Educação Ambiental nas Escolas

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MARCOS ANTONIO CUBAProfessor da Fatea de Lorena. Mestre em Comunicação em CiênciasAmbientais pela Universidade de Taubaté.

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    EDUCAO AMBIENTAL NAS ESCOLAS

    MARCOS ANTONIO CUBA

    Professor da Fatea de Lorena. Mestre em Comunicao em Cincias Ambientais pela Universidade de Taubat.

    RESUMO

    Em funo da grande resistncia em relao s anlises ambientais e falta de capacitao dos docentes, h necessidade de inserir a educao ambiental no ambiente escolar, de maneira que todos se mobilizem de forma efetiva para a melhoria da qualidade de vida. Diante dos problemas ambientais do mundo, muito importante que as novas geraes possam ter em seus currculos escolares a dimenso ambiental porque a escola um lugar ideal para que esse processo acontea. Este artigo de reviso de literatura visa demonstrar que o conhecimento dos conceitos do que seja Educao Ambiental, bem como o estudo do seu histrico proporciona uma viso ampla e atual das principais questes ambientais, colaborando para que se possa implementar no ambiente escolar alternativas para sensibilizar alunos, professores e funcionrios.

    PALAVRAS-CHAVE

    Educao Ambiental; Escolas; Capacitao; Docentes.

    ABSTRACT

    Due to the great strength in relation to environmental analysis and lack of training for teachers, there is the need to create ways to include environmental education in the school environment so that everyone is mobilized effectively to improve the quality of life. Given the environmental problems the world is very important that new generations can have in its school curriculum because the environmental school is an ideal place for this process to happen, and allow understanding of the importance of all forms of life. This review of literature aims to show that knowledge of the concepts of what constitutes environmental education and study its history provides a broad and current major environmental issues, helping to make it possible to implement the alternative school setting to educate students, faculty and staff.

    KEYWORDS

    Environmental Education; Schools; Training; Teachers.

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    INTRODUO

    Ao longo dos sculos, a humanidade desvendou, conheceu, dominou e modificou a natureza para melhor aproveit-la. Estabeleceu outras formas de vida, e, por conseguinte, novas necessidades foram surgindo e os homens foram criando novas tcnicas para suprirem essas necessidades, muitas delas decorrentes do consumo e da produo (SANTOS; FARIA, 2004). Neste artigo defendida a idia de que Educao Ambiental no mbito escolar deve ser tratada como cientfica, ou seja, deve ser uma disciplina que atue separadamente de outras, pois hoje tida como um tema transversal e que muitas vezes se torna esquecido, devido ao fato de os educandos ficarem presos aos contedos que lhes so estabelecidos e que na maioria das vezes so to extensos que o mesmo no consegue conclu-los at o fim do ano letivo, e muitos professores no se sentem na obrigao da aplicao de um tema transversal, embora este seja de extrema importncia. A educao ambiental ganhou notoriedade com a promulgao da Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu uma Poltica Nacional de Educao Ambiental e, por meio dela, foi estabelecida a obrigatoriedade da Educao Ambiental em todos os nveis do ensino formal da educao brasileira. A lei 9.765/99 precisa ser mencionada como um marco importante da histria da educao ambiental no Brasil, porque ela resultou de um longo processo de interlocuo entre ambientalistas, educadores e governos (BRASIL, 1999). A escola um espao privilegiado para estabelecer conexes e informaes, como uma das possibilidades para criar condies e alternativas que estimulem os alunos a terem concepes e posturas cidads, cientes de suas responsabilidades e, principalmente, perceberem-se como integrantes do meio ambiente. A educao formal continua sendo um espao importante para o desenvolvimento de valores e atitudes comprometidas com a sustentabilidade ecolgica e social (LIMA, 2004).

