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    EDUCA9AOEMSAUDEFabio LuizMialhe * Cristiane Maria da Costa Silva * Renata Barrichelo Cunha * Rosana de Fatima Possobon

    Assumir que educar e humanizar incorpora a contradicaoposta pelos condicionantes objetivos, mas aposta em seu poten-cial de contribuir para 0 desenvolvimento pessoal dos individuos.E uma perspectiva critic a porque reconhece que a educacao e de-terminada pela estrutura social, mas em urn movimento dialetico,admite que ela mesma influencia 0 elemento determinante. Comodestaca Saviani (1983), "ainda que secuiuierie fa eciuceceot, nempor isso deixa de ser instrumento importante e por vezes decisiveno processo de trensiormeceo da sociedade ''.

    o ceme da dinamica historica da aprendizagem humana,como afirma Arroyo (2001. p.53), e "ensirisi e aprender a sermos hu-manos" e isso so se da em "uma trama complexa de relacionamentoscom outros seres humanos. Esse aprendizado so acontece em uma rna-triz social, cultural, no convivio com cieterminecoes simb6licas, tiuieis,celebtecoes, gestos. No aprendizado da culture" (idem). Entenda-sehumanizacao, nesse texto, como subversao a logica da exclusao, dainjustice, da exploracao e da opressao.

    Sob a mesma perspectiva, Savater (1998)reforca que "a huma-nidade plena nao e simplesmente algo bioloqico, uma determinacaogeneticamente programada (...). Nossa humanidade bioloqica neces-sita uma confirmacao posterior, algo comoum segundo nascimento noqual, por meiode nossos proprios esforcos e da relacao com outros hu-manos, se confirrnedefinitivamente 0 primeiro. E preciso nascer parahumano, mas so chegamos a se-lo plenamente quando os outros noscontagiam com sua humanidade deliberadamente ...e com nossa cum-plicidade". Contagiar e conquistar a cumplicidade, segundo Savater,irnplicapoder e desejar compartilhar com os outros - recern-cheqados

    aogrupo a que pertencemos -0

    que ja sabemos e reconhecemos comosocialmente valido. Humanizar, portanto, supoe a participacao empraticas educativas formais,nao formais e informais. Isso porque "naoha ummodele unico de educacao; a escola nao e 0 unico lugar onde elaacontece e talvez nem seja 0 melhor; 0 ensino escolar nao e sua unicapratica e 0 professorprofissionalnao e seu unico praticante" (Brandao,1985).Hamuitos outros modos de ensinar e aprender.

    De acordo com Gohn (2006),a educacao formal e aquela de-senvolvida nas escolas - instituicoes regulamentadas, certificadoras,organizadas segundo diretrizes curriculares - com conteudos previa-mente demarcados, sob responsabilidade dos professores. Pressupoearnbientes normatizados, tempo e local especifico, profissionais espe-

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    cializados, orqanizacao curricular e siste-matizacao sequencial das atividades. Ternum carater metodico e, usualmente, divide-se por idade/classe de conhecimento.

    Poroutro lado, a educacao nao formalacontece no cotidiano por meio de proces-sos de compartilhamento de experiencias,principalmente em espacos e acoes cole-tivas. Os espacos educativos localizam-sefora das escolas, em locais considerados"informais", mas a partir de processos inte-rativos intencionais, isto e, comprometidoscom os processos de ensinar e aprender.Para Gohn (2006), "a educacao nao formalcapacita os individuos a se tomarem cida-daos do mundo, no mundo. Sua finalidade

    e abrir janelas de conhecimento sobre 0mundo que circunda os individuos e suasrelacoes sociais". Souza (2001)defende amesma ideia quando explicita que 0 propo-sito da educacao nao formal e "a cidadaniacompartilhada que se constroi no processode identidade politico-cultural gerado naslutas cotidianas".

