serve ao homem
de meio, com
o qual ele tentalivrar-se da natureza.
A ausencia da natureza em
sua obra fundamental
pode ser esclarecida da seguinte maneira: ela resulta de sua
ocupação com o cristianism
o que ignora completam
entea natureza e põe em
seu cume um
Deus pessoal, que cria
através do puro pensar e do querer a natureza, o mundo. E
mconsequencia disso, a natureza foi considerada não c,om
otal; ela experim
enta aqui, na verdade, nenhum tratam
entopróprio, independente, já que não hã no cristianism
o ne-nhum
a autonomia da natureza. 0 ãm
ago do cristianismo
não é, então, Deus na natureza, m
as, pelo contrário, Deus
ilimitado, livre dela e sobre ela; o cristão experim
enta, porexem
plo, a natureza, a sua necessidade e as suas leis per-m
anentes e continuas, apenas como barreira insuperável
que se opõe, como vim
os, ã sua pretensão a uma existencia
imaterial, sokg-enatural e transcendente. M
as o homem
semcorpo, despojado da m
atéria, da natureza, é meram
ente,com
o pensa Feuerbach, um
a personalidade abstrata, umabstraktum
, pois apenas a naturalidade, a natureza, ga-rante a essencia e a existencia do hom
em com
o homem
,do hom
em com
o pessoa. A reivindicação feuerbachiana de
um esclarecim
ento natural, fisico, da natureza e, do mesm
om
odo, de uma conexão do hom
em com
ela aponta paraum
a critica abrangente ao cristianismo, para um
a negationfundam
ental ãs imaginações e fantasias da teologia cristã,
na qual a natureza não tem nenhum
significado positivo.L
udwig Feuerbach considera que o hom
em é aquilo.
o que ele é apenas através da natureza, porque ele temnela o fundam
ento de sua existencia. Já que o homem
substancialmente um
a essencia sensivel, temporal, de ne-
cessidade, ele "não se deixa separar dela." "Sede", afirma
ele, "gratos à natureza!"" 0 cristianismo recusa a natureza,
porque ele ansela a uma vida atem
poral, extramundana,
17 FEUER
BA
CH
, L. Das W
esen des ChrL
stentums. O
rganizado por Werner 5chuffen-
hauer. Berlin: A
lcademie V
erlag, 1973. OW
5, p. 308.
55
3
56 54
sobrenatural. A vida "celestial", "assexuada", absolutam
entesubjetiva, é para o cristianism
o o caminho direto para um
avida "futura", ou seja, para a im
ortalidade pessoal. 0 cris-tianism
o diferencia "a vida do além" da vida real, tem
poral:a prim
eira representa a vida ilimitada, ao passo que a se-
gunda corresponde a vida escura, obscura, isto é, a vida dador e do torm
ento, porque ela esta presa, de acordo corno cristianism
o, aos "prazeres da came". "N
o céu é o cristãolivre daquilo que ele quer ser livre aqui, livre do instintosexual, livre da m
atéria, livre da natureza em geral."
18 0cristianism
o exclui do parad
ies todos os limites e todas as
adversidades que estejam ligados corn a sensibilidade, corn
a natureza. Ele arranca o homem
da natureza, pois o mundo
extern° contém p
er se urn contend° que contradiz, segundoa vontade do cristão, urn ideal de um
a vida absolutamente
ilimitada. 'R
ata-se aqui, na verdade, da absolutidade dosentim
ento religioso, isto é, da liberdade do crente ern facedos obstaculos da natureza, sem
a qual ele não consegueconceber D
eus como um
a essencia metafisica, sobrenatural
e sobrehumana. E
m sintese: no cristianism
o, o essencialou a essencia foi atribuida apenas a D
eus, e o inessencialou o conceito negativo constitui a natureza. A
filosofia deFeuerbach é exatam
ente o contrario do cristianismo: a na-
tureza é, para ela,
[...] o positivo [o essencial], Deus é o negativo [o não
essencial]. 0 mundo é autônom
o em seu ser, em
seusubsistir [...]. D
eus é aqui urn ser somente hipoté-
tico, derivado, não mais absolutam
ente necessario,original, m
as apenas urn ser surgido da necessidade[da dificuldade] de um
a razão restrita.19
Já que a natureza pressup6e de facto
urn sentidom
undano, profano, portant°, antiteológico e antinaturalista,que separa o hom
em de D
eus, o cristianismo concebe, por
la
Ibidem., p. 325.
isso, Deus com
o um ser infinito, absoluto, isto 6, com
o urnser particular para S
i, pensado fora e acima da natureza.
