EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA...

16
EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNCIAS E OPERADORAS DE TURISMO NA NATUREZA BUENO, Fernando Protti Discente do curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – E-mail: [email protected] PIRES, Paulo dos Santos Doutor Professor do curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – E-mail: [email protected] Eixo temático: O Turismo e a Recreação em Áreas Naturais Resumo A presente pesquisa objetivou identificar e analisar junto às agências e operadoras do segmento de turismo na natureza, do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC), a inserção da educação ambiental nas atividades de ecoturismo (incluindo-se as trilhas interpretativas). O PEISC está localizado na Região Sul do Brasil, no Estado de Santa Catarina e compreende, especificamente, o município de Florianópolis e seu entorno. Ao pressupor-se que a educação ambiental constitui uma ferramenta indispensável ao planejamento e ao desenvolvimento do ecoturismo, por sensibilizar seus envolvidos acerca das questões ambientais e por possibilitar benefícios à conservação da natureza, pretende-se revelar as formas como a educação ambiental tem sido aplicada nas atividades de ecoturismo. Em razão disso, desenvolveu-se uma pesquisa junto às agências e operadoras do segmento de turismo na natureza do PEISC, por considerá-las como as empresas que intermediam a relação entre as atividades turísticas e o turista e, também, por conformarem um grupo de atores sociais responsáveis pelo planejamento e desenvolvimento das atividades de ecoturismo e de educação ambiental. Para a realização dessa pesquisa foram adotados como procedimentos metodológicos, para a coleta de dados, o método qualitativo e as técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista estruturada, bem como, as técnicas de análise documental e do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposta por LEFÈVRE e LEFÈVRE (2003), para a análise dos dados coletados. Como resultados dessa pesquisa, evidencia-se a intrínseca relação entre o ecoturismo e a educação ambiental, além disso, identifica-se também que a educação ambiental desenvolvida pelos agentes e operadores nas atividades de ecoturismo no PEISC está relacionada à educação formal (escolar) e as modalidades educação ambiental não-formal (aprendizado seqüencial e da interpretação ambiental). Porém, estas estão dissociadas de seu escopo teórico-metodológico, o que as caracterizam como uma ação estreitamente ligada à uma forma de condicionamento ambiental, fato que repercute na descaracterização, no baixo aproveitamento e consequentemente na desvalorização da educação ambiental aplicada às atividades de ecoturismo. Palavras-chave: atividades de ecoturismo; educação ambiental; agências e operadoras; turismo na natureza; Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina.

Transcript of EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA...

Page 1: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO

DAS AGÊNCIAS E OPERADORAS DE TURISMO NA NATUREZA

BUENO, Fernando Protti

Discente do curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do

Itajaí – E-mail: [email protected]

PIRES, Paulo dos Santos

Doutor Professor do curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do

Vale do Itajaí – E-mail: [email protected]

Eixo temático: O Turismo e a Recreação em Áreas Naturais

Resumo A presente pesquisa objetivou identificar e analisar junto às agências e operadoras do segmento de turismo na natureza, do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC), a inserção da educação ambiental nas atividades de ecoturismo (incluindo-se as trilhas interpretativas). O PEISC está localizado na Região Sul do Brasil, no Estado de Santa Catarina e compreende, especificamente, o município de Florianópolis e seu entorno. Ao pressupor-se que a educação ambiental constitui uma ferramenta indispensável ao planejamento e ao desenvolvimento do ecoturismo, por sensibilizar seus envolvidos acerca das questões ambientais e por possibilitar benefícios à conservação da natureza, pretende-se revelar as formas como a educação ambiental tem sido aplicada nas atividades de ecoturismo. Em razão disso, desenvolveu-se uma pesquisa junto às agências e operadoras do segmento de turismo na natureza do PEISC, por considerá-las como as empresas que intermediam a relação entre as atividades turísticas e o turista e, também, por conformarem um grupo de atores sociais responsáveis pelo planejamento e desenvolvimento das atividades de ecoturismo e de educação ambiental. Para a realização dessa pesquisa foram adotados como procedimentos metodológicos, para a coleta de dados, o método qualitativo e as técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista estruturada, bem como, as técnicas de análise documental e do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposta por LEFÈVRE e LEFÈVRE (2003), para a análise dos dados coletados. Como resultados dessa pesquisa, evidencia-se a intrínseca relação entre o ecoturismo e a educação ambiental, além disso, identifica-se também que a educação ambiental desenvolvida pelos agentes e operadores nas atividades de ecoturismo no PEISC está relacionada à educação formal (escolar) e as modalidades educação ambiental não-formal (aprendizado seqüencial e da interpretação ambiental). Porém, estas estão dissociadas de seu escopo teórico-metodológico, o que as caracterizam como uma ação estreitamente ligada à uma forma de condicionamento ambiental, fato que repercute na descaracterização, no baixo aproveitamento e consequentemente na desvalorização da educação ambiental aplicada às atividades de ecoturismo. Palavras-chave: atividades de ecoturismo; educação ambiental; agências e operadoras; turismo na natureza; Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina.

Page 2: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

Introdução O turismo, enquanto atividade humana, envolve o deslocamento de pessoas

para as localidades denominadas destinos turísticos, devido às motivações intrínsecas

ao comportamento humano, bem como, devido às atrações disponíveis naquele

espaço, sejam elas culturais ou naturais. Atualmente, o turismo cresce e desenvolve-

se em grandes proporções, sendo considerado por TRIGO (2003, p. 54) como “[...]

uma realidade inexorável [...]” e, OMT1 (2003, p. 17) como “[...] um dos principais

setores sócio-econômicos mundiais [...]”.