    EDUCAO AMBIENTAL

    Segundo Carvalho (2006, p. 71), a Educao Ambiental considerada inicialmente como uma preocupao dos movimentos ecolgicos com a prtica de conscientizao, que seja capaz de chamar a ateno para a m distribuio do acesso aos recursos Naturais, assim como ao seu esgotamento, e envolver os cidados em aes sociais ambientalmente apropriadas. A Educao Ambiental um tema muito discutido atualmente devido ao fato de se perceber a necessidade de uma melhoria do mundo em que vivemos, pois facilmente notado que estamos regredindo cada vez mais em nossa qualidade de vida de um modo geral, nos deixando levar por nossas obrigaes dirias. Nosso tempo nos parece cada vez mais curto porque temos cada vez mais compromissos (GUEDES, 2006). Alm disso, com o crescimento da populao mundial, a cada dia pode aumentar tambm o nmero de poluidores caso estes no sejam devidamente orientados. H ainda um outro fator que contribui para a diminuio de nossa qualidade de vida, que o grande nmero de indstrias que afetam o meio ambiente. Mais recentemente possvel observar uma melhora na conscientizao dos empresrios e tambm da populao, h uma preocupao mais acentuada da fiscalizao por parte dos rgos pblicos competentes para a diminuio de poluentes emitidos (YUS, 2002). Conforme destacam os Parmetros Curriculares Nacionais PCNs (BRASIL, 1997a, p. 25):

    [...] Eleger a cidadania como eixo vertebrado da educao escolar implica colocar-se explicitamente contra valores e prticas sociais que desrespeitem aqueles princpios, comprometendo-se com as perspectivas e as decises que os favoream. Isto refere-se a valores, mas tambm a conhecimentos que permitam desenvolver as capacidades necessrias para a participao social efetiva. Uma pergunta deve ser ento respondida: as reas convencionais classicamente ministradas pela escola, como Lngua Portuguesa, Matemtica, Cincias, Histria e Geografia, no so suficientes para alcanar esse fim? A resposta negativa.

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    A questo central est relacionada complexidade do que se entende por transversalidade e como se d tal procedimento. Campiani (2001, p. 52) afirma que ainda pouco clara a definio do conceito de transversalidade, suas implantaes nas prticas pedaggicas precisam ser elucidadas. Segundo o autor, para a capacitao dos atores sociais envolvidos, no caso do professor, devem ser incorporados novos conceitos e metodologias que venham ao encontro da realidade, para que eles sejam atuantes e crticos diante das situaes scio-ambientais e possam atuar e influenciar nas mudanas de atitudes. O engajamento do poder pblico, atravs do MEC, de Secretarias de Educao atravs da capacitao macia (referindo-se educao formal) e do cidado por meio do exerccio da cidadania, deve ser constante (CAMPIANI, 2001). No entanto, para que a transversalidade seja efetivada na prtica pedaggica necessrio que sejam eliminadas as barreiras entre as disciplinas e necessariamente as barreiras entre os profissionais da educao. O trabalho educacional componente dessas medidas das mais essenciais, necessrias e de carter emergencial, pois sabe-se que a maior parte dos desequilbrios ecolgicos est relacionada a condutas humanas inadequadas impulsionadas por apelos consumistas frutos da sociedade capitalista que geram desperdcio, e ao uso descontrolado dos bens da natureza, a saber, os solos, as guas e as florestas (CARVALHO, 2006). Somente desta maneira que se torna possvel acreditar na possibilidade de mudar condutas e valores e, assim, formar pessoas que, atravs da disseminao de suas convices, trabalharo por uma nova maneira de relacionar-se com o mundo e seus recursos Naturais e tambm com as outras pessoas (SCHIKE, 1986). Sendo assim, enfrentamos um momento de mudana de paradigma com relao concepo de uso de recursos Naturais e convivncia com o meio ambiente. A crise que vivenciamos pode ser considerada como uma crise de valores, o que tem gerado problemas sociais e ambientais das mais variadas propores (SANTOS; FARIA, 2004). Cerca de 10 mil anos antes de Cristo, a revoluo agrcola j provocava impactos na natureza, pelas derrubadas das florestas. A partir da, o Homem ouviu falar na destruio da fauna e da flora, poluio do ar pelas queimadas, poluio do solo, excesso de matria orgnica e eroso (DIAS, 2004). Segundo Braick (2007, p. 85), a sociedade europia, no final do sculo XVII, passou por vrias transformaes. Surge, assim, o Iluminismo, que tinha como idias bsicas a liberdade e o progresso. Esse conjunto de idias contraria uma classe em ascenso: a burguesia, que sai vencedora ao derrotar o mercantilismo, o estado absolutista e solidifica uma nova ordem: o capitalismo. A Revoluo Industrial a marca do capitalismo que, ao modificar o sistema de produo, consegue aumentar a margem de lucro do capitalista, promovendo uma enorme poluio do ar, dos rios, do solo, etc. Esta revoluo foi o ponto de partida para toda a problemtica vivenciada nos dias de hoje. Ao longo dos trs ltimos sculos, o malefcio que o capitalismo trouxe para o meio ambiente era justificado pela possibilidade do progresso humano. As novas tecnologias permitiram avanos em vrias reas. No entanto, a partir da dcada de 1960, esse progresso comeou a ser questionado (BRAICK, 2007). De acordo com Leff (2006, p. 62):

