Educação do Campo e Pesquisa questões para reflexão - apostila II

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EDUCAO DO CAMPO E PESQUISA II Questes para reflexo

EDUCAO DO CAMPO E PESQUISA IIQuestes para reflexo

Mnica Castagna Molina Organizadora

Braslia-DF 2010

Presidncia da Repblica

Ministrio do Desenvolvimento Agrrio Secretaria Executiva do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

Reviso/Normalizao bibliogrfica: Jair Santana Moraes Webson Dias Projeto Grfico, Capa e Diagramao: Tiragem: 1.500 exemplares MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRRIO (MDA) www.mda.gov.br NCLEO DE ESTUDOS AGRRIOS E DESENVOLVIMENTO RURAL (Nead) sala S2 - Cep: 70.040-910 Braslia/DF Telefone: (61) 2020 0189 www.nead.gov.br SBN, Quadra 2, Edifcio Sarkis - Bloco D loja 10

Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria Secretaria de Agricultura Familiar Secretaria de Reordenamento Agrrio

Secretaria de Desenvolvimento Territorial

Ncleo de Estudos Agrrios e Desenvolvimento Rural

Srie NEAD Debate 20 Copyright 2010 MDA

Educao do Campo e Pesquisa II: questes para reflexo / Mnica Castagna Molina, organizadora. Braslia: MDA/MEC, 2010. 212 P 21 x 28 cm -(Srie NEAD Debate ; 20) Tambm em CD-ROOM ISBN 978-85-60548-61-3 1. Educao do Campo; Polticas Pblicas. 2. Reforma Agrria. 3. Movimentos Sociais I. Molina, Mnica Castagna. II. Srie. III. CDU 37.018.523

Ministrio da Educao

SESU - Secretaria da Educao Superior 70200-670, Braslia, DF Tel: (55 61) 2022-8110

Esplanada dos Ministrios, Bl. L, Edifcio Sede, sala 300

SECAD - Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade 70200-670, Braslia, DF Tel: (55 61) 2022-9217 Esplanada dos Ministrios, Bl. L, Edifcio Sede, sala 200

SUMRIOAPRESENTAO PARTE I 6 14

SNTESES FINAIS DOS CRCULOS DE PRODUO DE CONHECIMENTO (CPC) CPC 1: Educao do Campo e Desenvolvimento CPC 2: Formao e Trabalho Docente na Escola do Campo CPC 3: Polticas de Educao Superior no Campo 36 CPC 5: Polticas de Educao Profissional no campo PARTE II 44 15 26 39

CPC 4: Educao do Campo, Movimentos Sociais e Polticas Pblicas

QUESTES PARA REFLEXO A PARTIR DOS DILOGOS NOS CRCULOS DE PRODUO DE CONHECIMENTO 46 Educao do Campo e desenvolvimento: reflexes referenciadas nos artigos do II Encontro Nacional de Pesquisa em Educao do Campo Georgina Kalife Cordeiro, Joana Dark Neves, Jos Bittencourt da Silva, Formao e trabalho docente na Escola do Campo: protagonismo e identidades em construo Maria Carmem F. D. Rego Maria Isabel Antunes-Rocha, Marta M. C. Pernambuco, Irene Alves Paiva, Polticas de Educao Superior no Campo Lais Mouro S, Mnica Castagna Molina 74 84 65 48 Rosemeri Scalabrin, Salomo Mufarrej Hage, Srgio Roberto Moraes Corra

Educao do Campo, Movimentos Sociais e Polticas Pblicas Maria Antnia de Souza, Sonia Aparecida Branco Beltrame Polticas de Educao Profissional no campo Jos Levi Furtado, Nicolas Fabre 94

Gema Galgani S. L. Esmeraldo, Maria Ins Casimiro Escobar,

PARTE III

MESAS-REDONDAS

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Mesa-Redonda 1 O Estado da Arte da Pesquisa em Educao do Campo no Brasil: 10 Anos de Construo de Novos Paradigmas Roseli Salete Caldart Educao do Campo: notas para uma anlise de percurso 103 127

A Educao do Campo na perspectiva do Materialismo Histrico-Dialtico Clia Regina Vendramini

Mesa-Redonda 2 O Conhecimento Produzido a Partir da Anlise das Polticas Pblicas de Educao do Campo 136 Reflexes sobre o significado do protagonismo dos Movimentos Sociais na construo de Polticas Pblicas de Educao do Campo Mnica Castagna Molina 137

Polticas Pblicas, juventude e educao para a sustentabilidade: Saberes da Terra em foco Jacqueline Cunha da Serra Freire, Edna Maria Ramos Castro Avanos e tenses na construo da institucionalidade do Programa Residncia Agrria Gema Galgani Silveira Leite Esmeraldo Mesa-Redonda 3 O Conhecimento Produzido nas Prticas Sociais dos Sujeitos do Campo: Pesquisa, Desenvolvimento e Educao na base dos Movimentos Sociais populares 175 174 O Dilogo de Saberes, no encontro de culturas: a promoo da agroecologia Nilciney Tona, Dominique Guhur, Jos Maria Tardin a experincia pedaggica Kyikatj Rosani de Fatima Fernandes Anexos 189 180 161 150

A escola como espao de afirmao e reelaborao identitria:

Programao do II Encontro

Relao de Trabalhos Acolhidos

191

196

APRESENTAOEste livro organiza parte das reflexes e dilogos ocorridos durante a realizao

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do II Encontro Nacional de Pesquisa em Educao do Campo (ENPEC) e do II Seminrio sobre Educao Superior e as Polticas para o Desenvolvimento do Campo Brasileiro, que aconteceram na Universidade de Braslia, no perodo de 06 a 08 de agosto de 2008, e reuniram trezentos e cinquenta pesquisadores de todo o Pas.

passando por um perodo no s de ampliao, quanto de transformaes em relao aos seus originais protagonistas, e s concepes que orientavam as prticas formativas desenvolvidas sob aquela concepo educativa. relevantes debates durante os eventos, no sentido de reafirmar os princpios e concepes que lhe incorporado por parte da sociedade civil e, de modo semelhante, apropriado pelo Estado, exigiu dos tratando naqueles encontros de pesquisa. pesquisadores presentes, posicionamento sobre qual concepo de Educao do Campo se estava contexto que a contm e que lhe d sentido, dentro da luta maior de superao da sociedade capitalista. Enfatizou-se que a Educao do Campo nasce e se fortalece como um paradigma construdo pelos sujeitos coletivos, organizados nos Movimentos Sociais, tendo frente inicialmente o MST, com a perspectiva de resistir s intensas transformaes ocorridas no campo em funo das das estratgias de resistncia expropriao provocada pelo capital, faz parte desse cenrio, no podendo ser analisada em separado. dcada, avaliar e articular as pesquisas e reunir subsdios para a elaborao de polticas pblicas, questes a serem enfrentadas na continuidade da formulao dos projetos de campo e de sociedade que a Educao do Campo quer ajudar a construir. mudanas na lgica de acumulao de capital nesse territrio. A histria das lutas e da organizao coletiva dos sujeitos do campo em busca do acesso ao conhecimento e escolarizao, como parte Com o objetivo de promover o debate sobre os paradigmas construdos nesta ltima Parte importante dos debates deu-se em torno de relocalizar a Educao do Campo no Essas mudanas refletem-se nas pesquisas sobre Educao do Campo e provocam

poca, o movimento da Educao do Campo completava dez anos de existncia,

deram origem e se desconfiguraram durante o decorrer do tempo. A maneira como o conceito foi

os eventos buscaram desenvolver uma metodologia que oportunizasse maior socializao das Esse desafio metodolgico se traduziu na organizao dos Crculos de Produo de

Conhecimento (CPC), articulados a partir dos seguintes eixos temticos: 1) Educao do Campo e Desenvolvimento; 2) Formao e Trabalho Docente nas Escolas do Campo; 3) Polticas de Educao de Educao Profissional no Campo.

Superior no Campo; 4) Educao do Campo, Movimentos Sociais e Polticas Pblicas e 5) Polticas ementas de cada CPC, os Comits Cientficos receberam e selecionaram os trabalhos de pesquisa que, preferencialmente, deveriam refletir sobre questes relativas a experincias concretas de O funcionamento desses Crculos comportou diferentes etapas de trabalho. Divulgadas as

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Educao do Campo, concludas ou em andamento, capazes de contribuir com a promoo do No final desta publicao, encontra-se a relao dos trabalhos selecionados, cuja ntegra dos textos est no CD-ROOM anexo. principais aspectos tericos e metodolgicos trazidos no conjunto dos trabalhos de cada tema. Essa durante os eventos.

avano prtico e terico dos desafios enfrentados pelos sujeitos do campo no territrio brasileiro. Selecionados os artigos, cada Comit Cientfico produziu uma sistematizao sobre os

sistematizao foi publicizada previamente, para que os participantes dos Crculos de Produo de Conhecimento pudessem se apropriar das questes e trazer contribuies reflexo coletiva nova sntese incorporando as questes levantadas pelos participantes durante os encontros. So essas snteses que apresentamos na primeira parte deste livro. Realizados os debates nos CPCs, os integrantes dos Comits Cientficos organizaram Solicitamos aos assessores que acompanharam os CPCs, a produo de artigos que

provocassem a continuidade e o aprofundamento das reflexes nas pesquisas em Educao do Campo naquelas temticas. Esses artigos compem a segunda parte do livro. Conhecimento fosse instigada tambm por elementos trazidos das Mesas-Redondas, cujos temas a partir destas Mesas. A metodologia previa, ainda, que a reflexo realizada nos Crculos de Produo de

incorporavam as ementas dos CPCs. Na terceira parte do livro, apresentamos os artigos produzidos quanto prpria escolha da estratgia de organizao desta coletnea, deve-se intencionalidade de valorizar princpios da Educao do Campo: o reconhecimento da importncia dos sujeitos coletivos que elaboram e desenvolvem as prticas formativas, que deram origem maioria dos postos a cada uma daquelas frentes de atuao e de prticas, eleitas como temas dos CPCs. artigos debatidos, e o trabalho coletivo de reflexo, de compreenso das tenses e dos desafios dos trabalhos reais e concretos realizados em cada ao nos cursos de formao superior do Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria (PRONERA); nas prticas agroecolgicas; nas formaes de Educao de Jovens e Adultos; nas salas multisseriadas; nos cursos em diferentes territrios camponeses, que consideramos de grande importncia registrar e socializar em que se completavam dez anos de caminhada. acampamentos e assentamentos; nos quilombos, nas escolas indgenas, nos Saberes da Terra; no Residncia Agrria; nas Escolas Famlias Agrcola e nos Centros de Alternncia, enfim, em o que representou esse momento de anlises e de reflexes sobre a Educao do Campo poca as condies de vida dos sujeitos do campo. Enfrentamos problemas extremamente graves com a perda dos direitos dos camponeses, em funo do intenso avano conquistado pelo agronegcio nesse mesmo perodo. A partir da materialidade de origem da Educao do Campo, no possvel dar-se vinculado garantia do direito terra, ao trabalho, justia social. analisar separadamente os contextos, ou seja, o avano na garantia do direito educao deve Nesse percurso temporal, alteraes se processaram, no porm no aspecto fundamental: com essa perspectiva de reconhecer e valorizar a importncia da atuao, das prticas, Essa opo metodolgica, tanto em relao aos Crculos de Produo de Conhecimento

rea podem contribuir com o avano daquelas lutas? Como articular as diferentes dimenses que matrizes tecnolgicas no campo, com os processos de produo de conhecimento?