Para que fosse possível compreender e analisar com mais profundidade o

turismo, em seus aspectos econômicos, sócio-culturais ou mesmo sócio-ambientais,

foi necessário considerar nessa pesquisa especialmente às atividades relacionadas ao

campo ecológico, ou também denominado ecoturismo, já que o crescente mercado

turístico é composto por segmentos ou grupos de atividades com características

semelhantes, em razão às diferentes motivações de viagem.

Segundo a TIES2 (2000 apud MASTNY, 2002), o ecoturismo é o segmento

turístico que possui o melhor índice de crescimento (20% a 30% ao ano), sendo

superior a outros segmentos do turismo. Diante disso, a OMT (2003) evidencia como

tendência para o turismo a busca por áreas naturais protegidas, com o intuito de

contemplação da natureza e de desenvolver atividades que envolvam uma certa dose

de aventura.

O ecoturismo, nas considerações de PIRES (2002) representa, então, um

segmento derivado do turismo na natureza, que envolve um conjunto variado e pouco

definido de atividades turísticas, posicionadas na interface entre o turismo e o meio

ambiente, principalmente, os ambientes naturais. Ao mesmo tempo, SERRANO (2000)

também detecta uma pluralidade de termos e conceitos relacionados ao turismo na

natureza, o que sugere que o ecoturismo seja uma idéia guarda-chuva que envolve

inúmeras atividades, como por exemplo, o rafting, o rappel, as escaladas, o mergulho,

o trekking, a observação de fauna e flora, e inclusive, as trilhas interpretativas.

A partir dos pressupostos supracitados, salienta-se a admissão da definição de

ecoturismo estabelecida por BARROS II e LA PENHA (1994), como referência

conceitual mais adequada, já que esta enfatiza que a atual importância do ecoturismo

na sociedade não está apenas baseada no aspecto econômico mas, principalmente,

em seu potencial para a conservação da natureza e em seu potencial educativo,

ambos, passíveis de serem potencializados pelas possíveis sensações e experiências

realizadas diretamente com e na natureza. 1 Organização Mundial do Turismo.

Page 3: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

Para tanto, adota-se também como referência conceitual a definição de

educação ambiental estabelecida pela Política Nacional de Educação Ambiental

(BRASIL, 1999), e pressupõe-se que a educação ambiental torna-se uma importante

ferramenta para a promoção do desenvolvimento sustentável do ecoturismo sem que,

contudo, esse segmento da atividade turística deixe de ser valorizado

economicamente. Entende-se que a vertente educacional do ecoturismo concretiza-se

por meio da educação ambiental e, em função disso, questiona-se: como a educação

ambiental é aplicada ao ecoturismo? A educação ambiental é aplicada por meio de

algum processo ou metodologia específica? E por fim, como desenvolvem-se esses

processos ou metodologias?

A consideração do ecoturismo como tema central dessa pesquisa e

especialmente, a sua relação específica com a educação ambiental, procurou analisar

como a educação ambiental é desenvolvida nas atividades de ecoturismo. Para tanto,

limitou-se a analisar essa relação sob o ponto de vista dos agentes e operadores do

turismo na natureza, por compreendê-los como intermediadores das relações entre o

turista e os atrativos naturais e como um dos responsáveis pelo desenvolvimento do

ecoturismo e, consequentemente, pela aplicação da educação ambiental nas

atividades de ecoturismo.

Também limitou-se a realizar essa análise sobre o espaço geográfico que

compreende o Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC). Segundo

MAGALHÃES (2001) e MELLES (2001), o PEISC está localizado na Região Sul do

Brasil, mais especificamente na Ilha de Santa Catarina e compreende a cidade de

Florianópolis e seu entorno, sendo delimitado pela disposição geográfica das unidades

de conservação existentes na região, tendo ao norte a Reserva Biológica do Arvoredo,

ao sul o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e a noroeste a Área de Proteção

Ambiental de Anhatomirim.

Desse modo, adotou-se como procedimentos metodológicos o método

qualitativo e as técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista

estruturada para coleta de dados, além das técnicas de análise documental e do

Discurso do Sujeito Coletivo, para a análise dos dados.

Pressupõe-se como resultados da pesquisa, a delimitação da relação entre as

atividades de ecoturismo e a educação ambiental, bem como, a identificação e a

constatação da importância das modalidades de educação ambiental, possivelmente,

aplicadas às atividades de ecoturismo.

2 The International Ecotourism Society.

Page 4: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

Objetivos A presente pesquisa teve por objetivo geral, analisar o desenvolvimento da

educação ambiental nas atividades de ecoturismo, sob o ponto de vista das agências

e operadoras do segmento de turismo na natureza, do Pólo de Ecoturismo da Ilha de

Santa Catarina (PEISC).

Na tentativa de atender ao objetivo supracitado, essa pesquisa teve como

objetivos específicos, verificar as relações existentes entre o ecoturismo e a educação

ambiental; e identificar as formas de educação ambiental aplicadas nas atividades de

ecoturismo.

Metodologia O fenômeno social denominado turismo tem sido foco de estudo de inúmeras

áreas do conhecimento, isto porque tem assumido importante relevância em diversas

áreas de atuação e também, por na visão de DENCKER (2001), não constituir uma

ciência com um campo de princípios devidamente organizado e definido, passando

assim, a ser compreendido como uma sub-área de conhecimento que se utiliza de

métodos e de conceitos advindos de outras ciências sociais consolidadas.