    A problemtica ambiental no ideologicamente neutra nem alheia a interesses econmicos e sociais. Sua gnese d-se num processo histrico dominado pela expanso do modo de produo capitalista, pelos padres tecnolgicos gerados por uma racionalidade econmica a curto prazo, numa ordem econmica mundial marcada pela desigualdade entre naes e classes sociais. Este processo gerou, assim, efeitos econmicos, ecolgicos e culturais desiguais sobre diferentes regies, populaes, classes e grupos sociais, bem como perspectivas diferenciadas de anlises.

    Diante de tantas catstrofes, em 1965, na Inglaterra, na conferncia de Educao da Universidade de Keele, falou-se pela primeira vez em Educao Ambiental (EA), com a recomendao de que esta deveria se tornar a educao para a cidadania, onde todos os cidados deveriam construir uma conscincia crtica para a soluo dos problemas citados. Para Dias (2004, p. 78), os participantes do evento ainda definiam Educao Ambiental como: Conservao ou ecologia aplicada, e o veculo

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    seria a Biologia. Vale lembrar que ano de 1965, Albert Schweitzer, um dos lutadores pela tica ambiental, foi agraciado com o Prmio Nobel da Paz. Em 1968, mais uma vez na Inglaterra, foi criado o Conselho para Educao Ambiental, do qual mais de cinqenta organizaes participaram com olhos voltados para temas relacionados educao e ao meio ambiente. Alm disso, pelo menos mais seis pases europeus (Dinamarca, Finlndia, Frana, Islndia, Noruega e Sucia) discutiram a respeito da iniciao da educao ambiental no currculo escolar (GUIMARES, 1995). Um desafio foi lanado em Estocolmo: seria necessrio um esforo internacional para se definir em bases conceituais o que seria a Educao Ambiental. Isso foi feito em encontros sub-regionais, regionais, nacionais e internacionais sucessivos, gerando documentos que estabeleceriam seus objetivos, princpios, finalidades e recomendaes (DIAS, 2004). Na Rio-92, a Educao Ambiental foi definida como uma educao crtica da realidade, cujos objetivos so: fortalecimento da cidadania para a populao como um todo, e no para um grupo restrito, concretizando-se pela possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres e de se converter, portanto, em ator corresponsvel na defesa da qualidade de vida; estabelecer uma educao que seja crtica e inovadora, em dois nveis: formal (na escola) e no formal (fora da escola) (DIAS, 2004). Assim, a educao ambiental deve ser acima de tudo um ato poltico voltado para a transformao social, capaz de transformar valores e atitudes, construindo novos hbitos e conhecimentos, defendendo uma nova tica, que sensibiliza e conscientiza na formao da relao integrada do ser humano, da sociedade e da natureza, aspirando ao equilbrio local e global, como forma de melhorar a qualidade de todos os nveis de vida (CARVALHO, 2006). Em 2002, realizado em Johanesburgo (frica do Sul) o Encontro Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentvel para avaliar as metas atingidas aps a Rio-92. Esse evento ficou conhecido como Rio+10. Representantes dos pases pobres e ricos estiveram presentes Conferncia, a fim de discutirem sobre questes importantes para o futuro do planeta. Para Sato (2002), os resultados foram desanimadores; pouco se avanou em relao aos objetivos traados no Rio de Janeiro. Depois de duas semanas de negociaes, a Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel (Rio+10) terminou sem plano algum para salvar o planeta e com acordos tidos por ONGs como "vergonhosos".