Em que medida os movimentos da luta pela Educao do Campo e as pesquisas na

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compem a Educao do Campo, sejam elas relacionadas educao escolar ou aos processos formativos mais amplos, como os processos produtivos relacionados construo de novas movimento do real, fruto da produo histrica dos homens e, alm disso, condio fundamental pensar os desafios postos ao movimento da Educao do Campo. A sntese do CPC 4 enfatiza a importncia de se retomar, com rigor, o debate sobre as Compartilhamos com Vendramini a compreenso de que a cincia expresso do

para a produo da vida na atualidade. a partir dessa concepo de cincia que queremos categorias de universalidade e particularidade nas aes e pesquisas de Educao do Campo. No texto deste CPC registra-se que a especificidade da Educao do Campo vem de sua articulao intrnseca com o contexto do avano do capital e suas consequncias sobre o trabalho no campo. toda a sociedade. A universalidade, por outro lado, emerge no debate sobre uma concepo socialista de educao

para a transformao desse contexto, cujas consequncias no se restringem ao campo, mas a indicando a necessidade de superao dessa falsa dicotomia, j que este binmio se refere a As questes referentes ao binmio campo-cidade tambm se colocam nesse debate,

duas faces de uma mesma realidade: o projeto capitalista de sociedade. O documento final deste CPC destaca que, em sntese, a compreenso da relao entre o geral, o singular e o especfico, a partir do mtodo dialtico, permite articular essas categorias de acordo com a materialidade preocupao com as especificidades no deve encobrir a questo central da superao do modelo de sociedade capitalista, horizonte maior da Educao do Campo . dizem respeito prpria compreenso de desenvolvimento incorporada Educao do Campo; Superior desenvolvidos com os sujeitos do campo, que se desdobram em vrios aspectos, e, especialmente, relao entre Movimentos Sociais, Estado e Polticas. de diferentes polmicas durante os Encontros, que tambm se traduzem nos textos e snteses. dos contextos de vida da classe trabalhadora no campo, sem a perda da totalidade social. A Perpassando as diferentes temticas discutidas nos cinco Crculos, essas questes

aos processos de formao de seus educadores; aos impasses e desafios nos cursos de Educao Esse debate sobre a relao do movimento da Educao do Campo com o Estado foi tema

Questiona-se: a Educao do Campo no estaria se reduzindo relao com o Estado, maximizando

a importncia das polticas pblicas e relegando estratgias formativas que garantissem aos sujeitos do campo condies para processos de auto-organizao e promoo de autonomia? Haveria equvocos nas estratgias adotadas pelo movimento da Educao do Campo, no sentido de focar excessivamente a luta por direitos, dentro da ordem atual, subestimando a centralidade

da categoria emancipao? Nessa direo, Vendramini instiga em seu texto a preocupao sobre o risco das lutas pela Educao do Campo ficarem atreladas ao mbito do Estado e das polticas cria um consenso generalizado em torno do consumo. pblicas, perdendo a dimenso fundamental da educao como estratgia de interiorizao de valores contrapostos lgica individualista, liberal, competitiva, funcional, que nos conforma e que

Apresentao

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desse debate, ao se destacar a importncia de identificarmos as dificuldades enfrentadas pelos movimentos em relao ao Estado e consolidao do atendimento de suas demandas pelos governos municipais, estaduais e federal. Ressaltou-se, na sntese desse CPC, a necessidade de os nas aes do Estado e do jogo poltico dos governos, a fim de superar as dificuldades e evitar a por ele demandadas e assumidas pelo Estado. Movimentos Sociais conhecerem, desvelarem e rechaarem os mecanismos de cooptao presentes cooptao. Refletiu-se sobre a importncia do conhecimento dessas estratgias, no sentido de se garantir o fortalecimento do movimento no processo de luta pela conquista de polticas pblicas Tambm debateu-se o carter das relaes entre os Movimentos Sociais e o Estado,

Dialogando com essas questes, na sistematizao do CPC 3, encontram-se elementos

no mbito da disputa por polticas pblicas no CPC da Educao Superior, em funo das vrias contradies enfrentadas na conquista do PRONERA e, poca, ainda embrionariamente, do Programa de Apoio Formao Superior em Licenciatura em Educao do Campo. No artigo sobre as questes debatidas naquele CPC, em parceria com Las Mouro S, observamos que preciso emergem dessa prxis, que exigem interpretaes e tomada de posio, na perspectiva de escolher dar ateno s contradies decorrentes das relaes entre Estado e sociedade civil na prxis da Educao do Campo, discutindo-se, inclusive, sobre as prprias concepes de Estado que a possibilidade de que a sociedade civil organizada possa mudar a regra do jogo e criar uma contraconflituosa dentro do Estado, pois visa conduzir a uma meta especfica que universalizar o direito educao (no s para o campo) e definir uma poltica especfica que fornea elementos para uma ainda, que a hegemonia da classe dominante no deve impedir que se atue por dentro do Estado. e de participao na gesto pblica e no substituem a funo do Estado. As polticas resultantes mas o que garante o exerccio dos direitos a luta social e no a existncia das polticas.

as estratgias a seguir. No artigo, afirmamos a necessidade de se retomar Gramsci, considerando hegemonia. A ao poltica do movimento da Educao do Campo pode ser vista como uma posio nova epistemologia, para que todos caibam na educao superior (universalizao). Observamos, As polticas conquistadas fortalecem a luta dos movimentos, aumentam o grau de democratizao dessas aes podem ser interpretadas como a expresso dessa contradio entre os movimentos e o Estado. preciso no esquecer que a conquista de direitos se consolida nas polticas de Estado, Durante a realizao dos eventos, tanto na Plenria Geral, onde ocorriam as Mesas-

Redondas, quanto nos debates realizados nos Crculos de Produo de Conhecimento, outra pesquisas em Educao do Campo. A crtica ausncia do materialismo histrico dialtico como artigo da assessoria do CPC 5 ilustram parte dessa reflexo.

questo discutida foi sobre os referenciais tericos que orientam ou que devem orientar as mtodo mais pertinente Educao do Campo foi intensa, como tambm o foi a reao acerca da obrigatoriedade ou exclusividade de sua adoo. Os relatos trazidos na snteses do CPC 4 e no no debate coletivo predominou a valorizao da luta de classes e do compromisso da Educao De acordo com a sistematizao apresentada pelos membros do Comit Cientifico 5,

do Campo com um projeto de transformao social, cujo enfoque terico maior orienta-se a partir

do materialismo histrico-dialtico. A sntese final deste CPC registra, porm, a preocupao deEducao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

no se estigmatizar diferentes referenciais tericos, considerando que a pluralidade analtica pode enriquecer a produo do conhecimento e, consequentemente, as prticas educativas em desenvolvimento junto com povos do campo na conjuntura atual. Souza e Beltro refletem em seu artigo: Caminhando tambm nessa direo, ao analisar as questes discutidas naquele Crculo,Questionamo-nos: possvel dar ateno produo cientfica acerca das prticas educativas no campo, independentemente do enfoque terico-metodolgico? Certo sectarismo terico no poder levar ao empobrecimento das reflexes e das prticas? E poder, ao mesmo tempo, excluir do debate terico-prtico pesquisadores vinculados tambm a movimentos sociais com potencial para dar impulso luta da Educao do Campo. Existem vrias pesquisas que se fundamentam no iderio de Boaventura de Sousa Santos, de Pierre Bourdieu, de Raymond Wiliams, entre outros, que podem acrescentar interrogaes acerca da cultura dos povos do campo. Outros estudos do ateno s polticas pblicas e sociedade civil, fazendo uso de referenciais tericos que vo de Antonio Gramsci a Jurgen Habermas. O que eles acrescentam Educao do Campo, desses lugares tericos distintos? Valorizar a produo cientfica, mediante a identificao do rigor terico e do vnculo social, fundamental para o avano da Educao do Campo.

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analisarmos as questes l discutidas, no artigo nesta coletnea, ressaltamos a importncia de buscarmos uma postura cientfica no dogmtica, que estabelea o dilogo do materialismo histrico e dialtico com abordagens terico-metodolgicas compatveis entre si e que contribuam para a as de contradio e da totalidade, por exemplo. Destacamos ainda que, no plano epistemolgico, compreenso das contradies no campo, sem perder as categorias marxistas fundamentais, como

Este debate tambm se fez presente com muita fora no CPC da Educao Superior. Ao

importante e necessrio demarcar cada vez mais o territrio terico em que a Educao do Campo no seja dogmtica, mas coerente no uso do mtodo cientfico. fundamental o aprofundamento terico que contribua para a compreenso das diferenas entre os projetos histricos em disputa e a importncia da educao na construo desse projeto. Na perspectiva de alertar-nos sobre o risco de perdemos o foco e gastarmos tempo e

est se pautando, propor uma teoria do conhecimento ligada luta da classe trabalhadora, que

energia num debate terico sem fim, Caldart reafirma a importncia de termos clareza sobre a as prticas dos sujeitos camponeses, com as contradies da vida real no as restringindo ao importante, mas insuficiente, mbito das idias.

imprescindvel necessidade da manuteno do vnculo das pesquisas em Educao do Campo com Ainda quanto a esse aspecto da produo cientfica, tambm houve outro ponto recorrente

nos debates dos CPCs, que diz respeito prpria sistematizao das pesquisas apresentadas nos textos debatidos, com nfase na necessidade de fortalecimento terico-metodolgico das pesquisas em Educao do Campo. Diferentes relatos apontam a importncia de, como pesquisadores militantes,Apresentao