Por isso, para compreender o processo de desenvolvimento do fenômeno

turístico é necessário analisá-lo diante de suas complexas inter-relações ocorridas

entre os sujeitos sociais, os setores econômicos e suas implicações ao meio ambiente.

Afinal, como evidenciam BENI (2003) e DENCKER (2001) o turismo possui um campo

de estudo abrangente, complexo, pluricausal e interdisciplinar.

Desse modo, no intuito de atingir os objetivos dessa pesquisa adotou-se como

procedimentos metodológicos o método qualitativo e as técnicas de pesquisa

bibliográfica, documental e de entrevista estruturada para coleta de dados, além das

técnicas de análise documental e do Discurso do Sujeito Coletivo, para a análise dos

dados.

As técnicas bibliográfica e documental foram utilizadas na coleta de materiais

acerca das temáticas de ecoturismo e educação ambiental, sendo analisadas por meio

da técnica de análise documental, descrita por RICHARDSON (1999), como

operações que visam descortinar as circunstâncias sociais relacionadas aos materiais

utilizados. Por meio das técnicas supracitadas, foi possível estabelecer relações

teórico-reflexivas entre o ecoturismo e a educação ambiental, bem como, identificar as

formas pelas quais a educação ambiental pode ser aplicada ao ecoturismo. Além

disso, utilizou-se a técnica de entrevista estrutura com perguntas abertas, para a

coleta de dados junto às agências e operadoras de turismo na natureza do Pólo de

Page 5: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC), com o intuito de identificar como essas

agências e operadoras aplicam a educação ambiental no ecoturismo.

Essa técnica de entrevista contemplou a aplicação de um roteiro de entrevista3

em diálogos realizados com 05 (cinco) agentes e operadores4, do segmento de

turismo na natureza, do PEISC. Esses atores sociais foram selecionados com base

nos dados disponíveis em ABAV (2006), GUIA FLORIPA (2006a e b), GUIA

PANROTAS (2005) e PICASSO (2005), sendo que a escolha destes, justificou-se pelo

fato de que no ecoturismo as agências e operadoras do segmento de turismo na

natureza exercem importante papel na intermediação da comunicação entre o turista e

o destino, bem como, no desenvolvimento e planejamento de atividades relacionadas

ao ambiente natural que compõe determinado destino turístico, pressupondo-se

também o desenvolvimento do componente educativo (educação ambiental) nesses

locais ou nessas práticas.

Inicialmente, nessa base de dados que serviu para a escolha dos atores sociais

entrevistados, constava um universo de 18 (dezoito) agentes e operadores

relacionados ao turismo de natureza (ecoturismo), por conterem em seus nomes e ou

descrições institucionais palavras elucidativas desse segmento, tais como ecoturismo,

turismo na natureza, aventura, rafting, rappel, entre outras. Das 18 (dezoito) possíveis

entrevistas primeiramente identificadas, foram realizadas 07 (sete) entrevistas efetivas,

sendo que 02 (duas) destas não enquadravam-se no perfil proposto, fato que

acarretou a consideração de apenas 05 (cinco) das entrevistas realizadas na

resolução dos objetivos estabelecidos para a pesquisa.

Em relação às demais agências e operadoras, cabe salientar que a técnica de

análise das entrevistas (a ser delimitada posteriormente) evidencia o trabalho com

dados qualitativos e, por isso, é dispensável um número estatisticamente

representativo da amostra em relação ao universo. É evidente também, que há a

possibilidade de se trabalhar com uma grande amostra em pesquisas qualitativas mas,

especificamente nesse caso, a amostra de 03 a 05 entrevistados configuraria uma

representação real do mercado de agências e operadoras de turismo na natureza do

PEISC e, portanto, representativa deste universo de atores sociais.

Para a análise dos dados obtidos por meio da aplicação do roteiro de entrevista,

utilizou-se a técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposta por

LEFÈVRE e LEFÈVRE (2003), que visa obter discursos (respostas) advindos da

expressão subjetiva (consciência) do entrevistado, por meio da aplicação de perguntas 3 A aplicação desse roteiro de entrevista continha quatro questões, mas para efeito de análise desse artigo, serão apresentados apenas os resultados obtidos na análise de uma das questões.

Page 6: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

abrangentes (abertas). Segundo estes autores (Ibid., p. 11) a técnica supracitada,

busca

[...] dar conta da discursividade, característica própria e indissociável do pensamento coletivo, buscando preservá-la em todos os momentos da pesquisa, desde a elaboração das perguntas, passando pela coleta e pelo processamento dos dados até culminar com a apresentação dos resultados.

Os autores (Ibid., p. 15-16) salientam ainda que o discurso do sujeito coletivo

[...] é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos [...]. A proposta [...] consiste [...] em analisar o material verbal coletado extraindo-se de cada um dos depoimentos [...], as idéias centrais e/ou ancoragens e as suas correspondentes expressões-chave; com as expressões –chave das idéias centrais ou ancoragens semelhantes compõe-se um ou vários discursos síntese na primeira pessoa do singular5.

Após a seleção e identificação das expressões-chave (ECH), das idéias

centrais (IC) e das ancoragens (AC) passa-se a elaborar o ou os DSC, compreendido

por estes autores (Ibid., p. 18) como “[...] um discurso-síntese redigido na primeira

pessoa do singular e composto pelas ECH que têm a mesma IC ou AC”.