A essencia do D
eus cristão é, na verdade, nada mais
do que a essencia sensivel do homem
, a qual a natureza, (ou a m
atéria, o corpo, a came etc.) vale apenas com
o seu
r,ilim
ite ou sua negation, rata° pela qual ela deve ser supera-;.
• da. Eis porque poder-se-ia, sucintamente, asseverar: quem
é "contra o cristianismo", é "pela natureza"; isto é, quem
nega "o cristianismo", afirm
a "a natureza"." Ou ainda: quern
,quer "apenas o cristianism
o, não a ciencia da natureza", "éurn falso am
igo ou, antes, urn inimigo oculto da ciencia
,-da natureza". 21 Se D
eus (Gott) é no cristianism
o so uma
kessencia subjetivo-hum
ana, abstraida da natureza objetiva,com
o pode o homem
, nessas condi95es, vir para uma outra
essencia, diferente dele, não mais hum
ana? Ou m
elhor: seo hom
em (M
ensch) no cristianismo esta subm
etido a Deus,
r,o qual é indubitavelm
ente a e,ssencia de seu pr6prio espiri-,tz
to, como pixie ele, então, vim
para uma existencia objetiva,
exterior que é independente de seu espirito e se diferencia
Idele? A
limitação (ou a deficiencia) do cristianism
o consiste,
precisamente nistp, a saber, que ele não reconhece esta
outra essencia fisita, sensivel, natural (a natureza), a qual, o hom
em deve sua genese e m
anutenção, já que a natu-,,
reza (Natur) foi concebida pelo hom
em cristão com
o urnproduto ou de sua arbitrariedade subjetiva ou da criação de
,D
eus. A partir destes pressupostos deixa-se transparecer a
:hostilidade do cristianism
o a natureza, já que ele tern porobjeto apenas D
eus, pensado como urn ser absoluto fora
do homem
e da natureza.P'ara o cristianism
o, Deus esta, na verdade, repleto
de contend°, mas abstraido da vida real, pois "quanto m
aisvazia for a vida, tanto m
ais rico, mais concreto sera o D
eus.2*FEUBRBACH, L. O
ber das Wesen der Religion in Beziehung auf R. Ilayrns Peuerbach
und die Philosophic. Organizado por W
. Schuffenhauer. B
erlin: Alcadem
ie Verlag,
1971. OW
10, p. 333."
. Uber Philosophic und C
hristentum. O
rganizado por W. S
chuffenhauer.B
erlin: Alcadem
ie Verlag, 1969. O
W 8, p. 244.
57 z2
58 5,§-8
0 esvaziamento do m
undo real e o enriquecimento da di-
vindade é um único e m
esmo ato."
22 Porque a religião cristãvé em
Deus a satisfação (B
efriedigung) das necessidadesinternas do hom
em, ela retira, então, a vida dos lim
itespostos pela natureza e, com
isto, reduz as satisfações reaisdo hom
em a um
a satisfação puramente ilusória; ela se abs-
trai da natureza e se refere ao mundo e a tudo o que nele
apenas em sua aparéncia, não em
sua esséncia, porqueapenas D
eus constitui para ela a esséncia. A interioridade
(Innerlichkeit) pertence a seu conteúdo, razão pela qual areligião cristã ignora a natureza (N
atur) como instãncia da
exterioridade, da realidade, e conduz o crente, o fiel, a uma
vida segregada dela. Um
a vez que Deus é para ela um
aesséncia extram
undana, sobrenatural, ela, para ligar-se aD
eus, separa-se dos limites e das condições m
ateriais danatureza; assim
, da ideia da divindade não nos é permitido
deduzir e reconhecer nada de determinado na natureza.