    [...] Se h dez anos atrs tnhamos um captulo somente para a educao (captulo 36) e transversalizada em todos os demais, hoje ela aparece timidamente em alguns itens relacionados com a dimenso social. Alis, observaramos que a palavra educao a quinta mais citada na agenda 21, tem pouca ressonncia no interior dos debates atuais, vindo pasteurizada nas proposies das novas agendas, da proteo dos sistemas Naturais, da informao ambiental, da prosperidade, das polticas ecolgicas e da equidade social (SATO, 2002).

    Enquanto os chefes de Estado presentes cpula pediam em seus discursos metas e prazos para a implementao da Agenda 21, seus negociadores produziam um plano de ao sugerindo justamente o contrrio: no assumir compromissos muito definidos a longo prazo (CARVALHO, 2006).

    A EDUCAO AMBIENTAL NO BRASIL

    Chegamos dcada de 1970 em ritmo de "milagre econmico". Contrariando as tendncias internacionais de proteo ao meio ambiente, o regime militar deu sustentao para o crescimento econmico a qualquer custo, sem nenhuma preocupao ambiental. Isto abrangia alguns megaprojetos, como a Usina Nucelar de Angra, no Estado do Rio de Janeiro, a Usina Hidreltrica de Tucuru, a Transamaznica e o Projeto Carajs, na Amaznia. Em resposta, o Brasil recebeu vrias crticas. O governo Federal manteve-se na defensiva, alegando que estas crticas seriam uma forma de conspirao das naes desenvolvidas para impedir o crescimento do pas (BRASIL, 1997b). Mesmo mantendo esta posio, em 1972 o Brasil mandou uma delegao oficial a Estocolmo, para a Conferncia da ONU sobre o Meio Ambiente Humano. Mas, no fim da Conferncia de Estocolmo, o Brasil assinou, sem restries, a Declarao da ONU sobre o Meio Ambiente Humano (DIAS, 2004).