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estarmos mais atentos necessidade de qualificao e de superao das fragilidades apresentadas nas pesquisas na rea, sem perder as caractersticas fundantes da Educao do Campo. aprofundamento dos caminhos tericos e dos procedimentos metodolgicos que aparecem nos trabalhos, h a necessidade de qualificar os conceitos, as teorias do conhecimento e as teorias pedaggicas; de ir alm do descritivo; de qualificar o discurso da Educao do Campo. Tambm nessa perspectiva, no trabalho em parceria com Las Mouro S, observamos Na sntese do CPC 4, explicita-se essa crtica, ao se observar que, em relao ao

que est lanado o desafio trazido pela postura militante dos pesquisadores da Educao do Campo, pela tenso entre militncia, estudo e produo terica: uma questo metodolgica ideologicamente envolvido. Ressaltamos que a Educao do Campo demarca posies ideolgicas dentro da academia, explicitando a disputa de projetos de sociedade que, normalmente, fica encoberta pela recusa positivista em admitir os inevitveis pressupostos ideolgicos de toda utpico e o terico, o que expe as pesquisas a srios questionamentos epistemolgicos. que tem consequncias sobre a anlise crtica de situaes com as quais o pesquisador est

produo acadmica. No sentido inverso, a postura militante traz o risco da indiferenciao entre o sobre as necessidades, possibilidades e potencialidades presentes nos processos de produo do com sua presena, especialmente no mbito da educao superior. Outro aspecto extremamente relevante debatido, se expressa nos questionamentos

conhecimento, desencadeados a partir das prticas de Educao do Campo protagonizadas pelos sujeitos coletivos, nos espaos institucionais onde se desenvolvem os processos de escolarizao Essa uma das grandes contribuies que as prticas de Educao do Campo trazem para

o processo de produo do conhecimento cientfico. Ainda que alguns docentes e pesquisadores que com ela trabalham no tenham a intencionalidade de focar as mudanas nesses processos, a presena dos sujeitos coletivos em luta se impe e, em diferentes medidas, provocam a reviso de processos tradicionalmente institudos nos espaos universitrios. Trata-se de uma demanda e de uma perspectiva de construo bem mais ampla do que simplesmente reconhecer o saber popular. Conforme destaca Caldart, a democratizao do acesso ao conhecimento, demandada pela modo de produo do conhecimento, exigindo um vnculo orgnico entre conhecimento e valores, lgicas de produo e superando a viso hierarquizada do conhecimento prpria da modernidade capitalista. classe trabalhadora nas lutas da Educao do Campo, problematiza com radicalidade o prprio conhecimento e totalidade do processo formativo. Portanto isto implica a construo de outras

As questes hoje da construo de um novo projeto/modelo de agricultura, por exemplo, no implicam somente o acesso dos trabalhadores do campo a uma cincia e a tecnologias j existentes, exatamente porque elas no so neutras; foram produzidas a partir de uma determinada lgica, que a da reproduo do capital e no a do trabalho. Essa cincia e essas tecnologias no devem ser ignoradas, mas precisam ser superadas, o que requer uma outra lgica de pensamento, de produo do conhecimento.Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

4, observamos que preciso enfrentar a tenso existente entre o conhecimento acadmico e o conhecimento dos sujeitos do campo, a partir de uma viso objetiva sobre quem est produzindo conhecimento na educao superior (que sujeitos, nos cursos e na pesquisa) e como os sujeitos se apropriam e reorganizam esse conhecimento. No se trata de traduzir o pensamento do outro na linguagem cientfica; no se trata apenas de valorizar e respeitar; so diferentes dimenses de construo do real que passam por linguagens e prticas diferenciadas; so sujeitos com militncias e perspectivas de vida diferenciadas. Destacamos que indispensvel prtica de pesquisa na Educao do Campo considerar

Dialogando com essas questes, no artigo sobre os debates desenvolvidos no CPC

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o conhecimento produzido no modo de vida dos povos do campo e na prxis dos Movimentos Sociais. O confronto entre os projetos de sociedade exige que os trabalhadores no apenas dominem o conhecimento da cincia, mas que no abandonem outras referncias de produo de conhecimento construdas nas prprias prticas e lutas sociais. debates. No estamos num momento de snteses, muito ao contrrio. A complexidade das questes que as prticas e as pesquisas em Educao do Campo necessitam enfrentar diz respeito complexidade e ao tamanho do desafio que est posto para a superao do capitalismo e da barbrie e territrios, condio imprescindvel para uma perspectiva vitoriosa da vida sobre o lucro. que ele instala, no campo e na cidade, na sociedade nacional e internacional... Acumular foras Esperamos que esta publicao contribua com a continuidade desses to necessrios

para transformao social radical, reunir e articular sujeitos coletivos em luta, em diversos espaos militantes que se envolveram na organizao e na execuo dos eventos. A todos, nossa gratido: aos membros dos Comits Cientficos; aos assessores dos CPCs; aos expositores das Mesas-Redondas; aos de Educao do Campo e Desenvolvimento Rural da Universidade de Braslia. Expressamos nosso reconhecimento ao trabalho generoso e coletivo de muitos pesquisadores

mestrandos e doutorandos em Educao do Campo do Programa de Ps Graduao em Educao; e

especialmente s equipes do Grupo de Trabalho de Apoio Reforma Agrria e do Centro Transdisciplinar e ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, que apiam o Observatrio da Educao do Campo, a partir do qual promovemos o II Encontro Nacional de Pesquisa em Educao Brasileiro. Agradecemos tambm Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

do Campo e II Seminrio sobre Educao Superior e as Polticas para o Desenvolvimento do Campo Educao do Campo, da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade/MEC, e com o Ncleo de Estudos Agrrios/MDA, que juntos viabilizaram o apoio a esta publicao. Registramos o reconhecimento da frutfera parceria com a Coordenao-Geral de

Mnica Castagna Molina (Organizadora)

Apresentao

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PARTE I SNTESES FINAIS DOS CRCULOS DE PRODUO DE CONHECIMENTO - (CPC)

Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

CPC 1: EDUCAO DO CAMPO E DESENVOLVIMENTOFernando Michelloti, Jos Bittencourt da Silva, Nelia da Silva Reis, Orlando Nobre Bezerra de Souza, Salomo Mufarrej Hage* Romier Paixo de Souza** Leonilde Srvulo de Medeiros***

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de Conhecimento (CPC) 1, que foca a temtica Educao do Campo e Desenvolvimento, no mbito debates realizados durante a realizao do Encontro.

Este texto apresenta uma sntese preliminar dos 24 artigos1 aprovados Crculo de Produo

do II Encontro Nacional de Pesquisa em Educao do Campo. Apresenta tambm o resultado dos O referido crculo reuniu pesquisadores/as de todo o Pas entre os dias 6 a 8 de agosto deterritorialidade e educao no meio rural: entre o local e o global; transformaes tcnicas, ecolgicas, econmicas, produtivas e sociais que envolvem o desenvolvimento e a sustentabilidade do campo; impactos causados pela modernizao da agricultura e valorizao das formas de cultivo tradicionais praticadas no campo; saberes que as populaes do campo tm acumulado sobre o uso, gesto e sustentabilidade dos recursos naturais; polticas pblicas, programas e projetos de instituies governamentais e no governamentais e de organizaes sociais que envolvem a educao e a agricultura familiar, a economia solidria, a agroecologia e o ecodesenvolvimento.

2008, em Braslia, para discutir a temtica, aprofundando diferentes aspectos da questo, como:

do CPC e distribudos entre eles a partir de sistematizao prvia, a qual reuniu os trabalhos em Educao do Campo e Prticas Escolares; Educao do Campo e Saberes Locais; Educao do Campo, Juventude e Projeto de Vida; Educao do Campo e Sustentabilidade Socioambiental; Educao do Campo e Movimentos Sociais. De posse dos textos, os pareceristas realizaram novamente uma subtemas vinculados temtica geral do Crculo. So eles: Educao do Campo e Desenvolvimento;

Depois da inscrio no stio do evento, os artigos foram analisados pelos pareceristas

anlise, identificando em cada um dos artigos e no conjunto deles as tendncias temticas, o emergiram a partir dos textos analisados.

modo de construo do objeto, as abordagens metodolgicas, as linhas tericas e as questes que* Universidade Federal do Par (UFPA). ** Escola Agrotcnica Federal de Castanhal-PA. *** Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

1

CPC 1: Educao do Campo e Desenvolvimento

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neste texto, que foi produzido para ser submetido apreciao e ao debate dos/as pesquisadores/ elaborao desta sntese final.

Um processo de compatibilizao entre a anlise dos pareceristas foi realizado, resultando

as inscritos no CPC 1 durante o evento. Nesse processo, foram recebidas as contribuies dos

pesquisadores/as sobre os artigos aprovados, as quais foram incorporadas e subsidiaram a encontros da Rede de Estudos Rurais e foi assumido pela organizao do evento para oportunizar terico-metodolgicas levantadas em cada um dos trabalhos. Esse novo formato de tratamento e apresentao dos trabalhos j vem sendo adotado nos

uma interao mais significativa entre os autores/as dos artigos, nos momentos destinados apresentao dos trabalhos no evento, e o aprofundamento da discusso sobre as questes apresentao dos trabalhos tradicionalmente tm se materializado de maneira formal, em que cada um dos autores/as, utilizando de um tempo de 15 ou 20 minutos, expem seus trabalhos, situao comumente frustra os apresentadores, pois estes empreendem um grande esforo na socializao dos trabalhos. em uma mesa-redonda ou painel, composto por trs, quatro ou mais expositores, restando pouco tempo para o debate ou para os questionamentos acerca dos trabalhos apresentados. Essa produo das pesquisas e de sua exposio e esperam receber valiosas contribuies a partir da proceder em relao criao dos Crculos de Produo de Conhecimento e ao tratamento dos trabalhos dos pesquisadores qualifique as discusses, oportunizando o avano na produo de referncias tericas, metodolgicas e polticas que ofeream fundamentao aliana nacional Por uma Educao do Campo em seu protagonismo na luta pela garantia do direito vida com dignidade apresentando uma sntese das tendncias temticas evidenciadas nos artigos debatidos no CPC 1. H uma expectativa por parte da coordenao do evento, de que essa nova forma de De maneira geral, nos eventos acadmicos atualmente existentes, os momentos de

e educao de qualidade. Imbudos dessa intencionalidade, daremos prosseguimento reflexo,

1. Tendncias temticasdiferentes aspectos e dimenses da temtica geral. No exerccio de sntese, eles foram agrupados apresentando as tendncias temticas presentes em cada um dos subtemas. No subtema Educao do Campo, Juventude e Projeto de Vida, os textos expressam Os artigos submetidos ao CPC Educao do Campo e Desenvolvimento apresentam

em seis blocos, j mencionados. Neste momento, daremos sequncia anlise dos trabalhos temticas aproximativas, com reflexes desenvolvidas em processos sociais de pesquisa, no percurso profissional dos autores. No seu conjunto, constituem-se estudos srios, que desenham que emergiram das preocupaes dos autores sobre a realidade social primeira dcada do sculo 21, notadamente sobre educao e juventude do campo, ensino escolar e polticas pblicas de parte de um movimento educativo no campo, como produtos memoriais, de aporte etnogrfico, desenvolvimento. So estudos que emergem, em sentido geral, de algumas experincias de formaoEducao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

escolar e popular dos jovens do campo brasileiro. Esse ganho, no olhar de quem resume tal produo, teve a intencionalidade de passar por todos os tempos e momentos desses registros socioeducativos. Assim, para evidenciar a relevncia social de cada texto, e pela luta para articular outras polticas pblicas e projetos com autogesto dos jovens, necessrio pontuar alguns conceitos situados pelos autores desse subtema, conceitos esses que envolvem contextos conjunturais e estruturais evidenciam a responsabilidade social de apreender o sentido de estratgias econmicas, expressa-se que cada autor reforou reflexes que evidenciam a necessidade de que o dilogo para a/da/com a juventude do campo e formaes educativas. Vale ressaltar que essas produes polticas, culturais, ambientais do modelo de produo para o campo e pensar a produo do conhecimento para alm desse sentido e sua materializao. A partir dessa intencionalidade, entre conhecimentos acadmicos e saberes da juventude seja instaurado de forma dinmica, com consideraes aos valores e o reconhecimento de tecnologias locais de cada grupo social para dominante. contribuir com a integrao dos sistemas sociais locais e o alargamento de esferas pblicas para os jovens isso como ponto de partida para ultrapassar o sentido uniforme pretendido pelo sistema juventude do campo. Alguns conceitos trabalhados enriquecem o debate social, para contribuir Os registros procuraram problematizar e fazer um memorial sobre a atual situao da