Feuerbach demonstra, com
o visto, que o Deus cristão é o
próprio sentimento do hom
em livre de todas as contrarieda-
des, isto é, a própria esséncia da fantasia humana retirada
da natureza, mas colocada com
o uma esséricia objetiva.
A teologia cristã não estã, enfim
, interessada emum
esclarecimento fisico, natural do m
undo, fundado nafilosofia da natureza ou na ciéncia, porque o fundam
entode todas as colsas encontra-se, para ela, não na naturezaobjetiva, m
as em D
eus mesm
o. "A natureza, o m
undo, nãotem
para o cristão nenhum valor [...] 0 cristão só pensa
em si [...] ou, o que é o m
esmo, em
Deus."
23 A fé, segundo
a qual tudo foi deduzido de Deus, é basta e satisfaz per-
feltamente ã reflexion religiosa. E
m resum
o, tem-se aqui
claramente o principio caracteristico da teologia cristã, a
saber, que ela não possui em essencial nenhum
a base nanatureza: a natureza é a esséncia sensivel, objetiva, finita,colocada, em
princfpio, fora do espirito. A teologia cristã se
opõe ã natureza, porque ela (teologia) não tem consciéncia
de que Deus sem
a inclusão (Einschluss) do hom
em, que,
por sua vez, estã incluida na natureza, é nada. Pois como o
homem
é a e,sséricia de Deus e, sirnultaneam
ente, pertenceã natureza, assim
também
a natureza pertence ao homem
.Só por m
eio de,sta ligação do homem
com a natureza pode-
se superar a tendéncia antinatural, anticósmica, da teologia
cristã. A representação cristã de que a natureza m
esma, o
mundo, o universo, tem
um com
eço temporal, que, então,
• um dia não havia nenhum
a natureza, nenhum m
undo,um
a concepção limitada; ou m
elhor, ela é uma illusion
para querer explicar a natureza através da aceitação de umcriador, porque ela só pode ser deduzida e explicada desua esséncia, ou seja, de si m
esma. D
eduzir a natureza deum
ser abstrato, metaffsco, espiritual ou de D
eus, significainferir a cópia do original; ela não pode ser subordinada,isto é, subm
etida nem a D
eus (ã simplicidade da esséricia
divina), hetn ã vontade humana, porque ela se apóia em
leis fisicas e é o ãmbito da pluralidade e diferencialidade
qualitativa de todos os individuos. Ela é, portanto, um
ainstãncia (Instan
i z) ou grandeza (Orösse) independente de
Deus ou da consC
iéncia humana que, m
ediada pela sensi-bilidade (Sinnlichkeit), fornece a prova (Probe) e o critério(K
riterium) do m
undo exterior. Por causa de sua legalidade,ela tem
seu fundamento em
si e fornece ao homem
a con-tem
plação do mundo com
o mundo e, sim
ultaneamente, a
consciéncia de sua limitação. Pela natureza torna-se o ho-
mem
consciente de que sua existéncia depende dela, poiso que ele é deve ele a ela, um
a vez que ele sem ela é nada
e nada pode. Precisamente este aspecto da necessidade e
da dependéncia do homem
da natureza, da evidéncia danatureza externa com
o condition sine qua non da vida,que existe objetivam
ente fora do espirito, é o fundamento
material do nascim
ento da religião.
a natureza ao querer e ao bel-prazer do homem
, também
Z3 Ibid
em
., p. 4
85.
I0
no idealismo (particularm
ente em H
egel) a natureza estisubjugada ao espfrito. H
egel acredita que o espirito absolutose desdobra, se objetiva, na natureza, assim
a natureza étam
bém para ele não urn ser prim
eiro, autônomo, m
as algoposto, colocado, com
o que um outro ser concretizado do
espfrito. A natureza em
Hegel é, entio, apenas um
a ou-tra form
a fenoménica do espirito, um
a exteriorizasio ouobjetivação dele, ao passo que F
euerbach a entende rid°com
o uma degradation da ideia absoluta, nem
como o
alter ego do ego, mas sim
como natura naturans, com
oo fundam
ento indeduzfvel, imediato, incriado de toda
existencia real, que existe e consiste por si mesm
o. Contra
Hegel insiste ele, decididam
ente, nesta position, isto é, naim
ediaticidade da natureza e da experiéncia sensfvel dom
undo, e é mister cham
ar a atenção aqui para isto, a saber,que hi, neste ponto, um
a convergencia entre Feuerbach
e Schelling. Feuerbach, o antidotum do telsm
o e do idea-lism
o, pOe a naturez,a frente ao espfrito, pois ele entende
por natureza nâo o puro outro, que so através do espfritofoi posto com
o natureza, mas, prim
eiramente, a realidade
material que existe fora e independente do entendim
entoe é dada ao hom
em por m
eio de seus sentidos. Sob esta
condição pode-se conceber a natureza como garantia da
exterioridade mesm
a, como que urn existente fora de nós,
que nada sabe de si, pois nio é para Si, m
as so em si e
por Si mesm
o.