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    Segundo o relato de Dias (2004, p. 80), no ano seguinte, a Presidncia da Repblica criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), dentro do Ministrio do Interior, convidando o professor Nogueira Neto para comand-la. Foi o primeiro rgo nacional do meio ambiente. Entre as atribuies, havia o controle da poluio e a educao ambiental. Nogueira Neto esteve frente da SEMA por treze anos, com a conquista e o desenvolvimento de normas e leis na rea ambiental e a instalao de inmeras Estaes Ecolgicas, entre elas, a Estao Ecolgica do Taim, no Rio Grande do Sul, e a segunda, a de Uriracuera, em Roraima (DIAS, 2004). Para a rea de Educao Ambiental, estabeleceu contato com o ento Ministrio da Educao e da Cultura, o que resultou na definio de que Educao Ambiental poderia constar no currculo, mas no como matria (BRASIL, 1997b). Em 1975, ocorreu o Primeiro Encontro Nacional sobre Proteo e Melhoria do Meio Ambiente, promovido pelo governo federal, que trouxe inclusive convidados estrangeiros (BRASIL, 1997b). Em abril de 1981, foi promulgada a lei 6.902, que estabeleceu novos tipos de rea de preservao ambiental, entre as quais as Estaes Ecolgicas destinadas realizao de pesquisas e Educao Ambiental. Quatro meses depois, em agosto de 1981, promulgou-se a primeira lei que coloca a Educao Ambiental como um instrumento para ajudar a solucionar os problemas ambientais. a mais importante lei ambiental do Brasil, que institui a "Poltica Nacional do Meio Ambiente" (BRASIL, 1981). Em 5 de outubro de 1988 foi promulgada a atual Constituio Federal, com seu Captulo do Meio Ambiente que, entre outros avanos na rea ambiental, tornou a educao ambiental obrigatria em todos os nveis de ensino, porm sem trat-la como uma disciplina. A redao final ficou de acordo com as definies internacionais de Tbilisi, reafirmadas no encontro de Moscou (BRASIL,1997b). Santos (2007, p. 14) lembra que, juridicamente, no Brasil, o pargrafo 1, VI, do art. 255 da Constituio Federal, determina ao Poder Pblico a promoo da Educao Ambiental em todos os nveis de ensino. Mas, segundo a autora, apesar desta previso constitucional, bem como o fato da Educao Ambiental j ser reconhecida mundialmente como cincia educacional e tambm recomendada pela UNESCO e a Agenda 21, pouco foi feito no Brasil para a sua implantao concreta no ensino. O que existia era fruto dos esforos de alguns abnegados professores e educadores, no havendo a ateno que merece o tema pelo Poder Pblico e as entidades particulares de ensino. Com a publicao da Lei 9.795, de 27/4/99, que dispe sobre a educao ambiental, institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias, a questo tomou fora, pois a implantao e aplicao da Educao Ambiental como disciplina passou a ser obrigatria. A citada lei define juridicamente Educao Ambiental como o processo por meio do qual o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade" (art.1). Assim, o surgimento e desenvolvimento da Educao Ambiental como mtodo de ensino est diretamente relacionado ao movimento ambientalista, pois fruto da conscientizao da problemtica ambiental. A ecologia, como cincia global, trouxe a preocupao com os problemas ambientais, surgindo a necessidade de se educar no sentido de preservar o meio ambiente (SANTOS, 2007).

    A EDUCAO AMBIENTAL NAS ESCOLAS

    Na viso de Chalita (2002, p. 34), a educao constitui-se na mais poderosa de todas as ferramentas de interveno no mundo para a construo de novos conceitos e conseqente mudana de hbitos. tambm o instrumento de construo do conhecimento e a forma com que todo o desenvolvimento intelectual conquistado passado de uma gerao a outra, permitindo, assim, a mxima comprovada de cada gerao que avana um passo em relao anterior no campo do conhecimento cientfico e geral. Quando o autor acima mencionado se refere educao, no est se referindo educao vigente, isto , no se refere educao que exclui, que d prmio aos melhores alunos e aponta os piores para