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com a conquista da visibilidade e da participao qualificada do jovem trabalhador do campo. Assim, tais conceitos primam por clamar para serem ouvidos os sujeitos do campo, valorizar seu sentido e suas instncias coletivas, suas organizaes associativas, enfim, suas particularidades e diversidades. Ou seja, a educao do jovem do campo, para alm do espao escolar, no lugar social que emerge da realidade social, como expresso da Educao do Campo na sua interdependncia entre particularidade e universalidade, por outro desenvolvimento, por polticas pblicas de desenvolvimento e Educao do Campo. Os resultados pontuam o estado de tenses, conflitos, embates e pontuam perspectivas, demandas e desafios contemporneos desses sujeitos. So nem idealista, mas sim nos contextos histricos. So expresses textuais que pontuam as potencialidades da juventude como uma das referncias institudas e instituintes da transformao econmicas, polticas, culturais. expresses que assinalam dinmicas e inter-relaes tratadas de uma forma no naturalizada, social. Essa juventude importante ator social e suas aes, pensamento e projetos de vida so significativos, para se ter uma compreenso dos processos sociais em todas as suas dimenses No subtema Educao do Campo e Sustentabilidade Socioambiental, os textos so

ensaios analticos ou produes tericas que podem subsidiar pesquisas empricas. So trabalhos tericas mais consistentes para oferecer uma viso mais substantiva e pertinente que alicerce a

que tm mrito cientfico-acadmico; no entanto, em sua maior parte, precisam de reflexes caminhada da Educao do Campo. A abordagem sobre o desenvolvimento sustentvel aceita, mas com ressalvas. A sustentabilidade se insere no mbito poltico, social, cultural, econmico maior parte, os cinco textos analisados no fazem aluso a isso. Para os autores, o Estado um e dos recursos naturais, ficando ausente a discusso sobre os aspectos institucionais, afinal, na ente intrinsecamente negativo e que freia o avano das lutas da sociedade para o alcance de umCPC 1: Educao do Campo e Desenvolvimento

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horizonte democrtico, o que pode significar que, na construo do desenvolvimento sustentvel dentro de uma perspectiva democrtica, o Estado e suas expresses institucionais no estariam presentes. elementos gerais sobre a relao entre a Educao do Campo e o processo de desenvolvimento local em diferentes municpios nos Estados do Par, Paraba e Bahia. Os focos dos artigos giraram No subtema Educao do Campo e Movimentos Sociais, os artigos analisados trazem

em torno da construo social de espaos de formao/educao por diferentes grupos sociais do campo e suas implicaes no processo de desenvolvimento local. Dois textos abordam as Escolas analisam o papel das EFAs no desenvolvimento e as contribuies da formao/escolarizao para do capitalismo no campo e suas implicaes para as populaes rurais, destacando a construo Famlias Agrcolas (EFAs) como possibilidades de mudana da educao no campo e sua influncia na efetivao de um processo de desenvolvimento endgeno das populaes locais. Os textos a vida e o trabalho dos sujeitos do campo. Os dois outros textos refletem sobre o desenvolvimento de resistncia social a partir da implementao de espaos de formao/escolarizao geridos e com linhas poltico-pedaggicas que se contrapem ordem vigente. Os textos trazem o debate sobre a territorializao das aes do movimento e a disputa entre projetos de desenvolvimento diferentes proporcionados pelas polticas pblicas, historicamente implementadas no Brasil. coordenados por essas populaes a partir da constituio de Movimentos Sociais organizados e

nfase reflexo conceitual sobre desenvolvimento, apenas indicando interfaces com a discusso da educao e da Educao do Campo, em particular. Embora deixem pistas importantes para a necessidade da reflexo sobre essa interface, no aprofundam o debate de maneira mais explcita. pesquisas de campo, embora apresentem dados secundrios que ilustram suas teses. Como foco Os trs artigos so reflexes de cunho terico e conceitual, no trazendo resultados empricos de principal, a categoria desenvolvimento foi tratada segundo uma perspectiva crtica, construda a partir de uma anlise histrica que evidenciasse a impossibilidade de se compreender o conceito de desenvolvimento e apresentam o desenvolvimento capitalista como a nica forma possvel e reflexes apresentadas foi o da sustentabilidade ambiental. de desenvolvimento descontextualizado da sociedade capitalista, ou seja, de uma sociedade de classes e contraditria. Os artigos procuraram desmascarar as vises que naturalizam o conceito desejvel, tanto em suas verses mais gerais como nas verses mais recentes, que incorporam a preocupao com o chamado desenvolvimento sustentvel. Alis, o recorte mais recorrente nas No subtema Educao do Campo e Prticas Escolares, as questes tericas levantadas

No subtema Educao do Campo e Desenvolvimento, os trs artigos analisados do mais

e debatidas so muitas. Sinteticamente, pudemos ver que os artigos lidos mostram que o espao educacional no privilgio somente da escola. Ele o lugar da vida e do trabalho: a casa, a oficina, o templo, o barco, a floresta, a casa de farinha, o quintal. Espao que rene pessoas e tipos que dura a vida inteira e que no se restringe mera continuidade, mas supe a possibilidade de rupturas pelas quais a cultura se renova e o homem faz a histria. A gesto democrtica constituiEducao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

de atividades e onde o viver e o fazer fazem o saber. A educao , portanto, fundamental para a

humanizao e a socializao do homem e da mulher. Podemos afirmar que se trata de um processo

um dos grandes desafios da Educao do Campo, pois sem o esforo coletivo dos usurios, no empenho de solucionar as situaes mais simples ou complexas, no h como ser democrtica. Num processo de gesto democrtica transparente, essencial que a relao escola/comunidade das escolas. H necessidade de se fazer um trabalho na base sobre a relevncia dos papis a A Pedagogia da Alternncia se constitui uma alternativa vivel para a organizao do ensino pblico no meio rural. funcione e que os sujeitos assumam o papel de decidir os rumos polticos, pedaggicos e financeiros serem desempenhados, para que todos se sintam parte desse cenrio e no meros coadjuvantes. No subtema Educao do Campo e Saberes Locais, os artigos analisados enfatizam aspectos

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da importncia dos saberes e das prticas das populaes do campo, tidas como tradicionais, que no possuem nenhum ou precrio atendimento de organizaes governamentais. Alm dos

populares ou no cientficas, mas que apresentam uma funcionalidade incomensurvel para aqueles saberes e das prticas medicinais ou curativas, h artigo que enfatiza aspectos nutricionais e de segurana alimentar em comunidades rurais, mostrando a importncia das atividades agrcolas e ministrada em cursos profissionalizantes ou da escola formal. Para alm dos debates acadmicos, legitimidade a todos/as aqueles/as envolvidos diretamente com esses saberes tcitos, construdos e passados de gerao em gerao. pecurias ambientalmente sustentveis para a sade comunitria. Nesse particular, foi enfatizada a Agroecologia como alternativa importante, inclusive como rea insterdisciplinar para ser v-se que existe clara necessidade de aes coordenadas por parte dos vrios sujeitos polticos, sociais, educacionais, cientficos etc., no sentido de dar visibilidade, credibilidade, legalidade e

2. Modo de construo do objeto: abordagens metodolgicasindividuais, em duplas e grupais. Resultam de atividades diversas, tais como: relatrio de pesquisa, debates tericos, partes de monografias, dissertaes de mestrado, teses de doutorado e outros. So trabalhos baseados em pesquisas bibliogrficas, documental e/ou de campo, fortemente pesquisa-ao, anlise de discurso, histria de vida etc.) e primam pela exposio e pela anlise de temticas relacionadas Educao do Campo, ao desenvolvimento e aos Movimentos Sociais. marcados por vieses qualitativos de recolhimento das evidncias (entrevistas, observaes, Precisamente, percebeu-se que so artigos que expem e analisam, entre outras Os artigos concernentes ao CPC 1 (Educao do Campo e Desenvolvimento) so trabalhos

coisas, discursos de sujeitos sociais, imagens fotogrficas de pessoas e ambientes, figuras como mapas e croquis, alm das referncias dos autores que compem o arcabouo terico-conceitual constituintes de trabalhos publicados por organizaes estatais ou no governamentais, ou seja, analisados.

das discusses. Note-se que quando se percebe a utilizao quantitativa de dados, estes so so usados como citaes que buscam corroborar afirmaes acerca dos objetos percebidos e

CPC 1: Educao do Campo e Desenvolvimento

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3. Questes que emergiram a partir dos textos analisadosSubtema: Educao do Campo, Juventude e Projeto de Vida 1) H escassez e at ausncia de polticas pblicas para a juventude do campo, ou seja, existe certa invisibilidade institucional do protagonismo da juventude do campo. 2) Existe hoje uma violncia cultural, patrimonial e material sobre os jovens do campo. 3) H necessidade de se garantir visibilidade s demandas especficas da juventude campesina, que deseja implementar seus projetos de vida, ter uma formao escolar condio social e econmica. adequada sua condio de jovem do campo, ter autoestima e orgulhar-se de sua 4) A educao, a educao escolar, o trabalho/a tecnologia, a cultura etc. so elementos centrais para a realizao de projetos de vida no/do campo. 5) A alternativa para viabilizao das demandas juvenis do campo somente ser possvel estatais, na busca pelo planejamento, implementao e monitoramento de polticas pblicas voltadas educao escolar, cultura, ao lazer, ao transporte, ao trabalho etc. Subtema: Educao do Campo e Sustentabilidade Socioambiental 1) O desenvolvimento sustentvel, dentro de vieses polmicos e conflituosos, se constitui impactos amplos, globais e articulados. em dimenso fundamental a ser construda a partir de espaos locais, democrticos e 2) necessrio o aprofundamento dos diferentes aspectos do desenvolvimento hegemnicas atualmente em voga. e espaos territoriais. com a organizao e a ao coletiva dos jovens para se fazerem presentes nas instituies

participativos, no sentido de alcanar o conjunto da sociedade, o que pode engendrar sustentvel, como a dimenso significativa da Educao do Campo, na caminhada para a construo de proposies avanadas, democrticas e alternativas s configuraes 3) A Educao do Campo deve alcanar um sentido amplo, para assim se tornar importante suporte para a construo de proposies e de prticas educativas em diferentes reas 4) No processo de aprofundamento e de consolidao da Educao do Campo necessrio um esforo mais intenso dos estudos sobre as diferentes formas de trabalho pedaggico, a partir das especificidades e particularidades espaciais e locais. 5) Os textos avaliados no subtema Educao do Campo e Sustentabilidade Socioambiental apontam para a necessidade de realizao de investigaes empricas que acompanhem os processos educativos que vm se realizando, no intuito de analisar os efetivos impactos e os desdobramentos para os segmentos sociais envolvidos.

Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

Subtema: Educao do Campo e Movimentos Sociais 1) Em que medida as aes localizadas (espao micro) tm influenciado na construo efetiva do desenvolvimento para as populaes do campo? partir das escolas do campo? 2) Como vm sendo realizados o debate e a construo de prticas de uma nova matriz tecnolgica que d suporte mudana da concepo de desenvolvimento do campo, a 3) Existe ainda um certo distanciamento entre o discurso terico de uma Educao do Campo e a realizao prtica dele em uma experincia concreta. 4) Historicamente, o processo de desenvolvimento social no campo, particularmente no que tange questo agrria nacional e implementao de polticas pblicas nesse setor, beneficiou o desenvolvimento do capitalismo no campo, assim como o processo de excluso social que este vem ocasionando.

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Subtema: Educao do Campo e Desenvolvimento 1) No existe um desenvolvimento natural da sociedade, pois este fruto das contradies e dos conflitos existentes em cada momento histrico. de alternativas possveis, o que lhe confere o carter hegemnico. 3) Os pobres so os mais afetados pela problemtica ambiental. a biodiversidade e a diversidade cultural. 2) No entanto, na sociedade contempornea, assiste-se a uma naturalizao do desenvolvimento de tipo capitalista, impregnada de um sentido ideolgico de ausncia 4) A uniformizao da produo agrcola e silvicultural pelo capitalismo no campo elimina 5) No campo, a educao rural sempre teve por retaguarda ideolgica uma viso elitista, fundamentada numa realidade oligrquica e latifundiarista que, alm das carncias e A escola rural, dessa maneira, acaba sendo um grande estmulo migrao e ao abandono limitaes de recursos e de infraestrutura, atua no sentido de negao do prprio campo. do campo, bem como destruio dos modos de vida das populaes tradicionais e dos saberes por elas produzidos. Esses aspectos fazem parte de um processo mais amplo de modernizao do campo, marcadamente assentado na expropriao e na proletarizao dos trabalhadores rurais.

Subtema: Educao do Campo e Prticas Escolares 1) H a necessidade de se distinguir a educao rural da Educao do Campo para fortalecer o conceito desta ltima. 2) Os Movimentos Sociais podem e devem ser vistos como referncias importantes para poltica curricular e seus desdobramentos no cotidiano da escola. o processo de desenvolvimento, o qual se materializa na gesto, no planejamento, nos

contedos, nos recursos didticos e no currculo da escola do campo, tendo como foco a

CPC 1: Educao do Campo e Desenvolvimento

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3) A pedagogia da alternncia pode constituir-se uma alternativa interessante a ser

utilizada no processo de escolarizao do meio rural, pois utiliza uma metodologia de ensino-apredizagem que oportuniza meios para que o agricultor torne-se, na perspectiva criando suas prprias condies de trabalho, a partir da vivncia que ele ou ela tem do conhecimento de que capaz de gerar. que a Casa Familiar Rural (CFR) est inserida. da economia popular solidria, um agente comunitrio, um agente multiplicador de tcnicas inovadoras para o desenvolvimento do lugar onde ele ou ela est inserido,

4) No existe alternncia sem uma integrao da famlia e do meio socioprofissional em 5) O agricultor integrado agroindstria no se reconhece no processo de trabalho. Primeiro, por produzir uma nica cultura, que no serve para satisfazer suas necessidades vitais e, depois, porque produz com alto ndice de fertilizantes, venenos, sementes modificadas, em suma, tecnologias que no aliviam sua atividade, mas, pelo contrrio, exigem uma intensificao das jornadas de trabalho. Isso remete ampliao do de um pacote de tecnologias que aparentemente facilitam o trabalho, mas que, em sua atender qualidade exigida na produo para o capital transnacional. Subtema: Educao do Campo e Saberes Locais 1) Os saberes das populaes do campo sobre plantas, razes, resinas, leos etc., associados s prticas religiosas e s tecnolgicas, tm sido, em grande medida (e s vezes, as nicas), alternativas comunitrias para a resoluo de problemas de sade. saberes s novas geraes. 2) Historicamente, essa tecnologia social esteve ligada preponderantemente s mulheres que preparam remdios e unguentos fitoterpicos, cultivam plantas e ensinam seus 3) A construo da cincia moderna, calcada na racionalidade institucional e no androcntrismo ocidental, sufocou os saberes populares, baseados na tradio e nos costumes passados de gerao a gerao por meio de prticas cotidianas e pela oralidade. Esse processo de legitimao do conhecimento cientfico, em detrimento dos saberes populares, levou ao anonimato as pessoas mais envolvidas com essas tecnologias sociais, sobretudo as mulheres, que historicamente detiveram saberes sobre plantas, 4) Muito se tem pesquisado sobre o assunto. Cabe agora buscar alternativas viveis ao no se faz presente, nem mesmo precariamente. reconhecimento institucional desses saberes e prticas, como, por exemplo, o importante razes, cascas, sementes, leos etc., utilizados na preveno e na cura de enfermidades. trabalho desenvolvido pelas parteiras naqueles locais onde o Sistema nico de Sade 5) H a necessidade de se repensar a relao entre conhecimento cientfico e saber popular ou tradicional e de quebrar os paradigmas que separam o modo de conhecimento nem escritos em anais, livros, artigos cientficos e similares.Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

trabalho, no fundamentada na relao de assalariamento, mas na forma de insero essncia, o ampliam sem limites, pelo fato de que os agricultores integrados necessitam

cientfico do conhecimento tcito, ou seja, daqueles saberes e prticas no sistematizados

4. Perspectivas a partir do debate no CPC 1: Desenvolvimento, Estado e estratgias para a consolidao da Educao do Campoparcial da sntese elaborada pelos pareceristas e, logo ao final do primeiro bloco, o debate focou a natureza da sntese elaborada e como cada um dos participantes se via retratado nela. do documento inteiro e, depois, pela discusso de alguns termos-chave que percorriam a temtica do grupo e permitiram maior aprofundamento dos temas tratados no conjunto dos trabalhos. ele nomeia o CPC. Foram discutidos os seguintes aspectos: Assim, decidiu-se que a discusso comearia pelo tema Desenvolvimento, uma vez que Desenvolvimento uma palavra carregada de sentidos os mais diversos. Originou-se na Biologia, foi incorporado pela Economia e, aos poucos, foi se adjetivando (econmico, remete a processos sociais. social, sustentvel, capitalista, local, territorial, humano etc.) para dar conta de diferentes dimenses. Essa adjetivao resultado da prpria impreciso do termo. Desenvolvimento O desenvolvimento tem uma dimenso tecnolgica, mas no pode ser reduzido a ela. Considerando que esse no seria o melhor rumo para a discusso, optou-se pela leitura O CPC 1, no primeiro dia do encontro, abriu o debate entre os autores com a leitura

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necessrio incorporar as dimenses de modo de vida, de valores, de cultura. No se pode desprezar conquistas que facilitaram a aproximao e a comunicao entre os produtivo. Tambm no se pode apagar a diversidade dos grupos sociais. do desenvolvimento. O debate sobre desenvolvimento colocou em pauta dois outros temas: a) quem so os grupos sociais, os pases, as pessoas, ou que tornaram o trabalho menos penoso e mais beneficirios dos processos relacionados ao desenvolvimento; e b) quem so os sujeitos Em nossa sociedade, disputam-se os sentidos, as direes e a amplitude do disputa entre grupos que buscam dar-lhe direo. compreender e de atuar no mundo. Pensar o desenvolvimento sob essa perspectiva implica incorporar a diversidade de situaes, as particulares de cada um dos grupos, seus valores, suas formas de Pensar o desenvolvimento no opor campo/cidade. Muitos dos que esto nas trocas (desiguais), mas os trabalhadores do campo no incorporam simplesmente os valores urbanos. Eles os filtram por meio de suas experincias. Esse processo precisa mas de relaes que se potencializam, por migrao de ida e vinda, pela ao dos meios de comunicao etc., e tambm pelas lutas polticas e pelas mediaes institucionais. desenvolvimento, o que leva a pensar o desenvolvimento sob uma perspectiva poltica de

periferias urbanas podem ambicionar voltar para o campo. Campo e cidade devem ser

analisados em sua dimenso relacional, em sua simbiose. No h homogeneizao. H ser melhor analisado para se entender qual o campo de que se fala, quando se aborda o

desenvolvimento. fundamental entender que no estamos falando de um campo isolado,

CPC 1: Educao do Campo e Desenvolvimento

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Da mesma forma, pensar o desenvolvimento significa pensar a diversidade de grupos e tambm a diferenciao intergrupos: homens, mulheres, crianas, jovens, idosos etc. Importante no debate sobre o desenvolvimento pensar a educao como um processo permanente, que vai alm do processo de escolarizao (mas que o inclui) e integracional. envolve homens, mulheres, crianas, jovens, idosos etc. Nessa perspectiva, a educao abarca tambm a experincia de transmisso de valores e de conhecimentos de forma No segundo dia de encontro do CPC, foram discutidos dois grandes temas: Educao e Educao e Desenvolvimento: chamou-se a ateno para a necessidade de se olhar a produo do conhecimento e diferentes geraes, colocando a questo de como

Desenvolvimento e Estado e Polticas Pblicas. Entre as falas levantadas, pode-se destacar o que segue:

educao como um processo que vai alm da escola e da infncia/juventude. Enquanto processo de transformao, a educao envolve diferentes fontes e processos de resgatar a experincia de lutas, de organizao, os vrios saberes acumulados ao longo processo educativo adultos e idosos. Ainda sob essa viso relacional entre educao e desenvolvimento, o CPC discutiu a relao entre educao e sustentabilidade. Foi

das geraes. Isso impe tambm pensar numa perspectiva geracional, que envolva no discutida a impossibilidade de sustentabilidade no capitalismo e os riscos de extino que no s animais e vegetais sofrem como tambm a prpria espcie humana. Isso implica fazer uma crtica radical ao modo de produo capitalista, como condio fundamental para garantir um desenvolvimento sustentvel e uma nova relao homem/natureza. Falar em sustentabilidade implica falar da erradicao da pobreza. Discutiu-se tambm a importncia de se pesar o desenvolvimento numa perspectiva histrica, tendo sempre como norte a incorporao da diversidade.