Por fim, LEFÈVRE e LEFÈVRE (2003, p. 19, grifo dos autores) salientam que

com o DSC

[...] os discursos dos depoimentos não se anulam ou se reduzem a uma categoria comum unificadora já que o que se busca fazer é reconstruir, com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos se julgue necessários para expressar uma dada “figura”, ou seja, um dado pensar ou representação social sobre um fenômeno.

Ao corroborar com a temática da representação social, REIGOTA (1998) infere

que as representações sociais estão normalmente relacionadas com os sujeitos de

fora da comunidade científica, fato que indica que as formas de pensar relacionam-se

a um processo histórico social, que deve ser compreendido a partir de uma

configuração social coletiva.

Desse modo, evidencia-se também a necessidade de consideração da teoria

da representação social, que é caracterizada por MOSCOVICI (1976, 1978 apud

4 Como forma de resguardar a integridade da pesquisa e evidenciar o seu caráter ético, adotou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 5 Para uma melhor compreensão da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo, bem como, do processo de seleção das expressões-chave, das idéias centrais e das ancoragens, e transformação dos discursos individuais em discursos coletivos, indica-se a leitura da obra de LEFÉVRE e LEFÉVRE (2003).

Page 7: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

REIGOTA, 1998, 2002), como o conhecimento do senso comum que se tem acerca de

um determinado tema, amplamente debatido pela ciência e reconhecido em espaço

público, incluindo os preconceitos, as ideologias e as características sócio-culturais

das pessoas.

A partir do exposto, justifica-se o uso da técnica do DSC como forma de

detectar a compreensão sobre a importância da educação ambiental para o

ecoturismo, apresentada, no âmbito do senso comum, pelos atores entrevistados,

tidos como um dos envolvidos e responsáveis pelas práticas de ecoturismo e

educação ambiental PEISC. Permite-se com isso, também, analisar as relações

existentes entre o ecoturismo e a educação ambiental e identificar as formas com que

a educação ambiental é aplicada ao ecoturismo, balizadas pela crença de que a

representação social desses indivíduos, acerca dessas temáticas, norteiam suas

práticas sociais.

Portanto, após a aplicação das técnicas de pesquisa e a constatação de

evidências teóricas e empíricas, realizou-se a interpretação dos dados e,

consequentemente, de seus resultados.

Resultados da pesquisa Para que seja possível estabelecer uma relação inicial entre o ecoturismo e a

educação ambiental é necessário salientar, conforme os pressupostos de PIRES

(2002) e SERRANO (2000), que o ecoturismo sugere uma diversidade de termos e de

atividades relacionadas a interface entre o turismo e o meio ambiente natural. Devido

a isso, RAMOS (2005, p. 475) pautado nos pressupostos de FENNELL e EAGLES

(1990 apud FENNELL, 2002) estabeleceu algumas distinções básicas entre as

atividades de turismo na natureza, de ecoturismo e de turismo de aventura,

ressaltando que a principal distinção entre as atividades, está no fato de que “quanto

menos intensa no sentido de esforço e mais educativa no sentido de interpretação do

ambiente visitado, mais próxima a atividade estará do ecoturismo”.

Entretanto, o documento denominado ‘Diretrizes para uma Política Nacional de

Ecoturismo’, e coordenado por BARROS II e LA PENHA (1994, p. 30), revela que o

ecoturismo deve ser promovido como um veículo da educação ambiental, como sendo

uma das formas de conter os comportamentos inadequados dos turistas, reordenando

e reorganizando assim, as atividades ecoturísticas até então evidenciadas. Para isso,

este documento propõe como uma das ações para solucionar os problemas do

ecoturismo, a ação nomeada de ‘Conscientização e informação ao turista’, que

objetivou “divulgar aos turistas atividades inerentes ao produto ecoturístico e orientar a

conduta adequada nas áreas visitadas”.

Page 8: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

Essa ação, ao referir-se especificamente à educação ambiental, propõe como

estratégia o apoio a “[...] programas de educação ambiental formal, em todos os

níveis, de maneira interdisciplinar” (Ibid., p. 30). Porém, ressalta-se que o ecoturismo é

desenvolvido em áreas supostamente naturais, que compreendem espaços

diferenciados dos espaços da educação ambiental formal (escola). Nesse caso, é

necessário desenvolver-se a educação ambiental nos efetivos espaços destinados ao

desenvolvimento das atividades de ecoturismo, ou seja, ao ar livre.

Nesse sentido, SORRENTINO (1995 apud LEONARDI, 1999) classificou as

variadas correntes de educação ambiental em quatro categorias, entre elas a

educação ao ar livre, que está relacionada e presente entre os naturalistas que

incentivavam as caminhadas ecológicas, as trilhas de interpretação da natureza, o

turismo ecológico e o autoconhecimento na relação com a natureza.

LEONARDI (1999) infere que a educação ambiental pode também ser

classificada em função do espaço onde é desenvolvida, sendo formal, não formal e

informal. A autora (Ibid., 397) explica ainda que a educação ambiental formal ocorre

sempre em âmbito escolar; a informal ocorre ‘informalmente’ no cotidiano da

sociedade, principalmente, promovida pelos diversos meios de comunicação,

enquanto a não-formal é “[...] exercida em outros e variados espaços da vida social,

com metodologias, componentes e formas de ação diferentes da formal [...]”.