    Por fim, a educacao informal e aque acontece em ambientes espontane-os, em que as relacoes sociais - na fami-

    lia, bairro, clube, grupo de amigos etc. -se desenvolvem segundo preferencias oupertencimentos herdados. Ela nao e orga-nizada e os intercambios de conhecimen-tos nao sao sistematizados. Atuando nocampo dos sentimentos e emocoes, a edu-cacao informal desenvolve habitos, atitu-des, comportamentos, modos de pensar ede se expressar peculiares. Nota-se que adiferenca entre a educacao nao formal e aeducacao informal, usualmente tomadascomo sincnimas, e justamente a intencio-

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    nalidade da acao. Enquanto a educacao nao

    formal orienta-se por uma pratica com obje-

    tivos e expectativas definidas, a educacao

    informal manifesta-se difusa no proprio pro-

    cesso de socializacao dos individuos.

    As praticas educativas intencionais -formais e nao formais especialrnente, mas naoexclusivamente - sao importantes para a am-

    pliacao da percepcao e para a compreensao do

    mundo, buscando garantir uma participacaoefetiva e rosponsavel dos cidadaos. Concorda-

    mos com Cortella (1999) quando defende que

    "a pratica educacional tern como objetivo cen-

    .... , tral fazer avan

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    Gohn (2006) destaca alguns aspectos especificos da educacao nao formal que merecem atencao no

    planejamento e desenvolvimento dos projetos educativos em saude e que podem ser pens ados junto aos cri-

    terios enunciados por Soligo (2001): formacao especifica dos educadores e definicao de seu papel, bern como

    as atividades a realizar; definicao mais clara de funcoes e objetivos a serem alcancados: sistematizacao das

    metodologias utilizadas no trabalho cotidiano que permitam acompanhamento, avaliacao e analise do traba-

    lho em andamento; construcao de metodologias que possibilitem 0 acompanhamento do trabalho de egressos

    que participaram de programas de educacao nao formal; e criacao de metodologias e indicadores para estudo

    e analise de trabalhos da educacao nao formal em campos nao sistematizados.

    o CONCEITO DE SAUDEDiscutir sobre 0 conceito de saude faz-se neces-

    sario, na medida em que cabe aos profissionais fazer

    . uma reflexao.critica sobre quais bases teoricasestrutu- .

    ram suas praticas nos services, inclusive as educativas.

    Na verdade, 0 conceito de saude certamente

    representa uma entidade complexa. Uma das mais

    famosas definicoes de saude conhecidas interna-

    cionalmente e a da Orqanizacao Mundial da Saude(OMS, 1948), que a conceituou como "urn estado decompleto bem-estar fisico, mental e social, e nao ape-

    nas a eusencie de doenqa ou eniermidede". Essa de-finicao "positiva da saude" foi inovadora na epoca,

    pois suplantou conceitos ate entao presentes, que

    consideravam a saude apenas como urn est ado de

    ausencia de doencas diagnostic ave is por meio dos

    seus sinais e sintomas patoqnomonicos, focado em

    seus aspectos fisiopatoloqicos. Ou seja, uma concep-

    cao da saude para alern de urn enfoque centrado na

    doenca (Marchiori & Pellegrini Filho, 2007).

    Desde sua publicacao, a definicao da OMS

    tern sofrido varias criticas, entre elas, 0 fato de nao

    apresentar uma cornpreensao clara do que seja

    "complete bem-estar" e transmitir a nocao de quesaude e algo tao grande que passa a ser inatingivel.

    Desta forma, a definicao nao poderia ser utilizada

    como objetivo pelos services de saude (Scliar, 2007).

    Em 1978, a Declaracao de Alma-Ata expos que

    a saude e urn "estado de completo bem-estar fisi-co, mental e social, e nao simplesmente a ausencia

    de doenca au enfermidade - e urn direito humanefundamental. e que a consecucao do mais alto nivel

    possivel de saude e a mais importante meta socialmundial, cuja realizacao requer a acao de muitos

    outros setores sociais e econornicos, alern do setor

    saude" (Brasil, 2002).Apes oito anos de sua realizacao, a discussao

    sobre 0 conceito de saude e seus determinantes foi

    novamente levantada durante a Prime ira Conferencia

    Internacional sobre Promocao da Saude, realizada em

    Ottawa, Canada, em novembro de 1986. A Carta de

    Ottawa, documento oficial da Conferencia, explici-

    ta que a saude deve ser vista como urn recurso para

    a vida, e nao como objetivo de viver. 0 documento

    ainda destaca que as condicoes e os recursos funda-

    mentais para a saude sao: paz, habitacao, educacao,

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    alimentacao, renda, ecossistema estavel, recursos

    sustentaveis, justica social e equidade; ou seja, urn

    conceitopositivode saude que enfatiza aimportart~

    cia dos recursos sociais e pessoais, bern como as ca-

    pacidades fisicas (Brasil, 2002).