Estado e Polticas Pblicas: as discusses do CPC sobre esse tema foram marcadas por apareceu, para alguns do grupo, como algo separado da sociedade, instrumento de poder pois quando ele incorpora demandas que emergem das lutas sociais para cooptar os Movimentos Sociais e suas organizaes e, com isso, destru-los por dentro, sem precisar

leituras diferentes do significado e do papel do Estado e das polticas pblicas. O Estado da classe dominante. Sob essa perspectiva, no cabe demandar polticas ao Estado, usar a represso. Prxima a essa proposta, foi discutida a importncia de se valorizar as diferentes formas de autogesto que sobrevivem sem o Estado. o caso de cooperativas, experincias internacionais, como o caso do movimento zapatista, que autogestiona seu territrio. De acordo com essa perspectiva, o tema central de uma discusso experincias de forma a que os homens possam produzir sua existncia sozinhos, sem o capacidade de planejamento. sobre desenvolvimento seria o papel da educao, no sentido de impulsionar essas Estado. A autogesto supe sujeitos formados para a sociedade, para a democracia, com de experincias de gesto autnoma de fbricas por trabalhadores. Lembraram-se, ainda,

Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

pblicas e do Estado. Embora reconhecendo que o Estado como um todo favorece os interesses da reproduo do capital, alguns participantes acentuaram que ele no pode ser tratado como colocadas no seio da sociedade, em especial pelas lutas que ocorrem e pelos Movimentos Sociais, Elas so portadoras de uma historicidade que revela os conflitos que lhes so subjacentes, caso elas podem provocar. Os defensores dessa posio acentuaram que, no por acaso, as polticas

Em outra posio, alguns participantes do CPC afirmaram a importncia das polticas

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algo fora da sociedade, uma vez que ele a manipula e destri sua capacidade criativa. Sob essa viso, fundamental pensar Estado e a sociedade em relao dinmica. Diversas questes acabam sendo incorporadas pelo Estado, embora filtradas pela institucionalidade, pelas leis, pelos no se fique apenas na aparncia. Essa leitura valoriza as polticas pblicas, entendendo-as como expresso de disputas polticas que ocorrem no interior do Estado, e as mudanas moleculares que pblicas ocupam uma parte importante da agenda dos Movimentos Sociais. Sob essa perspectiva, a educao, por exemplo, um dever do Estado e no se pode abrir mo desse direito. O mesmo deve etc., uma vez que os recursos do Estado so pblicos e devem ter seu uso disputado. ocorrer com as polticas de sade, de defesa dos direitos trabalhistas, de crdito para produo marxista ou leninista, pois a referncia desses autores era a um Estado de outro tempo histrico. Falou-se, ainda, da importncia de historicizar o conceito de Estado segundo a verso interesses dominantes. Assim, as prprias instituies estatais acabam sendo objeto de disputa.

O Estado contemporneo dotado de outra complexidade, tem uma institucionalidade multifacetada e atua de diversas formas e sobre diferentes esferas da vida social, por vezes, inclusive, de forma contraditria. O exemplo dado foi o dos quilombolas da base de Alcntara, que so apoiados pelo Ministrio do Meio Ambiente, mas no pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio. consideradas como o fio condutor para a continuidade das discusses:

O debate realizado no mbito do CPC 1 fez emergirem duas questes que podem ser a) Na medida em que o capitalismo provoca a segmentao da classe trabalhadora, qual afirmar, as diferenas ou especificidades?

o papel da Educao para a construo de sua unidade, sem desconsiderar, ou mesmo b) As discusses do grupo, consideradas por alguns participantes muito tericas, essa perspectiva, chamou-se a ateno para a importncia de recuperar experincias componente educativo capaz de dar visibilidade s populaes que vivem no campo. abstratas, deixaram de lado temas concretos que permitiriam abordar a prtica cotidiana dos professores e levar-lhes orientaes para sua atuao nas escolas. Sob locais, em especial as experincias sociais dos diferentes grupos humanos, como um

CPC 1: Educao do Campo e Desenvolvimento

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CPC 2: FORMAO E TRABALHO DOCENTE NA ESCOLA DO CAMPOSeminrio. Nossa inteno foi sistematizar as informaes indicando alguns pontos convergentes e algumas questes para iniciar e fomentar a conversa. Utilizamos como referncia o roteiro de anlise elaborado pela coordenao do Seminrio em parceria com os representantes dos CPCs. trabalho dedicado e comprometido dos pesquisadores. Da nossa tarefa, podemos dizer que foi prazerosa e tambm difcil. Em muitos momentos, Apresentamos a sntese elaborada a partir dos trabalhos aprovados para apresentao no

sentimos a delicadeza de ler, analisar, selecionar e sistematizar textos produzidos a partir do anunciando alguns pontos debatidos durante o Seminrio. O texto est estruturado em itens. Em alguns, acrescentamos um subitem questo

Nmero de trabalhos recebidos e selecionadosprocesso de seleo, foram utilizados os seguintes critrios: tema pertinente ao CPC; adequao as exigncias do Edital; resultado de pesquisa em andamento ou concluda; estrutura do texto. Dos 44 trabalhos apresentados, 30 foram selecionados para discusso no CPC. No

Autoriaindividual. Nos casos de monografia, dissertao e tese, h indicao do nome do(a) orientador(a), quando indicado no texto que o trabalho foi feito em coautoria. Para classificar o trabalho como coletivo, levamos em conta a indicao de que o trabalho foi realizado em parceria. Individual 16 6 8 A maioria dos trabalhos selecionados foi realizado por um(a) pesquisador(a) de forma

mas consideramos o trabalho como individual. Para a sistematizao, consideramos como grupo

Parcerias Institucionais

Grupo de pesquisa

Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

Questo Um significativo nmero de trabalhos produzidos por mais de uma pessoa no explicita a natureza da parceria.

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Tipo de pesquisadesenvolvidas com outra natureza, que aqui denominamos de profissional. Consideramos como pesquisa profissional aquela que produzida por pesquisadores como parte de suas atividades profissionais em instituies de ensino e pesquisa. Monografia Tese 1 Os trabalhos selecionados so, em sua maioria, oriundos de dissertaes e de pesquisas

Dissertao Profissional

12 14 3

Instituies representadasno mbito de instituies de ensino superior brasileira. Alguns aspectos a serem destacados: significativa de pesquisas realizadas em universidades localizadas nas regies Norte e Nordeste de educao No conjunto, os trabalhos aprovados no CPC so oriundos de pesquisas realizadas

o predomnio de trabalhos oriundos de universidades federais em campi do interior; a presena

do Pas; alm da natureza interinstitucional dos projetos, envolvendo universidades e secretarias

Questo Na maioria dos trabalhos, faltam informaes sobre a vinculao institucional do e tese), bem como as fontes de financiamento. comunitria). pesquisador, a instituio qual se vincula a pesquisa (no caso de monografia, dissertao Faltam tambm informaes sobre as instituies (localizao, pblica/privada/

CPC 2: Formao e Trabalho Docente na Escola do Campo

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Temas/focostratam de mais de um tema e de vrios focos. H trabalhos que fazem articulao entre programas pblicos e formao docente e sobre os impactos na prtica pedaggica. Muitos trabalhos tratam das classes multisseriadas no que diz respeito formao e prtica docente. As condies de de formao e na prtica enfatizada em alguns trabalhos. Os saberes docentes se constituem como focos/objetivos em um expressivo nmero de pesquisas. TEMAS Formao Poltica Pblica Gesto Escolar Movimentos Sociais Classes 4 1 1 2 FOCO trabalho so focadas por vrias pesquisas. Aparece tambm a preocupao com a pesquisa como instrumento de formao e de prtica pedaggica. A presena dos Movimentos Sociais no processo Os trabalhos apresentados abordam diferentes temticas e focos. Em sua maioria,

Poltica Pblica Prover

2 2 1 1 2 1 1 1

Formao continuada Organizao do trabalho docente na Escola Ativa

Escola Itinerante e Ciranda Currculo e Prtica docente

Multisseriadas Educao Profissional Cultura

3

Formao docente Escola Ativa Heterogeneidade

1

1

Implantao na comunidade Currculo e identidade Experincias locais e ao educativa Sexualidade Organizao do trabalho pedaggico Educao Infantil Leitura em EJA

1 1

Prticas Pedaggicas

7

TOTAL

Questo

20

Conhecimento e realidade escolar

Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

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A maioria dos trabalhos no define um tema. Predomina uma descrio mais ampla do que vai ser estudado e a indicao de vrios focos articulados. a precarizao da formao. do Campo. Os trabalhos ultrapassam a ideia de relatos de experincias bem-sucedidas e enfatizam H nfase nas prticas pedaggicas como reflexo da formao docente em Educao H ausncia de socializao de experincias na perspectiva da Educao do Campo que expressem avanos. Olhar muito direcionado para a escola, faltando sua ampliao para a leitura das polticas pblicas e dos Movimentos Sociais. Pouco incentivo pesquisa. Perspectivas: nfase na formao, que ter impactos futuros nas prticas pedaggicas.

ObjetivosEducao do Campo. Em quase todos os trabalhos aparece a preocupao em contribuir para a construo da De maneira geral, os objetivos so anunciados como: descrever e compreender

experincias (Escolas Itinerantes, Programa Saberes da Terra); conhecer os impactos da escola profissionalizante na vida dos agricultores; conhecer alternativas adotadas pelo professor na atuao com classes multisseriadas; conhecer e analisar os impactos no trabalho docente, a partir estudantes do curso superior no processo de transio entre o campo e a cidade. utilizao de termos como explicar, definir, analisar. Questo se confundem com o foco do trabalho. apresentados. Na maioria dos trabalhos, os objetivos no esto definidos com clareza e muitas vezes Algumas vezes os objetivos esto anunciados, mas no se articulam com os resultados da implantao do Programa Escola Ativa; apreender o significado que os docentes atribuem ao processo de formao; compreender o processo de conservao e/ou de mudana dos saberes de Observa-se a presena dos termos conhecer, compreender, apreender, descrever e pouca

CPC 2: Formao e Trabalho Docente na Escola do Campo

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Construo do caminho terico/metodolgicoa) Natureza da pesquisa e instrumentos caso, etnografia e pesquisa-ao). Em alguns casos, a definio como etnografia no se vincula prtica de observao e vivncia no espao de pesquisa. compreenso mais particularizada dos sujeitos (histrias de vida, entrevistas, grupos focais). mais coletiva (grupo focal, grupo de anlise da situao educativa, oficinas educativas). Duas pesquisas articulam dados estatsticos com instrumentos voltados para uma Algumas pesquisas anunciam procedimentos de produo de informaes de dimenso A maioria das pesquisas no apresenta uma descrio detalhada dos referenciais tericos Um expressivo nmero de trabalhos anuncia-se como pesquisa qualitativa (estudo de

e metodolgicos, bem como do uso dos instrumentos. A utilizao da entrevista, do grupo focal, Em quase todos os trabalhos, observa-se o uso de mais de um instrumento. H trabalhos que no explicitam os instrumentos utilizados. com outros procedimentos.

da observao, do questionrio, entre outros, citada, mas com escassa reflexo sobre estes. Algumas pesquisas so de natureza documental. Outras associam a pesquisa documental Observa-se que a maioria dos trabalhos no faz referncia aos procedimentos utilizados b) Territrios da pesquisa Dimenso geogrfica presena de muitos trabalhos realizados em escolas situadas em outros espaos do campo: 2 pesquisas que abrangem um Estado inteiro; 2 pesquisas em mais de uma escola; 6 pesquisas abrangem uma escola; 5 pesquisas que abrangem mais de um municpio; 11 pesquisas em assentamento e acampamento; A maioria das pesquisas foi realizada em assentamentos e acampamentos. Observa-se a

para sistematizar e analisar as informaes produzidas.