Em complemento ao exposto acerca da educação ambiental não-formal, a

Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) (BRASIL, 1999) a entende como

“[...] as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as

questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do

meio ambiente”. Tal consideração permite assinalar, portanto, que entre um dos

incentivos governamentais propostos à educação ambiental não formal está “o

ecoturismo”.

A partir dessas constatações, acredita-se que a educação ambiental constitui-

se como um componente do conceito de ecoturismo, conforme pontuado por BARROS

II e LA PENHA (1994) e por PIRES (1998), e também, como uma ferramenta

indispensável ao seu planejamento e desenvolvimento, por evidenciar, conforme a

PNEA (BRASIL, 1999), a construção de valores sociais em benefícios a conservação

da natureza.

Por outro lado, ao mesmo tempo que a PNEA (BRASIL, 1999) apresenta a

proposta de desenvolver a educação ambiental não-formal por meio do ecoturismo,

observa-se que há a necessidade de se identificar as formas pelas quais a educação

ambiental não-formal ou ao ar livre são aplicadas ao ecoturismo, visto que essa

Page 9: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

política vislumbra possibilidades de ações a ser desenvolvidas, mas pouco detalha as

formas como estas poderiam efetivamente ocorrer.

As formas de se realizar a educação ambiental identificadas na pesquisa,

passam a ser denominadas de ‘modalidades’ por serem convencionalmente utilizadas

como as maneiras, ou mesmo, como as metodologias empregadas ao

desenvolvimento de tais práticas educativas. De modo sucinto, pretende-se apresentá-

las a seguir, pautadas por seus enfoques teórico-metodológicos, bem como, por suas

possíveis aplicações às atividades de ecoturismo.

A modalidade ‘Aprendizado Seqüencial’ foi desenvolvida por CORNELL (1997)

como sendo um conjunto de princípios que descrevem como usar as atividades de

conscientização na natureza de modo gradativo e direcionado. Os princípios dividem-

se em de quatro estágios: o despertar do entusiasmo; o concentrar a atenção; o dirigir

a experiência; e o compartilhar a inspiração. A denominação aprendizado seqüencial é

justificada pelo fato de que os estágios fluem de um para o outro, suave e

naturalmente, fazendo com que o indivíduo passe pelos diferentes estágios e alcance

estruturas mentais e sentimentos de amor proporcionadas pelas experiências diretas e

profundas com a natureza.

No Brasil, o intuito de aplicar a afetividade e o aprendizado pelos sentidos em

diversas atividades tem possibilitado o desenvolvimento de experiências, que segundo

MENDONÇA (2000, p. 152), constituem-se em adaptações da modalidade aplicadas

às atividades de lúdicas de ecoturismo nos parques de São Paulo, que vão desde uma

simples contemplação da beleza natural até a prática de exercícios físicos, na forma

de esportes radicais (rafting, rappel, entre outros).

Já a modalidade ‘Interpretação Ambiental’ é considerada por HAM (1992, p. 03,

tradução nossa) como a “[...] tradução da linguagem técnica de uma ciência natural ou

área relacionada em términos e idéias que as pessoas em geral, que não são

cientistas, possam entender facilmente e implica em fazê-la de forma que seja

entretida e interessante para eles”. A característica educacional dessa modalidade é

evidenciada por HAM (1992, p. 07, tradução nossa) que a diferencia dos outros modos

de transmissão de informações por ser amena, pertinente, organizada e com um tema.

Este autor (Ibid.) explica ainda que a interpretação é amena porque entretêm e, com

isso, mantém a atenção do participante; é pertinente por revelar significados pessoais;

é organizada por ser fácil de se seguir; e é temática por possuir um tema principal nas

mensagens transmitidas.

Em relação ao ecoturismo, VASCONCELOS (2003) evidencia que a

interpretação ambiental é realizada em atividades como as trilhas interpretativas,

guiadas ou autoguiadas, principalmente, nas áreas naturais protegidas, às quais, têm-

Page 10: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

se utilizado de diferentes estratégias para transformar as caminhadas nas trilhas em

oportunidades de educação, com o intuito de desenvolver novas percepções nos

visitantes, proporcionando-os explicações sobre as inter-relações sociais e naturais.

Na tentativa de inter-relacionar as possibilidades de aplicação dessas

modalidades de educação ambiental no ecoturismo, MENDONÇA (2005a, p. 537) cita

que as experiências ecoturísticas possuem elevado potencial para a interiorização dos

princípios da educação ambiental, pois “[...] promovem o aprimoramento das relações

dos indivíduos, consigo mesmos e auxiliam a tornar conscientes as relações que as

pessoas têm umas com as outras e com o meio natural”.

Além disso, esta autora (2005b, p. 169) afirma que essas experiências podem

[...] ativar um energia mental totalmente nova e levar o visitante a experimentar, a partir da possibilidade e do estímulo à criatividade e à afetividade, novos sentimentos capazes de dar origem a novos pensamentos e, assim, a novas possibilidades de compatibilização e harmonização da presença humana no planeta.

Assim, acredita-se que esse sentimento interiorizado e apreendido por meio

das experiências ecoturísticas, proporciona a geração de novos comportamentos e de

novas atitudes nos indivíduos, caracterizando-se como um processo educativo, que

segundo TUAN (1980, p. 05) é tido como o “[...] elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou

ambiente físico”, denominado de topofilia, onde a atitude representa uma postura

cultural, formada pela sucessão de percepções, também entendidas como

experiências.

Ademais, DIAS (2000) salienta que a educação ambiental pretende fazer com

que a sociedade aprenda como está organizado e como funciona o meio ambiente

natural e, ao mesmo tempo, o quanto a mesma depende dele, como o afeta e também

como pode-se promover a sua sustentabilidade.