    A Constituicao Federal Brasileira de 1988 corro-

    bora, no artigo 196, do capitulo da Seguridade Social,

    as ideias estabelecidas em Ottawa quandolegitima

    que "a saude e direito de todos e dever do Estado, ga-rantido mediante politic as sociais e economic as que

    visem a reducao do risco de doenca e de outros agra-vos e ao aces so universal e iqualitario as acoes e servi-

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    plastico, urn cientista, urn pedreiro, urnlixeiro, urn mendigo. Assim, Coelho &

    Almeida (2002)afirmam que 0 profissio-nal de saude devera saber promover "to-das essas 'saudes', planejando politicase concretizando programas e servicescapazes de gerar bem-estar e de evitarriscos, tanto para os individuos quantopara os grupos sociais, respeitadas as

    condicoes de contexto social e sanitariotanto quanto a autonomia e a capacida-de de criacao dos sujeitos historicos".

    raes & Avezum, 2007). Pessoas inseridas em redes de apoio quereforgamessas crencas individuais tambern apresentam urn nivelmais elevado de resistencia as doencas (Saad et al., 2001; Guima-raes & Avezum, 2007, Chidaa et el., 2009).

    Assim, desde a Assernbleia Mundial de Saude de 1983, ainclusao de uma dimensao "nao material ou espiritual" de saudevern sendo discutida, a ponto de haver uma proposta para mo-dificar 0 conceito classico de saude da Orqanizacao Mundial deSaude para urn "estado dinamico de completo bem-estar fisico,

    mental, espiritual e social, e nao meramente a ausencia de doen-ca" (WHO,1998, apud Fleck et al., 2003).

    A incorporacao da dimerisao espiritual nas praticas dos ser-vices de saude deve ser respeitada pelos profissionais, uma vez

    .que as pessoas naoaceitam passivamente as .recomendacoes m e - ...EDUCAQA.O EM SAUDE .dicas, e quando estas nao se ajustam a seus esquemas mentais,elaborados a partir dos contextos culturais e religiosos nos quaisestao inseridos, sao ignoradas ou rejeitadas. Muitas vezes, en-quanto os profissionais de saude estao preocupados em avaliar ossinais e sintomas objetivos, os individuos percebem e traduzemdiferentemente a realidade, elaborando teorias causais ou mode-los explicativos para as doencas, na medida em que estas provo-

    cam alteracoes em suas vidas e identidades sociais, e nao apenasem suas fungoes orqanicas (Adam & Herzlich, 2001). Os autoresreiteram essa discussao e a importancia de os services tomaremciencia dessa dualidade entre saber popular e saber cientifico,quando afirmam que "para interpretar os fenornenos orqanicos,as pessoas apoiam-se em conceitos, simbolos e estruturas de re-ferencias interiorizadas conforme os grupos sociais e culturais aque pertencam C .. ) .A elaboracao por eles feita apoia-se em recur-sos coletivos, empregados e modulados diferentemente em fun-cao das experiencias individuais e dos contextos onde se efetuaesse trabalho interpretativo" (idem). Assim, 0 profissional de sau-de deve ter em mente que as doencas que afetam os individuos

    ja nao podem ser mais compreendidas apenas a partir dos fatoresbioloqicos que as caracterizam (Bastos, 1996).