4 pesquisas focam projetos (Pedagogia da Terra) e documentos. c) Sujeitos estudantes do curso Pedagogia da Terra, agricultores, gestores e tcnicos constituem os sujeitos de expressivo grupo de pesquisas. Documentos pblicos tambm se constituem objeto de algumas pesquisas. Ressalte-se que apenas as pesquisas com estudantes do curso de Pedagogia da TerraEducao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

Nos trabalhos selecionados, predomina a interlocuo com professores. No entanto,

lidam somente com um sujeito; nas demais aparecem mais de um. Ouvem-se os professores e os Poucos trabalhos ouvem os alunos. campo.

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agricultores, os professores e os gestores. Analisam-se documentos e entrevistam-se professores. Um bom nmero de trabalhos investiga os significados da escola para os sujeitos do Questo metodolgica, terica e conceitual dos objetivos e da produo dos resultados. d) Referncias tericas e metodolgicas Pblicas-financiamento; histria da educao rural no Brasil. Manano, Miguel Arroyo). As pesquisas apresentam trs grandes referenciais: Educao do Campo; Polticas A maioria dos trabalhos usa as referncias da Educao do Campo (Resoluo do CNE Um nmero expressivo de trabalhos se refere legislao educacional (LDB, Parmetros As referncias mais citadas so: Tomas Tadeu, Libnio, Saviani,. Neidson Rodrigues, A presena de sujeitos diferentes na pesquisa traz desafios para a construo

e/ou os Cadernos de Educao do Campo Roseli Caldart, Mnica Molina, Edgard Kolling, Bernardo Curriculares, Estatuto da Criana etc.) e histria da educao rural no Brasil.

Tardif, Nvoa, Regina Leite Garcia, Paulo Freire, Carlos R. Brando, Abramovay, Veiga, Carneiro, Franco, Lessard, Moscovici, Bahba e Gertz.

Jos de Souza Martins, Marx e Engels, Mszros, Pistrak, Boaventura, Gramsci, Vygotsky, Bardin e cclicas das polticas pblicas (modelo ingls). H referncias a histrias de vida, histria oral, a biografias, etnografia, a abordagens Um expressivo nmero de trabalhos parte da matriz marxista, utilizando categorias como

capital/trabalho e suas ressonncias na experincia em estudo. Questo

A maioria dos trabalhos cita referncias relativas ao tema e ao foco do estudo. Por exemplo: quando nos referimos a Arroyo, de que Arroyo estamos falando? Como os autores citados so apropriados pelos pesquisadores?

Observa-se uma ausncia significativa de referncias em termos metodolgicos. Quando os autores so citados, so sempre em referncia ao mesmo trabalho?

CPC 2: Formao e Trabalho Docente na Escola do Campo

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e) Problematizao Predominam: no distino entre os sujeitos do conhecimento e o objeto estudado; denncia da situao de precarizao da Educao do Campo; interpretaes valorativas (certo/errado; bom/ruim); prescrio de aes para a escola, os professores e o poder pblico; a melhoria da qualidade da escola, a possibilidade de uma transformao social pela educao. Questo De maneira geral, observa-se que, tomando como referncia a problematizao, os trabalhos podem ser classificados em dois grupos: um grupo que descreve e analisa experincias consideradas bem-sucedidas e outro que investiga a precarizao da formao e da prtica dos professores, das escolas e das Polticas Pblicas. f) Usos de conceitos (Educao do Campo/educao rural) chamar de roa, rural, no urbano. A maioria dos trabalhos usa o termo Educao do Campo, mesmo quando opta por No h um s campo, mas diversas ruralidades. Aponta-se a necessidade de afirmar Contudo, o uso do termo aparece em um nmero expressivo de textos sem uma delimitao H trabalhos que no utilizam o termo. A utilizao como conceito aparece em um bom nmero de trabalhos, mas numa interpretaes que representam aquilo que os pesquisadores gostariam que acontecesse:

diferenas e aprofundar historicamente o conceito. histrica e poltica do conceito.

perspectiva idealizadora (do como deve ser). g) Abordagem ideolgica/terica

de palavras de ordem ou de diretrizes de movimentos. Todos tentam estabelecer uma relao entre o contexto brasileiro, o local e as temticas abordadas. para explicar os resultados encontrados. vinculada a interpretaes tericas, usando os autores para reafirmar suas hipteses iniciais e no de classes/dominao e como ponto de partida da pesquisa.Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

A maioria dos trabalhos faz tentativas de avanar na reflexo: no h reproduo acrtica

Por outro lado, os trabalhos no conseguem estabelecer uma compreenso do objeto,

Alguns trabalhos analisam a relao entre professores e gestores como de oposio/luta

ResultadosPrincipais resultados: 1. Cultura H uma explorao da dimenso da cultura, expressa em trs trabalhos que tratam sobre representaes de campo, escola, trabalho, identidade do professor, do campons e de diferentes atores. As prticas pedaggicas indicam a permanncia da distncia entre os contedos, os mtodos escolares e a realidade dos alunos do campo, apesar de algumas iniciativas, como a incluso de disciplinas voltadas para o campo (o que denuncia que s essa incluso no suficiente). e as tenses decorrentes das contradies entre cidade/campo e capital/trabalho. H trabalhos que revelam a necessidade de as escolas do campo enfrentarem os conflitos Esses trabalhos mostram, ainda, que maior a integrao dos contedos e das caractersticas da produo local (usando temas integradores), ou mediante propostas metodolgicas de ao em sala de aula. de Polticas Pblicas. metodologias com as realidades locais nas experincias em que h a presena de movimentos e/ou de ONGs, mediante abordagens mais amplas, que envolvem A experincia pedaggica dos Movimentos Sociais pode ser referncia para a construo A escola no recupera as prticas socioculturais dos sujeitos do campo. produzidas no mbito rural. A lgica urbanocntrica, adotada pelo sistema, marginaliza e silencia as experincias As tticas inventadas pelos professores constituem-se, algumas vezes, senso comum culto, invenes cotidianas dos professores. Os agricultores valorizam a formao profissional, mas no se percebem com condies socioeconmicas para manterem seus jovens nos cursos regulares da escola tcnica federal pesquisada. Mas cerca de 98% desejariam ter um filho estudante na escola. H trabalhos que indicam a necessidade de repensar o currculo adotado nas escolas.

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CPC 2: Formao e Trabalho Docente na Escola do Campo

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2. Currculo Essa dimenso da cultura est como pano de fundo para a maioria dos trabalhos, professores. quando recuperam as prticas pedaggicas, a situao das escolas e a formao dos Os trabalhos sobre formao revelam que permanecem a deficincia da formao inicial e as dificuldades da profissionalizao e do significado pessoal de ser docente. Demonstra-se a importncia da formao poltica oferecida pelo MST, no sentido da solidificao das razes, do fortalecimento da identidade, da resistncia dominao, na realidade. da elevao da autoestima, ao mesmo tempo que o Movimento prepara para a atuao A implantao do Programa Escola Ativa possibilitou aos professores uma melhoria no desenvolvimento de suas atividades e no desempenho dos alunos. Percebeu-se a insatisfao dos pais no que diz respeito ausncia de nota. professores. Programas de formao continuada para os docentes das classes multisseridas, ofertados pelas prefeituras, contribuem para atender s necessidades prticas dos

3. Prtica pedaggica Quanto s classes multisseriadas, aparece em todos os trabalhos uma crtica Nucleao, apontando as dificuldades geradas pela precariedade do transporte escolar e pela valorizao da cidade. instabilidade. So apontadas tambm as dificuldades das escolas isoladas como a separao do professor, suas mltiplas tarefas, o trabalho fragmentado por sries, a rotatividade, a Enfrentar a heterogeneidade nas classes multisseriadas requer um deslocamento de algo residual a ser superado. Questes Observa-se em alguns trabalhos que os resultados ficam comprometidos pela falta de articulao entre as referncias tericas anunciadas e a anlise das informaes produzidas no trabalho de campo. Um bom nmero de trabalhos apresenta proposies como resultado (a educao e a escola precisam explicitar seus vnculos com a classe trabalhadora; a escolarizao que no questiona os limites do Estado burgus tende acomodao capitalista).Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

enfoque que venha a consider-las em sua concretude e no como uma anomalia ou

Contribuies dos trabalhos para o Projeto da Educao do Campo O campo uma realidade que precisa ser compreendida em sua singularidade e peculiaridade. A contradio campo/cidade aparente. As escolas do campo precisam explicitar os conflitos e as tenses decorrentes da construo de prticas educativas questionadoras da educao do capital. esto inseridas. As escolas precisam ver, ouvir e intervir no contexto social, econmico e cultural em que Temas como sexualidade precisam estar presentes no currculo da Educao do Campo. dessas condies. Os docentes das escolas do campo vivenciam uma situao de precariedade nas condies de trabalho, mas so ativos e produzem formas de resistncia e de superao A Educao do Campo deve se pautar pelo princpio da formao integral. proposta contra-hegemnica.

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O dilogo entre Movimentos Sociais e escola contribui para a construo de uma A gesto das redes municipais se caracteriza, em muitos casos, como autoritria. continuada e a construo de metodologias. As classes multisseriadas podem ser ressignificadas e se constiturem uma possibilidade positiva de organizao da escola do campo. Para tanto, fazem-se necessrias a formao Os programas pblicos so fatores importantes de mudana nas prticas das escolas. Questes Qual a concepo de pesquisa? Qual a concepo de Educao do Campo?

