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Eduardo Souto de Moura Continuidade Na obra de Eduardo Souto de Moura, os simbolismos e as analogias são elementos fundamentais na composição arquitetónica. De uma forma latente, no caso dos simbolismos, ou claramente assumidas, no caso das analogias, funcionam como elementos catalisadores de um desenvolvimento mental de procura de soluções que permitem consolidar e contextualizar as suas intervenções. A uma arquitetura que procura a racionalidade na disciplina, claramente influenciada por Aldo Rossi e os seus princípios de que as preexistências, a história da arquitetura, a tradição da cidade europeia e a ideia de monumento são o ponto de partida para evolução da disciplina, contrapõe-se uma visão norte-americana inspirada em Robert Venturi, contrária à Arquitetura Moderna, defendendo uma via híbrida, onde a contradição e a ambiguidade quebram com os princípios de coerência defendidos pelo Movimento Moderno. A utilização das regras e das ordens clássicas, como ponto de partida para a apropriação do "sítio" enquanto entidade fornecedora de referências, demonstra a inquietação do arquiteto pela maneira como as suas obras estão inseridas no território, tendo consciência de que estas funcionam como recursos de transformação do espaço envolvente e que devem ser equacionadas como tal. A materialização das suas obras está sempre associada a uma espacialização que se apoia na composição e na medida, na procura de uma arquitectura de precisão, na busca da perfeição e na sucessiva depuração dos elementos. A redução da obra de Eduardo Souto de Moura a uma única temática acaba por não dar resposta a um conjunto de problemáticas no campo da arquitetura, que afloram as preocupações de uma complexa realidade processual, que faz parte da sua produção arquitetónica. O contexto, tanto regional, como local ou cultural, acaba por desempenhar um papel importante no processo mental que conduz às suas obras, muitas vezes num cruzamento de influências que permitem repensar, operativamente, o processo criativo ao longo da sua obra. O suporte expositivo pretende estabelecer uma ordem clara de leitura da obra do arquiteto Eduardo Souto de Moura, onde cada núcleo é um território disciplinar, ao mesmo tempo que dá lugar ao informe, permitindo uma promenade onde o somatório sequencial das partes resulta numa obra total. Curadoria António Sérgio Koch, arq. André de França Campos, arq.

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Page 1: Eduardo Souto de Moura Continuidade - ccb.pt · PDF fileEduardo Souto de Moura – Continuidade Na obra de Eduardo Souto de Moura, os simbolismos e as analogias são elementos fundamentais

Eduardo Souto de Moura – Continuidade

Na obra de Eduardo Souto de Moura, os simbolismos e as analogias são elementos fundamentais

na composição arquitetónica. De uma forma latente, no caso dos simbolismos, ou claramente

assumidas, no caso das analogias, funcionam como elementos catalisadores de um desenvolvimento

mental de procura de soluções que permitem consolidar e contextualizar as suas intervenções.

A uma arquitetura que procura a racionalidade na disciplina, claramente influenciada por Aldo

Rossi e os seus princípios de que as preexistências, a história da arquitetura, a tradição da cidade

europeia e a ideia de monumento são o ponto de partida para evolução da disciplina, contrapõe-se uma

visão norte-americana inspirada em Robert Venturi, contrária à Arquitetura Moderna, defendendo uma

via híbrida, onde a contradição e a ambiguidade quebram com os princípios de coerência defendidos

pelo Movimento Moderno.

A utilização das regras e das ordens clássicas, como ponto de partida para a apropriação do

"sítio" enquanto entidade fornecedora de referências, demonstra a inquietação do arquiteto pela

maneira como as suas obras estão inseridas no território, tendo consciência de que estas funcionam

como recursos de transformação do espaço envolvente e que devem ser equacionadas como tal.

A materialização das suas obras está sempre associada a uma espacialização que se apoia na

composição e na medida, na procura de uma arquitectura de precisão, na busca da perfeição e na

sucessiva depuração dos elementos.

A redução da obra de Eduardo Souto de Moura a uma única temática acaba por não dar resposta

a um conjunto de problemáticas no campo da arquitetura, que afloram as preocupações de uma

complexa realidade processual, que faz parte da sua produção arquitetónica.

O contexto, tanto regional, como local ou cultural, acaba por desempenhar um papel importante

no processo mental que conduz às suas obras, muitas vezes num cruzamento de influências que

permitem repensar, operativamente, o processo criativo ao longo da sua obra.

O suporte expositivo pretende estabelecer uma ordem clara de leitura da obra do arquiteto

Eduardo Souto de Moura, onde cada núcleo é um território disciplinar, ao mesmo tempo que dá lugar

ao informe, permitindo uma promenade onde o somatório sequencial das partes resulta numa obra

total.

Curadoria António Sérgio Koch, arq. André de França Campos, arq.