    Assim sendo, nas ultirnas decadas, varies pesquisadorestern demonstrado interesse em incorporar ao conceito de sau-de as representacoes subjetivas do individuo em relacao a suassensacoes de bem-estar. A partir dai, surgiu 0 conceito de quali-dade de vida, que segundo a definicao da OMS e considerada "apercepcao do individuo sobre sua posicao na vida, no contextoda cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e emrelacao a seus objetivos, expectativas, padroes e preocupacoes"(WHO,1995). Dessa forma, saude e trabalhada como urn campomultidimensional, na medida em que engloba aspectos subjeti-

    vos sujeitos aos aspectos sociais, economicos, politicos e cultu-rais de uma sociedade.

    Portanto, as opinioes que as pessoas apresentam sobre 0

    que e ter saude variam amplamente, pois sao formadas a partirde experiencias, conhecimentos, valores individuais, permeadospor dimensoes fisicas mentais, sociais e espirituais. Alern disso,o conceito de saude e influenciado por expectativas individuais,ou seja, quais as aptidoes que cada urn acha que deve ter paraexercer seus objetivos diaries de forma satisfatoria. Por exemplo,as aptidoes em saude necessarias para urn atleta exercer seus ob-jetivos diaries podem ser totalmente distintas das de urn artista

    Varias definicoes permearam e per-meiam 0 campo da educacao em saude,refletindo diferentes ideologias e pontosde vista, e condicionadas por dimensoesestruturais complexas, que precisam deuma analise historic a para sua maior

    compreensao (Vasconcelos,2001).Assimsendo, a sucessao de modelos de edu-cacao aplicados a area da saude publi-ca nao significa urn sequencia evolutiva;antes, e 0 reflexo da pratica assistencialdominante em certos periodos em relacaoaos problemas de saude destacados paraintervencao (Mohr,1992;Rocha, 1997).

    Em 1943, a American Public Heal-th Statement definiu educacao em saudecomo "urn processo de facilitacao de ex-periencias de aprendizagem desejaveis

    por meio das quais as pessoas se tornammais cientes dos problemas de saudee ativamente interessadas em assumirresponsabilidades pelas solucoes" (Si-mons-Morton et al., 1995).

    McMahon & McMahon, em 1965,atestaram que a funcao da educacaoem saude e "guiar individuos ou gru-pos para perceberem que determinadasacoes saudaveis devem estar de acordocom os proprios valores e objetivos" (Si-mons-Morton et al., 1995).

    Em 1972,Keyes descreveu que "en-quanto a educacao em saude apresentamuitas definicoes e e praticada de variasformas, deve-se ter em mente que 0 realindicador da educacao em saude e 0 com-portamento. 0 objetivo de toda a educa-cao em saude na comunidade, escolasou nos hospitais e conduzir as pessoas apensarem, sentirem e agirem sabiamenteem assuntos pertencentes a saude e a do-enca" (Simons-Mortonet al., 1995).

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    De acordo com Griffiths (1972) "aeducacao em saude nao est a preocupadaapenas com os individuos e suas familias,mas tambem com as instituicoes e ascondicoes sociais que impedem ou faci-litam aos individuos alcancarern uma oti-rna saude" (Simons-Morton et al., 1995).

    Definicoes subsequentes enfa-tizaram mudancas comportamentaisvoluntarias e informadas. Green et al.(1980), por exemplo, definiram educa-cao em saude como "qualquer combi-nacao de experiencias de aprendiza-gem delineadas .cOrnvistas. a facilitar ..acoes voluntarias de comportamentosconducentes a saude". Esta conceitua-cao e frequentemente citada por outrosautores. Candeias (1997), por exem-plo, examina as particularidades des-se conceito, afirmando que "a palavracombinacao enfatiza a importancia de

    combinar multiples determinantes docomportamento humane com multiplasexperiencias de aprendizagem e de in-tervencoes educativas. A palavra deli-neada distingue 0 processo de educacaode saude de quaisquer outros processosque contenham experiencias aciden-tais de aprendizagem, apresentando-ocomo uma atividade sistematicamenteplanejada. Facilitar significa predispor,possibilitar e reforcar. Voluntariedade

    significa sem coercao e com plena com-

    preensao e aceitacao dos objetivos edu-cativos implicitos e explicitos nas acoesdesenvolvidas e recomendadas. A ! i = a o

    diz respeito a medidas comportamen-tais adotadas por uma pessoa, grupo oucomunidade para alcancar urn efeito in-tencional sobre a propria saude" .