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    que sirvam de modelo, que homogeneza o ensino mas, sim, a uma educao holstica1, uma educao que estimule o senso crtico, que estimule mtodos e traga tona discusses, que desperte os interesses dos alunos (CHALITA, 2002). A Educao Ambiental constitui-se como uma estratgia para se alcance as mudanas desejadas na atual educao. A Educao Ambiental tem assumido nos ltimos anos o grande desafio de garantir a construo de uma sociedade sustentvel, em que se promovam, na relao com o planeta e seus recursos, valores ticos como cooperao, solidariedade, generosidade, tolerncia, dignidade e respeito diversidade (CARVALHO, 2006). Na viso de Dias (2004), a Educao Ambiental na escola no deve ser conservacionista, ou seja, aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos Naturais e manuteno de um nvel timo de produtividade dos ecossistemas Naturais ou gerenciados pelo Homem, mas aquela educao voltada para o meio ambiente que implica uma profunda mudana de valores, em uma nova viso de mundo, o que ultrapassa bastante o estado conservacionista. A Educao Ambiental contedo e aprendizado, motivo e motivao, parmetro e norma. Vai alm dos contedos pedaggicos, interage com o ser humano de forma que a troca seja uma retroalimentao positiva para ambos. Educadores ambientais so pessoas apaixonadas pelo que fazem. E, para que o respeito seja o primeiro sentimento motivador das aes, preciso que a escola mude suas regras para se fazer educao ambiental de uma forma mais humana (CARVALHO, 2006). Santos (2007, p. 10), acredita que uma das formas que pode ser utilizada para o estudo dos problemas relacionados ao meio ambiente atravs de uma disciplina especfica a ser introduzida nos currculos das Escolas, podendo assim alcanar a mudana de comportamento de um grande nmero de alunos, tornando-os influentes na defesa do meio ambiente para que se tornem ecologicamente equilibrados e saudveis. Porm, a autora ressalta que estes projetos precisam ter uma proposta de aplicao, tratando de um tema especfico de interesse dos alunos, e no longe da proposta pedaggica da escola. Para Guedes (2006, p. 87), [...] os sistemas educacionais com fortes tendncias pedaggicas liberais tradicionais no compreendem ou no tm aceitado a Educao Ambiental como parte integrante do currculo e da vida escolar, impossibilitando, desta forma, a consolidao desta. Para Morin (apud GUEDES, 2006, p. 89) se define como a articulao entre as disciplinas levando articulao dos saberes. Na viso de Guimares (1995), o Ensino Mdio, por exemplo, tem visado apenas o vestibular e se esquece da formao de cidados que pensem de forma crtica e que vejam o mundo e o prximo no como um adversrio, mas como um cidado.

    Entre os vrios aspectos negativos da atual educao ministrada no Brasil, ressalta o fato de ela no desenvolver no estudante os esquemas mentais que estabelecem a relao dialtica das diferentes reas de estudos entre si e tambm destas com a realidade social em que vivemos. O estudo da ecologia, enquanto cincia pura, de quase nada adianta se no relacionada com os demais campos da cincia, porque ela no leva necessariamente a uma viso globalizante, dinmica e sistmica das coisas, isto , a uma viso eco-poltica (SCHINKE, 1986, p. 153).

    O conhecimento tem mais valor quando construdo coletivamente porque repartimos o que sabemos e aprendemos com o que os outros repartem conosco. com esta construo coletiva que o ensino deve se preocupar mais (YUS, 2002). Para Boff (1999, p. 34), a pedagogia da Terra aquela que ensina a transformarmos a cultura da guerra e da violncia em uma cultura de paz e no-violncia, aquela que transmite aos jovens e s geraes futuras valores que inspirem a construir um mundo de dignidade e harmonia, justia, solidariedade, liberdade e prosperidade. Em outra obra, o pensador afirma que aquela que procura construir uma sociedade sustentvel que busca para si o desenvolvimento vivel para as necessidades

    1 O termo Educao Holstica foi proposto pelo americano R. Miller (1997) para designar o trabalho de um conjunto

    heterogneo de liberais, de humanistas e de romnticos que tm em comum a convico de que a personalidade global de cada criana deve ser considerada na educao. So consideradas todas as facetas da experincia humana, no s o intelecto racional e as responsabilidades de vocao e cidadania, mas tambm os aspectos fsicos, emocionais, sociais, estticos, criativos, intuitivos e espirituais inatos da natureza do ser humano (YUS, 2002, p. 16).