CPC 2: Formao e Trabalho Docente na Escola do Campo

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CPC 3: POLTICAS DE EDUCAO SUPERIOR NO CAMPOPrincipais questes debatidas no CPC 3 durante o EncontroCampo presentes nos trabalhos. Um aspecto enfatizado no debate foi a necessidade de reafirmao da gnese do movimento da Educao do Campo como dimenso relevante para uma retomada crtica dos contedos implcitos nessa concepo, tendo em vista que ela emerge de um processo de luta social pelo direito educao dos povos do campo. destacou-se o modo como os conflitos resultantes da base capitalista da sociedade se reproduzem No que se refere ao modo de construo da Educao do Campo dentro da Universidade, No primeiro dia, foram discutidas questes referentes concepo de Educao do

nas trajetrias poltico-administrativas de implantao dos cursos, na forma de organizao do

trabalho pedaggico dos cursos e na produo de conhecimento. No sentido de instrumentalizar a luta de classes no interior da prtica acadmica e articular questes sobre a educao superior e a disputa no campo e as possibilidades de construo de projetos transformadores. Inclui-se a a discusso sobre o impacto do agronegcio no campo e na organizao da classe trabalhadora e formulao de Polticas Pblicas, foi discutida tambm a necessidade de aprofundamento terico que contribua para a compreenso das lgicas que definem os modelos de desenvolvimento em sobre o papel da Educao do Campo na formao de sujeitos capazes de formular um projeto de desenvolvimento contra-hegemnico. Ao pautar esse debate na academia, nossa intencionalidade utopias que delineiam o horizonte do movimento da Educao do Campo. A partir da, deu-se o dilogo sobre a importncia da demarcao do territrio terico e dever ser a de explicitar o espao terico e poltico-ideolgico de onde estamos falando e as metodolgico da Educao do Campo, tendo sido levantada pelo grupo a necessidade de articulao envolvidos (espaos institucionais e de vida).

entre a prxis da pesquisa e a prxis dos trabalhadores do campo, bem como a identificao de Desdobrando essas questes, foram abordados temas referentes relao Estado/

estratgias para uma transformao social dentro da prpria circunstancia em que estamos sociedade, incluindo a questo da reorganizao do poder pela globalizao e a relao entre construo de conhecimento e formulao de Polticas Pblicas. se deu a partir de aes por dentro do Estado, e que agora deveramos tambm buscar avanar no plano das articulaes entre as universidades pblicas e o processo de formao que a vem da legitimidade dos conhecimentos que foram ignorados e precisam ser retomados nesse processo.Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

Um ponto destacado foi o fato de que o crescimento do movimento da Educao do Campo

acontecendo. Coloca-se, ento, a dimenso da construo do conhecimento, no sentido poltico, organizativo e revolucionrio, mas tambm o conhecimento construdo cientificamente, e a questo

formas de integrao entre as disciplinas, sem abandon-las, porm superando a fragmentao. Foi destacada a importncia da formao de uma rede de pesquisadores para apoiar o trabalho nos cursos de formao e nas atividades de pesquisa, discutir os pressupostos da pesquisa educacional que fazemos e gerar prticas acadmicas de legitimao desse conhecimento. Com relao ao aprofundamento dos caminhos tericos e metodolgicos, a diversidade

Ainda dentro das questes terico-metodolgicas, levantou-se a necessidade de buscar

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de referncias tericas e de procedimentos metodolgicos que aparece nos trabalhos apresentados aponta para alguns aspectos, como: a necessidade de qualificar os conceitos, as teorias do de sociedade; de qualificar o discurso da Educao do Campo. Quanto Pedagogia da Alternncia, preciso avanar nas pesquisas, no sentido de conhecimento e teorias pedaggicas; de ir alm do descritivo; de esclarecer nas pesquisas o projeto aprofundar os efeitos dessa metodologia no ensino e, sobretudo, na formao de professores do campo, de tcnicos em agroecologia, e refinar o debate, no sentido de refletir sobre as diferenas regime, a partir dos processos vivenciados nas diferentes experincias nas universidades, dando outro perfil formao de professores do campo. entre Pedagogia da Alternncia e regime de alternncia. Trata-se de uma metodologia que nasce da realidade do campo, mas que cresce e toma propores diferenciadas, deixando de ser um No segundo dia, foram abordadas questes referentes s Polticas Pblicas de Educao

do Campo, partindo-se da constatao da diversidade de relaes institucionais que aparecem nos artigos apresentados, e experincias que envolvem, por exemplo, parcerias entre universidades pblicas, Movimentos Sociais e secretarias municipais. Um aspecto relevante destacado no dilogo foi a estreita relao entre as prticas que se

estabelecem em funo da insero dos cursos nas universidades, na construo dos espaos de formao e produo de conhecimento, por um lado, e as dimenses do trato poltico que envolvem a definio de Polticas Pblicas e os interesses polticos dentro das universidades. poltica focal), o CPC 3 levantou outras indagaes: Quanto indagao sobre como est se dando a estruturao das polticas de educao

superior no Brasil e como a Educao do Campo se insere nesse contexto (falsa incluso social, Que tipo de poltica de educao superior queremos para a Educao do Campo? Em qual espao, dentro da universidade, a Edoc se enquadra? mercado de trabalho? Como se articulam com outras polticas de Estado? Educao do Campo est fora dos parmetros que o governo escolheu para as universidades, so provisrias, com o pressuposto implcito de que o campo deve desaparecer. No que se refere sustentar, estando na dependncia do recurso que o edital est disponibilizando? Em relao s questes de financiamento da educao superior, observou-se que a Como as polticas de educao superior se articulam com a Reforma Agrria e com o

e que a lgica at agora adotada oficialmente que as propostas para a Educao do Campo especificamente Licenciatura em Educao do Campo, a pergunta : como esse Programa vai se

CPC 3: Polticas de Educao Superior no Campo

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Por fim, foram levantados os seguintes temas de pesquisa necessrios: Organizao curricular. Relao ensino/pesquisa/extenso.

Necessidade de avaliao das metodologias: identificar em que medida so prticas transformadoras dentro da academia. conflitos. Relao universidade/Movimento Social: que dilogos, que prticas de gesto, que Quem est produzindo conhecimento na educao superior, nos cursos de formao, na graduao e na pesquisa. Dificuldade de fazer a discusso com os sujeitos da EdoC que esto fora da academia, conhecimento especficos; como a academia valoriza ou no esse conhecimento. sua apropriao e reorganizao do conhecimento, seus modos de produo de

Educao do Campo e Pesquisa II - Questes para Reflexo

CPC 4 EDUCAO DO CAMPO, MOVIMENTOS SOCIAIS E POLTICAS PBLICASa apresentao das pessoas presentes. Esse momento oportunizou o conhecimento recproco do lugar que cada um ocupa no cenrio social, suas frentes de luta e experincias concretas. Este texto representa a produo coletiva do CPC 4. O trabalho do CPC teve incio com

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coletivamente, tendo em vista sua reelaborao, conforme sugesto de estruturao e de conduo

Concluda a apresentao dos participantes, o texto-sntese do Comit Cientfico foi lido

dos trabalhos proposta pela organizao do evento ao CPC. Entretanto, foi levantada uma questo coletivo. Esse encaminhamento implicou o redimensionamento das atividades, que no mais tomou o texto-sntese como referncia. Nesse sentido, foi aberta discusso em torno do encaminhamento sugerido. Ao refletir sobre a metodologia de trabalho, o grupo concluiu que seria adequado discutir

de ordem, no sentido de o grupo decidir sobre os pressupostos que orientariam a produo do texto

sobre as categorias Educao do Campo e seus sujeitos, Movimentos Sociais e luta de classes, Polticas Pblicas e papel do Estado, considerando que as trs categorias esto permeadas pela relao entre universidade e sociedade na produo do conhecimento.

Campo. Foi acentuado que ela nasce e se fortalece como um paradigma construdo pelos sujeitos enfatizado o processo histrico da emergncia da Educao do Campo, tendo como referncia o Enera, as Conferncias Nacionais Por uma Educao do Campo I e II. Destacou-se a necessidade de se pensar sobre as dimenses epistemolgicas da

No curso do debate, foram destacados aspectos sobre a constituio da Educao do

coletivos, organizados nos Movimentos Sociais do campo, tendo frente inicialmente o MST. Foi

Educao do Campo, mas tambm sobre o complexo de relaes econmicas, sociais e polticas

que ela implica. Resultou desse entendimento que a Educao do Campo deve contribuir para a provocado pelo avano do agronegcio e do trabalho assalariado.

compreenso do contexto atual da luta de classes no campo, consequncia do tensionamento Outro aspecto relevante assinalado foi a necessidade de se compreender as configuraes

dos Movimentos Sociais e suas relaes com o Estado, tendo em vista a necessidade de avanar os projetos emancipatrios. Para tanto, uma das estratgias consiste em identificar as dificuldades

enfrentadas pelos movimentos em relao ao Estado e consolidao do atendimento de suas demandas pelos governos municipais, estaduais e federal. Cabe, tambm, aos Movimentos Sociais conhecer, desvelar e rechaar os mecanismos de cooptao presentes nas aes do Estado e do jogo poltico dos governos, a fim de superar as dificuldades e evitar a cooptao. O conhecimento por ele demandadas e assumidas pelo Estado.

dessa realidade possibilita o fortalecimento do movimento e das conquistas de Polticas Pblicas

CPC 4 Educao do Campo, Movimentos Sociais e Polticas Pblicas

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e os sujeitos sociais que a implementam, no mbito poltico das lutas sociais ou da produo do

Constata-se a existncia de uma multiplicidade de sentidos sobre a Educao do Campo

conhecimento. No obstante esse reconhecimento, h consenso em torno de uma concepo de

Educao do Campo alinhada a uma perspectiva emancipatria vinculada ao processo de superao do capitalismo. Assim sendo, a Educao do Campo objetiva compreender a complexidade da luta em funo da emancipao humana e da transformao das relaes sociais constitutivas do capitalismo. Deve, portanto, ter como princpio a emancipao da classe trabalhadora e a atuao no sentido de oposio aos avanos do capital, formando sujeitos crticos da sociedade capitalista. da luta de classes como uma estratgia de luta do conjunto dos Movimentos Sociais. Ela entendida reproduo do capital, deve ser compreendido no campo das contradies da luta de classes. Enfatizou-se que a Educao do Campo nasceu tendo como referncias as vrias Justifica-se, assim, a necessidade de se entender a Educao do Campo na contradio

como direito fundamental, devendo ser garantida pelo Estado. O Estado, tendendo a priorizar a experincias realizadas, porm como ao revolucionria carece avanar numa teoria educacional e pedaggica que evidencie a concepo de homem mediada por um projeto histrico. A Educao do Campo tem uma perspectiva que vai alm do capital. A Educao do Campo compreendida como particularidade de um movimento histrico

que universal. Ela a expresso particular do conhecimento da educao e da escola universais. Portanto, no pode reforar a dualidade entre campo e cidade e entre Educao do Campo e educao da cidade, que devem ser compreendidos no plano das diferenas. para libertar, fazer a sntese para libertar, construir para compreender, com a intencionalidade de possibilitar aos sujeitos a leitura do mundo numa perspectiva transformadora. Um dos referenciais para a Educao do Campo a teoria dialgica de Freire: unir O conceito de campo pode ser compreendido como o lugar ou o territrio e envolve a Algumas categorias explicativas da Educao do Campo surgidas nas discusses foram:

relao do homem com a terra. Envolve a contradio e a luta dos Movimentos Sociais revolucion