    Atualmente a educacao no campoda saude ainda e fortemente definida eorientada por pressupostos biomedicose foca-se em metodologias que facilitama apreensao, pelo usuario, dos conheci-

    mentos tecnico-cientificos, como se issofosse suficiente, por si so, para garantir-lhe autonomia no sentido de alcancarurn melhor estado de saude. A enfasedas intervencoes volta-se a transrnissaode inforrnacoes, pressupondo-se haveruma rota loqica linear entre 0 aumentode conhecimentos em saude, mudancasde atitudes e consequentes transforma-coes dos comportamentos consideradosnao saudaveis. Esse campo de praticas,

    conhecido como educeceo para a setuie, pressup6e que 0 indivi-duo podera alcancar urn melhor estado de saude apos ser devi-damente "educado " com informacoes tecnico-cientificas.

    Morosini et al. (2007) descrevem com mais detalhes as ca-racteristicas desse modelo de educacao, esquematizando suasetapas a partir de sua relacao com a educacao e os objetivos quepretende alcancar:

    "Educa-se - 0 que, de acordo com essa concepcao, seria trans-mitir a informacao ou as normas corretas.

    Individuo ou grupo recebe a informacao - nesse caso, nao inte-ressa ao educador saber quais as formas de pensar e perceberproblemas e solucoes que a populacao partilha.

    ..0 educador pensaque a comunicacao nao temconflitos, ouseja, 0 que ele disse foi e e sempre entendido do modo comoele imaginou que seria.

    E urn problema de cada individuo e da comunidade se nao ado-tarem as condutas corretas. Afinal, eles e que van ficardoentes."

    Para as autoras, esse tipo de pratica apresenta alguns pro-blemas: "a primeira delas e que essa educacao reduz seu propriopoder educativo. 0 educador pensa em si proprio apenas como urnemissor de inforrnacoes ou normas que, provavelmente, sao repe-tidas em manuais e cartilhas. Por tras dessa ideia reside a cren-ca de que a inforrnacao e suficiente para causar mudancas. Essaconstrucao reserva urn lugar de receptor passive aos individuos/comunidades aos quais se dirige a inforrnacao. Nao ha valorizacaodo saber que a propria populacao detern sobre seus problemas, eassim, nao ha dialoqo entre sujeitos". (Morosini et al., 2007).

    Alern disso, as autoras descrevem que "normalmente, de-sapontado com os resultados desse tipo de trabalho educativo,o profissional/educador tende a apostar que the faltam recursosmateriais: cartilhas, folhetos, videos, e estaria ai a causa de certo

    fracasso de suas intervencoes, Ou entao ele adota uma posturabastante comum de culpabilizacao dos individuos pela nao ado-cao das medidas corretas conforme a orientacao apresentada".Isto geraria algumas frases feitas para caracterizar essa culpa, ecomo "esse pessoal nao liga pra nada mesmo"; "Naoadianta falarque eles nao aprendem" (idem).

    Entretanto, apos varies anos de pesquisa, hoje se sabe que 0

    conhecimento cientifico e necessario, sem duvida, mas insuficien-te por si so, para promover mudancas comportamentais positivasnos individuos. Isso ocorre pelo fato de 0 profissional acreditarque so ele conhece 0 que e melhor para os usuarios, sendo estesconsiderados como vasilhas ou recipientes vazios, esperando se-

    rem "preenchidos" pelo conhecimento biomedico, transferido outransmitido pelo profissional de saude. Essa e a conhecida con-cepcao da educeceo benceiie, tao bern traduzida por Paulo Freire,em que "a unica margem de acao que se oferece aos educandose a de receberem os depositos, guarda-Ios e arquiva-los. Nestaforma de educacao tradicional, 0 saber e uma doacao dos que sejulgam sabios aos que julgam nada saber" (Freire,2002).

    Por outro lado, outras formulacoes da educacao na area dasaude vinculam as acoes na busca de autonomia e poder,baseadosnos pressupostos da educeceo libertadora e problematizadora dePaulo Freire,ja citado neste texto, que visa a superacao da contra-