Partindo desse entendim
ento acerca da natureza,tern-se, na fa
se d
a c
oncepc
s io de natureza no pen-sam
ento de Feuerbach, nio se• os escritos fundamentais de
1846-1948, como A
Es.sencia da R
eligião (Das W
esen derR
eligion) (1846), Com
plementos e E
sclarecimentos para a
Esséncia dà R
eligido (Ergänzungen und E
rläuterungen zumW
esen der Religion) (1846), P
relegies sobre a Esséncia da
Religião (V
orlesungen fiber das Wesen der R
eligion) (1848),nos quais Feuerbach, apoiando-se na religido da natureza,
base e fundamento do hom
em e de todas as coisas, bem
como os S
ellS escritos m
aduros, como A
Fergunta pela Imor-
talidade sob o ponto de vista da Antropologia (D
ie Unster-
blichkeitsfrage vom Standpunkt der A
nthropologic) (1847),A
Ciência da N
atureza e a Revolução (D
ie Naturw
issenschaftund die R
evolution) (1850), 0 Segredo do S
acrificio ou 0liom
em é aquilo que com
e (Das G
eheimnis des O
pfersoder der M
ensch ist, was W
O (1860), Sobre E
spiritualismo
e Materialism
° (Clber Spiritualism
us und Materialism
us)(1866) e Fara um
a Filosofia Moral (Z
ur Moralphilosophie)
(1868), nos quais ele tenta fundir uma relação fundam
entalentre filosofia e ciencia da natureza. Se em
A E
ssência doC
ristianismo (D
as Wesen des C
hristentums) o fundam
entoe tam
bém o objeto da religião era ainda a esséncia m
oraldo hom
em, abstraida da natureza, quer Feuerbach agora,
nesses escritos maduros, superar todo discurso (oratio)
antropol§gic,o, teleologic° ou teológico em relação A
natu-reza, ou seja, obter a separasio da m
esma da reductio ad
hominem
, de todos os predicados humanos. A
ssim, ele fez
a si, par tarefa, defender,justificar e fundamentar a autono-
mia da natureza contra os esclarecim
entos e as deduçoesteológicas frentea ela. E
nquanto ele avaliava a relacio cristiem
relação a natureza, no todo, negativamente, porque a
natureza no cristianismo esti subm
etida arbitrariamente ao
afeto religioso, julga ele, agora, a religião da naturez,a (Na-
turreligion) parcialmente positivajá que ela tern par objeto
a natureza (o deus firsico) e, por isso, ela exerce uma função
importante no que diz respeito a um
a percemio adequada
da natureza. Mao obstante, nio se trata para F
euerbach,de m
aneira nenhuma, de defender a religido da natureza
em si, em
bora ela fica valer, de fato, a natureza, A m
edidaque ela pO
e no lugar da humanidade a natureza. Portant°,
ele trio esti interessado na religião da natureza como tal,
mas, m
eramente, em
sua funsio estratégica para a suaargum
entation contra o cristianismo e o ide,alism
o, pois
para a verdade dos sentidos, demonstra o significado da
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sensibilidade e atesta o sentimento de finitude do hom
eme de sua dependência não de algo sobrenatural, m
as danatureza m
esma.