Diante dessas possíveis relações teóricas entre o ecoturismo e a educação

ambiental e, também, mediante a identificação das modalidades de educação

ambiental possíveis de serem aplicadas nas atividades de ecoturismo, pretende-se

nesse momento, tecer diálogos em relação aos discursos dos atores sociais

entrevistados na pesquisa acerca das interações entre as temáticas do ecoturismo e

da educação ambiental. A seguir, apresentam-se então, os Discursos do Sujeito

Coletivo (DSC) compostos pelo conjunto das expressões-chave das idéias centrais

(ECHIC) e das expressões-chave das ancoragens (ECHAC), estando os DSC

organizados e separados pelo conjunto das idéias centrais (IC) antagônicas,

vislumbradas em cada uma das respostas apresentadas às questões.

Page 11: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

Atenta-se para o fato de que duas IC aparecerão compostas pela nomenclatura

idéia individual entre parênteses, o que representa uma idéia antagônica mencionada

apenas uma vez pelo grupo de entrevistados, não podendo ser complementada em

nenhuma outra IC e, devido a sua importante representação, não pôde ser excluída.

Salienta-se também, que LEFÈVRE e LEFÈVRE (2003) em nenhum momento tratam

desse possível aspecto ou característica na técnica do DSC, pressupondo-se assim, a

possibilidade de sua consideração para as condições da presente pesquisa.

Questão – Um dos critérios para as atividades turísticas serem denominadas de ecoturismo é a existência do componente educativo (educação ambiental). Como o Sr. (a) trabalha com a educação ambiental?

DSC da IC A – sensibilização pela própria natureza As pessoas vem pra se divertir, mas automaticamente elas tão emergindo na natureza, tão recebendo as informações, a natureza realmente ali de uma forma original e sempre tem algumas coisas meia degradadas e a pessoa só nesse parâmetro e ali olhando ali, ela já tem essa sensibilização né? é a própria força da natureza que alimenta a pessoa e a pessoa realmente fica é... revaloriza a natureza né?, só pelo simples fato de entra em contato com ela.

DSC da IC B – educação ambiental formal Escolas sejam públicas, sejam particular que vem fazê alguma saída de campo de ordem é... de educação. A gente busca tá inserindo a questão da educação ambiental durante todo o processo, desde o momento que a gente pega os alunos no colégio, uma conscientização camuflada de como se deve... como eles devem se portar... é um trabalho em conjunto com a escola, é uma coisa que os monitores e a empresa não fazem tão diretamente com os alunos, mas é um trabalho que já vem da sala de aula. A vontade é de fazê um trabalho mais nas escolas públicas né, que é assim de grátis, fazê essas atividades, mas tem que arrumá um parceiro pra pode custear. DSC da IC C – não se tem formas específicas de educação ambiental Nós não temos uma metodologia né? Não tem uma forma específica, tem é digamos, é uma, uma... a gente procura ter, digamos, os parceiros. DSC da IC D – conhecimento sobre o componente ambiental (consciência ambiental) Todas as atividades que a gente promove tem educação ambiental, ou seja, eu não consigo fazer uma atividade sem o componente ambiental. Então, temos uma consciência ambiental, que é justamente explicar ou tentar explicar como funciona a questão do ambiente ali, do ecossistema.

DSC da IC E – interpretação ambiental É trabalhada em conjunto né? se é uma trilha, existe as paradas onde o instrutor, o guia de ecoturismo, vai parar e vai fazer essa interpretação, que a gente chama de interpretação ambiental. Então, ele vai explicando, vai falando, vai mostrando, vai ensinando sobre o local, então quer dizer vai fazendo com que as pessoas pensem e reflitam sobre tudo aquilo que eles tão fazendo.

DSC da IC F – aprendizado seqüencial (idéia individual) A educação é trabalhada a partir do livro do ambientalista americano, Joseph Cornell – Aprender brincando com a natureza. O cara, justamente, consegue usar uma metodologia de descobertas e desafios que a própria natureza oferece, trabalhando sempre a questão

Page 12: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

indagativa, onde as pessoas vão tentando se aproximar e a gente vai peneirando, peneirando, peneirando... e aí eles vão pensando, elaborando, elaborando, elaborando uma resposta e ali é feita a gravação como se diz no... através dos nossos sentidos, audição, visão e tudo mais, nesse sentido o pensamento vai sendo elaborado, quer dizer, as respostas vão sendo cada vez mais internalizadas. DSC da IC G – adestramento ambiental (idéia individual) A gente procura fazer trilhas que explora toda a questão da... do respeito ao meio ambiente no sentido de não arrancar nada, de não levar nada, de não deixar nada, é... não fazer nada que vá prejudicar.

O DSC da IC A sugere a idéia de que a natureza dispõe de um enorme

potencial para estimular as pessoas envolvidas a compreender seu espaço, seu

funcionamento e seus problemas, bem como, aproveitar esse momento para a

diversão, para o entretenimento. Dessa forma, o discurso sugere uma ‘educação’

recreacional, onde o indivíduo por meio de sua percepção vislumbra o ‘belo’ (forma

original) e o ‘feio’ (as ‘coisas’ degradadas) e, com isso, estabelece um parâmetro de

análise, podendo repensar os seus atos. Em contrapartida, salienta-se que para uma

efetiva educação é necessário a presença de um educador ou um mediador que por

meio de sua percepção consiga sistematizar ações de sensibilização dos participantes

sobre a realidade ao seu redor.