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    de todos, no apenas do ponto de vista social, mas do ponto de vista scio-csmico que procura atender aos demais seres da natureza (BOFF, 2008). A ecopedagogia apresenta-se como uma perspectiva de reconstruo de valores sociais, econmicos, culturais e ambientais, que se prope a disseminar a sustentabilidade e a paz. A ecopedagogia centra-se na relao entre os sujeitos que aprendem juntos, embasados em uma tica universal do ser humano. A ecopedagogia implica uma reorientao dos currculos para que incorporem os valores e princpios defendidos pela carta da Terra (WALDMAN, 2006). A Carta da Terra (2000, princpio 14 apud CAMPIANI, 2001) indica que se deve "integrar na educao formal e aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessrias para um modo de vida sustentvel", oferecendo a todos, especialmente crianas e jovens, oportunidades educativas que possibilitem contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentvel. Numa viso elucidadora, Maranho (2005, p. 4), assim afirma:

    Ao divulgar os resultados do ltimo Censo Escolar, o INEP deu destaque ao fato de que 65% das escolas de ensino fundamental inseriram a questo ambiental em suas prticas pedaggicas. Cumprem sua obrigao, j que se trata de um dos temas transversais ao currculo obrigatrio. [...] No entanto, sabemos que, devido precariedade da infra-estrutura de nossos estabelecimentos, torna-se difcil para os professores abordar a questo de maneira adequada e com conhecimento de causa. Por isso temos que aplaudir aquelas escolas que se empenham em formar cidados e futuros profissionais segundo a tica do desenvolvimento sustentvel. pouco e os poderes pblicos precisam no s fornecer mais recursos humanos e financeiros a fim de que essas aes sejam multiplicadas, mas avaliar sua eficcia.

    Portanto, possvel perceber, atravs do que foi exposto, que a Educao Ambiental um caminho possvel para mudar atitudes e, por conseqncia, o mundo, permitindo ao aluno construir uma nova forma de compreender a realidade na qual vive, estimulando a conscincia ambiental e a cidadania, numa cultura tica, de paz, de solidariedade, de liberdade, de parceria e partilha do bem-comum, da habilidade, da delicadeza e do bom senso. Ou seja, a Educao Ambiental aquela que permite o aluno trilhar um caminho que o leve a um mundo mais justo, mais solidrio, mais tico, enfim, mais sustentvel (GUEDES, 2006).

    CONSIDERAES F INAIS

    Trabalhar com um tema bastante inovador e ainda pouco trabalhado no contexto escolar como a Educao Ambiental foi muito desafiador e ao mesmo tempo prazeroso. O crescimento e difuso da Educao Ambiental extremamente importante para podermos dar condies melhores de vida s futuras geraes. Prope-se que a Educao Ambiental deixe de ser um tema transversal e passe a ser uma disciplina separada, assim, se daria uma importncia maior ao tema e se teria mais tempo para trabalhar com a conscientizao das pessoas desde a escola, pois se continuar sendo tratada como tema transversal acabar sempre como fator secundrio no cenrio educacional. consenso planetrio a necessidade de conservao e defesa do meio ambiente. Sendo assim, no h outro caminho, os indivduos precisam ser conscientizados e, para que esta tomada de conscincia se multiplique a partir das geraes presentes e passe para as futuras, se faz vital o trabalho de educao ambiental dentro e fora da escola, incluindo projetos que envolvam os alunos em sala de aula, tornando-os multiplicadores de atitudes sustentveis, do ponto de vista do meio ambiente. A Educao Ambiental caracteriza-se por adotar a gesto ambiental como princpio educativo do currculo e por centrar-se na idia da participao dos indivduos na gesto dos seus respectivos lugares: seja a escola, a rua, o bairro, a cidade, enfim, o lugar das relaes que mantm no seu cotidiano. Entendemos que o papel principal da educao ambiental contribuir para que as pessoas adotem uma nova postura com relao ao seu prprio lugar. O trabalho pedaggico, ento, deve se concentrar nas realidades de vida social mais imediatas. O conhecimento da realidade produzido a partir das experincias dos indivduos e suas trajetrias

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    pessoais. Atravs da educao ambiental tem-se o desenvolvimento de uma conscientizao focada no interesse do aluno pela preservao e construdo de forma coletiva.

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