Apesar desta avaliação parcialm
ente positiva da reli-gião da natureza, chega Feuerbach, no entanto, ã conclusão -de que ela não concebe, no fundo, a natureza real, objetiva;pelo contrário, reflete-se tam
bém nela apenas a verdade
do homem
, pois o homem
religioso-natural v'è nela não anatureza, com
o ela é realmente, m
as a percebe tão-somente
como objeto de sua fé, de sua veneração religiosa ou de
sua imaginação. P
orque a natureza oferece ao homem
oque ele precisa, foi ela idolatrada com
o divina; a veneração(V
erehrung) ou divinização (Vergötterung) da natureza signi-
fica, por conseguinte, a sua antropomorfização, isto é, a sua
humanização pela religião, pois o valor, que o hom
em põe
na natureza, é apenas o valor que ele atribui a si mesm
o, ãsua própria vida. A
religião da natureza tem, na verdade, por
finalidade transformar a essência não sagrada, não hum
ana,da natureza num
a e.ssência sagrada, personificada. Mas,
assim com
o o panteismo, Feuerbach a critica, precisam
enteporque ela faz, através dessa transform
ation, da naturezaum
Deus. E
m oposição a isso, ele não vê a natureza com
oalgo sagrado, divino, isto é, com
o objeto religioso, tal como
ela aparece na religião da natureza, mas, pelo contrário,
como um
a essência objetiva que existe apenas por si mes-
ma, independentem
ente do homem
.
Com
o justificativa para este seu procedimento, pelo
qual ele quer livrar a natureza de todas as considerações re-ligiosas e antropológicas, vale a ele que a natureza é o enteque produz tudo de si e por si e, por conseguinte, não deveser vista com
o aquilo o que ela não é, isto 1. n
em co
mo
divina (em form
a do teismo); 2. nem
como hum
ana (emform
a do idealismo). A
natureza, para ele, sempre existiu,
quer dizer, ela existe por si e tem seu sentido apenas em
sim
esma; ela é ela m
esma, ou seja, nenhum
a essênciapois por detrás dela não se oculta, nem
se esconde nada
humano, nada divino, nenhum
absoluturn transcendental ouideal. 0 conceito de natureza designa tudo o que se m
ostrasensivelm
ente ao homem
como fundam
ento e essência desua vida; trata-se, pois, prim
eiro daquela essência (luz, ar,água, fogo, plantas, anim
ais etc.), sem a qual o hom
em não
pode nem ser pensado nem
existir. A natureza é, assim
, apluralidade de todas as coisas e seres sensivels que real-m
ente são. Em
bora haja neste ponto, como já m
enciona-do, um
a certa concord 'ãncia entre Feuerbach e Schelling,distancia-se, porém
, Feuerbach de S
chelling, pois paraFeuerbach a natureza é em
si e por si, mas não para si; ela
necessária e regida por leis próprias, sem espirito e sem
sujeito, isto é, o independente de toda essência humana
ou divina, o indeduzivel, o que consiste por si mesm
o, porassim
dizer a essência originária, primeira e últim
a. Assim
sendo, pode-se dizer que: 1. Por um lado, a natureza existe
per se (em si e por si) e age, em
principio, sem intenciona-
lidade (AbS:içht), sem querer (W
illen) ou saber (Wissen); ela
tem seu entendim
ento apenas no entendimento do hom
eme prova sua essencialidade m
ediante qualidades, conexões erela95es m
ateriais. 2. mas, por outro lado, para fazê-la a nós
é-nos dievitável que devamos em
pregar sobre elaanaloglas, expressões ou conc,eitos, com
o ordem, finalida-
de, sabedoria etc. Aquilo que o hom
em acredita reconhecer
na natureza como entendim
ento, espirito, que empresta a
ela uma teleologia, é, portanto, apenas um
a representaçãohum
ana. Assim
, no que tange a todas as aproxima95es ã
natureza trata-se para Feuerbach, meram
ente, de conceitosantropológicos, subjetivos, pois, na natureza, tudo acontecesob o fundam
ento da necessidade e hã nela apenas forças,elem
entos e seres naturals, isto é, leis naturais, às quais aexistência hum
ana estã submetida. Partindo da necessidade
e das leis da natureza, Feuerbach exclui dela todos os cri-térios hum
anos ou efeitos de Deus para a sua valorização
e postula, com isto, a sua autonom
ia. Precisamente este
oferece, na situação presente, pontos de referências para
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uma resisténcia contra toda explorasào arbitrária e brutal
da natureza a favor dos designios e desejos ilimitados do
homem
e, ao mesm
o tempo, fornece, consequentem
ente,sugestiies e contribuigies para urn debate frutffero sobrea crise ecológica atual.