Diferentemente, no DSC da IC B, tem-se a presença do educador, mas diante

da equivocada idéia de que o ecoturismo comporta a educação ambiental formal. É

importante salientar que as atividades de ecoturismo são desenvolvidas em espaços

não escolarizados, em espaços não-formais ou também denominados ao ar livre (a

própria natureza), assim sendo, a educação ambiental não-formal ocorrerá no cenário

para o desenvolvimento do ecoturismo.

Já no DSC da IC C, identifica-se que o mercado ecoturístico desconhece a

aplicação da educação ambiental em suas atividades e, consequentemente, deixa de

utilizar as modalidades de educação ambiental, possibilitando assim, a compreensão

de que as práticas realizadas não configuram como ecoturísticas, conforme

esclarecem PIRES (1998) e RAMOS (2005), por não aplicarem a educação ambiental.

Além disso, também permitem visualizar que as práticas de educação ambiental

desenvolvidas no ecoturismo ocorram de maneira não sistemática, sugerindo assim, a

não constituição das mesmas como formas efetivas de educação.

No DSC da IC D apresenta-se o fato de que para se desenvolver uma atividade

de ecoturismo é necessário conhecer e compreender a realidade de um dado

ambiente, seu funcionamento e sua formação e, com isso, tem-se o equívoco da

aplicação da educação ambiental no ecoturismo. Ressalta-se também, a idéia de que

ter consciência ambiental está relacionada ao fato de se conhecer e saber explicar o

Page 13: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

ambiente, entretanto, os estudos de FREIRE (1980) e GUIMARÃES (2005)

demonstram que a conscientização está atrelada ao ato de uma consciência para a

ação, diferentemente, de uma informação.

Já no DSC da IC E, tem-se a constatação da aplicação por parte agências e

operadoras da interpretação ambiental como uma das modalidades de educação

ambiental, possivelmente, aplicadas ao ecoturismo. Nesse sentido, é interessante

notar a presença do instrutor enquanto o elo de relação entre o ambiente e o turista,

mas em contrapartida, observa-se que esse discurso remete a uma interpretação

ambiental dissociada da sistemática proposta por HAM (1992), pois demonstra o

desenvolvimento voltado à explicação e informação dos conteúdos relacionados ao

ambiente visitado, sem contudo, proporcionar uma sensação de compreensão do

ambiente por parte do visitante.

Diferentemente, o DSC da IC F também propicia a identificação da modalidade

de educação ambiental aplicada ao ecoturismo, bem como, descreve subjetivamente

seu escopo teórico-metodológico quando cita o trabalho desenvolvido de maneira

indagativa onde os aprendentes refletem e elaboram uma resposta, ao mesmo tempo

em que são estimulados pelas experiências sensitivas. Dessa forma, acredita-se que

por mais que nesse discurso não reflita exatamente os estágios do aprendizado

seqüencial desenvolvido por CORNELL (1997), observa-se a compreensão e,

supostamente, a efetiva idealização preconizada por essa modalidade.

Por fim, o DSC da IC G apresenta contraditoriamente uma forma de educação

ambiental bastante popularizado e discutido, bem como, ainda bastante utilizado pelo

senso comum que procura evidenciar o certo e o errado, o que pode e o que não pode

ser feito, por exemplo, em um ambiente natural. Dessa forma, as inúmeras negações

tem pouco significado a quem as ouve e representam um condicionamento

(adestramento) desse indivíduo, afinal, o não fazer, o não poder, o não se torna uma

possibilidade de realização.

Conclusão Como conclusão, acredita-se que nessa relação entre as múltiplas atividades

de ecoturismo, a qual incluem-se as trilhas ecológicas e ou interpretativas, e as

possibilidades de aplicação de modalidades de educação ambiental, há uma condição

simultânea, pois ao mesmo tempo em que o ecoturismo serve de meio condutor para

o desenvolvimento da educação ambiental, esta comporta-se com uma imprescindível

ferramenta ao planejamento e desenvolvimento do ecoturismo. Isso justifica-se,

principalmente, pela educação ambiental proporcionar aos seus envolvidos uma

compreensão crítica da realidade ambiental que os cercam, a partir do momento em

Page 14: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

que possibilita uma nova visão de mundo permeada por valores e por atitudes em

benefício da conservação da natureza.

Assim, caracteriza-se um processo educacional voltado ao desenvolvimento

estimulado pelas sensações e experiências diretas com a natureza, que podem estar

relacionados as modalidades de educação ambiental. Por isso, considera-se

importante a aplicação sistemática da educação ambiental, norteada tanto pelo poder

público, por meio de suas políticas, como também pelo envolvimento da iniciativa

privada e da comunidade local, no desenvolvimento de atividades relacionadas ao

ecoturismo.

Diante disso, salienta-se a importante contribuição proporcionada pela

utilização da técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que possibilita

uma multiplicidade de dados a serem analisados interdisciplinarmente, bem como, a

evidência da representação social dos entrevistados que remete a condição de

considerar-se os discursos enquanto efetivas práticas sociais.

Aponta-se como sugestões para futuras pesquisas, a possibilidade de

utilização da técnica do DSC a diferentes grupos sociais sobre essa temática, bem

como, a constatação das práticas sociais por meio de uma pesquisa participante ou

pesquisa ação.

Bibliografia ABAV. Agências de viagens - Florianópolis. Disponível em: <http://www.abav.com.br/lista_ABAVs.asp?ABAVs=Florianópolis&uf=SC>. Acesso em: 15 jan. 2006.

BARROS II, S. M.; LA PENHA, D. H. M. (Coord.). Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo. Brasília: EMBRATUR, 1994. BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 9. ed. São Paulo: Ed. SENAC, 2003.

BRASIL. Decreto-Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial, Brasília: DF; 1999. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/se/educacaoambiental/ pdf/lei979599.pdf> Acesso em: 23 out. 2005.

CORNELL, J. A alegria de brincar com a natureza: atividades na natureza para todas as idades. São Paulo: SENAC, 1997.

DENCKER, A. F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 2001.

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 6. ed. São Paulo: Gaia, 2000.

Page 15: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

FENNELL, D. Ecoturismo: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2002.

FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1980.

GUIA FLORIPA. Ecoturismo. Disponível em: <http://www.guiafloripa.com.br/servicos/passeios.php3>. Acesso em: 15 jan. 2006a.

GUIA FLORIPA. Agências de turismo. Disponível em: <http://www.guiafloripa.com.br/servicos/turismo.php3>. Acesso em: 15 jan. 2006b.

GUIA PANROTAS. Agências assinantes (Florianópolis). GUIA PANROTAS. São Paulo, p. B 062, nov. 2005.

GUIMARÃES, M. Intervenção educacional: do “de grão em grão a galinha enche o papo” ao ”tudo junto ao mesmo tempo agora”. In: FERRARO JR., L.A. (Org.). Encontros e caminhos: formação e educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, 2005, p. 191-199.

HAM, S. H. Interpretacion ambiental: una guía práctica para gente con grandes ideas y presupuestos pequeños. Colorado: Fulcrum Golden, 1992.

LEFÉVRE, F. LEFÉVRE, A. M. C. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa. ed. ver. e ampl. Caxias do Sul: EDUCS, 2003.

LEONARDI, M. L. A. A educação ambiental como um dos instrumentos de superação da insustentabilidade da sociedade atual. In: CAVALCANTI, C. (Org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. 2.ed. São Paulo: Cortez; Recife: Fund. Joaquim Nabuco, 1999, p. 391-408.

MAGALHÃES, G. W. (Coord.). Pólos de ecoturismo: Brasil. São Paulo: Terragraph, 2001. MASTNY, L. Redirecionando o turismo internacional. In: WORLDWATCH INSTITUTE. O Estado do Mundo, 2004: estado do consumo e o consumo sustentável. Salvador: Ed. Uma, 2004, p. 117-146.

MELLES, C. Introdução. In: MAGALHÃES, G. W. (Coord.). Pólos de ecoturismo: Brasil. São Paulo: Terragraph, 2001.

MENDONÇA, R. A experiência na natureza segundo Joseph Cornell. In: SERRANO, C. (Org.). A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000, p. 135-154.

__________. Experimentando a sustentabilidade do turismo na natureza. In: TRIGO, L. G. G. (Edit.). Análises regionais e globais do turismo brasileiro. São Paulo: ROCA, 2005a, p. 537-545.

Page 16: EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AS ATIVIDADES DE ECOTURISMO NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA: A VISÃO DAS AGÊNC...

__________. Educação ambiental e ecoturismo. In: NEIMAN, Z.; MENDONÇA, R. (Org.). Ecoturismo no Brasil. Barueri: Manole, 2005b, p. 154-169.

OMT. O turismo no mundo hoje. In: __________. Guia de desenvolvimento do turismo sustentável. Porto Alegre: Bookman, 2003, p. 17-28.

PICASSO, D. F. Diagnóstico da oferta no segmento de mercado das agências e operadoras relacionadas ao turismo na natureza na região do Pólo 2 de Ecoturismo em Santa Catarina: Ilha de Santa Catarina. 2005. Dissertação (Mestrado em Turismo e Hotelaria), Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, 2005.

PIRES, P. S. A dimensão conceitual do ecoturismo. Turismo: visão e ação. Itajaí, v.1, n.1, p.75-91, jan/jun, 1998.

_________. Dimensões do ecoturismo. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2002.

RAMOS, M. V. Aventura e turismo de aventura: faces mutantes. In: TRIGO, L. G. G. (Edit.). Análises regionais e globais do turismo brasileiro. São Paulo: ROCA, 2005, p. 469-479.

REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. 3ed. São Paulo: Cortez, 1998.

__________. As representações sociais na prática pedagógica cotidiana da educação ambiental . In: SAUVÉ, L. (Org.). Textos escolhidos em educação ambiental: de uma América a outra - Tomo I. 2002, p. 123-128.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

SERRANO, C. O “produto” ecoturístico. In: ANSARAH, M. G. R. (Org.). Turismo: como aprender, como ensinar. São Paulo: Editora SENAC, 2000, p. 203–234.

TIES. Definition and ecotourism principles. Disponível em: <http://www.ecotourism.org/index2.php?what-is-ecotourism>. Acesso em: 13 dez. 2004.

TRIGO, L. G. G. Turismo brasileiro e a questão social. In: PANOSSO NETTO, A.; TRIGO, L. G. G. Reflexões sobre um novo turismo: política, ciência e sociedade. São Paulo: Aleph, 2003, p. 87-109.

TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: DIFEL, 1980.

VASCONCELOS, J. M. O. Interpretação ambiental. In: MITRAUD, S. (Org.). Manual de ecoturismo de base comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. Brasília: WWF Brasil, 2003, p. 261-294.