Tend° ern vista tais posiçO
es, quer Feuerbach fun-dam
entar uma nova relação entre o hom
em e a natureza,
a qual ele ve realizada, em princfpio, na dependéncia
do homem
em relação a natureza. N
essa dependéncia(A
bhängigkeit), ele encontra uma clara designação para
a natureza como algo não hum
ano e, simultaneam
ente,com
o vfnculo que liga o homem
a eta. 0 homem
não é urnser sem
necessidade, ou seja, não é so espiritual (animal
rationale), mas tam
bém, sim
ultaneamente, um
a essên-cia sensfvel, ffsica, nascida, por isso ele é dependente danatureza e precisa dela para seu nascim
ento, desenvolvi-m
ento e autossustento. Ele tern o fundam
ento de sua vidanão em
si, mas, pelo contrA
rio, fora de si e est& portant°,
necessariamente rem
etido para uma outra esséncia (para
a natureza). A dependéncia do hom
em da natureza faz da
natureza para ele a causa do medo e da insegurança, pois
o homem
sabe que ele sem eta não pode ser. N
ão obstante,não se deve esquecer que a natureza é tam
bém urn sistem
ade leis, urn passivo potencial, frente ao qual o hom
em pode
reagir através da cultura (do desenvolvimento da ciéncia e
da técnica), podendo ser, pois, utilizada por ele a seu favor,em
bora o essencial da cultura consista nisto, a saber, queeta tam
bém se deixe determ
inar pela verdade da naturezados objetos.
Feuerbach vé a cultura realizada preponderante-
mente nas ciencias, e seu entusiasm
o para eta e para seum
étodo tinha ele jA m
anifestado nas suas obras, Teses Pro-
visc5rias para a Reform
a da Filosofia (VorläufigenT
hesen zurR
eform der Philosophic) e Principios da Filosofia do ficturo
(Grundsätzen der Philosophie der Z
ukunft), nas quais a liga-e da ciéncia da natureza representa para ele
uma alternativa a aliansa (A
llianz) feudal da filosofia corn ateologia e possibilita um
a conexão objetiva corn a natureza.N
esse empreendim
ento, Feuerbach almeja que a ciéncia da
natureza sirva de base a sua filosofia, porque ela forneceum
a contribuicão para a superação tanto das inconsistén-cias da filosofia especulativa quanto das inconsequénciasda fantasia e da im
aginação religiosa, a medida que ela,
em seu sentido antiteológico e antim
etaffsico, se ocupa nãocorn objetos arbitrários ou fenôm
enos sobrenaturais, mas
exclusivamente corn objetos ffsico-naturais, atribuindo as
suas causas imanentes a natureza. D
eve-se aqui chamar
a atençAo para o fato de que Feuerbach não era nenhum
cientista da natureza, pois, de acordo corn ele, as ciénciasda natureza, com
o a qufmica, a fisica, a biologia, a botA
nica,a fisiologia etc., conhecem
apenas a história da natureza,se lim
itam, corn isto, a urn elem
ento isolado da naturezae não tém
,..em oposição a filosofia, nenhum
acesso a tota-lidade da nätureza e da alm
a humana, ou seja, a esséncia
do homem
. Em
bora Feuerbach esteja convencido de queo hom
em é um
a esséncia natural e que sua existéncia, seunascim
ento e sua preservação pressuponham a natureza,
parece-lhe sem sentido um
a ciência ou uma filosofia da
natureza separada do homem
. Para ele, a natureza é, em
princfpio, não humana, externa ao hom
em, que é, no en-
tanto, esclarecida, conhecida, na medida em
que o homem
se apropria dela através de seu entendimento. E
is, portant°,os m
éritos considerAveis da concepção de natureza em
Feuerbach como urn essencial progresso frente ao tefsm
oe ao idealism
o, a medida que ela restitui a natureza o seu
valor, a sua majestade.